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A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África União Africana Conselho Económico, Social e Cultura (ECOSOCC)

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A Convenção de Kampala ao serviço das PDIsGuia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

União Africana Conselho Económico, Social e Cultura (ECOSOCC)

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Esta publicação do ECOSOCC é publicada com o apoio do IDMC. As duas organizações podem ser contactadas em:

O Conselho Económico, Social e Cultura (ECOSOCC) da União Africana

Secretariado do ECOSOCCDirecção de Organizações de Cidadãos e da Diáspora (CIDO)Comissão da União AfricanaApartado 3243Addis Ababa, EtiópiaTel: 251 115 51 38 22Fax: 251 115 51 93 [email protected]; [email protected]; www.africa-union.org/CIDO.htm

O Centro de Monitorização de Deslocados Internos

Centro de Monitorização de Deslocados Internos / Conselho de Refugiados NorueguêsInternational Environment House 2Chemin de Balexert, 7-91219 Geneva, SuíçaTel: +41 22 799 0700Fax: +41 22 799 [email protected]

Fotografia da capa: Pessoas deslocadas internamente no Quénia, em Novembro de 2009. Fotografia: Reuters/Noor Khamis (Sociedade Ambiental do Quénia)

Design: Laris(s)a, laris-s-a.com

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A Convenção de Kampala ao serviço das PDIsGuia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

Julho de 2010

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O Conselho Económico, Social e Cultura (ECOSOCC) da União Africana

O ECOSOCC é um dos principais mecanismos para que as organizações da sociedade civil Africana interajam com a Comissão da União Africana (UA) e os estados membros da UA. Foi estabelecido ao abrigo do Acto Constitutivo da União Africana como um órgão consultivo da UA. O ECOSOCC é composto por 150 organizações da sociedade civil de todos os estados membros da UA. Os seus objectivos incluem: Promoção da participação da sociedade civil africana na implementação das políticas e programas da União

Africana; Estabelecimento de parcerias fortes entre os governos e todos os segmentos da sociedade civil; Promoção e defesa de uma cultura de boa governação, de princípios e instituições democráticos, da participação

popular, dos direitos humanos e das liberdades, bem como da justiça social; Promoção e reforço das capacidades institucionais, humanas e operacionais da sociedade civil africana.

O Centro de Monitorização de Deslocados Internos

O Centro de Monitorização de Deslocados Internos (IDMC) foi estabelecido pelo Centro de Refugiados Norueguês em 1998, a pedido das Nações Unidas, para criar uma base de dados global de deslocações internas. Uma década depois, o IDMC permanece a principal fonte de informação e análise de deslocações internas causadas por conflitos e violência mundiais.

O IDMC visa apoiar melhores respostas internacionais e nacionais a situações de deslocação interna e de respeito pelos direitos das pessoas deslocadas internamente (PDIs), que estão frequentemente entre as pessoas mais vulneráveis do mundo. Visa também promover soluções sustentáveis para as PDIs, através do regresso, integração local ou residência noutro local do país.

As principais actividades do IDMC incluem: Monitorização e comunicação de deslocações internas causadas por conflitos, violência generalizada e violações

dos direitos humanos; Pesquisa, análise e defesa dos direitos das PDIs; Capacidades de formação e reforço na protecção das PDIs; Contribuição para o desenvolvimento de normas e orientação na protecção e assistência às PDIs.

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Índice

Abreviaturas e siglas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Preâmbulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.1 Causas e impacto da deslocação interna em África . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

1.2 O papel da sociedade civil africana e das comunidades de acolhimento na protecção e assistência às PDIs. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1.3 Objectivo do Guia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

1.4 Estrutura do Guia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Factos que conduziram à Convenção de Kampala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.1 Legislação e políticas nacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.2 Pacto de Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos. . . . . . . . . . . . . . . . . 10

A Convenção de Kampala – resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.1 Definição de PDI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.2 Responsabilidades dos estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3.3 Prevenção e protecção contra a deslocação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

3.4 Protecção e assistência humanitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

3.5 Cooperação com organizações da sociedade civil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3.6 Igualdade de direitos para as PDIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3.7 Soluções sustentáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3.8 Monitorização do cumprimento por parte dos estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

Âmbito de acção pela sociedade civil: consciencializar e advogar a ratificação da Convenção de Kampala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4.2 Suscitar a consciencialização pública para a Convenção de Kampala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

4.3 Actuação junto de governos para a ratificação da Convenção de Kampala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

4.4 Actuação a nível regional para a ratificação da Convenção de Kampala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

4.5 Actuação ao nível da UA para a ratificação da Convenção de Kampala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22

4.6 Trabalho com organizações parlamentares supranacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Âmbito de acção pela sociedade civil: implementação da Convenção de Kampala . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26

5.1 Processo contínuo de consciencialização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26

5.2 Revisão do enquadramento jurídico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26

5.3 Monitorização das acções dos estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28

5.4 Contribuição para a protecção dos direitos das PDIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .29

Directório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32

Links para organizações importantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32

Lista de Guias / Manuais / Recursos importantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

Notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .34

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4 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

Abreviaturas e siglas

ACHPR – Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos PovosAWEPA – Associação de Parlamentares Europeus para ÁfricaCCAR – Comissão para a Coordenação da Assistência e Protecção a Refugiados, Retornados e Pessoas Deslocadas InternamenteCEEAC – Comunidade Económica dos Estados da África CentralCEN-SAD – Comunidade dos Estados do Sael e do SaraCER – Comunidade Económica RegionalCIDO – Direcção de Organizações de Cidadãos e da DiásporaCIRGL – Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes LagosCOMESA – Mercado Comum da África Oriental e AustralEAC – Comunidade Leste AfricanaEALA – Assembleia Legislativa Leste-AfricanaECOSOCC – Conselho Económico, Social e CulturalECOWAS – Comunidade Económica dos Estados da África OcidentalHARDP – Divisão dos Assuntos Humanitários, Refugiados e Pessoas Deslocadas IDMC – Centro de Monitorização de Deslocados InternosIGAD – Autoridade Intergovernamental para o DesenvolvimentoNHRI – Instituição nacional para os direitos humanosONG – Organização não governamentalOSC – Organização da Sociedade CivilOUA – Organização da Unidade AfricanaPDI – Pessoa Deslocada InternamentePRC – Comissão de Representantes PermanentesRSG para IDPs – Representante do Secretário-geral das Nações Unidas para PDIsSADC – Comunidade para o Desenvolvimento da África AustralUA – União AfricanaUIP – União InterparlamentarUMA – União do Magrebe Árabe (Union du Maghreb Arabe)UN – Nações UnidasUNHCR – Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados

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5A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

Um dos objectivos fundamentais da União Africana é pro-mover e proteger os direitos humanos (Acto Constitutivo da União Africana, Artigo 3(h)). Ao adoptar a Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África (Convenção de Kampala), a União Africana tomou uma medida essencial no sentido de reforçar a protecção dos direitos de algumas das pes-soas mais vulneráveis no continente. Quer a deslocação seja causada por conflitos armados, catástrofes naturais ou projectos de desenvolvimento, o seu impacto nas pessoas é invariavelmente grave. A deslocação afecta todos os aspectos da vida das pessoas, desde o acesso a alimentação, água e abrigo a acesso a serviços bási-cos, tais como de saúde e educação, e desde meios de subsistência a acesso à terra. A Convenção de Kampala implementa um enquadramento jurídico africano para evitar a deslocação interna, proteger e apoiar as pessoas durante a deslocação e apresentar soluções sustentáveis para as pessoas deslocadas.

Ao adoptar a Convenção de Kampala, a União Africana tornou-se a primeira organização continental no mundo a adoptar um instrumento vinculativo do ponto de vista jurídico, no sentido de proteger os direitos das PDIs. A Convenção de Kampala é única também noutro aspecto, uma vez que reconhece o papel essencial da sociedade civil na protecção e apoio a PIDs. As comunidades de acolhimento, organizações religiosas e ONGs encontram-se muitas vezes na linha da frente na tarefa de prestar ajuda de emergência a populações recém deslocadas e a defender os seus direitos. A Convenção de Kampala apela os estados signatários a cooperarem com as or-ganizações da sociedade civil na prestação de apoio e protecção às PDIs, e a permitirem e facilitarem o papel das organizações da sociedade civil no sentido de pres-tarem tal apoio e protecção.

Na minha função de presidente do ECOSOCC, gostaria de felicitar o Grupo de Assuntos Políticos do ECOSOCC por ter criado este Guia para as organizações da socie-dade civil sobre a forma de pôr a Convenção de Kampala ao serviço das PIDs. O Conselho Económico, Social e Cultural (ECOSOCC), como órgão da UA que representa a sociedade civil africana, congratula se por trabalhar em estreita colaboração com os outros órgãos da União Africana e os Estados Membros da UA, no sentido de garantir que a Convenção de Kampala tem o impacto que merece ter. Espero que este Guia incentive as organiza-ções da sociedade civil em todos os Estados Membros a desempenharem o seu papel na promoção e protecção dos direitos das PIDs.

Akere T. Muna, Presidente do Conselho Económico, Social e Cultura (ECOSOCC) da União Africana

Preâmbulo

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6 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

Introdução

1.1 Causas e impacto da deslocação interna em África

A deslocação interna pode ter como origem várias cau-sas. As pessoas deslocadas internamente (PDIs) podem ter sido obrigadas a fugir das suas casas em resultado de catástrofes naturais, tais como cheias ou terramotos, ou devido a conflitos armados entre estados, guerras civis, situação de violência generalizada ou violações de direitos humanos. A deslocação também pode ser causada por projectos regulamentados por estados, tais como programas de desenvolvimento urbano, criação de parques industriais, projectos de infra-estruturas, tais como estradas, pontes e barragens, ou ainda processos industriais como extracção de recursos naturais.

A deslocação tende a vulnerabilizar as pessoas a uma série de ameaças. Tendo sido obrigadas a abandonar as suas casas e por vezes também o seu país, as PDIs ficam por vezes privadas do seu sustento. Poderão não ter outra solução a não ser viver em áreas isoladas, inse-guras ou inóspitas. Podem ser vítimas ou testemunhas de violência, como assassínios, violações ou recrutamento forçado para forças armadas. Podem ter sido separadas das suas famílias ou continuar a recear pela segurança de membros da família que deixaram para trás. As PDIs que tenham fugido sem documentos civis de cidadania, tais como certidões de nascimento ou bilhetes de iden-tidade, poderão não ter acesso a serviços sociais, como escolas e assistência médica, ou à livre movimentação dentro do país. A sua situação pode piorar em situações em que sejam deslocadas durante muitos anos e não possam regressar a suas casas nem encontrar outro local para refazer as suas vidas.

É impossível calcular o número de PDIs em todo o mun-do, porque, com a excepção da deslocação devida a

conflito e violência, não existe uma monitorização global de deslocações causadas por todos esses diferentes factores. Calcula-se que nos finais de 2009 havia 27,1 milhões de pessoas a viver na condição de deslocadas em todo o mundo, em resultado de conflitos e violência em curso e recentes, sendo África o continente mais afectado, com 11,6 milhões de PDIs em 21 estados.1 Um relatório datado de 2009 indicava que pelo menos 36 milhões de pessoas foram deslocadas recentemente em 2008 em resultado de catástrofes naturais ocorri-das repentinamente, mas não calculava o número de pessoas que continuavam deslocadas devido a catás-trofes ocorridas em anos anteriores.2 Não é conhecido o número de pessoas deslocadas em todo o mundo por projectos de infra-estrutura de larga escala e por outros projectos de desenvolvimento, mas pensa-se que seja superior.

No início dos anos noventa, o número crescente de con-flitos internos e de pessoas deslocadas internamente obrigou as Nações Unidas a examinarem a situação mais em pormenor.3 Desde então, a comunidade inter-nacional tem dado mais atenção à grande diferença de tratamento e assistência que têm tido os refugiados que atravessaram fronteiras internacionais em resul-tado de perseguição, guerra ou violência generalizada, e PDIs deslocadas por causas semelhantes que não tenham atravessado fronteiras internacionais. Desde 1992, o primeiro Representante do Secretário-Geral das Nações Unidas para PDIs (RSG para PDIs), Dr. Francis Deng, realizou estudos abrangentes sobre di-reito internacional, a fim de clarificar a forma como a legislação sobre direitos humanos e o direito huma-nitário se aplica às PDIs. Considerando princípios de protecção de refugiados, o RSG para PDIs publicou os Princípios Orientadores sobre Deslocação Interna (Princípios Orientadores) em 1998.4

Preâmbulo da Convenção de Kampala:

“Nós, os Chefes de Estado e de Governo dos Estados Membros da União Africana:

[…] Reconhecendo os direitos inerentes das pessoas deslocadas internamente como previstos e protegidos no direito humanitário e legislação sobre direitos humanos internacional, e como preconizados nos Princípios Orientadores das Nações Unidas de 1998 sobre a Deslocação Interna, reconhecidos como sendo uma base internacional importante para a protecção de pessoas deslocadas internamente […]”

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7A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

Os Princípios Orientadores referem-se a situações de deslocação causadas por conflito armado, violência, ca-tástrofes e projectos de desenvolvimento; definem quem são pessoas deslocadas internamente5 e sublinham a forma como a Deslocação Interna resulta frequente-mente de violações do direito humanitário internacional e de legislação sobre direitos humanos existentes, ou conduzem a essas situações. Reflectem as responsabi-lidades dos estados no sentido de respeitar e garantir o respeito pelos direitos das PDIs, incluindo a prevenção da deslocação e a minimização dos seus efeitos, a pro-tecção e assistência a PDIs na fase de deslocação e a criação de condições para o seu regresso seguro ou estabelecimento noutro local do país, bem como a sua reintegração na sociedade. A finalidade dos Princípios Orientadores não consiste em criar novas normas legais, mas sim em fornecer orientações sobre a forma como aplicar os direitos e garantias universais à situação espe-cífica das PDIs, ajudando assim os estados a cumprirem as suas obrigações.

Historicamente, muitos estados africanos passaram pela experiência da deslocação forçada de populações e muitos continuam ainda nessa situação. Ao longo das duas últimas décadas, o número de refugiados em África diminuiu, mas não o número de PDIs; hoje em dia, a maior parte das pessoas deslocadas à força em África são deslocadas internamente.6 Por esse motivo, os estados têm enfrentado cada vez mais a necessi-dade de reagir à deslocação interna de populações civis. Em 1969, a Organização da Unidade Africana (OUA), como então se chamava, tomou a dianteira relativamente à deslocação forçada a nível continen-tal, ao adoptar a Convenção que Rege os Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados em África. A OUA foi a primeira organização regional a adoptar um instrumento obrigatório dirigido especificamente ao caso dos refugiados.

Numa cimeira especial em Kampala, realizada em 22-23 de Outubro de 2009, a União Africana (UA), sucessora da OUA, estabeleceu novo precedente em direito in-ternacional ao adoptar a Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África (a Convenção de Kampala). Assente nos Princípios Orientadores, na experiência acumulada, e também em legislação e políticas dos estados africanos, a Convenção de Kampala constitui uma base jurídi-ca comum para a criação de respostas abrangentes à deslocação interna. Representa um importante marco histórico para a garantia da segurança e integridade físicas das PDIs, bem como para que as PDIs gozem dos direitos básicos, tais como acesso a alimentação, alojamento adequado, cuidados de saúde e educação, e o direito de escolherem livremente onde pretendem reconstruir as suas vidas – quer de regresso a casa, quer noutros locais do seu país.

1.2 O papel da sociedade civil africana e das comunidades de acolhimento na protecção e assistência às PDIs

Em muitas situações de deslocação, comunidades de acolhimento, líderes comunitários e organizações da sociedade civil (OSCs), incluindo organizações comuni-tárias e organizações religiosas, são frequentemente as primeiras a acorrer às necessidades das PDIs e a contri-buir para a resolução de disputas ou tensões que surjam em áreas de deslocação ou regresso. A Convenção de Kampala define explicitamente o papel das OSCs em todas as fases da deslocação, reconhecendo assim as actividades em que as OSCs se têm empenhado ao lon-go de muitos anos.7 (Para informações mais pormenori-zadas sobre o que diz a Convenção sobre Cooperação com OSCs, ver o Capítulo 3 deste Guia.)

De forma semelhante, e embora o foco da atenção se concentre amiúde nas pessoas colocadas em acampa-mentos ou em alojamentos informais com operações de ajuda humanitária de larga escala, a grande maioria das PDIs em África são efectivamente assistidas por comunidades de acolhimento em ambiente rural ou ur-bano – pessoas vulgares que querem partilhar com os necessitados as suas casas e os seus recursos, muitas vezes limitados. Nalguns casos, esta assistência tem os seus riscos; por exemplo, em situações de conflito armado, a ajuda a PDIs pode acarretar o risco de se ser conotado como simpatizante com uma das partes em conflito.

“Os Estados Parte devem avaliar ou facilitar a avalia-ção das necessidades e vulnerabilidade das pesso-as deslocadas internamente e das comunidades de acolhimento, em cooperação com as organizações ou agências internacionais.”

Convenção de Kampala, Artigo 5(5)

Ao longo do tempo, as comunidades de acolhimento que alguma vez tenham acolhido pessoas deslocadas de braços abertos podem tornar-se menos hospitalei-ras por aí não haver comida, água, trabalho, escolas ou hospitais em quantidade suficiente para acorrer às ne-cessidades de uma população crescente. A Convenção de Kampala reconhece o papel importante que as co-munidades de acolhimento desempenham na protecção e assistência às PDIs, e também o encargo que isso representa para estas.8 Por exemplo, a Convenção re-quer a avaliação das necessidades de comunidades de acolhimento e também as de PDIs, e a extensão da assistência a comunidades de acolhimento e locais, sempre que adequado. Essas condições são impor-tantes para garantir que os governos e as organiza-ções de ajuda possam tomar medidas para reforçar

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8 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

infra-estruturas e serviços sociais locais, no sentido de responderem simultaneamente às necessidades das PDIs e das comunidades de acolhimento.

1.3 Objectivo do Guia

Este Guia visa identificar formas de as OSCs africanas defenderem junto dos respectivos governos a ratifica-ção da Convenção de Kampala e sua inclusão na le-gislação nacional. Também fornece orientação sobre a forma como as OSCs podem utilizar a Convenção, para contribuir para a protecção e assistência efectivas das PDIs no terreno. Assenta em exemplos de actividades que as OSCs realizaram no passado para prevenção de deslocação arbitrária, para protecção das PDIs duran-te a deslocação e para as ajudar a encontrar soluções duradouras.

O Guia é o resultado de um processo de consulta a OSCs. Foi apresentado um esboço numa reunião pré-cimeira de OSC da UA, em Kampala, em Outubro de 2009, organizada pelo Conselho Económico, Social e Cultural da UA e pela sua Direcção de Organizações de Cidadãos e da Diáspora. Este esboço continuou a ser discutido num encontro de Mesa Redonda em Kampala, que congregou representantes da socieda-de civil, peritos jurídicos independentes, a Comissão da UA, agências das Nações Unidas e a Comissão Internacional da Cruz Vermelha (CICV). As reacções e sugestões recolhidas nesses encontros foram utilizadas para completar o Guia.

1.4 Estrutura do Guia

O Capítulo 1 do Guia fornece às OSCs informações básicas sobre as causas e o impacto da Deslocação Interna, sobre os seus papéis e os das comunidades de acolhimento no sentido de ajudar as PDIs, e informações práticas sobre este Guia.

O Capítulo 2 sublinha a evolução dos acontecimentos que levaram à assinatura da pioneira Convenção de Kampala, incluindo a Cimeira Especial para Refugiados, Retornados e PDIs e a reunião pré-cimeira CSO da UA sobre deslocação interna. Também discute a legislação, políticas e mecanismos institucionais nacionais e regio-nais criados em África antes da Convenção para lidarem com o problema da deslocação interna.

O Capítulo 3 debate o motivo pelo qual a Convenção de Kampala é uma evolução que estabelece precedente em direito internacional e também em que áreas esta fornece uma base jurídica mais forte e clara aos estados e OSCs para protecção e promoção dos direitos das PDIs.

O Capítulo 4 refere algumas das actividades que as OSCs podem empreender para ajudar a garantir que a Convenção de Kampala seja ratificada sem demora pelos estados.

O Capítulo 5 apresenta exemplos do que as OSCs po-dem fazer para apoiar a implementação da Convenção, incluindo a incorporação da Convenção em leis nacionais e o acompanhamento e controlo dos estados quanto ao cumprimento das suas obrigações estipuladas pela Convenção.

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9A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

podem, por seu turno, fornecer uma base sólida para as OSCs e PDIs advogarem a protecção de todo o espectro dos direitos das PDIs – económicos, sociais, culturais, civis e políticos.

A Convenção de Kampala aborda de forma abrangente a deslocação interna, isto é, em relação a todas as causas que provocam a deslocação e a todas as fases da deslo-cação, e pede aos estados que incorporem na legislação nacional as suas obrigações ao abrigo da Convenção.

“Os Estados Partes deverão incorporar as suas obri-gações ao abrigo da presente Convenção no seu direito interno, através da promulgação ou alteração da legislação pertinente relativa à protecção e as-sistência às pessoas deslocadas internamente, em conformidade com as suas obrigações, ao abrigo do direito internacional.”

Convenção de Kampala, Artigo 3(2)(a)

Não existe uma forma única de incorporar as obriga-ções internacionais relacionadas com a protecção de PDIs nas leis e políticas nacionais. No entanto, são necessários dois passos preliminares para a criação de leis ou políticas abrangentes e eficazes relaciona-das com PDIs: avaliação das leis e políticas existen-tes que se relacionem com diferentes aspectos da deslocação, e identificação das causas e das formas de deslocação interna. Mais de 20 estados em todo o mundo adoptaram leis ou políticas nacionais para protecção dos direitos de PDIs. Os estados africanos contaram-se entre os primeiros a criar leis e políticas nacionais baseadas nos Princípios Orientadores para melhor protecção de PDIs: Angola foi o primeiro, em 2000, a que se seguiu o Burundi (2001), a Serra Leoa (2002), a Libéria (2004), o Uganda (2004) e o Sudão (2009). Outros estados esboçaram políticas ou leis relacionadas com PDIs, incluindo o Chade, a Costa do Marfim, o Quénia e a Nigéria. Há ainda outros estados que aplicam os Princípios Orientadores como principal base para abordar o problema da deslocação interna.

A grande diversidade de leis e políticas existentes sobre PDIs reflecte as diferentes abordagens dos estados para lidarem com o problema da deslocação interna e inclui: Um breve instrumento que adopta o texto dos Princípios Orientadores (tal como na Libéria).

Uma lei ou uma política dirigidas a uma fase específica

Factos que conduziram à Convenção de Kampala

Ao longo de muitos anos, os estados de África traba-lharam com a UA, com os seus parceiros nas Nações Unidas, com outras organizações intergovernamentais e com OSCs, a fim de darem resposta às necessidades de protecção de refugiados e PDIs em África. A UA tomou uma série de iniciativas no sentido de consolidar a paz nos seus estados membros, incluindo a realização de operações de apoio à paz, nomeação de enviados especiais e de representantes especiais, e ainda a mo-bilização de apoio internacional para reconstrução pós-conflito. A UA adoptou também convenções e políticas estratégicas para consolidação da paz, abordagem das causas de conflitos e promoção da reconciliação. A Política da UA sobre Reconstrução e Desenvolvimento Pós-Conflito, adoptada em 2006, é disso importante exemplo.

Partindo destas iniciativas, conformes com o princípio de que os problemas de África carecem de soluções africa-nas, o Conselho Executivo da UA começou em Julho de 2004 a criar um enquadramento jurídico para a protecção dos direitos das PDIs em África. Dois anos depois, foi aprovado um projecto para uma convenção sobre PDI numa conferência ministerial em Ouagadougou. Após uma série de encontros entre estados e de consultas à sociedade civil africana e a parceiros internacionais, a convenção inicial sobre PDIs foi adoptada num encontro ministerial em Novembro de 2008. O projecto foi discutido numa reunião da UA e de OSCs, e na semana seguinte foi adoptado o texto final da Convenção de Kampala numa cimeira especial realizada em Kampala, em 22-23 de Outubro de 2009. A Convenção de Kampala colige abordagens nacionais, incluindo legislação e políticas nacionais (como se discute na Secção 2.1), bem como iniciativas regionais, tais como o Pacto de Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos (Secção 2.2).

Para um debate pormenorizado das cláusulas da Convenção de Kampala, ver o Capítulo 3 deste Guia.

2.1 Legislação e políticas nacionais

Incumbe aos estados o dever prioritário de concessão de protecção e assistência humanitária a PDIs. A evolução de legislação, políticas e estratégias nacionais constitui um processo essencial através do qual os estados podem assegurar o cumprimento das suas obrigações, ao abrigo do direito internacional. A legislação e política nacionais

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da deslocação, tal como o regresso, o realojamento e a reintegração (como em Angola, Burundi e Serra Leoa), ou dirigidas a uma causa específica de deslocação, como catástrofes naturais.

Uma lei ou uma política que se ocupem de um ou mais direitos específicos das pessoas deslocadas, como o direito a restituição e compensação por perda de propriedade. O Pacto dos Grandes Lagos designado como Protocolo sobre os Direitos de Propriedade de Refugiados e PDIs Retornados e debatido na secção 2.2 é disso um exemplo.

Um direito ou uma política abrangentes dirigidos a todas as causas (catástrofes, conflito, violência generalizada, violações de direitos humanos, pro-jectos de desenvolvimento) e a todas as fases de deslocação interna (prevenção de deslocação, pro-tecção durante a deslocação e criação de condições para regresso ou estabelecimento noutro local no país e reintegração). É isto que se passa na Política Nacional do Uganda para Pessoas Deslocadas Internamente.

O que as leis e políticas relativas a PDIs geralmente têm em comum é o facto de clarificarem as responsa-bilidades institucionais da acção e coordenação a nível nacional em relação à Deslocação Interna. Isso foi feito de forma diferente em diferentes estados, por exem-plo, encarregando agências existentes da assistência e coordenação relativamente a Deslocação Interna; criando novas agências ou gabinetes, frequentemente ao nível do gabinete do Presidente ou do Primeiro-ministro; ou ainda criando forças de intervenção entre as agências para garantir a colaboração entre todos os ministérios e agências em causa. A identificação de responsabilidades institucionais provou ser importante para PDIs e OSCs advogarem em seu nome com um interlocutor e um fórum para partilha de informações, identificação de preocupações e procura de soluções para ultrapassar os obstáculos à protecção e assis-tência efectivas. A Convenção de Kampala codifica esta prática, pedindo aos estados que identifiquem uma autoridade ou uma entidade nacional responsá-vel por respostas à deslocação interna e cooperação com OSCs.9

Para além da defesa e da ligação directa com gover-nos na criação ou revisão de leis e políticas nacionais sobre PDIs, as OSCs podem partilhar os seus conheci-mentos e a sua experiência com instituições nacionais de direitos humanos (NHRIs), que têm frequentemente um importante papel de consulta em relação a legis-lação e políticas relacionadas com direitos humanos. Para mais informações, ver a caixa sobre recursos para a criação de leis, políticas e estratégias nacionais neste capítulo e, de uma maneira geral, no Capítulo 5 deste Guia.

2.2 Pacto de Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos

Respondendo a alguns dos desafios específicos enfren-tados pelos estados da região dos Grandes Lagos de África, a UA e as Nações Unidas iniciaram a Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL). Este processo baseou-se no reconhecimento da interli-gação das populações dessa região, da sua segurança e das suas economias, e na necessidade de procurar soluções regionais para aspectos que afectam toda essa região. O processo culminou com a assinatura, por parte de 11 estados, do Pacto de Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos (o Pacto dos Grandes Lagos), em Dezembro de 2006. Este Pacto entrou em vigor em Junho de 2008 e foi entretanto ratifi-cado por dez dos estados membro da CIRGL.

O Pacto dos Grandes Lagos inclui não apenas o Pacto propriamente dito como instrumento principal, mas a Declaração de Dar-es-Salam de 2004, dez protocolos, quatro programas de acção e um conjunto de mecanis-mo e instituições de implementação (incluindo o Fundo Especial para Reconstrução e Desenvolvimento). Estes instrumentos reflectem um pacote ambicioso de acções por parte dos estados membros referentes a aspectos que vão desde integração económica a defesa, desen-volvimento e direitos humanos.

O Pacto identifica quatro áreas prioritárias: desenvolvi-mento económico e integração regional; democracia e boa governação; aspectos humanitários e sociais; paz e segurança. O aspecto central do Pacto são os dez pro-tocolos que apresentam bases jurídicas mais concretas para se atingirem as metas definidas nas quatro áreas prioritárias. Dois destes protocolos referem-se especifi-camente à protecção dos direitos de pessoas deslocadas à força: o Protocolo sobre a Protecção e Assistência a Pessoas Deslocadas Internamente (Protocolo PDI), e o Protocolo sobre Direitos de Propriedade de Populações Retornadas (Protocolo de Propriedade). A adopção des-tes dois Protocolos foi um reconhecimento significativo, por parte dos estados membros, da ligação crucial entre a protecção dos direitos de pessoas deslocadas à força e a obtenção de paz, segurança e desenvolvimento na região dos Grandes Lagos.

Estes dois protocolos estão agrupados no pilar hu-manitário e social juntamente com o Protocolo sobre a Prevenção e Supressão de Violência Sexual contra Mulheres e Crianças. Considerando a elevada prevalên-cia de violência sexual nos vários conflitos que afectam a região dos Grandes Lagos e o aumento da vulnerabi-lidade de mulheres e crianças deslocadas perante essa violência, este Protocolo assume também uma particular relevância para as PDIs.

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11A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

Membros da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL)

Estados membros cooptados

Estados membros de CIRGL

Egipto

Sudão

RCA

Congo

Burundi

Namíbia

Botswana

RDC

Angola

Zâmbia

Etiópia

Quénia

Uganda

Ruanda

Malawi

Moçambique

Zimbabué

Tanzânia

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Recursos para a criação de leis, políticas e estratégias nacionais

Centro de Monitorização de Deslocação Internawww.internal-displacement.org

Projecto Brookings-Bern sobre Deslocação Internawww.brookings.edu/projects/idp.aspx

O Centro de Monitorização de Deslocação Interna é a principal entidade internacional para monitorização de situações de deslocação interna causadas por conflito ou violência. O IDMC concentra-se nas actividades seguintes: monitorização da deslocação interna e prestação de informações e análises abrangentes sobre 50 situações de deslocação em todo o mundo;

defesa dos direitos de deslocados junto de interve-nientes internacionais;

prestação de formação a funcionários governamen-tais, OSCs e NHRIs (instituições nacionais de direi-tos humanos); e

aumento da visibilidade e da consciencialização da deslocação interna.

Este Projecto apoia e trabalha com o RSG para PDIs, a fim de reforçar as capacidades de autoridades na-cionais, instituições nacionais de direitos humanos e organizações da sociedade civil para responde-rem a deslocações internas. Organiza seminários e workshops, publica estudos com base em pesquisa académica e de campo e desenvolveu um conjunto de ferramentas para criação de leis, políticas, estratégias e enquadramentos institucionais nacionais relativos à deslocação interna, incluindo:

Enquadramento para Responsabilidade Nacional Trata-se de um documento fundamental (disponível em Inglês, Francês, Árabe e Português) destinado a ajudar os governos a cumprirem as suas responsabilidades em matéria de deslocação interna, definindo 12 áreas de acção. Também serve de orientação para OSCs e PDIs para monitorizar, avaliar e advogar uma resposta eficaz e holística à deslocação interna.

Base de dados de leis nacionais e de instrumen-tos regionais e internacionais

Esta base de dados inclui legislação e políticas na-cionais, instrumentos regionais e internacionais, os Princípios Orientadores (em mais de 45 línguas) e suas anotações legais.

Manual para legisladores e decisores Este manual orienta os esforços no sentido de alinhar legislação e políticas nacionais segundo normas inter-nacionais para garantia do respeito pelos direitos das PDIs. Assegura orientação relativamente a uma grande

variedade de direitos humanos e sublinha elementos essenciais a incluir em leis e políticas nacionais rela-tivas a PDIs.

Enquadramento relativo a Soluções Sustentáveis para Pessoas Deslocadas Internamente

Este documento pretende clarificar o conceito de so-lução sustentável, fornecer orientação geral sobre o processo e condições necessárias para se conseguir uma solução sustentável e também ajudar a determi-nar até que ponto foi atingida uma solução sustentável.

Abordagem da Deslocação Interna em Processos de Paz, em Acordos de Paz e na Consolidação da Paz

Este documento apresenta considerações sobre a melhor forma de integrar a deslocação interna em processos de paz, acordos de paz e na consolidação da paz. Dá recomendações a mediadores internacio-nais, organizações internacionais e a elementos da sociedade civil.

Direitos Humanos e Catástrofes Naturais: Orientações Operacionais e Manual de Campo sobre Protecção dos Direitos Humanos em Situações de Catástrofe Natural

Este documento fornece os fundamentos dos direi-tos humanos que sustentam a Inter-Agency Standing Committee (IASC) das Nações Unidas, Guias Operacionais sobre Direitos Humanos e Catástrofes Naturais, e refere passos operacionais práticos para a sua melhor implementação.

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13A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

O Protocolo PDI do Pacto foi o primeiro instrumento multilateral no mundo a obrigar estados membros à adopção e implementação dos Princípios Orientadores sobre Deslocação Interna como enquadramento para protecção dos direitos de PDIs, ao uso das Anotações dos Princípios Orientadores como fonte autorizada para interpretação dos Princípios Orientadores10 e à promul-gação de legislação interna para implementação dos Princípios.

O Pacto dos Grandes Lagos e os protocolos PDI que lhe estão relacionados reflectem o empenho dos es-tados membros no sentido de apoiarem as normas de protecção consagradas nos Princípios Orientadores, in-cluindo a definição de PDIs como exposto nos Princípios Orientadores e também medidas de protecção para PDIs resultantes de todas as causas e em todas as fases da deslocação. O Pacto também aborda algumas das preocupações específicas que surgiram da experiência obtida com deslocação interna na região dos Grandes Lagos, como sejam medidas de protecção para popula-ções pastoris, comunidades de acolhimento e famílias de identidade étnica mista. Além disso, reforça a base jurídica para as PDIs reivindicarem os seus direitos, in-cluindo o direito de acesso à informação, a participação em decisões e informação sobre decisões que afectem as suas vidas, e ainda o direito de receber assistência humanitária.

As OSCs podem obter ajuda sobre a forma como utilizar o Pacto dos Grandes Lagos para promoção dos direitos de refugiados e de PDIs em O Pacto dos Grandes Lagos e os Direitos de Pessoas Deslocadas: Um Guia para a Sociedade Civil.11

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violência generalizada, violações de direitos humanos, catástrofes ou projectos de desenvolvimento.12 A defini-ção não se restringe a cidadãos nacionais, mas inclui não nacionais que sejam deslocados dentro do seu país de residência habitual. Embora todas as pessoas desloca-das tenham, independentemente da sua nacionalidade, direito a protecção básica e a assistência ao abrigo da Convenção de Kampala, alguns direitos, tais como direito de voto, podem ser limitados aos cidadãos nacionais.13

3.2 Responsabilidades dos estados

“Os Estados Parte deverão [...] respeitar e garantir o respeito e a protecção dos direitos humanos das pessoas deslocadas internamente, incluindo um tra-tamento humano, a não discriminação, a igualdade e a igual protecção pelo direito”

Convenção de Kampala, Artigo 3 (d)

A Convenção de Kampala estabelece as responsabili-dades dos estados relativamente a deslocação interna, os direitos das PDIs, e os direitos e deveres de outros intervenientes importantes, tais como grupos armados, OSCs, organizações internacionais e a UA.14

Os estados comprometem-se a evitar deslocações arbitrá-rias,15 a proteger os direitos fundamentais das PDIs duran-te a deslocação,16 e a encontrar soluções sustentáveis.17

Os estados também se comprometem a identificar uma autoridade ou entidade nacional responsável pela res-posta à deslocação interna.18

Em consonância com o direito humanitário internacional (as “leis da guerra”), a Convenção de Kampala reconhece que, em situações de conflito armado, os grupos armados não governamentais têm a obrigação de respeitar os di-reitos das PDIs.19 Assim, por exemplo, os grupos armados estão proibidos de realizar deslocações arbitrárias, de separar membros da mesma família e de limitar a liberdade de movimentação das PDIs, de recrutar crianças ou de permitir que estas tomem parte em hostilidades e de im-pedir assistência humanitária e passagem de ajuda huma-nitária. Da mesma forma, e de acordo com os deveres dos estados no sentido de evitarem interferência no usufruto de direitos humanos por elementos não governamentais, os estados têm de responsabilizar criminalmente membros

A Convenção de Kampala é a primeira convenção regional que aborda de forma abrangente a deslocação interna, incluindo prevenção, resposta e soluções sustentáveis. Protege explicitamente os direitos de pessoas deslocadas em resultado de catástrofes naturais, conflito armado, violência generalizada, violação de direitos humanos e projectos de desenvolvimento. Reitera a legislação inter-nacional e da UA existente, incluindo normas de direitos humanos e de direito humanitário internacionais. Ao refor-çar e reunir essas normas num só instrumento, oferece um enquadramento legal único dirigido às especificidades da deslocação interna no continente africano, apresentando uma base jurídica mais clara e mais sólida para a protecção de PDIs. O presente capítulo debate algumas das princi-pais cláusulas da Convenção de Kampala.

Na Cimeira Especial da UA realizada em Kampala em Outubro de 2009, a UA não só adoptou a Convenção de Kampala, como também a Declaração de Kampala e um conjunto de Recomendações. Nem a Declaração nem as Recomendações são legalmente vinculativas para os estados. No entanto, tanto a Declaração como as Recomendações são documentos importantes, visto reflec-tirem a posição oficial dos estados relativamente a aspectos relacionados com deslocação interna. Constituem, assim, um importante enquadramento para orientação das suas acções relativamente a assuntos de deslocação interna, tenham estes, ou não, ratificado a Convenção de Kampala.

3.1 Definição de PDI

“Pessoas Deslocadas Internamente” significa pes-soas ou grupos de pessoas que tenham sido for-çadas ou obrigadas a fugir ou a abandonar as suas habitações ou locais de residência habitual, em especial em resultado ou como forma de evitar os efeitos dos conflitos armados, situações de violência generalizada, violações dos direitos humanos ou calamidades naturais ou provocadas pelo próprio homem e que não tenham atravessado a fronteira de um Estado internacionalmente reconhecido.”

Convenção de Kampala, Artigo 1(k)

A Definição de PDI na Convenção de Kampala está de acordo com os Princípios Orientadores e garante tra-tamento igual para todas as pessoas deslocadas inter-namente, quer por motivos de conflito armado, quer por

A Convenção de Kampala – resumo

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15A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

de grupos armados por abusos de direitos humanos e violações do direito humanitário internacional.20

A Convenção encarrega a UA de apoiar os esforços dos estados no sentido de protegerem e prestarem assis-tência a PDIs através da coordenação da mobilização de recursos; da colaboração com organizações internacionais, agências humanitárias e organizações da sociedade civil; da partilha de informações com a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (ACHPR); da cooperação com o Relator Especial para Refugiados e Retornados de ACHPR, PDIs e Requerentes de Asilo;21 bem como convocar a Conferência dos Estados Parte.22 A Convenção de Kampala obriga os estados a respeitarem o mandato e o Acto Constitutivo da União Africana, incluindo o seu direito de intervir em estados membros da UA em casos de crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humani-dade; e o direito dos estados membros da UA requererem a intervenção da UA para restaurar a paz e a segurança.23

3.3 Prevenção e protecção contra a deslocação

“Os Estados Parte deverão […] Abster-se de, proibir e evitar a deslocação arbitrária das populações”

“Os Estados Parte deverão criar sistemas de aler-ta rápido, no contexto do sistema de alerta rápido continental nas áreas susceptíveis de deslocação, elaborar e implementar estratégias de redução de risco de calamidades, medidas de gestão e de res-posta a catástrofes e emergências, e fornecer, caso necessário, protecção e assistência imediatas às pessoas deslocadas internamente”

Convenção de Kampala, Artigo 3(1)(a) e 4(2)

Um dos objectivos da Convenção de Kampala é “promover e reforçar medidas regionais e nacionais para evitar ou mitigar, proibir e eliminar as causas primordiais da deslo-cação interna”.24 Para isso, solicita aos estados que evitem a deslocação em resultado de conflito e violações de di-reitos humanos, observando as suas obrigações ao abrigo do direito internacional, incluindo legislação sobre direitos humanos e direito humanitário, de forma a evitar situações que possam conduzir a deslocação arbitrária.25 Em relação à deslocação causada por catástrofes naturais, a Convenção pede aos Estados que concebam, criem e implementem sistemas de alerta rápida e que adoptem medidas de res-posta a catástrofes e gestão de catástrofes.26

A Convenção estabelece que todas as pessoas têm o direito de ser protegidas contra deslocação arbitrária. Alguns dos actos proibidos que provocam deslocação arbitrária são: políticas de discriminação racial ou outras

práticas semelhantes cuja intenção ou resultado seja a alteração da composição étnica, religiosa ou racial da população; práticas perniciosas;27 violência generalizada; castigo colectivo; violações de direitos humanos ou do direito humanitário internacional.

No caso de projectos de desenvolvimento ou outros, levados a cabo por entidades públicas ou privadas, os estados têm de assegurar que são exploradas alternativas exequíveis à deslocação, que o impacto socioeconómico e ambiental dos projectos de desenvolvimento é avaliado antes da execução do projecto, e que as pessoas que provavelmente venham a ser deslocadas são informadas e consultadas.28

Os estados também têm de “procurar proteger” contra a deslocação do território comunidades com especial liga-ção e dependência ao território onde vivem em resultado da sua cultura específica e dos seus valores espirituais, excepto no caso de a deslocação se justificar por “inte-resses públicos prementes e prioritários”.29

3.4 Protecção e assistência humanitária

A Convenção de Kampala estabelece que os estados devem considerar como seu dever e responsabilidade principais conceder protecção e assistência a PDIs, sem discriminação de qualquer tipo.30 Assim, a Convenção impõe obrigações aos estados no sentido da avaliação das necessidades e das vulnerabilidades de PDIs e de comunidades de acolhimento (ou para facilitar tais avalia-ções),31 e da prestação de adequada assistência humani-tária a PDIs em todas as fases da deslocação.32 Sempre que apropriado, essa assistência tem de se estender a comunidades locais e de acolhimento.33

A Convenção de Kampala realça as necessidades es-pecíficas de crianças separadas e não acompanhadas, mulheres que sejam chefes de família, mulheres grávidas, mães com crianças pequenas, pessoas idosas e deficien-tes.34 É preciso tomar medidas para proteger as pessoas deslocadas contra violência sexual e baseada no género, práticas perniciosas, recrutamento de crianças e tráfico e contrabando humano.35

“[Os Estados Parte comprometem-se a] providenciar às pessoas deslocadas internamente, da melhor for-ma possível e sem demora, assistência humanitária adequada, nomeadamente alimentação, água, abri-go, cuidados médicos e outros serviços de saúde, saneamento básico, educação e todos os outros serviços sociais necessários. Esta assistência pode ser estendida, caso seja necessário, às comunida-des locais e de acolhimento.”

Convenção de Kampala, Artigo 9(2)(b)

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16 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

Os estados têm de permitir a passagem rápida e sem impe-dimento de mercadorias de ajuda humanitária, equipamento e pessoal humanitário para PDIs. Também têm de permitir e facilitar o papel de organizações locais e internacionais e de agências humanitárias, OSCs e outros agentes para a prestação de protecção e assistência a PDIs.36

Ao mesmo tempo, a Convenção de Kampala exige que as organizações internacionais e agências humanitárias actuem em conformidade com o direito internacional e com as leis nacionais, no sentido de respeitarem os direitos das PDIs ao abrigo do direito internacional, e que realizem actividades de acordo com os princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independên-cia, e ainda segundo as normas e os códigos de conduta internacionais.37

“Os Estados Parte devem providenciar suficiente-mente a protecção e assistência a pessoas interna-mente deslocadas, e onde os recursos disponíveis sejam inadequados e não lhes permitam assim fazê-lo, eles devem cooperar com vista a solicitar a assistência das organizações internacionais, agên-cias humanitárias, organizações da sociedade civil e outros agentes de relevo. As referidas organiza-ções podem oferecer os seus serviços a todos os indivíduos necessitados.”

Convenção de Kampala, Artigo 5(6)

3.5 Cooperação com organizações da sociedade civil

A cooperação entre estados e OSCs é essencial para a protecção e assistência efectivas de PDIs. A Convenção compromete os Estados Parte a cooperarem com as OSCs, permitindo-lhes prestar assistência a PDIs. Várias cláusulas da Convenção de Kampala, à semelhança dos Princípios Orientadores,38 referem-se especificamente a assistência humanitária e ao papel das organizações internacionais e agências humanitárias.39 O que é ino-vador em relação à Convenção é a inclusão de cláusulas que estabelecem explicitamente um papel para as OSCs em todas as fases da deslocação, reconhecendo dessa forma o valor das actividades das OSCs na protecção e assistência de PDIs.40

A Convenção de Kampala estabelece que as organi-zações internacionais, agências humanitárias, OSCs e outros agentes podem oferecer os seus serviços a to-dos os que deles necessitarem. Os estados têm o dever de procurar a assistência dessas organizações sempre que os seus recursos disponíveis sejam inadequados para proteger e prestar assistência a PDIs. Os estados devem permitir e facilitar o papel dessas organizações

no sentido de fornecer protecção e assistência, embo-ra mantendo o direito de definir acordos técnicos, tais como autorizações para a passagem de material de ajuda humanitária.41

3.6 Igualdade de direitos para as PDIs

A Convenção de Kampala promove os princípios de não discriminação, igualdade e igualdade de protecção da lei, que foram estabelecidos na Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 1981, bem como noutros ins-trumentos tanto regionais como internacionais. Refere explicitamente o princípio de não discriminação no pre-âmbulo e em quatro cláusulas diferentes.42

As PDIs, sendo deslocadas dentro dos seus próprios países de origem ou de residência habitual, têm direito a protecção total dos seus direitos na mesma base de ou-tros cidadãos ou residentes habituais do país. Nenhuma PDI deverá ser objecto de discriminação, quer em resul-tado da sua deslocação, quer por qualquer outro motivo, tal como raça, grupo étnico, ou filiação política.

Por vezes, a diferença de tratamento das PDIs é inevitável ou até mesmo justificada para ser possível responder às suas necessidades específicas.43 Podem ser necessárias medidas especiais para garantir que as PDIs tenham o mesmo acesso a serviços que a restante população. Mas o que é verdade para PDIs também se aplica a pessoas não deslocadas: por exemplo, em certas situações, as populações que ficam para trás em zonas de guerra ou de calamidade também poderão ter necessidades de protecção e assistência humanitária específicas que têm de ser resolvidas através de medidas especiais.

“Os Estados Parte protegem os direitos das pessoas deslocadas internamente [...] abstendo-se de praticar e prevenindo [...] discriminação [...] com o fundamento de que são pessoas deslocadas internamente”

Convenção de Kampala, Artigo 9(1)(a)

“Os Estados Parte tomarão as medidas necessárias para assegurarem que as pessoas deslocadas in-ternamente sejam acolhidas sem discriminação de qualquer tipo e vivam em condições satisfatórias de tranquilidade, dignidade e segurança”

Convenção de Kampala, Artigo 9(2)(a)

A experiência revelou que, em resultado da deslocação, as PDIs têm frequentemente falta de necessidades bá-sicas, são vulneráveis a riscos, como violência sexual e separação da família, não têm possibilidade de aceder à educação e têm dificuldade em encontrar oportunidades de trabalho. Para acorrer a todos estes problemas, a

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Convenção de Kampala realça um conjunto de medidas específicas que os estados devem tomar, incluindo:

Registo e documentação pessoal: Os Estados têm de manter um registo de todas as PDIs e, independente-mente disso, têm de emitir ou substituir os documentos necessários para que as PDIs possam usufruir dos seus direitos, tais como passaportes, documentos de identificação pessoal, atestados de nascimento e de casamento. As mulheres, homens e crianças separadas e não acompanhadas têm o direito de ter esses docu-mentos emitidos nos seus próprios nomes. Os Estados ficam proibidos de impor condições não razoáveis, tais como exigir que as PDIs regressem à sua área de resi-dência habitual, a fim de obterem esses documentos.44

Propriedade, terra e compensação: Os Estados têm de tomar medidas para proteger a propriedade individual, co-lectiva e cultural pertencente a pessoas deslocadas, quer essa propriedade tenha ficado para trás, quer se encontre na sua posse. Os Estados também têm de estabelecer mecanismos para a resolução de disputas relativas à propriedade de PDIs. Os Estados têm de tomar todas as medidas apropriadas, sempre que possível, para devolver as terras de comunidades com uma dependência e liga-ção especial a essas terras. Duma maneira mais geral, os Estados comprometem-se a apresentar soluções eficazes a todas as pessoas afectadas pela deslocação, incluindo o estabelecimento de bases jurídicas eficazes para compen-sação justa e equitativa e outras formas de indemnização às PDIs por danos resultantes da deslocação.45

“Os Estados Parte devem consultar as pessoas des-locadas internamente, permitindo-lhes participar na tomada de decisões relativas à sua protecção e assistência.”

Convenção de Kampala, Artigo 9(2)(k)

Informação, consulta e participação: Os Estados têm de consultar as PDIs e permitir-lhes que participem em decisões relacionadas com a sua protecção e assis-tência durante a deslocação. Os Estados também têm de garantir que os cidadãos deslocados internamente possam usufruir do direito de participação pública, in-cluindo o direito de votarem e de serem eleitos para cargos públicos. Relativamente a soluções sustentá-veis, os Estados têm de fornecer informações às PDIs, de forma que estas possam decidir livre e conscien-temente se pretendem regressar, se pretendem ser integradas localmente, ou se pretendem ser colocadas em qualquer outro ponto do país, e têm de garantir a participação das PDIs na procura de soluções susten-táveis. As pessoas que estejam em risco de desloca-ção por causa de projectos têm de ser informadas e consultadas sobre alternativas exequíveis.46

União familiar e reunificação: Os Estados têm de tomar medidas no sentido da localização e reunificação de membros de famílias separadas durante deslocações e também para facilitar o restabelecimento de laços familiares. Os membros de grupos armados não gover-namentais ficam expressamente proibidos de separar membros de famílias.47

3.7 Soluções sustentáveis

“Os Estados Parte devem permitir que as pessoas deslocadas internamente façam escolhas livres e conscientes sobre o seu regresso, ou se devem integrar-se localmente ou serem colocadas noutra área, consultando-as sobre estas e outras possíveis opções e assegurando a sua participação na busca de soluções sustentáveis.”

Convenção de Kampala, Artigo 11(2)

A Convenção de Kampala obriga os Estados a procura-rem soluções duradouras para o problema da deslocação e reconhece explicitamente o direito das PDIs escolhe-rem voluntariamente regressar a casa, integrarem-se localmente em áreas de deslocação, ou de serem colo-cadas noutro ponto do país. Os Estados são responsáveis pela promoção e criação de condições satisfatórias para cada uma dessas opções numa base sustentável e em condições de segurança e dignidade. Os Estados têm de procurar incorporar princípios relevantes contidos na Convenção de Kampala em negociações de paz e em acordos para se encontrarem soluções sustentáveis para o problema da deslocação interna.48

3.8 Monitorização do cumprimento por parte dos estados

A Convenção de Kampala proporciona a realização de uma Conferência de Estados Parte para acompanhar e rever a implementação dos objectivos da Convenção.49 Esta Conferência pretende servir de meio para os Estados reforçarem a sua capacidade de cooperação e assistência mútua. Reunirá “regularmente”, embora a Convenção de Kampala não defina o que isso significa na prática.

Os Estados também têm de indicar as medidas que to-maram para tornarem efectiva a Convenção de Kampala sempre que apresentarem os seus relatórios ao abrigo do Artigo 62 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, que foi ratificada por todos os 53 estados membros da UA.50 Os estados membros da UA que integraram o Mecanismo de Revisão de Parceiros Africanos (MRPA) também têm de apresentar relatórios sobre tais medidas ao apresentarem os seus relatórios ao abrigo do MRPA.51

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18 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

Âmbito de acção pela sociedade civil: consciencializar e advogar a ratificação da Convenção de Kampala

4.1 Introdução

A adopção por parte da UA da Convenção de Kampala, da Declaração de Kampala e das Recomendações da Cimeira Especial da UA em Kampala, em Outubro de 2009, constituiu um importante marco histórico por si só. No entanto, para a concretização de todo o potencial da Convenção, é preciso que aconteçam várias coisas a seguir.

Em primeiro lugar, é preciso dar ampla divulgação às infor-mações sobre os resultados da Cimeira. O conhecimento da Convenção, da Declaração e das Recomendações contribuirá para inspirar as decisões e acções das pesso-as afectadas por deslocações internas, e todas as acções e decisões de outros intervenientes que estão a trabalhar na resolução do problema da deslocação interna.

Em segundo lugar, os Estados individuais têm de rati-ficar a Convenção. A Convenção entrará em vigor logo que tenha sido ratificada por 15 Estados. A Convenção passará então a ser legalmente vinculativa nesses 15 pa-íses e tornar-se-á automaticamente vinculativa em todos os Estados que venham a ratificá-la. Todos os Estados africanos devem ser motivados no sentido de ratificarem a Convenção sem demora, e não apenas Estados que se encontrem de momento afectados por deslocações internas. Afinal, é importante que todos os Estados se-jam pró-activos na prevenção da deslocação arbitrária e se encontrem preparados para causas potenciais de deslocação, tais como catástrofes naturais e qualquer deslocação que delas resulte.

Em terceiro lugar, os Estados que tenham ratificado a Convenção têm de incorporá-la na respectiva legislação nacional e tomar as medidas necessárias à sua imple-mentação. Por outras palavras, têm de tomar as medi-das necessárias para garantirem que as entidades e os funcionários governamentais respeitem e protejam, na prática, os direitos das PDIs.

Antes de considerarmos o papel da sociedade civil em relação a cada um destes três objectivos, é importante notar que há muitos tipos diferentes de organizações não governamentais (ONGs) e OSCs, cada uma delas com a sua missão e áreas de especialização próprias. Assim, em qualquer discussão de actividades específicas para ONGs e OSCs em relação aos resultados da Cimeira, é útil fazer uma distinção em termos vastos entre dois tipos de organização. Por um lado, há organizações cuja

principal função é defender interesses e advogar a pro-tecção e a promoção dos direitos humanos, incluindo os direitos das PDIs. Por outro lado, há organizações que se concentram no abastecimento de bens e prestação de serviços, tais como ajuda alimentar ou educação, ou ainda serviços médicos, jurídicos ou de aconselhamento a indivíduos necessitados, incluindo as PDIs.

Estes dois tipos de organizações têm diferentes papéis a desempenhar na consciencialização e promoção da rati-ficação e implementação da Convenção de Kampala. No presente capítulo e no seguinte, há um conjunto de su-gestões para determinadas actividade pós-Cimeira para a sociedade civil. Algumas dessas sugestões são mais apropriadas para organizações de defesa de causas, enquanto outras são mais apropriadas para prestadores de serviços. As ONGs e OSCs que trabalharem com este Guia devem, portanto, considerar estas sugestões da perspectiva da sua própria definição de missão e dos seus pontos fortes próprios, concentrando-se nas actividades que se adeqúem melhor à respectiva esfera normal de acção. Poucas organizações serão capazes de executar todas as actividades possíveis aqui sugeridas; o que é importante é que diferentes áreas da sociedade civil trabalhem em conjunto para assegurarem em con-junto a sua contribuição para a implementação efectiva e atempada das conclusões da Cimeira.

Para isso, as OSCs podem querer procurar oportunida-des para trabalharem em conjunto como parte de redes e alianças nacionais, regionais e continentais. As coliga-ções de OSCs poderão partilhar informações, coordenar e apoiar esforços conjuntos para garantir a ratificação e a implementação e para monitorizar a evolução conseguida pelos Estados.

Neste capítulo, consideraremos actividades que incenti-vem os Estados a ratificarem a Convenção de Kampala, através da divulgação dos resultados da Cimeira e da defesa direccionada da ratificação, para que a Convenção entre em vigor o mais rapidamente possível. No capítu-lo seguinte, consideraremos actividades que garantam que a Convenção venha a ser incorporada na legislação nacional e que os Estados dêem os passos necessários à sua implementação sem demora.

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19A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

4.2 Suscitar a consciencialização pública para a Convenção de Kampala

As organizações da sociedade civil têm um papel essen-cial a desempenhar para suscitar a consciencialização pública para a Convenção. É importante garantir que pessoas que tenham sido deslocadas ou que se encon-trem em risco de deslocação tenham conhecimento da Convenção de Kampala e das formas que estabelece para protecção dos seus direitos. Da mesma forma, as organizações que trabalhem com pessoas deslocadas ou que defendam os seus direitos também precisam de ter conhecimento da Convenção e das suas cláusulas, a fim de poderem iniciar a sua aplicação para atingirem os seus objectivos.

Duma maneira mais geral, as informações sobre a Convenção têm de se encontrar disponíveis a todas as pessoas, organizações e instituições com alguma res-ponsabilidade na prevenção da deslocação arbitrária e na protecção dos direitos das PDIs. Isto aplica-se àquelas que tiverem deveres locais e nacionais e também funções de âmbito regional e continental.

Em consequência, as actividades com o objectivo de chamar a atenção para a Convenção de Kampala têm de atingir uma ampla variedade de grupos-alvo, desde PDIs e comunidades de acolhimento até OSCs e ONGs nacionais e internacionais que trabalhem com PDIs, auto-ridades locais, NHRIs, deputados e membros do governo. Ao nível da União Africana, é igualmente importante garantir que, por exemplo, os membros do Parlamento Pan-Africano tenham conhecimento da Convenção de Kampala.

As organizações da sociedade civil podem usar um vasto leque de actividades para aumentar a consciencialização sobre a Convenção. Alguns exemplos: Tradução (cláusulas mais importantes) da Convenção de Kampala para línguas locais.

Distribuição do texto da Convenção de Kampala, ou de extractos importantes, a pessoas deslocadas e a organizações que trabalhem com pessoas deslocadas, sob a forma de brochuras, panfletos ou cartazes que realcem em linguagem simples as cláusulas principais da Convenção.

Organização de exposições e mostras sobre situações de deslocação, ou sobre comunidades em risco de des-locação em resultado de catástrofes naturais ou pro-jectos, que mostrem formas pelas quais a Convenção protege os direitos das pessoas afectadas.

Realização de programas radiofónicos sobre a Convenção em colaboração com estações de rádio locais e nacionais. Os programas de rádio são um meio útil para garantir que as informações sobre a Convenção cheguem a pessoas que não saibam ler.

Utilização de teatro, concursos e jogos para divulgar

informações sobre a Convenção de Kampala. Essas actividades podem ser uma forma particularmente efi-caz de chegar a crianças e jovens.

Organização de workshops ou de formação sobre a Convenção de Kampala para representantes de PDIs e outros intervenientes.

Organização de acontecimentos para funcionários governamentais e representantes de PDIs que levem os participantes a desenvolver estratégias nacionais para a ratificação e implementação da Convenção. O convite de representantes de meios de comunicação social locais e nacionais para eventos contribuiria para garantir a partilha dos resultados com uma audiência mais vasta.

Organização de palestras e discussões públicas com representantes do governo, deputados, peritos legais independentes e pessoas deslocadas ou pessoas em risco de deslocação.

Sessões de esclarecimento para jornalistas sobre a Convenção de Kampala e incentivo para estes discu-tirem a Convenção nos meios de comunicação social escritos (incluindo jornais e na internet), e também em programas de rádio e televisivos. Criação de concursos para o melhor artigo ou documentário sobre desloca-ção interna e a Convenção de Kampala.

Apoio ou incentivo de pessoas conhecidas para se tor-narem defensores públicos da Convenção de Kampala.

Envio de cartas ao editor e articulistas de jornais locais e nacionais para realçar a importância da Convenção de Kampala em relação a certas e determinadas situ-ações de deslocação.

Identificação de pessoas, repartições e departamentos importantes no seio das Comunidades Económicas Regionais de África (CERs) com responsabilidades importantes em relação a deslocações internas (in-cluindo departamentos responsáveis por direitos hu-manos, assuntos humanitários, resposta a catástrofes, e desenvolvimento), e organização de reuniões para partilha de informações e de carácter consultivo para as mesmas.

Organização de sessões de esclarecimento para ou-tras partes interessadas, incluindo membros de fóruns parlamentares regionais, o Parlamento Pan-Africano, funcionários da Comissão da União Africana, ONGs internacionais, agências das Nações Unidas, membros da comunidade diplomática e os parceiros de desen-volvimento da UA.

4.3 Actuação junto de governos para a ratificação da Convenção de Kampala

Alguns Estados já ratificaram a Convenção de Kampala; outros quererão seguir-se sem grande demora, enquanto ainda outros carecem de mais incentivo ou persuasão para ratificarem a Convenção. Sempre que os governos deixem de dar prioridade à ratificação da Convenção,

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20 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

Na sequência da adopção da Convenção de Kampala na Cimeira Especial da UA em Kampala, em Outubro de 2009, os estados membros da UA terão de ratificar a Convenção. Cada país tem os seus próprios processos para a ratificação de instrumentos regionais e interna-cionais. As OSCs devem entender o processo para po-derem actuar com eficácia no processo: as OSCs com uma concentração nos aspectos jurídicos encontram-se bem colocadas para fornecer orientação.

Logo que um país tenha ratificado a Convenção de Kampala, tem de executar um “instrumento de ratifi-cação”, que é um documento que permite que outros países saibam que decidiu oficialmente tornar-se um Estado Parte em relação à Convenção e ficar vinculado à Convenção. O instrumento de ratificação tem então

de ser entregue ao Presidente da Comissão da UA.

A Convenção sobre PDIs entrará em vigor 30 dias após a entrega dos instrumentos de ratificação por 15 esta-dos membros da UA e vinculará legalmente estes pri-meiros 15 estados a partir dessa data. Todos os estados que ratificarem a Convenção depois dela ter entrado em vigor ficarão vinculados à Convenção a partir da data em que entregarem os respectivos instrumentos de ratificação ao Presidente da Comissão da UA.

A relação dos países que assinaram e ratificaram a Convenção de Kampala encontra-se disponível em:

www.africa-union.org/root/au/Documents/Treaties/treaties.htm.

Ratificação da Convenção de Kampala

será importante para a sociedade civil encorajá-los a fazê-lo. O primeiro passo consiste em identificar e abor-dar as razões da demora. Alguns governos poderão pen-sar que a ratificação da Convenção de Kampala não é suficientemente urgente para requerer a sua atenção imediata. Outros governos poderão argumentar que a Convenção não é particularmente importante para eles, porque os seus países não se encontram de momento afectados por deslocações internas. Outros países ha-verá ainda que não estarão dispostos a submeter-se às obrigações impostas aos estados, conforme se consagra na Convenção.

Os esforços da sociedade civil no sentido de acelerarem a ratificação da Convenção em cada país terão neces-sidade de lidar com esses argumentos. Por exemplo, as OSCs podem contribuir para a defesa da ratificação, ao disponibilizarem informações sobre o número de pesso-as que se encontram presentemente deslocadas num determinado país e sobre os obstáculos que essas PDIs encontram presentemente relativamente ao usufruto dos seus direitos. As OSCs também podem trabalhar no sentido de documentarem a forma como a ratifica-ção da Convenção poderia ajudar a evitar a deslocação, enfrentar as causas originais da deslocação, proteger os direitos das pessoas deslocadas e permitir-lhes encontrar soluções sustentáveis.

Duma maneira mais geral, a sociedade civil pode desem-penhar um papel importante na mobilização de apoios para a ratificação da Convenção de Kampala. Ao promo-verem a consciencialização em relação à Convenção (ver a secção 4.2), as organizações da sociedade civil podem ajudar a criar uma larga base de apoio entre diferentes sectores da sociedade para a ratificação da Convenção

em tempo útil, aumentando a pressão sobre o governo no sentido de proceder à ratificação sem demora.

Além do processo de consciencialização e de partilha de informações sobre a Convenção de Kampala, a so-ciedade civil pode enveredar por uma série de outras actividades a fim de incentivar os governos a ratificarem a Convenção. Alguns exemplos: Trabalhar com sociedades de advogados e ordens de advogados para identificação de lacunas na base jurídica existente em certos estados em termos de protecção dos direitos das PDIs e para realçar a forma pela qual a Convenção de Kampala poderia ajudar a colmatar essas lacunas.

Trabalhar com NHRIs para gerar energias para a rati-ficação (ver a caixa sobre NHRIs, na secção 5.2).

Prestar informações a deputados, comissões parla-mentares e funcionários ministeriais importantes sobre problemas relacionados com a deslocação interna nos res-pectivos países, e realçar a forma pela qual a Convenção de Kampala poderia ajudar a combater esses problemas.

Identificar deputados que estejam prontos a apoiar a ratificação atempada da Convenção de Kampala e apoiar os seus esforços para exercerem pressão política para uma ratificação atempada

Pedir a outros intervenientes do processo, incluindo governos doadores e organizações internacionais, para actuarem junto dos governos de estados membros da UA no sentido de ratificarem a Convenção de Kampala sem demora.

Monitorizar os passos que foram dados no sentido da ratificação da Convenção de Kampala e informar da evolução através de relatórios de monitorização periódicos, reuniões, publicações e através dos meios de comunicação social.

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21A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

O ECOSOCC foi estabelecido ao abrigo do Acto Constitutivo da União Africana como um órgão consultivo da União Africana. O Presidente do ECOSOCC participa nas reuniões do Conselho Executivo e Assembleia da UA nas Cimeiras bia-nuais da UA e apresenta relatórios da Comissão Permanente do ECOSOCC ao Conselho Executivo da UA.

Os objectivos do ECOSOCC incluem: Promoção da participação da sociedade civil afri-cana na implementação das políticas e programas da União Africana.

Estabelecimento de fortes parcerias entre os go-vernos e todos os segmentos da sociedade civil.

Promoção e defesa de uma cultura de boa go-vernação, princípios e instituições democráticos, participação popular, direitos humanos e liberda-des, bem como justiça social.

Promoção e reforço das capacidades institucio-nais, humanas e operacionais da sociedade civil africana.

O ECOSOCC é composto por OSCs, como segue: 2 OSCs de cada estado membro da UA. 10 OSCs regionais. 8 OSCs continentais. 20 OSCs da diáspora africana. 6 OSCs nomeadas pela Comissão da UA após consulta aos Estados Membros.

O ECOSOCC é organizado em dez grupos: Paz e Segurança Assuntos Políticos Assuntos Sociais Infra-estrutura e Energia Recursos Humanos, Ciência e Tecnologia Género Comércio, Transacções e Indústria Economia Rural e Agricultura Assuntos Económicos Programa “Cross-Cutting”

As OSCs que não sejam membros do ECOSOCC podem ser membros associados de um dos grupos do ECOSOCC.

Para mais informações sobre o ECOSOCC, pode consultar www.ecosocc-au.org

Conselho Económico, Social e Cultural (ECO-SOCC)

4.4 Actuação a nível regional para a ratificação da Convenção de Kampala

A Convenção de Kampala só pode ser ratificada por Estados. No entanto, é possível recorrer a mecanismos regionais ou continentais para persuadir os estados a darem prioridade à sua ratificação, e as OSCs podem implicar-se utilmente nesses mecanismos, incluindo:

Comunidades Económicas RegionaisAs oito Comunidades Económicas Regionais (CERs) em África podem constituir plataformas regionais para a ratificação da Convenção de Kampala (e tam-bém para a sua implementação; ver a secção 5.4). As OSCs poderiam incentivar as CERs no sentido de pedir aos estados membros que apresentem relató-rios sobre os passos que deram para a ratificação da Convenção e nas reuniões periódicas das CERs. Todas as CERs poderiam também ser incentivadas a adoptarem uma data fixa para ratificação por parte de todos os estados membros da CER em ques-tão. Depois de um ou mais estados membros de uma determinada CER ter ratificado a Convenção, a sociedade civil pode trabalhar com representantes desses estados para tentar persuadir os restantes membros da CER a fazerem o mesmo (ver a caixa na secção 4.5 sobre CERs).As OSCs poderiam trabalhar em conjunto com parla-mentos e uniões parlamentares (sempre que existam) das CERs, a fim de criarem energia para a ratificação. A Assembleia Legislativa Leste-Africana (EALA) é o braço legislativo da Comunidade Leste-Africana; ECOWAS possui o Parlamento ECOWAS, e IGAD tem a União Interparlamentar de IGAD.

Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes LagosDez dos onze estados membros da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) ratificaram o Pacto de Segurança, Estabilidade e Desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos. Ficam assim vinculados pelo Pacto e pelos seus Protocolos, incluindo o Protocolo sobre Protecção e Assistência a PDIs e o Protocolo sobre os Direitos de Propriedade de Retornados (ver a secção 2.2).O Pacto e os seus respectivos protocolos deram forma ao processo de redacção da Convenção de Kampala. Em países da CIRGL, os esforços de defesa da ratifi-cação da Convenção de Kampala deveriam assentar no facto de que esses países já se comprometeram na protecção dos direitos das PDIs ao abrigo do Pacto e dos seus Protocolos.52

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22 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

4.5 Actuação ao nível da UA para a ratificação da Convenção de Kampala

Tal como as OSCs podem procurar trabalhar em con-junto com instituições e mecanismos regionais para incentivarem os estados membros da UA a ratificarem a Convenção de Kampala, também podem utilizar as instituições e os mecanismos da UA para atingirem o mesmo objectivo. Alguns exemplos para uma possível colaboração incluem:

Conselho Económico, Social e Cultural da UA (ECOSOCC)O ECOSOCC, que compreende um total de 150 OSCs de todos os estados membros da UA, é um órgão con-sultivo da UA. É um dos principais mecanismos para a sociedade civil africana interagir com a Comissão da UA e com os estados membros da UA. O Presidente

do ECOSOCC participa nas cimeiras da UA realizadas duas vezes por ano, tendo assim acesso a chefes da UA ao mais alto nível. O ECOSOCC encontra-se or-ganizado em dez grupos; as OSCs sem o estatuto de membro pleno podem solicitar o estatuto de membro associado de um ou mais grupos, podendo dessa ma-neira contribuir para debates e tomada de decisões.Os membros e membros associados podem garan-tir que a questão da ratificação da Convenção de Kampala seja incluída nos relatórios do Presidente do ECOSOCC às Cimeiras da UA. (Ver a caixa sobre o ECOSOCC.)

Departamento dos Assuntos Políticos da Comissão da UAA responsabilidade pela condução do processo de redacção da Convenção de PDIs da UA e pela or-ganização da Cimeira Especial da UA sobre os

A Comissão Africana para os Direitos Humanos e dos Povos está encarregada, ao abrigo da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, de três funções principais: promoção de direitos humanos e dos povos; protecção dos direitos humanos e dos povos; interpre-tação da Carta Africana.

As ONGs com estatuto de observadores junto da ACHPR podem participar nos debates durante as ses-sões públicas da Comissão. As sessões ordinárias da ACHPR dão às ONGs a oportunidade de apresentar as suas preocupações sobre as violações de direitos, incluindo a apresentação de informações escritas ou orais sobre a situação dos direitos humanos das PDIs em estados membros da UA, todos tendo ratificado a Carta Africana.

Antecedendo cada sessão da ACHPR, algumas das ONGs participantes reúnem-se no chamado Fórum para a Participação de ONGs na ACHPR (também conhecido como Fórum ONG). As ONGs podem usar o Fórum para referir assuntos relacionados com direitos de PDIs e com a Convenção de Kampala, e também para propor resoluções sobre esses assuntos, que podem vir a ser adoptados pelo Fórum ONG em as-sembleias plenárias. O resultado do Fórum é apresen-tado à ACHPR na sua sessão de abertura e o Fórum apresenta as resoluções propostas à Comissão para consideração e adopção.

Uma das principais funções da ACHPR consiste em monitorizar a implementação de Estados Parte das suas obrigações relativas aos direitos humanos esta-

belecidos na Carta Africana (Artigo 62). Os Estados Parte devem apresentar um relatório à ACHPR de dois em dois anos sobre medidas jurídicas e outras que tenham tomado no sentido da implementação da Carta Africana. Ao abrigo da Convenção de Kampala, os Estados Parte da Convenção têm de incluir informa-ções sobre medidas legislativas e outras que tenham tomado para concretizarem a Convenção (Artigo 14(4)).

As ONGs têm uma missão de crucial importância no apoio à função de monitorização da ACHPR ao longo de todo o processo de notificação. Depois de um estado ter apresentado o seu relatório à ACHPR, as ONGs podem apresentar informações escritas à ACHPR antes de esta apreciar o relatório de situação. Relatórios de ONGs deste tipo são conhecidos como “relatórios sombra” ou “relatórios paralelos”.

A seguir à avaliação do relatório do Estado Parte pela Comissão Africana, a Comissão emite o que é co-nhecido como “observações finais”. Este documento reflecte normalmente os passos positivos dados pelo governo em causa, bem como falhas e recomendações ao governo para acção futura. As ONGs nacionais, em particular, têm um papel decisivo a desempenhar no acompanhamento de observações finais e no controlo da conformidade dos estados com as recomendações da Comissão.

Fonte: Amnistia Internacional, Um Guia sobre a Comissão Africana para os Direitos Humanos e dos Povos, www.amnesty.org/en/library/info/IOR63/005/2007

Comissão Africana para os Direitos Humanos e dos Povos (ACHPR)

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23A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

Um dos Comissários da ACHPR é o Relator Especial sobre Refugiados, Requerentes de Asilo, PDIs e Migrantes. De acordo com a resolução adoptada na 36ª Sessão Ordinária da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, realizada em Dacar, Senegal, a 7 de Dezembro de 2004, o mandato do Relator Especial consiste no seguinte:a. detectar, receber e examinar informações e actuar

de acordo com as mesmas sobre a situação de refu-giados, requerentes de asilo e pessoas deslocadas internamente em África:

b. realizar estudos, pesquisas e outras actividades re-lacionadas, a fim de analisar vias apropriadas para melhorar a protecção dos refugiados, requerentes de asilo e pessoas deslocadas internamente em África;

c. executar missões, investigações, visitas e outras actividades apropriadas à detecção de factos em campos de refugiados e campos de pessoas des-locadas internamente;

d. apoiar Estados Membros da União Africana na criação de políticas, regulamentações e leis apro-priadas à protecção eficaz de refugiados, reque-rentes de asilo e pessoas deslocadas internamente em África;

e. cooperar e entrar em diálogo com os Estados Membros, Instituições Nacionais de Direitos Humanos, importantes entidades intergoverna-mentais e não governamentais, mecanismos in-ternacionais e regionais envolvidos na promoção e protecção dos direitos de refugiados, requerentes de asilo e pessoas deslocadas internamente;

f. elaborar e recomendar estratégias eficazes para melhor protecção dos direitos de refugiados, re-querentes de asilo e pessoas deslocadas inter-namente em África, e acompanhar as respectivas recomendações;

g. aumentar a consciencialização para e promover a implementação da Convenção das Nações Unidas sobre Refugiados de 1951, bem como a Convenção da OUA de 1969 Regendo os Aspectos Específicos dos Problemas de Refugiados em África;

h. apresentar relatórios em todas as sessões ordi-nárias da Comissão Africana sobre a Situação de Refugiados, Requerentes de Asilo e Pessoas Deslocadas Internamente em África.

Para mais informações sobre o Relator Especial, pode consultar: www.achpr.org/english/_info/index_rdp_en_html.

Relator Especial da ACHPR sobre Refugiados, Requerentes de Asilo, PDIs e Migrantes

Refugiados, Retornados e PDIs em Kampala, na qual a Convenção de Kampala foi adoptada, recai sobre o Departamento de Assuntos Políticos da Comissão da UA, e em particular sobre a sua Divisão dos Assuntos Humanitários, Refugiados e Pessoas Deslocadas (HARDP). As OSCs podem influenciar o Comissário da UA para Assuntos Políticos, a fim de garantir que a ratificação da Convenção ocupe lugar de relevo na agenda da UA.

Parlamento Pan-AfricanoO Parlamento Pan-Africano foi criado em 2004 e trabalha presentemente como entidade consultiva e orientadora da UA. Espera-se que evolua para uma entidade com poderes legislativos. Os membros do Parlamento Pan-Africano são actualmente elei-tos pelos estados membros. Duas das Comissões Permanentes do Parlamento Pan-Africano são de particular importância para a Convenção de Kampala: a Comissão de Justiça e Direitos Humanos e a Comissão para Cooperação, Relações Internacionais e Resolução de Conflitos. As OSCs podem exercer pressão sobre membros individuais do Parlamento Pan-Africano para garantirem que este incita os es-tados membros da UA a ratificar a Convenção de Kampala em tempo útil.

Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos Como já ficou dito na secção 3.8, a Convenção de Kampala estabelece que os estados têm de indicar as medidas legislativas e outras que tomaram para tornarem efectiva a Convenção de Kampala sempre que apresentarem os respectivos relatórios ao abrigo do Artigo 62 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, que foi ratificada por todos os 53 estados membros da UA.53 As OSCs têm um papel a desempe-nhar no sentido de incentivarem os governos a incluir informações sobre os seus esforços para ratificar e implementar a Convenção de Kampala nos seus re-latórios à Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (ACHPR). Depois de um estado ter apresentado o seu relatório à ACHPR, e antes da avaliação do relatório pela ACHPR numa das suas sessões ordinárias, as OSCs podem fornecer mais informações à ACHPR sobre a evolução ou não por parte do estado no sentido da ratificação da Convenção. (Ver a caixa sobre a ACHPR.)

Fórum para a participação de ONGs na ACHPR (Fórum ONG)As ONGs poderiam propor resoluções sobre a ratifi-cação da Convenção de Kampala durante reuniões do

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24 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

A UA reconheceu oito Comunidades Económicas Regionais (CERs). Muitos estados membros da UA são membros de mais de uma CER.

Comunidade de Estados do Sael e do Sara (CEN-SAD): 28 estados membros

Benim, Burkina Faso, República Central Africana, Comoros, Chade, Costa do Marfim, Djibuti, Egipto, Eritreia, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Quénia, Libéria, Líbia, Mali, Mauritânia, Marrocos, Níger, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Togo, Tunísia

Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA): 19 estados membros

Burundi, Comoros, República Democrática do Congo, Djibuti, Egipto, Eritreia, Etiópia, Quénia, Líbia, Madagáscar, Malawi, Ilhas Maurícias, Ruanda, Seychelles, Sudão, Suazilândia, Uganda, Zâmbia, Zimbabué

Comunidade Leste Africana (EAC): 5 estados membros

Burundi, Quénia, Ruanda, Tanzânia, Uganda

Comunidade Económica de Estados da África Central (CEEAC): 10 estados membros

Angola, Burundi, Camarões, República Central Africana, Chade, República Democrática do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, República do Congo, São Tomé e Príncipe

Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS): 15 estados membros

Benim, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Togo

Autoridade Intergovernamental para Desenvolvimento (IGAD): 7 estados membros

Djibuti, Etiópia, Eritreia, Quénia, Somália, Sudão, Uganda

Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC): 15 estados membros

Angola, Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Seychelles, África do Sul, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabué

União do Magrebe Árabe / Union du Maghreb Arabe (UMA): 5 estados membros

Argélia, Líbia, Mauritânia, Marrocos, Tunísia

Comunidades Económicas Regionais (CERs)Fórum ONG antes das sessões ordinárias bianuais da ACHPR. O Fórum ONG apresenta resoluções propos-tas à ACHPR para consideração e adopção.

Relator Especial sobre Refugiados, Requerentes de Asilo, Pessoas Deslocadas Internamente e MigrantesAs OSCs devem trabalhar estreitamente em particular com o Relator Especial da ACHPR sobre Refugiados, Requerentes de Asilo, PDIs e Migrantes para defende-rem a ratificação da Convenção de Kampala por parte de todos os estados membros da UA (ver a caixa sobre o Relator Especial).

Comissão para a Coordenação da Assistência e Protecção a Refugiados, Retornados e Pessoas Deslocadas InternamenteA Comissão para a Coordenação da Assistência e Protecção a Refugiados, Retornados e PDIs (CCAR) da UA, que inclui ONGs entre os seus membros, constitui uma outra plataforma para acompanhamen-to da Convenção da Kampala. A CCAR aconselha a Subcomissão para Refugiados, Retornados e PDIs da Comissão de Representantes Permanentes da UA (PRC). As OSCs podem, dessa maneira, usar a CCAR como mecanismo para levarem à atenção da Subcomissão da PRC assuntos relacionados com a Convenção de Kampala. Como a PRC reporta ao Conselho Executivo da UA, a CCAR também constitui uma outra via para a sociedade civil apresentar as-suntos relacionados com a Convenção de Kampala à agenda do Conselho Executivo. (Ver a caixa na secção 5.4 para mais informações sobre a PRC, a Subcomissão de PRC e a CCAR).

4.6 Trabalho com organizações parlamentares supranacionais

A sociedade civil pode colaborar com associações de parlamentos nacionais para incentivar os estados mem-bros da UA a ratificar a Convenção de Kampala. Alguns exemplos dessas associações:

União Interparlamentar www.ipu.org A protecção e promoção de direitos humanos con-tam-se entre os principais objectivos da União Interparlamentar (UIP). Em particular, a UIP procura fortalecer o papel de parlamentos como guardiães de direitos humanos. As suas actividades incluem publica-ções para familiarizar os parlamentares com normas e tópicos de direitos humanos; disponibilização de infor-mações sobre o funcionamento de comissões parla-mentares sobre direitos humanos; apoio a comissões parlamentares sobre direitos humanos e promoção e reforço dos direitos humanos através dos projectos de assistência técnica de UIPs.

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25A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

A Associação de Parlamentares Europeus para África (AWEPA) www.awepa.org A AWEPA trabalha com parlamentos africanos para apoiar a concretização de direitos humanos, a democra-cia e o desenvolvimento em África, através do reforço de funções essenciais de parlamentos: fiscalização, representação e legislação. Uma das formas pelas quais a AWEPA pretende atingir este objectivo con-siste no reforço da participação da sociedade civil no processo político

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26 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

Âmbito de acção pela sociedade civil: implementação da Convenção de Kampala

A assinatura e ratificação da Convenção de Kampala pelos estados membros da UA representa um passo importante no sentido da protecção dos direitos das PDIs, mas é apenas um primeiro passo. Os estados têm de dar seguimento à ratificação da Convenção através de passos que a implementem. As OSCs têm um papel importante a desempenhar ao garantirem que os estados tomem os passos necessários no sentido da implemen-tação, ao mesmo tempo que também podem contribuir directamente para a implementação da Convenção, for-necendo protecção e auxílio às PDIs.

Com base nas suas interacções com pessoas deslocadas e comunidades de acolhimento, as OSCs encontram-se frequentemente entre as mais bem colocadas para iden-tificarem os obstáculos que não permitem que as PDIs usufruam dos seus direitos. Tais obstáculos podem assu-mir variadas formas. O problema mais premente pode ser a falta de capacidade do governo para proteger e auxiliar as PDIs. Noutros casos, o governo pode não ter a vontade para reagir às necessidades de algumas ou de todas as PDIs. O problema pode ser de natureza jurídica, caso o en-quadramento jurídico existente num determinado país não permita garantir a protecção de todos os direitos das PDIs.

As OSCs podem ajudar a identificar a natureza exacta desses obstáculos e a criar uma estratégia para ultra-passar os mesmos, e garantir a concretização dos direi-tos das PDIs conforme se encontram consagrados na Convenção de Kampala.

Até mesmo em estados que ainda não ratificaram a Convenção de Kampala, as OSCs podem lançar os alicerces para a implementação da Convenção antes da sua ratifica-ção. 17 estados assinaram a Convenção imediatamente após a sua adopção na Cimeira Especial realizada em Kampala, em Outubro de 2009, e mais estados o vieram a fazer pos-teriormente, assinalando dessa forma a sua intenção de se vincularem à Convenção.54 Além disso, a Declaração e as Recomendações de Kampala que foram adoptadas na Cimeira Especial, embora não legalmente vinculativas em si mesmas, constituem uma base importante para orientar as acções dos estados em relação a aspectos de deslocação interna, tenham, ou não, ratificado a Convenção de Kampala.

5.1 Processo contínuo de consciencialização

Para que as PDIs e pessoas em risco de deslocação venham a beneficiar da Convenção de Kampala, os

estados têm de fazer mais do que apenas ratificar a Convenção: têm de prosseguir na sua implementação. A implementação tem dois componentes. Em primeiro lugar, os estados têm de alterar leis e políticas existentes (ou adoptar novas leis e políticas) para alinharem os seus enquadramentos jurídicos com as suas obrigações ao abrigo da Convenção de Kampala. Em segundo lugar, os estados têm de respeitar as suas próprias leis e políticas, isto é, têm de actuar de forma a proteger e auxiliar as PDIs de forma eficaz.

Para garantir que os estados tomam as medidas neces-sárias para a implementação da Convenção e cumprem as suas obrigações ao abrigo dessa legislação sobre implementação, será importante que as OSCs garantam que a Convenção de Kampala continua numa posição importante na agenda de legisladores e decisores. Têm, assim, um importante papel a desempenhar ao contri-buírem para um interesse sustentável na Convenção, mesmo depois da sua ratificação, para garantir que os estados tomam as medidas necessárias para cumprirem a sua responsabilidade ao abrigo da mesma. Significa isto que todas as actividades sugeridas na secção 4.2 con-tinuam a ser importantes para as OSCs, mesmo depois de um determinado estado ter ratificado a Convenção de Kampala.

5.2 Revisão do enquadramento jurídico

Será importante definir até que ponto os enquadramen-tos jurídicos existentes dos países se encontram alinha-dos com a Convenção de Kampala. As leis e políticas têm de ser revistas em relação a uma grande variedade de assuntos, incluindo documentos de identificação pessoal, alojamento, aspectos relacionados com terra e proprie-dade, e acesso a escolas, ao trabalho e a cuidados de saúde.

Como já foi referido na secção 2.1, há um conjunto de estados que também têm legislação ou políticas especí-ficas relativamente às PDIs. Também essas deveriam ser analisadas, a fim de se determinar se as suas cláusulas estão em consonância com as obrigações dos estados perante a Convenção de Kampala.

Para os 11 estados que também são membros da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (ver a secção 2.2), a análise do enquadramento jurídico também deve considerar obrigações de proteger

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27A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

e auxiliar as PDIs ao abrigo do Pacto dos Grandes Lagos e respectivos protocolos.

Há dois aspectos a considerar em relação a essa aná-lise, por vezes referida como “auditoria legal”. Por um lado, pode haver lacunas nos enquadramentos jurídicos nacionais existentes, dado que pode haver leis e políti-cas nacionais que não contemplem alguns dos direitos consagrados na Convenção de Kampala. Por outro lado, pode haver incongruências entre os enquadramentos jurí-dicos existentes e a Convenção de Kampala, quer porque as leis e políticas nacionais se encontrem directamente em conflito com algumas das cláusulas da Convenção, quer porque as leis e políticas nacionais criem certos obstáculos à fruição, por parte das PDIs, dos direitos protegidos pela Convenção. Com base em informações sobre tais lacunas e incongruências, os estados têm de legislar de forma a alterarem o enquadramento jurídi-co existente, a fim de o alinharem pela Convenção de Kampala.

A sociedade civil pode contribuir de várias formas para este processo de análise. Alguns exemplos: Convencer os intervenientes (parlamentos, NHRIs, ordens de advogados, faculdades e professores de Direito nacionais) a organizarem auditorias legais

As instituições nacionais para os direitos humanos (NHRIs) são instituições independentes estabelecidas ao abrigo da constituição ou por lei, cujas funções con-sistem em promover e proteger os direitos humanos. Podem assumir a forma de comissões de direitos hu-manos, gabinetes de mediadores, ou ainda instituições nacionais especializadas mandatadas para protege-rem os direitos de grupos particularmente vulneráveis (tais como minorias étnicas, populações indígenas, mulheres ou crianças). As NHRIs são mandatadas para monitorizar e relatar em relação ao respeito pelos direitos humanos nos seus países, investigar alegadas violações de direitos humanos e aconselhar o respec-tivo governo sobre a evolução de leis e políticas. As NHRIs têm, por conseguinte, um papel de importância crucial na promoção e protecção dos direitos das PDIs, inspirando políticas governamentais sobre a prevenção de deslocações arbitrárias e sobre a reacção a situa-ções existentes de deslocação interna.

Os princípios das Nações Unidas relativos ao estatuto das NHRIs, conhecidos como Princípios de Paris, de-finem directrizes básicas para o estabelecimento de NHRIs, incluindo requisitos para garantia da sua inde-

pendência e autonomia face ao governo, um estatuto de membro que reflecte o pluralismo nas suas socie-dades, um vasto mandato, poderes e recursos de in-vestigação. A Comissão Internacional de Coordenação de Instituições Nacionais para os Direitos Humanos (ICC) é responsável pela acreditação de NHRIs de acordo com os Princípios de Paris. Uma lista de NHRIs de todo o mundo, incluindo o seu estatuto segundo os Princípios de Paris, encontra-se disponível na página da internet do Fórum das Instituições Nacionais para os Direitos Humanos (www.nhri.net).

A rede de NHRIs africanas (NANHRI) ajuda as NHRIs em países africanos a cumprir mais eficazmente os seus mandatos de monitorização, promoção, protec-ção e defesa dos direitos humanos. Os dados de con-tacto de NHRIs em estados membros da UA podem ser consultados em: www.nanhri.org.

Os Princípios de Paris foram aprovados pela Assembleia-Geral das Nações Unidas na resolução 48/134 de 20 de Dezembro de 1993. Pode consultar os Princípios de Paris em www2.ohchr.org/english/law/parisprinciples.htm.

Instituições nacionais para os direitos humanos (NHRIs)

abrangentes e a contribuírem para a sua realização. As OSCs podem ter um papel cimeiro na realização de auditorias legais, ou, sempre que haja outros interve-nientes dispostos e capazes de assumirem um papel cimeiro, podem contribuir com provas e exemplos de situações nas quais os direitos das PDIs se encon-trem insuficientemente protegidos pelas leis e políticas existentes.

Organização de debates ou workshops especiali-zados sobre os passos que é preciso dar para ali-nhar as leis nacionais existentes pela convenção de Kampala. Esses eventos poderiam incluir professo-res universitários, advogados, juízes, ordens de advo-gados nacionais, sociedades de advogados, NHRIs e secções nacionais da Comissão Internacional de Juristas.

Incentivar deputados e comissões parlamentares a assumir acções legislativas no sentido do alinhamen-to das leis nacionais com a Convenção de Kampala, em linha com a responsabilidade dos parlamentos de projectar e adoptar legislação.

Colaborar com NHRIs para apoiar os parlamentos na-cionais a projectar nova legislação ou redigir alterações a leis e políticas existentes, para que o enquadramento jurídico fique alinhado pela Convenção de Kampala. (Ver a caixa sobre NHRIs.)

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secção 4.5, e sobre a CCAR e Subcomissão da PRC nesta secção.)

Como foi dito na secção 4.5, sempre que os estados apresentem os seus relatórios ao abrigo do Artigo 62 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (o que têm de fazer de dois em dois anos), os estados que ratificaram a Convenção de Kampala têm de incluir informações sobre medidas legislativas e outras que te-nham tomado para concretizar a Convenção. As OSCs devem trabalhar com os governos para garantirem o

A UA possui uma Comissão de Representantes Permanentes (PRC), constituída por todos os repre-sentantes permanentes dos estados membros da UA. A PRC tem uma Subcomissão para Refugiados, Retornados e Pessoas Deslocadas Internamente, que tem o mesmo estatuto de membro da própria PRC. O UNHCR possui o estatuto de observador na Subcomissão da PRC. A Subcomissão da PRC reúne-se duas a três vezes por ano e tem um gabi-nete de cinco estados membros, um de cada uma das cinco regiões oficiais da UA. O Gabinete rea-liza periodicamente missões nos países e prepara relatórios para a Subcomissão da PRC. Depois de aprovados pela PRC, esses relatórios são apresen-tados ao Conselho Executivo da UA.

A UA também possui uma Comissão de Coordenação para Assistência e Protecção a Refugiados, Retornados e Pessoas Deslocadas Internamente (CCAR). Os membros da CCAR são estados mem-bros da UA, UNHCR e ONGs. O secretariado da CCAR é assegurado pela Divisão de Assuntos Humanitários, Refugiados e Pessoas Deslocadas (HARDP) do Departamento de Assuntos Políticos da Comissão da UA. A CCAR reúne-se duas vezes por anos. O Grupo de Trabalho da CCAR reúne-se em Adis-Abeba quando não é possível convocar uma reunião de toda a CCAR.

A CCAR constitui uma plataforma para acompanha-mento da Convenção de Kampala e para assuntos sobre PDIs e refugiados em geral. A CCAR é um organismo consultivo para a Subcomissão da PRC para Refugiados, Retornados e PDIs; as OSCs po-dem, assim, usar a CCAR como mecanismo para levar à atenção da Subcomissão da PRC assuntos relacionados com a Convenção de Kampala. Dado que a PRC reporta ao Conselho Executivo da UA, a CCAR também oferece um mecanismo indirec-to para as OSCs colocarem assuntos relativos à Convenção de Kampala na agenda do Conselho Executivo.

Subcomissão da PRC e da CCAR5.3 Monitorização das acções dos estados

A criação de enquadramentos jurídicos nacionais ali-nhados com a Convenção de Kampala constitui um passo importante para a implementação da Convenção e protecção dos direitos das PDIs. Contudo, os en-quadramentos jurídicos, por si só, não são suficientes, mesmo quando reflectem perfeitamente os direitos e as obrigações que a Convenção consagra. Para po-derem ter impacto, as leis e as políticas têm de ser implementadas na prática. As OSCs têm, assim, de controlar até que ponto as acções dos governos se encontram em consonância com as suas obrigações legais para protecção dos direitos das PDIs e para apresentarem relatórios sobre falhas na sua implemen-tação, com vista a incentivar os governos a procederem aos necessários ajustes.

As actividades nacionais das OSCs poderiam incluir: Monitorização da implementação de leis e políticas e recolha sistemática de informações sobre problemas que as PDIs têm de enfrentar para terem acesso aos seus direitos.

Com base nessas informações, advogar alterações em políticas governamentais ou em respostas gover-namentais relativamente a situações particulares de deslocação.

Estabelecimento de consultórios jurídicos para acon-selhamento das PDIs sobre os seus direitos ao abrigo do direito nacional e internacional e, sempre que ne-cessário, para as ajudar a aceder a soluções através do sistema jurídico.

A nível regional e da UA, as possíveis actividades das OSCs incluem: Os membros do ECOSOCC poderiam discutir assun-tos relacionados com a implementação da Convenção de Kampala em reuniões do ECOSOCC antes das Cimeiras Ordinárias da UA. A Comissão de Grupo de Assuntos Políticos do ECOSOCC tem um papel espe-cial ao garantir que as observações das OSCs sobre a implementação da Convenção de Kampala sejam incluídas nos relatórios anuais do ECOSOCC para a Assembleia da UA e nas declarações do Presidente do ECOSOCC ao Conselho e à Assembleia nas cimeiras ordinárias bianuais da UA.

Como foi referido na secção 3.8, a Convenção de Kampala prevê a constituição de uma Conferência de Estados Parte para monitorizar e analisar a implemen-tação dos objectivos da Convenção.55 Não há mecanis-mos explícitos na Convenção para as OSCs fornecerem informações a esta Conferência de Estados Parte. As OSCs deveriam explorar as possibilidade de utilização do ECOSOCC ou da CCAR e da Subcomissão da PRC como plataformas para apresentarem informações so-bre a implementação da Convenção à Conferência de Estados Parte. (Ver as caixas sobre o ECOSOCC na

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29A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

cumprimento das suas obrigações a este respeito. As OSCs também podem prestar informações à ACHPS antes de a ACHPS apreciar o relatório de situação, a fim de realçar problemas específicos em relação aos direitos das PDIs, incluindo relatórios sobre violações, por parte dos países, das suas obrigações ao abrigo da Convenção de Kampala.

As ONGs também podem propor resoluções durante o Fórum ONG antes das sessões regulares da ACHPR, para apreciação e adopção pela ACHPR, em relação a falhas que países tenham tido no cumprimento das suas obrigações à luz da Convenção de Kampala. (Ver a caixa sobre a ACHPR na secção 4.5.)

Por fim, as OSCs também podem actuar com os vários mecanismos das Comunidades Económicas Regionais (ver a secção 4.4) e com o Parlamento Pan-Africano (ver a secção 4.5), a fim de garantir a monitorização cor-recta e abrangente da implementação da Convenção de Kampala.

5.4 Contribuição para a protecção dos direitos das PDIs

Para além de incentivar os governos no sentido de pres-tarem protecção e auxílio às PDIs em consonância com os seus deveres e as suas responsabilidades ao abrigo da Convenção de Kampala, há muitas mais coisas que as organizações da sociedade civil podem fazer para contribuirem directamente para a protecção dos direitos das PDIs e das pessoas em risco de deslocação. De facto, como foi referido na secção 1.2, as OSCs já têm estado frequentes vezes na linha da frente na resposta à protecção e ao auxílio às necessidades das PDIs.

Esta secção apresenta exemplos de actividades para identificação de PDIs e das suas necessidades em rela-ção a três fases de deslocação: protecção de pessoas contra deslocação arbitrária; protecção dos direitos das PDIs durante a deslocação; e protecção dos direitos relacionados com soluções sustentáveis para pessoas que tenham sido deslocadas. O âmbito de actividades para as OSCs em cada uma destas vastas áreas é prati-camente ilimitado e a seguir só são apresentados alguns exemplos.

Informação rigorosa: condição prévia para protecção e auxílio

Os esforços para conceder protecção e auxílio ade-quados às PDIs têm de ser baseados em informações rigorosas sobre o número de PDIs (incluindo o número de crianças, mulheres e homens em diferentes grupos etários) em todos os locais, tais como acampamentos, cidades, ambientes rurais. É, portanto, importante ga-rantir que todas as PDIs sejam identificadas desde o início.

“Os Estados Parte deverão criar e manter um re-gisto actualizado de todas as pessoas deslocadas internamente que se encontrem sob a sua jurisdição ou sob o seu controlo efectivo. E nesse processo, os Estados Parte poderão colaborar com as orga-nizações internacionais ou agências humanitárias, ou organizações da sociedade civil.”

Convenção de Kampala, Artigo 13º(1)

É de notar que há circunstâncias em que nem todas as PDIs quererão ser registadas como tal, especialmente nos casos em que tenham sido deslocadas por acções do seu próprio governo, ou se temerem represálias de grupos armados não governamentais caso se registem como PDIs. As OSCs têm como função garantir que qualquer sistema de registo leve em conta essas con-siderações. Como foi referido na secção 3.6, as PDIs têm direito a protecção e auxílio na mesma base de outros cidadãos e residentes do seu país. A protecção e o auxílio a PDIs nunca devem ser dependentes do registo como PDIs.

A prestação de auxílio a PDIs deve ser orientada por níveis de vulnerabilidade das PDIs e pelas suas necessidades.

“Os Estados Parte devem avaliar ou facilitar a avalia-ção das necessidades e vulnerabilidades das pesso-as deslocadas internamente e das comunidades de acolhimento, em cooperação com as organizações ou agências internacionais”

Convenção de Kampala, Artigo 5(5)

Em situações em que organizações da sociedade civil possuam informações sobre pessoas que tenham sido deslocadas, mas essas informações sejam insuficien-tes para a condução de programas de protecção e au-xílio a PDIs, as OSCs podem incentivar as autoridades responsáveis no sentido de avaliar as necessidades existentes das PDIs, ou podem fazer essa avaliação elas próprias.

Alguns grupos de PDIs podem ser mais difíceis de lo-calizar ou identificar. As PDIs deficientes, com doenças crónicas e de idade avançada, especialmente aquelas que não tenham parentes ou alguém que lhes preste assistência, poderão não ser capazes de participar em acções de levantamento ou registo. Nalgumas situa-ções, os líderes comunitários e outras pessoas podem deixar de incluir, ou procurar excluir, dos levantamentos, membros de grupos marginalizados, tais como viúvas ou lares chefiados por mulheres ou crianças, PDIs que sofrem de VIH/SIDA, PDIs de certos grupos religiosos ou étnicos, ou ainda PDIs com certas filiações políticas.

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30 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

As PDIs urbanas ou PDIs que vivam com comunidades de acolhimento e não em acampamentos podem ser difíceis de distinguir da população local.

Esses levantamentos têm de ser organizados de forma a garantir a inclusão de todas as PDIs que pretendam ser identificadas. As OSCs têm um papel especial para garantir que isso aconteça. Por um lado, as OSCs podem pedir às autoridades responsáveis que os levantamentos sejam feitos especificamente para grupos negligencia-dos ou não identificados de PDIs. Por outro lado, as OSCs podem trabalhar para garantirem que levantamentos gerais de PDIs incluam todas as pessoas que deveriam incluir, por exemplo, trabalhando com organizações po-pulares de PDIs e usando redes informais para dispo-nibilizar informações sobre o levantamento a todos os interessados.

Prevenção de deslocação e protecção contra deslocação arbitrária

Os estados ficam proibidos de deslocar pessoas arbitra-riamente.56 Isto não significa que os estados nunca têm autorização para deslocar pessoas. As pessoas podem ser evacuadas quando a sua segurança e saúde se en-contrem em perigo em resultado de catástrofes naturais. De forma semelhante, a segurança de populações civis pode justificar a deslocação forçada em situações de conflito armado. Em certas circunstâncias, os estados também podem deslocar pessoas através de evacuações forçadas se isso for do interesse público, por exemplo no caso de as casas terem de dar lugar a infra-estruturas públicas ou projectos de desenvolvimento. No entanto, para que essas evacuações forçadas sejam legais, têm de ser levadas a cabo de forma não discriminatória e de acordo com critérios estritos em termos de consul-ta, notificação e provisão de alojamento alternativo.57 Deslocações forçadas feitas pelo estado e que não se encontrem de acordo com a lei passam a ser desloca-ções arbitrárias.

Há um papel importante para a sociedade civil, que con-siste em monitorizar situações de deslocação forçada pelo estado, de forma a garantir que essa deslocação forçada não seja uma deslocação arbitrária. Onde quer que haja pessoas deslocadas arbitrariamente pelo es-tado, as OSCs podem prestar auxílio às vítimas para se conseguir uma solução legal, incluindo indemnizações.

Em situações de conflito armado, poderia haver um papel a desempenhar pelas OSCs, que consistiria em chamar a atenção de grupos armados não governamentais para a sua obrigação de respeitarem as leis humanitárias inter-nacionais (também conhecida como “as leis da guerra”), incluindo a proibição da deslocação de civis, excepto no caso dessa deslocação ser necessária pela segurança dos civis, ou por razões militares imperativas. A Comissão

Internacional da Cruz Vermelha tem um mandato para vigiar o respeito pelas leis humanitárias internacionais e proteger civis em caso de conflito armado; sempre que as OSCs tenham motivo para preocupação com o destino de civis em conflito armado, podem alertar representantes legais da CICV para a situação.

Em relação a deslocações motivadas por catástrofes naturais, se bem que os estados não possam evitar catás-trofes, como tremores de terra ou tempestades, podem fazer muito para a preparação para estas, implemen-tando medidas para redução dos riscos de catástrofe. Estas medidas podem contribuir para reduzir o impacto de catástrofes naturais, incluindo ao limitar a desloca-ção daí resultante. As OSCs podem ajudar a identificar pessoas que ficariam em risco de deslocação por causa de certas catástrofes naturais, tais como inundações, e podem actuar junto dos governos no sentido da criação de planos adequados de resposta e ajuda em caso de catástrofes. As OSCs podem ajudar a consciencializar as populações em risco em relação a esses planos. Sempre que necessário, as OSCs podem chamar a atenção para falhas por parte do estado em tomar as medidas preven-tivas adequadas.

Protecção e auxílio durante a deslocação

A principal responsabilidade de protecção e auxílio das PDIs incumbe ao estado (ver a secção 3.4). No entanto, como foi referido na secção 1.2, as comunidades de aco-lhimento e as OSCs têm, na prática, um papel importante na ajuda às PDIs, para estas usufruírem plenamente dos seus direitos.

As OSCs podem contribuir para concretizar o direito das PDIs a informação e participação em relação a todos os aspectos da Convenção de Kampala, disponibilizando informações importantes nas línguas faladas pelas PDIs (ou pedindo às autoridades governamentais para forne-cerem informações em línguas apropriadas), por exemplo, sobre serviços disponíveis, sobre os direitos das PDIs em relação à sua terra e lares, ou sobre as diferentes opções de estabelecimento. As OSCs também devem respeitar e defender o direito das PDIs de participarem ou serem representadas em todas as decisões que as afectem. As capacidades das PDIs e o seu conhecimento das circunstâncias locais devem ser objecto de consideração na elaboração de programas de auxílio, a fim de garantir que tais programas reforçam as capacidades das PDIs para proverem ao seu sustento.

As OSCs podem defender levantamentos abrangentes de PDIs, incluindo avaliação de vulnerabilidade e de ne-cessidades, e assegurar a recolha de dados por sexo e idade. Como alternativa, as próprias OSCs podem con-duzir a concepção e a execução desses levantamentos. Além disso, as OSCs também podem contribuir para a

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31A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

protecção dos direitos de grupos vulneráveis de PDIs, garantindo que as suas necessidades específicas são consideradas na concepção de programas humanitários e outros.

As OSCs têm um papel a desempenhar na monitorização da protecção dos direitos das PDIs e na comunicação de violações dos direitos das PDIs em todas as situações de deslocação, quer causadas por conflito, por violações de direitos humanos, quer ainda por catástrofes naturais, ou projectos de desenvolvimento.

As OSCs também podem chamar a atenção para si-tuações em que o auxílio não seja prestado de forma equitativa a diferentes grupos de pessoas deslocadas. Sempre que seja negado acesso humanitário a grupos específicos de pessoas deslocadas, quer por governos, quer por grupos armados não governamentais, as OSCs podem defender o acesso humanitário às comunidades deslocadas. Se o estado for incapaz de responder às necessidades das PDIs, ou se não o quiser fazer, as OSCs podem, sempre que necessário, pedir ajuda a parceiros internacionais e defender a livre passagem para artigos de ajuda humanitária e pessoal humanitário.

Por fim, as OSCs podem fornecer auxílio directo às PDIs sob a forma de comida, roupa e utensílios de cozinha. Também podem prestar serviços, tais como serviços médicos básicos, educação, aconselhamento psicosso-cial e auxílio jurídico.

Soluções sustentáveis

Tendo as OSCs um importante papel a desempenhar para complementar as actividades do estado durante a deslocação, continuam a ter um papel importante na procura de soluções sustentáveis para as PDIs. Muito do que as OSCs fazem pelas PDIs durante a desloca-ção é importante para as ajudar a encontrar soluções sustentáveis. Por exemplo, as PDIs podem ainda preci-sar de informações e auxílio sobre segurança, meios de subsistência, educação, cuidados de saúde e direitos de propriedade.

As OSCs podem orientar especificamente as suas activi-dades para contribuírem para soluções sustentáveis para PDIs. As OSCs podem ajudar as PDIs a tomarem mais consciência dos seus direitos em termos de soluções sustentáveis, quer as PDIs regressem aos seus locais de origem, quer decidam estabelecer-se noutro local do país. Esses direitos podem incluir direitos de propriedade (por exemplo para restituição ou indemnização por da-nos de propriedade), ou o direito de não discriminação (por exemplo, no seu acesso a serviços ou emprego). As OSCs podem conduzir pesquisas sobre a situação das PDIs (incluindo PDIs não identificadas) e suas necessi-dades específicas existentes. As OSCs também podem

ajudar a garantir que às PDIs sejam dadas oportunidades de participação em todas as decisões sobre soluções sustentáveis.

As OSCs também têm um papel a desempenhar na mo-nitorização da situação de ex-PDIs após o seu regresso aos respectivos locais de origem, ou estabelecimento de-finitivo em qualquer outro ponto do país (nos seus locais de deslocação ou noutros locais), a fim de garantir que os seus direitos relacionados com soluções sustentáveis continuam a ser protegidos. As OSCs podem defender a criação de enquadramentos jurídicos ou políticos que abordem as lacunas relacionadas com soluções susten-táveis (por exemplo, em relação aos direitos de proprie-dade de retornados).

As OSCs podem auxiliar as PDIs através de cursos de formação e da criação de oportunidades para o susten-to próprio, para que possam reconstruir as suas vidas. Também podem contribuir para actividades de consolida-ção da paz, que visam garantir as boas relações entre as PDIs e as comunidades locais onde as PDIs pretendam estabelecer-se definitivamente, seja nos seus locais de origem, seja no local para onde foram deslocadas, ou em qualquer outro local do país.

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32 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

Directório

Links para organizações importantes

União Africana: www.africa-union.org Conselho Económico, Social e Cultural (ECOSOCC): www.africa-union.org/ECOSOC/home.htm www.ecosocc-au.org Direcção de Organizações de Cidadãos e da Diáspora (CIDO):www.africa-union.org/CIDO.htm

O Secretariado do ECOSOCC está baseado em CIDO:Comissão da União Africana,P.O. Box 3243Addis AbabaEtiópia

Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (ACHPR): www.achpr.org No 31 Bijilo Annex LayoutKombo North District, Western RegionP.O.Box 673, BanjulGâmbiaTel: (220) 441 05 05; 441 05 06Fax: (220) 441 05 04E-mail: [email protected] de contactos para todos os Comissários: www.achpr.org/english/_info/members_achpr_en.html Informações sobre o Relator Especial da ACHPR sobre Refugiados, Requerentes de Asilo, PDIs e Migrantes disponíveis em: www.achpr.org/english/_info/index_rdp_en.html

Comunidades Económicas Regionais (CERs) - Comunidade dos Estados do Sael e do Sara (CEN-SAD): www.cen-sad.org - Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA): www.comesa.int - Comunidade Leste Africana (EAC): www.eac.int - Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC): www.ceeac-eccas.org - Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS): www.ecowas.int - Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD): www.igad.org - Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC): www.sadc.int - União Magrebe Árabe / Union du Maghreb Arabe (UMA): www.maghrebarabe.org/en

Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL): www.icglr.orgSecretariado Executivo da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes LagosP.O. Box 7076Bujumbura - BURUNDITelefone: (257) 22 25 682/5/7Fax: (+257) 22 25 6828E-mail: [email protected] O texto integral do Pacto dos Grandes Lagos e dos respectivos Protocolos está disponível em:www.lse.ac.uk/collections/law/projects/greatlakes/ihl-greatlakes-summary-new-docmt.htm

Instituições Nacionais para os Direitos Humanos (NHRIs): - Rede de NHRIs Africanas: www.nanhri.org - Fórum das Instituições Nacionais para os Direitos Humanos: www.nhri.net

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33A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

Parlamento Pan-Africano: www.pan-african-parliament.org

União Interparlamentar (UIP): www.ipu.org

Associação de Parlamentares Europeus para África (AWEPA): www.awepa.org

Comissão Internacional de Juristas: www.icj.org

Lista de Guias / Manuais / Recursos importantes

Princípios Orientadores Relativos aos Deslocados Internos www.brookings. edu/fp/projects/idp/resources/GPPortuguese.pdf

- Annotations to the Guiding Principles on Internal Displacement, revised edition, 2008: www.asil.org/pdfs/stlp.pdf

Deslocados Internos: Um Arabouço de Responsabilidade Nacional, Abril 2005, www.brookings.edu/~/media/Files/rc/reports/2005/04_national_responsibility_framework/04_national_ responsibility_framework_Port.pdf

IASC Framework on Durable Solutions for Internally Displaced Persons, Março 2010, www.brookings.edu/reports/2010/0305_internal_displacement.aspx

Protecting Internally Displaced Persons: A Manual for Law and Policymakers, Outubro 2008, www.brookings.edu/papers/2008/1016_internal_displacement.aspx

A Guide for Civil Society: The Great Lakes Pact and the Rights of Displaced People, Setembro 2008, www.internal-displacement.org/greatlakes

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34 AU ECOSOCC e IDMC | Julho de 2010

1 Centro de Monitorização de Deslocação Interna, Global Overview of Internal Displacement 2009, Maio de 2010.

2 Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários e Centro de Monitorização de Deslocação Interna, Monitoring Disaster Displacement in the Context of Climate Change, Setembro de 2009.

3 Para informações sobre o número de conflitos (in-ternacionais e nacionais), ver o Programa de Dados sobre Conflitos de Uppsala, www.pcr.uu.se. Um gráfi-co dos números de conflitos de diferentes tipos pode ser consultado em www.pcr.uu.se/research/UCDP/graphs/conflict_types_2008.pdf.

4 Os Princípios Orientadores foram apresentados pelo Representante do Secretário-Geral das Nações Unidas para Pessoas Deslocadas Internamente na Comissão das Nações Unidas sobre Direitos Humanos na sua quinquagésima quarta sessão em 1998 (E/CN.4/1998/53/Add.2) como aditamento ao seu relatório anual (E/CN.4/1998/53). Os Princípios Orientadores foram traduzidos para mais de 40 línguas.

5 O Parágrafo 2 da Introdução aos Princípios Orientadores afirma que “pessoas deslocadas inter-namente são pessoas ou grupos de pessoas forçadas ou obrigadas a fugir ou a abandonar as suas casas ou locais de residência habitual, particularmente em resultado de ou para evitar os efeitos de conflito ar-mado, situações de violência generalizada, violações de direitos humanos ou catástrofes naturais ou pro-vocadas pelo homem, ou para evitar os seus efeitos, e que não tenham atravessado a fronteira de um país reconhecido internacionalmente.”

6 O site www.unhcr.org/pages/49c3646c4d6.html fornece estatísticas sobre refugiados. As estatísti-cas sobre PDIs encontram-se disponíveis em www.internal-displacement.org.

7 Preâmbulo e Artigos 2(e), 3(2)(b), 4(3), 5(6), 5(7), 8(3)(c), 8(3)(d), 9(3), 11(3).

8 Preâmbulo e Artigos 3(2)(c), 5(5), 9(2)(b). 9 Artigo 3(2)(b). 10 Walter Kälin, Guiding Principles on Internal

Displacement: Annotations, edição revista. Estudos sobre Política Jurídica Transnacional No 38 (The American Society of International Law e The Brookings Institution – Projecto da Universidade de Berna sobre Deslocação Interna), 2008.

11 Centro de Monitorização de Deslocação Interna e Iniciativa Internacional para os Direitos de Refugiados,

Notas

The Great Lakes Pact and the Rights of Displaced People: A Guide for Civil Society, Setembro de 2008, www.internal-displacement.org/greatlakes.

12 Artigo 1(k). 13 Artigo 9(2)(l). 14 Artigos 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13. 15 Artigos 4, 10. 16 Artigos 3, 5 e 9. 17 Artigo 11. 18 Artigo 3(2)(b). 19 Artigo 7(5). 20 Artigo 7(4). 21 Artigo 8(3). 22 Artigo 14(3). 23 Artigos 8(1) e 8(2), respectivamente. 24 Artigo 2. 25 Artigo 4(1). 26 Artigo 4(2). 27 O Artigo 1 define práticas perniciosas como “todo o

comportamento, atitudes e/ou práticas que afectem negativamente os direitos fundamentais de pessoas, tais como, mas não apenas, direito à vida, saúde, dignidade, instrução, integridade mental e física e educação”.

28 Artigo 10. 29 Artigo 4(5). 30 Artigo 5(1). 31 Artigo 5(5). 32 Artigos 3, 4, 5, 7, 9, 10 e 11. 33 Artigo 9(2)(b). 34 Artigo 9(2)(c). 35 Artigo 9(1)(d). 36 Artigos 3(1)(j) e 5(7). 37 Artigo 6. 38 Princípios Orientadores 24-27. 39 As claúsulas relacionadas exclusivamente com or-

ganizações internacionais ou agências humanitárias internacionais encontram-se nos Artigos 5(3), 5(5) e 6.

40 Preâmbulo e Artigos 2(e), 3(2)(b), 4(3), 5(6), 5(7), 8(3)(c), 8(3)(d), 9(3), 11(3).

41 Artigos 5(6)-5(7). 42 Artigos 3(1)(d), 5(1), 9(1)(a) e 9(2)(a). 43 Walter Kälin, Princípios Orientadores sobre

Deslocação Interna: Anotações, Edição Revista. Estudos em Política Legal Transnacional Nº 38 (Sociedade Americana de Direito Internacional e Instituição Brookings – Projecto da Universidade de Berna sobre Deslocação Interna), 2008, p.13.

44 Artigo 13.

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35A Convenção de Kampala ao serviço das PDIs | Guia para a sociedade civil sobre o apoio da ratificação e implementação da Convenção sobre a Protecção e Assistência às Pessoas Deslocadas Internamente em África

45 Artigos 9(2)(i), 11(4), 11(5) e 12. 46 Artigos 9(2)(k), 9(2)(l), 10(2) e 11(2). 47 Artigos 7(5)(c) e 9(2)(h). 48 Artigos 2(a), 2(c), 3(2)(e) e 11. 49 Artigo 14. 50 Artigo 14(4). 51 Idem. 52 Para obter mais informações, consultar Centro de

Monitorização de Deslocação Interna e Iniciativa Internacional para os Direitos de Refugiados, The Great Lakes Pact and the Rights of Displaced People: A Guide for Civil Society, Setembro de 2008, www.internal-displacement.org/greatlakes.

53 Artigo 14(4). 54 De acordo com o Art. 18º da Convenção de Viena

de 1969 sobre o Direito de Tratados, os estados que tenham assinado a Convenção sobre PDIs são “obri-gados a abster-se de actos que anulassem o objecto e finalidade” da Convenção. Pode consultar um resu-mo dos países membros da UA que assinaram e/ou ratificaram a Convenção de Kampala em www.africa-union.org/root/au/Documents/Treaties/treaties.htm.

55 Artigo 14(1). 56 Artigos 3(1)(a) e 4(1). 57 Para obter mais informações consulte Comité sobre

Direitos Económicos, Sociais e Culturais, General Comment 4: The Right to Adequate Housing (art. 11.1 of the Covenant), 13 de Dezembro de 1991; e General Comment 7: The Right to Adequate Housing (art. 11.1 of the Covenant): Forced Evictions, 20 Maio de 1997.

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