a crise e seus impactos sociais · – relatÓrio final – reflexÃo – novembro de 2008 ......

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– RELATÓRIO FINAL – REFLEXÃO NOVEMBRO DE 2008 A CRISE E SEUS IMPACTOS SOCIAIS – reflexão com a presença de James Austin, professor emérito da Harvard Business School –

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– RELATÓRIO FINAL –

REFLEXÃO

– NOVEMBRO DE 2008 –

A CRISE E SEUS IMPACTOS SOCIAIS – reflexão com a presença de James Austin,

professor emérito da Harvard Business School –

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REFLEXÃO: A Crise e seus Impactos Sociais

I. ESCOPO

Conhecemos o professor Austin em 2002, quando do surgimento da rede SEKN – Social

Enterprise Knowledge Network. Representando a Harvard Business School, ele foi o mentor e

coordenador dessa rede formada por 10 universidades ibero-americanas, que desenvolve

pesquisas sobre áreas prioritárias no campo do Empreendedorismo Social. (vide mais

informações sobre o SEKN no Anexo)

A idéia desta reflexão surgiu durante os preparativos para uma breve estada do professor

Austin no Brasil, quando ele deu uma de suas muitas demonstrações de apreço pelo CEATS e

de interesse pela perspectiva de uma discussão de cunho conceitual e prático acerca dos

efeitos da crise mundial no Brasil. Desenhamos um encontro com duração aproximada de 1,5

hora, previsto para um grupo de especialistas do meio acadêmico, representantes do segmento

empresarial, das organizações da sociedade civil, de instituições públicas e da mídia,

selecionado a partir dos contatos do CEATS, do PPGA/FEA (Programa de Pós-Graduação em

Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de

São Paulo) e do grupo de ex-alunos da Harvard.

O encontro ocorreu no dia 18 de novembro de 2008, das 13h30 às 15 horas, na sala G8 da

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, na

Cidade Universitária.

II. O CEATS / FIA

A FIA

No ano de 1980, professores do Departamento de Administração da

Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de

São Paulo (FEA-USP) se uniram para criar uma instituição de ensino

superior sem fins lucrativos conveniada à escola – a Fundação Instituto de

Administração (FIA). Desde o início, a FIA buscou posicionar-se na

vanguarda do conhecimento científico e técnico nas diversas áreas da gestão das

organizações. A partir daí, já realizou cerca de três mil projetos de pesquisa, consultoria e

educação, o que assegura sua competência para o desenvolvimento de estudos e a prestação

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de serviços nas mais variadas áreas de administração e gestão organizacional. Sua inserção

no ambiente acadêmico, o constante desenvolvimento de pesquisas e estudos e o intercâmbio

internacional conferem um caráter de excelência à metodologia de seus trabalhos.

Os programas educacionais em todas as áreas da Administração têm sido um dos pontos

fortes na atuação da FIA, promovendo o desenvolvimento de recursos humanos e elevando a

capacitação dos profissionais.

O CEATS

O CEATS (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em

Terceiro Setor) é um programa da FIA que atua nas áreas de ensino,

pesquisa e consultoria em gestão social, cidadania empresarial e

Terceiro Setor, agregando equipes multidisciplinares de professores e

pesquisadores. Coordenado por Rosa Maria Fischer, professora titular

do Departamento de Administração da FEA-USP, o CEATS vem desenvolvendo pesquisas

relacionadas ao empreendedorismo social, ao desenvolvimento sustentável e às formas de

atuação e parcerias entre empresas, organizações do Terceiro Setor e o Estado.

O Centro adota diversos métodos participativos nos projetos que realiza. Essa característica,

aliada à inserção do CEATS no meio acadêmico, vem contribuindo para que, ao longo do

tempo, tenha formado uma rede de especialistas e ganho legitimidade e poder convocatório de

profissionais das mais diversas áreas de atuação, tanto no que tange à diversidade temática

quanto aos vários setores.

Na área de ensino, o CEATS criou disciplinas sobre Terceiro Setor, Empreendedorismo

Social, Responsabilidade Social e Cidadania Empresarial para os cursos de graduação, pós-

graduação na FEA-USP, para o MBA em Administração, além de cursos abertos de

capacitação. Destaca-se o MBA Gestão e Empreendedorismo Social, criado e gerido pelo

Centro, assim como os cursos de Responsabilidade Social e Terceiro Setor, e de Avaliação

de Programas e Projetos Sociais, todos na FIA. Em seus cursos, o CEATS prima pela

capacidade de articulação com diversas organizações acadêmicas, empresariais e do

Terceiro Setor, e pela proximidade com professores e profissionais especializados nos temas

abordados.

Em síntese, estas competências essenciais da FIA e do CEATS viabilizam a modelagem e a

execução de ações voltadas à geração de insumos que permitam direcionar e monitorar o

planejamento de atividades, investimentos e alianças estratégicas; e contribuir para aperfeiçoar

o conhecimento prático e teórico sobre as questões do empreendedorismo social, da

sustentabilidade e do desenvolvimento.

Alguns eventos recentemente organizados pelo CEATS:

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2008

Seminário “Negócios Socialmente Inclusivos – desafios na cadeia de reciclagem” Ezequiel Reficco, Ph.D. – SEKN, Harvard Business School e Universidad San Andrés Rosa Maria Fischer – FEA/USP, CEATS/FIA e rede SEKN Luiz Henrique da Silva – ASMARE (Associação Catadores Papel, Papelão e Material Reaproveitável) Roberto Laureano da Rocha – MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis) Marilene Coelho (Nena) – COOPAMARE (Cooperativa de Catadores Autônomos de Papel, Papelão,

Aparas e Materiais Reaproveitáveis) Rosane Segantin Keppke – Prefeitura de São Paulo, Subprefeitura Itaim Paulista

Encontro com Victor Siaulys – “Mercenário ou Missionário: quem é o empreendedor?” Victor Siaulys (Laboratórios Aché, Laramara) Silvia Regina Cavani Jorge Santos (Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP) Sérgio Foguel (Odebrecht; Movimento Brasil Competitivo; Fundação Turismo para Paz e

Desenvolvimento Sustentável; Instituto de Hospitalidade) Ewaldo Russo (Laboratórios Fleury e Associação de Ex-Alunos de MBA FIA) Sérgio Mindlin (Fundação Telefônica) Jacques Marcovitch (FEA/USP)

Seminário de disseminação do Informe Anual de Responsabilidade Corporativa 2007 – empresa Telefônica no Brasil Antonio Carlos Valente (Presidente do Grupo Telefônica no Brasil) Lélio Lauretti (IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) Oded Grajew (Instituto Ethos/UniEthos e Movimento Nossa São Paulo) Rosa Maria Fischer (FEA/USP e CEATS/FIA) Fernando Costa de Freitas (Diretor Comunicação e Relações Institucionais Telefônica)

Simpósio Internacional “Alianças Estratégicas na região Iberoamericana” Roberto Gutierrez (Universidad Los Andes – Colombia), Gabriel Berger (Universidad San Andrés – Argentina), Rosa Maria Fischer (FEA-USP e CEATS-FIA), Marisa Eboli (FEA-USP), Ewaldo Russo (Instituto Paradigma e Laboratórios Fleury), Suzana Machado Pádua (IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas) e Isabel Cristina Santana (Fundação Itaú Social)

2007

Workshop Accountability em Parcerias Intersetoriais realizado em conjunto com AccountAbility (ONG da Grã-Bretanha), CCC / UNISA – Centre for Corporate Citizenship / University of South Africa e Partners in Change, da Índia.

Simpósio Internacional “Empreendedorismo Social e Desenvolvimento Sustentável” Ezequiel Reficco (Harvard Business School – EUA) Roberto Gutierrez (Universidad de Los Andes – Colombia) Maria Teresa Leal (Coopa-Roca) Rosa Maria Fischer (FEA-USP e CEATS-FIA) e Paulo Rocha (Fundação Avina).

Workshop Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade Empresarial Prof. Ignacy Sachs (“ecossocioeconomista” da École des Hautes Études en Sciences Sociales

(EHESS) e Rosa Maria Fischer (FEA-USP e CEATS-FIA),

Seminário de Lançamento do Informe de Responsabilidade Corporativa 2007 do Grupo Telefônica no Brasil Francisco Azevedo (Instituto Camargo Correa) Decio Zylbersztajn (FEA-USP) Mediadora: Claudia Vassallo (Revista Exame)

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III. DETALHAMENTO DA REFLEXÃO

Público de 50 pessoas, composto por representantes de Estado, Mercado e Terceiro Setor,

além da Imprensa e da Academia. Também estavam presentes alunos do MBA Gestão e

Empreendedorismo Social da FIA e do PPGA – Programa de Pós-Graduação em

Administração da FEA/USP.

Consistiu num evento bastante informal, com breve apresentação/provocação inicial pelo

professor Austin e palavra aberta aos demais presentes.

PROFESSOR JAMES AUSTIN:

Dr. Austin holds the Eliot I. Snider and Family Professor of Business Administration, Emeritus at the Harvard Business School. Previously he held the John G. McLean Professorship and the Richard Chapman Professorship. He has been a member of the Harvard University faculty since 1972. He was the Co-Founder and Chair of the HBS Social Enterprise Initiative.

Educational Background: D.B.A. and M.B.A. from Harvard University with Distinction; Bachelor of Business Administration from The University of Michigan with High Distinction, elected to Beta Gamma Sigma.

Research Publications: He has been the author or editor of 16 books, dozens of articles, and over a hundred case studies on business and nonprofit organizations. His most recent book is Social Partnering in Latin America published in 2004 (Harvard University Press), a collaborative research publication of the Social Enterprise Knowledge Network (SEKN). In 2000 he authored The Collaboration Challenge: How Nonprofits and Businesses Succeed through Strategic Alliances (Jossey-Bass Publishers) which was selected to be part of the Drucker Foundation Leader Book series and received one of the Independent Sector's research publication awards. His current research deals with social enterprises with emphasis on the creation, management, and governance of nonprofit organizations, and on the role of business leaders and corporations in the social sector. His prior research focused primarily on management problems in developing countries, agribusiness, and nutrition policy. His previous books include Managing in Developing Countries (The Free Press), Strategic Management in Developing Countries (The Free Press), and Agroindustrial Project Analysis (World Bank/Johns Hopkins Press).

Teaching Experience: Prof. Austin has taught courses in the following areas: Entrepreneurship in the Social Sector, Governance of Nonprofit Organizations, Management in Developing Countries, Agribusiness, Business Ethics, International Business, Business-Government Relations, Marketing, Nutrition Policy, and Case Method Teaching. In addition to Harvard, Dr. Austin has given seminars to managers, government officials, and graduate students in various institutions throughout the world.

Advisory Services: Dr. Austin has provided advisory services to private companies, governments, international development agencies, educational institutions, and nongovernmental organizations. He served as a Special Advisor to the White House.

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DEMAIS PARTICIPANTES:

CONVIDADO ORGANIZAÇÃO 1 Adriana Guzzi Escola do Futuro 2 Alberto Dwek Corretora Souza Barros Câmbio e Títulos 3 Alcely Barroso Microsoft 4 Aldaíza Sposati Prof.Titular PUC-SP / ex-Secret. Mun. Assist. Social SP 5 Alexandre Augusto Colli Consultor Imobiliário 6 Ana Carolina Chieregati Laboratório de Simulação e Controle 7 Ana Luiza Herzog Revista Exame / Guia de Sustentabilidade 8 André Furtado FranPress 9 Andrea Peçanha Instituto Ipê

10 Bruna Souza Portal Aprendiz 11 Cândida Morales Boemeke MBA FIA 12 Carolina Righi De Stefano Grupo Camargo Correa 13 Cláudio A. Pinheiro Machado Filho FEA/USP e CEATS/FIA 14 Dalton Martins Escola do Futuro 15 David Python SITAWI empréstimo social sustentado 16 Eduardo Pacheco Chaves Bauen PVG 17 Eduardo Szazi Szazi & Bechara Advogados 18 Eliane Pires Bianchi Ultrapar Participações 19 Elidia Novaes CEATS / FIA 20 Fernando Rossetti GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas 21 Fernando Stickel Fundação Stickel 22 Flavio Hourneaux Junior FEA / USP 23 Gilberto de A. Sampaio Real Estate Solutions 24 Graziella Comini FEA/USP e CEATS/FIA 25 Guilherme Tiezzi Value Builders 26 James Sinclair Harvard Business School Alumni Club – Brasil 27 Jason Dyett Harvard DRCLAS 28 José Carlos Kanner Boucinhas & Campos Educação 29 Juliana Damasceno Grupo Camargo Correa 30 Leonardo Letelier SITAWI empréstimo social sustentado 31 Luigi Giavina IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa 32 Marcela Paolino Instituto Rukha 33 Mário Luís Farah SAE Brasil 34 Maurício Dwek Engenharia 35 Merilee Grindle Harvard Kennedy School 36 Miriam Giavina 37 Monica Bose CEATS/FIA e PPGA/FEA 38 Patrícia Loyola MBA FIA 39 Paulo da Rocha Ferreira Borba CEATS/FIA e PPGA/FEA 40 Renata Brunetti Atuação Desenvolvimento de Projetos 41 Renata Guimarães Cintra Banco VR 42 Ricardo Reisen Harvard Brasil 43 Rosa Maria Fischer FEA/USP e CEATS/FIA 44 Rubens da Costa Santos FIA 45 Ruth Goldberg Goldberg e Associados 46 Sérgio Pace PPGA FEA 47 Sonia Bruck Bovespa 48 Tomás Galli de Amorim Harvard DRCLAS

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IV. PRO-MEMÓRIA

Rosa Maria Fischer

Podemos sobreviver a crises financeiras? Capital social e capital financeiro não determinam o

fim dos tempos, mas é momento de voltarmos a questionar pontos fortes e fracos do

empreendedorismo social, da responsabilidade social e nossa perspectiva e meios de navegar

nesse cenário, nos fortalecendo.

Todos aqui já tiveram a chance de refletir sobre esses pontos fortes e fracos. Essa busca pode

nos unir em prol do robustecimento de tais pontos fortes. Momentos de crise podem ser

oportunidades de mudança.

James Austin

Há duas crises: uma que envolve o setor financeiro global e outra na esfera econômica.

A crise financeira tem raízes na securitização, que permitiu juntar hipotecas com diferentes

categorias de risco, criando um instrumento que serviria como ponto de investimento em

qualquer parte do mundo. Isso é parte da globalização e aumenta a interdependência do

sistema financeiro global.

Por trás disso, está o sistema de comissões, que funciona como incentivo para gerar mais

transações, aumentar volume, sem preocupação com a qualidade do ativo – a hipoteca. Aliado

a isso está o boom do mercado imobiliário nos Estados Unidos, acompanhado pela falta de

meios de muitas pessoas para pagar o principal – a hipoteca. O mercado é muito pouco

regulado, não transparente, as compras e vendas são privadas. Isso impediu a mensuração

dos riscos. Quando alguns agentes não cobriram as hipotecas, ocorreu um efeito dominó, o

que causou falta de liquidez e congelamento dos mercados financeiros. E isso foi agravado

pelas altíssimas remunerações dos executivos, que não são vinculadas a performance.

A crise econômica teve início com um problema fiscal. Os Estados Unidos conheceram grande

excedente no orçamento fiscal de 2007, mas 2008 trouxe o segundo maior déficit da história do

país. Tomar empréstimos era a solução – o país tinha 3 trilhões de dólares em déficit,

decorrentes de gastos na guerra do Iraque, além da economia com menor taxa de crescimento.

A política fiscal, com redução de impostos para estimular o consumo e o investimento, não

funcionou. Não trouxe estímulo à economia real. Houve perda de mais de um milhão de postos

de trabalho. A taxa de poupança é quase inexistente nos EUA. Somada à inflação alta,

decorrente do aumento de preços do petróleo e de alimentos, criou um sistema de stag-flation,

onde a economia não cresce, mas há inflação.

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A conseqüência social disso é o forte desemprego, além de 3,5 milhões de pessoas sem suas

casas, o que implica em custo líquido para os bancos e custo pessoal para a população.

“Quando seu vizinho perde a casa, isso é recessão. Quando você perde a casa, isso é

depressão.” – Presidente Truman.

Implicações? O desafio da reinvenção do capitalismo de mercado.

Há quatro possibilidades que podem ser vistas como oportunidades, problemas ou ambos:

1. Realinhamento do poder no sistema global? Está havendo a incorporação de instituições e

países emergentes na tomada de decisão sobre o sistema financeiro global. As decisões

tendem a deixar de ser concentradas em mãos do G7, e passam a envolver o G20, com

voz e voto de todos. Reformas institucionais no funcionamento do sistema financeiro

mundial – Bancos, FMI, OMC. Haverá ajuste na distribuição do poder.

“A globalização não será acertada se todos não se beneficiarem. Deve haver nova

perspectiva.” – Lawrence Summers

2. Reforma fundamental na relação entre Estado e Mercado. Para muitos, o modelo neoliberal

é questionável. Jeff Hamilton, da GE, assumiu, recentemente, que o mercado não pode

solucionar tudo. Alan Greenspan mostrou-se surpreso ao admitir que a auto-regulação dos

mercados não funcionou.

Haverá muitas reformas nessa relação. Aumento da regulação dos setores, uma mão mais

visível do Estado, mais transparência, alinhamento de incentivos, mais accountability.

O desafio é pensar em transformações reais, sem voltar a práticas antigas de controle do

Estado. Já não funcionou. Há necessidade de criatividade para que haja a renovação na

relação entre Estado e Mercado.

3. Reformulação do papel das empresas na sociedade.

“Qual é a obrigação das empresas para com os pobres, na condição de stakeholders?” –

Michael Porter

“O capitalismo criativo deve ter a função de assegurar igualdade de oportunidades para

quem não teve acesso a recursos.” – Bill Gates

Pesquisa feita em diversas partes do mundo inquiria “você pensa que as grandes empresas

têm obrigação para com questões como violência etc.?”

5 a 10% responderam “não”

Cerca de 10% acharam que é “um pouco”

10% entenderam que “sim”

Mais de 40% acharam que “totalmente”

Há uma grande mudança no que a sociedade espera das empresas.

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Já emerge novo paradigma, onde a criação de valor se amplia e se agrega o papel de gerar

valor social. Valor social e valor econômico não são trade-offs. Não são excludentes, mas

sinérgicos. Ao gerar um corretamente, pode-se gerar o outro, num círculo virtuoso. Assim,

observa-se mais foco sobre a variável social.

4. Reinvenção do setor civil. De um mundo de filantropia e caridade para um mundo de

sustentabilidade. A exigência é que as ONGs absorvam práticas inteligentes e profissionais

do mundo empresarial para que sejam mais eficientes e eficazes. Que se tornem

“empresas sociais”, produzindo elevado retorno social e auto-sustentabilidade, com o uso

de mecanismos do mercado..

Por trás de todos os cenários possíveis, o conceito de independência dos três setores deve

mudar para sua interdependência. A magnitude dos problemas ultrapassa seu poder individual

para vencê-los e produzir soluções inovadoras.

Rosa Maria Fischer

O que nos reuniu aqui é a crença na transformação: política, social, organizacional, partindo da

possibilidade de transformação individual.

Rearranjo no conceito de nação. Ocorrendo pela via econômico-financeira, copiou os

procedimentos das velhas colonizações. Organismos como o FMI e a ONU precisam se recriar.

Quem vai promover o desenvolvimento? E a paz? Não há um sem o outro.

Nosso desafio consiste em revisitar as instituições nacionais como pensamos o Estado,

Mercado e as organizações da sociedade civil. Ainda trabalhamos com modelos do século XIX.

O grupo prosseguiu com reflexões a partir da provocação do professor Austin. Seguem algumas citações:

“A demanda por sustentabilidade e produtividade já existia no Terceiro Setor. Agora, temos

que ter efetividade com recursos escassos. Mas temos ferramentas, como venture capital,

private equity. A crise acentua a necessidade de mudanças, mas vemos a perspectiva dessas

mudanças adiante.”

(em resposta) “Tudo está mais escasso, mas não mirrou. Há espaço para idéias inovadoras e

para gerar valor social. O desafio é recusar velhas soluções.”

“Delfim Neto fez cronologia das ‘bolhas’ que estouraram nos últimos tempos. Esta é maior.

Mas quantas organizações e instituições não vão aproveitar o momento da crise? E será que

esta crise não vai ser esquecida na primeira melhora, sem que aprendamos a lição?”

“O investimento social privado é gordura ou cultura?”

”O desenvolvimento é baseado no consumo. É necessária a discussão dessa cultura.”

“O Estado deveria ter visão sistêmica, mas trabalha com temas setoriais.”

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“De alguma forma, acabamos analisando a crise como resultado da aplicação de meios

inadequados. Paramos no mesmo campo. Deve ser discutida a transformação dos fins. Na

inter-relação entre Estado, Sociedade e Mercado, há demanda por nova resposta e nova

inteligência do Estado. Pela tese de ‘demonização’, não se percebe o Estado com

inteligência, sem reproduzir a fragmentação.... É preocupante que nos descolemos dos fins. O

consumo deve ser visto em conjunto com o ambiente. O paradigma ‘homem civilizado’ deve

considerar que a relação de subordinação dos tempos coloniais precisa ser revista. O índio do

Brasil Colonial não era equivalente ao homem urbano. Devemos pensar a saída da crise,

considerando a civilidade humana.”

“Yunus diz que não se deve trabalhar a base da pirâmide através do consumo, e sim tirar as

pessoas dessa situação e, depois, apresentar-lhes o consumo. Mas qual consumo?... Como

financiar empresas sociais? Isso faz sentido em países desenvolvidos, mas como as

organizações podem trabalhar como empresas sociais aqui?”

“A crise pode trazer crescimento pessoal e organizacional, é tempo de perder a passividade e

de as organizações sem fins lucrativos atuarem como empresas sociais, sem depender de

doações e buscando novas fontes de recursos”.

“O “lado legal” da crise, segundo Yunus, é a oportunidade de refletir sobre a razão de existir,

de consumir... Até que ponto o cidadão deve ser visto como consumidor para ser incluído?”

“No longo prazo, há necessidade de diversificação do investimento social privado, sem

depender de grandes investimentos provenientes de grandes corporações.”

“O marco legal deve ser revisado, evitando a clandestinidade e a fraude.”

“Possibilidade de canalização de investimentos de forma semelhante à lei Rouanet. A AACD

está tentando algo nesse sentido junto à SUSEP, ainda sem sucesso.”

“É um momento histórico com uma crise real. Tempo de repensar coisas fundamentais sobre

papéis e oportunidades para transformar coisas que merecem transformação”.

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V. IMAGENS

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ANEXO – A REDE SEKN

A Rede SEKN (Social Enterprise Knowledge Network) procura romper as barreiras do conhecimento e da prática nos empreendimentos sociais através da pesquisa colaborativa, da aprendizagem compartilhada, do ensino centrado na participação e do fortalecimento das competências das instituições de educação executiva a serviço da comunidade. A Rede é coordenada pela Harvard Business School (HBS) e constituída por nove instituições de ensino superior ibero-americanas: Escuela de Graduados en Administración y Dirección de Empresas (EGADE); Escuela Superior de Administración y Dirección de Empresas (ESADE); Instituto de Estudios Superiores de Administración (IESA); Instituto Centroamericano de Administración de Empresas (INCAE); Pontificia Universidad Católica de Chile (PUCCh); Universidad de Los Andes (Uniandes); Universidad del Pacífico (UP); Universidad de San Andrés (UdeSA); e Universidade de São Paulo (USP).

O SEKN desenvolve pesquisas sobre áreas prioritárias no campo do Empreendedorismo Social. Seus membros selecionam coletivamente um único tema, elaboram um conjunto de questões comuns de pesquisa para, então, iniciar os trabalhos de campo. Em cada país, a pesquisa conduzida examina em profundidade situações da prática do empreendedorismo social dentro dos tópicos escolhidos. A análise desses casos resulta em documentos onde cada escola reúne e expõe suas experiências e as conclusões às quais chegou quanto às questões abordadas. Em contrapartida, esses casos de análise, específicos de cada país, provêem as bases para a realização de análises comparativas entre os países, de modo a identificar semelhanças e diferenças sobre o fenômeno em estudo.

Adicionalmente, os casos analíticos são utilizados para criar casos de ensino para uso nos cursos de Empreendedorismo Social desenvolvidos em cada escola. Os casos produzidos em cada instituição ficam disponíveis para adoção pelas demais escolas. Os casos também podem ser acessados por instituições externas ao SEKN através do sistema de distribuição de publicações da Harvard Business School.

PRIMEIRO CICLO (2001-2003)

O tópico de pesquisa para o ciclo 2001-2003 de pesquisa foi a colaboração entre empresas e ONGs. Como um dos principais pontos de referência empírica e teórica, essa pesquisa utilizou os achados e construtos da pesquisa sobre alianças intersetoriais nos Estados Unidos (Austin, James E. Parcerias: Fundamentos e Benefícios para o Terceiro Setor. São Paulo: Futura, 2001).

Nesse ciclo, o SEKN produziu o livro “Parcerias Sociais na América Latina: lições da colaboração entre empresas e organizações da sociedade civil” (versões em inglês, português e espanhol) e 24 casos pedagógicos com respectivas notas de ensino.

SEGUNDO CICLO (2003-2005)

Durante o ciclo 2003-2005, a rede abordou as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e empresas que procuraram servir suas comunidades de forma inovadora e efetiva. Foram analisadas as práticas de gestão empregadas por essas organizações para prover soluções eficientes às necessidades da comunidade.

Nesse ciclo, o SEKN produziu o livro “Effective Management of Social Enterprises: lessons from businesses and civil society organizations in Iberoamerica” (versões em inglês e espanhol) e 40 casos pedagógicos com suas respectivas notas de ensino.

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TERCEIRO CICLO (2006-2009)

A. TEMA E CONCEITOS

No presente ciclo, o SEKN investiga as iniciativas que procuram incluir os segmentos de baixa renda nas relações econômicas de mercado. Desta forma, a pesquisa examinará como os grupos de baixa renda podem ser efetivamente engajados em atividades de mercado que melhorem suas vidas como consumidores, produtores, fornecedores e parceiros dentro da cadeia de valor econômico.

O Ciclo III irá produzir pelo menos um livro e 40 casos com respectivas notas de ensino. Artigos sobre uma seleção desses casos já foram publicados pela ReVista: Harvard Review of Latin America na edição de Inverno de 2006.

Para este livro, o CEATS está elaborando um capítulo sobre a participação da população de baixa renda como empreendedora na cadeia produtiva de resíduos sólidos.

Conceitos: Valor Econômico e Valor Social

Neste ciclo da pesquisa, o maior esforço de análise orienta-se para a compreensão do que vêm a ser o valor econômico e o valor social gerados por um empreendimento social. O valor econômico é definido como “benefícios obtidos ou remunerados pelos receptores sempre e quando o preço exceda o custo” e, no caso de cooperativas e organizações sem fins lucrativos, é mensurado em termos de sustentabilidade financeira da organização, ou seja, sua capacidade de operar indefinidamente. Por sua vez, o valor social, é definido como “a busca do progresso social, mediante a remoção de barreiras que dificultam a inclusão, a ajuda a aqueles temporariamente debilitados ou que carecem de voz própria e a mitigação de efeitos secundários indesejáveis da atividade econômica”.

No Brasil, na presente etapa do projeto SEKN, estão sendo estudados casos de empreendedorismo social nos quais os segmentos de baixa renda desempenham, eles próprios, o papel de empreendedores no contexto de uma cadeia de produção. Ao apresentá-los, procura-se discutir o conceito e as práticas desse empreendedorismo, buscando identificar se e como estes podem contribuir para a construção de processos locais de desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável.

B. ORGANIZAÇÕES ANALISADAS PARA OS CASOS BRASILEIROS

Grupo Agropalma, considerado o mais importante produtor latino-americano de óleo extraído da palma, iniciou em 2001 o Projeto de Agricultura Familiar do Dendê nos municípios onde atua no Estado do Pará, região norte do Brasil. Por ser uma região caracterizada pela desigualdade socioeconômica, a empresa e o projeto exercem forte influência sobre o cotidiano das famílias de pequenos agricultores que aderiram à sua proposta. Ao propiciar a participação ativa dos agricultores familiares na cadeia produtiva do óleo de palma como fornecedores do fruto, a Agropalma conseguiu fazer com que essas pessoas, antes dedicadas apenas a culturas de subsistência, pudessem incorporar-se à dinâmica da moderna produção da economia local.

Asmare – Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável – foi fundada em 1990, na cidade de Belo Horizonte, por um grupo de moradores de rua que trabalhavam como catadores de papel. Apoiados pela Pastoral de Rua e visando a uma condição mais digna de sobrevivência, os 250 associados da Asmare, junto com seus parceiros, transformaram o lixo em objeto de trabalho, o que lhes propiciou meios de poupança coletiva e acesso à cidadania.

APAEB – Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1980 por um grupo de produtores de

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sisal mobilizados pela idéia de constituir uma cooperativa regional para garantir a comercialização dos produtos originários da agricultura familiar. Inicialmente, a associação visava obter preços mais justos para os agricultores na comercialização de fibras de sisal para indústrias têxteis, eliminando intermediários e atravessadores que retinham a maior parte do lucro obtido nas transações. Com esse objetivo, a APAEB organizou os produtores para vendas coletivas e viabilizou a comercialização direta com as indústrias. Buscando autonomia e sustentabilidade da iniciativa, direcionou esforços para atuar também no final da cadeia produtiva, construindo uma fábrica própria.

Coopa-Roca – Cooperativa de Trabalho Artesanal e de Costura da Rocinha – combina, coordena e gerencia o trabalho de mulheres moradoras de uma comunidade de baixa renda (Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro), produzindo peças artesanais para a confecção de roupas e artigos de decoração. Foi criada no início da década de 1980, tendo por missão gerar condições para que suas cooperadas trabalhem em suas residências e ampliem o orçamento familiar sem se afastarem do cuidado de seus filhos e das atividades domésticas. Sua estratégia e tipo de produção foram aprimorados ao longo do tempo e, em 2006 a cooperativa contava com aproximadamente 100 artesãs que produziam peças exclusivas para importantes parceiros do setor da moda, arte e design. A qualidade e o ineditismo dos trabalhos artesanais da Coopa-Roca conquistaram lugar de destaque no ramo da moda, com exposições e desfiles no Brasil e em outros países, como Inglaterra, Alemanha e França.

ORGANIZAÇÕES PARCEIRAS

Desde sua criação, o SEKN estabeleceu uma aliança estratégica com a Fundação AVINA. O surgimento e desenvolvimento da Rede não teriam sido possíveis sem o suporte multifacetado da Fundação. Desde o começo, o relacionamento com a AVINA foi visto pelos membros SEKN mais como uma parceria do que um acordo doador-receptor. Tanto para o SEKN como para a AVINA, a natureza do relacionamento evoluiu no processo mútuo de aprendizado e descobertas. Essa busca baseou-se no potencial de cada participante para gerar valor social conjunto e absorver as sinergias entre Fundação e Rede.

O SEKN também estabeleceu relacionamentos com outras redes e instituições internacionais onde existem sinergias produtivas para gerar e difundir seu conhecimento. São elas:

O David Rockefeller Center de Estudos sobre a América Latina, da Harvard University

O BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

A University Network para o Empreendedorismo Social, da qual o SEKN é co-fundador, em conjunto com a Ashoka e a Saïd Business School, da University of Oxford

O CEATS NO SEKN

Representando a FEA/USP, o CEATS é a única organização brasileira no SEKN. Esta participação já rendeu, nos Ciclos I e II, dois capítulos de livro, oito casos de ensino e suas respectivas notas de ensino, entre outras publicações.

Capítulos de livro

Brasil: compreender a influência da cultura organizacional no desenvolvimento de alianças. In: SEKN; AUSTIN, James E. (Ed.); FISCHER, Rosa Maria; et al. Parcerias sociais na América Latina: lições da colaboração entre empresas e organizações da sociedade civil. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2005.

Organizational culture in social enterprise. In: SEKN; AUSTIN, James E. (Ed.); FISCHER, Rosa Maria; et al. Effective management of social enterprises: lessons from businesses and civil society organizations in Iberoamerica. David Rockefeller Center for Latin American Studies, HBS; SEKN, 2006.

REFLEXÃO “A CRISE E SEUS IMPACTOS SOCIAIS” – NOVEMBRO DE 2008

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Estudos de Caso

Corrente Viva: o feixe de bambu e o desafio da sustentabilidade

Grupo Orsa: o desenvolvimento sustentável na Amazônia

IDEC e a saga da auto-sustentação

Natura-Ekos: da floresta a Cajamar

Natura e Matilde: a boa vizinhança

Prêmio Educação e Participação: parceria Itaú – CENPEC – UNICEF

Samarco: o papel da empresa no empoderamento das pessoas

TELEMIG Celular e a garantia dos direitos da criança e do adolescente

OS CASOS PRODUZIDOS NO CICLO III ESTÃO EM FASE DE APROVAÇÃO PELA HBSP.

REFLEXÃO “A CRISE E SEUS IMPACTOS SOCIAIS” – NOVEMBRO DE 2008

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ÍNDICE

I. ESCOPO ............................................................................................................................... 2

II. O CEATS / FIA...................................................................................................................... 2

III. DETALHAMENTO DA REFLEXÃO ..................................................................................... 5

IV. PRO-MEMÓRIA .................................................................................................................... 7

V. IMAGENS............................................................................................................................ 11

ANEXO – A REDE SEKN................................................................................................................ 12

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