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Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva Doutora em Engenharia Química, UFRJ Profª Adjunta do Departamento de Engenharia Química, UFF [email protected] Fernando Benedicto Mainier Doutor em Educação, UFRJ Vice-chefe do Departamento de Engenharia Química, UFF [email protected] Fabio Barboza Passos Doutor em Engenharia Química, UFRJ Chefe do Departamento de Engenharia Química, UFF [email protected] A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva Fernando Benedicto Mainier Fabio Barboza Passos Pesquisa em Síntese Resumo Um grave problema, ainda não soluci- onado, que atinge os cursos de graduação em engenharia no país, são as altas taxas de evasão. Estas se devem a diversos fatores, mas em recente pesquisa realizada no curso de engenharia química da Universidade Federal Fluminense – UFF, verificou-se uma grande retenção dos alunos no ci- clo básico, causada por altos índices de reprova- ção, que culminam em abandono. Essa grande retenção provoca também um aumento no tempo médio de permanência na universidade que na média chega a 13 semestres, quando o normal deveria ser de 10 semestres. Menos do que 20% dos alunos conseguem se formar no tempo normal. Estes dados indicam claramente um gran- de obstáculo a ser vencido, que prejudica a eficiência do sistema de ensino superior. Na busca por soluções, a disciplina de In- trodução à Engenharia Química foi incluí- da no 1 o período do curso de Engenharia Química, inicialmente como optativa, com o ob- jetivo de diagnosticar e correlacionar os problemas existentes. As aulas nesta disciplina têm por base me- lhorar a adaptação do alu- no no curso e identificar pontos de conflito. Diver- sas informações são pas- sadas, sobre a universida- de, o curso, a profissão, o mercado, dentre outras, buscando-se sempre mo- tivá-los. Como resultado, verificou-se que o relacio- namento professor-aluno é determinante nesta etapa do curso, resultando numa melhora global do rendi- mento acadêmico dos alunos. Palavras-chave: Engenharia química. Avaliação. Metodologia de ensino. Intro- dução à engenharia química.

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Page 1: A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia ... · A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263 Ensaio: aval

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Rosenir Rita de Cássia

Moreira da Silva

Doutora em Engenharia

Química, UFRJ

Profª Adjunta do Departamento

de Engenharia Química, UFF

[email protected]

Fernando Benedicto Mainier

Doutor em Educação, UFRJ

Vice-chefe do Departamento de

Engenharia Química, UFF

[email protected]

Fabio Barboza Passos

Doutor em Engenharia

Química, UFRJ

Chefe do Departamento de

Engenharia Química, UFF

[email protected]

A Contribuição da disciplina de

introdução à engenharia química

no diagnóstico da evasão

Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva

Fernando Benedicto Mainier

Fabio Barboza Passos

Pesquisa em Síntese

Resumo

Um grave problema, ainda não soluci-

onado, que atinge os cursos de graduação

em engenharia no país, são as altas taxas

de evasão. Estas se devem

a diversos fatores, mas em

recente pesquisa realizada

no curso de engenharia

química da Universidade

Federal Fluminense – UFF,

verificou-se uma grande

retenção dos alunos no ci-

clo básico, causada por

altos índices de reprova-

ção, que culminam em

abandono. Essa grande

retenção provoca também

um aumento no tempo

médio de permanência na

universidade que na média

chega a 13 semestres,

quando o normal deveria

ser de 10 semestres. Menos

do que 20% dos alunos

conseguem se formar no tempo normal.

Estes dados indicam claramente um gran-

de obstáculo a ser vencido, que prejudica

a eficiência do sistema de ensino superior.

Na busca por soluções, a disciplina de In-

trodução à Engenharia Química foi incluí-

da no 1o

período do curso de Engenharia

Química, inicialmente

como optativa, com o ob-

jetivo de diagnosticar e

correlacionar os problemas

existentes. As aulas nesta

disciplina têm por base me-

lhorar a adaptação do alu-

no no curso e identificar

pontos de conflito. Diver-

sas informações são pas-

sadas, sobre a universida-

de, o curso, a profissão, o

mercado, dentre outras,

buscando-se sempre mo-

tivá-los. Como resultado,

verificou-se que o relacio-

namento professor-aluno é

determinante nesta etapa

do curso, resultando numa

melhora global do rendi-

mento acadêmico dos alunos.

Palavras-chave: Engenharia química.

Avaliação. Metodologia de ensino. Intro-

dução à engenharia química.

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262 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Abstract

The contribution of

introduction to chemical

engineering in evasion

diagnostic

It has told a lot about the evasion at the

engineering course, but the solution hasn’t

been found yet. In recent statistics

accomplished at the Chemical Engineering

from Universidade Federal Fluminense –

UFF, it was checked out that the most of the

students enrolled are the basic cycle, which

becomes, at this way, a difficult obstacle to

a lot of students. Several factors influences

and the high index of reproval is one of

those that causes a big lack of motivation

among the students, specially to thoses who

are on the first period, where there is the

worst situation. This big retention provokes

an increasing of average time of

permanence in the university to 13

semesters, when the normal time is 10

semesters. Less than 20% of students are

able to form in normal time. These indicates

a enormous obstacle, which damaged the

superior education system efficiency. The

subject called Introduction to Chemical

Engineering was included in the first period

of the curriculum, intending to research

about problem and study a way to solve it.

The lessons of this subject used to have for

purpose getting better the student’s

adaptation at the course, cooperating for

his maturation. Severals informations are

passed about the university, the course, the

jobs, the marked, having always as an

objective motivating the students. It has

been verified that the relation teachers-

students were very important in this

experience, which resulted higher global

academic performance.

Keywords: Chemical engineering.

Evaluation. Teaching methodology.

Introduction to chemical engineering.

Resumen

La contribución del curso

“introducción a la

ingeniería química” en el

diagnostico de la evasión

La evasión en el programa de ingeniería es

un tema bastante estudiado que aun no

tiene solución. Estadísticas realizadas

recientemente en el Departamento de

Ingeniería Química de la Universidade

Federal Fluminense – UFF, se observa que

la mayoría de los estudiantes registrados en

el curso de ingeniería se encuentran en el

ciclo básico, el cual es conocido como un

obstáculo difícil de pasar para muchos

estudiantes, el alto índice de desaprobación

es el factor mas importante para que

muchos alumnos tomen la decisión de

abandonar el curso. Esta grande retención

en los ciclos básicos provoca un aumento

en el tiempo medio de permanencia en la

universidad, de 10 (tiempo normal) para 13

semestres, además de esto, menos del 20%

de estudiantes logran graduarse en el

tiempo normal. Todo esto indica un enorme

obstáculo que daña la eficiencia del sistema

de la educación superior. Observando este

problema la facultad de ingeniería química

da UFF implemento en el primer periodo el

curso “Introducción a la Ingeniería

Química”, el cual tiene por objetivo

diagnosticar y correlacionar estos problemas

para encontrar la forma de resolverlos. Las

clases de esta disciplina tienen el propósito

de mejorar la adaptación del estudiante en

el programa, dándoles informaciones

acerca de la universidad, de los cursos de

Page 3: A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia ... · A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263 Ensaio: aval

A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

los trabajos y del mercado laboral, buscando

sobre todo motivarlos. Se ha verificado que

la relación entre profesores y estudiantes

es muy importante en esta experiencia, que

resulto en un mejor desempeño académico.

Palabras clave: Ingeniería química.

Evaluación. Metodología de la educación.

Introducción a la ingeniería química.

Introdução

Muito se tem falado sobre a grande eva-

são nos cursos de engenharia, mas a solu-

ção ainda não foi definitivamente encon-

trada. A diversidade das habilitações, os

aspectos regionais e de mercado, a ambi-

entação e nível dos alunos, bem como tam-

bém as características peculiares das uni-

versidades são responsáveis por este cená-

rio (TORRES, 2001; SALUM, 2001).

Em recente estatística realizada no Curso

de Engenharia Química da UFF, verificou-se

que 60-70% dos alunos matriculados estão

no ciclo básico, isto é, apenas 30%-40% con-

seguem chegar ao ciclo profissional (SILVA,

2003). Certamente o ciclo básico se constitui

numa barreira intransponível para muitos.

Vários fatores influenciam e o alto ín-

dice de reprovação é um dos que pro-

voca uma grande desmotivação entre os

alunos (PERECMANIS, 2002). A pior si-

tuação encontra-se no 1o

período. Da-

dos típicos de uma turma que ingressou

no 1o

semestre de 2002, indicaram que

90% dos alunos foram reprovados em

pelo menos 1 disciplina. Destes, 20% dos

alunos foram reprovados em todas as

disciplinas. Enfim, apenas 10% conse-

guiram ser aprovados em todas as dis-

ciplinas. As maiores reprovações ocor-

reram nas disciplinas de Cálculo I, se-

guida de Álgebra Linear e Física.

A disciplina de Introdução à Engenharia

Química, incluída no 1o

período do currícu-

lo, como optativa, foi implantada no 2o

se-

mestre de 2002, com o objetivo de diagnos-

ticar os problemas existentes e buscar solu-

ções que pudessem minimizá-los. Três pro-

fessores do Departamento de Engenharia

Química, portanto, professores vinculados ao

ciclo profissional, voluntários nessa experiên-

cia vêm ministrando esta disciplina desde

então. As informações adquiridas serão utili-

zadas como indicadores para a reforma cur-

ricular, em andamento, visando minimizar a

retenção e evasão dos alunos no curso.

O presente trabalho tem o objetivo de

apresentar todas as etapas da experiência

que vem sendo realizada, que apesar de

recente, tem-se mostrado um sucesso na

implantação desta disciplina no Curso de

Engenharia Química, com resultados mui-

to promissores.

Distribuição dos alunos

no curso: avaliação da

retenção e evasão

O alto índice de evasão nos cursos de

engenharia do país constitui atualmente

uma realidade desafiadora. Este proble-

ma vem sendo investigado pela comuni-

dade acadêmica de diversas universida-

des e merecido a atenção em vários en-

contros, seminários e congressos (SALUM,

2001; TORRES, 2001). No entanto, as cau-

sas ainda não foram adequadamente identi-

ficadas. Por conseguinte, a solução ainda não

foi encontrada. De forma clara e simples, con-

vive-se com o problema postergando a solu-

ção para um futuro que nunca chega.

Especificamente em relação ao curso de

Engenharia Química da UFF, a avaliação

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264 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

contínua da distribuição dos alunos ao lon-

go do curso mostra o panorama vigente e

permite identificar pontos críticos de maior

retenção. Foram definidos quatro diferen-

tes grupos, por ordem de número de crédi-

tos concluídos (NCC):

• Grupo 1 – alunos com NCC menor

do que 80 créditos, e que já cursaram

mais do que 1 (um) período, isto é,

não inclui os alunos calouros;

• Grupo 2 – alunos com 80 < NCC£

130 créditos;

• Grupo 3 – alunos com 130 < NCC£

190 créditos;

• Grupo 4 – alunos com NCC > 190

créditos.

A Tabela 1 apresenta a distribuição dos

alunos alocados nos 1o

e 2o

semestres dos

anos de 2002 e 2003. Os dados relati-

vos ao 1o

semestre de 2002 motivaram o

presente estudo e a respectiva inclusão

da disciplina de Introdução à Engenha-

ria Química no primeiro período do cur-

so. De fato, é surpreendente observar-se

a grande concentração de alunos no gru-

po 1, isto é, alunos com NCC £ 80 cré-

ditos, correspondendo em média a 50%

dos alunos matriculados no curso. Soman-

do-se a este, o número de alunos calou-

ros sobe para 58-60%. Este índice indica

uma grande retenção de alunos nos 3 (três)

primeiros períodos, principalmente em vir-

tude do alto índice de reprovação. A par-

tir do grupo 2, verifica-se uma sensível

queda no número de alunos, mas este

número, posteriormente, praticamente se

mantém, sugerindo que a evasão se dá

principalmente nos 3 (três) primeiros pe-

ríodos do curso. É importante ressaltar

também a constância dos números nos

diversos períodos, indicando que o pro-

blema se arrasta por muito tempo, sendo

de difícil solução e de resposta lenta.

Tabela 1 – Distribuição dos alunos matriculados no curso de

Engenharia Química após concluir os semestres indicados

Número total de alunos matriculados

Grupos

1

2

3

4

Subtotal

Total no Cursoa

Alunos com

NCC=0

1o

Sem./2002

216

60

56

48

380

420

26

2o

Sem./2002

205

57

52

68

382

422

22

1o

Sem./2003

205

60

52

69

386

426

20

2o

Sem./2003

206

48

65

64

383

422

11

a

incluíndo 40 alunos calouros no período

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A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 265

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Realmente, a retenção no ciclo bási-

co nos cursos de engenharia é colossal e

diversos fatores contribuem para isso

(CARDOSO; SCHEER, 2003; PERECMANIS,

2002; SILVA, 2003). Para melhor verificar

esta retenção buscou-se contabilizar no

grupo 1 o número de alunos com menos

de 30 créditos concluídos, isto é, o que

equivale à conclusão das disciplinas do pri-

meiro período. O resultado revelou que, em

média, 90-95 alunos desse grupo possu-

em menos do que 30 créditos concluídos,

isto é, 40-45% dos alunos do grupo 1 não

possuem sequer o primeiro período com-

pleto. Em termos absolutos, somando-se

esses alunos com os 40 calouros que in-

gressam por semestre, tem-se um total de

aproximadamente 130-135 alunos cursan-

do e/ou retidos no primeiro período, o que

corresponde a aproximadamente 32% do

total de alunos do curso. Entretanto, não

se pode descartar o fato de que muitos ou-

tros alunos que possuem mais do que 30

créditos podem ainda estar cursando disci-

plinas do primeiro período, por exemplo,

como ocorre em Cálculo I. Observou-se

também que vários alunos do grupo 1 pos-

suem coeficiente de rendimento igual a 0

(zero), excetuando os calouros, número este

que por sinal vem caindo depois da inclu-

são da disciplina de Introdução à Enge-

nharia Química, conforme pode ser visto

na Tabela 1. Provavelmente os alunos com

CR igual a zero já abandonaram o curso.

A Tabela 2 apresenta alguns dados típi-

cos do tempo médio de permanência dos

alunos formados no curso nos últimos 5

(cinco) anos. Observa-se que a média dos

alunos ultrapassa os 12 períodos letivos

normais para se formar, em alguns casos

chegando até 13,8 períodos. A média cor-

responde a 13 períodos, o equivalente a

6,5 anos. Considerando-se o total dos alu-

nos que concluiu o curso nos semestres

apresentados, cerca de 128 formados, ve-

rifica-se que apenas 16,4% dos alunos nos

últimos anos (total de 21 formados) conse-

guiram se formar no tempo normal, de 5

(cinco) anos, isto é, 10 períodos.

Itens avaliados

CR médio da turma

Tempo médio para conclusão

do curso (semestres)

Tempo médio para conclusão

do curso (anos)

No alunos formados

No de alunos formados com

10 períodos letivos

Evasão(b)

Tabela 2 – Tempo de retenção médio e evasão dos alunos no curso

(a) Desses 6 alunos, apenas 1 se formou em 4,5 anos.

(b) Considerando o ingresso de 40 alunos por período no vestibular, calculou-se da seguinte forma:

Evasão= 40-(número de alunos formados)

40

1o/1999

6,22

13,8

6,9

14

0

65%

2o/2000

6,32

12,3

6,2

26

7

35%

2o/2001

6,37

12,6

6,3

13

2

67,5%

1o/2002

6,43

12,9

6,47

17

0

57,5%

2o/2002

6,73

13,6

6,8

19

6(a)

52,5%

1o/2003

6,44

13,5

6,75

19

0

52,5%

2º/2003

7,04

12,0

6,0

20

6

50%

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266 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

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Em relação à evasão, com exceção da

turma que se formou no 2o

semestre de

2000, observa-se que as percentagens são

sempre superiores a 50%, calculando-se

a média, obtém-se um valor de 55% de

evasão. Como comentário, apesar de ter-

se utilizado um cálculo aproximado para

evasão, acredita-se que este é adequado,

pois representa um panorama da situa-

ção vigente. Há também que se conside-

rar o fato de que alguns dos 40 alunos

ingressantes no curso nem sequer assis-

tem uma aula, isto é, ocupam a vaga e

não cursam. Geralmente estes ingressam

através de reclassificações, às vezes tardi-

as, e estão dentre os que apresentam coe-

ficiente de rendimento igual a zero e que

já foram citados anteriormente.

Certamente, a retenção no ciclo bási-

co, especialmente nos 3 (três) primeiros pe-

ríodos do curso, é preocupante, constituin-

do um problema sério, de difícil solução,

que deve ser investigado profundamente.

A inclusão da disciplina de Introdução à

Engenharia Química no primeiro período

teve por objetivo investigar as dificuldades

enfrentadas pelos alunos, em tempo real, e

os motivos que os levam a abandonar o

curso. Os resultados aqui levantados de-

verão ser considerados na reforma curricu-

lar em andamento.

Inclusão da disciplina de

introdução à engenharia

química no 1o

período do

curso de engenharia

química

Metodologia adotada

Conforme dito anteriormente, o traba-

lho desenvolvido na disciplina buscou de-

tectar pontos críticos e dar subsídios aos

alunos calouros, a fim de melhorar o ren-

dimento acadêmico dos mesmos.

A metodologia que vem sendo adotada

constitui-se de três partes. Primeiramente,

busca-se avaliar as expectativas dos alu-

nos ingressantes em relação ao curso e suas

maiores dificuldades. Isto é feito através de

questionários que os alunos preenchem, já

na primeira semana de aula, e através de

entrevistas com professores da disciplina,

que acabam tornando-se permanentes no

decorrer de todo o semestre. Esta experiên-

cia tem sido extremamente gratificante e elu-

cidativa, podendo-se identificar pontos de

conflitos existentes, principalmente em re-

lação ao ciclo básico.

Na segunda parte, buscando melho-

rar a adaptação dos alunos, foi montado

um plano de trabalho que inclui aulas,

palestras, visitas técnicas aos laboratórios

do Departamento de Engenharia Quími-

ca e à indústria. A principal finalidade é

motivá-los para a profissão. São dadas in-

formações sobre o que é a engenharia

química, o campo de atuação profissio-

nal, o mercado de trabalho, a indústria

química e petroquímica, além disso, rela-

tos e experiências vividas por alunos em

períodos avançados como bolsistas de ini-

ciação científica, monitores, estagiários e

integrantes de Empresa Júnior.

Finalmente, numa terceira parte, é feita

uma avaliação junto aos alunos, para sa-

ber de suas opiniões sobre a inclusão da

disciplina no 1o

período, bem como avali-

ar a contribuição que a mesma forneceu

na adaptação ao Curso.

A metodologia adotada será descrita em

detalhes a seguir.

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A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 267

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Avaliação/diagnóstico

do ingresso

Inicialmente, para se fazer um diag-

nóstico dos problemas vividos pelos alu-

nos ingressantes no Curso de Engenha-

ria Química, que resultam em alto índi-

ce de reprovação e abandono, é aplica-

do, logo nas primeiras semanas de aula,

um questionário para se avaliar as ex-

pectativas dos alunos em relação ao

curso. O questionário utilizado é com-

posto por um conjunto de perguntas di-

versas, contendo perguntas abertas e de

múltipla escolha. Os alunos são orien-

tados a responder as perguntas e a es-

crever comentários adicionais, quando

julgar importante, inclusive utilizando o

verso da folha, não ficando restrito a nú-

mero de palavras e linhas. É importante

para a avaliação que o aluno tenha li-

berdade para expressar seus pensamen-

tos. O Quadro 1 apresenta o modelo do

questionário aplicado.

Analisando os resultados das avali-

ações, realizadas em todos os semestres

ao longo desses 2 anos, verifica-se que

todos se mostraram motivados a princí-

pio. No item relativo aos motivos que os

levaram a escolher Engenharia Quími-

ca, todos marcaram como primeiro mo-

tivo o fato de gostarem de química, se-

guido pelo fato das atividades parece-

rem interessantes e em terceiro lugar o

fato de gostarem de matemática e de ci-

ências exatas. Tais resultados têm sido

repetidos em todos os semestres consi-

derados. Quanto às expectativas dos alu-

nos, de modo geral, são muito boas e

quase todos desejam se tornar bons pro-

fissionais para atuarem nas diversas áre-

as e esperam obter sólidos conhecimen-

tos, adequados ao mercado de traba-

lho. Alguns já se posicionam em rela-

ção a alguma área especifica ou tipo de

trabalho. Quanto à recepção na UFF, os

alunos a consideram boa apesar da ocor-

rência do trote, comentário feito por al-

guns. Mostram-se sempre muito satisfei-

tos com a receptividade dos professores

de Introdução à Engenharia Química.

No item relativo às principais dificul-

dades, a mais citada tem sido a distância

da residência; em média 30-40% dos alu-

nos moram longe. Observou-se que mais

do que 50% dos alunos provêm da cida-

de do Rio de Janeiro e menos do que 20%

são de Niterói. Alguns alunos já sinali-

zam sobre o intenso ritmo de estudos e

deslocamentos a que são impostos. Os

alunos também já mostram preocupação

e dificuldade no entendimento da disci-

plina de Física I, Cálculo I, Álgebra Line-

ar e Química. O fator relacionamento

com os professores do ciclo básico tam-

bém já é mencionado, especificamente,

nas disciplinas acima citadas. Tais pro-

fessores criticam muito a qualidade do

ensino médio e do próprio aluno, às ve-

zes, de forma agressiva.

Partindo do princípio de que as expec-

tativas dos alunos ingressantes são boas, é

preciso um acompanhamento intensivo

para se verificar as causas de tantas repro-

vações e abandonos, que provocam a eva-

são de mais de 50% dos alunos.

Metodologia de ensino

Abordagem educacional/

teoria educacional

Um aspecto relevante na implantação

da disciplina de Introdução à Engenha-

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268 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

ria Química é a abordagem educacional

empregada, que está muito baseada no

tipo de relacionamento que o professor

deve manter com seus alunos. Pela ava-

liação realizada verificou-se que este é

um ponto crucial. A falta de diálogo dos

professores do ciclo básico com os alu-

nos ingressantes gera um ponto de con-

flito que se transforma em bloqueio de

aprendizagem. Os professores dizem que

ensinam, mas os alunos não aprendem.

Certamente, olhando os fatos por uma

ótica pedagógica, verifica-se que tais pro-

blemas estão relacionados com a incom-

patibilidade da metodologia de ensino

adotada e o nível de maturidade dos alu-

nos ingressantes.

A partir das teorias educacionais, é

possível estabelecer a forma como o pro-

fessor deve conduzir seu relacionamento,

com os alunos, baseado no nível de ma-

turidade destes. De acordo com Kozak e

Eberspächer (2001), a maturidade, deter-

minada a partir de duas dimensões, a ca-

pacitação e a disposição dos alunos, deve

ser considerada na escolha da aborda-

gem educacional a ser adotada. Realmen-

te, os alunos “calouros”, provenientes do

ensino médio e/ou de cursinhos, estão

mais freqüentemente habituados a traba-

lhar num ambiente quase que estritamen-

te baseado no procedimento estímulo/res-

posta, típico do comportamentalismo.

No comportamentalismo, a instrução

está focada no condicionamento do com-

portamento do aprendiz, o instrutor mani-

pula as mudanças de comportamento e o

guia no caminho para uma resposta pré-

concebida, convergente. Outras abordagens

educacionais necessitam de maiores níveis

de maturidade. No cognitivismo, a instru-

ção está focada na transmissão do proces-

so de pensamento ao aluno e, no construti-

vismo, a instrução estimula a construção

mental da realidade pelo próprio aluno.

Nesta última abordagem, os alunos são

encorajados a desenvolver sua própria rea-

lidade, isto é, sua própria solução, onde as

respostas não são pré-concebidas, são di-

vergentes. Por fim, tem-se a técnica ABP,

aprendizado baseado em problemas do PBL

– Problem-Based Learning, onde o apren-

dizado baseia-se na solução de um proble-

ma real por pequenos grupos de discussão

conduzidos por um tutor, estimulando o tra-

balho em equipe.

Ora, os alunos ingressantes desco-

nhecem totalmente o contexto que os

cerca, isto é, são neste aspecto total-

mente imaturos. A universidade, na sua

forma de créditos, esfacela o princípio

de “turma”, ao qual estão habituados;

agora os alunos não têm mais uma sala

fixa, mudam não somente de sala, como

de instituto/faculdade e até de campus/

bairro. As informações estão dispersas

e os alunos têm que correr atrás delas,

diferentemente de antes, onde os pro-

fessores levavam essas informações aos

alunos praticamente na sala de aula.

Soma-se a isso, a falta de informações

sobre a própria profissão que escolhe-

ram que, diga-se de passagem, no caso

da engenharia, é muito diferente daqui-

lo que prenuncia o básico. Enfim, exi-

ge-se uma maturidade muito além do

que eles possuem.

Page 9: A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia ... · A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263 Ensaio: aval

A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 269

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Quadro 1 - Questionário de avaliação de expectativas e de dificuldades enfren-

tadas pelos alunos do 1 período do Curso de Engenharia Química

Page 10: A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia ... · A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263 Ensaio: aval

270 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Na disciplina de Introdução à En-

genharia Química, o papel do profes-

sor caminha no sentido de encorajar o

aluno, dando-lhe subsídios para faci-

litar seu amadurecimento e a aborda-

gem educacional utilizada leva em con-

sideração a evolução desse amadure-

cimento. Os professores buscam capa-

citar o aluno, informando-lhe sobre o

funcionamento da universidade/curso

e dando-lhe uma visão mais concreta

acerca da profissão escolhida. É for-

necido um espaço constante para o alu-

no se posicionar, relatar suas experi-

ências, dúvidas e dificuldades. Cria-

se um clima de respeito e confiança,

de certa forma terapêutico. A palavra

de conforto e a orientação dos profes-

sores motivam os alunos, que se de-

claram “felizes” e “menos perdidos”.

São identificados pontos de conflitos

existentes, principalmente em relação

ao ciclo básico, que junto com a co-

ordenação do curso são discutidos, tra-

balhados e por vezes solucionados. Em

fim, esta experiência tem sido extrema-

mente gratificante e, apesar de ser re-

cente, já tem fornecido resultados muito

promissores, inclusive no que diz res-

peito ao nível de aprovação dos alu-

nos em todo básico. De fato, a adap-

tação do aluno à universidade é ace-

lerada e o censo crítico é estimulado.

O que se observa é que aos poucos a

forma de o professor atuar vai modifican-

do, adequando-se ao processo evolutivo

do amadurecimento do aluno passando

para um ambiente colaborativo, de troca

de idéias, cujo professor auxilia na toma-

da de decisões e o aluno é encorajado a

construir seu próprio conhecimento e bus-

car seu próprio caminho, características

do construtivismo. Além disso, através dos

problemas reais da profissão e do país que

são apresentados aos alunos, observa-se

uma valorização do sentimento de grupo

que fica mais estimulado e consciente para

enfrentar desafios.

No final do semestre, um almoço reú-

ne todos os alunos e os professores da dis-

ciplina, onde num clima de confraterniza-

ção e de diálogo franco, são avaliados os

resultados e novas sugestões são encami-

nhadas para serem implementadas no pró-

ximo período.

Programa da disciplina/

plano de aulas

Buscando melhorar a adaptação dos

alunos e motivá-los para a profissão, foi

montado um plano de trabalho, optando-

se por aliar informação com formação, in-

cluindo aulas, palestras, visitas técnicas aos

laboratórios do Departamento de Engenha-

ria Química e à indústria.

Com uma carga horária de 60h, distri-

buída em 4h semanais, os seguintes tópi-

cos são abordados:

• A UFF e a estrutura universitária;

• O Curso e o Departamento de Enge-

nharia Química;

• Currículo do Curso de Engenharia

Química, ciclo básico e profissional;

• O que é Engenharia Química;

• Campo de atuação profissional;

• Mercado de trabalho;

• A indústria química e petroquímica;

• Estequiometria industrial e problemas;

• Palestras com profissionais das diver-

sas áreas, na maioria professores do

Departamento de Engenharia Quími-

ca, com relatos de experiência profis-

sional vivida;

Page 11: A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia ... · A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263 Ensaio: aval

A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 271

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

• Visita aos laboratórios do Departa-

mento de Engenharia Química;

• Palestras buscando integrar e mos-

trar a aplicação dos conhecimen-

tos adquiridos no ciclo básico, en-

fatizando sua relevância para o

profissional;

• Apresentação aos professores do De-

partamento de Engenharia Química;

• Relatos de alunos em períodos mais

avançados, tais como monitores e

bolsistas de iniciação cientifica, per-

mitindo colocá-los em contato com

os diversos programas institucionais;

• Palestra com alunos integrantes da

Empresa Júnior;

• Participação em algum evento da épo-

ca realizado no âmbito da Escola de

Engenharia, do tipo, congressos, se-

minários, etc.;

• Visita técnica à indústria;

• Ensino da utilização de ferramentas

de busca na internet, acesso à base de

dados da engenharia química;

• Sugestão de roteiro para elaboração

de relatórios técnicos;

• Utilização de programas para elabo-

ração de gráficos;

• Aulas práticas em grupo;

• Dinâmica de grupo;

• Apresentação final de trabalho desen-

volvido em grupo, onde os temas são

propostos pelos próprios alunos, uti-

lizando programas de apresentação

em multimídia.

Em todos os momentos, a questão am-

biental é discutida, buscando conscientizar

os alunos para a importância da prevenção

da poluição, dando uma visão das tecnolo-

gias de controle ambiental, já existentes, e

noção de desenvolvimento sustentável.

Os aspectos humanísticos também são

ressaltados, mostrando que a profissão de

engenheiros visa aplicação dos conheci-

mentos científicos, e como tal o engenheiro

deve trabalhar para o bem-estar comum

da sociedade. Ensina-se que Engenharia,

enquanto agente transformador, promove

a cidadania, introduzindo o conceito de res-

ponsabilidade social.

Avaliação ao final

da disciplina

Ao longo de todo o período, as expec-

tativas dos alunos se alteram e podem ser

acompanhadas pelos professores de Intro-

dução à Engenharia Química. Os alunos

se mostram muito satisfeitos com o amparo

e orientações que recebem dos professores

e esta satisfação tem sido declarada diver-

sas vezes no decorrer das aulas.

Para verificar o resultado de forma con-

creta, é feita uma avaliação junto aos alu-

nos no final da disciplina, para saber de

suas opiniões sobre a inclusão da disci-

plina no 1o

período, bem como avaliar a

contribuição que a mesma fornece na

adaptação ao Curso. Além disso, busca-

se identificar as maiores dificuldades en-

contradas pelos alunos ao longo do perí-

odo e coletar sugestões para melhoria do

curso. A avaliação final é feita através de

um outro questionário preenchido pelos

alunos e de um almoço de confraterniza-

ção no final do período, que permite o

aprofundamento das questões contidas no

questionário. O Quadro 2 apresenta o

questionário aplicado aos alunos.

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272 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Quadro 2 - Questionário de avaliação ao final da disciplina de Introdução à

Eng. Química

Questionário para Alunos da Disciplina de Introdução à Engenharia Química

1) Nome: ________________________________________________ ____________

2) O que você achou do seu 1 o período no Curso de Engenharia Química, quanto às suas expectativas originais?

Gostei muito, as minhas expectativas foram atendidas totalmenteGostei, as minhas expectativas foram atendidas parcialmenteNão gostei, as minhas expectativas não foram atendidas

3) Marque, dentre as opções abaixo, 5 (cinco) que refletem as suas principais dificuldades no Curso de Eng. Química.

Distância da residênciaCarga horária do Curso muito elevadaNão consigo me adaptar Aulas muito cedoIntenso ritmo de estudoDeslocamento dentro da UFFEntendimento das matérias, especialmente, FísicaEntendimento das matérias, especialmente, QuímicaEntendimento das matérias, especialmente, Matemática [neste caso, especifique a (s) disciplina (s)] _________________________________

Relacionamento com professores da FísicaRelacionamento com professores da QuímicaRelacionamento com professores da Matemática [neste caso, especifique a(s) disciplina(s)] ____________________________________________Outros, especifique __________________________________________

4) O que você achou da disciplina de Introdução à Engenharia Química?

Gostei muito e acho que contribuiu para a minha adaptação no cursoGostei, mas acho que poderia melhorar (dê sugestões abaixo)Gostei , mas o horário não é adequadoNão gostei, acho que não acrescentou nadaGostaria de dar sugestões __________________________________________

5) Comentários adicionais, faça no verso da folha

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A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 273

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

A maior dificuldade apontada pela to-

talidade dos alunos, ao final do período,

tem sido a elevada carga horária do curso.

Em segundo lugar, encontra-se o desloca-

mento dentro da UFF, e em terceiro lugar, o

entendimento das matérias física e mate-

mática. Apesar da distância da residência

cair para a quarta posição, em relação à

avaliação inicial, em termos absolutos per-

manece praticamente constante.

Quanto ao relacionamento com os

professores do básico, vários problemas

têm sido observados, especialmente com

professores de Cálculo I, Física I, Quími-

ca e Álgebra Linear. O constante rodízio

entre os professores nas diversas discipli-

nas provoca alternâncias dos índices de

reprovação e estes estão diretamente re-

lacionados às reclamações dos alunos no

que diz respeito ao tratamento pessoal e

didática do professor. A Tabela 3 apre-

senta a percentagem de reprovações nas

disciplinas críticas do 1o

período para

alguns semestres letivos. Pode-se obser-

var altos índices de reprovação principal-

mente em Cálculo I. Ë lógico que não se

pode descartar os problemas relativos à

deficiência de base dos alunos ingressan-

tes, adquirida no ensino médio.

Tabela 3 – Reprovações nas disciplinas críticas do 1o

período

Percentagem de reprovaçõesDisciplinas

2o/2001

81%

38%

41%

25%

84%

32

1o/2002

83%

63%

23%

29%

23%

35

Média

82%

50%

32%

27%

54%

33-34

2o/2002

68%

48%

35%

29%

61%

31

1o/2003

42%

21%

21%

18%

21%

33

2o/2003

81%

62%

24%

51%

51%

37

1o/2004

62%

38%

38%

15%

64%

39

Média

63%

42%

30%

28%

49%

35

Cálculo I

Física I

Química G. III

Química G. III Exp.

Álgebra Linear

Total de alunos que

efetivamente

freqüentaram o

primeiro período

Com relação à disciplina de Introdu-

ção à Engenharia Química, todos têm gos-

tado muito e consideram que a mesma con-

tribuiu para sua adaptação ao curso. Sem-

pre há novas sugestões que são gradativa-

mente incorporadas à disciplina nas tur-

mas subseqüentes. A capacidade crítica é

desenvolvida. O interesse nas questões do

curso é também estimulado. Algumas con-

quistas têm sido alcançadas e um exemplo

é a criação da Semana de Engenharia

Química, organizada por atuais e ex-alu-

nos de Introdução.

Resultados alcançados

Os resultados são surpreendentes. A

cada semestre observam-se aspectos dife-

rentes ainda não observados anteriormen-

te. Verifica-se que o relacionamento pesso-

al e profissional professor-aluno é um pon-

to fundamental na questão da adaptação

e motivação, proporcionando um cresci-

mento do nível de maturidade dos alunos.

Aproximar os alunos do Básico do Profissi-

onal também dá novo ânimo aos alunos

que se sentem mais confiantes.

Page 14: A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia ... · A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263 Ensaio: aval

274 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Ligeira melhora no índice de aprova-

ção dos alunos tem sido percebida quando

comparado com os semestres anteriores

à inclusão da disciplina, como pode ser

visto pelas Tabelas 3 e 4. Na média, 22%

dos alunos foram aprovados em todas as

disciplinas, em comparação com os

13,5% obtidos antes da inclusão. O per-

centual de alunos que ficaram reprova-

dos em todas as disciplinas, exceto Intro-

dução à Engenharia Química, caiu à

metade. Deve-se levar em consideração

que apesar dos resultados serem tímidos,

os alunos que cursaram o 1o

período,

após a inclusão da disciplina de Introdu-

ção à Engenharia Química, cursaram 7

disciplinas, enquanto os que ingressaram

antes do 2o

semestre de 2002 cursaram

6. Certamente, o impacto na carga ho-

rária dos alunos que cursaram 7 discipli-

nas foi considerável, pois ficaram com

menos tempo disponível para estudo. De

qualquer forma, é bom deixar claro que

nos cálculos efetuados para as turmas a

partir do 2o

semestre de 2002, foram con-

sideradas apenas 6 disciplinas, excetu-

ando a disciplina de Introdução à Enge-

nharia Química, cujo índice de aprova-

ção tem sido praticamente de 100%.

Tais resultados permitiram um aumento

do coeficiente de rendimento (CR) médio

dos alunos. Pôde-se verificar que o nú-

mero médio de alunos com CR > 6,0

subiu de 8-9 para 13, num total de 31 a

39 alunos que freqüentaram devidamen-

te o 1o

período, nas diversas turmas.

É bom frisar que o número de vagas

oferecidas no vestibular é de 40 por se-

mestre, mas observa-se que, em média,

5 a 6 alunos abandonam já no primeiro

período sem sequer assistir a uma aula.

Este é mais um ponto para se refletir e

certamente está relacionado às desistên-

cias frente às reclassificações que ocor-

rem para preenchimento das vagas, por

motivo dos vestibulares isolados nas di-

versas instituições de ensino. Outros pou-

cos são dispensados de algumas disci-

plinas, por já terem cursado em outras

universidades. De qualquer forma, nos

cálculos efetuados na Tabela 4, esses alu-

nos não foram considerados.

Além dos pontos já destacados, per-

cebeu-se que o grau de motivação dos

alunos aumentou consideravelmente. A

satisfação dos alunos com a disciplina

de Introdução à Engenharia Química, e

com os professores da mesma, tem sido

percebida através das diversas declara-

ções feitas por escrito pelos alunos, tais

como:

“As aulas de Introdução foram muito

importantes para podermos discutir

as nossas insatisfações e dificulda-

des no curso”.

“Estou gostando do curso, apesar de

não ser fácil. Acho que as aulas de

Introdução foram essenciais nesse

período de transição em que deve-

mos entrar no ritmo de faculdade.

Foi um amigo [...]”.

“Agradeço o carinho e o apoio e

quando eu me formar quero que

saibam que os grandes responsá-

veis são vocês”.

“A Introdução à Engenharia Química

traz o conhecimento da profissão

que nos ajuda a conhecer o que ire-

mos fazer e também a ter uma rela-

ção amigável com os nossos futu-

ros professores. Que os próximos

alunos aproveitem e gostem tanto

quanto eu”.

Page 15: A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia ... · A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 263 Ensaio: aval

A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 275

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

Outrossim, foram identificados pon-

tos críticos a serem considerados na re-

forma curricular, em andamento, den-

tre eles, a excessiva carga horária no

primeiro período que traz prejuízos à

adaptação do aluno, e certamente de-

verá ser diminuída. Muitos outros pon-

tos serão avaliados em função das de-

clarações de insatisfação de relaciona-

mento com alguns professores de disci-

plinas de Cálculo, Física, Álgebra Li-

near e também de Química do básico.

De qualquer forma, verificou-se que

tratar o aluno com um pouco mais de

atenção e respeito, ajudou no seu ama-

durecimento e crescimento no curso,

dando a ele uma visão mais humanís-

tica da profissão, o que contribuiu para

um menor índice de abandono. A dis-

ciplina de Introdução à Engenharia

Química, com esta missão, deverá ser

incluída definitivamente como discipli-

na obrigatória no primeiro período e

não mais como optativa.

Conclusões

Observou-se uma grande retenção dos

alunos que levam em média 13 semestres,

6,5 anos, para concluir o curso de Enge-

nharia Química da UFF. Ao longo dos últi-

mos anos, apenas 16,4% dos alunos con-

seguiram se formar no tempo normal de 10

semestres, 5 anos.

Analisando-se a distribuição dos alunos

no curso com relação ao número de crédi-

tos concluídos, verificou-se que a retenção

ocorre principalmente nos 3 primeiros perí-

odos do curso, devido ao alto índice de re-

provação, causando desmotivação e cul-

minando em abandono e evasão do curso.

A pior situação ocorre no 1º período. Os

alunos que conseguem superar a barreira

do ciclo básico normalmente se formam.

A disciplina de Introdução à Engenha-

ria Química foi introduzida no 1o

período

do curso, em caráter optativo por enquan-

to, para avaliar as causas. De acordo com

as declarações dos alunos identificaram-se

Tabela 4 – Índice de aprovação e reprovação nas disciplinas do 1o

período,

antes e depois da inclusão da disciplina de Introdução à Engenharia Química

2o sem.

2001

18%

8%

5,49

10

32

Alunos

Alunos aprovados em

todas as disciplinas

Alunos reprovados em todas

as disciplinas, exceto Int.

Eng. Química

CR médio da turma no final

do 1o período

No de alunos com CR>6,0

Total de alunos que

efetivamente freqüentaram o

1o período

1o sem.

2002

9%

20%

4,66

7

35

Média

13,5%

14%

5,08

8-9

33-34

2o sem.

2002

16%

10%

5,01

11

31

1o sem.

2003

40%

3,3%

5,82

19

33

2o sem.

2003

10%

8%

5,14

9

37

1o sem.

2004

23

5

5,24

16

39

Média

22,2%

6,6%

5,30

14

35

Antes da Inclusão Depois da Inclusão

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276 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

pontos de conflito, principalmente no que

se refere ao relacionamento professor-alu-

no nas disciplinas de Cálculo I, Física I,

Álgebra Linear e Química. Verificou-se que

estas disciplinas apresentam altos índices

de reprovação que, no entanto, variam não

somente em função da base que os alunos

trazem do ensino médio, mas também em

função do professor que ministra a discipli-

na. Neste contexto, observou-se um gran-

de rodízio de professores no ciclo básico

que provoca alternâncias nos índices de re-

provação e tais índices estão diretamente

relacionados às reclamações dos alunos no

que diz respeito ao trato pessoal e à didáti-

ca dos professores.

A inclusão da disciplina de Intro-

dução à Engenharia Química, com

uma visão mais humanística e buscan-

do sempre aproximar o aluno “calou-

ro” da pro f i s são, fo i um sucesso.

Apostou-se no relacionamento pesso-

al do professor-aluno como forma de

motivação para promover o amadu-

recimento do aluno. Verificou-se que

na média o índice de aprovação nas

disciplinas do básico aumentou e o de

reprovação caiu praticamente à me-

tade. Em função dos resultados alcan-

çados pretende-se torná-la obrigató-

ria no currículo do curso, na próxima

reformulação curricular.

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A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 277

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Recebido em: 22/02/2005

Aceito para publicação em: 29/03/2006