a constituiÇÃo e o direito À previdÊncia social
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ABRAHAM BILL OF RIGHTS
A CONSTITUIO E O DIREITO PREVIDNCIA SOCIAL
Monografia apresentada para participao no I Concurso de Teses sobre Seguridade Social, promovido pela Associao Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil - ANFIP e FUNDAO ANFIP de Estudos da Seguridade Social.
BRASLIA 2007
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Toda a pessoa tem direito a um nvel de vida suficiente para lhe assegurar e sua
famlia a sade e o bem-estar, principalmente quanto alimentao, ao vesturio,
ao alojamento, assistncia mdica e ainda quanto aos servios sociais
necessrios, e tem direito segurana no desemprego, na doena, na invalidez, na
viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistncia por
circunstncias independentes da sua vontade.
(Declarao Universal dos Direitos Humanos, artigo 25.1)
Everyone has the right to a standard of living adequate for the health and well-being
of himself and of his family, including food, clothing, housing and medical care and
necessary social services, and the right to security in the event of unemployment,
sickness, disability, widowhood, old age or other lack of livelihood in circumstances
beyond his control.
(Universal Declaration of Human Rights, article 25.1)
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RESUMO Estudo sobre a previdncia social nas constituies do Brasil e do mundo. Busca compreender a razo da incluso do direito previdncia social nos textos constitucionais e o alto grau de detalhamento com que o tema tratado pela Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Conceitua e descreve a evoluo histrica do constitucionalismo. Apresenta a classificao doutrinria das constituies. Analisa o movimento de constitucionalizao dos direitos sociais no sculo XX. Estuda a insero dos direitos sociais na categoria de direitos humanos fundamentais e o Pacto Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais. Fundamenta-se em pesquisa bibliogrfica na literatura do Direito Constitucional e Direito Previdencirio. Analisa a evoluo do direito previdncia social em todas as constituies do Brasil, desde a de 1824 at a de 1988. Realiza pesquisa e formula classificao sobre o direito previdncia social nas constituies de 35 pases, de todos os continentes. Identifica e estuda os dispositivos e princpios relacionados previdncia social na Constituio de 1988. Conclui que o direito previdncia social foi consagrado pela Constituio de 1988 como direito social fundamental e um dos instrumentos para a efetivao da dignidade da pessoa humana, fundamento da Repblica Federativa do Brasil. Constata que o tratamento detalhado do tema previdncia social no texto constitucional conseqncia histrica da tradio constitucional brasileira e de sua relevncia social. Palavras-chave: Direito Constitucional. Previdncia Social. Direitos Fundamentais.
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ABSTRACT Studying about the social security in the constitutions of Brazil and the world. It search to understand the inclusion reason of right to social security in the constitutions texts and the high detailing degree with that subject is dealt by Constitution of Brazilian Federative Republic in 1988. It appraises and it describes the historical evolution of the constitutionalism. It presents the doctrinal classification of the constitutions. It analyzes the movement of constitutional compliance of the social rights in XX century. It studies the insertion of the social rights in the category of the basic human rights and the International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights. It bases on bibliographical research in the literature about the Constitutional Law and Social Security Law. It analyzes the evolution of right to social security in all Brazilians Constitutional Laws, since the one of 1824 until the one of 1988. It carries through research and it formulates classification about the right to social security in the Constitutional Laws of 35 countries of all continents. It identifies and it studies the rules and the principles related to the right of social security in the Constitution of 1988. It concludes that the right to social security was consecrated by the Constitution of 1988 as social and fundamental right and it is one of the instruments for the effectuation of the human being dignity, foundation of the Brazilian Federative Republic. It evidences the detailed treatment of the social security subject in the constitutional text is an historical consequence of the Brazilian constitutional tradition and of its social relevance. Key Word: Constitutional Law. Social Security. Fundamental Rights.
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SUMRIO
1 INTRODUAO 08 2 DIREITO CONSTITUCIONAL, CONSTITUCIONALISMO,
CONSTITUIO E PODER CONSTITUINTE 11
2.1 DIREITO CONSTITUCIONAL 11
2.2 CONSTITUCIONALISMO 13
2.2.1 Significado 132.2.2 Evoluo 132.2.2.1 Constitucionalismo primitivo 14
2.2.2.2 Constitucionalismo antigo 15
2.2.2.3 Constitucionalismo da Idade Mdia 16
2.2.2.4 Constitucionalismo moderno 16
2.2.2.5 Constitucionalismo contemporneo 18
2.3 PODER CONSTITUINTE 19
2.4 CONSTITUIO 19
2.4.1 Conceito 192.4.2 Classificao 202.4.2.1 Quanto origem 21
2.4.2.2 Quanto essncia 21
2.4.2.3 Quanto sistematizao 21
2.4.2.4 Quanto ideologia 22
2.4.2.5 Quanto extenso 22
2.4.2.6 Quanto ao contedo 22
2.4.2.7 Quanto forma 23
2.4.2.8 Quanto ao processo de mudana 23
2.4.3 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988: breve apresentao e classificao
24
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3 O DIREITO PREVIDNCIA SOCIAL E AS CONSTITUIES 253.1 A CONSTITUCIONALIZAO DOS DIREITOS SOCIAIS 25
3.2 DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E OS DIREITOS SOCIAIS 28
3.2.1 Geraes dos direitos humanos fundamentais 283.2.2 Pacto Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e
Culturais 29
3.3 PREVIDNCIA SOCIAL E AS CONSTITUIES NO BRASIL -
EVOLUO HISTRICA
32
3.3.1 Constituio de 1824 323.3.2 Constituio de 1891 333.3.3 Constituio de 1934 343.3.4 Constituio de 1937 363.3.5 Constituio de 1946 373.3.6 Constituio de 1967 e a Emenda Constitucional n 1 de 1969 383.4 O DIREITO PREVIDNCIA SOCIAL NAS CONSTITUIES NO
MUNDO
39
3.4.1 Anlise do direito previdncia social nas constituies estrangeiras
40
3.4.2 Quadro comparativo de tratamento do direito previdncia social nas constituies estrangeiras: referncia, insero nos direitos fundamentais ou direitos sociais e grau de detalhamento
54
4 PREVIDNCIA SOCIAL E A CONSTITUIO DE 1988 554.1 PRINCPIOS FUNDAMENTAIS DA REPBLICA FEDERATIVA DO
BRASIL
55
4.2 DIREITO SOCIAL FUNDAMENTAL 57
4.3 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS PREVIDENCIRIOS 60
4.4 PREVIDNCIA SOCIAL E SEGURIDADE SOCIAL 63
4.5 COMPETNCIA LEGISLATIVA 64
4.6 ORGANIZAO DO SISTEMA PREVIDENCIRIO: OS REGIMES
PREVIDENCIRIOS
64
4.6.1 Regime Geral de Previdncia Social 65
4.6.2 Regimes Prprios de Previdncia Social 66
4.6.3 Regime de Previdncia Complementar Privada 68
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4.7 CUSTEIO DA PREVIDNCIA SOCIAL 69
4.8 NORMAS CONSTITUCIONAIS DIVERSAS RELACIONADAS
PREVIDNCIA SOCIAL
71
4.9 AS REFORMAS PREVIDENCIRIAS 73
5 CONSIDERAES FINAIS 77 REFERNCIAS 80
ANEXO A - A previdncia social na Constituio de 1988 82
ANEXO B - A previdncia social nas constituies brasileiras, de
1824 a 1969
90
ANEXO C - A previdncia social nas constituies ao redor do
mundo
98
ANEXO D - Previdncia Social no Brasil: cobertura social e reduo
da pobreza
113
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1 INTRODUO
A previdncia social , sem sombra de dvida, um dos temas ao qual nosso
legislador constituinte dedicou maior ateno.
Para que no haja dvidas a esse respeito, basta analisar o texto da
Constituio de 1988 para se constatar que:
a) as regras constitucionais de natureza previdenciria esto concentradas em
quatro artigos (40, 195, 201 e 202), nos quais so extremamente detalhadas (eles
possuem ao todo cinqenta e trs pargrafos);
b) porm, alm dos quatro artigos mencionados, a previdncia social referida em
outros dezoito artigos, aparecendo inicialmente no artigo 6 e espalhando-se por
todo o texto constitucional, at alcanar os seus trs ltimos artigos (248, 249 e
250);
c) uma medio grfica da Constituio mostra que perto de 10% (dez por cento)
do seu contedo est relacionado s regras sobre a previdncia social;
d) alm disso, trs Emendas Constitucionais (n 20/1998, 41/2003 e 47/2005) vieram
tratar exclusivamente das reformas previdencirias.
Com certeza no basta uma simples exposio matemtica, como a
apresentada no pargrafo anterior, para que o estudioso do Direito Constitucional
seja convencido da relevncia jurdica da previdncia social. Porm, ela suficiente
para que se coloquem algumas questes:
a) por que o poder constituinte originrio de 1988, acompanhado nos anos seguintes
pelo poder constituinte reformador, optou por tratar de forma to detalhada a
previdncia social?
b) a Constituio de 1988 inovou, em relao a nossas constituies anteriores, no
detalhamento do tema previdncia social?
c) como as constituies de outros pases do mundo tratam a previdncia social?
d) como o direito previdncia social foi inserido nas constituies, no Brasil e no
mundo, ao longo da histria?
e) que posio jurdica o direito previdncia social ocupa na Constituio de 1988?
f) possvel que o direito previdncia social seja desconstitucionalizado?
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Para que se possa encontrar respostas a tais questes necessrio
empreender uma pesquisa que busque identificar como se desenvolveu, ao longo do
tempo, a relao entre as constituies e a previdncia social, e como ela se
encontra hoje.
Dessa forma, o ponto de partida deste trabalho ser a compreenso do que
o Direito Constitucional, de como surgiram as constituies e o constitucionalismo, e
de como este evoluiu at se chegar ao constitucionalismo contemporneo. Em que
momento as constituies deixaram de voltar sua ateno apenas tutela dos
direitos e garantias individuais e passaram a contemplar tambm os direitos sociais,
dentre os quais se inclui a previdncia social?
Ao final desta monografia, no Anexo A (A previdncia social na Constituio
de 1988), o leitor encontrar todos os dispositivos da Constituio de 1988 nos quais
a previdncia social referida, com as alteraes introduzidas pelas Emendas
Constitucionais n 20/1998, 41/2003 e 47/2005. No se objetivar neste trabalho
comentar de forma individualizada e detalhada cada um desses dispositivos, porm
no captulo 4 ser apresentada uma viso panormica sobre a previdncia social na
Constituio de 1988.
No Anexo B (A previdncia social nas constituies brasileiras, de 1824 a
1969), encontra-se a seleo e transcrio dos dispositivos relacionados
previdncia social, que constaram de cada uma das constituies brasileiras,
partindo-se da Constituio do Imprio de 1824 at se chegar Constituio do
regime militar de 1967 e Emenda Constitucional n 1 de 1969.
Parte do captulo 3 ser destinada a comentar como a previdncia social foi
tratada em nossas constituies, realizando-se tambm um paralelo com a evoluo
da legislao ordinria a elas contempornea.
O Anexo C (A previdncia social nas constituies ao redor do mundo) traz o
resultado de pesquisa realizada nas constituies de 35 pases, de todos os
continentes, mostrando como o direito previdncia social aparece hoje em cada
um deles.
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A ltima parte do captulo 3 ser dedicada a analisar e comentar cada uma
dessas constituies, sendo finalizado com a apresentao de um quadro
comparativo onde elas so classificadas de acordo com os seguintes critrios:
a) meno ao direito previdncia social no texto constitucional;
b) insero do direito previdncia social entre os direitos fundamentais ou direitos
sociais;
c) grau de detalhamento das regras relativas ao direito previdncia social.
Finalmente, no Anexo D (Previdncia Social no Brasil: cobertura social e
reduo da pobreza) so apresentados alguns grficos que demonstram a parcela
da populao brasileira coberta pela previdncia social e o papel que esta exerce na
reduo dos nveis de pobreza.
A metodologia empregada para o desenvolvimento do trabalho foi
essencialmente a pesquisa bibliogrfica, atravs da leitura e estudo de manuais de
Direito Constitucional e de Direito Previdencirio, alm de artigos jurdicos,
complementada pela pesquisa legislativa (constituies do Brasil, constituies de
outros pases e tratados internacionais sobre direitos humanos e direitos sociais).
Estes ltimos (artigos jurdicos, constituies e tratados) foram obtidos atravs de
pesquisas na rede mundial de computadores.
Portanto, em sntese, esta monografia intitulada A Constituio e o Direito
Previdncia Social dedica-se ao estudo da relao entre as constituies e a
previdncia social, no passado e no presente, no Brasil e em outras partes do
mundo, com o objeto de compreender porque esse direito ganhou tanta relevncia,
especialmente em nossa atual Constituio de 1988.
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2 DIREITO CONSTITUCIONAL, CONSTITUCIONALISMO, CONSTITUIO E PODER CONSTITUINTE
2.1 DIREITO CONSTITUCIONAL
Embora o Direito, como cincia jurdica, represente um todo, por razes
didtico-pedaggicas costuma-se adotar a sua diviso em dois grandes grupos, o
Direito Pblico e o Direito Privado, partindo-se da a vrias outras subdivises a
que se denominam ramos do Direito, dentre os quais se encontra e sobressai o
Direito Constitucional.
O jurista portugus Jorge Miranda define o Direito Constitucional como: a parcela da ordem jurdica que rege o prprio Estado, enquanto comunidade e enquanto poder. o conjunto de normas (disposies e princpios) que recordam o contexto jurdico correspondente comunidade poltica como um todo e a situam os indivduos e os grupos uns em face dos outros e frente ao Estado-poder e que, ao mesmo tempo, definem a titularidade do poder, os modos de formao e manifestao da vontade poltica, os rgos de que esta carece e os actos em que se concretiza.1
Para outros, o Direito Constitucional desdobra-se em duas dimenses2:
a) sinttica, como a cincia encarregada de estudar a Teoria das Constituies e o
ordenamento positivo dos Estados;
b) analtica, como a parcela da ordem jurdica que designa a ordenao sistemtica
e racional de um conjunto de normas supremas que organizam a estrutura do
Estado e delimitam as relaes de poder.
Jos Afonso da Silva apresenta uma definio de Direito Constitucional
bastante concisa e que exprime bem o seu significado: ramo do Direito Pblico que
expe, interpreta e sistematiza os princpios e normas fundamentais do Estado3.
Em seguida, acrescenta, citando Pinto Ferreira: o Direito Constitucional a cincia
positiva das constituies.
1 MIRANDA, Jorge apud MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 9. ed. So Paulo: Atlas, 2001. p. 33. 2 BULOS, Uadi Lammgo. Constituio Federal Anotada. 6 ed. So Paulo: Saraiva, 2005. p. 2. 3 SILVA, Jos Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 10 ed. So Paulo: Malheiros, 1995. p. 38.
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O Direito Constitucional reconhecido como o Direito Pblico Fundamental,
pois todos os demais ramos do Direito encontram nele a fonte de seus preceitos
fundamentais.
O objeto do Direito Constitucional o estudo sistematizado das constituies,
permitindo que se conheam as normas fundamentais de organizao do Estado
(estrutura, forma de governo, modo de aquisio e exerccio do poder,
estabelecimento de seus rgos, limites de sua atuao), os direitos fundamentais
do homem e respectivas garantias e regras bsicas da ordem econmica e social.
J o contedo cientfico do Direito Constitucional pode ser dividido em trs
disciplinas de estudo: Direito Constitucional Positivo, Particular ou Interno; Direito
Constitucional Comparado e Direito Constitucional Geral.
O Direito Constitucional Positivo (ou Particular ou Interno) aquele que
estuda os princpios e normas de uma constituio concreta, de um determinado
Estado, compreendendo a interpretao, sistematizao e crtica das normas
jurdico-constitucionais vigentes nesse Estado.
O Direito Constitucional Comparado um mtodo voltado ao estudo das
normas jurdico-constitucionais, vigentes ou no, de vrios Estados, buscando
compar-las com o ordenamento constitucional de um determinado povo,
identificando diferenas e semelhanas.
Por fim, o Direito Constitucional Geral uma cincia ligada Teoria Geral do
Direito que busca classificar os diversos conceitos e princpios gerais e tericos do
Direito Constitucional. Seu objeto abrange o prprio conceito de Direito
Constitucional, seu objeto genrico, contedo, relaes com outras disciplinas,
fontes, categorias gerais, teoria da constituio e do poder constituinte,
hermenutica, interpretao e aplicao das normas constitucionais.
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2.2 CONSTITUCIONALISMO
2.2.1 Significado
O termo constitucionalismo, num sentido bastante amplo, pode ser entendido
como o fenmeno relacionado ao fato de que todo Estado, em qualquer poca da
humanidade, independentemente do regime poltico adotado, sempre disps de uma
norma bsica para conferir poderes ao soberano e ordenar, com supremacia e
coercitividade, a vida do povo.
Num sentido estrito e mais prprio, o constitucionalismo refere-se tcnica
jurdica de tutela das liberdades, surgida nos fins do sculo XVIII, fundada em um
conjunto de normas, instituies e princpios positivos, que possibilitou aos cidados
exercerem, com base em constituies escritas, os seus direitos e garantias
fundamentais, sem que o Estado lhes pudesse oprimir pelo uso da fora e do
arbtrio.
2.2.2 Evoluo
A evoluo do constitucionalismo pode ser estudada nas seguintes etapas:4
1 etapa - constitucionalismo primitivo;
2 etapa - constitucionalismo antigo;
3 etapa - constitucionalismo da Idade Mdia;
4 etapa - constitucionalismo moderno;
5 etapa - constitucionalismo contemporneo.
Ressalve-se, porm, que alguns autores somente consideram o seu
surgimento a partir do final do sculo XVIII, com o constitucionalismo moderno.
4 BULOS, Uadi Lammgo. op. cit. p. 9-22.
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2.2.2.1 Constitucionalismo primitivo
Nesse perodo necessrio que o constitucionalismo seja entendido no
sentido amplo e sua manifestao baseava-se na observncia reiterada dos padres
de comportamento pelos povos primitivos, ligados a organizaes consuetudinrias
dirigidas pelos chefes familiais e lderes de cls.
Karl Loewestein cita a estruturao do antigo Estado Teocrtico hebreu, no
qual as relaes entre os governantes e os governados eram estabelecidas e
limitadas segundo os padres bblicos, como a primeira manifestao do movimento
constitucionalista primitivo5.
O constitucionalismo primitivo apresentava as seguintes caractersticas:
a) os direitos, prerrogativas e deveres no estavam depositados em instrumentos
constitucionais escritos;
b) cada comunidade regia-se por costumes prprios, reiterados nas condutas
sociais, e o contato com outros grupos era reduzido;
c) os ancios dos cls ou etnias traavam regras de comportamento a serem
observadas pelos membros da comunidade;
d) influncia direta da religio, sob o temor dos poderes sobrenaturais e a crena de
que os lderes eram representantes divinos;
e) uso de meios de constrangimento para assegurar o respeito aos padres de
conduta;
f) existncia de precedentes judicirios consistentes nas solues dadas a conflitos
semelhantes pelos chefes ou ancios.
5 LOEWESTEIN, Karl apud BULOS, Uadi Lammgo. op. cit. p. 10.
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2.2.2.2 Constitucionalismo antigo
O constitucionalismo antigo se manifestou em alguns perodos do Imprio
Romano, como forma de limitao dos poderes do Imperador e de interditos que
buscavam proteger os direitos individuais dos abusos do Estado. Aparece tambm
nas democracias constitucionais das Cidades-Estado da Grcia.
Suas principais caractersticas foram:
a) inexistncia de constituies escritas, prevalecendo os acordos de vontade sobre
as proclamaes de direitos e garantias fundamentais;
b) supremacia do Parlamento, que no se subordinava a qualquer outro poder, no
existindo controle de constitucionalidade de seus atos;
c) atos legislativos ordinrios podiam alterar as proclamaes constitucionais de
direitos e garantias;
d) os detentores do poder (reis, imperadores, dspotas) no se sujeitavam a limites
de sua atuao, caracterizando-se uma irresponsabilidade governamental.
2.2.2.3 Constitucionalismo da Idade Mdia
O constitucionalismo da Idade Mdia revela-se como um prenncio do
constitucionalismo moderno, com especial evoluo no constitucionalismo ingls.
Nessa poca, o jusnaturalismo ganha fora, passando a representar uma limitao
ao poder arbitrrio do soberano, sujeitando-o a algum controle jurisdicional.
Em 1215 foi outorgada na Inglaterra, pelo Rei Joo Sem Terra, a Magna
Charta Libertatum (acordo entre o rei e seus sditos, para que a Coroa respeitasse
os seus direitos), instrumento que se caracteriza como um marco no processo
histrico do constitucionalismo e que antecedeu as declaraes de direitos
fundamentais. Posteriormente surgiram outros documentos, como: Petition of Rights
(1628), Habeas Corpus Act (1679), Bill of Rights (1689) e Act of Settlement (1701).
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Neles foram sendo modeladas liberdades pblicas que mais tarde seriam
consagradas nas modernas constituies, tais como: garantia da liberdade e
propriedade (liberty and property), direito de petio, instituio do jri, clusula do
devido processo legal (due process of law), habeas corpus, princpio do livre acesso
justia, liberdade de religio, proporcionalidade na aplicao das penas.
So ento traos caractersticos do constitucionalismo da Idade Mdia:
a) conquista das liberdades humanas fundamentais, na forma de garantia a direitos
individuais oponveis ao Estado;
b) afirmao da igualdade dos cidados perante o Estado, excluindo-se o poder
arbitrrio e abrindo caminhos para o amadurecimento do governo da lei (Rule of
Law);
c) reivindicao do primado da funo judiciria;
d) predomnio da concepo jusnaturalista de constituio, segundo o pensamento
de que as leis preexistem aos prprios homens;
e) existncia de documentos garantidores de liberdades pblicas, que funcionavam
como constituies no escritas, firmados atravs de pactos, forais ou cartas de
franquia e contratos de colonizao;
f) surgimento da idia de que a autoridade dos governantes se fundava num contrato
com os sditos, os quais obedeceriam realeza na proporo do comprometimento
do soberano com a justia.
2.2.2.4 Constitucionalismo moderno
O constitucionalismo ganhou fora como movimento jurdico, social, poltico e
ideolgico no final do sculo XVIII e materializou-se nas seguintes constituies
escritas e rgidas:
a) Constituio dos Estados Unidos da Amrica, de 1787: instituiu o federalismo e o
Presidencialismo; rgida separao dos Poderes: Legislativo (bicameralista -
Senadores e Deputados); Executivo (Presidencialismo) e Judicirio (Suprema
Corte); seu texto bastante curto, formado por sete artigos, aos quais se
acrescentaram ao longo do tempo vinte e seis emendas.
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b) Constituio Francesa de 1791: manteve a monarquia constitucional, limitando os
poderes reais; separao dos Poderes, sem tanto rigor: Legislativo (unicameralista -
Assemblia Legislativa); Executivo (realeza) e Judicirio (Tribunal de Cassao).
O constitucionalismo moderno trouxe como contribuies:
a) as constituies passaram a ser escritas, instrumentalizando as ordenaes
constitucionais em documentos formais, dotados de coercibilidade,
instrumentalidade e segurana jurdica;
b) os textos constitucionais passam a ser produzidos pelo Poder Constituinte
Originrio, que no se confunde com o poder constituinte derivado e com os poderes
constitudos (Executivo, Legislativo e Judicirio);
c) as reformas constitucionais submetem-se a um processo legislativo cerimonioso,
baseado em critrios solenes, dificultosos e demorados, favorecendo as
constituies rgidas e as clusulas ptreas;
d) surge a doutrina do poder constituinte decorrente, incumbido da criao e reforma
das cartas constitucionais dos Estados-membros;
e) distino entre as categorias de constituio dogmtica (escrita e sistematizada
por um rgo constituinte soberano) e constituio histrica (resultado dos
costumes e tradies seculares dos povos);
f) supremacia material e formal das constituies, elevando o Direito Constitucional
categoria de Direito Pblico Fundamental.
g) surgimento das concepes de controle de constitucionalidade das leis e dos atos
normativos;
h) limitao das funes estatais;
i ) primazia do princpio da separao dos poderes e responsabilizao dos agentes
pblicos;
j) tutela reforada dos direitos e garantias fundamentais, obrigando todo o Estado;
k) princpio da fora normativa das constituies, segundo o qual elas promovem
coercitivamente a direo social, poltica, econmica e cultural do Estado.
O constitucionalismo moderno marca a vitria do Estado Liberal sobre o
Estado Absolutista e coloca fim ao feudalismo e ao protecionismo mercantilista.
Suas preocupaes centram-se na defesa da liberdade e da propriedade e por
essas razes ele tambm conhecido como constitucionalismo liberal.
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2.2.2.5 Constitucionalismo contemporneo
O constitucionalismo contemporneo desenvolveu-se ao longo do sculo XX,
tendo como caractersticas marcantes:
a) existncia de documentos constitucionais amplos, analticos e extensos,
chegando a se falar em uma espcie de totalitarismo constitucional;
b) alargamento dos temas constitucionais, passando a abranger regras que
normalmente seriam tratadas por leis ordinrias, tais como direitos econmicos e
sociais;
c) disseminao da idia de constituio dirigente ou programtica, passando a
preordenar a ao governamental do Estado;
d) surgimento de novos modelos de compreenso constitucional, tais como:
constituio como ordem jurdica fundamental; constituio dirigente; constituio
programa; constituio como meio de resoluo de conflitos.
Os tericos do constitucionalismo contemporneo apresentaram diferentes
proposies na tentativa de se buscar compreender a finalidade e o sentido de uma
constituio. Para citar apenas alguns:
a) documento que cria os fundamentos e normatiza os princpios da unidade poltica
do Estado (Konrad Hesse);
b) lei material que estabelece uma direo poltica permanente para o Estado,
conformando a sociedade e preordenando a ao governamental em direo a
programas a serem realizados, objetivos e princpios de transformao econmica e
social; constituio-dirigente (Jos Joaquim Gomes Canotilho);
c) constituio como norma jurdica fundamental do ordenamento jurdico (Hans
Kelsen).
Se o constitucionalismo moderno ou liberal teve o seu incio marcado pelas
Constituies dos Estados Unidos (1787) e da Frana (1791), o constitucionalismo
contemporneo (ou constitucionalismo social) teve como paradigmas as
Constituies do Mxico, de 1917, e da Alemanha (Weimar), de 1919. Tais
constituies, pela sua importncia e relao com o tema desta monografia, sero
estudadas com maior detalhe mais adiante.
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2.3 PODER CONSTITUINTE
A doutrina do poder constituinte foi concebida durante a Revoluo Francesa,
no perodo do constitucionalismo moderno, tendo se manifestado tambm no
processo que culminou com a formulao da Constituio dos Estados Unidos.
O poder constituinte a manifestao soberana da suprema vontade poltica
de um povo, social e juridicamente organizado6. dele o atributo de produo das
normas relativas organizao estatal, dispostas em uma constituio.
A manifestao do poder constituinte pode ser originria, na etapa de criao
ou elaborao constitucional, ou derivada, quando de sua reformulao.
O poder constituinte originrio inicial, fundacional, genuno, de primeiro
grau, juridicamente ilimitado. Atua como potncia criadora da constituio,
organizando juridicamente o Estado e o prprio ordenamento jurdico-positivo.
J o poder constituinte derivado atua como uma competncia e institudo
pelo prprio constituinte originrio, com o encargo de reformular a constituio,
adaptando-a realidade dos fatos, dentro dos limites nela prprios estabelecidos,
sem que se necessite recorrer a um novo poder constituinte originrio.
2.4 CONSTITUIO
2.4.1 Conceito
O vocbulo constituio tem sua origem no verbo latino constituere, que
transmite as idias de constituir, estabelecer, organizar, delimitar. Porm, no existe
um conceito nico que possa expressar o seu significado. 6 MORAES, Alexandre de. op. cit. p. 52.
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20
Como definies doutrinrias, podem ser apresentadas as seguintes: A Constituio o conjunto de regras relativas ao Governo e vida da comunidade estatal, encaradas sob o ponto de vista fundamental de sua existncia. Esse conjunto se desdobra em regras relativas organizao social essencial, isto , ordem individualista e s liberdades individuais, e em regras relativas organizao poltica e ao funcionamento do Governo.7 A Constituio contm os princpios jurdicos que designam os rgos supremos do Estado, estabelecendo o modo de sua criao, suas relaes recprocas, sua esfera de ao e fixam a posio fundamental do indivduo em face do poder estatal.8
Canotilho apresenta os conceitos de constituio moderna e de constituio
histrica, da seguinte forma9: Por constituio moderna entende-se a ordenao sistemtica e racional da comunidade poltica atravs de um documento escrito no qual se declaram as liberdades e os direitos e se fixam os limites do poder poltico. Podemos desdobrar este conceito de forma a captarmos as dimenses fundamentais que ele incorpora: (1) ordenao jurdico-poltica plasmada num documento escrito; (2) declarao, nessa carta escrita, de um conjunto de direitos fundamentais e do respectivo modo de garantia; (3) organizao do poder poltico segundo esquemas tendentes a torn-lo um poder limitado e moderado. Por constituio em sentido histrico entender-se- o conjunto de regras (escritas ou consuetudinrias) e de estruturas institucionais conformadoras de uma ordem jurdico-poltica num determinado sistema poltico-social.
2.4.2 Classificao
A classificao ou tipologia das constituies no uniforme entre os
doutrinadores, apresentando variaes entre um autor e outro, conforme o enfoque
pelo qual seja analisada.
Ser adotado aqui um desses modelos de classificao, devendo ser
lembrado que a utilidade da classificao consiste na possibilidade de se identificar
quais so as caractersticas que permitem distinguir entre um e outro tipo de
constituio.
7 HAURIOU, Maurice apud HORTA, Raul Machado. Direito Constitucional. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 50. 8 JELLINEK, Georg apud HORTA, Raul Machado. op.cit. p. 50. 9 CANOTILHO, Jos Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituio. 3 ed. Coimbra, Portugal: Livraria Almedina, 1999. p. 48-49.
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21
2.4.2.1 Quanto origem
a) Constituies histricas (ou histrico-costumeiras): Originam-se da tradio, dos
usos e costumes, da religio, da geografia, das relaes polticas e econmicas. O
titular do poder constituinte indeterminado e surgem a partir de um lento processo
de sedimentao consuetudinria.
b) Constituies democrticas (ou populares, promulgadas, votadas): Originam-se
da participao popular, atravs dos representantes eleitos para integrarem a
Assemblia Constituinte.
c) Constituies outorgadas: Derivam de uma concesso do governante, que
titulariza o poder constituinte originrio, sem qualquer participao popular.
d) Constituies pactuadas (ou dualistas): Surgem mediante pacto entre o soberano
e a organizao nacional.
e) Constituies cesaristas: So aquelas nas quais a participao popular serve
apenas para legitimar a presena do detentor do poder, atravs de plebiscito ou
referendo.
2.4.2.2 Quanto essncia
a) Constituio normativa: aquela que, alm de juridicamente vlida, est em
perfeita consonncia com o processo poltico e social.
b) Constituio semntica: um documento apenas formal, que em nada altera o
exerccio do poder pelos seus detentores.
a) Constituio nominal: aquela cujo carter educativo e prospectivo, esperando-
se que um dia venha a ser realizada na prtica.
2.4.2.3 Quanto sistematizao
a) Constituio unitria (ou reduzida, unitextual, codificada): aquela que se
apresenta em um documento nico, exaustivo de todo o seu contedo.
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b) Constituio variada (ou no codificada): aquela cujo texto encontra-se
espalhado por diferentes diplomas legais.
2.4.2.4 Quanto ideologia
a) Constituio ortodoxa: Elaborada com base num pensamento ideolgico nico e
centralizado.
b) Constituio ecltica: Oriunda do debate de ideologias e pensamentos diversos,
que acabam por se conciliar
2.4.2.5 Quanto extenso
a) Constituio sinttica: aquela em que o texto disposto de modo breve,
resumido, conciso, sem o predomnio de pleonasmos, repeties ou construes
prolixas. So caracterizadas pelas chamadas constituies negativas, constituies-
garantia ou constituies-quadro.
b) Constituio analtica: aquela cujo texto amplo, detalhista, minucioso e
pleonstico. Identificam-se nas constituies dirigentes.
2.4.2.6 Quanto ao contedo
a) Constituio material (ou substancial): o conjunto de normas substancialmente
constitucionais, escritas ou costumeiras, que podem vir ou no codificadas em um
texto exaustivo de todo o seu contedo.
b) Constituio formal (ou procedimental): o documento escrito e solene oriundo
da manifestao constituinte originria.
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23
2.4.2.7 Quanto forma
a) Constituio escrita (ou instrumental): As normas vm prescritas de modo
sistemtico e codificado em documentos solenes, por intermdio da grafia.
b) Constituio no escrita: As normas no vm grafadas de modo nico,
sistemtico, codificado e exaustivo num documento formal e solene.
2.4.2.8 Quanto ao processo de mudana
a) Constituio rgida: Suscetvel de mudana somente por intermdio de um
processo solene e complicado, bem mais especfico e rigoroso do que aquele
utilizado para modificar as leis comuns. alterada pelo poder constituinte derivado
ou reformador.
b) Constituio flexvel: As modificaes podem ocorrer a todo o momento, sem um
processo formal, complexo ou solene. alterada pelo poder legislativo ordinrio.
c) Constituio transitoriamente flexvel: Durante um perodo pode ser reformada
pelo mesmo rito das leis comuns, retornando depois ao processo rgido.
d) Constituio semi-rgida ou semi-flexvel (mista): Tem uma parte de seu texto
rgida e outra parte flexvel.
e) Constituio fixa: Somente pode ser modificada por um poder de competncia
idntica quele que a criou; ou seja, s pode ser alterada pelo poder constituinte
originrio.
d) Constituio imutvel (grantica, permanente, imutvel, intocvel): Pretende ser
eterna, no passvel de qualquer tipo de mudana.
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2.4.3 Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988: breve apresentao e classificao
Atravs da Emenda Constitucional n 26/1985 o ento Presidente da
Repblica, Jos Sarney, convocou a Assemblia Nacional Constituinte, que foi
instalada em 1 de fevereiro de 1987, em sesso presidida pelo Presidente do
Supremo Tribunal Federal, Ministro Jos Carlos Moreira Alves.
A Constituio de 1988 foi fortemente marcada pelo desejo do legislador
constituinte de assegurar mecanismos de proteo democracia e aos direitos
individuais, fruto do perodo de mais de duas dcadas de regime militar.
Sua elaborao sofreu tambm a influncia de textos constitucionais de
outros pases, devendo ser destacada em especial a Constituio da Repblica
Portuguesa, de 1976.
De acordo com o modelo de classificao das constituies apresentado, a
Constituio de 1988 pode ser assim classificada: democrtica (quanto origem), nominal (quanto essncia), unitria (quanto sistematizao), ecltica (quanto ideologia), analtica (quanto extenso), formal (quanto ao contedo), escrita (quanto forma) e rgida (quanto ao processo de mudana).
Desde a sua aprovao at o final de 2007 a Constituio de 1988 recebeu
55 Emendas Constitucionais, alm das 06 Emendas Constitucionais de Reviso,
aprovadas em 1994.
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25
3 O DIREITO PREVIDNCIA SOCIAL E AS CONSTITUIES
3.1 A CONSTITUCIONALIZAO DOS DIREITOS SOCIAIS
O constitucionalismo moderno ou liberal preocupou-se em consagrar os
direitos individuais e polticos, que possuam um aspecto sobretudo formal, exigindo
do Estado uma atitude negativa, ou seja, uma no interveno em relao aos
direitos individuais.
Esse no intervencionismo do Estado Liberal favoreceu o desenvolvimento da
Revoluo Industrial ao longo do sculo XIX, porm permitiu tambm grande
concentrao dos meios de produo nas mos de uns poucos capitalistas e forte
explorao da mo-de-obra trabalhadora, gerando um quadro crnico de
desigualdades e excluso social. Esse quadro levou ao desenvolvimento de
movimentos polticos que vieram a desembocar em guerras, revoltas e revolues
no incio do sculo XX.
Surge ento, como resposta ao individualismo do constitucionalismo liberal, o
constitucionalismo social, que considera como funo do Estado a realizao da
justia social e vem integrar ao texto das Constituies os direitos trabalhistas e
sociais.
As duas primeiras constituies sociais, que inauguraram a fase do
constitucionalismo contemporneo foram a Constituio do Mxico (1917) e a
Constituio de Weimar (1919).
Entre o final do sculo XIX e o incio do sculo XX o Mxico passou por um
perodo de forte convulso poltica e social. Em 1911 o ditador Porfrio Diaz, que
governou o pas durante 35 anos, foi obrigado a renunciar. A partir da sucederam-
se eleies, golpes, renncias, assassinatos das principais lideranas polticas,
perodos de guerra civil e o pas somente voltou a estabilizar-se a partir da dcada
de 1930.
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Em 1906 o grupo oposicionista Regeneracin, que reuniu jovens intelectuais
contrrios ditadura de Porfrio Diaz, e era liderado por Ricardo Flore Magn,
lanou um manifesto, influenciado pelo pensamento anarcossindicalista de Mikhail
Bakunin, no qual foram propostas as linhas mestras do texto constitucional de 1917.
A Assemblia Constituinte foi instalada em 01 de dezembro de 1916 e j em
31 de janeiro de 1917 a Constituio foi promulgada pelo ento Presidente
Venustiano Carranza (ele tambm deposto e assassinado em 1920).
Embora o contedo social esteja presente em todo o texto da Constituio
mexicana, dois dispositivos se destacam:
a) o artigo 27, que trata da reforma agrria;
b) o artigo 123, onde so consagrados diversos direitos dos trabalhadores, dentre os
quais o direito previdncia social (trabalhadores da iniciativa privada - inciso XXIX
da parte A; trabalhadores do servio pblico - inciso XI, alnea a da parte B):
de utilidade pblica a Lei do Seguro Social, que compreender seguros por invalidez, por velhice, seguros de vida, de interrupo involuntria do trabalho, de enfermidades e
acidentes de trabalho e qualquer outro seguro destinado proteo e ao bem-estar dos
trabalhadores, dos camponeses, dos no-assalariados e de outros setores sociais e
respectivos familiares. (traduo do inciso XXIX da parte A - trabalhadores da iniciativa privada) O seguro social se organizar conforme as seguintes bases mnimas: a) cobrir os acidentes e enfermidades profissionais; as enfermidades no profissionais e maternidade;
e a aposentadoria, a invalidez, a velhice e morte. (traduo do inciso XI, alnea a da parte B - trabalhadores do servio pblico)
Tambm a Constituio de Weimar (nome da cidade foi instalada a
Assemblia Constituinte) nasceu em meio a grandes perturbaes sociais pelas
quais passava a Alemanha, recm-derrotada e devastada pela Primeira Guerra
Mundial, pressionada pelas penalidades impostas pelo Tratado de Versalhes e
ameaada internamente por revoltas comunistas.
A Assemblia Constituinte foi convocada em 20 de janeiro de 1919 e a
Constituio foi promulgada em 11 de agosto de 1919.
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27
O projeto da Constituio de Weimar foi redigido pelo professor de origem
judaica Hugo Preuss, discpulo de Otto Von Gierke e de Max Weber. Seu texto
dividia-se em dois livros: o Livro I tratava da Estrutura e Fins da Repblica e o Livro
II dos Direitos e Deveres Fundamentais do Cidado Alemo. Este era formado por
sete captulos, sendo o captulo II voltado vida social e o captulo V vida
econmica.
O direito previdncia social encontrado no artigo 129, que trata da
aposentadoria do servidor pblico e da penso para sua famlia, em caso de
falecimento, e no artigo 161, que prev, para os trabalhadores em geral, a proteo
maternidade, velhice, s debilidades e aos infortnios, mediante sistema de
seguros, com a participao dos segurados: Artigo 129
(...) A aposentadoria e as penses aos dependentes sero reguladas pela lei. Artigo 161 Com o objetivo de manter a sade e a capacidade para o trabalho, proteger a
maternidade, minimizar as conseqncias econmicas da idade e doena e proteger
contra as vicissitudes da vida, o Estado estabelecer uma sistema abrangente de
seguros, baseado na capacidade de contribuio dos segurados.
Do ponto de vista da efetiva transformao social e implementao dos
direitos nelas previstos, nenhuma dessas duas Constituies teve grande sucesso.
A Constituio de Weimar acabou tendo uma curta durao, uma vez que j em
1933 os nazistas assumiram o poder na Alemanha e destruram a Repblica de
Weimar. A Constituio do Mxico, embora ainda em vigor, j sofreu mais de trs
centenas de alteraes e durante muitos anos foi praticamente ignorada pelo
governo.
Porm, ao elevarem os direitos econmicos e sociais ao mesmo patamar dos
direitos civis e polticos, elas colocaram o princpio da dignidade humana como um
objetivo a ser buscado pelo Estado, abriram espao para o surgimento da
democracia social e inauguraram o constitucionalismo social contemporneo,
exercendo profunda influncia sobre as constituies de dezenas de pases,
inclusive sobre a Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, de 1934.
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3.2 DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E OS DIREITOS SOCIAIS
3.2.1 Geraes dos direitos humanos fundamentais
Os direitos humanos fundamentais so didaticamente classificados em
geraes de direitos, que procuram destacar a sua evoluo ao longo dos tempos.
Essa classificao compreende as seguintes geraes:
a) Direitos fundamentais de primeira gerao: Surgidos no final do sculo XVII, com
a limitao do poder estatal e o florescimento das liberdades pblicas. Caracterizam-
se pelas prestaes negativas (dever de no-fazer por parte do Estado) ou formais,
pelas garantias e direitos individuais e polticos clssicos (direito vida, liberdade
de locomoo, de expresso, de credo religioso, de associao, direito ao voto,
etc.). Em suma, enfatizam o princpio da liberdade. So os direitos fundamentais encontrados na fase do constitucionalismo moderno ou liberal.
b) Direitos fundamentais de segunda gerao: Aparecem no incio do sculo XX,
aps a Primeira Guerra Mundial, junto com o constitucionalismo social
contemporneo, e compreendem os direitos sociais, econmicos e culturais.
Impem ao Estado prestaes positivas (aes pblicas voltadas sua
consecuo), reais e concretas, que assegurem o bem-estar e a igualdade.
Acentuam o princpio da igualdade.
c) Direitos fundamentais de terceira gerao: Essa classificao foi adotada no final
da dcada de 1970 e ainda no uniforme na doutrina. Trata dos direitos de
titularidade coletiva, tais como o meio-ambiente equilibrado, vida saudvel e
pacfica, avano do progresso e da tecnologia e direitos do consumidor. Esto
ligados ao princpio da solidariedade ou fraternidade.
d) Direitos fundamentais de quarta gerao: No incio do sculo XXI comea a ser
abordada a existncia de uma nova gerao de direitos, relacionados informtica,
biocincias, alimentos transgnicos, clonagens e outros.
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29
3.2.2 Pacto Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais
O nascimento do chamado Direito Internacional dos Direitos Humanos
ocorreu em 10 de dezembro de 1948, quando a Organizao das Naes Unidas -
ONU, motivada por um dos propsitos que levaram sua criao, qual seja, o
respeito e a proteo aos direitos humanos no mbito internacional, adotou a
Declarao Universal dos Direitos Humanos. Foi estabelecido assim um contraponto
doutrina da soberania nacional absoluta e exacerbao do positivismo jurdico,
que haviam possibilitado o desenvolvimento dos regimes polticos totalitrios e as
atrocidades cometidas nas duas guerras mundiais.
O artigo 25 da Declarao Universal dos Direitos Humanos preceitua que: Toda a pessoa tem direito a um nvel de vida suficiente para lhe assegurar e sua famlia
a sade e o bem-estar, principalmente quanto alimentao, ao vesturio, ao alojamento,
assistncia mdica e ainda quanto aos servios sociais necessrios, e tem direito
segurana no desemprego, na doena, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros
casos de perda de meios de subsistncia por circunstncias independentes da sua
vontade.
Porm, a proclamao e subscrio da Declarao pelos pases-membros da
ONU no era apta, por si s, a gerar direitos subjetivos para seus cidados ou
obrigaes internacionais para os Estados, pois possua apenas a natureza de
recomendao especial da Assemblia Geral. Era necessrio, portanto, que se
adotassem documentos que concretizassem a obrigatoriedade jurdica de sua
observncia.
Dentro desse contexto, a Assemblia Geral das Naes Unidas, em sua XXI
Sesso, realizada em 16 de dezembro de 1966, adotou, atravs da Resoluo n
2.200-A, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Polticos (PIDCP) e o Pacto
Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais (PIDESC).
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30
A inteno original era que houvesse um nico pacto internacional,
congregando os direitos de primeira gerao (PIDCP) e os de segunda gerao
(PIDESC), mas as divergncias surgidas entre os blocos de pases liderados pela
Unio Sovitica e pelos Estados Unidos acabaram conduzindo adoo de dois
tratados distintos.
Porm, se os pases liberais pretendiam separar os direitos humanos em
duas categorias com diferentes graus de importncia e exigibilidade, essa idia foi
logo rechaada pela prpria ONU, na Conferncia Mundial realizada em Teer, em
1968, na qual se afirmou a indivisibilidade e interdependncia dos direitos humanos:
"Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais so indivisveis, a
realizao dos direitos civis e polticos sem o gozo dos direitos econmicos, sociais
e culturais torna-se impossvel."
Tais caractersticas foram confirmadas pela Conferncia Mundial sobre
Direitos Humanos, realizada em Viena, em 1993: "Todos direitos humanos so
universais, indivisveis, interdependentes e inter-relacionados."
Da indivisibilidade e da interdependncia decorrem, respectivamente, as
idias de que:
a) s existe dignidade se todos os direitos humanos (sejam eles civis, polticos,
econmicos, sociais ou culturais) forem respeitados;
b) certo direito humano s alcana a sua eficcia plena se estiverem sendo
simultaneamente respeitados todos os outros direitos humanos que a ele se
relacionem.
Essa equivalncia e complementaridade entre os dois grupos de direitos
encontra-se expressa no prprio prembulo dos Pactos Internacionais de 1966:
Reconhecendo que, em conformidade com a Declarao Universal dos Direitos do Homem, o ideal do ser humano livre, no gozo das liberdades civis e polticas e liberto do
temor e da misria, no pode ser realizado e menos que se criem as condies que
permitam a cada um gozar de seus direitos civis e polticos, assim como de seus direitos
econmicos, sociais e culturais.
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31
O artigo 27-1 do PIDESC e o artigo 49-1 do PIDCP previam a sua entrada em
vigor trs meses aps o depsito do 35 instrumento de ratificao ou adeso junto
ao Secretrio-Geral da ONU. Curiosamente, entraram em vigor em datas bem
prximas: o PIDESC em 03 de janeiro de 1976 e o PIDCP em 23 de maro de 1976.
No Brasil, os Pactos Internacionais entraram em vigor a partir de 24 de abril
de 1992, sendo observados os seguintes procedimentos para sua adoo:
a) aprovao pelo Congresso Nacional, atravs do Decreto Legislativo n 226, de
12.12.1991, na forma do artigo 49, inciso I da Constituio Federal;
b) depsito da Carta de Adeso junto ao Secretrio-Geral da ONU, em 24.01.1992;
c) ratificao pelo Presidente da Repblica, atravs dos Decretos n 591 (PIDESC) e
592 (PIDCP), ambos de 06.07.1992.
Dessa forma, os direitos neles previstos foram integrados aos direitos e
garantias fundamentais assegurados em nosso ordenamento jurdico, na forma do
artigo 5, 2 da Constituio Federal: Os direitos e garantias expressos nesta
Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil
seja parte.
O artigo 9 do Pacto Internacional sobre os Diretos Econmicos, Sociais
e Culturais consagra o direito previdncia social e ao seguro social, nos
seguintes termos: Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito
de toda pessoa previdncia social, inclusive ao seguro social.
Portanto, alm das disposies constitucionais e legais de ordem interna, o
Estado brasileiro encontra-se vinculado ao dever de assegurar o direito
previdncia social, como um dos pressupostos da dignidade da pessoa humana,
tambm por fora do Direito Internacional.
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32
3.3 PREVIDNCIA SOCIAL E AS CONSTITUIES NO BRASIL - EVOLUO
HISTRICA
Para uma viso histrica da evoluo do direito previdncia social nas
Constituies brasileiras, o Anexo B (A previdncia social nas constituies
brasileiras, de 1824 a 1969) desta monografia apresenta uma transcrio de todos
os dispositivos relacionados ao assunto, encontrados desde a Constituio do
Imprio de 1824 at a Emenda Constitucional n 1, de 1969.
Neste captulo ser analisado como a previdncia social foi tratada em cada
uma dessas Constituies, considerando o contexto histrico e poltico em que
foram produzidas.
3.3.1 Constituio de 1824
A Constituio Poltica do Imprio do Brazil, de 1824, foi influenciada pelo
liberalismo do sculo XVIII, cuja caracterstica principal era restringir a atuao do
Estado a sua prpria auto-organizao e proteo e tutela dos direitos civis
individuais.
A estrutura da sociedade brasileira era formada pela classe alta dos senhores
de terra e comerciantes ligados ao comrcio exterior, uma pequena classe mdia de
funcionrios pblicos e uma grande massa de trabalhadores miserveis.
Do ponto de vista da estruturao do poder poltico, a Constituio de 1824
instituiu um Estado unitrio, com forte centralizao poltico-administrativa e com a
caracterstica marcante do Poder Moderador (ou funo moderada) delegado ao
monarca, que lhe permitia interferir no exerccio dos demais poderes.
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33
Uma peculiaridade da Constituio de 1824 que ela foi a primeira
Constituio do mundo (antes da Constituio belga de 1831) a consagrar em seu
texto uma declarao de direitos e garantias fundamentais. Essa declarao conta
de seu artigo 179, no qual se encontra o inciso XXXI: A Constituio tambem
garante os soccorros publicos.
A referncia aos socorros pblicos, de carter assistencial bastante vago e
escassa efetividade, por no se constituir efetivamente em um dever estatal, a
nica referncia prxima ao direito previdncia social na Constituio de 1824.
3.3.2 Constituio de 1891
A Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, de 1891, teve
sua inspirao no constitucionalismo norte-americano e buscou implantar o modelo
federalista. Foi a mais sinttica de nossas constituies, com 91 artigos.
Pela primeira vez o direito aposentadoria foi previsto como norma
constitucional, encontrada em seu artigo 75, embora com carter restritivo em
relao aos seus destinatrios (funcionrios pblicos) e ao seu objeto (invalidez no
servio da Nao): A aposentadoria s poder ser dada aos funcionrios pblicos
em caso de invalidez no servio da Nao.
Verifica-se que a Constituio de 1891 no se ocupou em disciplinar a ordem
econmica e social, sendo o direito previdncia social referido apenas na forma
restrita de seu mencionado artigo 75. Porm, coincidentemente, foi no perodo que
imediatamente a antecedeu e nas dcadas seguintes, durante sua vigncia, que o
sistema previdencirio brasileiro comeou a se desenvolver em nossa legislao
ordinria, principiando pelo funcionalismo pblico e depois alcanando as categorias
mais organizadas do setor privado. Desse perodo, merecem ser mencionados os
seguintes diplomas legais:
a) Lei n 3.397, de 24.11.1888: caixa de socorros para os trabalhadores das
estradas de ferro de propriedade estatal.
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34
b) Decreto n 9.212-A, de 26.03.1889: montepio obrigatrio dos empregados dos
correios.
c) Decreto 10.269, de 20.07.1889: fundo especial de penses dos trabalhadores das
oficinas da Imprensa Rgia.
d) Lei n 3.724, de 15.01.1919: seguro de acidentes do trabalho.
e) Decreto Legislativo n 4.682, de 24.01.1923 (Lei Eloy Chaves): autoriza a
instituio das Caixas de Aposentadoria e Penses.
Embora no possa ser considerado exatamente como uma norma que
assegure o direito previdncia social, merece ser citado, como curiosidade
histrica, o artigo 7 das Disposies Transitrias da Constituio de 1891, nos
termos do qual: concedida a D. Pedro de Alcntara, ex-Imperador do Brasil, uma penso que, a contar
de 15 de novembro de 1889, garanta-lhe, por todo o tempo de sua vida, subsistncia
decente. O Congresso ordinrio, em sua primeira reunio, fixar o quantum desta
penso.
3.3.3 Constituio de 1934
Foi atravs da Constituio da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, de
1934, que ocorreu a constitucionalizao dos direitos sociais em nosso pas. Fruto
da Revoluo de 1930, que pretendeu romper com o Estado liberal-oligrquico da
Repblica Velha, a sua principal influncia veio da Constituio alem de Weimar,
de 1919.
J em seu prembulo, a Constituio de 1934 propugna como misso do
Estado brasileiro organizar um regime democrtico, que assegure Nao a
unidade, a liberdade, a justia e o bem-estar social e econmico. O Ttulo IV, que
trata da Ordem Econmica e Social, inicia-se em seu artigo 115 pelo
condicionamento da ordem econmica aos princpios da Justia e as necessidades
da vida nacional, de modo que possibilite a todos existncia digna.
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35
O direito previdncia social para os trabalhadores em geral assegurado no
artigo 121, 1, alnea h, atravs de instituio de previdncia, mediante
contribuio igual da Unio, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da
invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte.
Nota-se que j se prev a participao no custeio da previdncia social
envolvendo o Poder Pblico (Unio), os empregadores e os empregados.
Foi estabelecida a competncia da Unio para legislar sobre assistncia
social (artigo 5, inciso XIX, alnea c), cabendo ao Poder Legislativo, com a sano
do Presidente da Repblica, a legislao concernente a licenas, aposentadorias e
reformas (artigo 39, item 8, alnea d).
A previdncia social vem inserida dentro do contexto do Direito do Trabalho, o
que guarda coerncia com a forte interveno estatal nas relaes trabalhistas
durante o governo de Getlio Vargas, sendo um instrumento de incorporao social
controlada dos trabalhadores.
Tambm o direito previdncia social para os funcionrios pblicos tratado
de forma bem detalhada, em seu artigo 170, estabelecendo a aposentadoria
compulsria aos 68 anos de idade e a aposentadoria por invalidez, com vencimentos
integrais aps trinta anos de servio, por acidente em servio ou por doena
contagiosa ou incurvel.
Ao longo da dcada de 1930 so criados os Institutos de Aposentadorias e
Penses (IAPs), que englobam toda uma categoria profissional, superando o
sistema anterior das pequenas Caixas de Aposentadorias e Penses, que eram
formadas ao nvel de empresas, com pequena cobertura previdenciria. Citam-se os
seguintes:
a) Instituto de Aposentadorias e Penses dos Martimos - IAPM (Decreto n
22.872/1933).
b) Instituto de Aposentadorias e Penses dos Comercirios - IAPC (Decreto n
24.273/1934).
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36
c) Instituto de Aposentadorias e Penses dos Bancrios - IAPB (Decreto n
24.615/1934).
d) Instituto de Aposentadorias e Penses dos Industririos - IAPI (Lei n 367/1936).
e) Instituto de Aposentadorias e Penses dos Servidores do Estado - IPASE
(Decreto-Lei n 288/1938).
f) Instituto de Aposentadorias e Penses dos Empregados em Transportes e Cargas
- IAPTEC (Decreto-Lei n 651/1938).
3.3.4 Constituio de 1937
A Constituio de 1934 teve vida bastante curta, uma vez que pouco mais de
trs anos aps a sua promulgao ocorreu o golpe de Estado que deu incio ao
perodo do Estado Novo e foi outorgada a Constituio dos Estados Unidos do Brasil
de 1937.
No que se refere previdncia social, a Constituio de 1937 no promoveu
grandes alteraes em relao s disposies que j constavam do texto da
Constituio de 1934.
Merece ser destacado o contedo de seu artigo 177, norma tpica de um
Estado totalitrio, que permitiu a aplicao de uma espcie de aposentadoria
compulsria aos funcionrios pblicos que de alguma forma fossem contrrios ou
inconvenientes ao regime: Art 177 - Dentro do prazo de sessenta dias, a contar da data desta Constituio, podero
ser aposentados ou reformados de acordo com a legislao em vigor os funcionrios civis
e militares cujo afastamento se impuser, a juzo exclusivo do Governo, no interesse do
servio pblico ou por convenincia do regime.
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37
3.3.5 Constituio de 1946
A Constituio dos Estados Unidos do Brasil de 1946 sucedeu a deposio de
Getlio Vargas e buscou restaurar o regime democrtico e o quadro normativo
estabelecido pela Constituio de 1934.
No que se refere ao direito previdncia social devem ser destacadas as
seguintes inovaes:
a) a competncia para legislar sobre previdncia social ficou assentada em
definitivo, tornando-se competncia concorrente entre a Unio (artigo 5, inciso XV,
alnea b) e os Estados (artigo 6), em modelo semelhante ao existente na atual
Constituio de 1988;
b) foi estabelecida a competncia do Tribunal de Contas para julgar a legalidade das
aposentadorias, reformas e penses dos funcionrios pblicos (artigo 77, inciso III);
c) a previdncia social deixou de ser apenas um apndice do Direito do Trabalho,
ganhando autonomia, conforme se depreende pela leitura do artigo 5, inciso XV,
alneas a e b e do artigo 157, caput;
d) o funcionrio pblico passou a contar com o direito aposentadoria voluntria
aps 35 anos de tempo de servio (artigo 191, 1), alm da aposentadoria por
invalidez e da aposentadoria compulsria aos 70 anos de idade (artigo 191, incisos I
e II). Os vencimentos so integrais com o mnimo de 30 anos de servio e
proporcionais, se contar tempo inferior;
e) pela primeira vez foi previsto que o tempo de servio pblico, federal, estadual ou
municipal computar-se- integralmente para efeitos de disponibilidade e
aposentadoria (artigo 192). Embora essa previso s tenha se materializado
atravs da legislao ordinria muitos anos mais tarde, a sua relevncia no pode
ser olvidada, pois abriu caminho para a contagem recproca dos tempos de filiao
dos regimes de previdncia dos funcionrios pblicos, entre si, e posteriormente
tambm entre eles e o regime geral de previdncia social;
f) estabeleceu a paridade entre os proventos da inatividade e os vencimentos dos
funcionrios em atividade (artigo 193).
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No campo da legislao ordinria, cumpre destacar a edio, ainda no
perodo Vargas, do Decreto-Lei n 7.526, de 07.05.1945, que pretendia criar o
Instituto de Servios Sociais do Brasil - ISSB, com o objetivo de unificar os Institutos
de Aposentadorias e Penses - IAPs. A criao do ISSB teve por inspirao o
Relatrio Beveridge, que propunha uma estrutura unificada do ponto de vista
administrativo e universal em relao s regras de custeio e aos critrios de
concesso dos benefcios.
Porm, essa unificao no se materializou, somente vindo a ocorrer com a
aprovao da Lei Orgnica da Previdncia Social - LOPS (Lei n 3.807/1960), que
promoveu a padronizao entre as contribuies e os benefcios nos diversos
Institutos, e a criao do Instituto Nacional da Previdncia Social - INPS (Decreto-Lei
n 72/1966), que unificou administrativamente os IAPs.
3.3.6 Constituio de 1967 e a Emenda Constitucional n 1 de 1969
A Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1967 e a Emenda
Constitucional n 1 de 1969, embora tenham restringido os direitos e garantias
individuais, mantiveram a estrutura do direito previdncia social j consagrada na
Constituio de 1946, acrescentando a ela algumas inovaes.
Dentre tais inovaes, destacam-se:
a) o seguro de acidentes do trabalho foi finalmente incorporada estrutura da
previdncia oficial;
b) aposentadoria voluntria das mulheres aos trinta anos de servio;
c) exigncia de prvia fonte de custeio para a instituio de novos benefcios ou para
majorao dos j existentes.
Em 1942 o economista William Henry Beveridge apresentou o Report on Social Insurance and Allied Services, (Beveridge Report ou Relatrio Beveridge), propondo ao governo ingls uma srie de medidas para combater os grandes males sociais (escassez, doena, ignorncia, misria e ociosidade), envolvendo a atuao conjunta do Estado e dos indivduos.
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Trouxe tambm previso de aposentadoria especial aos 25 anos de servio
aos civis que combateram na Segunda Guerra Mundial.
Foi a partir desse perodo que o direito previdncia social deixou de
beneficiar apenas os funcionrios pblicos e os trabalhadores urbanos empregados,
sendo estendido a outras categorias de trabalhadores, tais como os autnomos,
domsticos (Lei n 5.859/1972) e os rurais (includos em um sistema paralelo, de
carter assistencial, o FUNRURAL - Fundo de Assistncia ao Trabalhador Rural,
criado pela Lei n 4.214/1963, aperfeioado e efetivamente implementado pelas Leis
Complementares n 11/1971 e n 16/1973).
Atravs da Lei n 6.439/1977 foi institudo o SINPAS - Sistema Nacional de
Previdncia e Assistncia Social, com o objetivo de integrar as atividades de
previdncia social, assistncia mdica e assistncia social e a gesto administrativa,
financeira e patrimonial das vrias entidades vinculadas ao Ministrio da Previdncia
e Assistncia Social (INPS, IAPAS, INAMPS, DATAPREV, LBA, FUNABEM e
CEME).
Posteriormente, a Emenda Constitucional n 18/1981 constitucionalizou a
aposentadoria especial dos professores e das professoras, aos 30 e 25 anos de
servio, respectivamente.
3.4 O DIREITO PREVIDNCIA SOCIAL NAS CONSTITUIES NO MUNDO
Neste captulo ser realizado um estudo comparativo das constituies de
diversos pases do mundo, com o objetivo de se verificar como o direito
previdncia social encontra-se assentado nos diplomas constitucionais na
atualidade.
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Foram pesquisadas as constituies de 35 pases de todos os continentes,
porm com uma maior amplitude para os pases da Amrica Latina e da Europa.
Todos os dispositivos diretamente relacionados previdncia social, identificados
nessas constituies, foram selecionados e formam o Anexo C (A previdncia social
nas constituies ao redor do mundo).
No primeiro tpico sero analisadas e comentadas as regras sobre a
previdncia social encontradas em cada uma dessas constituies, de forma
individualizada.
Em seguida, ser apresentado um quadro comparativo onde as constituies
foram classificadas tendo por critrios:
a) meno ao direito previdncia social no texto constitucional;
b) insero do direito previdncia social entre os direitos fundamentais ou direitos
sociais;
c) grau de detalhamento das regras relativas ao direito previdncia social.
3.4.1 Anlise do direito previdncia social nas constituies estrangeiras
Inicialmente oportuno apresentar algumas observaes sobre a terminologia
relacionada previdncia social encontrada nos diferentes idiomas pesquisados
(espanhol, ingls, italiano e francs):
1 - Constituies dos pases de lngua espanhola:
a) a expresso seguridad social no corresponde exatamente Seguridade Social
que consta de nossa Constituio Federal de 1988; em geral utilizada num sentido
amplo (abrangendo a previdncia social e a assistncia social e algumas vezes
tambm a sade e a moradia), mas em alguns contextos aparece em sentido mais
restrito, referindo-se apenas previdncia social;
b) algumas utilizam tambm a expresso seguros sociales, neste caso indicando
diretamente a previdncia social;
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41
c) os benefcios previdencirios so as jubilaciones (aposentadorias), pensiones
(penses) e os subsidios (referindo-se ora aos benefcios temporrios - os auxlios
- ora s aposentadorias);
d) as contingncias que do origem aos benefcios so, de forma geral, assim
referidas: enfermedad, maternidad, riesgos del trabajo ou profesionales, invalidez ou
discapacidad, desempleo (ou desocupacin forzosa, paro forzoso ou cesanta),
vejez e muerte.
2 - Constituies dos pases de lngua inglesa (ou de outros idiomas, mas cujos
textos foram obtidos em lngua inglesa):
a) a previdncia social em sua maioria referida como social security e, com menor
freqncia, como social insurance;
b) os benefcios so denominados pensions (penses, de forma genrica,
abrangendo tambm aposentadorias) ou old age pensions (aposentadorias);
c) as situaes protegidas: disease ou sickness ou illness (doena), invalidity,
disability ou disablement (invalidez), loss of breadwinner ou loss of a provider (morte
do responsvel pelo sustento da famlia), bring up children ou motherhood
(nascimento, maternidade), unemployment (desemprego), old age (velhice).
3 - Constituies dos pases de lngua italiana e francesa:
a) a previdncia social assistenza sociale ou previdenza sociale, em italiano, e
scurit sociale, em francs.
AMRICA LATINA
ARGENTINA:
a) O Estado assegurar os benefcios da previdncia social (seguridad social), que
tero carter integral e irrenuncivel.
b) A lei estabelecer o seguro social obrigatrio, a cargo de instituies nacionais ou
provinciais e tratar das aposentadorias e penses (jubilaciones y pensiones).
c) O direito previdncia social aparece referido no artigo 14, dentro do Captulo
Primeiro (Declaraes, Direitos e Garantias), com pouco detalhamento, junto aos
direitos dos trabalhadores.
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BOLVIA:
a) A seguridad social direito fundamental de toda pessoa (artigo 7).
b) A seguridad social tambm dever fundamental de todos, que devem colaborar
com o Estado e com a sociedade para a sua consecuo (artigo 8).
c) A seguridad social tratada no artigo 158, dentro do ttulo referente ao Regime
Social, de forma autnoma aos direitos dos trabalhadores, com um mdio grau de
detalhamento.
d) Subordina-se aos princpios de universalidade, solidariedade, unidade de gesto,
economia, oportunidade e eficcia.
e) Assegura-se a cobertura das contingncias de enfermidade, maternidade, riscos
profissionais, invalidez, velhice, morte e desemprego, alm da assistncia familiar e
moradia de interesse social.
f) No h regras especficas relativas aos funcionrios pblicos, cujos direitos e
deveres devem ser estabelecidos no Estatuto dos Funcionrios Pblicos.
CHILE:
a) A previdncia social referida no artigo 19, inciso n 18, com pouco
detalhamento, porm como direito fundamental assegurado a todas as pessoas.
b) A atuao do Estado ser dirigida a garantir o acesso ao gozo de prestaes
bsicas uniformes, atravs de instituies pblicas ou privadas, sob a superviso
estatal.
COLMBIA:
a) O Ttulo II da Constituio colombiana trata dos direitos, deveres e garantias,
subdividindo-se em dois captulos: o primeiro voltado aos direitos fundamentais e o
segundo aos direitos sociais, econmicos e culturais. Neste encontra-se o artigo 48,
voltado seguridad social.
b) A seguridad social um direito irrenuncivel, garantido a todos os habitantes.
c) um servio pblico obrigatrio, podendo ser prestado por entidades pblicas ou
privadas, sob a direo, coordenao e controle do Estado, sujeitando-se aos
princpios da eficincia, universalidade e solidariedade. Seus recursos no podem
ser destinados a outras finalidades.
d) A lei deve definir meios para que as prestaes (pensiones) mantenham o seu
poder aquisitivo.
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COSTA RICA:
a) O artigo 73, inserido no ttulo dos Direitos e Garantias Sociais, trata da
previdncia social (seguros sociales).
b) A previdncia social ser financiada por contribuio obrigatria do Estado, dos
empregadores e dos trabalhadores, com a finalidade de proteo contra os riscos de
enfermidade, invalidez, maternidade, velhice e morte.
c) A administrao da previdncia social ser de responsabilidade da Caixa
Costarriquense de Seguro Social e seus recursos no podero ser utilizados para
finalidades distintas.
d) Os seguros contra riscos profissionais (ou acidentes de trabalho) sero de
responsabilidade exclusiva dos empregadores e regidos por disposies especiais.
CUBA:
a) Os artigos 47 a 49, inseridos no captulo relativo aos direitos, deveres e garantias
fundamentais, tratam da previdncia social, assistncia social e proteo ao
trabalhador.
b) O Estado deve garantir a proteo aos trabalhadores incapacitados por idade,
invalidez ou enfermidade, bem como a suas famlias, em caso de morte.
c) Os idosos sem recursos devem ser atendidos pela assistncia social.
d) Aos trabalhadores incapacitados por acidente de trabalho ou enfermidade
profissional assegura-se auxlio temporrio ou aposentadoria.
EQUADOR:
a) A Constituio equatoriana dedica toda uma seo seguridad social (artigos 55
a 61), onde o direito previdncia social tratado com alto grau de detalhamento.
b) A seguridad social estabelecida como um dever do Estado e direito
irrenuncivel e imprescritvel de todos os habitantes e rege-se pelos princpios da
solidariedade, obrigatoriedade, universalidade, eqidade, eficincia, subsidiariedade
e suficincia.
c) A previdncia geral obrigatria cobrir as necessidades de enfermidade,
maternidade, riscos do trabalho, desemprego, velhice, invalidez, incapacidade e
morte. Sua proteo deve ser estendida progressivamente a toda a populao
urbana e rural, com relao de emprego ou no.
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d) A previdncia geral obrigatria de responsabilidade do Instituto Equatoriano de
Seguridade Social, entidade sob a direo tripartida e paritria dos segurados, dos
empregadores e do Estado. Seus recursos devem ser separados do Estado e
aplicados no mercado financeiro, sujeitos aos princpios da eficincia, segurana e
rentabilidade.
e) Os benefcios previdencirios no podem ser objeto de cesso, penhora ou
reteno, salvo para o pagamento de prestaes alimentares ou obrigaes com a
instituio seguradora. No podem ser criados novos benefcios ou melhorados os
benefcios existentes sem a devida fonte de custeio, segundo estudos atuariais. Os
proventos das aposentadorias devero ser reajustados anualmente.
f) Estabelece um regime especial de previdncia para os trabalhadores rurais e
pescadores artesanais, financiado solidariamente por contribuies do sistema
nacional de seguridade social e por dotaes oramentrias estatais.
g) Prev a previdncia complementar facultativa, para cobertura de necessidades
no protegidas pela previdncia geral obrigatria ou melhoria de suas prestaes.
h) Encontram-se tambm nas Disposies Transitrias regras tratando da criao de
uma comisso interventora com a finalidade de iniciar um processo de
transformao e racionalizao da estrutura do Instituto Equatoriano de Seguridade
Social, bem como de critrios para o pagamento da dvida do governo nacional com
o Instituto.
MXICO
a) A Constituio mexicana, que teve o mrito de ser a primeira no mundo a tratar
dos direitos sociais, trata em seu artigo 123 dos direitos trabalhistas e tambm do
direito previdncia social.
b) A previdncia social voltada aos trabalhadores do setor privado deve abranger a
proteo invalidez, velhice, vida, interrupo involuntria do trabalho,
enfermidades e acidentes.
c) Semelhantemente, assegura-se aos trabalhadores do servio pblico proteo
contra acidentes e enfermidades profissionais, enfermidades no profissionais,
maternidade, aposentadoria, invalidez, velhice e morte.
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PARAGUAI
a) A Constituio paraguaia contm dois artigos que tratam do direito previdncia
social, dentro do captulo dos direitos trabalhistas: o artigo 95 voltado aos
trabalhadores privados e o artigo 103 aos funcionrios e empregados pblicos.
b) O artigo 95 estabelece o sistema obrigatrio e integral de seguridade social,
fornecido por instituies pblicas ou privadas, sob a superviso do Estado. Veda o
desvio de seus recursos para outras finalidades.
c) O artigo 103 define que a lei deve regular o regime previdencirio dos servidores
pblicos. Garante a atualizao dos proventos de aposentadoria pelos mesmos
critrios adotados para os funcionrios pblicos em atividade.
PERU
a) Reconhece, dentre os direitos sociais e econmicos, o direito universal e
progressivo de todas as pessoas seguridad social, sem maior detalhamento (artigo
10).
b) Prev o acesso aos benefcios atravs de entidades pblicas ou privadas e veda
o desvio de seus recursos (artigos 11 e 12).
URUGUAI
a) Reconhece em seu artigo 67 o direito dos trabalhadores previdncia social, nos
casos de acidentes, enfermidade, invalidez, desemprego, aposentadoria por idade
avanada e penso por morte a suas famlias.
b) Prev que os proventos das aposentadorias e penses devero ser reajustados
de acordo com a variao do ndice mdio dos salrios e se efetuaro nas mesmas
oportunidades e valores estabelecidos para o aumento das remuneraes dos
servidores do Governo Central.
c) O financiamento das prestaes se dar atravs de contribuies dos
trabalhadores, dos empregados, por outros tributos e pela assistncia financeira do
Estado, se necessrio.
VENEZUELA
a) O direito previdncia social encontra-se no captulo dos direitos sociais, nos
artigos 80, 86 e 88.
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b) As aposentadorias e penses dos idosos no podem ser inferiores ao salrio
mnimo urbano.
c) Toda pessoa tem direito seguridad social como servio pblico de carter no
lucrativo, que garanta a sade e assegure proteo em contingncias de
maternidade, paternidade, enfermidade, invalidez, acidente de trabalho,
desemprego, viuvez e orfandade.
d) A efetividade do sistema de seguridade social obrigao do Estado, com carter
universal, integral, de financiamento solidrio, unitrio, eficiente e participativo. A
ausncia de capacidade contributiva no implica em excluso da proteo pela
seguridade social. Os recursos no podem ser utilizados em outra finalidade.
e) As donas de casa tm direito seguridade social, na forma da lei.
f) Lei nacional estabelecer o regime previdencirio dos funcionrios pblicos,
vedada a acumulao de aposentadorias e penses (artigos 147 e 148).
AMRICA ANGLO-SAXNICA
CANAD
a) Na Constituio do Canad o direito previdncia social referido apenas no
artigo 94A, inserido dentro do captulo que trata da distribuio da competncia
legislativa entre o Parlamento e as Assemblias Legislativas das provncias.
b) Compete ao Parlamento aprovar leis relacionadas s aposentadorias (old age
pensions) e aos demais benefcios, includas as penses (survivors) e benefcios por
incapacidade (disability benefits), ressalvando-se que tais leis no podem afetar a
vigncia de outras adotadas pelas Assemblias Legislativas.
ESTADOS UNIDOS DA AMRICA
a) A Constituio dos Estados Unidos no possui nenhuma previso relativa ao
direito previdncia social.
b) Tal fato se explica, uma vez que sua constituio data do final do sculo XVIII,
num perodo marcado pelo liberalismo, e foi, juntamente com a francesa, a
precursora do constitucionalismo moderno. Nessa poca os direitos civis
comeavam a ser tutelados pelos ordenamentos jurdicos, ao passo em que os
direitos sociais ainda eram ignorados.
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EUROPA
ALEMANHA
a) A Constituio da Alemanha de 1949 no seguiu o mesmo caminho da
Constituio de Weimar de 1919, optando pelo no detalhamento dos direitos
sociais. Dessa forma, h apenas algumas poucas referncias previdncia social.
b) Dentro do captulo que trata da repartio da competncia legislativa, o artigo 74,
inciso 12 insere no mbito da competncia legislativa concorrente da Federao e
dos Estados Federais a legislao trabalhista (labor law) e a previdncia social
(social security). tambm de competncia concorrente a legislao referente s
aposentadorias (pensions) dos servidores pblicos, nos termos do artigo 74A.
c) Dentro do captulo relativo execuo das leis federais e Administrao
Federal, o artigo 87 trata da competncia pela administrao e superviso das
instituies de previdncia social (social insurance institutions), a ser exercida por
organizao federal ou estadual, dependendo da sua abrangncia.
USTRIA
a) A Constituio austraca limita-se a estabelecer a competncia legislativa e
executiva da Federao sobre o seguro social (social insurance), em seu artigo 10,
inciso 11.
BLGICA
a) O artigo 23 da Constituio belga afirma que todos tm direito a uma vida com
dignidade, cabendo s leis garantir os direitos econmicos, sociais e culturais e
determinar as condies para o seu exerccio. Dentre esses direitos inclui-se a
previdncia social (social security).
ESPANHA
a) A Constituio espanhola estabelece que os poderes pblicos mantero um
regime pblico de seguridade social para todos os cidados, que garanta a
assistncia e prestaes sociais suficientes ante situaes de necessidade,
especialmente em caso de desemprego (artigo 41).
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b) Interessante notar que esse dispositivo encontra-se inserido no Ttulo I (dos
direitos e deveres fundamentais), em seu captulo terceiro (dos princpios diretores
da poltica social e econmica). O artigo 53, inciso 3, que trata das garantias das
liberdades e direitos fundamentais determina que o reconhecimento, o respeito e a
proteo dos princpios inseridos naquele captulo informaro a legislao positiva, a
prtica judicial e a atuao dos poderes pblicos, podendo ser alegados perante a
jurisdio ordinria nos termos das leis que os regulem.
FINLNDIA
a) Dentre os direitos fundamentais, a Constituio finlandesa destaca o direito
previdncia social (social security) em seu artigo 19.
b) Todos que no possam obter os meios necessrios para uma vida digna tm o
direito de receber a indispensvel subsistncia e cuidado. Cabe ao poder pblico
assegurar a assistncia bsica nos eventos de desemprego, doena, incapacidade,
velhice, maternidade ou morte.
FRANA
a) A Constituio francesa trata da previdncia social (scurit sociale) apenas para
definir a competncia do Parlamento para votar as leis que estabeleam os seus
princpios fundamentais e regras de financiamento (artigos 34, 39 e 47-1).
GRCIA
a) O artigo 22 da Constituio da Grcia estabelece que o Estado dever prover o
direito dos trabalhadores previdncia social, nos termos da lei.
ITLIA
a) O artigo 38 da Constituio italiana, dentro do ttulo que trata das relaes
econmicas, define que todo cidado incapaz para o trabalho e desprovido dos
meios necessrios para sua subsistncia tem direito manuteno e previdncia
social (assistenza sociale).
b) Os trabalhadores tm direito assistncia nos casos de infortnio, doena,
invalidez, velhice e desemprego involuntrio (infortunio, malattia, invalidit, vecchiaia
e disoccupazione involontaria). Esses encargos so de responsabilidade estatal,
porm a assistncia privada livre.
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PORTUGAL
a) A Constituio de Portugal (uma das principais fontes de inspirao de nossa
Constituio de 1988) consagra entre seus princpios fundamentais a dignidade da
pessoa humana (artigo 1) e a realizao da democracia social (artigo 2).
b) Todos tm direito previdncia social (segurana social), nos termos do artigo 63.
c) Compete ao Estado organizar, com a participao dos trabalhadores e demais
beneficirios, o sistema de segurana social, que proteger os cidados na doena,
velhice, invalidez, viuvez e orfandade, bem como no desemprego e em outras
situaes de falta ou diminuio dos meios de subsistncia ou de capacidade para o
trabalho.
d) As penses de velhice e invalidez so calculadas de acordo com o tempo de
trabalho, independentemente do setor em que tenha sido prestado.
e) O Estado apoiar e fiscalizar a atividade e o funcionamento de instituies
particulares de solidariedade social.
RSSIA
a) A Constituio russa estabelece em seu artigo 39 que todos tm direito
previdncia social nos casos de velhice, doena, invalidez, morte, maternidade e em
outras situaes estabelecidas em lei.
b) As aposentadorias e os benefcios sociais sero estabelecidos em lei.
SUCIA
a) A Constituio da Sucia no formada por um documento nico, mas sim por
um conjunto de leis fundamentais (fundamental laws) aprovadas em diferentes
perodos de sua histria.
b) A lei fundamental The Instrument of Government define como objetivo
fundamental do poder pblico assegurar o bem-estar (welfare) pessoal, econmico e
cultural dos indivduos, estabelecendo a previdncia social (social security) como um
dos instrumentos sob a sua responsabilidade (artigo 2).
SUA
a) A Constituio da Sua trata do direito previdncia social com alto grau de
detalhamento, especialmente em seus artigos 111 a 117.
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50
b) Asseguram-se como direitos fundamentais a dignidade humana (artigo 7) e o
auxlio e a assistncia a quem se encontre em situao de necessidade e no tenha
condies de prover sua prpria subsistncia (artigo 12).
c) A Confederao e os Cantes devem empenhar-se para que todos sejam
segurados contra as conseqncias econmicas da idade, invalidez, doena,
acidente, desemprego, maternidade, orfandade e viuvez. Porm, essa disposio
encontra-se no artigo 41, relativo aos objetivos sociais, que recebem um tratamento
distinto dos direitos fundamentais civis e dos direitos da cidadania e direitos
polticos; tais objetivos sociais so buscados pela Confederao e pelos Cantes no
mbito de suas competncias constitucionais e no limite dos recursos financeiros
disponveis e deles no emanam direitos diretos a prestaes estatais.
d) O sistema previdencirio suo encontra-se assentado em trs pilares (artigo 111):
a previdncia federal de velhice, sobreviventes e invlidos (lassicurazione federale
vecchiaia, superstiti e invalidit); a previdncia profissional (la previdenza
professionale) e a previdncia privada (la previdenza individuale).
e) A previdncia de velhice, sobreviventes e invlidos (artigo 112) regulada pela
Confederao e observa os seguintes princpios: obrigatria; deve cobrir o
necessrio para a subsistncia; o provento mximo no pode exceder o dobro do
provento mnimo; os proventos devem ser reajustados de forma a observar, no
mnimo, a evoluo dos preos.
f) Seu financiamento feito por contribuies dos segurados, dos empregadores, d