a construção do mercado municipal

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A Construção do Mercado Municipal Recentemente, durante obras de manutenção da rede hidráulica ao lado do Correio, os funcionários da prefeitura encontraram um artefato indígena de pedra, o qual acostumamos a denominar, machadinha. Esta importante descoberta nos indica que em tempos remotos este largo teria servido a um aldeamento indígena, local próprio para tal estabelecimento pois é naturalmente plano, protegido de ventos por todos os lados, próximo a área de floresta para caça, por ser ter pesca abundante no rio Paraibuna e dispor de água potável. Deixa-se de se registrar a presença destes índios Tamoio já no final do século XVI, é o que descreveu Martim de Sá em grande expedição de apresamento que contou com o mercenário inglês Antony Knivet no ano de 1597, onde os mesmos apontam esta localidade próxima a nascente do rio Paraíba do Sul. Na oportunidade, afirma ter sido infrutífera a busca por índios nesta região, onde pretendiam capturá-los para servirem nos engenhos de açúcar nas cercanias de São Paulo de Piratininga. Historiadores que estudam a etno-história valeparaibana como Paulo Pereira dos Reis, crê, baseado em pesquisas de Teodoro Sampaio, que a emigração dos últimos Tamoios em terras vale paraibanas deve ter ocorrido após 1597-1598. Portanto, podemos concluir que começando o ano de 1600, já se tornava possível a ocupação deste solo já que, enquanto os Tupinambás aqui habitavam, era humanamente impossível a formação de algum aglomerado populacional de homens brancos, fazendo surgir posteriormente o caipira, resultante da miscigenação entre colonizadores e índias remanescentes daqueles antigos aldeamentos. No livro de autoria de João Caldeira Neto no ano de 1933 cujo qual trata do centenário do município de Paraibuna (1832-1932) cita no capítulo 'A Senda luminosa de um grande povo': “A cavaleiro da povoação, ali nas encostas do rocio, localizava-se a chácara do Padre Valério Ferreira de Alvarenga (...) num cerrado vassoural que a sorte de nossos silvícolas, os livrava do bote virulento

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História da Construção do Mercado Municipal de Paraibuna/SP

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Page 1: A construção do mercado municipal

A Construção do Mercado Municipal

Recentemente, durante obras de manutenção da rede hidráulica ao lado do Correio, os funcionários da prefeitura encontraram um artefato indígena de pedra, o qual acostumamos a denominar, machadinha.

Esta importante descoberta nos indica que em tempos remotos este largo teria servido a um aldeamento indígena, local próprio para tal estabelecimento pois é naturalmente plano, protegido de ventos por todos os lados, próximo a área de floresta para caça, por ser ter pesca abundante no rio Paraibuna e dispor de água potável.

Deixa-se de se registrar a presença destes índios Tamoio já no final do século XVI, é o que descreveu Martim de Sá em grande expedição de apresamento que contou com o mercenário inglês Antony Knivet no ano de 1597, onde os mesmos apontam esta localidade próxima a nascente do rio Paraíba do Sul.

Na oportunidade, afirma ter sido infrutífera a busca por índios nesta região, onde pretendiam capturá-los para servirem nos engenhos de açúcar nas cercanias de São Paulo de Piratininga.

Historiadores que estudam a etno-história valeparaibana como Paulo Pereira dos Reis, crê, baseado em pesquisas de Teodoro Sampaio, que a emigração dos últimos Tamoios em terras vale paraibanas deve ter ocorrido após 1597-1598.

Portanto, podemos concluir que começando o ano de 1600, já se tornava possível a ocupação deste solo já que, enquanto os Tupinambás aqui habitavam, era humanamente impossível a formação de algum aglomerado populacional de homens brancos, fazendo surgir posteriormente o caipira, resultante da miscigenação entre colonizadores e índias remanescentes daqueles antigos aldeamentos.

No livro de autoria de João Caldeira Neto no ano de 1933 cujo qual trata do centenário do município de Paraibuna (1832-1932) cita no capítulo 'A Senda luminosa de um grande povo': “A cavaleiro da povoação, ali nas encostas do rocio, localizava-se a chácara do Padre Valério Ferreira de Alvarenga (...) num cerrado vassoural que a sorte de nossos silvícolas, os livrava do bote virulento de ocultos ofídios, local onde aconteceria (séculos depois) as feiras quinzenais e posteriormente domingueiras”.

No Almanach de Paraibuna editado no ano de 1909 por Francisco Campos, o autor obteve também por registro oral, informações sobre a primitiva ocupação do largo do rocio, onde relata as divergências políticas entre o Partido Conservador e Partido Liberal, obrigando os vereadores do Partido Conservador a 15 de outubro de 1834, dirigirem-se ao Presidente da Província de São Paulo, o Coronel Raphael Tobias de Aguiar, para comunicar estarem impossibilitados de realizar o sorteamento do Jurí.

‘‘ O dia que se designou para proceder o sorteamento o Júri (...) e aprontar o que fosse neçeçário (...) comtudo o Presidente da m.ma deo todas as provid.as afim de que não pereçeçe o serviço público, mandando à fazenda de Dona Maria Custódia de Alvarenga pedir as xaves do lugar, onde por obzéquio, tem a Câmara feito secções, não as enviou (...) mandando dizer que se serviçem de outro local”

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Esta cidadã de nome Maria Custódia era esposa do Capitão Antônio José de Carvalho, mãe do Cel. Marcellino José de Carvalho e irmã do Padre Valério Ferreira de Alvarenga que estaria a emprestar o imóvel de seu irmão para realização das seções Legislativas. Este imóvel seria então a sede da chácara do Padre Valério, tal qual encontramos no Almanack de 1909 que compreendia terras no rocio, popularmente conhecido como ‘‘Fundão’’ onde os vereadores passaram a se reunir depois de Paraibuna se desmembrar administrativamente de Jacareí a 10 de Julho de 1832.

Acrescentamos que neste período, não só o poder Legislativo não dispunha de espaço próprio para suas atividades, não havia salas para o Judiciário, nem cadeia para presos, só o pelourinho provavelmente estaria fincado no centro do Largo. Vamos encontrar outro documento datado do ano de 1886 que se refere à casa da chácara do Padre Valério no ajuste de contrato para construção do Mercado.

O presidente da Câmara Municipal, o Capitão José Porfírio da Silva, firmou empreita com o italiano Constantino Baldini ao custo de R$ 5:000$00 (cinco contos de réis) enumerando os procedimentos a serem observados, a utilização da planta, a qualidade dos materiais empregados, os prazos de entrega em cada etapa etc.

Em determinado trecho deste contrato encontramos a descrição ‘‘... e demolir os quartos (do prédio) da Câmara (...) e está autorizado o uso do material resultante desta demolição na edificação da Casa de Mercado’’.Ao observarmos a complexa engenharia de montagem do madeirame de seu telhado, estamos então olhando para o material resultante da demolição da casa onde funcionou a primeira Câmara Municipal de Paraibuna.

Este Padre taubateano, que tinha fama de ser extremamente severo, tinha muita afinidade com Imperador D. Pedro I, já que tinha assento no Conselho Geral da Província, chefe político do Partido Liberal em Paraibuna, suplente de Deputado por São Paulo na 2ª Legislatura de 1830 a 1833 e Deputado na 3° Legislatura de 1834 a 1837.

Não estamos equivocados ao imputarmos a postura do Partido Liberal na demora para que Paraibuna fosse elevada a condição de Vila.Novamente no livro de Caldeira Neto encontramos referências aos reiterados pedidos do Cel. Marcellino para que Paraibuna adquirisse sua emancipação política, já que o regente do Império José da Costa Carvalho, respondia negativamente a estes pedidos devido a posição contrária de parcela da população sobre forma de Governo.

O Padre Valério Alvarenga residia na fazenda do Rio Claro, a qual encontramos nos livros de história como sendo a pioneira no cultivo de café no Estado de São Paulo antes do primeiro Império, localizada ás margens da estrada para Caraguatatuba e ainda proprietário de outro imóvel na praça da Matriz que servia de reduto político do Partido Liberal.

Nota-se aqui algo bastante curioso, que nos obriga a questionar o porquê do alto custo resultante desta nova construção levada a cabo pela Câmara Municipal de Paraibuna, datada do ano de 1887, portanto ainda sob o regime escravista no Brasil, o que nos leva a questionar por qual motivo se gastar tanto dinheiro para edificá-lo.

Sim, pois, se na construção do prédio fosse empregado o método construtivo comumente utilizado na época, ou seja, a taipa de pilão, o custo seria o mínimo, resultante apenas de alimentação para os negros composta por

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angu de fubá, gordura e toicinho de porco, feijão, café, mandioca, batata doce, rapadura, banana, goiaba, mandioca. Mas ao contrário, preferiram construir o Mercado com tijolos.

Como ninguém em Paraibuna sabia fazer tijolos, se fez necessário trazer imigrantes italianos - os mestres de ofício - que sabiam aplicar as ciências exatas na construção civil.

Os vereadores tiveram então que providenciar hospedaria para acomodar marceneiros, carpinteiros, oleiros, pedreiros, ajudantes, familiares e construíram uma olaria para confecção de tijolos onde foi gasto quase cinco vezes mais para deslocar e custear aqueles imigrantes europeus.

O que os levou a esta iniciativa?

Primeiro Paraibuna era uma cidade rica, com sua economia aquecida e comércio diversificado devido ao movimento tropeiro, o cultivo em larga escala de derivados da cana de açúcar e milho, a variedade de insumos alimentícios plantados na zona rural, o criatório de suínos e ainda milhares de arrobas de café enviadas aos portos de Caraguatatuba e São Sebastião. Segundo, porque já era sabido desde o início do século XIX, as vantagens do tijolo em comparação a taipa de pilão, já que o cozimento do barro para a fabricação de tijolos resulta num produto mais resistente a água. Consta ainda neste contrato o uso de cimento para o assentamento dos tijolos que conferia a edificação maior solidez. Quem eram os vereadores de Paraibuna a 126 anos atrás? Visionários. Homens dedicados a levantar um prédio que servisse a municipalidade por muitos anos. Acreditaram e conseguiram, pois foi construído no século XIX, atravessou o século XX e ainda está em perfeito estado neste século XXI.

Concluindo; se o prédio do Mercado continuar a receber da população e do Poder público o mesmo cuidado e atenção que vem recebendo até hoje, esta pérola da arquitetura brasileira vai trilhar triunfante ainda por muitos e muitos anos.