a criatividade na empresa - parte 1

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A CRIATIVIDADE NA EMPRESA I O assunto criatividade nas empresas tem sido objeto de inúmeras pesquisas. No início, estas pesquisas estavam atreladas às pesquisas sobre inteligência, já que se acreditava que a criatividade aumentaria com o aumento da inteligência. Segundo o famoso psicólogo americano J.P. Guilford “o exame do conteúdo dos testes de inteligência revelaram muito pouco de que existia algo de natureza criativa; muitas pessoas acreditam que o talento criativo deve ser creditado à inteligência elevada ou alto QI. Esta concepção não só é inadequada como também foi a responsável pela falta de progresso no entendimento do que seja uma pessoa criativa”. Com o aprofundamento das pesquisas na área da neurociência, foi revelado que o cérebro humano tem suas áreas especializadas interligadas e interdependentes e que havia total possibilidade da criatividade estar umbilicalmente ligada às inteligências. Para nós leigos da neurociência, só entendíamos a palavra inteligência como sendo sinônimo de intelecto, racionalidade. Mas começamos a entender os vários significados dela a partir das pesquisas publicadas por Howard Gardner, da Universidade de Harvard, que revelaram possuirmos sete inteligências. Mais tarde, com a publicação do livro “A inteligência emocional”, de Daniel Goleman, ficamos familiarizados, pelo menos, com duas: a inteligência racional e a inteligência emocional. Bem, vou voltar ao tema do artigo. Assim como existem essas duas inteligências, podemos dizer que também existem duas criatividades: a criatividade racional e a criatividade emocional. Os processos criativos: “Pensamento lateral”, desenvolvido por Edward de Bono; O Brainstorming, por Alex Osborn; e o Synectics, por Prince e Gordon, e todos os outros processos atualmente em uso nas empresas, têm base na inteligência racional, buscando a criatividade ou por meio de conexões analógicas ou

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Page 1: A  Criatividade na Empresa - Parte 1

A CRIATIVIDADE NA EMPRESA I

O assunto criatividade nas empresas tem sido objeto de inúmeras pesquisas. No

início, estas pesquisas estavam atreladas às pesquisas sobre inteligência, já que se

acreditava que a criatividade aumentaria com o aumento da inteligência. Segundo

o famoso psicólogo americano J.P. Guilford “o exame do conteúdo dos testes de

inteligência revelaram muito pouco de que existia algo de natureza criativa;

muitas pessoas acreditam que o talento criativo deve ser creditado à inteligência

elevada ou alto QI. Esta concepção não só é inadequada como também foi a

responsável pela falta de progresso no entendimento do que seja uma pessoa

criativa”.

Com o aprofundamento das pesquisas na área da neurociência, foi revelado que

o cérebro humano tem suas áreas especializadas interligadas e interdependentes

e que havia total possibilidade da criatividade estar umbilicalmente ligada às

inteligências. Para nós leigos da neurociência, só entendíamos a palavra

inteligência como sendo sinônimo de intelecto, racionalidade. Mas começamos a

entender os vários significados dela a partir das pesquisas publicadas por Howard

Gardner, da Universidade de Harvard, que revelaram possuirmos sete

inteligências. Mais tarde, com a publicação do livro “A inteligência emocional”, de

Daniel Goleman, ficamos familiarizados, pelo menos, com duas: a inteligência

racional e a inteligência emocional.

Bem, vou voltar ao tema do artigo. Assim como existem essas duas inteligências,

podemos dizer que também existem duas criatividades: a criatividade racional e a

criatividade emocional.

Os processos criativos: “Pensamento lateral”, desenvolvido por Edward de Bono;

O Brainstorming, por Alex Osborn; e o Synectics, por Prince e Gordon, e todos os

outros processos atualmente em uso nas empresas, têm base na inteligência

racional, buscando a criatividade ou por meio de conexões analógicas ou

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provocando reestruturação de algum modelo existente através de

questionamento.

As pesquisas do neurocientista Paul McLean já tinham mostrado ao mundo a

teoria do cérebro triuno, que revelou os potenciais humanos latentes no sistema

límbico (alguns autores chamam de “mamelian” por ter surgido com os

mamíferos), que veio a ser conhecido como “a sede das emoções”. Em 1982,

realizei uma consultoria para a Petrobras, na área de engenharia, onde as

emoções positivas eram estimuladas para melhorar o resultado de um projeto.

Naquela época, no entanto, não se cogitava que a melhoria pudesse ser

proveniente de outra inteligência que não fosse a racional.

Eu creio que a maioria que fala da inteligência emocional tem dificuldade de

explicar o mecanismo de seu funcionamento, pois é um assunto ainda em

discussão na área da neurociência. Por exemplo: qual a sua origem e seu

processamento dentro do mecanismo cerebral? Sua exteriorização se dá pela

linguagem humana (racional)? Ou somente demonstrada pelas reações do corpo

(“O corpo fala”)?

Uma coisa é certa, e que interessa a este texto no momento: a criatividade

emocional é pouco aplicada nas empresas, o que é uma pena!

Desde 1982 tenho tido trabalhos aplicando a criatividade emocional, usando os

potenciais latentes, revelados por McLean, com a finalidade de melhorar

planejamentos, processos e projetos. Há pouco tempo, tivemos resultados

bastante significativos com a aplicação da criatividade emocional em um projeto

petroquímico, mas anteriormente já aplicávamos na gestão, seja no processo

decisório seja no planejamento estratégico.

Os resultados que tenho conseguido com a criatividade emocional, ou seja, com

uso das emoções positivas (emoções produtivas, para alguns), são bem melhores

do que os resultados provenientes da criatividade racional. E os resultados não

são pouco melhores, são muito melhores! Se você estiver interessado em mais

Page 3: A  Criatividade na Empresa - Parte 1

detalhes peço se reportar ao site www.embrascon.com porque lá você vai

encontrar resultados da prática das emoções nos negócios.

Um detalhe: tanto a inteligência emocional quanto a criatividade emocional

quando se comunicam com o exterior o fazem pela linguagem, que é um atributo

da inteligência racional. Assim sendo, me parece que o único canal de saída, ou de

comunicação, da inteligência/criatividade emocional, pela linguagem, é através

do lóbulo frontal esquerdo do neocortex, esse como sabemos é a última camada

evolutiva do cérebro humano, que é a sede da razão.

Minha interpretação deste fato é que as emoções são o combustível para

dinamizar a inteligência/criatividade racional, resultando por isso um produto

quantitativamente maior. Este produto então foi rotulado de inteligência

emocional ou, em se tratando de criatividade, de criatividade emocional.

Mas todo cuidado é pouco quando se trabalha com emoções porque o resultado

vai depender do estímulo: se positivo (produtivo) ou se negativo (destrutivo). Se o

estímulo for positivo o produto pode resultar quantitativamente e

qualitativamente melhor (mais alegria, felicidade, amizade, amor, cooperação,

altruísmo, humildade, simpatia, gratidão, admiração, etc.), mas se o estímulo for

negativo o produto dará resultado inverso (mais tristeza, vergonha, culpa,

embaraço, indignação, desprezo, medo, inveja, revanche, repulsa, etc.).

Todo aquele que quiser desenvolver inteligência/criatividade emocional na

empresa deve cuidar para que o seu foco esteja nos estímulos, do contrário pode

dar o resultado inverso, como dito acima. A psicologia organizacional tem as

ferramentas necessárias para desenvolver nas pessoas, no trabalho, os estímulos

adequados.

Existem outros aspectos quando se escreve sobre criatividade, como por

exemplo: a influência da idade, a influência da especialidade, o valor do grupo

integrado, a influência da hierarquia, etc. São aspectos que abordarei em próximo

artigo.