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CELSO EDUARDO LELLIS DE ANDRADE CARVALHO A CONTRIBUI˙ˆO SOCIAL DEVIDA PELO EMPREGADO: INCIDENTE SOBRE CRDITOS RESULTANTES DE CONDENA˙ˆO JUDICIAL EM FACE DO ENUNCIADO 368 DO TST Dissertaªo apresentada Banca Examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de Sªo Paulo, como exigŒncia parcial para a obtenªo do ttulo de Mestre em Direito TributÆrio, sob a orientaªo do Professor Doutor Paulo de Barros Carvalho. PUC-SP 2006

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  • CELSO EDUARDO LELLIS DE ANDRADE CARVALHO

    A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DEVIDA PELO EMPREGADO:

    INCIDENTE SOBRE CRÉDITOS RESULTANTES DE CONDENAÇÃO JUDICIAL EM FACE DO

    ENUNCIADO 368 DO TST

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito Tributário, sob a orientação do Professor Doutor Paulo de Barros Carvalho.

    PUC-SP

    2006

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  • 2

    BANCA EXAMINADORA _____________________________

    _____________________________

    _____________________________

  • 3

    Aos meus pais,

    Bento Antunes M. Q. A. Carvalho e

    Maria Luiza Lellis de Andrade,

    pelos valiosos ensinamentos

    que ficarão para toda a vida.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeço a Deus, que me guiou até este

    momento.

    Também agradeço aos professores e, principalmente, ao

    atencioso Professor Orientador Paulo de Barros Carvalho, pelo

    conhecimento, disponibilidade, paciência e dedicação.

    Enfim, agradeço a todos que estiveram ao meu lado durante esta

    jornada, cujo incondicional apoio e compreensão serviram de estímulo

    para elaboração deste trabalho.

  • 5

    RESUMO

    Partindo da dimensão sintática da linguagem e apoiado no

    pensamento jurídico-filosófico dos Professores Lourival Vilanova e

    Paulo de Barros Carvalho, este trabalho busca analisar a estrutura da

    norma jurídica tributária que ampara a cobrança da contribuição social

    devida pelo empregado incidente sobre os créditos resultantes de

    condenação judicial, com ênfase ao elemento temporal do respectivo

    fato jurídico tributário, colocando-a em confronto com o entendimento

    proferido pelo Tribunal Superior do Trabalho, através do Enunciado

    368.

    Palavras-chave: Contribuição social Enunciado 368 do Tribunal

    Superior do Trabalho elemento temporal.

  • 6

    ABSTRACT

    Starting out with the syntactic dimension of the language and

    supported in the juridical-philosophical thought from Professors

    Lourival Vilanova and Paulo de Barros Carvalho, this work seeks to

    analyze the structure of the juridical tax norm that supports collecting

    the social contribution due by the employee assessed on the credits

    resulting from judicial conviction, with emphasis on the temporal

    element of the respective juridical tax fact, placing it in confrontation

    with the understanding pronounced by the Superior Labor Court,

    through Statement 368.

    Key-words: Social contribution Statement 368 from the Superior

    Labor Court temporal element.

  • 7

    SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................09

    I SISTEMAS.....................................................................................13

    II NORMA JURÍDICA.......................................................................20 2.1 ESTRUTURA LÓGICA DA NORMA JURÍDICA.....................21 2.2 NORMA JURÍDICA DE ESTRUTURA E DE COMPORTAMENTO.............................................................26

    III NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA...............................................28 3.1 ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA.............29 3.2 ASPECTOS DA NORMA DE TRIBUTAÇÃO.........................32

    IV CLASSIFICAÇÕES JURÍDICAS.................................................41 4.1 O ATO DE CLASSIFICAR.....................................................42

    4.2 CRITÉRIOS JURÍDICOS PARA CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS....................................................................46

    V COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA IMPOSITIVA...............................51 5.1 REPARTIÇÃO, LIMITES E CARACTERÍSTICAS DA COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA........................................52

    VI PRINCÍPIOS................................................................................60 6.1 CONCEITO DE PRINCÍPIO...................................................61

    6.1.1 Princípio da estrita legalidade......................................63 6.1.2 Princípio da anterioridade............................................65 6.1.3 Princípio da Irretroatividade da lei tributária................70 6.1.4 Princípio da Capacidade Contributiva.........................71 6.1.5 Princípio da Não-confiscatoriedade.............................73 6.1.6 Retributividade.............................................................74

  • 8

    VII IMPOSTO SOBRE RENDA E PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA.................................................................................76 7.1 PREDEFINIÇÃO CONSTITUCIONAL DA REGRA-MATRIZ....................................................................77

    7.2 CONCEITO CONSTITUCIONAL DE RENDA E PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA......................79 7.3 CRITÉRIOS DE GENERALIDADE, UNIVERSALIDADE E A PROGRESSIVIDADE......................................................85

    VIII CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS.....................................................88 8.1 NATUREZA TRIBUTÁRIA.....................................................89 8.2 ESPÉCIE TRIBUTÁRIA.........................................................92 8.3 ESPÉCIES DE CONTRIBUIÇÕES......................................101 8.4 NATUREZA TRIBUTÁRIA DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DEVIDA PELO EMPREGADO.............................................109

    IX CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DEVIDA PELO EMPREGADO INCIDENTE SOBRE CRÉDITOS RESULTANTES DE CONDENAÇÃO JUDICIAL E O ENTENDIMENTO SUMULADO ATRAVÉS DO ENUNCIADO 368 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO........................................................................117

    9.1 LEGISLAÇÃO E ENUNCIADO 368 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO................................................118

    CONCLUSÃO...................................................................................131 FONTES E BIBLIOGRAFIA.............................................................140

  • 9

    INTRODUÇÃO

  • 10

    O presente estudo concentra-se na análise do entendimento

    adotado pelo Tribunal Superior do Trabalho quanto às contribuições

    sociais devidas pelo empregado, incidentes sobre as verbas recebidas

    em cumprimento às decisões proferidas pela Justiça do Trabalho.

    Esta pesquisa se justifica em face das diversas interpretações

    que vinham sendo adotadas pelas Varas e Tribunais Regionais do

    Trabalho e, até mesmo, pelo próprio Superior Tribunal do Trabalho,

    que jamais convergiam num entendimento uníssono sobre o tema.

    Diante desse cenário, a par das inúmeras discussões que se

    arrastavam em processos que tramitavam pelas Varas e Tribunais do

    Trabalho, que só faziam retardar o recebimento do crédito trabalhista

    pelo empregado - de natureza eminentemente alimentar -, o Tribunal

    Superior do Trabalho editou recentemente o Enunciado 368, cuja

    redação atual data de 23 de novembro de 2005.

    Este entendimento sumulado pelo Tribunal Superior do

    Trabalho, além de disciplinar a forma de cálculo da contribuição social

    devida pelo empregado incidente sobre tais créditos trabalhistas,

    cuidou do imposto sobre a renda devido em idênticas condições e

  • 11

    incidente sobre as mesmas verbas, dispensando tratamento

    diferenciado para o cálculo de ambos os tributos, notadamente no que

    diz respeito aos critérios de aplicação da correspondente legislação

    em função do tempo.

    Eis, portanto, o alvo de nossa especulação, de modo que a

    indagação a que buscaremos responder é se esta distinção encontra

    fundamento na ordem jurídica positiva.

    Para tanto, partiremos da análise dos sistemas jurídicos e

    seguiremos com uma abordagem sobre a estrutura da norma jurídica,

    vislumbrando a norma tributária em todos seus aspectos,

    principalmente no aspecto quantitativo, que reputamos de maior

    relevância, posto ser decisivo na determinação da natureza do tributo.

    Cuidaremos, na seqüência, dos critérios jurídicos adotados

    para a classificação dos tributos, discriminando as espécies tributárias

    que entendemos possíveis. Trataremos, ainda, da repartição, limites e

    características da competência tributária impositiva, bem como dos

    princípios que norteiam o sistema jurídico tributário.

  • 12

    Analisaremos, a partir das premissas lançadas, a norma

    jurídica que ampara a contribuição social devida pelo empregado, com

    intuito de identificar sua classificação tributária.

    Percorrido esse caminho, esperamos conseguir estabelecer um

    paralelo entre os elementos temporais dos fatos jurídicos tributários

    da contribuição social e do imposto sobre a renda, ambos devidos

    pelo empregado e incidentes sobre os créditos resultantes de

    condenação judicial.

  • 13

    I SISTEMAS

  • 14

    A intervenção da linguagem é imprescindível para fixação e

    transmissão do conhecimento, sem a qual não há como constituir o

    mundo que nos cerca, a que denominamos de realidade. É através da

    linguagem que construímos os fatos do mundo físico e social.1 Não

    que a linguagem crie efetivamente o mundo físico, mas é somente por

    meio dela que o compreendemos.

    O uso da linguagem é pressuposto em qualquer ciência, cuja

    manifestação sempre ocorrerá na forma de um conjunto de

    enunciados, fazendo indispensável um elevado grau de certeza no

    discurso do conhecimento científico, o que lhe afeta diretamente a

    validade. Daí a necessidade de precisarmos o sentido de

    determinados signos, afastando eventual pluralidade de significados e

    incertezas inerentes ao processo comunicacional.

    E embora se admita que a precisão da linguagem dificilmente

    alcançará níveis absolutos, a sua busca é uma exigência

    metodológica fundamental. Apressamo-nos, portanto, em encontrar

    uma definição para o signo sistema, que, a exemplo de diversos

    outros, padece destes vícios comunicacionais, denominados de 1 CARVALHO, Paulo de Barros. IPI Comentários sobre as regras gerais de interpretação da tabela NBM/SH (TIPI/TAB). In: Revista Dialética de Direito Tributário, nº12, Setembro de 1996. p.43.

  • 15

    ambigüidade e vaguidade, que permitem ao emissor da mensagem o

    uso dos vocábulos de acordo com suas próprias conveniências,

    afastando-se do rigor inerente às proposições científicas.

    Eurico Marcos Diniz de Santi, constrói o conceito de sistema,

    ao ponderar:

    Tomemos a ciência enquanto linguagem, isolando-a abstratamente da relação que mantém com o objeto, restam enunciados e proposições. Pondo à margem os enunciados, obtemos tão-só as proposições. Se estas proposições entram em relação, formando um todo unitário, atendendo à aparência de ordem e racionalidade que induzem à certeza, em que as partes convergem para um mesmo ponto, de modo a se confirmarem reciprocamente, tem-se um sistema científico.2

    Paulo de Barros Carvalho assim o descreve:

    Onde houver um conjunto de elementos relacionados entre si e aglutinados perante uma referência determinada, teremos a noção fundamental de sistema.3

    A partir destas definições, podemos inferir que um sistema

    necessariamente será formado por elementos cuja soma compõe o

    todo, bem assim por um vínculo emanado de um conceito

    2 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Lançamento tributário. 2ªed. São Paulo: Max Limonad, 2001. p.47. 3 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 2ªed. São Paulo: Saraiva, 1999. p.40.

  • 16

    fundamental, que relaciona mínima e coerentemente estas partes,

    sem o que desaparece a noção harmônica e unitária ínsita ao

    conceito de sistema.

    Aplicando-se esse conceito ao conjunto de normas jurídicas

    válidas em determinado espaço e num específico tempo, extrairemos

    a noção de sistema empírico do direito positivo. Ouçamos, a esse

    respeito, Paulo de Barros Carvalho:

    Se pudermos reunir todos os textos do direito positivo em vigor no Brasil, desde a Constituição Federal até os mais singelos atos infralegais, teremos diante de nós um conjunto integrado por elementos que se inter-relacionam, formando um sistema. As unidades desse sistema são as normas jurídicas que se despregam dos textos e se interligam mediante vínculos horizontais (relações de coordenação) e liames verticais (relações de subordinação-hierárquica).4

    No entanto, também se constitui como sistema a Ciência que

    descreve este plexo de normas jurídicas, o que nos faz entrever duas

    espécies de sistemas jurídicos, quais sejam, sistema de direito

    positivo e sistema da Ciência do Direito.

    Ambos são classificados como sistemas proposicionais

    nomoempíricos, cujos componentes são elementos lingüísticos com 4 COELHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p.10.

  • 17

    referência empírica, sendo o primeiro, nomoempírico prescritivo, e o

    segundo, nomoempírico descritivo.

    Manifestam-se em níveis hierárquicos diversos de linguagem,

    encontrando-se as proposições da Ciência do Direito como

    metalinguagem, numa relação de sobrenível para com o seu objeto, o

    direito positivo, que figura como linguagem-objeto.

    O direito positivo, por se tratar de um conjunto de enunciados

    destinados a regular a conduta das pessoas em suas relações inter-

    subjetivas, é vertido em linguagem prescritiva, submetido à lógica

    deôntica (lógica das normas), motivo por que as normas jurídicas

    sempre serão válidas ou inválidas. Seu discurso é classificado como

    técnico, que tem por base a linguagem natural acrescida de termos

    científicos.

    Este sistema é formado tal qual uma pirâmide, de modo que

    em seu ápice está a norma hipotética fundamental concebida por

    Kelsen, e na sua base são encontradas as regras individuais de

    máxima concretude, propiciando duas formas de análise pela

  • 18

    dogmática jurídica, quais sejam, estática e dinâmica, conforme anotou

    Hans Kelsen.

    A primeira tem por objecto o Direito como um sistema de normas em vigor, o Direito no seu momento estático; a outra tem por objeto o processo jurídico em que o Direito é produzido e aplicado, o Direito no seu movimento.5

    Uma norma pertence ao sistema de direito positivo e, pois, tem

    validade, se o respectivo fundamento derivar de outra norma que lhe é

    hierarquicamente superior, até o alcance da norma fundamental,

    responsável pelo caráter unitário e homogêneo deste conjunto. Tais

    elos, entre cada elemento deste sistema, são implementados através

    do processo de derivação e fundamentação que, em última análise,

    confirmam-lhe a unidade.

    A Ciência do Direito, por seu turno, tem por objeto uma outra

    camada de linguagem a ordem jurídica posta, analisada tanto na

    sua feição estática como dinâmica -, cujos enunciados descritivos,

    vazados em linguagem científica, adquirem a valência de verdade ou

    5 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 2ªed. São Paulo: Martins Fontes, 1987. p.110.

  • 19

    falsidade, aplicando-se a este sistema a lógica clássica (lógica das

    ciências), seguindo as imposições formais do pensamento, quais

    sejam, os princípios da não-contradição, da identidade e do meio

    excluído6, fazendo da coerência entre suas unidades um requisito

    essencial.

    6 COELHO, Sacha Calmon Navarro. Op. cit., 2000. p.6.

  • 20

    II NORMA JURÍDICA

  • 21

    2.1 ESTRUTURA LÓGICA DA NORMA JURÍDICA

    Para garantir um pleno acesso ao fenômeno jurídico, é

    necessário, primeiramente, isolar as manifestações normativas, que

    se exteriorizam como porções de linguagem dotadas de estrutura

    deôntica.

    Estas porções são encontradas no discurso do legislador, o

    que, por vezes, leva a confundir a noção de artigo de lei com o

    conceito de norma jurídica.

    Uma lei, enquanto conjunto de enunciado prescritivo, pode

    conter nenhuma ou várias normas, pois estas emergem do resultado

    de um trabalho de interpretação produzido pelo homem, que encontra

    um sentido deôntico nos textos de direito positivo - que antes de

    reduzidos à norma, não passam de resíduos de tinta num papel -, cuja

    significação, desvelada pela inteligência humana, compõe a norma

    jurídica, portadora do mínimo deôntico. A norma jurídica é, grosso

    modo, a idéia que o texto legislado cria na mente de seu intérprete.

  • 22

    A estrutura normativa, nesse sentido, é composta logicamente

    de uma hipótese e de uma tese, onde a hipótese - em se tratando de

    norma geral e abstrata - descreve um fato de possível ocorrência, ao

    passo que a tese, normativamente vinculada à hipótese, tem a

    estrutura interna de proposição prescritiva. As normas jurídicas

    assumem uma estrutura deôntica mínima, constituída por um juízo

    condicional, onde se associa uma conseqüência à realização de um

    acontecimento previsto.

    Assim, o antecedente normativo descreve uma situação de fato

    de possível ocorrência7, ou de ocorrência já consumada8. O

    conseqüente, por sua vez, estabelece uma relação jurídica entre

    sujeitos indeterminados9 ou entre sujeitos específicos10, vinculando

    dois sujeitos de direito, de modo que sobre esta relação incide um

    functor deôntico assumindo a forma de um dos três modais deônticos

    possíveis, quais sejam, obrigatório (o), proibido (v) ou permitido (p).

    A generalidade e a individualidade são conceitos que se

    referem aos destinatários da norma, sendo geral aquela que se volta a

    7 Norma abstrata. 8 Norma concreta. 9 Norma geral. 10 Norma individual.

  • 23

    indeterminados sujeitos, e individual, por sua vez, aquela que se dirige

    a um determinado indivíduo ou grupo identificado de indivíduos. A

    abstração e concretude, a seu turno, dizem respeito ao fato descrito

    no antecedente da norma, que será abstrata quando nele contiver a

    tipificação de um conjunto de fatos, e concreta se no seu antecedente

    houver um fato especificado no espaço e no tempo.

    Nesse contexto, partindo da premissa de que a norma jurídica

    está voltada ao condicionamento da conduta humana, seu sentido

    deôntico somente será alcançado se a violação do dever inscrito no

    conseqüente de uma norma estiver agregado a uma segunda

    conseqüência, que é a imposição do cumprimento daquele mesmo

    dever.

    A par disso, a possibilidade de descumprimento das normas de

    direito material faz com que os sistemas normativos estabeleçam

    normas prevendo a intervenção do Estado-Juiz. Vale dizer, o direito

    material disciplina as relações jurídicas surgidas por força das normas

    primárias, de sorte que nas ocasiões em que essas relações não se

    desenvolverem naturalmente, atingindo a sua extinção conforme

  • 24

    prescrito no conseqüente daquela norma, surgirá o direito processual,

    normas secundárias.

    À norma primária incumbe, pois, a tarefa de prescrever um

    determinado dever, cujo descumprimento implicará uma providência

    sancionatória, aplicada pelo Estado-Juiz, que é o conseqüente da

    norma secundária.

    A norma primária descreve fatos lícitos estatuindo direitos e deveres, e a norma secundária descreve fatos ilícitos prescrevendo a possibilidade de atuação do Estado-Juiz, chamada tradicionalmente de sanção.11

    Somente a reunião da norma primária e secundária construirá

    uma norma completa, dotada de uma estrutura apta a revelar

    integralmente a mensagem deôntico-jurídica, ou seja, orientar a

    conduta e prever uma providência coercitiva no caso de seu

    descumprimento.

    Este processo depende, por óbvio, da participação do homem,

    que faz a subsunção e promove a implicação que o preceito normativo

    11 MOUSSALEN, Tárek Moysés. Fontes do direito tributário. São Paulo: Max Limonad, 2001. p.88.

  • 25

    determina, extraindo das normas gerais e abstratas, através de

    linguagem competente, as normas individuais e concretas.

    Sendo assim, um comando expresso em linguagem só

    alcançará o status de comando jurídico quando possuir a estrutura

    acima exposta, de modo que, somente desta forma, estará apto a

    condicionar o comportamento humano em suas relações

    intersubjetivas.

  • 26

    2.2 NORMA JURÍDICA DE ESTRUTURA E DE COMPORTAMENTO

    Além das normas que regulam diretamente o comportamento

    das pessoas, conforme vimos anteriormente, o sistema de direito

    positivo também regula a própria produção das normas jurídicas que o

    compõe. Assim, conforme classificação idealizada por Norberto

    Bobbio, são denominadas normas de estrutura aquelas destinadas à

    produção de outras normas, e normas de conduta aquelas dirigidas

    ao comportamento humano.

    Ressalve-se que toda norma jurídica, em última análise, tem

    como finalidade orientar a conduta humana, uma vez que, ou está

    voltada ao condicionamento da conduta humana como objeto final, ou

    dirige-se ao comportamento humano com o escopo de conduzir a

    produção normativa. Se a aplicação de uma norma possuir como

    efeito imediato e mediato regular um determinado comportamento,

    tratar-se-á de norma de conduta. Por outro lado, quando a aplicação

    de uma determinada norma tiver como objetivo imediato regular uma

    conduta para mediatamente produzir uma outra norma,

    denominaremos aquela primeira norma de norma de estrutura.

    É de se observar, seguindo a classificação proposta por

    Norberto Bobbio, que ambas as normas podem ser encontradas em

  • 27

    diversos graus normativos. Com efeito, a título de exemplo, a

    Constituição da República Federativa do Brasil possui normas que

    atribuem imediatamente direitos e deveres ao cidadão, bem como

    detêm outras que regulam o processo legislativo, as quais nada

    tratam, portanto, do comportamento intersubjetivo. Outrossim, da

    mesma forma que existem leis ordinárias dirigidas diretamente aos

    cidadãos, há outras de mesmo grau, cujas normas apenas oferecem

    instruções aos magistrados sobre a maneira pela qual estes deverão

    produzir as normas individuais e concretas, que são suas decisões.

    Arrematando o assunto, o professor Paulo de Barros Carvalho

    distingue as normas de comportamento e de estrutura,

    respectivamente, da seguinte forma:

    (...) numa análise mais fina das estruturas normativas, vamos encontrar unidades que têm como objetivo final ferir de modo decisivo os comportamentos interpessoais, modalizando-os deonticamente como obrigatório (O), proibidos (V) e permitidos (P), com o que exaurem seus propósitos regulativos. Essas regras são terminativas de cadeias de normas. Outras paralelamente dispõem sobre condutas, porém tendo em vista a produção de novas estruturas deôntico-jurídicas. São normas que aparecem como condição sintática para a elaboração de outras regras, a despeito de veicularem comandos disciplinadores que se vertem igualmente sobre os comportamentos intersubjetivos.12

    12 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 2ªed. São Paulo: Saraiva, 1999. p.35.

  • 28

    III NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA

  • 29

    3.1 ESTRUTURA DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA

    A norma tributária - entendida como todas aquelas que compõe

    o conjunto das normas de direito tributário material - é o meio pelo

    qual o estado imputa ao sujeito passivo o dever de recolher

    determinada quantia aos cofres públicos, tendo em vista a efetiva

    realização no mundo fenomênico do fato previsto na hipótese

    normativa, consoante termos expressos em lei. Simplificando: a

    norma descreve um fato ao qual se imputa um comando de entregar

    certa soma de dinheiro ao Estado.

    Não é o conseqüente da norma tributária, no entanto, que a

    identifica como tal. De fato, em diversas outras situações o comando é

    o mesmo, tal qual naquela em que alguém viole uma disposição legal

    e seja obrigado a pagar uma multa, ou cause algum dano ao Estado e

    tenha que indenizá-lo, ou, ainda, por alguma situação contratual, veja-

    se obrigado a efetuar o respectivo pagamento ao Estado. Nota-se,

    portanto, que em todos estes casos, o conseqüente da norma de

    direito material é idêntico: entregar determinada quantia de dinheiro

    ao erário público.

  • 30

    Dessa forma, o que diferencia a norma tributária material das

    outras e permite seu isolamento é o seu antecedente, onde o

    respectivo comando levar específica importância em dinheiro ao

    Estado - deverá estar atrelado à hipotese: se acontecer um fato X,

    que não seja ilícito. Além disso, o fato descrito no antecedente de

    uma norma tributária sempre estará ligado a alguma manifestação

    econômica.

    O professor Geraldo Ataliba explica:

    (...) uma lei descreve hipoteticamente um estado de fato, um fato ou um conjunto de circunstâncias de fato, e dispõe que a realização concreta, no mundo fenomênico, do que foi descrito, determina o nascimento de uma obrigação de pagar um tributo.13

    Parte da doutrina e os próprios textos de direito positivo

    denominam de fato gerador tanto a fórmula legislativa, hipotética e

    abstrata, descritora de um fato de possível ocorrência no mundo dos

    fenômenos, como também o próprio evento consumado, que se

    amolda perfeitamente àquele corpo de linguagem, o que ensejaria o

    processo de incidência da norma tributária e desencadearia o

    surgimento da relação jurídica entre o Estado e o particular.

    13 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. São Paulo: Malheiros, 2002. p.53.

  • 31

    No entanto, a descrição legislativa vem antes da ocorrência do

    fato, tratando-se, portanto, de duas realidades distintas, as quais, sob

    pena de comprometer o rigor científico, não podem receber a mesma

    denominação.

    Por esta razão que o Professor Paulo de Barros Carvalho

    distingue a previsão normativa do evento realizado no nível das

    realidades materiais, nomeando o conceito legal de hipótese

    tributária, e, por sua vez, de fato jurídico tributário o fato ocorrido no

    mundo fenomênico, que se subsume àquela previsão legal.14

    14 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 14ªed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.241.

  • 32

    3.2 ASPECTOS DA NORMA DE TRIBUTAÇÃO

    Quanto aos aspectos da norma tributária, é necessário

    esclarecer, de plano, que a análise individual de cada uma deles não

    colide com o caráter unitário da norma jurídica que os contém.

    Embora a hipótese tributária e, por conseguinte, o respectivo fato

    jurídico tributário sejam unidades lógicas incindíveis, a análise de per

    si de seus aspectos e critérios não torna divisível o que, em essência,

    é indivisível.

    Através de uma elucidativa analogia, o Professor Paulo de

    Barros Carvalho demonstra que o estudo desses diversos aspectos

    não acarreta a perda da identidade - substancialmente unitária - da

    norma tributária e do fato sobre o qual ela incidiu. Ilustra, aquele

    professor, que apesar da incontestável natureza incindível e unitária

    de uma esfera metálica - a qual, caso dividida, formaria semi-esferas

    , a sua análise sob diversos aspectos, tais como, peso, brilho,

    tamanho, forma, etc, não importaria na separação do inseparável.

  • 33

    É imprescindível, outrossim, a presença de todos os cinco

    aspectos - material, pessoal, espacial, temporal e quantitativo - para a

    caracterização do fato jurídico tributário.

    Muito bem. O primeiro aspecto a ser comentado será o

    material, que é portador de dados substanciais à caracterização, no

    mundo concreto, do evento descrito, abstrata e hipoteticamente, no

    antecedente da norma. É um dos componentes lógicos da compostura

    integral da hipótese tributária. Refere-se aos seus elementos

    substanciais, às circunstâncias materiais e objetivas que permitem

    sua identificação no plano existencial, abstraindo-se as coordenadas

    de tempo e espaço. Não há que se confundir, portanto, o critério

    material - cerne da hipótese normativa - com a própria hipótese, vista

    em sua totalidade.

    Para ensejar a incidência da norma tributária e fazer nascer

    uma relação jurídica, o legislador deve selecionar algumas

    propriedades dos fatos eleitos como aptos a criar a obrigação

    tributária. E isso é feito através de expressões, que ou designam um

    fato qualquer, alheio a uma atuação estatal, como ser proprietário de

    veículo, auferir rendas, ou consistem numa atuação estatal, por

  • 34

    exemplo: pavimentar ruas, conceder licença, realizar obra que

    valorize imóvel particular, etc..

    Este aspecto contém a indicação da substância essencial da

    hipótese tributária, dando-lhe consistência, sendo, pois, decisivo na

    sua configuração. É aspecto relevante para se identificar a espécie e

    subespécie a que pertencem o tributo, conforme especificaremos

    posteriormente.

    Ainda, para que o fato descrito no antecedente da norma

    tributária dê origem a uma relação jurídica, isto é, à obrigação

    tributária, vinculando os respectivos sujeitos, é necessário que a sua

    concreta realização ocorra dentro de um limite espacialmente

    determinado. Nem sempre é suficiente, no entanto, que tal fato ocorra

    dentro do âmbito de validade territorial da lei que instituiu o tributo.

    Com efeito, há casos em que o próprio legislador especifica lugares,

    onde o fato deverá ocorrer para estar apto a irradiar os efeitos que lhe

    são característicos. É o caso, por exemplo, do imposto de importação,

    cujo fato jurídico tributário necessariamente ocorrerá nas chamadas

    repartições alfandegárias. Da mesma forma, quanto ao IPTU, que

  • 35

    alcança tão-somente os imóveis localizados dentro do perímetro

    urbano do Município.

    Eis, portanto, o aspecto espacial da norma tributária, que está

    intimamente ligado com a pessoa política de direito público interno, a

    qual tem legitimidade para criar, abstratamente, o respectivo tributo.

    Ao lado destes aspectos, a hipótese normativa detém outros

    elementos que determinam, explicita ou implicitamente, o momento da

    consumação do fato imponível. Trata-se do aspecto temporal,

    localizado no suposto da norma tributária.

    São circunstâncias de tempo que indicam quando certos fatos,

    caso subsumíveis à norma tributária, estarão aptos a ensejar o

    nascimento da respectiva obrigação tributária. Realmente, antes da

    consumação do fato inexiste obrigação tributária.

    E com a ocorrência destes fatos aptos à criação da obrigação

    tributária, documentados em linguagem competente, constituir-se-á

    uma relação jurídica, cujos sujeitos ativos e passivos que estão

    relacionados com as circunstâncias objetivas definidas em lei - são

  • 36

    indicados pelo aspecto pessoal da norma tributária, encontrado no

    seu prescritor.

    O sujeito ativo é aquele que tem a aptidão para figurar no pólo

    ativo da relação jurídica nascida com a ocorrência do fato jurídico

    tributário. Sempre estará, ainda que implicitamente, determinado no

    conseqüente da norma tributária. É, pois, quem tem legitimidade de

    exigir do sujeito passivo a conduta prescrita na norma tributária: levar

    específica importância em dinheiro ao Estado.

    Tanto pode ser a pessoa política titular da competência

    impositiva, como um terceiro indicado por uma lei emanada daquela

    pessoa titular da competência para quem foi delegada a capacidade

    tributária ativa.

    Note-se que capacidade tributária ativa não se confunde com

    competência tributária, uma vez que esta é a competência atribuída à

    determinada pessoa política de direito público interno para criar

    tributos, a qual tem legitimidade para descrever os aspectos

    suficientes e necessários à identificação do fato jurídico tributário.

  • 37

    A capacidade tributária, ao contrário da competência tributária,

    é delegável por lei, através da qual a pessoa titular daquela

    competência transfere a outra pessoa a titularidade do crédito

    tributário e a legitimidade de sua arrecadação, o que é chamada pela

    doutrina de parafiscalidade. Inexistirá a parafiscalidade, contudo, se

    determinado sujeito ativo, não titular da competência, após arrecadar

    e fiscalizar o tributo, transferir os respectivos recursos à pessoa

    política que o instituiu.

    Em contrapartida, aquele que realiza o fato ou se amolda na

    situação objetiva descrita na hipótese de incidência, é denominado de

    sujeito passivo. Esta pessoa individual ou coletiva, embora por vezes

    não esteja obrigada a cumprir o conseqüente da norma tributária,

    sempre está diretamente relacionada com o fato imponível.

    A própria Constituição Federal, através de normas de estrutura,

    limita o legislador infra-constitucional, que deverá eleger o sujeito

    passivo da obrigação tributária atentando-se àquelas normas que lhe

    deram competência, bem como aos princípios que norteiam o sistema

    constitucional positivo.

  • 38

    Embora este tema suscite várias discussões doutrinárias, aqui

    é suficiente registrar que é denominado de sujeito passivo da norma

    tributária aquele que a própria lei indica para figurar no pólo passivo

    da relação jurídica. Por outro lado, aquele que sofrerá a diminuição

    patrimonial em prol do erário público é denominado de contribuinte,

    que nem sempre se confunde com o sujeito passivo da relação

    jurídica tributária.

    E por último, a norma jurídica tributária possui o aspecto

    quantitativo, apontado pela doutrina como um dos elementos

    nucleares da norma de tributação, posto ser determinante na

    configuração da espécie tributária.

    O aspecto quantitativo é formado pela conjugação da base de

    cálculo e alíquota, sendo ambas encontradas no prescritor da norma

    jurídica tributária.

    A base de cálculo, além da função mensuradora do

    comportamento inserto no cerne do fato jurídico, possui a função

    objetiva de compor a específica determinação da dívida, indicando

    que fator deve unir-se àquela perspectiva dimensível para que

  • 39

    apareça o exato valor da prestação que pode ser exigida pelo sujeito

    passivo.

    Ao lado disso, a base de cálculo ostenta uma importantíssima

    função comparativa, que é critério decisivo à determinação da

    natureza do tributo. Realmente, colocada em comparação com o

    núcleo da hipótese de incidência, ou seja, com o aspecto material da

    norma tributária, a base de cálculo tem o condão de confirmá-lo,

    infirmá-lo ou afirmar aquilo que não constou de modo claro do texto

    legal, revelando a real natureza de determinado tributo, por vezes

    equivocadamente nominado pelos legisladores.

    Outrossim, a base de cálculo viabiliza a observância do

    princípio da capacidade contributiva, corolário do princípio da

    igualdade, dado que os fatos escolhidos pelo legislador, tratando-se

    de impostos, devem ser signos presuntivos de riqueza, de tal sorte

    que a base de cálculo possibilite aos contribuintes, que de alguma

    forma participaram do fato jurídico tributário, uma obrigação

    pecuniária de acordo com a grandeza econômica daquele evento.

  • 40

    E não é só. No conseqüente da norma jurídica tributária,

    conjugada à base de cálculo, encontramos a alíquota, encarregada de

    produzir o exato valor que pode ser exigido pelo sujeito ativo. É

    componente aritmético utilizado na determinação da quantia que será

    objeto da prestação tributária.

    A análise da etimologia da palavra alíquota leva a crer que

    sempre se tratará de uma parcela ou quota da base de cálculo.

    Entretanto, não há óbice para que seja ela expressa em termos

    monetários, casos em que a base de cálculo não o será, porquanto se

    deve viabilizar a obtenção de um valor expresso em pecúnia, que

    retratará o quantum debeatur.

    A exemplo da base de cálculo, a alíquota também contribui

    decisivamente para que seja assegurado o primado da igualdade.

    Com efeito, quer mantendo a alíquota fixa, quer fazendo variações

    progressivas, o legislador procura assegurar princípios

    constitucionais, além de possibilitar sejam alcançados objetivos

    extrafiscais.

  • 41

    IV CLASSIFICAÇÕES JURÍDICAS

  • 42

    4.1 O ATO DE CLASSIFICAR

    Todos objetos, através da linguagem, manifestam certos

    atributos sensíveis ao ser cognoscente, que, elegendo um critério,

    poderá separá-los e nomeá-los de acordo com as semelhanças

    existentes entre si. Eis, pois, o ato de classificar.15

    Essa faculdade de estabelecer classes é ilimitada16, porquanto

    é o homem17 quem define os critérios, os quais poderão se multiplicar

    e variar até onde alcançar o engenho humano. Além disso, dentro dos

    limites de um critério predeterminado, enquanto seja notada uma

    mínima diferença, será possível estabelecer subdivisões. É através

    desse procedimento lógico que são criados os gêneros, espécies e

    subespécies.

    15 Assim definiu Paulo de Barros Carvalho: Classificar é distribuir em classe; é dividir os termos segundo a ordem da extensão ou, para dizer de modo mais preciso, é separar os objetos em classes de acordo com as semelhanças que entre eles existam, mantendo-os em posições fixas e exatamente determinadas com relação às demais classes. CARVALHO, Paulo de Barros. IPI Comentários sobre as regras gerais de interpretação da tabela NBM/SH (TIPI/TAB). In: Revista Dialética de Direito Tributário, nº12, Setembro de 1996. p.54. 16 Ibidem. p.54. 17 Nesse sentido, Roque Antonio Carrazza leciona que: As classificações só são possíveis porque o agente classificador leva em conta o que as coisas a serem classificadas têm de semelhante, desconsiderando o que têm de dissímil. Deveras, como não há, no Universo, duas realidades rigorosamente iguais, as classificações só são possíveis porque o homem, fazendo, com sua inteligência, abstrações, equipara coisas que, em rigor, não são idênticas. CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 18ªed. São Paulo: Malheiros, 2002. p.451.

  • 43

    Os gêneros, por mais abrangente, encampam as espécies,

    que, numa sucessão, contêm as subespécies, também suscetíveis de

    fracionamento, conforme critério adotado pela mente humana, onde

    residem estas figuras lógicas.

    Um objeto enquadrado em determinada espécie detém

    atributos ínsitos ao gênero a que pertence, somados a outros

    específicos que os diferencia dos demais encontrado naquela mesma

    classe. O mesmo ocorrerá em relação à subespécie e espécie, e

    assim sucessivamente.18

    Essa faculdade de estabelecer critérios, e, por conseguinte, de

    classificar, embora ilimitada, deve observar algumas regras inerentes

    à operação de dividir, conforme alertou Paulo de Barros Carvalho.

    São elas: 1) A divisão há de ser proporcionada, significando dizer que a extensão do termo divisível há de ser igual à soma das extensões dos membros da divisão. 2) Há de fundamentar-se num único critério. 3) Os membros da divisão devem excluir-se mutuamente. 4) Deve fluir ininterruptamente, evitando aquilo que se chama salto na divisão19.

    18 Ouçamos, mais uma vez, Paulo de Barros Carvalho: A presença de atributos ou caracteres que distinguem determinadas espécies de todas as demais espécies de um mesmo gênero denomina-se diferença, ao passo que diferença específica é o nome que se dá ao conjunto de qualidades que se acrescentam ao gênero para a determinação da espécie, de tal modo que é lícito enunciar: a espécie é igual ao gênero mais a diferença específica (E= G + De). CARVALHO, Paulo de Barros. Op. cit., 1996. p.54. 19 Ibidem. p.55.

  • 44

    Dentro dessa sistemática, portanto, é que estão inseridas as

    classificações jurídicas, cujas discussões estão além de meras

    querelas acadêmicas, já que demarcam o regime jurídico aplicável,

    sempre levando em consideração a norma jurídica como dado

    essencial e respectivo ponto de partida.

    No campo do direito tributário as classificações jurídicas

    mostram-se ainda mais importantes. Com efeito, é através deste

    recurso metodológico humano que definiremos qual a natureza de

    determinado tributo e, por conseguinte, a qual regime jurídico está

    submetido, de sorte que se possa aferir se tal exação foi instituída

    pela pessoa política competente e de acordo com as normas de

    estrutura que determinam sua criação. A respeito disso, Geraldo

    Ataliba fez as seguintes ponderações:

    Aí está a magnitude da importância da classificação dos tributos, principalmente quando tão extensa e minuciosamente prestigiada pelo próprio texto constitucional, como ocorre no Brasil (ao contrário de outros sistemas, onde a escassez de regras constitucionais resulta em ampla liberdade legislativa). (...) Conforme um tributo se configure como inserto numa ou noutra categoria, as conseqüências serão diferentes. No Brasil, é de fundamental importância proceder com rigor na tarefa de identificar as peculiaridades de cada espécie, porque a rigidez do sistema constitucional

  • 45

    tributário fulmina de nulidade qualquer exação não obediente rigorosamente aos moldes constitucionais estritos.20

    Nesse mesmo sentido, Roque Antonio Carrazza conclui:

    Daí a importância de termos critérios científicos, que nos permitam verificar, com acentuado grau de certeza, se estamos realmente diante de um tributo e de que tipo, e se a pessoa política que o criou invadiu, ou não, esfera que a Constituição reservou a outra entidade tributante21

    Deixamos assente, assim, a relevância das classificações

    jurídicas e, por conseguinte, a imprescindibilidade de uma perfeita

    identificação das espécies e subespécies tributárias.

    20 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. São Paulo: Malheiros, 2002. p.124. 21 CARRAZZA, Roque Antonio. Op. cit., 2002. p.450.

  • 46

    4.2 CRITÉRIOS JURÍDICOS PARA CLASSIFICAÇÃO DOS

    TRIBUTOS

    A adoção de critérios, conforme já ressaltamos, é primordial

    para qualquer classificação, motivo pelo qual nos adiantamos em

    apontar que adotamos como critério classificatório a vinculação ou

    não do tributo a uma atividade estatal, conforme introduzido na

    doutrina nacional por Geraldo Ataliba, que despreza qualquer

    manifestação de ordem política, econômica, financeira ou

    administrativa, sempre partindo da análise exclusiva da norma jurídica

    tributária, com foco sobre o binômio aspecto material e base de

    cálculo.22 O interprete estará habilitado, assim, a identificar a espécie

    tributária correspondente à exação sob análise, devendo ser

    ignoradas a denominação e demais características formais adotadas

    pela lei, bem como a destinação prevista para o produto arrecadado.

    Ouçamo-lo:

    Quanto à natureza, os tributos podem ser classificados em duas grandes espécies, que se distinguem pela radical diversidade de regimes jurídicos a que se submetem. O critério para esta classificação está na consistência da h. i., ou seja, no seu aspecto material. A classificação jurídica dos tributos tem como único fundamento o dado legislativo, em que se constitui a h.i., descrita pelo legislador.23

    22 ATALIBA, Geraldo. Op. cit., 2002. p.123. 23 Ibidem. p.123.

  • 47

    Este critério classificatório encontra fundamento no artigo 145,

    § 2º, da Constituição Federal, que prescreve que as taxas não

    poderão ter base de cálculo própria de impostos, bem assim no artigo

    154, I, do mesmo texto legal, o qual dispõe que

    (...) a União poderá instituir: I mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição.

    Pois bem. Ao vislumbrar o aspecto material e a base de cálculo

    de determinado tributo, é possível classificá-lo em vinculado e não-

    vinculado a uma atividade estatal, conforme se extrair do conjunto

    formado por aquele binômio, onde a base de cálculo, a nosso ver,

    sempre preponderará sobre o aspecto material. Realmente, é a base

    de cálculo, na sua função comparativa, que irá, em última análise,

    confirmar, infirmar ou afirmar o aspecto material da norma tributária,

    identificando a real natureza de determinado tributo.24

    Logo, se a base de cálculo de certa exação consubstanciar-se

    na perspectiva dimensível de alguma atividade estatal referida ao

    contribuinte, estaremos diante de um tributo vinculado: uma taxa ou

    contribuição de melhoria. Por outra, se relativa à outra situação ou 24 CARVALHO, Paulo de Barros. Op. cit., 2002. p.328.

  • 48

    fato lícito que não guarde qualquer relação com a atuação do poder

    público, identificaremos um tributo não-vinculado, um imposto.

    E seguindo a classificação proposta por Geraldo Ataliba, ainda

    há uma subdivisão a ser observada dentro da classe dos tributos

    vinculados, cujo critério classificatório reside na referibilidade da

    atividade estatal ao contribuinte. Será taxa se a atividade estatal se

    referir diretamente ao contribuinte. Contribuição de melhoria, por sua

    vez, se a referibilidade for indireta, dependendo de um elemento

    intermediário, qual seja, a valorização do respectivo imóvel.

    E é exatamente neste particular em que a classificação

    tripartite se distingue da chamada bipartite, sustentada por Alfredo

    Augusto Becker25, para quem o processo classificatório se encerra

    após a divisão dos tributos em vinculados e não-vinculados,

    resumindo-os em imposto ou taxa. Apesar de partirem da análise do

    mesmo dado jurídico do critério material e da respectiva perspectiva

    dimensível da hipótese tributária -, a teoria adotada por Geraldo

    Ataliba dá continuidade à classificação dos tributos vinculados,

    25 BECKER, Alfredo Augusto. Teoria Geral do Direito Tributário. 3ªed. São Paulo: Lejus, 1998. p.380.

  • 49

    adotando como critério a imediatidade da referibilidade da atuação

    estatal ao contribuinte.

    São vários os autores que compartilham desse entendimento,

    dentre eles Paulo de Barros Carvalho:

    As clássicas, mais difundidas, vêm carregadas de fortes conotações extrajurídicas, principalmente econômicas. Esse é o motivo pelo qual nos inclinamos por aquela que tem como fonte inspiradora a circunstância de existir, na hipótese normativa, um vínculo entre o fato descrito e uma atuação do Estado (no sentido amplo). Trata-se da classificação dos tributos em vinculados e não vinculados a uma atuação do Poder Público, didaticamente exposta por Geraldo Ataliba. (...) A vinculação pode ser direta, como nos casos mencionados, ou indireta, como na realização de uma obra pública que suscite valorização dos imóveis adjacentes. Sempre que nos depararmos com a vinculação direta, imediata, teremos as taxas, ao passo que a vinculação indireta, mediata, indica a existência de uma contribuição de melhoria, consoante último exemplo. (...) As outras contribuições, por revestirem ora o caráter de tributos vinculados, ora o de impostos, não constituem categoria à parte, pelo que hão de subsumir-se numa das espécies enumeradas.26

    Confirmando esta tese, Roque Antonio Carrazza leciona:

    Podemos, portanto, dizer que, no Brasil, o tributo é o gênero, do qual o imposto, a taxa e a contribuição de melhoria são as espécies. A esse respeito, a doutrina nacional não pode sequer disputar. Tal classificação, porque apadrinhada pelo próprio Código Supremo, há de ser considerada por todos quantos se disponham a estudar as espécies e subespécies tributárias, em nosso País. É o texto Excelso repetimos

    26 CARVALHO, Paulo de Barros. Op. cit., 2002. p.35.

  • 50

    que prescreve que a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal estão credenciados a criar impostos (art. 145, I) , taxas (art. 145, II) e contribuição de melhoria (art. 145, III). 27

    Deve ser ressalvado, contudo, que os dois últimos juristas

    citados não dão autonomia à espécie contribuições como fez

    Geraldo Ataliba. Com efeito, para eles a única espécie tributária sob

    este signo seria a contribuição de melhoria, dividindo os tributos,

    pois, em imposto, taxa e contribuição de melhoria28.

    Perfilhamos, portanto, a teoria, com base nos critérios

    expostos, que três são as espécies tributárias possíveis: imposto, taxa

    e contribuição de melhoria.

    27 CARRAZZA, Roque Antonio. Op. cit., 2002. p.453. 28 Cf. TOMÉ, Fabiana Del Prado. Contribuição para a seguridade social à luz da Constituição Federal. Curitiba: Juruá Editora, 2004. p.71.

  • 51

    V COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA IMPOSITIVA

  • 52

    5.1 REPARTIÇÃO, LIMITES E CARACTERÍSTICAS DA

    COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA

    A competência para tributar está prevista na Constituição

    Federal, Título VI, Capítulo I: "Do Sistema Tributário Nacional",

    abrangendo os artigos 145 e seguintes.

    Pode ser conceituada como o poder conferido pela

    Constituição Federal às pessoas jurídicas de direito público interno

    para a produção de normas jurídicas sobre tributos. É, noutro dizer, a

    aptidão que as pessoas políticas possuem para expedir regras

    jurídicas de natureza tributária inovadoras do ordenamento jurídico.

    Diferente é capacidade tributária ativa - possibilidade de

    integrar a relação jurídica como sujeito ativo. A competência tributária

    situa-se no altiplano constitucional e é intransferível29, ao passo que a

    capacidade tributária ativa está no nível do exercício da competência,

    momento posterior, em que o legislador ordinário elege as pessoas

    componentes do vínculo abstrato, podendo, portanto, ser transferida.

    29 Princípio da indelegabilidade da competência tributária.

  • 53

    O Texto Magno, em seu art. 145, distribui e delimita à União,

    aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, competência para

    tributar e, ainda, relaciona em seus incisos e parágrafos quais tributos

    podem instituir e cobrar.

    No que pertine aos impostos, em seus artigos 153, 155 e 156,

    sob os títulos: "Dos impostos da União", "Dos impostos dos Estados e

    do Distrito Federal" e "Dos impostos dos Municípios", a Constituição

    delimita a competência destes entes políticos para sua instituição,

    prescrevendo-a expressamente.

    Reservou, também, à União30 a criação de quaisquer outros

    impostos não previstos no artigo 153 da Constituição Federal através

    de sua competência residual, desde que o faça mediante lei

    complementar, sempre respeitando os campos impositivos estaduais,

    municipais e distrital, bem como observados o princípio da não-

    cumulatividade31 e, por óbvio, os direitos e garantias individuais. Da

    30 Constituição Federal: Art. 154. A União poderá instituir (...) I mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição. 31 O princípio da não-cumulatividade existe, grosso modo, para impedir que o ônus do imposto se vá acumulando em cada operação. Se incidiu sobre o insumo, por exemplo, não se deve reproduzir esse ônus no produto final. Evita-se, assim, a superposição de incidências sobre uma série de operações que visam completar um único ciclo econômico de produção.

  • 54

    mesma forma, conferiu excepcionalmente à União competência para

    instituir os impostos extraordinários no caso ou iminência de guerra

    externa, conforme comentaremos com mais detalhes quando da

    análise das características da competência tributária.

    O critério material de cada imposto é decisivo para divisão da

    competência impositiva entre a União, os Estados, os Municípios e o

    Distrito Federal. O constituinte descreveu de maneira objetiva os

    enunciados conotativos, seletores de marcas, que poderão ser

    utilizados pelos legisladores ordinários nas hipóteses normativas dos

    impostos criados pelos respectivos entes públicos. É na Constituição

    Federal, portanto, que encontramos referência à materialidade das

    hipóteses tributárias dos impostos, com exceção, apenas, daqueles

    albergados pela competência residual prevista no mencionado artigo

    154, I, da Lei das leis.

    Assim contribui o Professor Roque Antonio Carrazza32:

    A pessoa política, ao criar in abstracto o imposto de sua competência, deve necessariamente associar-lhe, à materialidade (serviço, renda, operação mercantil, propriedade territorial urbana etc.), o verbo que, exprimindo

    32 CARRAZZA, Roque Antonio. Imposto sobre a renda. São Paulo: Malheiros, 2005. p.31-32.

  • 55

    uma ação (ser, estar, permanecer, auferir, prestar, vender etc.), esteja em sintonia com os princípios constitucionais (capacidade contributiva, não-confiscatoriedade, igualdade, etc.) que o informam. É isto que evita conflitos de competência impositiva, ao mesmo tempo em que garante que os contribuintes serão tributados de forma adequada isto é, com integral respeito à Constituição.

    Relativamente às taxas, embora não haja disposição

    constitucional expressa quanto à repartição da competência

    impositiva, o seu exercício não fica ao talante do legislador ordinário.

    Deveras, podem ser instituídas por quaisquer pessoas de direito

    público, desde que, no entanto, os serviços públicos e as diligências

    ensejadoras dos atos de polícia estejam inseridos nos lindes da

    competência administrativa do ente político que a instituir.

    O mesmo pode ser dito quanto às contribuições de melhoria,

    que também podem ser instituídas por qualquer dos entes políticos,

    contanto que a realização da obra pública esteja dentro da faixa de

    atribuições da respectiva pessoa que a instituiu. O professor Roque

    Carrazza mais uma vez leciona:

    Relembramos meteoricamente que a competência administrativa para prestar o serviço público, para praticar o ato de polícia ou para realizar a obra pública é que determina a competência da pessoa política para tributar por

  • 56

    meio de, respectivamente, taxa de serviço, taxa de polícia ou contribuição de melhoria.33

    Pois bem. A distribuição de competência tributária definida pela

    Constituição Federal é taxativa, não admitindo, a rigor, quaisquer

    invasões entre as pessoas jurídicas de direito público interno. A

    exceção repousa na já mencionada permissão concedida à União, a

    título extraordinário, de instituir impostos de competência atribuída aos

    Estados, Distrito Federal e aos Municípios, no caso de guerra externa

    ou na sua iminência, nos termos do artigo 154, II, do texto

    constitucional:

    A União poderá instituir: (...) II- na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

    É por este motivo que o Professor Paulo de Barros Carvalho,

    com quem concordamos, sustenta que impostos privativos e

    exclusivos são apenas os federais, razão pela qual resulta incabível o

    predicado de privatividade à competência tributária34.

    33 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 18ªed. São Paulo: Malheiros, 2002. p.551. 34 Cf. CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 14ªed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.214.

  • 57

    Na mesma linha de raciocínio, não se pode, tampouco,

    classificar a competência tributária como facultativa. Embora a

    grande maioria das normas de estrutura que atribuem competência às

    pessoas políticas institua uma faculdade ao respectivo legislador

    ordinário, tal não ocorre com o ICMS. Quanto aos demais tributos, por

    exemplo, da mesma forma que se permite a um determinado

    Município a instituição do ISS (Imposto sobre serviço de qualquer

    natureza), permite-lhe que não o faça. É a permissão bilateral.

    Em se tratando do ICMS, entretanto, à vista de seu caráter

    nacional35, o legislador ordinário do Distrito Federal e dos Estados é

    obrigado a instituí-lo, devendo, ainda, seguir estritamente o prescrito

    nas leis complementares e nas resoluções do Senado. Conclui-se,

    então, que a facultatividade não é atributo do exercício de todo e

    qualquer competência tributária, motivo por que preferimos não a

    adotar como classificação necessária.

    35 Acontecem que esse tributo, recolhido historicamente em países de estrutura unitária, onde gravam, de forma não-cumulativa, operações sobre mercadorias e serviços, foi transportado pura e simplesmente para a realidade brasileira e entregue às ordens normativas estaduais. Tratou-se, então, de preservar a uniformidade indispensável para o bom funcionamento de um imposto que se pretendia sobre o valor acrescentado, técnica difícil de ser implantada fora das peculiares condições de um país de administração centralizada. Sucederam-se medidas generalizadoras, numa tentativa de padronizar o fenômeno da incidência e evitar que a autonomia das pessoas competentes colocasse em risco a sistemática impositiva. Isso explica a expressiva participação da União no processo de elaboração normativa do ICMS. Ibidem. p.220.

  • 58

    E mais, quanto à inalterabilidade da competência tributária -

    característica também sustentada pela doutrina -, entendemos que se

    respeitados os direitos e garantias individuais do contribuinte, bem

    como os princípios federativo e da autonomia municipal, o legislador,

    dotado do poder constituinte derivado, poderá alterar a discriminação

    das competências constantes atualmente da Lei das Leis.

    Enfim, na esteira dos ensinamentos do Professor Paulo de

    Barros Carvalho, limitamos em três os atributos da competência

    tributária. Indelegabilidade, irrenunciabilidade e incaducabilidade.

    Os dois primeiros decorrem da própria rigidez da Constituição

    ao repartir a competência tributária entre os entes políticos. Em vão

    seria o ingente cuidado do legislador constituinte em tal mister se uma

    pessoa política pudesse renunciar ou delegar a outra a aptidão de

    legislar inauguralmente sobre matéria tributária. A segurança Jurídica

    pretendida pelo constituinte jamais seria alcançada.

    A incaducabilidade da competência tributária também é

    essencial à rigidez e estabilidade pretendida pelo Texto

    Constitucional, o qual não limita o exercício da competência tributária

    a certo lapso temporal. Se não fosse assim, os mandamentos

  • 59

    constitucionais, constantes das normas de estrutura, esvaziar-se-iam

    à medida em que os entes políticos não exercessem os poderes que

    lhes foram atribuídos.

  • 60

    VI PRINCÍPIOS

  • 61

    6.1 CONCEITO DE PRINCÍPIO

    Embora já houvéssemos utilizado anteriormente o termo

    princípio, reputamos ser aqui o melhor lugar para que façamos uma

    análise semântica deste signo dentro do ordenamento jurídico.

    Princípio, como sugere a própria etimologia da palavra, indica o

    ponto de partida, início ou começo de algo. Não é bem com esta

    acepção, no entanto, que falamos em princípios jurídicos.

    Retratamo-lo, aqui, como alicerce ou pedra angular de um

    sistema. Um princípio auxilia no entendimento de determinados ramos

    normativos, dando-lhes unidade, irradiando validade e sustentando

    normas de inferior posição hierárquica, as quais giram em torno desta

    referência comum.

    O Professor Paulo de Barros Carvalho percebeu quatro

    diferentes usos do vocábulo princípio. São eles:

    a) como norma jurídica de posição privilegiada e portadora de valor expressivo; b) como norma jurídica de posição privilegiada que estipula limites objetivos; c) como valores insertos dentro de normas jurídicas de posição privilegiada, mas considerados independentemente das estruturas

  • 62

    normativas; d) como o limite objetivo estipulado em regra de forte hierarquia, tomado, porém, sem levar em conta estrutura da norma. Nos dois primeiros, temos princípio como norma; enquanto nos dois últimos, princípio como valor ou como critério objetivo.36

    O termo princípio, ainda quando se desvela sob a estrutura

    de uma norma, ora se apresenta como valor, ora como limite-objetivo.

    No primeiro caso, para encontrar o conteúdo e alcance dos princípios,

    o interprete deverá mergulhar no campo das subjetividades, já que

    eles assumem porte de valores, tal como ocorreria ao se analisar uma

    suposta violação ao princípio da segurança jurídica ou da justiça.

    Tarefa mais fácil, contudo, tem o interprete daqueles princípios

    havidos como limites objetivos, quer se leve em conta, ou não, a

    estrutura da respectiva norma. Vejamos, por exemplo, o princípio da

    legalidade, que será respeitado se, e somente se, determinada

    obrigação imposta ao súdito decorra de norma introduzida no

    ordenamento jurídico por ato legal. Assim, se o veículo introdutor for

    um ato infralegal, facilmente se notará o desrespeito àquele

    princípio37.

    36 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 14ªed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.141. 37 Cf. Ibidem. p.142.

  • 63

    Embora alguns princípios constem explicitamente do

    ordenamento jurídico, facilitando a compreensão do seu interprete, tal

    fato, por si só, não o coloca em superior posição hierárquica em

    relação aos demais subjacentes no texto legislado - muitas vezes

    encontrados através de uma trabalhosa construção interpretativa -,

    denominados pela doutrina de princípios implícitos.

    6.1.1 Princípio da estrita legalidade

    Conquanto fosse suficiente o disposto no artigo 5º, inciso II, da

    Constituição Federal38 para fazer emergir do sistema de direito

    positivo brasileiro o principio da legalidade tributária, o legislador

    constituinte tentou ser ainda mais cauteloso.

    A par da importância deste cânone, garantidor máximo da

    segurança dos indivíduos diante da tributação, o texto constitucional

    não economizou palavras, assegurando de forma expressa, em seu

    artigo 150, inciso I39, o princípio da legalidade tributária.

    38 Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. 39 Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça (...).

  • 64

    A lei, analisada no contexto do sub-sistema do Direito

    Tributário brasileiro, incorpora relevância ainda maior. Nesta seara, o

    princípio da legalidade adquire contornos de maior severidade,

    ganhando, por isso, um adjetivo: princípio da estrita legalidade

    tributária.

    Para satisfazer este cânone específico, não basta que o

    veículo introdutor da regra tributária seja uma lei. A pessoa política,

    detentora da competência para criar um determinado tributo, deve

    definir, precisamente, todos os aspectos da respectiva norma jurídica,

    de maneira que a tipificação dos fatos necessários e suficientes ao

    nascimento do tributo estejam indicados de forma expressa e taxativa

    naquele corpo de linguagem.

    Isto impede que a Administração Pública se arvore na função

    de legislador, impondo outros ônus aos cidadãos, diversos daqueles

    descritos minuciosamente no texto legal.

    Analisemos o que ensina Paulo de Barros Carvalho:

    Assinale-se que à lei instituidora do gravame é vedada deferir atribuições legais a normas de inferior hierarquia, devendo, ela mesma, desenhar a plenitude da regra-matriz

  • 65

    da exação, motivo por que é inconstitucional certa prática, cediça no ordenamento brasileiro, e consistente na delegação de poderes para que órgãos administrativos completem o perfil jurídico de tributos. É o que acontece com diplomas normativos que autorizam certos órgãos da Administração Pública federal a expedirem normas que dão acabamento à figura tributária concebida pelo legislador ordinário. Mesmo nos casos em que a Constituição dá ao Executivo Federal a prerrogativa de manipular o sistema de alíquotas, como no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), tudo se faz dentro de limites que a lei especifica.40

    Desse modo, não é suficiente que a lei apenas crie um tributo.

    É essencial estabelecer tudo quanto seja necessário à existência da

    relação obrigacional tributária, sem relegar à Administração Pública a

    tarefa de preencher os vazios deixados nas porções de linguagem

    emanadas dos órgãos legislativos.

    6.1.2 Princípio da anterioridade

    Antes da promulgação da Emenda Constitucional nº 42 de

    dezembro de 2003, vigia o princípio da anterioridade - denominado

    por alguns de anterioridade do exercício - previsto na alínea b, do

    inciso III, do art. 150, da Carta Máxima, segundo o qual era vedado

    aos entes tributantes exigir tributo com exceção dos tributos de

    40 Ibidem. p.60.

  • 66

    natureza extrafiscal41 e das contribuições sociais as quais possuem

    tratamento diverso previsto no artigo 195, § 6º, da Constituição

    Federal42 - no mesmo exercício em que houvera sido publicada a lei

    que os instituiu ou majorou.

    Tal regra causava desconforto na doutrina, pois, no mais das

    vezes, não alcançava seu escopo de evitar a surpresa do contribuinte

    e de garantir a segurança jurídica. Com efeito, os entes de direito

    público tributantes publicavam as leis tributárias em 30 ou 31 de

    dezembro, passando a exigir a exação logo dois ou três dias depois,

    maculando tais princípios.

    Dentre desse quadro, a Emenda Constitucional 42 de

    dezembro de 2003 introduziu a chamada anterioridade qualificada,

    que é meio muito mais eficiente à consagração da esperada

    segurança jurídica, visto que confere um lapso mínimo ao contribuinte

    para se adequar à nova ou majorada tributação, diferentemente da

    anterioridade do exercício financeiro, que nem sempre assim servia.

    41 Imposto de importação (II) exportação (IE), o imposto sobre produtos industrializados (IPI), o imposto sobre operações financeiras (IOF) e o imposto extraordinário de guerra. 42 As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicado o disposto no artigo 150, III, b.

  • 67

    Assim, importante modificação foi realizada em nosso sistema

    constitucional tributário, de modo que, atualmente, em regra, não

    basta o respeito à anterioridade do exercício financeiro, mas também,

    que se aguarde, cumulativamente, o acréscimo de noventa dias.

    Portanto, para que o tributo seja eficaz no primeiro dia do exercício

    subseqüente, a lei que o instituiu ou majorou, por exemplo, deve ser

    publicada no dia primeiro de outubro.

    Eis a nova redação do artigo 150, III, da Constituição Federal,

    com as alterações introduzidas pela mencionada Emenda

    Constitucional:

    Art. 150: Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III cobrar tributos (...) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (...) § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. (grifo nosso).

  • 68

    No entanto, conforme se observa da segunda parte do §1º, do

    dispositivo constitucional acima transcrito, a Emenda Constitucional

    42/03 também trouxe exceções à anterioridade qualificada. São elas:

    ao imposto de importação (II) e exportação (IE), imposto sobre

    operações financeiras (IOF), imposto extraordinário de guerra, ao

    empréstimo compulsório e, por fim, ao imposto sobre renda e

    proveitos de qualquer natureza (IR).

    Restaram, pois, configuradas em nosso sistema constitucional

    tributário brasileiro algumas importantes alterações. Dentre elas,

    merece comentário que somente o (II) Imposto de Importação, o

    Imposto de Exportação (IE), o Imposto sobre operações financeiras

    (IOF), o imposto extraordinário de guerra e o empréstimo compulsório

    previsto no artigo 148, inciso I, da Carta Magna, constituem tributos

    que verdadeiramente não estão abrangidos pelo princípio da

    anterioridade, sendo exceção total a essa regra, tanto à anterioridade

    do exercício financeiro quanto da anterioridade qualificada, logo,

    passando a ser exigido desde o momento da publicação da lei, salvo

    disposição em contrário desta.

  • 69

    Por outro lado, o imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)

    não deve observância ao princípio da anterioridade tributária do

    exercício, prevista no artigo 150, §1º, primeira parte, da Constituição

    Federal. Todavia, deve cumprir o preceito da anterioridade qualificada,

    previsto no mesmo dispositivo constitucional, em sua parte final.

    Atualmente, para se exigir ou majorar o IPI, basta a estrita obediência

    aos noventa dias de anterioridade, contados da data de publicação da

    lei que desse modo proceder.

    E no que diz respeito ao Imposto de Renda, embora este

    tributo não possua a urgência dos impostos aduaneiros ou do imposto

    extraordinário de guerra, ele também foi excetuado da regra da

    anterioridade qualificada, de modo que o contribuinte continuará

    obrigado a conviver com a surpresa tributária e, por conseguinte, com

    a falta de Segurança Jurídica.

    Quanto aos tributos que nos interessam, deixamos registrado

    que, a exemplo Imposto de Renda cuja anterioridade não sofreu

    modificação, a Emenda Constitucional 42 de dezembro de 2003 não

    trouxe alterações neste particular às Contribuições Sociais, as quais

  • 70

    continuam a observar apenas a anterioridade nonagesimal prevista no

    artigo 195, § 6º, da Constituição Federal.

    6.1.3 Princípio da Irretroatividade da lei tributária

    Conforme fizera em relação ao princípio da legalidade, o

    legislador constituinte foi propositalmente redundante, repetindo no

    artigo 150, III, a, do Texto Magno o que já havia previsto em seu artigo

    5º, inciso XXXVI.

    Suficiente, pois, seria o enunciado dentre os direitos e

    garantias fundamentais do cidadão, onde se estabeleceu que a a lei

    não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa

    julgada.

    Repetiu-o, porém, de maneira específica ao tratar das

    limitações do poder de tributar, proibindo a cobrança de tributos em

    relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência de lei

    que os houver instituído ou aumentado.

  • 71

    Embora entendamos que tal técnica não traga maior eficácia à

    norma jurídica, o certo é que a Constituição Federal, em atenção ao

    primado da Segurança Jurídica, pretendeu evitar a retroatividade da

    lei tributária, vale dizer, o alcance de atos ou situações já consumadas

    no tempo e no espaço, antes mesmo da sua entrada em vigor.

    6.1.4 Princípio da Capacidade Contributiva

    O princípio da capacidade contributiva vem expresso no artigo

    145, § 1º, da Constituição Federal, que prescreve: Sempre que

    possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados

    segundo a capacidade econômica do contribuinte,...

    É o princípio que informa a tributação por meio de imposto,

    através do qual se busca tratar de forma equivalente àqueles que

    realizam um fato idêntico ou que se encontram na mesma situação, e,

    por outro lado, distintamente aqueles que os manifestam de maneira

    peculiar.

    O legislador, noutras palavras, deve dar o mesmo tratamento

    aos fatos econômicos que exprimem igual capacidade contributiva e,

  • 72

    no entanto, cuidar de forma diversa daqueles que a demonstram

    distintamente.

    Eis motivo pelo qual o legislador ordinário, ao fazer a descrição

    da hipótese normativa de determinado imposto, deve buscar critérios

    objetivos identificadores de fatos ou situações com conteúdo

    econômico, os quais exteriorizem a riqueza do sujeito passivo.

    Atentemos que a graduação dos impostos segundo a

    capacidade contributiva objetiva é uma exigência expressamente

    inserta no artigo 145, § 1º, da Constituição Federal, a qual, sob pena

    de inconstitucionalidade, deverá ser observada pelo legislador

    ordinário, titular da competência para instituir determinado imposto.

    O mesmo, no entanto, não ocorre com os tributos vinculados,

    notadamente com as taxas, cujo princípio informador é o da

    remunerabilidade ou retributividade ao serviço estatal diretamente

    referido ao contribuinte, cuja base de cálculo não afere a capacidade

    contributiva do sujeito passivo, mas sim os custos da respectiva

    prestação estatal.

  • 73

    6.1.5 Princípio da Não-confiscatoriedade

    Eis um dos princípios previsto expressamente no texto

    constitucional que pode ser classificado como norma jurídica de

    posição privilegiada e portadora de valor expressivo43. Com efeito, à

    vista da subjetividade que encerra o conceito de confisco, não se

    pode atribuir um limite objetivo a tal princípio.

    O artigo 150, IV, da Constituição Federal prescreve ao

    legislador ordinário que lhe é vedado utilizar tributo com efeito de

    confisco. A questão repousa justamente no vocábulo confisco,

    porquanto muitas vezes é difícil encontrar onde está a linha divisória

    entre uma atuação estatal legítima, em sintonia com o ordenamento

    jurídico, e eventual excesso do Poder Público configurador do

    confisco.

    Nesse sentido, o Professor Paulo de Barros Carvalho

    asseverou:

    Aquilo que para alguns tem efeitos confiscatórios, para outros pode perfeitamente apresentar-se como lídima exigência tributária (....). Intrincado e embaraçoso, o objeto

    43 Cf. Ibidem. p.141.

  • 74

    da regulação do referido art. 150, IV, da CF, acaba por oferecer unicamente um rumo axiológico, tênue e confuso, cuja nota principal repousa na simples advertência ao legislador dos tributos, no sentido de comunicar-lhes que existe limite para a carga tributária. Somente isso.44

    Sendo assim, considerando que a tributação excepciona, mas

    não anula o princípio constitucional de proteção à propriedade

    privada, o legislador ordinário, ao exercer sua competência impositiva,

    deverá evitar uma carga tributária que acarrete uma substancial

    redução no patrimônio do contribuinte ou traga dificuldade para a

    manutenção das suas atividades.

    6.1.6 Retributividade

    Primeiramente, vale um pequeno parênteses para lembrar que

    adotamos como critério classificatório a vinculação ou não do tributo a

    uma atividade estatal, partindo da análise exclusiva da norma jurídica

    tributária, com foco sobre o binômio aspecto material e base de

    cálculo. Por conseguinte, se a base de cálculo de certa exação

    consubstanciar-se na perspectiva dimensível de alguma prestação de

    serviço público diretamente referida ao contribuinte ou do exercício do

    poder de polícia, estaremos diante de uma taxa.

    44 Ibidem. p.158.

  • 75

    Disso decorre que o regime jurídico das taxas é regido pelo

    princípio da retributividade, vale dizer, deve traduzir uma

    contraprestação paga ao Estado em razão da limitação de direitos e

    liberdades subjetivas do indivíduo - taxa de polícia - ou da prestação

    de serviço público específico e divisível diretamente referido ao

    contribuinte - taxa de serviço.

    A base de cálculo da taxa deve traduzir, pois, o exato custo do

    Estado com o exercício do poder de polícia ou a prestação do serviço

    público, não havendo espaço para obtenção de lucro com a cobrança

    dessa espécie tributária.

    É dizer: a instituição e a cobrança de taxa serve para que o

    Estado, unicamente, reponha aos cofres públicos os gastos

    experimentados pela atividade estatal diretamente dirigida ao

    indivíduo.

  • 76

    VII IMPOSTO SOBRE RENDA E PROVENTOS DE QUALQUER NATUREZA

  • 77

    7.1 PREDEFINIÇÃO CONSTITUCIONAL DA REGRA-MATRIZ

    A teor do que nos referimos ao tratar da competência tributária

    impositiva, o legislador constituinte, ao discriminá-las, traçou a regra-

    matriz dos impostos, apontando os possíveis aspectos. São eles:

    material, temporal, espacial, pessoal e quantitativo.

    Portanto, ao mesmo tempo em que partilhou as competências

    para instituição de impostos, estabeleceu padrões e moldes

    constitucionais que jamais poderão ser extravasados pelo legislador

    ordinário no exercício de sua competência tributária, o qual, no

    máximo poderá explicitar aquilo que se encontra implícito na

    Constituição, sem lhe alterar a essência ou a ela agregar algo que lhe

    seja novo.

    Eis o que ensina o Professor Roque Antonio Carrazza45:

    De conseqüência, os contribuintes (pessoas físicas ou jurídicas) têm o direito constitucional subjetivo de só serem tributados pela pessoa política competente e, ainda assim, desde que observe a regra-matriz exacional, pré-qualificada no próprio texto Supremo. Logo, o legislador tributário das várias pessoas políticas encontra no Texto Supremo, perfeitamente iluminado e demarcado, o caminho que está

    45 CARRAZZA, Roque Antonio. Imposto sobre a renda. São Paulo: Malheiros, 2005. p.33.

  • 78

    credenciado a percorrer, inclusive quando cria o imposto sobre a renda e os proventos de qualquer natureza.

    A Constituição Federal, nesse contexto, através da norma de

    estrutura extraída do seu artigo 153, III, atribui competência à União

    para tributar, por meio de imposto, a renda e os proventos de qualquer

    natureza.

    In verbis:

    Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (...) III renda e proventos de qualquer natureza;

    O constituinte outorgou ao legislador ordinário da União,

    portanto, a faculdade de criar um imposto que incida sobre renda e

    proventos de qualquer natureza, de modo que os conteúdos

    semânticos destes vocábulos deverão ser retirados da própria

    Constituição, sob pena de se conferir ao legislador infraconstitucional

    legitimidade para alterar o âmbito das competências tributárias

    constitucionalmente estabelecidas.

  • 79

    7.2 CONCEITO CONSTITUCIONAL DE RENDA E PROVENTOS

    DE QUALQUER NATUREZA

    Embora o conceito de renda e proventos de qualquer natureza

    não sobressaia de maneira expressa do Texto Constitucional, é por

    ele pressuposto.

    O legislador federal, pois, não está livre para formular um

    conceito, quer de renda, quer de proventos de qualquer natureza, sob

    pena de invadir a materialidade de outros impostos previstos na

    Constituição, inclusive daqueles compreendidos na faixa de sua

    competência residual, que só poderiam ser legitimamente instituídos

    através de lei complementar.

    E caso isto lhe fosse permitido, em vão seria o trabalho do

    constituinte que rigidamente partilhou e discriminou as competências

    impositivas, o que acarretaria, conseqüentemente, uma cumulação de

    pretensões pelas pessoas políticas tributantes.

    Nessa medida, já podemos concluir que o conceito de renda e

    proventos de qualquer natureza é juridicamente diferente daqueles

    extraídos a partir dos signos importação, propriedade territorial rural,

  • 80

    transmissão inter vivos, operações relativas à circulação de

    mercadorias, e dos demais constantes dos artigos 153, 155 e 156, da

    Constituição Federal.

    Tal inferência, apesar de útil, não é suficiente. É necessário,

    ainda, retirar do Texto Constitucional e circunscrever o conceito

    pressuposto de renda e proventos de qualquer natureza, cujo caminho

    pode se iniciar estremando-os de algumas entidades que lhes são

    próximas, também encontradas em nosso ordenamento jurídico.

    Esta técnica foi utilizada por José Artur Lima Gonçalves46, que

    assim concluiu:

    Identificamos, no texto constitucional, alguns conceitos que, de um modo ou de outro, aproximam-se, tangenciam ou influem no conceito de renda. Tal ocorre com faturamento, patrimônio, capital, lucro, ganho, resultado etc.. Vejamos alguns deles. (...) a expressão faturamento, utilizada pelo art. 195, I, da constituição, refere-se a ingressos, de forma descompromissada em relação à noção de resultado (positivo ou negativo), o que já é sufic