a cova do terto: sacrÍfio e devoÇÃo em valenÇa - pi

23
1 A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI NOS ANOS 2000 Francisca Márcia Costa de Souza 1 RESUMO A pretensão desse artigo é investigar as atitudes de devoção popular ao finado Tertuliano, especialmente na Cova do Terto, em Valença - PI, nos anos 2000, através do olhar etnográfico sobre os Cadernos de pedidos de Graças, Graças alcançadas, fotografias, bilhetes dos devotos e ex-votos. A Cova do Terto é uma capela construída sobre a sepultura do Tertualiano, como testemunho de uma graça alcançada por um devoto. Tertuliano é mais conhecido em Valença, no Estado do Piauí, como “Terto”, após o diagnóstico de sua doença (hanseníase), sofreu com as intervenções da saúde pública da época (1930 - 1940), que favorecia o isolamento e o internamento compulsórios. O estigma da doença atingiu toda a sua família. Depois de sua morte, o corpo de “Terto” não teve uma sepultura no Cemitério São Benedito, muito menos os rituais de despedida e enterramento. A história de sofrimento do Tertuliano o faz associar - se ao sacrifício de Jesus na cruz. Por sacrifício, tendo em vista a obra de Marcel Mauss e Henri Hubert -, Sobre sacrifício, entende -se uma dádiva, um oferecimento aos seres divinos aos se pretende ligar - se. O padecimento do corpo o expurga dos males da terra e o devolver aos seres sagrados, transmitido aos indivíduos comuns as benesses do gesto do sacrifício, ou melhor, dividindo as coisas espiritualizadas aos seres espirituais. Assim, é entendida a passagem do corpo doente, mundano, ao espaço da espiritualidade, que, no Brasil, dá - se através da prática ou o ritual de devoção dito popular, que consiste na manifestação de fé e do sentimento religioso diante do santo. Nesse caso, “Terto” é um santo do povo, ou pode - se chama - lo de alma milagrosa ou santo não canonizado. Para esse estudo, ele tem a denominação de alma milagrosa. Em todo o Brasil há várias manifestações de almas milagrosas, como também estudos sobre elas, tanto no âmbito da história quanto no viés da antropologia. PALAVRAS-CHAVE: Cova do Terto. Cultura popular. Devoção. Sacrifício. Valença PI. 1 INTRODUÇÃO Esta investigação de natureza histórico-antropológica busca compreender a devoção popular a Tertuliano, na cidade de Valença-PI, nos anos 2000. Tertuliano José Lima nasceu em Valença no dia 15 de Julho de 1925 e faleceu na referida cidade em 22 de Dezembro de 1948. É popularmente conhecido como Terto, contraiu hanseníase na década de 1940. 1 Mestrado em História do Brasil pelo Programa de Mestrado da Universidade Federal do Piauí UFPI. Especialização em História Sociocultural pela Universidade Estadual do Piauí UESPI. Técnico em Educação Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI. Membro do grupo de pesquisa CNPq/UFPI “Memória, Ensino e Patrimônio Cultural”, líder professora Dr. Áurea da Paz Pinheiro. E-mail: [email protected]

Upload: phamkhuong

Post on 08-Jan-2017

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

1

A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA

- PI NOS ANOS 2000

Francisca Márcia Costa de Souza1

RESUMO

A pretensão desse artigo é investigar as atitudes de devoção popular ao finado Tertuliano,

especialmente na Cova do Terto, em Valença - PI, nos anos 2000, através do olhar etnográfico

sobre os Cadernos de pedidos de Graças, Graças alcançadas, fotografias, bilhetes dos devotos

e ex-votos. A Cova do Terto é uma capela construída sobre a sepultura do Tertualiano, como

testemunho de uma graça alcançada por um devoto. Tertuliano é mais conhecido em Valença,

no Estado do Piauí, como “Terto”, após o diagnóstico de sua doença (hanseníase), sofreu com

as intervenções da saúde pública da época (1930 - 1940), que favorecia o isolamento e o

internamento compulsórios. O estigma da doença atingiu toda a sua família. Depois de sua

morte, o corpo de “Terto” não teve uma sepultura no Cemitério São Benedito, muito menos

os rituais de despedida e enterramento. A história de sofrimento do Tertuliano o faz associar -

se ao sacrifício de Jesus na cruz. Por sacrifício, tendo em vista a obra de Marcel Mauss e

Henri Hubert -, Sobre sacrifício, entende -se uma dádiva, um oferecimento aos seres divinos

aos se pretende ligar - se. O padecimento do corpo o expurga dos males da terra e o devolver

aos seres sagrados, transmitido aos indivíduos comuns as benesses do gesto do sacrifício, ou

melhor, dividindo as coisas espiritualizadas aos seres espirituais. Assim, é entendida a

passagem do corpo doente, mundano, ao espaço da espiritualidade, que, no Brasil, dá - se

através da prática ou o ritual de devoção dito popular, que consiste na manifestação de fé e do

sentimento religioso diante do santo. Nesse caso, “Terto” é um santo do povo, ou pode - se

chama - lo de alma milagrosa ou santo não canonizado. Para esse estudo, ele tem a

denominação de alma milagrosa. Em todo o Brasil há várias manifestações de almas

milagrosas, como também estudos sobre elas, tanto no âmbito da história quanto no viés da

antropologia.

PALAVRAS-CHAVE:

Cova do Terto. Cultura popular. Devoção. Sacrifício. Valença – PI.

1 INTRODUÇÃO

Esta investigação de natureza histórico-antropológica busca compreender a devoção

popular a Tertuliano, na cidade de Valença-PI, nos anos 2000. Tertuliano José Lima nasceu

em Valença no dia 15 de Julho de 1925 e faleceu na referida cidade em 22 de Dezembro de

1948. É popularmente conhecido como Terto, contraiu hanseníase na década de 1940.

1 Mestrado em História do Brasil pelo Programa de Mestrado da Universidade Federal do Piauí – UFPI.

Especialização em História Sociocultural pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Técnico em Educação –

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí - IFPI. Membro do grupo de pesquisa CNPq/UFPI

“Memória, Ensino e Patrimônio Cultural”, líder professora Dr. Áurea da Paz Pinheiro. E-mail:

[email protected]

Page 2: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

2

Tertuliano e sua família foram vítimas da mentalidade da época, o que reflete a maneira como

foram tratados pela população. Conforme o estudo de Damasco (2005), que se debruçou sobre

a história e memória dos enfermos da lepra no século XX, é marcada por políticas rigorosas

que perpassam especialmente a separação do doente da família e o isolamento social, que se

mostraram ineficazes quanto ao tratamento e também quanto ao esclarecimento sobre a

doença, provocando preconceito e estigma que geralmente envolvem o infectado e a família, o

que pode prevalecer até os dias de hoje.

A história social da hanseníase no Brasil é marcada por diversos aspectos, tais como

a implementação de rigorosas políticas públicas de saúde pelos governos vigentes e

pelos médicos especializados na área, segregação e isolamento dos pacientes da

sociedade dita sadia, tratamentos ineficazes e dolorosos, além de todo preconceito e

estigma que envolve a doença até hoje (DAMASCO, 2005, p. 8).

Ainda, segundo a referida autora, é a partir da década 1930 que ocorre o processo de

isolamento compulsório em hospitais-colônia. O marco oficial desse tipo de política de saúde

foi a Lei n. 610, em 1949. Assim, a época em que foi acometido pela doença, Terto sofreu

diretamente com essas políticas de saúde pública acerca da lepra no Brasil.

A partir da década de 1930, o processo de isolar compulsoriamente pacientes em

hospitais-colônia já era realizado por alguns governos estaduais com o, por exemplo,

São Paulo, Minas Gerais e mais tarde Rio de Janeiro, por iniciativa principalmente

de instituições filantrópicas. O isolamento passa a ser oficializado, com a Lei nº610

de janeiro de 1949, para todas as Unidades da Federação a partir da Campanha

Contra Lepra, organizada pelo Serviço Nacional de Lepra, criado em 1941.

(DAMASCO, 2005, p. 16).

A Lepra, hanseníase ou mal de Lázaro é uma doença contagiosa causada pelo

mycobacterium leprae ou bacilo-de-hansen. A década de 1970 é marcada por avanços quanto

a tratamento da lepra. Nesse sentido, há o esforço de substituir o termo lepra por hanseníase,

com o intuito de diminuir o estigma e o preconceito acerca da doença. Além disso, houve a

descentralização do programa de tratamento da hanseníase. A doença afeta a pele e os nervos,

o que provoca, quando não tratada, danos graves. A lepra tem a denominação hanseníase em

homenagem ao descobridor do microorganismo que provoca a doença, Gerhar Hansen. Além

disso, é conhecida como a doença mais antiga do mundo, pois tem a afetado os homens há

quatro mil anos. Os primeiros registros da doença foram encontrados no Egito antigo, datados

dos anos de 1350 a. C. O tratamento dessa doença é longo, os primeiros sintomas demoram

cerca de cinco anos para aparecerem, a doença pode causar danos físicos, incapacidade

motora, deformidades, mas atualmente tem cura, o tratamento é fornecido no Brasil

gratuitamente.

Page 3: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

3

Nos dias atuais já está comprovado que a hanseníase tem cura se o tratamento for

seguido da maneira correta e com responsabilidade, pois muitos pacientes, por falta

de recursos e informação, abandonam o tratamento, o que pode ocasionar reações

terríveis e de difícil reversão. Os doentes são tratados em ambulatórios municipais e

fazem uso diariamente de comprimidos que são distribuídos gratuitamente pelo

governo. A prática de isolamento não existe mais em nenhuma região do país, pelo

menos oficialmente. No entanto, ainda há ex-pacientes que moram em hospitais-

colônias desativados, em companhia das novas famílias que constituíram no período

em que foram internos. Estes ex-pacientes optaram por permanecer nos hospitais

porque já haviam estruturado suas vidas pessoais e profissionais nessas localidades.

Além desse fato, muitos ex-internos não retornaram ao convívio social porque a

família de origem os abandonou na época em que foram segregados (DAMASCO,

2005, p. 19).

Figura 1: Homem afetado pela lepra.

Fonte Wikipedia.

Por outro lado, não é a pretensão desta reflexão privilegiar detidamente sobre a doença

que acometeu ao finado Terto, tampouco tratar das questões que atravessam o campo

historiográfico da saúde e das doenças 2. Essa investigação alinha-se no campo da

religiosidade popular brasileira, marcada pelo processo de construção de santidade e práticas

rituais fora das classes eclesiais, mas não inteiramente dissociada delas, uma vez que traz

consigo práticas votivas, rituais católicos, como a recitação de orações, o uso de terços e

devoção a santos católicos. “A religiosidade popular, com frequência, não se apresenta

purificada de elementos alheios à fé cristã. A tradição do povo pode enriquecer muito a vida

22 Para aprofundar possíveis questionamentos acerca do estudo histórico da saúde e da doença cf.: DAMASCO,

Mariana Santos. História e memória da Hanseníase no Brasil do século XX: o olhar e a voz do paciente.

2005. 50 f. Monografia. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ. Departamento de

História. Orientada pela Dra. Margarida de Souza Neves; BORGES, Antônio. Fragmentos da vida. Salvador: Ed.

Helvécia, 2000; SANTOS, Conceição Aparecida dos. Como nascem os santos: o caso Maia Bueno. Curitiba,

2010. 190 f. Dissertação – Mestrado em Antropologia Social – Setor de Ciências humanas, letras e artes,

Universidade Federal do Paraná. Orientador Dra. Sandra Jacqueline Stoll.

Page 4: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

4

religiosa” (SILVA, 2011, p. 192). O catolicismo popular é fruto de várias práticas das culturas

indígenas, africana e portuguesa, reflexo da formação religiosa brasileira marcada pela ausência

de religiosos na atividade de atender aos santos ofícios e organizar as regras dos cultos e festas

religiosas, muitas vezes deixadas a cargo das irmandades.

Figura 2: A cova do Terto está localiza na

cidade de Valença, Centro-Norte Piauiense, há

216 Km da capital Teresina. Fonte Wikipédia.

Nesse sentido, observamos que é comum no Brasil a devoção as almas milagrosas.

Para os cristãos só os homens têm o privilégio de possuir uma alma, ela é considerada uma

criação divina de Deus. Para este estudo, dialogamos com LE GOFF; SCHMITT (2002), para

eles há na tradição ocidental a associação entre alma e corpo como definidores de uma pessoa.

A tradição judaico-cristã inscreveu corpo e alma no devir da humanidade, ou seja, na crença

na ressurreição dos mortos e no Juízo Final, atravessando o martírio de cristo. O homem é

imagem de Deus na parte superior da alma, que não deixa de carregar a marca do divino

mesmo que o seu corpo seja atravessado por chagas, sofrimento e morte, essa fraqueza é

apenas temporária. Assim, entendemos a passagem do corpo doente do finado Terto,

conhecido carteiro da cidade de Valença- PI, ao sagrado, considerado pela população uma

alma milagreira.

Geralmente, esses ‘santos’ experienciaram momentos intensos durante a vida, o que,

de certa forma, marcou o corpo de forma definitiva: doenças, traumas, santidade, injustiça. No

caso das doenças, geralmente foram segregadas da sociedade, o corpo padeceu física e

Page 5: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

5

socialmente. Já os traumas estão relacionados a raptos, estupros, especialmente associados às

crianças. Quanto à santidade, podemos dizer que são aqueles sujeitos que demonstraram ter

atenção, sentimento e caridade. A injustiça é outro critério que constitui o santo popular.

Sofrer agravos injustamente e padecer por esta razão. Nesse sentido, observamos que no

Brasil é comum a devoção as almas milagrosas. Para tanto, é necessário atentar para os rituais

que atravessam as práticas de devoção. Geralmente, esses ‘santos’ experienciaram momentos

intensos durante a vida, o que, de certa forma, marcou o corpo de forma definitiva: doenças,

traumas, santidade, injustiça. No caso das doenças, geralmente foram segregadas da

sociedade, o corpo padeceu física e socialmente. Já os traumas estão relacionados a raptos,

estupros, especialmente associados às crianças. Quanto à santidade, podemos dizer que são

aqueles sujeitos que demonstraram ter atenção, sentimento e caridade. A injustiça é outro

critério que constitui o santo popular. Sofrer agravos injustamente e padecer por esta razão.

Terto padeceu físico e socialmente, quanto ao primeiro aspecto, a doença, já que não

temos imagem de como fora afetado pela doença, deve ter causado séria lesões, uma vez que

ele faleceu devido a doença; já o segundo, denota o desprezo que sofreu socialmente, uma vez

que não pode ser enterrado no cemitério da cidade, muito menos ser assistido pelos rituais de

morte, como a missa de corpo presente na capela do cemitério São Benedito.

Figura 3: Capela em que, antigamente, o

corpo do defunto era posto diretamente

sobre a pedra. Atualmente o caixão é

Page 6: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

6

aberto sobre essa estrutura. Nesta

ocasião o morto é velado, os familiares e

amigos rezam e acendem velas, o padre a

acompanha, geralmente, esse ritual de

despedida e enterramento. A pedra ainda

composta por um pequeno altar com

múltiplas manifestações devoção aos

santos católicos e uma cruz no alto.

Valença-PI. Foto Márcia Costa, 2013.

Após os atos solenes que envolvem o morto na capela do cemitério São Benedito, a

procissão sai em direção ao túmulo em que será sepultado. Os familiares e parentes próximos

carregam o caixão, bem como são eles que cumprem com o ritual do choro pelo morto. Para

Michel Vovelle (1991), a morte barroca se relaciona a mobilização coletiva e preocupação

com a finitude da vida, não por temer a morte, mas por preocupar-se com a além vida. Por

isso que os vivos prestavam serviços aos mortos quanto aos rituais de pós-morte como as

missas, as orações, as visitas, os objetos que revelam as preferencias e o desejo de comunicar-

se com o divino. A figura de anjos que decoram os túmulos, as coroas de flores que dão

vivacidade e cor, as fotografias que dão cara ao morto, as quais tornam presente o corpo

ausente, as mensagens encravadas na superfície dos jazigos, as estátuas de Maria cujas mãos

direcionam-se para o céu, evidenciando a redenção e a necessidade que os mortos alcancem a

vida eterna.

Figura 4: Foto de um casal emoldurando, no interior de um similar

altar doméstico, em que geralmente compõe-se foto dos familiares,

terços, bíblias, santos diversos. Além disso, os arranjos de flores

refletem um cuidado e a presença dos parentes. Assim, esses

elementos são detalhes que permitem compreender a relação entre

mortos e familiares, uma relação sentimental e afetuosa revelada

Page 7: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

7

por meio da leitura etnográfica de um túmulo no cemitério São

Benedito. Valença - Piauí. Foto Márcia Costa, 2013.

Assim, finado Terto não teve esse ritual de morte; não foi sepultado no Cemitério São

Benedito, mas em uma cova separada, há poucos metros daquele espaço. Por outro lado, a

pesquisa não alcançou a devoção ao Terto em suas primeiras manifestações, pois a

problemática de pesquisa tenta dar contar da prática religiosa a ele a partir dos anos 2000,

uma vez que foi nessa ocasião que foi erigida uma capela sobre a cova de Tertuliano. Assim, a

Cova de Tertuliano deixa de ser um simples e desconhecido túmulo; hoje, é constituído por

uma capela, aliás, muito frequentada por centenas de fieis, os quais fazem pedidos de

proteção, pagam promessas, registram as graças alcançadas com a intercessão de Terto.

Figura 5: A Cova do Terto é um complexo constituído por uma

capela que abriga o túmulo do Terto, um cruzeiro e terraço que

circunda toda a cova, em que, geralmente, ocorrem as missas em

dia de finados e celebrações no aniversário de morte do Terto.

Valença-PI. Foto Márcia Costa, 2014.

Para o entendimento dessa devoção ao Tertualiano, é necessário atentar para os rituais

que atravessam as práticas de devoção, geralmente são pistas e rastros deixados pelos devotos

que visitam a cova do Terto diariamente e especialmente no dia de finados e no aniversário de

morte. Os dois momentos se mostraram reveladores das atitudes e práticas do homem

piauiense em relação aos mortos.

Essa data litúrgica, 02 de novembro, entendida pela Igreja Católica como o dia da

celebração de vida eterna das pessoas queridas que já faleceram, consiste na visita

aos cemitérios, acender velas, orar por estes entes, celebrar missas em sufrágio de

suas almas e depositar flores nos seus túmulos. Trata-se de uma prática tradicional.

Por outro lado, para chegarmos ao objeto de investigação, foi fundamental, entre

várias outras leituras, a problematização do conceito, entro outros, de cultura e sacrifício. Para

pensá-lo recorremos a reflexão de Mauss; Hubert (2005).

Page 8: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

8

A palavra sugere imediatamente a ideia de consagração: em todo o sacrifício um

objeto passado do domínio comum ao domínio religioso – ele é consagrado. Mas a

consagrações não são todas da mesma natureza. Há aquelas que esgotam seus efeitos

no objeto consagrado (unção – personalidade religiosa do rei é modificada); fora

dela nada é alterado. No sacrifício, ao contrário, a consagração irradia-se para além

da coisa consagrada, atingindo, entre outras coisas, a pessoa moral que encarrega da

cerimônia. O fiel que forneceu a vítima, objeto da consagração, não é no final da

operação o que era no começo. Ele adquiriu um caráter religioso que não possuía, ou

se desembaraçou de um caráter desfavorável que o afligia; elevou-se a um estado de

graça ou saiu de um estado de pecado (MAUSS; HUBERT, 2005, p. 15-16).

Entendemos sacrifício como uma dádiva, um oferecimento aos seres divinos aos se

pretende ligar - se. O padecimento do corpo o expurga dos males da terra e o devolver aos

seres sagrados, transmitido aos indivíduos comuns às benesses do gesto do sacrifício, ou

melhor, dividindo as coisas espiritualizadas aos seres espirituais. Assim, é entendida a

passagem do corpo doente, mundano, ao espaço da espiritualidade, que, no Brasil, dá - se

através da prática ou o ritual de devoção dito popular, que consiste na manifestação de fé e do

sentimento religioso diante do santo.

Quanto à metodologia de construção de fontes e tratamento delas foi realizada a

pesquisa de campo, método etnográfico, observação participante; utilizado o método

indiciário para a feitura das entrevistas, apoiadas na metodologia/técnica da História Oral,

bem como a catalogação e análise dos cadernos de Graças Alcançadas e dos Pedidos de

Graças. Além disso, foram trabalhados os bilhetes, as fotografias e alguns poucos ex-votos

deixados na cova pelos devotos. Assim, esse milagreiro é consagrado pelos rituais religiosos

dos devotos, eleito como santo popular ou alma milagrosa capaz de promoverem milagres, o

que por sua vez, o fieis lhes prestam homenagens. São santos não oficiais, mas seus cultos

traduzem uma intensa manifestação da religiosidade brasileira.

2 RELIGIOSIDADE BRASILEIRA – A DEVOÇÃO AS ALMAS MILAGROSAS

A devoção aos santos não canonizados no Brasil é ampla, bem como os rituais, as

práticas e atitudes religiosas dos devotos. Em Curitiba há o culto a santa não-canônica, Maria

Bueno. A princípio o espaço de devoção era o terreno baldio onde foi morta. Contudo, com o

passar dos anos, a devoção passou a ser no cemitério São Francisco de Paula na cidade de

Curitiba. Em 1960 mais uma vez a devoção é deslocada para o mausoléu em sua homenagem.

Maria Bueno era pobre. Foi encontrada decapitada em 1893. José Inácio Diniz foi acusado do

crime, mas logo absolvido. Os primeiros relatos de milagres surgiram logo após sua morte. O

dia dos mortos é o momento propicio para os devotos pedirem e realizarem ex-votos. Uma

profusão de fieis acendem velas, levam flores e fazem orações. Na cidade de Petrópolis, no

Page 9: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

9

Estado do Rio de Janeiro, existe o culto ao menino milagreiro, Francisquinho ou Anjinho

Petropolitano. O espaço de devoção é sua sepultura no cemitério Municipal, em troca de

milagres os devotos depositam brinquedos no túmulo.

No nordeste brasileiro, a história do menino Roldão, o Ciganinho, é marcada por um

massacre em que seus familiares foram vitimados por um tiroteio proporcionado pela Polícia

Militar do Piauí, no início do século XX. Os ciganos foram acusados de andarem armados e

de praticarem depredações e furtos. Para coibir essas ações consideradas ofensivas, a polícia

conseguiu alcançá-lo no povoado Retiro da Boa Esperança, hoje a cidade de Esperantina. Do

tiroteio, vários ciganos caíram mortos, inclusive uma criança. Os mortos foram colocados em

sepultura única e o velório ocorreu sob algumas mangueiras. Nessas condições, especialmente

quando se trata da ausência do ritual de morte ocidental, a população passou a venerá-los,

transformando o local de seu sepultamento em espaço de peregrinação religiosa.

Figura 6: Túmulo de Francisco José Alves Souto Filho, morreu

em 1872, aos três anos de idade. Vários brinquedos são

depositados no túmulo como ex-voto, em ação de graça ao

pedido alcançado. O menino foi apelidado de Anjinho

milagreiro em virtude da estátua de anjo sobre o túmulo. Foto

Tribuna de Petrópolis, 2014.

Page 10: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

10

Figura 7: Fiéis acendem velas no túmulo

do ciganinho em dia de finados.

Esperantina- PI. Foto Maria Auxiliadora,

s/a.

A devoção ao ciganinho é marcada por preces, orações e histórias e memórias de fé e

cura, como a que podemos conhecer através da narrativa tecida por Bernadete: “Dona

Bernardete Rodrigues, ao submeter-se a uma cirurgia cardíaca, sua mãe fez uma promessa ao

Ciganinho que, se tivesse êxito na cirurgia, depositaria um ex-voto em forma de coração no

túmulo do cigano”. Os santuários são os locais sagrados em que os homens religiosos

depositam seus ex-votos, como agradecimento a uma graça concedida pelo divino. O túmulo

do Ciganinho Roldão tornou-se um santuário rico em expressões de devoção a esta criança.

Figura 8: Manifestação da devoção popular ao ciganinho. Ex-votos

diversos depositados na capela em que abriga o túmulo da criança

milagreira. Esperantina-PI. Foto Maria Auxiliadora, s/a.

Page 11: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

11

Já em Teresina, capital do Piauí, temos a devoção ao motorista Gregório ou Finado

Gregório. Ele foi acusado de mantar atropelada uma criança de três anos, Manuel Cardoso de

Vasconcelos, filho do delegado da cidade de Barras –PI. Este, por sua vez, foi acusado de

tortura-lo e assassiná-lo. No local de sua morte foi erguido um monumento em 1983. A

devoção a este santo deu inicio logo após sua morte em 1927.

Figura 9: Monumento erguido no

local onde teria sido morto Finado

Gregório. Foto

finadogregorio.blogsport. Acesso 20

Jul. 2014.

O monumento tem a forma de goto d’água, pois, durante a tortura que sofreu, foi

impedido se alimentar e beber água. Os devotos deixam garrafas com esse líquido e ex-votos,

acendem velas e proferem suas orações, bem como rezam terços. A religiosidade popular tem

muitas maneiras de manifestar seu sentimento religioso, o ex-voto é uma delas. Os ex-votos

[voto realizado]: expressão de arte, de devoção e de religiosidade. Eles são objetos oferecidos

aos santos por devotos, uma prática religiosa que reflete as crenças e as maneiras de se

relacionar com o divino. Através deles podemos conhecer os desejos, as anseios, as angústias

e as ambições desses devotos. Segundo Câmara Cascudo (2002), ex-voto vem do latim votum,

coisa prometida.

“O que se promete deve ser pago”, diz o ditado. Ex-voto é o que se promete ao santo

de devoção para receber uma graça, ou o que se ofereceu por tê-la alcançado. Não é

exclusivo do mundo católico; encontra-se em toda parte, tendo sido registrado desde

Page 12: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

12

a antiguidade, entre os assírios. O ex-voto reflete tudo o que tem afligido ou

exaltado o ser humano ao longo dos séculos; testemunho de fé que se fortaleceu com

o sofrimento, um ex-voto pode ser; vela, foto, flor, partes do corpo feitos em cera,

barro ou madeira, e outros objetos. (CASCUDO, 2002, p. 220).

O ex-voto é um testemunho do contato do homem com o sagrado. É um documento-

cultura, que expressa a crença, a fé e as atitudes dos homens diante dos imponderáveis da

vida, bem como das angústias e perigos do cotidiano.

Os ex-votos significam a imagem revelada do Santo vivo, isto é, a fotografia dele.

Lá se materializa o seu caráter, descrito conforme a intimidade e a relação afetiva do

devoto para com o santo. Ali o fiel diz como ele é e como O encontrou. Eles expõem

a fotografia do Santo vivo no intuito de que todos os devotos possam conhecê-lo,

mostrando como Ele dá sentido ao seu cotidiano fragmentado, como constitui a sua

verdadeira identidade e como se revela em seu ser. (OLIVEIRA, 2003, p. 102).

São testemunhos de desobrigas em sala de milagres, igrejas, cruzeiros em

cemitério ou nas ruas. Entretanto, eles são também documentos que nos dão pistas sobre

como o homem comum, leigo comunica-se com os santos, com Deus, com Nossa Senhora:

“[...] o ex-voto não é apenas um elemento de arte e promessa, também é um documento

[várias formas] que equivale às “solicitações” e “pagamentos” das “graças”, que possuem

formas específicas de almejar e de comunicar.” (OLIVEIRA, 2006, p. 112).

Figura 10: Ex-votos do fieis ao Finado Gregório. As figuras

esculpidas em gesso e madeira representam o objeto

transformado pelo milagre de intercessão

finadogregorio.blogsport de Gregório. Foto. Acesso 20 Jul

2014.

Os devotos também dedicam placas, cartas e bilhetes em agradecimento ao mártir, que

geralmente são fixadas na árvore onde teria sido amarrado por alguns dias. Assim, o ex-voto é

uma ação de graça. É uma mensagem consagrada esculpida, desenhada, escrita e outras

Page 13: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

13

formas, oferecida à divindade “[...] o ex-voto revela os elementos da psicologia do milagre e

do sistema de atitudes diante do perigo, da doença e da morte.” (VOVELLE, 1997, p. 113). O

ex-voto é uma experiência miraculosa. Os ex-votos são variados; podem ser cabeças

esculpidas em cera, plástico e madeira, cartas, fotografias, quadros, retábulos, santinhos de

madeira ou cruzes, cabelos, roupas, bilhete, cartaz, aparelhos ortopédicos, caixa de remédios,

velas. Todavia, em ação de graça por curas de alguma doença que atingiu alguma parte do

corpo, os devotos reproduzem os órgãos acometidos pelas enfermidades. Além disso,

miniaturas de casas, carros, ônibus e qualquer outro mal social que afetasse a vida. São gestos

de agradecimento, pagamento da graça, em virtude de prometer e de consagrar.

Além dos ex-votos mencionados, as coroas de rosas não são consideradas como ex-

votos, pois são trazidas especialmente no dia de finados, quando é intensamente visitado. É

comum os parentes e amigos, no dia de finados, levarem esses ornamentos para os túmulos.

Nesta ocasião, o Motorista Gregório também é homenageado no Cemitério São José. Dessa

maneira, o cemitério é um espaço em que é possível ler e compreender os afetos, as atitudes e

os rituais que envolvem o morto. A atitude diante dos mortos podem ser analisadas por meio

dos objetos deixados nos túmulos, o mobiliário, os epitáfios, as fotográfias e a morfologia dos

túmulos.

[...] o que pretende é apenas ler e entender, sob uma perspectiva sócio-antropo-

lógica, algumas atitudes, significados sociais e, sobretudo, as formas de cuidado

dispensadas ao corpo do morto ou cadáver, a partir de um sistema de objetos

diversos, composto por morfologias tumulares, mobiliários funerários, placas,

representações estatuárias, inscrições e epitáfios existentes em túmulos nos

primeiros cemitérios brasileiros, construídos na segunda metade do século XIX.

(MOTTA, 2009, p. 18).

Figura 11: O homem religioso nordestino revela seu

cotidiano por meio do uso da ‘rudia’ na cabeça. Em

sinal de penitência, o ex-voto no ponto elevado do

corpo. Foto: José Bassit. Canindé, Ceará, 2000.

Page 14: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

14

Figura 12: Túmulo do finado Gregório no

cemitério São José. Nesse espaço não é

possível ver a manifestação ou atitudes

devocionais, apenas algumas flores, terço e um

quadro com a capa da revista Cidade Verde,

que dedicou uma de suas edições ao

milagreiro. O que realmente chama atenção

no túmulo são os resquícios de velas acesas,

atestada pela cera derretida e a escuridão do

terreno que envolve o túmulo. Teresina - PI.

Foto Márcia Costa, 2014.

Assim, essas práticas votivas nos revelam uma sensibilidade popular religiosa.

Referimo-nos à popular porque não diz respeito às prescrições e ortodoxias religiosas da

Igreja, mas antes às maneiras/práticas e atitudes do homem comum estabelecer suas relações

com o divino. Os relatos de milagres também contribuem com a fama de milagreiro do

Gregório:

Fui desenganada três vezes pelos médicos: uma vez em São Paulo, outra no Rio de

Janeiro e aqui mesmo, em Teresina. Mas sou uma mulher de muita fé. Sempre tive

um altar em minha casa e sou devota do finado Gregório. Apeguei-me a ele nos

momentos de dor e hoje estou aqui para contar a história. Isso tudo me fez ficar mais

compreensiva e carinhosa. Não tenho mais raiva das pessoas, ao contrário, rezo

pelos meus inimigos. (REVISTA CIDADE VERDE, ano 03, ed., 66, 2003, p. 50).

Por meio do diálogo com essa devoto é possível entrever os elementos de uma religiosidade

privada e cotidiana, especialmente quando se refere ao altar que possui em casa. Como

religião privada e pública, os fieis conseguem tanto expressar-se no âmbito da vida privada,

como quando fazem orações diárias, rezas e jejum, quanto em ações comunitárias nas

cerimônias sacras, procissões, novenas e romarias Essas práticas, segundo Luiz Mott (1997),

Page 15: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

15

as cerimônias pública faziam parte da cultura religiosa portuguesa seiscentista. Os fieis

passavam horas reunidos em igrejas rezando, ouvindo sermões. Quanto ao Brasil, como a vida

urbana era cheia de restrições, as ruas eram inabitáveis e empoeiradas no verão ou a lama

impedia o acesso no inverso, e as praças eram igualmente inseguras pela presença de índios

selvagens e negros arredios, na América portuguesa, as cerimônias públicas foram

abandonadas ou ocorreram no interior das casas, ou celebração doméstica. Assim, podemos

compreender como a religiosidade privada no Brasil se configura.

Além das homenagens no dia finados, no dia 28 de outubro, é celebrada uma missa em

homenagem ao aniversário de morte de Tertuliano. No dia de finados muitas medidas são

tomadas nos cemitérios, como também nos espaços como a Cova do Terto; esses lugares são

organizados, feitas reformas, além de consertos e melhorias visando ao embelezamento em

homenagem aos mortos. Tendo em vista nossa experiência de pesquisa durante o dia de

finando e a metodologia de observação participativa preconizada especialmente pelos

antropólogos, analisamos o que distingue o túmulo de um morto milagroso de qualquer outro

morto bem visitado, é o número incomum de pessoas que se quedam junto a ele, o vai e vem

constante o dia inteiro, que pode começar já na véspera.

A aproximação das pessoas dá-se de maneira variável. Os devotos chegam de maneira

reservada, discreta, geralmente, muito calados e interessados em cumprir sua prestação ritual.

Na cova do Terto observa – se no dia de finados um grande número de pessoas que realizam

seus rituais, juntos ao túmulo; na cacabeceira, onde se encontram os queimadores de velas,

eles se ajoelham, rezam terço, fazem orações, recomendam entes queridos e comunicam

questões cotidianas. Nessa ocasião, ocorrem os pedidos e os agradecimentos: “Reginaldo

Alves de Sousa fé em Deus tudo da certo. Eu peço ao finado Terto um emprego logo. (24- 07-

2013)”. (CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI, 2013). Em outro pedido é

possível entrever os sentimentos que animam os pedidos dos devotos: “Deus. Que eu (e) toda

minha família saia dessa situação difícil. Confia em Deus e no Senhor Tertuliano. Amém,

Francisca Dalva, Lindauva Ferreira (CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI,

2013).

3 FINADO TERTO: SACRIFÍCIO E DEVOÇÃO

No espaço da sepultura do Terto foi erigida uma pequena capela em agradecimento a

graça alcançada. A cova do Terto está localizada próximo ao cemitério de São Benedito, que

hoje constituído por uma capela em torno do túmulo. Com os relatos de milagre a população

Page 16: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

16

tende a engrossar a fila de devotos, assim, o tumulo desse outrora deconhecido e segregado,

passa ser um dos principais espaços de devoção popular do centro-norte piauiense. Vários

fiéis buscam proteção, pagam promessas. A cova tornou-se um lugar de oração, rezas, preces

além de ser um lugar que revelam sentimento, sofrimento, angústia e outrora a súplica ao

Tertuliano.

Figura 13: Túmulo do finado Terto,

ornado com flores diversas, santos, terços,

coroas de finado, fitas de pedidos de graça

e velas pelos devotos, localizado na capela

próxima ao Cemitério São Benedito.

Valença-PI. Foto Márcia Costa, 2013.

Na cova do Terto é possível perscrutar a sensibilidade religiosa dos devotos, que eles

expressam ao acender velas ou depositar ex- votos no espaço sagrado. Os ex-votos mais

comuns são os santos católicos organizados em pequenos altares, fixados nas paredes, bilhetes

e um pequeno número de ex-votos de cera ou madeira, apenas três representações de mamas e

pés confeccionadas de tecido foram depositadas. Esse espaço sagrado é marcado pela atitude

ritual que consiste em saber entrar, permanecer e sair da cova. A cova é um grande altar dos

devotos, muitos deles trazem imagens de sua devoção. Neles, é possível encontrar bilhetes,

fotografias, documentos pessoas dos devotos. Assim, na cova há vários testemunhos da

devoção ao finado Terto, onde também estabeleceem o contato muito particular com o ser

venerado.

Page 17: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

17

Na Cova do Terto existem cadernos em que o devoto registra seu pedido a mão.

Geralmente, são pedidos para os infortúnios diários, para os familiares e amigos. Nesse

sentido, o objetivo é analisar os sentidos das intenções (pedidos e muitos outros rituais à alma

do Tertuliano), que estão presente também nesses Cadernos de Pedidos de Graças, por meio

da observação participante e anotações no caderno de campo, análises dos bilhetes, cadernos

dos pedidos de graça, produção de imagens. Ainda, debruçamo-nos sobre ritual que o devoto

faz como agradecimento ao santo, bem como as oferendas de velas e água. Além disso, as

fotografias, roupas e pedidos escritos nos referidos caderno também mostraram as rituais dos

fieis, uma vez que revelaram diversas e ricas formas de contado com o sagrado.

Ao analisar os pedidos, ou seja, as intenções desses devotos, percebemos que são

homens e mulheres que pedem por meio de intercessão do Tertuliano saúde, felicidade para si

mesmo e seus familiares, geralmente são pedidos cotidianos e afetivos: a volta da filha, a

libertação do filhos, o êxito nos estudos, a aquisição da casa própria, o estabelecimento no

emprego, o sossego da alma, o refúgio para as tristezas e infortúnios.

Ao meu finado Tertualiano, me ajude com meu marido a ter paciência, meu Deus,

com esse alcoolismo. Meus Deus, livra ele desse mal em nome de Jesus abençoes,

que tudo dê certo com a vida e saúde. Abençoes os meus familiares, em nome de

Jesus. Luisa Maria Sousa. José Horlando Silva e Souza. Milagre. Maria

(CADERNO DE PEDIDO DE GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI, 2013).

Esses pedidos é a manifestação pública de devoção ao Terto, que buscam também

através de bilhetes escritos a mão, cuidadosamente colocados embaixo de uma caixa de vidro

de guarda uma santa, outros são escondidos ao redor do túmulo. Pode ser observado nesses

pedidos solicitação e a resolução de problemas financeiros, até mesmo pedidos de auxilio nos

estudos, para livrar-se de perseguições ou em alguns casos apenas o nome da pessoa que pede

pela a interseção do santo, como podemos analisar neste pedido: “Peço em primeiro lugar a

Deus e ao Terto que me abençoe, a alcançar a graça para eu passar no concurso público e que

eu tenha uma vida de conquistas e que deus me der forças para continuar. Amém. (27- 12-

2013)”. (CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI, 2013).

Essa devoção pode ser vista como expressão de angústia frente a uma realidade e ao

mesmo tempo, um refúgio contra essa realidade. “Peço pela a cura de meu filho Danilo que saia

dos vícios das drogas pelo meu filho Dione e Ana Paula. (31- 02- 2013)” (CADERNO DE

GRAÇA. Cova do Terto, 2013). Como expressão de um desejo cotidiano, também os registros

analisados revelaram o estado de espirito dos devotos, os registros também eram conversas com

Terto, muitas delas mostram o desânimo, apesar disso, o contrário também se destacou, a força e a

Page 18: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

18

fé, o alento, a esperança, para os infortúnios da alma: “ Terto estou melhor com a força de Deus e

sua ajuda, me livre do mau e der saúde e paz. (08- 07- 2013)”. (CADERNO DE GRAÇA. Cova do

Terto, 2013).

Meu finado Tertuliano, muito obrigada por passar de ano no colégio e encontrar

outro emprego sem nenhuma dificuldade e que permaneça nele até encontrar outro

melhor e que não repita de ano nunca, enquanto eu estudar muito. Obrigado e nunca

me abandone. Amém e que me livre das tentações do mundo. Amém. Querendo

sempre para o bom caminho. Amém e toda minha família. Amém. Jorge Gomes de

Sousa. Francisco Antônio Vieira de Paula. (CADERNO DE GRAÇA. Cova do

Terto. Valença-PI, 2013).

Pelos os anseios e desejos de Francisco Antônio Vieira de Paula, provavelmente, é um

devoto jovem, enquanto estudante teme a reprovação nos estudos e a falta de emprego, bem

como esclarece que deseja manter-se distante das tentações do mundo. Por meio deste

registro, desenham-se as preocupações e objetivos desse jovem. Contudo, as mulheres,

apresentam-se nos cadernos pesquisados frequentemente: “Eu te peço que me ajude a

construir minha família com saúde felicidade e que Deus abençõe meu marido conseguir um

serviço melhor. Eu também te peço que ajude a passar nos meus estudos. Tamaria”, 10- 09-

2013. (CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto, 2013). Luciana Moraes da Costa Vieira,

talvez, foi a cova com a família, pois além de revelar as preocupações diárias com a moradia,

trabalho e saúde pessoal e dos familiares, o pedido é assinado por três pessoas com elos

apresentados no sobrenome.

Que eu consiga financiar minha casa nos Jardins Mangueiral, e que depois o banco

me chame para trabalhar, mas antes de tudo que eu tenha saúde. Minha família

também tenha toda muita saúde... Finado Tertualiano interceda por mim e voltar

para agradecer... Desde já agradeço... Luciana Moraes da Costa Vieira. Mário Lúcio

Vieira da Mata. Rafaela de Fátima Moraes Mata... (CADERNO DE PEDIDO DE

GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI, 2013).

Portanto, podemos registrar através dos cadernos de pedidos de graças, bilhetes, a

intensidade desta relação imediata dos devotos como o “Terto”. “Santo Tertuliano venho em

nome de Lucivaldo Ferreira Alves, ele pede que o senhor consiga um emprego e possa chegar

o grande amor da sua vida. Assim seja a sim será” (8- 07- 2013). (CADERNO DE GRAÇA.

Cova do Terto, 2013). Pelo registro, uma terceira pessoa escreveu o pedido no lugar de seu

Lucivaldo Ferreira. É comum também as pessoas pedirem a outros devotos que registrem seus

nomes no caderno, considerado protetor, bem como que uma terceira pessoa registre o pedido

de uma familiar distante.

Voltarei se Deus quiser eu estou muito agradecida pela graça alcançada que tive em

nome de Deus de todos os santos apóstolos e a santa alma de Tertuliano estou muito

Page 19: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

19

grata. Amém. Estive aqui em 17-07-10 visitando em agradecimento por uma graça.

Ângela Maria (CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI, 2010).

Estas fontes expressaram a religiosidade popular brasileira, revelaram as expectativas

diárias, as esperanças e angústias, elas falaram do ritual do devoto e narraram o milagre. Entre

as manifestações de ex-votos, estão às imagens de alguns santos, que os pagadores de

promessas deixam na Cova do Terto, outra forma menos comum é o ex-votos deixados:

membros como mão, dedos, cabeças confeccionadas, que se referem a cura de determinada

parte do corpo. O registro nos cadenos de graças alcançadas são mais frequentes. Contudo, a

própria estrutura da cova foi construída como ação de graça alcançada. Existe uma placa de

ferro, doada pelo Mestre Dezinho, um grande artista piauiense, escultor de anjos de sandálias

de dedos e santos de madeira, que também em agradecimento ao finado Tertuliano,

confeccionou uma placa contendo o registro de nascimento e morte do Terto. Infelizmente,

não registra a graça alcançada.

Figura 14: Na Cova do Terto estão

presentes vários altares. Os santos que o

compõem são trazidos pelos devotos do

Terto como ex-votos. Valença-PI. Foto

Márcia Costa, 2013.

A força da alma milagrosa está na expressividade devota dos fieis. Nesse caso, a

história do milagre deve ser conhecida, é contada com detalhes, tanto mais que nela reside o

fator que legitima a presença da boa fé e o privilégio de ser atendido. “Estive aqui em 16-08-

10, em agradecimento à em minha graças concebida em minha vida. Sr. Tertuliano continue a

Page 20: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

20

cuidar da minha família. Nunca nos abandone, em nome de Jesus, nosso senhor, eu vos peço.

Amém. M.E.F. Silva.” (CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI, 2013).

Conforme, outro registro é possível analisar o ritual de agradecimento dos devotos de Terto:

“Senhor, obrigado por interceder junto a alma do finado Terto, por todas as graças recebidas,

pela vida de dona Nazaré, (que hoje) está ao seu lado, hoje faz morada com o pai. Cruzinha

15-08- 2011”. CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto, 2011).

Andreia M. de Souza. Em primeiro de tudo quero agradece ao meu Senhor Deus e

ao finado Terto. Terto por me ajudar em tudo que peço, por está aqui hoje com

saúde... Muito triste por perder meu tio Gonçalo e minha tia Hilda. Mas sei que tudo

que Deus faz é para um bem maior. Embora seja doloroso... Que eles descansem em

paz, e que Deus os recolham... Amém. Hoje faz um mês que eles se fora 03-04-13.

Agora quero pedi que o finado Terto interceda por mim, me ajudando a vencer as

dificuldades, me dando saúde, aos meus filhos, meu pai, minha mãe, meus irmãos,

meus tios, tias, primos, amigos e avós, enfim que o mundo seja melhor. E que abra-

me uma porta no mundo do trabalho. E que eu esteja sempre com Deus... Em nome

de Jesus, amém. Andreia. (CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto. Valença-PI,

2013).

O registro da Andreia M. de Souza revelou o sentimento da perda dos tios, pela

mensagem é possível entrever a tristeza e as práticas de consolo pós-morte. Como por

exemplo a crença que outro mundo possa ser um lugar melhor para os nossos entes queridos

que partiram, conforme podemos analisar quando diz que Mas sei que tudo que Deus faz é

para um bem maior , isto é, que possui planos melhores para eles. Além de mostrar o

sentimento diante dos mortos, procurar beneficiar-se do santo, retirando conforto espiritual,

pedindo saúde para si e seus familiares, o que faz citando-os, o que pode demonstrar a

presença deles como consolo.

Sendo assim os bilhetes e cadernos de pedidos e graças alcançadas, de diversas

maneiras, revelaram graças recebidas, angustias e anseios do dia a dia. Muitos apresentam os

nomes dos devotos, enquanto outros indicam apenas suas iniciais, mas, de modo geral, todos

os devotos expressam um agradecimento que reporta ao momento da graça alcançada.

“Francisco Jorge ficou curado de trombose na perna graças ao senhor Terto, venho hoje 24-

06- 2010, pagar a promessa, acendido velas para sua alma. Obrigado”. (CADERNO DE

GRAÇA. Cova do Terto, 2010).

Por alguma razão que desconhecemos e que não vem ao caso, deparamos com o

bilhete de, supostamente, uma família inteira que pede a volta da filha. Provavelmente, trata

de um pedido de um pai, mãe e irmão desse ente que está longe. Nessas poucas linhas, é

possível desenhar uma sensibilidade afetiva, sentimental de uma família que sente a falta de

Page 21: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

21

um membro querido que se encontra afastado do seio familiar. Além disso, é possível

vislumbrar a relação que o devoto estabelece com o santo de devoção, geralmente, marcada

por um encontro afetivo, familiar e cotidiano, pois confia-se no santo assuntos particulares e

íntimos.

Figura 15: José da Paz da Silva. Maria da Piedade dos Santos.

Ivaneto dos Santos Silva. Queria a minha filha de volta para

mim. Bilhete de devoto. COVA DO TERTO. Bilhetes de

devotos do Terto. Valença – PI. Foto Márcia Costa, 2013.

O primeiro aspecto é revelado por meio dos personagens que aparecem nos bilhetes e

mesmo nos cadernos pesquisados, evidenciados pelos nomes que assinam os bilhetes e

cadernos da cova do Terto. Quanto ao segundo, quase sempre é uma pessoa da família que

pede ou agradece uma graça ao ente querido. Já o terceiro ponto é acerca das angústias e

expectativas que envolvem o dia a dia dos devotos. Os bilhetes deixados pelos devotos do

finado Terto revelaram expectativas, valores, angústias, esperanças e afetos, como também

são ressonâncias de um diálogo estabelecido entre santo e devoto. São rastros que nos

permitem mapear uma sensibilidade religiosa dos homens e mulheres do nordeste brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES

Referências bibliográficas

ABREU, Jean Luiz Neves. O imaginário do milagre e a religiosidade popular. Um estudo

sobre a prática votiva nas Minas do século XVIII. 2001. 173 p. Dissertação - Faculdade de

Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo

Horizonte, 2001. Disponível em <

http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/VCSA-

8RBF4A/1/jean_luiz_neves_abreu.pdf> Acesso em 06/04/2012.

Page 22: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

22

ALCÂNTARA, Ailton S. de. Paulistinhas: imagens sacras, singelas e singulares. 2008, 133 p.

Dissertação - Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista – UNESP, São Paulo- SP,

2008.

ABREU, Jean Luiz Neves. Difusão, produção e consumo das imagens visuais: o caso dos ex-

votos mineiros do século XVIII. Rev. Bras. Hist. [online]. 2005, vol.25, n.49, p. 197-214.

ARAGÃO, Iury Parente. A criação do santo não canônico Motorista Gregório. In: Acta

Científica, Engenheiro Coelho, v. 20, n. 3, p. 53-64, set./dez., 2011.

AZEVEDO, Thales de. Problemas metodológicos da sociologia do catolicismo. Cultural e

situação racial no Brasil social. Rio de Janeiro: Ed. Civilização brasileira, 1966.

AZZI, Riolando. Formação histórica do catolicismo popular brasileiro: In: A religião do

povo. São Paulo: Edições paulinas, 1979, p. 44-71.

BAYARD, Jean –Pierre. Sentido oculto dos rituais dos mortos: morrer é morrer; tradução

Benôni Lemos. São Paulo: Paulus, 1996. BORGES, Antônio. Fragmentos da vida. Salvador: Ed. Helvécia, 2000.

CASCUDO, da Câmara Luiz. Dicionário do folclore brasileiro. 9. ed. São Paulo: Global Editora,

2000.

_____. Religião no povo. João Pessoa: Imprensa universitária da Paraíba, 1974.

CHARTIER, Roger. Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico. In: Estudos Históricos.

Rio de Janeiro, v. 8, n. 16, 1995, p. 179-192. DAMASCO, Mariana Santos. História e memória da Hanseníase no Brasil do século XX:

o olhar e a voz do paciente. 2005. 50 f. Monografia. Pontifícia Universidade Católica do Rio

de Janeiro – PUC/RJ. Departamento de História. Orientada pela Dra. Margarida de Souza

Neves.

DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro. 2.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

DIAS, Willian Palha; ARAÚJO, Delfino Vital da Cunha. Motorista Gregório: mártir ou

santo? Teresina: Editora Gráfica Expansão, 2005.

GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas e sinais.

Morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

_____. Os andarilhos do bem: feitiçarias e culto agrários nos séculos XVI e XVII. Tradução

de Jônatas Batista Neto. 2. ed. São Paulo: Companhia da Letras, 1988.

JESUS, Elivaldo Souza de. “Gente de promessa, de reza e de romaria”: Experiências

devocionais na ruralidade do Recôncavo Sul da Bahia (1940-1980). Dissertação de Mestrado

do Programa de Pós-Graduação em História da UFBA. 2006.

LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

_____. São Francisco de Assis. Rio de Janeiro: Record, 2001.

_____. São Luís. Biografia. Rio de Janeiro: Record, 1999.

MARTINS, José de Souza. A imagem incomum: a fotografia dos atos de fé no Brasil. Estudos

Avançados. São Paulo, V.6, n. 45, p. 223-260, 2002.

MOSCOVICI, S. A máquina de fazer Deuses. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

MOTTA, Antônio. Formas tumulares e processos sociais nos cemitérios brasileiros. Revista

Brasileira de Ciências Sociais, v.24, n 71, out., p. 73- 93, 2009.

MOTTA, Antonio. À flor da pedra: formas tumulares e processos sociais nos cemitérios

brasileiros. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Massagana, 2009.

OLIVEIRA, José Claúdio Alves. Semiologia dos ex-votos na Bahia: arte, simbolismo e

comunicação religiosa. Diálogos possíveis. Bahia, ano. 5, n.2, julho / dez., 2006.

OLIVEIRA, Marcelo João Soares de. O símbolo e o ex-voto em Canindé. REVER - Revista de

Estudos da Religião. São Paulo, n. 3, 2003.

OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro; ARAÚJO, Maria das Graças de. Pequenos santos: uma

devoção familiar. In: PLURA, Revista de Estudos de Religião, v. 2, n. 1, 2011, p. 80-100.

Page 23: A COVA DO TERTO: SACRÍFIO E DEVOÇÃO EM VALENÇA - PI

23

SANTOS, Conceição Aparecida dos. Como nascem os santos: o caso Maia Bueno. Curitiba, 2010.

190 f. Dissertação – Mestrado em Antropologia Social – Setor de Ciências humanas, letras e artes,

Universidade Federal do Paraná. Orientador Dra. Sandra Jacqueline Stoll.

SANTOS DE CASA FAZ MILAGRES. In: Revista Cidade Verde. Teresina, ano 3, ed., 66, set.,

2013. SILVA, Daniel Oliveira da; GONTIJO, Fabiano. A arte santeira no e do Piauí. Textos

escolhidos de cultura e arte populares. Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 51-64, mai. 2010.

SILVA, Maria Auxiliadora Carvalho e. De salteadores errantes a mártires e milagreiro:

representações sociais de ciganos na Cidade de Esperantina – Piauí (1913-2010) / Maria

Auxiliadora Carvalho e Silva. – 2011. 142 f.:

SOUZA, Wilma Santos de Santana. Práticas de cura e o culto ao anjo São Gabriel no

município de Dom Macedo Costa-Ba (1967-2010). Wilma Santos de Santana Souza . –

Santo Antonio de Jesus, 2011. 142f. Orientadora: Profª. Drª. Ana Maria Carvalho dos Santos

Oliveira. Dissertação (Mestrado) - Universidade do Estado da Bahia. Departamento de

Ciências Humanas e Tecnologias. Campus V. 2011.

TORRES-LODOÑO, Fernando. Imaginária e devoções no catolicismo brasileiro. Notas de

uma perquisa. Revista Projeto História, nº 21. São Paulo: PUC- SP/Programa de Pós-

Graduação em História, novembro de 2000. p.248

VIANA, Roberto dos Santos; ANDRADE, Solange Ramos. O perfil do fiel no culto ao santo

Popular: o caso Clodimar Pedrosa Lô em Maringá. Revista Brasileira de História das

Religiões, ano III, v. VII, maio, 2010.

VOVELLE, Michel. As almas do purgatório ou o trabalho de luto. Tradução de Aline Meyer

e Roberto Cattani. São Paulo: UNESP, 2010.

_____. Os ex-votos do território marselhês. In:_____. Imagens e imaginário na História:

fantasmas e certezas nas mentalidades desde a Idade Média até o século XX. Tradução de

Maria Julia Goldwasser. São Paulo: Ática, 1997.

Fontes

Campo

CADERNO DE PEDIDOS DE GRAÇA E CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto.

Valença-PI, 2013.

CADERNO DE PEDIDOS DE GRAÇA E CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto.

Valença-PI, 2011.

CADERNO DE PEDIDOS DE GRAÇA E CADERNO DE GRAÇA. Cova do Terto.

Valença-PI, 2010.

COVA DO TERTO. Bilhetes de devotos do Terto. Valença – PI, 2013.

NASCIMENTO, Luzineide. Caderno de campo. Valença-PI, 2013.

SOUZA, Francisca Márcia Costa de Souza. Caderno de campo. Valença-PI, 2014-2013.

Orais

ARAÚJO, Raimundo Duarte de. Entrevista concedida à Luzineide Nascimento. Valença- PI

2013.