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A construção da zona de contato e a ativação da participação
discursiva do receptor na sociedade em vias de midiatização
Daniel Silveira Pedroso,
Larissa Schreiber de Azevedo
Henrique Standt
RESUMO EXPANDIDO
As novas condições de circulação que marcam o processo de midiatização da
sociedade, surgidas a partir da intensificação e penetração da internet e da popularização
dos dispositivos móveis, vem transformando o funcionamento dos meios de
comunicação, complexificando a produção de discursos sociais e, gerando, desta forma,
uma nova “economia de atenção”. Esse movimento exige a construção de novos sentidos
nas interações, por meio das quais, os meios geram as suas relações com os atores sociais.
Neste trabalho nos debruçamos sobre o impacto deste cenário no redesenho das interações
entre a televisão e os receptores.
Nesse sentido, o artigo se propõe a descrever e problematizar as formas de
interação entre o meio televisão e o receptor, no contexto da Sociedade em vias de
Midiatização (VERÓN, 2013; FAUSTO NETO, 2008). A partir da observação
estruturada da relação entre programas de televisão e a respectiva reverberação
(RECUERO, 2009) nos ambientes de sites, redes sociais e de comunidades virtuais, cria-
se um corpus para a análise de um estudo de casos múltiplos. O recorte justifica-se pela
ampla repercussão dos objetos selecionados nos espaços de mídia televisiva e internet.
Os três casos analisados partem de programas de televisão transmitidos por
emissoras brasileiras. O programa Master Chef Junior, da TV Bandeirantes, exibido em
2015, gerou o agrupamento de interações por meio da tag #meuprimeiroassedio em sites
de redes sociais como Twitter, Facebook e You Tube. O seriado Chaves, exibido pelo
SBT, estabeleceu uma relação com o portal Fórum Chaves, site mantido pela comunidade
de fãs do seriado. O quadro "A empregada mais cheia de charme do Brasil", exibido pelo
programa Fantástico da Rede Globo de Televisão, no período de junho a julho de 2012
provocou uma extensão tanto na página da atração na internet, quanto em outros
ambientes de sites e redes sociais, em especial, no You Tube. Em comum, os objetos acima
referidos, deslocaram os telespectadores e usuários para novos espaços interacionais que
motivaram a atividade discursiva do receptor.
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A observação dos materiais fundamenta-se na perspectiva teórico-metodológica do
conceito de zona de contato (FAUSTO NETO, 2013; PEDROSO, 2015), entendido como
uma instância interacional que reúne os meios e os atores sociais em novas dinâmicas
interacionais, que são marcadas por processos sociotécnicos. Esse conceito como um viés
de análise, nos permite descrever e questionar fenômenos e processos midiáticos
contemporâneos, observados a partir do âmbito da circulação (FAUSTO NETO, 2010,
2013ª; BRAGA 2012).
. Desta forma, a zona de contato, enquanto instância interacional é acionada pela
televisão que estimula a participação e a atividade discursiva do ator social, no sistema
produtivo midiático. Examinam-se, portanto, as marcas dessas novas relações que são
verificadas no âmbito relacional - produção e recepção - a partir de operações
tecnodiscursivas que são engendradas pela televisão e desdobram-se na internet.
Observam-se também como os processos sociotécnicos evidenciados pela
midiatização - como as novas condições de circulação e os novos dispositivos técnicos
convertidos em meios de comunicação - ao serem transformados em estratégias de
contato e de interação pela televisão, redesenham as formas de geração de vínculos com
a sociedade. Nessa perspectiva busca-se compreender as transformações e mutações dos
discursos sociais na paisagem midiática contemporânea.
Com esta proposta, pretende-se avançar na exploração do conceito de zona de contato
como ferramenta teórico-metodológica para a compreensão dos novos processos
interacionais e seus impactos no processo de midiatização na sociedade, ampliando assim,
as reflexões e estudos da área.
REFERÊNCIAS
BRAGA, José Luiz. Circuitos versus campus sociais. In: JANOTTI JÚNIOR, Jeder;
MATTOS, Maria Ângela; JACKS, Nilda (Org.). Mediação & midiatização. Salvador:
Ed. UFBA; Brasília, DF: Compós, 2012a. p. 31-51.
FAUSTO NETO, Antonio. Como as linguagens afetam e são afetadas na circulação? In:
FAUSTO NETO, Antonio et al. (Org.). 10 Perguntas para a produção de
conhecimento em comunicação. São Leopoldo: Ed. UNISINOS, 2013a, cap. 3, p.43-
64.
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FAUSTO NETO, Antonio; SGORLA, Fabiane. Zona em construção: acesso e
mobilidade da recepção na ambiência jornalística. In: ENCONTRO ANUAL DA
COMPÓS, 22., 2013, Salvador. Anais eletrônicos... Salvador: UFBA, 2013b.
Disponível em <http://www.compos.org.br/biblioteca.php>. Acesso em: 16 maio 2014.
FAUSTO NETO, Antonio. A circulação além das bordas. In: FAUSTO NETO,
Antônio; VALDETTARO, Sandra. (Dir.). Mediatización, sociedad y sentido: diálogo
Brasil-Argentina. Rosário: Universidad Nacional de Rosario, agosto 2010. p. 02-17.
Disponível em: <http://www.fcpolit.unr.edu.ar/wp-
content/uploads/Mediatizaci%C3%B3n-sociedad-y-sentido.pdf>. Acesso em: 12 dez.
2011.
FAUSTO NETO, Antonio. Fragmentos de uma analítica da midiatização. Matrizes,
São Paulo, v. 1, n. 2, p. 89-105, abr. 2008.
PEDROSO, Daniel. Interações entre a televisão e o telespectador na Sociedade em
vias de midiatização: Um estudo de caso do quadro A Empregada mais cheia de
charme do Brasil do programa Fantástico. 2015. 282 f. Tese (Doutorado em Ciências da
Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Universidade do Vale
do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, 2015.
RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet, Difusão de Informação e
Jornalismo: Elementos para discussão. Disponível em
<http://www.raquelrecuero.com/artigos/artigoredesjornalismorecuero.pdf>. Acesso em:
15 setembro 2016.
VERÓN, Eliseo. La semiosis social, 2: ideas, momentos, interpretantes. Buenos Aires:
Paidós Planeta, 2013.
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Entre o falatório, a conversação informal e a recontagem da
notícia: midiatização e multiplicidade nos comentários do G1
Pará
Mariana Costa Castro
Elaide Martins da Cunha
Universidade Federal do Pará
Palavras-chave: Gerede; Conversação mediada; Multiplicidade; Jornalismo; G1 Pará.
RESUMO EXPANDIDO
Em meio às aceleradas mudanças da sociedade contemporânea no que diz respeito
à comunicação, a mídia é vista por Sodré (2002) como uma ambiência, uma forma de
vida na qual os meios de produção de enunciados multiplicam-se, especialmente, pode-
se dizer, com os usos e apropriações das tecnologias digitais. No jornalismo, as formas
de construção e circulação de notícias ampliam-se em ritmo exponencial, levando muitas
empresas a buscar ferramentas e estratégias de comunicação que estreitem os laços com
seu público. Longos debates são dedicados à tentativa de incorporar elementos de outros
setores, sobretudo do entretenimento, no fazer jornalístico, a fim de incrementar a
interação com o público, como também para refletir sobre suas possibilidades de
participar da construção de narrativas jornalísticas.
Seja por razões de interesses comerciais, de políticas empresariais ou mesmo pelo
próprio papel do jornalista, existe uma luta de poder que se manifesta em diversas esferas
(econômica, política, simbólica...) e envolve organizações de comunicação, jornalistas e
público. As disputas simbólicas atingem diretamente as estratégias que visam a interação
dos usuários com o conteúdo. Ao mesmo tempo, levam-nos a pensar sobre as
possibilidades de interação, de participação e na transformação nas práticas desses
sujeitos. Ainda que certos pesquisadores enfoquem essa relação em diversos campos, seja
no jornalismo, política ou entretenimento, eles apontam para o fortalecimento de uma
comunidade que exige graus cada vez mais elevados de participação, como Henry Jenkins
(2009a, 2009b, 2009c) e Manuel Castells (2015). Diante disso, certas inquietações são
inevitáveis e levam-nos a perguntar: é possível afirmar que a participação do usuário se
tornou uma prática generalizada no jornalismo? Ou mesmo que o comportamento do
público médio já traduz esses esforços nos modelos mais tradicionais de jornalismo?
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O cenário promissor revelado pela perspectiva de uma cultura participativa
(JENKINS, 2009; JENKINS, GREEN e FORD, 2014; CASTELLS, 2015), apesar de
instigante, gera questionamentos que precisam ser respondidos com olhares voltados para
práticas cotidianas. Em ambiências de midiatização (SODRÉ, 2002), ferramentas e
interfaces, ainda que essenciais, são apenas parte do processo de participação, que
depende ainda mais do desenvolvimento de práticas sociais que incentivem tais
comportamentos. Seriam essas formas de participação mais complexas as que
observamos com maior frequência em ambientes interativos na internet? Nesse sentido,
propõe-se aqui direcionar um olhar mais atento para as interações dos usuários nos
ambientes de comentários em portais de notícias, no caso o G1 Pará1, a partir dos
conceitos de falatório (Gerede), de Heidegger (2005), multiplicidade, de Henry Jenkins
(2009b) e conversação informal mediada por computador de Recuero (2008, 2014).
Os procedimentos metodológicos adotados para desenvolver essa análise partem
da compreensão de cada um dos três conceitos mencionados e, a partir de então, a busca
em identificar sua presença na seção de comentários do G1 Pará, a fim de melhor entender
essa ambiência midiática. Em um primeiro momento, situado na esfera do banal, há o
conceito de falatório (Gerede) do filósofo alemão, Martin Heidegger (2005), marcado por
um esvaziamento de sentido. Para o autor, a prática do falatório evidencia uma ocupação
com o falado, é característica das relações cotidianas e existe na esfera do Mitsein (ser-
com-outros). É um fenômeno interativo e comunicativo (CASTRO, 2013). O falatório
aqui é entendido a partir de sua esfera negativa e positiva: apesar de sua característica
superficial, o Gerede constitui um contato inicial com o tema abordado, ou seja, a
possibilidade de uma compreensão primária (ESCUDERO, 2013), a qual pode se mostrar
essencial no contexto dos usuários de um portal de notícias.
Já o conceito de conversação informal mediada por computador (RECUERO,
2008, 2014; MAIA et al., 2015) será usado para melhor categorizar os diálogos
observados no ambiente de comentários de notícia. Para Recuero (2008, 2014), os
fenômenos comunicativos que se dão nesses espaços são adaptados de acordo com o
ambiente e a interface oferecida. Novos padrões de cooperação são estabelecidos e novas
construções linguísticas são criadas, ainda que não percam sua conexão com as práticas
off-line. Este é um conceito fundamental, principalmente se compreendemos “o papel da
1 Acesso em: http://g1.globo.com/pa/para/
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conversação informal como processo catalisador de formas mais complexas de
participação política e cívica” (MAIA et. al., 2015, p.507).
Em relação ao terceiro conceito integrante dos procedimentos aqui propostos, é
importante considerar que esta proposta de artigo é fruto de uma pesquisa centrada no
conceito de narrativa transmídia (JENKINS, 2009; SCOLARI, 2009) e suas
aplicabilidades no jornalismo (RENÓ E FLORES, 2013; AUTORA, 2012, 2013, 2015;
SCOLARI, 2013; CANAVILHAS, 2013; TÁRCIA, 2013). Parte-se, então, do conceito
construído por Jenkins (2009) e Scolari (2009, 2013) e das características que o primeiro
autor elenca como sendo as bases dessa narrativa. Dessas características sistematizadas
por Jenkins (2003, 2009b, 2009c)2, o presente artigo detém seu olhar para a
multiplicidade, a fim de melhor entender seus sentidos no jornalismo. Este princípio diz
respeito às outras vozes presentes na construção do universo de uma narrativa transmídia,
mais especificamente, a possibilidade do público enquanto sujeito ativo na construção da
narrativa pela perspectiva da recontagem das histórias e/ou da produção de múltiplas
histórias. No campo do jornalismo (AUTORA, 2012, 2013, 2015) corresponde a um
espaço em que outros sujeitos, que não o veículo de comunicação que publicou a narrativa
jornalística original, possam apresentar uma alternativa em relação ao que é noticiado,
dando outra perspectiva ou até mesmo contradizendo as informações publicadas
inicialmente.
A seleção dos comentários se deu a partir de uma coleta de dados, realizada no
período de 4 a 8 de julho de 2016, voltada para a observação de apropriações dos
elementos das narrativas transmídia no jornalismo local. A coleta consistiu da observação
direta e preenchimento de um protocolo de análise elaborado no projeto de pesquisa
“Apropriações da narrativa transmídia pelo jornalismo: novas relações, formatos e
processos produtivos” (PPGCom-UFPA), no qual parte-se para a identificação e
discussão da presença de cada um dos princípios elencados por Jenkins (2009b, 2009c),
mencionados anteriormente, incluindo a multiplicidade. Dentre os objetos escolhidos
para observação e análise, estão o portal de notícias G1 Pará e o telejornal matutino Bom
Dia Pará, exibido na TV Liberal, ambos produzidos pelas Organizações Rômulo
Maiorana, afiliada à Rede Globo. Neste artigo, entretanto, propõe-se a abordagem
2 O autor elenca uma série de princípios que considera como fundamentais para a definição de uma narrativa
enquanto transmídia. São eles: capacidades de perfuração, capacidade de espalhamento, noções de
continuidade, extração, imersão, construção de universo, serialidade, subjetividade, multiplicidade e
performance. Para maiores informações sobre cada categoria, consultar Jenkins (2009b, 2009c).
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exclusiva dos dados referentes ao portal de notícias. Do total de comentários coletados,
foram selecionados aqueles cujo conteúdo tratava diretamente do fato noticiado na
matéria correspondente.
A partir dos procedimentos aqui adotados, a primeira percepção quanto a
possíveis resultados indica que as práticas comunicacionais observadas durante a coleta
correspondem mais intensamente aos processos de conversação cotidianos, banais,
despretensiosos, que nos rementem ao conceito de falatório (Gerede), de Heidegger
(2005). São práticas ainda distantes de uma perspectiva de multiplicidade (JENKINS,
2009b) e não oferecem necessariamente um ponto de vista alternativo em relação à
notícia. Castro (2013) propõe uma perspectiva interessante sobre o tema quando define
as práticas despretensiosas e banais do falatório enquanto “(...) um fenômeno presente no
humano, em geral, mas que encontra novas forças, novas dinamizações, com os processos
de tecnologização da experiência social e particularmente com a tecnologização da
experiência comunicativa” (p. 32).
É importante considerar, a partir dessa perspectiva, que para além de um debate
relacionado à transferência de poder nas práticas de interação e produção de conteúdo
(CASTELLS, 2015), há ainda que se considerar como os usos de certas ferramentas de
participação interferem nos tipos de interação que ocorre nesses ambientes, como o
espaço dos comentários em portais de notícia, nos quais há alguma abertura para diálogos
e construção de narrativas, ainda que mediados pelas empresas de comunicação. Nesse
sentido, o ambiente midiatizado online se mostra como espaço de aproximação com as
práticas off-line cotidianas, como é possível observar na presença do falatório nos
comentários do G1 Pará. E ainda pode-se considerar uma ampliação desses espaços de
interação a partir dos conceitos de conversação informal e, sobretudo, multiplicidade.
Este último, apesar de enfrentar certos obstáculos, permanece como uma possibilidade a
ser trabalhada enquanto potencial interativo.
Referências bibliográficas
AUTORA. Telejornalismo na era digital: aspectos da narrativa transmídia na televisão de
papel. Brazilian Journalism Research, SBPJor, v. 8, n. 2, 2012
_____________. 2013. Narrativa transmídia e novos processos produtivos jornalísticos.
In: II Colóquio Internacional Mudanças Estruturais o Jornalismo, 2, Natal, 2013. Anais...
Natal, UFRN-UNB-Réseau d'Études sur le Journalisme, p. 40-55.
8
_____________. Convergência e narrativa transmídia no jornalismo: transformações nas
práticas e no perfil dos profissionais. Brazilian Journalism Research, v.11, n.2, 2015.
Acesso em: 30 mai. 2016.
CANAVILHAS, João. Jornalismo Transmídia: um desafio ao velho ecossistema
midiático. In: Denis Renó, Carolina Campalans, Sandra Ruiz e Vicente Gosciola (org.).
Periodismo Transmedia: miradas múltiples. Bogotá: Editorial Universidad del
Rosario, 2013.
CASTELLS, Manuel. O poder da comunicação. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2015.
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Intercom – Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, São Paulo, v.36, n.2, p.
21-39, jul./dez. 2013. Acesso em: 15 abr. 2016
ESCUDERO, Jesús A. Heidegger on Discourse and Idle Talk. Philosophy study, v. 3, n.
2, p.8596, fev. 2013. Acesso em: 10 jul. 2016.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 15 ed. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback.
Petrópolis: Ed. Vozes, 2005.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009a.
______________. Revenge of the Origami Unicorn: Seven Core Concepts of Transmedia
Storytelling. Confessions of an Aca-Fan, 2009b. Acesso em: 30 mar. 2016.
______________. Harry Potter: The Exhibition, or what Location Entertainment Adds to
a Transmedia Franchise. Confessions of an Aca-Fan, 2009c. Acesso em: 30 mar. 2016.
JENKINS, H.; GREEN, J.; FORD, S. Cultura da conexão: criando valor e significado
por meio da mídia propagável. São Paulo: Aleph, 2014.
MAIA, Rousiley C. M., et al. Sobre a importância de examinar diferentes ambientes
online em estudos de deliberação. Opinião Pública, Campinas, v. 21, n.2, 2015. Acesso
em: 21 jun. 2016.
RECUERO, Raquel. Elementos para a análise da conversação na comunicação mediada
pelo computador. Verso e Reverso, v.22, n.51, 2008. Acesso em: 11 jul. 2016.
________________. Curtir, compartilhar, comentar: trabalho de face, conversação e
redes sociais no Facebook. Verso e Reverso, v.28, n.68, 2014. Acesso em: 30 jul. 2016.
RENÓ, Denis; FLORES, Jesús. Periodismo transmedia. Madri: Editorial Frágua, 2012.
SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho: Uma Teoria da Comunicação Linear e
em Rede. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
SCOLARI, Carlos A. Transmedia Storytelling: Implicit Consumers, Narrative Worlds,
and Branding in Contemporary Media Production. International Journal of
Communication, V. 3, 2009. Acesso em: 20 mar. 2016.
_______________. Narrativas transmedia. Cuando todos los medios cuentan.
Barcelona: Deusto, 2013.
TÁRCIA, Lorena. O jornalismo transmídia em versão original. Observatório da
Imprensa, ed. 735, 26 fev. 2013. Acesso em: 30 set. 2013.
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Criminalização da homofobia e circulação discursiva:
uma análise da coluna de Reinaldo Azevedo e dos comentários
no blog
Francys Albrecht da Rosa
Aline Dalmolin
Viviane Borelli
RESUMO EXPANDIDO
Resumo: Esta pesquisa tem o objetivo de mapear a circulação discursiva relativa
ao PLC 122 – “Lei Anti-homofobia” – especificamente por meio da análise de
colunas de Reinaldo Azevedo, da revista Veja, e dos discursos produzidos por
leitores no Blog do articulista. A partir de conceitos centrais, como de midiatização,
circulação e empreendedor moral, analisa -se como os discursos sobre o PLC 122
circulam nesse ambiente e que sentidos produzem. Para análise, recorre -se a Véron
(2007) e Pinto (2002) para compreender como ocorre o engendramento de sentidos
entre colunista e comentadores. Num primeiro momento, nota -se que a interação
forma uma zona de contato em que os sentidos produzidos pelos discursos remetem
à didatização e moralismo.
Palavras-chave: PLC 122. Reinaldo Azevedo. Criminalização da Homofobia. Circulação.
Midiatização.
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo mapear a maneira como ocorre a circulação
discursiva no caso da PLC 122, especialmente, identificar marcas discursivas que
remetem aos modos através dos quais o colunista Reinaldo Azevedo da revista Veja
mobiliza sentidos acerca da PLC, além de compreender como os leitores interagem no
espaço aberto a comentários no blog3.
O Projeto de Lei Complementar 1224, criado em 2006, se refere à criminalização da
homofobia e altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, o Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940 e o Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 que define os
crimes resultantes de insultos quanto a gênero, sexo, orientação sexual e identidade de
gênero. O PLC foi elaborado pela deputada Iara Bernardi (PT), no ano de 2006, e prevê
3 O blog pode ser acessado neste endereço: www.veja.abril.com.br/blog/reinaldo/. Acessado em: 6 set. 16,
às 16h. 4 O PLC 122 pode ser acessado neste endereço:
www.senado.gov.br/noticias/opiniaopublica/pdf/PLC122.pdf. Acessado em: 6 set. 16, às 16h.
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criminalização por atos de homofobia, equiparando ao preconceito racial. A criação gerou
grande repercussão entre os membros de organizações LGBT e lideranças religiosas.
Foram mapeadas cinco colunas escritas por Reinaldo Azevedo referentes
especificamente ao tema: “Integra do PL 122”, “Site informa que Marta Suplicy tenta dar
truque nos evangélicos para aprovar lei autoritária”, “O AI-5 gay já começa a satanizar
pessoas; se aprovado, vai provocar o contrário do que pretende: acabará isolando os
gays”, “Não somos homofóbicos” e “O PLC 122, a dita lei anti-homofobia, está
arquivado. Mas outro texto vem por aí, com ainda mais problemas. Ou: Bom senso não é
preconceito”. Dentre os citados títulos, quatro foram publicados entre 2010 e 2011 e o
último em 2015.
Como é intenção analisar a circulação discursiva, serão também identificados sentidos
produzidos pelos leitores/comentadores. Nas cinco colunas, foram publicados 606
comentários. É preciso salientar que a interação no blog só acontece entre os leitores, pois
o colunista não responde nesse ambiente. No espaço aberto a comentários do blog de
Reinaldo Azevedo, os seus leitores buscam interagir com o colunista, elogiam seu
posicionamento, enviam links de outros blogs para que o autor possa complementar sua
opinião acerca do caso e dão sugestões de temas para os próximos textos. Entretanto,
como já foi mencionado, nenhum post é respondido, cabendo aos leitores produzirem a
circulação discursiva.
Azevedo organiza seus textos de forma a instigar o debate entre os leitores, porém,
não participa da processualidade da interação, visto que parece ainda trabalhar numa
lógica de comunicação linear – de uma instância da produção para a de reconhecimento
(VERÓN, 2004) sem vinculação entre elas. Entretanto, não há como pensar nas relações
discursivas na ambiência da midiatização (VERÓN, 1997) sem passar pela discussão de
como se constitui essa “zona de contato” (FAUSTO NETO, 2009), que ganha formas
cada vez mais evidentes com o processo de circulação discursiva.
O colunista Reinaldo Azevedo é seguidor da Igreja Católica5 e sua preferência
religiosa pode ser identificada em seus textos publicados no blog vinculado à revista Veja.
Como cidadão cristão e formador de opinião, Azevedo é tido por alguns de seus leitores
como porta-voz da opinião política (BECKER, 2008) baseada nas diretrizes bíblicas,
5 Declaração pode ser encontrada em veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-vulgaridade-teologica-do-
papa-francisco-e-pavorosa-ou-tres-ave-marias-e-um-tapa-no-traseiro. Acessado em 30 set. 16, às 21h.
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incluindo católicos, evangélicos e pessoas que não seguem a religião como filosofia de
vida, mas acreditam na sua moralidade como norteadora das ações do Estado.
O texto do colunista da Veja é simples e, com frequência, se apoia em outras
publicações, seja a Constituição Brasileira, letra da lei, blogs e falas de seus opositores
para a construção argumentativa do seu discurso. Reinaldo Azevedo atua como um
empreendedor moral, que é compreendido por BECKER (2008, p. 155) como “quando se
trata de redigir regras específicas (...) ele com frequência recorre ao conselho de
especialistas. Advogados e juristas muitas vezes desempenham esse papel”. Este artifício
é utilizado para consolidar a narrativa e legitimar sua opinião, pois a explanação
fundamenta-se a partir de uma realidade e seu papel, como porta-voz cristão, é julgar se
a mesma está de acordo com os princípios bíblicos e constitucionais do Brasil.
Ao aliar sua posição ideológica ligada à igreja, Azevedo age como “o ator social – o
narrador – já não seria mais um intérprete, mas um operador de indicialidades, de
conexões” FAUSTO NETO (2006, p. 05). A midiatização propõe uma transversalidade
comunicacional entre o campo dos media e dos comentadores na qual o enunciador não
reconstrói a realidade sozinho, os leitores participantes contribuem, através dos
comentários, para complementar a informação dada no texto e esta interação é
transportadora de significados.
Tais afetações são relacionais e geram, consequentemente, retornos de
processos de sentido das construções feitas pelos outros campos, e que se
instauram nos modos de funcionamento da midiatização. Isso significa dizer
que a midiatização produz mais do que homogeneidades, conforme
depreendem as teorias clássicas de comunicação, na medida em que pelo
contrário, gera complexidades (FAUSTO NETO, 2006, p. 09).
A circulação midiática reconfigura a interação entre produtores e receptores de
conteúdo, pois segundo Fausto Neto (2010), o emissor constrói uma mensagem carregada
de intencionalidade como estratégia à confirmação de suas expectativas por parte dos
leitores. Reinaldo Azevedo articula seu texto acerca do PLC 122 com base num discurso
religioso e moralista que é confirmado, referendado e reforçado pelos comentários
postados por seus leitores.
O avanço das tecnologias possibilitou a criação de um novo cenário discursivo, em
que as interações entre produção e reconhecimento reconfiguram a circulação das
discursividades (VERÓN, 2004). A área dos comentários da revista Veja é utilizada pelos
comentadores como um espaço para reafirmar a opinião de Azevedo em sua coluna. Os
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mesmos dirigem a palavra ao colunista, comentam a sua percepção pessoal sobre o texto
e interagem com os outros comentadores a partir de perguntas que reforçam a tese do
colunista. FAUSTO NETO (2010, p. 60) afirma que “trata-se da ordem interdiscursiva
onde a circulação – como “terceiro” – se oferece como um novo lugar de produção,
funcionamento e regulação de sentidos”.
Supomos que a ausência de comentaristas contrários à opinião de Reinaldo Azevedo
se deva ao fato de que as diretrizes para a publicação não permitem “comentários
ofensivos a qualquer parte: VEJA, repórteres, colunistas, entrevistados, outros leitores
etc. São considerados ofensivos comentários que, de alguma forma, tentem desqualificar
moralmente seu alvo6”. Tendo em vista essa regra de moderação de comentários, opiniões
distintas podem não ser publicadas devido a esses filtros que são predeterminados pela
revista. Nessa regra para postagem de comentários, Veja deixa claro que comentários
ofensivos para qualquer sujeito envolvido no processo de circulação discursiva – desde o
colunista até os leitores – não serão publicados. No espaço de comentários do Blog,
observa-se algo que vai contra a própria prática observada comumentemente no
Facebook, por exemplo, onde uma infinidade de comentários centra-se em desqualificar
sujeitos por meio do discurso.
A partir de uma primeira leitura dos artigos de Reinaldo Azevedo e de comentários
produzidos aos textos do colunista da Veja, identificamos duas estratégias discursivas
específicas: Didatização – que são aqueles discursos produzidos com intenção de
explicar melhor a lei e, para isso, usam argumentos para elucidar os dados com base na
constituição – e Moralismo – aqueles discursos produzidos a partir de informações de
ordem religiosa, seja do ponto de vista católico ou evangélico.
A partir dos conceitos norteadores de midiatização e de circulação, a análise visa
identificar marcas discursivas que remetem tanto ao que é produzido pelo colunista
quanto pelos leitores, pois compreendemos que ambos estão numa zona específica de
contato (FAUSTO NETO, 2010). Dessa forma, acreditamos ser possível apreender
sentidos que são produzidos acerca da tematização do PLC 122 na coluna de Veja.
6 As regras podem ser encontradas no endereço veja.abril.com.br/aprovacao-comentarios. Acessado em:
23 set.16, às 20h30min.
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O conceito de contrato de leitura é compreendido a partir da ideia de que ele se efetiva
como uma prática de enunciação e ocorre quando o campo das mídias entra em contato
com os leitores. Segundo Fausto Neto (2007, p.03),
Entende-se por contratos de leituras regras, estratégias e ‘políticas’ de sentidos
que organizam os modos de vinculação entre as ofertas e recepção dos
discursos midiáticos, e que se formalizam nas práticas textuais, como
instâncias que constituem o ponto de vínculo entre produtores e usuários.
O aporte teórico utilizado para nortear a metodologia é baseada em Pinto (2002), na
qual utiliza os conceitos de mostração, interação e sedução como estratégia argumentativa
para elaboração de efeitos de sentido nas discursividades. A mostração consiste em
localizar o objeto que está sendo discutindo no tempo e espaço e presumindo o que o seu
leitor teria de conhecimento sobre o assunto. A interação é o estabelecimento de poder
através de hierarquias no processo de comunicação. A sedução é a adoção de adjetivação
positiva ou negativa.
BIBLIOGRAFIA
BOUTAUD, Jean-Jacques y VERÓN, Eliseo. Del sujeto a los actores. La semiótica
aberta las interfaces. In: Sémiotique ouverte. Itinéraires sémiotiques en communication,
Paris, Lavoisier, Hermès Science, 2007.
FAUSTO NETO, Antônio. Midiatização, Prática Social – Prática De Sentido. In:
COMPÓS- Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação,
15º, 2006. Baurú-SP.
______________. As bordas da circulação. In: ALCEU, v. 10, n. 20, p. 55 a 69, jan./jun.,
2010.
______________. Contratos de leitura: entre regulações e deslocamentos. In:
INTERCOM NACIONAL, 30., 2007. Santos- SP. Anais... Santos- SP, p. 21.
HJARVARD, Stig. Da Mediação à Midiatização: a institucionalização das novas mídias.
In: PARÁGRAFO, v. 2, n. 3., jul. /dez., 2015.
PINTO, Milton José. Comunicação e Discurso: Introdução à Análise de Discursos.
São Paulo: Hacker Editores, 2002.
14
Entre o outro e o outrem: processos de construção de sentido
em uma emissão radiofônica rural
Marco Antonio de O. Tessarotto
UNISINOS
Palavras-chave: recepção. circulação discursiva. rádio comunitária.
RESUMO EXPANDIDO
- “Telefone três-quatro-meia-um, onze-onze tá lideradíssimo (não compreensível) no
centro (não compreensível) Desejo de Menina” – trecho da fala do locutor Joaldo Silva
na Rádio 104 FM, ao anunciar música no programa de variedades na rádio comunitária.
- “Eles querem ser aquilo que não são, eles não ‘é’ a pessoa mesmo” O trecho da fala dos
jovens ouvintes da cidade de Santa Luiza sobre os efeitos enquanto transformações de
sentido decorrentes da escuta da locução. Pretendemos realizar uma análise sobre as
estratégias de articulação entre fala do locutor e comentário dos ouvintes, mostrando
haver uma intercambialidade que não converge na interação decorrente da fala posta em
ação cujo efeito da locução são reinterpretados para além de um outro externo ao grupo
e que se configuraria como outrem que é indefinido pela população como um interlocutor
que vai além dos próprios atores da interação radiofônica. Mostraremos na circulação
deste projeto radiofônico, uma intercambialidade caracterizada por níveis de produção de
sentidos nos quais o locutor – receptores elaboram níveis de compreensão que não se
ajustam as expectativas da própria interação imaginada pela comunidade.
A atual temática surgiu quando na revisão dos materiais e na reanálise das falas
dos depoentes, a rádio comunitária Santa Luzia 104FM apresentou uma problemática que
transborda a questão da mídia e sua relação com o poder, mas de um desafio que responde
a produção de sentido em uma transmissão radiofônica, onde o sujeito (aquele que
enuncia) e o destinatário (público jovem ouvinte) não se encontram ou se reconhecem no
processo discursivo radiofônico, cuja circulação ocorre de forma deficiente. Os sujeitos
inseridos neste contexto, enquanto agentes comunicacionais que exercem mediação da
negociação simbólica enfrentam dissonâncias na esfera do agir comunicativo.
Nos estudos comunicacionais sobre a referida problemática discursiva
circulatória, pretendemos desvelar dentro do ambiente de produção discursiva, quais
práticas e processos de significação estão sendo elaborados e como os elementos
intersubjetivos são acionados pelos atores sociais. Ao analisar o contexto local, o sujeito
15
mesmo inserido na comunidade, a sua enunciação está repleta de perspectivas outras e
diversas, causando estranhamento por parte dos ouvintes.
A análise do fenômeno ocorrido na transmissão radiofônica da Rádio 104FM
descreve como o acontecimento, anúncio de programação musical, não se converteu em
“fenômeno discursivo” por parte dos ouvintes. É decerto que, este discurso do outro é o
imperativo de uma “concepção da comunicação como incerteza complexa traz para o
entendimento do sujeito da comunicação e do social” (SANTAELLA, 2010, p.341), onde
neste sentido, a enunciação estabelece correlações entre o que é ou não é verdadeiro. Os
valores ausentes/fragmentados, das verdades ou não, ocorre quando o sistema de
representação (enunciador/locutor) e o sistema do representado (receptor/ouvinte) não
atua como na relação “um-um, mas um-muitos” (Op. cit, p.341).
O ato comunicativo é compreendido quase em uma dimensão integrada a uma bios
orgânica e simbiótica, uma vez que estabelecemos a todo tempo correlações de sentido,
“em uma conversação, os signos são emitidos, de um lado, e recebidos, de outro” (Op.
cit, 2010, p. 362), o desafio desta assertiva se faz quando necessitamos desvendar um
esquema que se “desenvolve até chegar à tradução de um signo em um outro signo” (p.
362) desenvolvida no interior de um aparelho radiofônico que chega ao receptor não mais
como um signo, mas como ruído/estranhamento. Nos parece neste sentido que a realidade
em si mesma, fruto da interlocução humana perdeu sentido.
Nesta estrutura midiática que complexifica e “coisifica” papéis, o locutor da rádio
comunitária 104FM assumiu o papel de outro sujeito que enuncia (entonação) mas, que
devido aos ruídos do aparelho “fonador” incompatível e do dispositivo tecnológico,
“novas condições, produtores/receptores de discurso” (FAUSTO NETO, 2010, p.3)
foram criadas, dando origem ao outrem dentro no espaço radiofônico. O outrem é o
sujeito indeterminado, deslocado geograficamente, desterritorializado de vínculos,
estranho ao público ouvinte.
Na atual realidade dos dispositivos da comunicação comunitária, a técnica passou
a condicionar o comportamento e atuação de seus locutores. Na pesquisa de campo sobre
o funcionamento da Rádio 104FM, o responsável técnico na locução era Joaldo Silva que
durante a entrevista, apresentou voz, sotaque e entonação compatível com a população da
cidade. A transmutação ocorre, quando ao “abrir” o microfone da rádio surge por trás da
mesa de som, este outro comunicante que, ao enunciar as atrações, irradia pelas ondas
eletromagnéticas da frequência modulada, o sujeito outrem.
16
Diante desta nova complexidade, a problemática da circulação advém de uma
enunciação cujo efeito resulta em perdas/não sincronias discursivas entre o emissor
(locutor) e receptores (jovens), resultando em um processo comunicativo radiofônico
comunitário situado em um “fluxo de dissonâncias” (FAUSTO NETO, 2010, p.10).
É decerto que a problemática de ordem sistêmica e circulatória revela uma ruptura
no “contrato de leitura” e na real possibilidade dos elos comunitários, da experiência
local, cuja produção/recepção são retroalimentadas simetricamente.
O ato comunicativo na rádio comunitária passou a ser vinculado sob uma nova
lógica estruturante discursiva, onde o microfone da rádio transfere o sujeito falante e o
desloca para um outro e novo espaço-tempo territorial e de pertencimento.
17
O papel do progresso: operações de midiatização dos sentidos
sobre a implantação da Fábrica Suzano Papel e Celulose, na
mídia de Imperatriz-MA
Marcos Fabio Belo Matos
Palavras-chave: Jornalismo; Suzano; Circulação; Sentidos; Midiatização.
RESUMO EXPANDIDO
Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar as operações de midiatização dos
sentidos sobre a implantação da Fábrica Suzano de Papel e Celulose, na cidade de
Imperatriz-MA. Trata-se de um estudo de caso, embasado em levantamento documental
e pesquisa quantitativo-qualitativa. Para empreender essa investigação, foi montado um
corpus, a partir do cotejamento de acontecimentos informativos que referenciavam o
processo de implantação da empresa, publicados no jornal O Progresso e em 8 blogs
locais de informação – Blog Asmoimp, Blog da Kelly, Blog do Elson Araújo, Blog do
Josué Moura, Blog do William Marinho, Blog do Jhivago Sales, Blog do João Rodrigues
e Blog Notícia da Foto. Cabe informar que o jornal foi selecionado por ser o mais antigo
e tradicional da cidade e os blogs, pelo seu caráter de representatividade informativa local.
Tal corpus compreende 10 acontecimentos, que cobrem um percurso histórico do início
da construção da empresa, em março de 2011, à sua inauguração, em março de 2014. São
notícias e reportagens, divulgadas, simultaneamente, no jornal e nos blogs – há casos em
que a mesma notícia foi publicada no jornal e em mais três, quatro e até cinco blogs. A
escolha dessa simultaneidade se deveu à necessidade de se analisar a circulação
informativa dos assuntos relacionados à fábrica nos dispositivos estudados. A
investigação tem um cabedal teórico que se divide entre os pressupostos teóricos da
midiatização - ancorados em autores como Fausto Neto (2005-2006), Gomes (2015),
Soster (2009), Hjarvard (2014), Braga (2006); os aspectos da cartografia comunicacional
de Imperatriz, referenciados em textos de Bueno, Fonseca (2013); Bueno, Batalha (2015);
Gehlen (2015); Assunção, Pinheiro (2012); a história econômica local, estudada a partir
da obra de Franklin (2008) e o novo perfil do leitor em relação ao jornalismo digital,
baseado em Bueno, Reino (2014) e Reino (2016). Com tal aporte teórico, pretende-se
desvelar os engendramentos efetivados, na conjuntura dos dispositivos estudados, para a
18
publicização dos sentidos sobre o processo de implantação da Suzano, como: a) a
uniformização informativa, verificada no fato de que, dos 10 acontecimentos publicados
no jornal e nos blogs, nada menos de 9 foram produzidos, na forma de releases, pelas
assessorias de comunicação da própria Suzano, da secretaria de comunicação (secom) do
governo do estado e da assessoria de comunicação (ascom) da prefeitura de Imperatriz e
publicados, na íntegra ou com pequenas modificações; b) a institucionalização das vozes,
na forma de divulgação, nas 10 matérias estudadas, apenas das falas de fontes ligadas à
Suzano ou aos órgãos públicos interessados na implantação; c) a narrativização
personificada, verificada no fato de a empresa, no seu “percurso informativo”, narrar-se
com muita frequência (por exemplo: das 10 matérias estudadas, em 9 delas o nome da
empresa vem no título e, dessas, em 7 o nome da empresa é a primeira palavra do título),
além de empreender um percurso de encadeamento de ações que guarda similaridades
com a estrutura de uma narrativa clássica; d) uma relação bastante precária com o leitor
dos dispositivos, verificada numa quase inexistência da presença do leitor no material
estudado – em três anos de cobertura jornalística, apenas se verificaram 3 comentários
em matérias, e, ainda assim, todos ficaram sem resposta ou “conversação”, sinal claro de
que o dispositivo interacional do comentário, que é uma das características fundantes de
um jornalismo midiatizado, não se efetivou nesse processo. O resultado da efetivação de
tais estratégias, pela análise realizada, é a produção e a circulação de um sentido bastante
positivado – e controlado – sobre a implantação da Suzano em Imperatriz. Processo cujas
causas estão ainda a ser investigadas.
Referências
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jornais impressos em tempo de mudança (1970- 1989). In: REVISTA BRASILEIRA
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Compós, na Unesp, Bauru, em julho de 2006.
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BRITO, Nayane Cristina Rodrigues, MACIEL, Alexandre Zarate. Começou o jornal na
rádio Imperatriz. II ENCONTRO NORTE-NORDESTE DE HISTÓRIA DA MÍDIA.
Universidade Federal do Piauí, 20 e 21 de junho de 2012. Anais.
19
BUENO, Thaisa, PESSOA, Jordana. Blogando nas barrancas do Tocantins: uma proposta
de mapeamento da blogosfera imperatrizense. IV SIMPÓSIO DE
CIBERJORNALISMO. Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Campo Grande.
28ª 30 de agosto de 2013. Anais.
BUENO, Thaisa, BATALHA, Sara. Plugado na rede: levantamento apresenta os
primórdios da mídia de Imperatriz (MA) na internet. 10º. ENCONTRO NACIONAL
DE HISTÓRIA DA MDIA. Universidade Federal do Rio Grande de Sul. 03 a 05 de
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DE VOLTA AO JOGO. Revista Época Negócios. Editora Globo, 06.11.2015.
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FAUSTO NETO, Antonio. As bordas da circulação. ALCEU - v. 10 - n. 20 - p. 55 a 69
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20
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SOSTER, Demétrio de Azeredo. O jornalismo em novos territórios conceituais:
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de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São
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SUZANO. Disponível em: http://www.suzano.com.br/portal/grupo-suzano.htm. Acesso
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JORNAIS PESQUISADOS.
O Progresso. Edições de 2011. (versão impressa)
O progresso. Edições de julho de 2011 a março de 2014 (versão online). Disponível em:
http://www.progresso.com.br.
BLOGS PESQUISADOS:
Blog Asmoimp. Disponível em: http://www.asmoimpcomduduzao.com.br
Blog do Elson Araújo. Disponível em: https://porelsonaraujo.blogspot.com.br
Blog da Kelly. Disponível em: http://www.blogdakellyitz.com.br
Blog do João Rodrigues. Disponível em: http://www.blogsoestado.com/joaorodrigues
Blog do Josué Moura. Disponível em: http://josuemoura.blogspot.com.br
Blog do Jhivago Sales: http://www.jhivagosales.com.br
Blog Notícia da Foto. Disponível em: http://www.noticiadafoto.com.br
Blog do William Marinho. Disponível em: http://www.willianmarinho.com.br
21
A construção do leitor em sites jornalísticos:
aberturas, regulações e silenciamentos
Micael Vier Behs
Unisinos
Palavras-chave: circulação; contrato de leitura; interação
RESUMO EXPANDIDO
Ao dissertar sobre o que intitula de “a revolução do acesso”, o semiólogo argentino
Eliseo Verón (2013, p. 279) analisa os efeitos da rede enquanto lugar gerador de
profundas transformações nas relações entre os atores individuais e os fenômenos
midiáticos. De fato, se até os primeiros anos da virada do século o leitor constituía-se
enquanto um personagem inexplícito e silencioso, orientado por trilhas de leitura
predeterminadas por “contratos de leitura” orientados pelo polo produtivo, o alargamento
dos dispositivos comunicacionais dispostos em rede redefiniu os vínculos interativos
entre os media e os seus utilizadores, relegados à condição de co-gestores enunciativos
dotados de autonomia – embora relativa – para operar as tecnologias de informação.
Nestes termos, a arquitetura informacional que configura a “sociedade em vias de
midiatização” (FAUSTO NETO, 2006) redefiniu os protocolos que até então regularam
os elos interativos entre produtores e atores individuais, ampliando as possibilidades de
contato entre essas duas instâncias historicamente distanciadas por diretrizes regulatórias
controladas pelo campo dos media, a exemplo das tradicionais “cartas do leitor”, espaço
no qual “o jornal explicitava a sua vocação mediadora e, ao mesmo tempo, buscava a
consolidação do acesso do leitor à realidade das mídias” (FAUSTO NETO, 2013, p. 4).
Levando em consideração a emergência de uma ambiência midiática em que os
trabalhos de produção e recepção encontram-se cada vez mais imbricados, fazendo por
vezes confundir essas duas instâncias, o problema que circunscreve a escrita deste artigo
está centrado em descrever os efeitos da comunicação gerida em rede na organização de
protocolos que estruturam os elos de conectividade entre mídias noticiosas e utilizadores
através do desenvolvimento de pesquisa de caráter teórico-empírico. Mais
especificamente, a proposta do artigo é analisar de que forma sites jornalísticos constroem
o seu leitor convocando-o à “interatividade seletiva”, através do manuseio de
22
determinados conteúdos, ou então à “interatividade comunicativa”, possibilitando-o real
protagonismo através da produção de conteúdos que tensionam as produções noticiosas
originais, seja no site, seja na rede social (ROST, 2014).
Segundo descreve Rost (2014, p. 57), a interatividade seletiva possibilitaria ao
utilizador “fazer coisas” sobre os conteúdos ao longo do processo de recepção, enquanto
a interatividade comunicativa transcenderia essa recepção individual, ofertando a
possibilidade de o leitor produzir conteúdos que, fundidos à produção original dos media
e tensionados pelas produções de outros leitores, permitiria a comunicação avançar
sempre à frente através de sucessivos movimentos circulatórios.
Colado ao conceito de interatividade, a análise proposta permitirá identificar
marcas do “contrato de leitura” acionado pelos sites jornalísticos, termo que designa as
“regras, estratégias e ‘políticas’ de sentidos que organizam os modos de vinculação entre
as ofertas e a recepção dos discursos midiáticos e que se formalizam nas práticas textuais,
como instâncias que constituem o ponto de vínculo entre produtores e usuários”
(FAUSTO NETO, 2007, p. 10). Na perspectiva de Verón (2004), todo ato de leitura
pressupõe uma ação pragmática de mobilização dos sentidos, não havendo uma
correspondência direta entre os efeitos pretendidos pela produção e aqueles
ressignificados em processos de recepção. Daí emergem também as problemáticas em
torno das defasagens entre produção e recepção, explicitando a complexidade da
construção de sentidos numa ambiência de fluxos circulatórios multidirecionais.
É preciso considerar que o campo receptor, convertido à condição de um co-gestor
enunciativo no ambiente digital, também mobiliza uma multiplicidade de “gramáticas”
“sobre as quais se fundariam seus próprios contratos ou com os quais manejariam o
contrato em oferta” (FAUSTO NETO, 2007, p. 13). Essas múltiplas gramáticas, por sua
vez, permitem transparecer dimensões situacionais e simbólicas mobilizadas pelos atores
sociais quando confrontados com as ofertas de sentido dadas a conhecer pelo campo da
produção.
A título de hipótese, sugiro que os sites jornalísticos instauram modalidades
interativas através do acionamento de estratégias distintas. Por um lado, consolidam a
interatividade seletiva ao possibilitar a escolha de um repertório de possíveis ações que,
predefinidas pela instância produtiva, permitem ao leitor “fazer coisas” em relação ao
conteúdo: compartilhar as reportagens em diferentes redes sociais, ouvir o texto, enviar
por e-mail, copiar a url curta, imprimir as notícias, cadastrar-se a um leitor de feed de
23
notícias, além de escolher o tamanho da fonte para a visualização dos materiais. Todas
essas modalidades interativas, no entanto, não pressupõe o estabelecimento de elos
conversacionais entre produção e recepção.
Por outro lado, o leitor é convidado a ingressar às lógicas de produção através da
possibilidade de comentar os materiais publicados, situação que o reportaria à condição
de um co-gestor enunciativo nos termos aqui propostos. No entanto, esse “ingresso” do
leitor à órbita produtiva é delimitado por uma série de protocolos – ser assinante dos sites
e concordar com uma série de termos de condições de uso – que, mesmo quando
transpostos, ainda assim não configuram efetivos vínculos interacionais entre os
dispositivos e o seus utilizadores/comentadores. Embora os sites se coloquem numa
suposta posição de escuta da recepção, não há uma devolutiva por parte do campo
jornalístico que, mesmo quando diretamente interpelado através das seções de
comentários, mantém-se numa posição de silenciamento. Essa situação gera impasses
entre o campo jornalístico e os atores sociais considerando que, num cenário em que o
silêncio de uma das partes se instala, torna-se impossível estabelecer qualquer movimento
conversacional na perspectiva de resolver o problema posto e alargar a comunicação. Ao
silenciar, o que fazem os dispositivos jornalísticos é suspender uma parte das
interlocuções possíveis, na medida em que as trocas passam a estar restritas ao processo
interacional entre os próprios comentadores, eliminando a possibilidade de interação
entre comentadores e jornalistas.
Além disso, os protocolos de uso associados aos dispositivos, em sua maioria,
censuram comentários que, em tese, violem os termos e condições de uso do espaço.
Verifica-se, nestes casos, um trabalho de regulação engendrado pelo campo jornalístico
que, apesar de não tomar os comentários como insumo para mobilizar o alargamento dos
sentidos e das interações, explicita os tensionamentos derivativos desses espaços ao
impedir a visualização de certos comentários, a exemplo do que faz o site Folha.com,
como pode ser constatado no exemplo abaixo.
Na realidade, o que faz o dispositivo ao acionar a sua vocação coercitiva é tentar
reduzir a defasagem entre os efeitos de sentidos preconizados pela produção e os
24
múltiplos efeitos mobilizadas pelos indivíduos em seu processo interpretativo, via
recepção. Esse movimento, contudo, não é gerido através de um esforço de troca e
interação de discursos, o que desencadearia um embate interminável entre as retóricas
produtivas e de recepção via seções de comentários, mas sim através de um processo de
supressão da mensagem que irrita o sistema. É preciso considerar, contudo, que o simples
fato de se constatar uma série de mensagens “eliminadas” do espaço enunciativo
controlado pela instância jornalística revela um esforço de leitura e avaliação deste
material pelos peritos do campo dos media. Em outras palavras, se poderia afirmar que o
campo jornalístico produz as condições de acesso ao seu sistema, mas não gera as
condições de produção de sentido, regulando permanentemente o acesso com base nos
seus termos e condições de uso, espécie de “pedágio” a ser aceito pelo leitor quando
revestido da autonomia – relativa – de também produzir discursos em rede.
Por outro lado, é preciso destacar que embora os sites analisados não cedam lugar
à interlocução com os seus leitores, mesmo nos casos em estes interpelam explicitamente
o sistema, o campo jornalístico resgata para dentro da sua narrativa excertos midiáticos
produzidos por atores sociais em outros espaços enunciativos, estabelecendo construções
correferenciais promovidas pela potencialidade da circulação em rede. Nesse sentido, os
meios jornalísticos apropriam-se de discursos, materializados em outros meios, como
condição para legitimar o avanço do seu processo de noticiabilidade. Em meio a esses
processos que, muito antes de serem definidos pelas teorias das redes, são definidos pela
teoria da interdiscursividade, o campo jornalístico reedita os materiais e os converte em
objetos dinamizados pelas suas próprias práticas produtivas (FAUSTO NETO, s/d)7.
Embora neste resumo expandido os objetos não tenham sido explicitados, a análise
estará centrada nas estratégias de contato dos sites Folha.com e Globo.com junto ao seu
conjunto de leitores, considerando a abrangência destes espaços jornalísticos e a minha
relação de leitor/pesquisador junto a eles. O desafio que se coloca, no entanto, é identificar
um corpus de materiais capazes de explicar as complexas relações descritas acima,
dinamizando a escrita do artigo e oferecendo a ele uma perspectiva teórico-empírica.
7 Formulação extraída de conversa com o professor em torno da problemática apresentada.
25
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mobilidade da recepção na ambiência jornalística. Salvador: Compós, 2013.
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apresentado no encontro da Rede Prosul – Comunicação, Sociedade e Sentido, no
seminário sobre Midiatização, UNISINOS, PPGCC, São Leopoldo, 2005.
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2004.
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sete características que fazem a diferença. Covilhã: UBI, 2014.
26
A crise da Odebrecht a partir de atores sociais: novas relações
na sociedade em vias de midiatização.
Noele Bolzan Duarte
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos
Palavras-chave: Midiatização, organizações, Odebrecht, gestão de crise.
RESUMO EXPANDIDO
Os novos processos de circulação de mensagens, além de organizarem uma nova
arquitetura comunicacional, produzem novos modos de interação entre instituições,
mídias e atores sociais (FAUSTO NETO, 2010). Observa-se que tal processo se dá cada
vez mais com a participação dos atores sociais midiatizados que, pode-se dizer, também
atuam como produtores, mobilizam forças e configuram novos tipos de relações,
inclusive com as organizações. Estas, a priori, precisam geri-las.
Em 2015, a organização Odebrecht passou a ser investigada pela Polícia Federal
brasileira através da Operação Lava-Jato. Com isso, o segundo maior grupo privado do
país passa a enfrentar uma crise. Em junho do mesmo ano foi decretada a prisão
preventiva do então presidente Marcelo Odebrecht e executados mandatos de busca e
apreensão nas sedes da organização. Um dia após o episódio, mais de duas centenas de
colaboradores da Odebrecht colocaram-se em frente ao seu edifício-sede, em São Paulo,
e exibiram um mosaico com a frase “Somos todos Odebrecht”, ao mesmo tempo que
gritavam a palavra “orgulho”. Atitudes semelhantes ocorreram nas sedes do Rio de
Janeiro, Salvador e Angola. Segundo reportagem da Revista Isto É8, colaboradores
verificaram a hipótese de se tratar de um convite formal da empresa, o que não se
confirmou.
A manifestação dos colaboradores foi divulgada em revistas9, sites10, e foi gerado
um movimento nas redes digitais em que estes atores sociais inseriam uma imagem com
a marca da organização contendo a frase “Somos todos Odebrecht” nos espaços para fotos
de perfil. A Odebrecht, através dos meios de comunicação e perfis institucionais como
8 KROEHN, Márcio. A Odebrecht além da crise. Isto É Dinheiro, 26 jun 2016. Seção Negócios, p. 13. 9 Isto É, Valor Econômico. 10 Folha de São Paulo, Veja São Paulo, Isto É.
27
site, fanpage do facebook, instagram e twitter, divulgou a ação, a qual passou a fazer parte
das estratégias de comunicação empreendidas pela organização na gestão da crise de
imagem.11
A partir disso pode-se observar que as operações de midiatização afetam as
práticas institucionais e que os atores sociais, em relação com a organização, são agentes
de novas formas de produção e reconhecimento de mensagens/sentidos. Também,
conforme argumenta Ferreira (2008), a inscrição dos discursos institucionais e dos
indivíduos em dispositivos midiáticos inseridos na circulação transforma a própria
circulação midiática.
A manifestação, promovida por atores sociais ligados à Odebrecht diante de um
acontecimento gerado dentro do campo institucional reverbera, incide e produz
movimentos dentro do campo das mídias12. Observa-se, ainda, que parte dos atores
sociais uma alternativa ao protocolo comunicativo institucional.
Diante da crise de imagem e da ação comunicacional dos atores sociais
diretamente ligados à Odebrecht, ou seja, seus colaboradores, a organização desenvolve
circuitos tentativos (BRAGA, 2012), assim caracterizados pela necessidade de
experimentação que, entendemos, é típico das situações de crise: sempre imprecisas,
imediatas, quase que exclusivas (ROSA, 2007).
No caso estudado, identifica-se na relação entre a mídia e a Odebrecht a utilização,
por esta, de lógicas típicas do campo midiático e de mensagens/sentidos que nesse campo
faz circular; ao mesmo tempo que no campo das mídias a Odebrecht não pode,
necessariamente, impor suas próprias ideias e lógicas.
Por sua vez, os atores sociais também são afetados por circuitos tentativos
realizados pela Odebrecht na gestão da crise de imagem que enfrenta; pelo campo
midiático e, também, pelos atores sociais diretamente ligados à organização
11 Um "acontecimento que, pelo seu potencial explosivo ou inesperado, tem o poder de desestabilizar
organizações e governos e suscitar pauta negativa. São acidentes, denúncias, violação de produto, assaltos,
crime envolvendo a empresa ou seus empregados, processo judicial, concordata ou crise financeira,
reclamação grave de clientes ou fatos semelhantes” (FORNI, 2002, p. 373). Apesar da importância do tema,
trata-se de uma cultura recente no Brasil: “as crises de imagem são eventos cada vez mais presentes, mas
ainda constituem um campo da sociedade brasileira praticamente não devastado e quase nada explorado
pelos principais agentes e instituições do país” (ROSA, 2007, p. 21). 12 Ao tratar da formulação de aspectos importantes do processo de midiatização, Verón (1997) desenvolve
um esquema no qual constam três campos: o das instituições, o das mídias e o dos atores sociais, cujas
concepções utilizamos neste trabalho. No esquema são observadas “quatro zonas de afetações ou de
processos de midiatização” (FAUSTO NETO, 2005, p.11): a relação dos meios com as instituições, a
relação dos meios com os indivíduos, a relação das instituições com os indivíduos e a maneira pela qual os
meios afetam as relações entre os meios e os indivíduos.
28
(colaboradores), que utilizam as lógicas do campo midiático para posicionarem-se e
produzirem sentidos positivos à Odebrecht.
A mídia, então, não necessariamente ocupa o lugar central no processo de
midiatização da crise de imagem da Odebrecht no contexto da Operação Lava-Jato. Por
sua vez, os atores sociais estão em vários “lugares”, eles flutuam nos espaços que ocupam
conforme os papéis que desempenham; estão inclusive dentro da organização, produzindo
para além de suas lógicas. O ator social não é aquele que vem de fora e afeta a
organização, ele está dentro dela, se afeta (e é afetado) e contamina outros atores sociais
(ao mesmo tempo que também é contaminado). É ator social e, ao mesmo tempo, é parte
da organização.
Quanto à ideia de gestão de crise de imagem pensamos que, em um cenário de
midiatização, o sentido escapa, é co-produzido. Assim, “gestão” torna-se tema
controverso, na medida em que não poderia ocorrer de fato. Entendemos, sim, que as
organizações precisam articular relações, e esse processo se dá cada vez mais com a
participação dos atores sociais midiatizados, que também se inserem como produtores e
mobilizam forças diante de instituições antes não convocadas. Incidem relações novas,
na sociedade em vias de midiatização.
Referências
BRAGA, José Luiz. Circuitos versus campos sociais. In: MATOS, Maria Ângela; JANOTTI
JUNIOR, Jeder; JACKS, Nilda Aparecida. Mediação e Midiatização: Livro Compós 2012.
Salvador/Brasília: UFBA/COMPÓS, 2012. p. 31-52.
FAUSTO NETO, Antonio. A circulação além das bordas. Mediatización, Sociedad y
Sentido: Diálogos Brasil y Argentina. Rosário: UNR, 2010. p. 2-17
FAUSTO NETO, Antonio. Midiatização- Prática social, prática de sentido. Encontro da rede
Prosul “Comunicação e processos sociais”, 2005, UNISINOS/PPGCC.
FERREIRA, Jairo. Um caso sobre a midiatização: caminhos, contágios e armações da
notícia. In: Midiatização e processos sociais na América Latina. São Paulo: Paulus, 2008.
FORNI, João José. Comunicação em tempo de crise. In: DUARTE, Jorge (org.).
Assessoria de imprensa e relacionamento com a mídia: teoria e prática. São Paulo:
Editora Atlas, 2002.
KROEHN, Márcio. A Odebrecht além da crise. Isto É Dinheiro, 26 jun 2016. Seção
Negócios, p. 13.
ROSA, Mário. A era do escândalo: lições, relatos e bastidores de quem viveu as grandes
crises de imagens. 4. ed. São Paulo: Geração Editorial, 2007.
29
VERÓN, Eliseo. Esquema para El analisis de la mediatización. Diálogos de la
comunicación. Lima, n. 48. p. 9-17, 1997.
30
Acesso e consumo de notícias jornalísticas em redes sociais:
notas metodológicas para a problematização da noção de
“participação”
Pedro Augusto Farnese de Lima
Telma Sueli Pinto Johnson
Universidade Federal de Juiz de Fora
RESUMO EXPANDIDO
Esta proposta integra o projeto de pesquisa intitulado “Jornalismo em redes sociais:
explorando remediações e modelos de negócios emergentes”, em desenvolvimento desde
2014. O trabalho investiga estratégias editoriais e mercadológicas de marcas jornalísticas
tradicionais no contexto brasileiro em sites de redes sociais.
Na fase atual do projeto, o interesse volta-se para a compreensão de formas de consumo
e apropriação de notícias de marcas jornalísticas tradicionais presentes no Facebook. O
foco é problematizar a noção de interação dos leitores nesta plataforma midiática, fazendo
o contraponto com elementos da qualidade da participação, para além das práticas de
“curtir” e “compartilhar”. Busca-se identificar e compreender, assim, gêneros e editorias
que geram o maior número de comentários entre os leitores.
O estudo parte do pressuposto que a categoria “comentário”, em redes sociais, configura-
se como uma forma de participação mais ativa e elaborada, sob o viés da interação
comunicativa humana, do que formas mais simplistas e automatizadas de clicar e enviar
(PRIMO, 2007; ROST, 2014). O referencial teórico diferencia noções de mediatização,
mediação e interação (HJARVARD, 2008; SODRÉ, 2006) para propor um quadro
metodológico que faça a distinção qualitativa, para fins analíticos, de práticas e níveis de
interação no consumo de notícias de marcas tradicionais.
A problematização sobre as formas de interação no acesso, consumo e apropriação de
notícias em sites de redes sociais coloca-se como questão pertinente e relevante num
cenário em que programas de software ganham cada vez mais sofisticação e ubiquidade
na tarefa de imitar usuários humanos (GILLESPIE, 2014; REUTERS INSTITUTE, 2016;
SANTI, 2015; WOOLEY, 2016), sendo utilizados para os mais variados propósitos pela
via da coleta e filtragem de informações.
Nessa perspectiva, adotou-se como objeto empírico a página do jornal Estado de S. Paulo
no Facebook, tomando como base pesquisa realizada pela empresa norte-americana Bites
e divulgada no Portal Imprensa, que apontou o Estadão como o veículo com maior poder
31
de engajamento na internet no Brasil em 2015 (PORTAL IMPRENSA, 2015). O modelo
metodológico de análise de conteúdo híbrida de Bauer (2008) foi aplicado, num primeiro
momento, para a construção de um corpus de dados qualiquantitativos. A página do
Estadão foi monitorada entre os dias 14 e 16 de outubro de 2015, com a coleta de 185
postagens (média de 61,6 publicações por dia).
Num segundo momento, técnicas de categorização das formas e níveis de interação dos
usuários de notícias do Estadão foram empregadas para a classificação da qualidade da
participação. A categorização inicial baseou-se na proposta do Reuters Institute for the
Study of Journalism (2016), da University of Oxford, sobre consumidores de notícias
passivos, reativos e proativos em graus de engajamento.
Para as finalidades da pesquisa, um quadro comparativo entre curtidas,
compartilhamentos e comentários foi construído, com base em gêneros e editorias
jornalísticas, para a identificação dos níveis de interação dos usuários a partir do conteúdo
publicado pelo jornal no Facebook. Uma combinação da proposta de sistematização de
valores-notícia para operacionalizar análises de acontecimentos noticiados ou noticiáveis
de Silva (2013) com as definições de hard e soft News de Sousa (2002), foi realizada para
a categorização dos tipos de notícias que alcançaram mais comentários dos leitores.
Os resultados preliminares mostram um predomínio maior de notícias Soft News durante
os três dias na relação entre compartilhamentos e comentários. As editorias que mais
apareceram foram “Mais” e “Cultura”, o que sugere que o público tem mais interesse por
informações amenas, que envolvem cultura, curiosidades e pesquisas. Já as notícias de
natureza Hard obtiveram um maior destaque no número de participação dos internautas,
de acordo com nossa métrica, tratando de assuntos mais factuais e polêmicos.
Outro ponto que chamou a atenção foi o volume de postagens que privilegiam opinião a
partir de articulistas, blogs com orientações diversas e análises de situações do cotidiano.
Esse número elevado de informações analíticas e contextualizadas, privilegiando um
conteúdo mais opinativo, pode justificar o título de veículo com maior engajamento da
internet, uma vez que o publico se vê diante de pontos de vista convergentes ou
divergentes aos seus, o que suscita o debate e gera comentários a partir do momento que
há um processo de identificação.
32
Referências
BAUER, M. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M.; GASKELL, G.
(Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático, 7 ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
HJARVARD, Stig. Midiatização: teorizando a mídia como agente de mudança social e
cultura. Matrizes, v.5, n.2, jan-jun/2012, p.53-91.
PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura,
cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007.
REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JOURNALISM. Reuters Institute
Digital News Report 2016. Oxford: University of Oxford Press, 2016.
ROST, Alejandro. Interatividade: Definições, estudos e tendências. In: CANAVILHAS,
João (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Covilhã, PT:
Livros LabCom, 2014, p. 53-88.
SILVA, G. Para pensar critérios de noticiabilidade. In: SILVA, G.; SILVA, M. P.;
FERNANDES, M. L. (ORG.). Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais e
aplicações. Florianópolis: Insular, 2013.
SODRÉ, Muniz. Eticidade, campo comunicacional e midiatização. In Sociedade
Midiatizada, Denis de Moraes (Org.). Rio de Janeiro: Mauad, 2006, p. 19-32.
SOUSA, J. P. Teorias da notícia e do jornalismo. Argos: Chapecó, 2002.
33
A regulação das interações através da constituição de
circuitos-ambientes: o caso das pesquisas de intenções de voto
nas eleições presidenciais em 2014 - primeiro turno.
Ricardo Vernieri de Alencar
Universidade Estadual do Piauí – UESPI
Palavras-chave: Midiatização. Circulação. Circuito-ambiente. Pesquisa de Opinião
Pública. Eleição.
RESUMO EXPANDIDO
Este artigo propõe-se a examinar como estabelecem-se as inter-relações e como adaptam-
se as várias instituições e agentes posicionados diante da entrada de uma nova informação
em um circuito-ambiente midiatizado nas eleições presidenciais de 2014. Como questão
central procurou-se entender como se dá o processo de circulação num ambiente que se
transforma, se adapta, a uma nova informação em um circuito-ambiente midiatizado?
Observando os fatos políticos gerados pelas candidaturas às eleições presidenciais do ano
de 2014 e pelas repercussões junto à indústria midiática, visualizamos que a construção
de um circuito-ambiente, onde o processo de circulação de sentidos no contexto
intermidiático passa ser objeto de regulações tentativas. Constitui-se uma chave-mestra
na “guerra” estabelecida em seu âmbito, entre as instituições midiáticas, as instituições
midiatizadas e atores individuais midiatizados. Como recurso metodológico para
observação do fenômeno empírico escolheu-se a configuração do caso na perspectiva do
método. Na construção do argumento abdutivo usou-se a tríade materiais, indícios e
inferências, essas foram sucessivamente diagramadas. Tendo como perspectiva a
midiatização, partimos dos indícios observados no contexto das interações entre
instituições do campo jornalístico, político e econômico, decorrentes das apropriações
dos resultados de diversas pesquisas de intenções de votos sobre o processo eleitoral de
2014. Estabelecemos um processo reflexivo sobre o ambiente de investigação que
procuramos definir como caso, portanto, estruturamos a descrição do caso sob a ótica do
circuito-ambiente tendo como instâncias ou polos de investigação, instituições midiáticas,
instituições midiatizadas e atores sociais/individuais. Para tal, construímos o desenho do
34
circuito-ambiente acerca de nosso objeto de investigação, a fim de levantarmos
inferências das incessantes interações entre os antagonistas envolvidos no caso.
Figura 1 – Circuito em Ambiente em Investigação
Nas observações preliminares, verificamos certo antagonismo nos direcionamentos dos
discursos produzidos pelos campos político e jornalístico ao tratar das pesquisas de
intenções de voto para Presidente da República. Partimos de um pressuposto que tais
encaminhamentos configuram-se em uma disputa de forças derivada das referências
simbólicas que acionam estratégias discursivas. Esse conflito se estabelece a partir das
relações, tensões e choques entre os campos, e, portanto, nosso interesse investigativo
compreendeu delimitar as relações constituídas entre as estratégias acionadas por cada
campo social em questão.
O ponto de inicial para a construção do caso e produção de inferências deu-se na
observação dos acontecimentos midiáticos de natureza política e eleitoral transcorridos
no período da campanha presidencial em 2014. Quanto a lógica da construção do
empírico seguimos a sequência: mídia > resultados pesquisas de opinião pública >
interações intramidiáticas e intermidiáticas entre os campos político e jornalístico >
repercutindo nos meios/dispositivos midiáticos envolvidos no processo eleitoral.
A partir dessas observações preliminares delineamos o caso optando por um corpus de
pesquisa onde foram observados os polos pertencentes ao objeto ambiente investigado:
• a pesquisa de intenções de voto;
– pesquisas realizadas pelo Instituto Datafolha;
• atores sociais correlatos ao campo jornalístico;
– edições digitais do jornal Folha de São Paulo;
• atores sociais correlatos ao campo político;
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– Coligação “Com a força do povo” (liderada pelo Partido dos
Trabalhadores - PT) tendo Dilma Rousseff como candidata;
– Coligação “Muda Brasil” (liderada pelo Partido da Social Democracia
Brasileira – PSDB), capitaneada pelo candidato Aécio Neves;
– Coligação “Unidos pelo Brasil” (liderada pelo Partido Socialista
Brasileiro - PSB), apresentando inicialmente como candidato Eduardo
Campos e após a sua morte substituído por Marina Silva;
• os agentes de mercado privado inscritos em meios do campo jornalístico
correlatos ao campo econômico.
A sistematização da descoberta de indícios e a produção de inferência deu-se a partir
das pesquisas do Instituto de Pesquisas Datafolha – Datafolha relativas ao 1º turno do
processo eleitoral e os seus desdobramento de seus resultados nas edições digitais do
jornal Folha de São Paulo a partir da homologação das candidaturas dos partidos políticos:
• 15 e 16 de julho de 2014, a primeira após o início da campanha eleitoral;
• 14 e 15 de agosto de 2014, realizada após a morte do candidato Eduardo Campos
(PSB);
• 28 e 29 de agosto de 2014, realizada após a oficialização do nome de Marina Silva
como candidata pelo PSB;
• 08 e 09 de setembro de 2014, que possui como aspecto relevante o início da queda
de Marina Silva (PSB) no percentual de intenções de voto;
• 29 e 30 de setembro de 2014, que apresenta a consolidação de Dilma Rousseff
(PT) no 2º turno e um acirramento na disputa pelo segundo lugar entre Marina
Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB).
Nas conclusões percebemos que o campo midiático traz à cena a pesquisa de intenção de
voto, na tentativa regular os discursos do campo político, conforme lógicas das
racionalidades de mercado. Isso induz o campo político a uma prática mercantil. Para
isso, ele se integra ao circuito-ambiente sugerido pela lógica da indústria cultural,
inclusive por sinergia e por uma lógica que se instala na audiência. Ocorre um auto
fortalecimento dos sistemas midiáticos e econômicos, com adesão de parcela do campo
midiático, que passa a ser hegemonizado no circuito estudado, por uma discursividade
que reconhece a lógica sugerida pelos mercados. A agonística se estabelece nesse novo
campo de sinergias.
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