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1 77 Dezembro, 2019 LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIA DIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO Este boletim tem caráter genérico e informativo, não constituindo opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. Para mais informações, entre em contato com nossos advogados ou visite o website www.pinheironeto.com.br. ↑ voltar ao início O boletim eletrônico PrevNotícias é desenvolvido pelos profissionais que integram a área Previdenciária de Pinheiro Neto Advogados. PERIODICIDADE Mensal SÓCIO RESPONSÁVEL Cristiane Ianagui Matsumoto Gago COLABORADORES Mariana Monte Alegre de Paiva, Lucas Barbosa Oliveira, Henrique Wagner de Lima Dias, Samara Ciglioni Tavares, Jéssica Min Kyong Chung, Naomi Sylvia Levy Goldenberg e Pedro Javier Martins Uzeda Leon. CONTATO pinheironeto.com.br Pinheiro Neto LEGISLAÇÃO (FOTO: ISTOCK) Lei nº 13.932/2019 extingue a contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS Muito foi noticiado a respeito da Medida Provisória (MP) nº 905 – que trouxe o “Contrato Verde e Amarelo”, dentre outras medidas, e determinou a extinção da contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS prevista no artigo 1º da Lei Complementar nº 110/2001, com efeitos a partir de 1º.1.2020. Enquanto a referida MP tramita no Congresso Nacional, outra MP, de nº 889, continha exatamente a mesma previsão e acabou sendo convertida em Lei anteriormente: a MP nº 889 foi sancionada na Lei nº 13.932, publicada em 12.12.2019. Segundo o artigo 12 da mencionada Lei, a partir de 1º.1.2020 as empresas estão autorizadas a deixar de pagar o adicional de 10% da multa rescisória sobre o FGTS nas demissões. Ressaltamos que a constitucionalidade da contribuição é tema que há muito é objeto de embate entre a Fazenda Nacional e os contribuintes, e atualmente ainda aguarda definição pelo Supremo Tribunal Federal (STF) (Tema 846 – RE nº 878313). A extinção da contribuição pelo próprio Governo Federal por meio da Lei nº 13.932/2019, a nosso ver, confirma os argumentos de inconstitucionalidade da cobrança – em resumo, o exaurimento da finalidade e a inobservância da base de cálculo prevista no artigo 149 da CF/1988. Portanto, parece-nos que há grandes chances de o STF se posicionar sobre o tema de forma favorável aos contribuintes. Vale, por fim, mencionar o risco de modulação de efeitos de eventual decisão favorável do STF quanto ao período passado, de modo que recomendamos discussão da tese da constitucionalidade em medida judicial específica. Lei nº 13.932/2019 extingue a contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS RFB edita Solução de Consulta nº 292/2019 Tramitação da MP nº 905/2019 Projeto de Lei isenta aposentadoria complementar STF analisa imunidade de entidades beneficentes de assistência social Expectativas para 2020: a pauta do STF

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nº 77Dezembro, 2019

LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO

Este boletim tem caráter genérico e informativo, não constituindo opinião legal para qualquer operação ou negócio específico. Para mais informações, entre em contato com nossos advogados ou visite o website www.pinheironeto.com.br.

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O boletim eletrônico PrevNotícias é desenvolvido pelos profissionais que integram a área Previdenciária de Pinheiro Neto Advogados.

PERIODICIDADE

Mensal

SÓCIO RESPONSÁVEL

Cristiane Ianagui Matsumoto Gago

COLABORADORES

Mariana Monte Alegre de Paiva, Lucas Barbosa Oliveira, Henrique Wagner de Lima Dias, Samara Ciglioni Tavares, Jéssica Min Kyong Chung, Naomi Sylvia Levy Goldenberg e Pedro Javier Martins Uzeda Leon.

CONTATO

pinheironeto.com.brPinheiro Neto

LEGISLAÇÃO

(FOTO: ISTOCK)

Lei nº 13.932/2019 extingue a contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS Muito foi noticiado a respeito da Medida Provisória (MP) nº 905 – que trouxe o “Contrato Verde e Amarelo”, dentre outras medidas, e determinou a extinção da contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS prevista no artigo 1º da Lei Complementar nº 110/2001, com efeitos a partir de 1º.1.2020.

Enquanto a referida MP tramita no Congresso Nacional, outra MP, de nº 889, continha exatamente a mesma previsão e acabou sendo convertida em Lei anteriormente: a MP nº 889 foi sancionada na Lei nº 13.932, publicada em 12.12.2019.

Segundo o artigo 12 da mencionada Lei, a partir de 1º.1.2020 as empresas estão autorizadas a deixar de pagar o adicional de 10% da multa rescisória sobre o FGTS nas demissões.

Ressaltamos que a constitucionalidade da contribuição é tema que há muito é objeto de embate entre a Fazenda Nacional e os contribuintes, e atualmente ainda aguarda definição pelo Supremo Tribunal Federal (STF) (Tema 846 – RE nº 878313).

A extinção da contribuição pelo próprio Governo

Federal por meio da Lei nº 13.932/2019, a nosso ver, confirma os argumentos de inconstitucionalidade da cobrança – em resumo, o exaurimento da finalidade e a inobservância da base de cálculo prevista no artigo 149 da CF/1988. Portanto, parece-nos que há grandes chances de o STF se posicionar sobre o tema de forma favorável aos contribuintes.

Vale, por fim, mencionar o risco de modulação de efeitos de eventual decisão favorável do STF quanto ao período passado, de modo que recomendamos discussão da tese da constitucionalidade em medida judicial específica.

▪ Lei nº 13.932/2019 extingue a contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS

▫ RFB edita Solução de Consulta nº 292/2019 ▫ Tramitação da MP nº 905/2019 ▫ Projeto de Lei isenta aposentadoria complementar

▫ STF analisa imunidade de entidades beneficentes de assistência social

▫ Expectativas para 2020: a pauta do STF

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 77

Dezembro, 2019

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É importante considerar o entendimento da RFB, haja vista que a não inclusão dos primeiros itens na base de cálculo das contribuições previdenciárias poderá gerar autuações fiscais contra as empresas.

No entanto, por outro lado, vale ponderar que o posicionamento da RFB sobre o assunto não deveria ser acatado sem nenhum questionamento, sobretudo por conta de posição pacífica da jurisprudência (inclusive em âmbito de Tribunais Superiores) a respeito da natureza indenizatória de algumas dessas verbas, como é o caso do terço constitucional de férias gozadas e do pagamento de salário nos 15 primeiros dias do auxílio-doença.

RFB edita Solução de Consulta nº 292/2019Recentemente, a Receita Federal do Brasil (RFB) publicou a Solução de Consulta COSIT nº 292/2019, revisitando o seu entendimento a respeito da incidência das contribuições previdenciárias sobre o pagamento de diversas verbas.

Apesar de a redação da ementa da Solução de Consulta dar margem para uma dupla interpretação sobre a (não) tributação de algum destes itens, a análise detalhada do inteiro teor dessa manifestação revela qual é o atual posicionamento da RFB sobre o assunto. Em linhas gerais, temos o seguinte cenário: » Devem ser tributados: o terço constitucional de férias gozadas; o décimo terceiro salário; o adicional de horário extraordinário; o adicional de insalubridade; o descanso semanal remunerado; o salário-maternidade; os 15 dias que antecedem o auxílio-doença; as férias gozadas, e os reflexos do aviso-prévio indenizado no 13º salário;

» Não devem ser tributados: o auxílio-doença (a partir do 16º dia, quando o benefício é pago diretamente pelo INSS); o aviso-prévio indenizado; o vale-transporte pago, inclusive em dinheiro, em montante estritamente necessário para o custeio do deslocamento da residência ao trabalho e vice-versa, em transporte coletivo, como prevê o artigo 1º da Lei nº 7.418/de 1985; e as despesas médicas, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa.

Tramitação da MP nº 905/2019Como mencionado acima, a MP nº 905/2019 ainda está em tramitação no Congresso Nacional. Essa MP trouxe alterações relevantes em matéria previdenciária, em especial no que tange às novas regras de PLR e à regulamentação quanto à concessão de prêmios aos empregados.

A MP aguarda análise pela Comissão Mista, formada por 12 senadores e 12 deputados, que vai se manifestar quanto aos pressupostos constitucionais de relevância e urgência, além do mérito e da adequação financeira/orçamentária da medida. Se aprovada, a MP nº 905/2019 então seguirá para votação no Plenário da Câmara dos Deputados e, após, do Senado Federal.

Dada a relevância das alterações trazidas, é importante acompanhar de perto a tramitação, especificamente para examinar os efetivos impactos das mudanças nas formas de remuneração mencionadas.

(FOTO: ISTOCK)

▫ Lei nº 13.932/2019 extingue a contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS

▪ RFB edita Solução de Consulta nº 292/2019 ▪ Tramitação da MP nº 905/2019 ▫ Projeto de Lei isenta aposentadoria complementar

▫ STF analisa imunidade de entidades beneficentes de assistência social

▫ Expectativas para 2020: a pauta do STF

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 77

Dezembro, 2019

JURISPRUDÊNCIA

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STF analisa imunidade de entidades beneficentes de assistência socialEm 18.12.2019, o STF julgou os Embargos de Declaração opostos no Recurso Extraordinário nº 566.622 e decidiu que aspectos meramente procedimentais para concessão de imunidade a entidades beneficentes de assistência social, como a fiscalização, certificação e controle, podem, sim, ser estabelecidos por meio de Lei Ordinária.

Tal entendimento complementa o julgamento em sede de repercussão geral do referido Recurso Extraordinário, ocasião na qual o Supremo entendeu que apenas a Lei Complementar, que demanda maioria absoluta do Congresso Nacional, pode prever os requisitos para gozo da imunidade prevista na Constituição Federal.

Atualmente, na ausência de Lei Complementar específica, prevalecem os requisitos previstos no artigo 14 do CTN. Quaisquer outras exigências para reconhecimento do direito à imunidade são indevidas, conforme firmou o STF.

Contudo, com o julgamento dos mencionados Embargos, o STF adicionou que os aspectos procedimentais podem ser definidos por Lei Ordinária, sendo dispensável a edição de Lei Complementar. ▪

Projeto de Lei isenta aposentadoria complementarA Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal aprovou, em 11.12.2019, o Projeto de Lei nº 3.689 (PL nº 3.689/2019), que isenta as parcelas de aposentadoria complementar pagas por entidade de previdência complementar recebidas por homens e mulheres a partir de 65 e 60 anos, respectivamente, da tributação de Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF).

Segundo o Senador Federal Jorge Kajuru, autor do projeto, o intuito do PL nº 3.689/2019 é compensar, ao menos em parte, os prejuízos sofridos pelos segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) beneficiários de aposentadoria que têm previdência complementar.

Atualmente, o PL nº 3.689/2019 foi encaminhado para a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde aguarda votação final, quando será decidido, por fim, se o texto legal será aprovado, modificado ou rejeitado no âmbito legislativo. ▪(FOTO: ISTOCK)

▫ Lei nº 13.932/2019 extingue a contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS

▫ RFB edita Solução de Consulta nº 292/2019 ▫ Tramitação da MP nº 905/2019 ▪ Projeto de Lei isenta aposentadoria complementar

▪ STF analisa imunidade de entidades beneficentes de assistência social

▫ Expectativas para 2020: a pauta do STF

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LEGISLAÇÃO JURISPRUDÊNCIADIREITO PREVIDENCIÁRIO COMENTADO nº 77

Dezembro, 2019

DIREITO COMENTADO

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Expectativas para 2020: A pauta do STFCom a política de divulgação prévia da pauta de julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) implementada pelo atual presidente, Ministro Dias Toffoli, passou a ser possível saber de antemão os temas que serão julgados pelo Tribunal no semestre seguinte.

Dentre os temas pautados para o primeiro semestre de 2020, há alguns de extrema relevância para as empresas que envolvem, especificamente, a tributação sobre a folha de salário. Os meses que demandam maior atenção são fevereiro e abril.

Em fevereiro, um julgamento em especial deve gerar grande impacto e será decisivo no âmbito do Direito Previdenciário. Em 5.2.2020, o Tribunal deve julgar o Tema 72 da Repercussão Geral (RE 576.967/PR), que discute a inclusão do benefício salário-maternidade na base de cálculo das contribuições previdenciárias (cota patronal). Vale lembrar que o julgamento já foi iniciado em 2019, mas, por pedido de vista do Ministro Marco Aurélio, foi então suspenso. O assunto é extremamente relevante, dada a sua temática, e o atual placar é favorável às empresas.

Mais dois temas serão julgados em fevereiro: ADPF 188/DF, que discute se a contribuição social do salário-educação deve ser distribuída tendo em conta exclusivamente a proporcionalidade do número de alunos matriculados nas respectivas redes públicas de ensino; e o Tema 207 da Repercussão Geral (RE 598.468/SC), que analisa o direito à imunidade prevista no artigo 149, §2º, I, e 153, §3º, III, da CF/1988 no caso de optantes pelo SIMPLES.

Em março, não ocorrerão julgamentos relevantes no âmbito previdenciário, porém, em abril, duas teses estão na pauta. A primeira, em 1º.4.2020, é a polêmica discussão a respeito da exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/COFINS – o STF deverá julgar os Embargos de Declaração pendentes no RE 574.706/PR e determinar qual parcela do ICMS pode ser excluída (se o destacado nas notas fiscais ou o efetivamente recolhido ao Estado), bem

como deve examinar eventual modulação de efeitos. O impacto será direto na discussão derivada envolvendo a exclusão do ICMS, bem como do ISS, da base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB).

Ainda em abril, o STF deve analisar a tese envolvendo as contribuições ao Sistema S, na medida em que incluiu na pauta o Tema 325 da Repercussão Geral (RE 603.624/SC), que discute a exigibilidade ou não da contribuição destinada ao Sebrae, instituída pela Lei nº 8.209/1990, na redação dada pela Lei nº 8.154/1090, após a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 33/2001.

Dada a relevância dos temas expostos acima, é recomendável acompanhar de perto os julgamentos e avaliar os possíveis impactos, em especial relativos à modulação de efeitos de decisões favoráveis.

Por fim, ressaltamos que a pauta do STF poderá ser alterada pelo Presidente, de modo que outras teses previdenciárias relevantes poderão ser eventualmente julgadas.

Cristiane I. Matsumoto, Pedro Javier Martins Uzeda Leon e Naomi Sylvia Levy Goldenberg, sócia e integrantes de Pinheiro Neto Advogados. ▪

(FOTO: ISTOCK)

▫ Lei nº 13.932/2019 extingue a contribuição social de 10% sobre o saldo do FGTS

▫ RFB edita Solução de Consulta nº 292/2019 ▫ Tramitação da MP nº 905/2019 ▫ Projeto de Lei isenta aposentadoria complementar

▫ STF analisa imunidade de entidades beneficentes de assistência social

▪ Expectativas para 2020: a pauta do STF