a coordenaÇÃo bimanual em funÇÃo do foco atencional
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUITA FILHO
INSTITUTO DE BIOCINCIAS RIO CLARO unesp
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA MOTRICIDADE
A COORDENAO BIMANUAL EM FUNO DO FOCO ATENCIONAL
BRUNO NASCIMENTO ALLEONI
Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias do Cmpus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Motricidade, rea de Concentrao da Biodinmica da Motricidade Humana.
Maio - 2007
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A COORDENAO BIMANUAL EM FUNO DO FOCO ATENCIONAL
BRUNO NASCIMENTO ALLEONI
Orientadora: Profa. Dra. ANA MARIA PELLEGRINI
Dissertao apresentada ao Instituto de Biocincias do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Motricidade (rea de Biodinmica da Motricidade Humana).
RIO CLARO Estado de So Paulo-Brasil
Maio/2007
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Dedico esta obra minha orientadora Ana
Maria Pellegrini que, nestes quase cinco
anos de LABORDAM, me ensinou muito
na vida e no somente a escrever uma
dissertao.
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AGRADECIMENTOS
Aqui estou diante de mais um grande desafio, agradecer aos muitos que
colaboraram para a execuo desta pesquisa. Muitos que irei agradecer nem
sabero que foram agradecidos enquanto que outros que gostariam de um
agradecimento no iro encontrar a sua referncia, mas tenho este espao e
muitos devero aparecer na seqncia. Sempre que se estabelece uma
seqncia deve ter uma ordem de prioridade para que uns sejam os primeiros
e outros os ltimos. Vou adotar a ordem de importncia para o estudo, por isso,
no se sinta uma pessoa humilhada em ver seu nome ao final desta seo.
Agradeo a todos os 21 participantes voluntrios desta pesquisa que
disponibilizaram ao menos trs horas de suas vidas para que eu pudesse
verificar o seu comportamento na coordenao bimanual, que no se
intimidaram com a presena de uma cmera agindo naturalmente para que a
situao fosse semelhante execuo de tarefas do cotidiano. Dentre estes
participantes esto os meus irmos de moradia, muitos j nem esto aqui na
cidade e nem ao menos no pas, mas que tenham certeza de que me ajudaram
em muito para esta dissertao e mais ainda para minha vida acadmica e
social. Muitos que receberam apelidos e de forma carinhosa so tratados ainda
como grandes amigos, amigos para serem lembrados no apenas neste
momento, mas em outros eventos importantes de nossas vidas.
Ao pessoal do LABORDAM e do LEM, laboratrios que contriburam
para o enriquecimento de meu conhecimento cientfico, em suas reunies e
conversas, discusses de trabalhos e idias para este e outros trabalhos
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tambm. Pessoas que talvez tenha convivido por mais tempo do que o tempo
que passo com minha famlia. Pessoas que me incentivaram a desenvolver um
bom trabalho e a ter compromissos e responsabilidades.
Ao CNPq pelo suporte financeiro. Aos professores que me ensinaram
em suas Disciplinas e queles que alm de ensinar tambm buscaram uma
aproximao de amizade, esperando futuros colegas professores e
pesquisadores. E mais ainda, aos professores que tambm fazem parte de
minha Banca, que contriburam bastante para o fechamento desta obra.
Fazendo com que o trabalho esteja compreensvel e acessvel a todos que
tenham interesse em Comportamento Motor.
Aos meus parentes que me abrigaram durante alguns finais de semana
me fazendo lembrar de que vivo porque antes de mim eles j viviam tambm e
que estou aqui porque antes eles j quiseram estar tambm. O incentivo ao
estudo e formao acadmica, a valorizao daquilo que poucos valorizam, a
Educao para ser educado e para educar aos que precisam.
Agradeo aos meus pais e meu irmo por valorizarem o estudo, por me
fazer escolher e apoiar a minha prpria escolha. Por se privarem de algum
luxo, por ter menos tempo para descansar para me ajudar a conduzir minha
vida, que a minha prpria, mas que dividida com suas vontades.
E por falar em vontades penso sempre em minha Florzinha (Adriana), na
vontade de me ter ao seu lado, na vontade de me olhar enquanto faz qualquer
coisa, na vontade de proteger-lhe em seu sono, da vontade que tenho em fazer
as suas vontades, mas ter que dar prioridade a situaes menos prazerosas.
Penso ainda, na vontade que tenho em lhe dizer, e digo: a amo.
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RESUMO
A coordenao bimanual um comportamento manifestado diariamente
pelas pessoas na execuo de tarefas do dia-a-dia. Controlar as duas mos
para varrer a casa, soltar pipa, costurar ou tocar piano so situaes rotineiras
que podem ser melhoradas e desempenhadas com preciso como resultado da
prtica. As tarefas unimanuais e as tarefas bimanuais que devem ser lideradas
por uma das mos, geralmente, so executadas apenas com a mo preferida,
a mo direita para o maior nmero de pessoas. As ferramentas utilizadas nas
tarefas do dia-a-dia so fabricadas para a mo direita e como conseqncia a
diferena no desempenho menor entre as mos de pessoas com preferncia
manual esquerda. Manter um ritmo qualquer ou acertar alvos so tarefas que
requeiram integridade de estruturas orgnicas, como por exemplo, os membros
superiores e os sistemas visual e auditivo. O direcionamento da ateno visual
pode ser muito importante na captura da informao para tocar alvos no plano
horizontal, principalmente se as caractersticas espaciais e temporais das
tarefas das duas mos so diferentes. Contudo, as duas mos esto
separadas fisicamente e no desempenho em uma tarefa que requeira
deslocamentos diferentes para as duas mos o executante deve identificar a
informao de uma das mos para a execuo precisa. O objetivo deste estudo
foi verificar o efeito do direcionamento da ateno visual a uma das mos no
desempenho de uma tarefa bimanual com diferentes nveis de complexidade,
em funo da preferncia manual. Pessoas com preferncia manual direita e
esquerda executaram uma tarefa de coordenao bimanual com
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deslocamentos dos membros superiores para o toque em um ou mais alvos
que estavam igualmente distantes no plano horizontal e em intervalos
temporais iguais ou diferentes. O direcionamento da ateno visual foi
manipulado em trs condies experimentais, sendo em uma condio dirigida
mo preferida, em outra dirigida mo no-preferida e, ainda, uma terceira
condio de livre escolha do participante. As variveis selecionadas para a
anlise dos dados foram o erro espacial e o erro temporal. Os resultados
indicaram que as tarefas mais simples (1:1 e 2:1) foram desempenhadas com
menor magnitude de erro espacial e temporal quando comparado com as
tarefas mais complexas (3:1 e 3:2); as pessoas com preferncia manual direita
apresentaram melhor desempenho com a mo direita na execuo da tarefa,
enquanto que as pessoas com preferncia manual esquerda apresentaram
desempenho semelhante das mos. Executar uma tarefa acompanhando um
ritmo externamente marcado no depende de informao visual, pois a
focalizao visual a uma das mos no interferiu na manuteno do intervalo
temporal entre os toques. Houve um aumento na assimetria funcional como
resultado do direcionamento da ateno mo direita ou esquerda. A instruo
dada pelo professor ao aluno quanto a olhar para a mo preferida pode facilitar
o processo de aprendizagem como resultado da prtica.
PALAVRAS-CHAVE: Coordenao bimanual, organizao temporal
relativa, preferncia manual, ateno.
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SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................ 1
2 REVISO DA LITERATURA ....................................................................... 6
2.1 CARACTERSTICAS ESPACIAIS E TEMPORAIS DA TAREFA
MOTORA DE TAMBORILAR............................................................ 6
2.2 PREFERNCIA MANUAL .............................................................. 10
2.3 COORDENAO BIMANUAL........................................................ 14
2.3.1 MODOS DE COORDENAO......................................................... 17
2.3.2 TAREFAS BIMANUAIS COMPLEXAS ................................................ 21
2.4 ATENO ...................................................................................... 28
3 OBJETIVO ................................................................................................ 36
4 HIPTESES.............................................................................................. 37
5 MTODO .................................................................................................. 39
5.1 PARTICIPANTES ........................................................................... 39
5.2 MATERIAIS .................................................................................... 40
5.3 PROCEDIMENTOS........................................................................ 40
5.4 TRATAMENTO DOS DADOS......................................................... 45
5.5 ANLISE ESTATSTICA................................................................. 46
6 RESULTADOS.......................................................................................... 48
6.1 CARACTERSTICAS DOS PARTICIPANTES QUANTO
PREFERNCIA MANUAL .............................................................. 48
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6.2 DESEMPENHO ESPACIAL E TEMPORAL COM O
DIRECIONAMENTO DA ATENO LIVRE.................................... 49
6.2.1 CONDIO 1:1 EM INTERVALOS TEMPORAIS
DIFERENTES.......................................................................... 49
6.2.2 CONDIES COM UM MESMO INTERVALO TEMPORAL ... 51
6.3 DESEMPENHO ESPACIAL E TEMPORAL COM A ATENO
DIRIGIDA A UMA DAS MOS ........................................................ 55
7 DISCUSSO ............................................................................................. 59
7.1 ATENO LIVRE ........................................................................... 61
7.2 ATENO MO PREFERIDA..................................................... 64
7.3 ATENO MO NO-PREFERIDA............................................ 65
8 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 67
9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................... 70
10 ABSTRACT ............................................................................................... 77
ANEXO...............................................................................................................79
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. REPRESENTAO ESQUEMTICA DA TAREFA BIMANUAL NA
CONDIO 1:1. ...................................................................................42
FIGURA 2. REPRESENTAO ESQUEMTICA DA DISPOSIO DOS ALVOS NAS
CONDIES 2:1, 3:1 E 3:2, EM FUNO DA PREFERNCIA MANUAL. .........44
FIGURA 3. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) E DO ERRO
TEMPORAL (MS) NA CONDIO 1:1, NOS INTERVALOS TEMPORAIS DE
300, 600 E 900 MS, INDEPENDENTE DA PREFERNCIA MANUAL. ..............50
FIGURA 4. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO
PREFERIDA NAS CONDIES 1:1, 2:1 E 3:1, NO INTERVALO TEMPORAL
DE 300 MS, INDEPENDENTE DA PREFERNCIA MANUAL. ..........................52
FIGURA 5. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO
PREFERIDA NAS CONDIES 1:1 E 3:2, NO INTERVALO TEMPORAL DE
600 MS. .............................................................................................53
FIGURA 6. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO NO-
PREFERIDA NAS CONDIES 1:1 E 2:1, NO INTERVALO TEMPORAL DE
600 MS. .............................................................................................53
FIGURA 7. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DA MO NO-
PREFERIDA NAS CONDIES 1:1, 3:1 E 3:2, NO INTERVALO TEMPORAL
DE 900 MS. ........................................................................................54
FIGURA 8. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO TEMPORAL (MS) NAS TRS
CONDIES DE ATENO, INDEPENDENTEMENTE DA PREFERNCIA
MANUAL, DA MO E DA CONDIO. ........................................................56
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FIGURA 9. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO TEMPORAL (MS) DE CADA UMA DAS
MOS EM CADA UMA DAS QUATRO CONDIES.......................................57
FIGURA 10. MDIA E DESVIO PADRO DO ERRO ESPACIAL (PIXELS) DE CADA UMA
DAS MOS EM FUNO DO FOCO ATENCIONAL........................................58
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1 INTRODUO
As mos so utilizadas em tarefas cotidianas, no trabalho e no lazer, ao
amarrar um cadaro ou lavar os cabelos, digitar um texto ou abrir uma caixa,
arremessar uma bola ou segurar um livro. Pela sua importncia para o homem
e pela facilidade com que ele realiza atividades com as duas mos, muitos
estudos sobre a Coordenao Bimanual tm sido feitos com o objetivo de
investigar as formas de Controle Motor. Compreender a maneira como as
aes manuais so realizadas significa ampliar o conhecimento terico para
aqueles que trabalham com a aquisio de habilidades motoras ou na
reeducao motora.
A tarefa manual feita com uma ou duas mos que se relacionam de
modo a alcanar um objetivo. A execuo de uma tarefa ocorrer na medida
em que o organismo produz um conjunto de ativaes neuro-musculares numa
determinada ordem e intensidade que satisfaam as caractersticas espaciais e
temporais de tal tarefa. O ritmo, na execuo da tarefa motora, estabelecido
pela atividade neural responsvel pela ativao muscular que garante os
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deslocamentos espaciais dos segmentos corporais de acordo com a estrutura
temporal da tarefa (GEORGOPOULOS, 1984).
Cada tarefa possui caractersticas espaciais e temporais que lhe so
prprias, diferentes das caractersticas de qualquer outra tarefa motora, e estas
caractersticas dizem respeito ao nmero de elementos (deslocamentos dos
segmentos corporais) e variedade de relaes entre estes elementos. A
complexidade da tarefa maior ou menor dependendo do nmero destes
elementos e das relaes entre eles (BRESCIANI FILHO & D'OTTAVIANO,
2000). Em geral, a complexidade da tarefa um fator determinante do nvel de
desempenho de aes motoras. Por exemplo, muitas tarefas realizadas no dia-
a-dia so consideradas simples pela presena de poucos elementos e poucas
relaes entre eles. Porm, algumas so mais desafiadoras e requerem do
organismo uma maior variedade de elementos a serem relacionados para sua
execuo com sucesso e entre elas encontramos as tarefas bimanuais.
Dentre as diversas tarefas bimanuais, o tamborilar com os dedos
uma das mais praticadas pelo ser humano, pois no requer material
sofisticado, podendo ser executada, com o tocar dos dedos em uma caixa de
fsforos ou em um pandeiro. Esta atividade de tamborilar freqentemente
utilizada nos estudos de coordenao bimanual, pois oferece inmeras
possibilidades de combinar diferentes relaes espaciais e temporais entre as
mos (BAADER, KAZENNIKOV & WIESENDANGER, 2005).
A estrutura espacial da tarefa motora compreende toda a seqncia de
deslocamentos do corpo e/ou de segmento(s) do corpo no espao, enquanto
que a estrutura temporal se refere durao destes deslocamentos do(s)
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segmento(s) corporal(is) que, no seu conjunto, correspondem ao tempo total de
execuo da tarefa tambm identificado como tempo de movimento (TM).
Alteraes na dimenso espacial implicam em alteraes na organizao
temporal relativa, considerando as medidas de velocidade e acelerao, de
modo que as estruturas espaciais e temporais so mutuamente dependentes
tanto no planejamento como na execuo da ao motora (MAGILL, 1984). A
caracterstica espao-temporal da tarefa motora um primeiro fator que pode
influenciar o desempenho na coordenao bimanual.
De acordo com Gentile (1972), na primeira fase da aprendizagem o
executante deve ter uma idia da ao a realizar para que possa ento
estabelecer um plano de ao. Tal "idia" deve conter as caractersticas
espaciais e temporais de tal tarefa e muitas vezes o aprendiz obtm esta idia
a partir da visualizao da ao sendo executada por outro (modelo). Um plano
de ao (ou programa motor) ento elaborado e deve conter o conjunto de
comandos motores que, em sua seqncia e intensidade, vo garantir que a
meta da tarefa seja alcanada com sucesso. Continuamente, o executante
monitora os deslocamentos dos seus segmentos corporais em relao s
metas espaciais que devem ser alcanadas.
Na execuo de habilidades manuais, este monitoramento feito
atravs da ateno dirigida (s) mo(s) antes e durante a execuo da tarefa.
Na execuo de tarefas bimanuais, a ateno dirigida s caractersticas
espacial e temporal dos movimentos das duas mos quando as duas mos se
encontram no foco visual. Por exemplo, o relojoeiro tem as duas mos sendo
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controladas visualmente ao mesmo tempo, pois as duas mos trabalham
prximas uma da outra.
Quando as duas mos esto distantes uma da outra, ento podemos
acompanhar o movimento de uma ou da outra mo de modo intercalado ou
priorizando o movimento de somente uma delas para a identificao dos
componentes do organismo e da tarefa relevantes para a execuo correta da
ao. Assim, o foco atencional um segundo fator que pode influenciar o
desempenho na coordenao bimanual. De acordo com a literatura que utiliza
a fase relativa (relacionamento temporal entre as mos direita e esquerda,
dado em graus) o resultado da focalizao da ateno na mo preferida
geralmente conduz a maior estabilidade no desempenho (menor desvio padro
da fase relativa) em comparao ao resultado obtido com o direcionamento da
ateno outra mo (AMAZEEN, AMAZEEN, TREFFNER & TURVEY, 1997).
Contudo, algumas vezes prestar ateno na mo no-preferida pode ser a
melhor estratgia para uma perfeita sincronia (fase relativa prxima a zero) na
execuo da tarefa (PELLEGRINI, ANDRADE & TEIXEIRA, 2004).
Um terceiro fator determinante do sucesso na coordenao bimanual
a quantidade de experincia anterior na realizao de uma determinada tarefa,
relacionado, portanto, com a quantidade de prtica na tarefa. Os efeitos da
prtica na aprendizagem de polirritmos (coordenao bimanual com dois
elementos independentes, um para cada mo, e que se encontram
temporalmente em um perodo comum e cclico) ficou evidente em estudo
anterior (ALLEONI, 2003). Msicos praticaram e aprenderam os polirritmos 3:2
e 4:3, tarefas complexas de tamborilar com os dedos.
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O tema central do presente estudo o controle motor em tarefas
bimanuais, em especfico o efeito da ateno dirigida a uma das mos na
execuo do tamborilar em diferentes nveis de complexidade. As questes
focalizadas no presente estudo se referem a: (i) caractersticas espaciais e
temporais do desempenho de uma tarefa de tamborilar em diferentes nveis de
complexidade em funo da preferncia manual; (ii) influncia do
direcionamento da ateno no desempenho espacial e temporal dos
participantes, e; (iii) relao espacial e temporal entre as mos que conduziria a
um melhor resultado, isto , menor quantidade de ambos os erros, espacial e
temporal.
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2 REVISO DA LITERATURA
O presente estudo focaliza o efeito da ateno dirigida a uma das mos
na execuo da tarefa de tamborilar executada em diferentes nveis de
complexidade. O suporte terico que subsidiar o presente projeto de
investigao abranger aspectos do controle motor relacionados com as
caractersticas espaciais e temporais das tarefas bimanuais, em particular as
de tamborilar, o nvel de complexidade destas tarefas, e o efeito da ateno
dirigida s mos em funo da preferncia manual.
2.1 CARACTERSTICAS ESPACIAIS E TEMPORAIS DA TAREFA
MOTORA DE TAMBORILAR
O tempo de movimento (TM) e a organizao temporal relativa (OTR) so
os dois aspectos temporais mais importantes de uma tarefa motora. O tempo
de movimento corresponde ao intervalo temporal entre o incio e o fim de uma
ao motora, compreendendo assim a durao total dos deslocamentos dos
segmentos corporais que compem a tarefa. O TM tem seu incio com o
primeiro deslocamento feito na execuo da tarefa e termina quando a meta da
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tarefa alcanada e/ou o ltimo deslocamento corporal relativo tarefa feito.
O tempo de movimento varia de acordo com as restries espaciais e
temporais impostas na ao como um todo.
A Organizao Temporal Relativa vem sendo utilizada na lngua
portuguesa como uma traduo da palavra inglesa relative timing. O relative
timing um parmetro de grande importncia no comportamento adaptativo do
dia-a-dia do ser humano sempre que as demandas temporais da tarefa so
alteradas (TYDESLEY & WHITING, 1975). A OTR a estrutura temporal
fundamental da tarefa e independe da velocidade e amplitude total do
movimento (SCHMIDT, 1993). Ela corresponde ao conjunto dos tempos
parciais dos componentes da ao em relao ao tempo de movimento. Toda e
qualquer alterao no TM corresponde a uma alterao proporcional em cada
um dos tempos parciais que constituem a OTR.
O espao pode ser identificado como o local em que ser realizada
uma tarefa, uma rea de atuao do organismo, e contm os alvos que ele
deve atingir. Ele pode ser medido pelo comprimento da dimenso ocupada. De
modo geral, a dimenso espacial est vinculada passagem do tempo, pois na
execuo de uma tarefa h um intervalo temporal entre o incio e o final do
deslocamento de parte(s) do corpo no espao, ou seja, de sua dimenso
espacial.
Em uma tarefa com objetivos espaciais (toque em alvos ou desenho de
crculos), a dimenso espacial pode ser avaliada com base na variabilidade
espacial dos deslocamentos dos membros superiores. Acertar os alvos ou
desenhar um crculo requer do indivduo ateno durante a execuo do
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movimento, sincronizando espacial e temporalmente seus membros superiores
com os componentes da tarefa. De modo geral, a ateno dirigida a algo no
espao sendo que na coordenao manual a viso responsvel por identificar
a informao para a ao motora, retro-alimentando o organismo para posterior
correo do movimento.
Cada tarefa motora executada pelo organismo em um determinado
ritmo. Wing e Kristofferson (1973a; 1973b) propuseram um relgio interno que
responderia pelo controle temporal das aes motoras do ser humano. A
durao das aes motores estaria relacionada identificao de um estmulo
ambiental, programao motora e transmisso dos sinais neurais. Em uma
tarefa de tamborilar, quando uma meta temporal requerida atravs de um
metrnomo, o indivduo controla o intervalo temporal entre um toque e outro
posterior pela transmisso dos sinais neurais.
Zelaznik, Spencer e Ivry (2002), com base nos resultados de quatro
experimentos com tarefas de toque repetitivo de uma das mos e desenho de
crculos da outra mo, sugeriram que o momento de incio de um movimento
seria definido a partir de um estmulo externo (denominado processo explcito),
ou seja, a resposta motora ocorreria a partir do estmulo fornecido pelo meio.
No entanto, a estrutura temporal do movimento seria um processo implcito
cuja resposta motora seria dada a partir das caractersticas internas do
organismo. Como conseqncia das caractersticas do processo implcito, o
executante da tarefa motora apresenta um mnimo de variabilidade de resposta
no intervalo temporal entre um toque e o toque imediatamente posterior.
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Outro elemento central na execuo de habilidades manuais a
informao relevante das caractersticas espaciais e temporais para a ao,
captada no meio ambiente ou no prprio organismo. Esta informao captada
pelos rgos de sentido, dentre eles, a viso. Um trabalho clssico nos estudos
sobre a captura de informao na coordenao manual o de Keele e Posner
(1968), no qual, o participante deslocava o membro superior a um ngulo de
45 no plano horizontal em diferentes tempos de movimento (150, 250, 350 e
450 ms) e com a captura da informao visual sendo ou no bloqueada. Foi
constatado que o feedback visual de um movimento de durao maior do que
250 ms contribui para melhoria da preciso na realizao da tarefa. O
desempenho dos participantes na tarefa com o TM de 150 ms foi semelhante
entre as condies com ou sem viso.
Zelaznik, Schmidt, Gielen e Milich (1983), em estudo semelhante ao de
Keele e Posner, citado acima, porm com velocidades mais altas, verificaram
que em movimentos rpidos (70 ms) a informao de feedback visual contribui
apenas no que diz respeito direo do movimento diante da no-alterao na
amplitude do movimento com base na informao de feedback disponvel. Em
trabalho de reviso da literatura sobre este assunto Jeannerod (1991) sugeriu
que tarefas com objetivos espaciais e temporais que requeiram correes de
movimento deveriam ser realizadas com TM acima de 150 ms.
Diedrichsen, Hazeltine, Kennerley e Ivry (2001) realizaram um estudo
focalizando a direo do movimento e verificaram que a execuo de
movimentos no sentido horizontal mais rpida do que no sentido vertical. Os
alvos a serem tocados pelos participantes foram colocados a 10 cm do ponto
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inicial nas trajetrias paralelas (sentido horizontal) e ortogonais (sentido
vertical). De acordo com os autores, movimentos para a direita ou para a
esquerda so mais fceis de serem executados pelos participantes em tarefas
de laboratrio do que os movimentos executados para frente ou para traz.
Geralmente, os movimentos realizados no dia-a-dia so no sentido horizontal
ou uma combinao do sentido horizontal com o vertical, de modo que, a
experincia em tarefas do cotidiano pode facilitar a realizao de tarefas de
laboratrio, utilizadas em experimento.
O tempo e o espao so dimenses muito exploradas em estudos
sobre o Comportamento Motor principalmente naqueles que envolvem a
movimentao das mos em direo a um mesmo alvo. As dimenses
espaciais e temporais, avaliadas em termos dos erros espacial e temporal
respectivamente, podem ser utilizadas para descrever as caractersticas da
tarefa ou ainda como ferramenta para avaliao do comportamento humano
em tarefas motoras. No presente estudo, estas dimenses sero manipuladas
nas vrias condies experimentais possibilitando avaliar a importncia da
ateno dirigida a uma das mos na tarefa de tamborilar em funo da
preferncia manual.
2.2 PREFERNCIA MANUAL
O ser humano ao longo de sua histria de vida aprende a realizar
diversas tarefas manuais para poder adaptar-se aos costumes da sociedade na
qual ele vive. Tarefas como escrever uma carta, lanar uma bola ou pentear o
cabelo, so feitas com apenas uma das mos e o prprio indivduo tem a
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liberdade de escolher com qual mo ir realiz-las. A escolha de uma das
mos para realizar uma determinada tarefa definida como preferncia manual
do indivduo, que pode ocorrer a partir de alguns fatores como a imposio dos
pais na utilizao de uma das mos j na infncia ou pelo conjunto de
restries orgnicas de modo que ele prprio seleciona a mo que considera
mais adequada para a realizao da tarefa. Geralmente, esta escolha pela mo
preferida se estabelece em crianas com idades entre quatro e dez anos
(GUDMUNDSSON, 1993).
Este perodo da infncia propcio para o desenvolvimento de diversas
habilidades prprias da espcie humana e tambm para o aprendizado de
habilidades culturais que so importantes para a sobrevivncia de cada pessoa
no meio social. Um bom exemplo de habilidade aprendida o tamborilar que
normalmente ensinada por professoras de escola por volta dos seis anos de
idade, quando a criana entra no Ensino Fundamental. Em estudo com 337
crianas, idades entre cinco e nove anos, Pellegrini, Hiraga, Andrade e
Cavicchia (2003) solicitaram a execuo das tarefas presentes no Inventrio de
Edinburgh (OLDFIELD, 1971) com algumas modificaes para garantir o
entendimento e a segurana das crianas. Os resultados mostraram que as
crianas avaliadas apresentavam consistncia por volta de 95% no uso da mo
preferida.
Existem diferentes maneiras de se avaliar a preferncia manual e de
modo geral ela determinada com base na mo que realiza as tarefas do dia-
a-dia como escrever, recortar ou abrir uma caixa (OLDFIELD, 1971;
TREFFNER & TURVEY, 1995; ROSA NETO, 2002). Em estudos que envolvam
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a preferncia manual, o meio utilizado para definir tal preferncia em forma
de inventrio, mas para algumas pessoas esta avaliao no to precisa
(GABBARD, 1998). Ainda, algumas vezes as tarefas realizadas nos testes de
laboratrio so diferentes daquelas realizadas nos testes para definir a
preferncia manual de modo que pode ocorrer uma inverso na preferncia
manual do participante durante o experimento. De modo geral, a informao do
prprio executante sobre sua preferncia manual para escrever ou lanar uma
bola tem sido utilizada na identificao da preferncia manual em pesquisas
sobre a coordenao manual e, ainda, uma posterior anlise dos dados
experimentais pode legitimar a informao obtida inicialmente.
Definir qual mo usar para realizar uma tarefa pode ser uma deciso
fcil e muitas vezes rpida, sendo que h, na populao como um todo, uma
grande predominncia de pessoas com preferncia manual direita (destros) em
relao s pessoas com preferncia manual esquerda (canhotos). Como
conseqncia, os materiais e ferramentas criados para uso dirio como o
abridor de latas, a maaneta de uma porta ou o mouse do computador, foram
dimensionados para uso da mo direita o que obriga pessoas canhotas a
utilizarem com maior freqncia mo no-preferida quando comparado com
pessoas destras.
O uso constante de uma mesma mo em habilidades unimanuais j no
perodo da infncia e de ambas as mos pelos canhotos pode provocar
assimetria funcional, ou seja, diferena de desempenho entre as mos devido
utilizao predominante de uma delas nas tarefas realizadas no dia-a-dia
(FAGARD, 1987). Em todas as tarefas que requerem a utilizao de apenas
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uma das mos ou mesmo nas tarefas bimanuais nas quais uma das mos deve
liderar o movimento (como na ao de varrer, onde a mo que segura a parte
de cima da vassoura comanda o movimento e a mo de baixo serve como
estabilizador do objeto), a mo preferida a executante ou a mo lder,
escolhida pela prpria pessoa. A mo preferida ser sempre a escolhida para a
execuo da tarefa a no ser que haja uma forte restrio impedindo o seu
uso.
Alguns estudos na rea do comportamento motor tm sido realizados
para investigar o efeito da assimetria funcional. Um exemplo o estudo de
Hoffmann, Chang e Yim (1997) no qual os autores investigaram o uso do
mouse por 20 participantes, sendo dez destros e dez canhotos, em uma tarefa
unimanual de acertar alvos de diferentes ndices de dificuldade com a mo
direita ou esquerda. Com base nos resultados eles concluram que o tempo de
movimento da mo no-preferida dos canhotos foi menor do que o dos destros.
Ainda, a semelhana no comportamento entre as mos dos canhotos no foi
observada entre os destros que apresentaram melhor desempenho da mo
direita, a preferida, comparado com o da mo esquerda, a no-preferida. Mas,
como seria o comportamento das mos em tarefas bimanuais? Esta diferena
de desempenho entre as mos tambm seria observada entre pessoas com
preferncia manual direita e esquerda?
As respostas motoras realizadas pelas pessoas a estmulos
provenientes do meio ambiente so passveis de atrasos ou antecipaes,
porm, em geral, elas tendem a antecipar os movimentos de uma mo em
relao outra. O desempenho dos dedos na ao de tocar violino foi
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comparado por Baader, Kazennikov e Wiesendanger (2005) com pessoas de
nveis diferentes de experincia. Os resultados indicaram haver antecipao
quanto tentativa de sincronizao a um estmulo e que havia sempre uma
diferena, de 50 a 100 ms entre os dedos, a favor dos dedos mais utilizados,
no-perceptvel aos participantes. Relacionando as mos direita e esquerda em
tarefas bimanuais, simples e complexas, em um estudo com seis msicos e
seis no-msicos, todos destros, Summers, Ford e Todd (1993), concluram
que a mo no-preferida (esquerda) atrasava em relao ao intervalo temporal
esperado e era subordinada mo preferida (direita). Em resumo, h
evidncias na literatura de diferenas entre as mos na realizao de
diferentes tarefas bimanuais em funo da preferncia manual.
Feitas as consideraes iniciais sobre as caractersticas espaciais e
temporais da tarefa motora e sobre diferenas entre as mos devido
preferncia manual sero abordados a seguir assuntos mais especficos ao
foco principal do estudo que so: a coordenao bimanual e a ateno dirigida
a uma das mos.
2.3 COORDENAO BIMANUAL
A rea de estudo do Comportamento Motor teve um grande impulso
em seu desenvolvimento com a traduo dos trabalhos de Bernstein (1967),
quando foi exposta a necessidade do ser humano solucionar dois problemas
para o controle motor, a saber: o dos graus de liberdade do organismo para a
realizao de movimentos voluntrios e o da variabilidade condicionada ao
contexto em que o movimento executado. O problema dos graus de liberdade
-
15
se refere s inmeras estruturas articulares, sseas e musculares que se
relacionam para que o organismo realize uma ao motora. De modo geral, a
execuo adequada de uma ao motora ocorre em decorrncia da prtica
realizada pelo indivduo que aos poucos vai aprendendo a liberar, congelar e
controlar os graus de liberdade de modo a apresentar os relacionamentos
adequados para a habilidade em questo. Alm disso, a execuo da tarefa
motora deve ser planejada a partir das caractersticas do contexto em que o
indivduo se encontra naquele momento, ou seja, a seleo e a ativao dos
msculos e articulaes para a produo dos deslocamentos dos segmentos
corporais depende do contexto em que a ao realizada. Por exemplo, a
flexo do brao pode ser feita com a ativao/co-ativao de diferentes
msculos dependendo da posio em que o indivduo se encontra perante a
ao da fora da gravidade. Portanto, no existe um nico conjunto de
ativaes musculares para execuo de uma tarefa motora, mas vrios deles
que sero utilizados dependendo, por exemplo, das foras externas que agem
no organismo.
Os estudos de Gibson (1966; 1979) contriburam para nortear as
discusses a respeito da importncia da interao do indivduo com o
ambiente. O organismo passou a ser considerado como pertencente a um
nicho ecolgico que est em constante mudana, de modo que ora o
organismo induz a mudana no meio, ora ele induzido a mudanas pelo
meio. No contexto da abordagem ecolgica gerada pela contribuio de
Gibson, a informao passou a ser considerada a partir dos estmulos obtidos
pelo organismo pertinentes ao a executar. O conceito de affordance,
-
16
introduzido por Gibson, sinaliza ao homem o que permitido a ele realizar num
determinado ambiente, como por exemplo, ao ver uma cadeira o ser humano
sabe que pode sentar na mesma ou que uma faca permite cortar algo desde
que segura de uma determinada forma.
A partir do referencial terico de Bernstein e Gibson, a rea de estudo
do comportamento motor foi direcionada ao estudo da relao do indivduo com
o meio. Newell (1986) acrescentou a tarefa a esta relao, formando um
trinmio organismo-ambiente-tarefa, em que cada componente possui um
conjunto de caractersticas restritivas que permitem a ocorrncia da
coordenao e do controle da ao motora. Por exemplo, um indivduo, na
posio ereta em um piso escorregadio e que precisa transportar uma bandeja
com copos de gua, precisa ampliar a base de apoio das pernas e dos ps e
diminuir a passada do andar. Assim, o indivduo no realiza simplesmente
movimentos, mas na sua interao com o ambiente, ele realiza uma tarefa com
objetivos espaciais e temporais e cujo desempenho depende das restries
tanto do prprio organismo, do ambiente como, tambm, da tarefa a ser
executada.
Elemento central na execuo de habilidades motoras est a
coordenao, definida por Turvey (1990) como a organizao do controle do
aparato motor. A realizao de um movimento se inicia pela ativao dos
msculos para que o corpo se desloque de modo a alcanar o objetivo da
tarefa. Contudo, a simples ativao muscular para um determinado fim no
suficiente para alcanar a meta, pois so necessrios ajustes para controlar o
corpo at a meta ser alcanada (NEWELL, 1985). No caso da coordenao
-
17
manual, necessrio que haja comandos para estabilizar o tronco e a cabea
permitindo a realizao precisa da tarefa pela(s) mo(s).
2.3.1 Modos de coordenao
As aes bimanuais podem ser identificadas a partir dos padres
motores que emergem da relao espao-temporal entre os membros
superiores. Kelso (1995) define padro motor como um comportamento com
caractersticas prprias e exclusivas que o identificam e possibilitam ser
reproduzido pelo mesmo organismo ou por outros organismos. Os padres de
coordenao so executados de forma harmoniosa pelo organismo de modo
que o padro mais estvel ser o modo de coordenao preferido do sistema.
O padro de coordenao foi identificado por Kelso, Holt, Rubin e
Kugler (1981) na coordenao bimanual na oscilao do dedo indicador das
mos direita e esquerda e por Grillner (1982, In: HAKEN, KELSO & BUNZ,
1985) na locomoo de quadrpedes no relacionamento entre as patas
dianteiras e traseiras. Grillner teria identificado uma mudana no padro
conforme o cavalo aumentava a velocidade, mudana esta do modo fora de
fase para o modo em fase, sendo que em altas freqncias o sistema
passaria a coordenar os dois membros anteriores como se fossem um, o
mesmo ocorrendo com os dois membros posteriores, havendo um estado
atrator que puxaria (atrairia) o sistema para aquele comportamento.
Posteriormente, Kelso, um estudioso do comportamento motor, junto
com um fsico e um matemtico (HAKEN, KELSO & BUNZ, 1985)
apresentaram um modelo matemtico (conhecido como Modelo HKB) para
identificar a estabilidade e a quebra da estabilidade dos deslocamentos inter-
-
18
membros. Os autores demonstraram em frmulas a estabilidade dos padres
de coordenao, identificados como em fase(realizados pela co-ativao de
msculos homlogos, em uma relao de fase entre os membros de 0 ou
360) e fora de fase (realizados pela co-ativao de msculos no-
homlogos), em uma relao de fase entre os membros de 180. Estes dois
modos estveis de coordenao (0 e 180), quando solicitados, poderiam ser
facilmente demonstrados pelos participantes. Porm, o modo em fase
mostrou ser mais estvel, pois o aumento gradativo da freqncia de
movimento na relao de 180 induziu a mudana para a relao de 0. No
entanto, a freqncia de movimento na relao de 0 quando aumentada no
conduziu a modificao nesta relao. A freqncia foi identificada como
parmetro de controle, pois a varivel do sistema que, ao ser manipulada,
determina o comportamento do mesmo.
O padro de coordenao em fase considerado um estado atrativo
do sistema e se refere a movimentos dos segmentos corporais que so
sincronizados. Com isso, o ser humano limita-se a fazer atividades iguais ou
complementares com os segmentos corporais, e poucas vezes a mo direita
realiza, simultaneamente, tarefa diferente da mo esquerda. Swinnen, Young,
Walter e Serrien (1991) exploraram a capacidade do Sistema Nervoso Central
do ser humano de organizar e controlar paralelamente dois padres de
movimento. As variveis utilizadas foram o tempo de movimento, a amplitude
de movimento, a acelerao angular e a atividade eletromiogrfica do bceps e
do trceps braquial. Nestes nveis de anlise do movimento foi detectada uma
tendncia em sincronizar os deslocamentos espao-temporais do membro
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19
direito com os do membro esquerdo. Contudo, a prtica especfica contribuiu
para que o sistema conseguisse minimizar esta tendncia de sincronizao.
A prtica pode contribuir para a emergncia de um outro estado
atrativo que no o em fase e o fora de fase. Zanone e Kelso (1992) e
Wenderoth e Bock (2001) comprovaram que a relao de fase inter-membros
de 90 tambm poderia ser um estado atrativo para o sistema, pois este modo
de coordenao na relao de fase de 90 apresentou maior estabilidade aps
um perodo de prtica. Bom desempenho tambm pode ser alcanado aps
certo perodo de prtica em tarefas de ritmos manuais diferentes, como por
exemplo, nos polirritmos 5:3 (SUMMERS & KENNEDY, 1992) e 3:2 (KURTZ &
LEE, 2003).
Na rea do Comportamento Motor, os estudos dirigidos
aprendizagem de padres mostram que o ser humano capaz de adquirir
padres de coordenao bimanual que no so realizados no dia-a-dia. E a
aquisio de padres estveis de coordenao pode facilitar o aprendizado de
um novo padro de coordenao (ZANONE & KELSO, 1997; WENDEROTH,
BOCK & KROHN, 2002). A aprendizagem e tambm a transferncia de
aprendizagem para um novo padro de coordenao foram confirmadas por
Smethurst e Carson (2001) atravs de um programa de treinamento com a
relao de 90 entre os membros e a transferncia posterior para a relao de
270 entre os membros. Os autores demonstraram que o aprendizado da tarefa
foi confirmado tanto em termos de preciso no acoplamento entre os membros
quanto na estabilidade do padro de coordenao requerido.
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20
Wenderoth e Bock (2001) sugeriram trs processos distintos que
poderiam influenciar um padro de coordenao: a mudana de um padro, a
manuteno de um padro e a intencionalidade na execuo de um padro de
coordenao. A mudana e a manuteno de um padro poderiam ser vistos
quando da manipulao de um parmetro de controle, sendo que haveria um
acoplamento neural para os movimentos voluntrios manuais e os autores
consideraram ainda que este acoplamento talvez fosse a nvel subcortical.
A intencionalidade na execuo de um padro de coordenao foi
estudado por Mechsner, Kerzel, Knoblich e Prinz (2001). Os autores
observaram que a mudana de um padro a outro no ocorre apenas com os
msculos homlogos, pois a posio dos membros pode no interferir na
emergncia de um estado atrativo. Para estes autores, a coordenao e o
controle de padres de coordenao so processos puramente cognitivos. Por
sua vez, Pellecchia e Turvey (2001) demonstraram que o modo de
coordenao fora de fase poderia ser estvel o suficiente de modo a no
sofrer mudana mesmo com o aumento da freqncia na coordenao
bimanual pela atividade cognitiva intencionalmente dirigida a este objetivo. A
intencionalidade do indivduo determinaria exclusivamente a execuo de
determinado modo de coordenao. Contudo, Mechsner e seus colaboradores
foram questionados pelos pesquisadores da rea e criticados principalmente
por Carson e Kelso (2004).
O trabalho de Mechsner e seus colaboradores recebeu tanta ateno
dos pesquisadores da rea de Controle Motor, mais especificamente da
Coordenao Bimanual, que um peridico internacional (Journal of Motor
-
21
Behavior) publicou uma edio no ano de 2004 em que Mechsner teve a
oportunidade de defender sua idias e diversos autores renomados da rea de
Controle Motor puderam se manifestar favorveis ou no s idias de Mescher
e colaboradores (2001). Dentre os artigos publicados est o de Carson e Kelso
(2004), onde eles defenderam a participao do sistema como um todo,
considerando os aspectos neural, anatmico, cognitivo e cortical na
organizao do movimento, descartando a possibilidade de uma atuao
exclusivamente psicolgica (cognitiva). O presente trabalho focaliza no s a
ateno que um mecanismo de grande importncia na cognio, mas
tambm outros elementos do sistema que tambm desempenham papel
importante na organizao da coordenao bimanual, em especfico na tarefa
de tamborilar em diferentes nveis de complexidade.
2.3.2 Tarefas bimanuais complexas
As atividades bimanuais nos modos em fase, fora de fase e de 90
so executadas por uma relao simples entre as mos (1:1), isto , a cada
movimento de um membro h um movimento do outro membro. Existem
tarefas com outras relaes entre os toques da mo direita e da mo esquerda
como, por exemplo, 2:1, 7:4. As relaes simples ou mltiplas integrais so
estabelecidas quando a diviso do 1 elemento pelo 2 gera um nmero inteiro
(por exemplo, 1:1, 2:1, 3:1) (DEUTSCH, 1983). Ainda segundo esta autora, as
relaes so identificadas como complexas quando a proporo entre os dois
elementos resulta em um nmero no-inteiro (por exemplo, 3:2, 7:5, 6:5)
Geralmente, estas estruturas temporais complexas so estudadas em
pesquisas com tarefas bimanuais polirrtmicas (HANDEL & OSHINSKY, 1981;
-
22
DEUTSCH, 1983; PETERS & SCHWARTZ, 1989; SUMMERS & KENNEDY,
1992; SUMMERS, FORD & TODD, 1993; SUMMERS, ROSENBAUM, BURNS
& FORD, 1993; KURTZ & LEE, 2001; KURTZ & LEE, 2003) com batidas
seguidas em um mesmo lugar como no tamborilar sem uma meta quanto ao
deslocamento espacial.. Contudo, as tarefas realizadas no dia-a-dia no so
puramente temporais de modo que para verificar o comportamento do sistema
seria importante investigar tarefas prximas s realizadas no cotidiano,
portanto incluindo deslocamento espacial.
Na reviso da literatura sobre este assunto encontramos alguns
estudos nos quais metas espaciais e temporais foram combinadas nas tarefas
estudadas como no de Kelso, Southard e Goodman (1979) e no de Marteniuk,
McKenzie e Baba (1984). Estes pesquisadores buscaram verificar o
acoplamento temporal e espacial das mos para o acerto de diferentes alvos e
concluram que os executantes provaram iniciar e terminar os movimentos
juntos, mesmo quando eles diferiam em complexidade.
Tarefas bimanuais em que as mos desempenham deslocamentos
espaciais diferentes foram utilizadas tambm em vrios estudos sobre o
comportamento do sistema. Por exemplo, no estudo de Franz, Zelaznik e
Mccabe (1991), os participantes desenhavam um crculo com uma mo
enquanto a outra mo fazia uma reta. Em um outro estudo, Franz, Eliassen,
Ivry e Gazzaniga (1996) em vez da reta a outra tarefa era um tringulo. Os
resultados destes dois estudos evidenciaram a dificuldade ou mesmo
impossibilidade das mos executarem tarefas espacialmente diferentes ao
mesmo tempo.
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23
As tarefas bimanuais com caractersticas espaciais e/ou temporais
diferentes para cada uma das mos podem ser consideradas como complexas
se comparadas s tarefas feitas com apenas uma das mos ou ainda, s
tarefas bimanuais com caractersticas espaciais e temporais semelhantes. Este
maior nvel de complexidade decorrente da necessidade do controle de um
maior nmero de elementos diferentes. Tracy, Faro, Mohammed, Pinus, Madi e
Laskas (2001) estudaram a ativao cerebral, atravs da tcnica de imagem de
ressonncia magntica funcional (fMRI), em pessoas normais com preferncia
manual direita realizando movimentos unimanuais e bimanuais de pronao e
supinao do antebrao. Os autores concluram que a execuo de
movimentos bimanuais implica num maior nmero de regies do crebro sendo
ativadas quando comparado com o nmero de regies ativadas durante
movimentos realizados com apenas uma das mos.
Considerar ser a atividade bimanual mais complexa do que a atividade
unimanual pelo simples fato de haver um maior nmero de elementos a serem
controlados pode no ser suficiente diante dos pressupostos da Teoria da
Complexidade. De acordo com esta teoria, a complexidade identificada pela
maior quantidade e variedade de elementos de um sistema e de relaes entre
os elementos. Um sistema pode ser definido como uma entidade unitria de
natureza complexa e organizada, formado por um conjunto de elementos ativos
que mantm relaes garantindo a identidade do mesmo (BRESCIANI FILHO
& D'OTTAVIANO, 2000). O homem pode ser visto como um sistema que possui
diversos elementos diferentes e que mantm relao com outros sistemas ao
seu redor. O comportamento do sistema, no que tange produo do
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24
movimento, pode ser entendido como resultado das interaes dos muitos
graus de liberdade dos sub-sistemas, caractersticos em sistemas complexos
que emerge a partir da interao destes sub-sistemas (BARELA, 1997). Na
execuo de uma atividade bimanual, as relaes estabelecidas entre os sub-
sistemas podem ser bem desempenhadas pelo organismo por serem
relativamente simples e permitirem a participao dos dois membros
superiores.
Em um primeiro momento, seramos levados a pensar que o nvel de
desempenho de uma das mos na tarefa unimanual seria sempre melhor do
que o desempenho desta mesma mo na tarefa bimanual. Helmuth e Ivry
(1996) utilizaram o modelo do relgio interno de Wing e Kristofferson (1973a;
1973b), citado anteriormente, para verificar a variabilidade do intervalo entre
toques executados em seqncia, tendo sido assumido que o ser humano
possui um relgio interno e que o intervalo entre os toques deveria ser mantido
estvel. Com base nos dados experimentais levantados, Helmuth e Ivry (1996)
observaram que a variabilidade da mo no-preferida na tarefa de tapping
bimanual foi menor em relao variabilidade desta mesma mo no tapping
unimanual. A variabilidade tambm foi menor quando a tarefa de toque
simultneo foi realizada com a ativao simultnea de diferentes grupos
musculares e em diferentes membros de uma mesma pessoa (por exemplo,
cotovelo direito e dedo indicador da mo esquerda). A explicao dada por
Helmuth e Ivry foi que na tarefa manual o sistema fornece estmulo de ativao
muscular para os dois lados do corpo (sejam as mesmas estruturas anatmicas
ou estruturas diferentes) e que na execuo da tarefa unimanual o sistema
-
25
precisa inibir a estimulao do lado que no ser utilizado na ao. Os
resultados indicaram que o desempenho de cada uma das mos foi mais
estvel na tarefa bimanual em relao ao desempenho na tarefa unimanual e
os autores concluram que esta melhora de desempenho estaria relacionada
com o controle intrnseco das aes, isto , com a organizao interna do
sistema.
Na seqncia de seus estudos sobre coordenao bimanual Ivry e
Hazeltine (1999) compararam o desempenho de uma paciente com
calosotomia (seco do corpo caloso) com o desempenho de duas pessoas
normais. Os desempenhos da paciente e das pessoas normais foram
semelhantes e os resultados foram similares aos encontrados anteriormente
por Helmuth e Ivry (1996, Experimento 2). Tais resultados levaram os autores a
sugerir que os comandos dos dois hemisfrios so integrados sub-
corticalmente.
Nesta linha de pesquisa, Franz, Zelaznik, Swinnen e Walter (2001)
focalizaram o efeito das propriedades espaciais da tarefa de desenho de semi-
crculos com uma ou duas mos em quatro condies. Na condio unimanual
deveriam ser feitos semi-crculos com cada uma das mos na parte superior e
na parte inferior do espao; na tarefa bimanual as condies eram de semi-
crculos na parte inferior-superior, superior-inferior, inferior-inferior e superior-
superior considerando as mos direita e esquerda. O desempenho do
deslocamento dos membros nas condies unimanuais foi semelhante ao
desempenho nas condies bimanuais superior-superior, inferior-inferior,
superior-inferior. A condio inferior-superior foi desempenhada com maior
-
26
variabilidade espacial, resultado explicado pelos autores por ser uma condio
no vivenciada anteriormente pelos participantes ao contrrio das demais
condies.
Estudar o Comportamento Motor com base em experimentos que
utilizam apenas tarefas unimanuais ou mesmo tarefas bimanuais simples pode
dar uma viso parcial do problema, pois os seres humanos tambm realizam
atividades motoras que so coordenadas na relao mais complexa entre os
membros (como por exemplo, tocar piano ou desempenhar malabarismo com
trs ou mais bolas). De modo geral, estudos que se apiam na performance de
atividades complexas so realizados com a avaliao das dimenses espaciais
e temporais dos deslocamentos espaciais e intervalos temporais especficos de
cada uma das mos.
A realizao da tarefa em diversos nveis de complexidade
fundamental para que o indivduo possa responder com preciso em situaes
mais desafiadoras. Por exemplo, no estudo de Hicks, Bradshaw, Kinsbourne e
Feigin (1978), diminuio no nvel de performance da mo direita dos
participantes em tarefa dupla (pressionar teclas e falar uma frase) ocorreu na
tarefa de nvel de complexidade mais elevado que consistia em pressionar
quatro teclas diferentes com os dedos da mo direita e da mo esquerda e
ainda recitar uma frase solicitada. Sendo assim, estudos que visam investigar a
ateno na coordenao bimanual deveriam ser conduzidos com tarefas de
diferentes nveis de complexidade para que se obtivesse o resultado do
comportamento em situaes que demandem diferentes demandas atencionais
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27
do participante. A reviso da literatura apontou vrios estudos sobre isso ainda
na dcada de 80.
Handel e Oshinsky (1981), analisaram o desempenho de 17 msicos
executando cinco diferentes condies complexas de coordenao bimanual
(2:3, 2:5, 3:4, 3:5 e 4:5). Os resultados indicaram que o desempenho dos
participantes foi pior nas condies mais complexas (3:5 e 4:5). Deutsch (1983)
realizou um experimento semelhante no qual trs msicos realizaram 25
condies de uma tarefa em que todos os movimentos bimanuais possveis
foram combinados envolvendo no mnimo um e no mximo cinco toques com
cada uma das mos (por exemplo, 1:1, 1:2, 1:3, 1:4, 1:5, 2:1, 2:2, 2:3 2:4, 2:5, e
assim por diante). O desempenho na habilidade bimanual nos nveis
complexos (como 3:2, 4:3, 5:2 ou 5:4) foi significativamente pior que nos nveis
simples (como 1:1, 2:1 3:3 ou 4:1). Ainda, entre as condies complexas, a
execuo da coordenao 2:3 foi mais precisa que a execuo da 2:5 e a
execuo da 5:2 foi mais precisa que a das condies 5:4 e 5:3, que eram as
mais complexas.
As tarefas de coordenao bimanual dependem principalmente dos
sistemas visual, auditivo e proprioceptivo para a obteno das informaes
relevantes para execuo da ao motora. De acordo com Hatore (2005), o
sistema visual desempenha importante papel na obteno das informaes
espaciais, principalmente em tarefas cujos objetivos consistem no acerto de
alvos, assim como os sistemas auditivo e proprioceptivo so responsveis pela
obteno das informaes temporais disponveis no meio ambiente. Khan
Lawrence, Fourkas, Franks, Elliott e Pembroke (2003) realizaram um estudo
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28
semelhante ao de Keele e Posner (1968), porm com diferentes distncias a
serem atingidas e com a informao visual sendo fornecida em um vdeo. Os
resultados indicaram que a informao visual interfere na preciso espacial da
tarefa independentemente do tempo de movimento (tempos de movimento
utilizados: 225, 300, 375 e 400 ms). Porm, o desempenho espacial dos
participantes (todos com preferncia manual direita) variou mais nos dois alvos
mais distantes (distncias utilizadas: 6, 12, 18 e 24 cm). Uma vez que a
obteno da informao visual depende da ateno dirigida a aspectos
relevantes para a execuo da tarefa, apresentamos a seguir reviso da
literatura sobre a questo do direcionamento da ateno.
2.4 ATENO
Todo mundo sabe o que a ateno , mas tem muita dificuldade em
explicar ou definir exatamente o que ela seja. Poderiam ser colocadas diversas
afirmaes populares com respeito ao que ateno, mas ainda assim, talvez,
no se chegasse ao significado preciso do termo ateno. Uma afirmativa
bastante comum no contexto escolar que os alunos no aprendem porque
no prestam ateno. Estaria a ateno relacionada com a identificao de
toda e qualquer informao que entra no sistema? Mas o que seria
informao? Um bom nmero de pesquisas focaliza a ateno e a informao,
pois estes so elementos do comportamento que, com certeza, esto
presentes na execuo de toda e qualquer atividade.
-
29
Uma busca na literatura considerada clssica nos leva ao trabalho do
filsofo William James (1890, citado em PELLEGRINI, 2001) que definiu a
ateno como:
It is the taking possession by the mind, in clear and vivid form, of
one of what seem several simultaneously possible objects or
trains of thought. Focalization and concentration of consciousness
are of its essence. It implies withdrawal from some things in order
to deal effectively with others (p. 303-304).
O conceito contm termos como concentrao, manter o pensamento
em objetos indicando que os processos cerebrais devem estar ativos no
momento em que a ateno dirige a ao. Um movimento pode ser realizado
muito bem sem a participao da conscincia, ou sem a utilizao da ateno,
mas a ateno fundamental para um bom desempenho de uma ao
voluntria, intencional. A utilizao da ateno pelo organismo para a
realizao de uma determinada tarefa tem relao direta com a utilizao da
viso para focalizao do alvo quando um ou mais objetivo(s) da tarefa
requer(em) deslocamento espacial.
A fixao dos olhos em um ponto no espao possibilita ao organismo
estabilizar uma rea informativa do campo de viso na regio da fvea,
permitindo um processamento detalhado de informao (RODRIGUES, 2001).
Neste sentido, o organismo entendido como percebedor por ser capaz de
perceber a informao que est no ambiente ao captar a luz e processar a
informao de acordo com suas experincias prvias.
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30
A identificao dos estmulos relevantes para uma determinada ao
est relacionada ao fixar os olhos em um ponto no espao. Isso ocorre quando
um nvel mnimo de ateno alocado ao alvo no ambiente. De acordo com
Posner e Raichle (1994), o sistema visual o sistema sensorial mais
importante na alocao da ateno. Porm, algumas consideraes devem ser
feitas com relao ao sistema visual pois, de acordo com Abernethy (1988,
citado por RODRIGUES, 2001), a ao de olhar (fixao na fvea) diferente
de ver (processamento de informao ou extrao de dicas), sendo possvel
fixar a ateno visual em um objeto sem extrair informao especfica a
respeito dele. No estudo do Comportamento Motor, e em especfico da
Coordenao Bimanual, o investigador precisa ter conhecimento do
direcionamento do olhar do executante e instru-lo sobre a ateno dirigida
informao relevante para a execuo da tarefa. difcil ter certeza de quanto
de ateno est sendo alocada em uma ao em um determinado momento,
porm o desempenho do participante nesta ao pode refletir como a ateno
est sendo distribuda a tal tarefa.
A incluso de algo novo no campo visual ou mesmo a simples mudana
intencional de direo de um movimento requer o controle consciente da ao.
O indivduo precisa ter inteno de realizar a tarefa e esta inteno deve
comandar o direcionamento do foco atencional que, portanto, deve estar
dirigido tarefa que est sendo realizada. De acordo com Treffner e Turvey
(1995), o nvel de ateno que alocado tarefa determina o nvel de
desempenho em atividades que requerem preciso como as mos. A ateno
alocada tarefa tem um custo para o crebro requerendo um tempo maior
-
31
para realizao das aes motoras, principalmente se o organismo estiver
realizando uma tarefa dupla (HIRAGA, SUMMERS & TEMPRADO, 2004).
A capacidade de uma pessoa alocar ateno a uma determinada tarefa
depende principalmente da integridade estrutural do organismo, ou seja,
depende de que suas clulas e rgos estejam funcionando normalmente. Por
exemplo, as vias neurais devem estar transmitindo informao, os rgos de
sentido captando os estmulos do ambiente e a informao sendo
encaminhada aos rgos de integrao sensrio-motora. A tarefa tambm
deve ser importante para a pessoa que a ir realizar de modo que ela deve
conter um significado para quem a realiza. A capacidade adquirida de centrar
ateno a uma tarefa principal muito importante para o ser humano que
precisa aprender diversas habilidades motoras, cognitivas, de comunicao e
adquirir amplo conhecimento a respeito do ambiente em que vive.
Karatekin (2004), em estudo com crianas e adultos, verificou pelo
paradigma da tarefa dual (duas tarefas diferentes sendo realizadas em um
mesmo tempo) que o nvel de habilidade de alocar ateno a uma tarefa
aumenta com o aumento da idade, isto , a criana possui pouca habilidade em
alocar ateno comparada a um adulto. De acordo com Alleoni, Pellegrini,
Tinos e Hatore (2005), em estudo com crianas, a capacidade de focalizar
ateno a um estmulo pode ser aumentada a partir de um treinamento
adequado, ou programa de interveno. A prioridade atencional pode ainda,
conforme Monno, Chardenon, Temprado, Zanone e Laurent (2000), adiantar a
mudana de fase entre os membros. Neste estudo, a ateno foi dirigida
execuo dos movimentos e o modo de coordenao fora de fase mudou
-
32
para o modo em fase na freqncia de 2 Hz, 0.5 Hz a menos que a
freqncia que provocou o mesmo efeito no estudo de Haken, Kelso e Bunz
(1985).
Assim, se a ateno dirigida ao objetivo da tarefa, por exemplo, tocar
em alvos com as duas mos a determinados intervalos de tempo, ento, a
ateno deveria ser alocada s duas mos. Porm, se as duas mos estiverem
distantes uma da outra, h uma restrio do sistema visual que impede a
realizao da tarefa de toques manuais com a ateno sendo dirigida
simultaneamente para ambas s mos. O indivduo precisa, ento, escolher
para qual lado do corpo dever a ateno ser dirigida no momento de
execuo da tarefa e esta escolha geralmente se d pela histria de vida da
pessoa, isto , pelas experincias anteriores. A fixao do foco visual
permitindo o direcionamento da ateno visual a um dos membros superiores
ou mesmo a alternncia da ateno de um segmento a outro pode ocorrer em
funo da preferncia manual que o indivduo desenvolveu ao longo dos anos
com a realizao das diversas tarefas do cotidiano. A preferncia manual ,
assim, fator determinante do desempenho das mos em tarefas bimanuais.
A diferena espacial e temporal entre a mo preferida e a mo no-
preferida em funo da preferncia manual na execuo de tarefas manuais
pode ser influenciada por algumas restries impostas tarefa, como por
exemplo, pelo direcionamento da ateno. Wuyts, Summers, Carson, Byblow e
Semjen (1996) estudaram o comportamento de pessoas com preferncia
manual direita e esquerda em uma tarefa bimanual de desenhar crculos na
relao espao-temporal de 1:1. Para os autores, apesar da ateno mo
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no-dominante ter melhorado o desempenho desta mo, as caractersticas
globais do padro no modificaram. Com isso os autores concluram que a
ateno pode no ser considerada informao relevante para a coordenao
intermembros nesta tarefa bimanual de desenhar crculos.
Contudo, de acordo com Amazeen, Amazeen, Treffner e Turvey (1997),
a assimetria funcional pode ser minimizada ou maximizada pela focalizao da
ateno a uma das mos. Com uma tarefa bimanual de deslocamento de
pndulos, tambm na relao espao-temporal de 1:1, os autores concluram
que as duas mos tiveram desempenho mais semelhante (maior acoplamento)
quando a ateno esteve dirigida mo no-preferida, porm maior
estabilidade foi manifestada quando a ateno foi dirigida mo preferida.
Ainda, a mo preferida liderou mais o movimento das mos dos participantes
com preferncia manual esquerda do que daqueles com preferncia manual
direita.
Ainda nesta relao espao-temporal de 1:1, Pellegrini, Andrade e
Teixeira (2004) verificaram, em uma tarefa de toques repetitivos recprocos,
que quando as crianas dirigem a ateno para a mo no-preferida o
acoplamento entre as mos (preferida e no-preferida) maior (menor fase
relativa). Este resultado foi semelhante ao de adultos obtido por Riley,
Amazeen, Amazeen, Treffner e Turvey (1997) em estudo realizado com a
tarefa de movimentar um pndulo em cada mo. Foi verificado que as pessoas
com preferncia manual direita ou esquerda quando direcionam a ateno
mo preferida aumentam o efeito da preferncia manual e este aumento se
torna maior em freqncias mais altas.
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Quando o executante pode escolher qual mo dirigir sua ateno ento
a mo preferida parece atrair a ateno para si durante as aes bimanuais,
(PETERS, 1994). Ainda, o nvel de complexidade da tarefa pode influenciar
neste resultado, pois, conforme Peters (1994), em uma tarefa simples como a
coordenao 1:1, a assimetria no interfere no desempenho desde que no
haja instrues quanto ao foco atencional.
Esta discusso sobre qual mo deve receber a ateno na execuo de
tarefa bimanual ocorre devido assimetria funcional que o organismo
geralmente desenvolve pelas suas experincias vividas. O crebro humano
possui dois hemisfrios, ligado ao trax h dois braos e em suas
extremidades duas mos semelhantes (MACHADO, 1993). Contudo, a maioria
das pessoas prefere utilizar uma das mos para realizar as tarefas do dia-a-dia
como, por exemplo, escrever com a mo direita e carregar um livro com a
esquerda, definindo a preferncia manual para as diversas tarefas de
manipulao de objetos ou de uso de fora. Com o tempo, esta utilizao
predominante de uma das mos pode diferenciar o nvel de desempenho entre
elas em tarefas que exigem acerto de alvo ou sincronizao temporal com um
som externo, resultando em assimetria funcional sendo uma das mos mais
eficiente para a execuo de uma determinada tarefa.
Acreditamos que seria de maior interesse para a rea do comportamento
motor o estudo das relaes temporais simples e complexas entre as mos
com deslocamentos espaciais similares. A preferncia manual, enquanto
caracterstica dos participantes, a ao de uma das mos na execuo de
tarefa bimanual e o direcionamento da ateno a uma ou para a outra mo so
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ainda aspectos do comportamento motor que devem ser investigados. Se por
um lado o nmero de estudos sobre coordenao bimanual bem elevado, por
outro, vrias so as questes que ainda temos. Selecionamos para o presente
estudo as seguintes questes: Para qual mo direcionar o foco visual para
obter o melhor desempenho na coordenao bimanual? O nvel de
complexidade da tarefa interfere no desempenho de tarefa que envolve
coordenao bimanual?
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3 OBJETIVO
O objetivo geral deste estudo foi verificar a influncia da ateno
dirigida a uma das mos na execuo da tarefa bimanual de diferentes nveis
de complexidade, em funo da preferncia manual.
Em especfico, verificar o impacto da ateno dirigida a uma das mos,
em funo da preferncia manual, nas dimenses espacial e temporal da tarefa
bimanual de tamborilar com: a) diferenciao na dimenso temporal e
igualdade na dimenso espacial; b) diferentes relaes integrais, e; c) uma
relao no-integral.
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4 HIPTESES
Foram testadas as seguintes hipteses:
(H1) independentemente da preferncia manual, os desempenhos
espacial e temporal seriam melhores nas condies simples de tarefa bimanual
comparados com os desempenhos na condio complexa de tarefa bimanual;
(H2) independentemente da preferncia manual, da mo e do nvel de
complexidade da tarefa, o direcionamento da ateno no interferiria na
magnitude de erro temporal na execuo de tarefa bimanual;
(H3) para os participantes canhotos, independentemente do nvel de
complexidade da tarefa e do direcionamento da ateno, no haveria diferena
no desempenho espacial entre as mos;
(H4) para os participantes destros, independentemente do nvel de
complexidade da tarefa e do direcionamento da ateno, haveria menor
magnitude de erro espacial para a mo preferida (direita) em relao mo
no-preferida (esquerda);
(H5) independentemente da preferncia manual e do nvel de
complexidade da tarefa, o direcionamento da ateno mo preferida levaria a
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aumento na magnitude de erro espacial no desempenho da mo no-preferida,
em relao execuo da tarefa com o direcionamento da ateno livre;
(H6) para os participantes destros, a ateno dirigida mo no-
preferida (esquerda) provocaria diminuio da magnitude de erro espacial
nesta mo, e aumento da magnitude de erro espacial na mo preferida
(direita), em relao execuo da tarefa com o direcionamento da ateno
livre e;
(H7) para os participantes canhotos, a ateno dirigida mo no-
preferida (direita) provocaria menor magnitude de erro espacial nesta mo, sem
alterao na magnitude de erro da outra mo (esquerda), em relao
execuo da tarefa com o direcionamento da ateno livre.
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5 MTODO
5.1 PARTICIPANTES
Participaram deste estudo 21 universitrios, voluntrios, saudveis,
sendo dez com preferncia manual esquerda (cinco homens e cinco mulheres)
e onze com preferncia manual direita (oito homens e trs mulheres). Os dados
de um participante com preferncia manual direita e os dados de dois com
preferncia manual esquerda foram excludos da anlise estatstica devido
falta de legibilidade na captura do sinal tornando invivel a anlise dos
mesmos. Assim, para fins de testagem das hipteses, os grupos foram
compostos por dez pessoas com preferncia manual direita, com idade entre
19 e 25 anos, e oito pessoas com preferncia manual esquerda, com idade
entre 17 e 28 anos (Tabela 1, ANEXO).
O Quociente de Lateralidade manual foi obtido atravs da aplicao do
inventrio de Edinburgh (OLDFIELD, 1971). Alm disso, foram critrios para
participao no estudo acuidades visual e auditiva normais ou corrigidas para a
normalidade.
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Todos os participantes receberam inicialmente informao sobre os
objetivos e os procedimentos que seriam utilizados no estudo, para posterior
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido referente
participao no estudo (ver ANEXO). Os procedimentos relativos participao
no estudo seguiram as normas e instrues do Comit de tica em Pesquisa
do Instituto de Biocincias da UNESP de Rio Claro.
5.2 MATERIAIS
Tablete (mesa digitalizadora) de dupla entrada com duas ponteiras
independentes (construda no Centro de Pesquisa Renato Archer CenPRA
em Campinas/SP); microcomputador; metrnomo digital sonoro; cadeira com
braos para descanso; software para captura e registro dos dados on line. A
mesa digitalizadora e o software so materiais que j foram utilizados em uma
srie de experimentos e foram eficazes na captura e registro de dados da
performance de tarefas bimanuais inclusive a de toques repetitivos de ida-e-
volta (PELLEGRINI, MAMMANA, HIRAGA, ANDRADE, ALLEONI, CALVO &
MARCELINO, 2005).
5.3 PROCEDIMENTOS
Os dados foram coletados individualmente, em duas sesses, em uma
sala especialmente preparada para o estudo e cada participante permaneceu
sentado diante de uma mesa em frente ao tablete, durante toda a sesso, que
durava aproximadamente 50 minutos. A tarefa consistia em tocar com a ponta
das duas lapiseiras em alvos pr-estabelecidos colocados abaixo da tela
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transparente do tablete. Os toques foram executados no tablete aps
deslocamentos espaciais de um a outro alvo com mudana de direo
(seqenciais) em intervalos temporais de diferentes magnitudes de acordo com
o nmero de alvos de cada mo na condio experimental. Cada tentativa
consistia numa seqncia de toques no intervalo de 20 segundos.
Os alvos tinham dois centmetros de lado e estavam distantes dois
centmetros um do outro. Enquanto que o tamanho do alvo foi sempre o
mesmo em todas as condies experimentais, o nmero de alvos variou de um
a trs conforme a condio experimental (1:1, 2:1, 3:1 e 3:2). O ndice de
Dificuldade para cada toque (ID = log2 (2 x A)/L , onde ID = ndice de
Dificuldade; A = amplitude de deslocamento (4 cm), e; L = Largura do alvo
(2cm)) foi 2 bits/s de informao transmitida (FITTS, 1954).
Os deslocamentos das mos entre os alvos foram em direes
opostas, portanto com ativao de msculos homlogos dos membros
superiores. A tentativa iniciava nos alvos mais distantes em relao linha
mediana do corpo no plano horizontal, sendo que o primeiro toque da mo
preferida e o primeiro da mo no-preferida eram simultneos, definindo o
incio do ciclo. Um ciclo corresponde ao intervalo de tempo durante o qual se
completa uma seqncia recorrente de eventos e nas tarefas deste estudo o
ciclo se completava quando as duas mos tocavam simultaneamente nos
alvos, independente da posio espacial.
A condio 1:1 foi realizada com um alvo a ser tocado pela mo
preferida e um alvo a ser tocado pela mo no-preferida em cada ciclo.
Portanto existiam dois alvos de cada lado, sendo o ndice de Dificuldade desta
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tarefa igual a 2 (ver Figura 1). Nesta condio, a durao do ciclo consistia de
um deslocamento de quatro centmetros em intervalos temporais de 300, 600
ou 900 ms entre um toque e o outro, para cada mo.
TAREFA BIMANUAL (na condio 1:1)
MO ESQUERDA MO DIREITA
2 cm 2 cm 2 cm 2 cm
2 cm 2 cm
11 cm 11 cm
Figura 1. Representao esquemtica da tarefa bimanual na condio 1:1.
A condio 2:1 foi realizada com dois alvos a serem tocados pela mo
preferida e um alvo a ser tocado pela mo no-preferida em cada ciclo.
Portanto existiam trs alvos no lado da mo preferida e dois alvos no lado da
mo no-preferida, sendo o ndice de Dificuldade para a mo preferida igual a
3 e para a mo no preferida igual a 2. Nesta condio, um ciclo de 600 ms
consistia de dois deslocamentos em seqncia de quatro centmetros cada a
um intervalo temporal de 300 ms com a mo preferida e um deslocamento de
quatro centmetros em 600 ms com a mo no-preferida.
A condio 3:1 foi realizada com trs alvos a serem tocados pela mo
preferida e um alvo a ser tocado pela mo no-preferida em cada ciclo.
Portanto, existiam quatro alvos no lado da mo preferida e dois alvos no lado
da mo no-preferida, sendo o ndice de Dificuldade para a mo preferida igual
a 3,5 e para a mo no-preferida igual a 2. Nesta condio, um ciclo de 900
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ms consistia de trs deslocamentos em seqncia de quatro centmetros cada
em 300 ms com a mo preferida e um deslocamento de quatro centmetros em
900 ms com a mo no-preferida.
A condio 3:2 foi realizada com trs alvos a serem tocados pela mo
preferida e dois alvos a serem tocados pela mo no-preferida em cada ciclo.
Portanto, existiam quatro alvos no lado da mo preferida e trs alvos no lado
da mo no-preferida, sendo o ndice de Dificuldade para a mo preferida igual
a 3,5 e para a mo no-preferida igual a 3. Nesta condio, um ciclo consistia
de trs deslocamentos em seqncia de quatro centmetros cada em 600 ms
com a mo preferida e dois deslocamentos em seqncia de quatro
centmetros cada em 900 ms com a mo no-preferida (perodo de 1.800 ms).
As condies 2:1, 3:1 e 3:2 esto representadas na Figura 2 com a quantidade
de alvos de cada condio, considerando ainda, as possibilidades de
preferncia manual direita ou esquerda.
O som do metrnomo era emitido nos primeiros cinco segundos de
cada tentativa e omitido nos 15 segundos seguintes, de modo que cada uma
das tentativas tinha a durao de 20 segundos. Este procedimento foi realizado
a fim de garantir que o participante captasse o ritmo para execuo da tarefa e
o mantivesse ao longo da tentativa.
O executante realizou cinco tentativas em cada uma das condies de
coordenao bimanual (1:1, 2:1, 3:1 e 3:2). Um sinal de alerta era emitido pelo
computador no intervalo entre zero e trs segundos antes do sinal que indicava
o incio da tentativa. Um intervalo de 10 segundos entre as tentativas e de 45
segundos entre as condies era dado para fins de descanso do participante.
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CONDIO 2:1
MO ESQUERDA MO DIREITA
PREFERIDA NO-PREFERIDA
NO-PREFERIDA PREFERIDA
CONDIO 3:1
PREFERIDA NO-PREFERIDA
NO-PREFERIDA PREFERIDA
CONDIO 3:2
PREFERIDA NO-PREFERIDA
NO-PREFERIDA PREFERIDA
Figura 2. Representao esquemtica da disposio dos alvos nas condies 2:1, 3:1 e 3:2 em
funo da preferncia manual.
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O estudo foi realizado em duas sesses para evitar a fadiga por parte
dos participantes. Na primeira sesso, a Condio 1:1 foi realizada em trs
intervalos temporais (300, 600 e 900 ms), em ordem contrabalanada entre os
participantes. Aps a Condio 1:1 ter sido feita nos trs intervalos temporais,
foram, ento, feitas as condies 2:1, 3:1 e 3:2, tambm em ordem
contrabalanada entre os participantes. Em todas as condies da primeira
sesso, os participantes foram orientados a escolher livremente o foco
atencional.
Na segunda sesso foram realizadas as tentativas nas condies 1:1,
2:1, 3:1 e 3:2 com o direcionamento do foco atencional visual mo preferida e
mo no-preferida em ordem contrabalanada entre os participantes de cada
grupo. Cada participante fez 40 tentativas, sendo 20 delas com o foco
atencional mo preferida e 20 com o foco atencional mo no-preferida.
Destas 20 tentativas, foram realizadas cinco em cada condio (1:1, 2:1, 3:1 e
3:2) em ordem contrabalanada entre os participantes de cada grupo. O foco
visual foi monitorado pelo experimentador, atravs de uma cmera de vdeo
que transmitia a imagem dos olhos em tempo real permitindo identificar a
direo do olhar durante a execuo da tarefa.
5.4 TRATAMENTO DOS DADOS
Os dados foram armazenados no computador em formato .txt. Para
cada uma das mos e em cada condio foram calculadas a mdia do erro
temporal e a mdia do erro espacial de cada tentativa. O erro temporal (erro
varivel da dimenso temporal) de cada mo em cada toque foi calculado com
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base na diferena absoluta entre os valores do intervalo temporal esperado e o
intervalo temporal obtido e, em seguida, foi calculada a mdia destes valores
com a unidade em milisegundos (ms).
Para o erro espacial (erro varivel da dimenso espacial), primeiro foi
calculado o ponto mdio dos toques nas coordenadas X e Y de cada toque
em cada alvo e, em seguida, foi calculada a diferena absoluta entre os valores
do ponto mdio e do ponto tocado no tablete, ainda de cada coordenada e em
cada alvo. Posteriormente, com a projeo dos toques nas coordenadas foram
formados tringulos retngulos e pela equao do clculo da hipotenusa no
tringulo retngulo, atravs do Teorema de Pitgoras (Equao 1), foi
calculada a magnitude do erro espacial de cada toque no tablete. E, por fim, foi
calculada a mdia do erro espacial de cada mo em cada tentativa, sendo a
unidade de medida o pixel que corresponde a 0,35 mm.
Equao 1: H = (x)+(y); sendo H o valor do erro espacial de cada
toque; x e y os valores das diferenas absolutas entre os
valores do ponto mdio e os valores das coordenadas X
e Y, respectivamente, do ponto de toque no tablete.
5.5 ANLISE ESTATSTICA
Foram realizadas 12 Anlises de Varincia (ANOVAs), sendo seis para
a varivel dependente erro temporal (ms) e outras seis para a varivel
dependente erro espacial (pixels). Para detectar as diferenas nos fatores
principais e nas interaes significativas, foram feitos testes a posteriori do tipo
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HSD de Tukey para n no-iguais. O nvel de significncia estabelecido foi p <
0,05.
Uma ANOVA para cada varivel dependente (erros temporal e
espacial) foi feita para analisar os dados da condio 1:1, com os fatores
preferncia manual (2 - direita e esquerda), mo (2 - preferida e no-preferida)
e intervalo temporal (3 - 300, 600 e 900 ms).
Quatro ANOVAs para cada varivel dependente (erros temporal e
espacial) foram feitas para analisar os dados das mos preferida e no-
preferida, com os fatores principais preferncia manual (2 - direita e esquerda)
e condio, com medidas repetidas neste ltimo fator. Uma ANOVA com os
dados da mo preferida comparou as condies 1:1, 2:1 e 3:1 e outra
comparou as condies 1:1 e 3:2. Uma ANOVA com os dados da mo no-
preferida comparou as condies 1:1, 3:1 e 3:2 e outra comparou as condies
1:1 e 2:1.
Uma ANOVA para cada varivel dependente (erros temporal e
espacial) foi feita com os fatores preferncia manual (2 - direita e esquerda),
mo de toque no tablete (2 - preferida e no-preferida), ateno (3 -
direcionada mo preferida, mo no-preferida e livre) e condio (4 - 1:1,
2:1, 3:1 e 3:2) com medidas repetidas nos trs ltimos fatores. Nestas duas
ANOVAs, na condio 1:1, foram utilizados apenas os dados de desempenho
no intervalo temporal de 300 ms.
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6 RESULTADOS
O objetivo deste estudo foi investigar o papel da ateno visual no
desempenho espacial e temporal de tarefas de coordenao bimanual simples
e complexas. A apresentao dos resultados tem como partida as
caractersticas de preferncia manual dos participantes deste estudo.
Posteriormente, sero apresentados os resultados das anlises estatsticas da
condio 1:1 nos trs diferentes intervalos temporais (300, 600 e 900 ms). Em
seguida, sero apresentados os resultados das condies 1:1, 2:1, 3:1 e 3:2
relativos a cada uma das mos. Finalmente, apresentaremos os resultados
gerais do comportamento, considerando as trs instrues de direcionamento
da ateno visual e as quatro condies experimentais.
6.1 CARACTERSTICAS DOS PARTICIPANTES QUANTO
PREFERNCIA MANUAL
O Quociente de Lateralidade obtido atravs do Inventrio de Edinburgh
(OLDFIELD, 1971) dos participantes com preferncia manual direita foi entre
0,80 e 1,00 na preferncia do uso da mo direita e o dos participantes com
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preferncia manual esquerda foi entre 0,45 e 1,00 na preferncia do uso da
mo esquerda. Trs participantes destros atingiram o quociente de 1,00 e
apenas um participante canhoto atingiu tal quociente (ver Tabela 1, ANEXO).
Este quociente de 1,00 representa consistncia absoluta no uso da mo
preferida. As atividades motoras: escrever e arremessar uma bola; foram os
itens do Inventrio que tiveram a mo preferida sendo identificada como tal
para a execuo destas tarefas por parte de todos os participantes.
6.2 DESEMPENHO ESPACIAL E TEMPORAL COM O DIRECIONAMENTO
DA ATENO LIVRE
6.2.1 CONDIO 1:1 EM INTERVALOS TEMPORAIS DIFERENTES
A condio 1:1, em que as duas mos executavam o tamborilar
simultaneamente, foi realizada nos intervalos temporais de 300, 600 e 900 ms.
Para anlise dos dados foram realizadas duas ANOVAs com os fatores
preferncia manual (2) x mo (2) x intervalo temporal (3), com medidas
repetidas nos ltimos dois fatores, sendo uma ANOVA para a varivel
dependente erro espacial e outra para o erro temporal.
Os resultados da ANOVA, com os dados do erro espacial, indicaram
interao significativa entre os fatores preferncia manual e mo (F1,16 = 9,71; p
< 0,05) (ver Tabela 2, ANEXO). Os resultados do post hoc teste indicaram que
os participantes destros apresentaram menor erro espacial com a mo
preferida (24 pixels) comparado ao valor do erro da mo no-preferida (31
pixels). De modo diferente, os participantes canhotos que apresentaram
comportamento semelhante das duas mos (23 e 25 pixels para as mos
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preferida e no-preferida, respectivamente), independente do intervalo
temporal (ver Tabela 3, ANEXO).
Os resultados da ANOVA para o erro espacial in