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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ – CEAP Marlon Nery da Costa A DIFERENÇA ENTRE OS INSTRUMENTOS DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO UTILIZANDO O ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL ISO 14001 Macapá – AP 2008

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ – CEAP

Marlon Nery da Costa

A DIFERENÇA ENTRE OS INSTRUMENTOS DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO UTILIZANDO O

ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL ISO 14001

Macapá – AP 2008

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Marlon Nery da Costa

A DIFERENÇA ENTRE OS INSTRUMENTOS DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO UTILIZANDO O

ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL ISO 14001

Monografia Jurídica apresentada à banca examinadora do Centro de Ensino Superior do Amapá – CEAP como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Renato Ribeiro do Santos.

Macapá – AP 2008

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Marlon Nery da Costa

A DIFERENÇA ENTRE OS INSTRUMENTOS DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO UTILIZANDO O

ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E A CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL ISO 14001

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ NOTA (..........)

Professor Orientador

__________________________________________________ NOTA (..........)

Professor(a) Membro

__________________________________________________ NOTA (..........)

Professor(a) Membro

4

Agradecimentos

Inicialmente a Deus, poderoso ser que tudo pode e em quem temos belas

esperanças de ajudar quando precisamos.

A toda a minha família, em especial a meus pais que sempre me apoiaram

em minhas escolhas.

A todos os meus colegas de sala, em especial, lógico, aqueles que estão

sempre próximos, ou seja, no mesmo grupo, como Ana Cláudia Silva (secretária do

grupo e muitas vezes da sala também) e Leila Danielle Cordeiro dos Santos, esta

sempre emprestando a divina paciência a todos.

5

Resumo

A proteção ambiental se encontra normatizada pela primeira vez em uma constituição brasileira com a carta magna de 1988, conseqüentemente, essa normatização eleva a importância do meio ambiente e a sua proteção. Os princípios da prevenção e precaução se inserem nesse aspecto, proporcionando a discussão sobre a utilização do bem ambiental em proveito da coletividade e não apenas em troca de desenvolvimento econômico irracional. Além disso, fica enfatizado a utilização da prevenção e da precaução através do Estudo de impacto Ambiental (EIA/RIMA) e da certificação ISO 14001, que dão ao empreendedor a prerrogativa de demonstrar o respeito ao meio ambiente em sua política ambiental, em detrimento de uma exploração econômica que custe milhares de anos para a recuperação do ecossistema.

Palavras-chave: Meio Ambiente. Direito Ambiental. Princípio da Prevenção. Princípio da Precaução. Estudo de Impacto Ambiental. Certificação Ambiental.

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Abstract

Environmental protection is normalized for the first time in a Brazilian constitution with the Magna Carta of 1988, therefore, this ruling elevates the importance of the environment and its protection. The principles of precaution and prevention falls within that aspect, providing a discussion on the use of environmental and the benefit of the community, rather than condemning in exchange for economic development irrational. Moreover, it emphasized the use of preventive and precautionary through the Environmental Impact Assessment (EIA/RIMA) and ISO 14001 certification, giving the entrepreneur's right to demonstrate compliance with the environment in its environmental policy, rather than an economic exploitation that cost thousands of years to rehabilitate the ecosystem.

Keywords: Environment. Environmental Law. Principle of Prevention. Principle of Precaution. Environmental Impact Assessments. Environmental Certification.

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SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................................... 8

2. A Proteção Ambiental na História – primeiros relatos .......................................... 10

2.1. A Proteção Ambiental na Normatização Brasileira ................................. 12

2.2. A Proteção Ambiental e a Constituição Brasileira .................................. 14

3. O Princípio da Precaução .....................................................................................16

3.1. Poder Público, o Princípio da Precaução e a tutela do meio ambiente .. 20

3.2. A Incerteza do Dano Ambiental .............................................................. 23

3.3. A inversão do ônus da prova no Princípio da Precaução ....................... 24

4. O Princípio da Prevenção .................................................................................... 26

4.1. A implantação imediata das medidas de prevenção .............................. 28

4.2. O Princípio da Prevenção e a Educação Ambiental ............................... 29

5. Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) .. 33

6. A Certificação Ambiental ISO 14.001 ................................................................... 38

6.1. Fases para a implantação do Sistema de Gestão Ambiental ................. 40

7. A divergência doutrinária sobre a diferença ou não entre os princípios da

prevenção e da precaução ....................................................................................... 43

8. A diferença entre os princípios da prevenção e da precaução usando o EIA/RIMA

e a certificação ambiental;

8.1. O EIA/RIMA e o princípio da precaução ................................................. 45

8.2. As certificações Ambientais (ISO 14.001) e o Princípio da Prevenção....46

8.3 Comparação entre o EIA/RIMA e a certificação ISO 14.001 ................... 47

9. Considerações Finais ........................................................................................... 49

10. Referências Bibliográficas .................................................................................. 50

11. Anexos ................................................................................................................ 53

Lei 6938 de 31 de agosto de 1981;

Lei 9795 de 27 de abril de 1999;

Resolução CONAMA Nº 1, de 23 de Janeiro de 1986.

8

1. Introdução

Nunca se discutiu tanto Direito Ambiental como recentemente. O homem –

muito mais atencioso a respeito dos danos ambientais – está percebendo que a

busca pelo desenvolvimento econômico não deve estar acima do bem ambiental e

nem deve comprometer a qualidade de vida atual e nem futura.

A grande discussão mundial sobre os problemas ambientais, principalmente

sobre aquecimento global, apresenta a complexidade da convivência dos países,

pois demonstra que as nações convivem em uma “aldeia” e que o comportamento

dessas nações nunca tinha sido tão significante a ponto de interessar a todas as

outras, já que a degradação ambiental não respeita fronteiras políticas, mostrando

que só haverá eficiência no combate à degradação ambiental quando houver

integração entre os povos.

Mesmo que EUA e a China – países que mais poluem o meio ambiente –

demonstrem pouco interesse em diminuir suas emissões gasosas temendo reflexos

imediatos sobre suas economias, a comunidade internacional corrobora no interesse

da melhoria da qualidade do meio ambiente. Talvez esse interesse mundial pelo

tema tenha objetivos escusos, mas não se deve perder a oportunidade de utilização

eficaz de projetos que diminuam a utilização desenfreada dos recursos ambientais.

O Brasil tem interesse direto sobre esse debate, deveria encabeçar a discussão e

buscar um desenvolvimento que não agrida significativamente o meio ambiente, já

que possui em seu território boa parte da Amazônia, mesmo assim, é um dos que

mais emite gás carbônico na atmosfera, devido principalmente às queimadas, dando

argumentos aos que defendem a inimaginável idéia de internacionalização da

Amazônia.

Portanto, toda a discussão em torno da preservação ambiental, logicamente,

não pode suprimir o desenvolvimento econômico, deve sim ir em busca de um

equilíbrio entre ambos, já que é impossível na sociedade atual que a preservação

ambiental tenha como custo a estagnação econômica, e também não deve o meio

ambiente estar a mercê de um desenvolvimento sem responsabilidade.

9

Por conseguinte, amplia-se o debate nas últimas três décadas da utilização dos

princípios dos princípios da Prevenção e da Precaução, ganhando relevância

quando se busca estreitar desenvolvimento econômico-social e preservação

ambiental.

No Brasil, a constituição de 1988 traz pela primeira vez a proteção ao meio

ambiente como matéria constitucional, o tornando um bem jurídico, e dá a todo

indivíduo o direito fundamental de desfrutar de um meio ambiente sadio. Assim,

nossa carta magna usa um capítulo inteiro para a proteção ao meio ambiente e

incorpora através do artigo 225 os princípios da precaução e da Prevenção,

tornando-os fundamentais à defesa do meio ambiente.

Assim, o estudo atual tem como alicerce as diferenciações entre os Princípios

da Precaução e da Prevenção, tendo como guia o Estudo de Impacto Ambiental e as

exigências para a certificação ambiental ISO 14001. Embora essa diferença seja

tênue, ela é importante no que tange a eficácia da política de preservação ambiental,

impondo aos grandes empreendimentos a utilização racional dos recursos naturais,

mostrando ao Estado e à coletividade, qual o custo e se este custo é viável ao meio

ambiente e a sociedade.

10

2. A proteção ambiental na história – primeiros relatos

Embora a discussão ambiental aparentemente tenha atingido seu auge

recentemente, como expõe Machado (2007, p.63) “prevenir a degradação ambiental

do meio ambiente nos planos nacional e internacional é concepção que passou a ser

aceita no mundo jurídico especialmente nas últimas três décadas”, há muito tempo

já existe a preocupação com o meio ambiente. Na história, os primeiros interesses

de proteção ambiental visavam a sobrevivência e posteriormente a economia. Os

povos antigos demonstravam interesse na preservação dos animais e da água,

principalmente devido ao que produziam e ao que utilizavam. As culturas indianas,

chinesas e egípcias dependiam muito de rios, por isso já tinham a proteção

ambiental como objetivo (ALVES, 2005, p.27).

Como normatização antiga, existe o Código de Hamurabi, em que expõe nos

artigos 53 e 54, a defesa da natureza e as sanções em que podia se pagar até com

a vida pelos danos causados:

53. Se alguém for preguiçoso demais para manter sua barragem em condições adequadas, não fazendo a manutenção desta: caso a barragem se rompa e todos os campos forem alagados, então aquele que ocasionou tal problema deverá ser vendido por dinheiro, e o dinheiro deve substituir os cereais que ele prejudicou com seu desleixo. 54. Se ele não for capaz de subsistir os cereais, então ele e suas posses deverão ser divididos entre os agricultores cujos grãos ele alagou.

Interessante é que no mesmo Código de Hamurabi, existe a possibilidade de

reparação do dano, em que “63. Se ele transformar terras ruins em campos aráveis

e devolver a seu dono, o dono deverá pagar a ele por um ano dez ‘gur’ por dez

‘gan’”.

Depois disso, a civilização grega que influenciou e ainda influencia o mundo

todo, e no campo jurídico não podia ser diferente, tem seus grandes pensadores já

com idéias de preservação. Platão, embora tendo vivido há IV a.C., já falava que “o

papel das florestas, além de serem fontes reguladoras do ciclo da água, também são

agentes de proteção contra a erosão” (ALVES, 2005, p.31).

A civilização romana, que influenciou significativamente o pensamento do

direito ocidental, principalmente quando cria o “dar a cada um, o que é seu”, expõe

11

de maneira marcante na “lei das doze tábuas”, a proteção do dano ambiental e muito

inteligentemente a reparação do dano, como expõe a Tábua VIII, capítulo

denominado de “Dos Delitos”

VI – Pelo prejuízo causado por um quadrúpede, deve-se reparar o dano ou abandonar o animal; IX – Aquele que causa, a noite, furtivamente, destruição ou apascenta o seu rebanho sobre colheitas, seja votado a Ceres e punido de morte; sendo impúbere, será vergastado ao critério do magistrado e condenado a reparar o dano em duplos.

No mesmo capítulo, há previsão de que “XI – Contra aquele que corta

injustamente as árvores de outrem, aplique-se a pena de vinte e cinco “as” sobre

cada árvore cortada”.

Em seguida, tem destaque na idade média o Feudalismo, em que os nobres

detinham todas as terras e dividiam entre os camponeses para que estes

produzissem. “Entre as terras férteis o senhor feudal dividia-a em 3 porções, ficando

duas sendo cultivadas e a última em descanso, sendo feito rodízio para que todas

ficassem sempre férteis” (ALVES, 2005, p.32).

Após esse período, é importante destacar a Revolução Industrial ocorrida na

Inglaterra, que para Pacheco Filho (2006, p.1)

A Revolução Industrial não pode deixar de ser mencionada como causadora de danos ambientais. Com a acentuada explosão demográfica, gerando uma demanda cada vez maior por alimentos, agricultura e pecuária, em franca expansão tomando o lugar de florestas, acentuados pela competitividade do capitalismo.

Portanto, havia uma procura desenfreada em busca de riqueza, tornando a

proteção ambiental esquecida. Como o que mais importava era o desenvolvimento

econômico, pois “A partir da Revolução Industrial, com o desenvolvimento do

capitalismo, a natureza vai pouco a pouco deixando de existir para dar lugar a um

meio ambiente transformado, modificado, produzido pela sociedade moderna (IPED,

2007, p.1)”, assim, apesar da Inglaterra já possuir leis que possibilitavam a proteção

ambiental, não havia outra preocupação a não ser a produção e o lucro.

Sobre isso, Alves (2005, p.33) diz que

12

Embora na Inglaterra, desde 1273, houvesse lei que protegesse a saúde em virtude de distúrbio ambiental (queima de carvão), a legislação visando proteger o meio ambiente apenas veio a ser significativa após a revolução industrial.

Assim, a Inglaterra passou a adotar medidas de proteção ambiental apenas

após a revolução industrial, dando mais importância à obtenção de lucro do que ao

meio ambiente. Já no século passado, os países industrializados começaram a criar

lei de proteção ao meio ambiente, inclusive o Brasil.

2.1. A proteção ambiental na normatização brasileira

Sendo o Brasil colônia de Portugal, as primeiras normas de proteção

ambiental no país vieram de sua metrópole, como expõe Meller (2005, p.1):

Neste período, vigorava em Portugal as Ordenações Afonsinas, baseado no Direito Romano e Canônico a qual fazia algumas referências que indicavam a preocupação com o meio ambiente. Porém, em análise mais profunda pode-se verificar que acima dos interesses ambientais, havia uma maior preocupação com a “propriedade da nobreza e da Coroa”.

Portanto, as primeiras normas relatadas de proteção ambiental no Brasil,

tinham efeitos apenas econômicos, assim sendo, a preocupação na verdade era em

relação às propriedades da nobreza.

Contudo, ainda na época colonial, com o Brasil sofrendo um grande

desmatamento, foi criado o Regimento do Pau Brasil, de 1605 (MIRANDA, p.1), que:

Estabeleceu o direito de uso sobre as árvores, e não sobre as terras. As áreas consideradas reservas florestais da Coroa não podiam ser destinadas à agricultura. Essa legislação garantiu a manutenção e a exploração sustentável das florestas de pau-brasil até 1875.

Em 1891, com o Brasil já uma república, fora criada a primeira constituição

brasileira. “Essa constituição sofria grande influência européia que queria manter a

exploração vegetal no país, assim, não havia nela a previsão do tema meio

ambiente, e muito menos sobre sua preservação” (ALVES, 2005, p.36).

13

Com o Código civil de 1916, o artigo 584 já tratava da poluição e da

inutilização da água de poço ou fonte alheia. Este artigo previa que “São proibidas

construções capazes de poluir, ou inutilizar para o uso ordinário, a água de poço ou

fonte alheia, a elas preexistentes”.

Para Alves (2005, p.37), “a constituição de 1934, inovou no que concerne à

proteção ambiental, determinando competência da União e dos Estados para a

tutela dos monumentos de valor histórico ou artístico e belezas naturais”, portanto,

em 1934, aparecem pela primeira vez normalizados, pontos de proteção a natureza.

Em 1965 surge o novo código florestal – Lei 4771/65 –, que afirma em seu

artigo 1º que

As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem.

Nesse código já se percebe a normatização do meio ambiente como bem de

interesse comum a todos os habitantes, e que também poderão exercer o direito de

propriedade, contudo tendo esse direito limitado às disposições legais. Também a lei

4771 de 1965 expõe em seu Art. 7°, que “Qualquer árvore poderá ser declarada

imune de corte, mediante ato do Poder Público, por motivo de sua localização,

raridade, beleza ou condição de porta-sementes”. Ou seja, há neste artigo clara

defesa normativa do bem ambiental.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente no Brasil – lei 6938 de 1981 –,

afirma que um dos objetivos da política é a conjugação entre desenvolvimento

econômico e o desenvolvimento ambiental, criando também a Avaliação de

Impactos Ambientais, assim, a proteção efetiva do meio ambiente passa a ser

positivada. Além disso, o artigo 3º, I, da Lei de Política Ambiental conceitua o meio

ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem

física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas

formas”. Dessa forma, normatiza o conceito de meio ambiente, visando melhor

estudo e conhecimento.

14

Já o novo Código Civil afirma que o proprietário tem a faculdade de usar,

gozar e dispor da coisa – artigo 1228 –, contudo delimita essa utilização para que

não comprometa o meio ambiente

§ 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.

Já com a constituição de 1988 há inovação quando dedica um capítulo todo

para a tutela ambiental (capítulo VI do título VIII – da ordem social), e ainda traz pela

primeira vez em uma constituição brasileira o bem ambiental.

2.2. A proteção ambiental e a constituição brasileira de 1988

Com a grande discussão à cerca do meio ambiente, surge em todo o mundo o

ambientalismo que

passou a ser tema de elevada importância nas constituições mais recentes. Entra nelas deliberadamente como direito fundamental da pessoa humana, não como simples aspecto da atribuição de órgãos ou de entidades públicas, como ocorria em Constituições mais antigas (SILVA, 2007, p.43).

Assim, a tendência mundial de proteção ao meio ambiente faz com que seja

encontrado pela primeira vez em uma constituição brasileira o tema meio ambiente,

tutelando pela primeira vez um capítulo inteiro à defesa do meio ambiente. Sobre

isso, Fiorillo (2008, p.10) afirma que

A Constituição Federal de 1988 consagrou de forma nova e importante a existência de um bem que não possui características de bem público e, muito menos, privado, voltado à realidade do século XXI, das sociedades de massa, caracterizada por um crescimento desordenado e brutal avanço tecnológico.

15

Esse novo bem denominado de direito difuso, passa a tratar o meio ambiente

como um bem de uso comum e responsabilidade de todos, como prevê o caput do

art. 225

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Sendo um direito comum a todos, proporciona a idéia sobre o planeta ser

como uma aldeia, em que todos os países têm que buscar realizar um

desenvolvimento, respeitando o meio ambiente, sobre isso, Moraes (2008, p.827)

ensina que

O aproveitamento dos recursos naturais também deverá ser regulamentado pelo Direito interno ou pelo Direito Internacional (tratados internacionais), tendo como finalidade a regra produtiva do art. 225 da CF, pois a exploração dos recursos biológicos e minerais pode essencialmente causar problemas de poluição e degradação e conseqüentemente sua proteção atende ao princípio da precaução e ação preventiva (Grifo nosso).

Mesmo com o capítulo inteiro na constituição sobre o meio ambiente,

a primeira referência expressa ao meio ambiente ou a recursos ambientais na Constituição vem logo no art. 5º, LXXIII, que confere legitimação a qualquer cidadão para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural (SILVA, 2007, p. 47).

No capítulo dedicado ao meio ambiente, o artigo 225, § 1º, VII (regulamentado

pela lei nº 9.985/2000), está adjudicando ao Poder Público a utilização de medidas

que devem “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que

coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou

submetam os animais a crueldade”, ou seja, apesar da coletividade ter o dever de

preservar, caberá ao Poder público a efetivação dessa tutela.

Portanto, a responsabilização – embora também seja da coletividade – deverá

ser feita pelo Estado, efetivando fiscalizações e responsabilizando civil e

criminalmente quem explora de forma irresponsável o meio ambiente.

16

3. O princípio da precaução

A idéia de precaução de danos ambientais é uma imposição às atividades que

há incerteza científica sobre os danos ambientais que essa atividade proporciona,

sobre isso, Marchesan, Steigleder, Cappelli (2008, p.30), afirmam que “o princípio da

precaução trata da imposição na tomada de providências acautelatórias relativas a

atividades sobre as quais não haja uma certeza científica quanto aos possíveis

efeitos negativos”.

Para Hermitte e David (2004, p.93)

A invenção do Princípio da Precaução é a manifestação contemporânea de uma antiga tensão entre a exaltação da prudência e a do risco, aplicada às sociedades tecnológicas, quando se tornam capazes de engajar uma reflexão crítica sobre seu modo de desenvolvimento.

Portanto, o Princípio da Precaução zela pela prudência que se destina ao

estudo da produção tecnológica potencialmente poluidora, esta deve ser analisada

buscando um desenvolvimento que respeite o meio ambiente, mas que não condene

o desenvolvimento econômico.

O Princípio da Precaução sempre esteve presente nas discussões

ambientais. Em 1992, no Rio de Janeiro houve a Conferência das Nações Unidas

para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Nesse encontro foram aprovados 27

princípios, e entre eles em especial está o princípio n° 15, que assegura

De modo a proteger o meio ambiente, o Princípio da Precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo como suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambienta (Grifo nosso).

Logo, através do Princípio 15, ficou estipulado que os países signatários

deveriam usar o princípio da precaução quando houver incerteza sobre os danos

causados por qualquer atividade que gere perigo ambiental, e que embora a

degradação seja desconhecida não deverá ser desprezada.

Ainda sobre o Princípio 15, Kiss (2004, p.11) afirma que

17

o princípio da precaução pode ser considerado como a forma mais desenvolvida da regra geral, impondo uma obrigação para impedir danos ao meio ambiente. Ele constitui o ponto de partida para uma grande organização do direito ambiental e, em particular, para o direito ambiental internacional.

Assim sendo, mostra que o princípio da precaução é um princípio de

contornos mundiais, demonstrando que a responsabilidade pelo bem ambiental é

responsabilidade de todos, independentemente do país.

Outra característica importante é que

a invocação do princípio da precaução é uma decisão a ser tomada quando a informação científica é insuficiente, inconclusiva ou incerta e haja indicações de que os possíveis efeitos sobre o meio ambiente, a saúde das pessoas ou dos animais ou a proteção vegetal possam ser potencialmente perigosos e incompatíveis com o nível de proteção escolhido (MILARÉ, 2007, p.767).

Deste modo, Milaré defende o pensamento de toda a doutrina que

comprovadamente deve ser avocada a precaução quando houver incerteza científica

sobre os possíveis danos causados ao meio ambiente por determinado

empreendimento, e essa característica é a mais importante sobre o princípio da

precaução.

Assim, fica exposta de forma clara que a precaução é utilizada quando houver

incerteza científica sobre os danos causados, já que “vale dizer: a incerteza

científica milita em favor do meio ambiente. A precaução caracteriza-se pela ação

antecipada diante do risco ou do perigo desconhecido (MARCHESAN,

STEIGLEDER, CAPPELLI, 2008, p.31)”.

Sem dúvida que o princípio da precaução tem sua importância doutrinária, e

aos poucos vai ganhando relevância também na jurisprudência, onde está cada vez

mais aceito, deste modo, sobre o princípio da precaução na jurisprudência, muitas

são as decisões que o invocam, como expõem Marchesan, Steigleder, Cappelli

(2008, p.33)

18

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. TUTELA ANTECIPADA. RISCO AO MEIO AMBIENTE. POSSIBILIDADE DE DANO IRREVERSÍVEL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. PROVIMENTO DO AGRAVO. 1. Na disciplina da Constituição de 1988, a interpretação dos direitos individuais deve harmonizar-se à preservação dos direitos difusos e coletivos. 2. A preservação dos recursos hídricos e vegetais, assim como do meio ambiente equilibrado, deve ser preocupação de todos, constituindo para o administrador público obrigação da qual não pode declinar. 3. Se há suspeitas de que determinada autorização para exploração de área considerável de recursos vegetais está eivada de vício, o princípio da precaução recomenda que em defesa da sociedade não seja admitida a exploração da área em questão, pois o prejuízo que pode ser causado ao meio ambiente é irreversível. 4. A irreversibilidade do dano potencial não autoriza a concessão de tutela antecipada. 5. Provimento do recurso.

A propósito da decisão do TRF 1ª região, cabe realçar o objetivo que todos

têm de preservar o meio ambiente equilibrado, e que o administrador público não

pode se negar a observação da precaução.

Ainda sobre o princípio da precaução na jurisprudência, Marchesan,

Steigleder, Cappelli (2008, p.36), afirmam que

em pesquisa de jurisprudência, encontrou-se mais de 90 acórdãos, divididos entre os Tribunais Regionais Federais, STF, TJRS, TJSC e TJMG, contendo a aplicação do principio da precaução nas seguintes situações: casos de incerteza ou dúvida, danos irreversíveis ou irreparáveis ao meio ambiente, fundamento para a antecipação de tutela, danos à saúde humana e animal, exigência de EIA/RIMA ou licença ambiental, proteção da fauna e da flora, fundamento para a responsabilidade objetiva, crimes ambientais, redução dos impactos ambientais mesmo antes que o risco esperado seja atingido, existência de precários elementos para a análise do fato, necessidade de realização de perícia, imperatividade do principio, presunção de degradação ambiental, flexibilização do nexo causal e inversão do ônus da prova.

Observa-se que muitas são as hipóteses de avocação do princípio da

precaução em favor do meio ambiente, e a jurisprudência tem decidido muito em

favor do bem ambiental utilizando a precaução. Além disso, sobre a presença do

princípio da precaução na normatização brasileira, várias são as normas que o

invocam, como a lei 9605/98 que expõe:

19

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: (...) § 3º. Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível (Grifo nosso).

Outra lei que prevê o princípio da precaução é lei nº 11.105, de 24/03/2005

(lei de biossegurança), que em seu artigo 1º expõe:

Art. 1o Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente (Grifo nosso).

Observa-se que há citação direta ao princípio da precaução no artigo primeiro

da lei de biossegurança, dando relevância quando houver utilização de produto

geneticamente modificado.

A doutrina ambiental se divide em três entendimentos sobre princípio da

precaução. Sobre isso expõem Marchesan, Steigleder, Cappelli (2008, p.31)

Há três concepções sobre o conteúdo, extensão e acepção do principio da precaução, que podem ser divididas em: a) radical – visa a garantir o risco zero, pregando a moratória ou a abstenção definitiva e gerando a inversão do ônus da prova; b) minimalista – requer riscos sérios e irreversíveis, afasta a moratória e não conduz à inversão do ônus da prova; c) intermediária – requer risco científico crível, não exclui a moratória e implica a carga dinâmica da prova.

Assim, “a doutrina sustenta a possibilidade de inversão do ônus da prova nas

demandas ambientais, carreando ao réu (suposto poluidor) a obrigação de provar

que sua atividade não é perigosa nem poluidora (MARCHESAN, STEIGLEDER,

CAPPELLI, 2008, p.32)”. Portanto, é predominante na doutrina brasileira a

concepção radical sobre o alcance do princípio da precaução.

20

Outra observação importante na doutrinária é dada quando se afirma que o

princípio da precaução funciona como um diagnóstico da atividade potencialmente

poluidora, sobre isso Machado (2007, p.80) preceitua que

A aplicação do Princípio da Precaução relaciona-se intensamente com a avaliação prévia das atividades humanas. O Estudo de impacto Ambiental insere na sua metodologia a prevenção e a precaução da degradação ambiental.

Portanto, o EIA/RIMA tem relação direta com o princípio da precaução, pois

deverá diagnosticar a atividade potencialmente poluidora, tendo por objetivo o

relatório de impacto ambiental que determina se a atividade proporciona ou não

risco considerável ao meio ambiente.

3.1. O poder público, o princípio da precaução e a tutela do meio ambiente

O poder público tem por obrigação a intervenção em favor do meio ambiente.

Sobre isso, Machado (2007, p.98) cita a Declaração de Estocolmo em que “deve ser

confiada às instituições nacionais competentes a tarefa de planificar, administrar e

controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, como o fim de melhorar

a qualidade do meio ambiente”. Portanto, os Estado terão que criar instituições que

tenham por objetivos a efetivação da proteção do meio ambiente.

O decreto 99274 de 06 de junho de 1990, expõe que “Art. 1º Na execução da

Política Nacional do Meio Ambiente cumpre ao Poder Público, nos seus diferentes

níveis de governo:”

I - manter a fiscalização permanente dos recursos ambientais (...); II - proteger as áreas representativas de ecossistemas mediante a implantação de unidades de conservação e preservação ecológica; III - manter, através de órgãos especializados da Administração Pública, o controle permanente das atividades potencial ou efetivamente poluidoras, de modo a compatibilizá-las com os critérios vigentes de proteção ambiental; (...) V - implantar, nas áreas críticas de poluição, um sistema permanente de acompanhamento dos índices locais de qualidade ambiental; VI - identificar e informar, aos órgãos e entidades do Sistema Nacional do Meio Ambiente, a existência de áreas degradadas ou ameaçadas de degradação, propondo medidas para sua recuperação; e VII - orientar a educação, em todos os níveis, para a participação ativa do cidadão e da comunidade na defesa do meio ambiente, cuidando para que os currículos escolares das diversas matérias obrigatórias contemplem o estudo da ecologia.

21

Este decreto regulamenta sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de

Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e impõe ao poder

público sua área de atuação.

A proteção ambiental pelo poder público também está normatizada no artigo

170 da Constituição Brasileira, que trata da ordem econômica

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação.

Importante desse artigo é a imposição constitucional da valorização da livre

iniciativa regulada pela justiça social, demonstrando com isso, que a defesa do meio

ambiente é um dos princípios que a ordem econômica deve obedecer.

Contudo, a tutela ambiental ao poder público está diretamente inserida na

constituição brasileira no artigo 225, que também expõe a atuação do poder público

frente à defesa do meio ambiente quando defende que todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade

o dever de defendê-lo e preservá-lo.

Essa defesa estatal também está preceituada no Conselho Nacional do Meio

Ambiente – CONAMA resolução nº 369 –, que trata da utilização excepcional em

área de preservação permanente, que só se dará mediante apoio prévio do poder

público, como preceitua o art. 2º:

O órgão ambiental competente somente poderá autorizar a intervenção ou supressão de vegetação em APP, devidamente caracterizada e motivada mediante procedimento administrativo autônomo e prévio, e atendidos os requisitos previstos nesta resolução e noutras normas federais, estaduais e municipais aplicáveis, bem como no Plano Diretor, Zoneamento Ecológico-Econômico e Plano de Manejo das Unidades de Conservação, se existentes.

22

Portanto, por mais que exista a possibilidade de autorização para a utilização

de Área de Proteção Permanente, só poderá acontecer em casos em que a

degradação ambiental seja mínima e tenha utilidade pública ou interesse social.

Sobre a proteção estatal do meio ambiente, existe o princípio da intervenção

estatal obrigatória em defesa do meio ambiente. Assim, Marchesan, Steigleder,

Cappelli (2008, p.42) afirmam que

este princípio está referido no item 17 da Declaração de Estocolmo de 1972 e no art. 225, caput, da CF. deriva da natureza indisponível do meio ambiente e de sua qualificação jurídica de bem de uso comum do povo (art. 2º, inc. I, da lei 6.938/81 e 225 da CF).

Além disso,

infere-se a imposição de o Poder Público atuar na defesa do meio ambiente em todas as suas esferas e instâncias. Todos os poderes do Estado estão comprometidos com a defesa desse patrimônio que assegura condições mínimas de vida aos presentes e futuros ocupantes do planeta, sem que se descure da herança patrimonial deixada por seus antepassados (MARCHESAN, STEIGLEDER, CAPPELLI, 2008, p.42).

Sem dúvida que a atuação do poder público é imprescindível à defesa do

meio ambiente, como nas expedições de licenças. Sobre isso, o decreto 99274,

artigo 19 prevê:

O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: I - Licença Prévia (LP), na fase preliminar do planejamento de atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo; II - Licença de Instalação (LI), autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações constantes do Projeto Executivo aprovado; e III - Licença de Operação (LO), autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação.

Por fim, a maior forma de efetivação do princípio da precaução nas atuações

do poder público está na exigência do EIA/RIMA, normatizado na Constituição

23

Federal de 1988, no artigo 225, parágrafo 1º, IV, para as obras ou atividades

potencialmente poluidoras. Esse artigo dá ao poder público a incumbência de exigir

o EIA/RIMA, ou seja, não é uma faculdade a exigência do estudo prévio de impacto

ambiental e sim uma obrigação do poder público.

3.2. A incerteza do dano ambiental

O que é patente sobre o princípio da precaução é a sua utilização quando

houver incerteza do dano ambiental em relação à determinada atividade, pois este

se aplica “quando os riscos que se quer evitar são incertos e o conhecimento

científico escasso ou controvertido sobre os efeitos de um dado produto ou

substância ao meio ambiente (VARELLA, 2004, p.375)”.

Assim, em relação ao risco ao dano ambiental, “a primeira questão versa

sobre a existência do risco ou da probabilidade de dano ao ser humano e à

natureza. Há certeza científica ou há incerteza científica do risco ambiental?

(MACHADO, 2007, p.74)”, desta feita, devem ser analisadas a possibilidade de

haver estudos que já delimitem as possibilidades de risco.

Sobre a existência ou não de certeza científica,

a existência de certeza necessita ser demonstrada, porque vai afastar uma fase de avaliação posterior. Em caso de certeza do dano ambiental, este deve ser prevenido, como preconiza o princípio da prevenção. Em caso de dúvida ou de incerteza, também se deve agir prevenindo. Essa é a grande inovação do princípio da precaução. A dúvida científica, expressa com argumentos razoáveis, não dispensa a prevenção (MACHADO, 2007, p.74).

Portanto, existe a incerteza do dano ambiental quando este não pode ser

provado e nem medido cientificamente, como por exemplo, os Organismos

Geneticamente Modificados (OGM), pois

alguns danos podem ser hoje medidos em relação a sua intensidade, como aqueles ocasionados pelo enchimento de uma barragem para aproveitamento hidrelétrico, em um determinado curso d’água, mas outros permanecem incertos quanto a seus efeitos a médio e longo prazo no ambiente ou em relação à saúde humana, como é o caso dos organismos geneticamente modificados (RIOS, 2004, p.375), (Grifo nosso).

24

Assim, fica demonstrada a aplicabilidade do princípio da precaução quando o

empreendedor não comprovar que sua atividade não causa risco sério à saúde e ao

meio ambiente.

A lei 6938 que trata da política nacional do meio ambiente, expõe que “Art 3º -

Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: II - degradação da qualidade

ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;” desta forma,

dano ambiental também é a alteração da qualidade ambiental. Sobre isso, Alves

(2005, p.49) afirma que “o dano consiste na situação entre o estado atual do

patrimônio que sofre e o que teria se o fato danoso não se tivesse produzido”.

Portanto, o desconhecimento sobre os danos ambientais de determinada atividade,

justifica a utilização do principio da precaução.

Além disso, para Machado (2007, p.74) “aplica-se o princípio da precaução

ainda quando existe a incerteza, não se aguardando que esta se torne certeza”,

desta forma, se justifica a aplicação da precaução, quando não estiver comprovado

cientificamente que a atividade não provocará risco ao meio ambiente e nem à

saúde das pessoas.

3.3. A inversão do ônus da prova no princípio da precaução

A inversão do ônus da prova é uma das mais importantes características do

princípio da precaução, posto que

o autor potencial deverá comprovar que sua conduta não reverterá em danos ao meio ambiente, de sorte que o ônus processual normal se inverte. Em havendo comprovação de que tal conduta ou substância não é inócua ou indefesa, o agente ficará inibido para praticar sua ação (ALVES, 2005, p.63).

Portanto, caberá ao empreendedor comprovar que sua atividade não causa

risco ao meio ambiente, já que para Machado (2007, p.79), citando Jean Malafosse

“a dúvida aproveita ao ‘poluído’. O princípio da precaução traduz-se por uma

inversão do ônus da prova em proveito da proteção do meio ambiente (Destaque

nosso)”. Destarte, para que a precaução seja observada, terá o empreendedor que

demonstrar que sua atividade não causa risco ao meio ambiente.

Além disso, afirma Machado (2007 p.227) que,

25

quem tem o ônus de provar que a atividade que pretende exercer não tem a potencialidade de causar dano significativo é o próprio empreendedor, e não os órgãos públicos ambientais. Ao empreendedor ou proponente do projeto cabem as despesas com a elaboração do EPIA/RIMA.

Assim sendo, as despesas citadas por Machado estão normatizadas no

decreto 99274 de 1990, que expõe em seu artigo 17, parágrafo 2° “O estudo de

impacto ambiental será realizado por técnicos habilitados e constituirá o Relatório de

Impacto Ambiental Rima, correndo as despesas à conta do proponente do projeto

(Grifo nosso)”.

Além disso, a resolução CONAMA Nº 01, de 23/01/1986, expõe que:

Art. 8º - Correrão por conta do proponente do projeto todas as despesas e custos referentes à realização do estudo de impacto ambiental, tais como: coleta e aquisição dos dados e informações, trabalhos e inspeções de campo, análises de laboratório, estudos técnicos e científicos e acompanhamento e monitoramento dos impactos, elaboração do RIMA e fornecimento de pelo menos 5 (cinco) cópias (Grifo Nosso).

Desta feita, ao realizar o EIA/RIMA, o empreendedor deverá arcar com todas

as despesas, além disso, observa-se que essa prova de não poluição deve ser

demonstrada pelo EIA/RIMA, portanto, uma previsão constitucional exposta no artigo

225, § 1º, IV.

26

4. O princípio da prevenção

O princípio da prevenção é um dos mais importantes princípios do direito

ambiental, pois

é basilar em matéria ambiental, concernindo à prioridade que deve ser dada às medidas que evitem o nascimento de atentados ao ambiente, de molde a reduzir ou a eliminar as causas de ações suscetíveis de alterar a sua qualidade (ARCHESAN, STEIGLEDER, CAPPELLI, 2008, P.29).

Assim sendo, princípio da prevenção tem por característica principal evitar a

consumação do dano, por isso vem sendo cada vez mais utilizado no mundo todo, já

que “o dever jurídico de evitar a consumação de danos ao meio ambiente vem

sendo salientado em convenções, declarações e sentenças de tribunais

internacionais, como na maioria das legislações internacionais (MACHADO, 2007,

p.82)”.

Devido à importância dada, a Declaração de Estocolmo, em seu artigo 6º,

expõe que

deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que liberam calor, em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não possa neutralizá-los, para que não se causem danos graves o irreparáveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra a poluição.

Assim, o princípio da prevenção busca evitar dano ao meio ambiente quando

houver certeza da proporção nociva da atividade.

Além disso, fica exposto que se utiliza a prevenção “quando o perigo é certo e

quando se têm elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é

efetivamente perigosa” (MILARÉ, 2007, p.766). Conseqüentemente, existindo já o

conhecimento sobre a possibilidade da ação causar dano ao meio ambiente, deve

ser utilizado o princípio da prevenção.

Devido os danos ambientais serem, ou irreversíveis ou de difícil reparação, “A

prevenção é a forma de antecipar-se aos processos de degradação ambiental,

mediante adoção de políticas de gerenciamento e de proteção dos recursos

naturais” (SAMPAIO, 2003, p.70), assim sendo, o princípio da prevenção deve evitar

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que aconteça prejuízo ambiental que já se sabe existir. A principal atenção precisa

ser voltada para antes da consumação do dano, como afirma Stonoga (2008, p.56)

O Princípio da Prevenção encerra em seu conteúdo a necessidade de prever, prevenir, evitar transformações prejudiciais ao meio ambiente. Deve-se agir de forma a não se buscar uma tutela apenas após a ocorrência do dano, mas sim, antes, avaliando-se as conseqüências dos atos praticados.

Desta forma, para o princípio da prevenção, toda a preocupação ambiental

deve ser voltada para antes da existência da possibilidade de dano ambiental, sobre

isso Milaré (2007, p.767) afirma

daí a assertiva, sempre repetida, de que os objetivos do Direito Ambiental são fundamentalmente preventivos. Sua atenção está voltada para o momento anterior à da consumação do dano – o do mero risco. Ou seja, diante da pouca valia da simples reparação, sempre incerta e, quando possível, excessivamente onerosa, a prevenção é a melhor, quando não a única, solução (Grifo do Autor).

Portanto, deve ser usada a prevenção com a existência do risco, já que os

danos que podem ser causados são de difícil ou impossíveis de serem reparados,

como assevera Milaré (2007, p.767), citando Fábio Fedmann

não podem a humanidade e o próprio Direito contentar-se em reparar e reprimir o dano ambiental. A degradação ambiental como regra, é irreparável. Como reparar o desaparecimento de uma espécie? Como trazer de volta uma floresta de séculos que sucumbiu sob a violência do corte raso? como purificar um lençol freático contaminado por agrotóxicos?

Assim, a efetiva prevenção do dano deve ser buscada antes da degradação

ambiental, já que o dano ao meio ambiente causado, embora possível de ser

reparado, nunca retornará a ser o mesmo de antes.

O princípio da prevenção, para Machado (2007, p.84), pode ser dividido em 5

itens para a sua aplicação:

1º) identificação e inventário das espécies animais e vegetais de um território, quanto à conservação da natureza e identificação das fontes contaminantes das águas e do mar, quanto ao controle da poluição; 2º) identificação e inventário dos ecossistemas, com a elaboração de um mapa ecológico; 3º) planejamentos ambiental e econômico integrados; 4º) ordenamento territorial ambiental para a valorização das áreas de acordo com a sua aptidão; 5º) Estudo de Impacto Ambiental.

28

Com isso, verifica-se que para o princípio da prevenção é necessário que haja

conhecimento da atividade possivelmente prejudicial ao meio ambiente e também do

ecossistema do entorno do empreendimento, para que os danos ambientais sejam

evitados.

Na jurisprudência, várias são as decisões que invocam o principio da

prevenção, Archesan, Steigleder, Cappelli, (2008, P.29) expõem decisão do Tribunal

de Justiça do Rio Grande do Sul sobre o assunto.

DIREITO AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS CAUSADOS POR INVASORES EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INÉPCIA DA INICIAL. 1- O juiz não está obrigado a reconhecer desde logo a inépcia da inicial se o tema objeto do litígio é dependente de melhor esclarecimento através da produção de provas. 2- Em direito ambiental vige o Princípio da Prevenção, que deve atuar como balizador de qualquer política moderna do meio ambiente. As medidas que evitam o nascimento de atentados ao meio ambiente devem ser priorizadas. A omissão no controle e fiscalização de área de preservação ambiental, permitindo ocupações e invasões irregulares, fatos que acarretam danos ambientais, demonstra atividade negligente e ingressa no nexo de causa e efeito das declarações ambientais havidas e por elas responde a administração pública (Destaque do autor)

Portanto, devem ser priorizadas as ações que visem evitar atentados ao meio

ambiente. Assim, fica demonstrado como característica principal do princípio da

prevenção à preservação do meio ambiente onde já se conhecem os possíveis

prejuízos ambientais.

4.1. A implementação imediata das medidas de prevenção

Havendo risco de ocorrer dano ambiental, devem as medidas que busquem

evitar o dano serem realizadas de imediato, pois

a precaução age no presente para não se ter que chorar e lastimar no futuro. A precaução não só deve estar presente para impedir o prejuízo ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões humanas, como deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo. Evita-se o dano ambiental, através da prevenção no tempo certo (MACHADO, 2003, p.67).

29

Portanto, a implementação de atividade desconhecida deve ser evitada no

tempo certo, evitando com isso que se tenha que prejuízo posterior.

Assim, Machado (2003, p.67) defende que

a necessidade do adiamento das medidas de precaução em acordos administrativos ou em acordos efetuados pelo Ministério Público deve ser exaustivamente provada pelo órgão público ambiental ou pelo próprio ministério público. Na dúvida, opta-se pela solução que proteja imediatamente o ser humano e conserve o meio ambiente (in dubio pro salute e in dubio pro natura).

Deste modo, acontecendo a dispensa das medidas de prevenção, deve o

órgão ambiental provar que tal atividade não enseja perigo ao homem e ao meio

ambiente, posto que havendo dispensa infundada, poderá o judiciário ser acionado e

se utilizar de medidas que visem a prevenção, qual as “tutelas de urgência, como a

antecipação de tutela, a tutela inibitória e as ações cautelares, além da flexibilização

do nexo de causalidade, a inversão do ônus da prova e a carga dinâmica da prova

(MARCHEAN, STEIGLEDES, CAPPELLI, 2008, p.35).”

Assim sendo, havendo mitigação da implementação imediata, o judiciário será

acionado para que busque a aplicação da prevenção.

4.2. O princípio da prevenção e a educação ambiental

Sem dúvida que qualquer atitude que vise preservar o meio ambiente tem que

ser implantada para uma sociedade consciente ecologicamente, sobre isso Brito e

Câmara (2002, p.21) afirmam que

a proteção dos recursos naturais é fundamental para a melhoria da qualidade de vida das presentes e das futuras gerações brasileiras. O primeiro passo é promover a conscientização ambiental da população, frente aos desafios do novo milênio que se inicia, o que será uma grande tarefa a que devem se dedicar os ambientalistas e administradores de organismos ambientais, no sentido de orientar e divulgar os princípios que condicionam à sustentabilidade ambiental dos diversos biomas e ecossistemas brasileiros.

Assim, a melhor forma de divulgação da consciência ecológica é a educação,

e nesse caso é a educação ambiental.

30

A Educação Ambiental está normatizada na lei 9795 de 1999, que “Dispõe

sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá

outras providências”, essa lei conceitua o que é Educação Ambiental em seu artigo

Art. 1o:

entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

Desse modo, a Educação Ambiental tem que visar um desenvolvimento

completo do indivíduo o tornando parte principal da conservação ambiental. Além

disso, o parágrafo 2° da 9795/99 afirma que a Educação Ambiental é um

componente essencial e permanente da educação nacional, aumentando a sua

importância na educação em todos os níveis e entes da federação.

A Educação Ambiental vem sendo pensada há tempos no Brasil e sem dúvida

é uma das melhores maneiras de implementação do princípio da prevenção de

forma eficaz. Para Fiorillo (2008, p.53), a Educação Ambiental deve visar cinco

objetivos, que são:

a) reduzir os custos ambientais, à medida que a população atuará como guardiã do meio ambiente; b) efetivar o princípio da prevenção; c) fixar a idéia de consciência ecológica, que buscará sempre a utilização de tecnologias limpas; d) incentivar a realização do princípio da solidariedade, no exato sentido que perceberá que o meio ambiente é único, indivisível e de titulares indetermináveis, devendo ser justa e distributivamente acessível a todos; e) efetivar o princípio da participação, entre outras finalidades.

Com isso, fica exposta uma das características principais da educação

ambiental: a transformação do comportamento das pessoas. E esse comportamento

para o meio ambiente, é fazer com que a população se torne guardiã do meio

ambiente, demonstrado assim quanto é importante a Educação Ambiental para a

proteção da natureza.

Desde cedo as normas brasileiras vêm tratando do tema, como a lei nº 4.771

de 15 de Setembro de 1965 (que instituiu o Novo Código florestal), em que no seu

artigo 42 impõe que

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dois anos depois da promulgação desta Lei, nenhuma autoridade poderá permitir a adoção de livros escolares de leitura que não contenham textos de educação florestal, previamente aprovados pelo Conselho Federal de Educação, ouvido o órgão florestal competente. (Grifo nosso)

Percebe-se que nesse período já se pensava em uma educação baseada na

preservação ambiental, contudo com nome diferente do atual: educação florestal.

Importante nesse artigo é a obrigação da adoção em livros escolares de textos de

Educação Ambiental, o que torna acessível a todas as crianças o conhecimento e a

educação ambiental.

Outra lei que prevê a Educação Ambiental é a 6938 de 1981 que “Dispõe

sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação

e aplicação, e dá outras providências”. O seu artigo 2º diz que

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: (...) X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. (Grifo nosso)

Nessa lei, a Educação Ambiental ganha força, pois a torna um dos princípios

da política nacional do meio ambiente.

Além do Código florestal e da lei de política nacional do meio ambiente, nossa

Constituição no artigo 225 dá a todos o direito a um meio ambiente ecologicamente

equilibrado, e ainda expõe no parágrafo 1º que “para assegurar a efetividade desse

direito, incumbe ao Poder Público: VI - promover a educação ambiental em todos os

níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.”

Assim, a Constituição Federal de 1988 afirma que o meio ambiente é um bem

comum do povo, cabendo ao poder público e a coletividade o dever de preservá-lo.

Observa-se que o poder público terá a obrigação de oferecer a educação ambiental

com o objetivo da consciência ecológica.

32

Deste modo, tanto o Estado quando a sociedade estariam cumprindo o seu

papel constitucional de proteger o meio ambiente, sobre isso, FIORILLO (2008, p.54)

afirma que

a educação Ambiental será implementada ainda através de ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.

Portanto, Educação Ambiental se torna um processo de interação, em que os

alunos assumem a participação efetiva para o diagnóstico dos problemas

ambientais, formando atitudes que busquem a mudança do pensamento visando à

preservação ambiental.

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5. O Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental

(EIA/RIMA)

Antes de adentrar no conceito do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de

Impacto Ambiental (EIA/RIMA), é necessário expor a resolução nº1 de 23 de janeiro

de 1996 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA –, que conceitua

impacto ambiental em seu artigo 1º:

Art. 1º, Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais (Grifo Nosso).

Portanto, para haver o EIA/RIMA, a atividade potencialmente poluidora deve

modificar as propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, ou seja,

não é toda atividade que tem por obrigação a apresentação do Estudo.

Importante salientar a importância da avaliação de impactos ambientais de

acordo com Milaré (2007, p.354)

a implantação de qualquer atividade ou obra efetiva ou potencial degradadora deve submeter-se a uma análise e controle prévios. Tal análise se faz necessária para se anteverem os riscos e eventuais impactos ambientais a serem prevenidos, corrigidos, mitigados e/ou compensados quando da sua instalação, da sua operação e, em casos específicos, do encerramento das atividades.

Assim, fica exposta a importância da análise e controle prévios de atividades

potencialmente poluidoras através do EIA/RIMA.

Além disso, na resolução nº1 de 1996 do CONAMA está elencado no artigo

2º, um rol de atividades que modificam o meio ambiente, entre as quais “IV –

Aeroportos; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários

de esgotos Sanitários; e outros”.

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Outro artigo importante da resolução nº1 de 1996 do CONAMA é o 9º. Trata

do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), e conceitua que “o relatório de impacto

ambiental – RIMA – refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental”. Desta

forma, o RIMA é a objetivação do EIA, que o torna acessível a todos, obedecendo a

publicidade imposta pela normatização, como afirma o parágrafo único do artigo 9º:

Parágrafo único. O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de sua implementação (Grifo Nosso).

Portanto, ao RIMA é dado importância principalmente por tornar público a

realização do Estudo de Impacto Ambiental. Assim, deverá ser claro e acessível,

utilizando para isso todos os meios necessários para o seu melhor entendimento.

Além disso,

cumpre observar inicialmente que o procedimento de elaboração e aprovação do EIA de uma obra ou atividade modificadora do meio ambiente é considerado por muitos juristas, como o meio fundamental pelo qual, no Direito Ambiental brasileiro, efetiva-se o princípio da precaução (SAMPAIO, WOLD, NARD, 2003, p.205).

Assim sendo, o EIA/RIMA é um dos mais importantes instrumentos de

proteção ao meio ambiente, e passa a ter previsão constitucional a partir de 1988,

quando o artigo 225, expôs que

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações; § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade (Grifo nosso).

35

Logo, fica estipulado a obrigatoriedade do poder público na exigência de

Estudo de Impacto Ambiental de atividades potencialmente poluidora.

Observa-se no final do inciso que o estudo de impacto ambiental deve ter

publicidade, e essa publicidade se dá com o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),

que

Em respeito ao princípio da informação ambiental, o RIMA deve ser claro e acessível, retratando fielmente o conteúdo do estudo, de modo compreensível e menos técnico. O relatório de impacto ambiental e o seu correspondente estudo deverão ser encaminhados para o órgão ambiental competente para que se procedam a análise sobre o licenciamento ou não da atividade (FIORILLO, 2008, p.96).

Portanto, não existe Estudo de Impacto Ambiental sem Relatório de Impacto

Ambiente, já que há obrigatoriedade de publicidade do estudo.

Contudo, essa publicidade não é absoluta. Há possibilidade de não

publicidade do EIA/RIMA no caso de segredo industrial, e essa

ocorrência do segredo são ônus do requerente do licenciamento. A determinação ou não do segredo é matéria sujeita ao controle judiciário, que poderá verificar da ocorrência dos motivos e declarar ou não a ilegalidade do ato da Administração ambiental (MACHADO, 2007, p.251).

Ou seja, a regra é a publicidade, mas pode o interessado requerer ao

judiciário pela não publicidade argumentando pelo segredo industrial, mas que só

pode ser outorgado juridicamente.

A não publicação do EIA/RIMA é matéria prevista no decreto 99.274 de 1990.

Em seu artigo 17, parágrafo 3º afirma que “respeitada a matéria de sigilo industrial,

assim expressamente caracterizada a pedido do interessado, o Rima, devidamente

fundamentado, será acessível ao público”, portanto, somente será publicado o RIMA

se não houver pedido do interessado, e este arcando com o ônus que possa advir.

Deste modo, se o RIMA dá publicidade ao Estudo de Impacto Ambiental, o

EIA é mais abrangente que o RIMA, sobre isso “O Estudo de Impacto Ambiental

(EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apresentam diferenças. O estudo é

de maior abrangência que o relatório e o engloba em si mesmo” (MACHADO, 2007,

p.229).

36

O EIA/RIMA foi inserido na conferência das nações unidas para o meio

ambiente e o desenvolvimento sustentável, realizado no Rio de Janeiro em 1992,

através do princípio 15, em que assevera

a avaliação de impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de autoridade nacional competente.

Deste modo, o EIA/RIMA deve ser implementado de acordo com o impacto

negativo considerável e a sua dispensa para qualquer atividade que produza risco, é

inconstitucional, pois fere o artigo 225, parágrafo 1º, IV.

Havendo dispensa do EIA/RIMA por parte da autoridade administrativa,

poderá ser interposta ação civil pública atacando a atuação administrativa, como

aconteceu no caso da soja trangênica cujo processo é o nº 1998.34.00027682-0,

pois deveria ter sido feito o devido EIA/RIMA para que tal atividade fosse

implementada Nesse processo decidiram os juizes:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVOS REGIMENTAIS CONTRA DECISÃO QUE ATRIBUIU EFEITO SUSPENSIVO A APELAÇÕES INTERPOSTAS DE SENTENÇA QUE, EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA, VEDOU O PLANTIO E A COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA TRANSGÊNICA, SEM PRÉVIO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA), CONFIRMANDO MEDIDA CAUTELAR NO MESMO SENTIDO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DO ARTIGO 558 DO CPC. PRETENDIDA VEDAÇÃO DO CUMPRIMENTO, POR AUTORIDADES GOVERNAMENTAIS, DE MEDIDA PROVISÓRIA QUE AUTORIZOU, EM CARÁTER EMERGENCIAL, A COMERCIALIZAÇÃO DA SOJA TRANSGÊNICA CULTIVADA ANTES DA ELABORAÇÃO DOS ESTUDOS DE IMPACTO AMBIENTAL. DESCABIMENTO. (...) 2 - Não é de reconhecer-se relevância da fundamentação, em ordem a autorizar a atribuição de efeito suspensivo a apelação interposta de sentença que, reafirmando medida cautelar anterior, vedou o plantio e a comercialização de soja trangênica sem prévia realização de Estudos de Impacto Ambiental (EIA), se a questão da segurança dos alimentos transgênicos, para a saúde humana e para a preservação do meio ambiente, está envolvida em polêmica que divide os diversos setores do Governo e da sociedade, ante a incerteza científica que ainda existe sobre a matéria (Destaque nosso).

Assim, fica explicitado que é obrigatório a realização do devido Estudo de

Impacto Ambiental para atividades que podem causar algum prejuízo ao meio

ambiente e ao homem. Além disso, a decisão continua e sentencia da seguinte

forma:

37

(...) 4 - Descabe, seja em sede de reclamação, inexistente no Regimento Interno deste Tribunal, seja em apreciação de simples petição, vedar o cumprimento, por autoridades governamentais, de Medida Provisória, ato legislativo de hierarquia idêntica à da lei ordinária, por meio do qual foi autorizada, em caráter emergencial, a comercialização de soja transgênica cultivada antes da realização dos Estudos de Impacto Ambiental determinados em sentenças proferidas em ação cautelar e em ação civil pública, uma e outra ainda não transitadas em julgado, em que pese preservar a medida cautelar a sua eficácia na pendência da lide principal, posto que o cumprimento de lei ainda não declarada inconstitucional é dever de tais autoridades. 5 - Agravos Regimentais do Instituto de Defesa do Consumidor - IDEC e do Ministério Público Federal providos. 6 - Agravo Regimental da Associação Civil Greenpeace parcialmente provido (Destaque nosso).

Deste modo, ficam obrigadas as autoridades governamentais a obedecer a

norma constitucional que obriga a realização do EIA/RIMA para atividades que

podem causar algum risco à saúde e ao meio ambiente.

Além da previsão constitucional, há exigência do EIA/RIMA também no

decreto 99274, de 06 de junho de 1990, que disciplina a competência do Conselho

Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Entre as competências expostas no

decreto, o artigo 17 expõe que:

a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimento de atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem assim os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual competente integrante do Sisnama, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis. § 1º Caberá ao Conama fixar os critérios básicos, segundo os quais serão exigidos estudos de impacto ambiental para fins de licenciamento, contendo, entre outros, os seguintes itens: a) diagnóstico ambiental da área; b) descrição da ação proposta e suas alternativas; e c) identificação, análise e previsão dos impactos significativos, positivos e negativos. § 2º O estudo de impacto ambiental será realizado por técnicos habilitados e constituirá o Relatório de Impacto Ambiental Rima, correndo as despesas à conta do proponente do projeto (Grifo nosso)

Assim sendo, o EIA/RIMA deve ser cobrado pelo CONAMA de obras

consideradas efetivas ou potencialmente poluidoras.

38

6. A certificação ambiental ISO 14.001

A ISO é uma “Organização Internacional para Normatização” que congrega

mais de 100 países, e seu representante brasileiro é a Associação Brasileira de

Normas Técnicas – ABNT.

A ISO 14.000 é um subconjunto da ISO que trata da questão ambiental, sobre

isso Milaré (2007, p.301) diz que

a série das normas NBR ISO 14.000 proporciona ao meio ambiente vasta cobertura por parte das organizações. Dentre elas, as de n. 14.001 e 14.004 referem-se ao Sistema de Gestão Ambiental, processo que integra diferentes áreas empresariais e acompanha os fluxos operacionais, confere uniformidade a rotinas e procedimentos, facilita a gestão e subsidia a tomada de decisões.

Assim, a ISO 14.001 “contém requisitos para a implantação do sistema de

gestão ambiental – SGA – de uma empresa, podendo ser aplicada a qualquer

atividade econômica (MAIMON, 1999, p.5)”.

Além disso, Milaré (2007, p.302) diz que

é relevante lembrar que o SGA pressupõe ou inclui a Política Ambiental da organização, pela qual a entidade se posiciona perante as necessidades do meio ambiente, seja ele interno ou externo à organização, indicando suas prioridades, diretrizes e programas. Poucas são as empresas que formulam sua política ambiental; no entanto, ela é necessária para se alcançar a certificação ambiental.

Deste modo, a implantação da ISO se dá com a criação primeiramente do

Sistema de Gestão Ambiental (SGA) delimitada pela política ambiental da empresa,

assim

Gestão Ambiental pode ser definida como um conjunto de procedimentos para gerir ou administrar uma organização na sua interface com o meio ambiente. É a forma pela qual a empresa se mobiliza, interna e externamente, para a conquista da qualidade ambiental desejada (MAIMON, 1999, p.8).

39

Portanto, o SGA terá por objetivo a melhoria da qualidade ambiental desejada

pela empresa partindo primeiramente de sua organização. Assim, a gestão

ambiental é

um processo contínuo e adaptativo, por meio do qual uma organização define (e redefine) seus objetivos e metas relativas à proteção do ambiente e à saúde e segurança de seus empregados, clientes e comunidade, assim como seleciona as estratégicas e meios para atingir tais objetivos em determinado período de tempo, por meio da constante interação com o meio ambiente externo (ANDRADE, TACHIZAWA, CARVALHO, 2003, P. 113).

Conseqüentemente, o SGA será um processo que tende a buscar a interação

com o meio externo. Também para Moura (2003, p. 65)

a adoção da norma apresenta inúmeras vantagens, pois se trata de um processo estruturado e organizado de administração, elaborado por milhares de cabeças pensantes de todo o mundo, que se reuniram e trabalharam na busca de uma ferramenta simples e eficaz para implementar as melhorias pretendidas.

Logo, a instituição que adota o SGA terá como foco a melhoria contínua, pois,

para Andrade, Tachizawa e Carvalho (2003, p. 84) “além do retorno econômico em

termos de lucratividade e saúde financeira, busca a obtenção de um resultado social

relevante e melhoria da imagem da organização como ecológica e ambientalmente

correta”, e esse retorno pode ser de várias formas, como a certificação da ISO

14.001, pois essa certificação tem relevância internacional e dará maior visibilidade

para a empresa certificada.

Existindo a certificação, abre-se um mundo de novas oportunidades para a

empresa, pois todos os contratantes desse empreendimento perceberão as inúmeras

vantagens em contratar uma empresa certificada, pois

a certificação não deve ser o único valor a ser perseguido. Existem outras vantagens obtidas com a realização de melhorias de desempenho ambiental, que tornam a empresa mais competitiva, como por exemplo uma maior eficiência no uso de materiais no processo produtivo, redução das despesas com a disposição final de resíduos sólidos (muitos com algum índice de periculosidade), maior eficiência gerencial resultante de uma maior sintonia de trabalho entre os responsáveis pelas compras, pelo projeto, pela produção e manutenção (...) redução de multas por descumprimento de requisitos legais, (...) redução na interrupção de fornecimento devido a acidentes e problemas ambientais (MOURA, 2003, p. 68).

40

Portanto, a busca pela certificação ambiental vai além do simples certificado,

busca melhor desempenho econômico através da competitividade e se torna mais

reconhecida pelos clientes que respeitam o meio ambiente.

Mesmo assim, para a eficácia de uma gestão ambiental, é necessário que

haja comprometimento dos gestores em lidar de forma responsável com o meio

ambiente, sobre isso, expõe Seiffert (2007, p.32) que “dentro da lógica gerencial, há

razões estratégicas para o vertiginoso aumento do número de empresas que aderem

à ISO 14.001 anualmente”. Além disso, sobre todos os aspectos que poderiam dar

ao gestor a necessidade de adotar a ISO, está a tendência mundial preservacionista,

em que

cada vez mais existe uma tendência mundial de buscar-se a melhoria no processo de gestão ambiental, a qual, por sua vez, deixou de ser uma função complementar das operações empresariais. Para muitas empresas proativas, a gestão ambiental tornou-se uma questão estratégica, e não uma questão de atendimento a exigências legais (SEIFFERT, 2007, p.32).

Conseqüentemente, essa responsabilidade das empresas com o meio

ambiente deve ser entendida como forma de atender às necessidades do mercado

que é cada vez mais exigente em relação às empresas que exploram o meio

ambiente.

Observa-se que não há certificação sem a implantação do Sistema de Gestão

Ambiental na empresa, seja qual for a certificação ambiental, por isso dá-se uma

relevância à implantação do SGA.

6.1 – Fases para a implantação do Sistema de Gestão Ambiental

Para a implantação da ISO, é necessário primeiramente a criação da Gestão

ambiental, como já exposto anteriormente, porém,

o nível de detalhamento e complexidade do SGA, bem como a amplitude da documentação e os recursos a ele alocados, depende do porte da organização e da natureza de suas atividades. Isto é particularmente importante no caso de pequenas e médias empresas, onde o processo de implantação pode ser adequado às suas necessidades (SEIFFERT, 2007, p.83)

41

Assim, o SGA se adapta às necessidades da empresa que deseja a

certificação. Logicamente que quanto maior a empresa, maior é a complexidade e o

detalhamento necessário para a certificação.

Seiffert (2007, p.33), citando a ISO 14.004, estabelece os princípios de um

sistema de gestão ambiental:

1. comprometimento e política – comprometimento da alta administração, realização de avaliação ambiental inicial e o estabelecimento de uma política ambiental;

2. planejamento – formulação de um plano para o cumprimento da política ambiental, através da identificação de aspectos ambientais e avaliação dos impactos ambientais correlatos, caracterização dos requisitos legais envolvidos, definição de critérios internos de desempenho, estabelecimento de objetos e metas ambientais e um Programa de Gestão Ambiental (PGA);

3. implantação – criação e capacitação de mecanismos de apoio a política, objetivos e metas ambientais. (...);

4. medição e avaliação – trata-se da medição e monitoramento do desempenho ambiental, possibilitando ações corretivas e preventivas, além de registros do sistema de gestão ambiental e gestão da informática;

5. análise crítica e melhoria – envolve a modificação do sistema com o fim de alcançar a melhora contínua de seu desempenho, através de sua análise crítica (Grifo nosso).

Com isso, para a implementação do sistema de gestão ambiental, todos

esses princípios da ISO devem ser analisados e implementados, não podendo existir

certificação ambiental com a falta de um deles.

Outro rol de pontos que a norma tem que obedecer, é citada por Seiffert

(2007, p.133) em que afirma ser essencial para obter sucesso na norma ISO

obedecer a cinco pontos:

1. comprometimento da alta gerência: assegurar que todos os empregados reconheçam que o gerenciamento ambiental é uma prioridade para a organização;

2. estabelecimento de objetivos: fornecer os parâmetros para a avaliação de progressos em desempenho ambiental;

3. envolvimento e responsabilidade dos empregados: reduzindo a resistência organizacional e elevando o comprometimento;

4. avaliação de desempenho: reconhecer os empregados quanto aos resultados alcançados em desempenho ambiental;

5. estimar custos ambientais: assegurar que os gerentes tomem decisões com base em informações completas de custos, inclusive ambientais (Grifo nosso).

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Dentre as cinco observações, o comprometimento da alta gerência é um dos

pontos mais importantes, pois,

a importância da alta administração reside basicamente no fato de prover ao SGA todos os elementos necessários a sua implantação. Assim, para que um SGA seja funcional, a alta administração deve assegurar que a organização seja capaz de atender aos requisitos de suas normas (SEIFFERT, 2007, p. 132).

Logo, a alta gerência é quem define as metas e dá o impulso inicial na

implantação da certificação.

Outra importante etapa da implantação da ISO é o ciclo do PDCA, sigla em

inglês que significa “planejamento, implantação e operação, verificação e ação

corretiva e revisão e análise crítica” (SEIFFERT, 2007, p.82).

Assim, o PDCA busca sempre a melhoria contínua, já que

a essência deste ciclo é coordenar continuamente os esforços no sentido da melhoria contínua. Ele enfatiza e demonstra que programas de melhoria devem iniciar com uma fase cuidadosa de planejamento. É materializado através de ações, cuja efetividade é verificada através da análise crítica, direcionando-se novamente a uma fase de replanejamento cuidadoso em um ciclo contínuo de melhoria. Trata-se de um modelo dinâmico em que a melhoria contínua á atingida em ciclos contínuos como em uma espiral evolutiva (SEIFFERT, 2007, p.79).

Portanto, verifica-se a importância da utilização do PDCA para efetivação da

ISO, buscando sempre a melhoria contínua do SGA.

Outro fato importante é que “a lógica do PDCA (...), além de ser utilizada

como um referencial para a estruturação do SGA em sua totalidade, também deve

orientar o processo de elaboração dos procedimentos sistêmicos e operacionais

(SEIFFERT, 2007, p.82)”.

Assim sendo, o PDCA é básico na orientação dos caminhos do SGA,

cabendo à Gestão Ambiental a correta aplicação e busca efetiva da implementação e

melhoria do sistema ISO 14.001, através do sistema PDCA.

43

7. A divergência doutrinária sobre a diferença ou não entre os princípios da

prevenção e da precaução

Os princípios ambientais da prevenção e da precaução sempre

proporcionaram discussão sobre a existência ou não de diferenças entre eles.

Assim, Milaré (2007, p. 765) expõe que “há juristas que se referem ao princípio da

prevenção, enquanto outros reportam-se ao princípio da precaução. Há também, os

que usam ambas as expressões, supondo ou não diferenças entre elas” (Grifo do

autor).

Apesar disso, de forma bem clara, Milaré (2007, p.766) afirma que

se num primeiro momento, malgrado a diferença etimológica e semântica, preferimos adotar princípio da prevenção como fórmula que englobaria a precaução, passamos a entender como necessária a distinção entre os dois princípios (Grifo do autor)

Assim, antes Milaré defendia a existência de apenas um princípio, o da

prevenção, agora aceita a distinção de ambos e também os distingue.

Além disso, citando Ana Maria Moreira, afirma Milaré (2007, p.766) que

de maneira sintética, podemos dizer que a prevenção trata de riscos ou impactos já conhecidos pela ciência, ao passo que a precaução se destina a gerir riscos ou impactos desconhecidos. Em outros termos, enquanto a prevenção trabalha com risco certo, a precaução vai além e se preocupa com o risco incerto. Ou ainda, a prevenção se dá em relação ao perigo concreto, ao passo que a precaução envolve perigo abstrato. (Grifo do autor).

Portanto, a diferença para Milaré está no conhecimento ou não dos riscos.

Caso o risco seja conhecido, usa-se a prevenção, sendo desconhecido deve-se

utilizar a precaução.

Para Marchesan, Steigleder, Capelli (2008, p.29)

alguns autores analisam a prevenção e a precaução como se fossem um mesmo princípio. Em que pese a inegável relação entre eles, identifica-se a seguinte distinção: a prevenção trata de riscos e impactos já conhecidos pela ciência, ao passo que a precaução vai além, alcançando também as atividades sobre cujos efeitos ainda não haja uma certeza científica.

44

Portanto, havendo a incerteza científica sobre o impacto ambiental, utiliza-se

o princípio da precaução, enquanto que se emprega a riscos conhecidos pela

ciência, o princípio da prevenção.

Ainda, Marchesan, Steigleder, Capelli (2008, p.31) dizem que

resumidamente, poderíamos distinguir prevenção de precaução, do seguinte modo: - Risco hipotético: precaução; - Risco certo: prevenção; - Probabilidade de risco: precaução; - Probabilidade de acidente: prevenção; - Perigo: idéia de prevenção; - Risco: idéia de precaução.

Deste modo, quando há risco, se utiliza a precaução, supondo que riscos são

desconhecidos, enquanto que existindo perigo, utiliza-se a precaução, supondo não

se ter conhecimento dos danos.

Já Fiorillo entende ser melhor utilizar princípio da prevenção, pois “pretender

desenvolver no plano constitucional uma diferença entre prevenção e precaução

seria, em nossa opinião, despiciendo (FIORILLI, 2008, p.48)”. Desta forma, a

prevenção abrangeria precaução, e diferenciá-las seria desnecessário.

Portanto, embora haja divergência doutrinária sobre a diferença ou não, a

maioria absoluta da doutrina entende que há diferença entre os princípios, e essa

diferença está no conhecimento ou não do risco ambiental. Quando se conhece o

risco, utiliza-se a prevenção, quando não se conhece os riscos ambientais de

determinada atividade, deve-se utilizar a precaução.

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8. A diferença entre os princípios da prevenção e da precaução usando o

EIA/RIMA e a certificação ambiental ISO 14.001

8.1. O EIA/RIMA e o princípio da precaução

Como o princípio da precaução deve ser utilizado quando não se conhece os

riscos ambientais de determinada atividade, o Estudo de Impacto Ambiental ganha

relação direta, posto que “a invocação do princípio da precaução é uma decisão a

ser tomada quando a informação científica é insuficiente (MILARÉ, 2007, p.767)”.

Sendo a informação científica insuficiente, utiliza-se o EIA/RIMA, posto que

o estudo de impacto ambiental (EIA) e seu respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA) é um profundo diagnóstico do empreendimento que está em vias de ser licenciado pelo órgão ambiental, confrontado-o com as prováveis modificações das diversas características socioeconômicas e biofísicas do meio ambiente (Marchesan, Steigleder, Capelli, 2008, p.84).

Assim sendo, o princípio da precaução age exigindo o EIA/RIMA dos

empreendimentos que devem apresenta-lo como requisito fundamental para a

liberação de funcionamento da atividade. Além disso, Milaré (2007, p.364) afirma

que

qualificar e, quanto possível, quantificar antecipadamente o impacto ambiental é o papel reservado ao EIA, como suporte para um adequado planejamento de obras ou atividades que interferem no ambiente. É certo que, muitas vezes, a previsão dos efeitos nefastos de um projeto pode ser muito delicada, pois algumas modificações do equilíbrio ecológico só aparecem bem mais tarde. Daí a correta consideração do EIA como procedimento administrativo de prevenção e de monitoramento dos danos ambientais (Grifo do Autor).

Portanto, quando houver incerteza sobre os danos causados sobre

determinada atividade, deve agir o princípio da precaução obrigando a realização do

Estudo de Impacto Ambiental – EIA/RIMA – como requisito básico e constitucional

para a liberação de funcionamento de uma atividade potencialmente poluidora do

meio ambiente.

46

8.2. A certificação ambiental ISO 14.001 e o princípio da prevenção

O princípio da prevenção deve ser utilizado quando houver conhecimento da

degradação que determinada atividade pode proporcionar, sobre isso Milaré (2007,

p.766) diz que “aplica-se esse princípio, como se disse, quando o perigo é certo e

quando se tem elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é

efetivamente perigosa”.

Portanto, havendo conhecimento sobre determinadas atividades e sobre os

danos ambientais que essas atividades possam proporcionar, os empreendimentos

têm que usar meios que eliminem ou diminuem esse risco ambiental, entre estes

está o sistema ISO 14.000, que “resulta na melhoria da qualidade de vida decorrente

da diminuição dos impactos ambientais adversos ou desfavoráveis e numa redução

do custo de controle e fiscalização, uma vez que a adesão é voluntária (MAIMON,

1999, p.12)”.

Desta feita, para a implementação da ISO 14.001, primeiramente é feita a

implantação do Sistema de Gestão Ambiental que (SEIFFERT, 2007, p.31)

tem entre seus elementos integrantes uma política ambiental, o estabelecimento de objetivos e metas, o monitoramento e medição de sua eficácia, a correção de problemas associados à implantação do sistema, além de sua análise e revisão como forma de aperfeiçoá-lo, melhorando dessa forma o desempenho ambiental geral.

Entre os elementos integrantes, se destaca a política ambiental da empresa,

pois tem função primordial para o sucesso da implementação da ISO 14.001, sobre

isso Seiffert (2007, p.119) afirma que

o processo de elaboração de uma política ambiental permite não só o estabelecimento de parâmetros para a organização como entidade, como também a realização de uma reflexão sobre a sua realidade e prerrogativas quanto ao seu desempenho ambiental.

Portanto, a política ambiental da empresa irá delimitar os parâmetros da

prevenção que devem ser tomadas pela empresa, ao ser invocado o princípio da

prevenção em suas atividades potencialmente poluidora.

47

8.3 Comparação entre o EIA/RIMA e a certificação ISO 14.001

Como já exposto, a diferença doutrinária (em sua maioria), jurisprudencial e

normativa dos princípios da prevenção e da precaução é patente. Portanto,

demonstrá-la através do Estudo de Impacto Ambiental e da ISO 14.001 passa a ser

tarefa significativa, porém simples.

Desta forma, Kiss (2004, p.11) expõe que “a diferença entre o princípio da

prevenção e o princípio da precaução está na avaliação do risco que ameaça o meio

ambiente”. Esta afirmação é importante por expor o fator principal que distingue os

dois princípios: avaliação do risco.

Assim, caso o risco não seja conhecido, utiliza-se a precaução, em caso de

risco conhecido, deve-se utilizar a prevenção. E é nesse estudo do risco que deve

ser utilizado o EIA/RIMA e a certificação ambiental ISO 14.001.

Sobre isso, afirma Kiss (2004, p.12) que

a convenção da UNESCO para a Proteção da Herança Cultural e Natural do Mundo, de 23 de novembro de 1972, proclama o dever de cada Estado de assegurar “... identificação, proteção, conservação, apresentação e transmissão às gerações futuras da herança cultural e natural referidas nos artigos 1 e 2 e situadas em seu território”.

Desta forma, fica identificada pela UNESCO a necessidade de proteção

objetivando a transmissão às gerações futuras de herança cultural e natural. Essa

mesma convenção “menciona somente a necessidade de estudos técnicos e

científicos, de pesquisa e desenvolvimento dos meios pelos quais o Estado poderá

neutralizar os perigos que ameaçam sua herança cultural e natural (2004, p.12)”.

Percebe-se que Kiss se refere a “somente estudos técnicos”, não mencionando

nenhuma medida que vise evitar a consumação do dano, que seria o princípio da

precaução.

Porém, a menção aos estudos técnicos, legitima nessa convenção o

EIA/RIMA que ganha importância maior quando ligado ao princípio da precaução,

posto que

cumpre observar inicialmente que o procedimento de elaboração e aprovação do EIA de uma obra ou atividade modificadora do meio ambiente é considerada, por muitos juristas, como o meio fundamental pelo qual, o direito ambiental brasileiro, efetiva-se o princípio da precaução (SAMPAIO, WOLD, NARDY, 2003, p.206).

48

Desta forma, a ligação entre o EIA/RIMA e o princípio da precaução é

defendido pela maioria da doutrina, pois a inexistência de conhecimento técnico

sobre as possibilidades de danos causados ao meio ambiente por determinada

atividade, só será sanada se for efetivado o devido estudo de impacto ambiental.

Sobre a certificação ambiental ISO 14.001 e sua ligação com o princípio da

prevenção, esta se dá com o levantamento de todos os impactos e aspectos

ambientais que a atividade possa estar vinculada, posto que

os conceitos de aspecto e impacto ambiental estão explicitados na norma ISO 14004, a qual define o primeiro como um elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio ambiente. Por sua vez, o impacto ambiental é definido como qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização (Seiffert, 2007, p.101, grifos do autor).

Assim, o sistema de gestão ambiental deve fazer o levantamento dos

aspectos e impactos das atividades do empreendimento, juntamente com todos os

aspectos legais que a atividade possa ser penalizada. Esse levantamento só é

possível por já existir amplo estudo desses aspectos e impactos que deverão guiar a

política ambiental da empresa. Essa característica tem fundamento no princípio da

prevenção, que “é a forma de antecipar-se aos processos de degradação ambiental,

mediante adoção de políticas de gerenciamento e de proteção dos recursos naturais

(SAMPAIO, WOLD, NARDY, 2003 p.70)”. Desta forma, o levantamento ambiental

dos possíveis danos ambientais que as empresas podem ocasionar é imposta pelo

princípio da prevenção.

49

9. Considerações finais

A observação de dois princípios do direito ambiental revela a importância que

o meio ambiente ganha nos dias atuais, pois a discussão em torno da preservação

ambiental se torna necessária quando se observa os impactos ambientais

proporcionados pelo abuso na utilização do bem ambiental em busca do progresso

econômico.

Os princípios da Prevenção e da Precaução não cominam com a estagnação

da economia, pelo contrário, buscam sim um desenvolvimento que possibilite o uso

racional do bem ambiental, posto que se observa que quando há degradação

ambiental em determinadas áreas, quem sofre mais são as populações pobres,

enquanto que quem tem lucro com a degradação – efetivamente – não sofre com

sanção do estado e muito menos com a degradação ambiental que proporcionou.

Deste modo, busca-se a aplicação da precaução e da prevenção às

instituições empreendedoras, para que não sejamos todos, vítimas da busca

desenfreada pelo lucro e pela utilização de atividades que não conhecemos os

resultados, no caso da precaução, ou então se conhecemos, que tomemos os

cuidados de evitá-los, como acontece com a prevenção.

Embora elaborado buscando alcance relevante sobre os princípios da

prevenção e da precaução e também sobre EIA/RIMA e certificação ambiental ISO

14.001, o presente trabalho não consegue dissecar todo o tema abordado, já que os

tópicos apresentam complexidades que em um mesmo trabalho seria impossível

destacá-los completamente. Desta forma, fica apresentada a monografia de forma

sucinta, propondo discussões apenas nos pontos relevantes da matéria.

Portanto, a proposta dos princípios é a divulgação da importância da

preservação ambiental, tendo como escopo um meio ambiente equilibrado não só

para esta geração como também para as gerações futuras.

50

10. Referências bibliográficas

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precaução. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.

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11. Anexos

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LEI Nº 9.795, de 27/04/1999 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Art. 1º - Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2º - A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. Art. 3º - Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo: I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais. Art. 4º - São princípios básicos da educação ambiental:

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I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. Art. 5º - São objetivos fundamentais da educação ambiental: I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - a garantia de democratização das informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. CAPÍTULO II DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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Seção I Disposições Gerais Art. 6º - É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 7º - A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não-governamentais com atuação em educação ambiental. Art. 8º - As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas de atuação inter-relacionadas: I - capacitação de recursos humanos; II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; III - produção e divulgação de material educativo; IV - acompanhamento e avaliação. § 1º - Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental serão respeitados os princípios e objetivos fixados por esta Lei. § 2º - A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para: I - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino; II - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos profissionais de todas as áreas; III - a preparação de profissionais orientados para as atividades de gestão ambiental; IV - a formação, especialização e atualização de profissionais na área de meio ambiente; V - o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade no que diz respeito à problemática ambiental. § 3º - As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para: I - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalidades de ensino; II - a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão ambiental;

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III - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação dos interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à problemática ambiental; IV - a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na área ambiental; V - o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo; VI - a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às ações enumeradas nos incisos I a V. Seção II Da Educação Ambiental no Ensino Formal Art. 9º - Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: I - educação básica: a) educação infantil; b) ensino fundamental e c) ensino médio; II - educação superior; III - educação especial; IV - educação profissional; V - educação de jovens e adultos. Art. 10 - A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. § 1º - A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino. § 2º - Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica. § 3º - Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas.

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Art. 11 - A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Parágrafo único - Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 12 - A autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada, observarão o cumprimento do disposto nos arts. 10 e 11 desta Lei. Seção III Da Educação Ambiental Não-Formal Art. 13 - Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Parágrafo único - O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não-governamentais; IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; VI - a sensibilização ambiental dos agricultores; VII - o ecoturismo. CAPÍTULO III DA EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Art. 14 - A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental ficará a cargo de um órgão gestor, na forma definida pela regulamentação desta Lei.

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Art. 15 - São atribuições do órgão gestor: I - definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional; II - articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos na área de educação ambiental, em âmbito nacional; III - participação na negociação de financiamentos a planos, programas e projetos na área de educação ambiental. Art. 16 - Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua competência e nas áreas de sua jurisdição, definirão diretrizes, normas e critérios para a educação ambiental, respeitados os princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 17 - A eleição de planos e programas, para fins de alocação de recursos públicos vinculados à Política Nacional de Educação Ambiental, deve ser realizada levando-se em conta os seguintes critérios: I - conformidade com os princípios, objetivos e diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental; II - prioridade dos órgãos integrantes do Sisnama e do Sistema Nacional de Educação; III - economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recursos a alocar e o retorno social propiciado pelo plano ou programa proposto. Parágrafo único - Na eleição a que se refere o caput deste artigo, devem ser contemplados, de forma eqüitativa, os planos, programas e projetos das diferentes regiões do País. Art. 18 - (VETADO) Art. 19 - Os programas de assistência técnica e financeira relativos a meio ambiente e educação, em níveis federal, estadual e municipal, devem alocar recursos às ações de educação ambiental. CAPÍTULO IV DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 20 - O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias de sua publicação, ouvidos o Conselho Nacional de Meio Ambiente e o Conselho Nacional de Educação. Art. 21 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 27 de abril de 1999; 178º da Independência e 111º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

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LEI Nº 9.605, de 12/02/1998 - LEI DE CRIMES AMBIENTAIS. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1º. VETADO Art. 2º. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la. Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Art. 5º. VETADO CAPÍTULO II DA APLICAÇÃO DA PENA Art. 6º. Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas conseqüências para a saúde pública e para o meio ambiente; II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

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Art. 7º. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I - tratar-se de crime culposo ou for aplicada a pena privativa de liberdade inferior a quatro anos; II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de reprovação e prevenção do crime. Parágrafo único. As penas restritivas de direitos a que se refere este artigo terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída. Art. 8º. As penas restritivas de direito são: I - prestação de serviços à comunidade; II - interdição temporária de direitos; III - suspensão parcial ou total de atividades; IV - prestação pecuniária; V - recolhimento domiciliar. Art. 9º. A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao condenado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de conservação, e, no caso de dano da coisa particular, pública ou tombada, na restauração desta, se possível. Art. 10. As penas de interdição temporária de direito são a proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos. Art. 11. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às prescrições legais. Art. 12. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado o infrator. Art. 13. O recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença condenatória.

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Art. 14. São circunstâncias que atenuam a pena: I - baixo grau de instrução ou escolaridade do agente; II - arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da degradação ambiental causada; III - comunicação prévia pelo agente do perigo iminente de degradação ambiental; IV - colaboração com os agentes encarregados da vigilância e do controle ambiental. Art. 15. São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; II - ter o agente cometido a infração: a) para obter vantagem pecuniária; b) coagindo outrem para a execução material da infração; c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente; d) concorrendo para danos à propriedade alheia; e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso; f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos; g) em período de defeso à fauna; h) em domingos ou feriados; i) à noite; j) em épocas de seca ou inundações; l) no interior do espaço territorial especialmente protegido; m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; n) mediante fraude ou abuso de confiança; o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental; p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais;

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q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes; r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções. Art. 16. Nos crimes previstos nesta Lei, a suspensão condicional da pena pode ser aplicada nos casos de condenação a pena privativa de liberdade não superior a três anos. Art. 17. A verificação da reparação a que se refere o § 2º do art. 78 do Código Penal será feita mediante laudo de reparação do dano ambiental, e as condições a serem impostas pelo juiz deverão relacionar-se com a proteção ao meio ambiente. Art. 18. A multa será calculada segundo os critérios do Código Penal; se revelar-se ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá ser aumentada até três vezes, tendo em vista o valor da vantagem econômica auferida. Art. 19. A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa. Parágrafo único. A perícia produzida no inquérito civil ou no juízo cível poderá ser aproveitada no processo penal, instaurando-se o contraditório. Art. 20. A sentença penal condenatória, sempre que possível, fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido ou pelo meio ambiente. Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá efetuar-se pelo valor fixado nos termos do caput, sem prejuízo da liquidação para apuração do dano efetivamente sofrido. Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são: I - multa; II - restritivas de direitos; III - prestação de serviços à comunidade. Art. 22. As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I - suspensão parcial ou total de atividades; II - interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações.

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§ 1º. A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente. § 2º. A interdição será aplicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar. § 3º. A proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de dez anos. Art. 23. A prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica consistirá em: I - custeio de programas e de projetos ambientais; II - execução de obras de recuperação de áreas degradadas; III - manutenção de espaços públicos; IV - contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. CAPÍTULO III DA APREENSÃO DO PRODUTO E DO INSTRUMENTO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA OU DE CRIME Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos. § 1º. Os animais serão libertados em seu habitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de técnicos habilitados. § 2º. Tratando-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes. § 3°. Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. § 4º. Os instrumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua descaracterização por meio da reciclagem. § 5º. Tratando-se de madeiras, serão levadas a leilão, e o valor arrecadado, revertido ao órgão ambiental responsável por sua apreensão.

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CAPÍTULO IV DA AÇÃO E DO PROCESSO PENAL Art. 26. Nas infrações penais previstas nesta Lei, a ação penal é pública incondicionada. Parágrafo único. VETADO Art. 27. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade. Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo; II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição; III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput; IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano. CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE Seção I Dos Crimes contra a Fauna Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção de seis meses a um ano, e multa.

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§ 1º. Incorre nas mesmas penas: I - quem impede a procriação da fauna, sem licença, autorização ou em desacordo com a obtida; II - quem modifica, danifica ou destrói ninho, abrigo ou criadouro natural; III - quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. § 2º. No caso de guarda doméstica de espécie silvestre não considerada ameaçada de extinção, pode o juiz, considerando as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. § 3°. São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras. § 4º. A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado: I - contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração; II - em período proibido à caça; III - durante a noite; IV - com abuso de licença; V - em unidade de conservação; VI - com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa. § 5º. A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional. § 6º. As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca. Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 31. Introduzir espécime animal no País, sem parecer técnico oficial favorável e licença expedida por autoridade competente:

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Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carreamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas: I - quem causa degradação em viveiros, açudes ou estações de aqüicultura de domínio público; II - quem explora campos naturais de invertebrados aquáticos e algas, sem licença, permissão ou autorização da autoridade competente; III - quem fundeia embarcações ou lança detritos de qualquer natureza sobre bancos de moluscos ou corais, devidamente demarcados em carta náutica. Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: I - pesca espécies que devam ser preservadas ou espécimes com tamanhos inferiores aos permitidos; II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos, petrechos, técnicas e métodos não permitidos; III - transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca proibidas. Art. 35. Pescar mediante a utilização de:

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I - explosivos ou substâncias que, em contato com a água, produzam efeito semelhante; II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibido pela autoridade competente: Pena - reclusão de um ano a cinco anos. Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios, suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção, constantes nas listas oficiais da fauna e da flora. Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado: I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família; II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente; III - VETADO IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. Seção II Dos Crimes contra a Flora Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 38-A - Destruir ou danificar vegetação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de regeneração, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena - detenção, de 01 (um) a 03 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único - Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 39. Cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão da autoridade competente: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Art. 40 - (VETADO)

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§ 1º - Entende-se por Unidades de Conservação de Proteção Integral as Estações Ecológicas, as Reservas Biológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturais e os Refúgios de Vida Silvestre. § 2º - A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Proteção Integral será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. § 3º. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 40-A - (VETADO) § 1º - Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural. § 2º - A ocorrência de dano afetando espécies ameaçadas de extinção no interior das Unidades de Conservação de Uso Sustentável será considerada circunstância agravante para a fixação da pena. § 3º - Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade. Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa. Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano: Pena - detenção de um a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Art. 43. VETADO Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 45. Cortar ou transformar em carvão madeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público, para fins industriais, energéticos ou para qualquer outra exploração, econômica ou não, em desacordo com as determinações legais: Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.

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Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente. Art. 47. VETADO Art. 48. Impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de vegetação: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Parágrafo único. No crime culposo, a pena é de um a seis meses, ou multa. Art. 50. Destruir ou danificar florestas nativas ou plantadas ou vegetação fixadora de dunas, protetora de mangues, objeto de especial preservação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Art. 50-A - Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente: Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. § 1º - Não é crime a conduta praticada quando necessária à subsistência imediata pessoal do agente ou de sua família. § 2º - Se a área explorada for superior a 1.000 ha (mil hectares), a pena será aumentada de 1 (um) ano por milhar de hectare. Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem licença ou registro da autoridade competente: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

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Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade competente: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 53. Nos crimes previstos nesta Seção, a pena é aumentada de um sexto a um terço se: I - do fato resulta a diminuição de águas naturais, a erosão do solo ou a modificação do regime climático; II - o crime é cometido: a) no período de queda das sementes; b) no período de formação de vegetações; c) contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ainda que a ameaça ocorra somente no local da infração; d) em época de seca ou inundação; e) durante a noite, em domingo ou feriado. Seção III Da Poluição e outros Crimes Ambientais Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º. Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. § 2º. Se o crime: I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;

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V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º. Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível. Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente. Art. 56. Produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º. Nas mesmas penas incorre quem abandona os produtos ou substâncias referidos no caput, ou os utiliza em desacordo com as normas de segurança. § 2º. Se o produto ou a substância for nuclear ou radioativa, a pena é aumentada de um sexto a um terço. § 3º. Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 57. VETADO Art. 58. Nos crimes dolosos previstos nesta Seção, as penas serão aumentadas: I - de um sexto a um terço, se resulta dano irreversível à flora ou ao meio ambiente em geral; II - de um terço até a metade, se resulta lesão corporal de natureza grave em outrem; III - até o dobro, se resultar a morte de outrem.

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Parágrafo único. As penalidades previstas neste artigo somente serão aplicadas se do fato não resultar crime mais grave. Art. 59. VETADO Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Seção IV Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 64. Promover construção em solo não edificável, ou no seu entorno, assim considerado em razão de seu valor paisagístico, ecológico, artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Art. 65. Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano:

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Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de seis meses a um ano de detenção, e multa. Seção V Dos Crimes contra a Administração Ambiental Art. 66. Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. Art. 67. Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano de detenção, sem prejuízo da multa. Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de três meses a um ano, sem prejuízo da multa. Art. 69. Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Art. 69-A - Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º - Se o crime é culposo: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

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§ 2º - A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se há dano significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa. CAPÍTULO VI DA INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. § 1º. São autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha. § 2º. Qualquer pessoa, constatando infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades relacionadas no parágrafo anterior, para efeito do exercício do seu poder de polícia. § 3º. A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade. § 4º. As infrações ambientais são apuradas em processo administrativo próprio, assegurado o direito de ampla defesa e o contraditório, observadas as disposições desta Lei. Art. 71. O processo administrativo para apuração de infração ambiental deve observar os seguintes prazos máximos: I - vinte dias para o infrator oferecer defesa ou impugnação contra o auto de infração, contados da data da ciência da autuação; II - trinta dias para a autoridade competente julgar o auto de infração, contados da data da sua lavratura, apresentada ou não a defesa ou impugnação; III - vinte dias para o infrator recorrer da decisão condenatória à instância superior do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, ou à Diretoria de Portos e Costas, do Ministério da Marinha, de acordo com o tipo de autuação; IV - cinco dias para o pagamento de multa, contados da data do recebimento da notificação. Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: I - advertência;

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II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total de atividades; X - VETADO XI - restritiva de direitos. § 1º. Se o infrator cometer, simultaneamente, duas ou mais infrações, ser-lhe-ão aplicadas, cumulativamente, as sanções a elas cominadas. § 2º. A advertência será aplicada pela inobservância das disposições desta Lei e da legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções previstas neste artigo. § 3º. A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do Sisnama ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha; II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do Sistema ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha. § 4°. A multa simples pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. § 5º. A multa diária será aplicada sempre que o cometimento da infração se prolongar no tempo. § 6º. A apreensão e destruição referidas nos incisos IV e V do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei. § 7º. As sanções indicadas nos incisos VI a IX do caput serão aplicadas quando o produto, a obra, a atividade ou o estabelecimento não estiverem obedecendo às prescrições legais ou regulamentares.

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§ 8º. As sanções restritivas de direito são: I - suspensão de registro, licença ou autorização; II - cancelamento de registro, licença ou autorização; III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três anos. Art. 73. Os valores arrecadados em pagamento de multas por infração ambiental serão revertidos ao Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pela Lei nº 7.797, de 10 de julho de 1989, Fundo Naval, criado pelo Decreto nº 20.923, de 8 de janeiro de 1932, fundos estaduais ou municipais de meio ambiente, ou correlatos, conforme dispuser o órgão arrecadador. Art. 74. A multa terá por base a unidade, hectare, metro cúbico, quilograma ou outra medida pertinente, de acordo com o objeto jurídico lesado. Art. 75. O valor da multa de que trata este Capítulo será fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinqüenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00 (cinqüenta milhões de reais). Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência. CAPÍTULO VII DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país, sem qualquer ônus, quando solicitado para: I - produção de prova; II - exame de objetos e lugares; III - informações sobre pessoas e coisas; IV - presença temporária da pessoa presa, cujas declarações tenham relevância para a decisão de uma causa; V - outras formas de assistência permitidas pela legislação em vigor ou pelos tratados de que o Brasil seja parte.

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§ 1°. A solicitação de que trata este artigo será dirigida ao Ministério da Justiça, que a remeterá, quando necessário, ao órgão judiciário competente para decidir a seu respeito, ou a encaminhará à autoridade capaz de atendê-la. § 2º. A solicitação deverá conter: I - o nome e a qualificação da autoridade solicitante; II - o objeto e o motivo de sua formulação; III - a descrição sumária do procedimento em curso no país solicitante; IV - a especificação da assistência solicitada; V - a documentação indispensável ao seu esclarecimento, quando for o caso. Art. 78. Para a consecução dos fins visados nesta Lei e especialmente para a reciprocidade da cooperação internacional, deve ser mantido sistema de comunicações apto a facilitar o intercâmbio rápido e seguro de informações com órgãos de outros países. CAPÍTULO VIII DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 79. Aplicam-se subsidiariamente a esta Lei as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. Art. 79-A - Para o cumprimento do disposto nesta Lei, os órgãos ambientais integrantes do SISNAMA, responsáveis pela execução de programas e projetos e pelo controle e fiscalização dos estabelecimentos e das atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental, ficam autorizados a celebrar, com força de título executivo extrajudicial, termo de compromisso com pessoas físicas ou jurídicas responsáveis pela construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores. § 1º - O termo de compromisso a que se refere este artigo destinar-se-á, exclusivamente, a permitir que as pessoas físicas e jurídicas mencionadas no caput possam promover as necessárias correções de suas atividades, para o atendimento das exigências impostas pelas autoridades ambientais competentes, sendo obrigatório que o respectivo instrumento disponha sobre: I - O nome, a qualificação e o endereço das partes compromissadas e dos respectivos representantes legais; II - O prazo de vigência do compromisso, que, em função da complexidade das obrigações nele fixadas, poderá variar entre o mínimo de noventa dias e o máximo de três anos, com possibilidade de prorrogação por igual período;

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III - A descrição detalhada de seu objeto, o valor do investimento previsto e o cronograma físico de execução e de implantação das obras e serviços exigidos, com metas trimestrais a serem atingidas; IV - As multas que podem ser aplicadas à pessoa física ou jurídica compromissada e os casos de rescisão, em decorrência do não-cumprimento das obrigações nele pactuadas; V - O valor da multa de que trata o inciso IV não poderá ser superior ao valor do investimento previsto; VI - O foro competente para dirimir litígios entre as partes. § 2º - No tocante aos empreendimentos em curso até o dia 30 de março de 1998, envolvendo construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, a assinatura do termo de compromisso deverá ser requerida pelas pessoas físicas e jurídicas interessadas, até o dia 31 de dezembro de 1998, mediante requerimento escrito protocolizado junto aos órgãos competentes do SISNAMA, devendo ser firmado pelo dirigente máximo do estabelecimento. § 3º - Da data da protocolização do requerimento previsto no § 2º e enquanto perdurar a vigência do correspondente termo de compromisso, ficarão suspensas, em relação aos fatos que deram causa à celebração do instrumento, a aplicação de sanções administrativas contra a pessoa física ou jurídica que o houver firmado. § 4º - A celebração do termo de compromisso de que trata este artigo não impede a execução de eventuais multas aplicadas antes da protocolização do requerimento. § 5º - Considera-se rescindido de pleno direito o termo de compromisso, quando descumprida qualquer de suas cláusulas, ressalvado o caso fortuito ou de força maior. § 6º - O termo de compromisso deverá ser firmado em até noventa dias, contados da protocolização do requerimento. § 7º - O requerimento de celebração do termo de compromisso deverá conter as informações necessárias à verificação da sua viabilidade técnica e jurídica, sob pena de indeferimento do plano. § 8º - Sob pena de ineficácia, os termos de compromisso deverão ser publicados no órgão oficial competente, mediante extrato. Art. 80. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de noventa dias a contar de sua publicação. Art. 81. VETADO Art. 82. Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 12 de fevereiro de 1998; 177º da Independência e 110º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Gustavo Krause

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LEI Nº 6.938, de 31/08/1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Esta Lei, com fundamento nos incisos VI e VII do artigo 23 e no artigo 235 da Constituição, estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constitui o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA e institui o Cadastro de defesa Ambiental. DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - Proteção de áreas ameaçadas de degradação; X - Educação ambiental a todos os níveis do ensino inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

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I - Meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - Degradação da sua qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - Poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - Poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividades causadoras de degradação ambiental; V - Recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo e os elementos da biosfera, a fauna e a flora. DOS OBJETIVOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III - ao estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

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VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Art. 5º - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, do Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos no artigo 2º desta Lei. Parágrafo único - As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente. DO SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Art. 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: I - Órgão Superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; II - Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; III - Órgão Central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; IV - Órgão Executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições.

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§ 1º - Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA. § 2º - Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no Parágrafo anterior. § 3º - Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada. § 4º - De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Executivo autorizado a criar uma Fundação de apoio técnico e científico às atividades do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA. DO CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Art. 7º - REVOGADO. Art. 8º - Compete ao CONAMA: I - Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividade efetiva ou potencialmente poluidora, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA; II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional; III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA; IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental: (VETADO); V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes;

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VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos. Parágrafo único - O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o Presidente do CONAMA. DOS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE Art. 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I - o estabelecimento de padrões da qualidade ambiental; II - o zoneamento ambiental; III - a avaliação de impactos ambientais; IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidora; V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público Federal, Estadual e Municipal, tais como Áreas de Proteção Ambiental, de Relevante Interesse Ecológico e Reservas Extrativistas; VII - o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente; VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA; XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; XII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais; XIII - Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros. Art. 9º-A - Mediante anuência do órgão ambiental competente, o proprietário rural pode instituir servidão ambiental, pela qual voluntariamente renuncia, em caráter

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permanente ou temporário, total ou parcialmente, a direito de uso, exploração ou supressão de recursos naturais existentes na propriedade. § 1º - A servidão ambiental não se aplica às áreas de preservação permanente e de reserva legal. § 2º - A limitação ao uso ou exploração da vegetação da área sob servidão instituída em relação aos recursos florestais deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a reserva legal. § 3º - A servidão ambiental deve ser averbada no registro de imóveis competente. § 4º - Na hipótese de compensação de reserva legal, a servidão deve ser averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos. § 5º - É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites da propriedade. Art. 10 - A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento por órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. § 1º - Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de grande circulação. § 2º - Nos casos e prazos previstos em resolução do CONAMA, o licenciamento de que trata este artigo dependerá de homologação do IBAMA. § 3º - O órgão estadual de meio ambiente e o IBAMA, este em caráter supletivo, poderão, se necessário e sem prejuízo das penalidades pecuniárias cabíveis, determinar a redução das atividades geradoras de poluição, para manter as emissões gasosas, os efluentes líquidos e os resíduos sólidos dentro das condições e limites estipulados no licenciamento concedido. § 4º - Compete à Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, o licenciamento previsto no caput deste artigo, no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional. Art. 11 - Compete ao IBAMA propor ao CONAMA normas e padrões para implantação, acompanhamento e fiscalização do licenciamento previsto no artigo anterior, além das que forem oriundas do próprio CONAMA.

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§ 1º - A fiscalização e o controle da aplicação de critérios, normas e padrões de qualidade ambiental serão exercidos pelo IBAMA, em caráter supletivo da autuação do órgão estadual e municipal competentes. § 2º - Inclui-se na competência da fiscalização e controle a análise de projetos de entidades, públicas ou privadas, objetivando a preservação ou a recuperação de recursos ambientais, afetados por processos de exploração predatórios ou poluidores. Art. 12 - As entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA. Parágrafo único - As entidades e órgãos referidos no caput deste artigo deverão fazer constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos destinados ao controle de degradação ambiental e à melhoria da qualidade do meio ambiente. Art. 13 - O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas ao meio ambiente, visando: I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos destinados a reduzir a degradação da qualidade ambiental; II - à fabricação de equipamentos antipoluidores; III - a outras iniciativas que propiciem a racionalização do uso de recursos ambientais; Parágrafo único - Os órgãos, entidades e programas do Poder Público, destinados ao incentivo das pesquisas científicas e tecnológicas, considerarão, entre as suas metas prioritárias, o apoio aos projetos que visem a adquirir e desenvolver conhecimentos básicos e aplicáveis na área ambiental e ecológica. Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I - à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravadas em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios. II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público;

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III - à perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV - à suspensão de sua atividade. § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. § 2º - No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias previstas neste artigo. § 3º - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprindo resolução do CONAMA. § 4º - REVOGADO. § 5º - A execução das garantias exigidas do poluidor não impede a aplicação das obrigações de indenização e reparação de danos previstas no § 1º deste artigo. Art. 15 - O poluidor que expuser a perigo a incolumidade humana, animal ou vegetal, ou estiver tornando mais grave a situação de perigo existente, fica sujeito à pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa de 100 (cem) a 1.000 (mil) MVR. (ver nota) § 1º - A pena é aumentada até o dobro se: I - resultar: a) dano irreversível à fauna, à flora e ao meio ambiente; b) lesão corporal grave. II - a poluição é decorrente de atividade industrial ou de transporte; III - o crime é praticado durante a noite, em domingo ou em feriado. § 2º - Incorre no mesmo crime a autoridade competente que deixar de promover as medidas tendentes a impedir a prática das condutas acima descritas. Art. 16 - REVOGADO. Art. 17 - Fica instituído, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA: I - Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dediquem à consultoria técnica sobre problemas ecológicos ou ambientais e à indústria e

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comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; II - Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora. Art. 17-A - SUSPENSO. Art. 17-B - Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental - TCFA, cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais. § 1º - Revogado. § 2º - Revogado. Art. 17-C - É sujeito passivo da TCFA todo aquele que exerça as atividades constantes do Anexo VIII desta Lei. § 1º - O sujeito passivo da TCFA é obrigado a entregar até o dia 31 de março de cada ano relatório das atividades exercidas no ano anterior, cujo modelo será definido pelo IBAMA, para o fim de colaborar com os procedimentos de controle e fiscalização. § 2º - O descumprimento da providência determinada no § 1º sujeita o infrator a multa equivalente a vinte por cento da TCFA devida, sem prejuízo da exigência desta. § 3º - Revogado. Art. 17-D - A TCFA é devida por estabelecimento e os seus valores são os fixados no Anexo IX desta Lei. § 1º - Para os fins desta Lei, consideram-se: I - Microempresa e empresa de pequeno porte, as pessoas jurídicas que se enquadrem, respectivamente, nas descrições dos incisos I e II do caput do art. 2º da Lei nº 9.841, de 5 de outubro de 1999; II - Empresa de médio porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superior a R$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil reais) e igual ou inferior a R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais);

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III - Empresa de grande porte, a pessoa jurídica que tiver receita bruta anual superior a R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais). § 2º - O potencial de poluição (PP) e o grau de utilização (GU) de recursos naturais de cada uma das atividades sujeitas à fiscalização encontram-se definidos no Anexo VIII desta Lei. § 3º - Caso o estabelecimento exerça mais de uma atividade sujeita à fiscalização, pagará a taxa relativamente a apenas uma delas, pelo valor mais elevado. Art. 17-E - SUSPENSO. Art. 17-F - São isentas do pagamento da TCFA as entidades públicas federais, distritais, estaduais e municipais, as entidades filantrópicas, aqueles que praticam agricultura de subsistência e as populações tradicionais. Art. 17-G - A TCFA será devida no último dia útil de cada trimestre do ano civil, nos valores fixados no Anexo IX desta Lei, e o recolhimento será efetuado em conta bancária vinculada ao IBAMA, por intermédio de documento próprio de arrecadação, até o quinto dia útil do mês subseqüente. § 1º - Revogado. § 2º - Os recursos arrecadados com a TCFA terão utilização restrita em atividades de controle e fiscalização ambiental. Art. 17-H - A TCFA não recolhida nos prazos e nas condições estabelecidas no artigo anterior será cobrada com os seguintes acréscimos: I - Juros de mora, na via administrativa ou judicial, contados do mês seguinte ao do vencimento, à razão de um por cento; II - Multa de mora de vinte por cento, reduzida a dez por cento se o pagamento for efetuado até o último dia útil do mês subseqüente ao do vencimento; III - Encargo de vinte por cento, substitutivo da condenação do devedor em honorários de advogado, calculado sobre o total do débito inscrito como Dívida Ativa, reduzido para dez por cento se o pagamento for efetuado antes do ajuizamento da execução. § 1º-A - Os juros de mora não incidem sobre o valor da multa de mora. § 1º - Os débitos relativos à TCFA poderão ser parcelados de acordo com os critérios fixados na legislação tributária, conforme dispuser o regulamento desta Lei. Art. 17-I - As pessoas físicas e jurídicas que exerçam as atividades mencionadas nos incisos I e II do art. 17 e que não estiverem inscritas nos respectivos cadastros até o último dia útil do terceiro mês que se seguir ao da publicação desta Lei incorrerão em infração punível com multa de:

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I - R$ 50,00 (cinqüenta reais), se pessoa física; II - R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais), se microempresa; III - R$ 900,00 (novecentos reais), se empresa de pequeno porte; IV - R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais), se empresa de médio porte; V - R$ 9.000,00 (nove mil reais), se empresa de grande porte. Parágrafo único - Revogado. Art. 17-J - REVOGADO. Art. 17-L - SUSPENSO. Art. 17-M - SUSPENSO. Art. 17-N - SUSPENSO. Art. 17-O - Os proprietários rurais que se beneficiarem com redução do valor do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, com base em Ato Declaratório Ambiental - ADA, deverão recolher ao IBAMA a importância prevista no item 3.11 do Anexo VII da Lei nº 9.960, de 29 de janeiro de 2000, a título de Taxa de Vistoria. § 1º-A - A Taxa de Vistoria a que se refere o caput deste artigo não poderá exceder a dez por cento do valor da redução do imposto proporcionada pelo ADA. § 1º - A utilização do ADA para efeito de redução do valor a pagar do ITR é obrigatória. § 2º - O pagamento de que trata o caput deste artigo poderá ser efetivado em cota única ou em parcelas, nos mesmos moldes escolhidos pelo contribuinte para o pagamento do ITR, em documento próprio de arrecadação do IBAMA. § 3º - Para efeito de pagamento parcelado, nenhuma parcela poderá ser inferior a R$ 50,00 (cinqüenta reais). § 4º - O inadimplemento de qualquer parcela ensejará a cobrança de juros e multa nos termos dos incisos I e II do caput e §§ 1º-A e 1º, todos do art. 17-H desta Lei. § 5º - Após a vistoria, realizada por amostragem, caso os dados constantes do ADA não coincidam com os efetivamente levantados pelos técnicos do IBAMA, estes lavrarão, de ofício, novo ADA, contendo os dados reais, o qual será encaminhado à Secretaria da Receita Federal, para as providências cabíveis. Art. 17-P - Constitui crédito para compensação com o valor devido a título de TCFA, até o limite de sessenta por cento e relativamente ao mesmo ano, o montante efetivamente pago pelo estabelecimento ao Estado, ao Município e ao Distrito Federal em razão de taxa de fiscalização ambiental.

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§ 1º - Valores recolhidos ao Estado, ao Município e ao Distrital Federal a qualquer outro título, tais como taxas ou preços públicos de licenciamento e venda de produtos, não constituem crédito para compensação com a TCFA. § 2º - A restituição, administrativa ou judicial, qualquer que seja a causa que a determine, da taxa de fiscalização ambiental estadual ou distrital compensada com a TCFA restaura o direito de crédito do IBAMA contra o estabelecimento, relativamente ao valor compensado. Art. 17-Q - É o IBAMA autorizado a celebrar convênios com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal para desempenharem atividades de fiscalização ambiental, podendo repassar-lhes parcela da receita obtida com a TCFA. Art. 18 - REVOGADO. Parágrafo único - As pessoas físicas ou jurídicas que, de qualquer modo, degradarem Reservas ou Estações Ecológicas, bem como outras áreas declaradas como de relevante interesse ecológico, estão sujeitas às penalidades previstas no artigo 14 desta Lei. Art. 19 - Ressalvado o disposto nas Leis Nºs 5.357, de 17 de novembro de 1967 e 7.661, de 16 de maio de 1988, a receita proveniente da aplicação desta Lei será recolhida de acordo com o disposto no artigo 4º da Lei Nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Art. 20 - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação. Art. 21 - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, em 31 de agosto de 1981; 160º da Independência e 93º da República. JOÃO B. DE FIGUEIREDO Mário David Andreazza

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