a coordenaÇÃo bimanual em funÇÃo do foco atencional

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO

    INSTITUTO DE BIOCINCIAS RIO CLARO unesp

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA MOTRICIDADE

    A COORDENAO BIMANUAL EM FUNO DO FOCO ATENCIONAL

    BRUNO NASCIMENTO ALLEONI

    Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias do Cmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Motricidade, rea de Concentrao da Biodinmica da Motricidade Humana.

    Maio - 2007

  • A COORDENAO BIMANUAL EM FUNO DO FOCO ATENCIONAL

    BRUNO NASCIMENTO ALLEONI

    Orientadora: Profa. Dra. ANA MARIA PELLEGRINI

    Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Motricidade (rea de Biodinmica da Motricidade Humana).

    RIO CLARO Estado de So Paulo-Brasil

    Maio/2007

  • ii

    Dedico esta obra minha orientadora Ana

    Maria Pellegrini que, nestes quase cinco

    anos de LABORDAM, me ensinou muito

    na vida e no somente a escrever uma

    dissertao.

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    Aqui estou diante de mais um grande desafio, agradecer aos muitos que

    colaboraram para a execuo desta pesquisa. Muitos que irei agradecer nem

    sabero que foram agradecidos enquanto que outros que gostariam de um

    agradecimento no iro encontrar a sua referncia, mas tenho este espao e

    muitos devero aparecer na seqncia. Sempre que se estabelece uma

    seqncia deve ter uma ordem de prioridade para que uns sejam os primeiros

    e outros os ltimos. Vou adotar a ordem de importncia para o estudo, por isso,

    no se sinta uma pessoa humilhada em ver seu nome ao final desta seo.

    Agradeo a todos os 21 participantes voluntrios desta pesquisa que

    disponibilizaram ao menos trs horas de suas vidas para que eu pudesse

    verificar o seu comportamento na coordenao bimanual, que no se

    intimidaram com a presena de uma cmera agindo naturalmente para que a

    situao fosse semelhante execuo de tarefas do cotidiano. Dentre estes

    participantes esto os meus irmos de moradia, muitos j nem esto aqui na

    cidade e nem ao menos no pas, mas que tenham certeza de que me ajudaram

    em muito para esta dissertao e mais ainda para minha vida acadmica e

    social. Muitos que receberam apelidos e de forma carinhosa so tratados ainda

    como grandes amigos, amigos para serem lembrados no apenas neste

    momento, mas em outros eventos importantes de nossas vidas.

    Ao pessoal do LABORDAM e do LEM, laboratrios que contriburam

    para o enriquecimento de meu conhecimento cientfico, em suas reunies e

    conversas, discusses de trabalhos e idias para este e outros trabalhos

  • iv

    tambm. Pessoas que talvez tenha convivido por mais tempo do que o tempo

    que passo com minha famlia. Pessoas que me incentivaram a desenvolver um

    bom trabalho e a ter compromissos e responsabilidades.

    Ao CNPq pelo suporte financeiro. Aos professores que me ensinaram

    em suas Disciplinas e queles que alm de ensinar tambm buscaram uma

    aproximao de amizade, esperando futuros colegas professores e

    pesquisadores. E mais ainda, aos professores que tambm fazem parte de

    minha Banca, que contriburam bastante para o fechamento desta obra.

    Fazendo com que o trabalho esteja compreensvel e acessvel a todos que

    tenham interesse em Comportamento Motor.

    Aos meus parentes que me abrigaram durante alguns finais de semana

    me fazendo lembrar de que vivo porque antes de mim eles j viviam tambm e

    que estou aqui porque antes eles j quiseram estar tambm. O incentivo ao

    estudo e formao acadmica, a valorizao daquilo que poucos valorizam, a

    Educao para ser educado e para educar aos que precisam.

    Agradeo aos meus pais e meu irmo por valorizarem o estudo, por me

    fazer escolher e apoiar a minha prpria escolha. Por se privarem de algum

    luxo, por ter menos tempo para descansar para me ajudar a conduzir minha

    vida, que a minha prpria, mas que dividida com suas vontades.

    E por falar em vontades penso sempre em minha Florzinha (Adriana), na

    vontade de me ter ao seu lado, na vontade de me olhar enquanto faz qualquer

    coisa, na vontade de proteger-lhe em seu sono, da vontade que tenho em fazer

    as suas vontades, mas ter que dar prioridade a situaes menos prazerosas.

    Penso ainda, na vontade que tenho em lhe dizer, e digo: a amo.

  • v

    RESUMO

    A coordenao bimanual um comportamento manifestado diariamente

    pelas pessoas na execuo de tarefas do dia-a-dia. Controlar as duas mos

    para varrer a casa, soltar pipa, costurar ou tocar piano so situaes rotineiras

    que podem ser melhoradas e desempenhadas com preciso como resultado da

    prtica. As tarefas unimanuais e as tarefas bimanuais que devem ser lideradas

    por uma das mos, geralmente, so executadas apenas com a mo preferida,

    a mo direita para o maior nmero de pessoas. As ferramentas utilizadas nas

    tarefas do dia-a-dia so fabricadas para a mo direita e como conseqncia a

    diferena no desempenho menor entre as mos de pessoas com preferncia

    manual esquerda. Manter um ritmo qualquer ou acertar alvos so tarefas que

    requeiram integridade de estruturas orgnicas, como por exemplo, os membros

    superiores e os sistemas visual e auditivo. O direcionamento da ateno visual

    pode ser muito importante na captura da informao para tocar alvos no plano

    horizontal, principalmente se as caractersticas espaciais e temporais das

    tarefas das duas mos so diferentes. Contudo, as duas mos esto

    separadas fisicamente e no desempenho em uma tarefa que requeira

    deslocamentos diferentes para as duas mos o executante deve identificar a

    informao de uma das mos para a execuo precisa. O objetivo deste estudo

    foi verificar o efeito do direcionamento da ateno visual a uma das mos no

    desempenho de uma tarefa bimanual com diferentes nveis de complexidade,

    em funo da preferncia manual. Pessoas com preferncia manual direita e

    esquerda executaram uma tarefa de coordenao bimanual com

  • vi

    deslocamentos dos membros superiores para o toque em um ou mais alvos

    que estavam igualmente distantes no plano horizontal e em intervalos

    temporais iguais ou diferentes. O direcionamento da ateno visual foi

    manipulado em trs condies experimentais, sendo em uma condio dirigida

    mo preferida, em outra dirigida mo no-preferida e, ainda, uma terceira

    condio de livre escolha do participante. As variveis selecionadas para a

    anlise dos dados foram o erro espacial e o erro temporal. Os resultados

    indicaram que as tarefas mais simples (1:1 e 2:1) foram desempenhadas com

    menor magnitude de erro espacial e temporal quando comparado com as

    tarefas mais complexas (3:1 e 3:2); as pessoas com preferncia manual direita

    apresentaram melhor desempenho com a mo direita na execuo da tarefa,

    enquanto que as pessoas com preferncia manual esquerda apresentaram

    desempenho semelhante das mos. Executar uma tarefa acompanhando um

    ritmo externamente marcado no depende de informao visual, pois a

    focalizao visual a uma das mos no interferiu na manuteno do intervalo

    temporal entre os toques. Houve um aumento na assimetria funcional como

    resultado do direcionamento da ateno mo direita ou esquerda. A instruo

    dada pelo professor ao aluno quanto a olhar para a mo preferida pode facilitar

    o processo de aprendizagem como resultado da prtica.

    PALAVRAS-CHAVE: Coordenao bimanual, organizao temporal

    relativa, preferncia manual, ateno.

  • vii

    SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................ 1

    2 REVISO DA LITERATURA ....................................................................... 6

    2.1 CARACTERSTICAS ESPACIAIS E TEMPORAIS DA TAREFA

    MOTORA DE TAMBORILAR............................................................ 6

    2.2 PREFERNCIA MANUAL .............................................................. 10

    2.3 COORDENAO BIMANUAL........................................................ 14

    2.3.1 MODOS DE COORDENAO......................................................... 17

    2.3.2 TAREFAS BIMANUAIS COMPLEXAS ................................................ 21

    2.4 ATENO ...................................................................................... 28

    3 OBJETIVO ................................................................................................ 36

    4 HIPTESES.............................................................................................. 37

    5 MTODO .................................................................................................. 39

    5.1 PARTICIPANTES ........................................................................... 39

    5.2 MATERIAIS .................................................................................... 40

    5.3 PROCEDIMENTOS........................................................................ 40

    5.4 TRATAMENTO DOS DADOS......................................................... 45

    5.5 ANLISE ESTATSTICA................................................................. 46

    6 RESULTADOS.......................................................................................... 48

    6.1 CARACTERSTICAS DOS PARTICIPANTES QUANTO

    PREFERNCIA MANUAL .............................................................. 48

  • viii

    6.2 DESEMPENHO ESPACIAL E TEMPORAL COM O

    DIRECIONAMENTO DA ATENO LIVRE.................................... 49

    6.2.1 CONDIO 1:1 EM INTERVALOS TEMPORAIS

    DIFERENTES.......................................................................... 49

    6.2.2 CONDIES COM UM MESMO INTERVALO TEMPORAL ... 51

    6.3 DESEMPENHO ESPACIAL E TEMPORAL COM A ATENO

    DIRIGIDA A UMA DAS MOS ........................................................ 55

    7 DISCUSSO ............................................................................................. 59

    7.1 ATENO LIVRE ........................................................................... 61

    7.2 ATENO MO PREFERIDA..................................................... 64

    7.3 ATENO MO NO-PREFERIDA............................................ 65

    8 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 67

    9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................... 70

    10 ABSTRACT ............................................................................................... 77

    ANEXO...............................................................................................................79

  • ix

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 1. REPRESENTAO ESQUEMTICA DA TAREFA BIMANUAL NA

    CONDIO 1:1. ...................................................................................42

    FIGURA 2. REPRESENTAO ESQUEMTICA DA DISPOSIO DOS ALVOS NAS

    CONDIES 2:1, 3:1 E 3:2, EM FUNO DA PREFERNCIA MANUAL. .........44

    FIGURA 3. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) E DO ERRO

    TEMPORAL (MS) NA CONDIO 1:1, NOS INTERVALOS TEMPORAIS DE

    300, 600 E 900 MS, INDEPENDENTE DA PREFERNCIA MANUAL. ..............50

    FIGURA 4. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO

    PREFERIDA NAS CONDIES 1:1, 2:1 E 3:1, NO INTERVALO TEMPORAL

    DE 300 MS, INDEPENDENTE DA PREFERNCIA MANUAL. ..........................52

    FIGURA 5. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO

    PREFERIDA NAS CONDIES 1:1 E 3:2, NO INTERVALO TEMPORAL DE

    600 MS. .............................................................................................53

    FIGURA 6. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO NO-

    PREFERIDA NAS CONDIES 1:1 E 2:1, NO INTERVALO TEMPORAL DE

    600 MS. .............................................................................................53

    FIGURA 7. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO NO-

    PREFERIDA NAS CONDIES 1:1, 3:1 E 3:2, NO INTERVALO TEMPORAL

    DE 900 MS. ........................................................................................54

    FIGURA 8. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO TEMPORAL (MS) NAS TRS

    CONDIES DE ATENO, INDEPENDENTEMENTE DA PREFERNCIA

    MANUAL, DA MO E DA CONDIO. ........................................................56

  • x

    FIGURA 9. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO TEMPORAL (MS) DE CADA UMA DAS

    MOS EM CADA UMA DAS QUATRO CONDIES.......................................57

    FIGURA 10. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DE CADA UMA

    DAS MOS EM FUNO DO FOCO ATENCIONAL........................................58

  • 1

    1 INTRODUO

    As mos so utilizadas em tarefas cotidianas, no trabalho e no lazer, ao

    amarrar um cadaro ou lavar os cabelos, digitar um texto ou abrir uma caixa,

    arremessar uma bola ou segurar um livro. Pela sua importncia para o homem

    e pela facilidade com que ele realiza atividades com as duas mos, muitos

    estudos sobre a Coordenao Bimanual tm sido feitos com o objetivo de

    investigar as formas de Controle Motor. Compreender a maneira como as

    aes manuais so realizadas significa ampliar o conhecimento terico para

    aqueles que trabalham com a aquisio de habilidades motoras ou na

    reeducao motora.

    A tarefa manual feita com uma ou duas mos que se relacionam de

    modo a alcanar um objetivo. A execuo de uma tarefa ocorrer na medida

    em que o organismo produz um conjunto de ativaes neuro-musculares numa

    determinada ordem e intensidade que satisfaam as caractersticas espaciais e

    temporais de tal tarefa. O ritmo, na execuo da tarefa motora, estabelecido

    pela atividade neural responsvel pela ativao muscular que garante os

  • 2

    deslocamentos espaciais dos segmentos corporais de acordo com a estrutura

    temporal da tarefa (GEORGOPOULOS, 1984).

    Cada tarefa possui caractersticas espaciais e temporais que lhe so

    prprias, diferentes das caractersticas de qualquer outra tarefa motora, e estas

    caractersticas dizem respeito ao nmero de elementos (deslocamentos dos

    segmentos corporais) e variedade de relaes entre estes elementos. A

    complexidade da tarefa maior ou menor dependendo do nmero destes

    elementos e das relaes entre eles (BRESCIANI FILHO & D'OTTAVIANO,

    2000). Em geral, a complexidade da tarefa um fator determinante do nvel de

    desempenho de aes motoras. Por exemplo, muitas tarefas realizadas no dia-

    a-dia so consideradas simples pela presena de poucos elementos e poucas

    relaes entre eles. Porm, algumas so mais desafiadoras e requerem do

    organismo uma maior variedade de elementos a serem relacionados para sua

    execuo com sucesso e entre elas encontramos as tarefas bimanuais.

    Dentre as diversas tarefas bimanuais, o tamborilar com os dedos

    uma das mais praticadas pelo ser humano, pois no requer material

    sofisticado, podendo ser executada, com o tocar dos dedos em uma caixa de

    fsforos ou em um pandeiro. Esta atividade de tamborilar freqentemente

    utilizada nos estudos de coordenao bimanual, pois oferece inmeras

    possibilidades de combinar diferentes relaes espaciais e temporais entre as

    mos (BAADER, KAZENNIKOV & WIESENDANGER, 2005).

    A estrutura espacial da tarefa motora compreende toda a seqncia de

    deslocamentos do corpo e/ou de segmento(s) do corpo no espao, enquanto

    que a estrutura temporal se refere durao destes deslocamentos do(s)

  • 3

    segmento(s) corporal(is) que, no seu conjunto, correspondem ao tempo total de

    execuo da tarefa tambm identificado como tempo de movimento (TM).

    Alteraes na dimenso espacial implicam em alteraes na organizao

    temporal relativa, considerando as medidas de velocidade e acelerao, de

    modo que as estruturas espaciais e temporais so mutuamente dependentes

    tanto no planejamento como na execuo da ao motora (MAGILL, 1984). A

    caracterstica espao-temporal da tarefa motora um primeiro fator que pode

    influenciar o desempenho na coordenao bimanual.

    De acordo com Gentile (1972), na primeira fase da aprendizagem o

    executante deve ter uma idia da ao a realizar para que possa ento

    estabelecer um plano de ao. Tal "idia" deve conter as caractersticas

    espaciais e temporais de tal tarefa e muitas vezes o aprendiz obtm esta idia

    a partir da visualizao da ao sendo executada por outro (modelo). Um plano

    de ao (ou programa motor) ento elaborado e deve conter o conjunto de

    comandos motores que, em sua seqncia e intensidade, vo garantir que a

    meta da tarefa seja alcanada com sucesso. Continuamente, o executante

    monitora os deslocamentos dos seus segmentos corporais em relao s

    metas espaciais que devem ser alcanadas.

    Na execuo de habilidades manuais, este monitoramento feito

    atravs da ateno dirigida (s) mo(s) antes e durante a execuo da tarefa.

    Na execuo de tarefas bimanuais, a ateno dirigida s caractersticas

    espacial e temporal dos movimentos das duas mos quando as duas mos se

    encontram no foco visual. Por exemplo, o relojoeiro tem as duas mos sendo

  • 4

    controladas visualmente ao mesmo tempo, pois as duas mos trabalham

    prximas uma da outra.

    Quando as duas mos esto distantes uma da outra, ento podemos

    acompanhar o movimento de uma ou da outra mo de modo intercalado ou

    priorizando o movimento de somente uma delas para a identificao dos

    componentes do organismo e da tarefa relevantes para a execuo correta da

    ao. Assim, o foco atencional um segundo fator que pode influenciar o

    desempenho na coordenao bimanual. De acordo com a literatura que utiliza

    a fase relativa (relacionamento temporal entre as mos direita e esquerda,

    dado em graus) o resultado da focalizao da ateno na mo preferida

    geralmente conduz a maior estabilidade no desempenho (menor desvio padro

    da fase relativa) em comparao ao resultado obtido com o direcionamento da

    ateno outra mo (AMAZEEN, AMAZEEN, TREFFNER & TURVEY, 1997).

    Contudo, algumas vezes prestar ateno na mo no-preferida pode ser a

    melhor estratgia para uma perfeita sincronia (fase relativa prxima a zero) na

    execuo da tarefa (PELLEGRINI, ANDRADE & TEIXEIRA, 2004).

    Um terceiro fator determinante do sucesso na coordenao bimanual

    a quantidade de experincia anterior na realizao de uma determinada tarefa,

    relacionado, portanto, com a quantidade de prtica na tarefa. Os efeitos da

    prtica na aprendizagem de polirritmos (coordenao bimanual com dois

    elementos independentes, um para cada mo, e que se encontram

    temporalmente em um perodo comum e cclico) ficou evidente em estudo

    anterior (ALLEONI, 2003). Msicos praticaram e aprenderam os polirritmos 3:2

    e 4:3, tarefas complexas de tamborilar com os dedos.

  • 5

    O tema central do presente estudo o controle motor em tarefas

    bimanuais, em especfico o efeito da ateno dirigida a uma das mos na

    execuo do tamborilar em diferentes nveis de complexidade. As questes

    focalizadas no presente estudo se referem a: (i) caractersticas espaciais e

    temporais do desempenho de uma tarefa de tamborilar em diferentes nveis de

    complexidade em funo da preferncia manual; (ii) influncia do

    direcionamento da ateno no desempenho espacial e temporal dos

    participantes, e; (iii) relao espacial e temporal entre as mos que conduziria a

    um melhor resultado, isto , menor quantidade de ambos os erros, espacial e

    temporal.

  • 6

    2 REVISO DA LITERATURA

    O presente estudo focaliza o efeito da ateno dirigida a uma das mos

    na execuo da tarefa de tamborilar executada em diferentes nveis de

    complexidade. O suporte terico que subsidiar o presente projeto de

    investigao abranger aspectos do controle motor relacionados com as

    caractersticas espaciais e temporais das tarefas bimanuais, em particular as

    de tamborilar, o nvel de complexidade destas tarefas, e o efeito da ateno

    dirigida s mos em funo da preferncia manual.

    2.1 CARACTERSTICAS ESPACIAIS E TEMPORAIS DA TAREFA

    MOTORA DE TAMBORILAR

    O tempo de movimento (TM) e a organizao temporal relativa (OTR) so

    os dois aspectos temporais mais importantes de uma tarefa motora. O tempo

    de movimento corresponde ao intervalo temporal entre o incio e o fim de uma

    ao motora, compreendendo assim a durao total dos deslocamentos dos

    segmentos corporais que compem a tarefa. O TM tem seu incio com o

    primeiro deslocamento feito na execuo da tarefa e termina quando a meta da

  • 7

    tarefa alcanada e/ou o ltimo deslocamento corporal relativo tarefa feito.

    O tempo de movimento varia de acordo com as restries espaciais e

    temporais impostas na ao como um todo.

    A Organizao Temporal Relativa vem sendo utilizada na lngua

    portuguesa como uma traduo da palavra inglesa relative timing. O relative

    timing um parmetro de grande importncia no comportamento adaptativo do

    dia-a-dia do ser humano sempre que as demandas temporais da tarefa so

    alteradas (TYDESLEY & WHITING, 1975). A OTR a estrutura temporal

    fundamental da tarefa e independe da velocidade e amplitude total do

    movimento (SCHMIDT, 1993). Ela corresponde ao conjunto dos tempos

    parciais dos componentes da ao em relao ao tempo de movimento. Toda e

    qualquer alterao no TM corresponde a uma alterao proporcional em cada

    um dos tempos parciais que constituem a OTR.

    O espao pode ser identificado como o local em que ser realizada

    uma tarefa, uma rea de atuao do organismo, e contm os alvos que ele

    deve atingir. Ele pode ser medido pelo comprimento da dimenso ocupada. De

    modo geral, a dimenso espacial est vinculada passagem do tempo, pois na

    execuo de uma tarefa h um intervalo temporal entre o incio e o final do

    deslocamento de parte(s) do corpo no espao, ou seja, de sua dimenso

    espacial.

    Em uma tarefa com objetivos espaciais (toque em alvos ou desenho de

    crculos), a dimenso espacial pode ser avaliada com base na variabilidade

    espacial dos deslocamentos dos membros superiores. Acertar os alvos ou

    desenhar um crculo requer do indivduo ateno durante a execuo do

  • 8

    movimento, sincronizando espacial e temporalmente seus membros superiores

    com os componentes da tarefa. De modo geral, a ateno dirigida a algo no

    espao sendo que na coordenao manual a viso responsvel por identificar

    a informao para a ao motora, retro-alimentando o organismo para posterior

    correo do movimento.

    Cada tarefa motora executada pelo organismo em um determinado

    ritmo. Wing e Kristofferson (1973a; 1973b) propuseram um relgio interno que

    responderia pelo controle temporal das aes motoras do ser humano. A

    durao das aes motores estaria relacionada identificao de um estmulo

    ambiental, programao motora e transmisso dos sinais neurais. Em uma

    tarefa de tamborilar, quando uma meta temporal requerida atravs de um

    metrnomo, o indivduo controla o intervalo temporal entre um toque e outro

    posterior pela transmisso dos sinais neurais.

    Zelaznik, Spencer e Ivry (2002), com base nos resultados de quatro

    experimentos com tarefas de toque repetitivo de uma das mos e desenho de

    crculos da outra mo, sugeriram que o momento de incio de um movimento

    seria definido a partir de um estmulo externo (denominado processo explcito),

    ou seja, a resposta motora ocorreria a partir do estmulo fornecido pelo meio.

    No entanto, a estrutura temporal do movimento seria um processo implcito

    cuja resposta motora seria dada a partir das caractersticas internas do

    organismo. Como conseqncia das caractersticas do processo implcito, o

    executante da tarefa motora apresenta um mnimo de variabilidade de resposta

    no intervalo temporal entre um toque e o toque imediatamente posterior.

  • 9

    Outro elemento central na execuo de habilidades manuais a

    informao relevante das caractersticas espaciais e temporais para a ao,

    captada no meio ambiente ou no prprio organismo. Esta informao captada

    pelos rgos de sentido, dentre eles, a viso. Um trabalho clssico nos estudos

    sobre a captura de informao na coordenao manual o de Keele e Posner

    (1968), no qual, o participante deslocava o membro superior a um ngulo de

    45 no plano horizontal em diferentes tempos de movimento (150, 250, 350 e

    450 ms) e com a captura da informao visual sendo ou no bloqueada. Foi

    constatado que o feedback visual de um movimento de durao maior do que

    250 ms contribui para melhoria da preciso na realizao da tarefa. O

    desempenho dos participantes na tarefa com o TM de 150 ms foi semelhante

    entre as condies com ou sem viso.

    Zelaznik, Schmidt, Gielen e Milich (1983), em estudo semelhante ao de

    Keele e Posner, citado acima, porm com velocidades mais altas, verificaram

    que em movimentos rpidos (70 ms) a informao de feedback visual contribui

    apenas no que diz respeito direo do movimento diante da no-alterao na

    amplitude do movimento com base na informao de feedback disponvel. Em

    trabalho de reviso da literatura sobre este assunto Jeannerod (1991) sugeriu

    que tarefas com objetivos espaciais e temporais que requeiram correes de

    movimento deveriam ser realizadas com TM acima de 150 ms.

    Diedrichsen, Hazeltine, Kennerley e Ivry (2001) realizaram um estudo

    focalizando a direo do movimento e verificaram que a execuo de

    movimentos no sentido horizontal mais rpida do que no sentido vertical. Os

    alvos a serem tocados pelos participantes foram colocados a 10 cm do ponto

  • 10

    inicial nas trajetrias paralelas (sentido horizontal) e ortogonais (sentido

    vertical). De acordo com os autores, movimentos para a direita ou para a

    esquerda so mais fceis de serem executados pelos participantes em tarefas

    de laboratrio do que os movimentos executados para frente ou para traz.

    Geralmente, os movimentos realizados no dia-a-dia so no sentido horizontal

    ou uma combinao do sentido horizontal com o vertical, de modo que, a

    experincia em tarefas do cotidiano pode facilitar a realizao de tarefas de

    laboratrio, utilizadas em experimento.

    O tempo e o espao so dimenses muito exploradas em estudos

    sobre o Comportamento Motor principalmente naqueles que envolvem a

    movimentao das mos em direo a um mesmo alvo. As dimenses

    espaciais e temporais, avaliadas em termos dos erros espacial e temporal

    respectivamente, podem ser utilizadas para descrever as caractersticas da

    tarefa ou ainda como ferramenta para avaliao do comportamento humano

    em tarefas motoras. No presente estudo, estas dimenses sero manipuladas

    nas vrias condies experimentais possibilitando avaliar a importncia da

    ateno dirigida a uma das mos na tarefa de tamborilar em funo da

    preferncia manual.

    2.2 PREFERNCIA MANUAL

    O ser humano ao longo de sua histria de vida aprende a realizar

    diversas tarefas manuais para poder adaptar-se aos costumes da sociedade na

    qual ele vive. Tarefas como escrever uma carta, lanar uma bola ou pentear o

    cabelo, so feitas com apenas uma das mos e o prprio indivduo tem a

  • 11

    liberdade de escolher com qual mo ir realiz-las. A escolha de uma das

    mos para realizar uma determinada tarefa definida como preferncia manual

    do indivduo, que pode ocorrer a partir de alguns fatores como a imposio dos

    pais na utilizao de uma das mos j na infncia ou pelo conjunto de

    restries orgnicas de modo que ele prprio seleciona a mo que considera

    mais adequada para a realizao da tarefa. Geralmente, esta escolha pela mo

    preferida se estabelece em crianas com idades entre quatro e dez anos

    (GUDMUNDSSON, 1993).

    Este perodo da infncia propcio para o desenvolvimento de diversas

    habilidades prprias da espcie humana e tambm para o aprendizado de

    habilidades culturais que so importantes para a sobrevivncia de cada pessoa

    no meio social. Um bom exemplo de habilidade aprendida o tamborilar que

    normalmente ensinada por professoras de escola por volta dos seis anos de

    idade, quando a criana entra no Ensino Fundamental. Em estudo com 337

    crianas, idades entre cinco e nove anos, Pellegrini, Hiraga, Andrade e

    Cavicchia (2003) solicitaram a execuo das tarefas presentes no Inventrio de

    Edinburgh (OLDFIELD, 1971) com algumas modificaes para garantir o

    entendimento e a segurana das crianas. Os resultados mostraram que as

    crianas avaliadas apresentavam consistncia por volta de 95% no uso da mo

    preferida.

    Existem diferentes maneiras de se avaliar a preferncia manual e de

    modo geral ela determinada com base na mo que realiza as tarefas do dia-

    a-dia como escrever, recortar ou abrir uma caixa (OLDFIELD, 1971;

    TREFFNER & TURVEY, 1995; ROSA NETO, 2002). Em estudos que envolvam

  • 12

    a preferncia manual, o meio utilizado para definir tal preferncia em forma

    de inventrio, mas para algumas pessoas esta avaliao no to precisa

    (GABBARD, 1998). Ainda, algumas vezes as tarefas realizadas nos testes de

    laboratrio so diferentes daquelas realizadas nos testes para definir a

    preferncia manual de modo que pode ocorrer uma inverso na preferncia

    manual do participante durante o experimento. De modo geral, a informao do

    prprio executante sobre sua preferncia manual para escrever ou lanar uma

    bola tem sido utilizada na identificao da preferncia manual em pesquisas

    sobre a coordenao manual e, ainda, uma posterior anlise dos dados

    experimentais pode legitimar a informao obtida inicialmente.

    Definir qual mo usar para realizar uma tarefa pode ser uma deciso

    fcil e muitas vezes rpida, sendo que h, na populao como um todo, uma

    grande predominncia de pessoas com preferncia manual direita (destros) em

    relao s pessoas com preferncia manual esquerda (canhotos). Como

    conseqncia, os materiais e ferramentas criados para uso dirio como o

    abridor de latas, a maaneta de uma porta ou o mouse do computador, foram

    dimensionados para uso da mo direita o que obriga pessoas canhotas a

    utilizarem com maior freqncia mo no-preferida quando comparado com

    pessoas destras.

    O uso constante de uma mesma mo em habilidades unimanuais j no

    perodo da infncia e de ambas as mos pelos canhotos pode provocar

    assimetria funcional, ou seja, diferena de desempenho entre as mos devido

    utilizao predominante de uma delas nas tarefas realizadas no dia-a-dia

    (FAGARD, 1987). Em todas as tarefas que requerem a utilizao de apenas

  • 13

    uma das mos ou mesmo nas tarefas bimanuais nas quais uma das mos deve

    liderar o movimento (como na ao de varrer, onde a mo que segura a parte

    de cima da vassoura comanda o movimento e a mo de baixo serve como

    estabilizador do objeto), a mo preferida a executante ou a mo lder,

    escolhida pela prpria pessoa. A mo preferida ser sempre a escolhida para a

    execuo da tarefa a no ser que haja uma forte restrio impedindo o seu

    uso.

    Alguns estudos na rea do comportamento motor tm sido realizados

    para investigar o efeito da assimetria funcional. Um exemplo o estudo de

    Hoffmann, Chang e Yim (1997) no qual os autores investigaram o uso do

    mouse por 20 participantes, sendo dez destros e dez canhotos, em uma tarefa

    unimanual de acertar alvos de diferentes ndices de dificuldade com a mo

    direita ou esquerda. Com base nos resultados eles concluram que o tempo de

    movimento da mo no-preferida dos canhotos foi menor do que o dos destros.

    Ainda, a semelhana no comportamento entre as mos dos canhotos no foi

    observada entre os destros que apresentaram melhor desempenho da mo

    direita, a preferida, comparado com o da mo esquerda, a no-preferida. Mas,

    como seria o comportamento das mos em tarefas bimanuais? Esta diferena

    de desempenho entre as mos tambm seria observada entre pessoas com

    preferncia manual direita e esquerda?

    As respostas motoras realizadas pelas pessoas a estmulos

    provenientes do meio ambiente so passveis de atrasos ou antecipaes,

    porm, em geral, elas tendem a antecipar os movimentos de uma mo em

    relao outra. O desempenho dos dedos na ao de tocar violino foi

  • 14

    comparado por Baader, Kazennikov e Wiesendanger (2005) com pessoas de

    nveis diferentes de experincia. Os resultados indicaram haver antecipao

    quanto tentativa de sincronizao a um estmulo e que havia sempre uma

    diferena, de 50 a 100 ms entre os dedos, a favor dos dedos mais utilizados,

    no-perceptvel aos participantes. Relacionando as mos direita e esquerda em

    tarefas bimanuais, simples e complexas, em um estudo com seis msicos e

    seis no-msicos, todos destros, Summers, Ford e Todd (1993), concluram

    que a mo no-preferida (esquerda) atrasava em relao ao intervalo temporal

    esperado e era subordinada mo preferida (direita). Em resumo, h

    evidncias na literatura de diferenas entre as mos na realizao de

    diferentes tarefas bimanuais em funo da preferncia manual.

    Feitas as consideraes iniciais sobre as caractersticas espaciais e

    temporais da tarefa motora e sobre diferenas entre as mos devido

    preferncia manual sero abordados a seguir assuntos mais especficos ao

    foco principal do estudo que so: a coordenao bimanual e a ateno dirigida

    a uma das mos.

    2.3 COORDENAO BIMANUAL

    A rea de estudo do Comportamento Motor teve um grande impulso

    em seu desenvolvimento com a traduo dos trabalhos de Bernstein (1967),

    quando foi exposta a necessidade do ser humano solucionar dois problemas

    para o controle motor, a saber: o dos graus de liberdade do organismo para a

    realizao de movimentos voluntrios e o da variabilidade condicionada ao

    contexto em que o movimento executado. O problema dos graus de liberdade

  • 15

    se refere s inmeras estruturas articulares, sseas e musculares que se

    relacionam para que o organismo realize uma ao motora. De modo geral, a

    execuo adequada de uma ao motora ocorre em decorrncia da prtica

    realizada pelo indivduo que aos poucos vai aprendendo a liberar, congelar e

    controlar os graus de liberdade de modo a apresentar os relacionamentos

    adequados para a habilidade em questo. Alm disso, a execuo da tarefa

    motora deve ser planejada a partir das caractersticas do contexto em que o

    indivduo se encontra naquele momento, ou seja, a seleo e a ativao dos

    msculos e articulaes para a produo dos deslocamentos dos segmentos

    corporais depende do contexto em que a ao realizada. Por exemplo, a

    flexo do brao pode ser feita com a ativao/co-ativao de diferentes

    msculos dependendo da posio em que o indivduo se encontra perante a

    ao da fora da gravidade. Portanto, no existe um nico conjunto de

    ativaes musculares para execuo de uma tarefa motora, mas vrios deles

    que sero utilizados dependendo, por exemplo, das foras externas que agem

    no organismo.

    Os estudos de Gibson (1966; 1979) contriburam para nortear as

    discusses a respeito da importncia da interao do indivduo com o

    ambiente. O organismo passou a ser considerado como pertencente a um

    nicho ecolgico que est em constante mudana, de modo que ora o

    organismo induz a mudana no meio, ora ele induzido a mudanas pelo

    meio. No contexto da abordagem ecolgica gerada pela contribuio de

    Gibson, a informao passou a ser considerada a partir dos estmulos obtidos

    pelo organismo pertinentes ao a executar. O conceito de affordance,

  • 16

    introduzido por Gibson, sinaliza ao homem o que permitido a ele realizar num

    determinado ambiente, como por exemplo, ao ver uma cadeira o ser humano

    sabe que pode sentar na mesma ou que uma faca permite cortar algo desde

    que segura de uma determinada forma.

    A partir do referencial terico de Bernstein e Gibson, a rea de estudo

    do comportamento motor foi direcionada ao estudo da relao do indivduo com

    o meio. Newell (1986) acrescentou a tarefa a esta relao, formando um

    trinmio organismo-ambiente-tarefa, em que cada componente possui um

    conjunto de caractersticas restritivas que permitem a ocorrncia da

    coordenao e do controle da ao motora. Por exemplo, um indivduo, na

    posio ereta em um piso escorregadio e que precisa transportar uma bandeja

    com copos de gua, precisa ampliar a base de apoio das pernas e dos ps e

    diminuir a passada do andar. Assim, o indivduo no realiza simplesmente

    movimentos, mas na sua interao com o ambiente, ele realiza uma tarefa com

    objetivos espaciais e temporais e cujo desempenho depende das restries

    tanto do prprio organismo, do ambiente como, tambm, da tarefa a ser

    executada.

    Elemento central na execuo de habilidades motoras est a

    coordenao, definida por Turvey (1990) como a organizao do controle do

    aparato motor. A realizao de um movimento se inicia pela ativao dos

    msculos para que o corpo se desloque de modo a alcanar o objetivo da

    tarefa. Contudo, a simples ativao muscular para um determinado fim no

    suficiente para alcanar a meta, pois so necessrios ajustes para controlar o

    corpo at a meta ser alcanada (NEWELL, 1985). No caso da coordenao

  • 17

    manual, necessrio que haja comandos para estabilizar o tronco e a cabea

    permitindo a realizao precisa da tarefa pela(s) mo(s).

    2.3.1 Modos de coordenao

    As aes bimanuais podem ser identificadas a partir dos padres

    motores que emergem da relao espao-temporal entre os membros

    superiores. Kelso (1995) define padro motor como um comportamento com

    caractersticas prprias e exclusivas que o identificam e possibilitam ser

    reproduzido pelo mesmo organismo ou por outros organismos. Os padres de

    coordenao so executados de forma harmoniosa pelo organismo de modo

    que o padro mais estvel ser o modo de coordenao preferido do sistema.

    O padro de coordenao foi identificado por Kelso, Holt, Rubin e

    Kugler (1981) na coordenao bimanual na oscilao do dedo indicador das

    mos direita e esquerda e por Grillner (1982, In: HAKEN, KELSO & BUNZ,

    1985) na locomoo de quadrpedes no relacionamento entre as patas

    dianteiras e traseiras. Grillner teria identificado uma mudana no padro

    conforme o cavalo aumentava a velocidade, mudana esta do modo fora de

    fase para o modo em fase, sendo que em altas freqncias o sistema

    passaria a coordenar os dois membros anteriores como se fossem um, o

    mesmo ocorrendo com os dois membros posteriores, havendo um estado

    atrator que puxaria (atrairia) o sistema para aquele comportamento.

    Posteriormente, Kelso, um estudioso do comportamento motor, junto

    com um fsico e um matemtico (HAKEN, KELSO & BUNZ, 1985)

    apresentaram um modelo matemtico (conhecido como Modelo HKB) para

    identificar a estabilidade e a quebra da estabilidade dos deslocamentos inter-

  • 18

    membros. Os autores demonstraram em frmulas a estabilidade dos padres

    de coordenao, identificados como em fase(realizados pela co-ativao de

    msculos homlogos, em uma relao de fase entre os membros de 0 ou

    360) e fora de fase (realizados pela co-ativao de msculos no-

    homlogos), em uma relao de fase entre os membros de 180. Estes dois

    modos estveis de coordenao (0 e 180), quando solicitados, poderiam ser

    facilmente demonstrados pelos participantes. Porm, o modo em fase

    mostrou ser mais estvel, pois o aumento gradativo da freqncia de

    movimento na relao de 180 induziu a mudana para a relao de 0. No

    entanto, a freqncia de movimento na relao de 0 quando aumentada no

    conduziu a modificao nesta relao. A freqncia foi identificada como

    parmetro de controle, pois a varivel do sistema que, ao ser manipulada,

    determina o comportamento do mesmo.

    O padro de coordenao em fase considerado um estado atrativo

    do sistema e se refere a movimentos dos segmentos corporais que so

    sincronizados. Com isso, o ser humano limita-se a fazer atividades iguais ou

    complementares com os segmentos corporais, e poucas vezes a mo direita

    realiza, simultaneamente, tarefa diferente da mo esquerda. Swinnen, Young,

    Walter e Serrien (1991) exploraram a capacidade do Sistema Nervoso Central

    do ser humano de organizar e controlar paralelamente dois padres de

    movimento. As variveis utilizadas foram o tempo de movimento, a amplitude

    de movimento, a acelerao angular e a atividade eletromiogrfica do bceps e

    do trceps braquial. Nestes nveis de anlise do movimento foi detectada uma

    tendncia em sincronizar os deslocamentos espao-temporais do membro

  • 19

    direito com os do membro esquerdo. Contudo, a prtica especfica contribuiu

    para que o sistema conseguisse minimizar esta tendncia de sincronizao.

    A prtica pode contribuir para a emergncia de um outro estado

    atrativo que no o em fase e o fora de fase. Zanone e Kelso (1992) e

    Wenderoth e Bock (2001) comprovaram que a relao de fase inter-membros

    de 90 tambm poderia ser um estado atrativo para o sistema, pois este modo

    de coordenao na relao de fase de 90 apresentou maior estabilidade aps

    um perodo de prtica. Bom desempenho tambm pode ser alcanado aps

    certo perodo de prtica em tarefas de ritmos manuais diferentes, como por

    exemplo, nos polirritmos 5:3 (SUMMERS & KENNEDY, 1992) e 3:2 (KURTZ &

    LEE, 2003).

    Na rea do Comportamento Motor, os estudos dirigidos

    aprendizagem de padres mostram que o ser humano capaz de adquirir

    padres de coordenao bimanual que no so realizados no dia-a-dia. E a

    aquisio de padres estveis de coordenao pode facilitar o aprendizado de

    um novo padro de coordenao (ZANONE & KELSO, 1997; WENDEROTH,

    BOCK & KROHN, 2002). A aprendizagem e tambm a transferncia de

    aprendizagem para um novo padro de coordenao foram confirmadas por

    Smethurst e Carson (2001) atravs de um programa de treinamento com a

    relao de 90 entre os membros e a transferncia posterior para a relao de

    270 entre os membros. Os autores demonstraram que o aprendizado da tarefa

    foi confirmado tanto em termos de preciso no acoplamento entre os membros

    quanto na estabilidade do padro de coordenao requerido.

  • 20

    Wenderoth e Bock (2001) sugeriram trs processos distintos que

    poderiam influenciar um padro de coordenao: a mudana de um padro, a

    manuteno de um padro e a intencionalidade na execuo de um padro de

    coordenao. A mudana e a manuteno de um padro poderiam ser vistos

    quando da manipulao de um parmetro de controle, sendo que haveria um

    acoplamento neural para os movimentos voluntrios manuais e os autores

    consideraram ainda que este acoplamento talvez fosse a nvel subcortical.

    A intencionalidade na execuo de um padro de coordenao foi

    estudado por Mechsner, Kerzel, Knoblich e Prinz (2001). Os autores

    observaram que a mudana de um padro a outro no ocorre apenas com os

    msculos homlogos, pois a posio dos membros pode no interferir na

    emergncia de um estado atrativo. Para estes autores, a coordenao e o

    controle de padres de coordenao so processos puramente cognitivos. Por

    sua vez, Pellecchia e Turvey (2001) demonstraram que o modo de

    coordenao fora de fase poderia ser estvel o suficiente de modo a no

    sofrer mudana mesmo com o aumento da freqncia na coordenao

    bimanual pela atividade cognitiva intencionalmente dirigida a este objetivo. A

    intencionalidade do indivduo determinaria exclusivamente a execuo de

    determinado modo de coordenao. Contudo, Mechsner e seus colaboradores

    foram questionados pelos pesquisadores da rea e criticados principalmente

    por Carson e Kelso (2004).

    O trabalho de Mechsner e seus colaboradores recebeu tanta ateno

    dos pesquisadores da rea de Controle Motor, mais especificamente da

    Coordenao Bimanual, que um peridico internacional (Journal of Motor

  • 21

    Behavior) publicou uma edio no ano de 2004 em que Mechsner teve a

    oportunidade de defender sua idias e diversos autores renomados da rea de

    Controle Motor puderam se manifestar favorveis ou no s idias de Mescher

    e colaboradores (2001). Dentre os artigos publicados est o de Carson e Kelso

    (2004), onde eles defenderam a participao do sistema como um todo,

    considerando os aspectos neural, anatmico, cognitivo e cortical na

    organizao do movimento, descartando a possibilidade de uma atuao

    exclusivamente psicolgica (cognitiva). O presente trabalho focaliza no s a

    ateno que um mecanismo de grande importncia na cognio, mas

    tambm outros elementos do sistema que tambm desempenham papel

    importante na organizao da coordenao bimanual, em especfico na tarefa

    de tamborilar em diferentes nveis de complexidade.

    2.3.2 Tarefas bimanuais complexas

    As atividades bimanuais nos modos em fase, fora de fase e de 90

    so executadas por uma relao simples entre as mos (1:1), isto , a cada

    movimento de um membro h um movimento do outro membro. Existem

    tarefas com outras relaes entre os toques da mo direita e da mo esquerda

    como, por exemplo, 2:1, 7:4. As relaes simples ou mltiplas integrais so

    estabelecidas quando a diviso do 1 elemento pelo 2 gera um nmero inteiro

    (por exemplo, 1:1, 2:1, 3:1) (DEUTSCH, 1983). Ainda segundo esta autora, as

    relaes so identificadas como complexas quando a proporo entre os dois

    elementos resulta em um nmero no-inteiro (por exemplo, 3:2, 7:5, 6:5)

    Geralmente, estas estruturas temporais complexas so estudadas em

    pesquisas com tarefas bimanuais polirrtmicas (HANDEL & OSHINSKY, 1981;

  • 22

    DEUTSCH, 1983; PETERS & SCHWARTZ, 1989; SUMMERS & KENNEDY,

    1992; SUMMERS, FORD & TODD, 1993; SUMMERS, ROSENBAUM, BURNS

    & FORD, 1993; KURTZ & LEE, 2001; KURTZ & LEE, 2003) com batidas

    seguidas em um mesmo lugar como no tamborilar sem uma meta quanto ao

    deslocamento espacial.. Contudo, as tarefas realizadas no dia-a-dia no so

    puramente temporais de modo que para verificar o comportamento do sistema

    seria importante investigar tarefas prximas s realizadas no cotidiano,

    portanto incluindo deslocamento espacial.

    Na reviso da literatura sobre este assunto encontramos alguns

    estudos nos quais metas espaciais e temporais foram combinadas nas tarefas

    estudadas como no de Kelso, Southard e Goodman (1979) e no de Marteniuk,

    McKenzie e Baba (1984). Estes pesquisadores buscaram verificar o

    acoplamento temporal e espacial das mos para o acerto de diferentes alvos e

    concluram que os executantes provaram iniciar e terminar os movimentos

    juntos, mesmo quando eles diferiam em complexidade.

    Tarefas bimanuais em que as mos desempenham deslocamentos

    espaciais diferentes foram utilizadas tambm em vrios estudos sobre o

    comportamento do sistema. Por exemplo, no estudo de Franz, Zelaznik e

    Mccabe (1991), os participantes desenhavam um crculo com uma mo

    enquanto a outra mo fazia uma reta. Em um outro estudo, Franz, Eliassen,

    Ivry e Gazzaniga (1996) em vez da reta a outra tarefa era um tringulo. Os

    resultados destes dois estudos evidenciaram a dificuldade ou mesmo

    impossibilidade das mos executarem tarefas espacialmente diferentes ao

    mesmo tempo.

  • 23

    As tarefas bimanuais com caractersticas espaciais e/ou temporais

    diferentes para cada uma das mos podem ser consideradas como complexas

    se comparadas s tarefas feitas com apenas uma das mos ou ainda, s

    tarefas bimanuais com caractersticas espaciais e temporais semelhantes. Este

    maior nvel de complexidade decorrente da necessidade do controle de um

    maior nmero de elementos diferentes. Tracy, Faro, Mohammed, Pinus, Madi e

    Laskas (2001) estudaram a ativao cerebral, atravs da tcnica de imagem de

    ressonncia magntica funcional (fMRI), em pessoas normais com preferncia

    manual direita realizando movimentos unimanuais e bimanuais de pronao e

    supinao do antebrao. Os autores concluram que a execuo de

    movimentos bimanuais implica num maior nmero de regies do crebro sendo

    ativadas quando comparado com o nmero de regies ativadas durante

    movimentos realizados com apenas uma das mos.

    Considerar ser a atividade bimanual mais complexa do que a atividade

    unimanual pelo simples fato de haver um maior nmero de elementos a serem

    controlados pode no ser suficiente diante dos pressupostos da Teoria da

    Complexidade. De acordo com esta teoria, a complexidade identificada pela

    maior quantidade e variedade de elementos de um sistema e de relaes entre

    os elementos. Um sistema pode ser definido como uma entidade unitria de

    natureza complexa e organizada, formado por um conjunto de elementos ativos

    que mantm relaes garantindo a identidade do mesmo (BRESCIANI FILHO

    & D'OTTAVIANO, 2000). O homem pode ser visto como um sistema que possui

    diversos elementos diferentes e que mantm relao com outros sistemas ao

    seu redor. O comportamento do sistema, no que tange produo do

  • 24

    movimento, pode ser entendido como resultado das interaes dos muitos

    graus de liberdade dos sub-sistemas, caractersticos em sistemas complexos

    que emerge a partir da interao destes sub-sistemas (BARELA, 1997). Na

    execuo de uma atividade bimanual, as relaes estabelecidas entre os sub-

    sistemas podem ser bem desempenhadas pelo organismo por serem

    relativamente simples e permitirem a participao dos dois membros

    superiores.

    Em um primeiro momento, seramos levados a pensar que o nvel de

    desempenho de uma das mos na tarefa unimanual seria sempre melhor do

    que o desempenho desta mesma mo na tarefa bimanual. Helmuth e Ivry

    (1996) utilizaram o modelo do relgio interno de Wing e Kristofferson (1973a;

    1973b), citado anteriormente, para verificar a variabilidade do intervalo entre

    toques executados em seqncia, tendo sido assumido que o ser humano

    possui um relgio interno e que o intervalo entre os toques deveria ser mantido

    estvel. Com base nos dados experimentais levantados, Helmuth e Ivry (1996)

    observaram que a variabilidade da mo no-preferida na tarefa de tapping

    bimanual foi menor em relao variabilidade desta mesma mo no tapping

    unimanual. A variabilidade tambm foi menor quando a tarefa de toque

    simultneo foi realizada com a ativao simultnea de diferentes grupos

    musculares e em diferentes membros de uma mesma pessoa (por exemplo,

    cotovelo direito e dedo indicador da mo esquerda). A explicao dada por

    Helmuth e Ivry foi que na tarefa manual o sistema fornece estmulo de ativao

    muscular para os dois lados do corpo (sejam as mesmas estruturas anatmicas

    ou estruturas diferentes) e que na execuo da tarefa unimanual o sistema

  • 25

    precisa inibir a estimulao do lado que no ser utilizado na ao. Os

    resultados indicaram que o desempenho de cada uma das mos foi mais

    estvel na tarefa bimanual em relao ao desempenho na tarefa unimanual e

    os autores concluram que esta melhora de desempenho estaria relacionada

    com o controle intrnseco das aes, isto , com a organizao interna do

    sistema.

    Na seqncia de seus estudos sobre coordenao bimanual Ivry e

    Hazeltine (1999) compararam o desempenho de uma paciente com

    calosotomia (seco do corpo caloso) com o desempenho de duas pessoas

    normais. Os desempenhos da paciente e das pessoas normais foram

    semelhantes e os resultados foram similares aos encontrados anteriormente

    por Helmuth e Ivry (1996, Experimento 2). Tais resultados levaram os autores a

    sugerir que os comandos dos dois hemisfrios so integrados sub-

    corticalmente.

    Nesta linha de pesquisa, Franz, Zelaznik, Swinnen e Walter (2001)

    focalizaram o efeito das propriedades espaciais da tarefa de desenho de semi-

    crculos com uma ou duas mos em quatro condies. Na condio unimanual

    deveriam ser feitos semi-crculos com cada uma das mos na parte superior e

    na parte inferior do espao; na tarefa bimanual as condies eram de semi-

    crculos na parte inferior-superior, superior-inferior, inferior-inferior e superior-

    superior considerando as mos direita e esquerda. O desempenho do

    deslocamento dos membros nas condies unimanuais foi semelhante ao

    desempenho nas condies bimanuais superior-superior, inferior-inferior,

    superior-inferior. A condio inferior-superior foi desempenhada com maior

  • 26

    variabilidade espacial, resultado explicado pelos autores por ser uma condio

    no vivenciada anteriormente pelos participantes ao contrrio das demais

    condies.

    Estudar o Comportamento Motor com base em experimentos que

    utilizam apenas tarefas unimanuais ou mesmo tarefas bimanuais simples pode

    dar uma viso parcial do problema, pois os seres humanos tambm realizam

    atividades motoras que so coordenadas na relao mais complexa entre os

    membros (como por exemplo, tocar piano ou desempenhar malabarismo com

    trs ou mais bolas). De modo geral, estudos que se apiam na performance de

    atividades complexas so realizados com a avaliao das dimenses espaciais

    e temporais dos deslocamentos espaciais e intervalos temporais especficos de

    cada uma das mos.

    A realizao da tarefa em diversos nveis de complexidade

    fundamental para que o indivduo possa responder com preciso em situaes

    mais desafiadoras. Por exemplo, no estudo de Hicks, Bradshaw, Kinsbourne e

    Feigin (1978), diminuio no nvel de performance da mo direita dos

    participantes em tarefa dupla (pressionar teclas e falar uma frase) ocorreu na

    tarefa de nvel de complexidade mais elevado que consistia em pressionar

    quatro teclas diferentes com os dedos da mo direita e da mo esquerda e

    ainda recitar uma frase solicitada. Sendo assim, estudos que visam investigar a

    ateno na coordenao bimanual deveriam ser conduzidos com tarefas de

    diferentes nveis de complexidade para que se obtivesse o resultado do

    comportamento em situaes que demandem diferentes demandas atencionais

  • 27

    do participante. A reviso da literatura apontou vrios estudos sobre isso ainda

    na dcada de 80.

    Handel e Oshinsky (1981), analisaram o desempenho de 17 msicos

    executando cinco diferentes condies complexas de coordenao bimanual

    (2:3, 2:5, 3:4, 3:5 e 4:5). Os resultados indicaram que o desempenho dos

    participantes foi pior nas condies mais complexas (3:5 e 4:5). Deutsch (1983)

    realizou um experimento semelhante no qual trs msicos realizaram 25

    condies de uma tarefa em que todos os movimentos bimanuais possveis

    foram combinados envolvendo no mnimo um e no mximo cinco toques com

    cada uma das mos (por exemplo, 1:1, 1:2, 1:3, 1:4, 1:5, 2:1, 2:2, 2:3 2:4, 2:5, e

    assim por diante). O desempenho na habilidade bimanual nos nveis

    complexos (como 3:2, 4:3, 5:2 ou 5:4) foi significativamente pior que nos nveis

    simples (como 1:1, 2:1 3:3 ou 4:1). Ainda, entre as condies complexas, a

    execuo da coordenao 2:3 foi mais precisa que a execuo da 2:5 e a

    execuo da 5:2 foi mais precisa que a das condies 5:4 e 5:3, que eram as

    mais complexas.

    As tarefas de coordenao bimanual dependem principalmente dos

    sistemas visual, auditivo e proprioceptivo para a obteno das informaes

    relevantes para execuo da ao motora. De acordo com Hatore (2005), o

    sistema visual desempenha importante papel na obteno das informaes

    espaciais, principalmente em tarefas cujos objetivos consistem no acerto de

    alvos, assim como os sistemas auditivo e proprioceptivo so responsveis pela

    obteno das informaes temporais disponveis no meio ambiente. Khan

    Lawrence, Fourkas, Franks, Elliott e Pembroke (2003) realizaram um estudo

  • 28

    semelhante ao de Keele e Posner (1968), porm com diferentes distncias a

    serem atingidas e com a informao visual sendo fornecida em um vdeo. Os

    resultados indicaram que a informao visual interfere na preciso espacial da

    tarefa independentemente do tempo de movimento (tempos de movimento

    utilizados: 225, 300, 375 e 400 ms). Porm, o desempenho espacial dos

    participantes (todos com preferncia manual direita) variou mais nos dois alvos

    mais distantes (distncias utilizadas: 6, 12, 18 e 24 cm). Uma vez que a

    obteno da informao visual depende da ateno dirigida a aspectos

    relevantes para a execuo da tarefa, apresentamos a seguir reviso da

    literatura sobre a questo do direcionamento da ateno.

    2.4 ATENO

    Todo mundo sabe o que a ateno , mas tem muita dificuldade em

    explicar ou definir exatamente o que ela seja. Poderiam ser colocadas diversas

    afirmaes populares com respeito ao que ateno, mas ainda assim, talvez,

    no se chegasse ao significado preciso do termo ateno. Uma afirmativa

    bastante comum no contexto escolar que os alunos no aprendem porque

    no prestam ateno. Estaria a ateno relacionada com a identificao de

    toda e qualquer informao que entra no sistema? Mas o que seria

    informao? Um bom nmero de pesquisas focaliza a ateno e a informao,

    pois estes so elementos do comportamento que, com certeza, esto

    presentes na execuo de toda e qualquer atividade.

  • 29

    Uma busca na literatura considerada clssica nos leva ao trabalho do

    filsofo William James (1890, citado em PELLEGRINI, 2001) que definiu a

    ateno como:

    It is the taking possession by the mind, in clear and vivid form, of

    one of what seem several simultaneously possible objects or

    trains of thought. Focalization and concentration of consciousness

    are of its essence. It implies withdrawal from some things in order

    to deal effectively with others (p. 303-304).

    O conceito contm termos como concentrao, manter o pensamento

    em objetos indicando que os processos cerebrais devem estar ativos no

    momento em que a ateno dirige a ao. Um movimento pode ser realizado

    muito bem sem a participao da conscincia, ou sem a utilizao da ateno,

    mas a ateno fundamental para um bom desempenho de uma ao

    voluntria, intencional. A utilizao da ateno pelo organismo para a

    realizao de uma determinada tarefa tem relao direta com a utilizao da

    viso para focalizao do alvo quando um ou mais objetivo(s) da tarefa

    requer(em) deslocamento espacial.

    A fixao dos olhos em um ponto no espao possibilita ao organismo

    estabilizar uma rea informativa do campo de viso na regio da fvea,

    permitindo um processamento detalhado de informao (RODRIGUES, 2001).

    Neste sentido, o organismo entendido como percebedor por ser capaz de

    perceber a informao que est no ambiente ao captar a luz e processar a

    informao de acordo com suas experincias prvias.

  • 30

    A identificao dos estmulos relevantes para uma determinada ao

    est relacionada ao fixar os olhos em um ponto no espao. Isso ocorre quando

    um nvel mnimo de ateno alocado ao alvo no ambiente. De acordo com

    Posner e Raichle (1994), o sistema visual o sistema sensorial mais

    importante na alocao da ateno. Porm, algumas consideraes devem ser

    feitas com relao ao sistema visual pois, de acordo com Abernethy (1988,

    citado por RODRIGUES, 2001), a ao de olhar (fixao na fvea) diferente

    de ver (processamento de informao ou extrao de dicas), sendo possvel

    fixar a ateno visual em um objeto sem extrair informao especfica a

    respeito dele. No estudo do Comportamento Motor, e em especfico da

    Coordenao Bimanual, o investigador precisa ter conhecimento do

    direcionamento do olhar do executante e instru-lo sobre a ateno dirigida

    informao relevante para a execuo da tarefa. difcil ter certeza de quanto

    de ateno est sendo alocada em uma ao em um determinado momento,

    porm o desempenho do participante nesta ao pode refletir como a ateno

    est sendo distribuda a tal tarefa.

    A incluso de algo novo no campo visual ou mesmo a simples mudana

    intencional de direo de um movimento requer o controle consciente da ao.

    O indivduo precisa ter inteno de realizar a tarefa e esta inteno deve

    comandar o direcionamento do foco atencional que, portanto, deve estar

    dirigido tarefa que est sendo realizada. De acordo com Treffner e Turvey

    (1995), o nvel de ateno que alocado tarefa determina o nvel de

    desempenho em atividades que requerem preciso como as mos. A ateno

    alocada tarefa tem um custo para o crebro requerendo um tempo maior

  • 31

    para realizao das aes motoras, principalmente se o organismo estiver

    realizando uma tarefa dupla (HIRAGA, SUMMERS & TEMPRADO, 2004).

    A capacidade de uma pessoa alocar ateno a uma determinada tarefa

    depende principalmente da integridade estrutural do organismo, ou seja,

    depende de que suas clulas e rgos estejam funcionando normalmente. Por

    exemplo, as vias neurais devem estar transmitindo informao, os rgos de

    sentido captando os estmulos do ambiente e a informao sendo

    encaminhada aos rgos de integrao sensrio-motora. A tarefa tambm

    deve ser importante para a pessoa que a ir realizar de modo que ela deve

    conter um significado para quem a realiza. A capacidade adquirida de centrar

    ateno a uma tarefa principal muito importante para o ser humano que

    precisa aprender diversas habilidades motoras, cognitivas, de comunicao e

    adquirir amplo conhecimento a respeito do ambiente em que vive.

    Karatekin (2004), em estudo com crianas e adultos, verificou pelo

    paradigma da tarefa dual (duas tarefas diferentes sendo realizadas em um

    mesmo tempo) que o nvel de habilidade de alocar ateno a uma tarefa

    aumenta com o aumento da idade, isto , a criana possui pouca habilidade em

    alocar ateno comparada a um adulto. De acordo com Alleoni, Pellegrini,

    Tinos e Hatore (2005), em estudo com crianas, a capacidade de focalizar

    ateno a um estmulo pode ser aumentada a partir de um treinamento

    adequado, ou programa de interveno. A prioridade atencional pode ainda,

    conforme Monno, Chardenon, Temprado, Zanone e Laurent (2000), adiantar a

    mudana de fase entre os membros. Neste estudo, a ateno foi dirigida

    execuo dos movimentos e o modo de coordenao fora de fase mudou

  • 32

    para o modo em fase na freqncia de 2 Hz, 0.5 Hz a menos que a

    freqncia que provocou o mesmo efeito no estudo de Haken, Kelso e Bunz

    (1985).

    Assim, se a ateno dirigida ao objetivo da tarefa, por exemplo, tocar

    em alvos com as duas mos a determinados intervalos de tempo, ento, a

    ateno deveria ser alocada s duas mos. Porm, se as duas mos estiverem

    distantes uma da outra, h uma restrio do sistema visual que impede a

    realizao da tarefa de toques manuais com a ateno sendo dirigida

    simultaneamente para ambas s mos. O indivduo precisa, ento, escolher

    para qual lado do corpo dever a ateno ser dirigida no momento de

    execuo da tarefa e esta escolha geralmente se d pela histria de vida da

    pessoa, isto , pelas experincias anteriores. A fixao do foco visual

    permitindo o direcionamento da ateno visual a um dos membros superiores

    ou mesmo a alternncia da ateno de um segmento a outro pode ocorrer em

    funo da preferncia manual que o indivduo desenvolveu ao longo dos anos

    com a realizao das diversas tarefas do cotidiano. A preferncia manual ,

    assim, fator determinante do desempenho das mos em tarefas bimanuais.

    A diferena espacial e temporal entre a mo preferida e a mo no-

    preferida em funo da preferncia manual na execuo de tarefas manuais

    pode ser influenciada por algumas restries impostas tarefa, como por

    exemplo, pelo direcionamento da ateno. Wuyts, Summers, Carson, Byblow e

    Semjen (1996) estudaram o comportamento de pessoas com preferncia

    manual direita e esquerda em uma tarefa bimanual de desenhar crculos na

    relao espao-temporal de 1:1. Para os autores, apesar da ateno mo

  • 33

    no-dominante ter melhorado o desempenho desta mo, as caractersticas

    globais do padro no modificaram. Com isso os autores concluram que a

    ateno pode no ser considerada informao relevante para a coordenao

    intermembros nesta tarefa bimanual de desenhar crculos.

    Contudo, de acordo com Amazeen, Amazeen, Treffner e Turvey (1997),

    a assimetria funcional pode ser minimizada ou maximizada pela focalizao da

    ateno a uma das mos. Com uma tarefa bimanual de deslocamento de

    pndulos, tambm na relao espao-temporal de 1:1, os autores concluram

    que as duas mos tiveram desempenho mais semelhante (maior acoplamento)

    quando a ateno esteve dirigida mo no-preferida, porm maior

    estabilidade foi manifestada quando a ateno foi dirigida mo preferida.

    Ainda, a mo preferida liderou mais o movimento das mos dos participantes

    com preferncia manual esquerda do que daqueles com preferncia manual

    direita.

    Ainda nesta relao espao-temporal de 1:1, Pellegrini, Andrade e

    Teixeira (2004) verificaram, em uma tarefa de toques repetitivos recprocos,

    que quando as crianas dirigem a ateno para a mo no-preferida o

    acoplamento entre as mos (preferida e no-preferida) maior (menor fase

    relativa). Este resultado foi semelhante ao de adultos obtido por Riley,

    Amazeen, Amazeen, Treffner e Turvey (1997) em estudo realizado com a

    tarefa de movimentar um pndulo em cada mo. Foi verificado que as pessoas

    com preferncia manual direita ou esquerda quando direcionam a ateno

    mo preferida aumentam o efeito da preferncia manual e este aumento se

    torna maior em freqncias mais altas.

  • 34

    Quando o executante pode escolher qual mo dirigir sua ateno ento

    a mo preferida parece atrair a ateno para si durante as aes bimanuais,

    (PETERS, 1994). Ainda, o nvel de complexidade da tarefa pode influenciar

    neste resultado, pois, conforme Peters (1994), em uma tarefa simples como a

    coordenao 1:1, a assimetria no interfere no desempenho desde que no

    haja instrues quanto ao foco atencional.

    Esta discusso sobre qual mo deve receber a ateno na execuo de

    tarefa bimanual ocorre devido assimetria funcional que o organismo

    geralmente desenvolve pelas suas experincias vividas. O crebro humano

    possui dois hemisfrios, ligado ao trax h dois braos e em suas

    extremidades duas mos semelhantes (MACHADO, 1993). Contudo, a maioria

    das pessoas prefere utilizar uma das mos para realizar as tarefas do dia-a-dia

    como, por exemplo, escrever com a mo direita e carregar um livro com a

    esquerda, definindo a preferncia manual para as diversas tarefas de

    manipulao de objetos ou de uso de fora. Com o tempo, esta utilizao

    predominante de uma das mos pode diferenciar o nvel de desempenho entre

    elas em tarefas que exigem acerto de alvo ou sincronizao temporal com um

    som externo, resultando em assimetria funcional sendo uma das mos mais

    eficiente para a execuo de uma determinada tarefa.

    Acreditamos que seria de maior interesse para a rea do comportamento

    motor o estudo das relaes temporais simples e complexas entre as mos

    com deslocamentos espaciais similares. A preferncia manual, enquanto

    caracterstica dos participantes, a ao de uma das mos na execuo de

    tarefa bimanual e o direcionamento da ateno a uma ou para a outra mo so

  • 35

    ainda aspectos do comportamento motor que devem ser investigados. Se por

    um lado o nmero de estudos sobre coordenao bimanual bem elevado, por

    outro, vrias so as questes que ainda temos. Selecionamos para o presente

    estudo as seguintes questes: Para qual mo direcionar o foco visual para

    obter o melhor desempenho na coordenao bimanual? O nvel de

    complexidade da tarefa interfere no desempenho de tarefa que envolve

    coordenao bimanual?

  • 36

    3 OBJETIVO

    O objetivo geral deste estudo foi verificar a influncia da ateno

    dirigida a uma das mos na execuo da tarefa bimanual de diferentes nveis

    de complexidade, em funo da preferncia manual.

    Em especfico, verificar o impacto da ateno dirigida a uma das mos,

    em funo da preferncia manual, nas dimenses espacial e temporal da tarefa

    bimanual de tamborilar com: a) diferenciao na dimenso temporal e

    igualdade na dimenso espacial; b) diferentes relaes integrais, e; c) uma

    relao no-integral.

  • 37

    4 HIPTESES

    Foram testadas as seguintes hipteses:

    (H1) independentemente da preferncia manual, os desempenhos

    espacial e temporal seriam melhores nas condies simples de tarefa bimanual

    comparados com os desempenhos na condio complexa de tarefa bimanual;

    (H2) independentemente da preferncia manual, da mo e do nvel de

    complexidade da tarefa, o direcionamento da ateno no interferiria na

    magnitude de erro temporal na execuo de tarefa bimanual;

    (H3) para os participantes canhotos, independentemente do nvel de

    complexidade da tarefa e do direcionamento da ateno, no haveria diferena

    no desempenho espacial entre as mos;

    (H4) para os participantes destros, independentemente do nvel de

    complexidade da tarefa e do direcionamento da ateno, haveria menor

    magnitude de erro espacial para a mo preferida (direita) em relao mo

    no-preferida (esquerda);

    (H5) independentemente da preferncia manual e do nvel de

    complexidade da tarefa, o direcionamento da ateno mo preferida levaria a

  • 38

    aumento na magnitude de erro espacial no desempenho da mo no-preferida,

    em relao execuo da tarefa com o direcionamento da ateno livre;

    (H6) para os participantes destros, a ateno dirigida mo no-

    preferida (esquerda) provocaria diminuio da magnitude de erro espacial

    nesta mo, e aumento da magnitude de erro espacial na mo preferida

    (direita), em relao execuo da tarefa com o direcionamento da ateno

    livre e;

    (H7) para os participantes canhotos, a ateno dirigida mo no-

    preferida (direita) provocaria menor magnitude de erro espacial nesta mo, sem

    alterao na magnitude de erro da outra mo (esquerda), em relao

    execuo da tarefa com o direcionamento da ateno livre.

  • 39

    5 MTODO

    5.1 PARTICIPANTES

    Participaram deste estudo 21 universitrios, voluntrios, saudveis,

    sendo dez com preferncia manual esquerda (cinco homens e cinco mulheres)

    e onze com preferncia manual direita (oito homens e trs mulheres). Os dados

    de um participante com preferncia manual direita e os dados de dois com

    preferncia manual esquerda foram excludos da anlise estatstica devido

    falta de legibilidade na captura do sinal tornando invivel a anlise dos

    mesmos. Assim, para fins de testagem das hipteses, os grupos foram

    compostos por dez pessoas com preferncia manual direita, com idade entre

    19 e 25 anos, e oito pessoas com preferncia manual esquerda, com idade

    entre 17 e 28 anos (Tabela 1, ANEXO).

    O Quociente de Lateralidade manual foi obtido atravs da aplicao do

    inventrio de Edinburgh (OLDFIELD, 1971). Alm disso, foram critrios para

    participao no estudo acuidades visual e auditiva normais ou corrigidas para a

    normalidade.

  • 40

    Todos os participantes receberam inicialmente informao sobre os

    objetivos e os procedimentos que seriam utilizados no estudo, para posterior

    assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido referente

    participao no estudo (ver ANEXO). Os procedimentos relativos participao

    no estudo seguiram as normas e instrues do Comit de tica em Pesquisa

    do Instituto de Biocincias da UNESP de Rio Claro.

    5.2 MATERIAIS

    Tablete (mesa digitalizadora) de dupla entrada com duas ponteiras

    independentes (construda no Centro de Pesquisa Renato Archer CenPRA

    em Campinas/SP); microcomputador; metrnomo digital sonoro; cadeira com

    braos para descanso; software para captura e registro dos dados on line. A

    mesa digitalizadora e o software so materiais que j foram utilizados em uma

    srie de experimentos e foram eficazes na captura e registro de dados da

    performance de tarefas bimanuais inclusive a de toques repetitivos de ida-e-

    volta (PELLEGRINI, MAMMANA, HIRAGA, ANDRADE, ALLEONI, CALVO &

    MARCELINO, 2005).

    5.3 PROCEDIMENTOS

    Os dados foram coletados individualmente, em duas sesses, em uma

    sala especialmente preparada para o estudo e cada participante permaneceu

    sentado diante de uma mesa em frente ao tablete, durante toda a sesso, que

    durava aproximadamente 50 minutos. A tarefa consistia em tocar com a ponta

    das duas lapiseiras em alvos pr-estabelecidos colocados abaixo da tela

  • 41

    transparente do tablete. Os toques foram executados no tablete aps

    deslocamentos espaciais de um a outro alvo com mudana de direo

    (seqenciais) em intervalos temporais de diferentes magnitudes de acordo com

    o nmero de alvos de cada mo na condio experimental. Cada tentativa

    consistia numa seqncia de toques no intervalo de 20 segundos.

    Os alvos tinham dois centmetros de lado e estavam distantes dois

    centmetros um do outro. Enquanto que o tamanho do alvo foi sempre o

    mesmo em todas as condies experimentais, o nmero de alvos variou de um

    a trs conforme a condio experimental (1:1, 2:1, 3:1 e 3:2). O ndice de

    Dificuldade para cada toque (ID = log2 (2 x A)/L , onde ID = ndice de

    Dificuldade; A = amplitude de deslocamento (4 cm), e; L = Largura do alvo

    (2cm)) foi 2 bits/s de informao transmitida (FITTS, 1954).

    Os deslocamentos das mos entre os alvos foram em direes

    opostas, portanto com ativao de msculos homlogos dos membros

    superiores. A tentativa iniciava nos alvos mais distantes em relao linha

    mediana do corpo no plano horizontal, sendo que o primeiro toque da mo

    preferida e o primeiro da mo no-preferida eram simultneos, definindo o

    incio do ciclo. Um ciclo corresponde ao intervalo de tempo durante o qual se

    completa uma seqncia recorrente de eventos e nas tarefas deste estudo o

    ciclo se completava quando as duas mos tocavam simultaneamente nos

    alvos, independente da posio espacial.

    A condio 1:1 foi realizada com um alvo a ser tocado pela mo

    preferida e um alvo a ser tocado pela mo no-preferida em cada ciclo.

    Portanto existiam dois alvos de cada lado, sendo o ndice de Dificuldade desta

  • 42

    tarefa igual a 2 (ver Figura 1). Nesta condio, a durao do ciclo consistia de

    um deslocamento de quatro centmetros em intervalos temporais de 300, 600

    ou 900 ms entre um toque e o outro, para cada mo.

    TAREFA BIMANUAL (na condio 1:1)

    MO ESQUERDA MO DIREITA

    2 cm 2 cm 2 cm 2 cm

    2 cm 2 cm

    11 cm 11 cm

    Figura 1. Representao esquemtica da tarefa bimanual na condio 1:1.

    A condio 2:1 foi realizada com dois alvos a serem tocados pela mo

    preferida e um alvo a ser tocado pela mo no-preferida em cada ciclo.

    Portanto existiam trs alvos no lado da mo preferida e dois alvos no lado da

    mo no-preferida, sendo o ndice de Dificuldade para a mo preferida igual a

    3 e para a mo no preferida igual a 2. Nesta condio, um ciclo de 600 ms

    consistia de dois deslocamentos em seqncia de quatro centmetros cada a

    um intervalo temporal de 300 ms com a mo preferida e um deslocamento de

    quatro centmetros em 600 ms com a mo no-preferida.

    A condio 3:1 foi realizada com trs alvos a serem tocados pela mo

    preferida e um alvo a ser tocado pela mo no-preferida em cada ciclo.

    Portanto, existiam quatro alvos no lado da mo preferida e dois alvos no lado

    da mo no-preferida, sendo o ndice de Dificuldade para a mo preferida igual

    a 3,5 e para a mo no-preferida igual a 2. Nesta condio, um ciclo de 900

  • 43

    ms consistia de trs deslocamentos em seqncia de quatro centmetros cada

    em 300 ms com a mo preferida e um deslocamento de quatro centmetros em

    900 ms com a mo no-preferida.

    A condio 3:2 foi realizada com trs alvos a serem tocados pela mo

    preferida e dois alvos a serem tocados pela mo no-preferida em cada ciclo.

    Portanto, existiam quatro alvos no lado da mo preferida e trs alvos no lado

    da mo no-preferida, sendo o ndice de Dificuldade para a mo preferida igual

    a 3,5 e para a mo no-preferida igual a 3. Nesta condio, um ciclo consistia

    de trs deslocamentos em seqncia de quatro centmetros cada em 600 ms

    com a mo preferida e dois deslocamentos em seqncia de quatro

    centmetros cada em 900 ms com a mo no-preferida (perodo de 1.800 ms).

    As condies 2:1, 3:1 e 3:2 esto representadas na Figura 2 com a quantidade

    de alvos de cada condio, considerando ainda, as possibilidades de

    preferncia manual direita ou esquerda.

    O som do metrnomo era emitido nos primeiros cinco segundos de

    cada tentativa e omitido nos 15 segundos seguintes, de modo que cada uma

    das tentativas tinha a durao de 20 segundos. Este procedimento foi realizado

    a fim de garantir que o participante captasse o ritmo para execuo da tarefa e

    o mantivesse ao longo da tentativa.

    O executante realizou cinco tentativas em cada uma das condies de

    coordenao bimanual (1:1, 2:1, 3:1 e 3:2). Um sinal de alerta era emitido pelo

    computador no intervalo entre zero e trs segundos antes do sinal que indicava

    o incio da tentativa. Um intervalo de 10 segundos entre as tentativas e de 45

    segundos entre as condies era dado para fins de descanso do participante.

  • 44

    CONDIO 2:1

    MO ESQUERDA MO DIREITA

    PREFERIDA NO-PREFERIDA

    NO-PREFERIDA PREFERIDA

    CONDIO 3:1

    PREFERIDA NO-PREFERIDA

    NO-PREFERIDA PREFERIDA

    CONDIO 3:2

    PREFERIDA NO-PREFERIDA

    NO-PREFERIDA PREFERIDA

    Figura 2. Representao esquemtica da disposio dos alvos nas condies 2:1, 3:1 e 3:2 em

    funo da preferncia manual.

  • 45

    O estudo foi realizado em duas sesses para evitar a fadiga por parte

    dos participantes. Na primeira sesso, a Condio 1:1 foi realizada em trs

    intervalos temporais (300, 600 e 900 ms), em ordem contrabalanada entre os

    participantes. Aps a Condio 1:1 ter sido feita nos trs intervalos temporais,

    foram, ento, feitas as condies 2:1, 3:1 e 3:2, tambm em ordem

    contrabalanada entre os participantes. Em todas as condies da primeira

    sesso, os participantes foram orientados a escolher livremente o foco

    atencional.

    Na segunda sesso foram realizadas as tentativas nas condies 1:1,

    2:1, 3:1 e 3:2 com o direcionamento do foco atencional visual mo preferida e

    mo no-preferida em ordem contrabalanada entre os participantes de cada

    grupo. Cada participante fez 40 tentativas, sendo 20 delas com o foco

    atencional mo preferida e 20 com o foco atencional mo no-preferida.

    Destas 20 tentativas, foram realizadas cinco em cada condio (1:1, 2:1, 3:1 e

    3:2) em ordem contrabalanada entre os participantes de cada grupo. O foco

    visual foi monitorado pelo experimentador, atravs de uma cmera de vdeo

    que transmitia a imagem dos olhos em tempo real permitindo identificar a

    direo do olhar durante a execuo da tarefa.

    5.4 TRATAMENTO DOS DADOS

    Os dados foram armazenados no computador em formato .txt. Para

    cada uma das mos e em cada condio foram calculadas a mdia do erro

    temporal e a mdia do erro espacial de cada tentativa. O erro temporal (erro

    varivel da dimenso temporal) de cada mo em cada toque foi calculado com

  • 46

    base na diferena absoluta entre os valores do intervalo temporal esperado e o

    intervalo temporal obtido e, em seguida, foi calculada a mdia destes valores

    com a unidade em milisegundos (ms).

    Para o erro espacial (erro varivel da dimenso espacial), primeiro foi

    calculado o ponto mdio dos toques nas coordenadas X e Y de cada toque

    em cada alvo e, em seguida, foi calculada a diferena absoluta entre os valores

    do ponto mdio e do ponto tocado no tablete, ainda de cada coordenada e em

    cada alvo. Posteriormente, com a projeo dos toques nas coordenadas foram

    formados tringulos retngulos e pela equao do clculo da hipotenusa no

    tringulo retngulo, atravs do Teorema de Pitgoras (Equao 1), foi

    calculada a magnitude do erro espacial de cada toque no tablete. E, por fim, foi

    calculada a mdia do erro espacial de cada mo em cada tentativa, sendo a

    unidade de medida o pixel que corresponde a 0,35 mm.

    Equao 1: H = (x)+(y); sendo H o valor do erro espacial de cada

    toque; x e y os valores das diferenas absolutas entre os

    valores do ponto mdio e os valores das coordenadas X

    e Y, respectivamente, do ponto de toque no tablete.

    5.5 ANLISE ESTATSTICA

    Foram realizadas 12 Anlises de Varincia (ANOVAs), sendo seis para

    a varivel dependente erro temporal (ms) e outras seis para a varivel

    dependente erro espacial (pixels). Para detectar as diferenas nos fatores

    principais e nas interaes significativas, foram feitos testes a posteriori do tipo

  • 47

    HSD de Tukey para n no-iguais. O nvel de significncia estabelecido foi p <

    0,05.

    Uma ANOVA para cada varivel dependente (erros temporal e

    espacial) foi feita para analisar os dados da condio 1:1, com os fatores

    preferncia manual (2 - direita e esquerda), mo (2 - preferida e no-preferida)

    e intervalo temporal (3 - 300, 600 e 900 ms).

    Quatro ANOVAs para cada varivel dependente (erros temporal e

    espacial) foram feitas para analisar os dados das mos preferida e no-

    preferida, com os fatores principais preferncia manual (2 - direita e esquerda)

    e condio, com medidas repetidas neste ltimo fator. Uma ANOVA com os

    dados da mo preferida comparou as condies 1:1, 2:1 e 3:1 e outra

    comparou as condies 1:1 e 3:2. Uma ANOVA com os dados da mo no-

    preferida comparou as condies 1:1, 3:1 e 3:2 e outra comparou as condies

    1:1 e 2:1.

    Uma ANOVA para cada varivel dependente (erros temporal e

    espacial) foi feita com os fatores preferncia manual (2 - direita e esquerda),

    mo de toque no tablete (2 - preferida e no-preferida), ateno (3 -

    direcionada mo preferida, mo no-preferida e livre) e condio (4 - 1:1,

    2:1, 3:1 e 3:2) com medidas repetidas nos trs ltimos fatores. Nestas duas

    ANOVAs, na condio 1:1, foram utilizados apenas os dados de desempenho

    no intervalo temporal de 300 ms.

  • 48

    6 RESULTADOS

    O objetivo deste estudo foi investigar o papel da ateno visual no

    desempenho espacial e temporal de tarefas de coordenao bimanual simples

    e complexas. A apresentao dos resultados tem como partida as

    caractersticas de preferncia manual dos participantes deste estudo.

    Posteriormente, sero apresentados os resultados das anlises estatsticas da

    condio 1:1 nos trs diferentes intervalos temporais (300, 600 e 900 ms). Em

    seguida, sero apresentados os resultados das condies 1:1, 2:1, 3:1 e 3:2

    relativos a cada uma das mos. Finalmente, apresentaremos os resultados

    gerais do comportamento, considerando as trs instrues de direcionamento

    da ateno visual e as quatro condies experimentais.

    6.1 CARACTERSTICAS DOS PARTICIPANTES QUANTO

    PREFERNCIA MANUAL

    O Quociente de Lateralidade obtido atravs do Inventrio de Edinburgh

    (OLDFIELD, 1971) dos participantes com preferncia manual direita foi entre

    0,80 e 1,00 na preferncia do uso da mo direita e o dos participantes com

  • 49

    preferncia manual esquerda foi entre 0,45 e 1,00 na preferncia do uso da

    mo esquerda. Trs participantes destros atingiram o quociente de 1,00 e

    apenas um participante canhoto atingiu tal quociente (ver Tabela 1, ANEXO).

    Este quociente de 1,00 representa consistncia absoluta no uso da mo

    preferida. As atividades motoras: escrever e arremessar uma bola; foram os

    itens do Inventrio que tiveram a mo preferida sendo identificada como tal

    para a execuo destas tarefas por parte de todos os participantes.

    6.2 DESEMPENHO ESPACIAL E TEMPORAL COM O DIRECIONAMENTO

    DA ATENO LIVRE

    6.2.1 CONDIO 1:1 EM INTERVALOS TEMPORAIS DIFERENTES

    A condio 1:1, em que as duas mos executavam o tamborilar

    simultaneamente, foi realizada nos intervalos temporais de 300, 600 e 900 ms.

    Para anlise dos dados foram realizadas duas ANOVAs com os fatores

    preferncia manual (2) x mo (2) x intervalo temporal (3), com medidas

    repetidas nos ltimos dois fatores, sendo uma ANOVA para a varivel

    dependente erro espacial e outra para o erro temporal.

    Os resultados da ANOVA, com os dados do erro espacial, indicaram

    interao significativa entre os fatores preferncia manual e mo (F1,16 = 9,71; p

    < 0,05) (ver Tabela 2, ANEXO). Os resultados do post hoc teste indicaram que

    os participantes destros apresentaram menor erro espacial com a mo

    preferida (24 pixels) comparado ao valor do erro da mo no-preferida (31

    pixels). De modo diferente, os participantes canhotos que apresentaram

    comportamento semelhante das duas mos (23 e 25 pixels para as mos

  • 50

    preferida e no-preferida, respectivamente), independente do intervalo

    temporal (ver Tabela 3, ANEXO).

    Os resultados da ANOVA para o erro espacial in