a democratização do sistema representativo por meio dos partidos políticos - fernando de brito...

26
135 DOI: 10.5433/1980-511X.2014v9n2p135 * Fernando de Brito Alves: Pós- doutorado em Democracia e Direitos Humanos pelo Ius Gentium Conimbrigae da Fa- culdade de Direito da Univer- sidade de Coimbra – Portu- gal. Professor Adjunto da UENP. [email protected] ** Jairo Néia Lima: Mestre em Ciência Jurídica (UENP). Es- pecialista em Filosofia Polí- tica e Jurídica (UEL). Pro- fessor (UENP). jaironlima @uenp.edu.br REVISTA DO DIREITO PÚBLICO, Londrina, v.9, n.2, p.135-160, mai./ago.2014 A democratização do sistema representativo por meio dos partidos políticos DEMOCRATIZATION OF REPRESENTATIVE SYSTEM BY MEANS OF POLITICAL PARTIES Fernando de Brito Alves* Jairo Néia Lima** Resumo: Demonstra-se que os partidos políticos são indispensáveis para o exercício dos direitos políticos no Brasil, principalmente por serem os detentores exclusivos das candidaturas. Desse modo, a multiplicidade partidária é vista como um fator positivo no processo eleitoral, já que amplia os canais de participação. No âmbito do governo representativo, apresentam-se as distintas concepções em torno da representação política e suas repercussões na jurisprudência francesa, estadunidense e brasileira. Conclui-se que o partido político tem a potencialidade de democratizar o regime representativo, pois ele é o ator responsável pela intercomunicação entre a sociedade política e a civil, já que dá voz e influência à pluralidade. Tal relação ultrapassa os limites da agregação de vontade individuais e amplia a representatividade para além dos mecanismos tradicionais. Palavras-chave: Partidos Políticos; Mandato político; Democracia representativa. Abstract: It is demonstrated that the political parties are indispensable to the exercise of political rights in Brazil, mainly because they are the exclusive holders of applications. Thus, the multiplication of parties is seen as a positive factor in the electoral process, as it extends the channels of participation. Under representative government, we present the different conceptions about political representation and its impact on French, American and Brazilian jurisprudence. We conclude that the political party has the potential to democratize the representative regime, because it is responsible for intercommunication between politics and civil society actor, as it gives voice to the plurality and influence. This relationship goes beyond the aggregation of individual will and widen representation beyond the traditional mechanisms. Keywords: Political parties; Political representation; Representative democracy.

Upload: anonymous-fcxaxznp

Post on 22-Nov-2015

7 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 135

    DOI:10.5433/1980-511X.2014v9n2p135

    * FernandodeBritoAlves:Ps-doutorado em Democracia eDireitos Humanos pelo IusGentiumConimbrigaedaFa-culdadedeDireitodaUniver-sidade de Coimbra Portu-gal. Professor Adjunto daUENP. [email protected]

    **JairoNiaLima:MestreemCinciaJurdica(UENP).Es-pecialista em Filosofia Pol-tica e Jurdica (UEL). Pro-fessor (UENP). [email protected]

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    Ademocratizaodosistemarepresentativopormeiodos

    partidospolticos

    DEMOCRATIZATIONOFREPRESENTATIVESYSTEMBYMEANSOFPOLITICALPARTIES

    FernandodeBritoAlves*JairoNia Lima**

    Resumo: Demonstra-se que os partidos polticos soindispensveisparaoexercciodosdireitospolticosnoBrasil,principalmente por serem os detentores exclusivos dascandidaturas.Dessemodo,amultiplicidadepartidriavistacomoumfatorpositivonoprocessoeleitoral,jqueampliaoscanaisdeparticipao.Nombitodogovernorepresentativo,apresentam-se as distintas concepes em torno darepresentaopoltica esuas repercussesna jurisprudnciafrancesa,estadunidenseebrasileira.Conclui-sequeopartidopoltico tem a potencialidade de democratizar o regimerepresentativo, pois ele o ator responsvel pelaintercomunicaoentreasociedadepolticaeacivil,jquedvozeinflunciapluralidade.Talrelaoultrapassaoslimitesdaagregaodevontadeindividuaiseampliaarepresentatividadeparaalmdosmecanismostradicionais.

    Palavras-chave: Partidos Polticos; Mandato poltico;Democraciarepresentativa.

    Abstract: It is demonstrated that the political parties areindispensabletotheexerciseofpoliticalrightsinBrazil,mainlybecausetheyaretheexclusiveholdersofapplications.Thus,themultiplicationofpartiesisseenasapositivefactorintheelectoralprocess,asitextendsthechannelsofparticipation.Under representative government,we present the differentconceptionsaboutpolitical representation and its impactonFrench,AmericanandBrazilianjurisprudence.Weconcludethatthe political party has the potential to democratize therepresentative regime, because it is responsible forintercommunicationbetweenpoliticsandcivilsocietyactor,asitgivesvoicetothepluralityandinfluence.Thisrelationshipgoes beyond the aggregation of individual will and widenrepresentationbeyondthetraditionalmechanisms.

    Keywords: Political parties; Political representation;Representativedemocracy.

  • 136

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

    INTRODUO

    OEstadoDemocrticodeDireitoinauguradoapartirdeConstituiode1988pretendeurompercomoregimeautoritrioanterioreinstalouumambientepolticoparadisputaslivresedemocrticas.Todavia,paraoaperfeioamentodojogopelopodernobastaaregulamentaodassuasregras,poisprecisoseuconstanteexerccioafimdesecriarumaculturadeeleieslivresejustas.Nessaatividade,algunscomponentespodememergircomofacilitadoresoupotencializadoresda efetividadedo processo eleitoral, tratam-se, pois, dospartidospolticos.

    Opartidopoltico,emsuahistria,entranocenriopolticoapartirdaconsolidao dasdemocracias representativasno sculoXIX por meio doestabelecimento de vnculos regulares entre os grupos parlamentares e oscomitseleitoraiscriadosparaimpulsionarascandidaturas.Opartidoincorpora-se,portanto,comoelemento indispensvelpara intermediaraconduodocandidatoaopoder.

    Todavia,atualmente,opartidovemsendoalvodeconstantescrticasnosentidodeseuesvaziamentodesentidoedahomogeneizaoquedecorredaproliferaodevriaslegendas.

    Emrazodisso,faz-senecessriaainvestigaoemtornodorealpapelqueasagremiaespartidriasocupamnosomentenadisputaeleitoral,masprincipalmentedentronoregimerepresentativo,noqualasfragilidadesdovnculopolticosomaisevidentes.Dessemodo,aanlisequeoraseapresentatempor objetivo traar as principais formas de sistematizao dos partidos,correlacionandocoma realidadebrasileira e, ainda, trazer argumentosquepossibilitem demonstrar a relao do partido poltico com a democraciarepresentativacontempornea.

    1. SISTEMTICAPARTIDRIA

    OsistemadepartidosdeumdeterminadoEstadodeterminadopelasformasemodalidadescomoosmltiplospartidos(quandonoseesttratandodeEstadoscompartidosnicos)1coexistemeprodutodefatorescomoa

    1 Opartidonicotambmfazpartedosistemadepartidos,aindaqueelenotenhaoutropartidoparase relacionar. Em razo da ausncia de homogeneidade que, em geral, lhe atribuem, possvelafirmar a existncia devrios regimesde partidosnicos, no apenas ocomunismo ouo fascismo.Dentre essas diversas formas departido nico, Duverger (1970, p. 291, 309-310) conclui que nemtodosospartidosnicos so totalitrios e forneceo exemplodoPartidoRepublicanoda Turquiade1923 a 1948, oqual possua uma original ideologia democrtica.

  • 137

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

    tradio,ascrenasreligiosas,acomposiotnica,asrivalidadesnacionais,etc.(DUVERGER,1970,p.239).Nessesentido,Duvergeraponta:

    AoposiodosrepublicanosedemocratasnosEstadosUnidosprende-serivalidadedeJeffersonedeHamiltonnaConvenodeFiladlfia;adispersodadireitafrancesaeaexistnciadoPartidoRadicaldecorremdasituaopolticaentre1875e1900;apersistnciadospartidosagrriosnaEscandinviaremontaameadosdosculoXIX,emqueascampanhasdemocrticasseopunhamnobrezaconservadoradascidades(1970,p.239-240).

    NoBrasil,emrazodasdiversasdescontinuidadesdahistriainstitucionaldopas,emespecial,dosparlamentos-lcusdemaiorproeminnciadospartidospolticos-algicadosistemadepartidosatualspodeserfirmementedatadaemperodoposteriora1978(ECn.11de13/10/1978)quandoserestauraomultipartidarismo,aindaquedeformalimitada.Nessesentido,PedroJehafirma:

    Conquantoalgumasdasatuaistenhamformalmenteherdadoosnomesdeagremiaes influentes no perodo que antecedeu o advento doAtoInstitucionaln.2,de27deoutubrode1965,edoAtoComplementarn.4,de

    20denovembrodomesmoano,que,respectivamente,extinguiuospartidospolticos ento organizados e, na prtica, instituiu obipartidarismo, emessncia,nadapodemreivindicardeseushomnimosdoperodoanterior.A

    formaodoatualquadropartidrio,portanto,remontaa1978quando,maisobjetivamente,osistemabipartidrioartificialmentecriadoduranteoltimociclodenossosgovernosmilitaresjdenunciavaseuirrecuperveldesgaste

    (2013,p.99-100).

    AlmdefatoresinternosacadaEstado,possvelidentificartambmquestessocioeconmicasgeraisqueafetaramgrandepartedospasescomoaemergnciadospartidossocialistasnoinciodosculoXX,aqualserelacionacomoingressodaclasseoperrianavidapoltica.Porfim,oregimeeleitoral2

    outropontoimportantequetemopoderdeinfluenciaraestruturadospartidos,

    Duverger(1970,p.241)indicaquehumacertaindissolubilidadeentreosistema

    2 A respeito da expresso regime eleitoral, Monica Herman S. Caggiano, com fundamentonas liesde Maria Vicenta Soriano, expe que serve para designar o conjunto normativo norteador doprocesso eleitoral e incidente sobre o exerccio do poder de sufrgio, disciplinando as diferentesetapas da trajetria deuma consulta eleitoral (2013, p. 52). Diversamente deve se dar o empregoda expresso sistemas eleitorais, pois indica as equaes aritmticas e frmulas utilizadas para oprocesso de votao e definio dos competidores que ocuparo os cargos polticos em disputa.

  • 138

    departidoseoregimeeleitoral,poisarepresentaopolticadependedessesdoisfatoresconsideradosdentroummesmocomplexo.

    Noquedizrespeitoaonmerodepartidos,convmconsiderarqueobipartidarismo,navisodeMauriceDuverger,semantmgraasutilizaodomecanismogeraldosistemamajoritriodeumsturno,oqualteriaocondodeprotegerasduasforasprincipaisdoaparecimentodenovospartidos.Trata-se,paraele,deumatendncia,nodecorrncianecessriadaadoodareferidatcnica(1970,p.262-263).Nesseponto,oreferidoautorapontaparaofatodequeobipartidarismoapresentaumcarternatural,pois,aindaquehajamaisdedoispartidos,astendnciaspolticassempreseacomodamemtornodedoiseixos,assoluesintermediriassolugaresemquesejuntamosmoderadosdasforasmaisradicais(1970,p.250-251),subconjuntodaprpriapartequepretendesedesvincular.possvelnotarclaramenteessaacomodaoentreduasforasprincipaisquandosevislumbraarealidadeeleitoralnorte-americanacomapolarizaoentreDemocrataseRepublicanos,numambientecomaexistnciadediversosoutrospartidossemgranderepercussonacionalregular.NoBrasil,noqualoquadropartidriomltiplo,aomenosnonvelpresidencialpossvelvisualizarqueasdisputaseleitoraisnosegundoturnodaseleiesde2002,2006e20103concentraramumapolarizaoentrePTePSDB,aindaquenototalmentepura,jqueambasaslegendasvieramcoligadascomoutrospartidos.

    AhipteseprincipalapresentadaporDuvergerdedifcilverificaonoBrasilumavezqueobipartidarismoporaquiexperimentadonosedeuemumambientelivreedemocrtico.AediodoAtoComplementarn4,de20denovembrode1965foiodocumentonormativoensejadordeorganizaescomatribuiesdepartido,osquaishaviamsidoproibidospormeiodoAtoInstitucionaln2,de1965,conformeapontaCludioLembo(2008,p.104).Formaram-seentoaAlianaRenovadoraNacional(ARENA)eoMovimentoDemocrticoBrasileiro(MDB).Nesseaspecto,

    Desde seu incio, o sistema bipartidrio j enunciava suas fragilidadesintrnsecas e dava sinais de que demandaria concesses para quefuncionasse da forma pretendida pelo regime.Destarte, mesmo aps asdiversascassaespromovidas,aacomodaodetantaslideranaspolticas(oligrquicas,muitasvezes)forjadasnopluripartidarismode1946nosedariasemtraumasouconcesses(JEH,2009,p.89-90).

    3 Nas eleies presidenciais de 1994 e 1998 o candidato vencedor j no primeiro turno tambmpertencia ao PSDBe o segundo colocado ao PT.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 139

    QuandovoltasuaatenoaosEstadosmultipartidaristas,Duvergerentende que o escrutnio majoritrio de dois turnos ou a representao

    proporcional reforaesse tipodesistemadepartido,poisadiversidadepartidrianocomprometearepresentaoglobalepermiteoreagrupamento

    quando do escrutnio no se alcanar candidato com maioria absoluta(ballottage).Almdisso,arepresentaoproporcionalumfreiopoderosoevoluoparaobipartidarismo,jquenolevaospartidosvizinhos

    fuso,poisadivisonolhesprejudicial(1970,p.274-275,283).NoBrasil,oquadropartidriobastanteamploconformeinformao

    Tribunal Superior Eleitoral4. O nmero de legendas registradas no pasalcana,atomomento,opatamarde32partidospolticos.Nosepodenegar que o amplo rol gera consequncias importantes na atuao

    governamental,umavezqueospartidossoatorespolticosquebuscamocuparumpapelnojogopelopodere,emrazodisso,carregamconsigo,normalmente,razovelsuporteeleitoralqueoscolocacomomaisumagentea ser levado em conta nas deliberaes poltico-governamentais. Tal

    dificuldademinimizadaapenaspormeiodaestabilidadeatribudaaoChefedoExecutivonopresidencialismobrasileiro5,jqueemrazodadificuldade

    de remoo do cargo h um grande incentivo s composiesgovernamentais(JEH,2009,p.151),diversamentedoparlamentarismo,noqualomultipartidarismodifcildecoexistir.

    Ainda que o amplo nmero de partidos possa tornar difcil acomposiodeinteresses,precisoatentar-separaofatodeque,noBrasil,a forma como o partido est estruturado torna-o imprescindvel para o

    exercciodosdireitospolticos.

    4 Informao disponvel na pgina eletrnica doTribunal Superior Eleitoral: http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos (acesso em 03/02/2014).A prpria Constituio Federal de 1988, quan-do trata dospartidos polticos, informa queo nosso sistema deve respeitar opluripartidarismo (art.17).

    5 A respeito do papel centralizadordo presidencialismo brasileiro, Fabiano Santos afirma (2003, p.32-33): bem verdade que a Constituio de 1988 no oferece um bom ponto de partida. OExecutivo, aps expanso de sua capacidade decisria durante o domnio militar, no teve suasprerrogativas suficientemente reduzidas. Medidas provisrias, direito de requerer unilateralmenteurgncia para a tramitao de seus projetos, monoplio de emisso de proposies legislativas decunho financeiro e administrativo so instrumentos disposio do presidente que, alm de noexistirem ao longo da Repblicade 1946, comprometem sobremaneira a capacidadedo Congressoem servir de contrapeso s iniciativas do governo. Portanto, ainda estamos longe de um sistemabaseado na noo de agenda compartilhada entre Executivo e Legislativo, quer se observarmospelonguloda rotinadeproduo legislativadoCongresso,querpelas taxasdeapoiodedeputadose senadores s iniciativasdo Executivo.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 140

    AConstituioFederalde1988,almdeproporcionardiversospapisrelevantes de proteo e atuao em relao aos partidos polticos, porexemplo: bloqueio da matria partidria como objeto de medidaprovisria (art.62,1, I, a), imunidade tributria aos partidos e suasfundaes(art.150,VI,c)elegitimidade ativa para as aes de controlede constitucionalidade(art.103,VIII),colocouopartidopolticoinseridonoTtuloII-dosDireitoseGarantiasFundamentais.Deformamaisespecial,concedeuaospartidosopoderexclusivode apresentarcandidaturas,ouseja,deexercerosufrgiopassivo,aocondicionaraelegibilidadefiliaopartidria(art.14,3,V).Dessamaneira,opartidopolticocumpreumpapeldeagentepotencializadordoexercciodedireitosfundamentais,emespecial,dosdireitospolticos,jqueaapresentaodocidadoperanteacomunidadepara represent-ladeve passarnecessariamente pelavia dopartidopoltico.Assim,aindaqueaconstantecriaodenovospartidospossa ser objeto de discusso, o que se constata nesse ponto que umsistemamultipartidrioampliaaspossibilidadesdeexercciododireitodeparticipao.

    Almdisso,opartidopoltico,aoampliaroscanaisdedisputapelopoder,tornaoprocessoeleitoralmaiscompetitivoeassimcontribuiparaqueoexercciodopodersedamparadoembaseslegtimas.TalconclusopossvelpormeiodoargumentoapresentadoporMonicaHermanS.Caggiano.Paraaautora(2013,p.29-31),oprocessoeleitoralnoexclusividadedosregimesdemocrticos,poisutilizadocomcaractersticasmltiplas,inclusiveemregimestotalitrioseautoritrios.Nosprimeiros,oprocessoeleitoralnoapresentapossibilidadeefetivadeescolha,servindoapenascomoinstrumentodoexercciodopoder,caracteriza-seporserumambienteno-competitivo.Jemsistemasautoritriosasdisputasocorrementreasfacesdomesmogrupoquejestnopoder,tendooprocessoeleitoralimportnciareduzida.Somente nos ambientes democrticos que o processo eleitoral temimportncianalegitimaodopoder,poisfazendo-sepresentecomaclusulafree and fair elections possibilitaaverdadeiracompetitividadenadisputapelopoder.Talclusulasubordinaoprocessoeleitoralaosseguintesfatores:periodicidadedospleitos,liberdade,igualdade,imparcialidadedasentidadespblicas, participao ampla no desenvolvimento do processo eleitoral,relevncia dos partidos, proporcionalidade na distribuio das cadeirasparlamentares,estabilidadedaLeiEleitoralejurisdicionalidade(CAGGIANO,2013,p.33-34).Assim,noBrasil,adetenodomonopliodacandidatura

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 141

    nasmosdopartidopoltico6concedea eleumpapelde contribuionadisputaeleitoral,poisseunmeromltiplotematendnciadepluralizarepotencializaracompetitividadee,dessemodo,proporcionarmaiorparticipaonadisputapelarepresentaopopular.

    Almdosfatoreselencados,ospartidostambmserelacionamcomosregimes polticos e tm potencialidade de transformar essas estruturas.AsdemocraciasmodernasouosEstadostotalitriosnopodemserplenamenteexplicadossemaanliseemtornodamutaoqueodesenvolvimentodospartidoslhescausou.Deformamaisespecfica,indispensvelainvestigaoemtornodaconexoentreademocraciarepresentativaeospartidospolticos.

    Inicialmente,cabefrisarqueaadoodosistemarepresentativonosecaracterizacomoumaalternativainviabilidadeprticadademocraciadireta(second best) mas como uma maneira de instalar um corpo governantequalitativamentesuperioraopovo.Emsuaconcepojurdica,arepresentaoeratratadacomoumcontratoprivadodecomisso,conformeaslinhasdeumalgicaindividualistaeno-poltica,namedidaemquesupequeoseleitoresjulgamasqualidadespessoaisdoscandidatos,aoinvsdesuasideiaspolticaseprojetos(URBINATI,2006,p.198).Talparmetrotransmutou-separaseaproximardeumcartermaiscoletivoepblicodarepresentao.

    Deummodogeral,omandatorepresentativonotemnadaemcomumcomoinstitutodomandatododireitoprivado.Entresuascaractersticas,deacordocomPhilippeArdant(1999,p.173-174),duasdecorremdaficofundantede que a nao conserva a soberania, cujo exerccio delegado aosrepresentantesdopovo,demodoquesuasaes/decisesseroimputadasprprianao.

    6 A importncia da detenodo monoplioda candidatura pelos partidospolticos contrasta com suanatureza de pessoa jurdica de direito privado (art. 44,V, do Cdigo Civil). Ou seja, uma funoessencialparaademocracia, inclusivecomprerrogativasdeacessoa fundopartidrioea tempoemrdioe televisodeixada nasmosexclusivas deumaentidadeprivada.Ainda quea Constituiode1988tenhadeterminadoqueofuncionamentodospartidosdevasedardeacordocoma leiesobfiscalizao financeira pela Justia Eleitoral, no se pode perder devista que o carter privado detais grupos no os eximem de respeito s normas de direitos fundamentais. Nesse ponto, impor-tante destacar a defesa da eficcia dos direitos fundamentais nas relaes entreparticulares (LIMA,2012). Sinteticamente, tal concepopretende no isentar a esfera privadados ditamesdos direitosfundamentais, por exemplo, exigindo-se respeito a no-discriminao no ingressode filiados e aodevido processo legal no eventual processo de expulso dopartido. Indo alm no texto citado, ofenmeno da horizontalidade problematiza a questo em torno da potencialidadede que os agentesprivados tambm concretizem os direitos sociais, no se restringindo realizao dos direitosdenominados de primeira gerao.Assim, o que se busca afirmar que a natureza privada dospartidos polticos no pode servir como manto protetor em relao ao no cumprimento dosdireitosmais elementaresdo Estadobrasileiro de1988, somentedessa forma que as agremiaespartidriaspoderocumprirdeformalegtimaopapeldedestaqueaelasatribudonaconstruodoambiente democrtico do pas.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 142

    Primeiro,osrepresentantestomamsuasdeciseslivremente,estabelecemseusprogramaspolticosesoresponsveispordiscernireescolheraquelasopespolticasquejulgaremmelhores.Nohtransitividadeestritaentreavontadedoseleitoreseavontadedosrepresentanteseleitos.Ainvestiduraqueresultadomandatoumaespciedeelogeral,quenovinculaasconscinciasdos investidos, equeno passvelde revogao, anoserpormeiodasavaliaesretrospectivaseperidicas,queocorremporocasiodaseleies.

    Nesseaspecto,aprincipaldiferenaentreomandatopolticoeomandatocivilqueomandatriododireitoprivadotemseuspoderesembitosdeaoabsolutamentelimitadospeloinstrumentoqueoconstituirepresentante,demodoquenopodeextrapolaroslimitesdarepresentaosobpenadeterosatosanuladosedeeventualmenteserresponsabilizadopelosexcessosquecausaremdanoaomandanteeaterceiros.Valedizerqueomandatocivilimperativo,enquantoomandatopolticonoo,nohcontratoentreomandanteeomandatrionodireitopoltico.

    Asegundacaractersticadomandatododireitopolticoque,emsentidoestrito, o mandatrio representante da nao e no dos seus eleitoresespecificamenteconsiderados(issopelomenosnodireitofrancs,comoveremosa seguir). Dito de outra forma, ainda que as campanhas, ou mesmo ascandidaturas (como si ocorrer, para osdeputados federais no parlamentobrasileiro),estejamadstritasalimitesterritoriaisbastantedefinidos,oatodainvestiduratemnuancescoletivasegerais.

    Nesse sentido, PhilippeArdant (1999, p. 173) considerar que omandatrio [...] il est llu de ceux qui ont vot comme de ceux ont votcontre lui, des autres circonscriptions au mme titre que de la sienne.Esseumdoscorolriosdoprincpiodasoberanianacional.Nofimdascontas,seguindoessalinhaderaciocnio,omandatrioeleitopelosquevotaramnele,pelos quevotaram contra ele e pelos que se abstiveram.A representaoexercidapeloparlamento,depoisqueeleseencontraconstitudoporumprocessoeleitoralvlido,indivisvel.Tambmnessasegundacaracterstica,omandatopolticodiferentedomandatododireitoprivado,jqueneste,existeumliamebastantedefinidoentre ooutorgante eooutorgado.No direito privado, ospartcipesdarelaodeoutorgasodefinveiseindividualizveis,enquantonodireitopolticono.

    BernardManin(1995,s.p.)indicaosprincpiosfundamentaisqueregemogovernorepresentativo,destacam-se:a eleio dos representantes por meiodos governados; independncia parcial dos representantes em relao s

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 143

    preferncias dos eleitores; liberdade de manifestao de opinio pblicae debate prvio s decises polticas.Paraoreferidoautor,diferentementedoregimedesorteios,osistemarepresentativoutiliza-sedaeleiocomomtododeescolhade legitimaodopodere talmecanismono temocondodeeliminaradicotmicafunoexercidapelopovo(consentimento)eogoverno(competncia),poisnocriaumaidentidadeentreessasduasfiguras,ouseja,seaimposiodavontadenoperodoanteriorsedavaemrazodaorigem(nascimento e riqueza, por exemplo), no sistema eleitoral exige-se oconsentimentodopovo,ogovernorepresentativopodeserumgovernodeelites,mascabeaoscidadoscomunsdecidirqueelitevaiexerceropoder(MANIN,1995,s.p.),trata-se,assim,dademonstraodocarterseletivoearistocrticodaeleio.

    Aindaaotratardosprincpios,Manin(1995,s.p.)afirmaqueaparcialindependnciadosrepresentantesdiantedasprefernciasdosrepresentadosdaprpriaessnciadoregimerepresentativoe,emrazodisso,soincompatveiscom a autonomia os institutosdo mandato imperativo e a revogabilidadepermanenteediscricionriadoseleitos.Dessemodo,deve-selevaremcontaqueasmudanasdecondiessoinevitveiseasinstituiesdevempermitira flexibilidade para o enfrentamento das alteraes circunstanciais, nsescolhemospolticasquerepresentamnossosinteressesoucandidatosquenosrepresentamcomopessoas,masqueremosqueosgovernantessejamcapazesde governar (MANIN, PRZEWORSKI, STOKES, 2006, p. 119), da ajustificativaparaarelativaautonomiadosrepresentados.

    Emrelaoliberdadedeopiniopblica,essagarantiavemaoencontrodopostuladodequearepresentaonoabsoluta,ouseja,dequenohidentificaoentrerepresentanteerepresentado,poisgarantidavozaosegundo,independentementedoprimeiro.Mantm-se,assim,apossibilidadedequeopovofaleporsimesmo.Porfim,Manin(1995,s.p.)ressaltaaligaoestreitaentrearepresentaoeoprviodebatesdecisespolticas.

    Nesse sentido, importa destacar que os argumentos levantados porBernardMarinlevamconclusodequeapossvelcrisederepresentaoemrazodoafastamentodafrmuladogovernodopovopelopovo,defato,nadatemavercomosistemarepresentativo,poisnaconcepodoreferidoautor,o governo representativo no foi concebido como um tipo particular dedemocracia,mascomoumsistemapolticooriginalbaseadoemprincpiosdistintos daqueles que organizam a democracia (1995, s. p.), reformasdemocrticasnoteriamocondodetransformarumsistemaquenopode

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 144

    serassociadodemocracia,oquehrealmenteaemergnciadeumanovaformadosistemaderepresentao.NaconcepodeManin,asingularidadedogovernorepresentativoencontra-senaseleiesenonarepresentao,eaquelas so essencialmente no democrticas, mas seleo de elites(aristocracia)(LOUREIRO,2009,p.78).Todavia,aoconcentrarseusesforosnessacrticadosistemadeescolha,oreferidoautornododevidovalorsampliaesdosufrgiodecorridashistoricamentecomoofortalecimentodacidadaniaedarepresentatividade.

    Aindaqueogovernorepresentativotenhaseinstaladosemapresenade partidos organizados, a partir da segunda metade do sculo XIX taisagremiaespassamaservistascomoessenciaisdemocraciarepresentativa.

    Quantomais as assembleias polticasveemdesenvolver-se suas funesesuaindependncia,tantomaisosseusmembrosseressentemdanecessidadedeseagruparemporafinidadeafimdeagiremdecomumacordo;quantomaisodireitodevotoseestendeesemultiplica, tantomaissetornanecessrioenquadraroseleitoresporcomitscapazesdetornarconhecidososcandidatosedecanalizarossufrgiosemsuadireo(DUVERGER,1970,p.20).

    Ospartidospolticosviabilizam,dessamaneira,aracionalizaodostrabalhos legislativosedasprpriaseleiesea formaomaisslidadosgovernosedasoposies(JEH,2009,p.25).Aemergnciadospartidosteveocondodepossibilitaraaproximaoentrerepresentanteserepresentados,principalmentepelaparticipaodosmilitantesnaescolhadoscandidatos.Dentreasformasdepartidos,deve-seespecialdestaqueaospartidosdemassa,7poisforamestes que incorporaram novas dimenses representatividade. Emverdade,alteraramostermosdarelaorepresentativa,poisosrepresentantesagorarepresentavamospartidoseaeleiorefletiaumvnculodeidentidadepoltico-partidriamaiorqueodarepresentaoatentoentendida(NOVARO,1995,p.79).

    7 A distino entre partidos de massa e partidosde quadro no se encontra, para Maurice Duverger,noplanodadimensodemembros,masnaestruturadecadaum(1970,p.99).Paraoreferidoautor,ospartidos de massa buscamsubstituir o financiamento capitalista das eleies por financiamentodemocrtico, ou seja, contribuies anuais a partir deuma adeso formal aopartido. J os partidosde quadros objetivam reunir pessoas ilustres, para preparar eleies, conduzi-las e manter contatocomos candidatos. Pessoas influentes, de incio, cujo nome, prestgio ou brilho servirode cauoao candidato e lhe granjearo votos; a seguir pessoas ilustres como tcnicos, que conhecema artede manejar os eleitores e de organizar uma campanha; enfim, pessoas notveis financeiramente,quecontribuemcomofatoressencial:odinheiro (DUVERGER,1970,p.100).Nesseltimocaso,aadesonopossuiomesmosentidodopartidodemassa,poisdependedasqualidadespessoaisdoadepto.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 145

    2. O PARTIDO POLTICO ENTRE REPRESENTANTES EREPRESENTADOS:UMAVIADEMOCRATIZANTE

    precisoassinalaralgumassutilezas,queconstituemintercorrnciasbastantecomuns,noexerccioenateorizaodarepresentao,queateoriaconstitucionaltemapontado.Arelaoentreeleitoreseeleitospodeassumirvriascaractersticas.Porexemplo,osmandatrios,noraro,costumamsecomportarcomosefossemosnicosrepresentantesdosseusredutoseleitorais,erazovelqueissoocorra,jquealigaoentreeleseosseuseleitorespodeserreforada,nessadimenso.Elanopode,contudo,impedirosurgimentodeespaosalternativosderepresentaopoltica,nemtampoucodesmobilizarosmovimentossociais,ouenfraquecersuasdinmicasdeempoderamento.Nosentidoinverso,noincomumqueoseleitoresserelacionemcomosseusdeputados, esperando deles uma atuao mais ou menos vinculada aosinteressesdosquecontriburamdeformadiretaparaasuaeleio.

    Asociologiapoltica(MIGUEL,2012,p.31-47)apresenta,deummodogeral,quatroconcepesdistintasderepresentaopoltica:(1)aformalista,(2)adescritiva,(3)representaocomoadvocacye,(4)concepopopularde representao.

    A concepo formalista (PITKIN, 1967) apresenta a representaopolticacomoumaespciederelaocontratual,centradaemprocessosdeautorizao e controle (accountability).As democracias liberais tm seorientadodeacordocomessaconcepo,quepartemdopressupostonormativoda possibilidade de concorrncia poltica ampla pelos cargos polticos e aexistnciadeeleitorescapazesdeidentificarseusinteresses(demandas),deavaliar as ofertas do mercado poltico de forma adequada, e de exerceraccountability, supervisionandoaatuaodosseusrepresentantes.

    Aoseuturno,aconcepodescritivadarepresentaopolticaenfatizaaseventuaissimilaridadesentrerepresentanteserepresentados.comosearelaoentrerepresentanteserepresentadosfosseumaespciedeespelho:osrepresentantes devem espelhar as caractersticas mais importantes dosrepresentados. Esse tipo depoltica denominadade poltica da presena(PHILLIPS,1995),podesertraduzidanaafirmaodoConselhoConstitucionalFrancsdequeorepresentantenadamaisdoqueo eleitorado eleito,comoveremosaseguir.

    A terceira vertente, apresenta o representante comoum porta-vozespecializado de interesses mais ou menos difusos (MIGUEL, 2012, p.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 146

    32).NadiaUrbinati(URBINATI,2000,p.758-786)acreditava,pelomenosnaformulao original, que a representaocomo advocacy erauma relaomaisoumenosimperativa,jqueorepresentanteestavasujeitoautorizaodosrepresentados.Todavia, temosqueconsiderarque,nessaconcepoderepresentaopoltica,oscompromissoscomdeterminadascausas,oucomoprovimentodedeterminadasnecessidadescostumamsersubjetivoeunilateral,prescindindotantodeautorizaoquantodeaccountability.

    LuisFelipeMiguel(2012,p.31-47),analisandoascartasencaminhadasaGetlioVargaseJnioQuadros,acrescentaumaquartaconcepo,queeledenominade concepo popular de representao poltica, alternativa soutrastrsconcepes,quesotidasporelecomoconcepesacadmicas.Nasuaformulao,orepresentantetidocomoumintercessorearelaoqueseestabeleceentreeleeorepresentadodeproteo.Aquelequeexerceafunode representao algumque temacesso abens controladospeloEstado(ouporparticularesinteressadosemagradaraosdetentoresdopoderdeEstado),taiscomoempregos,terrenos,materiaisdeconstruo,equipamentosmdicosouaisenodedeterminadasobrigaes,epodedistribu-losaquemmostra lealdade ou necessidade premente. (ARDANT, 1999, p. 32). Orepresentanteestaria,deacordocomoautor,emsituao homloga dossantosdateologiapopularcatlica,cujafunoprecpuaintercederjuntodivindadeparaobterfavoresegraas.

    Osdebatestericossobrearelaoentrerepresentanteserepresentadostambmtmressonnciaspragmticasedogmticas(aquiconsideradacomodogmtica jurdica) considerveis. Basta analisarquo divergentes so asreflexesdajurisprudnciaconstitucionalfrancesa,estadunidenseebrasileiraacercadarelaoentrerepresentanteerepresentado.

    O Conselho Constitucional Francs parece ter sido hesitante nadefiniodanaturezadasrelaesexistentesentreeleitoreseeleitos.PhilippeArdant(1999,p.174)comentaque,emumadecisode1-2Julhode1986(86-208DC),oConselhoConstitucional,analisandoseadelimitaodascircunscries eleitorais pelo Governo viola a Constituio, descreveu oparlamentocomoo eleitorado eleito,afirmandoqueelequedevemanterlaos fortes com os eleitores.Todavia, em deciso de 15 deMaro de1999(99-410DC),omesmoConselho,apreciandodisposiesdaLeiOrgnicadoTerritrio da Nova Calednia, proclamou que cada parlamentar e oparlamento representa a nao inteira e no as pessoas de suacircunscrio eleitoral.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 147

    Apesar das consideraes deArdant, as decises parecem no sernecessariamente contraditrias, issoporque, embora a segundadeciso doConselhoConstitucional tenha assinaladoque o Parlamento representa anao inteira, ela ainda considerouno item 16, ao referir-se a questesrelacionadas com o emprego que [...] la citoyennet de la Nouvelle-Caldonie, qui fonde les restrictions apportes au corps lectoral appel dsigner les institutions du pays [...]La rglementation sur lentredes personnes non tablies en Nouvelle-Caldonie sera conforte [...]une rglementation locale sera dfinie pour privilgier laccs lemploides habitants,indicandoque,seumavinculaoestritadoeleitoradoeleitocomoseleitoresnopodesertidacomoumdadoobrigatrio,elapelomenosseriadesejveldopontodevistapolticoemoral.

    Reconhece-se que a tendncia contempornea da jurisprudnciaconstitucionalfrancesadedescaracterizarovnculodomandatriocomosinteressesparticularesdosseuseleitoresparaestabelecerumarelaoentrerepresentaoeinteressepblico,queinclusivepodecontrariarosinteressesprivadosrelacionadoscomaeleioespecificamenteconsiderada.Ditodeoutraforma, apesardoparlamento ser considerado comoo eleitorado eleito, elerepresentainteressesmaiores,quesoosinteressesdanao.

    Ajurisprudncianorte-americanatemsefirmadoemsentidodiversoaodajurisprudnciaconstitucionalfrancesa.NojulgamentodeReynold v.Sims,porexemplo,oJuizWarrenconsiderouquelegisladores representampessoas, no rvores ou extenses de terra. Legisladores so eleitospor eleitores, no fazendas, cidades ou interesses econmicos(Reynoldsv.Sims,377U.S.5331964).DamesmaformanojulgamentodeLucas v.FortyFourth General Assembly of Colorado,queemborasejaumadecisodaCortedoColorado,possuiigualrelevnciasdaSupremaCorteparaaanlise da questo da representao poltica. Nesse caso, o juiz PotterStewartafirmaraquelegisladores no representam nmeros sem rosto.Eles representam pessoas, ou, com maior preciso, a maioria de eleitoresem seus distritos pessoas com necessidades e interessesidentificveis(Lucasv.FortyFourthGen.AssemblyofColorado,377U.S.7131964).

    Noprimeirocaso,tem-sequeaConstituioestadunidenseprevumcensodapopulao a cadadezanos (do artigo1, seo2, item3),que utilizado,entreoutrasfinalidades,paradefinirarepresentaonaCmaradosDeputados,quedistribudadeacordocomessacontagem.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 148

    Embora quase todos os Estados integrantes da federao possuamdispositivossemelhantesemsuasConstituies,diversosEstadosnohaviam

    realizado censo ou redistribudo as cadeiras do legislativo, apesar dastransformaes scioeconmicas pelas quaiso pas tinha passado. Havia

    discrepnciasconsiderveisentreosdistritoseleitorais,queindependentementedonmerodehabitantes, possuamomesmonmerode representantes nacmarabaixa.

    InicialmenteaSupremaCorteestadunidenseentendeuqueasoluodaquestoeraencargodoPoderLegislativo.Noentanto,aCortefoiinstigadaa

    debaterarepartiodosrepresentantes,paraevitaresquemasquehaviamseinstaladoparaimpedirquecomunidadesafro-americanasconseguissemelegerrepresentantes(ocaso,porexemplo,deBaker v Carr).

    OvotodoJuizWarrenqueempartejapresentamosacimabastanteinteressante para compreender como a Suprema Corte estadunidensecompreendeaclusulada igualproteoeaaplicaparaassegurarquenosejam atribudos pesos diferentes aos votos dos eleitores de uma mesma

    circunscrioouEstado.Nosegundocaso,AndrsLucas,agindoemnomedeeleitoresdediversas

    reasdeDenver,processouoficiaisrelacionadoscomaseleiesdoColorado,paraquerevissemarepartiodascadeirasemambasascasasdoColoradoGeral Assembly.Naocasiodaseleies,apenasascadeirasdacmarabaixa

    foramdistribudascomfundamentonapopulao,enquantoascadeirasdoSenadoforamdistribudaslevandoemconsideraoapopulaoeoutrosfatorescomogeografia,contiguidade,acessibilidade,diviseshistricasefronteiras

    naturais.DessaformaosrepresentantesdoSenadoestadualseriameleitospor

    apenasumterodapopulaodoEstado.Aquestofoilevadaaotribunaldistritalqueconsiderouqueadistribuio

    dascadeirasdaformasugeridaviolariaaclausuladaigualproteo.Otribunal

    considerouque,emboraamaioriadoeleitoradodeColoradotenhaaprovadoseu esquema de rateio, isto no poderia prevalecer sobre a proteo

    constitucionalqueosindivduostmdeteremseusvotosponderadosdemaneiraigualitria.

    Osdoiscasosindicamqueparaosnorte-americanosomandato,emboranosejaimperativo,sevinculadeformaestritacominteressesindividualizveis,ouainda,compessoasconcretas,eomandatrionorepresentaanaointeira,

    masoseleitoresqueoelegeu.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 149

    NoBrasil,oSupremoTribunalFederal(STF)pareceterconduzidoaquestoparaoutradireo,diferentetantodajurisprudnciafrancesaquantonorte-americana.ConclusoaqualsechegaapartirdaanlisedojulgamentodosMandadosdeSeguranan26.602,26.603e26.604,bemcomodaResoluon22.610peloTribunalSuperiorEleitoral(TSE)edaConsultaden1.398formulada ao TSE sobre a perda de mandato na hiptese de infidelidadepartidria.Pelomenosapartirdessesmarcosjurisprudenciais,tem-seafirmadoqueomandatopertenceaopartidopoltico,peloqualseelegeuorepresentante,enoaele,aopovo,ouaoeleitorindividualmenteconsiderado.

    Odebatesobreotemadarelaoeleitor-partido-representanteseiniciounombitodoprprioTSE,nadcadade50,quandooministroVictorNunesLeal8 afirmava, de forma categrica, que o deputado representa o povo,embora escolhido pelo critrio partidrio, representa o povo.Atualmente,contudo,deacordocomajurisprudnciadominante,omandatopertenceaospartidos.Temseadmitidoexcepcionalmenteapossibilidadedemanutenodomandato,adespeitodatrocadepartido,quandohouvermudanasignificativada orientao programtica do partido ou perseguio poltica. Nas duashipteses,pretende-se,preservararelaoeleitor-representante(MS26.602STF,fls.232,Min.MenezesDireito),masessanoaregra.

    OSTF,invocandoprecedentedoTSE,considerouexpressamentequeo sistema jurdico-eleitoral da representao proporcional estabelece umvnculo entre a comunidade dos eleitores e as agremiaes partidriasque se tornam destinatrias precpuas dos votos por ele manifestados(MS26.602,fls.234)

    Dessaforma,ovnculoestabelecidoentreomandanteeasagremiaespartidrias.Oseleitoresnopodemprescindirdamediaoobrigatriadopartidopoltico, que aparece com um terceiro necessrio na relao com osrepresentantes que,por suanatureza, j bastante complexa. Isso tudo resultado daConstituio, que teria feito referncia expressa fidelidadepartidriacomocondioobjetivadeelegibilidade.OquelevouoMin.MenezesDireito(MS26.602,fl.241-242)aponderarqueaobrigatoriedadedafiliaopartidriasignifica,entreoutrascoisas,queaorigemdarepresentaopopularcomoformadeexercciodasoberaniapopularestindissoluvelmenteligadaexistncia de partidos polticos que so indispensveis para que se dconsequnciaaosdireitospolticosasseguradospelaconstituintede1988.OMinistrocontinua:

    8 Referncia feita pelo Ministro Joaquim Barbosa no julgamento doMS 26.602.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 150

    [...] essa representao que se consolida no Parlamento no dispensa opartidopoltico,comojdisseantes,e,porisso,ovnculoeleitoralnopodedesqualificaropartidoparasimplesespaoeleitoral,descartvelpormerosmotivosdeconveninciaeleitoral,fraudando,dessemodo,oliameentreopartido,oeleitoreoeleitonocenriodarepresentaopopularproporcional.

    Aconclusoinexorvelaquechegounossajurisprudnciaconstitucionalfoi que a Constituio vincula a representao popular aos partidospolticos e impe imperativa filiao como modo de exerccio da soberaniapopular(MS26.602,fls.244).Nomesmosentido,oqueconstounojulgamentodoMS26.603/STF,apropsito:

    [...]ANATUREZAPARTIDRIADOMANDATOREPRESENTATIVOTRADUZEMANAODANORMACONSTITUCIONALQUEPREVOSISTEMAPROPORCIONAL.-Omandatorepresentativonoconstituiprojeodeumdireitopessoaltitularizadopeloparlamentareleito,masrepresenta,aocontrrio,expressoquederivadaindispensvelvinculaodo candidato ao partido poltico, cuja titularidade sobre as vagasconquistadasnoprocessoeleitoralresultadefundamentoconstitucionalautnomo,identificveltantonoart.14,3,incisoV(quedefineafiliaopartidriacomocondiodeelegibilidade)quantonoart.45,caput(queconsagrao sistemaproporcional), daConstituioda Repblica. - Osistemaeleitoral proporcional: ummodelomais adequado ao exercciodemocrticodopoder,especialmenteporqueassegura,sminorias,odireitoderepresentaoeviabiliza,scorrentespolticas,oexercciododireitodeoposio parlamentar. Doutrina. -A ruptura dos vnculos de carterpartidrio e de ndole popular, provocada por atos de infidelidade dorepresentante eleito (infidelidade ao partido e infidelidade ao povo),subverteo sentidodas instituies,ofendeosensode responsabilidadepoltica,traduzgestodedeslealdadeparacomasagremiaespartidriasdeorigem,comprometeomodeloderepresentaopopularefrauda,demodoacintosoereprovvel,avontadesoberanadoscidadoseleitores,introduzindofatoresdedesestabilizaonaprticadopoderegerando,comoimediatoefeitoperverso,adeformaodaticadegoverno,comprojeovulneradorasobreaprpriarazodesereosfinsvisadospelosistema eleitoral proporcional, tal como previsto e consagrado pelaConstituiodaRepblica.[...]9

    9 MS26.603, Relator: Min. CELSODE MELLO,Tribunal Pleno, julgado em 04/10/2007, DJe-241Publicado em 19-12-2008. fls. 318.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 151

    EaindanoMandadodeSegurana26.604/STFconstou:

    [...].NoBrasil,aeleiodedeputadosfaz-sepelosistemadarepresentaoproporcional,porlistaaberta,uninominal.Nosistemaqueacolhe-comosednoBrasildesdeaConstituiode1934-arepresentaoproporcionalparaaeleiodedeputadosevereadores,oeleitorexerceasualiberdadedeescolhaapenasentreoscandidatosregistradospelopartidopoltico,sendo eles, portanto, seguidoresnecessrios doprogramapartidriodesua opo. O destinatrio do voto o partido poltico viabilizador dacandidatura por ele oferecida. O eleito vincula-se, necessariamente, adeterminadopartidopolticoetememseuprogramaeiderioonortedesuaatuao,aelesesubordinandoporforadelei(art.24,daLein.9.096/95).Nopode,ento,oeleitoafastar-sedoquesupostopelomandante-oeleitor-,combasenalegislaovigentequedeterminaserexclusivamentepartidriaaescolhaporelefeita.Injurdicoodescompromissodoeleitocom o partido - o que se estende ao eleitor - pela ruptura da equaopoltico-jurdicaestabelecida.[...]10

    Essas mesmas concluses j haviam sido apresentadas em sededoutrinriaporRicardoLewandowiski(VELLOSO,ROSAS,AMARAL,2005,p.381)eGoffredoTellesJnior(2005,p.117),entreoutros.

    Umaanlisedas trsposiesda justia constitucional (francesa,estadunidenseebrasileira)indica,entreoutrascoisas,queahermenuticada representao francesa profundamentamente influenciada peloromantismorousseauniano,paraquem,asoberaniapopular,comoavontade,indelegvel,porissoarepresentaosempredanaoenuncadeparceladoeleitorado.

    Ajurisprudncianorte-americana,aoseuturno,indicaumapercepomaisrealistadoprocessoeleitoral,especialmentearelaoqueexisteentreoseleitoseosvariadosgruposdeinteressequeservemdesuportefinanceiro,ideolgico e organizacional dos processos eleitorais, de modo que arepresentaoumprocessoencarnado.

    Entrens,optou-se(jurisprudencialmente)pelaadoodeumaespciede partidocracia (KATZ,1995), na qual a representao dos eleitores realizadapelamediaodospartidospolticos,quesoosdetentoresdefatodosmandatos.

    10 MS 26.604, Relatora: Min. CRMEN LCIA, Tribunal Pleno, julgado em 04/10/2007, DJe-187Publicado em 03-10-2008 fls. 626.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 152

    Areduodaconfianapopularnoparlamento, simbolicamente,oresultadodonocumprimentonaspromessasdademocraciarepresentativa,dasurdezdosparlamentossreivindicaesdohomemcomum,edoaumentodocontroledaagendapblicapelosmeiosdecomunicaodemassa.

    Atualmente, convm apontar para a ideia de que as sociedadesdemocrticasnopodemabrirmodopartidopoltico,poisesseelementooresponsvelpelocarterrepresentativodoregimedepoltico.Nessepontoencontra-se o pensamento de Nadia Urbinati a respeito do statusdemocrtico do regime representativo. Para a autora (2006, p. 202), essencialque hajauma intercomunicaoentre a sociedadepoltica e acivil,principalmenteemumgovernoquetemsualegitimidadefundadaemeleies livres e regulares e so as variadas formas de manifestao einflunciacidadquetornamosocialpoltico.

    Vontade e juzo, a presena fsica imediata (o direitoaovoto) e umapresena idealizada mediada (o direito livre expresso e livreassociao)estoinextricavelmenteentrelaadosemumasociedadequeelamesmaumaconfutaovivadedualismoentreapolticadapresenaeapolticadasideias,umavezquetodapresenaumartefatododiscurso(URBINATI,2006,p.203).

    Emcontrapontodemocraciadireta,naqualcadavotoumnovocomeosemvnculohistricocomasdeciseseopiniespassadasefuturas,ademocraciarepresentativaapresentaumfatordeestabilidademuitomaiorao processo poltico, pois um voto em prol de um candidato reflete aatratividadedeumaplataformapoltica,ouumconjuntodeideiasaolongodotempo(URBINATI,2006,p.211).

    Emumademocraciarepresentativa,acadeiadeopinies,interpretaeseideiasquebuscamvisibilidadeatravsdavotaoemumcandidatooupartidoconsolidaaordempolticaadivergnciasetornaumfatordeestabilidade,ummecanismode todooprocessopoltico (URBINATI,2006,p.212).

    pormeiodaextraodasdiferenasqueademocraciaganhafora,nosetratadeconsenso,masdedivergnciaadvindadosvariadoscanaisque interpelamos representantes.Dessa maneira, apolticapartidriaquepossibilitaarealizaodopotencialdemocrticonarepresentao,pois

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 153

    os partidos integram a pluralidade de ideias e interesses tornando osoberano permanentemente presente como um agente de influncia esuperviso extraestatais (URBINATI,2006, p. 221).Por fim, a mesmaautoraconclui(2006,p.222-223):

    Narealidade,seaeleiofossedefatoumaseleoentreedecandidatosisoladosentree denomes individuaisao invsdenomesdegrupospolticosarepresentao iriadesaparecer,porquecadacandidato(a)concorreriaporsisolitariamenteesetornaria,comefeito,umpartidriodoseuprpriointeresse.Oarranjolegislativoseriaumaagregaodevontadesindividuais,maisoumenoscomoaassembleianademocraciadiretaincapazdetomardecisespormeiodeumprocessodeliberativoestendido e, ao final, no representativo, j que apenas as ideias eopinies(ouseja,o juzoemsentidoamplo)podemserpoliticamenterepresentveis,noos indivduos.

    Alegitimidadedarepresentao,portanto,noadvmexclusivamentedaautorizaoconcedidapeloeleitor(voto)edasubstituiodosoberanoausente na aprovao das leis, trata-se, pois, da relao circular entreinstituiesesociedade,naqualopapelintegradordopartidopolticofazcomqueaidentidadesocialsetransformeemidentidadepoltica,ampliando,assim,oespectrodeinteresseseopinies.Taismanifestaesconduzidaspelos partidos tambm so sedes de soberania tanto quanto a vontadeexpressanovoto.Dadecorreopapelrelevantequeopartidopolticodetmna democracia representativa, pois ele amplia a representatividadeparaalmdosmecanismostradicionalmenteconhecidos.

    Todavia,asrazesapresentadasparademonstraraindispensabilidadedopartidoparaaconcretizaodocarterdemocrticodarepresentaoparecem no ser corroboradas quando se verifica o atual estgio daidentidadeeconfiananospartidospolticos.

    As democracias orientadas fortemente por partidos tiveram seuenfraquecimentoiniciadonaEuropanops-guerraemrazodaemergnciadefatoresquepuseramemxequeoesquemaderepresentaodeinteressese composiodeacordos.ParaNovaro (1995,p.80-81), as razesparaesse declnio so atribudas ao surgimento de novas demandas nonegociveispelastradicionaisorganizaespolticascriadasparadefenderinteressesestveiscombasesterritoriais,profissionaisousociaisdefinidas.Alm disso, a crescente pluralizao e heterogeneidade dos interesses

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 154

    criaram sobrecargas na gesto governamental at ento acostumada agregaodeprincpiosideolgicospormeiodospartidos11.Emrelaosdemocraciasdohemisfrionorte:

    Partidostradicionaisforamengolfadosporescndalosdecorrupo,comoosdemocrata-cristoitalianosealemes,ossocialistasfranceses,italianose

    espanhisouos liberais japoneses.Padresde lealdadepartidria foramerodidos com rapidez, emespecial aps o colapso do sistema sovitico,quandoasdisputaseleitoraisdeixaramdeservistascomoomomentode

    optar entremodelos significativamentediferentesdoordenamento social(MIGUEL,2000,p.69).

    NoBrasil,aredemocratizaoreforouosespaosdospartidospolticos

    e abriu caminho para que eles ocupassem o papel de atores polticos

    importantesnadisputapelopoder.Todavia,tambmnoestiveramimuness

    diversas formas de perda das qualidades originais12. Nesse sentido, valedestacarapesquisaapresentadaporPedroRubezJeh(2009)aqualapresenta

    diversaspatologiasdosistemadepartidosnopas,dentreelas,destacam-se:

    11 Ainda que, pelomenos, in tese, esteja mais assegurado oalinhamento ideolgico dos eleitores comospartidos polticos e consequentemente com determinadosprogramas de governo, a realidade dojogo-poltico eleitoral tem demonstrado que as opes dos eleitores no esto to ligadas aosprogramas de governo ou ideologia poltica, e sim liderana exercda por personalidadescarismticas, em sentido weberiano. Dessa forma no incomum, que a mesma pessoavote empartidosdiversosduranteomesmoprocesso eleitoral, isso , emparte, resultadodo sentidopopularda representao, talvez dominante entre ns. Entendemos, por isso, como Bernard Manin (1997,p. 218-235), Wattenberg (1998, p. 90-112), Novaro (op. cit, p. 77-90), e Luiz Felipe Miguel, quecontemporaneamente ocorre uma transio da democracia de partidos para a nova democraciade audincia, caracterizada pelo contato direto (isto , miditico) entre lderes e eleitores..(MIGUEL, 2003, p. 125). de se reconhecer: [...] a influncia dos meios de comunicao naformulao da agenda significativa. Hum forte incentivo para que as intervenes e os projetosdos parlamentares sejam ligados aos temasveiculados namdia, por dois motivos: (i) soos temasde maior visibilidade efetiva, isto , o parlamentar que age a respeito deles mostra-se como maisatuante; e (ii) so os temas demaior visibilidadepessoal potencial, isto , a intervenoa respeitodeles tem mais chance de receber destaque na mdia. Nem sempre os parlamentares aceitam aimposio da agenda miditica e, muitasvezes, agemno sentidode modific-la; a atuaode cadaum vai depender do grau de vinculao a grupos de interesse definidos e da posio no campopoltico [...] (MIGUEL, op. cit., p. 132) Dessa forma a hermenutica constitucional nacional(pelo menos a oficial) pode ser qualificada de anacrnica. J que a vinculao do mandato aoalinhamento ideolgico-programtico dos partidos no passa de uma fico poltica contempor-nea.

    12 Convmindicar,nesseponto,queacrisepartidria verificadanoBrasilnoestdistantedamesmasituaoocorridanosdemaispasesdoglobo.Astaxasdeidentificaopartidriabrasileira,ouseja,a preferncia por algum partido, esto dentro de uma mdia mundial. Em relao s novasdemocracias,advindasda terceiraondadedemocratizao,oBrasil sesobressai emrelaoapasesdaAmricadoSul,comoporexemplo,ChileePeru,eanaesdaEuropaOriental,comoEslovnia,

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 155

    a homogeneizao ou amorfismo dos partidos; a multiplicao dospartidos; oligarquizao das decises partidrias; a cooptao departidos e as alianas com o governo; a infidelidade e indisciplinapartidrias;entreoutros.Taisfatosimpemanecessidadedesecolocarempautanasanlisescientficasotemadospartidospolticos,pois,comojdemonstrado, so figuras com papel destacado nas democraciasrepresentativas e, no Brasil, por serem os mecanismos exclusivos deapresentaodascandidaturas,influenciamdiretamenteoexercciododireitodesufrgio.

    Pode-senotarquenoperodoeleitoralospartidospolticosocupam

    determinadaimportnciaporseremosveculosexclusivosdeconduodascandidaturas e tambm pelo seu papel de amortecedor das tenses pr-eleitorais (CAGGIANO,2008,p.225).Almdisso,oferecemumamploespectrodevantagensindispensveisparaosucessonasurnas,comoofundopartidrio,oespaoemTVerdioeoquocienteeleitoral,especialmente.Masnosomenteisso,poisseconstituiemuminstrumentoquetransmite,aomenosemnvelterico,seguranapopulaodequeocandidatocumprirasdiretrizesprogramticasdopartido(VELLOSO,AGRA,2012,p.122).Todavia,apsaproclamaodoresultadodaseleies,suaparticipaopoltica desvalorizada em razo, principalmente, do movimento de turismointerpartidrioparaacomposiodasbasesgovernistasedeoposio.Ouseja,autilizaodopartidooriginrioapenascomoimpulsionadoreleitoralfazcomquehajaumdesrespeitovontadedoeleitor,jqueosvotossodirigidoslegenda.

    Em razo disso, merece destaqueo papelda disciplina e fidelidadepartidriacomomecanismospararesgataradignidadedospartidospolticos.Oreforoaesse institutosedeuapartirdaResoluon22.526doTribunalSuperiorEleitoral,emrespostaConsultan1.398,aqualestipulouqueos

    partidosconservamodireitovagaobtidanaseleiesquandodopedidodetransferncia oucancelamento de filiao. Dessa maneira, na hiptese de

    Litunia, Bulgria e Polnia. O Brasil encontra-se ainda em um patamar muito prximo ao doMxico ePortugal. Observamos tambm que em relao sia, o Brasil est em melhores condi-esdoqueTailndia eTaiwan. Em relao s democracias consolidadas, oBrasil se posiciona emnveis prximos aos encontrados na Gr-Bretanha,Dinamarca, Noruega,Sucia, Finlndia e Irlan-da, e ainda possui nvel superior ao Japo, Coria,Alemanha, Sua, Blgica eHolanda.Aparecemcomnveisumpoucosuperiores, masdentrodeumamargemestreita, IslndiaeHungria.Mesma aFrana e osEUA, no apresentam nveis muito maiores que os do Brasil (BRAGA; PIMENTEL,2011, p. 274-275).

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 156

    abandono,semjustacausa,dopartidopeloqualfoieleito,orepresentanteperdeseucargo.AinterpretaodoTSEcriouumaformanoexpressadeperdado

    mandato,nocontempladapelaConstituioFederal.13

    Aindaqueaformapelaqualoinstitutosefirmounoordenamento

    jurdicoptriomereaserrefletida,nosepodenegarqueoadventodaconcesso do mandato representativo ao partido poltico reflete umfortalecimento das agremiaes com o objetivo de se proporcionar ao

    cidado-eleitor maior respeito deciso depositada nas urnas e, porconsequncia, tentar resgatar os laos que legitimam a representao.

    Enquantosemantivercandidaturasexclusivamentepartidrias,afidelidade indispensvel,poisobjetivaestabelecerumaadernciaprogramticaaguiarasfuturasdecisespolticasdorepresentante.Poroutrolado,seno

    hanecessidadedequeorepresentantesemantenhavinculadoplataformadopartido,aoconstituintecompetirexpurgaraideiademonopliodopartidoemrelaoapresentaodoscandidatos,viabilizandoacandidaturaindependente(CAGGIANO,2008,p.252).Todavia,conformejapontado

    acima, a candidatura sem partido vai de encontro ao entendimentoapresentadoporNadiaUrbinati,poisaescolhadeindivduossempartido

    descaracterizaarepresentaoumavezqueadecisopolticaseriaumasomadevontadesindividuaisenoumprocessodecisionalfrutodeideiaseopinies(pautassociais)tornadaspolticaspelospartidospolticos.

    Porfim,nosepodedeixardemencionarqueoutromecanismodereforoaoresgatedopapeldopartidopolticonademocraciarepresentativabrasileiraeligadodiretamentecomafidelidadepartidriaadisciplina

    partidria,ouseja, trata-sedavinculaodorepresentantesdecisese

    orientaes do partido.A indisciplina, portanto, pode ser definidagenericamente como a atuao em desobedincia s estatutrias e dasinstnciaspartidriacompetentes,nombitoparlamentarelarepresentada

    pelaproporodevotodeparlamentaressufragadosemdesacordocomoencaminhamentopromovidodolderdesuabancada(JEH,2009,p.213).

    AConstituioFederaldelegouaosprpriospartidosanormatizaoemtornodosmecanismosdegarantiadadisciplinaefidelidadepartidriapormeio do art. 17, 1. Nessa seara, o conflito entre a liberdade do

    13 Sobaperspectivadacompetnciadorgo,convmdeixarassentequeaposturadoTSEno ficouimune scrticas em razoda inovaoconstitucionalcoma criaodessanova formadeperda domandato.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 157

    parlamentar14eodireitodeopartidofixarumaorientaonopodeperderde vista a funo potencializadora da democracia representativa que opartidoconfigura.

    Aexistnciadeumsistemaemquenohgrandesprejuzosaopolticoinfielfavoreceaconsolidaodeoligarquiaspartidrias,poisomenorsinaldedivergnciainternasolucionadopeladeseroparlamentar(JEH,2009,p.178).Aindamais,talturismopartidrioestimuladoanteapersonalizaodovoto,ouseja,seopatrimniodosvotosparticulardocandidatoenodevidosualigaocomalgumpartido,a trocalheinteressante jqueservedemoedaparaocuparespaosmaisimportantesemoutrospartidos.

    CONSIDERAESFINAIS

    Aalegaodequeademocraciarepresentativaestemcriseequeospartidospolticossograndesresponsveisporessasituaonoinovaodebatee relega as agremiaes a umpapel desvalorizado, auma mera lembranaagradveldetemposemqueospartidosmobilizavamasmassaseimpunhamumprogramaparaosgovernos,masquehojenoalcanariammaisessafunodiantedoindividualismoexacerbadoqueapolticademonstra.

    Noentanto,talconcepodeixadevislumbrarumanovafacetaparaospartidos,qualseja,aconstanterepresentaoqueelesconstroemnosistemarepresentativoaoseconstituremcomoumcanalemqueasociedadepodeinterpelaropodereapresentarsuaspautaspolticasnumprocessodereafirmaoconstante da soberania popular.A potencialidade dessa funo dependenecessariamentedoagircoletivo,poisasdecisespolticasdemocrticasnopodemseroprodutodevozesisoladasevontadesindividuais.

    Seopartidopodecontribuirdemaneiratosignificativaparaoregimerepresentativo,exige-se,poroutrolado,instrumentosqueoprotejamcontraa

    14 Adefesa da fidelidade eda disciplina partidria nocorresponde a um retornoao mandato impera-tivo, pois j expressamente expurgadodos sistemaspolticos contemporneos,muito menos a umaditaduradospartidos. Oque sepretende como fortalecimentodesses institutos realocaropartidopoltico como elemento fundamental na democracia representativa, no s pelo seu carter formalde detentordo monoplioda candidatura,mas, principalmente, pela funo agregadora de ideias eopinies a serem expressasnos rgosde representao.Por fim, a fidelidadepartidria no umaamarra intransponvel aos representantes, pois o Tribunal Superior Eleitoral admite a quebra dafidelidadepartidriaquandoexiste justacausa.Comoexemplopodesercitadaamigraoporcontademodificaodoideriopartidrioouporcausadeperseguioodiosa,quesocasosderesistn-cia ideolgica, transferindo-seoparlamentar departidonopara atender a um interesse casustico,mas para manter fidelidade aos compromissos assumidos comseus eleitores (VELLOSO;AGRA,2012, p. 125).

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 158

    ausnciadevinculaodosseusmembros,principalmenteemsistemasemqueopartidodetmomonopliodacandidatura,ondeosvotossodirigidosaeledentreoutrasvantagensqueospartidospropiciamaoscandidatos,comosedno sistema brasileiro.Em razodisso, a fidelidade edisciplina partidriaspretendemreligarosrepresentantesaospartidosepreencherumvaziodeixadopelaconstantedesconfianaqueasagremiaesadquiriramnosltimostempos.

    Assim,nademocraciarepresentativacontempornea,opartidopolticodeixadesercoadjuvanteevemaocuparopapeldeatorprincipalcomumaconfiguraonoengessadadepolticalimitadaaopartido,massendoelemaisumagenteademocratizararepresentao.Emrazodessestatus,exige-setambmqueopartidodevaestarimersoempostuladosdemocrticosnasuaconstituio interna sob pena de se perpetuar as elites oligrquicas quecomandamedegeneramospartidospolticos.

    REFERNCIAS

    ALVES,FernandodeBrito.Constituioeparticipaopopular.Juru:Curitiba,2013.

    ARDANT,Philippe.Institutionspolitiquesedroitconstitutionnel.11ed.Paris,Librairiegnralededroitetdejurisprudence(L.G.D.J.),1999.

    BRAGA,MariadoSocorroSousa;PIMENTELJR,Jairo.Ospartidosbrasileirosrealmentenoimportam?OpinioPblica.Campinas,vol.17,n2,2011.

    CAGGIANO,MonicaHermanSalem.DireitoEleitoralnoUniversoJurdico.In:CAGGIANO,MonicaHermanSalem(Coord.).DireitoEleitoralemDebate-EstudosemhomenagemaCludioLembo.SoPaulo:Saraiva,2013.

    _____.Eleio.In:CAGGIANO,MonicaHermanSalem(Coord.).DireitoEleitoral emDebate -Estudos emhomenagemaCludioLembo.SoPaulo:Saraiva,2013.

    _____.A fenomenologia dos trnsfugas nocenrio poltico-eleitoralbrasileiro.In:LEMBO,Claudio;CAGGIANO,MonicaHermanS.(Coord.).OvotonasAmricas.Barueri:Manole,2008.

    DUVERGER,Maurice.Ospartidospolticos.Zahar:Braslia,1970.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA

  • 159

    TELLESJNIOR,Goffredo.Ademocraciaparticipativa.RevistadaFaculdadedeDireito.UniversidadedeSoPaulo,Vol.100,2005.

    JEH,PedroRubez.OsPartidosPolticosemCenrioEleitoral.In:CAGGIANO,MonicaHermanSalem(Coord.).DireitoEleitoralemDebate-EstudosemhomenagemaCludioLembo.SoPaulo:Saraiva,2013.

    _____. O processo de degenerao dos partidos polticosno Brasil.Tese.Ps-graduaoStrictoSensu.FaculdadedeDireitodaUniversidadedeSoPaulo:SoPaulo,2009.

    KATZ,Richard,MAIR,Peter:Changingmodelofpartyorganizationandpartydemocracy:TheemergenceofthecartelParty,inPartyPolitics.Vol.I,No.1,1995.

    LEMBO,Cludio.CronologiabsicadoDireitoEleitoralBrasileiro.In:LEMBO,Claudio;CAGGIANO,MonicaHermanS.(Coord.).OvotonasAmricas.Barueri:Manole,2008.

    LIMA,JairoNia.Sociabilidadehorizontal:aeficciadosdireitosfundamentaissociaisnasrelaesentreparticulares.RevistadeDireitoConstitucionaleInternacional.SoPaulo,v.79,2012.

    LOUREIRO,Maria Rita. Interpretaes contemporneas darepresentao.RevistaBrasileiradeCinciaPoltica,n1.Braslia:2009.

    MANIN,Bernard;PRZEWORSKI,Adam;STOKES,SusanC.EleieseRepresentao.LuaNova.SoPaulo,67,2006.

    MANIN,Bernard. Theprinciples of representative government.Cambridge:CambridgeUniversityPress,1997.

    _____.As metamorfoses do governo representativo. Revista BrasileiradeCinciasSociais.SoPaulo,ano10,n.29,1995.

    MIGUEL,Luis Felipe.Orepresentante comoprotetor:incurses narepresentaopolticavistadebaixo.RevistabrasileiradeCinciasSociais.vol.27,n.79,pp.31-47,2012.

    _____.Representao Poltica em 3-D: elementos para uma teoriaampliadadarepresentaopoltica.RevistaBrasileiradeCinciasSociais.Vol.18,n51,2003.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    A DEMOCRATIZAO DO SISTEMA REPRESENTATIVO POR MEIO DOS PARTIDOS POLTICOS

  • 160

    _____.Sorteiose representaodemocrtica.LuaNova.SoPaulo,50,2000.

    NOVARO,Marcos. O debate contemporneo sobrea representaopoltica.NovosEstudos,n42,1995.

    PHILLIPS,Anne.Thepoliticsofpresence. Oxford:OxfordUniversityPress,1995.

    PITKIN,HannaF.Theconceptofrepresentation.Berkeley:UniversityofCaliforniaPress,1967.

    SANTOS,Fabiano. O PoderLegislativo noPresidencialismo deCoalizo.BeloHorizonte:EditoraUFGM;RiodeJaneiro:IUPERJ,2003.

    URBINATI,Nadia.Oque tornaarepresentaodemocrtica?LuaNova,n.67.SoPaulo:2006.

    _____.Representation asadvocacy: a studyof democraticdeliberation.PoliticalTheory,28(6),p.758-786,2000.

    VELLOSO,CarlosMriodaSilva;AGRA,WalberdeMoura.ElementosdeDireitoEleitoral.3Ed.SoPaulo:Saraiva,2012.

    VELLOSO,CarlosMariodaSilva.ROSAS,Roberto.AMARAL,AntonioCarlosRodriguesdo.(coords.)Princpiosconstitucionaisfundamentais:estudos emhomenagem aoProfessor IvesGandra daSilva Martins.SoPaulo:LEX,2005.

    WATTENBERG,MartinP.ThedeclineofAmericanpoliticalparties,1952-1996.Cambridge:HarvardUniversityPress,1998.

    Artigorecebidoem:20/08/2014Aprovadoparapublicaoem:26/08/2014

    Comocitar:ALVES,FernandodeBrito.LIMA,JairoNia.Ademocratizaodo sistema representativo por meiodos partidos polticos. Revista doDireitoPblico.Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014.DOI:10.5433/1980-511X.2014v9n2p135.

    REVISTADODIREITOPBLICO,Londrina,v.9,n.2,p.135-160,mai./ago.2014

    FERNANDO DE BRITOALVES E JAIRO NIA LIMA