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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUCSP ANA FLÁVIA DA COSTA PARENTI A CONTRIBUIÇÃO DAS UNIVERSIDADES DE MASSA PARA A PROMOÇÃO DA MOBILIDADE SOCIOECONÔMICA E CULTURAL DE SEUS CONCLUINTES DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2017

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUCSP

ANA FLÁVIA DA COSTA PARENTI

A CONTRIBUIÇÃO DAS UNIVERSIDADES DE MASSA PARA A

PROMOÇÃO DA MOBILIDADE SOCIOECONÔMICA E CULTURAL

DE SEUS CONCLUINTES

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

SÃO PAULO 2017

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUCSP

ANA FLÁVIA DA COSTA PARENTI

A CONTRIBUIÇÃO DAS UNIVERSIDADES DE MASSA PARA A

PROMOÇÃO DA MOBILIDADE SOCIOECONÔMICA E CULTURAL

DE SEUS CONCLUINTES

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sob orientação da Prof.ª Doutora Noêmia Lazzareschi

SÃO PAULO 2017

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BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________

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“Quando a educação não é

libertadora, o sonho do oprimido é

ser o opressor”.

Paulo Freire

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus amados pais Carlos e Neusa, por tantos sacrifícios feitos para que

eu tivesse a melhor educação que eles puderam me dar;

Agradeço ao meu amado marido Almir, o melhor companheiro nessa jornada da vida;

o homem responsável por eu querer aprender cada vez mais;

À minha queridíssima orientadora Prof.ª Noêmia Lazzareschi, por ter me aceitado

como orientanda, quando a caminhada já havia começado; pela paciência com alguém que

está aprendendo a ser uma cientista social; pelas orientações assertivas; pelas inúmeras

contribuições e correções do texto; por seu enorme coração e por acreditar que tudo daria

certo;

Aos meus filhos caninos Pedrão, Luck e Bento, pela companhia silenciosa; por me

ensinarem a paciência e que o amor num segundo se multiplica e transborda;

Aos participantes dessa pesquisa: aos colegas docentes que se dispuseram a colaborar

e aos alunos ingressantes e concluintes do curso de Administração que responderam aos

questionários, em especial aos que deram as entrevistas.

A todos os meus alunos, de ontem, de hoje e de amanhã, por me mostrarem que eu

escolhi o melhor caminho a ser seguido;

A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) pela bolsa

concedida.

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RESUMO

Este trabalho teve por objetivo investigar e analisar a contribuição das universidades particulares, aqui denominadas de universidades de massa, para a promoção da mobilidade social, econômica e cultural de seus alunos. Para isso, discutiu-se, não só a importância da Universidade na educação nacional e a evolução da educação brasileira nos últimos anos, como também o processo de privatização das universidades e o fenômeno dos grupos financeiros internacionais que “adquirem” faculdades e universidades, transformando-as em grandes conglomerados educacionais, contribuindo, assim, para a precarização da educação superior no país. O levantamento das informações que contribuíram para esse estudo foi realizado a partir da aplicação de questionários aos alunos do curso de Administração em uma Instituição de Ensino Superior privada, localizada na cidade de São Paulo. Também realizamos entrevistas semiestruturadas com os alunos ingressantes no curso (1º e 2º semestre do curso) e com os concluintes (7º e 8º semestres). Professores do curso também responderam um questionário direcionado a levantar informações complementares com relação às condições de trabalho e a forma como as IES particulares de massa tratam seus alunos e professores.

Palavras Chave: Universidades de Massa; Mobilidade socioeconômica; Ensino Superior.

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ABSTRAT

This work looks to investigate and analyse how much private Universities, hereafter designated as mass and profit-oriented Universities, can contribute for rising social, economic and cultural useful capital for its students. To do that, it´s been discussed the importance of those Universities for the National Education efforts, the evolution of the Brazilian Policies in this branch, the impact of the privatization process in the sector, and the influence of international financial groups migrating to this economic activity, by making acquisitions of Faculties and Universities, turning them into great organizations, precarianess Education by assuming a profit-oriented logic. The empirical data were based on surveys taked with students attending to the Course of Business Administration of an important private University in the East of São Paulo city. This course was chosen because it has the biggest number of students enrolled. It´s been picked up students at the beggining and at the end of the course. Teachers were also surveyed in search for informations about work conditions and the relationship with students in classroom. key words: Mass Universities; Socioeconomic Mobility; Higher Education

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Índice de quadros:

Quadro 01. Titulação dos Docentes Pesquisados ..................................................................... 75

Quadro 02. Tempo de Docência dos Pesquisados .................................................................... 76

Quadro 03. Tempo de docência na IES pesquisada ................................................................. 76

Quadro 04. Regime de contratação dos docentes na IES pesquisada ....................................... 76

Quadro 05. Ocupação profissional do docente além da docência ............................................ 77

Quadro 06. Percepção dos docentes sobre as dificuldades dos alunos em sala de aula ........... 77

Quadro 07. Necessidade do docente em diminuir as exigências em sala de aula .................... 78

Quadro 08. Freqüência com que o docente diminui as exigências em sala de aula ................. 78

Quadro 09. Maiores dificuldades vividas pelo docente em sala de aula .................................. 79

Quadro 10. Concordância dos docentes com a matriz curricular do curso de administração da ies pesquisada ........................................................................................................................... 82

Quadro 11. Idade do aluno ingressante .................................................................................... 86

Quadro 12. Sexo do aluno ingressante ..................................................................................... 86

Quadro 13. Cor/etnia ................................................................................................................ 87

Quadro 14. Fator que motivou a escolha do curso por parte do aluno ingressante ................. 88

Quadro 15. Número de moradores na residência do aluno ingressante ................................... 89

Quadro 16. Renda per capta da família do aluno ingressante ................................................. 89

Quadro 17. Existência de parentes do aluno ingressante que possuam curso superior ............ 89

Quadro 18. Benefício de bolsa parcial ou integral ou financiamento estudantil ...................... 90

Quadro 19. Percepção dos alunos ingressantes sobre as dificuldades vividas em sala

de aula ....................................................................................................................................... 92

Quadro 20. Salário recebido pelo aluno pelo trabalho exercido no início da graduação ......... 94

Quadro 21. Expectativa de aumento salarial após a graduação dos alunos ingressantes ......... 96

Quadro 22. Percepção dos alunos ingressantes sobre a importância da graduação nos dias atuais ......................................................................................................................................... 96

Quadro 23. Idade do aluno concluinte .................................................................................... 107

Quadro 24. Sexo do aluno concluinte ..................................................................................... 107

Quadro 25:coe e etnia ............................................................................................................. 108

Quadro 26. Fator que motivou a escolha do curso por parte do aluno ingressante ................ 108

Quadro 27. Comparativo das respostas dos alunos ingressantes e concluintes quanto ao número de moradores na residência ....................................................................................... 110

Quadro 28. Comparativo entre as respostas dos alunos ingressantes e concluintes quanto à renda per capta familiar ......................................................................................................... 110

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Quadro 29. Benefício de bolsa parcial ou integral ou financiamento estudantil .................... 110

Quadro 30. Percepção dos alunos concluintes sobre as dificuldades vividas em sala

de aula ..................................................................................................................................... 111

Quadro 31. Comparativo entre cargo/salário dos alunos concluintes ao iniciarem a graduação e o cargo/salário dos alunos concluintes atualmente .............................................................. 114

Quadro 32. Comparativo entre as respostas sobre oportunidades na empresa onde o aluno concluinte trabalhava ao iniciar a graduação e oportunidades em outras empresas ............... 117

Quadro 33. Percepção do aluno concluinte sobre a importância da graduação nos

dias atuais ............................................................................................................................... 118

Quadro 34. Reprovação em uma ou mais disciplinas durante o curso ................................... 120

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Índice de Tabelas: Tabela 01. Dados básicos do Censo do Ensino Superior realizado pelo INEP em 2014 ......... 14

Tabela 02: Classe social determinada por pontuação ............................................................... 54

Tabela 03: Classe social determinada por renda familiar ......................................................... 55

Tabela 04: População com 15 anos de idade ou mais ............................................................. 63

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Índice de Gráfico: Gráfico 01: Taxa de desemprego .............................................................................................. 71

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12

1.1 Objetivo .......................................................................................................................... 15

1.2 Problema ......................................................................................................................... 16

1.3 Hipóteses ........................................................................................................................ 18

1.4 Metodologia de Pesquisa ................................................................................................ 20 2. EDUCAÇÃO SUPERIOR NO PAÍS: AS UNIVERSIDADES DE MASSA ...................... 23

2.1 Educação e Mercado de Trabalho .................................................................................. 23

2.2 Expansão do Ensino Superior e o Processo de Privatização .......................................... 32

2.3 Fusões e Aquisições: O Ensino Superior nas Mãos de Grupos de Investimentos .......... 41 3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO UNIVERSITÁRIA .......................................... 45

3.1 Programa Universidade Para Todos (ProUni) e Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) ................................................................................................................................... 46

4. MOBILIDADE SOCIAL ..................................................................................................... 50

4.1. Teorias de Estratificação Social .................................................................................... 50

4.2 Metodologias de Classificação Socioeconômica ............................................................ 54

4.3. Mobilidade Espacial e Formação das Massas ............................................................... 56

4.4. Mobilidade Social e Métodos de Análise ...................................................................... 59

4.5 Condições Socioeconômicas para os Processos de Mobilidade no País nas Últimas Décadas ................................................................................................................................. 66

4.6 A Nova Classe Média e o Ensino Superior como Meio para Ascensão Social .............. 68 5. O MERCADO DE TRABALHO ASSALARIADO ............................................................ 71 6. ANÁLISE DE DADOS ........................................................................................................ 75

6.1. Questionários Aplicados aos Docentes.......................................................................... 75

6.2. Questionários Aplicados aos Alunos Ingressantes ........................................................ 85

6.3. Questionários Aplicados aos Alunos Concluintes ....................................................... 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 129 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 138 ANEXOS ................................................................................................................................ 144

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1. INTRODUÇÃO

No intuito de continuar as pesquisas voltadas para a juventude brasileira e sua inserção

no mercado de trabalho, este estudo tem como objetivo investigar o papel das universidades

de massa na formação profissional do aluno, o incremento na sua carreira profissional e a

oportunidade de mobilidade socioeconômica e cultural decorrentes da formação universitária.

A curiosidade por este tema se deu no início de minha atuação como professora

universitária, em uma instituição - que chamaremos aqui neste estudo de universidade de

massa - logo após o encerramento do meu Mestrado em Psicologia Social, oportunidade em

que elaborei dissertação baseada na análise de discurso de jovens pobres sobre seu preparo

para a entrada no mercado de trabalho assalariado. Naquela ocasião, notei que o papel da

Universidade como possível alternativa para o alcance de seus objetivos já estava presente em

seu discurso.

Ao iniciar a docência no ensino superior, pude ver de perto alunos com o mesmo perfil

socioeconômico e cultural daqueles participantes de minha pesquisa anterior, usufruindo da

oportunidade de cursar o ensino superior.

Nos primeiros semestres ministrando aulas, foi impossível não ficar frente a frente

com as imensas dificuldades desses alunos em acompanhar as aulas, ler e entender os textos

indicados e, principalmente, interpretar corretamente o que lhes era solicitado nas questões de

prova, além de desenvolver textos coerentes e compreensíveis. Consequência disso era, para

mim e para os demais colegas, a forçosa necessidade de diminuir nosso nível de exigência

para que não tivéssemos grandes quantidades de reprovados ou enxurradas de reclamações

por parte dos alunos.

Além disso, ano após ano, inúmeras mudanças estão ocorrendo no modelo de ensino

dessas universidades, como o aumento do número de alunos em sala de aula (chegando a 140

em algumas turmas), o aumento das disciplinas ministradas virtualmente, a diminuição ou a

extinção de atividades práticas, como projetos e trabalho de conclusão de curso (TCC).

Desde então, venho me questionando sobre o tipo de formação que esses alunos

recebem e como essa formação contribui para sua carreira profissional e mobilidade

socioeconômica e cultural.

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A denominação de universidade de massa (ou mercantil) foi escolhida por retratar o

modelo de ensino massificado, nos moldes da produção propostos por Ford no início do

século XX. Podemos dizer que o processo de padronização e massificação trouxe, por um

lado, o acesso aos bens de consumo e serviços por parte daqueles que antes não poderiam

adquiri-los e, por outro, bens e serviços padronizados, portanto, mais baratos.

A massificação, aos poucos, se instalou na educação mundial, separando o ensino

“popular” ou de massa do ensino para elite, que pode pagar por escolas particulares que

oferecem um ensino personalizado.

Portanto, o uso da denominação “universidade de massa” nos auxilia também para a

diferenciação desse tipo de formação superior de outras universidades particulares,

consideradas de alta qualidade.

Diversos autores discutem a entrada das instituições particulares no mercado do ensino

superior e denominam estas novas instituições de “universidades mercantis”, pois alegam que

essas universidades possuem claros objetivos financeiros, atuando como empresas

educacionais (CALDERÓN, 2000).

Além disso, é importante salientarmos o foco das Políticas Públicas voltadas à

inserção dos jovens no mercado de trabalho, pois como demonstra Fernandes (2001, p. 01):

O mal-estar democrático no qual vivemos, para além da má distribuição de riquezas, deve-se à decadência e ao abandono das instituições públicas nas quais a desigualdade social e civil é, muitas vezes, mascarada por uma legislação que facilita o livre acesso às suas dependências, como se essa igualdade social e civil não pressupusesse pelo menos uma grosseira aproximação do que seja igualdade econômica.

O autor deixa claro que a tentativa de inclusão pode não estar levando em conta outras

diferenças, como as sociais e culturais que o aluno carrega ao ingressar no ensino superior.

Diversos atores políticos demonstram seu posicionamento a respeito da ampliação do

ensino superior no país, como a ABMES (Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino

Superior) que acredita haver pouco incentivo e muita burocratização por parte do MEC para a

abertura de novas IES (Instituições de Ensino Superior). Já a UNE (União Nacional dos

Estudantes) e a ANDES (Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior) creem na

pouca ou nenhuma intervenção do Estado, acarretando a proliferação de cursos superiores de

baixa qualidade (CARVALHO, 2011).

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Existe mais uma questão: a condição financeira desses jovens que os impedia, até

pouco tempo atrás, de estudar em universidades particulares. Esse impedimento foi

minimizado nos últimos anos a partir de programas que auxiliam o aluno no pagamento das

mensalidades como ProUni (Programa Universidade Para Todos do Governo Federal), Fies

(Fundo de Financiamento Estudantil), entre outros.

Segundo dados do MEC – ProUni (PROUNI – DADOS E ESTATÍSTICAS, 2012), o

número de bolsas ofertadas nos últimos 7 anos cresceu em mais de 150 mil sendo que, em

2005, eram oferecidas 112.275 bolsas e em 2012 foram oferecidas 264.622 bolsas.

No Brasil, a participação privada no ensino superior é elevada e crescente, tendo

passado de 56% em 1994 para 72% das matrículas totais em 2004, e de 63% para 78% no

caso das matrículas iniciais (BARROS et al, 2007).

Como podemos verificar na Tabela 1, atualmente o número de matrículas nas

universidades privadas chega a ser 74% do número total de matrículas em nível superior. Ou

seja, a cada 4 estudantes de graduação, 3 estão em IES privadas que são 87% das Instituições

de ensino superior no país.

Tabela 01: Dados básicos do Censo do Ensino Superior realizado pelo INEP em 2014

ESTATÍSTICAS

BÁSICAS

TOTAL

GERAL

PÚBLICA PRIVADA TOTAL FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL

Nº de Instituições 2.368 298 107 118 73 2.070

Educação Superior – Graduação

Cursos 32.878 11.036 6.177 3.781 1.078 21.842

Matrículas 7.828.013 1.961.002 1.180.068 615.849 156.085 5.867.011

Ingresso Total 3.110.848 548.542 346.991 148.616 52.935 2.562.306

Concluintes 1.027.092 241.765 128.084 89.602 24.079 785.327

Fonte: Censo da Educação Superior 2014 - INEP

Políticas Públicas e ações privadas estão aumentando a possibilidade de entrada e

permanência no ensino superior por pessoas que, há alguns anos, não tinham esta

possibilidade, assim como salienta Barros (2007, pg. 6):

Embora o número de vagas hoje oferecidas seja suficiente para atender o fluxo corrente de graduados do ensino médio, a insuficiência de oferta ao longo das últimas décadas levou a um substancial estoque de demanda não atendida. Em conjunto, a demanda total é cerca de 14 vezes o número de graduados a cada ano no ensino médio. Aí está, portanto, a explicação de porque apenas 37% deles têm acesso efetivo a educação superior, mesmo quando a disponibilidade de vagas já é muito próxima (da demanda).

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1.1 Objetivo

O ponto principal ao qual nos atentamos nesta tese foi a analise da contribuição das

universidades particulares de massa (ou mercantis) para a promoção da mobilidade

socioeconômica e cultural de seus egressos. Buscou-se identificar se o aluno, ao concluir sua

formação superior neste tipo de IES, consegue obter ascensão profissional e se essa,

consequentemente, impacta em mudança socioeconômica. Além disso, procuramos entender

se a universidade contribui para o incremento de seus interesses culturais e novos

conhecimentos, bem como a melhora em seu nível de leitura e escrita.

Para acompanharmos a eventual mudança socioeconômica, é necessário observarmos

se houve mobilidade social desde o ingresso na universidade até sua formação. O conceito de

mobilidade social será apresentado ao longo da pesquisa, mas é importante deixar claro que

este conceito foi escolhido por apresentar relação direta com ocupação profissional, como

demonstra Pastore (1979, p. 10) ao definir que:

A maior parte dos estudos sobre mobilidade e estratificação social toma o status ocupacional como uma proxy do status social. (...) a passagem de um status a outro depende, em grande parte, de mudanças de ocupação ou de cargo. Estas, por sua vez dependem das mudanças estruturais e individuais.

As mudanças estruturais às quais o autor se refere dizem respeito às transformações

econômicas de uma dada sociedade, incluindo o volume de emprego ofertado pelo mercado e

o surgimento de novas ocupações. Já as mudanças individuais estariam relacionadas à

educação, experiência, informação e relacionamento. Portanto, a mobilidade é produto dos

dois fatores.

A questão da mobilidade é o ponto de partida de análise nessa tese e ocupa papel

central nas discussões aqui realizadas, pois o estudo da mobilidade demanda uma pesquisa

aprofundada sobre a história de vida dos sujeitos e de suas épocas.

Ainda Pastore e Silva (2000, p. 73):

Os estudos de mobilidade social não são "flashes" de curto prazo. Ao contrário, eles se aproximam de "filmes" que procuram captar a dinâmica e a evolução das sociedades através de décadas.

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A mobilidade social representa não só a ascensão socioeconômica mas, no caso desses

alunos, incremento na carreira profissional, seja a partir de promoções no próprio emprego ou

ainda na manutenção desse emprego pois, atualmente, muitas organizações dão preferência,

em seus quadros, para profissionais com formação superior.

1.2 Problema

Esse trabalho questionou o papel da universidade de massa na formação dos seus

alunos, o que nos levou a discutir o perfil socioeconômico do jovem que frequenta esse tipo

de IES. Acreditamos que sejam jovens de baixa renda que cursaram ensino médio em escolas

públicas, diminuindo, assim, suas chances de ingresso em universidades públicas, forçando-os

ao ensino superior em universidades de massa.

Pesquisas e levantamentos estatísticos mostram que a formação superior possibilita o

aumento salarial, bem como as chances de entrada e permanência no mercado de trabalho,

assim como podemos observar na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de

2015 que identificou na população com níveis de instrução mais altos o nível da ocupação

também mais elevado. Destaca-se, ainda, que, no 1º trimestre de 2015, no grupo de pessoas

com nível superior completo, o percentual de ocupação chegou a 78,6% (BRASIL - IBGE,

2016).

Segundo dados levantados pelo SEMESP (Sindicato das Mantenedoras do Ensino

superior) no ano de 2013, a média da remuneração dos trabalhadores com ensino superior

completo chegou a ser três vezes superior que a média da remuneração do trabalhador com

ensino médio completo (SEMESP, 2015).

Os jovens que buscam educação superior o fazem como forma de se qualificar para a

entrada ou permanência no mercado de trabalho. A universidade para eles tem um papel

importantíssimo na tentativa de ascender econômica e profissionalmente (PARENTI, 2008).

Perguntamo-nos se, diante do desejo da entrada no mercado de trabalho e da

qualificação para tal, a universidade cursada contribui para a ascensão profissional e

mobilidade socioeconômica e cultural de seus egressos.

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A busca pelo diploma tem se intensificado nos últimos anos pelas camadas mais

pobres, como estratégia para melhorar seu posicionamento na estrutura de classes e melhorar

as condições do trabalho desempenhado.

A qualidade do ensino superior foi questionada neste trabalho, mas é importante

questionarmos, também, algo que se inicia antes da entrada do jovem na universidade: seu

preparo acadêmico-cultural para enfrentar a graduação.

Segundo dados divulgados pelo MEC, o IDEB (Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica) de 2013 foi de 4,2 para o ensino médio na rede pública de ensino, enquanto

na rede particular o índice atingiu 5,79.

O IDEB considera a aprovação e média de desempenho dos estudantes em Língua

Portuguesa e Matemática. A meta de 6,0 é considerada adequada por ser a média registrada

atualmente nos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE).

Assim sendo, questionamo-nos se a qualidade do ensino superior oferecido atualmente

resulta em uma graduação capaz de auxiliar este jovem na ascensão socioeconômica e cultural.

Como vimos anteriormente, pode ser capaz de aumentar suas chances de entrada e

permanência no mercado de trabalho, aumentar as chances de melhoria salarial, mas talvez

não seja capaz de influenciar sua mobilidade socioeconômica, de acordo com os estudos de

Pastore e Silva (2000) que levam em conta a ocupação profissional. E discutimos, ainda, a

contribuição para a ascensão cultural que oferece aos seus concluintes.

Levamos em conta nesse trabalho algo bastante importante para a análise da

mobilidade social: as contingências econômicas do país nos últimos anos. O que influencia a

mobilidade social de alguém não são somente suas condições individuais mas, também, as

condições estruturais a que estão submetidos. (PASTORE e SILVA, 2000).

O país passou por transformações profundas em sua economia nos últimos anos, o que,

entre outras coisas, melhorou a qualidade de vida de milhões de brasileiros que passaram a

fazer parte de uma nova camada consumidora, a chamada “nova classe média”. O que essa

mudança gerou foi, além do aumento do poder aquisitivo da população, o acesso a novos

produtos e serviços, como telefones celulares, computadores, tablets, internet, TV por

assinatura e, também, ensino superior.

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Se até pouco tempo, boa parte da população encerrava seus estudos no ensino médio

(ou antes), atualmente, boa parte dos jovens da “nova classe média” possui condições

financeiras para prosseguir os estudos em nível superior. Dessa forma, geram-se novas

demandas no mercado de trabalho: o aumento no número de candidatos com formação

superior (o que não pressupõe qualificação, uma vez que houve, entre os anos de 2010 e 2014,

uma grande discussão sobre a falta de profissionais qualificados), leva as organizações a

aumentarem suas exigências para a contratação de trabalhadores com graduação em

detrimento daqueles que possuem apenas o ensino médio.

Por outro lado, o país também vem passando por uma transformação no seu modelo

produtivo e, aos poucos, tem diminuído sua participação como país industrial, produtor de

matéria prima e commodities, e aumentado gradativamente o número de empresas voltadas

para a prestação de serviços e comércio, onde a exigência de mão de obra qualificada é baixa,

se compararmos com uma indústria de ponta, produtora e desenvolvedora de tecnologia

avançada, onde a demanda é de trabalhadores com formação superior de qualidade.

1.3 Hipóteses

A hipótese que levantamos nesse trabalho e que procuramos verificar é a de que a

formação adquirida a partir das universidades de massa não gera crescimento socioeconômico

e cultural. Possibilitaria ao aluno a obtenção da graduação e consequente entrada ou

permanência no mercado de trabalho, mas talvez, não lhe possibilite melhoria significativa em

seu nível sociocultural.

Levantamos, também, a hipótese de que a formação superior em IES de massa

melhoraria sua empregabilidade, pois aumentaria suas chances de permanência no mercado de

trabalho e de obtenção de melhores salários, porém não ofereceria melhoria sociocultural,

uma vez que, segundo Souza (2015), para haver mobilidade no status social é necessário mais

do que só elevação do salário.

Esse aluno, ao concluir sua formação superior, dificilmente alcançará o status de

“gerência científica”, como nomeou Frederick Taylor àqueles trabalhadores responsáveis pelo

desenvolvimento de novos processos, novas tecnologias e novos produtos. Ele permanecerá

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ocupando cargos médios, mesmo que de “colarinho branco”, como adjetivou Wrhigt Mills

(1976) as ocupações administrativas.

Outra situação que não podemos ignorar são as condições desses alunos em sala de

aula e, concomitantemente, as condições de trabalho dos docentes que ministram essas aulas.

Primeiramente, não é raro encontrarmos uma quantidade grande de alunos em sala de aula se

compararmos às universidades públicas ou privadas de qualidade. É possível encontrarmos,

sem nenhum esforço, salas de aula com mais de 100 alunos, chegando facilmente a 140.

Não raro são salas apertadas, com carteiras nas quais os alunos sentam-se em duplas,

ocupando menos espaço e permitindo maior número de alunos por sala; ambientes quentes,

com dois a quatro ventiladores de parede que não são capazes de amenizar o calor em sala de

aula devido à quantidade de alunos; falta de equipamentos de som adequados para que haja

disponibilidade de pelo menos um microfone e uma caixa amplificadora de som para cada

professor; os computadores para apresentação de slides ou qualquer outro conteúdo para as

aulas, devem ser providenciados pelo docente, pois a IES não possui máquinas para essa

função.

Outra hipótese importante que levantamos nessa tese é a de que o nível de exigência

que o docente impõe em sala de aula nas IES de massa estaria diminuindo, para se adaptar ao

nível de conhecimento do aluno, que muitas vezes não é capaz de acompanhar o conteúdo das

aulas pelo déficit trazido do ensino médio. Dessa forma, faremos uma investigação junto aos

docentes para que informem como é o seu trabalho diante alunos que apresentam dificuldades

de acompanhamento dos conteúdos e em um ambiente de trabalho inadequado.

Sendo assim, perguntamos: a formação que o aluno terá nessa IES de massa o ajudará,

efetivamente, no que diz respeito à conquista de um emprego no mercado de trabalho, em que

possa aplicar seu conhecimento adquirido? Essa formação permitirá que ele conquiste novo

posicionamento na hierarquia social, ou garantirá apenas a manutenção de um emprego mal

remunerado, em condições precárias de trabalho e cujo conhecimento técnico adquirido na

graduação não é ou não será devidamente aproveitado/aplicado? E ainda, essa formação

contribuirá para o processo de mobilidade socioeconômica e cultural desse concluinte?

Para respondermos a esses questionamentos, fez-se necessário, primeiramente,

entendermos o conceito de mobilidade social, bem como quais as metodologias utilizadas

para estudá-la.

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Antes de adentrarmos a discussão sobre mobilidade propriamente dita, há necessidade

de realizarmos um aprofundamento sobre o papel da educação e, mais precisamente, da

educação superior.

O primeiro capítulo dessa tese aborda a educação no Brasil e seu papel na inclusão e

permanência dos trabalhadores no mercado de trabalho; além disso, discutimos em

continuidade ao panorama da educação superior no país atualmente, as privatizações das

universidades, o surgimento e crescimento das universidades de massa (ou mercantis) no país

e os intensos processos de fusão e aquisições de instituições de ensino superior por grupos de

investimento nacionais e internacionais.

O capítulo dois refere-se às atuais Políticas Públicas de auxílio e inclusão no ensino

superior, principalmente o FIES (Financiamento Estudantil) e o ProUni (Programa

Universidade para Todos) do Governo Federal. Nesse capítulo mostramos como surgiram e

quais seus objetivos, além de sua abrangência no território nacional.

O terceiro capítulo traz a discussão sobre a mobilidade social. Para tratarmos desse

tema, se fez necessária a apresentação do conceito de estratificação social e como esse

conceito está diretamente ligado ao que tentamos mostrar nessa tese: a busca por ascensão

socioeconômica de jovens por meio do ensino superior. A mobilidade social se dá por

diversos meios e pode ser estudada de diversas formas. Consideramos também, nesse capítulo,

o panorama político-econômico do país nos últimos anos e a relação direta que se estabelece

entre esse e as condições para a mobilidade socioeconômica de sua população. Além disso,

buscamos demonstrar o que significa a nova classe média brasileira e seu movimento em

direção à ascensão social por meio do ensino superior.

A partir dos dados e informações coletados por meio dos questionários e entrevistas

realizadas com os alunos participantes dessa pesquisa, desenvolvemos um capítulo de análise,

que nos mostrará a confirmação ou não das hipóteses aqui levantadas e já explicitadas.

1.4 Metodologia de Pesquisa

Para que pudéssemos comprovar nossas hipóteses anteriormente apresentadas,

realizamos a aplicação de questionários (abertos e fechados) aos ingressantes e concluintes de

graduação no tipo de IES denominada universidade de massa. A IES escolhida para essa

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pesquisa está localizada na Zona Leste da cidade de São Paulo, com cerca de 20.000 alunos

matriculados.

Limitamos a pesquisa a um curso específico, o curso de Administração. Essa escolha

se deu por tratar-se do curso com maior número de formandos por ano em todo país

(ultrapassando os 800 mil matriculados por ano), e por ser um curso presente na maioria das

IES do país: só no Estado de São Paulo são mais de 400 IES que oferecem curso de

Administração, e destas, 120 localizam-se na cidade de São Paulo (BRASIL - E-MEC, 2016).

A IES participante dessa pesquisa possui cerca de 800 alunos no curso de

Administração, distribuídos nos 8 semestres do curso, nos períodos matutino e noturno, sendo

que mais de 80% desses alunos encontram-se matriculados no período noturno.

Aplicamos questionários distintos aos alunos ingressantes (1º e 2º semestres do curso

ou 1º ano) e aos concluintes (7º e 8º semestres do curso ou 4º ano), a fim de coletarmos dados

importantes e que pudessem nos auxiliar no comparativo entre essas duas populações: o antes

e o depois da graduação.

A aplicação do questionário se deu em sala de aula, com prévia autorização da

coordenação do curso.

Para a análise dos dados, baseamo-nos na metodologia utilizada por Pastore e Silva

(2000), que requer o entendimento do processo de mudança no status profissional e

ocupacional, ou seja, onde o sujeito iniciou e onde conseguiu chegar, sempre levando em

conta mudanças estruturais (do ambiente socioeconômico em que o sujeito está) e mudanças

individuais, como a formação superior e conquista de um diploma.

Objetivamos, também, identificar mudanças relativas à evolução cultural do aluno, ou

seja, quais os novos interesses e hábitos culturais que o curso superior lhe proporcionou ou

incentivou.

Realizamos, também, entrevistas com alguns professores do curso de Administração

nessa IES, para que pudéssemos entender quais são suas condições de trabalho e quais as

condições de aprendizagem a que os jovens estão submetidos.

Para complementar nossa análise, fizemos a escolha de alguns questionários

respondidos pelos alunos e solicitamos sua colaboração por meio de uma entrevista, para que

pudéssemos esclarecer e aprofundar alguns pontos levantados no questionário e realizar a

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análise da trajetória profissional e consequente mobilidade socioeconômica e cultural desses

jovens proporcionada pela graduação.

Os participantes foram convidados a colaborar com a pesquisa voluntariamente e,

dentre aqueles que concordaram em responder o questionário, fizemos um sorteio de alguns

questionários para a realização das entrevistas de aprofundamento das questões. O mesmo

ocorreu entre os ingressantes e os concluintes. No caso das entrevistas, os alunos também

foram convidados a participar voluntariamente.

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2. EDUCAÇÃO SUPERIOR NO PAÍS: AS UNIVERSIDADES DE MASSA

2.1 Educação e Mercado de Trabalho

Segundo Ribeiro (1962), o sistema educacional brasileiro sempre foi bastante precário,

suficiente apenas para atender às necessidades de uma sociedade agrária. As escolas

formavam os filhos de famílias ricas, que ocupavam os cargos administrativos nos centros

urbanos ou a famosa “Gerência Científica” de Taylor. Porém, nas últimas décadas, os jovens

de famílias menos privilegiadas tiveram acesso aos cursos superiores em busca de uma

diplomação que lhes fornecesse “atributos simbólicos indispensáveis à ascensão social”.

A formação de um ensino superior no país foi tardia, uma vez que a coroa portuguesa

impedia a criação de universidades na colônia, com o objetivo de impedir qualquer

desenvolvimento autônomo e manter o país sob influência exclusiva de Portugal, levando à

uma formação social “arcaica, de cultura oral, anterior à palavra impressa, fundada na

escravidão, no patriarcalismo rural e na burocracia colonial, explorada pelo monopólio

mercantil da Metrópole (...)” (TEIXEIRA, 1989, pg. 57).

Com a chegada da Família Real e Corte Portuguesa à colônia, após fuga da invasão

francesa em Portugal, no início do séc. XIX, esperava-se a autorização para a criação de

universidades no país, mas isso demorou muito a acontecer sem nenhuma explicação aparente.

Ocorreu, apenas a autorização para a criação de alguns cursos isolados para atender as

necessidades da corte, como a escola de cirurgia e medicina. Os filhos de famílias ricas que

quisessem estudar tinham a opção de fazê-lo na Universidade de Coimbra.

Anísio Teixeira em seu livro Ensino Superior no Brasil (1989, pg. 67-68), faz uma

breve análise do sentimento de inferioridade do brasileiro, no final do séc. XIX, com relação à

formação das universidades no país. O autor define que havia um sentimento de incapacidade

de criar e mantê-la, pois a mesma não seria mais necessária, como um modelo de ensino

clássico. No período pós-independência já possuíamos escolas superiores profissionalizantes e

isoladas, o que, de certa forma, atendia as necessidades momentâneas e parecia-nos

compensatório pela falta de universidades.

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Ainda segundo Teixeira (1989, p. 68):

O característico de escolas vocacionais ou profissionais é o de que elas não são escolas em busca do saber pelo saber, mas escolas vinculadas a certo tipo de saber aplicado e útil. Esse característico leva, porém, a uma busca muito mais intencional da eficiência do seu ensino do que a escola do saber pelo saber. Que fizemos nós? Chamamo-las escolas profissionais, demos-lhes, porém, o caráter de escolas de cultura desinteressada, com o que distorcemos os seu caráter profissional e lhe emprestamos o de ensino universitário de busca do saber pelo saber.

E mais acertadamente, Anísio Teixeira questiona como um país poderia viver com

escolas profissionais isoladas e mesmo assim formar a cultura nacional e iniciar o brasileiro

no trabalho intelectual acadêmico, e se desenvolver no estudo dos conhecimentos humanos,

históricos e políticos.

No início do séc. XX, a criação de novas escolas ainda atendia o propósito de

diplomar os filhos de famílias ricas para posições privilegiadas e garantir a manutenção da

elite do país. Os diplomas funcionavam como credenciais a certas profissões que

diferenciavam seus ocupantes, porém, não havia o objetivo de desenvolver intelectuais,

estudiosos e pesquisadores.

Até a década de 90 do século XX, o Brasil ainda permanecia em um modelo de

produção taylorista/fordista, em que os filhos das famílias ricas alcançavam formação

superior e ocupavam os cargos de maior prestígio nas empresas, seja na indústria, comércio e

no setor bancário e muitos trabalhadores sem nível superior eram amplamente contratados

para os cargos operacionais.

A preocupação em formar mão de obra capacitada para o mercado nacional se iniciou

nos anos 40 do século XX, época em que foram criados o Serviço Nacional de Aprendizagem

Industrial – Senai; o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac e o Serviço

Social da Indústria – Sesi.

O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) foi criado em 22 de janeiro

de 1942, pelo Decreto-Lei 4.048 do então presidente Getúlio Vargas, com a missão de formar

profissionais para a incipiente indústria nacional. Há mais de 70 anos, já estava claro que, sem

educação profissional de qualidade, o Brasil não teria uma indústria forte e nem alcançaria o

desenvolvimento sustentado (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2015).

O conjunto dessas entidades passou a ficar conhecido como Sistema S por terem seu

nome iniciando com a letra S. Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem

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Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e

Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem ainda os seguintes:

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do

Cooperativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest) (BRASIL – SENADO

NOTÍCIAS, 2015).

Ainda hoje, o Sistema S busca a qualificação técnica da mão de obra que as empresas

esperam, prova disso são os vários processos seletivos em que apenas profissionais formados

nessas instituições são aceitos palas empresas de tecnologia mais sofisticada.

Já em meados dos anos 60 do século XX, o país inicia um processo de transformação

político-econômica que deixará marcas profundas na educação, na industrialização e em

diversas outras áreas. O que houve a partir do golpe de 1964, em que o país passa a ser

administrado por um Governo Militar, é o forte investimento na industrialização do país,

focando principalmente na indústria de bens duráveis.

Nesse período, multinacionais montadoras de automóveis instalaram-se no país,

demandando uma mão de obra mais preparada do que a encontrada até então no país. Cresce a

necessidade da formação de trabalhadores alfabetizados ou com escolaridade mínima para

atuar na indústria, aumentando, então, a presença de cursos de educação de jovens e adultos

como o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) que foi um projeto do

governo criado pela Lei n° 5.379, de 15/12/67, propondo a alfabetização funcional de jovens e

adultos, visando sua integração na sociedade e melhores condições de vida e o Madureza,

curso de educação de jovens e adultos e também exame final de aprovação do curso, que

ministrava disciplinas dos antigos ginásio e colegial, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (LDB), de 1961.

Nessa mesma época, havia a demanda, por parte dos concluintes do ensino médio, por

mais cursos superiores e, segundo Fávero (2006. p. 32):

No início de 1968 a mobilização estudantil, caracterizada por intensos debates dentro das universidades e pelas manifestações de rua, vai exigir do governo medidas no sentido de buscar soluções para os problemas educacionais mais agudos, principalmente dos excedentes.

Em São Paulo, nessa mesma época, havia poucas IES com vagas para o acesso de toda

a população formada no ensino médio, o que deixava um enorme excedente de estudantes sem

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oportunidade de seguir os estudos em nível superior. Em 1960 os excedentes eram mais de 28

mil, em 1968 esse número atingiu os 125 mil.

Os “excedentes” eram os candidatos que obtinham a nota exigida no vestibular, mas

não conseguiam se matricular nas IES, pois o número de aprovados excedia o número de

vagas disponíveis.

Segundo Martins (1981, p. 94): “O problema dos excedentes foi contornado através de

uma avalanche de autorizações para abertura de novas escolas e, ao mesmo tempo, a

permissão para as instituições já existentes aumentarem suas vagas sem atender a grandes

exigências burocráticas.”

Ainda nessa época, a reforma universitária era exigida tanto pelos professores como

pelos alunos. O corpo docente aspirava melhores condições para o desenvolvimento da

produção científica e tecnológica. O movimento em favor da reforma universitária no Brasil

eclodiu com intensa participação dos estudantes.

A partir dos anos 70 do século XX, quando começamos a nos deparar com

transformações no mundo do trabalho, como a globalização e o avanço das tecnologias que

acirraram a competitividade no mercado mundial, as universidades ganharam um novo papel

na lógica da educação no país. O que ocorreu foi uma crescente necessidade de formação

mais completa e que permitisse uma educação superior que oferecesse condições de atuação

em um mercado de trabalho mais exigente e mais competitivo.

O que houve foi um aumento nas exigências das competências apresentadas pelos

trabalhadores. Os países em desenvolvimento tiveram que se adaptar ao novo cenário mundial,

dessa forma, alterando seus sistemas de educação: “(...) considerando que a acumulação do

conhecimento e sua aplicação tem-se convertido em fatores preponderantes do

desenvolvimento econômico e determinam cada vez mais a vantagem competitiva de um país

na economia mundial” (CABRAL NETO e CASTRO, 2014, pg. 257).

Levando-se em conta que a vantagem competitiva de um país é seu sistema de

educação, a Lei de Diretrizes e Bases (lei n. 9394/1996), define quo ensino médio tem como

finalidade, segundo artigo 35, inciso II: “a preparação básica para o trabalho e a cidadania do

educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a

novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores” e ainda, segundo artigo 36,

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parágrafo 2: “O ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para

o exercício de profissões técnicas” (BRASIL - PORTAL MEC, 2000).

A qualidade do ensino médio está diretamente relacionada com a qualidade do ensino

fundamental e da educação infantil, bem como ao significado e abrangência da integração

com a educação profissional técnica de nível médio.

Segundo o Ranking Mundial da Educação divulgado anualmente pela Organização

para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2015 o Brasil ocupou a 60ª

posição entre 76 países pesquisados. O resultado é obtido a partir de testes de Ciências e

Matemática aplicados aos alunos de 15 anos em todos os países participantes.

Segundo o Censo da Educação Básica de 2013 (BRASIL - INEP, 2013), o número de

matrículas no ensino médio manteve-se estável no período de 2007 a 2013, apresentando

queda de 0,8% (64.037 matrículas) no último ano. Essa estabilidade contrasta com o

crescimento de 9,4% no número de concluintes do ensino fundamental no mesmo período.

Dessa forma, pode-se observar que há possibilidade de aumento nas matrículas de ensino

médio se levarmos em conta a população em idade adequada.

É importante destacar, entretanto, que o índice de escolarização líquida neste nível de

ensino, considerada a população de 15 a 17 anos, não ultrapassa 25%, o que coloca o Brasil

em situação de desigualdade em relação a muitos países, inclusive da América Latina. Nos

países do Cone Sul, por exemplo, o índice de escolarização alcança de 55% a 60%, e na

maioria dos países de língua inglesa do Caribe, cerca de 70% (BRASIL - PORTAL MEC,

2000).

Ainda segundo o resumo técnico do Censo Escolar de 2013 (BRASIL - INEP, 2013), a

possibilidade de aumento das matrículas no ensino médio só ocorrerá com a implantação de

políticas que estimulem o concluinte do ensino fundamental a prosseguir nos estudos, como,

por exemplo, a ampliação da educação profissional integrada ao ensino médio para que esse

se torne mais atrativo, permitindo que o aluno encontre uma possibilidade concreta de

qualificação para o mercado de trabalho.

Pensar um novo currículo para o Ensino Médio coloca em presença estes dois fatores:

as mudanças estruturais que decorrem da chamada “revolução do conhecimento”, alterando o

modo de organização do trabalho e as relações sociais; e a expansão crescente da rede pública,

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que deverá atender a padrões de qualidade que se coadunem com as exigências desta

sociedade. (BRASIL - PORTAL MEC, 2000).

O atual Governo Federal desenvolve ações e programas voltados para a melhoria da

qualidade do ensino médio no país e dentre essas ações pode-se destacar a aprovação do Plano

de Desenvolvimento da Educação (PDE), que contêm, entre outros, segundo Simões (2011, p.

119):

Plano de Metas Compromisso de Todos pela Educação (Decreto nº 6.094/2007), a nova Capes (PL nº 7.569 aprovado em 2007), o Brasil Profissionalizado (Decreto nº 6.302/2007) e o desenvolvimento de programas e ações para os diversos elementos estruturantes da política educacional: financiamento (Fundeb/Repasses voluntários da União através do Plano de Ação Articulado/ Programa Dinheiro Direto na Escola); gestão democrática (Escola de Gestores/Pró- -Conselho); formação de professores (Política Nacional de Formação/ Planos Estratégicos Estaduais /Fóruns Estaduais/ Plataforma Freire/Nova CAPES/ Universidade Aberta do Brasil); material didático (Programa Nacional do Livro Didático do Ensino Médio/ Programa Nacional de Bibliotecas Escolares); profissionalização (Expansão de Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica/ Programa Brasil Profissionalizado/Pronatec); inclusão digital (Banda Larga nas Escolas/ Um Computador por Aluno); transporte e alimentação no ensino médio (Programa Atenção aos Alunos/Caminhos da Escola); educação integral (Programa Mais Educação no Ensino Médio); currículo do ensino médio (Programa Currículo em Movimento/ Programa Ensino Médio Inovador/Atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio); avaliação de desempenho em larga escala, certificação e acesso a graduação (Sistema Avaliação da Educação Básica/Exame Nacional de Ensino Médio).

Além das propostas mencionadas, tramita no congresso a medida provisória (MP nº

746 de 2016) que prevê alterações profundas no modelo atual do ensino médio. Essa medida

provisória (que aguarda votação no congresso nacional), altera trechos da LDB (Lei de

Diretrizes e Bases) de 1996 e regras do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento

da Educação Básica) de 2007.

As alterações previstas são, principalmente, a alteração na carga horária mínima a ser

ofertada para os alunos (de 800 horas anuais para 1.400 horas anuais, com carga horária

integral), a fixação de 13 disciplinas obrigatórias que serão ministradas igualmente para todos

os alunos, e a implantação de áreas de conhecimento que o aluno poderá optar posteriormente

(linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e ensino técnico). Além

disso, prevê a desobrigação da oferta de disciplinas como artes, sociologia e educação física

(BRASIL – SENADO FEDERAL, 2016).

Essas medidas visam aumentar a atratividade pelo ensino médio e diminuir as altas

taxas de evasão.

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Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2013, ainda

existe um índice significativo de analfabetismo no país. No ano da pesquisa, a taxa de

analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 8,5%, o que

corresponde a 13,3 milhões de pessoas. Houve redução de 0,2 ponto percentual em relação ao

ano anterior, quando a taxa de analfabetismo era de 8,7%. A redução foi de 11,8 mil

analfabetos em um ano (BRASIL - IBGE, 2015).

A redução do número de analfabetos também se dá pela alta concentração de

analfabetos na faixa etária superior a 60 anos, que vão a óbito no decorrer dos anos,

diminuindo, consequentemente, a estatística de analfabetos.

Com relação ao nível de instrução, encontramos em 2013 as seguintes taxas: ensino

fundamental completo: 10% da população; ensino médio completo: 25,6% da população;

ensino superior incompleto: 3,6% da população e ensino superior completo: 12,6% da

população (BRASIL - IBGE, 2015).

Segundo a mesma PNAD de 2013, a mão de obra ocupada possuía, na sua maioria, o

ensino médio completo (30,3% da mão de obra ocupada), porém, uma grande parte da

população ocupada possuía apenas o fundamental incompleto (26,2%) e apenas 13,9% da

população ocupada possuía nível superior completo.

De acordo com Lazzareschi (2015, p. 15):

Segundo o Censo Escolar de 2013, 8,3 milhões de estudantes estavam matriculados no ensino médio tradicional, o menor número registrado desde 2007, com 64 mil matrículas a menos do que em 2012 e somente 1,2 milhão estão matriculados em cursos técnicos, quando o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial – Senai – prevê que o país terá de formar 7,2 milhões de trabalhadores em nível técnico e em áreas de média qualificação para atuar em 177 ocupações industriais até 2015.

O mercado de trabalho no mundo globalizado, nas décadas finais do século XX,

começou a exigir de seus trabalhadores mais conhecimento e capacidades do que as

desenvolvidas pelo ensino médio. Além disso, a tecnologia influenciou na redução do número

de trabalhadores em determinados processos, além da qualificação necessária para o uso dessa

tecnologia (MILLS, 1966).

Porém, aqui no Brasil, o cenário é outro: atualmente temos IES de massa com modelo

voltado para a mercantilização do ensino e precarização das condições de trabalho do docente.

Esse modelo faz sucesso e é eficaz graças a um mercado de trabalho distorcido em que uma

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boa parte das vagas ofertadas para os formados no ensino superior é de baixa complexidade,

em áreas que não exigem formação de alta qualidade, como comércio e prestação de serviços

de atendimento e cobrança. Essas áreas apenas demandam uma formação superior para que

seus trabalhadores possam ter um nível de educação melhor do que se possuíssem apenas o

ensino médio, mas não oferecem alta complexidade em suas funções, e que tenham adquirido

um grupo de competências que o ensino médio não oferece.

Dessa maneira, o que impulsionaria a melhoria da qualidade do ensino superior, diante

de um mercado que absorve os formados por essas IES de massa? Uma vez que esses alunos

encontram seu lugar no mercado de trabalho, as IES de massa cumprem seu papel e não

precisam melhorar a qualidade do que ofertam.

Diante desse cenário, qual a razão pela qual as organizações brasileiras, cada vez mais,

buscam por profissionais com ensino superior, ou seja, por que os formados nas IES de massa

conseguem ser absorvidos pelo mercado de trabalho, mesmo com uma formação questionável?

As organizações atualmente buscam profissionais com formação superior para uma

boa parte de suas funções, uma vez que proporcionam ao jovem algumas competências

exigidas no mundo do trabalho atual, como a capacidade de tomar decisões e ser autônomo,

ou seja, capacidades intelectuais, diferentemente das capacidades exigidas nos processos

produtivos operacionais no modelo taylorista/fordista. Assim sendo, a graduação auxilia no

desenvolvimento de competências comportamentais, fundamentais para o mundo globalizado,

porém, as competências técnicas, que deveriam fazer esse trabalhador ser mais produtivo e

contribuir para o desenvolvimento tecnológico do país, não são adquiridas.

O modelo mundial de economia globalizada força as organizações a se tornarem e se

manterem cada vez mais competitivas no mercado necessitando de mão de obra cada vez mais

qualificada e exigindo novas competências profissionais como a capacidade de efetivar

conhecimentos, ou seja, capacidade de utilizá-los corretamente na solução de problemas do

dia a dia. Por esse ponto de vista, os trabalhadores com formação superior, teoricamente,

possuiriam essas novas competências.

Há alguns anos, Darcy Ribeiro (1975, p. 138), afirmou que:

É função da Universidade dominar a ciência de seu tempo no mais alto nível possível de conhecimento e de investigação, porque a ciência é o discurso do homem sobre sua experiência na Terra (...). O ensino profissional não se opõe, entretanto, ao científico (...). Assim, tem muitas exigências extra científicas, como treinamento em certas rotinas, cujo ensino também é tarefa insubstituível da universidade.

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Apesar disso, o que presenciamos é o foco no “treinamento” de certas rotinas e o

abandono do conhecimento e da investigação.

Apesar da imagem criada por Darcy Ribeiro, o atual contexto da educação no país,

mais especificamente da educação superior, se deve às profundas alterações nos processos

econômicos mundiais, como a globalização, a emergência da sociedade do conhecimento e a

nova divisão internacional do trabalho.

Ainda segundo Ribeiro (1975, pg. 45):

Às nações subdesenvolvidas cumpre enfrentar a tarefa completamente diversa de criar uma Universidade capaz de atuar como motor do desenvolvimento. Ou seja, a universidade deve poder capacitar jovens para a pesquisa, para o desempenho de funções que exijam conhecimento e capacidade técnica.

E ainda: “(...) uma das funções mais elevadas da Universidade é o cultivo do saber e o

exercício da investigação científica e tecnológica” (idem, p. 116).

Para que possam permanecer competitivos, esses países necessitam de maciços

investimentos que lhes permitam desenvolver pesquisa de campo aplicada à produção de

novos produtos e, para isso, há a necessidade de recursos humanos dotados de diferentes

níveis educacionais.

Aqui no Brasil, podemos até encontrar investimentos em tecnologia de ponta, como

por exemplo, a exploração petrolífera e o agronegócio, mesmo assim, ainda não atingimos o

estágio de produtores e exportadores dessa tecnologia, e nos mantemos ainda numa posição

de importadores de tecnologia, desta forma Cabral Neto e Castro (2014, p. 259-260), afirmam

que: “(...) a inserção do país na divisão internacional do trabalho acontece de forma periférica,

caracterizada por relações internacionais articuladas por laços de dominação e dependência

(...).”

Alguns fatores contribuem para o atraso no avanço do Brasil em relação a outros

países e, segundo o relatório “Conhecimento e Inovação para a Competitividade” de 2008 do

Banco Mundial 1 , entre eles, a educação de baixa qualidade em um cenário em que o

conhecimento é a base para o crescimento.

1 Traduzido pela Confederação Nacional das Industrias (CNI) e disponível em: http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-1220382779545/ Conhecimento eInovacaolivrocompletoPortugues.pdf.

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Para alcançarmos o desenvolvimento econômico e capacidade competitiva fazem-se

necessárias a pesquisa e a aplicação do conhecimento nas empresas. Isso só é possível se

dentro dessas empresas encontrarmos trabalhadores capacitados à implantação e

gerenciamento de novas tecnologias.

Para tanto, faz-se necessário forte investimento na educação, principalmente na

educação de nível superior, que habilita trabalhadores às novas exigências desse cenário

competitivo e, de acordo com Cabral Neto e Castro (2014, p. 262): “O processo de

globalização impõe, portanto, a exigência de graus mais elevados de qualificação e

flexibilização da formação do trabalhador em todos os níveis da educação.”

2.2. Expansão do Ensino Superior e o Processo de Privatização

As IES de Massa – como nomeamos aqui as IES particulares de perfil mercantil –

distinguem-se das demais IES privadas (confessionais ou de primeira linha) e de IES públicas,

por características como o aumento do número de alunos em sala de aula, a diminuição do

foco no incentivo à pesquisa, a baixa exigência por docentes titulados ou que se dediquem

integralmente à Universidade, dando preferência aos docentes horistas.

A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 classifica as instituições de ensino em duas

categorias administrativas: públicas “(...) criadas ou incorporadas, mantidas e administradas

pelo poder público” e as privadas “mantidas ou administradas por pessoas físicas ou jurídicas

de direito privado” (art. 19, I e II). As IES também podem ser “particulares no sentido estrito,

comunitárias, confessionais e filantrópicas” (art. 20, I e IV).

A LDB (lei n. 9394/1996) constitui um marco regulatório na educação do país, pois

sua promulgação se dá em um período caracterizado pela reestruturação produtiva e pela nova

divisão internacional do trabalho e esse contexto influencia decisivamente as leis voltadas à

educação, no intuito de expandir a educação superior.

Vários fatores podem ser associados às mudanças que ocorreram para a transformação

dos sistemas de ensino superior, entre eles, o processo de globalização, a emergência da

sociedade do conhecimento, os desajustes estruturais do mercado de trabalho e o

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estabelecimento de novos padrões de competência econômica internacional (CABRAL NETO

e CASTRO, 2014).

O que se espera de uma IES pode variar de acordo com as necessidades de cada época

e cada país: atualmente, no Brasil, a necessidade é a de integrar o maior número possível de

pessoas ao sistema de ensino superior, diferentemente de algumas décadas atrás em que a

necessidade era a de criar uma elite cultural e técnica que pudesse contribuir para o

desenvolvimento do país (NUNES, 2012).

Essa elite cultural a que o autor se refere, era constituída de um grupo pequeno de

jovens privilegiados pelo ensino superior que ocupavam os cargos gerenciais nas empresas,

enquanto o grosso da população trabalhadora ocupava os cargos operacionais, quando muito

tecnicamente treinados pelo Sistema S, como mencionado anteriormente.

O conceito de Universidade para Humbolt2 (1767–1835) é a de que o ensino e a

pesquisa deveriam caminhar juntos para a evolução do conhecimento sem que houvesse

preocupação com a formação técnico-profissional.

Outros autores e estudiosos trouxeram, ao longo da história, outras concepções de

Universidade, como Newton em 1854, ao destacar o papel da Universidade como

propiciadora de um ambiente de conhecimento e questionamento. Para Newton, a

Universidade deveria ser capaz de formar o pensamento crítico, sem preocupação com a

formação profissional pois, o principal seria a formação de indivíduos capazes de participar

da vida política de uma sociedade (NUNES, 2012).

Para Ortega e Gasset (1999, apud Nunes, 2012), por exemplo, a Universidade tem o

papel de formar pessoas cultas e bons profissionais, sem a preocupação com a ciência pois, no

entendimento dos autores, nem todo estudante tem vocação para a pesquisa.

No século XIX, não havia separação entre ensino e pesquisa, porém, na segunda

metade do século XX surge a necessidade de conciliar o crescente número de estudantes com

os baixos investimentos em Universidades de pesquisa, o que levou ao surgimento de novos

sistemas de ensino superior, por meio de IES com objetivos distintos (NUNES, 2012).

2 Wilhelm von Humboldt (1767-1835): “Sobre a Organização Interna e Externa das Instituições Científicas Superiores em Berlim”, escrita em 1810, a qual traduz, e de um modo significativo, o ideário em torno de universidade nos tempos contemporâneos.

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A Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece

as diretrizes e bases da educação nacional) no seu artigo 52 estabelece que as universidades

são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de

pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: I –

produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas

mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e nacional; II –

um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de mestrado ou doutorado;

III – um terço do corpo docente em regime de tempo integral. Parágrafo único. É facultada a

criação de universidades especializadas por campo do saber (BRASIL. LDB, 1996).

Segundo Nunes (2012, p. 163), em 1999, a lei de número 9870 adicionou à LDB o

comando de que “pessoas jurídicas de direito privado, mantenedoras de IES, (...) poderão

assumir qualquer das formas admitidas em direito, de natureza civil ou comercial”.

Já há muito tempo que possuímos IES privadas no país, porém, nos últimos anos, e,

principalmente, a partir dos anos de 1990 e 2000, essa participação se acentuou. A LDB

permitiu e incentivou a privatização do ensino superior no país.

Hoje nos encontramos entre os 3 ou 4 países com o ensino superior mais privatizado

do mundo e privatizações realizadas por instituições de origem mercantil (grupos de

investimentos internacionais) (HELENE, 2013).

Mas, afinal, a privatização do ensino superior é um problema ou uma solução?

Nos anos 60, em pleno Estado autoritário do regime militar, acontece a Reforma

Universitária de 1968, com a Lei 5540 de 28/11/1968 que determinava como objetivo das

universidades tornarem-se centro de pesquisa e desenvolvimento das ciências, letras e artes e

a formação em nível universitário.

A Reforma Universitária de 1968 teve efeitos positivos e negativos: por um lado,

modernizou as Universidades Federais e Estaduais com a extinção das cátedras vitalícias nas

quais o professor titular de uma cadeira aceitava como seus alunos apenas o número máximo

que pudesse acompanhar, fazendo com que o número de matrículas ficasse restrito à um

pequeno grupo; a criação de departamentos; a introdução do ciclo básico; a criação de

vestibular classificatório; porém, também criou condições para o crescimento do ensino

superior privado em padrões antigos, como a criação de estabelecimentos isolados voltados

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para a transmissão de conhecimento profissionalizante e apartado da pesquisa, o que

contribuiu para a formação de um perfil de aluno pouco crítico.

A partir de 1968, as IES privadas passam a ter outros objetivos e moldes: atuam como

empresa educacional voltada para o lucro rápido (MARTINS, 2009).

Podemos dizer que esse novo modelo de ensino superior é resultado de uma série de

fatores: modificações políticas resultantes do regime militar de governo, as quais trouxeram

medidas repressivas aos docentes e estudantes; a discordância por parte de alunos e

professores dos currículos existentes e a impossibilidade das Universidades Públicas de

atender o número de alunos egressos do ensino médio aprovados em vestibular.

O processo repressor a professores e alunos iniciou o caminho para a extinção do

regime de cátedras, entre outras medidas, como afirma Cunha (2011, p. 178-179):

(...) professores e pesquisadores experientes foram compulsoriamente aposentados; docentes jovens foram impedidos de ingressar e/ou progredir na carreira; reitores foram demitidos e, para o seu lugar, foram nomeados interventores; a autonomia administrativa e financeira, já tão reduzida, foi ainda mais restringida; o controle policial estendeu-se aos currículos, aos programas das disciplinas e até às bibliografias; as entidades estudantis foram severamente cerceadas, o que contribuiu para que centenas de jovens fossem atraídos para a luta armada.

A extinção das cátedras era necessária, pois nas Universidades Federais havia cátedras

similares em diversas faculdades de uma mesma universidade. Por outro lado fazia-se

necessária a redução dos custos para que houvesse maiores investimentos no aumento e

melhoria das IES para atender ao crescente número de matrículas, devido ao aumento na

demanda de jovens egressos do ensino médio. As Universidades públicas já não davam conta

de absorver esses estudantes: entre 1964 a 1968, o número de inscritos nos vestibulares

cresceu 120%, enquanto o número de vagas oferecidas aumentou apenas 50%.

Havia uma concorrência de cerca de 60 mil jovens para apenas 30 mil vagas em nível

superior, dessa forma, o fracasso no vestibular estaria mais fortemente ligado à quantidade

limitada de vagas do que aos despreparo dos jovens (RIBEIRO, 1962).

O que ocorria diante desse cenário era que muitos jovens conseguiam aprovação nos

vestibulares, porém não havia vagas para todos. A privatização teve o papel de aumentar a

oferta de vagas nas IES para possibilitar o acesso a todos os concluintes do ensino médio que,

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por volta dos anos 60, exigiam aumento das vagas para a demanda crescente da época, como

vimos.

Houve, em meados dos anos 60, a encomenda de alguns estudos que levantassem

informações necessárias para a proposição de medidas para o ensino superior. Dos estudos

apresentados, alguns se destacam como o Relatório Meira Mattos (elaborado pelo professor

norte-americano Rudolph Atcon) e o Relatório da Equipe de Assessoria do Ensino Superior,

ambos com conclusões bastante convergentes (MARTINS, 2009).

Os relatórios sugeriam que a educação superior deveria ter objetivos mais práticos e

adaptar seus conteúdos ao papel estratégico do ensino superior no desenvolvimento

econômico; propunha que o ensino superior não deveria continuar atendendo um número

restrito de estudantes e, por fim, propunha a expansão com contenção de gastos.

A partir desses relatórios surgiu a Lei 5.540/68 (conhecida como Lei da Reforma

Universitária) que, entre outras determinações, extinguiu as cátedras vitalícias, criou os

departamentos e a introdução do ciclo básico e o vestibular classificatório, como forma de

controlar a aprovação dos candidatos. Também determinava a Universidade como forma de

organização do ensino superior, obrigando as Faculdades isoladas a se adaptarem com o

tempo ou permanecerem como casos excepcionais.

No ano de 1961 o CFE (Conselho Federal de Educação) deixou de ser um órgão de

assessoramento e passou a deliberar sobre a abertura e funcionamento de IES. O CFE era

formado por pessoas ligadas ao ensino privado o que facilitava a concessão de abertura de

novas IES. O CFE, após a promulgação da Lei de Reforma Universitária, iniciou uma corrida

visando a aceleração do crescimento e aumento no número de IES privadas (mesmo que

isoladas, ao contrário do que previa a Lei 5.540/68). Nessa época o Congresso Nacional

permanecia fechado, e não pôde conter os impulsos privatistas.

Horta, 1975 apud Martins (2009, p. 22), explica que:

Entre 1968 e 1972, foram encaminhados ao CFE 938 pedidos de abertura de novos cursos, dos quais 759 obtiveram respostas positivas. A grande maioria dessas solicitações emanava da iniciativa privada não-confessional, (...). Percebendo a existência de uma demanda não atendida pelo ensino público, os proprietários de escolas e colégios passaram a deslocar parte de seus investimentos para a abertura de novas instituições (de ensino superior), sob o olhar conivente do CFE.

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Algumas resoluções do CFE foram promulgadas nesse período, aumentando ou

diminuindo as exigências para a criação das IES particulares e a processo de transição para o

status de Universidade. A resolução CFE 29/74 impunha algumas exigências, como a

proporção de professores pós-graduados, as condições das instalações físicas, o acervo da

biblioteca, entre outras questões. As exigências foram diminuindo com o passar do tempo e

deram espaço a reclamações por parte de entidades profissionais sobre o aumento

descontrolado de IES particulares. Uma nova resolução foi promulgada (CFE 3/83), dessa vez

facilitando ainda mais o processo de expansão das IES isoladas que pretendiam se estabelecer

como Universidades, como a eliminação das exigências quanto ao corpo docente, o acervo da

biblioteca, etc.

Para Cunha (2011, p. 181): “todas essas mudanças expressam a oscilação entre

momentos de facilitação e de dificuldades da criação de universidades, especialmente pela

iniciativa privada, bem como a disputa pelo espaço de normatização do setor privado – ora o

CFE ora o MEC.”

Essa oscilação permanece na segunda metade dos anos 90 e desde 1995 vimos uma

tendência e uma confirmação nas políticas de privatização, que se iniciaram com a reforma do

Estado brasileiro no governo FHC por meio do Plano Diretor da Reforma do Estado (PDRE),

que tem como diretrizes a privatização, a terceirização e a publicização (CHAVES, 2010).

Entre os anos de 1985 e 1996 o número de universidades particulares triplicou.

Desta forma, com relação ao ensino superior, Chaves (2010), afirma que as

instituições privadas receberam estimulo, por parte dos governos, por meio da isenção fiscal e

da oferta de cursos aligeirados, voltados apenas para o ensino desvinculado da pesquisa.

Nesta mesma época, o Banco Mundial e o FMI exigiram reformas educacionais nos

países endividados - principalmente na América Latina, conforme afirma Chaves (2010, p. 8).

Como fontes de receita para superar o déficit público e estabilizar as convulsionadas economias da região, defendem a redução dos custos, o aumento da competitividade e a formação de recursos humanos mais produtivos. (...) Esse processo de mercantilização provoca mudanças substanciais na organização e no funcionamento do sistema nacional de ensino superior do país. A ideia básica presente nas reformas educativas, iniciadas na década de 1990, é que os sistemas de ensino devem se tornar mais diversificados e flexíveis, objetivando maior competitividade com contenção de gastos.

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Na LDB de 1996 o Estado liberou a oferta da educação superior pela iniciativa privada

ao admitir a existência de instituições com fins lucrativos. Assim, a LDB serviu como base

para o processo de reforma da educação superior, atendendo às orientações internacionais

para a implantação do modelo neoliberal, em que a lógica mercantil assume a centralidade

(CHAVES, 2010).

Existem dois principais modelos de educação no mundo. O modelo europeu em que o

ensino médio é de alta qualidade, portanto, o ensino superior possui um modelo

profissionalizante, em que o aluno, após ter tido uma educação completa, irá para a

Universidade no intuito de adquirir uma formação técnica. Já no modelo americano, o ensino

médio possui uma qualidade ruim (pela sua necessidade de abrangência populacional),

consequentemente, o ensino superior desempenha o papel de suprir o déficit de desempenho

acadêmico e a formação profissionalizante e técnica ficaria por conta dos cursos de pós

graduação (NUNES, 2012).

Não é a intenção neste estudo comparar a educação brasileira com qualquer outro

modelo no mundo, porém fica evidente, diante do apresentado acima, que a estrutura de

educação brasileira é a pior combinação dos dois modelos: um ensino médio ruim e uma

proposta de ensino superior profissionalizante.

Chegamos, então, ao seguinte cenário: estudantes mal preparados saídos do ensino

médio e o recorde de privatizações no país dominadas por instituições mercantis, que

oferecem cursos com apelo mercadológico e baixo retorno cultural, social e econômico e

pouco voltados ao desenvolvimento e o bem estar da população.

Para Helene, (2012, p. 19):

Assim a expansão do ensino superior por meio do setor privado (...) comprometeu, de forma gravíssima a qualidade do sistema. Esse comprometimento rebaixa as expectativas, tanto dos estudantes como da população em geral, quanto ao que é – ou deveria ser – um ensino universitário.

Afirmam ainda, Barreyro (2008); Altbach (2005) e Sampaio (2000), apud Martins,

(2009, p 24) que:

Em boa medida, várias dessas universidades com fins lucrativos, criadas nas últimas décadas, constituem um simulacro de verdadeiras universidades, pois tendem a funcionar como um conglomerado de escolas profissionais que não consolidaram a carreira acadêmica de seus professores e não institucionalizaram a pesquisa em seu interior .

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Outra prova de que a mercantilização contribuiu para a precarização do ensino

superior é a maneira como os docentes são tratados, ao serem contratados como horistas, com

baixa remuneração e alta carga horária de trabalho, além do aumento exponencial do número

de alunos em sala de aula.

Ou seja, a concepção de “massa” ou “massificação” a que nos referimos nesta tese está

ligada à noção de popularização, no sentido da ampliação do acesso ao ensino superior de

todos os jovens em idade para tal, mas também ao sentido do aumento exponencial de alunos

matriculados em IES que atendem um número ilimitado de alunos por curso e por turma. O

conceito também se refere ao perfil dessas IES, no que diz respeito à qualidade do ensino

oferecido que, por força das privatizações, tem deixado muito a desejar.

A Constituição de 1988 possibilitou o aumento no número de novas universidades

particulares. Boa parte dessas universidades, criadas nas últimas décadas, de acordo com

Barreyro (2008), Altbach (2005) e Sampaio (2000) apud Martins (2009, p. 24): “tendem a

funcionar como um conglomerado de escolas profissionais que não consolidaram a carreira

acadêmica de seus professores e não institucionalizaram a pesquisa em seu interior".

Nas palavras de Cabral Neto e Castro (2014, p. 265): “(...) a privatização resultante

desse processo indica uma transformação que concorre para que as instituições universitárias

se tornem mais empresariais, acatando as regras do mercado em detrimento de uma conduta

acadêmica própria das IES.”

Oferecer ampla oportunidade de acesso à educação superior não significa,

necessariamente, que todos alcançarão pleno sucesso profissional ou se tornarão cientistas

pesquisadores. Oferecer ampla oferta de acesso à educação superior significa que todo e

qualquer jovem que tenha interesse em cursar a Universidade possa fazê-lo independente de

sua condição financeira.

Darcy Ribeiro (1975, p. 140), afirma que:

(...) tem de ser ampliadas ao máximo as possibilidades de educação oferecidas à juventude, objetivando-se a preparação de uma força de trabalho maciça de alta qualificação, requerida pela sociedade para viver e progredir. Mas deve-se, ao mesmo tempo selecionar dessa massa de estudantes conforme os critérios mais objetivos e rigorosos, aqueles jovens que justifiquem um investimento adicional, por sua inteligência, operosidade, que os capacite a alcançar os mais altos níveis do saber.

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Ainda segundo Ribeiro (1975) a Universidade falha ao limitar ou restringir o acesso

desses jovens. É obrigação do sistema universitário absorver todos que queiram e busquem

formação superior para a entrada ou permanência no mercado de trabalho, de forma que a

cada um caiba atingir o nível mais alto de conhecimento que for capaz.

No entender de Barreyro (2008), McCowan, (2007) e Neves, (2005) apud Martins

(2009, p. 29): “a forma pela qual se deu a expansão do ensino superior demonstra que a

ampliação de vagas no setor privado não garantiu sua democratização. O acesso ao ensino

superior brasileiro está restrito a 12% dos estudantes entre 18 e 24 anos. Em países mais

avançados, esse percentual sobe para 60%.”

Algumas políticas de democratização do acesso vêm sendo implantadas nos últimos

anos, como o ProUni (Programa Universidade Para Todos) e Fies (Financiamento Estudantil),

mas, nesses casos, o que ocorre, segundo alguns autores, é a transferência de verbas públicas

para as instituições privadas, bem como a falha no processo de acompanhamento e

manutenção dos alunos nas IES, o que leva à desistência (CABRAL NETO e CASTRO,

2014).

Apesar do aumento das políticas de democratização do acesso e da facilitação da

expansão das IES particulares com a intenção de facilitar a entrada de jovens no ensino

superior, a parcela mais significativa da população que está na faixa entre os 18 e 24 anos e

que deveria ser o grupo mais e melhor atendido por essas políticas ainda não é alcançado.

Segundo Censo do Inep de 2013, a taxa de escolarização líquida no país, ou seja, o

percentual de estudantes entre 18 e 24 anos dentro da população total, matriculados em cursos

de nível superior (presenciais ou EAD) é de apenas 16,2%. Alguns estados possuem taxas

superiores à média, como é o caso de São Paulo, com 20.6%, e estados com números

baixíssimos, como o caso do Pará (7,5%) e Maranhão (6,8%).

Para Cabral Neto e Castro (2014, p. 281):

A expansão da educação superior constitui-se em uma tendência mundial, mas assume características particulares no Brasil, visto que esse país se insere, de forma retardatária, nesse processo. Embora venha ampliando a sua oferta nesse nível educacional, persiste ainda baixo índice de atendimento, principalmente, da população na faixa etária entre 18 e 24 anos.

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2.3. Fusões e Aquisições: O Ensino Superior nas Mãos de Grupos de Investimentos

O fenômeno da mercantilização vem acompanhado do movimento de aquisições de

IES privadas por grupos educacionais nacionais e internacionais, representantes de grandes

grupos investidores, ou seja, o mundo corporativo dominando a educação e administrando

universidades e faculdades como se fossem organizações de negócios.

Em 2013, o faturamento das IES privadas cresceu 30% graças à compra de algumas

dessas faculdades/universidades por grupos educacionais, transformando-as em fonte de lucro.

Até os anos de 2013, contávamos no Brasil com um restrito grupo de 13 empresas que

dominavam o mercado do ensino superior e reuniam, na ocasião, 1,8 milhão de estudantes, o

que corresponde a 37,6% do total de estudantes de faculdades particulares e cerca de 28% do

total de alunos do ensino superior de todo o país. A previsão até 2016 é que haja apenas 11

grupos, dominando 50% do número de matrículas em nível superior.

Nesse mesmo ano, foi anunciada mais uma fusão entre dois grandes grupos

educacionais que criou um conglomerado com mais de 1 milhão de alunos. Juntas, as duas

instituições têm 16,2% de participação de mercado.

Estes 13 grupos têm, além do enorme número de alunos, penetração em vários

municípios e a possibilidade de cobrar taxas de mensalidades mais baratas para atingir o

público das classes C e D, a quem o diploma é uma forma de ascensão social e profissional.

Porém, a transformação do ensino superior em negócio alerta para a qualidade do que está

sendo oferecido em busca do lucro.

Além das fusões, esses grupos educacionais também abriram seu capital na bolsa de

valores, com promessa de mais expansão. Os grupos educacionais que mais se destacam nesse

mercado de capitais são: a Anhanguera Educacional S.A.; a Estácio Participações; a Kroton

Educacional; e a empresa SEB S.A., conhecida como “Sistema COC de Educação e

Comunicação”. Grande parte do capital dessas empresas é originária de grupos estrangeiros,

de bancos de investimentos norte-americanos, que encontraram, nesse setor, um mercado

muito favorável ao lucro certo (CHAVES, 2010).

Os grandes grupos empresariais conseguem reduzir seus custos e aumentar suas

margens de lucro, possibilitando, assim, a diminuição dos valores das mensalidades, forçando

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as pequenas faculdades – que não conseguem competir com esses valores – a deixarem o

mercado, sendo por eles absorvidas. Como resultado desse processo, caminhamos para a

formação de oligopólios (número reduzido de grandes empresas em um determinado

segmento do mercado), que passarão a ter o controle total da educação superior do país

(CHAVES, 2010).

Outra ação dos grupos de investimentos educacionais é o aumento dos cursos

oferecidos na modalidade à distância (EAD), em que os alunos acompanham o curso via

internet e vão presencialmente aos polos apenas para realizar as provas finais.

O governo federal contribuiu para essa política de privatizações por meio de

instrumentos legais que favoreceram a expansão do setor educacional privado, com o Decreto

n. 5.622, de 19/12/2005, que regulamenta a educação a distância (EaD) no Brasil (CHAVES,

2010).

O mercado da educação superior se tornou tão lucrativo e promissor que existem,

atualmente, até mesmo consultorias especializadas em gerenciar negócios voltados para a

educação superior que anunciam em seu site na Internet uma “Análise setorial do ensino

superior privado” (à venda por R$ 1700,00); o interessado terá, entre outras informações:

“Marketing de performance na educação superior”; “O cenário de competitividade no ensino

superior à distância”; “Cenário mercadológico de pós graduação.”

Verificamos, sem muita dificuldade, que o vocabulário da educação está se igualando

ao vocabulário empresarial: agora ouvimos falar em “cenário mercadológico”, o que

corrobora com a preocupação de que as universidades e faculdades estão se tornando

organizações empresariais.

Diante de um cenário empresarial, de grupos educacionais que abriram seu capital na

Bolsa de Valores, vemos situações típicas do universo corporativo/financeiro como oscilações

de mercado. Por conta das novas regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o

ensino superior privado, que teve em 2014 o maior número de fusões e aquisições dos últimos

três anos no Brasil (26 operações de compra ou fusão), tende a registrar menor movimentação

em 2015 devido à diminuição da atratividade do segmento e à pulverização do mercado

(CARRO, 2015).

As ações na Bolsa de Valores dos grupos educacionais sofreram impacto negativo de

duas portarias publicadas no fim de 2014 pelo MEC. A Portaria Normativa nº 21 que

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estabelece nota mínima de 450 no Enem para que o estudante seja elegível ao Fies, além de

não poder tirar zero na redação. A Portaria Normativa nº 23 estendeu de 30 para 45 dias o

prazo dos repasses do governo às IES para pagamento das mensalidades de estudantes que

recorrem ao Fies.

A maior conseqüência dessas oscilações é a baixa na atratividade de pequenas

faculdades ao comprador, devido à diminuição do fluxo de caixa.

Este processo de consolidação do ensino superior privado tem promovido uma

reviravolta, sofrendo várias alterações. A tendência é que, embora em menor volume e

velocidade, as fusões, aquisições e a formação de redes educacionais continuem a dar o tom

ao já concorrido mercado do ensino superior privado brasileiro. Neste sentido, são destaques

as atuações tanto de grandes grupos educacionais como UNIP, ANHANGUERA, KROTON,

ESTÁCIO, LAUREATE, ULBRA, UNIVERSO, IUNI, FANOR, USC, ANIMA, VERIS,

UNICSUL, UNIESP, UNIBAN, bem como os já atuantes fundos de private equity - GP

INVESTIMENTOS, CARTESIAN CAPITAL GROUP, ADVENT INTERNATIONAL,

CAPITAL INTERNACIONAL (CM Consultoria, 2015).

Se o aumento das exigências do Fies se mostra como uma ameaça, os grandes grupos

educacionais, em contrapartida, estão aumentando o número de processos de aquisição para

aumentar o número de alunos matriculados e manter a base de crescimento e o retorno

investido.

Em fevereiro de 2015: (...) três operações foram anunciadas: a aquisição de duas

faculdades e um colégio do litoral Norte de São Paulo pela Cruzeiro do Sul Educacional; a

volta do fundo de investimento Advent (grande responsável pelo crescimento do grupo

Kroton no País) ao mercado de educação, com a compra da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG),

em Caxias do Sul; e a compra do Centro Universitário Bennet, no Rio de Janeiro, pela Ser

Educacional, que no ano passado adquiriu a Universidade Guarulhos, em São Paulo

(LIBÓRIO, 2015).

E ainda, A Advent, que em 2009 comprou parte do grupo de ensino Kroton e viu o

número de alunos da rede se multiplicar 25 vezes, já anunciou que a aquisição da FSG é a

primeira de uma série. Há pelo menos outras seis em negociação em andamento nas regiões

Sudeste, Norte e Nordeste e uma delas deve ser fechada ainda este ano (LIBÓRIO, 2015).

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Muitos programas de governo e políticas voltadas à democratização do acesso ao

ensino superior facilitaram a expansão de um modelo de educação superior que não contribui

totalmente para o sistema educacional. Esse modelo de IES particulares, a partir das políticas

governamentais formuladas pela LDB, e apoiadas pelo repasse de recursos públicos (por meio

de verbas do ProUni, por exemplo), tornou-se forte e hegemônico no país e de acordo com

Castro e Cabral Neto (2014, p. 282): “Hoje, o setor das instituições particulares (setor privado

mercantil) vem avançando na atuação desse nível educacional pela formação de grandes

grupos empresariais e detém uma fatia significativa das matrículas no ensino superior.”

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3. POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO UNIVERSITÁRIA

No Brasil, o sistema de educação superior está pautado em dois segmentos: o público

e o privado, sendo que as IES públicas são federais, estaduais e municipais e as privadas são

do tipo confessional, particular, comunitária e filantrópica.

A manutenção das IES privadas depende basicamente da cobrança de mensalidades ou

anuidades pelos cursos (graduação, pós graduação, mestrado, doutorado, etc.). O custo do

ensino superior privado varia de acordo com o tipo de curso, da região, e do tipo de instituição

(Universidade, Centro Universitário ou Faculdades).

Os principais objetivos das Políticas Públicas de inclusão universitária no país são,

entre outros, a expansão do número de matrículas com a democratização do acesso de modo a

garantir o acesso das camadas mais pobres às IES particulares, garantindo melhor qualificação

profissional. As políticas públicas existentes no país, desde o final dos anos de 1990, voltadas

para a inclusão universitária estão focadas no mundo do trabalho.

Em 1968, o governo militar implantou a Reforma Universitária por meio da Lei n.º

5.540 e transferiu a responsabilidade das pesquisas para a pós-graduação, enquanto que a

graduação seria responsável pela formação dos profissionais especializados em atendimento

às demandas do mercado.

Dentre as políticas de acesso ao ensino superior, destacam-se o Programa de

Financiamento Estudantil (FIES) e o Programa Universidade para Todos (ProUni). Ambos

voltados para a população de baixa renda, como estratégia para corrigir as lacunas deixadas

pelas insuficiências das políticas universalistas.

Mas, como vimos anteriormente, a expansão do acesso não garante oferta de ensino

com o nível de qualidade esperado. Portanto, é importante nos questionarmos sobre a

qualidade do benefício oferecido pelo ProUni em nome de maior equidade social.

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3.1 Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil

(FIES)

O ProUni – Programa Universidade para Todos é divulgado como uma tentativa de

redistribuição indireta de renda, ao transferir recursos de isenção fiscal para os menos

favorecidos, tendo como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em

cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em IES privadas.

Segundo o relatório original (Exposição de Motivos) dirigido ao Presidente da

República subscrita pelos Ministros da Fazenda, Antonio Palocci e da Educação, Tarso Genro,

o objetivo do programa é, conforme Moreira (2015 p. 02): “democratizar o acesso do

estudante pobre, oriundo da escola pública, ao Ensino Superior.”

Ainda de acordo com Moreira (2015), alguns estudiosos da área de políticas

educacionais possuem um posicionamento que destoa do informado acima, e alegam que o

ProUni se reduz à um processo de transferência de recursos públicos para a iniciativa privada

ou a um processo de privatização.

Foi criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096 (de

13/01/2005) e oferece isenção de tributos às instituições que aderem ao Programa.

Diferentemente da experiência de alguns países que tem programas de apoio

fortemente concentrados nos estudantes, através de empréstimos ou bolsas, no Brasil o apoio

dá-se significativamente às instituições de ensino superior através da isenção tributária e

previdenciária para as consideradas filantrópicas (BRASIL- MEC PROJETO CNE/UNESCO,

2013, p.11).

O Programa é voltado para os estudantes que cursaram ensino médio em escolas

públicas ou particulares na condição de bolsistas integrais, e cuja renda familiar per capita não

ultrapasse três salários mínimos aos candidatos a bolsas parciais, e um salário mínimo e meio

aos candidatos a bolas integrais. Os candidatos são selecionados pelas notas obtidas no Exame

Nacional do Ensino Médio – Enem.

Outro benefício do Programa é a oferta de bolsas aos professores de ensino básico da

rede pública de ensino. Nesse caso, a liberação de bolsas não segue os mesmos critérios de

aprovação. A Lei 11.096/2005 prevê que os professores da rede pública de ensino tenham

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direito à bolsa de estudo, independente da renda familiar, para os cursos destinados à

formação do magistério da educação básica.

Segundo site do programa (PROUNI, 2012), o ProUni já atendeu, desde sua criação

até o segundo semestre de 2014, mais de 1,4 milhão de estudantes, sendo 70% com bolsas

integrais.

O ProUni, juntamente com outros programas do Governo Federal, tem como objetivo

aumentar o acesso dos jovens ao nível superior de estudos e, consequentemente, melhorar sua

qualificação profissional e empregabilidade:

O Programa Universidade para Todos, somado ao Fies, ao Sistema de Seleção

Unificada (Sisu), ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das

Universidades Federais (Reuni), a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a expansão da rede

federal de educação profissional e tecnológica ampliam significativamente o número de vagas

na educação superior, contribuindo para um maior acesso dos jovens à educação superior

(PROUNI, 2012).

Ainda segundo o ProUNI (2012), no ano de 2014 foram oferecidas 306.776 bolsas

integrais e parciais para todo o país, em contrapartida das 112.275 ofertadas em 2005, ano da

implantação do Programa. Só na cidade de São Paulo, no ano de 2013, 10.040 alunos foram

atendidos pelo Programa.

Alguns dados bastante relevantes são: 74% dos alunos atendidos pelo Prouni no ano

de 2014 cursam sua graduação no período noturno; 53% são mulheres; 45,8% são brancos e

38,2% são pardos (apenas 12,6% são pretos); 50% dos bolsistas estão na região Sudeste do

país (e 60% destes estão no Estado de São Paulo) (ProUniportal3).

O incentivo dado pelo Programa à formação de professores do ensino básico parece

não ter atingido os objetivos, pois o total de professores bolsistas é de apenas 8.818, num

universo de 919.551, representando apenas 1% dos beneficiados.

Para o Governo e para as IES, o Programa traz benefícios pois, segundo Mugnol e Gisi

(2012, p. 13):

Um dos pressupostos da implantação de um modelo de subvenções como estes é a diminuição dos gastos públicos com a educação. Com a troca de impostos por vagas, o

3 Bolsistas por raça (http://prouniportal.mec.gov.br/images/pdf/Representacoes_graficas/bolsistas_por_raca.pdf)

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governo espera atender as demandas sociais por mais educação e ao mesmo tempo atende também uma demanda das instituições por redução da carga tributária.

Ainda segundo os autores, Mugnol e Gisi (2012, p. 14): “(...) o que se observa (...) é

que este modelo gerou um crescimento explosivo no número de estabelecimentos particulares

financiados pelo Estado.”

Como um dos objetivos do programa era o aumento da oportunidade de acesso ao

ensino superior aos mais de 9 milhões de matriculados no Ensino Médio em 2002, abriu-se a

oportunidade para o crescimento do número de IES particulares para atenderem à demanda.

Para Moreira (2015) o programa Universidade para Todos foi criado, também, para

aumentar o percentual de jovens em idade entre 18 e 25 anos no Ensino Superior na época da

proposta do Programa em 2002, e aumentar as chances de acesso à formação superior aos

jovens egressos de ensino médio da rede pública de Educação Básica.

Diferentemente do ProUni em que o repasse é feito diretamente para as IES, o FIES

(Fundo de Financiamento Estudantil) é um programa do Ministério da Educação destinado a

financiar a graduação de estudantes matriculados em cursos superiores privados na forma da

Lei 10.260/2001. Podem recorrer ao financiamento os estudantes matriculados em cursos que

tenham avaliação positiva pelo MEC (Ministério da Educação) (FIES, 2015).

Desde 2010 o estudante pode solicitar o financiamento em qualquer período do ano e

as inscrições são realizadas pelo SisFies (Sistema Informatizado do Fies). Após a inscrição

online, o aluno comprova seus dados junto à IES e contrata o financiamento. O pagamento

desse financiamento ocorre da seguinte forma (FIES, 2015) para contratos firmados a partir

do 2º semestre de 2015:

Fase de utilização: Durante o período de duração do curso, o estudante pagará, a cada

três meses, o valor máximo de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais), referente ao

pagamento de juros incidentes sobre o financiamento.

Fase de carência: Após a conclusão do curso, o estudante terá 18 (dezoito) meses de

carência para recompor seu orçamento. Nesse período, o estudante pagará, a cada três

meses, o valor máximo de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais), referente ao

pagamento de juros incidentes sobre o financiamento.

Fase de amortização: Encerrado o período de carência, o saldo devedor do estudante

será parcelado em até 3 (três) vezes o período financiado da duração regular do curso.

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Em 26 de junho de 2015, o Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro divulgou

algumas alterações no Programa Fies, como aumento nos juros de 3,4% para 6,5%. Algumas

restrições também foram anunciadas, como a ênfase nas bolsas para os cursos com notas 4 e 5

no índice de qualidade do MEC, a restrição para alunos com nota igual ou superior a 450 na

prova do Enem e o direcionamento do Programa para as regiões Norte, Nordeste e Centro-

Oeste (exceto DF) visando à redução da desigualdade.

Segundo dados do MEC (2013), entre os anos de 2010 e 2015, o estado de São Paulo

acumulou um total de mais de 543 mil contratos firmados entre alunos e o Fies, entretanto,

estados como Tocantins e Roraima, acumularam 11 mil e 6 mil contratos respectivamente. No

estado de Minas Gerais, o segundo maior estado em número de contratos, acumulou 253 mil

contratos, ou seja, menos de 50% do total de contratos firmados no estado de São Paulo que

ocupa o primeiro lugar.

Segundo dados do Censo da Educação Superior (BRASIL - INEP, 2014), do total de

alunos matriculados no ensino superior privado, 69,7% são procedentes do ensino médio

público e apenas 30,3% são procedentes de ensino superior privado. A partir dessa

informação fica claro que os alunos das classes mais pobres não possuem preparo para o

ingresso nas Universidades públicas, forçando-o a buscar sua formação superior nas IES

privadas.

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4. MOBILIDADE SOCIAL

4.1. Teorias de Estratificação Social

A estratificação social está entre os temas mais estudados da Sociologia, seja em

tentativas de definir sua formação e existência, seja no que diz respeito à análise das

possibilidades individuais e coletivas de mobilidade social.

Para Littlejohn (1973, p. 07): “estratificação social é o termo sob o qual os sociólogos

estudam as desigualdades na sociedade, isto é, a distribuição desigual de bens e serviços,

direitos e obrigações, poder e prestígio. São todos atributos de posições sociais e não de

indivíduos.”

Historicamente existiram quatro sistemas de estratificação social: a escravidão, em que

um homem era, literalmente, propriedade de outro homem; as castas, em que a posição na

sociedade se dá a partir do nascimento; os estamentos, definido por diferentes deveres e

direitos entre os estratos e as classes sociais (GIDDENS, 2001).

As teorias de Karl Marx e Max Weber formam a base principal de quase todos os

estudos feitos sobre estratificação social. Para estudarmos mobilidade social, faz-se necessário

o entendimento de suas ideias.

A mobilidade social é um conceito que se insere na teoria sociológica da desigualdade

social, lembrando que Karl Marx foi o primeiro a tratar de maneira contundente sobre esse

tema.

Para Marx, a desigualdade social é resultado da instituição da propriedade privada dos

meios de produção. Onde quer que haja propriedade privada dos meios de produção,

imediatamente a sociedade se apresenta dividida entre os proprietários e os não-proprietários.

Dessa maneira, uma classe é um grupo de indivíduo que possuem uma relação comum com os

meios de produção, ou seja, um grupo de pessoas que tem a mesma posição no processo de

produção determinada pela propriedade ou ausência de propriedade dos meios de produção.

Os proprietários dos meios de produção desfrutam da prerrogativa de exercerem o

poder político e o poder social, isto é, desfrutam, graças às suas identidades sociais

positivamente avaliadas, de prestígio social. A desigualdade social só pode chegar ao fim com

o fim da propriedade privada dos meios de produção.

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As mudanças sociais resultam da luta de classes, expressão da consciência de classe

que se desenvolve com a emergência das contradições da estrutura econômica, isto é,

contradições entre as forças produtivas materiais num determinado estágio de seu

desenvolvimento e as relações de produção existentes.

De acordo com Marx (2008, pg. 48): “De formas de desenvolvimento de forças

produtivas que eram, essas relações tornaram-se obstáculos. Abre-se então uma época de

revolução social.”

As idéias de Max Weber sobre estratificação social foram baseadas nas teorias de

Marx. Segundo Littlejohn (1973) Não há um consenso entre os estudiosos sobre a posição de

Weber em relação às ideias de Marx: alguns afirmam que ele completou a análise de Marx e

outros defendem que ele trouxe nova linha de pensamento: “assim como Marx, ele tratou a

estratificação como um fenômeno estritamente ligado à distribuição do poder e lutas por ele.

(...) Contudo, também diferiu em diversos pontos.” (p. 23)

A diferenciação de suas ideias aparece quando Weber defende que a estratificação

social vai além da questão de classes e propõe mais dois aspectos: status e partido. Dessa

forma, sua ideia de estratificação é multideterminada, levando a um grande número de

possibilidades de posicionamento do indivíduo dentro da sociedade.

Ainda segundo Littlejohn (1973) Sociedades que apresentam o modelo de

estratificação característico de democracias industriais como a nossa, aceitam uma norma

geral de igualdade e ainda: “Já que a estratificação em democracias industriais é um campo

mais complexo de estudos, os estratos são mais difíceis de serem identificados (...).” (p.9)

Assim sendo, a partir da teoria de Max Weber, a dimensão econômica não é suficiente

para explicar a dinâmica social. Não é somente o poder advindo do controle ou não sobre os

bens de produção que determina a estratificação social, a luta pelo poder também é orientada

pelas honras e prestígios sociais trazidas por ele ou o que ele denomina de status.

Os estudos desse autor sobre estratificação social demonstram que ela é fruto de uma

distribuição desigual de poder econômico, político e social. A desigualdade na distribuição

desigual de poder econômico resulta na formação de classes. Para Weber (1982, pg. 127),

classe refere-se à um grupo de indivíduos com a mesma situação de classe: “que podemos

expressar mais suscintamente como a oportunidade típica de uma oferta de bens, de condições

de vida exteriores e experiências pessoais”

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Max Weber reaproxima-se das ideias de Karl Marx ao considerar que o controle ou a

falta de controle sobre os meios de produção são as categorias básicas da situação de classe,

uma vez que a possibilidade de consumo está diretamente ligada à propriedade ou não dos

bens de produção. A propriedade dos meios de produção aumentam as chances dos indivíduos

de trocarem bens por dinheiro no mercado e reservar bens para reproduzir capital. A situação

de classe é, também, situação de mercado.

Weber (1982 p. 127), estabelece uma tipologia das classes, com três tipos particulares:

1. Classe proprietária - Existem as classes proprietárias positivamente privilegiadas,

detentoras do monopólio relativo à compra de objetos de consumo de preços elevados,

monopólio na formação de patrimônio por meio dos excedentes não consumidos e

monopólio na formação de capital por meio da poupança. As classes proprietárias

negativamente privilegiadas, se caracterizam como objetos de propriedade, devedores

e pobres.

Segundo Castro e Dias (1976, p. 122): “entre ambas, estão as classes médias, que são

constituídas pelas camadas de toda espécie e que compreendem os que possuem propriedades

ou qualidades de educação e que tiram delas seus rendimento.”

2. Classe lucrativa – Existem as classes lucrativas positivamente privilegiadas como

empresários, comerciantes, empresários na área do agronegócio, industriais,

banqueiros e profissionais liberais. Já os pertencentes às classes lucrativas

negativamente privilegiados são os trabalhadores qualificados, semi-qualificados ou

não-qualificados.

3. Classe social - são membros desta classe a pequena burguesia e o proletariado.

Retomamos aqui o significado de classes médias, que segundo Weber, são formadas

por aqueles que apresentam qualidades de educação, os privilegiados pela educação. Podemos

afirmar que os jovens participantes dessa pesquisa almejam tornarem-se membros da nova

classe média, intitulados de “colarinho-branco” por Wright Mills (1976).

De acordo com Weber, as classes não são definidas apenas no controle ou não dos

meios de produção, mas também em recursos como aptidões e as qualificações que

determinam o tipo de emprego que as pessoas são capazes de conseguir e Giddens (2001, p.

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233) afirma que: “As qualificações que possuem, como títulos, diplomas e habilidade

adquiridas, os tornam mais “negociáveis” do que outros que não possuem tais qualificações”.

As classes não são determinadas por religião, leis ou herança e a fronteira entre as

classes não são bem definidas; a mobilidade é mais comum, ou pelo menos há maior

possibilidade do que nos demais sistemas de estratificação. As classes dependem de

diferenças econômicas entre os indivíduos e desigualdade na posse e controle de recursos

materiais (GIDDENS, 2001).

Os fatores que determinam a ordenação das diferentes posições na hierarquia social

são: a) a importância funcional diferencial, ou seja, o papel de terminada função naquela dada

sociedade e b) a escassez diferencial de pessoal, ou seja, quanto mais difícil e oneroso o

investimento em treinamento para determinada carreira, mais atrativa e mais rendosa a mesma

deve parecer, no intuito de não excluir a todos, mas apenas os menos qualificados (DAVIS e

MOORE, 1973).

O trabalhador assalariado deve ter certa qualificação e, ter tido a possibilidade de arcar

com os altos custos do treinamento é um dos atributos individuais que diferenciam os

ocupantes de uma determinada classe e determina seu status no grupo, pois quanto melhor sua

qualificação, melhores ocupações poderá atingir.

Os grupos de status, segundo Littlejohn (1973, pg. 24): “pertencem à esfera da honra

social e são distinguidos, em primeiro lugar, pelos vários graus de prestígio. Nesse aspecto (...)

o prestígio refere-se aos padrões de propriedade, consumo e preferências.”

Dessa maneira, religião, local de moradia, conhecimento técnico, capital social e

intelectual, além da propriedade e da riqueza, determinam o status de um indivíduo,

facilitando ou não seu posicionamento na escala social.

Jovens universitários, moradores de regiões afastadas dos centros urbanos, negros e

pobres, mesmo que consigam se qualificar cursando nível superior, terão menos status na

sociedade, pois não possuem demais atributos, mas estão buscando obter novos recursos, por

meio da escolaridade e da qualificação, uma vez que, segundo Littlejohn (1973), status pode

estar relacionado à formulação de idéias e à objetivos de uma nova vida.

Os participantes dessa pesquisa são membros de um grupo social sem privilégios: sem

educação básica adequada, sem moradias em bairros centrais, sem acesso à cultura de

qualidade, sem acesso à saúde de qualidade. Evolução no grau de educação desses jovens

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poderá possibilitar mudanças singelas, no início, mas significativas no futuro, para que

tenham condições de ascender social e economicamente e alterar seu status social.

Por fim, segundo Max Weber, existem, mesmo nas sociedades capitalistas, grupos de

status que influenciam a situação das pessoas nos mercados de trabalho e/ou de bens.

4.2 Metodologias de Classificação Socioeconômica

No Brasil existem duas metodologias de classificação socioeconômica: a metodologia

da ABEP (Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa) e a metodologia do IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A primeira metodologia é conhecida como “Critério Brasil” e entrou em vigor no

início de 2015: (...) está descrita no livro Estratificação Socioeconômica e Consumo no Brasil

dos professores Wagner Kamakura (Rice University) e José Afonso Mazzon (FEA /USP),

baseado na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE. A regra operacional para

classificação de domicílios, descrita a seguir, resulta da adaptação da metodologia apresentada

no livro às condições operacionais da pesquisa de mercado no Brasil (BIAGIONI, 2016).

Essa metodologia consiste em considerar alguns critérios da residência do pesquisado,

além de condições de saneamento básico e formação escolar. Não leva em conta o salário do

pesquisado, mas os bens disponíveis na residência, como número de eletrodomésticos, carros,

microcomputadores, banheiros, etc, bem como se a residência está ligada à rede de esgoto

local e se a rua é pavimentada. A metodologia leva em conta, ainda, o grau de escolaridade do

pesquisado.

Cada um dos itens acima é pontuado e gera a seguinte tabela:

Tabela 02. Classe social determinada por pontuação

CLASSE PONTOS A 45-100 B1 38-44 B2 29-37 C1 23-28 C2 17-22 D-E 0-15

Fonte: ABEP

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Segundo a metodologia utilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística), a maneira de definir a classe a que um cidadão pertence é a partir da renda

familiar.

O cálculo é feito baseando-se no número de salários mínimos que compõem a renda

familiar. No momento da realização dessa pesquisa, o salário mínimo era de R$ 880,00.

Tabela 03. Classe social determinada por renda familiar

CLASSE SALÁRIOS MÍNIMOS (SM) RENDA FAMILIAR (R$) A Acima 20 SM R$ 17.600,01 ou mais B 10 a 20 SM De R$ 8.800,01 a R$ 17.600,00 C 4 a 10 SM De R$ 3.152,01 a R$ 8.800,00 D 2 a 4 SM De R$ 1.760,01 a R$ 3.520,00 E Até 2 SM Até R$ 1.760,00

Fonte: IBGE

Ambas as metodologias são incompletas, pois a categorização da população em 5 ou 6

classes econômicas restringe a diversidade de perfis socioeconômicos e culturais que

possuímos.

Nos últimos anos, com o aumento do poder de consumo do salário mínimo, muitas

famílias das chamadas classes C, D e E passaram a ter maior poder de compra, e consequente

aumento na aquisição de bens de consumo e bens culturais. Essas classes passaram, inclusive,

a ter acesso ao ensino superior.

A ascensão na carreira profissional e o aumento na faixa de renda não determinam

mudança na classe social, ou seja, aqueles que passaram a receber melhores salários ou

ocupam cargos de maior prestígio não poderiam ser classificados como classe média só por

isso (SOUZA, 2015).

Souza (2015, p. 227), alega que, como diz Bourdieu, existe algo além do capital

econômico que auxilia na alocação de alguém na sociedade de classes: o capital cultural é

algo que aprendemos e não é possível ser conquistado com diplomas.

Souza (2015, p. 227), explica que:

Para que possamos ter tanto desejo quanto capacidade de absorção de conhecimento raro e sofisticado, é necessário ter tido, em casa, na socialização com os pais, ou com quem ocupe esse lugar, o estímulo “afetivo” – afinal, nos tornamos “seres humanos” imitando a quem amamos – para, por exemplo, a concentração nos estudos, ou a percepção da vida como formação contínua, onde o que se quer ser no futuro é mais importante que o que se é no presente.

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As classes privilegiadas são mais capacitadas na reprodução de seu capital cultural que

as classes trabalhadoras ou pobres. Ou seja, um jovem pobre que consegue formação em nível

superior chega ao mercado de trabalho em grande desvantagem com relação a um jovem das

classes privilegiadas, que carrega consigo o capital cultural que herdou da família.

(BOURDIEU apud SOUZA, 2015)

Assim sendo, como a estratificação da sociedade em classes não está baseada apenas

no prestígio da ocupação ou no salário recebido, nosso estudo busca verificar se as

universidades de massa, nos moldes como se apresentam atualmente, como já foi descrito

anteriormente, são um fator determinante para a ascensão do status econômico e cultural dos

seus egressos dentro de sua própria categoria de trabalhador assalariado, pertencente a uma

classe menos favorecida no que diz respeito, entre outras coisas, ao acesso à educação e,

consequentemente, à ocupação de cargos de maior prestígio.

A possibilidade de ascensão socioeconômica dos egressos participantes dessa pesquisa

só se dá pelo fato dos sistemas de estratificação do mundo moderno serem flexíveis e

permitirem a passagem de um status a outro, ou de uma classe a outra, e essa tese se baseia

nos estudos sobre mobilidade cujo objetivo de análise são “o efeito dos atributos pessoais, ou

do sistema de educação, sobre as possibilidades que tem um indivíduo para efetuar um

movimento e o efeito da mobilidade sobre o indivíduo” (STAVENHAGEN, 1973, pg. 144).

4.3. Mobilidade Espacial e Formação das Massas

O conceito de massa ou sociedade de massa está diretamente ligado ao modelo

capitalista que vivemos no século XX e XXI, em que o consumo de bens, serviços e

informações é padronizado e produzido em larga escala.

Henry Ford, engenheiro americano do início do século XX, foi bastante visionário ao

perceber que a padronização barateia os custos de produção e aumenta o poder aquisitivo da

população em geral. O modelo de produção em massa de Ford foi copiado no mundo todo e

hoje é o modelo que define a forma de consumo do mundo globalizado, ou seja, bens e

serviços padronizados.

Além do consumo de bens e serviços, o modelo de sociedade de massa também se

caracteriza por estarem todos em conformidade com padrões de comportamento e pensamento

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generalizados. Na sociedade de massa, o Homem é destituído de suas qualidades individuais,

é despersonalizado, é reificado, é mal remunerado e trabalha muito, o que o transforma em

alguém que não pode consumir o que produz, nem tem tempo ou preparo para pensar

criticamente sobre qualquer assunto, principalmente sobre seu próprio trabalho. Dessa forma,

a comunicação de massa também possui papel importante no entretenimento, informação e

persuasão das massas, pois é um modelo de distribuição de cultura para a coletividade.

O uso da palavra “massa” para caracterizar o tipo de sociedade em que vivemos desde

o início do século XX, e se perpetua até o século XXI, tem sua origem na culinária, em que a

massa é composta por diversos ingredientes e quando misturados tornam-se algo único e

amorfo, perdendo suas características individuais. É o que acontece a um conjunto de pessoas

que habitam grandes centros urbanos, onde cada serviço utilizado e consumido é

“massificado”, ou seja, é padronizado e oferecido de maneira coletiva, sem levar em conta as

necessidades e desejos individuais.

A formação das massas urbanas se dá a partir da mobilidade espacial e no Brasil tem

uma história bastante peculiar datada do inicio do século XX - e que se estende até os dias de

hoje – tendo como ponto de partida as áreas rurais do interior do país (principalmente nas

regiões norte e nordeste) e como ponto final as regiões urbanas, principalmente as grandes

capitais da região sudeste do país.

Esse fenômeno migratório teve seu início devido às péssimas condições de vida nas

zonas rurais por todo país. Além disso, a industrialização de cidades como São Paulo e Rio de

Janeiro aumentou mais ainda a procura por melhores condições de trabalho e vida.

Segundo Durhan (1978, p. 45):

O estudo das áreas de imigração e a análise do processo de desenvolvimento econômico do país deixa bastante claro que o deslocamento da população rural se dá das regiões economicamente mais atrasadas para as mais prósperas e se apresenta, em grande parte, como uma transferência de mão de obra para sistemas econômicos mais produtivos.

Até meados do século XX, os pequenos proprietários rurais, produtores de sua própria

subsistência, permaneciam isolados, consumindo apenas o que pudessem produzir em suas

propriedades. Caso necessitassem de outros tipos de gêneros não alimentícios, como roupas

ou ferramentas, deveriam fabricá-los por si mesmos ou comprá-los, o que tornava a aquisição

desses bens muito onerosa. Dessa forma, o pequeno proprietário rural vivia do que ele mesmo

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produzia e em condições precárias de vestimentas, ferramentas para trabalhar, até mesmo

armas para se defender.

A solução encontrada para esses moradores das regiões rurais era buscar nos centros

urbanos melhores trabalhos, com pagamento de salário fixo para melhoria de suas condições

de vida. Assim sendo, ocupar um cargo dentro de uma indústria, para muitos, caracterizava-se

como uma ascensão ocupacional.

A própria mobilidade espacial foi durante muito tempo, e ainda é nos dias de hoje,

uma primeira tentativa de ascensão social, uma vez que altera significativamente as condições

de vida de quem sai da zona rural para trabalhar nas cidades.

Num primeiro momento a migração se dá por condições ruins, não só de um trabalho

pesado na “roça”, mas de vida, como sobreviver apenas do que se cultiva e não ter acesso a

tecnologias que facilitem a vida. Aqueles que migravam o faziam para fugir de condições

precárias de vida e, ao chegar aos grandes centros urbanos, não tinham qualquer qualificação

para assumir trabalhos que pagassem bons salários.

Nesse período, os trabalhadores que vinham para São Paulo, por exemplo, na

expectativa de trabalhar nas grandes indústrias, viam-se obrigados a aceitar empregos na

construção civil ou como porteiros de condomínios, devido à falta de escolaridade necessária

para ocupações dentro das indústrias. No caso das mulheres, o trabalho doméstico era o que

mais se adequava a quem não tinha escolaridade.

Para Durhan (1978, p. 148):

(...) fica patente que o migrante recém-chegado se caracteriza pela falta de qualificação. Isto se dá na medida em que a passagem da zona rural para a urbana implica na passagem para um sistema econômico capitalista-industrial que requer do trabalhador conhecimentos, atitudes e valores diferentes dos que são necessários para um ajustamento satisfatório ao meio rural.

Esses trabalhadores que ocuparam, e ainda ocupam as zonas urbanas, com baixa

qualificação e sem escolaridade, muitas vezes migram sozinhos, e se juntam a amigos e

parentes que vieram antes e já se encontram estabelecidos. Chegando aos grandes centros,

formam família ou passam a morar com seu grupo familiar já constituído.

Grande parte da população da cidade de São Paulo é formada por migrantes que

vieram de zonas rurais, seja de outros estados ou do estado de São Paulo, formando, assim, a

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grande massa populacional que temos hoje na cidade. Hoje somos, na maioria, descendentes

de trabalhadores que vieram para cá em busca de melhores oportunidades de vida e de

trabalho. Somos descendentes de migrantes de dentro do estado ou de outras regiões do país,

ou de imigrantes estrangeiros que, cada um a seu tempo, buscou no Brasil possibilidade de

obter sua própria terra para plantio e, tempos mais tarde, abandou a terra para morar na capital.

Grande parte dos jovens que hoje buscam melhores oportunidades de emprego por

meio do ensino superior é constituída de filhos e netos desses migrantes e imigrantes, quando

não, eles próprios vieram de outras regiões do país em busca de melhor qualidade de vida.

A primeira tentativa de ascensão social é por meio da mobilidade espacial, ou seja,

quem migra inicia seu processo de mobilidade socioeconômica e cultural a partir do momento

em que deixa sua região de origem, com condições de saúde, habitação, educação e

alimentação piores do que as encontradas nas regiões urbanas.

Ao se instalar em um grande centro urbano, como a cidade de São Paulo, por exemplo,

encontra melhores condições de educação, atendimento médico-hospitalar, acesso a sistemas

de saneamento básico, o que, de certa forma caracteriza um processo de ascensão social.

A partir daí, busca por melhores trabalhos e a escolaridade é o único meio de deixar os

trabalhos operacionais, pesados e sujos, e ascender aos trabalhos de “colarinho branco”, como

denomina Wright Mills (1976), aos trabalhos administrativos de maior prestígio, e que

veremos no item 3.5 desse capítulo.

4.4. Mobilidade Social e Métodos de Análise

O processo de industrialização ocidental gerou a transferência de boa parte da

população trabalhadora rural para dentro das fábricas. Dessa forma, fez-se necessário um

aumento na especialização desses trabalhadores. Além disso, nas últimas décadas houve

também o crescimento acentuado nas ocupações terciárias, ou de serviços.

Esse cenário levou ao que Littlejohn (1973, p. 112), denomina como conseqüências na

divisão de trabalho e na forma geral do sistema de estratificação que são:

a) aumentam o número e a variedade de ocupações; b) a proporção da população nas funções especializadas e semiespecializadas aumenta enquanto diminui nas funções não

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especializadas e c) uma nova classe média formada por trabalhadores não braçais interpõe-se a classe trabalhadora e a dos capitalistas.

O autor ainda informa que, embora os membros dessa nova classe média sejam

trabalhadores assalariados, não possuem meios de produção, porém mesmo assim,

distinguem-se dos trabalhadores braçais.

Para realizar a análise da mobilidade social é necessária uma concepção de espaço

social onde se distribuem bens e valores e onde se definem as posições dos atores e suas

relações. Esse espaço, segundo a autora, não é estático e está em constante transformação,

levando-se em conta o momento econômico e abertura maior ou menor do mercado para a

entrada dos novos profissionais, além da possibilidade ou não de ascensão profissional para

aqueles que dele fazem parte (SCALON, 2001).

Diversos estudos foram feitos sobre a mobilidade social no Brasil, utilizando-se

metodologias distintas. O estudo da mobilidade, segundo Pastore e Silva (2000), requer o

entendimento do processo de mudança no status profissional e ocupacional, ou seja, onde o

sujeito iniciou e onde conseguiu chegar, sempre levando em conta mudanças estruturais (do

ambiente socioeconômico em que o sujeito está) e mudanças individuais, como a formação

superior e conquista de um diploma.

De acordo com Scalon (2001), existem duas maneiras diferentes de estudar a

mobilidade: a primeira estaria voltada para a análise do contexto de estrutura de classes na

qual a mobilidade é entendida como movimento entre posições de classe na estrutura social e,

a segunda estaria voltada para o contexto hierárquico na qual a mobilidade acontece e é

estudada como um movimento na hierarquia social. Segundo a autora, o primeiro caso diz

respeito ao movimento entre posições que são identificadas como posições no mercado de

trabalho, já o segundo modelo segue uma análise baseada na movimentação ocorrida entre

grupos sociais segundo critérios como prestígio, status e recursos econômicos.

Neste estudo apoiamo-nos na metodologia defendida por Pastore (1979, p. 10-11),

segundo a qual:

Do lado estrutural, as forças de maior impacto sobre a mobilidade social são as transformações dos vários setores de economia e o volume de emprego e o surgimento de novas ocupações. Do lado individual, destacam-se a educação, a experiência, a informação e o relacionamento. A mobilidade é produto dos dois tipos de fatores.

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Precisamos deixar claro que a mobilidade social depende de algumas variáveis e

Pastore (1979, p. 11), ainda defende que: “não só a formação do indivíduo, que pode exercer

maior ou menor influência na promoção social, uma vez que em um mercado desigual, a

educação tem pouca influência, porém, em um mercado equalizado a educação tem papel

importante.”

Ainda segundo o autor, a mobilidade social depende de ocupação e cargo mas não é

qualquer tipo de emprego que promove a mobilidade, pois ela depende também do número e

do tipo de empregos disponíveis.

A mobilidade social sintetiza um complexo de mudanças que ocorrem no sistema

social e individual ao longo do tempo, refletindo o ritmo e a natureza das transformações que

ocorrem na estrutura social (PASTORE, 1979).

Desta maneira, devemos identificar as transformações socioeconômicas do país nos

últimos anos a fim de definirmos a influência dessas mudanças para mobilidade social da

população, e para nos possibilitar a identificação de como a formação superior em

universidades de massa contribui com a mobilidade socioeconômica.

De acordo com os estudos realizados por Pastore, que analisou o processo de

mobilidade social no Brasil nos anos 70 e comparou com o processo de mobilidade nos anos

90, verificamos que houve mobilidade em ambas as épocas, porém, a partir de variáveis

diferentes, ou seja, cada época teve um tipo de mobilidade acentuado por razões distintas.

Os dados coletados na pesquisa realizada nos anos 70 refletem mudanças econômicas

bastante drásticas no país, em decorrência da forte industrialização e enfraquecimento das

importações ocorridas entre os anos 20 e 70 (SILVA, 2001).

O que ocorreu principalmente, foi uma mobilidade maior na base da pirâmide pois,

diante de pais de origem rural, qualquer movimentação dos filhos representa uma ascensão

social. A industrialização e urbanização do país nos anos 50 e 60 favoreceram a migração de

boa parcela dos trabalhadores rurais, possibilitando o emprego na indústria ou no comércio e,

consequentemente, melhores condições de trabalho e melhores salários (SILVA, 2001).

Estudos mais recentes de Pastore e Silva (2000) indicam uma sociedade mais

dinâmica que há 20 anos, porém com uma mobilidade ascendente de pouca distância, ou seja,

um movimento decorrente do esvaziamento do estrato mais baixo da população composto por

trabalhadores rurais.

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Outro resultado importante do estudo revela que mais recentemente houve uma leve

elevação da mobilidade circular, em detrimento da mobilidade estrutural, ou seja, antigamente

havia maior mobilidade entre pessoas com menor escolaridade, por conta do aumento das

oportunidades e, atualmente, a ascensão só acontece se houver uma liberação de posições

mais altas, mostrando, segundo os autores, que o peso da qualificação, competência e

educação aumentou quando se comparam os dados de 1996 com os de 1973.

Nas sociedades de desenvolvimento tardio, como é o caso do Brasil, houve maior

expansão no segmento ocupacional chamado baixo-terciário que reúne as ocupações urbanas

de baixa qualificação. Já no segmento denominado alto-terciário houve grande benefício para

os trabalhadores que, por conta de uma maior escolaridade, puderam ocupá-lo (SILVA, 2001).

Pastore e Silva (2000, p. 08), ainda fazem uma revelação importante para essa

pesquisa quando afirmam que entre 1973 e 1996: “repetiu-se a mesma trajetória: muitos

subiram pouco e poucos subiram muito.”

Pastore e Silva (2000, p. 13), apontam 9 avanços ocorridos entre os anos 70 e 90 e que

foram significativos para a mobilidade social. Fazemos aqui algumas observações sobre esses

avanços no sentido de detalharmos melhor alguns deles, ou aproximá-los de nossa realidade

atual no pós anos 2000:

1 - Queda de mais 10% na taxa de analfabetismo entre jovens de 15 a 19 anos, entre

1980 e 1996:

A taxa de analfabetismo no país vem diminuindo ano a ano. As taxas mais recentes

identificadas pela PNAD de 2014 apontam uma taxa de 8,3% entre as pessoas de 15 anos ou

mais, sendo que, em 2013, a taxa foi de 8,5%, o que representa um total de 13,5 milhões de

pessoas.

Entre os anos de 2001 a 2014 houve uma redução de 4,3 pontos percentuais no índice

de analfabetismo do país.

O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê a erradicação do analfabetismo em até 10

anos, mas o desafio maior está entre a população acima dos 60 anos, e entre a população dos

40 aos 59 anos. Trata-se de uma parcela da população que não volta mais para os bancos

escolares e já está adaptada a trabalhos em que a alfabetização não é um obstáculo. Dessa

forma, existe uma maior necessidade de investimento em alfabetização para adultos por parte

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do governo ou por parte da iniciativa privada. Porém, muitos dos adultos analfabetos não

sentem a necessidade da alfabetização por já terem se acostumado com ela ou por sentirem

vergonha de flagrados numa sala de alfabetização.

Entre os anos 80 e 90, as taxas de analfabetismo eram maiores que as encontradas hoje

em dia, o que aumentava em muito as chances de empregabilidade dos jovens que

conseguissem sair dessa estatística.

Tabela 04: População com 15 anos de idade ou mais

Analfabetos taxa de analfabetismo (%) 1981 17.041.167 22.7 1985 17.550.741 20.6 1990 17.347.042 18.6 1995 16.149.056 15.5

Fonte: elaborado por Inep/Mec com dados Pnad/IBGE

2 - Os jovens ocuparam os postos de trabalho que passaram a exigir maior

escolaridade:

Com o processo de Globalização e a abertura comercial do país nos anos 90, acirrou-

se a concorrência internacional entre empresas. Dessa maneira, organizações brasileiras

passaram por um processo de investimentos em tecnologias e, principalmente, em mão de

obra melhor qualificada, como diferencial competitivo.

Muitas empresas nacionais, após a abertura comercial dos anos 90, entraram em

falência, por não possuírem know how suficiente para garantir a qualidade e o preço de seus

produtos e manter concorrência com produtos estrangeiros.

As empresas nacionais, para se manterem vivas, necessitavam melhorar seus

processos produtivos e a qualidade do trabalho seus trabalhadores. Assim sendo, houve uma

corrida pelas certificações de qualidade, como ISO 9000 e ISO 9001, o que exigia um nível

mínimo de escolaridade dos trabalhadores dentro das empresas.

3 - Transformação da educação em um sistema de massa: o país chegou a 1996 com

mais de 46 milhões de estudantes nos 3 níveis de ensino:

Atualmente, as taxas de escolarização têm crescido cada vez mais, e no ano de 2013

havia mais de 4 milhões de crianças matriculadas no ensino infantil em todo o país, cerca de

29 milhões de crianças matriculadas no ensino fundamental (apesar de uma acentuada queda

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na taxa de matrículas nesse nível entre 2001 e 2013, de 35 para 29 milhões, devido à queda na

taxa de natalidade no país e a redução da distorção idade-ano) e mais de 8 milhões de

matrículas no Ensino Médio (Relatório Educação para Todos no Brasil 2000-2015).

4 - Atendimento, em 1996, de todas as crianças entre 7 e 14 anos, apesar da

dificuldade na manutenção nas séries adequadas à sua idade;

5 - No ano de 1996, 65% dos alunos matriculados no ensino fundamental esperavam

concluí-lo;

6 - Aumento nas matrículas de ensino médio que, entre 1990 e 1998, aumentaram de

3,5 para 6,9 milhões:

A taxa de frequência escolar da população de 15 a 17 anos entre os anos de 2000 e

2012 apresentou variações da ordem de 4,1 pontos percentuais, e no período considerado teve

um crescimento de 3,8%, passando de 81,1% em 2001 para 84,2%, em 2012. Alguns outros

avanços contribuíram para esses números, como a ampliação do atendimento à população

mais vulnerável nesta faixa etária. A taxa de frequência da população negra (pretos e pardos)

teve um crescimento de 78,9% (2004) para 82,5% (2012); a população indígena apresentou

um crescimento de 22,4% no período de 8 anos passando de 74,1% (2004) para 90,7% (2012)

(Relatório Educação para todos 2000-2015);

7 - Tecnologia e novos processos produtivos aumentaram as exigências de

escolaridade, transformando o ensino médio em requisito mínimo. Neste ponto, segundo os

autores, a escolaridade foi crucial para a mobilidade ascendente:

Como já mencionado, as certificações e sistemas de qualidade que começaram a ser

implantados no país nos anos 90 exigiam o ensino médio como escolaridade mínima para os

trabalhadores nas empresas. O trabalhador que não possuísse o ensino médio, mesmo sendo

antigo da organização, deveria voltar a estudar e buscar sua formação sob o risco de perder o

emprego. Por outro lado, o candidato que não possuísse o ensino médio completo, mesmo

para uma função operacional, não conseguiria uma vaga na empresa em questão.

Essas exigências se davam por uma necessidade de aumentar a qualidade do produto e

do serviço ofertados, além de manter na organização trabalhadores capazes de operar

máquinas e equipamentos modernos e sistemas integrados e de alta complexidade;

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8 - A conciliação entre trabalho e estudo foi realizada por 60% dos estudantes de

ensino médio e, no período noturno, esta proporção chegou a 70% em 1996:

Segundo dados do Censo Escolar de 2013, nesse ano o Brasil contabilizava

8,3 milhões de matrículas no Ensino Médio e, desse total, cerca de

2,3 milhões de alunos cursam o ensino noturno na rede pública.

Segundo dados do SAEB (Sistema de Avaliação de Educação Básica) desse mesmo

ano, os alunos do 3º ano do ensino médio noturno apresentaram proficiência em Língua

Portuguesa e Matemática inferior aos alunos do diurno. A diferença chega a 24,1 pontos em

Língua Portuguesa e 19,2 pontos em Matemática.

O fato de o aluno estudar no período noturno aumenta suas chances de

empregabilidade, uma vez que não necessita aguardar o término do ensino médio para entrar

no mercado de trabalho, mas, por outro lado, diminui suas chances de um ensino de qualidade.

No período noturno, o aluno tem menos horas de aula, maior probabilidade de reprovação e

abandono dos estudos;

9 - A expansão do ensino superior que ocorreu de forma bastante intensa nos anos 80 e

90.

Por fim, os autores revelam um dado bastante interessante: no período entre os anos 70

e 90, a educação e o status ocupacional do pai mantêm-se como determinantes no status

ocupacional do filho, porém a educação do próprio filho “transformou-se, para uma grande

parcela da população, no capital mais fundamental para a realização de ascensão social”.

Dados estatísticos mais atuais mostram essa determinação: Segundo PNAD (Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios) de 2014, a escolaridade e o salário dos filhos são

maiores quando os pais têm nível superior completo e empregos melhores.

Podemos compreender, segundo esses estudos, que até os anos 70 o desenvolvimento

econômico do país, a urbanização e a transformação nos meios de produção facilitaram os

processos de mobilidade social. Mais recentemente, a escolaridade é, por exigências de um

mercado de trabalho mais tecnológico e com processos produtivos e serviços diferenciados,

fator primordial para a ascensão do status profissional.

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4.5. Condições Socioeconômicas para os Processos de Mobilidade no País nas Últimas

Décadas

Para podermos identificar temporalmente os concluintes do ensino superior - sujeitos

desta pesquisa - necessitamos informar que eles possuem idade entre 20 e 35 anos. A escolha

por essa faixa etária se dá pelo fato de que nosso estudo ocorreu junto aos concluintes das

universidades de massa e esta é a idade mais comum de formação na graduação. Dados do

ProUni mostram que, em 2010, a média de idade entre os alunos do ensino superior no país

era de 26 anos, e entre os alunos do EaD, 33 anos.

Portanto, os jovens estudados nessa pesquisa nasceram entre os anos 80 e 90 do séc.

XX, o que nos obriga a um resgate histórico-econômico das últimas quatro décadas.

Os anos 80 foram fortemente marcados por uma série de planos econômicos visando o

combate inflacionário (legado deixado pelo Milagre Econômico do Governo Militar entre os

anos 60 e início dos anos 80). Entre os anos de 86 e 91 houve um plano novo a cada ano,

marcando esse período com grandes oscilações na taxa de inflação. Além disso, passávamos

por um momento de redemocratização do país, o que colaborou ainda mais para a dificuldade

na estabilização econômica (GREMAUD; VASCONCELLOS e JUNIOR, 2009).

Os anos 80 também ficaram marcados pelos avanços tecnológicos e pelas alterações

graduais nos processos produtivos e de acordo com Leite (2002 p. 59):

A década de 80 irá então se caracterizar pelo esgotamento do dinamismo da economia brasileira tanto no que toca à acumulação de capital quanto ao padrão de organização industrial (...). isso devido ao impacto decisivo da emergência de um novo padrão produtivo e tecnológico.

A onda da globalização trazia um aumento na competitividade produtiva e trazia à

tona a busca por processos cada vez mais eficazes: procurava-se obter maior produtividade

com menor número de trabalhadores, porém, qualificados.

No Brasil essa busca obrigou as empresas a iniciarem um processo de adequação, o

que refletiu diretamente na alteração do perfil dos trabalhadores: maior qualificação técnica e

comprometimento no processo produtivo.

Já os anos 90 foram caracterizados por um gradual e lento processo de estabilização

econômica, iniciado ainda no Governo de Itamar Franco (1992 a 1995) pelo então Ministro da

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Fazenda Fernando Henrique Cardoso. O Plano Real foi um plano de estabilização fiscal, com

intuito de fortalecer a moeda (criou-se, a partir de então, o Real). Além disso, ocorreram

transformações na economia por meio da abertura do mercado interno para as importações, e

a entrada das grandes multinacionais e da privatização de empresas estatais.

Este período foi marcado pela chegada ao Brasil de um sistema produtivo de muito

sucesso no Japão pós II Guerra e capaz de concorrer de igual para igual com o “fordismo”

americano e, nas últimas décadas, capaz até de suplantá-lo, disseminando no mundo um novo

método de produção: o “toyotismo”.

Esse sistema teve sua origem no Japão e se caracteriza pela produção enxuta, tendo na

constante redução de trabalhadores um dos recursos encontrados para igualar o nível de

competitividade americano o que, segundo Oliveira (2004, p. 23), faz do toyotismo “uma

máquina de produzir desempregados.”

O toyotismo foi o principal responsável pelas subcontratações, como a terceirização,

que teve um grande impulso na década de 90 e foi acompanhada pela nova onda tecnológica

que auxiliou as empresas a atingirem seu objetivo de possuir um sistema de produção enxuta e

cada vez mais produtivo.

De acordo com Alves (2002, p. 10):

É claro que o desemprego no Brasil possui múltiplas determinações. Existem, por exemplo, desempregados urbanos (e rurais) de categorias assalariadas da indústria, dos serviços e da agricultura, atingidas pelo novo complexo de reestruturação produtiva, com seus processos de inovações (e racionalização) organizacionais e a adoção de novos padrões tecnológicos. No caso da indústria, destacamos que o complexo de reestruturação produtiva (com o toyotismo sistêmico) contribuíram para o aumento da produtividade do trabalho e a diminuição dos postos de trabalho.

O que temos vivenciado nos últimos anos foi, principalmente, o aumento nas

exigências de qualificação dos trabalhadores. Atualmente são valorizadas as capacidades de

aprender coisas novas, a criatividade e a resposta rápida na solução de problemas e tomada de

decisão. Durante o início do século, como afirma Pastore (2000), os trabalhadores sem

escolarização foram capazes de aproveitar as oportunidades e realizar o processo de

mobilidade o que, a partir dos anos 80 e 90, passou a não ser mais tão acessível, pois com as

grandes transformações nos processos produtivos, e o acirramento da competitividade

mundial, as empresas passaram a priorizar a contratação de cada vez menos trabalhadores,

com cada vez mais qualificação.

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4.6. A Nova Classe Média e o Ensino Superior como Meio para Ascensão Social

O conceito de “nova classe média” foi ampla e profundamente explicado por Wright

Mills em seu livro originalmente intitulado “A nova Classe Média: White Collars” (1976).

A nova classe média surge no século XX em substituição à antiga classe média

formada por empresários independentes. A nova classe média, segundo o autor, é formada por

gerentes, profissionais liberais assalariados, vendedores e empregados de escritórios,

denominados por ele de “colarinhos-brancos”.

O surgimento dessa nova classe média ocorre por conta da passagem de um tipo de

estratificação baseada na propriedade para uma baseada na ocupação: “a ascensão numérica

dos novos empregados assalariados deve-se aos mecanismos industriais que deram origem às

novas ocupações da classe média” (MILLS, 1976, pg.85).

Mills (1976) utiliza o termo colarinhos-brancos para se referir às atividades

econômicas de prestação de serviços e comércio em que o trabalhador recebe um salário

mensal e utiliza roupas de passeio para o desempenho das funções, ou seja, deixa de lado

atividades em que há necessidade do uso de uniformes, que exige pouca ou nenhuma

qualificação e que exige esforço físico ao invés de esforço mental.

É forçoso deixarmos claro que essas atividades de colarinho branco não estão dentro

das fábricas pois os estudantes buscam, exatamente, se distanciar dessas ocupações ditas

“operacionais”.

O desempenho de tais atividades de “colarinho-branco” identifica os trabalhadores

com certo grau de status que não está relacionado apenas ao salário recebido, mas à própria

função, à relação com os altos cargos dentro da organização ou, até mesmo, com a própria

organização. O prestígio do cargo ocupado é maior que o salário recebido se comparado a um

operário semiqualificado, porém, segundo Mills, (1976, pg. 93):

(...) a nova classe média, em termos de renda e prestígio, constitui uma pirâmide maior ainda, cuja base está quase no mesmo nível dos que recebem as rendas mais baixas, e o vértice quase alcança os que estão no ponto mais alto da escala de prestígio.

Os cargos de prestígio são aqueles que exigem maiores qualificações e que mantenham

o trabalhador distante das atividades repetitivas e operacionais. Ou seja, as atividades de

“colarinho-branco” são aquelas que proporcionam, do ponto de vista do trabalhador, o status e

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o prestígio almejados, mesmo que, em alguns casos, o salário seja menor que o de alguns

tipos de operários.

Mills (1976, p. 258), cita ainda que:

A posição de prestígio dos empregados de colarinho branco é um dos argumentos mais válidos para defini-los como uma camada social, é o ponto essencial para todos aqueles que desejam situá-los na estrutura social contemporânea. Embora nenhum critério de estratificação seja suficiente, o prestígio social que reivindicaram e obtiveram é uma de suas características mais importantes.

Aqui no Brasil, com as atuais políticas de inclusão universitária, muitos jovens pobres

veem na graduação a possibilidade de escaparem do destino de ocuparem cargos operacionais,

mesmo que esses paguem salários iguais ou maiores que os cargos de “colarinho branco”.

Esses jovens não querem repetir a trajetória de seus pais, buscando ocupações que lhes tragam

status social.

O que presenciamos, então, é uma corrida pelo diploma que capacita o trabalhador

para a atuação em atividades de colarinho-branco, ao invés de atividades operárias, apesar de,

muitas vezes, também serem repetitivas e operacionais.

Atualmente muitas atividades de colarinho branco não exigem tamanha especialização,

bastando apenas nível médio para executá-las, porém, pelo fato de o mercado de trabalho

estar começando a ficar saturado de trabalhadores com nível superior – pois o diploma não é

mais algo tão raro como era em meados do século XX e o mercado de trabalho não é capaz de

absorver completamente todos os jovens com nível superior – as exigências das empresas com

relação à qualificação do trabalhador que ocupa um cargo de nível médio aumentam, mesmo

que para dada tarefa não seja necessária tal qualificação.

Os jovens atualmente vivem um círculo vicioso, em que o diploma possibilita a

atuação em cargos que lhe conferem o status desejado, porém gera um aumento da demanda

do mercado por profissionais cada vez mais qualificados. A concorrência nesse mercado de

trabalho aumenta, fazendo com que as melhores oportunidades de trabalho fiquem nas mãos

dos altamente capacitados e aos jovens graduados nas universidades de massa restem as

oportunidades mal remuneradas, que teoricamente exigem graduação, mas que, na prática,

não é preciso qualificação para ocupá-las.

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De acordo com Mills (1976, p. 283): “(...) a educação em massa tem sido também um

dos principais mecanismos sociais de ascensão dos empregos da nova classe média, pois esses

empregos exigem qualificações que são proporcionadas pelo sistema educacional.”

A educação superior traz a esperança da ascensão social, porém o tipo de ascensão que

o concluinte da graduação na universidade de massa pode alcançar é a de atuar

profissionalmente em uma função “colarinho branco” que não necessariamente pague um

salário melhor ou lhe ofereça condições de trabalho melhores do que antes de sua formação,

ou ainda, uma ascensão socioeconômica se compararmos seu salário atual ao salário recebido

pelo seu pai, mesmo que tenha um nível de escolaridade inferior ao dele: “Só para quem

procede da classe operária o fato de entrar para a categoria dos colarinhos-brancos representa

uma ascensão” (Mills, 1976, pg. 293).

De acordo com Souza (2015), o conceito de classe média é “superficial e triunfalista”,

pois reduz a estratificação à renda e esquece que há uma relação de dominação entre os que

monopolizam os privilégios e os que trabalham para os primeiros (SOUZA, 2015).

Mesmo assim, alguns ainda são capazes de ascender, mesmo sem fazer parte das

classes privilegiadas, mas será que essa ascensão é apenas econômica, ou seja, apenas um

aumento da renda, como critica, ou as universidades de massa são capazes de, além da

ascensão econômica, promover, também, ascensão social - no sentido do capital cultural que

permite a uma pessoa realmente passar a fazer parte de uma classe diferente da sua de origem?

(SOUZA, 2015).

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5. O MERCADO DE TRABALHO ASSALARIADO

Desde o início da elaboração dessa tese, muito se alterou nas taxas de emprego e

desemprego no país. Passamos por momentos na história recente do país em que as taxas de

desemprego chegaram a um máximo de 12%, quando em 2004 entraram em queda gradual,

até alcançarem índices próximos dos 5% em 2014. Ou seja, em dez anos, testemunhamos

queda de mais de 7% nas taxas de desemprego.

Gráfico 01: Taxa de desemprego de 1995 a 2014

8,4%9,5%

10,2%11,1%

12,0%12,0%12,1%12,6%12,3%11,4%

9,8% 9,9% 9,3%

7,8% 8,1%6,7%

6,0% 5,5% 5,4% 5,0%

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

14,0%

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: IBGE

Esses dados são resultado de um período de crescimento econômico vivido pelo país

durante os anos de 2003 a 2010.

O período de crescimento levou à diminuição nas taxas desemprego e,

consequentemente, à dificuldade de contratação de trabalhadores por parte das organizações.

Por um lado, tínhamos maior demanda de vagas, por outro, tínhamos um número insuficiente

de profissionais qualificados para ocupar todas as vagas disponíveis.

Houve, durante alguns anos, o uso da expressão “apagão de mão de obra” referindo-se

à falta de profissionais qualificados para assumir o número de vagas que se abriam como

resultado do crescimento econômico.

Essa expressão está diretamente ligada à diminuição do nível de empregabilidade dos

trabalhadores não qualificados. A empregabilidade é a capacidade profissional para

candidatar-se a um emprego ou para manter-se empregado.

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Segundo Lazzareschi (2010, p. 193), para alguns estudiosos do trabalho, o conceito de

empregabilidade desconsidera a reestruturação produtiva no processo de redução de postos de

trabalho e responsabiliza o trabalhador pela sua situação de desemprego.

Mas o trabalhador não é o único responsável pela sua situação no mercado de trabalho.

Estar ou não empregado, no atual cenário brasileiro, não é responsabilidade apenas do

trabalhador. O país passou, nos anos de 2014, 2015 e 2016, por uma crise econômica,

resultado de crises econômicas mundiais, como a que se iniciou nos EUA em 2008 e por

crises políticas internas, que se intensificaram após a reeleição da Presidenta Dilma Roussef

em 2014.

Em 2015 o Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) chegou a US$ 1,9 trilhão, e o PIB per

capita ficou em US$ 15,9 mil, correspondendo a uma redução de 4,6% diante de 2014. Já no

segundo trimestre de 2016, o PIB brasileiro recuou 0,6% em relação ao trimestre anterior.

A indústria apresentou queda de 6,2%; a indústria de transformação recuou 9,7%,

influenciada pela redução, em volume, dos segmentos de veículos, de máquinas e

equipamentos e de aparelhos eletroeletrônicos; o setor de serviços, que sempre constituiu boa

parte do PIB, recuou 2,7% (BRASIL- IBGE, 2016).

O cenário no mercado de trabalho vem mudando gradativamente. O recuo da

economia impacta diretamente na redução de postos de trabalho nas empresas e quem possui

menos qualificações corre mais riscos. Portanto, a capacidade profissional ainda tem papel

importante na empregabilidade do trabalhador. Essa capacidade profissional, nos dias de hoje,

está intimamente ligada à capacidade de adquirir novas competências exigidas no atual

mundo globalizado do trabalho.

A aquisição de tais competências se dá durante a formação escolar, principalmente no

ensino superior. No atual cenário globalizado, em que a competitividade entre as empresas é

cada vez maior, a exigência por trabalhadores cada vez mais qualificados é primordial para a

sobrevivência das empresas.

Não é raro que pequenas, médias e grandes empresas tenham aumentado os programas

de educação corporativa nos últimos anos, tanto para capacitação de seus trabalhadores nas

funções exercidas como na tentativa de nivelar a educação e o conhecimento necessário ao

desenvolvimento das atividades laborais. Mesmo empregados com nível superior não atendem

às exigências e necessitam de aperfeiçoamento.

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Investimentos em educação corporativa crescem como alternativa para melhorar a

qualificação de profissionais. Um estudo inédito da Deloitte Consultoria realizado com 126

empresas mostra o atual cenário dos investimentos em educação corporativa no Brasil.

Das empresas participantes 63% responderam à questão sobre o quanto investem em

educação corporativa em relação ao seu faturamento. As respostas desse grupo indicaram uma

média de investimento equivalente a 0,47% do faturamento anual. Já entre as organizações

que apontaram os montantes de recursos propriamente ditos na gestão da educação

corporativa (46% da amostra das entrevistadas), a média de investimento indicada foi de cerca

de R$ 2,4 milhões (DELOITTE, 2016).

Apesar do cenário favorável ao trabalhador nas últimas décadas, nos últimos dois anos

as taxas de desemprego retornaram a antigos patamares, devido à crise econômica pela qual o

país passa na atualidade. Segundo dados do IBGE de 2016: A taxa de desemprego nacional

aumentou para 11,2% no trimestre encerrado em abril deste ano, de acordo com a Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, do IBGE. Trata-se da maior taxa de

desocupação desde o início da pesquisa, em janeiro de 2012. Em igual período de 2015, o

desemprego correspondia a 8% da População Economicamente Ativa (SALES, 2016).

Anteriormente ao período de retorno às altas taxas de desemprego, acreditava-se que a

proximidade da Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil e das Olimpíadas de 2016,

sediadas na cidade do Rio de Janeiro, e os consequentes investimentos realizados para atender

esses eventos, incentivaria o aumento das vagas de emprego no país. Previa-se que a Copa do

Mundo geraria 1 milhão de empregos formais, mas o que ocorreu foi bem diferente: Nos

primeiros cinco meses de 2014, a geração de novos postos de trabalho formal foi 32% menor

do que em 2013 e 46% menor que em 2012 (PASTORE, 2014).

Passamos por períodos de “vacas gordas” no mercado de trabalho, em que havia oferta

de vagas, porém, faltava mão de obra qualificada para ocupar os postos de trabalho. De

qualquer forma, muitos trabalhadores foram contratados e posteriormente treinados ou

incentivados a melhorar suas qualificações por meio do ensino superior.

Hoje o que vemos é uma diminuição dos postos de trabalho, e assim sendo, os menos

qualificados voltam a correr risco, pois em um cenário de pouca demanda, os menos

escolarizados são os primeiros a serem demitidos.

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Diante de um cenário de aumento gradativo nas taxas de desemprego, a qualificação

em nível superior faz-se necessária na tentativa da manutenção do emprego e, quem sabe, na

oportunidade de crescimento profissional, obtenção de melhores salários e melhores

oportunidades de trabalho.

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6. ANÁLISE DE DADOS4

Os dados aqui apresentados são resultado de 10 questionários aplicados aos docentes

do curso de Administração, 80 questionários aplicados aos alunos da graduação em

Administração (sendo 40 aos alunos ingressantes e 40 aos alunos concluintes) e 10 entrevistas

gravadas e transcritas (5 alunos ingressantes e 5 concluintes).

6.1. Questionários Aplicados aos Docentes

Antes de nos aprofundarmos na análise dos questionários e das entrevistas realizadas

com os alunos ingressantes e concluintes, faremos a apresentação dos dados colhidos junto

aos docentes por meio da aplicação de um questionário, e faremos uma breve discussão sobre

as respostas apresentadas por eles. Foram aplicados 10 questionários a professores do curso

de Administração da IES estudada. Esses professores ministram aulas nas áreas de: Recursos

Humanos, Logística e Operações, Economia, Marketing, Matemática, Finanças,

Contabilidade, Teorias da Administração e Direito.

A escolha dos professores se deu de forma aleatória, a partir de proposta da própria

coordenação do curso que sugeriu uma reunião docente como oportunidade para aplicação

dos questionários. Os docentes foram convidados a responder voluntariamente.

O questionário5 aplicado é composto de 14 questões, fechadas e abertas, em que o

docente poderia externar suas opiniões.

Com relação à titulação dos docentes participantes da pesquisa temos:

Quadro 01. Titulação dos Docentes Pesquisados

TITULAÇÃO RESPOSTAS Especialista 5 Mestre 5 Doutor 0

Fonte: Próprio autor

4 Todos os quadros apresentados nesse capítulo foram elaborados pela pesquisadora, baseando-se nas respostas obtidas por meio da aplicação de questionários fechados e abertos. As frases que se apresentam entre aspas foram transcritas exatamente da maneira como foram escritas pelos pesquisados, sem correção gramatical. As entrevistas realizadas foram transcritas e aqui utilizadas de forma literal, sem correção gramatical. 5 Os questionários completos e as entrevistas realizadas encontram-se, na íntegra, nos anexos.

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Ao perguntarmos sobre o tempo em que atuam como docente, obtivemos as seguintes

respostas:

Quadro 02. Tempo de docência dos pesquisados

TEMPO COMO DOCENTE RESPOSTAS Menos de 3 anos 0 Entre 4 e 6 anos 0 Entre 7 e 9 anos 4 Mais de 10 anos 6

Fonte: Próprio autor

A questão de número 3 versava sobre o tempo de atuação como docente na IES estudada:

Quadro 03. Tempo de docência na IES pesquisada

TEMPO COMO DOCENTE NA IES RESPOSTAS Menos de 3 anos 0 Entre 4 e 6 anos 1 Entre 7 e 9 anos 4 Mais de 10 anos 5

Fonte: Próprio autor

A questão de número 4 versa sobre o regime de contratação desses docentes pela IES:

Quadro 04. Regime de contratação dos docentes na IES pesquisada

REGIME DE CONTRATAÇÃO RESPOSTAS Horista 8 Tempo Parcial 2 Tempo Integral 0

Fonte: Próprio autor

Nesse momento existem dois pontos que merecem nossa atenção: o baixo número de

professores titulados e o alto índice de contratações em regime horista. O que isso acarreta

para a IES e para a qualidade do ensino? Temos, dentro de uma população de 10 professores,

apenas 50% de mestres.

A IES estudada possui um total de 78% de professores titulados (mestres e doutores) e espera-

se alcançar um total de 90% até final de 2017. Essa perspectiva visa atender a exigência da

LDB de 1996 que as IES possuam no mínimo 1/3 de docentes titulados e, pelo menos, 50%

com mestrado.

Além disso, a LDB de 1996 exige também um mínimo de 1/3 de docentes contratados

em regime de dedicação em tempo integral. A necessidade de professores contratados em

tempo integral se dá para o incentivo de atividades como pesquisas e produções acadêmicas,

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uma vez que a carga horária do docente divide-se em 20 horas em sala de aula e outras 20

horas para atividades de produção científica.

Com o alto índice de professores horistas, temos docentes ministrando aulas em

diversas IES, responsáveis por disciplinas distintas demandando tempo de preparo das

mesmas, além de se dedicarem, em muitos casos, a outras atividades profissionais além da

docência (no caso dos docentes pesquisados 7 em 10), diminuindo as possibilidades de

dedicação à pesquisas ou atividades acadêmicas.

Na IES pesquisada não há nenhuma relação entre a titulação e o regime de contratação,

ou seja, não há preferência na contratação em regime integral para os docentes titulados, por

exemplo. No caso acima, os dois docentes com contratação em tempo parcial são mestres.

Quadro 05. Ocupação profissional do docente além da docência

POSSUI OUTRA OCUPAÇÃO PROFISSIONAL RESPOSTAS Sim 7 Não 3

Fonte: Próprio autor

Questionamos a percepção dos professores com relação às dificuldades dos alunos em

sala de aula e obtivemos as seguintes respostas (mais de uma alternativa poderia ser

assinalada):

Quadro 06. Percepção dos docentes sobre as dificuldades dos alunos em sala de aula

SUA PERCEPÇÃO SOBRE AS DIFICULDADES RESPOSTAS Relacionamento com colegas 0 Entendimento do conteúdo ministrado em aula 8 Entendimento do vocabulário utilizado em 5 Cálculo matemático 6 Organização do tempo 5 Comprometimento e dedicação 8 Conhecimento de conteúdos prévios, importantes para o acompanhamento das aulas

8

Fonte: Próprio autor

Além das alternativas disponíveis para escolha dos docentes, ainda foram citadas

outras dificuldades como:

- “Falta de tempo para estudar”;

- “Dificuldade em manter a atenção”;

- “Dificuldade de análise e comparação”;

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- “Dificuldade de pensar logicamente”;

- “Dificuldade em seguir regras”.

Essas respostas nos mostram como o aluno, do ponto de vista do docente, chega

despreparado para acompanhar as aulas em nível superior, seja por déficit de conteúdos

básicos, seja por imaturidade ou por desinteresse.

Fica claro, pelas respostas acima, que os alunos não possuem conhecimentos prévios e

básicos para o acompanhamento das aulas, seja da linguagem culta, seja dos princípios da

matemática. Esse desconhecimento impacta diretamente a maneira como o professor prepara

suas aulas, pois, não raras vezes, somos obrigados a retomar conceitos básicos para

conseguirmos prosseguir no conteúdo das aulas.

Questionamos se os docentes são obrigados, frente ao despreparo dos alunos, a

diminuir as exigências em sala de aula:

Quadro 07. Necessidade do docente em diminuir as exigências em sala de aula

OBRIGADO A DIMINUIR AS EXIGÊNCIAS RESPOSTAS SIM 8 NÃO 2

Fonte: Próprio autor

E qual a frequência com que o fazem:

Quadro 08. Freqüência com que o docente diminui as exigências em sala de aula

FREQUÊNCIA COM QUE O FAZEM RESPOSTAS Frequentemente 4 Esporadicamente 1 Raramente 3

Fonte: Próprio autor

Como discutido ao longo da tese, há um forte movimento de mercantilização do

ensino superior por parte das IES privadas e, dessa forma, acreditamos que exista uma

crescente precarização do ambiente de trabalho do professor e, ao questionarmos sobre as

maiores dificuldades encontradas por eles, obtivemos as seguintes respostas (mais de uma

alternativa poderia ser assinalada):

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Quadro 09. Maiores dificuldades vividas pelo docente em sala de aula

DIFICULDADES COMO DOCENTE RESPOSTAS Falta de equipamento adequado em sala 3 Falta de apoio pedagógico 1 Número de alunos por turma 9 Nível sociocultural dos alunos 5 Falta de interesse dos alunos 7

Fonte: Próprio autor

Outras dificuldades também citadas pelos docentes:

- “Dificuldade dos alunos em acompanhar o conteúdo”;

- “Falta de incentivo em produções acadêmicas”;

- “Falta da base”.

O que podemos perceber é que existe uma precarização do trabalho do professor, uma

vez que temos cada vez mais alunos em sala de aula (em torno de 140), o que apareceu quase

como unanimidade nas respostas, além de um problema que, pode-se dizer, é decorrente do

anterior: a falta de interesse dos alunos (7 respostas). Um dos docentes, inclusive, escreveu: “a

falta de interesse decorre do número de alunos”.

Deparamo-nos com alunos com déficit na sua formação básica, que farão parte de uma

sala de aula com mais de 100 colegas, acomodados em condições ambientais ruins, como

espaço insuficiente entre as carteiras e entre as fileiras de carteiras, salas abafadas e quentes.

Dessa forma, temos os ingredientes perfeitos para a falta de interesse do aluno, que não

consegue ter a atenção do professor ou tirar suas dúvidas ou, até mesmo, ouvir a aula

adequadamente.

Questionamos aos próprios docentes quais seriam, em sua opinião, as causas das

dificuldades dos alunos e surgiram respostas como:

- “Deficiência no ensino fundamental e médio”;

- “A IES almeja atender maior número de alunos deixando aspectos socioculturais dos

alunos em segundo plano”;

- “Alunos vivem um universo de incertezas e quando chegam na sala de aula não

demonstram interesse”;

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- “Turmas cada vez mais cheias”;

- “Déficit de formação do ensino médio, gerando falta de interesse e

comprometimento”;

- “Alunos oriundos de ensino fundamental e médio de escolas públicas que não

atendem a demanda da universidade”;

- “Falta de perspectiva a longo prazo”;

- “Falta de aplicação dos conteúdos na vida profissional”;

- “Os cursos que antecedem a universidade não estão capacitando adequadamente o

aluno e falta instrumentos aos discentes para acompanhar as aulas e aprofundamento dos

temas”;

- “O ensino superior tende, cada vez mais, a ser um negócio, onde o lucro e viabilidade

são mais importantes que o saber”;

- “Falta de um vestibular de verdade”;

- “As IES não estão preocupadas com a formação do aluno e sim com o lucro

financeiro”.

Segundo os próprios docentes, os principais problemas estão no déficit educacional

com o qual o aluno chega à universidade e a falta de investimento na educação/formação

desse aluno. Ou seja, do ponto de vista do professor, estamos diante de um conjunto de

variáveis que, juntas, proporcionam um cenário propício para o fracasso da formação

profissional dos alunos. Eles acabam sua formação superior, mas a qualidade é questionável.

Questionamos se o docente acredita que a formação que o aluno recebe da IES é

suficiente para capacitá-lo como profissional no mercado de trabalho e tivemos 50% de

respostas positivas e 50% de respostas negativas.

Aqueles que responderam negativamente descreveram que isso acontece pois:

- “Obrigação que temos em ajustar o nível do ensino ao nível do aluno ou ninguém

terminaria a graduação”;

- “Falta de aprofundamento dos conteúdos das aulas”;

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- “Carga horária”;

- “Grade das disciplinas”;

- “Falta de experiências práticas”;

- “Falta de conhecimento prévio”;

- “Dedicação”;

- “Exigência por parte dos alunos”;

- “Com a grande quantidade de alunos, fica cada vez mais difícil esgotar os temas”;

- “A universidade é o início do processo”.

Percebe-se que, do ponto de vista do docente, muitas são as causas para que essa

formação não seja suficiente para capacitar o aluno como profissional, mas de um modo geral,

fica claro um encontro da falta de preparo do aluno com o nível do ensino que é ofertado,

atrelado às condições em sala de aula.

Questionamos os docentes sobre o que eles acreditam mudar na vida profissional do

aluno após a graduação e obtivemos as seguintes respostas:

- “Pouca coisa, aumenta chance de se manterem empregados ou ocuparem cargos

menos operacionais, mas não conseguem alcançar níveis estratégicos”;

- “Nível social”;

- “O diploma os habilita a cargos melhores e concursos públicos, mas terão que dar

continuidade à formação”;

“Muito pouco, na maioria dos casos a efetivação, mas a vida profissional só irá

melhorar depois da pós-graduação”;

- “Perspectiva que ocorre por criarem laços para fora de suas comunidades originais”;

- “Perspectiva futura visando crescimento pessoal e profissional (não para todos)”;

- “Mesmo com dificuldades os alunos conseguem levar algo com a convivência com

os colegas e professores, acaba mudando o aluno, de certa forma o motiva”;

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- “Manutenção do emprego”;

- “Maior responsabilidade”.

Percebe-se que, para o docente, não há grandes mudanças na vida profissional do

aluno, além da manutenção do emprego atual, ou efetivação no caso dos estagiários.

Acreditam em uma maior mudança na vida pessoal do que na vida profissional, a partir da

convivência com os colegas ou com os próprios professores. Ou seja, o ambiente acadêmico

teria uma influência positiva na vida pessoal desse aluno, por ventura incentivando-o a se

interessar por novos assuntos ou criar novos hábitos e atitudes, mas não seria suficiente para

transformá-lo em um profissional completamente qualificado para o mercado.

Frequentar o ambiente acadêmico permite ao aluno aumentar seu capital social, uma

vez que esse ambiente lhe trará maior proximidade aos colegas e professores, podendo lhe

abrir portas para oportunidades de estágio e atuação profissional, por exemplo.

Não podemos ignorar que essas transformações na vida do acadêmico são importantes,

também, para seu crescimento profissional, pois se pressupõe que haja o surgimento de

comportamentos e competências primordiais para a atuação no mercado de trabalho,

comportamentos e competências essas cada vez mais exigidas pelas organizações no mundo

do trabalho globalizado e onde a concorrência é cada vez mais acirrada.

Finalmente, ao serem questionados sobre a matriz curricular do curso:

Quadro 10. Concordância dos docentes com a matriz curricular do curso de administração da IES pesquisada

CONCORDÂNCIA COM A MATRIZ RESPOSTAS SIM 4 NÃO 6

Fonte: Próprio autor

E aqueles que não concordam, propõem mudanças como:

- “Extinção das disciplinas EAD (que somam 20% da grade do curso) e extinção das

horas de Pesquisas Teóricas6”;

- “Retorno das atividades praticas como projetos e TCC que foram retirados da grade”;

6 O nome da disciplina foi alterado. Essa disciplina aparece na Matriz curricular do curso com uma carga horária de 46h/relógio em cada semestre, no entanto, não possui ementa, conteúdo programático ou planejamento de aulas. Não são aulas ministradas em sala e sim, horas computadas na matriz sem nenhuma atividade relacionada a elas. Trata-se apenas de horas designadas para o aluno realizar seus estudos individuais.

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- “Mais atenção com matemática”;

- “Disciplinas com ênfase na prática e TCC”;

- “Aulas de Língua Portuguesa”;

- “Maior carga horaria”;

- “Mais aulas presenciais”;

- “Aulas presenciais (conteúdos mais abrangentes que estão sendo ministrados em

modalidade EAD)”;

- “Aulas práticas (laboratórios)”;

- “Conceitos mais próximos da prática”;

- “Aulas complementares para minimizar as deficiências dos alunos (se a instituição

pensasse em aprendizagem efetiva)”.

Nota-se a preocupação dos docentes com relação, principalmente, às disciplinas em

EAD, que estão substituindo muitos conteúdos antes ministrados presencialmente, e a falta da

prática, seja a partir do uso de laboratórios ou por meio de projetos apresentados pelos alunos

e realização do TCC. Também percebemos a preocupação com um possível auxílio que a IES

poderia dar ao aluno para minimizar seus déficits de formação, principalmente em Língua

Portuguesa e Matemática.

Atualmente a matriz curricular do curso de Administração nessa IES é composta da

seguinte forma:

- carga horária total do curso: 3.000 horas;

- carga horária de disciplinas na modalidade EAD: 600 horas;

- carga horária da disciplina “Pesquisas Teóricas”7: 367 horas;

- carga horária das atividades complementares8: 200 horas.

7 O nome da disciplina foi alterado. 8 Atividades complementares são obrigatórias segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (Resolução nº 4, de 13 de julho de 2005 – artigo 8º). Trata-se de atividades extracurriculares que o aluno deverá realizar durante o curso e apresentar os certificados na IES para que as horas sejam computadas.

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Evidenciamos somente cerca de 1/3 da carga horária do curso formada por disciplinas

presenciais pois, segundo os números acima, o restante da carga horária é composto por

disciplinas virtuais (600 horas), atividades complementares (200 horas) e estudos ou

pesquisas que o aluno, teoricamente, realize em sua própria casa ou biblioteca da universidade

(367 horas) mas que são computadas no total do curso.

É importante salientarmos que uma das disciplinas ofertadas na modalidade à distância

é Língua Portuguesa, conteúdo esse, citado por alguns dos docentes como sendo necessária

durante a formação do aluno e que alguns citam como a grande dificuldade dos discentes

quando iniciam a graduação.

Ao compararmos a matriz desse curso com o de outras IES, verificamos que, além do

curso de Administração da PUCSP, por exemplo, não possuir nenhuma disciplina na

modalidade à distância (EAD), também não possui nenhuma disciplina em que não haja

conteúdo programático (como Pesquisas Teóricas na IES pesquisada), ou seja, todas as 3100h

do curso da PUCSP são de conteúdos presenciais. Além disso, as atividades complementares

a serem cumpridas somam apenas 68h, o que possibilita um aumento no número de horas

disponíveis para disciplinas em sala de aula.

Se utilizarmos outro exemplo de matriz curricular de uma universidade pública como a

da USP (Universidade de São Paulo) encontramos uma carga horária de 3.180h, cumpridas

exclusivamente com disciplinas presenciais - excluindo-se apenas as 300h de estágio

obrigatório – todas com conteúdo programático específico e previsto nas ementas de

disciplinas.

A Portaria do MEC (Ministério de Estado da Educação) Nº 4.059, de 10 de dezembro

de 2004, em seu artigo 1º, parágrafo 2, autoriza instituições de ensino superior a introduzirem,

na organização pedagógica e curricular de seus cursos superiores reconhecidos, a oferta de

disciplinas integrantes do currículo com modalidade semi-presencial e ainda: “Poderão ser

ofertadas as disciplinas referidas no caput, integral ou parcialmente, desde que esta oferta não

ultrapasse 20 % (vinte por cento) da carga horária total do curso” (MEC, 2004).

Fica claro que as IES privadas de massa foram as primeiras a fazer valer seus direitos

de introduzir disciplinas on line nas matrizes de seus cursos, uma vez que essa modalidade

reduz os custos com professor e infraestrutura. As disciplinas on line são acompanhadas por

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tutores on line (que não são contratados com os mesmos salários dos professores) e chegam a

orientar, via e-mail, milhares de alunos a cada semestre.

Ainda segundo os próprios docentes, há necessidade de aumentar a carga horária do

curso diminuindo as disciplinas ofertadas na modalidade à distância, bem como aumentar as

atividades práticas para que tenhamos melhor qualidade do ensino ofertado e,

consequentemente, melhor formação dos alunos.

Além da questão da carga horária do curso, existem também as questões relativas às

condições de sala de aula dificultando o trabalho dos docentes e a dedicação dos alunos.

O propósito principal dessa tese não é a análise da opinião dos docentes, porém, torna-

se necessário ouvi-los, pois são os profissionais diretamente ligados aos discentes em sala de

aula e à sua formação profissional. Não podemos nos isentar de conhecer a realidade vivida

pelos professores em sala de aula.

Esta análise nos trouxe o cenário formado em sala de aula, do ponto de vista dos

professores, ao encontrarem alunos com déficit na sua formação básica, impactando

diretamente no aproveitamento dos conteúdos ministrados. Além disso, fica claro, a partir das

respostas dos docentes, outras variáveis presentes na composição desse cenário: salas de aula

com número cada vez maior de alunos, o que dificulta o trabalho do professor; matriz

curricular que não prioriza a prática, diminuindo o interesse do aluno e o aumento de

conteúdos ministrados na modalidade EAD, o que diminui o aproveitamento do aluno.

Passamos, então, para a análise dos questionários e entrevistas realizadas com os

alunos ingressantes e concluintes do curso de administração da IES estudada.

6.2. Questionários Aplicados aos Alunos Ingressantes

Como dito anteriormente, os questionários foram desenvolvidos exclusivamente para

esta pesquisa, e tiveram como objetivo identificar os dados socioeconômicos dos alunos, sua

atual participação no mercado de trabalho (quando se trata de alunos ingressantes) e sua

trajetória profissional a partir do início da graduação (quando se trata de alunos concluintes).

Primeiramente trataremos dos dados coletados junto aos alunos ingressantes, cursando

1º e 2º semestres do curso de Administração.

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Foram aplicados 40 questionários (constituídos por 23 questões, entre abertas e

fechadas). Desses, 5 alunos foram aleatoriamente escolhidos para realizar uma breve

entrevista no intuito de aprofundarmos as questões respondidas. A análise aqui realizada

levará em conta as respostas obtidas por meio do questionário, bem como as respostas obtidas

por meio das entrevistas.

A participação dos alunos que responderam ao questionário se deu de forma voluntária.

Em uma sala de aula de 1º semestre e uma de 2º semestre do curso de Administração,

questionamos quem seria voluntário para responder um questionário com 24 questões a fim de

coletarmos dados para a realização de uma Tese de doutoramento. Foram informados

verbalmente, e também impresso no próprio questionário, que não deveriam se identificar e

que as informações ali coletadas seriam confidenciais e de uso exclusivo da pesquisadora.

Com relação à idade da população pesquisada temos:

Quadro 11. Idade do aluno ingressante

IDADE RESPOSTAS Entre 17 e 20 anos 20 Entre 21 e 25 anos 14 Entre 26 e 30 anos 5 Mais de 31 anos 1

Fonte: Próprio autor

Com relação ao gênero da população participante, temos:

Quadro 12. Sexo do aluno ingressante

SEXO RESPOSTAS F 27 M 13

Fonte: Próprio autor

Nota-se um desequilíbrio no número de homens e mulheres no curso. Apesar de não

ser um curso de tradição feminina ou masculina, encontra-se uma proporção de 100% a mais

de mulheres em relação aos homens na amostra pesquisada.

Dentro da população de 5 alunos que aceitaram responder à entrevistas, temos 4

mulheres e 1 homem.

Segundo Censo da Educação Superior de 2013, o número total de matrículas no ensino

superior naquele ano foi de 6.152.405 e desse total, 3.416.238 eram mulheres. Ou seja, mais

de 55% das matrículas em nível superior eram de mulheres.

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Dados como os do ProUni corroboram a informação anterior e deixam claro a

crescente participação feminina na formação em nível superior. Segundo o ProUni, o número

de mulheres bolsistas no ano de 2014 era 53% do total de bolsistas do programa.

A questão seguinte solicitava que o aluno declarasse sua cor/etnia. As respostas

obtidas foram:

Quadro 13. Cor/etnia

COR/ETNIA RESPOSTAS Branco 24 Preto 2 Pardo 14 Indígena 0

Fonte: Próprio autor

Existe uma disparidade entre o número de alunos autodeclarados brancos e negros (a

soma de indivíduos pretos e pardos).

Segundo PNAD de 2013, naquele ano, a população brasileira era formada por 46% de

brancos, 8% de pretos e 45% de pardos. Dessa forma, é fácil percebermos entre brancos e

pardos números equivalentes, mas quando somamos o número de pretos ao de pardos, temos

um índice maior de negros (soma da população preta e parda) do que de brancos (53% contra

46% respectivamente). Observamos diferenças nessas proporções quando analisamos cada

uma das regiões do país, assim sendo, a região sudeste contava com 53% de brancos e 44% de

negros.

Apesar do índice de brancos e negros na amostra de alunos participantes da pesquisa

se aproximar da realidade da região sudeste do país: “a baixa participação relativa de pretos,

pardos e índios com relação às demais categorias, conforme evidenciado na PNAD,

demonstra o prejuízo histórico dessas etnias, confirmando a importância das políticas públicas

de inserção e de cotas que vêm sendo adotadas” (BRASIL - INEP, 2014, pg. 39).

Dentre os 5 alunos que responderam à entrevista, 2 possuem bolsa ProUni.

O total dos alunos participantes mora na zona leste da cidade de São Paulo, ou em

alguns municípios vizinhos na região metropolitana.

A região Leste da cidade de São Paulo é a maior em população e conta com cerca de

30 campus de faculdades e universidades. Segundo dados coletados pela Prefeitura do

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Município de São Paulo no recenseamento realizado no ano de 2010, o total da população na

cidade era de 11.253.503 de habitantes e só na região Leste da cidade, somavam-se 3.998.237

habitantes (BRASIL - Prefeitura Do Município de São Paulo, 2016).

A pergunta de número 5 do questionário versa sobre a escolha do curso de

Administração e mais de uma alternativa poderia ser assinalada. Nessa questão obtivemos as

seguintes respostas:

Quadro 14. Fator que motivou a escolha do curso por parte do aluno ingressante

ESCOLHA DO CURSO RESPOSTAS Influência da família 3 Vontade própria 23 Influência do trabalho exercido 6 Exigência da empresa em que você trabalha 0 Falta de opção 0 Custo do curso 1 Futuro profissional 15

Fonte: Próprio autor

Nessa questão fica evidente a escolha visando a formação profissional e a escolha de

um curso que possibilite a inserção no mercado de trabalho.

Nas entrevistas realizadas, pudemos aprofundar um pouco mais essa questão, e

obtivemos respostas como:

- “É algo que eu me identifico. Eu acredito que eu nasci pra resolver problemas e a

Administração pra mim é isso, resolver as falhas de um outro departamento” (aluno

ingressante 1).

Porém, também, verificamos que existem escolhas baseadas nas dificuldades de arcar

com os custos de um curso mais caro:

- “A princípio foi por vontade própria e também por falta de opção em outro curso em

si, que eu queria enfermagem também...” (aluno ingressante 2).

- “Por causa dos pontos (Enem) e por que financeiramente não dava pra pagar” (aluno

ingressante 2).

As questões seguintes pretendiam investigar o nível econômico dos alunos

participantes da pesquisa. Na pergunta sobre o número de moradores na residência, obtivemos

o seguinte resultado:

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Quadro 15. Número de moradores na residência do aluno ingressante

MORADORES DA RESIDÊNCIA RESPOSTAS Sozinho 1 2 pessoas 6 3 ou 4 pessoas 18 5 a 7 pessoas 12 Mais de 8 pessoas 3

Fonte: Próprio autor

Com relação à renda per capta da família, obtivemos as seguintes respostas:

Quadro 16. Renda per capta da família do aluno ingressante

RENDA PER CAPTA FAMILIAR RESPOSTAS Até 1 salário mínimo 4

Entre 1 e 3 salários mínimos 22 Entre 3 e 5 salários mínimos 13 Mais de 5 salários mínimos 2

Fonte: Próprio autor

Não é difícil notarmos que se trata de jovens das classes C, D e E, de acordo com os

critérios de classificação do IBGE.

Questionamos esses jovens se, além deles próprios, mais alguém em suas famílias

(parentes próximos como pais e irmãos) possui nível superior. As respostas obtidas foram:

Quadro 17. Existência de parentes do aluno ingressante que possuam curso superior

PARENTE PRÓXIMO COM GRADUAÇÃO RESPOSTAS SIM 17 NÃO 23

Fonte: Próprio autor

Essa questão traz uma discussão bastante interessante, uma vez que temos um

equilíbrio no número de respostas, deixando claro que dentro da população pesquisada temos

um número considerável de alunos com algum parente com formação superior. Isso pode

ocorrer, por exemplo, pelo aumento do poder aquisitivo da classe média nos últimos anos,

possibilitando o acesso dessa população ao ensino superior, até mesmo àqueles com mais

idade.

Esse fenômeno do aumento do poder aquisitivo das classes médias teve início a partir

da estabilização da economia com o Plano Real nos anos 90 do séc. XX: “o Plano Real obteve

o primeiro sucesso na contenção da expansão do nível dos preços que, desde os anos de 1980,

já podia ser caracterizada como uma superinflação” (Oliveira e Turolla, 2003, pg. 1).

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Com o início Governo do Presidente Lula (2003 – 2010) e no início do Governo de

Dilma Roussef (2011 – 2016) atingiu-se uma maior valorização do salário mínimo e uma

diminuição nas taxas de desemprego, contribuindo com a elevação dos salários.

Segundo Dedecca, Trovão e Souza (2014, p. 09):

A reativação da economia, ao longo da segunda metade da década passada, foi acompanhada da queda da desigualdade de renda corrente e da pobreza de natureza monetária. Em um primeiro momento, o movimento foi explicado pelos efeitos do aumento da atividade econômica e da sua capacidade de geração de postos de trabalho associada às políticas públicas de renda. Em seguida, a recomposição do investimento, tanto público como privado, serviu de estímulo para o crescimento da produção e da renda. De modo inédito, o país conseguiu conjugar crescimento, redução da desigualdade de renda corrente, queda da pobreza de natureza monetária e alguma melhoria dos indicadores sociais da população de menor renda.

Ainda segundo dados da PNAD de 2014, o nível educacional dos pais influencia a

trajetória profissional e o salário dos filhos, independente do nível de instrução desses.

Certamente que pais com maior nível de escolaridade possuem condições de proporcionar

maiores chances de educação e cultura para seus filhos (BRASIL - IBGE, 2016).

Outro dado importante da pesquisa do IBGE mostra que nas famílias em que os pais

possuíam no mínimo o diploma de nível superior, 69,1% dos filhos também conseguiram

concluir a graduação. Já nas famílias em que o pai não é alfabetizado, apenas 4% dos filhos

conseguiram completar o ensino superior (BRASIL - IBGE, 2016).

A questão seguinte versa sobre o benefício de algum tipo de bolsa, desconto ou

financiamento e obtivemos as seguintes respostas:

Quadro 18. Benefício de bolsa parcial ou integral ou financiamento estudantil

BENEFICIÁRIO DE BOLSA OU FINANCIAMENTO RESPOSTAS Pago integralmente 12 Bolsa (parcial ou total) concedida pela IES 14 Bolsa (parcial ou total) concedida pela empresa onde 3 Bolsa (parcial ou total) concedida pelo ProUni 2 Financiamento pelo Fies 2 Outras modalidades de bolsa9 5

Fonte: Próprio autor

Esses dados mostram a diferença significativa entre o número de respostas de alunos

que possuem bolsa concedida pela própria universidade somado ao número de alunos que 9 Educa mais Brasil, Quero Bolsa e Mais Bolsas

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possuem algum outro tipo de bolsa em relação aos alunos que possuem bolsa concedida pelo

ProUni ou Fies. Do total de alunos participantes, 32% pagam integralmente o curso, 37%

possuem bolsa concedida pela própria universidade e é nessa modalidade de bolsa que

encontramos o maior número de respostas. Entre ProUni e Fies, temos apenas 2 alunos em

cada modalidade (5% das respostas para cada), e ainda temos outras modalidades de bolsa que

somam 13% das respostas.

Apesar do número expressivo de alunos atendidos pelo ProUni e Fies em todo o País,

o percentual dentro de nossa amostra é baixo e encontramos um percentual maior de alunos

atendidos por bolsas concedidas pela própria IES, ou outras modalidades.

Existe no país um grande número de jovens sem condições financeiras para cursar uma

faculdade particular, porém, com algum auxílio, muitos estão conseguindo realizar o sonho da

graduação. Apesar de haver algumas políticas públicas de auxílio à formação superior, muitos

desses sonhos estão sendo realizados por meio de bolsas concedidas pelas empresas onde

trabalham, pela própria IES e por Instituições como “Educa Mais Brasil”10, “Mais Bolsas11 e

“Quero Bolsa12, instituições privadas de financiamento que oferecem a possibilidade do aluno

conseguir bolsas de 30% a 70% nas IES privadas, a partir de parcerias com essas IES e

comprovação dos alunos de que não podem arcar com 100% do valor das mensalidades.

Um dos alunos entrevistados possui uma das modalidades de bolsa mencionadas

acima e, durante a entrevista, explica como a mesma funciona:

Você tem bolsa?

- “Educa Mais Brasil”

Como funciona?

- “Você se cadastra, aí ele mostra todas as possibilidades de desconto que você tem...aí

você vai pra faculdade, se cadastra e eles liberam a bolsa.”

Qual percentual de desconto que você tem?

- “75%”

E quando você se formar você tem que pagar esse valor? 10 https://www.educamaisbrasil.com.br 11 https://www.maisbolsas.com.br 12 https://querobolsa.com.br

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- “Eu já pago abatido todo mês e a cada seis meses eu pago duas mensalidades.”

(aluno ingressante 4).

A questão seguinte versa sobre as principais dificuldades que o aluno enfrenta em sala

de aula (mais de uma alternativa poderia ser assinalada):

Quadro 19. Percepção dos alunos ingressantes sobre as dificuldades vividas em sala de aula

DIFICULDADES DOS ALUNOS EM SALA RESPOSTAS Entrosamento com os colegas 7 Entendimento dos conteúdos das aulas 10 Compreensão da linguagem utilizada nas avaliações 11 Colocar as próprias ideias no papel 22 Cálculos matemáticos 10 Outras dificuldades (ambientais) 19

Fonte: Próprio autor

Assim como ficou claro a partir das respostas dos questionários dos docentes,

confirmamos a partir dos questionários dos alunos que eles encontram maiores dificuldades

com a Língua Portuguesa (pela dificuldade de escrever corretamente).

Encontramos, também, algo que foi apontado pelos docentes como um problema: o

ambiente de sala de aula. Os docentes mencionam o número de alunos como um fator de

dificuldade para o bom andamento das aulas e os discentes assinalam a alternativa que indica

dificuldades como temperatura, número de alunos, barulho externo, etc.

A partir das respostas dos próprios alunos, em conjunto com as respostas dadas pelos

docentes, temos um conjunto de situações formando um cenário negativo: a junção de alunos

despreparados com um ambiente que dificulta seu interesse pela aula e que dificulta sua

participação e, consequentemente, sua aprendizagem e seu desenvolvimento.

Nessa questão, abrimos ao aluno a oportunidade de expressar o porquê de tais

dificuldades e alguns dos comentários feitos foram:

- “Eu já possuía dificuldades no Ensino Médio”;

- “O espaço das salas e o número de alunos em sala”;

- “Falta de ar condicionado e espaço da sala”;

- “A educação do aluno é deficiente”;

- “Falta tempo para estudar”;

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- “Alguns professores com linguagem de difícil compreensão”;

- “Algumas coisas são difíceis de entender”;

Durante a realização das entrevistas, verificamos que as dificuldades apontadas nos

questionários apareceram novamente, deixando claro que o ambiente de sala de aula interfere

no aproveitamento do aluno, bem como sua dificuldade com Língua Portuguesa:

Qual a maior dificuldade que você encontra em sala de aula?

- “São muitos alunos pra um ambiente muito pequeno, e é muita gente falando ao

mesmo tempo e às vezes atrapalha a concentração.” (aluno ingressante 1).

Quais dificuldades você encontra em sala de aula?

- "Tenho uma certa dificuldade de colocar meu ponto de vista no papel...”

Por que você acha que isso acontece?

- "Por que eu preciso melhorar a leitura, preciso me focar mais no estudo...

infelizmente a gente tem essa mania de falta de tempo... não é nem falta de vontade, é falta de

tempo por não poder tá fazendo outras coisas além de estudar aquilo que é solicitado.” (aluno

ingressante 2).

Qual sua maior dificuldade em sala de aula?

- "Colocar minhas ideias no papel";

Por que você acha que isso acontece?

- "Realmente eu não sei... às vezes eu escrevo demais e a ideia que eu quero passar não

tá certa no papel... geralmente não consigo colocar minhas ideias pra fora...” (aluno

ingressante 3).

Quais as maiores dificuldades em sala de aula?

- "Como eu tive uma mudança de horário, tenho uma dificuldade de entendimento e

colocar as ideias no papel...se eu tiver domínio sobre o assunto, eu falo facilmente sobre isso

mas, por exemplo na aula, se você me pedir pra fazer alguma coisa, por estar cansado e tal, eu

não tenho essa atenção na aula, eu não consigo fazer” (aluno ingressante 4).

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Qual a maior dificuldade em sala de aula?

- "Colocar minhas ideias no papel. Porque eu assimilo, até entendo o que eu o

professor fala, mas na hora de colocar a minha interpretação não consigo” (aluno ingressante

5)

Do total de alunos participantes da pesquisa, 36 trabalhavam no momento da resposta

ao questionário e apenas 4 encontravam-se desempregados. Do total de alunos participantes,

26 trabalham na mesma empresa de quando iniciaram a graduação, ou seja, excetuando-se os

4 alunos que se encontravam desempregados, apenas 6 alunos haviam mudado de emprego

após o início da graduação.

O fato de estarem empregados é um ponto positivo, mas, faz-se importante analisar o

tipo de trabalho que exercem e seu salário: questionamos qual o cargo ocupado por eles e seu

salário ao iniciar a graduação e obtivemos:

Quadro 20. Salário recebido pelo aluno pelo trabalho exercido no início da graduação

SALÁRIO AO INICIAR A GRADUAÇÃO RESPOSTAS Até 1 salário 13 Entre 1 e 3 salários 21 Entre 3 e 5 salários 0 Acima de 5 salários 0

Fonte: Próprio autor

Lembramos que havia 4 desempregados no momento da aplicação do questionário e

dois alunos não responderam essa questão.

Os cargos ocupados são claramente de execução de tarefas ou que exigem pouca

qualificação como: Operador de máquina; Mensageiro; Jovem aprendiz; Auxiliar

administrativo; Auxiliar de compras; Estagiário; Operador de telemarketing; Vendedor;

Auxiliar operacional; Recepcionista.

E com esta questão poderemos comprovar se houve ou não alguma forma de ascensão

socioeconômica do aluno após a conclusão da graduação. No caso dos alunos ingressantes

poderemos comparar aos cargos alcançados pelos alunos concluintes.

Assim, perguntamos aos alunos quais os cargos que acreditam estar ocupando após

sua formação, e obtivemos respostas como: Microempresário; Coordenador; Auxiliar

administrativo; Gerência; Gerente de banco; Supervisor ou diretor; Analista jr.; Assistente

administrativo; Diretor financeiro; Mesmo cargo; Trabalhador público.

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É bastante curioso como encontramos respostas em que o aluno se imagina como

diretor ao estar formado, ao mesmo tempo em que encontramos respostas em que os alunos se

imaginam no mesmo cargo ou até como auxiliar administrativo, cargo esse que é sabido ser

ocupado por trabalhadores com pouca qualificação. Enquanto no primeiro caso sabemos que

será difícil a concretização, no segundo caso vemos um horizonte restrito, uma vez que

muitos dos alunos já ocupam o cargo de auxiliar administrativo antes mesmo de iniciarem a

graduação enquanto seus colegas sonham com essa ocupação após a graduação.

As respostas obtidas nas entrevistas mostram mais claramente as aspirações e desejos

dos alunos ingressantes

Quando você terminar a graduação, qual cargo você acredita que estará ocupando?

- “Se eu permanecer nessa empresa e ela crescer, se Deus quiser ela crescer, então eu

pretendo, alguma coisa... sei lá... gerente ou algo mais que solicite a empresa eu tô

disponível.” (aluno ingressante 2).

Você acredita que quando você se formar, qual vai ser o cargo que você estará

ocupando?

- "De Gerente, porque no meu primeiro semestre eu já mudei de departamento só pelo

fato de tá cursando... fazendo graduação” (aluno ingressante 1).

Algumas das respostas apontam possibilidades mais realistas, como analista,

supervisor ou coordenador.

Ao questionarmos se os alunos acreditavam ter chances de crescimento na empresa

onde trabalhavam, obtivemos 21 respostas positivas e 16 negativas. Além disso, 100% dos

alunos questionados responderam que acreditam ter oportunidade de trabalho em outra

empresa após o término da graduação.

Ao serem questionados sobre a possibilidade de aumento salarial após a conclusão da

graduação, obtivemos as seguintes respostas:

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Quadro 21. Expectativa de aumento salarial após a graduação dos alunos ingressantes

EXPECTATIVA SALARIAL RESPOSTAS Aumento de até 10% 1 Aumento entre 10% e 20% 8 Aumento entre 20% e 50% 13 Aumento entre 50% e 80% 9 Aumento de mais de 80% 9

Fonte: Próprio autor

Mesmo acreditando que poderão ascender ao posto de gerente ou diretor, a maioria

ainda acredita que seu salário aumentará apenas 20% a 50% do atual.

Finalmente, nossa última questão fechada versa sobre a importância da graduação do

ponto de vista dos alunos e, obtivemos as seguintes respostas (mais de uma alternativa poderia

ser assinalada):

Quadro 22. Percepção dos alunos ingressantes sobre a importância da graduação nos dias atuais

IMPORTÂNCIA DA GRADUAÇÃO RESPOSTAS Manter-se empregado 23 Melhores salários 29 Desempenhar funções de maior 24 Crescimento de carreira/promoção 32 Mudança de área de atuação 26

Fonte: Próprio autor

Além das alternativas assinaladas, outras respostas também foram citadas como:

- “Apenas pelo diploma”;

- “Desenvolvimento pessoal”;

- “Satisfação pessoal e profissional”;

- “Se destacar nas funções”;

- “Ser reconhecido profissionalmente”.

Essas respostas deixam claro uma grande preocupação dos alunos com a formação

profissional e a possibilidade de melhoria nas condições de trabalho. A simples manutenção

do emprego atual é uma das preocupações, assim como simplesmente ter um diploma também

aparece como uma preocupação. A alternativa com maior número de respostas é a que afirma

a preocupação com a promoção, crescimento profissional.

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Percebemos, por meio das entrevistas, o que leva esses alunos a ingressarem na

universidade:

- “Visando um futuro profissional, que eu quero crescer mesmo na área profissional e

não ficar na área operacional, quero no futuro ser supervisora, analista ou até mesmo gerente

geral da empresa” (aluno ingressante 5).

Também verificamos que os alunos buscam melhores condições de trabalho e

ascensão profissional:

Você acredita que terá melhores oportunidades de trabalho por conta da graduação que

você está cursando? E você citou no seu questionário que acredita que ocupará cargos de

maior prestígio. O que você entende por cargos de maior prestígio?

- “Funções de maior prestígio é você ter uma confiança maior, uma credibilidade

maior e responsabilidade maior” (aluno ingressante 1).

Por que é importante ter graduação hoje em dia?

- “Eu acho que você pode crescer, ter mais disponibilidade nos seus ambientes, pode

chegar numa empresa e você não vai fazer só aquilo... como fala... ser alienado numa coisa

só... você vai poder abranger várias áreas... no caso da Administração você vai abranger

várias áreas” (aluno ingressante 3).

Alguns alunos também sugerem outras possibilidades como negócio próprio e

concursos públicos:

Qual a importância de se ter uma graduação nos dias de hoje?

- "Primeiro você tem que ver se pessoalmente isso é... se satisfaz pra você, porque não

adianta você fazer só em busca de um salário, ou só de um cargo, porque as vezes isso,

infelizmente como tá o mercado competitivo hoje, não vai ser suficiente... Às vezes você faz e

acaba ficando triste com o que acontece. Primeiro eu pretendo fazer pra me satisfazer, porque

se Deus quiser eu vou conseguir, eu vou fazer jus a bolsa que eu ganhei, depois a gente vê se...

se Deus quiser, subir na empresa, como mudar de cargo, como mudar de empresa, também ou

de abrir uma nova empresa. Aí é um leque de opções, né? Se Deus quiser...” (aluno

ingressante 2)

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E ainda temos aqueles alunos que percebem a graduação como um meio de manter e

melhorar sua empregabilidade:

Qual a importância de ter graduação nos dias de hoje?

- “Então, hoje, se você levar em consideração o mercado, anteriormente era ensino

médio, agora o mínimo que você tenha é uma graduação e ter, pelo menos, falando outra

língua que tá virando, devido agora a economia do país, as multinacionais tão vindo pra cá...

então como inglês é língua mundial, é o mínimo que você tem hoje. Esses a mais que é o

requisito hoje, faz toda a diferença pra você se manter no mercado” (aluno ingressante 4).

As últimas questões eram abertas e perguntamos aos alunos:

O que você acredita que mudará na sua vida profissional ao concluir a graduação?

Obtivemos diversas respostas relacionadas ao crescimento profissional. É fácil notar

como a grande maioria das respostas versa sobre um aumento nas chances de conseguir

melhores trabalhos, seja por meio da promoção na empresa onde atuam ou em empresas

maiores e melhoria no salário:

- “Mais conceito no mercado.”

- “Maior oportunidade no mercado de trabalho.”

- “Estarei amadurecida para poder lidar com qualquer situação dentro da empresa.”

- “Maior entendimento em algumas áreas, podendo subir de cargo.”

- “Acredito que me olharão de maneira mais madura e experiente.”

- “Crescimento profissional, estabilidade financeira e diversos conhecimentos.”

- “Chance de crescer profissionalmente, maiores oportunidades de emprego e

reconhecimento profissional.”

- “Melhor condição financeira.”

- “Promoção e possibilidade de concursos na área.”

- “Conseguir melhor emprego na área que pensei quando iniciei o curso e terei mais

um diferencial para mostrar no meu currículo.”

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- “Conseguir entrar em uma empresa melhor.”

- “Conseguirei realizar planos.”

- “Ter maior conhecimento técnico na área exercida.”

- “Uma qualificação que em vagas que ganham mais de um salário mínimo possa

oferecer.”

- “Terei melhores oportunidades de cargos em grandes empresas.”

- “No mercado de trabalho a graduação é o mínimo que se deve ter visando o

crescimento em uma empresa.”

- “A forma como as pessoas me veem no meio profissional.”

- “Terei um comprovante de qualificação e capacidade de exercer funções o qual não

poderia exercer sem graduação.”

São poucas as respostas relacionadas ao crescimento pessoal ou melhoria de aspectos

pessoais como maturidade, conhecimento, experiência e etc, como vemos abaixo:

- “Um olhar diferente na sociedade.”

- “Experiência e aprendizado.”

- “Mais conhecimento.”

- “Mais maturidade para encarar os problemas, sabedoria para com as pessoas.”

- “Muita coisa em mim e na minha família.”

- “Conhecimento e experiência adquiridos na graduação e a visão de como realmente

as coisas são.”

Durante as entrevistas obtivemos as seguintes respostas:

O que você acha que vai mudar na sua vida profissional quando você concluir a

graduação?

- “Esse período que eu tô estudando eu tenho aprendido muito... muitas... a parte

técnica da Administração, coisas que normalmente nós não usávamos, que nós não tínhamos

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noção e você passa a usar no ambiente de trabalho e isso tem dado melhorias” (aluno

ingressante 1).

Algumas respostas deixam claro que cursar graduação é, em si, um melhora no status

pessoal desses jovens, seja dentro do ambiente de trabalho, seja perante a família. A

universidade é vista como um divisor de águas na vida desses alunos:

- “Vão me ver com outros olhos, né? E se não me verem com outros olhos, como o

curso é quatro anos, daqui até lá, se a empresa não crescer e não me querer subir de cargo ou

querer que eu supra uma necessidade a mais, eu vou procurando nesse período de tempo...

tanto concurso, tanto uma empresa com um cargo melhor, porque isso vai tirar esse medo que

eu tenho de procurar outras coisas, medo de não ter a capacidade...” (aluno ingressante 2).

- “Eu acho que vou ter mais disponibilidade de emprego, as pessoas vão me ver de

forma diferente. Geralmente quando você tem a graduação as pessoas te falam: “nossa você é

inteligente” e impacta bastante em como as pessoas te veem na vida real.” (aluno ingressante

3).

Na sua família as pessoas te olham diferente pelo fato de você estar fazendo graduação?

- “Sim... os primos começaram a me tratar mais distante porque eu tenho primos da

mesma idade que não conseguiram fazer a universidade, tão indecisos na vida, o que vão

fazer... tipo eles me olham como uma adulta, como diferente. Não é mais a mesma coisa...”

(aluno ingressante 3).

E finalmente, a importância da graduação como uma possibilidade de melhoria

financeira:

O que você acredita que irá mudar na sua vida profissional quando concluir a

graduação?

- “Muita coisa: a área de intelecto, financeiro, vai mudar tudo... principalmente a área

financeira que já tá mudando” (aluno ingressante 2).

Na questão seguinte, perguntamos: Você acredita que para desempenhar suas

atividades atuais é necessário ter nível superior? Por que?

Esta questão tem o objetivo de levantar a discussão sobre a real importância da

graduação para atuação em atividades que não possuam necessidade de curso superior para

serem desempenhadas. É fato que se trata, nesse momento da análise, de alunos de segundo

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semestre de graduação, então não é novidade que tenhamos obtido um número grande de

respostas afirmando que a ocupação atual não exige curso superior:

- “Não, pois tudo é baseado na experiência de vida e conhecimento que a própria

pessoa busca por si.”

- “Não, porque não é só em sala de aula que se aprende a exercer a minha função.”

- “Não, pois devido ser uma função base a mesma requer conhecimentos básicos.”

- “Não, pois apenas auxilio.”

- “Não, porque atualmente o que uso aprendi em experiências anteriores e vou

aprendendo mais no cotidiano.”

- “Não, pois apenas me comunico com clientes, não pratico o que aprendo.”

- “Não, pois muitas pessoas ocupam cargos maiores sem a graduação.”

- “Não, a universidade não ensina o que precisamos no cotidiano profissional.”

- “As atividades que desempenho hoje não, mas futuramente será necessário.”

- “Não, porque as atividades atuais são de atendimento e isso uma pessoa com nível

médio tem capacidade de fazer.”

- “Não, pois exerço funções de atendimento.”

- “Não, mas ajuda a melhorar.”

- “Não, pois onde trabalho não solicitam.”

- “Não, porque no cargo no qual estou entrei como aprendiz e fui apendendo as tarefas

no dia a dia.”

Como dito anteriormente, é muito maior o número de respostas negativas para a

questão, porém, surgiram algumas respostas positivas:

- “Sim, pois o setor exige conhecimento específico e a graduação tem ajudado.”

- “Sim, para ter um conhecimento abrangente de diversas áreas de uma empresa.”

- “Sim, para termos prática precisamos ter a teoria, saber conversar e estar atualizada.”

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- “Sim, porque em funções administrativas precisa ter mais qualificação.”

- “Sim, pois trabalho na área bancária e com importação, então para exercer algumas

funções é preciso alguns conhecimentos adquiridos no ensino superior.”

- “Sim, porque muitas atividades necessitam de leituras técnicas e pensamento lógico.”

- “Sim, pois no ramo que estou muitas empresas pedem para ter ou estar cursando o

nível superior.”

É forçoso considerarmos o fato de serem alunos do segundo semestre do curso e ainda

não estarem aptos a ocupar altos cargos na sua área de formação, ou seja, ainda ocupam

cargos ou realizam atividades que conseguiram por conta da formação em ensino médio e não

por estarem no curso superior.

As respostas dos alunos que participaram das entrevistas corroboram essa afirmação,

mas mostram que a graduação é necessária caso queiram qualquer chance de crescimento

profissional:

- “Acredito que sim. Pode começar a exercer mas acredito que a graduação vai ajudar

bastante em alguns conceitos referentes a... por que é nota fiscal, e contas a pagar, então ajuda

muito a ter um conhecimento melhor do que tá sendo exercido” (aluno ingressante 1).

- “O que eu exerço hoje não é necessário, porque a empresa não solicita, mas pra mim,

no geral, tudo é necessário, tanto pra quem tá no mercado de trabalho como pra quem tá fora.

Se já é difícil você não tendo... você tendo a graduação, imagina pra quem não tem? Vai ficar

mais difícil... minha mãe, por exemplo, ela trabalhou de doméstica a vida inteira e a bichinha

não tem leitura... ela é um pouco leiga... só prestou primeira série... pra ela é muito difícil...

então eu vejo a dificuldade me espelhando nela” (aluno ingressante 2).

- “Não, como até então, mensageiro é um emprego que você pega externo pra interno,

é um emprego de base, então são serviços de correspondências, de protocolos... Passou a ser

exigência pra crescimento na empresa, o mínimo que você tem que ter á cursando uma

graduação” (aluno ingressante 4).

- “Não é necessário, ensino médio completo já consegue exercer o que eu faço” (aluno

ingressante 5).

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Porém, fica claro o objetivo da maioria dos participantes: enquanto ocupam cargos de

baixa qualificação conseguem pagar a graduação para que, em um futuro próximo, consigam

ocupações melhor remuneradas.

Uma última questão aberta foi feita no intuito de investigar se, além do conhecimento

profissionalizante, esses alunos são capazes de reconhecer a contribuição da graduação para o

desenvolvimento de outros interesses sócio culturais.

A graduação lhe proporcionou novos hábitos ou interesse em novos assuntos? Quais?

Nesta questão é muito interessante como, mesmo sendo questionados sobre novos

hábitos e interesses, uma grande quantidade de respostas está ligada aos assuntos acadêmicos

e não à assuntos ligados à cultura, política e conhecimentos gerais como podemos ver:

- “Sim, as leis trabalhistas, saber entender minha folha de pagamento.”

- “Sim, continuar estudando.”

- “Sim, leitura e eventos culturais.”

- “Sim, departamentos de empresas.”

- “Sim, observar o que os gestores fazem de certo ou errado.”

- “Sim, me proporcionou o interesse de crescimento profissional e pessoal.”

- “Sim, na função financeira e RH.”

- “Sim, novos conhecimentos, postura e organização.”

- “Sim, interesse em trocar informação profissional com profissionais mais

experientes.”

- “Sim, hábito de ler e questionar o que está escrito, discordar de alguns fatos e

interesse de aprofundamento na política e suas diretrizes.”

- “Não, apenas a vontade de especialização, mas isso já era vontade pessoal e

profissional.”

- “A graduação me desenvolveu pensamentos mais críticos e técnicas profissionais.

Me fez ter uma mente mais ampla para minha carreira.”

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- “Sim, o que estou aprendendo está me ajudando no dia a dia.”

- “Sim, despertou curiosidades para saber mais sobre como aprender sobre a função de

um administrador.”

- “Sim, a leitura, o interesse na área contábil.”

- “Sim, a maneira de se portar, falar, desenvolver.”

- “Tomei o hábito de ler documentos, de prestar atenção nos detalhes.”

- “Sim, passei a me sentir mais informada sobre diversos assuntos e passei a me cobrar

mais nos estudos.”

- “Não.”

- “Sim, a utilização de um novo estilo de linguagem, aproveitamento de assuntos

discutidos em aula para entendimento do mercado atualmente e visar uma melhora gradual.”

- “Sim, o hábito de falar mais formalmente e tecnicamente e comecei a me interessar

por assuntos políticos e econômicos do país.”

- “Sim, ser culta e ter outros níveis de visão, hoje percebo que amo exatas, sem a

faculdade não iria identificar isso.”

Conforme dito anteriormente, notamos a percepção que os alunos tem sobre mudanças

de hábitos e interesses ligados a comportamentos profissionais. Em raras respostas

encontramos afirmações sobre o aumento no interesse na leitura, em eventos culturais,

assuntos políticos ou sociais, etc.

Nas entrevistas realizadas, bem como nas respostas obtidas nos questionários, também

notamos um aumento nos interesses ligados à atuação profissional mais forte do que os

interesses pessoais. Porém, os alunos entrevistados nos mostram que a graduação foi fonte

importante de enriquecimento no seu capital social:

A graduação lhe proporcionou novos hábitos ou interesses em outros assuntos? Ou

seja, o fato de você estar fazendo faculdade mudou alguma coisa na tua vida, o jeito que você

enxerga o mundo, o jeito que você se interessa pelas coisas, você começa a se interessar por

outros assuntos, comportamento, atitude, o seu dia a dia?

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- "Mudou. Mudou porque quando você pega o conhecimento e começa a utilizar, você

começa a ter uma visão diferente, você começa a ver o mundo de uma maneira diferente.

Então eu comecei a usar e isso tem me trazido muito retorno".

E na sua vida pessoal, o que mudou?

- "Também. Eu tenho começado a organizar cada coisa de uma maneira diferente,

visto coisas diferentes e me interessado, mais pela parte histórica de muitas outras... outros

assuntos..."

Por exemplo?

- "História no geral. Eu não me interessava por política, hoje eu me interesso mais...

jornal também..."

Jornal impresso?

- "Tanto impresso como noticiário também, tenho me interessado mais pra tá mais

ciente do que vem acontecendo".

Você acha que isso foi a faculdade que te trouxe?

- "Sim, porque quando você começa a conversar com outras pessoas e aí elas falam

coisas das quais eu não sabia, eu começo a me interessar e querer me aprofundar mais no

assunto".

E isso mudou sua vida?

- "Muda...Ter conhecimento de várias outras coisas das quais eu não me interessava...

tava desinteressada e quando você começa a conversar com outras pessoas que tem um

entendimento sobre aquilo eu também quero ter” (aluno ingressante 1).

A graduação te possibilitou novos hábitos ou novos interesses?

- "Sem dúvida. Tanto que assim... o professor é um espelho... se você procurar se

espelhar nele, se você focar o que ele quer te passar ... ele não passa só o que tá aula, ele te

passa um pouco de vida, também, e ele até te induz a procurar outras coisas porque, por

exemplo, esses cursos opcionais, às vezes não tem nada a ver com a nossa grade mas abre a

mente".

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E pra você, que outros assuntos passaram a te interessar?

- "Ler mais... fiz uma optativa de Direito Ambiental...sou apaixonada por meio

ambiente e isso me mostrou vária opções, não só... às vezes informação do que tá

acontecendo... eu tenho uma informação básica do que os meios de informação te passa, mas

se você procurar se aprofundar, nossa você descobre coisas que você jamais pensava. Isso não

só do profissional em si mas você como pessoa, você tem que correr atrás. Não adianta faze

só o que o professor pede, o que o professor passa...” (aluno ingressante 2).

A graduação proporcionou novos hábitos ou interesses e novos assuntos?

- "Sim, geralmente não me interessava por jornais, revistas... coisa de notícia era o

básico, sabe? Todo mundo tava falando e eu ia pesquisar pra ver o que era. Hoje em dia já tô

mais frequente... pego o jornal pra ler todo dia..."

Jornal impresso?

- "Não, no tablet mesmo... vou lendo todos os dias as notícias, me interessando mais

pelo mundo político, uma coisa que eu não fazia nem que me pagasse, eu detestava política e

hoje em dia eu me envolvi mais, gostei mais do assunto, me interessando mais".

Você passou a ter um posicionamento que você não tinha antes?

- "Desenvolvi o senso crítico..."

Isso foi a faculdade que te proporcionou?

- "Não só a faculdade, a turma, os colegas, os professores me ajudaram nessa parte”

(aluno ingressante 3).

A graduação te proporcionou novos interesses ou novos hábitos?

- "Sim, principalmente interesse, conhecer as coisas novas e a área de exatas que eu

achei que não gostava e eu gosto, adoro matemática e eu não sabia disso. Na vida pessoal não

mudou muito porque eu sempre gostei de ler, de ir no cinema, no teatro, sempre gostei de ir”

(ingressante 5).

Do ponto de vista dos alunos ingressantes, pode-se verificar que a graduação exerce o

papel de contribuir para a melhoria das condições de empregabilidade e manutenção do

emprego, mas também contribuem para o incremento no capital social, o que possibilita novas

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relações pessoais, profissionais, interesses em novos assuntos, mesmo que sejam relacionados

ao mundo do trabalho.

6.3. Questionários Aplicados aos Alunos Concluintes

Foram aplicados 40 questionários (constituídos por 23 questões, entre abertas e

fechadas). Desse total, 5 alunos foram aleatoriamente escolhidos para realizar uma breve

entrevista no intuito de aprofundarmos as questões respondidas.

A participação dos alunos que responderam ao questionário se deu de forma voluntária.

Em uma sala de aula de 7º e uma de 8º semestres (último ano) do curso de Administração,

questionamos quem seria voluntário para responder um questionário com 24 questões a fim de

coletarmos dados para a realização de uma Tese de doutoramento. Foram informados

verbalmente, e impresso no próprio questionário, que não deveriam se identificar e as

informações ali coletadas seriam confidenciais e de uso exclusivo da pesquisadora.

Quanto à idade, os alunos concluintes possuem:

Quadro 23. Idade do aluno concluinte

IDADE RESPOSTAS Entre 21 e 25 anos 22 Entre 26 e 30 anos 6 Entre 31 e 35 anos 9 Mais de 35 anos 3

Fonte: Próprio autor

E com relação ao gênero, temos:

Quadro 24. Sexo do aluno concluinte

SEXO RESPOSTAS F 22 M 18

Fonte: Próprio autor

Assim como vimos ao analisarmos as respostas dos ingressantes, nota-se uma

discrepância ente o número de homens e mulheres na amostra pesquisada, o que confirma o

crescimento da participação da mulher no ensino superior e no mercado de trabalho.

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Na questão referente à cor/etnia, obtivemos as seguintes respostas:

Quadro 25: Cor/Etnia

COR/ETNIA RESPOSTAS Branco 28 Preto 3 Pardo 7 Indígena 0 Oriental 2

Fonte: Próprio autor

Ao compararmos os resultados obtidos na mesma questão respondida pelos alunos

ingressantes, teremos uma diferença muito grande no percentual de brancos e pardos. Com

relação aos ingressantes houve uma diminuição acentuada no número de alunos pardos

concluintes. Verificamos que no caso acima, temos um percentual de 70% de brancos contra

17% de pardos. Se somarmos aos pretos, teremos um percentual de 25% de negros.

Esses dados parecem bastante distantes da realidade estatística de número de brancos,

pretos e pardos no país. Infelizmente ainda temos um número muito baixo de negros

concluindo a graduação e nossa amostra consegue captar essa realidade.

O total dos alunos participantes mora na zona leste da cidade de São Paulo.

A próxima pergunta versa sobre a escolha do curso de Administração e, mais de uma

alternativa poderia ser assinalada. Nessa questão obtivemos as seguintes respostas:

Quadro 26. Fator que motivou a escolha do curso por parte do aluno ingressante

ESCOLHA DO CURSO RESPOSTAS Influência da família 0 Vontade própria 17 Influência do trabalho exercido 11 Exigência da empresa em que você trabalha 1 Falta de opção 0 Custo do curso 0 Futuro profissional 18

Fonte: Próprio autor

Nessa primeira questão fica evidente, assim como comprovado junto aos alunos

ingressantes, a escolha visando a formação profissional e a escolha de um curso que

possibilite e inserção desse aluno no mercado de trabalho. Outro ponto importante é como a

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escolha pelo curso de Administração tem por objetivo a ampliação da área de atuação

profissional:

Por qual motivo você escolheu o curso de Administração?

- "Na verdade foi pela amplitude de conhecimento que o curso oferece em todas as

áreas e independente da área que escolha, que eu tenho por opção hoje trabalhar que é a área

de compras, a área de administração você tem um conhecimento de todos os departamentos da

empresa, e isso é muito importante” (aluno concluinte 1).

Uma questão bastante importante que devemos salientar, é a busca de alguns alunos

pela graduação na tentativa de se preparar para um processo de empreendedorismo:

Por qual motivo você escolheu o curso?

- "Eu comecei administração porque eu queria montar minha empresa, aí eu queria

uma direção, como que eu montaria...administraria minha empresa...” (aluno concluinte 4).

E mesmo que não tenham seu próprio negócio, muitos auxiliam seus familiares nos

pequenos negócios:

- “(...) Nesse tempo que eu saí dessa outra empresa, que eu saí e fiquei disponível no

mercado de trabalho... eu comecei a ajudar meus pais, que eles tem um negócio próprio... tem

muitas visões do que eles poderia fazer... por mais que eu não esteja mais lá, tem muitas

coisas que eles falam que foi importante, são coisas que sozinhos nós não teríamos chegado à

essa conclusão... “isso dá pra fazer de um jeito melhor, não precisa ser tão trabalhoso

assim...você pode economizar nisso...” (aluno concluinte 2).

- “(...) meus pais tem um pequeno negócio, e a graduação me ajudou na minha vida

pessoal com eles porque eu pude ajuda-los de outras formas e eu comecei a ver outras

formas... porque a gente vê muito marketing também em administração, aí eu comecei a ver

formas de marketing pra ajudar tanto na vida pessoal minha, quanto na vida profissional dos

meus pais...” (aluo concluinte 3).

As questões seguintes pretendiam investigar o nível econômico dos alunos

participantes da pesquisa. Na pergunta sobre o número de moradores na residência, obtivemos

o seguinte resultado:

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Quadro 27. Comparativo das respostas dos alunos ingressantes e concluintes quanto ao número de moradores na residência

MORADORES DA RESID. RESPOSTAS INGRES. RESPOSTAS CONCL. Sozinho 1 2 2 pessoas 6 11 3 ou 4 pessoas 18 18 5 a 7 pessoas 12 7 Mais de 8 pessoas 3 0

Fonte: Próprio autor

Com relação à renda per capta da família, obtivemos as seguintes respostas:

Quadro 28. Comparativo entre as respostas dos alunos ingressantes e concluintes quanto à renda per capta familiar

RENDA PER CAPTA RESPOSTAS INGRESS. RESPOSTAS CONCL. Até 1 salário mínimo 4 3

Entre 1 e 3 salários mínimos 21 16 Entre 3 e 5 salários mínimos 13 8 Mais de 5 salários mínimos 2 13

Fonte: Próprio autor

Curioso notarmos a mudança que ocorre nesses quesitos durante o processo de

graduação dos alunos. Houve uma sensível mudança no número de moradores da residência,

que pode ter ocorrido, provavelmente, por terem se casado e saído da casa dos pais durante

esse período, aumentando a renda per capta, uma vez que são menos pessoas na residência,

além do próprio na renda.

A questão seguinte versa sobre o benefício de algum tipo de bolsa, desconto ou

financiamento:

Quadro 29. Benefício de bolsa parcial ou integral ou financiamento estudantil

BENEFICIÁRIO DE BOLSA OU FINANCIAMENTO RESPOSTAS Pago integralmente 15 Bolsa (parcial ou total) concedida pela IES 6 Bolsa (parcial ou total) concedida pela empresa onde 3 Bolsa (parcial ou total) concedida pelo ProUni 5 Financiamento pelo Fies 7 Outras modalidades de bolsa 2

Fonte: Próprio autor

Assim como vimos nas respostas dos ingressantes, ainda existe um número expressivo

de alunos pagando integralmente o seu curso, sem auxílio de programas de bolsa ou

financiamento. Nesse grupo de concluintes, ainda é maior o percentual de alunos pagantes e

menor o número de beneficiados por bolsas concedidas pela IES, em relação aos ingressantes.

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Nesse caso, levantamos a hipótese de que houve uma diminuição, nos últimos semestres

(entre 2015 e 2016), no número de alunos interessados em ingressar na universidade por

questões financeiras, devido, principalmente à crise econômica instalada no país no dois

últimos anos. Dessa forma, houve um aumento na oferta de descontos por parte da IES no

intuito de aumentar ou manter o número de matrículas.

A questão seguinte versa sobre as principais dificuldades que o aluno enfrenta em sala

de aula (mais de uma alternativa poderia ser assinalada):

Quadro 30. Percepção dos alunos concluintes sobre as dificuldades vividas em sala de aula

DIFICULDADES DOS ALUNOS EM SALA RESPOSTAS Entrosamento com os colegas 10 Entendimento dos conteúdos das aulas 5 Compreensão da linguagem utilizada nas avaliações 10 Colocar as próprias ideias no papel 6 Cálculos matemáticos 10 Outras dificuldades (ambientais) 18

Fonte: Próprio autor

Bem como os alunos ingressantes, os alunos concluintes também manifestam suas

dificuldades para escrever coerentemente e realizar cálculos matemáticos, mas o que nos

chama a atenção é o alto número de respostas (43%) referindo-se a dificuldades com relação

ao ambiente da sala de aula (barulho, temperatura, número de alunos, etc). O percentual é

próximo ao encontrado nas respostas dos ingressantes, o que demonstra ser uma dificuldade

que vivenciaram durante toda sua graduação.

Salas de aulas cheias, barulhentas e quentes prejudicam e diminuem

consideravelmente o interesse do aluno pela aula.

Um dos alunos entrevistados, ao ser questionado sobre as possiveis dificuldades

durante o curso, respondeu que não teve dificuldades mas sentiu falta da prática, assim como

também foi citado pelos docentes em seu questionário:

Durante esses quatro anos de curso, quais as dificuldades que você teve em sala de

aula?

- "Eu não senti dificuldades, mas uma coisa que eu gostaria que tivesse a mais no

curso seria trabalhos, no caso... projetos dos professores pra exercitar com os alunos em

campo..."

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Atividades práticas?

- "Isso, senti falta disso... tinham algumas atividades sim, tinham alguns trabalhos,

mas foram muito poucos. Porque no mercado de trabalho a gente vê que a teoria funciona,

entretanto, na prática é muito mais importante pra você poder colocar o que você aprendeu.

Então, se na faculdade a gente já tem a teoria já colocando em prática, é muito melhor na

atuação no mercado de trabalho. Mesmo porque eu penso que os professores de faculdade

eles não tão aqui pra facilitar a nossa vida, porque o mercado de trabalho não facilita pra

gente lá fora, então, eu penso que aqui dentro também não tem que ser fácil, pra justamente a

gente sair se sentindo mais preparado” (aluno concluinte 1).

Além disso, como já foi citado, as disciplinas na modalidade EAD são um grande

complicador para os alunos, além é claro, dos problemas de infraestrutura:

- “Tem dois pontos que sempre me incomodaram e eu acredito que poderia ser

melhor... uma coisa é que eu não sou muito adepta ou a favor das disciplinas on line porque

eu sou uma pessoa muito presencial, uma pessoa muito de tato então, eu gosto de perguntar,

eu gosto de questionar... e na disciplina on line não tenho tanta liberdade então eu não

consegui ir mais a fundo nas matérias que eu estudo, então isso acaba me limitando e

prejudicando meu desempenho na matéria... acredito que dá pra você alcançar um

desempenho muito melhor se você tiver um professor em sala de aula que é o caso das

disciplinas presenciais e... tiveram alguns anos que a gente teve bastante dificuldade de

infraestrutura, por ser uma sala perto da rua principal da universidade, da entrada...

principalmente nos últimos dias da semana, de quinta e sexta feira... a música muito alta,

então tinham professores que não conseguiam dar continuidade na aula, tinham que parar a

aula antes do final por conta dessa movimentação e desses barulhos...” (aluno concluinte 2).

- “Acho que a maior dificuldade que eu encontrei foi a sala muito cheia... porque a

sala, desde o primeiro semestre, a gente fazia turma junto com contábeis, e aí era sempre uma

sala com mais de 100 alunos... e acaba sendo mais difícil aprender, porque muita gente

falando ao mesmo tempo e a voz do professor some... acho que essa é a maior dificuldade...”

(aluno concluinte 3).

- “Então, eu não gosto de estudar em EAD porque eu gosto de me relacionar com as

pessoas então eu acho que o EAD você tá lá na sua casa sozinho quieto, e tem que lê sozinho,

entender sozinho... eu particularmente não gosto, eu gosto de vir pra faculdade, de tá aqui, de

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ter contato com o professor, ter contato com os amigos, fazer exercício, sabe aqui? Tudo em

sala de aula... em EAD não... a gente tem uma matéria a cada semestre em EAD, então acho

legal, uma matéria acho que já tá bom, é o suficiente...” (aluno concluinte 5).

As questões a seguir são das mais importantes desse questionário, pois tem o intuito de

nos mostrar qual foi a evolução na carreira e financeira que o aluno teve durante o período da

graduação.

Faremos uma análise do total de respostas, mas também mostraremos um comparativo

nas respostas de cada um dos participantes:

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Quadro 31. Comparativo entre cargo/salário dos alunos concluintes ao iniciarem a graduação e o cargo/salário dos alunos concluintes atualmente

Fonte: Próprio autor

OCUPAÇÃO AO

INICIAR A

SALÁRIO OCUPAÇÃO ATUAL SALÁRIO

Atendente de loja Entre 1 e 3 Assistente Entre 1 e 3 Assistente Administrativo Entre 1 e 3 Supervisor financeiro Entre 3 a 5 Agente de Negócios Até 1 salário Estagiário Entre 1 e 3 Auxiliar Administrativo Até 1 salário Assistente Entre 3 a 5 Montadora Até 1 salário Assistente Entre 1 e 3 Bancário Entre 1 e 3 Atendente Entre 1 e 3 Auxiliar de vendas Até 1 salário Auxiliar de Escritório Entre 1 e 3 Assistente administrativo Entre 3 e 5 Coordenadora Acima de 5 Assistente Administrativo Entre 1 e 3 Consultor de impl. folha Entre 3 e 5 Assistente financeiro Entre 1 e 3 Estagiário Entre 1 e 3 Técnico Administrativo Entre 1 e 3 Analista Entre 3 e 5 Balconista Entre 1 e 3 Balconista Entre 1 e 3 Assistente Administrativo Entre 1 e 3 Assistente administrativo Entre 3 e 5 Desempregado - Assistente administrativo Entre 3 e 5 Auxiliar Entre 1 e 3 Assistente Executivo Entre 3 e 5 Fiscal de caixa Entre 1 e 3 Vendedora autônoma Entre 1 e 3 Desempregada - Estagiária Entre 1 e 3 Escriturário Entre 1 e 3 Desempregado - Desempregado - Líder de seção Entre 1 e 3 Técnico de imagem Até 1 salário Telefonista Até 1 salário Assistente administrativo Entre 1 e 3 Desempregado - Copeiro Entre 1 e 3 Assistente Financeiro Entre 1 e 3 Auxiliar de DP Entre 1 e 3 Coordenadora de DP Acima de 5 Assistente de depto. Até 1 salário Analista Jr. Entre 3 e 4 Bancária Entre 1 e 3 Bancária Entre 1 e 3 Projetista Entre 1 e 3 Desempregado - Analista de atendimento Entre 1 e 3 Estagiária Entre 1 e 3 Operador de call center Entre 1 e 3 Operador de call center Entre 1 e 3 Supervisor Técnico Acima de 5 Diretor Técnico Acima de 5 Orientador Entre 1 e 3 Comunicação Entre 1 e 3 Estagiária Até 1 salário Auxiliar Administrativo Entre 1 e 3 Estagiária Até 1 salário Assistente pleno Entre 1 e 3 Consultor de Até 1 salário Desempregado - Sub gerente padaria Entre 1 e 3 Bancário Entre 3 e 5 Auxiliar administrativo Entre 1 e 3 Assistente administrativo Entre 1 e 3 Assistente administrativo Entre 1 e 3 Assistente administrativo Entre 1 e 3 Estagiária Até 1 salário Desempregada - Estagiário Até 1 salário Estagiário Entre 1 e 3 Auxiliar administrativo Entre 1 e 3 Auxiliar administrativo Entre 1 e 3 Almoxarife Entre 1 e 3 Supervisor de Expedição Entre 3 e 5 Estagiária Até 1 salário Desempregado -

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O quadro acima deixa claro que, para um grande número dos alunos concluintes, a

graduação possibilitou crescimento profissional. Talvez não tenha havido, necessariamente,

uma evolução salarial significativa, principalmente por estarmos nos referindo a jovens que

ainda não terminaram a graduação, porém, fica evidente nos exemplos acima a mudança nos

cargos exercidos pela maioria dos participantes, como podemos comprovar por meio das

entrevistas realizadas:

Quando você começou o curso você já trabalhava na área?

- "Já".

Qual era seu cargo?

- "Auxiliar administrativa".

E seu salário era quanto?

- "R$ 1.200,00".

Hoje qual é seu cargo?

- "Hoje eu estou desempregada".

Há quanto tempo?

- "Há 1 mês".

Qual era seu cargo?

- "Analista de compras".

Qual era seu salário?

- "R$ 2.300,00” (aluno concluinte 1).

Qual foi o motivo que te fez escolher o cursa de Administração?

- "Na verdade eu comecei a cursar Psicologia... eu fiz três semestres de Psicologia...aí

não me adaptei e aí eu mudei pra Administração porque eu recebi uma promoção no meu

serviço e aí eu trabalhava direto na área administrativa e é uma coisa que eu gostei, aí foi

quando eu mudei pra Administração..."

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Qual foi a promoção que você teve?

- "Eu era recepcionista e passei a ser Assistente Administrativo".

Então quando você começou o curso você já era assistente Administrativo?

- "Era..."

Qual era seu salário?

- "Era em torno de R$ 2.300,00 mais ou menos..."

Após a sua promoção, qual é a sua função?

- "Hoje eu sou coordenadora administrativa".

Quanto é seu salário hoje?

- "Em torno de R$ 6.5000,00” (aluno concluinte 3).

- “(...) quando eu entrei eu era assistente, hoje eu sou analista.

Qual era seu salário quando você começou?

- "R$ 2.600,00".

E hoje como analista, qual é seu salário?

- "R$ 3.500,00” (aluno concluinte 5).

Em alguns casos vemos que essa evolução não ocorreu, ou se ocorreu foi muito

pequena e não foi acompanhada de evolução salarial.

Quando você iniciou o curso de administração você já trabalhava?

- "Trabalhava".

Qual era sua função?

- "Eu trabalhava como analista de sistemas...".

Qual era seu salário?

- "R$1.500,00".

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Hoje você atua na mesma área?

- "Eu atuo na área administrativa". (Estagiária)

E qual é seu salário hoje?

- "R$ 1536,00” (aluno concluinte 2)

Quando você começou o curso de Administração, você trabalhava?

- "Trabalhava".

Qual era sua função?

- "Assistente administrativo".

Qual era seu salário na época?

- "R$ 2.600,00".

Hoje qual é o seu cargo?

- "Assistente administrativo".

Você mudou de empresa para o mesmo cargo, mas o salário é maior?

- "Não, mais ou menos a mesma coisa...” (aluno concluinte 4)

Nossa questão seguinte versa sobre as oportunidades profissionais conquistadas pelos

alunos durante a graduação, seja na empresa onde trabalhavam ao iniciarem a graduação, seja

em outra organização:

Quadro 32. Comparativo entre as respostas sobre oportunidades na empresa onde o aluno concluinte trabalhava ao iniciar a graduação e oportunidades em outras empresas

OPORTUNIDADE NA EMPRESA ONDE TRABALHAVA

RESPOSTAS OPRTUNIDADE EM OUTRA EMPRESA

RESPOSTAS

SIM 21 SIM 22 NÃO 20 NÃO 19

Fonte: Próprio autor

Levando-se em conta as respostas acima, notamos que há um grau de equilíbrio muito

grande quando falamos das oportunidades que os alunos tiveram dentro da empresa onde

atuavam ao iniciarem a graduação ou uma nova oportunidade em outra empresa. Tanto no

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primeiro caso (mesma empresa) como no segundo caso (nova empresa) obtivemos um

percentual de quase 50% em ambas as respostas (sim e não) para ambas as perguntas.

A questão seguinte investiga a percepção que o aluno tem sobre a importância de

possuir nível superior nos dias atuais, e obtivemos as seguintes respostas (mais de uma

alternativa poderia ser assinalada):

Quadro 33. Percepção do aluno concluinte sobre a importância da graduação nos dias atuais

IMPORTÂNCIA DA GRADUAÇÃO DOS DIAS DE HOJE RESPOSTAS Manter-se empregado 26 Melhores salários 32 Desempenhar funções de maior prestígio 23 Crescimento de carreira/promoção 31 Mudança de área de atuação 22

Fonte: Próprio autor

Nos chama a atenção o grande número de respostas para todas as alternativas

propostas, mas “melhores salários” e “carreira/promoção” ainda aparecem como os mais

citados, assim como no questionário respondido pelos ingressantes.

Se levarmos em conta que, no quadro anterior, muitos dos participantes passaram por

um processo de mudança de ocupação, seja na empresa onde trabalhavam, seja em uma nova

empresa, podemos supor que a grande maioria se importa em melhorar a função ocupada e,

consequentemente o salário recebido, porém, não estão, necessariamente, preocupados com o

status dessa ocupação, ou seja, se ocuparão cargos de prestígio, como uma gerência ou

coordenação.

De qualquer forma, fica claro que a importância da graduação para esses jovens é

conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho e, ainda mostra como a própria

graduação não é capaz de dar todo o preparo necessário para a atuação profissional:

Por que hoje em dia é importante ter graduação?

- "Penso que é fundamental, porque o ensino médio te dá uma base muito pequena,

hoje em dia o ensino não tá sendo considerado e pra você ter uma noção... porque a graduação

hoje ela te dá uma noção de como funciona o mercado de trabalho, tanto que é fundamental

continuar os estudos com pós graduação, enfim, dar sequencia nos estudos.” (aluno concluinte

1)

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- “Porque a gente não consegue chegar nas informações sozinho... é... como se a gente

quisesse fazer um bolo e precisasse de uma receita... a gente vê o bolo lindo e quer fazer, mas

não tem a receita... e é isso que o curso nos dá... dá esse direcionamento, ele abre esse leque,

ele mostra onde encontrar os ingredientes e quais são os melhores ingredientes...

A universidade te traz a teoria que você precisa pra aplicar na prática? É isso?

- "Exatamente... ela traz a teoria, ela traz a orientação... pra você poder aplicar...”

(aluno concluinte 2)

Em outros casos, é importante também para melhorar sua empregabilidade ou mesmo

melhorar a visão de mundo e o conhecimento:

Por que é importante ter graduação nos dias de hoje?

- "A graduação nada mais é do que uma extensão do ensino médio, né? E as pessoas

que não se qualificam hoje, fica muito mais difícil de entrar na área... até conseguir cargos

melhores, tem que ter uma graduação, um conhecimento mais aprofundado, se não a gente

acaba ficando pra traz no mercado..."

Você acha que o mercado tem essa exigência?

- "Tem... só o ensino médio não é suficiente pra alcançar grandes coisas... eu acho que

existem profissões que não exigem a graduação, mas pra quem quer alcançar alguma coisa

melhor a graduação é essencial...” (aluno concluinte 3)

Por que é importante graduação nos dias de hoje?

- "É importante... principalmente pra área... como eu posso falar... profissionalmente

sim, é importante, porque hoje em dia as visões tão se abrindo, você tem que acompanhar o

mercado aí fora. Não adianta só ficar naquele mundinho fechado seu, porque as ideias vão se

abrindo, vão se aprimorando... o mercado também vai solicitando perfeições...” (aluno

concluinte 4)

Além de ser importante pelo capital social que se adquire no ambiente universitário:

É importante ter graduação nos dias de hoje?

- "Eu acho sim... aqui a gente conversa com outras pessoas... o professor passa a

experiência dele pra nós e eu acho que abre a nossa mente... Tem pessoas que trabalham dez

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anos numa mesma empresa e sabe muito bem fazer aquele serviço, aquela função, mas ele

vem pra cá, um fala uma coisa, outro fala outra, um conta uma experiência, o professor

ensina... então eu acho que abre a mente e dá pra pessoa crescer e ir pra outra empresa ou até

ampliar os conhecimentos dentro da própria empresa. Eu acho que graduação ajuda muito

nisso, a você estar junto de outras pessoas... eu gosto muito de estar com pessoas, de me

relacionar... então eu acho legal por causa disso também... às vezes tem pessoas muito tímidas,

que entra aqui e começa a se enturmar, quando vê, sai outra pessoa...” (aluno concluinte 5)

Finalizando as questões fechadas, perguntamos se os entrevistados tinham tido

reprovação em alguma das disciplinas cursadas e qual seria. Obtivemos as seguintes respostas:

Quadro 34. Reprovação em uma ou mais disciplinas durante o curso

REPROVAÇÃO RESPOSTAS SIM 17 NÃO 24

Fonte: Próprio autor

Há um percentual bastante grande de alunos com reprovação em alguma disciplina

(41%) e, desses, 35% foram reprovados em mais de uma disciplina. Outra curiosidade

importante é a presença de disciplinas on-line (EAD) nesse grupo: do total de 17 alunos com

alguma reprovação, 8 tem reprovação em uma disciplina on-line, ou seja, 47% do total de

reprovações.

A principal disciplina on-line citada pelos alunos com reprovação é a

de ”Probabilidade e Estatística”, uma disciplina que envolve conceitos teóricos e aplicação

prática da matemática. Como é possível ministrar uma disciplina dessa complexidade, na

modalidade a distância, sem que o aluno tenha dificuldades?

Mais uma vez discutimos aqui a qualidade do ensino baseado em disciplinas on-line

ou virtuais, em que o aluno não tem contato com professores, apenas contato virtual com

tutores, com formação superior na área, porém, sem especialização ou qualquer titulação

acadêmica, como mestrado ou doutorado.

O material é disponibilizado por meio de uma plataforma virtual e o aluno comparece

na IES apenas para realização da avaliação (que é presencial). Realiza tarefas e discussões por

meio dessa plataforma e, em caso de dúvidas, deve se comunicar via e-mail com o tutor

responsável da disciplina. Cada tutor acompanha cerca de 3 mil alunos, o que torna precário o

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retorno que consegue dar a cada um dos alunos, principalmente em disciplinas que geram

tantas dúvidas como Probabilidade e Estatística.

As avaliações são montadas por docentes responsáveis por dezenas de disciplinas e,

para cada uma delas precisa elaborar um número grande de questões para a montagem de um

banco de questões (a fim de serem escolhidas randomicamente por um sistema informatizado

que monta provas aleatórias e diferentes umas das outras). Essa obrigação de um grande

número de questões leva alguns docentes a elaborar questões de baixa complexidade, o que

colabora com a qualidade do ensino dessas disciplinas.

Um dos alunos concluintes desabafa:

- “(...) eu tive uma disciplina em EAD: Probabilidade e Estatística... é cálculo... você

se vira, eu vou atrás, eu me virei... não só com o que eles colocam lá em apostila, em vídeo

aula... eu fui atrás... aí você consegue aprender um pouquinho, mas eu acho que esse tipo de

matéria tinha que ser em sala de aula, é cálculo, o professor tinha que tá aqui presencial... e

outra: tem muita gente que tem muita dificuldade em fazer cálculo e aí eu acho que essa

matéria, por exemplo tinha que ser...

Você diz que foi atrás de outros recursos, e seu colegas, como fazem?

- "Ahh... fazem de qualquer jeito... uns fazem e passam a resposta pelo grupo do

whatsapp (aplicativo de mensagens virtuais)...e existe muito isso... só uma ou duas questões

que cai diferente... a maioria é igual... aí um faz e passa pros outros... muita gente faz assim,

empurrando com a barriga...” (aluno concluinte 5)

Outros entrevistados corroboram essa opinião:

- “Tem dois pontos que sempre me incomodaram e eu acredito que poderia ser

melhor... uma coisa é que eu não sou muito adepta ou a favor das disciplinas on line porque

eu sou uma pessoa muito presencial, uma pessoa muito de tato então, eu gosto de perguntar,

eu gosto de questionar... e na disciplina on line não tenho tanta liberdade então eu não

consegui ir mais a fundo nas matérias que eu estudo, então isso acaba me limitando e

prejudicando meu desempenho na matéria... acredito que dá pra você alcançar um

desempenho muito melhor se você tiver um professor em sala de aula que é o caso das

disciplinas presenciais ...” (aluno concluinte 2)

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- “(...) Ead não dá pra você entender muita coisa... é muita informação... mas eu

particularmente, tô falando de mim... gostaria de um professor... porque quando o professor tá

alí, ele explica melhor, ele leva o aluno a pensar melhor...então é muita informação e você

acaba se embananando... eu me embananava na hora da prova, mas consegui a minha nota...”

(aluno concluinte 4)

Finalizamos o questionário com algumas perguntas abertas.

Primeiramente, questionamos o que mudou na vida profissional do aluno ao cursar a

graduação, e obtivemos as seguintes respostas:

- “tudo... oportunidades de emprego, mas não na área”;

- “pude mudar de empresa com mais facilidade por ter uma visão melhorada pelos

estudos”;

- “a graduação me estimulou a buscar por melhorias profissionais, auxiliou na

identificação de problemas que havia onde trabalhava, nas mais variadas áreas”;

- “várias oportunidades surgiram em diferentes ramos”;

- “obtive mais segurança para aceitar novos desafios e encará-los de forma positiva”;

- “melhor oportunidade de emprego, salários maiores e maior conhecimento”;

- “expansão do conhecimento e possibilidade de buscar melhores oportunidades”;

- “grande desempenho na minha trajetória, conquista de novos conhecimentos e

oportunidades profissionais”;

- “conseguir o emprego dos meus sonhos”;

-“por enquanto não mudou”;

- “mudou muito, tive outra postura e comportamento”;

- “consegui emprego e fui promovido em algum lugar que gosto”;

- “me tornei uma profissional mais exigente e muitas coisas que estudei eu coloquei

em prática no trabalho”;

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- “deixou de existir limites para continuar crescendo na empresa, tendo curso superior

a única coisa necessária passou a ser o desejo, capacidade e disciplina”;

- “oportunidade de promoção, aumento de responsabilidade e conhecimento técnico”;

- “maior valorização”;

- “maior conhecimento nas tarefas desempenhadas”;

- “oportunidade de atuar numa área melhor”;

- “mudança de cargo”;

- “mudança de área”;

- “crescimento na empresa na qual trabalho e colocar na prática o que aprendi em sala”;

- “por enquanto nada”;

- “passei a ver situações da empresa por outro ângulo e tomar atitudes diferentes de

quando não tinha graduação”;

- “me tornei empreendedor”;

- “fui promovida 3 vezes”;

- “nada até agora”

- “visão mais madura do ambiente de trabalho”;

- “ajudou a executar minhas atividades na empresa”;

- “meu colegas de trabalho me veem com outros olhos”;

- “conhecimento e atitude”;

- “condições financeiras melhoraram significativamente”;

- “mudou só meu conhecimento, continuo ganhando a mesma coisa”;

- “ajudou a entender os objetivos dos gestores nas reuniões da empresa”;

- “mudou meu conhecimento mas na prática não mudou nada”.

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As respostas acima são bastante variadas no que diz respeito a mudanças na vida

profissional. A maioria dos participantes cita melhoria na aplicação dos conhecimentos dentro

do ambiente organizacional, porém são poucos os que citam melhorias efetivas na trajetória

profissional, como oportunidade de crescimento, melhores salários e melhores ocupações.

Alguns alunos são bastante sinceros ao citar que aumentou o conhecimento mas na carreira

nada mudou.

Respostas como: “me veem com outros olhos”; “ajudou a executar outras atividades”;

“auxiliou na identificação de problemas onde trabalhava”; “visão mais madura do ambiente

de trabalho”; “oportunidades de emprego, mas não na área”; “maior valorização” não

significam nada na prática, uma vez que não significam melhoria socioeconômica. Além das

respostas que são assertivas ao informar que nada mudou: “mudou meu conhecimento mas na

prática não mudou nada”; “nada até agora”; “por enquanto nada”; “por enquanto não mudou”.

Porém, encontramos respostas como: “melhor oportunidade de emprego, salários

maiores e maior conhecimento”; “crescimento na empresa na qual trabalho”; “condições

financeiras melhoraram significativamente”. Essas respostas não são a maioria, mas

significam uma melhoria para esses jovens no que diz respeito às oportunidades de carreira e

melhoria socioeconômica.

Podemos sugerir um aspecto de melhoria nas condições gerais de trabalho dos alunos.

Podemos considerar que passam a ter melhores oportunidades para ocupar cargos de maior

status. Além disso, podemos considerar também que, culturalmente falando, com relação aos

conhecimentos gerais há uma melhora significativa.

Os alunos entrevistados mostram uma melhora significativa nas condições de atuação

profissional deles, ou seja, sentem-se mais confiantes, com mais conhecimento para ser

aplicado na empresa e maior repertório de comportamentos e competências. Além disso,

deixam claro que o mercado realmente valoriza a graduação:

- “(...) com relação à assuntos econômicos... eu não tinha assim... eu tinha curiosidade

mas não tinha tanta ação com relação à esse tipo de conhecimento, a faculdade que abriu isso

pra mim. A partir da faculdade eu tive mais interesse pela área da economia e foi o que

facilitou pra mim a inserção no mercado de trabalho.” (aluno concluinte 1)

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- “Mudou, inclusive de me dar essa oportunidade... ele me abriu um leque muito

grande... é exatamente esse exemplo que eu dei do bolo...ele ensinou muito da teoria que hj eu

coloco na prática. (...) então aí consegui entrar nesse novo estágio que eu tô e é incrível, todos

os dias eu entrar na empresa e falar assim: “caramba, a professora falou na aula passada a

respeito disso!” Eu acho isso gratificante, é prazeroso, é recompensador, você entrar no seu

trabalho e dizer: “poxa, eu estou conseguindo colocar na prática, eu estou conseguindo

crescer”. É bom também pelo fato de nós termos relacionamento com os professores, com os

alunos... a gente meio que faz uma interligação empresarial, um networking...então

profissionalmente fez muita diferença...” (aluno concluinte 2)

No caso acima, o aluno concluinte relata a importância de estabelecer relacionamentos

pessoais com colegas de trabalho e com professores, e quanto esses relacionamentos se

tornam importantes futuramente. Outros entrevistados corroboram essa opinião:

- “(...) porque quando a gente tá na escola é diferente de você tá graduado... você

aprende, a sua visão cresce, você tem uma outra visão do mercado... você conhece pessoas

que tem experiência, que um dia acaba servindo pra você mais tarde...” (aluno concluinte 4)

- “(...) aqui a gente conversa com outras pessoas... o professor passa a experiência dele

pra nós e eu acho que abre a nossa mente... Tem pessoas que trabalham dez anos numa

mesma empresa e sabe muito bem fazer aquele serviço, aquela função, mas ele vem pra cá,

um fala uma coisa, outro fala outra, um conta uma experiência, o professor ensina... então eu

acho que abre a mente e dá pra pessoa crescer e ir pra outra empresa ou até ampliar os

conhecimentos dentro da própria empresa. Eu acho que graduação ajuda muito nisso, a você

estar junto de outras pessoas... eu gosto muito de estar com pessoas, de me relacionar... então

eu acho legal por causa disso também... às vezes tem pessoas muito tímidas, que entra aqui e

começa a se enturmar, quando vê, sai outra pessoa...” (aluno concluinte 5)

Como já foi dito anteriormente, os alunos deixam claro a importância que o ambiente

acadêmico tem em suas vidas profissionais, seja pelo fato de trazer novos conhecimentos e

novas experiências, seja pelo fato de proporcionar novos contatos, novas ideias, novas

opiniões.

A segunda questão aberta e última do questionário tinha como objetivo verificar se a

graduação abriu novos horizontes na vida pessoal do aluno, ou seja, se despertou novos

hábitos, novos interesses que não apenas profissionais.

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Nesse trabalho, também buscamos acompanhar a evolução sócio cultural do aluno,

além da econômica, perguntando se a graduação havia lhe proporcionado novos hábitos ou

interesses em novos assuntos e as respostas que obtivemos foram as seguintes:

- “área financeira e liderança”

- “pensar de forma diferente, mais focado”

- “interesse em outra língua”

- “me identifiquei com economia, estatística e contabilidade. Consegui implantar algo

na empresa que trabalho”

- “Interesse em aprender coisas novas”

- “ler a respeito do mundo”

- “me interessei mais por economia e política”

- “marketing”

- “escolhi o curso pensando na pós e continuo com o foco na pós graduação”

- “despertou o interesse por economia e acompanhar as notícias do Brasil”

- “na área de direito”

- “conhecimento”

- “interesse em fazer cursos para acrescentar no curriculum”

- “a cada semestre surgem interesses e curiosidades dos assuntos”

- “não”

- “procurei fazer curso de informática e minha leitura melhorou”

- “política, economia e cotidiano”

- “entendimento político, econômico e assuntos de marketing”

- “interesse sobre economia, política e mercado financeiro”

- “tenho sede de leitura, fazer outras graduações e interpretar a legislação trabalhista”

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- “interesse no mercado financeiro”

- “mais controle financeiro pessoal”

- “interesse em aprender cada vez mais e estar atualizado”

- “hábito de ler livros e jornais”

A maioria das respostas demonstra o aumento no interesse em assuntos como

economia, política e mercado financeiro. Esses assuntos são resultado direto da graduação na

área de negócios como é a Administração, porém, não deveriam ser assuntos de interesse

geral dos jovens a partir do ensino médio? Os egressos do ensino médio já não deveriam sair

com conhecimentos básicos em economia e política, até mesmo conhecimentos gerais e

atualidades? Não é isso que é cobrado historicamente nos vestibulares?

De qualquer forma, esses jovens necessitaram de quatro anos de estudo em nível

superior para desenvolver interesses em assuntos que já deveriam fazer parte de seu repertório.

O Art. 26 da LDB de 1996 determina a obrigatoriedade, nessa Base Nacional Comum,

de “estudos da Língua Portuguesa e da Matemática, o conhecimento do mundo físico e natural

e da realidade social e política, especialmente do Brasil (...)” (BRASIL - PORTAL MEC,

2000).

Os alunos entrevistados foram um pouco além dos itens citados pelos alunos nos

questionários e mostraram a importância que a graduação teve em suas vidas pessoais,

principalmente no que diz respeito ao ganho social de se frequentar uma Universidade,

resultado da interação com professores e colegas de turma, como já vimos anteriormente.

- “(...) teve uma mudança porque... na realidade a gente acaba se relacionando de

forma diferente com as outras pessoas pelo conhecimento que você vai adquirindo... com

relação à questionar... sobre elas e isso também vai te agregando na vida pessoal.

Explica melhor esse ponto de questionar as pessoas...

- "Com relação ao pensamento...ao senso crítico e analítico dessas pessoas...

Se tornou mais crítica?

- "Sim, mais questionadora.” (aluno concluinte 1)

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- “Trouxe uma mudança... quanto mais você aprende, mais vontade... aquilo te

incentiva a querer aprender mais e isso não só na questão profissional, na questão pessoal

também. Então eu acredito que de uma certa maneira, você convivendo com as pessoas, você

vendo que dá pra você melhorar de conhecimento, você percebe: “poxa, se dá pra eu melhorar

profissionalmente, se dá pra melhorar nos meus estudos, por que não melhora pessoalmente?

Por que não aprender com as pessoas com quem eu me relaciono?” Aprender respeito...

aprender muito mais do que o que a professora explica lá na frente... a convivência...é...

parece que tira a gente de um mundinho fechado, de uma caixinha e mostra assim: “o mundo

é muito maior do que o que você pensa que ele é!”

E outros interesses em outros assuntos?

- "Ah... teve uma matéria que eu fiz que eu não lembro o nome, mas que fez eu me

interessar por operações, por logística... também tem economia e matemática financeira que

antes eu dizia: “ah... o que é isso? Pra serve isso? O que isso vai mudar na minha vida?” Isso

fez eu mudar minha posição política, isso fez eu mudar eu querer me interessar por

economia... a economia do país, do Estado ... incentiva, causa interesse em querer saber mais

em querer saber como nós estamos nos comportando... administrativamente falando, como

nós estamos contribuindo pra sociedade...” (aluno concluinte 2)

- “(...) o que me chamou a atenção muito é como lidar com o ser humano... é muito

difícil...principalmente na área administrativa, que querendo ou não você é um pouco de

psicóloga... você acaba, um pouco, entrando na vida da pessoa... e também ajudando a

pessoa... ajudando ele a ter as qualidades dela, ela enxergar... as vezes a pessoa é tão

maltratada por não saber isso, não saber aquilo... às vezes tem pessoas que investe nessa

pessoa, valoriza o pouco que ela sabe e o pouco que ela sabe amanhã pode ser muito... ela

pode se tornar um ótimo profissional através desse pouquinho que você deu atenção pra ela,

você incentivou ela, ela pode se transformar e vai lembrar de você pro resto da vida...” (aluno

concluinte 4)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciarmos esse trabalho questionávamos sobre a importância que a graduação

realizada em uma IES mercantil teria na vida profissional dos seus alunos. Como se refere o

título desse estudo, pretendíamos verificar a influência desse modelo de IES na mobilidade

socioeconômica e cultural de seus egressos.

Para isso lançamos mão de estudos que mostram como se encontra, atualmente, o

cenário da educação superior diante de diversas mudanças nas últimas décadas, decorrente de

um desenvolvimento tardio no país.

As hipóteses levantadas versam sobre a qualidade do ensino superior oferecido pelas

universidades de massa e o impacto da formação superior para a ascensão profissional dos

alunos e, conseqüentemente, para sua mobilidade socioeconômica e cultural. Além disso,

questionamos se a qualidade do ensino médio freqüentado por esses jovens teria alguma

interferência no aproveitamento dos seus estudos.

Levando-se em conta as respostas obtidas junto aos docentes participantes dessa

pesquisa, a questão que levantamos sobre as dificuldades que o aluno tem em acompanhar as

aulas por ter déficits de conhecimento foi respondida quando os próprios docentes sinalizaram

que percebem a dificuldade dos alunos para realizar cálculos matemáticos, entender os

conteúdos ministrados, analisar situações, pensamento lógico e, além disso, os docentes

identificaram também outras dificuldades que não dizem respeito ao conteúdo das aulas, mas

à questões pessoais como: comprometimento e dedicação, falta de tempo para estudar e

dificuldade para seguir regras.

A maioria dos alunos do ensino superior nas IES particulares estuda no período

noturno, pois trabalha durante o dia. Seu turno de trabalho começa cedo e só termina quando

retorna da Universidade, muitas vezes, depois da meia noite, e no dia seguinte seu turno

começa cedo novamente. Como ter tempo para estudar, ler os textos indicados, fazer trabalhos

quando solicitados e ainda ter o direito ao lazer ou dedicar-se à família?

No senso da educação superior de 2013 verificou-se que 63% dos alunos dos cursos

presenciais de graduação no país estudavam à noite. Nas IES privadas o índice era de 73%,

enquanto que nas federais esse índice ficava em torno de 30%. Dessa forma, bastaria esse

indicador para imaginarmos que deve haver uma diferença acentuada no aproveitamento dos

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estudos dos alunos das IES privadas e federais, por exemplo, uma vez que alunos do noturno

tem maiores dificuldades de acompanhamento das aulas, menos tempo para se dedicarem aos

estudos, etc.

Vimos anteriormente, nesse trabalho, que 69,7% dos alunos matriculados em IES

privadas são egressos de escolas públicas. Quando concentramos os dados no curso de

Administração, esse índice sobe para 76,6%, ou seja, no curso de Administração das IES

privadas, temos um grande número de alunos formados em escolas públicas estudando no

período noturno. Essa combinação de fatores leva a situações como as descritas pelos

docentes: dificuldades em se concentrar nas aulas e/ou dificuldades em comprometer-se com

o conteúdo e com o processo de aprendizagem (SEMESP, 2015).

Os docentes também deixaram claro que necessitam reduzir suas exigências em sala

de aula para que os alunos possam acompanhar o conteúdo ministrado.

Além disso, salas de aulas lotadas e com condições ambientais ruins acabam

colaborando para o baixo aproveitamento dos alunos. Tanto docentes como os próprios alunos

relatam como as salas de aulas lotadas, o calor e o barulho atrapalham a concentração e o

aproveitamento das aulas.

Assim são caracterizadas as universidades de massa: salas de aulas com mais de 100

alunos, disciplinas ministradas à distância e precarização das relações de trabalho dos

docentes, que são contratados como horistas.

Como vimos, o cenário do ensino superior no país passa por um processo de

mercantilização, em que IES são compradas por grandes grupos educacionais com aportes

financeiros de investidores internacionais, transformando a educação superior em um negócio

lucrativo. Essas negociações e fusões de IES geram grupos educacionais cada vez maiores,

tomando o espaço dos Centros Universitários e das Faculdades, tornando-se hegemônicos no

mercado do ensino superior. Consequentemente, em alguns anos teremos todo o ensino

superior monopolizado por alguns grupos, transformando o mercado da formação superior em

um ambiente sem competição pela qualidade.

Os próprios alunos deixam claro, na pesquisa realizada, como se incomodam com as

condições de sala de aula, mas também sinalizam outro problema: as disciplinas ministradas

na modalidade EAD. Tanto os docentes como os alunos (ingressantes e concluintes) externam

seu incômodo na possibilidade das IES transformarem até 20% da carga horária de um curso

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superior em disciplinas on-line. Essa possibilidade é autorizada pelo próprio Ministério da

Educação em sua portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004.

Muitos dos alunos que responderam ao questionário, bem como os alunos

entrevistados, deixaram clara a dificuldade em acompanhar as disciplinas em EAD,

dificuldade em entender os conteúdos e, principalmente, em se adaptarem à modalidade, uma

vez que não há professor presencial para realizar exercícios ou tirar dúvidas. Um dos alunos

entrevistados ainda mostra como é fácil burlar as regras, na medida em que um aluno

responde as questões propostas e compartilha os resultados para os demais colegas da sala

para que todos possam ter sua nota garantida.

Nesse sentido, as disciplinas em EAD da maneira como são ofertadas, são uma falácia,

pois o aluno não aprende, apenas empurra o conteúdo “com a barriga” para conseguir uma

nota mínima. Não há discussões aprofundadas, não há trocas de opiniões entre colegas ou

entre alunos e professores.

Existe atualmente no país mais de um milhão de alunos matriculados em cursos

superiores totalmente ministrados na modalidade à distância. Desse total, cerca de 900 mil

encontram-se em IES privadas e pouco mais de 150 mil encontram-se nas públicas.

Certamente que os cursos à distância são uma realidade necessária àqueles alunos

moradores das regiões mais afastadas, em que não exista a possibilidade de uma universidade

próxima, aos alunos com horários de trabalho alternativo, que os impossibilitem de frequentar

aulas regulares e, principalmente, aos alunos de baixa renda que com o desejo de cursar o

ensino superior, uma vez que a modalidade do curso em EAD é bem mais acessível.

A virtualização do ensino é uma tendência mundial, mas quais as regras? Quais as

garantias de que o mínimo esteja sendo atendido? Essa tendência mundial é a galinha dos

ovos de ouro das IES privadas pois, são fonte certa de lucro, uma vez que professores e infra

estrutura são dispensáveis e substituídos por tutores com nível de graduação nos cursos que

acompanham.

Quando falamos de disciplinas EAD, estamos, mais uma vez, falando da precarização

do ensino e das relações de trabalho dos professores que estão sendo substituídos por tutores e,

além disso, tem suas horas-aula reduzidas, pois um professor “conteúdista” (aquele que

apenas cria conteúdos disponibilizados em plataformas virtuais) recebe poucas horas para

elaboração de dezenas de unidades de conteúdo e centenas de questões para prova.

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Tentávamos verificar se a formação adquirida nesse modelo de Universidade é

eficiente para proporcionar mobilidade socioeconômica e cultural nos egressos. Levando-se

em conta as respostas obtidas por meio dos questionários aplicados e das entrevistas

realizadas pudemos notar algumas sensíveis mudanças na vida pessoal e profissional desses

jovens.

Quando entramos em contato com os alunos ingressantes, fica clara sua escolha por

um curso que lhes aumente as chances de ingresso, permanência e crescimento no mercado de

trabalho. Muitas respostas giram em torno de afirmações que nos levam a crer que a escolha

pelo curso de Administração se dá pelo grande número de possibilidades profissionais que

essa formação oferece.

Muitos alunos participantes da pesquisa já trabalhavam ao ingressar na Universidade,

o que aumenta as chances do curso escolhido ser o de Administração, pois se trata de uma

formação generalista, em que o aluno estuda desde Economia, Matemática e Finanças, até

Recursos Humanos, Marketing e Empreendedorismo, passando por Sociologia, Política, Ética

e Responsabilidade Socioambiental.

O aluno do curso de Administração poderá atuar em diversas áreas, em diferentes

organizações, mas, como vimos nas respostas obtidas, muitos alunos, ao optarem pelo curso

de Administração, já ocupavam cargos administrativos como: recepcionista, mensageiro,

auxiliar administrativo, operador de telemarketing, etc.

Essa formação superior vem ao encontro de sua experiência na área, aumentando suas

chances de crescimento profissional, pois não haverá a dificuldade que muitos universitários

encontram para “entrar na área de formação”.

Nosso levantamento mostrou que a maioria dos alunos conquistou novas posições

hierárquicas na sua trajetória profissional, acompanhadas de aumento salarial. Se

interrompêssemos nosso trabalho nesse ponto, poderíamos finalizar e refutar nossa hipótese,

mas temos algo que vai além.

Os participantes da pesquisa conseguiram algo além de bons cargos e melhores

salários, conseguiram desenvolver o chamado capital social. Muitos entrevistados afirmam

como a graduação lhes trouxe novos interesses em assuntos como economia e política.

Deixaram claro que passaram a se interessar mais por assuntos sobre os quais não davam

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atenção, passaram a se interessar por notícias e, principalmente, a ter opinião formada, a

serem mais críticos com relação ao que lêem e ao que ouvem.

Apenas esse dado já nos mostraria que a universidade em questão auxiliou sim na

trajetória profissional dos alunos mas, além disso, qualquer que seja o curso feito ou a IES

cursada, o fato de estar em contato com professores, trocar ideias, participar de discussões e

estar em contato com outros colegas tem levado os alunos a mudar seu comportamento como

cidadãos.

Alguns dos entrevistados utilizaram, ao se referirem à universidade, expressões como:

“amplia os horizontes”; “abre a mente”; “me tornou mais crítico”; “me tornou mais

interessado por assuntos que não me interessava”; “aprendi a me comunicar melhor”, etc.

Inquestionavelmente a universidade proporciona novas situações de vida, como entrar

em contato com assuntos que poderiam parecer desinteressantes e que agora se tornam

necessários para sua formação. Esse novo cenário mostra para o aluno que o mundo vai muito

além do que ele imagina, assim como disse um dos alunos entrevistados: “o mundo é muito

maior do que o que você pensa que ele é!”

Curso superior amplia horizontes, abre oportunidades e possibilita novas experiências

profissionais. Talvez a formação profissional recebida não seja suficiente para que eles

concorram, de igual para igual, com egressos de universidades públicas ou particulares de

primeira linha, para um cargo de trainee em uma empresa multinacional. Essas posições

privilegiadas, na maioria das vezes, exige uma formação muito mais completa, conhecimento

avançado em mais de um idioma, capacidade de comunicação (escrita e oral) bastante

desenvolvida, requisitos esses que os participantes dessa pesquisa não apresentam, o que os

deixa em desvantagem na concorrência para oportunidades como essas.

No entanto, como já dissemos, a graduação lhes permitiu desenvolver algumas

competências básicas que, sem elas, não seria possível ocupar cargos de maior complexidade.

Ou seja, a graduação lhes dá a oportunidade de ocupar cargos de “colarinho branco”

reservados apenas para aqueles com nível superior.

Conforme observamos nos questionários aplicados e nas entrevistas, o objetivo desses

jovens é o crescimento profissional, seja por meio de promoções internas nas empresas onde

atuam, seja por melhoria nas tarefas que desempenham, mas, de um modo geral, a mudança

no status social é um desejo presente, mesmo que não manifesto. Não podemos negar que eles

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alcançam essa mudança de alguma forma: seja na melhoria da ocupação profissional, seja no

aumento de salário, ou na forma como ele passa a ser visto pelos colegas, chefes e familiares.

Max Weber (segundo Littlejohn, 1973, p. 30), “mostrou que status constitui uma

dimensão de estratificação distinta da de classe (...).” E ainda: “(status) refere-se não à

direitos e obrigações, mas sim a prestígio e à maneira pela qual o titular desse status é tratado

pelos outros.” (idem)

Os jovens participantes dessa pesquisa, em muitos momentos, deixaram claro que,

após o início da graduação, passaram a ser vistos “com outros olhos” pelos colegas de

trabalho, chefias e até mesmo pela própria família. Passaram a ter um novo status social.

Para Cox (1976, p. 264): “Quanto maior a ascensão na hierarquia dos status sociais,

maior a glorificação social do indivíduo”.

Em contrapartida, alguns dos participantes mostraram que os cargos ocupados por eles

não exigem, necessariamente, formação superior para desempenhá-los, mas, por questões

organizacionais, as empresas assim o exigem. De certa forma, a graduação não é tão

primordial para o desempenho da função em si, mas desenvolve competências básicas para a

vida profissional, principalmente, como vimos em alguns casos, empresas que só investem na

carreira do profissional caso ele tenha nível superior ou estiver cursando.

Não podemos negar, no entanto, que a formação superior é importante como

ferramenta para o crescimento profissional. Como pudemos perceber pelas respostas dadas

aos questionários e entrevistas, atualmente as empresas buscam, mesmo para cargos na base

da estrutura hierárquica, pessoas que tenham formação superior ou mesmo que estejam

cursando. A exigência não se dá necessariamente pelo cargo em questão, mas pelas próprias

oportunidades que esse profissional poderá ter no futuro na empresa, ou ainda, para contar

com uma formação mínima necessária para a aquisição de determinadas competências

obrigatórias como exigência para permanência no mundo do trabalho globalizado.

Podemos dizer que os alunos participantes dessa pesquisa passaram ou passarão por

um processo de mobilidade social? Se levarmos em conta teorias como a de Souza (2015),

segundo o qual é preciso mais do que o aumento salarial para definirmos uma mudança de

status social, certamente que não. Porém, devemos considerar que esse aluno está finalizando

sua graduação, e há um longo caminho profissional a ser percorrido.

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Sem dúvida que a formação recebida por esses alunos não está à altura de profissionais

de países desenvolvidos. Os profissionais formados pelas IES mercantis são mão de obra

“qualificada” no sentido da formação superior, porém, não qualificados para alçar voos mais

altos, como ocupar cargos estratégicos dentro das organizações como os jovens formados nas

IES públicas ou privadas confessionais.

Existe ainda, outra situação tão grave quanto a qualidade do ensino, que é a

precarização da educação por parte dos docentes em sala de aula e da própria IES, quando

transfere parte da carga horária do curso para disciplinas em EAD ou disciplinas sem

conteúdo programático, que existem apenas no papel, pois são apenas horas somadas na

matriz curricular do curso. Quando a IES decide por alocar cerca de 140 alunos em uma sala

de aula, também precariza a educação e o trabalho do docente que precisa dar conta de mais

de cem alunos por sala de aula e corrigir trabalhos e avaliações de mais de cem alunos por

turma.

Uma simples operação matemática constata uma triste realidade: um docente que

ministre aulas de segunda a sexta feira nessa IES terá, a cada semestre, mais de 500 alunos.

Qual a qualidade dessas aulas? E não estamos questionando a capacidade do professor, mas

como é possível cuidar, com qualidade, de 500 alunos? Como fica a saúde física e mental de

um docente que passou anos de sua vida estudando para se titular mestre ou doutor, diante de

uma sala com mais de 100 alunos, sem infraestrutura para tal?

Para completar, é necessário ressaltar que a formação superior do aluno aumenta sua

empregabilidade e o valor de seu salário, conforme dados do SEMESP (2015, pg. 15): “A

remuneração média dos trabalhadores com ensino superior completo chega a ser três vezes

superior a dos trabalhadores com apenas o ensino médio completo (...)” e, além disso,

melhora sua condição de cidadão, uma vez que aumenta seu senso crítico e o interesse por

assuntos econômicos e políticos, como dito anteriormente. Porém, esse conhecimento

adquirido muitas vezes não será aplicado efetivamente na sua trajetória profissional. Como

muitos disseram durante a pesquisa, suas atividades não necessitam de ensino superior e, além

disso, como alguns docentes e alguns alunos citaram, a falta da prática na graduação dificulta

a relação entre conhecimento teórico e aplicação. Dessa forma, muitos passam a ficar na

dependência de treinamentos e capacitações que a própria empresa disponibiliza para o

desenvolvimento de seus trabalhadores.

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O artigo de 2014 da revista Você RH, intitulado: “O custo da educação para as

empresas” inicia informando que: “para suprir a carência de conhecimento do empregado

brasileiro, as companhias investem cerca de 4% de sua folha de pagamentos em formação”

(SENDIN, 2014, p. 25). Mais adiante, no mesmo artigo: “há três anos, a rede de lojas (...)

aplicou uma prova para avaliar quanto seus 7.000 funcionários tinham domínio de português e

matemática. (...) Mesmo entre os que tinham diploma universitário, 19% apresentavam um

conhecimento abaixo do esperado (...)” (SENDIN, 2014, p. 26).

Isso não acontece somente entre os trabalhadores com nível superior: essa mesma

pesquisa detectou que 36% dos trabalhadores avaliados “liam e escreviam com limitações e

eram incapazes de interpretar gráficos ou compreender percentuais de desconto” (idem, p. 26).

Dessa forma, deixamos claro aqui nesse trabalho que o Brasil ainda necessita investir

muito no ensino superior privado. Apenas facilitar, por meio de incentivos fiscais e

autorizações do Ministério do Trabalho, o crescimento do número de IES privadas não

melhora a qualidade do ensino.

Hoje temos no Brasil apenas 16% dos jovens entre 18 e 25 anos cursando nível

superior, mas esse dado não significa que temos pessoas qualificadas entrando no mercado de

trabalho para contribuir efetivamente para o crescimento do país. São jovens que buscam,

minimamente, melhorar as condições de trabalho, ascendendo a ocupações de “colarinho

branco”.

A importância de cursar o nível superior para os alunos aqui pesquisados se dá, muito

mais, pelo capital social que adquire e pelas transformações por que passa, do que pelas

mudanças socioeconômicas propriamente ditas. Logicamente que a aquisição do capital social

e a transformação cultural impulsionarão, em alguns anos - e é o que esperamos que aconteça

- a carreia profissional desses jovens.

Como foi mencionado por alguns docentes e alunos, a graduação é apenas o começo

da caminhada. Faz-se necessária a pós-graduação como ferramenta de aperfeiçoamento e

aprofundamento nos temas e nas competências requisitadas pelas organizações atualmente.

Enquanto isso, esses jovens vão garantindo sua permanência no mercado de trabalho,

em ocupações de “colarinho branco” que não necessariamente, na maioria das vezes,

permitem mobilidade socioeconômica, mas que, eventualmente, melhorem suas condições de

vida e possibilitem continuar os estudos para progredir futuramente.

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Seria aconselhável que, para continuarmos os estudos sob a perspectiva do ensino

superior e a mobilidade socioeconômica, fossem realizados estudos com jovens cursando a

pós-graduação para avaliarmos se esse novo passo contribui para seu crescimento profissional.

Finalmente, esse estudo focou um curso superior específico pela necessidade do

recorte metodológico, mas muito interessante seria se pudéssemos fazer esse mesmo

levantamento junto a alunos de outros cursos de graduação. Neste caso, trabalhamos com

jovens que, na sua maioria, já se encontravam no mercado de trabalho e, mais especificamente,

na sua “área” de atuação, que é a administrativa. Como seria a trajetória de jovens dos cursos

das áreas em que a atuação profissional só poderá se dar após sua formação, como os

Psicólogos, Engenheiros, Biomédicos, Assistentes Sociais, Advogados e etc? Sua trajetória

seria a mesma dos alunos da Administração que já trabalhavam na área ao ingressar no curso?

De uma forma ou de outra, precisamos de um país que incentive cada vez mais a

educação básica, pois é ela que dará subsídios para que o aluno consiga acompanhar de

maneira satisfatória o curso superior de sua escolha, para que os docentes não precisem

diminuir suas exigências e para que tenhamos, cada vez mais, bons profissionais. Precisamos

exigir qualidade do ensino superior privado de massa, para que a lógica empresarial dê lugar à

lógica da educação!

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MOREIRA, Claudia Regina. Da finalidade atribuída ao programa universidade para todos. Artigo apresentado no 6º Seminário Nacional de Sociologia e Política da UFPR em maio de 2015.

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OLIVEIRA, Eurenice. O Toyotismo no Brasil, São Paulo: Expressão Popular, 2004.

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PARENTI, Ana Flávia. Os novos rumos do trabalho - emprego e desemprego: uma análise das práticas discursivas dos jovens e sua percepção sobre os novos paradigmas do mundo do trabalho. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Psicologia Social da Pontifica Universidade Católica. São Paulo, 2008. 122 f.

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SOUZA, Jesse. A Tolice da Inteligência Brasileira: ou como o país se deixa manipular pela elite. São Paulo: Leya, 2015.

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144

ANEXOS

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Este questionário tem como finalidade a coleta de dados e informações importantes para a

conclusão de uma Tese de Doutoramento na área das Ciências Sociais pela PUCSP intitulada:

“A contribuição das Universidades de Massa na mobilidade socioeconômica de seus

concluintes”. Não há necessidade de se identificar e as informações aqui inseridas são

confidenciais e de uso exclusivo do pesquisador.

Agradeço sua disponibilidade em colaborar!

QUESTIONÁRIO INGRESSANTES

PARTE 1 - AS QUESTÕES ABAIXO DEVEM SER RESPONDIDAS ASSINALANDO

UMA DAS ALTERNATIVAS

1. Idade

( ) entre 17 e 20 anos

( ) entre 21 e 25 anos

( ) entre 26 e 30 anos

( ) mais de 31 anos

2. Sexo

( ) Feminino

( ) Masculino

3. Cor/Etnia:

( ) Branco

( ) Preto

( ) Pardo

( ) Indígena

( ) Oriental

4. A escolha pelo curso se deu:

( ) Por imposição da família;

( ) Por influência da família;

( ) Por vontade própria;

( ) Por influência do trabalho que você exerce;

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( ) Por imposição da empresa em que você trabalha;

( ) Falta de opção;

( ) Optei pelo curso levando em conta o seu custo;

( ) Futuro profissional

( ) Outro: __________________________________________________________________

5. Quantas pessoas moram na sua casa?

( ) Moro sozinho

( ) 2 pessoas

( ) 3 a 4 pessoas

( ) 5 a 7 pessoas

( ) mais de 8 pessoas

6. Qual a renda per capta na sua família? (some o valor total recebido e divida pelo número de

membros da família).

( ) até 1 salário mínimo (R$ 788,00)

( ) entre 1 e 3 salários mínimos

( ) entre 3 e 5 salários mínimos

( ) mais de 5 salários mínimos

7. Levando-se em conta seus familiares próximos (pais e irmãos), mais alguém, além de você,

possui graduação?

( ) sim

( ) não

8. Você é beneficiado por alguma modalidade de Bolsa de estudo?

( ) Não, pago integralmente meu curso;

( ) Sim, tenho bolsa parcial ou total concedida pela Universidade;

( ) Sim, tenho bolsa parcial ou total concedida pela empresa onde trabalho;

( ) Sim, tenho bolsa parcial ou total concedida pelo ProUni;

( ) Sim, tenho bolsa parcial ou total financiada pelo Fies;

( ) Outro: __________________________________________________________________

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9. Qual a maior (ou maiores) dificuldades que você encontra em sala de aula? (mais de uma

alternativa pode ser assinalada)

( ) Entrosamento com os colegas;

( ) Entendimento do conteúdo das aulas;

( ) Entendimento da linguagem utilizada pelo Professor nas atividades ou avaliações;

( ) Colocar, de forma coerente, minhas ideias no papel;

( ) Cálculos matemáticos;

( ) Outros: _________________________________________________________________

9b. Por que você acha que ocorrem essas dificuldades?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

10. Trabalha atualmente?

( ) sim

( ) não

11. Se não trabalha:

( ) já teve trabalho e está desempregado

( ) nunca trabalhou.

12. Se sim, trabalha na mesma empresa de quando começou sua graduação?

( ) sim

( ) não

13. Se trabalha, qual sua ocupação? (cargo atual)

___________________________________________________________________________

14. Se estiver desempregado, qual foi sua última ocupação (cargo)?

___________________________________________________________________________

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15. Seu salário ao iniciar a graduação era/é:

( ) até um salário mínimo (R$ 788,00)

( ) entre 1 e 3 salários mínimos

( ) entre 3 e 5 salários mínimos

( ) acima de 5 salários mínimos

16. Você acredita que irá ter chances de crescimento profissional na empresa onde você está

atualmente, após a conclusão da graduação?

( ) sim

( ) não

17. Você acredita que terá melhores oportunidades de trabalho (um primeiro emprego ou

outro emprego ou outra empresa) após concluir a graduação?

( ) sim

( ) não

18. Quanto você imagina que seu salário irá aumentar após concluir sua graduação?

( ) até 10%

( ) entre 10% e 20%

( ) entre 20% e 50%

( ) entre 50% e 80%

( ) mais de 80%

19. Qual cargo você acredita que estará ocupando ao concluir a graduação?

___________________________________________________________________________

20. Nos dias de hoje, ter uma graduação é importante para: (mais de uma alternativa pode ser

assinalada)

( ) Manter-se empregado;

( ) Conseguir melhores salários;

( ) Desempenhar funções de maior prestígio;

( ) Ter oportunidade de subir na empresa (carreira, promoção);

( ) Ter oportunidade de mudar de área de atuação;

( ) Outros: _________________________________________________________________

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PARTE 2 – AS QUESTÕES ABAIXO DEVEM SER RESPONDIDAS DE FORMA

DISCURSIVA

21. O que você acredita que mudará na sua vida profissional ao concluir a graduação?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

22. Você acredita que para desempenhar suas atividades profissionais atuais é necessário ter

nível superior? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

23. A graduação lhe proporcionou novos hábitos ou interesse em novos assuntos? Quais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Este questionário tem como finalidade a coleta de dados e informações importantes para a

conclusão de uma Tese de Doutoramento na área das Ciências Sociais pela PUCSP intitulada:

“A contribuição das Universidades de Massa na mobilidade socioeconômica de seus

concluintes”. Não há necessidade de se identificar e as informações aqui inseridas são

confidenciais e de uso exclusivo do pesquisador.

Agradeço sua disponibilidade em colaborar!

QUESTIONÁRIO CONCLUINTES

PARTE 1 - AS QUESTÕES ABAIXO DEVEM SER RESPONDIDAS ASSINALANDO

UMA DAS ALTERNATIVAS

1. Idade

( ) entre 21 e 25 anos

( ) entre 26 e 30 anos

( ) entre 31 e 35 anos

( ) mais de 35 anos

2. Sexo

( ) Feminino

( ) Masculino

3. Cor/Etnia

( ) Branco

( ) Preto

( ) Pardo

( ) Indígena

( ) Oriental

4. Escolha pelo curso se deu:

( ) Por imposição da família;

( ) Por influência da família;

( ) Por vontade própria;

( ) Por influência do trabalho que você exercia/exerce;

Page 152: A CONTRIBUIÇÃO DAS UNIVERSIDADES DE MASSA PARA A … Flávia da Costa Parenti.pdf · PROMOÇÃO DA MOBILIDADE SOCIOECONÔMICA E CULTURAL DE SEUS CONCLUINTES DOUTORADO EM CIÊNCIAS

( ) Por imposição da empresa em que você trabalhava/trabalha;

( ) Falta de opção;

( ) Optei pelo curso levando em conta o seu custo;

( ) Futuro profissional

( ) Outro: __________________________________________________________________

5. Quantas pessoas moram na sua casa?

( ) Moro sozinho

( ) 2 pessoas

( ) 3 a 4 pessoas

( ) 5 a 7 pessoas

( ) mais de 8 pessoas

6. Qual a renda per capta na sua família? (some o valor total recebido e divida pelo número de

membros da família).

( ) até 1 salário mínimo (R$ 788,00)

( ) entre 1 e 3 salários mínimos

( ) entre 3 e 5 salários mínimos

( ) mais de 5 salários mínimos

7. Levando-se em conta seus familiares próximos (pais e irmãos), mais alguém, além de você,

possui graduação?

( ) sim

( ) não

8. Você foi beneficiado, durante sua graduação, por alguma modalidade de Bolsa de estudo?

( ) Não, paguei integralmente meu curso;

( ) Sim, tive bolsa parcial ou total concedida pela Universidade;

( ) Sim, tive bolsa parcial ou total concedida pela empresa onde trabalho;

( ) Sim, tive bolsa parcial ou total concedida pelo ProUni;

( ) Sim, tive bolsa parcial ou total financiada pelo Fies;

( ) Outro: __________________________________________________________________

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9. Qual a maior (ou maiores) dificuldades que você encontrou em sala de aula? (mais de uma

alternativa pode ser assinalada)

( ) Entrosamento com os colegas;

( ) Entendimento dos conteúdos das aulas;

( ) Entendimento da linguagem utilizada pelo Professor nas atividades ou avaliações;

( ) Colocar, de forma coerente, minhas ideias no papel;

( ) Cálculos matemáticos;

( ) Outros: _________________________________________________________________

10. Por que você acha que possui essa(s) dificuldade(s)?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11. Trabalha atualmente?

( ) sim

( ) não

11b. Se não trabalha:

( ) já teve trabalho e está desempregado

( ) nunca trabalhou.

11c. Se sim, trata-se da mesma empresa que você trabalhava quando iniciou a graduação?

( ) sim

( ) não

12. Quando iniciou na graduação, qual era sua ocupação (cargo)?

_______________________________________________________________________

13. Seu salário ao iniciar a graduação era:

( ) até um salário mínimo (R$ 788,00)

( ) entre 1 e 3 salários mínimos

( ) entre 3 e 5 salários mínimos

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( ) acima de 5 salários mínimos

14. Atualmente sua ocupação é (cargo):

________________________________________________________________________

15. Seu salário atual é:

( ) até um salário mínimo (R$ 788,00)

( ) entre 1 e 3 salários mínimos

( ) entre 3 e 5 salários mínimos

( ) acima de 5 salários mínimos

16. Sua graduação lhe possibilitou crescimento profissional na empresa onde você atuava ao

iniciar o curso?

( ) sim

( ) não

17. Sua graduação possibilitou que você ocupasse outro cargo ou buscasse uma melhor

colocação em outra empresa?

( ) sim

( ) não

18. Nos dias de hoje, ter uma graduação é importante para: (mais de uma alternativa pode ser

assinalada)

( ) Manter-se empregado;

( ) Conseguir melhores salários;

( ) Desempenhar funções de maior prestígio;

( ) Ter oportunidade de subir na empresa (carreira, promoção);

( ) Ter oportunidade de mudar de área de atuação.

( ) Outros: _________________________________________________________________

19. Durante o curso, você foi reprovado em alguma disciplina?

( ) Sim

( ) Não

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20. Se sim, quais as disciplinas?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

PARTE 2 – AS QUESTÕES ABAIXO DEVEM SER RESPONDIDAS DE FORMA

DISCURSIVA

21. O que mudou na sua vida profissional ao alcançar os últimos semestres do curso de

graduação?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

22. Você acredita que para desempenhar suas atividades profissionais atuais é necessário ter

nível superior? Por quê?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

23. A graduação lhe proporcionou novos hábitos ou interesse em novos assuntos? Quais?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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Este questionário tem como finalidade a coleta de dados e informações importantes para a

conclusão de uma Tese de Doutoramento na área das Ciências Sociais pela PUCSP intitulada:

“A contribuição das Universidades de Massa na mobilidade socioeconômica de seus

concluintes”. Não há necessidade de se identificar e as informações aqui inseridas são

confidenciais e de uso exclusivo do pesquisador.

Agradeço sua disponibilidade em colaborar!

QUESTIONÁRIO PROFESSORES

1. Há quanto tempo atua como docente?

( ) menos de 3 anos;

( ) entre 4 e 6 anos;

( ) entre 7 e 9 anos;

( ) mais de 10 anos

2. Há quanto tempo atua nessa IES?

( ) menos de 3 anos;

( ) entre 4 e 6 anos;

( ) entre 7 e 9 anos;

( ) mais de 10 anos

3. Possui outra ocupação profissional?

( ) sim

( ) não

4. Como docente, nota algum tipo de dificuldade dos alunos em sala de aula? (Mais de uma

alternativa pode ser assinalada)

( ) Ligada à relacionamento com colegas;

( ) Ligada ao entendimento do conteúdo ministrado em aula;

( ) Ligada ao entendimento do vocabulário utilizado em avaliações e atividades;

( ) Ligada à cálculo;

( ) Ligada à organização de tempo;

( ) Ligada ao comprometimento

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( ) Outros: _______________________________________________________________

5. Quais as maiores dificuldades que você encontra como docente? (Mais de uma alternativa

pode ser assinalada)

( ) Falta de equipamento adequando em sala de aula;

( ) Falta de apoio pedagógico;

( ) Número de alunos por turma;

( ) Nível sociocultural dos alunos;

( ) Falta de interesse por parte dos alunos;

( ) Outros: _________________________________________________________________

6. Por que acha que ocorre esse tipo de dificuldade?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

7. Já foi obrigado a diminuir as exigências em sala de aula para que os alunos pudessem

acompanhar o conteúdo?

( ) sim

( ) não

8. Se sim, com que frequência isso ocorre?

( ) Frequentemente;

( ) Esporadicamente;

( ) Raramente;

9. Como docente dessa IES, acredita que a formação que é dada aos seus alunos é suficiente

para capacitá-los como profissionais no mercado de trabalho?

( ) Sim

( ) Não

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10. Se não, onde acha que está o problema?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

11. O que você acredita que muda na vida profissional desses alunos ao concluírem a

graduação?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

12. Você concorda com a Matriz Curricular do curso para o qual ministra suas aulas?

( ) Sim

( ) Não

13. Se não concorda, quais alterações proporia?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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ENTREVISTAS REALIZADAS COM OS ALUNOS INGRESSANTES

Entrevista 1

Estudante de Administração do 2º semestre noturno, feminino, 28 anos.

Aluna se auto define da cor/raça parda.

Mora em São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo.

Entrevistador: Sua escolha pelo curso de deu por qual motivo?

Aluno Ingressante 1: É algo que eu me identifico. Eu acredito que eu nasci pra resolver

problemas e a Administração pra mim é isso, resolver as falhas de outro departamento.

E.: Você já trabalhava com isso antes de iniciar a graduação?

AI1.: Já trabalhava com isso.

E.: Você mora com quem?

AI1.: eu e minha filha.

E.: Então sua renda per capta de 1 a 3 salário é apenas você?

AI1.: Isso.

E.: Você tem uma bolsa concedida pela universidade, qual o percentual?

AI1.: 75%

E.: Qual a maior dificuldade que você encontra em sala de aula?

AI1.: São muitos alunos pra um ambiente muito pequeno, e é muita gente falando ao mesmo

tempo e às vezes atrapalha a concentração.

E.: Isso é o que mais te atrapalha? Os conteúdos das aulas pra você é tranquilo de acompanhar?

AI1.: Tranquilo

E.: Atualmente você trabalha na mesma empresa de quando você iniciou a Graduação? Qual

seu cargo?

AI1.: Isso, sou Assistente Administrativo

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E. Você acredita que quando você se formar, qual vai ser o cargo que você estará ocupando?

AI1. De Gerente, porque no meu primeiro semestre eu já mudei de departamento só pelo fato

de tá cursando... fazendo graduação.

E. Você acredita que existe um reconhecimento por parte da empresa pelo fato de você estar

fazendo Graduação?

AI1. Tem... Eles olham isso com outros olhos por que quando ele foi me promover ele falou

assim: “você tá fazendo faculdade agora, né”? E fez perguntas: qual semestre que eu tava, o

que eu tava fazendo... e isso encheu os olhos da diretoria.

E. E você acha que por isso você teve a promoção?

AI1. sim

E. Você acredita que terá melhores oportunidades de trabalho por conta da graduação que

você está cursando? E você citou no seu questionário que acredita que ocupará cargos de

maior prestígio. O que você entende por cargos de maior prestígio?

AI1. Funções de maior prestígio é você ter uma confiança maior, uma credibilidade maior e

responsabilidade maior.

E. O que você acha que vai mudar na sua vida profissional quando você concluir a graduação?

AI1. Esse período que eu tô estudando eu tenho aprendido muito... muitas... a parte técnica da

Administração, coisas que normalmente nós não usávamos, que nós não tínhamos noção e

você passa a usar no ambiente de trabalho e isso tem dado melhorias.

E. Você acredita que suas funções atuais exigem que você tenha nível superior? Ou seja,

alguém sem graduação poderia desempenhar suas funções atuais?

AI1. Acredito que sim. Pode começar a exercer mas acredito que a graduação vai ajudar

bastante em alguns conceitos referentes a... por que é nota fiscal, e contas a pagar, então ajuda

muito a ter um conhecimento melhor do que tá sendo exercido.

E. A graduação lhe proporcionou novos hábitos ou interesses em outros assuntos? Ou seja, o

fato de você estar fazendo faculdade mudou alguma coisa na tua vida, o jeito que você

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enxerga o mundo, o jeito que você se interessa pelas coisas, você começa a se interessar por

outros assuntos, comportamento, atitude, o seu dia a dia?

AI1. Mudou. Mudou porque quando você pega o conhecimento e começa a utilizar, você

começa a ter uma visão diferente, você começa a ver o mundo de uma maneira diferente.

Então eu comecei a usar e isso tem me trazido muito retorno.

E. E na sua vida pessoal, o que mudou?

AI1. Também. Eu tenho começado a organizar cada coisa de uma maneira diferente, visto

coisas diferentes e me interessado, mais pela parte histórica de muitas outras... outros

assuntos...

E. Por exemplo?

AI1. História no geral. Eu não me interessava por política, hoje eu me interesso mais... jornal

também...

E. Jornal impresso?

AI1. Tanto impresso como noticiário também, tenho me interessado mais pra tá mais ciente

do que vem acontecendo.

E. Você acha que isso foi a faculdade que te trouxe?

AI1. Sim, porque quando você começa a conversar com outras pessoas e aí elas falam coisas

das quais eu não sabia, eu começo a me interessar e querer me aprofundar mais no assunto.

E. E isso mudou sua vida?

AI1. Muda...Ter conhecimento de várias outras coisas das quais eu não me interessava... tava

desinteressada e quando você começa a conversar com outras pessoas que tem um

entendimento sobre aquilo eu também quero ter.

Entrevista 2

Estudante de Administração do 2º semestre noturno, feminino, 28 anos.

Aluna se auto define da cor/raça parda.

Mora em São Mateus, Zona Leste de São Paulo.

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Entrevistador: A escolha pelo curso se deu por qual motivo?

Aluno Ingressante 2: A princípio foi por vontade própria e também por falta de opção em

outro curso em si, que eu queria enfermagem também...

E. E por que você não fez enfermagem?

AI2. Por causa dos pontos e por que financeiramente não dava pra pagar.

E. Pelos pontos do Enem?

AI2. Isso.

E. Quem mora com você?

AI2. Meu marido.

E. Qual sua renda per capta?

AI2. Entre 1 e 3 salários.

E. Você tem alguma bolsa de estudos?

AI2. ProUni.

E. Quais dificuldades você encontra em sala de aula?

AI2. Tenho uma certa dificuldade de colocar meu ponto de vista no papel...

E. Por que você acha que isso acontece?

AI2. Por que eu preciso melhorar a leitura, preciso me focar mais no estudo... infelizmente a

gente tem essa mania de falta de tempo... não é nem falta de vontade, é falta de tempo por

não poder tá fazendo outras coisas além de estudar aquilo que é solicitado.

E. você trabalha atualmente

AI2. Sim.

E. É na mesma empresa que você trabalhava quando começou a graduação?

AI2. isso.

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E. Qual é seu cargo lá?

AI2. Recepcionista

E. Qual era seu salário quando você começou a graduação?

AI2. um salário

E. Você acredita que terá chances de crescimento profissional na empresa onde você está

depois que terminar a graduação?

AI2. Sim. E mesmo que eu não tenha, a gente tem que colocar metas... então se eu não subir

de cargo depois que eu terminar a faculdade, eu pretendo prestar concurso, que é uma boa

opção ou tentar um negócio próprio, quem sabe... que é desejo muito grande mas... quem sabe,

né?

E. Você acha que terá melhores oportunidades de trabalho em outras empresas?

AI2. Isso sem dúvida, infelizmente o mercado de trabalho ele solicita muito... antigamente ele

solicitava, mas ele solicita de acordo com o que tem no momento...

E. Graduação?

AI2. Isso, antes você tinha o ensino médio já te focava, hoje em dia você tem que te ensino

médio, faculdade, pós graduação e anda um curso em línguas, mas pra isso tem que ter

financeiro, né?

E. Quando você terminar a graduação, qual cargo você acredita que estará ocupando?

AI2. Se eu permanecer nessa empresa e ela crescer, se Deus quiser ela crescer, então eu

pretendo, alguma coisa... sei lá... gerente ou algo mais que solicite a empresa eu tô disponível.

E. Qual a importância de se ter uma graduação nos dias de hoje?

AI2. Primeiro você tem que ver se pessoalmente isso é... se satisfaz pra você, porque não

adianta você fazer só em busca de um salário, ou só de um cargo, porque as vezes isso,

infelizmente como tá o mercado competitivo hoje, não vai ser suficiente... As vezes você faz e

acaba ficando triste com o que acontece. Primeiro eu pretendo fazer pra me satisfazer, porque

se Deus quiser eu vou conseguir, eu vou fazer jus a bolsa que eu ganhei, depois a gente vê se...

se Deus quiser, subir na empresa, como mudar de cargo, como mudar de empresa, também ou

de abrir uma nova empresa. Aí é um leque de opções, né? Se Deus quiser...

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E. a tua bolsa do Prouni é de 100%?

AI2. 100%, graça a Deus.

E. O que você acha que vai mudar na sua vida profissional quando você terminar a graduação?

AI2. Vão me ver com outros olhos, né? E se não me verem com outros olhos, como o curso é

quatro anos, daqui até lá, se a empresa não crescer e não me querer subir de cargo ou querer

que eu supra uma necessidade a mais, eu vou procurando nesse período de tempo... tanto

concurso, tanto uma empresa com um cargo melhor, porque isso vai tirar esse medo que eu

tenho de procurar outras coisas, medo de não ter a capacidade...

E. Esse medo é por que você não tem graduação?

AI2. Também...

E. Você acredita que para desempenhar suas atividades profissionais atuais, é necessário ter

nível superior?

AI2. O que eu exerço hoje não é necessário, porque a empresa não solicita, mas pra mim, no

geral, tudo é necessário, tanto pra quem tá no mercado de trabalho como pra quem tá fora. Se

já é difícil você não tendo... você tendo a graduação, imagina pra quem não tem? Vai ficar

mais difícil... minha mãe, por exemplo, ela trabalhou de doméstica a vida inteira e a bichinha

não tem leitura... ela é um pouco leiga... só prestou primeira série... pra ela é muito difícil ..

então eu vejo a dificuldade me espelhando nela.

E. A graduação te possibilitou novos hábitos ou novos interesses?

AI2. Sem dúvida. Tanto que assim... o professor é um espelho... se você procurar se espelhar

nele, se você focar o que ele quer te passar ... ele não passa só o que tá aula, ele te passa um

pouco de vida, também, e ele até te induz a procurar outras coisas poque, por exemplo, esses

cursos opcionais, às vezes não tem nada a ver com a nossa grade ms abre a mente.

E. e pra você, que outros assuntos passaram a te interessar?

AI2. Ler mais... fiz uma optativa de Direito Ambiental...sou apaixonada por meio ambiente e

isso me mostrou vária opções, não só... às vezes informação do que tá acontecendo... eu tenho

uma informação básica do que os meios de informação te passa, mas se você procurar se

aprofundar, nossa você descobre coisas que você jamais pensava. Isso não só do profissional

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em si mas você como pessoa, você tem que correr atrás. Não adianta faze só o que o professor

pede, o que o professor passa...

Entrevista 3

Estudante de Administração do 2º semestre noturno, feminino, 19 anos.

Aluna se auto define da cor/raça parda.

Mora em Itaquaquecetuba, região metropolitana de São Paulo (Zona Leste).

Entrevistador: A escolha pelo curso se deu por qual motivo?

Aluno Ingressante 3: Porque eu já trabalhei nessa área.

E. Quantas pessoas moram na sua casa?

AI3. 7 pessoas.

E. Alguém na sua família, além de você, tem nível superior?

AI3. Meu pai. Eu sou a filha mais velha então sou a primeira...

E. Qual a formação do seu pai?

AI3. Administração

E. Isso influenciou na sua escolha?

AI3. Um pouco... na verdade eu comecei a atuar na área administrativa por causa dele.

E. Você tem bolsa?

AI3. ProUni 100%

E. Qual sua maior dificuldade em sala de aula?

AI3. colocar minhas ideias no papel;

E. Por que você acha que isso acontece?

AI3. Realmente eu não sei... às vezes eu escrevo demais e a ideia que eu quero passar não tá

certa no papel... geralmente não consigo colocar minhas ideias pra fora...

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E. Você era auxiliar de escritório. Você está desempregada, certo? Você acredita que quando

terminar a graduação você estará ocupando que cargo?

AI3. Gerente Administrativo. Eu espero chegar lá... espero conquistar isso e o curso pode me

ajudar.

E. Quando você procura emprego você nota que existe uma exigência das empresas pela

formação?

AI3. Sim... nas empresas onde eu vou, geralmente as pessoas estão mais à frente na graduação

ou que já terminaram conseguem o emprego no lugar de quem tá começando agora.

E. Por que é importante ter graduação hoje em dia?

AI3. Eu acho que você pode crescer, ter mais disponibilidade nos seus ambientes, pode chegar

numa empresa e você não vai fazer só aquilo... como fala... ser alienado numa coisa só... você

vai poder abranger várias áreas... no caso da Administração você vai abranger várias áreas.

E. E isso vai impactar no seu salário?

AI3. Com certeza. Hoje quem tem ensino médio ainda recebe muito menos, geralmente

metade do que as pessoas que tem graduação.

E. o que você acha que vai mudar na sua vida profissional quando você concluir a graduação?

AI3. Eu acho que vou ter mais disponibilidade de emprego, as pessoas vão me ver de forma

diferente. Geralmente quando você tem a graduação as pessoas te falam: “nossa você é

inteligente” e impacta bastante em como as pessoas te veem na vida real.

E. Na sua família as pessoas te olham diferente pelo fato de você estar fazendo graduação?

AI3. Sim... os primos começaram a me tratar mais distante porque eu tenho primos da mesma

idade que não conseguiram fazer a universidade, tão indecisos na vida, o que vão fazer... tipo

ele me olham como uma adulta, como diferente. Não é mais a mesma coisa...

E. A graduação proporcionou novos hábitos ou interesses e novos assuntos?

AI3. Sim, geralmente não me interessava por jornais, revistas... coisa de notícia era o básico,

sabe? Todo mundo tava falando e eu ia pesquisar pra ver o era. Hoje em dia já to mais

frequente... pego o jornal pra ler todo dia...

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E. Jornal impresso?

AI3. Não, no tablete mesmo... vou lendo todos os dias as notícias, me interessando mais pelo

mundo político, uma coisa que eu não fazia nem que me pagasse, eu detestava política e hoje

em dia eu me envolvi mais, gostei mais do assunto, me interessando mais.

E. Você passou a ter um posicionamento que você não tinha antes?

AI3. Eu desenvolvi o senso crítico...

E. Isso foi a faculdade que te proporcionou?

AI3. Não só a faculdade, a turma, os colegas, os professores me ajudaram nessa parte.

Entrevista 4

Estudante de Administração do 2º semestre noturno, masculino, 18 anos.

Aluno se auto define da cor/raça branco.

Mora em Itaquera, região Leste de São Paulo.

Entrevistador: A escolha pelo curso se deu por qual motivo?

Aluno Ingressante 4: Eu ganhei um curso de Técnico de Administração e fiz um ano e acabei

gostando e também por falta de recurso pra fazer outra faculdade...

E. Levando-se em conta seus familiares, mais alguém tem nível superior?

AI4. Meu irmão e minha irmã está terminando

E. Você tem bolsa?

AI4. Educa Mais Brasil

E. Como funciona?

AI4. Você se cadastra aí ele mostra todas as possibilidades de desconto que você tem...aí você

vai pra faculdade, se cadastra e eles liberam a bolsa.

E. Qual percentual de desconto que você tem?

AI4. 75%

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E. E quando você se formar você tem que pagar esse valor?

AI4. Eu já pago abatido todo mês e a cada seis meses eu pago duas mensalidades.

E. Quais as maiores dificuldades em sala de aula?

AI4. Como eu tive uma mudança de horário, tenho uma dificuldade de entendimento e

colocar as ideias no papel...se eu tiver domínio sobre o assunto, eu falo facilmente sobre isso

mas, por exemplo na aula, se você me pedir pra fazer alguma coisa, por estar cansado e tal, eu

não tenho essa atenção na aula, eu não consigo fazer.

E. Por que isso acontece?

AI4. Teve a troca de horário e vários problemas, acaba sobrecarregando.

E. Hoje você trabalha e não é na mesma empresa de quando você começou a graduação?

AI4. Não

E. Quando você começou a graduação você já trabalhava?

AI4. Já, eu trabalhava numa empresa de telemarketing e hoje eu tô como mensageiro numa

outra empresa.

E. Você vê possibilidade de crescimento dentro dessa empresa?

AI4. Lá eles tem uma política de crescimento dentro da empresa que invés deles contratarem

de fora... quando é cargo de base eles contratam de fora... mas deles eles pegam de dentro pra

fazer o crescimento nas áreas da empresa.

E. Você acha que a graduação vai te ajudar nisso?

AI4. Sim, tem um amigo meu que faz Relações Internacionais, e ele tem inglês e tal e ele

acabou de conseguir uma vaga que liberou numa área de câmbio.

E. Você acredita que vai ter oportunidades em outras empresas?

AI4. sim, porque tendo crescimento na empresa, você acaba tendo conhecimento também,

uma amplitude maior que por ventura aparecer uma outra oportunidade eu posso aproveitar.

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E. Qual a importância de ter graduação nos dias de hoje?

AI4. Então, hoje, se você levar em consideração o mercado, anteriormente era ensino médio,

agora o mínimo que você tenha é uma graduação e ter, pelo menos, falando outra língua que

tá virando, devido agora a economia do país, as multinacionais tão vindo pra cá... então como

inglês é língua mundial, é o mínimo que você tem hoje. Esses a mais que é o requisito hoje,

faz toda a diferença pra você se manter no mercado.

E. você percebe isso, quando você vai procurar emprego?

AI4. Sim, como na minha própria empresa, porque lá é uma multinacional chinesa, então o

mínimo, dependendo da área, que você tem que ter é um inglês... que nem, tem pessoas lá que

falam mandarim, que falam inglês, tem uma estabilidade maior lá.

E. Você já está fazendo algum curso de língua?

AI4. Eu tô procurando fazer o inglês e eu já faço por aplicativos que fazem de ajudar e tô

procurando de me ocupar nos finais de semana de fazer cursos.

E. O que você acredita que vai mudar na sua vida profissional quando você terminar a

graduação?

AI4. Dentro da visão da empresa, como lá é uma grade muito boa de crescimento e tudo mais,

então quanto, por exemplo, meu empenho... eu tô conseguindo passar nos semestres, como

eles veem normalmente, os semestres tudo mais, tô me empenhando no meu trabalho ele

normalmente veem pra você ter um crescimento, eles veem suas qualidades, pra quando tiver

uma vaga eles poderem verificar.

E. As atividades que você desempenha hoje exigem nível superior?

AI4. Não, como até então, mensageiro é um emprego que você pega externo pra interno, é um

emprego de base, então são serviços de correspondências, de protocolos...

E. não é uma exigência...

AI4. Passou a ser exigência pra crescimento na empresa, o mínimo que você tem que ter á

cursando uma graduação.

E. A graduação te proporcionou interesse em novas áreas ou novos hábitos?

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AI4. Na graduação, tipo, o mínimo que você tem uma visão diferenciada do mundo, assim,

tipo: aspecto político, aspecto econômico. No meu dia a dia, em certos aspectos, houve

diferença assim, pra percepção, até termos técnicos que antes você ouvia e não dava nenhuma

importância, hoje você dá total importância...

E. E na sua vida pessoal?

AI4. Não diretamente, mas indiretamente, quando você procura entender, por exemplo,

entender... que nem, eu queria fazer investimento, entender sobre economia, devido assim o

entendimento que estou tendo, já é um a mais pra poder verificar e já conseguir um maior

discernimento sobre as coisas...

Entrevista 5

Estudante de Administração do 2º semestre noturno, feminino, 21 anos.

Aluna se auto define da cor/raça parda.

Mora em Itaim Paulista, região Leste de São Paulo.

Entrevistador: A escolha pelo curso se deu por qual motivo?

Aluno Ingressante 5: Visando um futuro profissional, que eu quero crescer mesmo na área

profissional e não ficar na área operacional, quero no futuro ser supervisora, analista ou até

mesmo gerente geral da empresa.

E. Você trabalha na área de atendimento?

AI5. Hoje eu sou suporte da Caixa, eu auxilio os clientes da Caixa na folha de pagamento.

E. Você já trabalhava quando você começou a graduação?

AI5. Quando comecei a graduação era operadora da Caixa na área de Bolsa Família.

E. E quando você escolheu a graduação você pensou nesse crescimento?

AI5. Isso, eu me formei na área da estética, uma área que não deu retorno financeiro e resolvi

começar do zero e a opção foi Administração que é uma área ampla.

E. Quantas pessoas moram com você?

AI5. São dez pessoas.

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E. Algum familiar possui graduação?

AI5. Só um primo que faz TI.

E. Você tem bolsa?

AI5. 75% pela Universidade

E. Qual a maior dificuldade em sala de aula?

AI5. Colocar minhas ideias no papel. Porque eu assimilo, até entendo o que eu o professor

fala, mas na hora de colocar a minha interpretação não consigo.

E. Por que você acha que isso acontece?

AI5. Porque a falta de conhecimento é minha, é falta de assimilar e colocar as palavras que o

professor falou no papel.

E. Você acredita que tem chances de crescimento na empresa onde você trabalha hoje?

AI5. Com certeza porque eu tô no segundo semestre e já passei pra área de analista, que vou

fazer a prova agora dia 20 e a tendência é crescer e sem esforço nenhum...

E. Você acha que terá oportunidades em outras empresas?

AI5. Com certeza porque eu começar a estagiar agora na Prefeitura, vou conciliar as duas

coisas...

E. Você percebe essa busca do mercado por pessoas com graduação?

AI5. Sim, lá na Caixa precisa estar fazendo graduação pra poder ter um crescimento.

E. Qual a importância de ter graduação nos dias de hoje?

AI5. Ter oportunidade de subir na empresa. É consequência: eu me formando na faculdade eu

vou conseguir subir de cargo e a tendência é aumentar o lado financeiro...

E. O que você acredita que irá mudar na sua vida profissional quando concluir a graduação?

AI5. Muita coisa: a área de intelecto, financeiro, vai mudar tudo... principalmente a área

financeira que já tá mudando.

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E. Para desempenhar suas funções atuais é necessário ter nível superior?

AI5. Não é necessário, ensino médio completo já consegue exercer o que eu faço.

E. A graduação te proporcionou novos interesses ou novos hábitos?

AI5. sim, principalmente interesse, conhecer as coisas novas e a área de exatas que eu achei

que não gostava e eu gosto, adoro matemática e eu não sabia disso. Na vida pessoal não

mudou muito porque eu sempre gostei de ler, de ir no cinema, no teatro, sempre gostei de ir.

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Entrevistas realizadas com os alunos concluintes

Entrevista 1

Estudante de Administração do 7º semestre noturno, feminino, 29 anos.

Aluna se auto define da cor/raça branca.

Mora em São Miguel Paulista, região Leste de São Paulo.

Entrevistador: Por qual motivo você escolheu o curso de Administração?

Aluno concluinte 1: Na verdade foi pela amplitude de conhecimento que o curso oferece em

todas as áreas e independente da área que escolha, que eu tenho por opção hoje trabalhar que

é a área de compras, a área de administração você tem um conhecimento de todos os

departamentos da empresa, e isso é muito importante.

E. Quando você começou o curso você já trabalhava na área?

AC1. Já.

E. Qual era seu cargo?

AC1. Auxiliar administrativa.

E. E seu salário era quanto?

AC1. R$ 1.200,00

E. Hoje qual é seu cargo?

AC1. Hoje eu estou desempregada.

E. Há quanto tempo?

AC1. Há 1 mês.

E. Qual era seu cargo?

AC1. Analista de compras.

E. Qual era seu salário?

AC1. R$ 2.300,00

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E. Hoje, próximo do final do curso, você percebe se a graduação alterou alguma coisa na sua

vida profissional?

AC1. Por ter conhecimento de todos os departamentos, o desenvolvimento no trabalho ficou

muito melhor, por que por eu já ter o conhecimento, saber como vai funcionar os outros

departamentos de acordo com a minha ação dentro do meu departamento facilitou com

relação à agilidade de trabalho e também facilitando tanto a minha equipe quando as demais

nos outros departamentos.

E. Por que hoje em dia é importante ter graduação?

AC1. Penso que é fundamental, porque o ensino médio te dá uma base muito pequena, hoje

em dia o ensino não tá sendo considerado e pra você ter uma noção... porque a graduação hoje

ela te dá uma noção de como funciona o mercado de trabalho, tanto que é fundamental

continuar os estudos com pós graduação, enfim, dar sequencia nos estudos.

E. Você percebeu se mudou alguma coisa no seu ambiente de trabalho depois que você

começou a fazer a graduação?

AC1. Sim. Há um reconhecimento maior, as empresas sentem que você tá buscando evolução

e por consequência...além de ter evolução própria, a empresa também vai ter...

E. Você teve mais chances de crescimento depois que você começou a graduação?

AC1. Sim, sem a graduação eu teria sido promovida, não teria acontecido.

E. Sua última função era Analista de compras, certo? Essa função poderia ser ocupada por

alguém sem graduação?

AC1. Não. Eles não contratam porque precisa ter graduação.

E. Durante esses quatro anos de curso, quais as dificuldades que você teve em sala de aula?

AC1. Eu não senti dificuldades, mas uma coisa que eu gostaria que tivesse a mais no curso

seria trabalhos, no caso... projetos dos professores pra exercitar com os alunos em campo...

E. Atividades práticas?

AC1. Isso, senti falta disso... tinham algumas atividades sim, tinham alguns trabalhos, mas

foram muito poucos. Porque no mercado de trabalho a gente vê que a teoria funciona,

entretanto, na prática é muito mais importante pra você poder colocar o que você aprendeu.

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Então, se na faculdade a gente já tem a teoria já colocando em prática, é muito melhor na

atuação no mercado de trabalho. Mesmo porque eu penso que os professores de faculdade

eles não tão aqui pra facilitar a nossa vida, porque o mercado de trabalho não facilita pra

gente lá fora, então, eu penso que aqui dentro também não tem que ser fácil, pra justamente a

gente sair se sentindo mais preparado.

E. O que a graduação mudou na sua vida pessoal?

AC1. Sim, com relação à assuntos econômicos... eu não tinha assim... eu tinha curiosidade

mas não tinha tanta ação com relação à esse tipo de conhecimento, a faculdade que abriu isso

pra mim. A partir da faculdade eu tive mais interesse pela área da economia e foi o que

facilitou pra mim a inserção no mercado de trabalho.

E. E outros assuntos pessoais, teve alguma mudança?

AC1. Sim, teve... teve uma mudança porque... na realidade a gente acaba se relacionando de

forma diferente com as outras pessoas pelo conhecimento que você vai adquirindo... com

relação à questionar... sobre elas e isso também vai te agregando na vida pessoal.

E. Explica melhor esse ponto de questionar as pessoas...

AC1. Com relação ao pensamento...ao senso crítico e analítico dessas pessoas...

E. Você se tornou mais crítica?

AC1. Sim, mais questionadora.

Entrevista 2

Estudante de Administração do 7º semestre noturno, feminino, 23 anos.

Aluna se auto define da cor/raça branca.

Mora em Artur Alvim, região Leste de São Paulo.

Entrevistador: a escolha pelo curso se deu por qual motivo?

Aluno Concluinte 2: Eu comecei a fazer uma faculdade de ciências Atuariais dois anos antes...

um ano antes de fazer Administração e eu percebi que era um ramo que precisava de uma

base e eu vi que administração era um ramo bem abrangente, era um leque bem amplo, que

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dava oportunidade pra gente atuar em várias áreas e que dava essa base que eu gostaria de ter

pra fazer ciências atuariais.

E. Então sua intenção é terminar o curso de Administração e continuar o outro curso? Você

não terminou o outro curso?

AC2. Então, eu comecei e tranquei porque é uma graduação também... então eu não tinha

como dar continuidade nas duas graduações, ou eu fazia uma ou eu fazia outra por conta de

tempo...

E. Você achou que precisava de mais informações pra você terminar ciências atuariais?

AC2. Precisava... é uma graduação muito específica... sem uma base de administração, sem

uma base de matemática financeira, de economia... de tudo que administração engloba, eu não

conseguiria fazer a outra.

E. Quando você iniciou o curso de administração você já trabalhava?

AC2. Trabalhava

E. Qual era sua função?

AC2. Eu trabalhava como analista de sistemas...

E. Qual era seu salário?

AC2. R$1.500,00

E. Hoje você atua na mesma área?

AC2. Eu atuo na área administrativa. Inclusive quando eu comecei tinha a oportunidade de

continuar como contabilidade, que era mais focado na ciências atuariais ou dar continuidade

como administração e aí tive uma oportunidade de estágio, eu saí do emprego que eu tava

quando eu comecei a faculdade e eu tive essa oportunidade de estágio só que era pro curso de

administração... eu preferi ficar no curso de administração porque é uma empresa muito boa,

foi uma oportunidade maravilhosa de aprendizado, então eu preferi ficar no curso de

administração...

E. e qual é seu salário hoje?

AC2. R$ 1536,00

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E. Então é bem próximo do que você ganhava quando começou a graduação...

AC2. Quase igual...

E. Durante o curso de Administração você teve alguma dificuldade pra acompanhar o curso?

Com relação às disciplinas, ou a metodologia, ou ao ambiente de sala de aula?

AC2. Tem dois pontos que sempre me incomodaram e eu acredito que poderia ser melhor...

uma coisa é que eu não sou muito adepta ou a favor das disciplinas on line porque eu sou uma

pessoa muito presencial, uma pessoa muito de tato então, eu gosto de perguntar, eu gosto de

questionar... e na disciplina on line não tenho tanta liberdade então eu não consegui ir mais a

fundo nas matérias que eu estudo, então isso acaba me limitando e prejudicando meu

desempenho na matéria... acredito que dá pra você alcançar um desempenho muito melhor se

você tiver um professor em sala de aula que é o caso das disciplinas presenciais e... tiveram

alguns anos que a gente teve bastante dificuldade de infraestrutura, por ser uma sala perto do

metrô o metrô atrapalhava, por ser uma sala perto da rua principal da universidade, da

entrada... principalmente nos últimos dias da semana, de quinta e sexta feira... a música muito

alta, então tinham professores que não conseguiam dar continuidade na aula, tinham que parar

a aula antes do final por conta dessa movimentação e desses barulhos...

E. Você pegou DP em alguma disciplina

AC2. Peguei duas: uma delas eu não consigo lembrar o nome, mas eu peguei DP por um

problema de saúde eu não pude fazer as provas agora a outra que era EAD, era um conteúdo

extremamente difícil...

E. qual era a disciplina?

AC2. Processos gerenciais... na hora de fazer a prova era muito material teórico, vamos supor:

complete a frase... tinha que ser perfeitamente... como se eu não tivesse respondendo conceito,

como se eu tivesse decorado... e pra mim não é produtivo... não tive capacidade de absorver

da maneira como o professor expos na matéria on line.

E. Você teve alguma bolsa durante o curso?

AC2. 30% de desconto

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E. Desconto da Instituição...

AC2. Isso, da Universidade, 30%...

E. qual a importância de se ter graduação nos dias de hoje?

AC2. Porque a gente não consegue chegar nas informações sozinho... é... como se a gente

quisesse fazer um bolo e precisasse de uma receita... a gente vê o bolo lindo e quer fazer, mas

não tem a receita... e é isso que o curso nos dá... dá esse direcionamento, ele abre esse leque,

ele mostra onde encontrar os ingredientes e quais são os melhores ingredientes...

E. a universidade te traz a teoria que você precisa pra aplicar na prática? É isso?

AC2. Exatamente... ela traz a teoria, ela traz a orientação... pra você poder aplicar...

E. não poderia ser um curso técnico? Precisa ser uma graduação?

AC2. Acredito que pela grade ser mais aprofundada... eu gosto de aprofundar os estudos e ter

um conhecimento bem firme daquilo que eu tô aprendendo... então por ter mais matérias...

digamos assim... algumas chegam até a se parecer...se conversam e se completam...Existem

outras grades que são menores, vamos supor, alcançam um desses cursos e que não consegue

dar aquele tipo de conhecimento... Não que não capacite, mas acredito que não dá uma

profundidade tão grande quanto a graduação...

E. E o que mudou na sua vida profissional após ter feito a graduação?

AC2. Mudou, inclusive de me dar essa oportunidade... ele me abriu um leque muito grande...

é exatamente esse exemplo que eu dei do bolo...ele ensinou muito da teoria que hj eu coloco

na prática. Nesse tempo que eu saí dessa outra empresa, que eu saí e fiquei disponível no

mercado de trabalho... eu comecei a ajudar meus pais, que eles tem um negócio próprio... tem

muitas visões do que eles poderia fazer... por mais que eu não esteja mais lá, tem muitas

coisas que eles falam que foi importante, são coisas que sozinhos nós não teríamos chegado à

essa conclusão... “isso dá pra fazer de um jeito melhor, não precisa ser tão trabalhoso

assim...você pode economizar nisso”... então aí consegui entrar nesse novo estágio que eu tô e

é incrível, todos os dias eu entrar na empresa e falar assim: “caramba, a professora falou na

aula passada a respeito disso!” Eu acho isso gratificante, é prazeroso, é recompensador, você

entrar no seu trabalho e dizer: “poxa, eu estou conseguindo colocar na prática, eu estou

conseguindo crescer”. É bom também pelo fato de nós termos relacionamento com os

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professores, com os alunos... a gente meio que faz uma interligação empresarial, um

networking...então profissionalmente fez muita diferença...

E. A graduação mudou algum interesse pessoal seu?

AC2. Trouxe uma mudança... quanto mais você aprende, mais vontade... aquilo te incentiva a

querer aprender mais e isso não só na questão profissional, na questão pessoal também. Então

eu acredito que de uma certa maneira, você convivendo com as pessoas, você vendo que dá

pra você melhorar de conhecimento, você percebe: “poxa, se dá pra eu melhorar

profissionalmente, se dá pra melhorar nos meus estudos, por que não melhora pessoalmente?

Por que não aprender com as pessoas com quem eu me relaciono?” Aprender respeito...

aprender muito mais do que o que a professora explica lá na frente... a convivência...é...

parece que tira a gente de um mundinho fechado, de uma caixinha e mostra assim: “o mundo

é muito maior do que o que você pensa que ele é!”

E. E outros interesses em outros assuntos?

AC2. Ah... teve uma matéria que eu fiz que eu não lembro o nome, mas que fez eu me

interessar por operações, por logística... também tem economia e matemática financeira que

antes eu dizia: “ah... o que é isso? Pra serve isso? O que isso vai mudar na minha vida?” Isso

fez eu mudar minha posição política, isso fez eu mudar eu querer me interessar por

economia... a economia do país, do Estado ... incentiva, causa interesse em querer saber mais

em querer saber como nós estamos nos comportando... administrativamente falando, como

nós estamos contribuindo pra sociedade...

Entrevista 3

Estudante de Administração do 7º semestre noturno, feminino, 25 anos.

Aluna se auto define da cor/raça branca.

Mora em Cangaíba, região Leste de São Paulo.

Entrevistador: Qual foi o motivo que te fez escolher o cursa de Administração?

Aluno concluinte 3: Na verdade eu comecei a cursar Psicologia... eu fiz três semestres de

Psicologia...aí não me adaptei e aí eu mudei pra Administração porque eu recebi uma

promoção no meu serviço e aí eu trabalhava direto na área administrativa e é uma coisa que

eu gostei, aí foi quando eu mudei pra Administração...

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E. Então primeiro você recebeu uma promoção, mudou de função, depois você começou o

curso?

AC3. Isso...

E. Qual foi a promoção que você teve?

AC3. Eu era recepcionista e passei a ser Assistente Administrativo.

E. Então quando você começou o curso você já era assistente Administrativo?

AC3. Era...

E. Qual era seu salário?

AC3. Era em torno de R$ 2.300,00 mais ou menos...

E. A graduação mudou algo na sua vida profissional?

AC3. Mudou...primeiro porque eu recebi outra promoção e aí eu percebo que muita coisa que

eu faço no serviço eu vejo que tem em sala de aula, ou coisas até que eu já fiz no serviço que

depois eu vejo em sala de aula... é um aprendizado bem legal, é uma troca boa...

E. Por que é importante ter graduação nos dias de hoje?

AC3. É fundamental...

E. Por que?

AC3. A graduação nada mais é do que uma extensão do ensino médio, né? E as pessoas que

não se qualificam hoje, fica muito mais difícil de entrar na área... até conseguir cargos

melhores, tem que ter uma graduação, um conhecimento mais aprofundado, se não a gente

acaba ficando pra traz no mercado...

E. você acha que o mercado tem essa exigência?

AC3. Tem... só o ensino médio não é suficiente pra alcançar grandes coisas... eu acho que

existem profissões que não exigem a graduação, mas pra quem quer alcançar alguma coisa

melhor a graduação é essencial...

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E. Você teve alguma dificuldade durante a graduação?

AC3. Acho que a maior dificuldade que eu encontrei foi a sala muito cheia... porque a sala,

desde o primeiro semestre, a gente fazia turma junto com contábeis, e aí era sempre uma sala

com mais de 100 alunos... e acaba sendo mais difícil aprender, porque muita gente falando ao

mesmo tempo e a voz do professor some... acho que essa é a maior dificuldade...

E. você pegou alguma DP nesse período?

AC3. Tenho 2, de contabilidade e contabilidade de custos.

E. São presenciais?

AC3. São...

E. Você teve alguma dificuldade com as disciplinas em EAD?

AC3. Não... mas eu prefiro as presenciais, porque aí você se dedica de verdade... a EAD fica

meio vago, você não tem aquela obrigação de sentar e estudar, mas eu não tive dificuldade...

E. Após a sua promoção, qual é a sua função?

AC3. Hoje eu sou coordenadora administrativa.

E. É necessário ter ensino superior pra exercer essa função?

AC3. Tem sim... pela própria função... até pra ser assistente administrativo tem que ter ensino

superior...

E. Quanto é seu salário hoje?

AC3. Em torno de R$ 6.5000,00

E. A graduação despertou novos interesses na sua vida pessoal?

AC3. Sim... meus pais tem um pequeno negócio, e a graduação me ajudou na minha vida

pessoal com eles porque eu pude ajuda-los de outras formas e eu comecei a ver outras

formas... porque a gente vê muito marketing também em administração, aí eu comecei a ver

formas de marketing pra ajudar tanto na vida pessoal minha, quanto na vida profissional dos

meus pais...

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E. e questões pessoas? Novos interesses, novos assuntos?

AC3. Não... totalmente pessoal não...

E. Você teve algum tipo de bolsa durante o curso?

AC3. Não...

Entrevista 4

Estudante de Administração do 8º semestre noturno, feminino, 39 anos.

Aluna se auto define da cor/raça parda.

Mora em Itaim Paulista, região Leste de São Paulo.

Entrevistador: Qual motivo pelo qual você escolheu o curso?

AC4. Eu comecei administração porque eu queria montar minha empresa, aí eu queria uma

direção, como que eu montaria...administraria minha empresa...

E. E você já montou essa empresa?

AC4. Ainda não... tem que ser um projeto a longo prazo...

E. Quando você começou o curso de Administração, você trabalhava?

AC4. Trabalhava.

E. Qual era sua função?

AC4. Assistente administrativo

E. Qual era seu salário na época?

AC4. R$ 2.600,00

E. você teve algum tipo de dificuldade durante o curso?

AC4. Teve sim... a parte de contábeis... eu me perdi muito na parte de contábeis, as contas...

E. Você ficou de dp em alguma disciplina?

AC4. Fiquei... administração orçamentária e tributos...

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E. você teve alguma dificuldade nas disciplinas EAD?

AC4. Não, foi tranquilo... Ead não dá pra você entender muita coisa... é muita informação...

mas eu particularmente, tô falando de mim... gostaria de um professor... porque quando o

professor tá alí, ele explica melhor, ele leva o aluno a pensar melhor...então é muita

informação e você acaba se embananando... eu me embananava na hora da prova, mas

consegui a minha nota...

E. Por que é importante graduação nos dias de hoje?

AC4. É importante... principalmente pra área... como eu posso falar... profissionalmente sim,

é importante, porque hoje em dia as visões tão se abrindo, você tem que acompanhar o

mercado aí fora. Não adianta só ficar naquele mundinho fechado seu, porque as ideias vão se

abrindo, vão se aprimorando... o mercado também vai solicitando perfeições...

E. Hoje qual é o seu cargo?

AC4. Assistente administrativo

E. Na mesma empresa de quando você iniciou a graduação?

AC4. Em outra empresa.

E. Você mudou de empresa para o mesmo cargo, mas o salário é maior?

AC4. Não, mais ou menos a mesma coisa...

E. A graduação contribuiu de alguma forma na sua vida profissional?

AC4. Ahh sim... porque quando a gente tá na escola é diferente de você tá graduado... você

aprende, a sua visão cresce, você tem uma outra visão do mercado... você conhece pessoas

que tem experiência, que um dia acaba servindo pra você mais tarde...

E. Sua função atual, na empresa onde você está hoje, necessita ter nível superior pra exercer?

AC4. Sim, é necessário... a gente lida com importação e exportação... então a gente lidar com

pessoas do Brasil e pessoas também da China, então tem que ter informação, tem que ter... os

dois lados: a graduação com a experiência...

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E. Você teve alguma bolsa durante a graduação?

AC4. Não, eu que paguei.

E. A graduação trouxe novos hábitos, ou novos interesses na sua vida pessoal?

AC4. Sim... eu tive uma professora.. eu não lembro o nome da disciplina, uma optativa, que

ela ensinava a gente como lidar com o funcionário... o que me chamou a atenção muito é

como lidar com o ser humano... é muito difícil...principalmente na área administrativa, que

querendo ou não você é um pouco de psicóloga... você acaba, u pouco, entrando na vida da

pessoa... e também ajudando a pessoa... ajudando ele a ter as qualidades dela, ela enxergar...

as vezes a pessoa é tão maltratada por não saber isso, não saber aquilo... às vezes tem pessoas

que investe nessa pessoa, valoriza o pouco que ela sabe e o pouco que ela sabe amanhã pode

ser muito... ela pode se tornar um ótimo profissional através desse pouquinho que você deu

atenção pra ela, você incentivou ela, ela pode se transformar e vai lembrar de você pro resto

da vida...

Entrevista 5

Estudante de Administração do 8º semestre noturno, feminino, 30 anos.

Aluna se auto define da cor/raça branca.

Mora em Guarulhos, cidade da região metropolitana de São Paulo.

Entrevistador: A escolha pelo curso se deu por qual motivo?

AC5. Então, eu tinha feito o curso de Gestão de Recursos Humanos, aqui na Instituição

mesmo... e no ano de 2010 eu conclui e aí eu vim trabalhar aqui na instituição... e fui pra essa

área... minha área aqui é meio financeiro com fiscal e eu não tinha o curso, não tinha noção

nenhuma, nada... e gostei... eu fui selecionada mesmo sem ter experiência, eu fui pra área e

gostei... aí eu falei: “ahh, vou fazer Administração então”, me identifiquei...

E. Então quando você começou a trabalhar aqui você já estava formada em gestão de RH?

AC5. Isso, eu achei que Administração complementa gestão de RH.

E. Hoje você está no mesmo cargo de quando você começou a graduação?

AC5. Sim...

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E. Você teve algum tipo de evolução, promoção?

AC5. Perdão... eu não tô com o mesmo cargo não... quando eu entrei eu era assistente, hoje eu

sou analista.

E. Qual era seu salário quando você começou?

AC5. R$ 2.600,00

E. E hoje como analista, qual é seu salário?

AC5. R$ 3.500,00

E. Você acredita que a graduação te proporcionou essa evolução? Ou seja, essa promoção que

você recebeu foi por estar cursando ensino superior?

AC5. Ajudou sim... eu acho que ajudou porque hoje eu consigo entender... como eu falei:

quando eu entrei eu não entenda nada... foi sorte de ter entrado...hoje eu entendo um pouco...

não entendo tudo... a gente não faz o principal, mas a gente alimenta o sistema que gera os

relatórios pra fazer o resto... pra todas as empresas do grupo...

E. Pra ser analista, na tu função atual, é necessário ter graduação?

AC5. Sinceramente eu acho que não... o que eu acho... se a pessoa trabalhar e pegar assim...

uma pessoa ensina e a pessoa tem um raciocínio pra levar, então eu acho que dá sim... claro

que a graduação ajuda bastante também...

E. A empresa contrataria alguém sem graduação pra ocupar o cargo que você ocupa?

AC5. Acho que sim...

E. Durante o curso, você teve algum tipo de dificuldade?

AC5. Teve algumas matérias mais específicas que eu fiquei perdida sim... pra quem trabalha

na área mais focado, pode ser que teve mais facilidade, mas pra mim que não tô diretamente

ligada à área financeira, nem contábeis, algumas matérias foram mais difíceis... tem muita

gente que trabalha em escritório, conhece muito, sabe tudo... então eu como trabalho só com

uma pequena parte... em alguns momentos foi mais difícil... mas eu consegui, tô no

8ºsemestre e não tenho nenhuma DP... consegui passar em tudo... com esforço, fui atrás, me

dediquei pra isso e consegui passar... tá um pouco difícil esse semestre, mas acredito que eu

vá conseguir também...

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E. você teve alguma dificuldade nas disciplinas em EAD?

AC5. Então, eu não gosto de estudar em EAD porque eu gosto de me relacionar com as

pessoas então eu acho que o EAD você tá lá na sua casa sozinho quieto, e tem que lê sozinho,

entender sozinho... eu particularmente não gosto, eu gosto de vir pra faculdade, de tá aqui, de

ter contato com o professor, ter contato com os amigos, fazer exercício, sabe aqui? Tudo em

sala de aula... em EAD não... a gente tem uma matéria a cada semestre em EAD, então acho

legal, uma matéria acho que já tá bom, é o suficiente...

E. Você acha que o aprendizado que você teve em EAD é diferente do que o presencial?

AC5. Com certeza... eu tive uma disciplina em EAD: Probabilidade e Estatística... é cálculo...

você se vira, eu vou atrás, eu me virei... não só com o que eles colocam lá em apostila, em

vídeo aula... eu fui atrás... aí você consegue aprender um pouquinho, mas eu acho que esse

tipo de matéria tinha que ser em sala de aula, é cálculo, o professor tinha que tá aqui

presencial... e outra: tem muita gente que tem muita dificuldade em fazer cálculo e aí eu acho

que essa matéria, por exemplo tinha que ser...

E. você diz que foi atrás de outros recursos, e seu colegas, como fazem?

AC5. Ahh... fazem de qualquer jeito... uns fazem e passam a resposta pelo grupo do watts

app...e existe muito isso... só uma ou duas questões que cai diferente... a maioria é igual... aí

um faz e passa pros outros... muita gente faz assim, empurrando com a barriga...

E. Você tem bolsa da Instituição por ser funcionária?

AC5. Tenho 100%

E. Qual a contribuição da Graduação na sua vida profissional?

AC5. Eu acho que eu hoje fiquei mais esperta, consigo captar mais as coisas assim...

interpretar mais as coisas... na graduação a gente vê a parte teórica... vê a prática um

pouquinho, né? Mas a parte teórica eu consigo trazer pro meu mundo aqui dentro... muita

coisa eu consigo trazer pro meu mundo...

E. É importante ter graduação nos dias de hoje?

AC5. Eu acho sim... aqui a gente conversa com outras pessoas... o professor passa a

experiência dele pra nós e eu acho que abre a nossa mente... Tem pessoas que trabalham dez

anos numa mesma empresa e sabe muito bem fazer aquele serviço, aquela função, mas ele

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vem pra cá, um fala uma coisa, outro fala outra, um conta uma experiência, o professor

ensina... então eu acho que abre a mente e dá pra pessoa crescer e ir pra outra empresa ou até

ampliar os conhecimentos dentro da própria empresa. Eu acho que graduação ajuda muito

nisso, a você estar junto de outras pessoas... eu gosto muito de estar com pessoas, de me

relacionar... então eu acho legal por causa disso também... às vezes tem pessoas muito tímidas,

que entra aqui e começa a se enturmar, quando vê, sai outra pessoa...

E. A graduação permitiu mudança em algum habito seu ou em algum interesse?

AC5. Sim, muito... como essa é a segunda graduação, então eu pude comparar também... na

gestão de RH o pessoal é bem animado, bem descolado... me permitiu eu me abrir mais, ser

mais desinibida...