a derivados da homopiperidina - repositorio-aberto.up.pt · variação de temperatura por unidade...
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Energtica e Reatividade de Derivados da Homopiperidina
Sara Daniela Freitas Leirosa
Dissertao de Mestrado apresentada
Faculdade de Cincias da Universidade do Porto em
Qumica
2013
En
erg
tic
a e
Re
ativ
ida
de
de
De
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Ho
mo
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S
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iela
Fre
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MS
c
FCUP
2013
2.
CICLO
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Todas as correes determinadas
pelo jri, e s essas, foram efetuadas.
O Presidente do Jri,
Porto, ______/______/_________
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Dedico esta tese aos meus Avs,
a quem devo tudo aquilo que alcancei.
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II
AGRADECIMENTOS
Agradeo
Professora Doutora Maria das Dores M. C. Ribeiro da Silva, pela orientao,
apoio e conselhos durante este trabalho.
Prof. Doutora Maria Joo Sottomayor pelo constante apoio, amizade e carinho
ao longo destes anos.
Doutora Vera Freitas, pela ajuda e ensinamentos que permitiram a realizao
da parte laboratorial deste trabalho.
A todos os professores e colegas de trabalho do Grupo de Termoqumica, pela
ajuda, apoio, amizade e companheirismo.
A todos os meus amigos, sem exceo, que me acompanharam nesta etapa da
minha vida.
Diana pela amizade, carinho e apoio em momentos menos fceis.
Aos meus Tios. O vosso apoio foi fundamental para que conseguisse concluir
esta etapa.
Aos meus Pais pelo amor e carinho.
Ao Alexandre pelo amor, compreenso, pacincia e fora que me deu durante
todos estes anos.
Finalmente aos meus Avs pelo amor incondicional e por permitirem que tudo
isto fosse possvel.
Obrigada por tudo.
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III
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo o estudo termoqumico de trs
compostos heterocclicos azotados: a homopiperidina, o hexametileneiminoacetonitrilo
e o N-acetilcaprolactam.
Recorreu-se calorimetria de combusto em bomba esttica para a
determinao da entalpia molar de formao padro, no estado lquido, o (l), a
T = 298.15 K, de cada um daqueles compostos. Determinou-se ainda, para os
mesmos compostos, as entalpias molares de vaporizao padro, g o
, a
T = 298.15 K, por microcalorimetria Calvet. A conjugao daqueles dois parmetros,
para cada um dos compostos, permitiu o clculo da correspondente entalpia molar de
formao padro em fase gasosa.
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IV
ABSTRACT
The present work aimed the thermochemical study of three
nitrogen heterocyclic compounds: homopiperidine, hexamethyleneiminoacetonitrile and
N-acetylcaprolactam.
Static bomb combustion calorimetry was used to determine the standard molar
enthalpy of formation, in liquid state, o (l), at T = 298.15 K, of each compound. The
standard molar enthalpies of vaporization, g o
, at T = 298.15 K, were also
determined by Calvet microcalorimetry for the same compounds. The combination of
those two parameters, for each of the compounds, allowed the calculation of the
corresponding standard molar enthalpy of formation, in gaseous phase.
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V
NDICE
Agradecimentos II
Resumo III
Abstract IV
ndice V
ndice de tabelas VIII
ndice de figuras X
Smbolos e abreviaturas XI
1. Introduo
1.1. mbito do trabalho 2
1.2. Compostos estudados 4
1.3. Parmetros termodinmicos de azepanos existentes na literatura 6
1.4. Unidades 7
Referncias 8
2. Caracterizao e purificao dos compostos
2.1. Propriedades fsicas dos compostos 10
2.2. Purificao dos compostos 11
2.3. Calibrantes 13
Referncias 14
3. Calorimetria de combusto em bomba esttica: Determinao de entalpias
molares de formao padro, em fase condensada
3.1. Generalidades 16
3.2. Equipamento e procedimentos experimentais 18
3.2.1. Descrio do microcalormetro 18
3.2.1.1. Bomba esttica de combusto 18
3.2.1.2. Vaso calorimtrico 19
3.2.1.3. Banho termosttico 20
3.2.2. O ensaio calorimtrico 21
3.2.2.1. Preparao do banho termosttico 21
3.2.2.2. Preparao das amostras 21
3.2.2.3. Montagem da bomba esttica de combusto 21
3.2.2.4. Registo da temperatura 22
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VI
3.2.2.5. Ignio da amostra 22
3.2.3. Anlise dos produtos de combusto 22
3.2.3.1. Recolha de dixido de carbono 22
3.2.3.2. Anlise de cido ntrico e resduos de carbono 24
3.3. Tratamento de resultados. Fundamentos de clculo. 25
3.3.1. Variao de temperatura adiabtica 25
3.3.2. Calibrao do calormetro 28
3.3.3. Energia molar de combusto padro 32
3.3.4. Entalpia molar de combusto e formao padro 35
3.4. Resultados experimentais 36
3.4.1. Intervalos de incerteza 36
3.4.2. Energias mssicas de combusto padro 36
Referncias 41
4. Microcalorimetria Calvet: Determinao de entalpias molares de vaporizao
padro
4.1. Generalidades 43
4.2. Equipamento e procedimentos experimentais 46
4.2.1. Descrio do microcalormetro 46
4.2.1.1. Bloco calorimtrico 46
4.2.1.2. Controlo e medio da temperatura 47
4.2.1.3. Sistema de vcuo 47
4.2.1.4. Clulas calorimtricas 48
4.2.2. O ensaio calorimtrico 48
4.3. Calibrao do microcalormetro 50
4.3.1. Ensaios em branco 50
4.3.2. Determinao da contante de calibrao 51
4.4. Determinao de entalpias molares de vaporizao padro 53
4.5. Resultados experimentais 54
4.5.1. Intervalos de incerteza 54
4.5.2. Calibrao 54
4.5.3. Entalpias molares de vaporizao padro 59
Referncias 63
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VII
5. Consideraes finais
5.1. Entalpias molares de formao padro, em fase gasosa, dos compostos
estudados 65
5.2. Comentrio sobre os resultados 67
5.3. Nota final 68
Referncias 69
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VIII
NDICE DE TABELAS
Tabela 1.1 Valores da entalpia molar de formao padro e da entalpia
molar de vaporizao padro, existentes na literatura, para a
homopiperidina. 6
Tabela 2.1 Caractersticas dos compostos estudados. 10
Tabela 2.2 Provenincia e pureza inicial dos compostos estudados. 11
Tabela 2.3 Condies de purificao e respetivos graus de pureza
obtidos para cada composto. 12
Tabela 2.4 Propriedades fsicas do undecano utilizado para calibrar o
microcalormetro Calvet. 13
Tabela 3.1 Energia mssica de combusto padro (p = 0.1 MPa) da
homopiperidina, a T = 298.15 K. 37
Tabela 3.2 Energia mssica de combusto padro (p = 0.1 MPa) do
hexametileneiminoacetonitrilo, a T = 298.15 K. 38
Tabela 3.3 Energia mssica de combusto padro (p = 0.1 MPa) do
N-acetilcaprolactam, a T = 298.15 K. 39
Tabela 3.4 Energia mssica de combusto padro, energia molar de
combusto padro, entalpia molar de combusto padro e entalpia molar
de formao padro, para os trs compostos estudados, a T = 298.15 K. 40
Tabela 4.1 Calibrante usado para a medio de entalpias molares de
vaporizao padro. 50
Tabela 4.2 Resultados experimentais obtidos nos ensaios de calibrao
para o microcalormetro Calvet com undecano, temperatura de 334.5 K. 55
Tabela 4.3 Resultados experimentais obtidos nos ensaios de calibrao
para o microcalormetro Calvet com undecano, temperatura de 334.3 K. 56
Tabela 4.4 Resultados experimentais obtidos nos ensaios de calibrao
para o microcalormetro Calvet com undecano, temperatura de 360.0 K. 57
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IX
Tabela 4.5 Valores da constante de calibrao usados para o estudo de
cada composto. 58
Tabela 4.6 Resultados experimentais obtidos no estudo da vaporizao
da homopiperidina por microcalorimetria Calvet. 60
Tabela 4.7 Resultados experimentais obtidos no estudo da vaporizao
do hexametileneiminoacetonitrilo por microcalorimetria Calvet. 61
Tabela 4.8 Resultados experimentais obtidos no estudo da vaporizao
do N-acetilcaprolactam por microcalorimetria Calvet. 62
Tabela 5.1 Valores das entalpias molares de formao padro, no
estado condensado e gasoso, e das entalpias molares de vaporizao
padro para os compostos estudados. 66
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X
NDICE DE FIGURAS
Fig. 1.1 Frmula estrutural da homopiperidina. 4
Fig. 1.2 Frmulas estruturais de (a) hexametileneiminoacetonitrilo e
(b) N-acetilcaprolactam. 5
Fig. 3.1 Representao esquemtica da bomba esttica de combusto
(adaptado de[5]). 19
Fig. 3.2 Representao esquemtica do sistema calorimtrico
(adaptado de[5]). 20
Fig. 3.3 Representao esquemtica do sistema utilizado para a
recolha de dixido de carbono (adaptado de[8]). 24
Fig. 3.4 Tubo de absoro usado para a recolha de dixido de carbono
(adaptado de[8]) 24
Fig. 3.5 Representao grfica da temperatura em funo do tempo
para uma experincia de combusto[8]. 25
Fig. 3.6 Ciclo termoqumico para o clculo do equivalente energtico do
calormetro. 32
Fig. 3.7 Ciclo termoqumico para a aplicao das correes de Washburn. 33
Fig. 4.1 Curva tpica obtida para um processo de transio de fase numa
experincia realizada num microcalormetro Calvet (adaptada de[4]). 44
Fig. 4.2 Representao esquemtica do microcalormetro Calvet usado
na determinao de entalpias molares de vaporizao padro[4]. 46
Fig. 4.3 Representao esquemtica das clulas calorimtricas
(adaptado de[8]). 48
Fig. 4.4 Ciclo termoqumico para o clculo de entalpias molares de
vaporizao padro, temperatura de 298.15 K. 53
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XI
SMBOLOS E ABREVIATURAS
% Percentagem
AB cido benzoico
alg Algodo
C Capacidade
capam Capilar da amostra
capref Capilar de referncia
carb Carbono
CAS Chemical Abstracts Service
cert Certificado
comp Composto
corr Corrigido
cp Capacidade mssica a presso contante
Cv Capacidade molar a volume contante
E Equivalente energtico do calormetro
Ef Equivalente energtico do calormetro nas condies finais
Ei Equivalente energtico do calormetro nas condies iniciais
fsol Soluo final
GC Cromatgrafo gs-lquido
gf Variao de temperatura por unidade de tempo no perodo final
gi Variao de temperatura por unidade de tempo no perodo inicial
ign Ignio
K Coeficiente de sensibilidade
k Contante de arrefecimento do calormetro
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XII
kcal Constante de calibrao
m Massa
M Massa molar
mAB Massa de cido benzico
mag Massa de gua
mel Melinex
n Quantidade de substncia
nf Quantidade de substncia final
ni Quantidade de substncia inicial
observ Observado
p Presso
p.e. Ponto de ebulio
plat Platina
q Calor
R Constante dos gases
S Diferena de potencial
SI Sistema Internacional de Unidades
T Temperatura expressa em kelvin
t Tempo
Tc Temperatura de convergncia
tf Instante de tempo onde termina o perodo principal
Tf Temperatura final
Tf Temperatura final do banho termosttico no perodo principal
ti Instante de tempo onde se inicia o perodo principal
Ti Temperatura inicial
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XIII
Ti Temperatura inicial do banho termosttico no perodo principal
Tmf Temperatura mdia do perodo final
Tmi Temperatura mdia do perodo inicial
Tmp Temperatura mdia do perodo principal
Tv Temperatura da vizinhana
V Volume
Vf Voltagem final
Vi Voltagem inicial
Xi Valor individual de cada determinao experimental
o
(l) Entalpia molar de combusto padro, no estado lquido
o
(g) Entalpia molar de formao padro, no estado gasoso
o
(l) Entalpia molar de formao padro, no estado lquido
g o
Entalpia molar de vaporizao padro
Energia mssica de combusto
o
Energia molar de combusto padro
Energia mssica de combusto padro
m Variao de massa
n Variao de quantidade de substncia
Tad Variao de temperatura adiabtica
U Energia de combusto
Uf (corr) Variao de energia dos contedos da bomba, entre o estado real e
o estado padro, para os produtos
Ui (corr) Variao de energia dos contedos da bomba, entre o estado real e
o estado padro, para os reagentes
UPBI Variao de energia no processo de bomba isotrmico
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XIV
U Correo de energia para o estado padro
cal Equivalente energtico do calormetro com a bomba vazia
f Equivalente energtico dos contedos da bomba nas condies
finais
i Equivalente energtico dos contedos da bomba nas condies
iniciais
Valor mdio
Desvio padro
Variao de temperatura do calormetro devido ao calor de agitao
Fluxo de calor
-
CAPTULO 1
INTRODUO
1.1. mbito do trabalho
1.2. Compostos estudados
1.3. Parmetros termodinmicos de azepanos existentes na literatura
1.4. Unidades
Referncias
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Captulo 1: Introduo
2
1.1. mbito do trabalho
A termoqumica um ramo da termodinmica em que se estuda,
fundamentalmente, a energia associada a reaes qumicas, envolvendo substncias
de composio definida.
O incio da termoqumica surge no final do sculo XVIII, com as primeiras
medies de calor envolvido em reaes qumicas, realizadas por Lavoisier, Laplace e
Hess[1]. Na segunda metade do sculo XIX surgem nomes como os de Thomsen e
Berthelot que se dedicaram ao desenvolvimento de novos calormetros e, assim,
determinaram, com razovel exatido, a energia associada a um elevado nmero de
reaes qumicas[1]. No entanto, a descoberta de que o calor de reao no era o
parmetro determinante para uma reao se dar levou a que aqueles estudos
intensivos deixassem de merecer tanto interesse e, consequentemente, se desse o fim
do perodo clssico da termoqumica (fim do sculo XIX / nicio do sculo XX).
O perodo moderno da termoqumica surge na segunda dcada do sculo XX,
com a necessidade de obteno de parmetros termoqumicos de elevada exatido e
preciso para aplicaes industriais e tecnolgicas, em particular as indstrias
petrolferas e dos transportes. Neste perodo, constituem uma referncia os trabalhos
de F. D. Rossini com a determinao da entalpia de formao da gua e do dixido de
carbono[2].
Nas ltimas dcadas, o interesse pela energtica de compostos orgnicos,
associado ao desenvolvimento da cincia e tecnologia, permitiu um significativo
aumento da qualidade e quantidade dos parmetros termoqumicos para compostos
heterocclicos, com heterotomos de oxignio, azoto e enxofre. Os estudos
termoqumicos tm como principal objetivo o estudo de propriedades termodinmicas
das molculas, que permitem uma melhor compreenso da natureza das ligaes
qumicas, bem como o conhecimento e/ou confirmao da energtica de tais ligaes
e, consequentemente, servir de suporte a correlaes com as correspondentes
propriedades estruturais e de reatividade dos compostos de que essas ligaes fazem
parte. O conhecimento de tais parmetros essencial ao desenvolvimento de estudos
em diferentes domnios cientficos. A ttulo de exemplo, pode referir-se a importncia
da informao sobre a energia associada formao e/ou transformao de
molculas em reaes qumicas, cujo conhecimento crucial na previso
termoqumica de passos elementares de mecanismos reacionais e na definio de
estratgias de otimizao de processos qumicos, onde tais molculas participem[3].
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Captulo 1: Introduo
3
Existe, no entanto, uma enorme diferena entre o nmero de compostos
importantes, pelo seu interesse, e a dimenso da base de dados termoqumicos
disponveis. Com o objetivo de contribuir para ultrapassar esta limitao, o Grupo de
Termoqumica da Universidade do Porto tem realizado estudos em vrias classes de
compostos orgnicos homocclicos e heterocclicos. Neste trabalho foi desenvolvido
um estudo termoqumico experimental da homopiperidina e de dois dos seus
derivados. A entalpia molar de formao padro, a T = 298.15 K, de cada um dos
compostos foi calculada a partir da respetiva energia mssica de combusto padro,
obtida por calorimetria de combusto em bomba esttica. As entalpias molares de
vaporizao padro dos vrios compostos, a T = 298.15K, foram determinadas
diretamente por microcalorimetria Calvet. A conjugao destes dois parmetros
entlpicos para cada um dos compostos, permitiu o clculo da correspondente entalpia
molar de formao padro, no estado gasoso.
Assim, no captulo um desta dissertao feita uma breve apresentao deste
trabalho. No captulo dois apresentada a caracterizao dos compostos estudados e
a descrio do mtodo de purificao usado. As duas tcnicas calorimtricas
utilizadas, a calorimetria de combusto e a microcalorimetria Calvet, assim como os
resultados obtidos, so apresentados nos captulos trs e quatro, respetivamente. No
captulo cinco, so apresentados e discutidos os valores das entalpias molares de
formao padro, no estado gasoso, para cada um dos compostos estudados.
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Captulo 1: Introduo
4
1.2. Compostos estudados
A homopiperidina, tambm conhecida por azepano, constituda por um anel
heptagonal com um heterotomo de azoto (Fig.1). A estrutura da homopiperidina a
base da classe dos azepanos, e por isso o conhecimento das respetivas propriedades
termoqumicas essencial, pois uma molcula de referncia na anlise comparativa
de propriedades afins de outras espcies com estrutura semelhante.
Fig. 1.1 Frmula estrutural da homopiperidina.
O significativo aumento na publicao de artigos relativos sntese e
desenvolvimento de novos derivados da homopiperidina revelador da importncia
desta classe de compostos em diversas reas. De facto, tm surgido estudos que
revelam as potenciais aplicaes de derivados do azepano, a nvel biolgico e
farmacolgico, por apresentarem atividades anti-tumoral[4], anti-coagulante[5], anti-
trombtica[5] ou anti-bacteriana[6].
Recentemente foi, ainda, descrita a sntese e caracterizao de diversos lquidos
inicos derivados do azepano[7], com vista sua potencial aplicao em dispositivos
eletroqumicos, em particular, como eletrlitos em baterias de ltio[8,9]. O azepano um
subproduto na indstria das poliamidas, sendo produzidas anualmente, em todo o
mundo, grandes quantidades de azepano, que so incineradas por no ter aplicao.
Seria, portanto, interessante, tanto do ponto de vista econmico como ambiental, que
o subproduto azepano pudesse ser usado como matria-prima, para a produo de
lquidos inicos com aplicaes em dispositivos eletroqumicos[7,8].
Alm da homopiperidina, que j foi referida como sendo o composto de estrutura
base na classe dos azepanos, foram estudados dois dos seus derivados, o
hexametileneiminoacetonitrilo e o N-acetilcaprolactam, cujas frmulas estruturais esto
representadas na figura 1.2.
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Captulo 1: Introduo
5
Fig. 1.2 Frmulas estruturais de (a) hexametileneiminoacetonitrilo e (b) N-acetilcaprolactam.
A contribuio para a caracterizao energtica desta classe de compostos
torna-se relevante, uma vez que os dados termoqumicos disponveis na literatura para
este tipo de compostos, so escassos, como se pode constatar na seco 1.3.
(b) (a)
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FCUP
Captulo 1: Introduo
6
1.3. Parmetros termodinmicos de azepanos existentes na literatura
Em 1971, Cabani[10] fez o estudo termoqumico de aminas cclicas do tipo
CnH2nNH (n 4,5,6), efetuando a medio das respetivas presses de vapor a
diversas temperaturas, o que permitiu determinar os valores das entalpias de
vaporizao dos compostos, sendo um dos quais a homopiperidina (n 6).
Em 1981, Zhang et al.[11] determinaram, por calorimetria de combusto em
bomba esttica, a entalpia de combusto da homopiperidina, no estado lquido,
c (l) ( . 1.6) kJmol-1, e a partir deste valor foi calculada a respetiva
entalpia molar de formao padro, na fase lquida. Foram ainda publicados por estes
investigadores o valor da entalpia molar de vaporizao padro e o valor da entalpia
molar de formao padro, no estado gasoso, da homopiperidina.
Os resultados existentes na literatura esto resumidos na tabela 1.1. Note-se
que para o valor da entalpia molar de vaporizao padro obtido por Zhang et al.[11]
no foi indicada a incerteza associada.
Tabela 1.1 Valores da entalpia molar de formao padro e da entalpia molar de vaporizao padro, existentes na
literatura, para a homopiperidina.
Composto f mo(l) / kJmol
-1 lg mo
/ kJmol-1
f mo(g) / kJmol
-1
Homopiperidina 89.3 1.6
[11] 44.3
[11]
44.14 0.03[10]
45 2[11]
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Captulo 1: Introduo
7
1.4. Unidades
No presente trabalho adotou-se o Sistema Internacional de Unidades (SI).
Os valores de temperatura, em graus Celsius (oC), foram convertidos para os
correspondentes valores em kelvin (K), atravs da seguinte relao:
T/K t/oC 273.15
Os valores de energia retirados da literatura, quando expressos em calorias,
(cal), foram convertidos em joules, atravs da relao (1.2).
1 cal 4.184 J
Os valores das massas atmicas utilizados foram os recomendados pela Unio
Internacional de Qumica Pura e Aplicada (IUPAC International Union of Pure and
Applied Chemistry)[12].
(1.1)
(1.2)
-
FCUP
Captulo 1: Introduo
8
Referncias
[1] Cox, J. D.; Pilcher, G.; Thermochemistry of Organic and Organometallic
Compounds, Academic Press, London, 1970.
[2] Ribeiro da Silva, M. D. M. C., Contribuio para o Estudo Termoqumico de
Compostos Orgnicos e Organometlicos, Tese de Doutoramento, Faculdade de
Cincias da Universidade do Porto, 1985.
[3] Ribeiro da Silva, M. D. M. C., Freitas, V. L. S., Gomes, J. R. B., Quim. Nova, 6
(2013) 840-847.
[4] Johnson, H. A, Thomas N. R., Bioorg. Med. Chem. Lett. 12 (2002) 237241.
[5] Koshio, H., Hirayama, F., Ishihara, T., Taniuchi, Y., Sato, K., Sakai-Moritani, Y.,
Kaku, S., Kawasaki, T., Matsumoto, Y., Sakamoto, S., Tsukamoto, S., Bioorg.
Med. Chem., 12 (2004) 2179-2191.
[6] Barluenga, S., Simonsen, K. B., Littlefield, E. S., Ayida, B. K., Vourloumis, D.,
Winters, G. C., Takahashi, M., Shandrick, S., Zhao, Q., Hanb, Q., Hermannb, T.,
Med. Chem. Lett, 14 (2004) 713-718.
[7] Belhocine, T., Forsyth, S. A., Gunaratne, H. Q. N., Nieuwenhuyzen, M.,
Nockemann, P., Puga, A. V., Seddon, K. R., Srinivasana, G., Whistonb, K., Green
Chem., 13 (2011) 3137-3155.
[8] Puga, A. V., An. Qum., 108 (2012), 298-305.
[9] Belhocine, T., Forsyth, S. A., Gunaratne, H. Q. N., Nieuwenhuyzen, M., Puga, A.
V., Seddon, K. R., Srinivasana, G., Whistonb, K., Green Chem., 13 (2011) 59-63.
[10] Cabani, S., Conti, G., Lepori, L., Trans. Faraday Soc., 67 (1971) 1933-1942.
[11] Xu-wu, A., Zhang, ZL., Wang, SN., Yan, JQ., Hu, RH., Acta Chim Sin, 39 (1981)
485-492.
[12] Wieser, M. E., Coplen, T. B., Pure Appl. Chem. 83 (2011) 359-396.
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CAPTULO 2
CARACTERIZAO E PURIFICAO DOS COMPOSTOS
2.1. Propriedades fsicas dos compostos
2.2. Purificao dos compostos
2.3. Calibrantes
Referncias
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FCUP
Captulo 2: Caracterizao e purificao dos compostos
10
2.1. Propriedades fsicas dos compostos
Na tabela 2.1 esto apresentadas algumas das caractersticas dos compostos
estudados.
Tabela 2.1 Caractersticas dos compostos estudados.
Composto Nmero CAS
Estado fsico
temperatura
ambiente
Densidade
Homopiperidina
111-49-9 lquido 99.17 0.88[1]
411[1]
Hexametileneiminoacetonitrilo
54714-50-0 lquido 138.21 0.96[2]
375-376[2]
N-acetilcaprolactam
1888-91-1 lquido 155.20 1.09[2]
397-398[2]
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FCUP
Captulo 2: Caracterizao e purificao dos compostos
11
2.2. Purificao dos compostos
Os trs compostos objeto deste estudo foram obtidos comercialmente, com um
grau de pureza superior a 98 %, de acordo com os certificados de anlise
disponibilizados (tabela 2.2). Apesar destes valores evidenciarem uma elevada
pureza, todos os compostos foram sujeitos a purificao, de modo a obter-se um grau
de pureza superior a 99.9 %, uma vez que as tcnicas calorimtricas usadas assim o
exigem.
Tabela 2.2 Provenincia e pureza inicial dos compostos estudados.
Composto Origem Pureza inicial / %
Homopiperidina Sigma-Aldrich 99.7[3]
Hexametileneiminoacetonitrilo Alfa-Aesar 98.3[4]
N-acetilcaprolactam Alfa-Aesar 99.8[5]
O mtodo de purificao utilizado para os trs compostos estudados foi a
destilao fracionada a presso reduzida, tendo em conta que as trs amostras eram
lquidas. , no entanto, importante referir que para cada um dos trs compostos foi
necessrio proceder a destilaes sucessivas, para se obter um grau de pureza
aceitvel para os estudos calorimtricos.
No caso da homopiperidina o controle de pureza, foi feito por cromatografia
gs-lquido (cromatgrafo Agilent, modelo HP 4890A; coluna HP-5, 5 % de bifenilo e
95 % de dimetilpolixiloxano; detetor de ionizao de chama (FID); gs de arraste
constitudo por azoto e ar comprimido). Para os compostos
hexametileneiminoacetonitrilo e N-acetilcaprolactam no foi possvel fazer o controlo
de pureza por cromatografia gs-lquido.
Todos os compostos foram estudados por calorimetria de combusto em bomba
esttica. No final de cada experincia foi feita a recolha quantitativa de dixido de
carbono formado, o que permitiu fazer uma avaliao complementar do grau de
pureza dos compostos. Na tabela 2.3 encontram-se, resumidas, as condies de
purificao, assim como os respetivos graus de pureza obtidos, para cada composto.
-
FCUP
Captulo 2: Caracterizao e purificao dos compostos
12
Tabela 2.3 Condies de purificao e respetivos graus de pureza obtidos para cada composto
Composto Tcnica de
purificao
Controlo de pureza
GC / % Recolha de CO2 / %
Homopiperidina
Destilao fracionada sob
presso reduzida (T 316 K;
p 33 mbar)
99.96 99.917 0.004
Hexametileneiminoacetonitrilo
Destilao fracionada sob
presso reduzida (T 403 K;
p 50 mbar)
- 99.81 0.08
N-acetilcaprolactam
Destilao fracionada sob
presso reduzida (T 393 K;
p 40 mbar)
- 100.02 0.02
-
FCUP
Captulo 2: Caracterizao e purificao dos compostos
13
2.3. Calibrantes
Na tabela 2.4 esto resumidas algumas propriedades fsicas do undecano
utilizado na calibrao do microcalormetro Calvet e obtido comercialmente da Sigma
Aldrich[7], com uma grau de pureza de 99.7 %, de acordo com o certificado de anlise
disponibilizado.
Tabela 2.4 Propriedades fsicas do undecano utilizado para calibrar o microcalormetro Calvet.
Composto Nmero CAS
Estado fsico
temperatura
ambiente
Densidade
Undecano 1120-21-4 lquido 156.31 0.74[8]
469[8]
-
FCUP
Captulo 2: Caracterizao e purificao dos compostos
14
Referncias
[1] Safety Data Sheet of Homopiperidine, Sigma-Aldrich, http://www.aldrich.com
(Consultado em Junho de 2013).
[2] Safety Data Sheet of Hexamethyleneiminoacetonitrile, Alfa Aeser,
http://www.alfa.com (Consultado em Junho de 2013).
[3] Safety Data Sheet of N-acetilcaprolactam, Alfa Aeser, http://www.alfa.com
(Consultado em Junho de 2013).
[4] Certificate of Analysis of Homopiperidine, Sigma-Aldrich, http://www.aldrich.com
(Consultado em Junho de 2013).
[5] Certificate of Analysis of Hexamethyleneiminoacetonitrile, Alfa Aeser,
http://www.alfa.com (Consultado em Junho de 2013).
[6] Certificate of Analysis of N-acetilcaprolactam, Alfa Aeser, http://www.alfa.com
(Consultado em Junho de 2013).
[7] Certificate of Analysis of Undecane, Sigma-Aldrich, http://www.aldrich.com
(Consultado em Junho de 2013).
[8] Safety Data Sheet of Undecane, Sigma-Aldrich, http://www.aldrich.com
(Consultado em Junho de 2013).
-
CAPTULO 3
CALORIMETRIA DE COMBUSTO EM BOMBA ESTTICA
Determinao de entalpias molares de formao padro em fase
condensada
3.1. Generalidades
3.2. Equipamento e procedimentos experimentais
3.3. Tratamento de resultados. Fundamentos de clculo.
3.4. Resultados experimentais
Referncias
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FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
16
3.1. Generalidades
A calorimetria de combusto, no seio de oxignio, um mtodo fundamental na
determinao de entalpias de formao de compostos orgnicos em fase condensada,
sendo o mtodo mais apropriado para o estudo de compostos de baixa reatividade[1,2].
A calorimetria de combusto permite determinar a energia interna molar de combusto
padro,
, para um dado composto, a partir da respetiva reao de combusto, a
volume constante. A reao de combusto deve ser rpida, completa e sem reaes
laterais, sendo essencial que os estados fsicos de todos os compostos envolvidos
sejam claramente definidos. Assim, se um composto um lquido temperatura T
inicial, todo o composto deve manter-se no estado lquido, no vaporizando, e o
mesmo deve acontecer se o composto for slido, isto deve permanecer no estado
slido, no passando para o estado gasoso[2]. Tal como o estado inicial, o estado final
de uma experincia de combusto tambm deve ser claramente definido, razo pela
qual nos trabalhos de elevada exatido, essencial uma anlise qumica de todos os
produtos resultantes da reao de combusto[2].
A calorimetria de combusto em bomba esttica utilizada no estudo de
compostos contendo os elementos carbono, hidrognio, oxignio ou azoto. A reao
de combusto deste tipo de compostos traduzida pela seguinte equao qumica:
( ) (
) ( )
( )
Para garantir que toda a gua formada na reao esteja no estado lquido,
necessrio saturar a atmosfera no interior da bomba com vapor de gua e, para isso,
coloca-se 1.00 cm3 de gua desionizada no interior da bomba de combusto no incio
de cada experincia.
O azoto formado na reao descrita em (3.1) pode ser proveniente no s da
constituio do composto, mas tambm de contaminaes presentes no oxignio
usado para pressurizar a bomba no nicio da experincia [3]. A oxidao do azoto, na
presena da gua e do oxignio, leva formao de uma soluo de cido ntrico, de
acordo com a equao qumica (3.2).
( )
( )
( )
(3.1)
(3.2)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
17
Neste trabalho, a determinao das entalpias molares de formao padro, em
fase condensada, da homopiperidina e seus derivados foi efetuada utilizando-se um
calormetro de bomba esttica do tipo isoperibol, o que significa que durante as
experincias a vizinhana do sistema calorimtrico se mantm a temperatura
constante.
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
18
3.2. Equipamento e procedimentos experimentais
3.2.1. Descrio do calormetro
O calormetro de bomba esttica usado neste trabalho foi construdo e
originalmente utilizado no National Physical Laboratory, em Teddington, tendo sido
transferido, mais tarde, para o Departamento de Qumica e Bioqumica da Faculdade
de Cincias da Universidade do Porto, onde foi instalado e sofreu algumas
modificaes, conforme est descrito na literatura[4].
um calormetro baseado no modelo desenvolvido por Dickinson, tendo sido
projetado para fazer medies de preciso superior a 0.01 %. Esta preciso
necessria quando se pretende determinar entalpias de formao de compostos com
valores relativamente prximos, obtidos a partir das respetivas entalpias de combusto
e das entalpias de formao dos produtos de combusto (H2O(l) e CO2(g))[1].
3.2.1.1. Bomba esttica de combusto
A bomba esttica de combusto usada neste trabalho (Fig. 3.1 (a)) uma bomba
de vlvulas gmeas, com um volume interno de 0.290 dm3, sendo construda em ao
inoxidvel. Em termos estruturais, constituda pela cabea da bomba (b) e o
respectivo corpo (c) que, depois de ajustados, so fechados com um colar metlico
(G). A cabea da bomba dispe de um sistema de duas vlvulas, servindo uma para a
entrada (A) e outra para sada (B) de gases. A vlvula de entrada tem acoplado um
tubo (D) que assegura a entrada de oxignio pela parte inferior do cadinho, de modo a
que as perturbaes sejam mnimas durante os processos de enchimento e
desarejamento da bomba. Alm do sistema de vlvulas, a cabea da bomba est
equipada com dois eltrodos, em que um eltrodo (F) permite fazer a ligao terra e
o outro eltrodo est isolado (C). A ignio feita por uma descarga atravs de um fio
de platina que se coloca a unir os dois elctrodos. O cadinho de platina, colocado
num suporte (E) prprio em forma de anel. O fecho da bomba feito atravs da
adaptao da cabea da bomba ao respetivo corpo, onde est um O-ring. A bomba
fechada manualmente, atravs do colar (G), o que provoca um contacto metal-metal
entre a cabea e o corpo da bomba protegendo o O-ring da chama da combusto.
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
19
Fig. 3.1 - Representao esquemtica da bomba esttica de combusto (adaptado de[5]
): (a) bomba esttica de
combusto fechada; (b) cabea da bomba esttica e o respetivo colar; (c) corpo da bomba esttica; A vlvula de
entrada; B vlvula de sada; C eltrodo isolado; D tubo; E suporte para o cadinho de platina; F eltrodo; G -
colar.
3.2.1.2. Vaso calorimtrico
Na figura 3.2 encontra-se uma representao esquemtica do sistema
calorimtrico. O vaso calorimtrico (D), onde se introduz a bomba esttica (G),
apresenta uma forma cilndrica (14 cm de largura e 26 cm de altura) e constitudo
por cobre e revestido por rdio na parte exterior. Na base do vaso calorimtrico esto
trs pinos metlicos (J) que suportam o anteparo (F). Na tampa do vaso existe um
agitador (E) em forma de hlice com cinco ps, que est ligado a um motor
(Dunkermotor/1500 rpm) que o faz girar a uma velocidade de 8 Hz, que assegura a
circulao constante da gua destilada colocada dentro do calormetro. Na base do
agitador existe leo de silicone que regula a rotao da hlice e impede a perda de
vapor de gua. O veio (B) permite estabelecer o contacto mecnico entre o agitador e
o motor (A). Na tampa do vaso calorimtrico existe um orifcio em que se introduz um
sensor de temperatura (H) (Thermometrics, standard serial No. 1030) que permite
medir a temperatura da gua no interior no vaso calorimtrico, com uma preciso
de 10-4 K. Os fios para as ligaes eltricas na bomba (circuito da corrente para a
ignio) e para a resistncia eltrica passam pelo anteparo (F).
O vaso calorimtrico introduzido no vaso isotrmico (C) constitudo por cobre e
revestido por cortia aglomerada na parte exterior. A sua forma interior assemelha-se
forma do vaso calorimtrico, mas com dimenses ligeiramente superiores, de modo
(a) (b) (c)
A B
C
D
E
F
G
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
20
a permitir a existncia de um interespao uniforme de 1 cm, para toda a sua superfcie.
Por esta razo, existem trs pinos (K) que suportam o vaso calorimtrico, de modo a
permitir a existncia do interespao de 1 cm.
Fig. 3.2 Representao esquemtica do sistema calorimtrico (adaptado de[5]
) (A Ligao ao motor; B Veio; C
Vaso isotrmico; D Vaso calorimtrico; E Agitador de ps; F Anteparo; G Bomba esttica de combusto; H
Sensor de temperatura; I Resistncia; J Pinos metlicos; K Pinos.
3.2.1.3. Banho termosttico
O vaso isotrmico est ligado a um banho termosttico com uma capacidade de
40 dm3, onde h circulao de gua termostatizada a cerca de 301 K
(preciso 10-3 K), em que o controlo de temperatura feito por um controlador de
temperatura (TRONAC PTC 41), por meio de um sensor. A circulao da gua feita
por uma bomba centrfuga (Extrema, 50 Hz, 2500 dm3/h) que permite a circulao da
gua entre o vaso isotrmico e o banho termosttico. Existe, ainda, acoplado ao banho
uma resistncia auxiliar de aquecimento, uma serpentina de refrigerao e um
agitador de ps.
A
B
C
D
E
F
G
H
I
J
K
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
21
3.2.2. O ensaio calorimtrico
3.2.2.1. Preparao do banho termosttico
Antes de se iniciar qualquer experincia de combusto necessrio preparar o
banho termosttico e, para isso, necessrio ligar o agitador do banho, a bomba
centrfuga e a resistncia auxiliar do banho. Esta resistncia permite que a
temperatura da gua atinja a temperatura qual vai ser termostatizada (301 10-3 K).
Depois de atingida esta temperatura liga-se o controlador de temperatura para que
esta seja mantida ao longo das experincias.
3.2.2.2. Preparao das amostras
Como j foi mencionado no captulo 2, os compostos estudados so lquidos
temperatura ambiente, pelo que o composto usado nos diferentes ensaios foi
encerrado num saco de melinex. Neste saco colocou-se, com o auxlio de uma
seringa, uma quantidade de composto, fechando-o logo de seguida com recurso a
uma chama e um sistema de guilhotina. A massa de composto colocada dentro do
saco foi determinada pela diferena entre a massa do saco de melinex antes e depois
de cheio (as pesagens foram feitas numa balana analtica Mettler Toledo AE 240,
preciso 10-5 g).
3.2.2.3. Montagem da bomba esttica de combusto
Antes de se proceder montagem da bomba, necessrio determinar a massa
do fio de algodo, do cadinho de platina e do conjunto cadinho de platina mais
amostra. Seguidamente, a cabea da bomba colocada num suporte adequado e,
com o auxlio de pinas, coloca-se o cadinho de platina, contendo o composto no saco
de melinex, no suporte (E) (ver figura 3.1) e um fio de platina entre os dois elctrodos
(C e F). Ao fio de platina preso uma das extremidades do fio de algodo, e a outra
colocada debaixo da amostra para garantir a propagao da chama no momento da
ignio. Depois de colocado 1.00 cm3 de gua desionizada no corpo da bomba, esta
fechada e desarejada duas vezes com oxignio, presso de 1.5 MPa. Depois de
concludo o desarejamento, a bomba pressurizada a 3.0 MPa. A bomba , ento,
colocada no vaso calorimtrico (D) (ver figura 3.2) e feita a ligao dos terminais dos
elctrodos. O vaso calorimtrico, fechado com a respetiva tampa, colocado, com o
auxlio de uma pea adequada, no vaso isotrmico (C) e faz-se a ligao dos
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
22
contactos eltricos. Coloca-se, aproximadamente, 2900 g (Mettler Toledo PM 11-N,
preciso 10-1 g) de gua destilada dentro do vaso calorimtrico, tendo o cuidado de
verificar que a sua temperatura inferior a 24 oC. De seguida coloca-se o veio (B) no
suporte do agitador de ps (E), adapta-se a tampa do vaso isotrmico e coloca-se o
sensor de temperatura (H). Por fim, adapta-se o motor (A) ao veio e liga-se a agitao
do calormetro.
3.2.2.4. Registo da temperatura
Aps a montagem do sistema calorimtrico, inicia-se o programa
Labtermo 2.0[6,7] que permite a aquisio de dados durante as experincias.
necessrio fazer um aquecimento da gua que se encontra no vaso calorimtrico at
temperatura de 24.81 oC e, para isso, liga-se a resistncia interna (I) (ver figura 3.2).
Atingida essa temperatura, desliga-se a resistncia e aguarda-se que a variao de
temperatura regularize, e temperatura de 24.86 oC, inicia-se o registo de
temperaturas. A aquisio de dados feita de 10 em 10 segundos.
3.2.2.5. Ignio da amostra
Para se proceder ignio da amostra utilizado um condensador, que
carregado antes de se fazer a ignio. Quando se atinge a temperatura de 25.00 oC,
faz-se a leitura da voltagem e efetua-se a descarga do condensador, lendo-se,
novamente, o valor da voltagem. Considera-se a experincia terminada quando se
atinge o nmero de valores de temperatura suficiente para definir o termograma (ver
seco 3.3.1). Depois de concluda a experincia, o sistema calorimtrico
desmontado e procede-se anlise dos produtos de combusto.
3.2.3. Anlise dos produtos de combusto
3.2.3.1. Recolha de dixido de carbono
A recolha de dixido de carbono importante, uma vez que permite avaliar a
quantidade de composto que sofreu combusto. Para isso, no fim de cada experincia
feita a recolha dos gases existentes na bomba, utilizando um sistema apropriado
(Fig. 3.3). O sistema de recolha constitudo por um tubo de vidro em forma de U (B),
contendo perclorato de magnsio, ao qual se liga a bomba esttica de combusto (A)
atravs da vlvula de sada. Ao tubo de vidro esto ligados, em srie, dois tubos de
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
23
absoro de pyrex (C), que por sua vez esto ligados a um manmetro (D), que
permite o controlo do fluxo de sada de gases. Os tubos de absoro usados (Fig. 3.4)
so constitudos por duas partes: o corpo, com o enchimento para absoro e a
cabea. A cada uma destas duas partes adaptado um cone de alumnio, que permite
os encaixes, e uma tampa. O corpo do tubo de absoro preenchido com hidrxido
de sdio, que vai reagir com o dixido de carbono proveniente da bomba, de acordo
com a reao traduzida pela equao qumica (3.3):
CO2(g) 2 NaOH s 2CO3(s) H2O(g)
A cabea do tudo de absoro preenchida com perclorato de magnsio que
permite a absoro do vapor de gua que resulta da reao entre o dixido da
carbono e o hidrxido de sdio (equao (3.3)). O corpo e a cabea do tubo de
absoro possuem nas extremidades uma poro de l de vidro que evita o
entupimento dos orifcios existentes para a passagem de gases.
Antes da recolha de dixido de carbono, os tubos de absoro de CO2 so
desarejados com oxignio e pesados (Mettler Toledo AT 201, preciso 10-5 g). A
bomba esttica , ento, ligada ao tubo em U de acordo com a figura 3.3, e a recolha
feita abrindo, lentamente, a vlvula de sada at que a presso, no interior da
bomba, atinja a presso atmosfrica. A bomba pressurizada duas vezes com
oxignio, a uma presso de 1.5 MPa, para garantir que todo o dixido de carbono
existente na bomba recolhido. Terminada a recolha, os tubos de absoro so
fechados e deixam-se arrefecer durante um perodo de cerca de 24 horas. Os tubos
so, ento, pesados e a quantidade de dixido de carbono determinada pela
diferena de massas observada.
(3.3)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
24
Fig. 3.3 - Representao esquemtica do sistema utilizado para a recolha de dixido de carbono (adaptado de[8]
)
(A Bomba esttica de combusto; B Tubo de vidro; C Tubo de absoro; D Manmetro).
Fig. 3.4 - Tubo de absoro usado para a recolha de dixido de carbono (adaptado de[8]
) (A Cabea; B Corpo).
3.2.3.2. Anlise de cido ntrico e resduos de carbono
Aps a recolha de dixido de carbono existente dentro da bomba, esta aberta.
Ao abrir a bomba necessrio verificar se existe algum resduo de carbono, o que
indicativo de uma combusto incompleta. Se a quantidade de carbono for muito
pequena e apenas existir no cadinho de platina, possvel determinar a sua
quantidade pela diferena de massas do cadinho seco no final da experincia e depois
de calcinado. Se a quantidade de carbono for considervel, a experincia deve ser
rejeitada.
Para determinar a quantidade de cido ntrico, lava-se a cabea da bomba, o
cadinho e o anel de suporte, assim como o corpo da bomba com gua desionizada.
Na soluo resultante coloca-se o indicador vermelho de metilo e feita uma
volumetria cido-base com hidrxido de sdio. A partir do volume gasto na volumetria
determina-se a quantidade de cido ntrico formada na reao de combusto.
A B
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
25
3.3. Tratamento de resultados. Fundamentos de clculo
3.3.1. Variao de temperatura adiabtica
A variao de temperatura adiabtica, Tad, obtida tanto nas experincias de
calibrao como nas experincias com o composto, definida como a variao de
temperatura observada no vaso calorimtrico, se o processo ocorresse em condies
de perfeita adiabaticidade. No entanto, num calormetro do tipo isoperibol, a variao
de temperatura observada no perodo reacional no diretamente proporcional ao
calor envolvido no processo em estudo, devido s trocas de calor existentes entre o
vaso calorimtrico e o banho termosttico e ao calor de agitao da gua existente no
calormetro.
A figura (3.5) representa uma curva tpica de variao da temperatura com o
tempo no decorrer de uma experincia de combusto.
Tad variao de temperatura adiabtica
ti Instante de tempo onde se inicia o perodo principal
tf Instante de tempo onde termina o perodo principal
Ti Temperatura inicial do banho termosttico no perodo principal
Tf Temperatura final do banho termosttico no perodo principal
Tv Temperatura da vizinhana
Tc Temperatura de convergncia
ab, bc, cd Relaes temperatura-tempo nos perodos inicial, principal e final, respetivamente
Fig. 3.5 Representao grfica da temperatura em funo do tempo para uma experincia de combusto[8]
.
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
26
Da anlise da curva apresentada anteriormente, destacam-se trs perodos
distintos:
Perodo inicial: a variao de temperatura observada no calormetro devida
ao calor de agitao e, tambm, devida transferncia de calor entre o
calormetro e o banho termosttico.
Perodo principal: observa-se uma variao de temperatura acentuada
devida reao de combusto dentro da bomba.
Perodo final: a variao de temperatura depende, mais uma vez, do calor de
agitao e da transferncia de calor entre o calormetro e o banho
termosttico.
A variao de temperatura nos perodos inicial e final traduzida pela equao
(3.4), onde representa a variao de temperatura do calormetro devido ao calor de
agitao, k a constante de arrefecimento do calormetro, Tv a temperatura da
vizinhana e T a temperatura do calormetro.
Ao fim de um tempo infinito, a temperatura do calormetro atingir uma
temperatura de convergncia, Tc. Ao atingir Tc, e considerando que k e so
constantes, tem-se que dT/dt = 0, de onde resulta a expresso (3.5).
e substituindo Tv na expresso (3.4) obtm-se:
(3.4)
(3.5)
(3.6)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
27
Considerando que gi e gf representam os valores de dT/dt s temperaturas
mdias, Tmi e Tmf, nos perodos inicial e final, vem que,
A partir das expresses anteriores possvel deduzir a equao (3.11) que
permite o clculo da constante de arrefecimento do calormetro.
(
)
( )
A combinao das expresses (3.4) e (3.8) ou (3.6) e (3.10) permite estabelecer
uma terceira expresso para o clculo de dT/dt.
( )
Integrando qualquer uma das equaes (3.4), (3.6) ou (3.12), obtm-se as
equaes (3.13), (3.14) e (3.15), respetivamente. Estas expresses correspondem ao
te e e Tcorr, que permite corrigir o efeito do calor de agitao e as fugas
trmicas e, por isso, deve ser contabilizado na elevao de temperatura observada no
perodo principal da reao de combusto.
( ) ( ) [ ( )]
t
( )
( ) ( )
t
( )
( ) ( ) [ ( )]
t
( )
(3.7)
(3.8)
(3.9)
(3.10)
(3.11)
(3.12)
(3.13)
(3.14)
(3.15)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
28
Nas expresses acima apresentadas, Tmp representa a temperatura mdia do
calormetro no perodo principal.
Devido inexistncia de uma expresso analtica que descreva a funo T = f(t)
no perodo principal, o valor da temperatura mdia, Tmp, calculado por integrao
numrica da rea sob a curva para o perodo principal. Neste trabalho, recorreu-se ao
mtodo de Regnault-Pfaundler[9], tambm designado de mtodo dos trapzios, em que
se considera n temperaturas, Tr, separadas pelo mesmo intervalo de tempo, t,
durante o perodo principal. O valor da temperatura mdia, Tmp, , ento, calculado
pela expresso (3.16).
{
}
{
}
Assim, considerando o que foi escrito anteriormente, a variao de temperatura
adiabtica pode ser calculada pela expresso (3.17). Neste trabalho, o clculo de
Tad, para cada experincia, foi feito utilizando o programa Labtermo[6,7].
( )
3.3.2. Calibrao do calormetro
A calibrao do calormetro efetuada por adio, ao sistema, de uma
quantidade de energia conhecida, q, que provoca uma elevao de temperatura, Tad.
Deste modo, o equivalente energtico do calormetro, E, define-se como o calor
necessrio para elevar a temperatura do calormetro e do seus contedos em uma
unidade, ou seja,
O equivalente energtico do sistema calorimtrico pode ser determinado por um
de dois mtodos: atravs de uma calibrao eltrica, em que medida a variao de
temperatura do sistema provocada pelo fornecimento de uma quantidade de energia
eltrica conhecida, ou atravs de uma calibrao qumica, em que se mede a variao
de temperatura resultante da combusto de uma quantidade conhecida de uma
substncia padro[9].
(3.17)
(3.18)
(3.16)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
29
Vulgarmente, os calormetros so calibrados por combusto de uma substncia
padro, o cido benzico, tal como aconteceu neste trabalho. O cido benzico
considerado um calibrante padro aceite desde 1934[2], cujo valor de energia mssica
de combusto rigorosamente conhecido, pelas seguintes razes: obtido facilmente
com um elevado grau de pureza, estvel em relao ao ar, no considerado voltil
temperatura ambiente, pode ser facilmente prensado sob a forma de pastilha, no
higroscpico e sofre uma reao completa nas experincias de combusto.
O valor certificado para a energia mssica de combusto do cido benzico,
cu (AB,cert), diz respeito s seguintes condies de certificao[9,10]:
A reao de combusto referida temperatura de 298.15 K.
A combusto ocorre no interior de uma bomba de volume constante,
numa atmosfera de oxignio puro, com uma presso inicial de 3.04 MPa
e temperatura de 298.15 K.
As massas, expressas em gramas, de gua e de cido benzico
colocadas inicialmente na bomba, so iguais a trs vezes o valor do
volume interno da bomba, expresso em dm3.
Para pequenos desvios s condies de certificao, referidas anteriormente, o
valor da energia mssica do cido benzico, cu (AB), deve ser corrigido multiplicando
o valor certificado por um fator f dado por[11]
{ ( ) (
) (
) ( )}
onde p representa a presso inicial de oxignio (MPa), mAB a massa de cido benzico
(g), mg a massa de gua colocada dentro da bomba (g), V o volume interno da bomba
(dm3) e T a temperatura qual a reao referida (K).
Para a seguinte gama de valores
2.03 MPa < p < 4.05 MPa
2 g.dm-3 < (
) < 4 g.dm-3
2 g.dm-3 < (
) < 4 g.dm-3
293.15 K < T < 303.15 K
(3.19)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
30
foi avaliado que o erro mximo obtido pelos valores de f, na equao (3.19), na
ordem dos 1.5 10-5 [11].
O valor do equivalente energtico, ao longo do processo de combusto, varia do
estado inicial para o estado final, devido transformao dos reagentes em produtos
no interior da bomba.
Mediante isto, necessrio definir o equivalente energtico, E, como o somatrio
de duas parcelas: o equivalente energtico do calormetro com a bomba vazia, cal, e o
equivalente energtico dos contedos da bomba nas condies iniciais, i, ou finais, f,
da experincia. Assim, o valor do equivalente energtico, nos estados inicial e final, Ei
e Ef respetivamente, definem-se pelas equaes (3.20) e (3.21).
Os valores de i e f so calculados para cada experincia de calibrao pelo
somatrio das capacidades calorficas dos reagentes e produtos, atravs das
equaes (3.22) e (3.23).
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( t) t
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( t) t ( s ) s
Nas expresses (3.22) e (3.23):
Cv (O2), Cv (H2O,g) e Cv (CO2,g) representam, a capacidade calorfica molar a
volume contante, do oxignio, gua e dixido de carbono, respetivamente,
em fase gasosa.
cp(H2O,l), cp(AB), cp(plat), cp(alg) e cp(fsol) representam, a capacidade
calorfica mssica a presso constante, da gua em fase lquida, cido
benzico, fio de platina, fio de algodo e da soluo final, respetivamente.
ni (O2) e nf (O2) representam, a quantidade de oxignio existente na bomba
antes e depois da combusto, respetivamente.
ni (H2O,g) e nf (H2O,g) representam, a quantidade de vapor de gua existente
na bomba antes e depois da combusto, respetivamente.
nf (CO2) representa a quantidade de dixido de carbono depois da
combusto.
(3.20)
(3.21)
(3.22)
(3.23)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
31
m(H2O,l), mAB, malg, mplat e mfsol representam as massas de gua em fase
lquida, cido benzico, algodo, cadinho de platina e da soluo final,
respetivamente.
Para as experincias de calibrao, a variao de energia interna associada ao
processo de bomba isotrmico, UPBI, corresponde ao somatrio das contribuies
energticas devido combusto do cido benzico, de substncias auxiliares e
reaes laterais. A variao de energia interna associada ao processo de bomba
isotrmico calculado pela expresso (3.24)
em que
UPBI corresponde variao de energia interna associada ao processo de bomba
isotrmico.
UAB corresponde variao de energia interna de combusto, do cido
benzoico, nas condies de bomba.
corresponde variao de energia interna de formao de uma soluo de
cido ntrico 0.1 moldm3, a partir de N2(g), H2O(l) e O2(g), segundo a
equao (3.2), ( )
- [12].
Ualg corresponde variao de energia interna associada combusto do fio de
algodo de frmula emprica CH1.868O0.843, cuo(alg) 16240 Jg-1 [9].
Uign corresponde energia de ignio calculada por Uign
, em
que C a capacidade do condensador e Vi e Vf as voltagens inicial e final do
condensador, respetivamente.
Ucarb corresponde variao de energia interna associada formao de
carbono, cuo(carb) 33 Jg-1 [9].
(3.24)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
32
O valor do equivalente energtico do calormetro, cal, pode ser calculado com
base no ciclo termoqumico representado na figura (3.6) e atravs da expresso
(3.25).
Fig. 3.6 Ciclo termoqumico para o clculo do equivalente energtico do calormetro.
[ ( ) ( )]
O valor do equivalente energtico, cal, corresponde a uma massa de referncia
de gua que introduzida no vaso calorimtrico. No entanto, a massa que se adiciona
ao vaso varia de experincia pra experincia, sendo necessrio corrigir os valores de
cal para a massa de gua de referncia do calormetro que, neste caso, 2900.0 g.
Neste trabalho, o equivalente energtico do calormetro de bomba
esttica foi determinado por outros investigadores[13] ( (15551.2 1.6) K-1)
pela combusto de cido benzico NBS Standard Reference Material39j, que
apresenta uma energia mssica de combusto, sob condies de bomba, de
cu(AB,cert) (26434 3) Jg-1[10].
3.3.3. Energia molar de combusto padro
A energia molar de combusto padro,
, de um composto refere-se
energia de combusto de uma mole desse composto, em que quer os reagentes, quer
os produtos esto nos respetivos estados padro. No entanto, o valor medido
experimentalmente numa experincia de combusto, refere-se aos reagentes e
produtos nas condies de bomba. Este valor ter, ento, de ser corrigido para o
respetivo valor padro. Neste trabalho, foi usado o mtodo de Washburn[9] para a
converso do valor da energia de combusto medido experimentalmente para as
U 0
UPBI
( i)(298.15 Ti) ( f)[ 298.15 (Tf Tcorr )]
(3.25)
Calormetro Contedos,
estado inicial, Ti
Calormetro Contedos,
estado final, T 298.15 K
Calormetro Contedos,
estado inicial, T 298.15 K
Calormetro Contedos,
estado final, Tf Tcorr
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
33
condies padro temperatura de referncia (T 298.15 K). O princpio deste
mtodo est ilustrado no ciclo termoqumico representado na figura (3.7).
Fig. 3.7 Ciclo termoqumico para a aplicao das correes de Washburn.
Do ciclo apresentado anteriormente surge a expresso (3.26), que permite
calcular a energia molar de combusto padro temperatura de referncia
T = 298.15 K. O termo ( ) refere-se variao de energia interna no processo de
bomba isotrmico.
( ) ( ) ( )
O termo associado s correes de Washburn, , dado pela expresso
(3.27).
( ) ( )
Na expresso (3.27)
( ) variao de energia dos contedos da bomba, entre os estados
reais e os estados padro, para os reagentes.
( ) variao de energia dos contedos da bomba, entre os estados
reais e os estados pado, para os produtos.
(3.26)
(3.27)
Reagentes
(Condies de bomba)
T 298.15K
Produtos
(Condies padro)
T 298.15K
Reagentes
(Condies padro)
T 298.15K
T=298.15K
Produtos
(Condies de bomba)
T 298.15K
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
34
As contribuies energticas essenciais para o clculo destas duas variveis
referem-se aos processos:
Estado inicial: energia de compresso das fases gasosa, lquida e slida, de
uma presso de 0.1 MPa at 3.04 MPa;
energia de vaporizao da gua colocada na bomba at
saturao da fase gasosa;
energia de dissoluo da fase gasosa na fase lquida.
Estado final: energia de descompresso das fases gasosa, lquida e slida
at presso de 0.1 MPa;
energia de remoo do dixido de carbono, azoto e oxignio da
fase lquida;
energia de diluio da fase aquosa, at se obter uma soluo de
t -3.
O clculo da energia mssica de combusto padro para cada composto,
temperatura de 298.15 K, dado pela equao (3.28)
[ ( ) e ]
onde,
( ) corresponde energia interna de combusto no processo de bomba
isotrmico;
corresponde energia de formao da soluo de cido ntrico,
( )
- [12];
corresponde energia de ignio;
corresponde correo de energia para o estado padro;
corresponde energia de combusto do fio de algodo,
cuo(alg) 16240 Jg-1 [9];
(3.28)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
35
e corresponde energia de combusto do auxiliar de combusto utilizado
que, neste caso, foi o melinex, cuo(mel) (22902 5) Jg-1 [14].
corresponde energia de combusto do carbono,
cuo(carb) 33 Jg-1 [9].
corresponde massa de composto usada.
A energia molar de combusto padro,
, de cada composto dada pela
equao (3.29), em que M representa a massa molar do composto.
3.3.4. Entalpia molar de combusto e formao padro
As entalpias molares de combusto padro,
, para cada composto so
calculados pela equao (3.30).
em que R representa a constante dos gases, T a temperatura de referncia e n a
variao de quantidade de substncia das espcies gasosas presentes na reao de
combusto, apresentada anteriormente na equao (3.1).
Por aplicao da Lei de Hess, a entalpia molar de formao padro do
composto, na fase condensada, calculada por:
( ))
( )
( )
onde
( ) 393.51 0.13 kJmol
-1 [15]
( ) 285.83 0.04 kJmol
-1 [15]
(3.29)
(3.31)
(3.30)
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
36
3.3. Resultados experimentais
3.3.1. Intervalos de incerteza
Os resultados apresentados para as energias mssicas de combusto de cada
composto, sero apresentados na forma , onde a mdia aritmtica dos
valores de energia mssica de cada ensaio e o desvio padro da mdia
correspondente. O seu clculo efetua-se atravs da expresso (3.32).
[
]
Na expresso (3.32), n o nmero de ensaios, o valor mdio e xi o valor
individual de cada determinao experimental.
Os valores das incertezas associados energia e entalpia molar de combusto e
formao padro so, de acordo com a prtica termoqumica, o dobro do desvio
padro da mdia do conjunto das n determinaes e incluem as incertezas associadas
combusto do composto, calibrao e aos auxiliares de combusto (melinex),
como se verifica na equao (3.33).
t t [( st e
e e
)]
3.3.2. Energias mssicas de combusto padro
Nas tabelas (3.1), (3.2) e (3.3) so apresentados os resultados obtidos, por
calorimetria de combusto em bomba esttica, para a homopiperidina,
hexametileneiminoacetonitrilo e N-acetilcaprolactam, respetivamente. Na tabela (3.4)
apresentada uma tabela resumo dos valores da energia mssica de combusto
padro e das entalpias molares de combusto e formao padro, no estado
condensado, para os trs compostos estudados.
(3.32)
(3.33)
-
Tabela 3.1 Energia mssica de combusto padro, (p 0.1 MPa), da homopiperidina, a T 298.15 K.
1 2 3 4 5 6
m (CO2, total) / g 1.22664 1.28983 1.37132 1.50394 1.65019 1.63714
m (composto) / g 0.41334 0.44372 0.47366 0.52269 0.52283 0.52535
m (algodo) / g 0.00247 0.00255 0.00233 0.00269 0.00287 0.00269
m (Melinex) / g 0.05332 0.04553 0.04645 0.04711 0.11068 0.10217
m (carbono) 0 0 0 0 0 0
Tad / K 1.18652 1.25657 1.33811 1.46846 1.56337 1.55721
f / J.K
-1 14.77 14.92 15.05 15.21 15.31 15.29
m(H2O) / g 0.3 0.7 0.6 4.9 0.9 0.3
U (PBI) / J 18469.95 19556.24 20832.14 22832.14 24341.53 24241.69
U (carbono) / J 0 0 0 0 0 0
U (Melinex) / J 1221.05 1042.63 1063.88 1078.96 2534.85 2339.99
U (algodo) / J 40.11 41.41 37.84 43.69 46.61 43.69
U (HNO3) / J 36.39 39.64 41.50 45.65 48.95 50.75
U (ignio) / J 0.87 0.58 0.57 0.57 0.57 0.56
U / J 6.48 6.77 7.24 8.02 9.35 9.19
cu
o (composto) / J
.g
-1 41529.78 41524.41 41552.34 41538.71 41508.27 41492.47
% CO2 99.917 0.004
cu
o (composto) (41524.3 8.7) J.g-1
-
Tabela 3.2 Energia mssica de combusto padro, (p 0.1 MPa), do hexametileneiminoacetonitrilo, a T 298.15 K.
1 2 3 4 5 6
m (CO2, total) / g 1.34140 1.32132 1.43361 1.41071 1.36453 1.41952
m (composto) / g 0.42854 0.42128 0.49095 0.48213 0.49174 0.50966
m (algodo) / g 0.00246 0.00233 0.00278 0.00271 0.00295 0.00273
m (Melinex) / g 0.10891 0.10671 0.07792 0.07779 0.04676 0.05099
m (carbono) 0.00100 0 0 0 0 0
Tad / K 1.19167 1.17390 1.29859 1.27682 1.25444 1.30329
f / J.K
-1 14.57 14.48 14.66 14.67 14.67 14.74
m(H2O) / g 0.3 1.6 0.5 1.3 0.2 0.1
U (PBI) / J 18547.77 18264.69 20216.39 19881.76 19525.41 20286.39
U (carbono) / J 33.00 0 0 0 0 0
U (Melinex) / J 2494.19 2443.93 1784.63 1781.43 1070.96 1167.82
U (algodo) / J 39.95 37.84 45.15 44.01 47.91 44.34
U (HNO3) / J 42.34 43.55 47.53 47.42 44.33 45.51
U (ignio) / J 0.61 0.66 0.64 0.61 0.62 0.65
U / J 9.24 9.04 9.71 9.56 9.10 9.52
cu
o (composto) / J
.g
-1 37323.10 37337.80 37333.19 37331.69 37321.51 37316.15
% CO2 99.81 0.08
cu
o (composto) (37327.2 3.4) Jg-1
-
Tabela 3.3 Energia mssica de combusto padro, (p 0.1 MPa), do N-acetilcaprolactam, a T 298.15 K.
1 2 3 4 5 6
m (CO2, total) / g 1.51002 1.47543 1.40613 1.44771 1.45126 1.50034
m (composto) / g 0.56432 0.55139 0.51143 0.52495 0.53053 0.54964
m (algodo) / g 0.00293 0.00264 0.00295 0.00258 0.00284 0.00288
m (Melinex) / g 0.09842 0.09634 0.10529 0.11030 0.10614 0.10886
m (carbono) 0.00010 0.00010 0 0 0 0.00015
Tad / K 1.20444 1.17658 1.11601 1.14766 1.15155 1.19139
f / J.K
-1 14.81 14.71 14.65 14.76 14.75 14.84
m(H2O) / g 0 0.4 0.3 1.4 0.8 0.5
U (PBI) / J 18748.33 18312.57 17370.24 17871.15 17928.83 18542.74
U (carbono) / J 3.30 3.30 0 0 0 4.95
U (Melinex) / J 2254.09 2206.35 2411.26 2526.17 2430.91 2493.05
U (algodo) / J 47.58 42.87 47.91 41.90 46.12 46.77
U (HNO3) / J 28.90 33.95 28.34 27.50 28.90 27.16
U (ignio) / J 0.82 0.67 0.56 0.61 0.51 0.64
U / J 10.83 10.51 10.04 10.39 10.39 10.79
cu
o (composto) / J
.g
-1 29078.20 29056.60 29079.50 29078.16 29050.18 29054.05
% CO2 100.02 0.02
cu
o (composto) (29066.1 5.7) J.g-1
-
Tabela 3.4 Energia mssica de combusto padro, energia molar de combusto padro, entalpia molar de combusto padro e entalpia molar de formao
padro, para os trs compostos estudados, a T 298.15 K.
Composto cuo / J.g
-1
/ kJ.mol
-1
/ kJ.mol
-1
/ kJ.mol
-1
Homopiperidina 41524.3 8.7 4118.1 2.2 4124.9 2.2 94.1 2.3
Hexametileneiminoacetonitrilo 37327.2 3.4 5159.0 1.9 5165.2 1.9 16.3 2.2
N-acetilcaprolactam 29066.1 5.7 4510.9 2.3 4515.2 2.3 490.8 2.5
-
FCUP Captulo 3: Calorimetria de combusto em bomba esttica
41
Referncias
[1] Ribeiro da Silva, M. A. V.; Ribeiro da Silva, M. D. M. C.; Pilcher, G., Rev. Port.
Qum., 26 (1984) 163-171.
[2] Cox, J. D.; Pilcher, G., Thermochemistry of Organic and Organometallic
Compounds, Academic Press, London, 1970.
[3] Prosen, E. J. em Experimental Thermochemistry, Vol. 1, Captulo 6, F. D. Rossini
editor: Interscience Publishers, New York, 1956.
[4] Ribeiro da Silva, M. D. M.C.; Santos, L. M. N. B. F.; Silva, A. L. R.; Fernandes, O.;
Acree, W. E., J. Chem. Thermodyn., 35 (2003) 1093-1100.
[5] Ferreira, J. O. F., Estudo Termodinmico de Compostos com Potencial Atividade
Biolgica, Tese de Mestrado, Faculdade de Cincias da Universidade do Porto,
2012.
[6] Santos, L. M. N. B. F.; Silva, M. T.; Schrder, B.; Gomes, L., J. Therm. Anal.
Calorim., 89 (2007) 175-180.
[7] Santos, L. M. N. B. F., s do er o i o de Al as -Dicetonas, Monotio--
dicetonas e Respectivos Complexos Metlicos, Tese de Doutoramento, Faculdade
de Cincias da Universidade do Porto, 1995.
[8] Freitas, V. L. S., Termoqumica de Compostos Azotados, Tese de Mestrado,
Faculdade de Cincias da Universidade do Porto, 2007.
[9] Coops, J.; Jessup, R. S.; van Nes, K., Experimental Chemical Thermodynamics,
Vol. 1, Captulo 3, F. D. Rossini editor: Interscience Publishers, New York, 1956.
[10] Certificate of Analysis, Standard Reference Material 39j, Benzoic Acid Calorimetric
Standard, N. B. S., Washington, 1995.
[11] Minas da Piedade, M. E.; Martinho Simes J. A., Molecular Energetics, Captulo 7,
Oxford University Press, 2008.
[12] The NBS Tables of Chemical Thermodynamics Properties, J. Phys. Chem. Ref.
Data, 11 (1982) Suplemento 2.
[13] Freitas, V. L. S., Comunicao Pessoal, 2013.
[14] Skinner, H. A.; Snelson, A., Trans. Faraday Soc., 56 (1960) 1176-1783 (citado em
Freitas, V. L. S., Termoqumica de Compostos Azotados, Tese de Mestrado,
Faculdade de Cincias da Universidade do Porto, 2007).
[15] CODATA, J. Chem. Thermodyn., 10 (1978) 903-906.
-
CAPTULO 4
MICROCALORIMETRIA CALVET
Determinao de entalpias molares de vaporizao padro
4.1. Generalidades
4.2. Equipamento e procedimentos experimentais
4.3. Calibrao do microcalormetro
4.4. Determinao das entalpias molares de vaporizao padro
4.5. Resultados experimentais
Referncias
-
FCUP
Captulo 4: Microcalorimetria Calvet
43
4.1. Generalidades
A entalpia molar de formao padro no estado gasoso uma propriedade
termoqumica importante no estabelecimento de correlaes entre a estrutura
molecular e o contedo energtico das molculas isentas da influncia de interaes
intermoleculares. No entanto, para um determinado composto, a determinao
experimental direta de tal parmetro difcil, e por isso, o conhecimento da respetiva
entalpia de formao, em fase condensada, e da entalpia de transio de fase
permitem calcular a correspondente entalpia de formao no estado gasoso.
Existem diversos mtodos que permitem a determinao de entalpias de
transio de fase[1]. Estes mtodos agrupam-se em duas categorias: mtodos diretos e
indiretos. Num mtodo direto utilizado um calormetro para a determinao da
entalpia de transio de fase. Num mtodo indireto medida, a diferentes
temperaturas, a presso de vapor do composto (ou uma propriedade que se relacione
com a presso de vapor), e a partir da relao de dependncia da presso de vapor
com a temperatura pode calcular-se a entalpia de transio de fase, atravs da
equao de Clausius-Clapeyron.
Neste trabalho foi usada a microcalorimetria Calvet para a determinao direta
de entalpias de vaporizao de derivados da homopiperidina.
Os fundamentos da microcalorimetria surgiram com Tian, em 1923, com o
desenvolvimento de um calormetro de compensao de calor pelos efeitos de Peltier
e de Joule[2]. O microcalormetro era constitudo por uma clula, colocada num banho
com uma elevada inrcia trmica. A temperatura do banho era mantida a uma
temperatura constante, e a diferena de temperatura entre a clula e o banho era
medida por uma termopilha, ligada a um galvanmetro. Como todo o aparelho se
encontrava enterrado no solo, este apenas podia operar a uma temperatura prxima
de 290 K, o que era uma limitao deste calormetro.
Posteriormente, em 1948, o sistema calorimtrico foi melhorado e adaptado por
Edouard Calvet. O microcalormetro Calvet utiliza, ento, duas clulas idnticas
colocadas simetricamente em duas cavidades, num bloco metlico de elevada
capacidade calorfica, termostatizado a uma temperatura previamente escolhida. Cada
cavidade contm entre a clula e o bloco metlico uma termopilha constituda por um
elevado nmero de termopares idnticos, fixados segundo uma distribuio regular, na
parede da clula, cobrindo-a completamente. Desta forma, o calor propagado pela
clula diretamente proporcional ao sinal obtido pelo calormetro[3].
-
FCUP
Captulo 4: Microcalorimetria Calvet
44
O microcalormetro Calvet tem vindo a ser usado em estudos de uma grande
variedade de processos trmicos lentos, tais como, processos biolgicos, de adsoro,
de dissoluo, mudanas de fase, etc.[2]. Este microcalormetro permite medir o fluxo
de calor com o tempo, obtendo-se a relao
onde q representa o calor e t o tempo. Desta relao possvel definir um
termograma, semelhante curva apresentada na figura 4.1, que, por integrao,
permite determinar o calor envolvido numa dada transformao, fornecendo, assim, a
variao de entalpia do sistema[2].
Fig. 4.1 Curva tpica obtida para um processo de transio de fase numa experincia realizada num microcalormetro
Calvet (adaptado de[4]
).
A tcnica de sublimao em alto vcuo num microcalormetro Calvet foi
inicialmente desenvolvida por Skinner e colaboradores[5], sendo posteriormente
adaptada e testada por Ribeiro da Silva e colaboradores[6] para o estudo de entalpias
de vaporizao. Nesta tcnica so usados dois tubos capilares (abertos numa das
extermidades) de massas muito prximas, com uma diferena no superior a 10 mg. A
amostra colocada num capilar e o outro mantido vazio (capilar de referncia).
Posteriormente, os capilares so lanados nas respetivas clulas calorimtricas,
colocadas na zona quente do calormetro, que mantida temperatura T.
Quando os tubos capilares atingem a estabilidade trmica, a amostra
vaporizada e removida da zona quente do calormetro por vcuo. Enquanto isso,
registado ao longo do tempo, o fluxo de calor observado nas clulas da amostra e de
(4.1)
-
FCUP
Captulo 4: Microcalorimetria Calvet
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referncia obtendo-se um termograma. Da integrao do termograma, determina-se a
variao entlpica referente ao processo de transio de fase observado.
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4.2. Equipamento e procedimentos experimentais
4.2.1. Descrio do microcalormetro Calvet
Neste trabalho foi usado, para a determinao de entalpias de vaporizao, um
microcalormetro Calvet de altas temperaturas de clulas gmeas. Estruturalmente, e
conforme est representado na figura 4.2, pode considerar-se constitudo por: bloco
calorimtrico, sistema de controlo e medio de temperatura, sistema de vcuo e as
clulas calorimtricas.
Fig. 4.2 - Representao esquemtica do microcalormetro Calvet usado na determinao de entalpias molares de
vaporizao padro[4]
: A Bomba rotativa; B Bomba difusora; C Trap de vidro; D Manmetros Pirani e Penning;
E Bloco calorimtrico; F Clulas calorimtricas.
4.2.1.1. Bloco calorimtrico
O bloco calorimtrico usado neste trabalho foi construdo pela Setaram (modelo
HT1000D) e apresenta uma sensibilidade de 3 VmW-1[7]. um bloco metlico de
elevada capacidade calorfica, dispondo de duas cavidades simtricas que se
localizam no centro do bloco, onde se introduzem as clulas calorimtricas. Entre cada
clula e a parede do bloco calorimtrico existem 496 termopares (Pt-Pt/Rh) que se
distribuem de forma regular em 16 camadas, contendo cada uma delas 31 termopares.
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4.2.1.2. Controlo e medio de temperatura
O controlo e medio de temperaturas do calormetro feito por um sistema de
controlo Setaram G11 que tem a funo de amplificar e digitalizar o sinal que provm
dos termopares. Como resultado do fluxo de calor, , observado nas clulas
calorimtricas, o sinal obtido sada do calormetro uma diferena de potencial,
expressa em V. As experincias de calibrao, feitas temperatura a que o
composto estudado, permitem a converso da diferena de potencial obtida em
unidades de energia, de acordo com a expresso (4.2), em que K representa o
coeficiente de sensibilidade[4].
4.2.1.3. Sistema de vcuo
O sistema de vcuo constitudo por duas bombas: uma bomba rotativa
(Edwards, model RV5) e uma bomba difusora (Edwards, model Diffstak 63). A bomba
rotativa usada pra pr-evacuar o sistema, aps o que a bomba difusora permite
obter o vcuo pretendido. O sistema de vcuo tambm dispe de dois manmetros:
um manmetro Pirani (Edwards, model APG-M) e um manmetro Penning (Edwards,
model AIM-S). O manmetro Pirani usado para medir a presso do sistema durante
o processo de pr-evacuao e o manmetro Penning usado para medir a presso
do sistema durante o processo de transio de fase. Na linha de vcuo est integrada
uma trap de vidro contendo azoto lquido, que permite a condensao dos vapores
provenientes da clula calorimtrica com a amostra, evitando a sua passagem para as
bombas.
4.2.1.4. Clulas calorimtricas
As duas clulas calorimtricas de vidro Pyrex (Fig. 4.3) so idnticas, de forma
cilndrica e possuindo as dimenses de 12 mm de dimetro e 50 mm de altura. Cada
uma das duas clulas est dentro de um cilndro de Kanthal (G), que proporciona um
bom contacto trmico com a zona quente, e possu um prolongamento (F), tambm
em vidro Pyrex, que assegura a ligao com a linha de vcuo (D).
(4.2)
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Fig. 4.3 - Representao esquemtica das clulas calorimtricas (adaptado de[8]
): A Tampa do prolongamento da
clulas calorimtrica; B Tubo de vidro; C Ligao linha de vcuo; D Linha de vcuo; E Clula calorimtrica;
F Prolongamento das clulas calorimtricas; G Cilindro de Kanthal.
No interior do prolongamento de cada uma das clulas calorimtricas existe um
tubo de vidro (B) com a finalidade de ser possvel efetuar vrias determinaes
consecutivas no estudo de um composto. Durante os ensaios, os compostos
frequentemente cristalizam ao longo das paredes do prolongamento das clulas
calorimtricas, no sendo possvel a realizao de vrias medies sem antes se
proceder sua lavagem. O referido tubo de vidro permite ultrapassar esta dificuldade
devido, ao facto de a sua fcil remoo permitir a respetiva limpeza, sem perturbar o
equilibrio trmico das clulas.
4.2.2. O ensaio calorimtrico
Antes de se iniciar a aquisio de dados para a determinao da entalpia de
transio de fase, e para garantir a remoo de eventuais resduos, usual fazer-se
uma pr-evacuao do sistema com as clulas calorimtricas vazias.
Em cada experincia, para a determinao das entalpias de vaporizao para os
compostos em estudo, usa-se dois capilares de vidro, fechados numa das
extremidades, em que um contm a amostra a analisar e o outro serve de referncia.
Com o auxlio de uma microbalana (Microbalance Mettler-Toledo, modelo UMT2,
preciso 0.1 g) determina-se a massa de cada um dos capilares de vidro (deve
estar compreendida entre 20 e 30 mg), no devendo a diferena entre as massas dos
A
B
C
D
E
F
G
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tubos de um par, usados num dado ensaio, ser superior a 10 mg. Coloca-se a amostra
no capilar com o auxlio de uma seringa e pesa-se o conjunto amostra mais capilar,
de modo a obter a massa de composto usado em cada experincia.
Aps se ter verificado o equilbrio trmico temperatura selecionada, inicia-se a
aquisio de dados, no computador interfaciado ao microcalormetro, de modo a obter
uma linha de base estvel.
Os capilares da amostra e de referncia so, ento, introduzidos, temperatura
de 298.15 K, nas respetivas clulas calorimtricas de amostra e de referncia.
No termograma apresentado na figura 4.1, o primeiro pico refere-se ao processo
de aquecimento dos capilares de vidro e da amostra, no estado condensado, de
298.15 K at temperatura T a que se encontra o calormetro. Inicialmente feito um
vcuo primrio com a bomba rotativa. De seguida, liga-se a bomba difusora para
obteno da presso necessria. Posto isto, d-se incio ao processo de transio de
fase, a que corresponde o segundo pico apresentado na figura 4.1, que termina
quando se atinge, novamente, o equilbrio trmico entre as clulas calorimtricas.
Em cada experincia obtm-se, assim, a massa da amostra, a quantidade de
calor envolvida no processo de vaporizao e a temperatura da experincia.
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4.3. Calibrao do microcalormetro
As experincias de calibrao so efetuadas de acordo com o procedimento
referido na seco anterior, para cada temperatura T, qual se realizam as
experincias com os compostos em estudo. O calibrante escolhido, para a
determinao da constante de calibrao para as medies da entalpia de
vaporizao, foi o undecano. Para a escolha da substncia padro apropriada
necessrio ter em conta o intervalo de temperaturas para o qual o composto utilizado
como calibrante, assim como a sua temperatura de ebulio, que deve ser o mais
prxima possvel da correspondente temperatura dos compostos em estudo
(tabela 4.1).
Tabela 4.1. Calibrante usado para a medio de entalpias molares de vaporizao padro.
Calibrante Temperatura de
ebulio / K
Intervalo de
temperturas / K
Classificao
Undecano (C11H24) 469.15 294 - 382 56.58 0.57[9]
Primrio
4.3.1. Ensaios em branco
Em cada ensaio experimental, utilizado um par de tubos capilares cujas
massas, como se referiu em 4.2.2, no devem diferir mais do que 10 mg. No entanto,
h que ter em conta as diferenas de massa entre os capilares, bem como a diferena
de sensibilidade das clulas na resposta ao efeito energtico provocado pela queda
dos capilares. Para avaliar estes efeitos, so efetuados ensaios, sendo lanados, em
simultneo, pares de tubos capilares vazios, nas respetivas clulas calorimtricas,
registando-se o fluxo de calor resultante.
Estes ensaios foram realizados por outros investigadores[4], tendo sido usados
capilares com massas compreendidas entre 20 e 30 mg. Destes ensaios resultou a
expresso (4.3) que permite o clculo da correo entlpica dos brancos,
.
( ) ( ) ( )
(4.3)
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Na expresso (4.3), a 20.3902, b 0.88204, c 0.816818, d 1.814894,
mcapam e mcapref so, respetivamente, as massas dos capilares de amostra e referncia,
(expressas em mg) e T a temperatura selecionada para a zona quente do
calormetro.
4.3.2. Determinao da constante de calibrao
As experincias de calibrao so efetuadas de acordo com o procedimento
descrito na seco 4.2.2., para cada temperatura T, qual se realizam as experincias
com os compostos em estudo. Assim, a partir da integrao do termograma obtido
experimentalmente para cada ensaio de calibrao, determina-se o calor envolvido no
fenmeno trmico, .
O calor obtido no processo de vaporizao corresponde ao somatrio de todas
as contribuies energticas inerentes experincia, designadamente o aquecimento
do composto desde a temperatura de 298.15 K at temperatura T do calormetro e a
sua vaporizao a essa temperatura. A esta quantidade subtrado o valor da
correo entlpica dos brancos, , calculado pela expresso (4.3).
Assim, o valor entlpico corrigido, , referente ao processo de vaporizao,
obtido a partir da expresso (4.4).
A entalpia de vaporizao do calibrante, , para a temperatura de
trabalho, determinada pela expresso (4.5), em que se considera o valor da entalpia
de vaporizao recomendado na literatura, para T = 298.15 K. O termo de correo
[
] (g) obtido a partir de valores fornecidos por Stull e colaboradores[10].
[
]
A constante de calibrao para cada um dos ensaios calculada pela expresso
definida em (4.6), tendo em conta a temperatura, T, de cada ensaio experimental.
(4.4)
(4.5)
(4.6)
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Na expresso (4.6), mam e M so, respetivamente, a massa de amostra / calibrante e a
massa molar do composto.
Para o clculo das entalpias de vaporizao dos compostos, foi considerado o
valor mdio da constante de calibrao, resultante dos vrios valores obtidos nos
ensaios realizados a uma dada temperatura.
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4.4. Determinao das entalpias molares de vaporizao padro
A variao entlpica medida no processo de vaporizao de um composto,
, calculvel pela seguinte expresso: