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i A DINÂMICA DO CRÉDITO E A ATIVIDADE ECONÔMICA NO BRASIL Victor Vieira Lino Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho Rio de Janeiro Setembro de 2017

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! i!

A DINÂMICA DO CRÉDITO E A ATIVIDADE ECONÔMICA NO

BRASIL

Victor Vieira Lino

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Rio de Janeiro

Setembro de 2017

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! iii!

Lino, Victor Vieira

A dinâmica do crédito e a atividade econômica no Brasil/ Victor Vieira Lino –

Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2017.

VII, 71 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia de

Produção, 2017.

Referências Bibliográficas: p. 70-71

1. Crédito. 2. Atividade econômica. 3. Macroeconomia. 4. Banco Central. I. Filho,

Roberto Ivo da Rocha Lima II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ,

Curso de Engenharia de Produção. III. A dinâmica do crédito e a atividade

econômica no Brasil

IX
72-73

! iv!

Agradecimentos

Gostaria de agradecer ao meu orientador, Roberto Ivo, pelo apoio e ajuda na elaboração deste

trabalho. A Universidade Federal do Rio de Janeiro e o corpo docente da Engenharia de Produção

pelo aprendizado acadêmico, profissional e, principalmente, pessoal nesses 5 anos de convívio.

A minha família, que sempre me motivou a perseguir sonhos cada vez maiores. Além de tudo,

sempre acreditaram que eu conseguiria alcançar meus objetivos. A minha companheira Fernanda

e sua família, que também estiveram ao meu lado durante toda essa caminhada. E,

principalmente, a Deus, que sempre me deu força para continuar.

! v!

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

A DINÂMICA DO CRÉDITO E A ATIVIDADE ECONÔMICA NO BRASIL

Victor Vieira Lino

Setembro/2017

Orientador: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Curso: Engenharia de Produção

O trabalho analisa o sistema financeiro nacional, e, principalmente, a dinâmica do crédito a partir

de 1997. O foco da parte qualitativa do trabalho é identificar as variáveis que influenciam essa

dinâmica do crédito e como elas se comportaram no período analisado, de modo a permitir ou

restringir o crescimento do crédito. Além dessa análise qualitativa, busca-se estudar uma relação

econométrica entre a atividade econômica, representada aqui pela demanda doméstica privada, o

crescimento do crédito e o impulso do crédito.

Palavras-chave: Crédito, Atividade econômica, Macroeconomia, Banco Central

! vi!

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Industrial Engineer.

CREDIT DYNAMICS AND ECONOMIC ACTIVITY IN BRAZIL

Victor Vieira Lino

September/2017

Advisor: Roberto Ivo da Rocha Lima Filho

Course: Industrial Engineering

This paper analyzes the Brazilian financial system, especially the credit dynamics since 1997. The

focus of the qualitative part is to identify the variables that influence the credit dynamics and how

they behaved in the analyzed period, limiting or allowing credit growth In addition to this qualitative

analysis, we aim to identify an econometric relationship between economic activity, represented by

private domestic demand, credit growth and credit impulse.

Keywords: Credit, Economic Activity, Macroeconomics, Central Bank

! vii!

Sumário 1. Introdução .................................................................................................................................. 1

1.1 Motivação ............................................................................................................................. 1 1.2 Objetivo ................................................................................................................................. 1 1.3 Estrutura do trabalho ............................................................................................................ 2 1.4 Metodologia .......................................................................................................................... 3 1.5 Limitações ............................................................................................................................. 3

2. O Sistema Financeiro Nacional e a dinâmica do crédito ............................................................ 4 2.1 O Banco Central ................................................................................................................... 7

2.1.1 A função de reação do Banco Central ........................................................................ 8 2.2.2 Os Instrumentos do BACEN ..................................................................................... 10

2.2 A criação de dinheiro e a dinâmica do crédito .................................................................. 12 2.3 O impulso de crédito .......................................................................................................... 14

3. Aspectos macroeconômicos .................................................................................................... 18 3.1 Atividade econômica ........................................................................................................... 18 3.2 Inflação e Desemprego ....................................................................................................... 20 3.3 Expectativas e confianças dos agentes .............................................................................. 24 3.4 As finanças públicas ........................................................................................................... 25

4. Metodologia .............................................................................................................................. 28 4.1 Séries temporais ................................................................................................................. 28 4.2 Regressão linear ................................................................................................................. 30 4.3 Regressão linear múltipla ................................................................................................... 31 4.4 Estimadores ........................................................................................................................ 33 4.5 O método dos mínimos quadrados (OLS) .......................................................................... 34 4.6 A qualidade do modelo ....................................................................................................... 35 4.7 Teste de hipóteses ............................................................................................................. 36 4.8 Regressão com séries temporais ....................................................................................... 40 4.9 Estacionariedade ................................................................................................................ 41 4.10 Cointegração .................................................................................................................... 42 4.11 Causalidade de Granger ................................................................................................... 43

5. O caso brasileiro ...................................................................................................................... 45 5.1 O comportamento dos bancos ............................................................................................ 46 5.2 O comportamento dos tomadores de empréstimo ............................................................. 48 5.3 A política monetária do Banco Central ............................................................................... 50 5.4 O crédito público ................................................................................................................. 52 5.5 Avaliação do cenário .......................................................................................................... 54

6. A aplicação do modelo ao caso brasileiro ................................................................................ 55 6.1 Os dados ............................................................................................................................ 55 6.2 As transformações .............................................................................................................. 55 6.3 Estacionariedade das séries ............................................................................................... 57 6.4 Cointegração das séries ..................................................................................................... 59 6.5 Causalidade de Granger ..................................................................................................... 63 6.6 O modelo aplicado ao caso brasileiro ................................................................................. 64 6.7 O modelo em situações de recuperação da economia ...................................................... 67

7. Conclusão ................................................................................................................................ 69

8. Referências bibliográficas ........................................................................................................ 72

! viii!

Lista de Figuras

Figura 1 – Sistema Financeiro Nacional....................................................................................... 5

Figura 2 – Função de reação do Banco Central........................................................................... 9

Figura 3 – Taxa Selic...................................................................................................................11

Figura 4 – Processo de empréstimo em um banco.....................................................................12

Figura 5 – Relação do crédito com atividade..............................................................................16

Figura 6 – Impulso de crédito e o crescimento da atividade no Brasil........................................17

Figura 7 – Variação anual do PIB brasileiro................................................................................19

Figura 8 – Curva de Phillips ajustada..........................................................................................21

Figura 9 – Inflação no Brasil........................................................................................................22

Figura 10 – Taxa de desemprego no Brasil................................................................................23

Figura 11 – Modelo do Banco Central para inflação de serviços................................................24

Figura 12 – Dívida pública americana como porcentagem do PIB nominal................................26

Figura 13 – Componentes de uma série temporal hipotética......................................................28

Figura 14 – Representação de uma regressão linear.................................................................31

Figura 15 – Teste de hipóteses...................................................................................................37

Figura 16 – Evolução do estoque de crédito por tipo de instituição no Brasil.............................45

Figura 17 – Condições de crédito: oferta de crédito observada..................................................47

Figura 18 – Principais riscos reportados pelos bancos...............................................................48

Figura 19 – Condições de crédito: demanda por crédito observada...........................................49

Figura 20 – Endividamento das famílias.....................................................................................50

Figura 21 – Taxas de juros médias provenientes de recursos livres..........................................51

Figura 22 – Estoque de crédito provenientes de instituições públicas.......................................53

Figura 23 – O impulso de crédito................................................................................................54

Figura 24 – Componentes do PIB...............................................................................................56

Figura 25 – PIB americano..........................................................................................................58

Figura 26 – Modelo de regressão................................................................................................65

! ix!

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Pressupostos de Gauss-Markov para regressões....................................................33

Tabela 2 – Teste t para estimadores..........................................................................................38

Tabela 3 – Teste F para estimadores.........................................................................................39

Tabela 4 – Teste Dickey-Fuller aumentado................................................................................57

Tabela 5 – Teste Dickey-Fuller aumentado para o caso americano..........................................58

Tabela 6 – Teste de Engle-Granger para cointegração.............................................................59

Tabela 7 – Critérios para escolha de lag....................................................................................60

Tabela 8 – Teste de Johansen para cointegração.....................................................................60

Tabela 9 – Coeficientes de cointegração...................................................................................61

Tabela 10 – Resultado do VECM...............................................................................................62

Tabela 11 – Causalidade de Granger........................................................................................63

Tabela 12 – Descrição estatística dos coeficientes do modelo.................................................64

Tabela 13 – Resultados da regressão.......................................................................................64

Tabela 14 – Teste de Chow.......................................................................................................66

Tabela 15 – Regressão em períodos diferentes........................................................................66

Tabela 16 – Modelo de regressão para os EUA........................................................................67

Tabela 17 – Regressão em períodos de recuperação...............................................................68

Tabela 18 – Regressão em períodos de “não- recuperação”....................................................68

! 1!

1. Introdução !

1.1 Motivação

O crédito é uma variável muito importante para a economia moderna e é objeto de extenso

estudo e discussão no meio acadêmico. Os principais Bancos Centrais (BCs) do mundo, como o

Federal Reserve americano (FED), o European Central Bank (ECB), o Bank of England (BoE) e o

Banco Central do Brasil (BACEN), registram, monitoram e agem para influenciar no seu

desenvolvimento.

Portanto, o crédito possui um papel relevante na economia global e estudos a respeito de seu

impacto são fundamentais para a disponibilização aos órgãos responsáveis informações ao seu

respeito. Contudo, mesmo com a literatura vasta sobre a importância do crédito, o impulso de

crédito a sua relação com atividade econômica continua sendo negligenciado, muitas vezes sendo

substituído pelo crescimento do crédito.

1.2 Objetivo

O trabalho pretende analisar a relação entre o crédito e a economia brasileira e,

principalmente, entender o seu papel nas crises econômicas vivenciadas pelo país em 2008 e na

recessão durante os anos de 2014 a 2016. Busca-se, através do uso de indicadores econômicos e

de dados de concessão, identificar uma possível relação estatística entre a variação do Produto

Interno Bruto (PIB) e a variação no crescimento de crédito (o Impulso de Crédito).

Além disso, esse trabalho possui o objetivo da identificação dos diferentes fatores que alteram

e influenciam a dinâmica da evolução do crédito no país, através de uma revisão teórica da

literatura econômica moderna e de análise qualitativa de indicadores. Por fim, busca-se comparar

a evolução do crédito em outros países e analisar essas diferenças.

! 2!

1.3 Estrutura do trabalho !

O trabalho está dividido em 7 seçōes. O capítulo 1 é referente a uma breve apresentação do

tema e mostrar sua relevância nas questões macroeconômicas atuais. Além disso, é apresentado

o objetivo e a metodologia utilizada no trabalho para validar e ou não se aceitar hipóteses. As

limitações encontradas também são expostas.

No capítulo seguinte (2), serão analisados o Sistema Financeiro Nacional (SFN), a importância

do crédito para a economia e, mais intensamente, a apresentação do impulso de crédito e como

ele pode ser deduzido das equações macroeconômicas modernas. Também serão expostas

teorias que visam mostrar em que contexto o crédito pode crescer ou diminuir e como diversas

variáveis podem influenciar nele.

No capítulo 3 será apresentada as variáveis macroeconômicas que regem o comportamento

do Banco Central e como elas são medidas e parte da teoria por trás das relações entre elas. Os

conceitos de Produto Interno Bruto (PIB) e Inflação serão estudados, além de salientar a

importância deles.

No capítulo 4, teremos a metodologia por trás da análise quantitativa dos dados. Já no

capítulo posterior (5), será contextualizada a situação Brasileira e como ela interferiu no

comportamento dos bancos e tomadores de empréstimo, influenciando assim no comportamento

do crédito.

No capítulo 6 serão apresentados os resultados obtidos da análise estatística e as hipóteses

formuladas serão consideradas aceitas ou não. O material teórico apresentado nas seções

anteriores também será referido de forma a dar contexto ao resultado. Além disso, os resultados

serão explicados e expostos de maneira clara e objetiva.

Finalmente, a conclusão apresentará as principais respostas que o trabalho objetivou resolver

e apresentará sugestões, críticas e novas ideias para futuros trabalhos. Após a conclusão, a

literatura utilizada será disponibilizada na bibliografia. Além disso, figuras e tabelas auxiliares,

além dos dados utilizados no trabalho serão disponibilizados.

! 3!

1.4 Metodologia !

A metodologia utilizada nesse trabalho será de natureza tanto qualitativa como, em sua maior

parte e sendo o principal foco do trabalho, quantitativa.

Em relação a parte qualitativa, o trabalho terá como base a literatura econômica moderna e

utilizará diversas teorias para explicar o comportamento do crédito durante o período analisado

(de 2003 até março de 2017). Além disso, uma dedução teórica do impulso de crédito será

apresentada.

Na parte qualitativa do trabalho, será realizada uma análise da relação estatística entre o

crescimento do PIB e o impulso do crédito como porcentagem do PIB nominal. Para se observar a

intensidade e estimar os parâmetros dessa relação será utilizado um modelo de regressão e serão

observados diferentes critérios estatísticos que permitam validar ou não a hipóteses formuladas.

1.5 Limitações

As limitações encontradas pelo trabalho se referem principalmente a pouca quantidade de

estudos sobre o impulso de crédito aplicado ao Brasil e ao fato de que o conceito é relativamente

novo e ainda confundido com o crescimento do crédito. O trabalho também não se propõe a

explicar de maneira aprofundada as teorias econômicas por trás das relações entre as variáveis,

apenas utilizando-as como background do trabalho empírico entre crédito e atividade econômica.

Além disso, o curto período disponível para análise é um limitante para obtenção de resultados

mais confiáveis. Ao contrário de países como os Estados Unidos, onde os dados disponíveis de

crédito são extensos e o país goza de relativa estabilidade, o Brasil teve períodos onde a análise

poderia ser feita de maneira errônea devido a eventos capazes de alterar estruturalmente a

questão do crédito.

! 4!

2. O Sistema Financeiro Nacional e a dinâmica do crédito

O sistema financeiro é um sistema que tem como objetivo estabelecer e prover um link entre

depositantes e investidores de maneira eficiente. Esse sistema é composto de instituições

financeiras (principalmente bancos) que operam num mercado financeiro onde geram, compram e

vendem instrumentos financeiros. Além disso, esses bancos também oferecem serviços

financeiros (empréstimos, depósitos, etc.) para seus consumidores. Devido a essa natureza que

permite a transferência de recursos financeiros entre diferentes partes da economia, o sistema

financeiro possui um papel crucial no funcionamento da economia. (GURUSAMY, 2009)

De acordo com o website do Banco Central do Brasil1, o Sistema Financeiro Nacional (SFN)

abrange:

• Moeda, crédito, capitais e câmbio - o principal ramo do sistema financeiro brasileiro.

Ele lida com quatro principais mercados: mercado monetário, mercado de crédito,

mercado de capitais e o mercado de câmbio

• Seguros privados – o ramo do SFN para quem busca seguros privados, contratos de

capitalização e previdência complementar.

• Previdência fechada – trata de planos de aposentadoria poupança ou pensão voltados

para funcionários de empresas e organizações.

No presente trabalho, busca-se focar apenas no ramo do SFN voltado para os mercados

monetário, de crédito, de capitais e de câmbio. Sua estrutura se dá em três principais

camadas:

• Órgãos normativos – órgãos responsáveis por definirem as regras gerais para o melhor

funcionamento do sistema financeiro.

• Órgãos supervisores – as entidades que trabalham para garantir que as regrais

definidas pelos órgãos normativos estejam sendo seguidas de maneira a assegurar o

objetivo de bom funcionamento do sistema financeiro

• Operadores – são as instituições financeiras em si, que lidam diretamente com o

público e são as responsáveis por fazer o papel de intermediário financeiro.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1 Fonte: http://www.bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp, recuperado em 17, agosto, 2017. 2 Imagem retirada do website do BCB: http://www.bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp,

! 5!

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão normativo do SFN e assim é o

responsável por formular a política da moeda, do crédito, de capitais e cambial. Ele tem por

objetivo a estabilização da moeda e do desenvolvimento (tanto econômico quanto social) do

Brasil. A composição atual do CMN é formada pelo Ministro da Fazenda como presidente do

conselho, o Ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão e pelo Presidente do Banco

Central do Brasil. Os seus membros se reúnem mensalmente para deliberarem sobre os assuntos

que envolvam o conselho.

Figura 1 – Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

Fonte: Banco Central2

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!2 Imagem retirada do website do BCB: http://www.bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp, recuperado em 17, agosto, 2017.

! 6!

Os órgãos supervisores do sistema financeiro são o Banco Central do Brasil e a Comissão de

Valores Mobiliários (CMV). O Banco Central possui papel chave nesse trabalho e será visto mais

detalhadamente no capítulo seguinte. A Comissão de Valores Mobiliários é definida3 como:

“A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi criada em 07/12/1976 pela Lei 6.385/76, com o

objetivo de fiscalizar, normatizar, disciplinar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no

Brasil. A CVM é uma entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da

Fazenda, com personalidade juridical e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa

independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fixo e estabilidade de seus

dirigentes, e autonomia financeira e orçamentária.”

Portanto, a CVM é um agente muito importante do SFN. Entretanto, como esse trabalho terá

foco na criação de crédito pelos Bancos, o principal órgão supervisor a ser estudado será o Banco

Central e como ele funciona para executar as ordens do CMN. Esses órgãos supervisores são,

como explicados, os responsáveis por garantir que as regras definidas pelo CMN sejam

cumpridas por todos os operadores dos mercados. A CVM focará sua atuação no mercado de

instrumentos financeiros (principalmente em relação aos valores mobiliários como Bolsa de

Valores, Bolsa futuras, entre outras), ao passo que o Banco Central terá sua principal atuação na

regulação dos bancos comerciais e da definição da política monetária, cambial e de crédito.

Por fim, temos os operadores do SFN. Os operadores são as instituições que lidam

diretamente com o público, no papel de intermediário financeiro. As principais instituições são os

bancos comerciais, a bolsa de valores, cooperativas de créditos, bolsa de mercadorias e futuros,

entre outras. Tem-se por objetivo estudar o papel do crédito na atividade econômica, então os

principais operadores estudados serão os bancos comerciais. Portanto, dentro do sistema

financeiro nacional, iremos ver como os bancos comerciais operam num ambiente de controle e

fiscalização do Banco Central de acordo com as regras definidas pelo Conselho Monetário

Nacional.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!3!Fonte: http://www.cvm.gov.br/menu/acesso_informacao/institucional/sobre/cvm.html, recuperado em 17, agosto, 2017!

! 7!

2.1 O Banco Central !

O Banco Central, como explicado anteriormente, é um órgão supervisor do Sistema

Financeiro Nacional. Ele atua nos mercados de moeda, crédito, capitais e câmbio. Ele é instituição

responsável pela realização da política monetária de uma nação. Em geral, é uma instituição

independente politicamente, porém pertencente ao setor público. No Brasil, o Banco Central não é

por lei independente, mas em diversas ocasiões funciona com autonomia operacional.

De acordo com o BACEN4, ele tem como responsabilidade ser o “banco dos bancos”, capaz

de emitir papel-moeda com exclusividade. Também possui o papel de banqueiro do Estado.

Entretanto, a constituição de 1988 veda ao BACEN a concessão direta ou indireta de empréstimos

ao Tesouro Nacional. Também é o responsável pela supervisão do Sistema Financeiro,

possuindo o poder de punir bancos e de controlar a taxa de juros básica da economia.

No Brasil, o Banco Central toma suas decisões através do Comitê de Política Monetária

(COPOM), criado em 1996 e inspirado no Federal Open Market Committee (FOMC) americano. O

comitê atualmente é formado por oito diretores e por um presidente. Esse comitê é o responsável

por definir a taxa de juros e implementar a politica monetária para alcançar as normas definidas

pela CMN. De acordo com o website do BACEN5, os objetivos do COPOM são: "implementar a

política monetária, definir a meta da Taxa Selic e seu eventual viés, e analisar o Relatório de

Inflação".

O relatório de inflação é um relatório trimestral produzido pelo COPOM que analisa a situação

macroeconômica e financeira do país e apresenta as projeções realizadas pelo comitê para os

indicadores chaves da politica monetária: a inflação, desemprego e a atividade econômica.

Friedman (1968) argumenta que há um consenso de que os principais objetivos da política

econômica são assegurar um alto índice de emprego, estabilidade de preços e crescimento

econômico rápido. E o Banco Central, como principal autoridade monetária de um país, monitora

de perto as variáveis macroeconômicas explicadas acima (PIB, Inflação e Taxa de Desemprego)

de modo a guiar suas ações para assegurar os objetivos da política econômica citados por

Friedman.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!4 Fonte: http://www.bcb.gov.br/pre/portalCidadao/bcb/bcFaz.asp?idpai=LAIINSTITUCIONAL,

recuperado em 17, agosto, 2017. 5 Fonte: http://www.bcb.gov.br/htms/copom/a-hist.asp, recuperado em 19, agosto, 2017.!

! 8!

2.1.1 A função de reação do Banco Central

O Banco Central deve, como órgão supervisor do sistema financeiro nacional, garantir a

execução das regras definidas pelo CMN. O decreto número 3.088 de junho de 1999 estabelece

o sistema de metas de inflação. Com isso, ao executar sua politica monetária, o Banco Central

tem como objetivo levar a inflação para a meta definida pelo CMN. Caso o Banco Central falhe em

cumprir sua missão, ele deve divulgar publicamente os motivos do descumprimento em uma carta

aberta ao Ministério da Fazenda. Como veremos mais adianta, o Banco Central não tem controle

direto da inflação, agindo através de diferentes instrumentos para leva-la a meta estabelecida pelo

órgão normativo.

Minella, de Freitas, Goldfajn et al (2002) estimaram que a função de reação do Banco Central

(ou seja, qual deve ser o juro estabelecido do Banco Central para levar a inflação para meta) deve

ser uma função do hiato do produto (ou seja, a diferença entre o crescimento real e o potencial

estimado pela autoridade monetária), das expectativas de inflação dos agentes do mercado, da

meta de inflação e também dos juros passados. Em termos matemáticos, temos que:

(1) !! = !!!!!!! + 1− !!! [!! + !!!!!! + !! !!!!!! − !!∗!!! ]

Onde !! é a taxa de juros a ser definida pelo Banco Central, !! é o hiato do produto, !!!!!! são

as expectativas de inflação e !∗!!! é o centro da meta definida pelo CMN.

Minella, de Freitas, Goldfajn et all (2002) chegam a conclusão que o modelo explica bem a

função de reação do Banco Central na época (!!!acima de 0.95), ou seja, que o modelo seguido

pelo Banco Central depende do tamanho do hiato do produto e da expectativas de inflação.

Quando o hiato do produto é alto, o Banco Central deve cortar os juros para estimular a atividade

e assim levar a inflação para o centro da meta.

Quando as expectativas de inflação estão ancoradas (ou seja, ao redor da meta estabelecida),

o Banco Central pode ser mais agressivo na hora de executar sua politica monetária. Embora na

época o regime de metas fosse bem recente, ele mostrou que se seguido de maneira transparente

e séria pelo BACEN, o Banco teria credibilidade para alcançar seu objetivo e seria melhor

sucedido em sua tarefa.

No período de 2003 até 2016, de acordo com De Jesus e Lopes (2016), a função de reação do

Banco Central não se alterou totalmente. Entretanto, de acordo com os autores, no período da

presidência de Alexandre Tombini, o BACEN negligenciou o descolamento das expectativas de

! 9!

inflação em relação a meta e foi mais agressivo nos impactos dos juros em relação a atividade, ou

seja, em linguagem econômica, tivemos um Banco Central excessivamente dovish, mais focado

em manter um nível de crescimento alto que de levar a inflação para o centro da meta

estabelecida pelo CMN.

`Figura 2 – Função de reação do Banco Central durante a presidência de Alexandre Tombini

Fonte: De Jesus e Lopes (2016)

!

Os juros mais baixos do que a função de reação sugerida do Banco Central serão vistos

como uma das causas do aumento descontrolado da inflação e posterior descumprimento da meta

no ano de 2015. Mais recentemente, esse aumento de juros (e manutenção em altos níveis por

tempo prolongado) aliado a um Banco Central com maior credibilidade funcionará para frear a

atividade e assim reduzir o impacto inflacionário, levando a inflação a chegar abaixo do piso da

meta.

! 10!

2.2.2 Os Instrumentos do BACEN !

O Banco Central, como já explicado, atua para manter a estabilidade financeira e da moeda,

além de visar o crescimento sustentável da economia e um desemprego próximo ao nível natural.

Para atingir esses objetivos, ele dispõe de três instrumentos tradicionais de política monetária: a

taxa de juros no mercado de reservas bancárias, a taxa de redesconto e as alíquotas das reservas

compulsórias sobre os depósitos do sistema bancário. (BARBOSA, 1996)

De acordo com o Tesouro Nacional, quando ele é incapaz de manter um orçamento

equilibrado (isso é, com receitas superiores ou iguais as despesas), há a necessidade de novo

endividamento para financiar suas despesas e dívidas passadas. Para isso, ele emite títulos no

mercado primário, onde os principais compradores são os bancos comerciais. Esses títulos

emitidos de dívida são produtos de renda fixa considerados os investimentos de menor risco do

mercado de capitais, por serem garantidos pelo Estado brasileiro.

O Banco Central define um nível de depósitos compulsórios que os Bancos Comerciais

devem manter em suas carteiras. Por exemplo, se um banco possui R$100,00 em depósitos de

clientes, um compulsório de 10% significa que R$10,00 devem estar no fim do dia retido no Banco

Central. Entretanto, devido a saques de clientes e empréstimos, os bancos podem chegar no fim

do dia com nível de depósitos abaixo do requerido pelo Banco Central, e ai surge o mercado

interbancário.

Barbosa (1996) explica que para conseguir se adequar a regra imposta pelo BACEN, o Banco

Comercial com saldo abaixo do necessário têm duas opções: pedir emprestado para outro banco

que ficou com saldo acima do requerido ou se dirigir ao BACEN e requerir dinheiro dele. Essa

última opção é raramente utilizada, pois a taxa da transação (a taxa de redesconto referida acima)

é uma taxa punitiva e com juros altos. Portanto, é no mercado interbancário em que os bancos

conseguirão o dinheiro para cumprirem as exigências do BACEN.

Ao realizar um empréstimo no mercado interbancário, o BACEN definiu que esse empréstimo

deveria ser de curtíssimo prazo, com duração de uma noite (overnight). Além disso, esse

empréstimo do banco “superavitário” para o “deficitário” tem como contrapartida títulos do tesouro

direto (em transações compromissadas, que representam cerca de R$1,1 trilhão por dia segundo

o Banco Central em janeiro de 2017) de modo a garantir maior segurança para o emprestador. A

média das taxas de juros cobradas nessa operação de curtíssimo prazo é considerada a taxa

básica de juros da economia, a taxa SELIC.

! 11!

Finalmente, o Banco Central também atua no mercado de títulos públicos no chamado

mercado secundário. Com o monopólio da emissão de moeda, ele pode comprar e vender títulos

do tesouro no mercado secundário de acordo com a política monetária que ele deseja

empreender. Quando ele deseja aumentar a base monetária, ele compra os títulos dos bancos e

deposita dinheiro em suas contas. O mesmo vale para o sentido inverso, quando o Banco Central

deseja diminuir a base monetária, ele vende títulos do tesouro para esses bancos.

Figura 3 – Taxa de Juros SELIC

Adaptado do BACEN

Portanto, podemos ver que o Banco Central tem pleno controle das taxas de juros do

mercado interbancário através de seus instrumentos. Quando ele deseja aumenta-la, pode

contrair a base monetária e aumentar os compulsórios necessário e a taxa de redesconto. Para

diminuí-la, ele pode fazer o movimento contrário. Essa taxa de juros é utilizada para influenciar

nas variáveis macroeconômicas descritas (atividade, inflação e desemprego) de modo a ir com a

política econômica desejada.

5

10

15

20

25

30

35

40

45

mar

-99

ago-

99

jan-

00

jun-

00

nov-

00

abr-

01

set-

01

fev-

02

jul-0

2 de

z-02

m

ai-0

3 ou

t-03

m

ar-0

4 ag

o-04

ja

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dez-

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mai

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09

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ab

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se

t-16

fe

v-17

ju

l-17

Brasil - Taxa Selic Anualizada, % a.a.

Meta do COPOM

Taxa SELIC Efetiva

! 12!

2.2 A criação de dinheiro e a dinâmica do crédito

A palavra crédito possui diversos significados. Dentre as várias definições, duas são

particularmente importante para esse trabalho: de acordo com o dicionário online Merriam, o

crédito pode ser visto como uma “provisão de dinheiro, bens ou serviços com expectativa de um

pagamento futuro”. Também podemos enxergá-lo como “uma entrada no lado direito do balancete

contábil, que constitui uma adição a uma receita, patrimônio líquido ou responsabilidade”.

Portanto, tanto o aspecto contábil e real do crédito serão levados em consideração na sua

explicação. O Bank of England em seu primeiro boletim trimestral de 2014 (MCLEAY, RADIA e

THOMAS, 2014) traz a tona duas concepções erradas que o público possui a respeito da criação

de dinheiro: que os bancos atuam somente como intermediários, isso é, apenas emprestam

dinheiro que é depositado nele e que o Banco Central determina a quantidade de empréstimos e

depósitos na economia controlando a quantidade de dinheiro do Banco Central (a teoria do

“multiplicador bancário”).

Figura 4 – Processo de empréstimo de um banco.

Adaptado de Bank of England

! 13!

McLeay, Radia e Thomas (2014) explicam que, na economia moderna, são os

empréstimos que criam os depósitos, e não o processo inverso que geralmente é associado a

criação de crédito. O conceito de base monetária é constituído de depósitos bancários e papel

moeda, sendo que o primeiro possui volume muito maior que o segundo. Quando um indivíduo ou

empresa realizam um empréstimo (um ativo no balancete do banco), um banco comercial cria um

depósito com o mesmo valor em nome do tomador de empréstimo (um passivo no balancete do

banco). Esse depósito criado em nome do adquirente do empréstimo é um dinheiro novo para a

economia e expande assim a base monetária. Ou seja, toda vez que um individuo solicita um

empréstimo, está sendo gerado dinheiro novo. O processo inverso também é verdade, quando um

tomador de empréstimo quita suas dívidas, ele está retirando dinheiro da economia e, assim,

diminui a base monetária.

Esse processo de criação de dinheiro põe em questão a estabilidade financeira. Se os bancos

podem criar dinheiro, o que os impediria de inundar a economia de novo crédito? O estudo do

Banco Central inglês enumera três principais restrições que limitam essa capacidade dos bancos

de criar dinheiro via concessão de empréstimos:

• Os próprios bancos impõe limites sobre o quanto emprestar. Isso ocorre principalmente

pelo fato de que o empréstimo deve se provar lucrativo ao banco (bancos possuem

custos para funcionar e sua principal forma de receita é através de juros em

empréstimos). Também é levado em consideração os riscos de se fazer um novo

empréstimo, pois o devedor pode não pagar pelo empréstimo realizado. Finalmente,

limites regulatórios impostos, em geral pelo Banco Central, também restringem a

criação de empréstimos para assegurar a estabilidade financeira e evitar bolhas.

• O comportamento das famílias e empresas que fazem o empréstimo também influencia

a criação de dinheiro. Esses “detentores de dinheiro” tem em geral duas opções para o

seu dinheiro recém criado: pagar empréstimos antigos, destruindo assim o dinheiro

recém criado (assim como novos empréstimos criam dinheiro, pagar esses

empréstimos destroem dinheiro). Outra opção é gastar esse empréstimo em bens e

serviços, o que pode causar efeito inflacionário e exigir assim uma ação da autoridade

monetária.

• A política monetária é a terceira e última restrição a criação de dinheiro por parte dos

bancos. Como o principal objetivo do banco central é assegurar a estabilidade de

preços e, como dito acima, esse crescimento de dinheiro pode ocasionar pressões

inflacionárias, o banco central, através de seus mecanismos de controle de juros

podem encarecer ou baratear o preço dos empréstimos. Se o Banco Central deseja

! 14!

criar uma política restritiva de crédito de modo a tentar diminuir impactos inflacionários,

ele aumentará os juros básicos, tornando assim investimentos seguros mais

vantajosos para os banco e investimentos mais arriscados se tornarão mais caros para

os “tomadores de dinheiro”, que controlarão assim seu apetite por crédito. O contrário

também se aplica. Quando a inflação é considerada baixa e a economia pouco

dinâmica, o banco pode baratear o crédito, transformando assim investimentos seguros

pouco atraente e, consequentemente, investimentos mais arriscados com melhor

rentabilidade. Essa diminuição no preço do crédito influencia os tomadores de dinheiro

a pedirem novos empréstimos.

Portanto, podemos ver que o processo de criação de empréstimos é bem mais complexo do

que percebido pelo público e influencia, no médio prazo, os principais indicadores econômicos

como a inflação, a atividade e desemprego. Por esse motivo, a autoridade responsável pela

política monetária de um país está sempre alerta a essa variável (criação de dinheiro) para

assegurar o cumprimento de seus deveres.

2.3 O impulso de crédito

Como pode-se observar, o crédito possui uma grande importância na economia moderna e a

principal autoridade responsável pelo seu monitoramento e controle é o Banco Central. Biggs,

Mayer e Pick (2009) argumentam que muita importância é dada para o crescimento do estoque de

crédito. Entretanto, seu estudo demonstra que a principal relação entre atividade e crédito ocorre

através não do crescimento do crédito mas sim do seu impulso (a variação do crescimento do

crédito, ou seja, a segunda derivada do estoque de crédito).

Como será explicado, o PIB pode ser definido como a soma das compras de bens e serviços

finais de uma economia (PIB pela ótica da demanda). Em uma economia fechada (X – M = 0) e

sem governo (G = 0), temos que Y = C + I. Essa variável também pode ser chamada de demanda

doméstica privada. De acordo com Biggs, Mayer e Pick (2009), um modelo simples (explicado a

seguir) pode ser usado para descrever essa demanda privada.

O modelo consiste, primeiramente, em assumir que bens de capital são produzidos pelas

famílias e compradas pelas empresas. Essas empresas utilizam esses bens de capital na

! 15!

produção de bens de consumos não duráveis para os consumidores da economia. Portanto,

temos que:

(2) C! = !F(K!) != !AK!!

Onde K! é o estoque de bens de capital e A é uma constante. O estoque de capital é uma

função tanto da depreciação (!) do estoque quanto do investimento!(I!) em novos equipamentos

e máquinas:

(3) K! != !F(δ, I!) != ! (1!– !δ)!K!!! !+ ! I!!

O mercado para bens de consumo é competitivo e as empresas não podem reter ganhos e

utiliza-los para comprar bens de investimento. Com isso, uma das grandes suposições do modelo

é que o investimento é financiado exclusivamente por dívida (em geral, empréstimos bancários).

Os juros pagos pela empresa, de acordo com a maximização do lucro e sujeitas as condições

presentes nas equações (2) e (3) são iguais a:

(4) r!=!A!–!δ

Onde r representa os juros pagos pelas empresas nos empréstimos. Assumindo que todo o

investimento é realizado via empréstimo e que depois de pagar rKt de juros as firmas usam o que

restou dos seus ganhos (δKt) para abater parte do estoque de dívida, ou seja, todo o dinheiro

ganho pelo consumo das família (AKt) é usado para pagar os juros e a depreciação. A relação

entre crédito e investimento é, então:

(5) I! = !D! !− !(1− !δ)D!!! != !ΔD! !+ !δD!!!!

Os consumidores são as mesmas famílias que venderam os bens de investimento para as

empresas. No final, eles pagam pelo seu consumo com as receitas geradas pelos empréstimos as

empresas (rDt) e com o estoque de dívida abatido pelas empresas (δDt). Então, o estoque de

poupança das famílias também evolui em linha com a equação (v). Portanto, assumindo que todo

investimento foi realizado via empréstimo e levando em consideração as equações (2) e (4),

temos que:

(6) C! != !AK! != !AD! !!= ! (r!+ !δ)!D!!!

Finalmente, combinando as equações (5) e (6) e considerando que Y = C + I para uma

economia fechada e sem governo, temos que a demanda privada em função do estoque de

crédito se da por:

! 16!

(7) Y! != ! (r!+ !δ)!D! !+ !ΔD! !+ !δD! − 1! = ! (1!– !δ)!ΔD! !+ !(2δ!+ !r)!D!!

A variável que realmente importa para a analise da atividade econômica pelos diversos

economistas e até mesmo pelo Banco Central, é a taxa de crescimento do PIB real ao longo do

tempo, isto é, sua variação em relação ao período anterior. Tem-se então que essa variação é

representada pela seguinte equação:

(8) !!!!!!!!!!!

= 1 − !δ !∆!!!!∆!!!!!!!!+ 2δ + r ∆!!

!!!!

O primeiro termo da equação!(∆Dt − !∆Dt−1)!é o que chamamos de impulso de crédito e ele

será o foco do nosso trabalho. Pode-se observar através da equação (8) que o impulso de crédito

deve ter peso bem maior que o crescimento do crédito para valores normais (com depreciação e

juros mais próximos de zero do que de 1).

Figura 5 – Relação do Crédito com a atividade.

Fonte: Biggs, Mayer e Pick (2009)

!

Biggs, Mayer e Pick (2009) alegam que o crescimento do crédito tem uma performance melhor

(embora inferior ao impulso) em cenários onde há um crescimento do PIB para níveis anteriores

ao choque. No exemplo da figura 5, o cenário descrito é um que o PIB caiu de 5% para 1% e

depois voltou para o nível anterior. O crescimento do crédito não consegue explicar essa volta de

maneira tão precisa quanto o impulso e, no cenário visto após a crise de 2008, foi posto em

! 17!

dúvida a relação do crédito com a atividade econômica, o que deu origem ao estudo de novas

fontes de impacto do crédito, que foi explicado pela relação entre o impulso de crédito e o

crescimento do PIB.!!

Figura 6 – O impulso de crédito e o crescimento da atividade no Brasil.

Fonte: Adaptado de IBGE e Banco Central. Elaboração Própria.

Portanto, esse trabalho testará essa hipótese de o impulso de crédito se relacionar com a

atividade econômica de uma maneira melhor do que o simples crescimento para dados da

economia brasileira e conseguiremos ver como esse impulso se relacionou com a depressão

vivida no Brasil após 2013.

!

!

!

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! 18!

!

!

3. Aspectos macroeconômicos

Essa seção tem como objetivo introduzir os principais conceitos que serão usados ao longo do

trabalho, assim como apresentar a literatura que da suporte a eles. O foco será na apresentação e

conceituação das principais variáveis observadas pelos principais Bancos Centrais modernos. O

conceito de Produto Interno Bruto (PIB) será o principal indicador usado para se analisar a

atividade econômica de um país. Sua relação com o crédito é o principal objetivo do trabalho.

3.1 Atividade econômica

O conceito moderno de PIB foi introduzido pelo cientista russo-americano Simon Kuznet

em um relatório para o congresso americano em 1937. Desde então, o PIB é uma das principais

variáveis observadas para medir a riqueza de uma determinada nação em um certo intervalo de

tempo. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OECD)6, o PIB é uma medida que mensura o valor monetário final de bens e serviços produzidos

por uma economia em um determinado período de tempo.

Entretanto, essa medida está sucessível a variações de preço que não necessariamente

modificam a produção de riqueza na economia. Para resolver essa questão, o conceito de PIB

real é utilizado. Ele é calculado deflacionando o PIB nominal de um país pela mudança de nível de

preços ocorrida (essa variável é conhecida de deflator do PIB, e embora seja também uma

medida de inflação, não confundi-la com o índice de preços ao consumidor).

Cabe ressaltar que o PIB real por si só não é uma medida de bem estar de uma região,

sendo apenas um indicador para “medir” a atividade econômica e não leva em consideração

indicadores como qualidade de vida, desigualdade, violência, entre outros. Porém, é um bom

termômetro de como um determinado pais está evoluindo e a queda nesse indicador é, em geral,

vista como um sinônimo de fraqueza e que medidas devem ser tomadas para ajustá-lo a um

caminho visto como mais saudável. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!6 Fonte: https://data.oecd.org/gdp/gross-domestic-product-gdp.htm, recuperada em 20 de agosto de 2017.

! 19!

O PIB, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI)7, pode ser calculado por três

óticas: da oferta, da renda e da produção. Ambas as formas de calculo deveriam chegar a um

mesmo resultado. Nesse trabalho, estamos mais interessados no PIB pela ótica da demanda.

Nessa fórmula de cálculo, temos que o PIB é a soma das compras feitas pelos usuários finais dos

produtos. Em termos matemáticos:

(9) !! = !!!!! + !!!! + !! + (!! − !!!)

Onde Y é o PIB, C o consumo das famílias, G o consumo do Governo, I o investimento, X as

exportações totais de bens e serviços e M as importações. De maneira que a primeira parte da

equação é chamada de demanda domestica (C + G + I) e a segunda de exportações liquidas (X –

M). Quando a variação do PIB é negativa, dizemos que um país se encontra em recessão.

Figura 7 – Variação anual do PIB brasileiro.

Fonte: Adaptado de IBGE

Portanto, o PIB é o principal indicador de atividade econômica observado na atualidade. Seu

crescimento é observado e estudado de perto por impactar diretamente na riqueza de um país e, !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!7!Fonte: http://www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/basics/gdp.htm, recuperada em 20 de agosto de 2017.!

! 20!

consequentemente, na vida de sua população. Devido a essas características do PIB de ser um

bom indicador da atividade econômica de uma região, ele é utilizado em estudos e estatísticas de

autoridades monetárias e fiscais para a tomada de diversas decisões.

3.2 Inflação e Desemprego

De acordo com a OECD8, a inflação é vista como um aumento generalizado no nível dos

preços de uma economia. Em geral, ela é medida com base em uma cesta de produtos e serviços

baseadas nas preferencias do consumidor do local. No Brasil, o decreto 3.088 assinado em junho

de 1999 estabelece o regime de metas de inflação para o Banco Central. A inflação é

acompanhada através do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculada pelo IBGE e

usada pelo Banco Central como principal variável de medição de estabilidade (ou instabilidade)

dos preços.

O desemprego se refere as pessoas que buscam emprego e não conseguem encontrá-los.

Ele é acompanhado, principalmente, através da taxa de desemprego. A taxa de desemprego diz

respeito a essa parcela da população que não consegue ser empregada sobre a população

economicamente ativa, ou seja, a soma de empregados e desempregados. No Brasil, essa taxa

também é calculada pelo IBGE, sendo divulgada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Contínua (PNAD-C), substituindo a Pesquisa Mensal do Emprego (PME).

(10) ! = !número!de!desempregadosforça!de!trabalho!!

Onde u é a taxa de desemprego e “força de trabalho” se refere a todas as pessoas

economicamente ativas, ou seja, a soma de desempregados e os empregados.

Essas duas variáveis são extremamente importante no estudo macroeconômico por afetarem

de maneira direta a vida da população. Portanto, desde o início do século XX, quando a

macroeconomia moderna foi introduzida por Keynes, elas têm sido objeto de intenso estudo e

debate entre diferentes frentes ideológicas que tentam explicá-las e arrumar maneiras de controlá-

las.

Hoje, como discutido anteriormente, o papel do Banco Central e suas políticas monetárias é

exatamente influenciar essas variáveis para tentar assegurar o bom funcionamento da economia e

as colocarem nos níveis considerados adequados. Isso ocorre devido a um aparente trade-off

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!8!Fonte: https://data.oecd.org/price/inflation-cpi.htm, recuperada em 20 de agosto de 2017.!

! 21!

entre essas duas variáveis se transforma em uma discussão, a partir de 1968, sobre condução de

políticas monetárias.

O economista neozelandês William Phillips (1958) publicou um paper explicando a relação

entre taxa de desemprego e o crescimento de salários nominais no Reino Unido. Logo em

seguida, influenciados por Phillips, os americanos Samuelson e Solow (1960) criaram o link direto

entre desemprego e inflação ao apresentarem um estudo que identificava uma relação inversa

entre as duas variáveis.

Figura 8 – Curva de Phillips ajustada.

Fonte: Boundless Economics9

!

Desde então, diversas escolas de pensamento econômico visam entender essa relação e

o porque da existência desta. Com a estagflação dos Estados Unidos da América, surgem

diversas críticas ao modelo da curva de Philips clássica. Uma dessas críticas vêm da escola

monetarista, na figura de Milton Friedman (1968), que encara a relação anterior como uma relação !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!9 Fonte: https://www.boundless.com/economics/textbooks/boundless-economics-textbook/inflation-

and-unemployment-23/the-relationship-between-inflation-and-unemployment-105/the-long-run-

phillips-curve-401-12498/, recuperado em 15 de julho de 2017.

!

! 22!

de curto prazo. No longo prazo, existe uma taxa natural de desemprego determinada por fatores

estruturais da economia. Logo, a inflação muda de acordo com a política monetária realizada pela

autoridade monetária.

Portanto, existe um caloroso debate sobre maneiras de encontrar um ponto ótimo que

levaria a sociedade a viver em níveis considerados saudáveis de inflação e desemprego.

Independente da corrente ideológica, o fato é que elas influenciam diretamente na vida da

população e portanto merecem atenção especial dos agentes da economia. Em um discurso em

Munique, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi (2013), argumentou que a inflação

ataca não só a riqueza econômica como a estabilidade política e que o desemprego é uma

tragédia que impede as pessoas de participarem de maneira completa e significante na

sociedade.

Figura 9 – Inflação no Brasil, medida pelo IPCA.

Adaptado de IBGE

!

No Brasil, o Conselho Monetário estabelece um regime de metas para a inflação que deve

ser perseguido pelo Banco Central. O figura abaixo nos mostra que o Brasil viveu vários períodos

de instabilidade no poder de compra da moeda. Depois de 4 anos rondando o teto da meta, a

inflação disparou em 2015 para níveis bem acima ao estabelecido pelo Banco Central. Agora,

! 23!

vivenciamos o movimento contrário, de inflação abaixo do centro da meta e moeda mais estável,

depois da grande recessão e politica monetária contracionista.

A dinâmica do desemprego também se alterou nos últimos anos. Depois de 14 anos em

tendência de diminuição, a partir de meados de 2014 a tendência se reverteu e hoje presenciamos

desemprego tão alto quanto no começo de 2003. Com isso, milhões de pessoas estão deixando

de contribuir de maneira “completa e significante para a sociedade”, como disse Mario Draghi em

seu discurso em 2013.

Figura 10 – Taxa de desemprego no Brasil.

Fonte: Adaptado de IBGE

Portanto, podemos ver que o momento vivenciado no Brasil traz mais foco ainda para as

questões macroeconômicas e bota assim o Banco Central no centro das atenções. E, como

explicado, as decisões do Banco Central visam garantir a estabilidade financeira e da moeda.

Como será explicado adiante, a taxa de juros básica será o principal meio do banco central

influenciar essas grandezas macroeconômicas e buscar alcançar seus objetivos.

! 24!

3.3 Expectativas e confianças dos agentes !

Expectativas possuem um papel central nos esforços de desenvolvimento de uma

comunidade (Coyne, 2009) . Quando as confianças estão altas, a economia tende a sentir o efeito

desse otimismo. Quando o consumidor está confiante com sua situação econômica, ele gasta

mais, aumentando assim o consumo e, consequentemente, a atividade econômica. O mesmo se

refere a confiança dos empresários, que em momentos de otimismo podem aumentar seus

investimentos, gerando assim mais empregos e também aumentando a renda do país. O contrário

também é verdadeiro. Expectativas pessimistas sobre a condução da política econômica ou do

ciclo pelo qual passa o país também geram uma restrição ao consumo e ao investimento.

As expectativas de inflação possuem papel relevante na condução da politica monetária. De

acordo com o Bank of International Settlements (Upper, 2016), as expectativas de inflação vem

tendo uma força maior na dinâmica inflacionária de países emergentes. Isso faz com que os

Bancos Centrais consigam olhar através de choques inflacionários se as expectativas de médio

prazo estiverem ancoradas (ou seja, ao redor da meta que ele deve perseguir). Entretanto,

também é um peso maior caso estejam descoladas da meta e assim o Banco Central deve ser

mais agressivo no corte ou no aumento dos juros para vencer a resistência das expectativas.

Figura 11 – Modelo do Banco Central para inflação de serviços. Conclui-se que o principal

responsável pela alta ocorrida ao final de 2014 foram as expectativas de inflação mais alta.

Fonte: Relatório de inflação do Banco Central, Junho de 2017.

! 25!

No Brasil, o boletim Focus, divulgado semanalmente pelo BACEN, visa agregar as

expectativas dos agentes de mercado sobre as variáveis econômicas. O próprio Banco Central o

utiliza na condução de sua política monetária (Relatório de Inflação, Junho de 2017). Em relação a

confiança dos agentes em relação a economia, outras pesquisas, como o Índice de Gerentes

(PMI), procuram medir a confiança dos empresário. O Índice de Confiança do Consumidor,

calculado pela Fundação Getúlio Vargas, é exemplo de outra pesquisa. Ele busca detectar as

expectativas do consumidor em relação a economia.

3.4 As finanças públicas

O debate econômico sobre o papel exercido do Estado na economia é um dos principais

objetos de debate em meios acadêmicos e profissionais. Adam Smith (2008) argumentou que o

Estado não deve interferir no comercio entre as nações, atacando a visão mercantilista de

comércio vigente na época, onde o Estado era o principal patrocinador dos empreendimentos

comerciais. Marx (1988) defende o controle estatal a todos os setores da economia, como forma

de garantir justiça aos operários no controle dos bens produzidos por ele e de acabar com a

exploração por parte da figura do capitalista.

Entretanto, de acordo com De Vroey e Malgrange (2011) o debate moderno sobre o Estado na

economia moderna se inicia com o livro A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de John

Maynard Keynes. No contexto, estavam as economias capitalistas ocidentais em meio a grande

crise iniciada em 1929, onde o desemprego em massa, a recessão e a deflação os atingiram em

cheio esses países. Keynes (1996) argumenta que o Estado deve sim influenciar na economia em

tempos de recessão, de forma a criar empregos e incentivar o consumo. Assim, com consumo

crescente, as empresas achariam oportuno a produção de mais bens e serviços, o que levaria a

uma demanda maior por trabalhadores. Esse crescimento puxado pelo consumo é uma das

principais marcas da economia keynesiana e nele o Estado exerce um papel predominante em

animar a economia em tempos de recessão.

Posteriormente, como já explicitado aqui nesse trabalho, o estudo de Samuelson e Solow

(1960) sugeriu um possível trade-off entre a inflação e a taxa de desemprego através da aplicação

da “Curva de Phillips” aos dados referentes a economia americana (trocando a variação do salário

nominal pela inflação). Com isso, agora os governos sabem que eles poderiam “comprar” uma

queda no desemprego através de um aumento na inflação.

! 26!

Entretanto, no novo contexto da economia mundial (o chamado Estado de Bem-estar social),

os EUA vivenciavam uma situação de crescimento fraco, inflação alta e desemprego também alto.

Essa situação trouxe críticas ao modelo vigente da curva de Phillips, visto que a realidade

mostrava que desemprego alto e inflação alta podiam sim conviver juntos.

Então, Milton Friedman (1968) e Edmund Phelps (1967), argumentam que existe uma taxa

natural de desemprego de longo prazo e, portanto, a curva de Phillips seria apenas uma relação

de curto prazo. Além disso, Friedman também traz consigo críticas ao modelo fiscal e monetário

de Keynes. Ele argumenta em discurso a American Economic Association (1967) que o governo

não deve interferir na economia e deve deixar a livre iniciativa agir. Além disso, ele critica a visão

de que o governo deva forçar os bancos centrais a manterem taxas de juros baixas e que deva

existir criação de dinheiro para assim conseguirem desemprego baixo.

Entretanto, a discussão estrava restrita ao nível de governo na economia e como a política

monetária impactava a economia. Dornbusch e Draghi (1991) argumentam que a discussão sobre

as finanças públicas surge nos anos 1980 com o rápido crescimento da dívida americana e como

começam a surgir questões sobre a sua sustentabilidade. A dinâmica também se repete na

Europa ocidental, onde diversos países (como Bélgica, Irlanda, Itália e Grécia) começam a ter um

crescimento explosivo da dívida.

Figura 12 – Dívida pública americana como porcentagem do PIB

Fonte: Federal Reserve Bank of St Louis

! 27!

As principais variáveis utilizadas para identificar a saúde fiscal de um país são a dívida pública

e o déficit fiscal (ambos divididos pelo PIB nominal). Isso se deve ao fato de que o PIB de um país

representa a capacidade dele de gerar riqueza para pagar a sua dívida. Por exemplo, não tem

como comparar a dívida de dois países diretamente, pois o tamanho das suas economias

influenciam diretamente na capacidade de cumprir seus deveres.

De acordo com o relatório World Economic Outlook produzido em abril de 2017 pelo FMI, a

Grécia possuía em 2015 uma dívida de 315 bilhões de euros, um valor bem abaixo dos 2.157

bilhões de euros da dívida alemã. Entretanto, quando levamos em consideração o tamanho das

economias dos dois países, temos que a Alemanha (com relação dívida/PIB igual a 71%) se

encontra em situação muito mais favorável que a Grécia (onde a dívida se encontra a

impressionantes 180% do PIB).

! 28!

4. Metodologia !

Com o objetivo de analisar a relação do impulso de crédito de maneira empírica com a

atividade (representada aqui pela demanda doméstica privada) será usado nesse trabalho um

modelo econométrico que busca relacionar a atividade econômica, o crescimento de crédito e o

impulso, conforme descrito no capítulo 3. Para realizar as análises estatísticas serão utilizados

como literatura básica o trabalho de Enders (2014) e Wooldridge (2012). A variável explicada

(dependente) será a demanda doméstica privada (C + I) e as variáveis explicativas serão o

crescimento do crédito e o impulso de crédito.

4.1 Séries temporais !

Um conceito fundamental no estudo de variáveis econômicas é o de séries temporais.

Segundo Enders (2014), uma questão fundamental na econometria moderna é a criação de

modelos que sejam simples e capazes de analisar, interpretar, testar hipóteses e prever

comportamento de variáveis econômicas. A analise de series temporais inicia como uma questão

de auxilio a previsões. Entretanto, muitas vezes esse conjunto de dados possui certos

comportamentos que podem ser problemáticos para esse fim, como sazonalidade, tendência e um

componente irregular.

Figura 13 – Componentes de uma série temporal hipotética

Fonte: Enders, 2014

! 29!

A metodologia geral usada para conseguir realizar previsões consiste em achar uma

equação de movimento que conduz o processo estocástico (um conjunto de variáveis aleatórias

que representa uma evolução ao longo do tempo). Por exemplo, seja Yt uma variável que

representa um valor no momento t. Essa variável pode ser representada da seguintes forma:

(11) Y! != !T! + S! + !C! + I! (12) Y! != !T!!×!S!!×!!C!!×!I!

Onde: !! = valor da variável no tempo t

!! = valor da tendência no tempo t

!! = valor do componente sazonal em t

!! = valor da componente cíclica em t

!! = valor do componente irregular no período t

No modelo (xi), chamado de aditivo, os componentes cíclicos, sazonais e irregulares são desvios

absolutos da tendência, isso é, eles não dependem do nível do componente de tendência. Já no

modelo (xii), o modelo multiplicativo, eles são desvios relativos da tendência, isso é, quanto maior

o componente de tendência, mais intensa serão as variações.

A equação por trás de cada componente citado é chamada de equação de diferença. Em

sua forma mais comum, essa equação de diferença relaciona o valor da variável com o de seu

próprio lag (isso é, o seu valor em um período anterior no tempo), com o tempo e outras variáveis.

Os componentes sazonais e de tendência são ambos funções do tempo e o termo irregular é uma

função de seu próprio lag e o valor de uma variável estocástica ℰ!.

! 30!

4.2 Regressão linear !

A regressão linear vem para econometria com a função de explicar uma variável através

do comportamento de outras variáveis (uma ou mais varíaveis). Wooldridge (2012) mostra que

uma maneira simples e direta de representar uma relação entre duas variáveis aleatórias

populacionais (ou seja, foram usados todos os valores da população para se produzir a

regressão) se da na forma de um modelo de regressão linear simples:

(13) ! = !!! + !!! + !

Onde: ! = variável dependente ou explicada

!! = constante que representa o intercepto da curva

!! = coeficiente de inclinação da curva.

! = variável independente ou explicativa

! = termo residual

A linearidade implica que uma mudança de uma unidade em x tem o mesmo efeito em y

independente do valor inicial da variável explicativa, o que não é realístico para a maioria das

aplicações de regressões na economia real (WOOLDRIDGE, 2012). A maior dificuldade é

certificar que o modelo de regressão simples descrito permite que tenhamos conclusões ceteris

paribus (ou seja, tudo mais constante) sobre os efeitos da variável explicativa sobre a explicada.

Para que isso ocorra, existem várias premissas que devem ser levadas em conta. Entre elas, uma

é considerada chave para que a regressão seja considerada útil: o valor esperado do termo

residual (u) na população deve ser zero.

(14) E(u) = !0

Onde E(u) representa o valor esperado do termo residual u

Essa premissa diz que a distribuição dos fatores não observados da população (aqueles

inclusos no termo residual) possuem valor esperado de zero. Outra premissa muito importante

para regressões surge da relação entre o termo estocástico e a variável explicativa. Devido ao fato

de que u e x são variáveis aleatórias, podemos definir a distribuição condicional de u dado

qualquer valor de x. A premissa para regressões serem válidas é de que o valor esperado de u

para qualquer valor de x é igual a 0, ou seja, u é independente de x.

! 31!

(15) ! !|! = !! ! = 0

Portanto, agora com essas duas premissas, podemos montar um modelo de regressão linear

onde uma variação de x implica em uma mudança igual a !!(!! − !!!) para o valor esperado da

variável explicativa y. Ou seja, em termos matemáticos, temos agora que:

(16) ! !|! = !!! + !!!

Figura 14 – Representação de uma regressão linear

Fonte: Wooldridge, 2012

!

4.3 Regressão linear múltipla !

Wooldrige (2012) argumenta que regressões múltiplas são melhores para tirarmos conclusões

ceteris paribus pois podemos acomodar mais de uma variável que possa explicar os resultados da

variável independente. Por exemplo, no mundo real vários fatores podem influenciar no

comportamento de uma variável e, ao restringi-la a relação com apenas uma única variável

explicativa, podemos estar perdendo informação preciosa. Portanto, muitas vezes, modelos de

regressão linear múltipla são melhores e permitem muito mais flexibilidade. Agora, a equação da

regressão populacional, em termos matemáticos, é expressa por:

(17) y = !β! + β!x! + β!x! +⋯ !β!x! + !u

! 32!

Onde: ! = variável dependente ou explicada

!!!!!!!!! = constante que representa o intercepto da curva

!! = coeficientes que medem a variação de y com respeito a !!, mantendo tudo mais

constante.

!! = variáveis independentes

Outra premissa fundamental é que, quando usarmos estimadores, esses estimadores sejam

resultado de amostras aleatórias de n observações que sejam escolhida de modo a

representarem a população de acordo com o modelo descrito em (17).

As premissas usadas na análise de regressões simples continuam sendo úteis para

regressões múltiplas. Entretanto, agora podemos ter mais confiança nelas, pois termos que

poderiam estar sendo incorporados pelo termo estocástico na regressão simples estão agora

sendo explicitados e poderemos analisar seus impactos na variável explicada (WOOLDRIDGE,

2012).

(18) !(!|!!, !!,… , !!) = !0

Para a regressão ser válida, outra premissa é de que não exista colinearidade perfeita, ou seja,

nenhuma das variáveis independentes pode ser constante e não existe relação linear exata entre

as variáveis independentes. Só podemos ter os estimadores da regressão se as variáveis

independentes não possuam multicolinearidade perfeita.

Outra premissa é a premissa de homocedasticidade, ou seja, o termo residual u possui

variância constante independente das variáveis explicativas. Essa premissa, embora Wooldridge

(2012) argumenta que ela é de importância secundária, ele ao mesmo tempo afirma que essa

condição garante que teremos um indicador eficiente, ou seja, com menor variância (como será

explicado posteriormente). Matematicamente, temos que:

(19) !"#(!|!!, !!,… , !!) = !!!

Por fim, temos a premissa de que o erro (u) é normalmente distribuído ao redor da sua média

(de acordo com a premissa descrita em (18), essa média é igual a zero) e possui variância

constante e igual a !!. Portanto, essa última premissa tem a seguinte forma:

(20) !! ∼ !"#$%&(0,!!)

Portanto, uma regressão linear múltipla é muitas vezes válida para calcular modelos que

podem explicar de uma maneira mais aprofundada o comportamento de uma variável dependente,

! 33!

pois teremos menos informações contidas no termo residual u e conseguiremos observar o efeito

de múltiplos fatores que afetam esse comportamento (como no mundo real, é difícil achar uma

relação causa e efeito tão direta para ser explicada por apenas um fator).

Tabela 1 – Pressupostos de Gauss-Markov para regressão

Fonte: Adaptado de Wooldridge (2012)

4.4 Estimadores

Muitas vezes não conseguimos trabalhar com populações inteiras. Na economia real (que é

onde este trabalho foca), nunca conseguimos ter todos os dados disponíveis pois em geral

trabalhamos com séries temporais que não terminaram, ou seja, não possuímos todos os dados.

Entretanto, precisamos mesmo assim arrumar maneiras de explicarmos relações entre as

variáveis e fazermos previsões. Portanto, usamos amostras que visam simular o comportamento

de toda a população. Para simularmos da melhor maneira possível o comportamento da

população, precisamos de estimadores com três propriedades, são elas (WOOLDRIDGE, 2012):

• Não tendenciosidade, isto é, o valor esperado dos coeficientes devem ser iguais aos

coeficientes da população. Para isso ocorrer, devemos escolher uma amostra aleatória

que representa de maneira aproximada toda a população. Portanto, temos que o melhor

estimador para a nossa regressão ( β̂ ) possui sua distribuição centrada em !.

(21) E!(!) = !! • Consistência, ou seja, sua variância vai diminuindo a medida que o número de estimativas

obtidas com amostras aumenta. Com isso, garantimos que o erro de estimação diminui

com o aumento do tamanho da amostra. Em termos matemáticos, temos que:

Pressupostos de Gauss-Markov para regressão

Linearidade dos parâmetros Modelo populacional: !! = !!! + !!!! +⋯+ !!!!!!

Amostragem aleatória Amostra aleatória de n observações

Sem colinearidade perfeita Variáveis independentes não possuem correlação

Valor médio do resíduo é nulo E(!) = !0

Homocedasticidade !"#(!|!!, !!,… , !!) = !!!

! 34!

(22) lim!!→! !"# (!) = 0

• Eficiência: outra propriedade ligada a variância do estimador. A propriedade de eficiência

nos diz que o melhor estimador é aquele cuja variabilidade (em geral medido pela

variância) é mínima. Ou seja, o melhor estimador possui média centrada no parâmetro

populacional, variância que diminui com o tamanho da amostra e também a menor

variância entre os estimadores.

(23) Var!(!) < !Var ! , onde ! não é um estimador eficiente

Portanto, temos que um bom estimador para a variável populacional explicada (y) tem que ser

não tendencioso, consistente e eficiente. Este estimador pode ser representado da na seguinte

forma:

(24) y = !!! + !!!!! + !!!!!! +⋯+ !!!!!!

4.5 O método dos mínimos quadrados (OLS)

Como explicado acima, um bom estimador para a variável explicada y é y. Entretanto, como

existe um fator estocástico associado a regressão, temos que y será diferente do valor estimado

por uma quantidade igual ao valor do termo residual, ou seja:

(25) !! != !! − !!! !, onde !! é o estimador do termo residual.

O método dos mínimos quadrados é um modelo usado para a estimação dos parâmetros de

uma regressão. Seu funcionamento visa a minimização da soma dos erros quadráticos, ou seja:

(26) min !!!!!!! = min![ !! − !!! !!

!!! ]

Pode-se ver em (vii) que y é explicado pelas variáveis explicativas !!!, !!!,… ! , !!! , seus

respectivos coeficientes !!!,!!!,… ! ,!!! e uma constante !!!. Desta forma, pode-se definir o

método dos mínimos quadrados como o modelo que minimiza a seguinte expressão observada:

(27) min!{ !! − !! + !!!!! +⋯+ !!!!!"!}!

!!!

! 35!

Onde n é o número de observações na amostra e m a quantidade de estimadores. Ao

minimizar a soma dos erros quadráticos, tem-se um modelo que, aliado as premissas de Gauss-

Markov e aos requisitos necessários para ter bons estimadores, formam a regressão múltipla que

explica o comportamento de uma variável y em função das variáveis explicativas x. Esse modelo

é descrito pela equação (24).

4.6 A qualidade do modelo

Tem-se agora o modelo que será usado para obter a relação entre as variáveis explicadas e

explicativas, representado pela equação (xxiv). Entretanto, uma pergunta que se segue é o quão

bom e confiável esse modelo é. Wooldridge (2012) argumenta que uma medida para ver o quão

ajustado o modelo está do valor correto é utilizar a medida conhecida como Coeficiente de

Determinação (!!). Ou seja, um valor de !! próximo a 1 indicaria um modelo que se adere bem

a regressão e portanto pode ser usado para explica-la de maneira convincente e ser utilizado

para a realização de previsões a frente.

Como visto em (xxv), o resídulo é a diferença entre o estimador de y e seu valor exato. O

método dos mínimos quadrados visa, como explicado em (24), a minimização da soma dos erros

quadrados. Essa soma dos erros ao quadrado na estatística tem o nome de Soma Total dos

Quadrados (SSR, do inglês residual sum of squares) e é representada por:

(28) !!" = ! !! − !!! !!!!!

Entretanto, só essa relação não é suficiente para entender a variação da amostra ao redor do

seu valor médio e assim determinar o quão bom é o modelo. Define-se a Soma Total dos

Quadrados (SST) a soma da variação de cada ponto amostral em relação a sua média, ou seja,

SST é uma medida da variação total da amostra. Matematicamente, temos que:

(29) !!" = ! !! − !! !!!!! , onde!! é a média amostral de y

(30) !! = !!"!−1 ,onde !!é a variância amostral de y

Têm-se, por definição que SST é composta de uma variação não explicada (ou seja, o quanto

o termo residual influência na variação total de y) e por uma parte explicada pela regressão,

chamada estatisticamente de Soma dos Quadrados Explicadas (ESS). Esse grandeza mensura o

! 36!

quanto da variação total de y é explicada pela regressão, ou seja, ele mede a variação do

estimador de y em relação a média amostral. Matematicamente temos que:

(31) !!" = ! !! − !! !!!!!

Têm-se então que o coeficiente de explicação de uma regressão é a medida que relaciona o

quanto da variação da amostra consegue ser explicada pela variação do estimador da regressão

(!). Têm-se portanto que uma das principais medidas de fit de um modelo é a razão entre SSE e

SST. Ou seja:

(32) !!" = !!!" + !!"

(33) !! = !!!"!!"

Portanto, temos que um bom modelo terá explicará boa parte da variação total (SST) e que

por definição SST é maior que SSE (como todos os termos são quadráticos, não possuímos

números negativos), de forma que um coeficiente de determinação !!!próximo de 1 nos indica

que o modelo explica bem a relação proposta. Entretanto, como veremos mais a frente, deve-se

levar em consideração outras visões na hora de se avaliar o modelo além do coeficiente de

determinação, pois existem regressões espúrias, isso é, com alto valor de !!, porém que não a

relação não faz sentido.

4.7 Teste de hipóteses !

De acordo com Wooldridge (2012), muitas vezes usamos estatísticas para responder

questões de “sim” ou “não”. O teste de hipótese surge como um método para responder tal

questões baseados em resultados provenientes do estudo de amostras estatísticas. Ou seja,

podemos responder que um determinado resultado faz sentido com um certo grau de confiança

baseado no estudo estatístico de uma amostra.

Define-se a hipótese nula !! como sendo a hipótese que queremos testar, ou seja, podemos

ver a hipótese nula como um réu em um tribunal: assim como todos são inocentes até que se

prove o contrário, a hipótese nula é verdadeira até que os dados dêem forte indicações que ela

não é. Outro importante conceito é o de hipótese alternativa (!!). A hipótese alternativa será

considerada verdadeira se a hipótese nula for considerada falsa (na alusão feita anteriormente, a

! 37!

hipótese alternativa seria a negação da inocência do réu, ou seja, baseado em dados, o réu é

criminoso).

No teste de hipóteses, há dois tipos de erros possíveis: podemos rejeitar a hipótese nula

sendo que ela é verdadeira (ou seja, condenarmos um réu inocente) ou podemos aceitar a

hipótese nula quando ela deveria ser rejeitada (absolvermos um réu culpado). O primeiro tipo de

erro é denominado Erro Tipo I (denominado tipicamente pela letra grega !) e, em geral, teste de

hipóteses são construídos para que a probabilidade de acontecer um Erro Tipo I seja bem

pequena. O valor de ! é bem extremamente importante para o teste de hipótese e seu valor é

exatamente a tolerância que teremos para o Erro Tipo 1.

Figura 15 – Teste de Hipóteses

Fonte: Wooldridge (2012)

Também gostaríamos de minimizar a probabilidade do Erro Tipo 2 dado um nível de

significância baixo. Entretanto, como por definição manter um !!baixo implica em maior chances

de ocorrer o Erro Tipo 2, temos que o poder do teste (1 – Erro Tipo 2) nunca será igual ao valor

total de 1 unidade. Portanto, um bom teste de hipóteses possui um baixo valor para o Erro Tipo 1

e busca maximizar o poder do teste minimizando o Erro Tipo 2.

! 38!

Na análise de regressão múltiplas (que será o foco desse trabalho), temos dois principais

teste de hipóteses que serão fundamentais para verificarmos se os parâmetros estimados são

significativos para a regressão (através do teste t de Student) e também para verificarmos se há

ou não regressão (através do teste F).

O test t corresponde a análise de se o parâmetro é significativo para a regressão, ou seja, se

!! !≠ 0. Vamos assumir que o desvio do estimador do parâmetro em relação ao parâmetro sobre

seu desvio padrão possua distribuição t (embora o pressuposto de normalidade indique que

deveria ter distribuição normal, como não temos o desvio padrão populacional e estamos usando

um estimador desse desvio, a distribuição t deve ser usada) com graus de liberdade igual ao

número de observações da amostra subtraídos do número de parâmetros desconhecidos menos

2). Matematicamente:

(34) !! − !! /!" !! ∼ ! !!!!!!

onde: !! é o valor estimado do parâmetro populacional !! k +1 é o número de parâmetros desconhecidos

n é o número de observações na amostra

!" !! é o desvio padrão amostral de !!

Como explicado, o teste de hipótese possui uma hipótese nula que deve ser rejeitada ou

aceita e que ela é “verdadeira até que se prove o contrário”. A tabela abaixo resume o teste de

hipótese t:

Tabela 2 – Teste t para Estimadores

Fonte: Adaptado de Wooldridge (2012)

Teste de Hipóteses: teste t

Hipótese nula !!:!!!!!!!! = !0

Hipótese alternativa !!:!!!!!!!! !≠ !0

Valor calculado do teste !!"#! = !! !/!"(!!)

Valor tabelado do teste !!"# =!Valor na tabela t de Student para n – k -1

graus de liberdade e significância igual a !!

Teste de Hipótese: Rejeitar !! se e somente se |!!"#!| > |!!"#|

! 39!

A hipótese nula no teste t é a de que o estimador populacional é igual a zero. Teremos no

teste de hipótese então dois valores para o teste t: o tabelado e o calculado. O tabelado será o

valor limite para que o estimador seja significativo para a regressão, ao passo que o calculado

será o valor que será achado a partir da estimação por meio do método dos mínimos quadrados,

ou seja:

O valor de !!"#! também mede a significância do parâmetro, ou seja, quanto maior for o valor t

para o parâmetro, mais significativo ele é para a regressão. Como dito anteriormente, existe um

outro teste para validarmos se uma regressão múltipla existe ou não e esse teste é chamado de

Teste F ou ANOVA (análise de Variância). A tabela abaixo explica como se calcula o valor Fcalc

que será usado para validar se existe ou não regressão:

Tabela 3 – Teste F para Estimadores

Fonte: Adaptado de Wooldirdge (2012)

Portanto, existem dois principais testes de hipóteses para a análise da existência e

significância da regressão. Entretanto, como será apresentado a seguir, esses testes quando

usados em séries temporais podem apresentar resultados enganosos devido as propriedades das

séries temporais apresentadas no capítulo 4.1. Devido a esse aspecto, as análises aqui

apresentadas devem ser sempre usadas cuidadosamente no contexto correto, para que o modelo

possa ser explicado de maneira satisfatória e deverá atender também a outros critérios que serão

discutidos mais a frente.

Teste de Hipóteses: Teste F

Hipótese nula !!:!!!!!!!! = !! = ⋯ = !! != !0

Hipótese alternativa !!:!!!!!"#$%&!!"!!í!"#$!!"!!!! !≠ !0

Valor calculado do teste !!"#! =!!"/!

!!"/(! − ! − 1)

Valor tabelado do teste !!"# =!Valor na tabela F para (k – 1) graus de liberdade no

numerador e (n – k) no denominador e significância igual a !!

Teste de Hipótese: Rejeitar !! se e somente se !!"#! > !!"#

! 40!

4.8 Regressão com séries temporais !

Wooldridge (2012) constata que quando se trabalha com séries temporais, as premissas

de Gauss-Markov precisam ser adaptadas. Isso se deve as características das séries

temporais citadas no capítulo 4.1: tendência, sazonalidade, componente irregular e cíclica.

Para que então tenha-se um modelo de regressão linear múltipla que possua os testes

explicados acima (teste t e teste F) válidos além do coeficiente de determinação ser

considerado correto, as séries que serão usadas na regressão devem obedecer as seguintes

premissas:

• Linearidade e fraca dependência: o processo estocástico é estacionário, “fracamente

dependente” (isso é, a correlação entre !! e !!!! tende a zero quando h tende a infinito).

Essa premissa é importante para implicar que a lei dos grande números e o teorema do

limite central sejam válidas, ou seja, para que a distribuição seja normal.

• Não existência de perfeita colinearidade: o mesmo que explicado para regressões

múltiplas.

• Valor médio do resíduo é nulo independentemente de qualquer variável dependente em

qualquer tempo t.

• Homocedasticidade: os resíduos são contemporaneamente homocedásticos, isto é,

possuem variância constante independente do valor das variáveis dependentes em

qualquer tempo t.

• Não existe autocorrelação serial dos resíduos.

Portanto, podemos ver que em geral as premissas de Gauss-Markov se mantêm bem

parecidas com as indicadas no capítulo 4.3. O conceito novo que surge é o de

estacionaridade da série temporal e será dado a devida atenção para ele no capítulo que se

segue. Também serão explicados os testes usados para conseguirmos calcular se a

regressão está sendo violado ou não. Estes testes serão usados na parte empírica do

trabalho para validar o modelo ou dar visibilidade do porque o modelo não consegue ser

estatisticamente correto (ou seja, se o modelo pode ir contra alguma premissa utilizada para

fazer uma boa regressão).

! 41!

4.9 Estacionariedade !

Como dito no capítulo anterior, quando se analisa a regressão de séries temporais surge o

conceito de estacionariedade para a análise dessas séries. Segundo Wooldridge (2012), uma

série é dita estacionária se a sua distribuição ao longo do tempo não muda, ou seja, independente

do tempo t, a média, a variância e a covariância não mudam ao longo do tempo. Em um sentido

teórico, estacionariedade serve para a aplicação da lei dos grandes números e do teorema do

limite central. No nível prático, precisa-se assumir alguma forma de estabilidade ao longo do

tempo para conseguir entender uma análise de regressão entre duas ou mais variáveis.

Outro problema advindo da não-estacionaridade das séries temporais são as chamadas

regressões espúrias. Esse tipo de regressão indica que a variável dependente, supostamente, é

bem explicada pelo modelo. Um exemplo de regressão espúria acontece quando duas séries com

tendência positiva e sem relação uma com a outra podem, através de uma análise de regressão

simples, apresentar alto coeficiente de determinação. Para garantir que a série é estacionária,

existem vários testes que podem ser aplicados.

Um jeito fácil de resolver o problema da não estacionaridade é através do método das

diferenças, isto é, subtrair o valor da série temporal no tempo t pelo seu valor em (t -1) :

(35) Δ!! = !!! − !!!!!

Dizemos que quando uma série é estacionária ela é I(0). Quando a primeira diferença dela é

estacionária, ela é I(1), e assim por diante. Para se testar a estacionariedade de uma série, um

dos testes mais utilizados é o teste de Dickey-Fuller aumentado (ADF). Ele consiste em testar a

hipótese nula se o coeficiente da raiz unitária é nulo ou não. Seja a equação abaixo a equação do

teste ADF:

(36) Δ!! = !! + !!!!!! + ! !!Δ!!!!!!!! + !!!

Onde ! é uma constante, e ! é o estimador usado na hipótese nula. Se ! é igual a zero,

existe uma raíz unitária e, portanto a regressão pode estar comprometida. Como o teste de

Dickey-Fuller aumentado é bem complexo, é utilizado uma tabela para aceitar-se ou não a

hipótese nula. O software estatístico utilizado nesse trabalho já dará essa informação na parte

prática, o que ajudará a verificar se as séries utilizadas na regressão podem ser consideradas

estacionárias.

! 42!

4.10 Cointegração !

Como visto na seção anterior, a hipótese de estacionariedade é muito importante para

garantirmos que a uma regressão não seja espúria e, portanto, não tenha valor estatístico algum

mesmo com !! próximos a 1. Para testar se um série é estacionária, pode-se usar o teste de ADF

e testar a hipótese nula de presença de raiz unitária. Entretanto, Wooldridge (2012) argumenta

que, existe um caso importante em que regressões envolvendo séries I(1) não formam regressões

espúrias e é muito importante no estudo econométrico: a cointegração.

A cointegração se refere a uma relação de longo prazo entre séries I(1). Como pode-se ver,

muitas vezes na economia não existem séries totalmente estacionárias devido a vários problemas

(desde o tamanho da amostra disponível até a não confiabilidade dos dados). Porém, através de

modelos teóricos e matemáticos consegue-se perceber relação entre variáveis que justificariam as

regressões embora testes puramente estatísticos não consigam devido a possíveis limitações de

premissas.

Hjalmarsson e Österholm (2007) argumenta que a hipótese de raízes unitárias por trás desse

teste não são facilmente justificadas na teoria econômica. Que variáveis como inflação e juros,

que muitas vezes são vistas como possuindo raiz unitária, não possuem razão a priori para

acreditar nessa hipótese e que, em grandes amostras, possuem sinais de reversão de média. Um

teste sugerido para testar a cointegração é o de Johansen (1995), onde seu ponto inicial é no

vetor autoregressivo (VAR) de y de ordem igual a p:

(37) !! = !! + !!!!!!! +⋯+ !!!!!! + !!!

Onde !!é um vetor de n x 1 variáveis que são integradas de ordem um I(1) e !! é um vetor de

nx1 contendo os resíduos. Esse VAR pode ser reescrito como:

(38) ∆!! = !!+ !!!!−1 + !!∆!!−!!−1!=1 + !!!

Onde ! = !! −!!!! ! e !! = − !!!

!!!!! . Se a matriz de coeficientes (!) tem um rank

reduzido (r < n), então existem nxr matrizes ! e !, cada uma com rank igual a r, de forma que

! = !"′!, sendo !′!! estacionário. Onde r é o numéro de relações de cointegração, ! é o

conjunto de elementos conhecidos como parâmetros de ajuste no VECM (vector error correction

model) e cada coluna de ! é um vetor de cointegração. Usando essas informações, Johansen

! 43!

(1995) propõe dois testes para estudar a cointegração de series: o trace test e o maximum

eigenvalue test, respectivamente:

(39) !!"#$% = !−!! ln!(1−!!=!+1 !!!)

(40) !!"# = !−!!ln!(1− !!!+1) Onde T é o número de observações na amostra e !! é a i maior correlação canônica entre os

vetores. O trace test testa a hipótese nula de r vetores de cointegreção contra a hipótese

alternative de n vetores de cointegração. Já o maximum eigenvalue test testa a hipótese de r

vetores de cointegração contra a alternative de r + 1 vetores. A presença de variáveis

estacionárias no sistema não é um problema para a funcionalidade do teste e da cointegração. A

cointegração, então, sugere que embora as séries possam não ser estacionárias, existe uma

relação de longo prazo que valida a regressão.

4.11 Causalidade de Granger !

Eichler (2011) argumenta que na análise de séries temporais, inferências sobre as relações de

causa e efeito entre variáveis são baseadas no conceito de causalidade de Granger (1969). Esse

modelo é feito para analise de relações de causa e efeito de maneira empírica e não de um

modelo científico, como muitas vezes é feito na economia. Dois princípios são fundamentais na

análise de causalidade de Granger:

• O “efeito” (Y) nunca precede a “causa” (X) no tempo.

• A série da “causa” contém informações únicas sobre a série que sofre os efeitos que

não está disponível na relação inversa.

A primeira premissa é comumente aceita. Já em relação a segunda premissa, Granger (1969)

considera dois conjuntos de informação:

• ℒ∗(!) é o conjunto de todas informações no universe até o tempo t.

• ℒ∗!!(!) contém as mesmas informações, exceto pelos valores contidos na série X

até o tempo t.

Matematicamente, temos que: a série X não causa Y se:

![!!!! ∈ !!|!ℒ∗(!)] = ![!!!! ∈ !!|!ℒ∗−! ! ]!

! 44!

Onde A é um conjunto não vazio de variáveis escolhidas arbitrariamente e P é a probabilidade

do evento acontecer. Portanto, temos que a causalidade de Granger é importante para verificar se

existe alguma relação de causa e efeito entre as variáveis. Entretanto, Eichler (2014) diz que a

causalidade de Granger nem sempre indica uma causalidade verdadeira e que é difícil a

separação do universo em ℒ∗(!) e ℒ∗!!(!) devido a premissas de que o universo pode ser

considerado discreto tanto no tempo, quanto no espaço. Também limita que se X afeta Y através

de uma terceira variável, a causalidade de Granger não pega esse efeito, visto que essa terceira

variável estaria no outro grupo.

! 45!

5. O caso brasileiro !

Esta seção tem por objetivo utilizar todo o conhecimento teórico adquirido ao longo do trabalho

para analisar a evolução do crédito no Brasil. O objetivo do trabalho não é testar estatisticamente

a influência de cada limitante do crédito na atividade e sim descrever o cenário macroeconômico

brasileiro e situar o crédito nesse contexto. No Brasil, existem três tipos de instituições que

participam ativamente da concessão de crédito e que podem possuir atuação e objetivos distintos:

instituições públicas, privadas nacionais e privadas estrangeiras.

Figura 16 – Evolução do estoque de crédito por tipo de instituição no Brasil

Fonte: Adaptado de Banco Central

!

O figura 16 mostra a dinâmica de crédito após o ano de 2000. Vê-se que o crescimento do

crédito se deu de maneira rápida e intensa, liderado principalmente pelo crescimento exponencial

do crédito proveniente de instituições públicas no período pós-2008. Após 2011, o crédito

proveniente de instituições públicas se consolida como a principal forma de financiamento de

empresas e famílias no Brasil e hoje é maior que a soma de instituições públicas e privadas. De

Paula, Oreiro e Basilio (2013) identificam que o crescimento do crédito por instituições públicas se

deu principalmente via BNDES e que esse tipo de crédito não obedece as condições normais de

mercado.

! 46!

Como foi visto na capítulo 2.3, McLeay, Radia e Thomas (2014) explicam que existem três

principais restrições que limitam a criação de dinheiro através de empréstimos bancários. Como

foi explicado, na economia moderna o empréstimo bancário cria um depósito e, assim, expande a

base monetária de uma nação. Entretanto, os bancos podem enfrentar resistência para a criação

de novos empréstimos devido a três principais fatores: a própria disposição do banco a emprestar,

o comportamento dos tomadores de empréstimos e a política monetária ditada pelo CMN e

perseguida pelo Banco Central.

5.1 O comportamento dos bancos

McLeay, Radia e Thomas (2014) argumentam que os bancos levam em consideração na hora

de criar um empréstimo se este será lucrativo e também consideram o risco de conceder esse

empréstimo. O Banco Central, desde 2011, divulga a pesquisa trimestral de condições de

crédito10. Nessa pesquisa, ele visa através de pesquisas com os bancos apurar como foi a oferta e

a demanda de crédito. Nela, as instituições financeiras selecionadas pelo Banco Central

devem responder como foi (e o que elas esperam a frente) as condições de crédito em quatro

categorias:

• Consideravelmente mais restritivo (CR): os bancos apertaram bastante as condições

de crédito de maneira a diminuir a concessão.

• Mais restritivo (MR): os bancos apertaram as condições de crédito, porém de maneira

mais moderada que na CR.

• Basicamente inalterável (BI): Não houve mudança significativa nas condições de

empréstimos.

• Moderadamente mais flexível (MF): os bancos facilitaram as condições de crédito.

• Consideravelmente mais flexível (CF): os bancos afrouxaram consideravelmente os

requisitos para realizar empréstimos.

O cálculo do índice é feito utilizando uma média entre as instituições financeiras a partir das

condições de créditos reportadas por ela (em que CR equivale a -2 pontos, MR a -1, BI tem valor

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

10 Mais detalhes sobre a construção dos indicadores podem ser verificados no site do Banco Central: Trabalho para Discussão no 245 – Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil, de junho de 2011.

! 47!

nulo, MF é igual a 1 e CF tem valor igual a 2). Portanto, quanto mais próximo de 2 for a média,

mais frouxa as condições de crédito foram no período observado.

O figura 17 mostra que durante todo o período observado, os bancos reportaram, em geral,

um aperto das condições de crédito. Entretanto, pode-se ver que a partir do quarto trimestre de

2014, as condições de oferta de crédito pioraram significativamente e de maneira mais intensa

para as empresas. Essa maior dificuldade de obtenção de crédito para as empresas pode

impactar diretamente no investimento pois, como visto na descrição do impulso de crédito, os

empréstimos realizados pelas empresas se traduz em investimento.

Figura 17 – Condições de crédito: oferta de crédito observada

Fonte: Adaptado de Banco Central

Pode-se ver que no cenário brasileiro, após 2014, os bancos começaram a limitar o

crescimento de crédito por sua própria iniciativa. De acordo com McLeay, Radia e Thomas (2014),

essa restrição ao fornecimento de novos empréstimos afeta a criação de crédito de maneira

direta: bancos não se sentem aptos a emprestar dinheiro e assim o crédito não aumenta. De

acordo com o Relatório de Estabilidade Financeira11 do Banco Central, os principais riscos

reportados pelas instituições financeiras nacionais são os riscos de inadimplência, de mercado, de

liquidez e de recessão. O figura 18 indica que, a partir de dezembro de 2014, (quando vemos que

as condições de crédito começam a ficar mais apertadas) o risco de inadimplência, que até então

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!11 O relatório de Estabilidade Financeira produzido pelo Banco Central e divulgado em Abril de 2017 pode ser encontrado aqui: http://www.bcb.gov.br/?relestab201704.

! 48!

estava em tendência de queda, reverte a trajetória até passar a ser reportado como o principal

risco observado pelas instituições financeiras.

Figura 18 – Principais riscos reportados pelos Bancos

Fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, Banco Central, Abril de 2017.

Portanto, os bancos, a partir de 2014 se mostram menos dispostos a criação de novos

empréstimos e com isso dificultam o crescimento de crédito no Brasil. Entre os principais motivos

de riscos (ou seja, fatores que podem deixar o banco mais cauteloso na hora de emprestar

dinheiro) se destaca o risco de inadimplência por parte dos tomadores de empréstimos. Tem-se

então que o cenário brasileiro, na crise de 2014, contou com bancos apertando as condições de

crédito e assim o comportamento dos bancos atuou de maneira a impedir o crescimento do

crédito.

5.2 O comportamento dos tomadores de empréstimo

Como defendido por McLeay, Radia e Thomas (2014), o comportamento das famílias e

empresas que pedem empréstimos pode afetar de maneira direta a criação de crédito pelos

Bancos. Mais uma vez, a pesquisa trimestral das condições de crédito do Banco Central é um

! 49!

bom indicador para a análise de como os tomadores de empréstimos se comportaram nos últimos

anos e seu funcionamento é parecido com o explicado anteriormente. A única diferença é que

agora os bancos e instituições financeiras opinam sobre como eles perceberam que a demanda

de seus clientes se alterou em relação ao trimestre anterior.

Figura 19 – Condições de crédito: demanda de crédito observada

Fonte: Adaptado de Banco Central

Pode-se observar que, assim como a oferta de crédito se tornou mais restritiva a partir de

2014, também houve uma diminuição na demanda por crédito por parte dos tomadores. O

comportamento desses tomadores de empréstimo pode ser explicado, de acordo com o relatório

de estabilidade financeira da banco central pelo aumento do desemprego (figura 9) que interfere

na renda das famílias, e também pelo forte processo de redução de endividamento das famílias

(figura 19) e também um processo de desalavancagem por parte das empresas não-financeiras.

Tem-se como resultado, então dessa demanda mais fraca por crédito uma diminuição da criação

de empréstimos, o que faz com que a segunda limitação para o crescimento do crédito esteja

presente.

! 50!

Figura 20 – Endividamento das famílias

Fonte: Adaptado de Banco Central

Como pode-se observar, o endividamento das famílias se estabilizou a partir de 2014 e desde

metade de 2015 vem caindo, mostrando assim que as famílias estão menos propensas a contrair

empréstimos e estão em processo de deleveraging, ou seja, se livrando das dívidas. Portanto, do

lado dos tomadores de empréstimos, temos que, a partir de 2014, a demanda diminuiu e se iniciou

um processo de estabilização (e posterior diminuição) do endividamento, mostrando que as

pessoas e empresas estão mais cautelosas na hora de fazer empréstimos, o que somado a

bancos mais rígidos na hora de emprestar, limita e até mesmo diminui assim o crescimento do

crédito.

5.3 A política monetária do Banco Central

A terceira e última “variável” que influencia na criação de empréstimo, segundo McLeay,

Radia e Thomas (2014), é a política monetária perseguida pelo Banco Central. Como explicado no

item 2.1, o Banco Central deve obedecer a um regime de metas de inflação e usar todos os seus

instrumentos para conduzir essa inflação para o objetivo estabelecido pelo CMN. O principal

instrumento do Banco Central na sua política monetária é a taxa de juros (representada pela

SELIC). Na função de reação do Banco Central vê-se, de maneira simplificada, que o Banco

! 51!

Central define essa taxa de juros em função do hiato do produto e das expectativas de inflação

dos agentes da economia.

Como visto na figura 8, após anos rodando o teto da meta, após dezembro de 2014 a inflação

estoura a meta do Banco Central. Para levar essa inflação de volta para a meta, o Banco Central

adota uma política monetária contracionista, ou seja, ele dificulta o acesso ao dinheiro pelos

bancos, subindo assim as taxas de juros (figura 3).

Figura 21 – Taxa de juros média proveniente de recursos livres

Fonte: Adaptado de Banco Central

Como argumentado por McLeay, Radia e Thomas (2014), quando o Banco Central adota uma

política de juros altos, ele encarece assim o crédito e transforma instrumentos de renda fixas em

investimentos mais atraentes e aumentando o preço de investimentos mais arriscados. No Brasil,

há um alto spread bancário, ou seja, a diferença entre a taxa de captação de dinheiro pelo banco

e a taxa em que ele empresta no varejo. Esse trabalho não visa entrar no mérito das causas

desse spread, entretanto, vê-se que não obstante os juros mais altos devido a política monetária,

o efeito desse spread tornou empréstimos bem caros aos tomadores.

A partir de 2014 tem-se então um cenário de crédito mais caro que desencoraja a realização

de empréstimos por parte dos bancos e dos tomadores. Além da política restritiva do Banco

Central, o elevado spread bancário no Brasil contribuiu para tornar as taxas de empréstimos

pouco atrativas paras as empresas e famílias.

! 52!

5.4 O crédito público

Como visto na figura 15, o crédito proveniente de instituições públicas é hoje o principal meio

de financiamento nacional, ocupando em torno de 56% do estoque de credito do país (dados de

junho de 2017). Como o crédito de instituições públicas estão muitas vezes fora das leis que

regem o mercado, os limitantes explicados acima não se aplicam a essas instituições. Para isso,

precisa-se analisar a fonte de crédito e os motivos que regem o seu comportamento ao longo do

tempo. De Paula, Oreiro e Basilio (2013) mostram que existem diferenças entre a composição

das carteiras dos bancos públicos e da sua forma de captação de recursos. Além disso, o crédito

público também responde a interesses do governo em relação a políticas de desenvolvimento

econômico adotada pelo governo.

O figura abaixo mostra que a estabilização do crédito público se deve, principalmente, a

créditos oriundos do BNDES. Segundo o site do BNDES12, o banco pode ser descrito como:

“Fundado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um

dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo e, hoje, o principal instrumento do Governo

Federal para o financiamento de longo prazo e investimento em todos os segmentos da economia

brasileira (…) Por ser uma empresa pública e não um banco comercial, o BNDES avalia a

concessão do apoio com foco no impacto socioambiental e econômico no Brasil. Incentivar a

inovação, o desenvolvimento regional e o desenvolvimento socioambiental são prioridades para a

instituição (…) Em situações de crise, o Banco também tem fundamental atuação anticíclica e

auxilia na formulação das soluções para a retomada do crescimento da economia. O BNDES está

presente para apoiar o crescimento do País onde é necessário. “

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!12 Fonte: http://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/quem-somos. Recuperado em 24 de agosto de 2017.

! 53!

Figura 22 – Estoque de crédito proveniente de instituições públicas

Fonte: Adaptado de Banco Central

!

Visto que o principal causador da queda no estoque de crédito durante o período foi o

BNDES, o trabalho focará apenas em entender o porque dessa diminuição. Como explicado

acima, o BNDES não tem as funções de um banco comercial e está focado em operações que

visam o desenvolvimento do país e não o lucro. Uma reportagem do Jornal Estadão13 indica

que a então presidente do BNDES, Maria Silvia, argumenta que falta demanda de crédito para

investir. Além disso, o então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, também atuou para a

diminuição do Banco no cenário econômico. Portanto, vê-se que crédito proveniente do setor

público não é regido apenas pelas leis do mercado, o que faz qualquer análise se tornar mais

complexa. Toda essa discussão da atuação do BNDES se da em meio a explosão da dívida

pública brasileira, o que fez com que o governo aumentasse o esforço fiscal.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!13!Fonte:!http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,bndesAdiminuiAemprestimosAeAsetoresAreclamam,70001775462.!

! 54!

5.5 Avaliação do cenário

Como foi visto ao logo do capítulo, o crédito foi, principalmente no período entre o fim de 2014

e o início de 2017, contido por inúmeras fonte de pressões:

• Os bancos se tornaram mais cautelosos a emprestar e, assim, apertaram as condições de

crédito.

• Os tomadores de empréstimos, afetados pela recessão, diminuíram seu apetite por crédito e

começaram um processo de redução do endividamento.

• O Banco Central adotou uma política contracionista, aumentando os juros e encarecendo

assim o crédito, que contou também com o elevado spread bancário existente no Brasil.

• A política pública vigente afetou os empréstimos dos bancos públicos, principalmente do

BNDES e diminuíram assim o estoque de crédito público.

Portanto, o Brasil contou com uma “tempestade perfeita” após 2014 que impediu qualquer

crescimento por parte do crédito e, consequentemente, do impulso de crédito. Entretanto, a partir

de 2017, a dinâmica do crédito voltou a melhorar e assim aumentando o impulso de crédito, o que

poderá dar suporte a uma melhora da atividade a frente.

Figura 23 – O impulso de crédito

Fonte: Adaptado de Banco Central

! 55!

6. A aplicação do modelo ao caso brasileiro

!

6.1 Os dados

Os dados de crédito utilizados estão disponíveis pelo site do Banco Central, que os divulga de

maneira mensal e classifica o estoque de crédito em privado, público e de bancos estrangeiros. O

PIB e seus componentes utilizados foram os disponibilizados pelo Instituto Nacional de Geografia

e Estatísticas (IBGE), que os atualiza com uma frequência trimestral. A atual série histórica do PIB

calculado pelo IBGE tem início em 1996, ao passo que a série de crédito do Banco Central tem

início em 1988. Entretanto, antes de 1994 o cenário macroeconômico brasileiro era bem diferente,

vivenciando períodos de grande inflação e com a utilização de outra moeda, o que dificulta

comparações de crescimento entre os períodos.

De maneira a compatibilizar as frequências dos dados, os dados de crédito no banco central

foram arrumados também de uma maneira trimestral, com o dado do trimestre sendo

representado pela média do estoque de crédito no trimestre correspondente. Por exemplo, o dado

para o estoque de crédito no trimestre 2015.1 foi o relativo a média entre os estoques de crédito

de janeiro, fevereiro e março do devido ano. Os dados serão transformados de acordo com o

modelo proposto por Biggs, Mayer e Pick (2009) na seção seguinte. Todas as análises estatísticas

serão feitas com o auxílio do software estatístico eViews.

6.2 As transformações

Como visto na seção 2.3, a atividade econômica, aqui representada pela demanda doméstica

privada (Y = C + I), se relaciona da seguinte maneira com o crédito:

(41) !!!!!!!!!!!

= 1 − !δ !∆!!!!∆!!!!!!!!+ 2δ + r ∆!!∗!!!!!

!!!!∗!!!!!

Para testarmos esse modelo empiricamente, Biggs, Mayer e Pick (2009) sugerem as

seguintes transformações para os dados que possuímos:

(42) !! = !!(C!!!+!I!!)!−!(C!−4

! !+!I!−4! )(C!−4! !+!I!−4! )

! 56!

Onde !! será a nossa variável dependente e simboliza a demanda doméstica privada. Embora

possa-se argumentar que o modelo não é válido para simbolizar toda a atividade do país pois

exclui componentes importantes como os gastos do governo e o comércio externo, temo que , no

Brasil, essa variável representou cerca de 80% do PIB do país no ano de 2016.

Figura 24 – Componentes do PIB

Fonte: Adaptado de IBGE

!

Já o crédito será tradado da seguinte maneira. O crescimento real do crédito se dá pela

seguinte forma:

(43) d! = !!(!! !!)!−!(!!−4 !!−4)

(!!−4 !!−4)

Onde d! é o crescimento real do crédito, !! é o estoque de crédito no período t e !! é o

deflator implícito do PIB, isto é, a divisão entre PIB nominal e PIB real no período t. Por fim, o

impulso tem a seguinte forma:

(44) ci! = !!!!−!!!−1!!!− !!−4−!!−5

!!−5!

! 57!

Onde !!! é o PIB Nominal no período t. Por fim, a regressão que representará o modelo se

dará da seguinte forma:

(45) !! = !!!!! + !!!!!! + !!!!!"! + !!!

Portanto, o modelo a ser testado empiricamente é o descrito acima e ele visa ter a relação

entre a economia real e o crédito. Além disso, Biggs, Mayer e Pick (2009) analisam que o

crescimento de crédito e o impulso reagem de forma diferente em períodos de recuperação

econômica após crises. Nesse trabalho será testado se o mesmo se aplica ao Brasil.

6.3 Estacionariedade das séries !

Como visto no capítulo 4.10, a hipótese de estacionariedade é importante para verificarmos se

a regressão é espúria ou não. Também é importante para verificarmos as premissas da

regressão. O teste a ser usado será o teste Dickey-Fuller aumentado e testaremos todas as séries

individualmente. A tabela abaixo resumo os resultados apresentados e utilizando o critério de

Akaike para seleção de lags de maneira a termos resultados confiáveis. Lembrando que !! é a

hipótese de que há raiz unitária (logo, a série não é estacionária).

Tabela 4 – Teste Dickey-Fuller Aumentado

Fonte: Elaboração Própria

A tabela acima mostra que duas das três variáveis usadas no modelo possuem raízes

unitárias e portanto não são estacionárias e, então, gerariam regressões espúrias. Entretanto,

deve-se ter cautela a analisar esse resultado devido aos seguintes fatores:

Variável t-valor Valor Crítico (1%)

Valor Crítico (5%)

Valor Crítico (10%) p-valor Resultado

yt -1,74 -4,09 -3,47 -3,12 0,72 Não rejeita Ho

dt -0,66 -4,09 -3,47 -3,16 0,97 Não rejeita Ho

cit -3,94 -4,09 -3,47 -3,16 0,02Rejeita-se Ho com

5%

! 58!

• No caso do Brasil, devido a fatores macroeconômicos que afetam de maneira significativa

os dados, não pode-se ter uma amostra muito grande (possuímos 80 observações,

entretanto, como os dados são trimestrais, esse número de observações pode não ser

considerado suficiente).

• Quando analisamos o caso americano, verificamos que no mesmo período analisado

nesse trabalho, o PIB americano (e o PIB brasileiro também, vale ressaltar), possuem

raízes unitárias. Entretanto, quando consideramos uma amostra maior (desde 1947, uma

amostra de 278 observações), temos que a série pode ser considerada estacionária.

Tabela 5 – Teste Dickey-Fuller Aumentado para o caso americano

Fonte: Elaboração Própria

!

Figura 25 – PIB Americano

Fonte: Adaptado de Bureau of Economic Analysis

Portanto, deve-se ter cuidado ao interpretar os resultados do teste de estacionariedade

para os dados e tentar usar também da teoria econômica para analisar os resultados que serão

Variável Amostra t-valor Valor Crítico (1%)

Valor Crítico (5%)

Valor Crítico (10%) p-valor Resultado

yt 1997 a 2017 -2,67 -4,09 -3,47 -3,16 0,72 Não rejeita Ho

yt 1948 a 2017 -5,79 -4,09 -3,47 -3,16 0,00 Rejeita-se Ho com 1%

! 59!

gerados. No caso brasileiro, infelizmente, não temos a disponibilidade de séries trimestrais que

remetem a década de 1940 como nos EUA e portanto não temos como concluir se o problema

da estacionariedade é devido ao tamanho da amostra.

6.4 Cointegração das séries

Como explicado na seção 4.10, séries que não são estacionárias podem possuir relação

de longo prazo. Para testar essas relações, têm-se que existe o conceito de cointegração.

Woolridge (2012) argumenta que muitas vezes a cointegração possui interpretação

econômica. No caso do presente estudo, verificou-se que no caso das séries de demanda

doméstica privada e do crescimento real do crédito, não se pode rejeitar a hipótese de raízes

unitárias. Entretanto, como visto no caso americano, esse problema pode ser devido ao

limitado tamanho da amostra.

Existem inúmeros testes para verificar a hipótese de cointegração entre as séries.

Wooldrige (2012) sugere o teste de Engle-Granger para os resíduos provenientes da

regressão entre as séries. Como não pudemos rejeitar a hipótese do impulso de crédito

possuir raízes unitárias com nível de significância de 1%, podemos assumir que o impulso

também é uma série I(1) nesse nível de significância e usarmos o teste de Engle-Granger para

verificarmos se as variáveis presentes na regressão são cointegradas. A hipótese nula no caso

é a hipótese de que não há cointegração, ou seja, !!: não há cointegração.

Tabela 6 – Teste de Engle-Granger para cointegração

Fonte: Elaboração Própria

Portanto, a tabela acima confirma que, com nível de significância de 5% existe sim

cointegração entre as variáveis, ou seja, há relação de longo prazo e portanto a regressão faz

sentido. Quando possui-se variáveis que são relacionadas e, entretanto, não são

estacionárias, usa-se um modelo corretor de erros.

Como visto na seção 4.10, Hjalmarsson e Österholm (2007) argumentam que o teste de

Johansen também é útil para a avaliação de cointegração, e é capaz de determinar quantos

Variável dependente t-valor Valor

Crítico (1%)Valor Crítico

(5%)Valor Crítico

(10%) p-valor Resultado

yt -4,29 -4,32 -4,03 -3,78 0,05 Rejeita-se Ho com 5%

! 60!

vetores de cointegração existem. Enders (2012) afirma que o teste de Johansen é bem

sensível ao lag permitido e, portanto, deve-se calcular o VAR com as variáveis em nível e usar

o lag ótimo de um dos variados critérios para escolher o lag correto no teste. A figura abaixo

resume os resultados para o lag ótimo do VAR de acordo com diferentes critérios (o máximo

permitido foram 4 lags14).

Tabela 7 – Critérios para escolha de lag

Fonte: Elaboração própria

Como visto na tabela 7, apenas o critério SC escolhe um lag diferente de 4, e, portanto, o lag a

ser escolhido para o teste de Johansen será igual a quatro. A tabela 8 resume o resultado do teste

de Johansen aplicado as variáveis de atividade, crescimento real do crédito e impulso de crédito,

controlando para tendência determinística linear nos dados e permitindo 4 lags conforme indicado

acima.

Tabela 8 – Teste de Johansen para cointegração

Fonte: Elaboração Própria

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!14!SIMS,!Eric.!Graduate!macro!theory.!mar.!2013,!!jun.!2013.!Notas!de!Aula.!

Hipóteses

Ho Estatística Valor crítico P-valor Estatística Valor crítico P-valor

r = 0 41,7012 29,7971 0,0014 29,7944 21,1316 0,0024 Rejeita-se Ho com alfa = 5%

r = 1 11,9576 15,4947 0,1590 11,2749 14,2646 0,1410 Não rejeita-se Ho com alfa = 5%

r = 2 0,6827 3,8415 0,4087 0,683 3,8415 0,4087 -

Trace test Max. Eigenvalue TestResultado

! 61!

Pode-se ver que, de acordo com ambos os testes de Johansen (1995), existe apenas uma

equação de cointegração ao nível de significância de 5% entre as variáveis selecionadas e,

portanto, pode-se afirmar que existe uma relação de longo prazo entre elas. O vetor de !

Embora os coeficientes estejam representados negativos acima, tem-se que levar em conta

que isso é uma equação implícita, de forma que, no modelo padrão, pode-se ver que a relação de

longo prazo se da por:

Tabela 9 – Coeficientes de cointegração

Fonte: Elaboração Própria

(46) !! = !0,1980!!! + !5,2341!!"!

Portanto, podemos ver que no longo prazo o impulso de crédito é muito mais significativo do

que o crescimento do crédito real. Por fim, deve-se agora chegar no VECM. Como explicado em

4.10 e como tem-se apenas uma equação de cointegração e relativo a 4 lags, temos que o VECM

tem a seguinte forma matemática:

(47) ∆!! = !!+ !!0(1− 0,1980!− 5,2341!")!!−1 + β!1∆!!−!4!=1 + β!2∆!!−!4

!=1 +β!3∆!"!−!4

!=1

Onde !!(1− 0,1980! − 5,2341!")!!!! é a relação de longo prazo entre as variáveis, sendo

!! o coeficiente que descreve a velocidade de ajuste de volta ao equilíbrio, e β!" descrevem a

relação de curto prazo entre mudanças em y e x. De acordo com Wooldridge (2012), !! deve ser

significativo e menor que zero par que exista relação de longo prazo, isso é, para que o valor volte

para o equilíbrio.

Variável Coeficiente de Cointegração Normalizado

Desvio padrão β/σ

yt 1 - -

dt -0,198 0,1164 -1,7010

cit -5,2341 0,8924 -5,8652

! 62!

Tabela 10 – Resultado do ECVM. Resultado sem parênteses representam os valores dos

coeficientes, entre parênteses o desvio-padrão e entre colchetes a estatística t-Student.

Fonte: Elaboração Própria

!

A tabela 10 também mostra o coeficiente de ajuste não é significativo e nem negativo, o que

faz com que não exista uma correção para o equilíbrio do erro no longo prazo. Para verificar se

relação de curto prazo, foi realizado um teste de Wald para verificar se os coeficientes são iguais

a zero. O teste mostra que tanto os coeficientes do impulso, quanto do crescimento de crédito,

são iguais a zero e portanto também não há relação de curto prazo de acordo com o modelo

! 63!

VECM. Entretanto, vale destacar que o modelo estudado tem um baixo coeficiente de

determinação, (!!ajustado próximo de 0,26), o que faz com que o modelo não explique bem a

variável esperada.

6.5 Causalidade de Granger !

A seção 5.11 explica que uma forma muito utilizada para verificar o efeito de uma variável X

em uma variável Y é feita através de uma análise de causalidade de Granger. Foram utilizadas as

mesmas variáveis utilizadas na seção anterior para verificar a presença de alguma causalidade. A

tabela abaixo resume os resultados:

Tabela 11 – Causalidade de Granger

Fonte: Elaboração Própria

Portanto, a análise mostra que é a atividade que provoca um crescimento do crédito no Brasil

e que o crescimento real do crédito provoca o crescimento do impulso de crédito (como é

esperado, afinal, o impulso é a derivada do crescimento do crédito por definição). Entretanto, o

ponto principal da análise é de que o impulso de crédito não causa (e nem é fruto) do crescimento

da economia.

Ho F-Estatística P-valor Resultado

y não causa ci no sentido de Granger 1,2098 0,3042 Não rejeita-se Ho com alfa = 5%

ci não causa y no sentido de Granger 0,1689 0,8449 Não rejeita-se Ho com alfa = 5%

d não causa ci no sentido de Granger 7,774 0,0009 Rejeita-se Ho com alfa = 5%

ci não causa d no sentido de Granger 0,7500 0,4760 Não rejeita-se Ho com alfa = 5%

y não causa d no sentido de Granger 12,1850 0,0000 Rejeita-se Ho com alfa = 5%

d não causa y no sentido de Granger 2,1910 0,1190 Não rejeita-se Ho com alfa = 5%

! 64!

6.6 O modelo aplicado ao caso brasileiro

Portanto, verificou-se que as variáveis, embora não conseguiu-se rejeitar a hipótese de raízes

unitárias, possuem relação de longo prazo através do teste de cointegração. Com isso, através do

modelo descrito em (41), temos que o resultado da relação empírica no período entre o segundo

trimestre de 1997 e o primeiro de 2017 se dá através da seguinte equação:

(48) !! = !0,5310 + !0,3478!! + !0,2730!"!

Tabela 12 – Descrição estatística dos coeficientes do modelo

Fonte: Elaboração Própria

Tabela 13 – Resultados da regressão

Fonte: Elaboração Própria

Pode-se observar na tabela 13 que existe regressão, embora não possua uma alto valor

estatístico. Também importante é observar que, no caso brasileiro, o crescimento real do crédito

explica a demanda doméstica privada de maneira superior ao impulso, resultado esse que

contraria o estudo de Biggs, Mayer e Pick (2009) usando dados da economia americana. Mais

uma vez, um possível fator de influência nos resultados é o fato da amostra ser bem menor que a

Variável Valor do Coeficiente Desvio Padrão Estatística t p-valor

Constante 0,5310 0,4428 1,1991 0,2342

dt 0,3480 0,0465 7,4817 0,0000

cit 0,2730 0,1113 2,4527 0,0164

Teste Resultado

R2 ajustado 0,5151

Teste F 42,9692

p-valor da regressão 0,0000

! 65!

utilizada no caso americano e, portanto, possuir períodos onde o crescimento do crédito consegue

explicar de maneira melhor a atividade (isso é, períodos onde não há crises econômicas),

principalmente na bonança vivida entre 2003 e 2008.

Figura 26 – Modelo de regressão

Fonte: Elaboração Própria

!

A imagem acima nos sugere que o modelo parece ter explicado bem os períodos

anteriores ao primeiro trimestre de 2008. Entretanto, após 2008, parece ter acontecido alguma

quebra no poder de explicação do modelo. Sabe-se que a crise econômica americana

coincide-se com esse período e o governo brasileiro, como explicado anteriormente, aumentou

o crédito como forma de manter uma política anticíclica. A figura (21) mostra isso de maneira

bem clara: enquanto o impulso de crédito proveniente das instituições privadas decaiu

bastante, o impulso resultante das instituições financeiras públicas se manteve no campo

positivo.

Wooldridge (2012) sugere que o teste de Chow (que é um simples teste F) pode ser usado

para verificar quebras estruturais, ou seja, se a relação entre as variáveis mudou no tempo. O

teste de Chow simplesmente verifica se o resultado da regressão usando toda a amostra é

superior ao resultado obtido dividindo essa amostra em 2 partes: antes e depois da mudança

estrutural. Usando, mais uma vez o software eViews, pode-se rodar um teste de Chow e

verificar se houve uma quebra estrutural após 2008:

! 66!

Tabela 14 – Teste de Chow

Fonte: Elaboração Própria

Pode-se então dizer que houve uma quebra estrutural no primeiro trimestre de 2008, muito

provavelmente devido ao comportamento do impulso de crédito proveniente das instituições

financeiras públicas, que continuou crescendo muito embora o crédito privado diminuísse.

Realizando então uma nova regressão para os dois períodos utilizados, têm se que os

resultados são:!!

Tabela 15 – Regressão em períodos diferentes

Fonte: Elaboração Própria

Portanto, verificamos que quando dividimos a regressão em duas partes (antes e depois

da crise de 2008), possuímos resultados melhores do que para a regressão como um todo.

Entretanto, vale ressaltar que a amostra já era considerada pequena e, portanto, os resultados

podem não ser exatamente o esperado pelo modelo proposto.!

Ponto de quebra sugerido Primeiro trimestre de 2008

H0 Nenhuma quebra no ponto referido

F-calc 4,8933

P-valor 0,037

Resultado Rejeita-se Ho e pode-se concluir que há uma quebra estrutural em 1T2008

Teste de Chow

Teste Resultado Teste Resultado Teste Resultado

R2 ajustado 0,5151 R2 ajustado 0,5657 R2 ajustado 0,5919

Teste F 42,9692 Teste F 28,3547 Teste F 27,1088

p-valor da regressão 0,0000 p-valor da regressão 0,0000 p-valor da regressão 0,0000

Amostra completa 1997 até 2007 2008 até 2017

! 67!

6.7 O modelo em situações de recuperação da economia

Biggs, Mayer e Pick (2009) argumentam que uma das principais vantagens do impulso de

crédito é que, em situações de recuperação da economia, o crescimento do crédito é lag da

atividade econômica, ao passo que o impulso explica melhor essa situação. A metodologia

utilizada é:

• Períodos de recuperação são definidos como períodos de PIB crescente após

resultados de crescimento menor que 1%.

• Períodos de “não-recuperação” são os períodos com crescimento acima de 1% no

trimestre corrente e no imediatamente anterior a ele.

Biggs, Mayer e Pick (2009) encontraram que o crescimento da atividade em períodos de

recuperação é ainda melhor explicado pelo impulso de crédito. Entretanto, os pesquisadores

também tem como resultado que o impulso é melhor que o crescimento para toda a amostra (o

que difere do resultado achado até aqui) e, em períodos de “não-recuperação”, o impulso

também continua sendo superior ao crescimento real do crédito.

Tabela 16 – Modelo de regressão para os EUA, estatísticas t em parênteses.

Fonte: Biggs, Mayer e Pick (2009)

Para verificar se o fenômeno também ocorre no Brasil, foi utilizada a mesma metodologia

aplicada por Biggs, Mayer e Pick (2009). O resultado encontrado (tabela 11) indica que,

mesmo usando a amostra brasileira em que o crescimento real do crédito se relaciona melhor

com a atividade, o impulso de crédito é melhor relacionado com a atividade econômica em

períodos de recuperação. A amostra usada contém 13 observações.

! 68!

Tabela 17 – Regressão em períodos de recuperação da economia

Fonte: Elaboração Própria

Já para períodos de “não-recuperação”, como esperado, o crescimento real do crédito no

Brasil conseguiu um resultado mais significativo do que o impulso. Esse resultado se deve

principalmente ao aumento contínuo e, portanto, tendência apresentada na série no período

entre 2003 e 2008, onde o Brasil teve um bom crescimento, apoiado no então tripé econômico

e no boom das commodities. A amostra usada contém 45 observações.

Tabela 18 – Regressão em períodos de “não-recuperação” da economia

Fonte: Elaboração Própria

Portanto, o modelo proposto por Biggs, Mayer e Pick (2009) tem poder de explicação médio

em relação ao Brasil e suas premissas de que o impulso de crédito se relaciona melhor com o

crescimento econômico não foi aprovada no caso brasileiro. Entretanto, o ponto principal da

sua análise, que se refere ao impulso de crédito em momentos de recuperação econômica, é

validado no caso brasileiro (com nível de significância de 10%). Todavia, vale destacar que a

amostra utilizada por Biggs, Mayer e Pick (2009) é significativamente maior e abrange diversos

períodos da economia americana, ao passo que a amostra brasileira abrange, em sua maioria,

o período de crescimento da economia brasileira na bonança vivida entre 2000 e 2008, onde o

PIB teve sempre uma tendência de crescimento.

Variável Valor do Coeficiente Desvio Padrão Estatística t p-valor

Constante -0,2708 0,9445 -0,2868 0,7801

dt 0,2078 0,1094 1,9002 0,0866

cit 0,4636 0,2191 2,1155 0,0605

Variável Valor do Coeficiente Desvio Padrão Estatística t p-valor

Constante 3,8011 0,6256 6,0754 0,0000

dt 0,1586 0,0555 2,8559 0,0066

cit 0,2161 0,1367 1,5815 0,1213

! 69!

7. Conclusão

!

O estudo visa contextualizar o comportamento do crédito no cenário macroeconômico

brasileiro. Viu-se que, após o ano de 2003, o crédito começou a crescer exponencialmente.

Porém, foi a partir de 2008, como consequência da crise econômica originada nos EUA, que o

crédito teve sua maior alta, influenciado principalmente pelo crédito proveniente de instituições

financeiras públicas, em especial o BNDES. Vemos também, através de um teste de Chow, que

existe sim uma quebra estrutural a partir do primeiro trimestre de 2008.

Após 2012, há uma estabilização do estoque de crédito privado, que é mais que compensada

por mais uma rodada de crescimento acelerado do crédito público. O crédito privado, como

argumentado no trabalho, obedeceria a três principais limitantes: a disposição dos bancos a

emprestarem, a partir da avaliação do cenário econômico e levando em consideração os riscos e

possibilidades de lucros advindas de conceder empréstimos, da disposição de se endividar das

empresas e consumidores, quando estes enxergam oportunidades melhores de adiantar o

consumo ou de realizar investimentos, e, também, da política monetária do Banco Central, que

pode baratear ou encarecer o crédito para tentar conter efeitos inflacionários.

Verificou-se, através da pesquisa trimestral das condições de crédito realizada pelo Banco

Central, que as principais instituições financeiras já vinham oferecendo condições de créditos

restritas desde 2011, porém que se acentuaram muito a partir do final de 2014, o que faz com que

uma das principais limitantes do crédito estivesse de fato impedindo um crescimento do estoque

de crédito. Vê-se também a demanda, através da mesma pesquisa, por crédito estava em campo

positivo até o final de 2014, porém essa vontade de tomar empréstimo tem uma forte reversão a

partir do primeiro trimestre de 2015. Essa demanda fraca por crédito também é refletida no nível

de endividamento das famílias, que após anos de crescimento, se estabiliza e começa a cair em

2015, mostrando assim tomadores de empréstimos mais relutantes a se endividar para consumir e

investir.

Por fim, verificou-se também que o Banco Central, após anos com uma política monetária

mais frouxa que sua função de reação indicaria e após o menor nível de juros até então (7.25%

a.a. entre 2012 e 2013), teve que apertar profundamente a sua política monetária, em face da

inflação crescente, de expectativas desancoradas e elevadas. Isso ocorreu em um cenário de

baixa confiança dos agentes econômicos tanto na economia, como na própria credibilidade do

Banco Central. Com isso, a taxa de juros básica da economia (SELIC), controlada pelo próprio

Banco Central, praticamente dobrou em menos de 3 anos para 14.25% ao ano. Com isso, o

! 70!

crédito no Brasil, que já sofre de um problema de spread bancário, se tornou ainda mais caro e

menos atraente para a realização de novos empréstimos no período.

Entretanto, a história acima começa a se reverter em a partir da metade final de 2016, com

bancos mais dispostos a emprestar e consumidores e empresas com mais vontade de contrair

empréstimos. Entretanto, a recuperação é lenta no cenário de alto desemprego e economia fraca.

Mas a principal mudança é vista na política monetária onde, o Banco Central, em um cenário de

expectativas ancoradas, atividade econômica fraca e inflação baixa, corta o juros sucessivamente

para níveis cada vez mais baixos (até a presente publicação, o Banco Central cortou o juros para

8.25% ao ano, com expectativas15 de chegar a um patamar ainda menor que 2012, em torno de

7% ao ano)

Além dessa análise teórica, o trabalho focou no estudo do impulso de crédito no Brasil e sua

relação com o crescimento da economia, representado pela demanda doméstica privada (C+I).

Ao contrário da análise de Biggs, Mayer e Pick (2009), o impulso de crédito no Brasil é menos

significativo do que o crescimento real do crédito, quando regredido contra a demanda doméstica

privada. E o modelo possui um resultado para o coeficiente de determinação relativamente fraco,

com !! próximo a 0,50. Entretanto, vale ressaltar que a amostra, principalmente devido a ser bem

inferior a amostra utilizada no estudo que serviu como base, pode ter causado essas distorções.

Como observado na seção 6.3, as séries não podem ser consideradas estacionárias no período.

Entretanto, o mesmo ocorre para o PIB americano que, quando considerando intervalos mais

amplos, prova-se uma série estacionária.

Mesmo com a consideração da amostra, buscou-se fazer uma análise estatística correta para

séries não-estacionárias e verificou-se que há cointegração entre as séries de crescimento da

demanda privada, crescimento real do crédito e impulso do crédito no caso Brasileiro entre 1997 e

o primeiro trimestre de 2017 e, no longo prazo, o impulso de crédito é mais significativo que o

crescimento do crédito real, como teorizado por Biggs, Mayer e Pick (2009). O VECM, entretanto,

mostrou que o coeficiente de ajuste não é significativo e nem negativo, o que faz com que não

exista uma correção para o equilíbrio do erro no longo prazo. Realizando um teste de Wald para

verificar se os coeficientes das relações de curto prazo são iguais a zero, verificou-se também que

não há causalidade de curto prazo. Portanto, o estudo do impulso de crédito no Brasil se mostrou

diferente do achado no estudo base, porém, ainda assim consistente com a atividade econômica

no Brasil.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!15!Fonte:!http://www.valor.com.br/financas/5110758/copomAcortaAselicAemA1ApontoApercentualAparaA825AaoAano!(Recuperado!em!06!de!setembro!de!2017).!

! 71!

Para frente, novos estudos poderão testar se os resultados relativos a estacionariedade das

séries ainda são válidos e, contando com amostras que contenham períodos mais amplos de

crises e recuperações da economia, validar os coeficientes da relação econométrica encontrada.

No Brasil, com o volume alto de crédito proveniente de instituições financeiras estatais, uma

análise puramente econométrica é dificultada. Sugere-se avaliar a diferença entre o impulso de

crédito proveniente de instituições públicas e privadas e em que grau cada um deles se relaciona

com a atividade econômica.

! 72!

8. Referências bibliográficas !

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