a construÇÃo do cerma na integraÇÃo regional dos refugiados, migrantes e apÁtridas resumo ·...

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A CONSTRUÇÃO DO CERMA NA INTEGRAÇÃO REGIONAL DOS REFUGIADOS, MIGRANTES E APÁTRIDAS Julia Stefanello Pires 1 Albert Vinicius Icasatti 2 RESUMO: Em todo o país, de acordo com o relatório do ano de 2016 do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), órgão ligado ao Ministério da Justiça, nos últimos cinco anos, as solicitações de refúgio no Brasil cresceram 2.868%, contudo o que se constata é a ausência de integração regional para migrantes e refugiados no Estado do Mato Grosso do Sul (MS) e no Brasil, como um todo. Dentre as 27 unidades da federação, apenas 6 já efetivaram juridicamente a estrutura de um Comitê específico para os assuntos de refugiados e migrantes em geral, quais sejam: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, sendo o este o mais recente dentre eles. Diante deste quadro, o presente estudo se propõe a realizar uma análise documental e bibliográfica das estruturas jurídicas e organizacionais dos Comitês criados, com enfoque na estrutura do CERMA/MS, destacando os pontos negativos e positivos do referido Comitê e refletindo sobre seu papel na integração regional dos refugiados e migrantes em geral no Estado do Mato Grosso do Sul. PALAVRAS CHAVE: MIGRANTES; APÁTRIDAS; REFUGIADOS; INTEGRAÇÃO REGIONAL; CERMA. RESUMEN: En todo el país, de acuerdo con el informe del año 2016 hecho por el Comité Nacional para los Refugiados (CONARE), órgano vinculado al Ministerio de la Justicia, en los últimos cinco años, las solicitudes de refugio en Brasil crecieron el 2.868%, pero lo que se constata es la ausencia de integración regional para migrantes y refugiados en el Estado de Mato Grosso del Sur (MS) y en Brasil, como un todo. Entre las 27 unidades de la federación, sólo 6 ya han hecho jurídicamente la estructura de un Comité específico para los asuntos de refugiados e inmigrantes en general, que son: Río Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Río de Janeiro, Minas Gerais y Mato Grosso Del sur, siendo éste el más reciente entre ellos. Ante este cuadro, el presente estudio se propone realizar un análisis documental y bibliográfico de las estructuras jurídicas y organizativas de los Comités creados, con enfoque en la estructura del CERMA/MS, destacando los puntos negativos y positivos del referido Comité y reflexionando sobre su papel en la integración regional de los refugiados e inmigrantes en general en el Estado de Mato Grosso do Sul. PALABRAS CLAVE: MIGRANTES; APÁTRIDAS; REFUGIADOS; INTEGRACIÓN REGIONAL; CERMA. 1 Advogada e acadêmica do programa de mestrado em Fronteiras e Direitos Humanos, ofertado pela Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, e-mail: [email protected]. 2 Assessor jurídico na Defensoria Pública Estadual do MS e acadêmico do programa de mestrado em Fronteiras e Direitos Humanos, ofertado pela Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, e- mail:[email protected] Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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Page 1: A CONSTRUÇÃO DO CERMA NA INTEGRAÇÃO REGIONAL DOS REFUGIADOS, MIGRANTES E APÁTRIDAS RESUMO · RESUMO: Em todo o país, de acordo com o relatório do ano de 2016 do Comitê Nacional

A CONSTRUÇÃO DO CERMA NA INTEGRAÇÃO REGIONAL DOS

REFUGIADOS, MIGRANTES E APÁTRIDAS

Julia Stefanello Pires1

Albert Vinicius Icasatti2

RESUMO: Em todo o país, de acordo com o relatório do ano de 2016 do Comitê Nacional

para os Refugiados (CONARE), órgão ligado ao Ministério da Justiça, nos últimos cinco

anos, as solicitações de refúgio no Brasil cresceram 2.868%, contudo o que se constata é a

ausência de integração regional para migrantes e refugiados no Estado do Mato Grosso do Sul

(MS) e no Brasil, como um todo. Dentre as 27 unidades da federação, apenas 6 já efetivaram

juridicamente a estrutura de um Comitê específico para os assuntos de refugiados e migrantes

em geral, quais sejam: Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e

Mato Grosso do Sul, sendo o este o mais recente dentre eles. Diante deste quadro, o presente

estudo se propõe a realizar uma análise documental e bibliográfica das estruturas jurídicas e

organizacionais dos Comitês criados, com enfoque na estrutura do CERMA/MS, destacando

os pontos negativos e positivos do referido Comitê e refletindo sobre seu papel na integração

regional dos refugiados e migrantes em geral no Estado do Mato Grosso do Sul.

PALAVRAS CHAVE: MIGRANTES; APÁTRIDAS; REFUGIADOS; INTEGRAÇÃO

REGIONAL; CERMA.

RESUMEN: En todo el país, de acuerdo con el informe del año 2016 hecho por el Comité

Nacional para los Refugiados (CONARE), órgano vinculado al Ministerio de la Justicia, en

los últimos cinco años, las solicitudes de refugio en Brasil crecieron el 2.868%, pero lo que se

constata es la ausencia de integración regional para migrantes y refugiados en el Estado de

Mato Grosso del Sur (MS) y en Brasil, como un todo. Entre las 27 unidades de la federación,

sólo 6 ya han hecho jurídicamente la estructura de un Comité específico para los asuntos de

refugiados e inmigrantes en general, que son: Río Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Río de

Janeiro, Minas Gerais y Mato Grosso Del sur, siendo éste el más reciente entre ellos. Ante

este cuadro, el presente estudio se propone realizar un análisis documental y bibliográfico de

las estructuras jurídicas y organizativas de los Comités creados, con enfoque en la estructura

del CERMA/MS, destacando los puntos negativos y positivos del referido Comité y

reflexionando sobre su papel en la integración regional de los refugiados e inmigrantes en

general en el Estado de Mato Grosso do Sul.

PALABRAS CLAVE: MIGRANTES; APÁTRIDAS; REFUGIADOS; INTEGRACIÓN

REGIONAL; CERMA.

1 Advogada e acadêmica do programa de mestrado em Fronteiras e Direitos Humanos, ofertado pela

Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, e-mail: [email protected]. 2 Assessor jurídico na Defensoria Pública Estadual do MS e acadêmico do programa de mestrado em Fronteiras e

Direitos Humanos, ofertado pela Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, e-

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1. INTRODUÇÃO

A temática dos refugiados ainda é extremamente dependente da vontade política dos

Estados, posto que é neste âmbito que ocorrerá a efetivação da proteção (JUBILUT, 2007,

p.159), nada obstante, em vários Estados do país, neste incluído o Estado do Mato Grosso do

Sul, carecem pesquisas aprofundadas e órgãos especializados no tema, que subsidiem a

criação de políticas públicas personalizadas e demonstrem a realidade enfrentada por estes

estrangeiros (refugiados e migrantes) que se estabelecem nesta região do país.

Os refugiados e migrantes, aqui incluídos os imigrantes e apátridas, apresentam

dificuldades culturais, econômicas e sociais que enfrentam ao deixar seus países de origem,

seja qual for seu país de acolhida, estando ainda mais propensos a terem seus direitos

fundamentais violados.

A inserção no mercado de trabalho, ao lado do estudo da língua local, são os meios

mais importante que o estrangeiro dispõe para se integrar à sociedade do país de acolhida

(MOREIRA, 2007). Ademais, através do trabalho o indivíduo tem a possibilidade de se

realizar como pessoa, havendo um envolvimento integral de sua personalidade no vínculo

empregatício, o que justifica a tutela dos direitos fundamentais no contrato de trabalho

(OLIVEIRA, 2007).

Levando-se em consideração que a categoria dos refugiados surge em consequência

de ações ou omissões do Estado de origem, que se mostra incapaz de proteger o direito de

seus nacionais, é dever do país acolhedor prover a proteção desta população e garantir direitos

ameaçados em seu país de origem (MOREIRA, 2014).

Para que se corrijam, ou amenizem, injustiças e se garanta a integração destes

estrangeiros ao mercado de trabalho e à sociedade, se faz necessária a criação e o

desenvolvimento de políticas públicas de acesso à informação, documentos e suporte aos

trabalhadores estrangeiros. E para o desenvolvimento destas políticas é fundamental que os

órgãos responsáveis tenham disponíveis dados e informações sobre as necessidades desta

população.

Em âmbito nacional, os refugiados contam com o amparo Comitê Nacional para os

Refugiados (CONARE), porém sua atuação não atende às especificidades dos problemas

enfrentados pelos Estados brasileiros.

Devemos ter em mente que o Brasil é um país de vasta extensão territorial, e que

cada Estado, ou região, apresenta dificuldades e particularidades próprias, tornando

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impossível uma solução única aplicável a todos os Estados. Para que se vislumbre uma

integração regional eficaz, é indispensável a criação de Comitês estaduais para abordar a

temática de maneira regional, o que vem ocorrendo em alguns Estados brasileiros desde 2009,

conforme será abordado nos tópicos a seguir.

Apesar de realizar uma comparação com a abordagem do assunto em outros Estados,

o enfoque deste trabalho é realizar uma análise do Comitê para Refugiados, Migrantes e

Apátridas (CERMA), recém-criado no Estado do MS.

Em 2015, na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), por meio da sua

Faculdade de Direito e Relações Internacionais (FADIR), pela primeira vez no Mato Grosso

do Sul foi palco do VI Seminário Nacional da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM)3,

encontro cientifico que tem o objetivo de reunir, divulgar e apresentar pesquisas, concluídas

ou em andamento, sobre o tema Refugiados, Direito Internacional e Migrações Internacionais

Forçadas.

Diante de um evento de tamanha importância, ineditamente realizado no Estado, fica

evidente a falta de discussão cientifica envolvendo questões mais específicas sobre o tema no

Estado do Mato Grosso do Sul, uma vez que houve apenas a apresentação de uma palestra

sobre as fronteiras do MS e um artigo, que abordava questões pertinentes à região de

Corumbá4.

Em obra lançada no evento realizado em Dourados/MS, o então professor da

Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), SILVA C. A. (2015) relata sobre as

dificuldades burocráticas do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) para atender os

refugiados, isso em contexto nacional. A temática é ainda mais complicada, e pouco

abordada, no plano Estadual.

. Visando uma análise da estrutura legislativa Estadual, o presente artigo está

estruturado em três partes, onde se apresenta, inicialmente, a questão dos refugiados,

imigrantes e apátridas em uma breve análise da legislação nacional. Em seguida, se analisará

a estrutura jurídica dos Comitês temáticos criados em São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio

Grande do Sul e Minas Gerais, que precederam a criação do CERMA/MS. Os demais Estados

3 Criada em 2003 pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), com o objetivo de promover o

conhecimento e ações em torno da temática do refúgio e dos deslocamentos forçados, buscando estabelecer um

compromisso com práticas que resultem na melhoria na condição da população deslocada vulnerável. Disponível

em <http://www.acnur.org/portugues/informacao-geral/catedra-sergio-vieira-de-mello/>; Acessado em

05/05/2017 4 Podemos observar a pouca abordagem do tema no sumário dos Anais do Encontro Cientifico realizado durante

o Seminário. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B4ptOVepBHrmc1VxOERfYk5GQVE/view>;

Acessado em 11/08/2017

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do país ainda não instituíram algum Comitê que envolva o tema. Por fim, analisaremos a

criação e estrutura do Comitê Estadual dos Refugiados, Migrantes e Apátridas no MS,

partindo para considerações finais sobre este Comitê.

2. OS REFUGIADOS, MIGRANTES E APÁTRIDAS NA LEGISLAÇÃO

BRASILEIRA

Como refugiados, segundo a denominação dada pela Convenção Relativa ao Estatuto

dos Refugiados, ocorrida em Genebra, no ano de 1951 (ACNUR, 1951), são considerados

aqueles que

temendo ser perseguido por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo

social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e

que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção

desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no

qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos,

não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele

Segundo a diferenciação proposta por DOS ANJOS FILHO (2010), que distingue

minorias e grupos vulneráveis5, PASCHOAL (2012) descreve que os refugiados se

enquadram na categoria chamada grupos vulneráveis, por questões étnicas, raciais, religiosas

ou culturais.

A Lei 9.474 (BRASIL, 1997) definiu mecanismos para a implementação do Estatuto

dos Refugiados de 1951 no Brasil, criando, ainda, o Comitê Nacional para os Refugiados

(CONARE), órgão de deliberação coletiva, no âmbito do Ministério da Justiça.

Já os migrantes, FARENA (2012, p. 29 à 30) define como aqueles que “se deslocam

desde seu lugar de residência habitual até outro, com o objetivo de ali assentar-se temporária

ou definitivamente. Seu destino é um novo território e uma nova comunidade”, distinguindo

ainda, entre migrantes internos (deslocados internos), que não interessam ao presente

trabalho, e migrantes externos (imigrantes)6.

Quanto aos apátridas, como cabe a cada nação legislar sobre seu conceito de

nacionalidade, podendo outorgar a nacionalidade originária por meio do jus solis7 ou jus

sanguinis8, é suscetível que ocorram aspectos positivos e negativos do tema, como a

5 No que concerne aos elementos numérico, diferenciador e de solidariedade. 6 Também denominados de migrantes internacionais. 7 Que concede ao indivíduo a nacionalidade do Estado em que se deu o seu nascimento. 8 Fundado nos vínculos de sangue, que privilegia a nacionalidade dos pais do indivíduo.

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pluralidade de nacionalidades (positivos) e os apátridas (negativos), ou seja sem

nacionalidade, podendo estes serem enquadrados no grupo de migrantes.

O fenômeno da apatrídia ofende o princípio da dignidade humana, pois o direito a

nacionalidade está elencado entre os direitos fundamentais previstos pela Declaração

Universal dos Direitos do Homem (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948).

Em novembro de 1996 entrou em vigor no Brasil a Convenção sobre o Estatuto dos

Apátridas, incorporada ao texto legislativo brasileiro em 2002, com a promulgação do

Decreto n. 4.246, em que o Brasil aceitou regular e melhorar a condição dos apátridas

(BRASIL, 2002). Aduz DE GODOY (2013) que, como signatário dos instrumentos

internacionais de proteção dos direitos dos apátridas, o Brasil se comprometeu a promover a

prevenção e a redução da apatrídia.

Neste artigo, porém, os refugiados, imigrantes e apátridas, como objeto de estudo,

serão considerados não pelo seu local de origem, ou pelos motivos que os enquadram nessa

população, mas sim pelo fato de se estabelecerem Estado do Mato Grosso do Sul, seja de

maneira provisória ou definitiva.

O art. 5º, caput e XIII da Constituição Federal (BRASIL, 1988), garante aos

estrangeiros inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, à

propriedade e o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as

qualificações profissionais que a lei estabelecer, ainda, o art. 7º da Carta Magna, prevê

também os direitos dos trabalhadores, dando à eles uma proteção constitucional.

Englobando, de uma maneira geral, as três situações migratórias acima delimitadas,

em 24 de maio de 2017 foi promulgada a Lei 13.445 (BRASIL). Nomeada de Lei da

Migração, dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante9 e do visitante, regulando sua

entrada e estada no Brasil e revogando o Estatuto do Estrangeiro (BRASIL, 1980).

A Lei de Migração claramente estabelece novas diretrizes à política migratória do

país (BRASIL, 2017, art. 3º), pautando-se pela integração e inclusão dos estrangeiros, o que

teoricamente fortalece a atuação dos Comitês Estaduais, porém, a análise de seus aspectos não

é o objetivo do presente trabalho.

Em todo o país, de acordo com o relatório do ano de 2016 do Comitê Nacional para

os Refugiados (CONARE), órgão ligado ao Ministério da Justiça, nos últimos cinco anos, as

solicitações de refúgio no Brasil cresceram 2.868%. Passaram de 966, em 2010, para 28.670,

em 2015 (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2016).

9 Imigrante, emigrante ou apátrida.

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Até 2010, haviam sido reconhecidos 3.904 refugiados. Em abril deste ano, o total

chegou 8.863, o que representa aumento de 127% no acumulado de refugiados reconhecidos –

incluindo reassentados. Em 2016 houve aumento de 12% no número total de refugiados

reconhecidos no país (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2017).

Segundo pesquisa realizada pelo IPEA, sobre “Migrantes, apátridas e refugiados:

subsídios para o aperfeiçoamento de acesso a serviços, direitos e políticas públicas no Brasil”

(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA), publicada em 2015, foi constatado que 18% dos imigrantes

entrevistados sofreram alguma violação de direitos humanos.

Contudo o que se constata é a ausência de integração regional para migrantes e

refugiados no Estado do Mato Grosso do Sul (MS) e no Brasil, como um todo, havendo um

grande vácuo governamental tanto em relação ao acesso à informações, quanto ao

desenvolvimento de políticas públicas voltadas para esta parcela populacional.

Dentre as 27 unidades da federação, apenas 6 já efetivaram juridicamente a estrutura

de um Comitê específico para os assuntos de refugiados e imigrantes em geral, quais sejam:

Rio Grande do Sul (RS), Paraná (PR), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Minas Gerais

(MG) e Mato Grosso do Sul (MS), sendo o este o mais recente dentre eles. Sobre a criação e

desenvolvimento destes Comitês, ou Comissões, passamos a discorrer no próximo capítulo.

3. BREVE ANÁLISE DOS COMITÊS ESTADUAIS PARA REFUGIADOS,

MIGRANTES E APÁTRIDAS NO BRASIL

São Paulo foi o primeiro Estado brasileiro a se atentar às questões peculiares dos

refugiados e imigrantes, criando em 2007, por meio do Decreto n. 52.349 (SÃO PAULO), e

inaugurado em 1º de abril de 2008, o Comitê Estadual para os Refugiados no Estado de São

Paulo (CER/SP), que faz parte da estrutura da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania

do Estado (SÃO PAULO, 2013).

Tal Decreto apenas regulamentou a estrutura física do CER/SP, deixando a desejar

na apresentação dos objetivos e planos do Comitê que instituía.

O Comitê Estadual Intersetorial de Políticas de Atenção aos Refugiados, coordenado

pela Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, foi instituído no Rio de

Janeiro em dezembro de 2009 (RIO DE JANEIRO), e instalado em 22 de março de 2010.

A finalidade do referido foi Comitê foi delimitada no Decreto como

I- elaborar, implementar e monitorar o Plano Estadual de Políticas de Aten-

ção aos Refugiados; II- articular convênios com entidades governamentais e

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não governamentais, buscando assistir aos refugiados; III- acompanhar os

processos de encaminhamentos e acolhimento dos casos que se apresentarem

para o Estado do Rio de Janeiro.

No ano de 2014, o Comitê Estadual do RJ obteve sucesso na aprovação do Plano

Estadual de Políticas de Atenção aos Refugiados do Estado (RIO DE JANEIRO, 2014), que

se orienta por seis diretrizes: documentação, educação, emprego e renda, moradia, saúde e

ambiente sociocultural/conscientização da temática.

O terceiro Comitê constituído em nível estadual para lidar especificamente com

questões de migração e refúgio surgiu no Paraná, nomeado de Comitê Estadual de Refugiados

e Migrantes (CERM/PR), integrado por representantes do governo e instituições da sociedade

civil, coordenado pela Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SEJU)

e instituído por Decreto Governamental n. 4289 (PARANÁ, 2012), sendo instalado em julho

de 2012.

O CERM/PR tem por objetivo

Art. 2º. (...) orientar os agentes públicos sobre os direitos e deveres dos

solicitantes de refúgio e refugiados, bem como promover ações e coordenar

iniciativas de atenção, promoção e defesa dos refugiados no Paraná, junto

aos demais órgãos do Estado que possam provê-los e assisti-los através de

políticas públicas.

Em 2014, o Paraná também estabeleceu um Plano Estadual de Políticas Públicas para

Promoção e Defesa dos Direitos dos Migrantes, divido em seis eixos estratégicos: educação,

família e desenvolvimento social, saúde, justiça/cidadania e direitos humanos, segurança

pública e trabalho (PARANÁ).

Já em 2015, com a promulgação da Lei Estadual n. 18.465 (PARANÁ), o Paraná

passou a constar também com um Conselho Estadual para Refugiados Migrantes e Apátridas

(CERMA/PR), órgão colegiado de caráter consultivo e deliberativo, instituído na estrutura

organizacional da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SEJU), no

nível de direção superior.

O Rio Grande do Sul foi o quarto Estado a criar um Comitê para lidar

especificamente com questões de migração e refúgio, por meio do Decreto n. 49.729 (RIO

GRANDE DO SUL, 2012), nomeado de Comitê de Atenção a Migrantes, Refugiados,

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Apátridas e Vítimas do Tráfico de Pessoas (COMIRAT/RS), sendo o primeiro a incluir

pessoas apátridas10.

O COMIRAT/RS faz parte de uma rede de apoio aos migrantes e refugiados no RS,

que consta, ainda, com a participação do GAIRE (Grupo de Assistência aos Refugiados)11,

cuja função é prestar assessoria jurídica, atuando com os refugiados desde sua chegada ao

Estado.

A criação do Comitê no Rio Grande do Sul, além das normativas e tratados

internacionais e nacionais, levou em consideração os princípios e diretrizes do documento

sobre políticas migratórias da Proposta de Política de Migração e de Proteção ao Trabalhador

Migrante12 do Conselho Nacional de Imigração, e Recomendações Gerais expressas no

documento final do Diálogo Tripartite do Conselho Nacional de Imigração13 sobre políticas

públicas de migração para o trabalho.

A estrutura jurídica do COMIRAT/RS se mostra melhor construída, em comparação

aos Comitês criados anteriormente. Há, em seu Decreto de criação, a especificação, ponto a

ponto, das competências do Comitê, prevendo, inclusive, a possibilidade de criação de Grupos

de Trabalho para atuar perante as eventuais problemáticas específicas da mobilidade humana

(RIO GRANDE DO SUL, 2012, art. 4, §5).

Minas Gerais, no ano de 2015, tornou-se o quinto Estado nacional a instituir um

Comitê destinado à discussão de assuntos migratórios, nomeado de Comitê Estadual de

Atenção ao Migrante, Refugiado e Apátrida, ao Enfrentamento do Tráfico de Pessoas e à

Erradicação do Trabalho Escravo (COMITRATE-MG), por meio do Decreto n. 46849

(MINAS GERAIS).

O COMITRATE/MG deu início aos seus trabalhos em janeiro de 2016, dividindo as

questões em três câmaras técnicas: Câmara Técnica de Enfrentamento do Tráfico de Pessoas;

Câmara Técnica de Trabalho Escravo e Trabalho Infantil; e a Câmara Técnica de Migração,

Refugiados e Apátridas (MINAS GERAIS, 2015, art. 6º).

Ressalta-se que o Comitê em desenvolvimento no Estado de Minas Geras trouxe um

relativo avanço, em relação aos demais Estados, no que tange à abrangência dos amparados

10 Conforme se demonstra acima, o CERMA/PR, que incluía a tutela dos apátridas, somente foi criado em 2015. 11 Surgiu em 2007, a partir de um grupo de estudantes da UFRGS, segundo informações do site

<http://www.ufrgs.br/saju/grupos/gaire>; Acessado em 11/08/2017 12 Documento disponível em <http://www.corteidh.or.cr/sitios/Observaciones/1/anexoII.pdf>; Acessado em

11/08/2017 13 Documento disponível em:

<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/tip/pub/contribuicao_para_construcao_374.pdf >; Acessado

em 11/08/2017

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pelo Comitê, posto que aborda também o enfrentamento do tráfico de pessoas e à erradicação

do trabalho escravo, questões constantemente associadas aos movimentos migratórios.

É impossível apresentar em poucas páginas as ações efetivadas por todos os Comitês,

mas a verdade é que tais organizações estaduais vêm apresentando diferentes resultados e

colaborando bastante para a integração regional destes estrangeiros, a depender do Estado em

que se desenvolve.

São Paulo, por exemplo, apesar de uma legislação simples na criação do CER/SP,

tem em sua capital a primeira cidade à instituir uma Política Municipal para a População

Imigrante, através da promulgação da Lei Municipal n. 16.478 (SÃO PAULO, 2016),

entretanto tal lei não será pormenorizada no presente trabalho.

Podemos citar o Rio Grande do Sul como outro exemplo, onde o CEMIRAT/RS vem

se engajando no atendimento aos colombianos que foram vítimas de conflitos armados

naquele país14, dentre outros projetos desenvolvidos através dos anos.

Da lista de Estados que vem elaborando estruturas de Comitês específicos para lidar

com o assunto, é fácil constatar que apenas 3 Estados estão em região de fronteira (MS, PR e

RS), havendo um claro silêncio de outros Estados brasileiros ante à temática dos refugiados e

imigrantes.

O mais recente Estado a criar um Comitê voltado para a discussão da temática é o

Mato Grosso do Sul, que através do Decreto n. 14.558 (MATO GROSSO DO SUL, 2016),

instituiu o Comitê Estadual para Refugiados, Migrantes e Apátridas no Estado do MS

(CERMA/MS), sobre o qual se passa a discorrer no tópico seguinte.

4. A CONSTRUÇÃO DO COMITÊ ESTADUAL PARA REFUGIAOS, MIGRANTES

E APÁTRIDAS NO MATO GROSSO DO SUL

Recentemente, em pesquisa realizada pelo IPEA (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,

2015), foi constatado que o Mato Grosso do Sul é um importante ponto de chegada e

passagem do movimento migratório internacional em direção aos grandes centros do Brasil,

com um recente movimento de chegada de haitianos e de africanos, atraídos para trabalhar em

carvoarias, usinas de cana e de álcool e subempregos de forma geral, o que vem exigindo

maior atuação e fiscalização para combater eventuais práticas de trabalho escravo, dentre

outras privações aos direitos humanos básicos.

14 Tal notícia foi noticiada nas mídias locais. Disponível em: <http://www.sdstjdh.rs.gov.br/representacao-do-

governo-colombiano-vem-ao-estado-para-atendimento-as-vitimas-de-conflitos-armados>; Acessado em

11/08/2017

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O MS, apesar de estar em uma zona fronteiriça, apresenta uma reação tardia ao

fenômeno, sendo que somente em setembro de 2016 foi promulgado o Decreto n. 14.558

(MATO GROSSO DO SUL), instituindo o Comitê Estadual para Refugiados, Migrantes e

Apátridas (CERMA/MS).

Até o presente momento, que se constata é que esta estrutura existe juridicamente,

mas o funcionamento ainda está em construção, dependendo, principalmente, da manifestação

da vontade política de entidades componentes.

Como componentes a legislação prevê a participação de 12 (doze) representantes

governamentais, entre Ministério Público, Secretarias e Universidades, e 5 (cinco)

representantes de organizações não governamentais, voltadas às atividades de assistência e ou

de proteção a refugiados, migrantes e apátridas no Estado, que representarão a sociedade civil.

O art. 4º do referido Decreto (MATRO GROSSO DO SUL, 2016), prevê também

que, observada a temática da pauta de reunião, a conveniência e a oportunidade, poderão ser

convidados representantes de órgãos governamentais, entidades não governamentais e

integrantes da sociedade em geral, o que poderá complementar a dinâmica das atividades do

Comitê.

Como principais objetivos (art. 2º), restaram definidos que o CERMA/MS irá

I - oferecer orientação e capacitação aos agentes públicos sobre os direitos e

os deveres dos solicitantes de refúgio, dos refugiados, migrantes e dos

apátridas; II - promover ações e coordenar iniciativas de atenção e de defesa,

com objetivo de garantir a inserção de refugiados, migrantes e de apátridas

nas políticas públicas, a fim de assisti-los.

Ainda, segundo o disposto do Decreto de criação, o CERMA/MS ficara responsável

pela elaboração e pelo monitoramento do Plano Estadual de Políticas de Atenção a

Refugiados, Migrantes e Apátridas, com o objetivo de facilitar o acesso de estrangeiros às

políticas públicas no Estado.

Na mesma data pelo Decreto nº 14.559 (MATO GROSSO DO SUL, 2016), foi

instituído o Centro de Atendimento em Direitos Humanos, vinculado à Secretaria de Estado

de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (SEDHAST) com a finalidade de

elaboração e a disseminação de estudos e de pesquisas que visem à humanização, à

emancipação do ser humano e à transformação social, por meio de dados estáticos que

subsidiam os enfrentamentos contra qualquer tipo de violação de direitos (art. 1º, p. único).

Os 17 membros, que compõem a primeira formação do CERMA/MS, tomaram posse

no dia 11 de agosto de 2017, durante o 1º Colóquio “Desafios e Perspectivas das Migrações

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Hoje”, que contou com a participação de representante do Alto Comissariado das Nações

Unidas para Refugiados15.

O que se diagnostica, porém, é que apesar de existirem cinco Comitês que o

precedem, o Decreto que institui o CERMA/MS não apresenta inovação em relação aos seus

antecessores, sendo, inclusive, menos abrangente em sua área de trabalho do que o

COMITRATE/MG ou o COMIRAT/RS.

O COMITRATE/MG aborda também o enfrentamento do tráfico de pessoas e à

erradicação do trabalho escravo, assim como o COMIRAT/RS abrange atendimento às

vítimas de tráfico de pessoas, questões constantemente associadas aos movimentos

migratórios.

Devemos enfatizar que a pesquisa realizada pelo IPEA (MINISTÉRIO DA

JUSTIÇA, 2015), constatou que 16,56% das violações à direitos humanos relatas por

refugiados e migrantes estavam relacionadas ao trabalho, estando também ligadas (em menor

proporção) ao trabalho escravo, à exploração do trabalho e à violação de direitos trabalhistas.

Segundo resultados da fiscalização para erradicação do trabalho escravo de 2016,

realizada pelo Ministério Público do Trabalho e Emprego (MTE), o Mato Grosso do Sul

permaneceu em quarto lugar do ranking que aponta trabalhadores que atuam em situação

análoga à escravidão (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2017), de maneira que

se faz pertinente esta abordagem junto as questões migratórias.

Nos lembra SBALQUEIRO (2016, p. 134) que é necessário acompanhar o

desenvolvimento das ações governamentais, atuando ainda na prevenção e no enfrentamento

das situações de discriminação, marginalização, tráfico de pessoas, trabalho escravo ou

degradante envolvendo trabalhadores migrantes.

Neste sentido, devemos ter em mente que é no âmbito das relações de trabalho que a

imigração adquire sentido de utilidade, sendo também a principal fonte de violações de

direitos humanos, como trabalho indocumental/informal, tráfico de pessoas e redução à

condição análoga de escravo (SBALQUEIRO, 2016, p. 134), conforme demonstra a pesquisa

supramencionada.

É evidente que a criação do CERMA/MS significa um grande passo para a efetivação

da integração regional aos refugiados e migrantes, porém, há de se apontar para as questões

sociais, principalmente no âmbito laboral, que a criação legislativa do Comitê deixa de

15 Tal evento foi amplamente divulgado pela mídia local, conforme se constata em

<https://www.campograndenews.com.br/cidades/comite-estadual-de-defesa-a-refugiados-e-migrantes-toma-

posse-amanha>; Acessado em 11/08/2017

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abordar. Porém, nada impede que os projetos a serem desenvolvidos, supram essa limitação

da legislação, como se passa a analisar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento de um Comitê com este enfoque no Estado do Mato Grosso do

Sul, ainda que pouco desenvolvido organizacionalmente, já demonstra um relativo avanço do

assunto na região, no entanto, é preciso que se analise sua capacidade de atuar na integração

regional desta parcela da população.

As atividades do CERMA/MS se iniciaram há pouco tempo, sendo impossível

mensurar qual o impacto que seus projetos irão causar na população refugiada, imigrante e

apátrida no Estado. Em realidade, antes mesmo de se estabelecerem estruturas de

atendimento, se faz necessário seja traçado qual o perfil dos estrangeiros em situação da

migração que se estabelecem no MS, a fim de personalizar o atendimento aos mesmos.

Uma questão que faz falta na abordagem legislativa do Comitê, é a atenção às

condições de trabalho destes refugiados, imigrantes e apátridas, não havendo qualquer

previsão explicita quanto à grupos de trabalho para a repressão e eliminação de trabalhos em

condições análogas a escravo, ou vítimas de tráfico de pessoas.

O que decepciona é o fato de, apesar de ser apenas o sexto Comitê temático no país,

existiam cinco estruturas legislativas criadas previamente que poderiam ter corroborado para a

construção do mesmo, esperando que se trouxesse alguma novidade ou complementação no

assunto.

Ante ao pouco tempo de efetiva atuação do CERMA no Estado, há de se considerar a

possibilidade da elaboração de projetos que abranjam estas questões e supram a deficiência

legislativa, porém, não podemos deixar de apontar à esta falha estrutural na criação do

Comitê.

Outro ponto que devemos destacar, é que, apesar da presença de um representante de

uma Universidade do interior do Estado (UFGD), tal Universidade se restringe à região da

Grande Dourados, no sul do Estado. Interessante seria uma efetiva representação da

Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS), esta sim uma Universidade criada

para o se instalar no interior do MS, e que poderia fornecer dados e informações mais

abrangentes.

O que se espera, afinal, é que a atuação do CERMA/MS não se restrinja à capital do

Estado, levando em consideração a extensa área fronteiriça que apresentam problemas

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inerentes à sua própria região, como Corumbá e Ponta Porã, com fronteiras internacionais, ou

Três Lagoas, faixa de fronteira interestadual, dentre outras cidades.

Uma análise completa sobre as atividades do Comitê somente será possível após um

certo tempo de efetiva atividade, realizando, aqui, apenas ponderações sobre a estrutura

legislativa e as expectativas sobre o CERMA/MS.

É necessário, por fim, reconhecer o trabalho dos membros, principalmente daqueles

que lutaram por sua efetivação e chamaram atenção ao tema no Estado, esperando que suas

atividades atuem na integração e garantia de direitos humanos aos refugiados, imigrantes e

apátridas.

6. REFERÊNCIAS

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