a constituição de holding como forma de planejamento tributario

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1 AS CONTRIBUIÇÕES DA CONSTITUIÇÃO DE UMA HOLDING NO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: UM ESTUDO DE CASO Autores: Nilton Facci* Professor no curso de Ciências Contábeis na UEM – Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Controladoria e Contabilidade pela UNOPAR – Londrina / PR. Endereço: Alameda Dr. João Paulino, 934 – Bairro Jardim Alvorada – CEP 87033- 450. Maringá / Paraná. Email: [email protected] Mara Cristina Piovesan** Bacharel em Ciências Contábeis Especialista em Consultoria contábil de Custos pela UEM – Maringá/PR Especialista em MBA Finanças pelo CESUMAR – Maringá/PR Especialista em Contabilidade e Controladoria pela UEM – Maringá/PR Especialista em Gestão Contábil Financeira pela UEM – Maringá/PR Endereço: Rua Elis Regina, 134- Bairro Jardim America – CEP: 87045-540 Maringá/Paraná Email: [email protected]

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Holding, planejamento tributario

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Page 1: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

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AS CONTRIBUIÇÕES DA CONSTITUIÇÃO DE UMA HOLDING NO

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: UM ESTUDO DE CASO

Autores: Nilton Facci* Professor no curso de Ciências Contábeis na UEM – Universidade Estadual de Maringá. Mestre em Controladoria e Contabilidade pela UNOPAR – Londrina / PR. Endereço: Alameda Dr. João Paulino, 934 – Bairro Jardim Alvorada – CEP 87033-450. Maringá / Paraná. Email: [email protected] Mara Cristina Piovesan** Bacharel em Ciências Contábeis Especialista em Consultoria contábil de Custos pela UEM – Maringá/PR Especialista em MBA Finanças pelo CESUMAR – Maringá/PR Especialista em Contabilidade e Controladoria pela UEM – Maringá/PR Especialista em Gestão Contábil Financeira pela UEM – Maringá/PR Endereço: Rua Elis Regina, 134- Bairro Jardim America – CEP: 87045-540 Maringá/Paraná Email: [email protected]

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AS CONTRIBUIÇÕES DA CONSTITUIÇÃO DE UMA HOLDING NO

PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO: UM ESTUDO DE CASO

RESUMO

A atualidade da legislação tributária brasileira faz com que o profissional sempre esteja apto a analisar, interpretar e modificar a realidade tributária, seja da pessoa física ou jurídica, e este artigo vem de encontro a este principio, quando se apresenta a proposta de constituição de uma nova pessoa jurídica, no intuito de economia tributária de forma lícita. A constituição de holdings patrimonial, ou seja, sociedades empresariais para a administração de bens próprios, seja de Pessoa Física ou Pessoa Jurídica, podem estar sob as formas de sociedade limitada, anônima ou offshore, a qual permite analisar estratégias de economia de tributos, ao se optar pela constituição da holding, podendo ser considerada uma forma de planejamento tributário. Na analise efetuada nesse artigo, verificou-se que a opção do Lucro Presumido, com receitas de até R$ 120.000,00, gera uma carga tributária de 8,93%, que é proporcionalmente menor que na Pessoa Física, constituindo-se, portanto, na melhor estratégia para a constituição de holding.

ABSTRACT The actuality of the brazilian tax law makes the work always is able to analyze, interpret and modify the actual tax, whether the person or entity, and this article is against this principle, when presented the proposal to establish a new legal entity in order of tax savings in a bid. The formation of asset holdings, or business partnerships for the administration of own assets is of Individual or Legal Entity, may be in the forms of limited liability company, or anonymous offshore, which allows us to analyze strategic tax savings, when opt for the establishment of the holding and may be considered a form of tax planning. In the analysis made in this article, it was found that the option of presumed income, with revenues up to R$ 120,000.00, generates a tax burden of 8.93%, which is proportionally lower than in the Individual, being therefore the best strategy to establish a holding company. Palavras Chaves: Holding. Planejamento Tributário., Reestruturação Societária. 1 CONTEXTUALIZAÇÃO

Com a competividade a cada dia mais acirrada no mercado e a sobrevivência

das empresas extremamente dependentes da gestão dos recursos humanos,

tecnológicos, econômicos e financeiros, faz com que se busquem alternativas entre

as possibilidades jurídicas na adoção de modelos societários diferentes daqueles

definidos quando da constituição da(s) empresa(s).

Situação parecida acontece com as pessoas físicas, que sofrem a incidência

de 27,5% sobre as remunerações. Também essas buscam alternativas que

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3

permitem formas de administrarem os seus negócios, juntamente com a diminuição

dos gastos tributários.

Diante deste contexto em que se misturam as incidências tributárias das

empresas e pessoas físicas, a reestruturação societária tem sido uma das formas

encontradas por ambas para reduzir os gastos tributários de forma lícita.

Essa reestruturação societária pode ocorrer através da cisão, fusão e

constituição de holdings, sendo, atualmente, uma das formas de planejamento

tributário que as empresas e pessoas físicas estão estudando implementar.

Para esse objetivo, é importante que seja baseado em ações lícitas,

denominadas de elisão fiscal, ou seja, diminuir a carga tributária sem incorrer nas

situações conhecidas como fraudes fiscais descritas pela Lei 8.137/90.

Esse entendimento é confirmado por Oliveira (2003, p. 36), quando afirma que

o Planejamento Tributário “trata-se de um estudo prévio a concretização dos fatos

administrativos, dos efeitos jurídicos, fiscais e econômicos de determinada decisão

gerencial, com a alternativa legal menos onerosa para o contribuinte.”

Portanto, diante dos comentários sobre reestruturações patrimoniais,

juntamente com o foco em Planejamento Tributário, este estudo tem por objetivo

identificar a aplicabilidade da constituição de empresa definida como Holding, como

forma de tornar práticos procedimentos que estejam na busca da redução da carga

tributária incidentes sobre rendimentos das Pessoas Físicas que possuem

participações no Capital Social das empresas envolvidas nesse estudo.

A relevância deste artigo consiste na apresentação e análise de determinada

realidade já existente em várias situações patrimoniais e que utilizam as Holdings

também como procedimentos que visem a construção de Planejamento Tributário

para a economia tributária de pessoas físicas.

O texto inicia pela contextualização sobre a importância de se conhecer,

quanto à busca pela eficiência na gestão empresarial, os aspectos tributários sobre

os fluxos de caixa e dos resultados das empresas. Em seguida, apresenta os

direcionamentos metodológicos. Para basear as análises, apresenta o referencial

teórico sobre Holdinds, juntamente com os aspectos tributários incidentes sobre

rendimentos das Pessoas Físicas. Na sequência, apresenta aspectos tributários das

Pessoas Jurídicas, com as especificidades das operações realizadas por uma

Holding.

Page 4: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

4

Para as análises sobre a comparação objeto desse estudo, estão

apresentados quadros sobre os tributos incidentes antes e depois da constituição da

Holding. Ao final, apresenta as conclusões derivadas da comparação realizada.

Ressalte-se que os aspectos jurídicos específicos na constituição de

empresas com características de Holdings não estão apresentados. Como exemplo,

não foram abordados os aspectos que devem ser tratados na elaboração do

Contrato, ou Estatuto Social.

2 METODOLOGIA

O que vem a ser metodologia? Demo (1995) e Gil (2007) definem como o

estudo dos métodos ou da forma, ou dos instrumentos necessários para a

construção de uma pesquisa científica.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento neste texto é o denominado

“Estudo de Caso”, que trata de um estudo profundo acerca de determinado assunto

com a finalidade de obter uma gama de detalhes, que é necessário para a análise

da reestruturação societária, em especial a holding patrimonial.

Bruyne, Herman e Schoutheete (1991, p. 224) dizem que “o estudo de caso

reúne informações tão numerosas e tão detalhadas quanto possível com vistas a

apreender a totalidade de uma situação”. Essa afirmação permite dizer que este

método pode ser utilizado satisfatoriamente para o desenvolvimento deste projeto.

Da mesma maneira, Gil (2007, p. 58) argumenta que “(...) é caracterizado

pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que

permita o seu amplo e detalhado conhecimento (...)”. Este argumento permite afirmar

que os casos são estudados de forma profunda, permitindo, desta forma, conhecer

realmente a holding em estudo.

Assim, pode-se considerar o método “estudo de caso” como direcionador

desse estudo.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

A palavra holding é de origem inglesa, formada a partir do prefixo “hold”, que

pode ser traduzida como controlar. Assim, o objetivo de uma sociedade holding é

controlar outras sociedades (empresas). Entenda-se que holding não é uma espécie

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societária, mas, sim, uma característica da sociedade, que é de controlar outras

sociedades.

De acordo com Lagerquist apud Lodi e Lodi (2004), holding é qualquer

empresa que mantém ações de outras empresas em quantidade suficiente para

controlá-las, sem, com isso, praticar atividade comercial ou industrial. Ressalta ainda

que a holding seja o contrário da sociedade subsidiária. Esta é controlada por

aquela. A holding é a sociedade controladora, figura no pólo ativo, enquanto aquela

(subsidiária) no pólo passivo.

Assim, diante desses conceitos, pode-se afirmar que a função de uma holding

é participar de outras sociedades, com o fim de controlá-las.

No Brasil, as empresas holding vieram como as empresas multinacionais nos

anos 60. Entretanto, somente no final da década de 70 é que despertou o interesse,

tanto do governo federal brasileiro como da iniciativa privada nacional.

A expressão holding foi utilizada pela primeira vez na Resolução 469 do

Banco Central, de 07/04/78, quando o próprio governo brasileiro passou a usar os

benefícios da holding quando da formação da Telebrás, Eletrobrás e Fibrase,

atualmente empresas desmembradas e privatizadas há décadas. Ainda nesta

época, criou incentivos à criação de holdings pelo setor privado através do Finac,

Procap e outros órgãos existentes no final da década de 70 (LODI; LODI, 2004).

A base legal está na Lei nº 6.404/76, no artigo 2º, parágrafo 3, que descreve:

Art. 2º, § 3º — A Companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais.

A Constituição Federal (CF) promulgada em 1988 enfatizou a necessidade de

organização e controle através dos artigos 1, 5 e 6, e, na opinião de LODI e LODI

(2004, p. 03), esses artigos da CF “surpreendem pela clareza de mostrar uma nova

ordem social e um novo ambiente a atuar, novas diretrizes para as estratégias” para

a sociedade.

Quanto a novos empreendimentos, o artigo 170 da CF estabelece as bases

para esses, ao direcionar que a ordem econômica, e fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,

conforme os ditames da justiça social, e ao assegurar o livre exercício de qualquer

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atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo

nos casos previstos em lei.

Em 2002, o Código Civil, através do artigo 966, determina que se deva

considerar como empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica

organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, e enfatizou a

participação societária em seus artigos 1.097 a 1.101, discorrendo sobre as normas

das coligadas e controladas e as relações jurídicas necessárias, partindo do

princípio de que o objetivo da holding é a participação societária em outras

empresas.

Lodi e Lodi (2004, p. 53) apresentam que o objetivo de uma holding é:

[...] fazer crescer o grupo e controlá-lo imparcial, produtiva economicamente. Em essência, a holding e uma administradora de investimentos: aplica recursos dos acionistas, controla a segurança, multiplica seus potenciais e garante o seu retorno.

Assim, de forma sucinta, a constituição da empresa holding pode facilitar o

planejamento, a organização, o controle, bem como o processo diretivo de suas

afiliadas. E também proporcionam a possibilidade de melhor distribuir em vida seu

patrimônio sem ficar privado de um efetivo e amplo processo administrativo. Assim,

a holding tem grande influência na qualidade do processo sucessório nas empresas.

(OLIVEIRA, 2003).

Quanto às classificações, as empresas denominadas holdings, segundo Lodi

e Lodi (2004), podem ser classificadas como:

a) Pura: aquela cujo objeto social é a participação acionária em outras

empresas, tendo como fonte exclusiva de receitas o recebimento de lucros e

dividendos;

b) Mista: que além de deter participação em outras empresas, opera

industrial e comercialmente, ou presta serviços às empresas afiliadas e outras não

pertencentes ao grupo;

c) Patrimonial: expressão utilizada para qualificar uma empresa que controla

o patrimônio de uma ou mais pessoas físicas, ou seja, ao invés das pessoas físicas

possuírem bens em seus próprios nomes, possuem por meio de uma pessoa jurídica

- a controladora patrimonial, que geralmente se constitui na forma de uma sociedade

limitada que, via de regra, tem a seguinte denominação social (nome patronímico, ou

outro à escolha) “Empreendimentos ou Participações, Comercial Ltda.”

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d) Familiar: visa separar os grupos familiares, simplificando o topo

administrativo das operadoras. Evita que conflitos naturais de um grupo interfiram

nos demais e, principalmente, castiguem a operadora.

Além dessas classificações, de acordo com Oliveira e Alves (2006, p. 31), as

sociedades holding são sociedades operacionais, constituídas para o exercício do

poder de controle ou para a participação relevante em outras sociedades e, por isso,

têm igualmente importante papel na administração do patrimônio envolvido na

atividade empresarial, convergindo, assim, grande interesse dos acionistas e do

próprio Estado, na medida em que se pode concentrar a administração de todo o

patrimônio em uma única empresa.

Os tipos societários de holding podem ser: sociedade anônima, sociedades

limitadas ou Offshore Companies. Especificamente, essas últimas são sociedades

empresariais constituídas e estabelecidas em país estrangeiro, com a emissão de

ações emitidas ao portador (FRANKE, 2008).

Na constituição de holding, segundo Lodi e Lodi (2004), o capital social pode

ser composto por quaisquer espécie de bens, móveis ou imóveis, materiais ou

imateriais, todos sujeitos à avaliação monetária.

Essas empresas podem obter receitas de diversas formas, tais como:

aluguéis de bens móveis e imóveis, juros de empréstimos a outras empresas,

repasses de financiamentos, comissões, prestações de serviços.

De acordo com as receitas e operações realizadas, as holdings têm sobre a

incidência tributária os mesmos tributos que outras empresas, podendo optar pelo

Lucro Presumido ou pelo Lucro Real.

3.6 TRIBUTAÇÃO DA PESSOA FÍSICA

Os rendimentos recebidos pela pessoa física estão sujeitos à tabela

progressiva de rendimentos, de acordo com a faixa de rendimento, conforme

definido pelo art. 1º da lei 11.942 de 31/05/2007, alterada pela Lei 11.945 de

04/06/2009, o inciso III define a tabela para 2009.

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Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$)

Até 1.434,59 - -

De 1.434,60 até 2.150,00 7,5 107,59

De 2.150,01 até 2.866,70 15 268,84

De 2.866,71 até 3.582,00 22,5 483,84

Acima de 3.582,00 27,5 662,94

Quadro 02 - Tabela Progressiva Mensal para 2009

Fonte: Lei 11942, art. 1º, inciso III

O artigo 43 do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto 3.000/1999) –

RIR/99 - estabelece que são tributáveis os rendimentos provenientes do trabalho

assalariado, as remunerações por trabalho prestado no exercício de empregos,

cargos e funções, e quaisquer proventos ou vantagens percebidos.

Já o artigo 106 do RIR/99 diz que está sujeita ao pagamento mensal do

imposto a pessoa física que receber de outra pessoa física, ou de fontes situadas no

exterior, rendimentos que não tenham sido tributados na fonte, no País, como, por

exemplo, os rendimentos de aluguéis recebidos de pessoas físicas.

O artigo 631 do RIR/99 define que estão sujeitos às incidências do imposto na

fonte os rendimentos decorrentes de aluguéis recebidos de pessoas jurídicas, e no

art. 632, designa-se que não há base de cálculo para incidência do imposto, no caso

de aluguéis de imóveis;

I - o valor dos impostos, taxas e emolumentos incidentes sobre o bem que produzir o

rendimento;

II - o aluguel pago pela locação do imóvel sublocado;

III - as despesas para cobrança ou recebimento do rendimento;

IV - as despesas de condomínio.

Desta forma, com esses 03 (três) artigos do RIR/99, o governo tributa todos

os rendimentos recebidos pela pessoa física, seja originado de pessoa jurídica ou

física.

Um aspecto importante para esse estudo é o fato de que, caso a pessoa

física, na situação de sócia de qualquer pessoa jurídica, receber lucros, não terão a

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incidência do IRPF, isto é, são considerados rendimentos isentos. Essa definição

está no Decreto 3000/99, em seu Artigo 39, Inciso XXIX.

3.7 INCIDÊNCIAS TRIBUTÁRIAS NA PESSOA JURÍDICA

As formas de tributação hoje em pratica no Brasil são: Lucro Real, Lucro

Presumido e Simples Nacional.

A forma de tributação nada mais é de como a empresa vai recolher os

tributos, seja na esfera federal, estadual ou municipal, e cada uma dessas formas de

tributações tem legislações específicas, as quais estão apresentadas nos tópicos a

seguir, averiguando quais as formas de tributação existentes para uma holding.

3.7.3 Lucro Real

A expressão lucro real significa o próprio lucro tributável, onde o lucro da

empresa é realmente apurado com a completa escrituração contábil que atende aos

princípios fundamentais e normas contábeis.

Oliveira et al. (2003, p. 174) define lucro real como, o “lucro líquido do período

apurado na escrituração comercial, denominado lucro contábil, ajustado pelas

adições, exclusões e compensações autorizadas pela legislação do Imposto de

Renda”. Os ajustes do lucro líquido do período de apuração e a demonstração da

apuração do lucro real devem ser transcritos no Livro de Apuração do Lucro Real

(LALUR).

As pessoas jurídicas ficam impedidas de optar pelo Lucro Presumido e ficam

obrigadas à apuração do Lucro Real, conforme art. 246, do RIR/99.

As empresas que optarem ou estejam obrigadas à apuração do Lucro Real

podem ainda optar por duas formas de apuração: trimestral ou mensal.

O Lucro Real será apurado com o levantamento das demonstrações

contábeis, de acordo com as normas estabelecidas pela legislação fiscal e

comercial, onde o lucro líquido do período de apuração será ajustado pelas adições,

exclusões e compensações autorizadas pela legislação tributária e, sobre o lucro

real obtido, serão aplicadas as alíquotas de 15% para o Imposto de Renda Pessoa

Jurídica (IRPJ) e 9% para a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL).

Page 10: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

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3.7.2 Lucro Presumido

No Lucro Presumido os impostos federais (IRPJ, CSLL, PIS e COFINS) são

calculados com base em um percentual determinado sobre o valor da receita bruta

com produtos e serviços, independentemente da apuração do lucro.

Rodrigues et al. (2009, p. 327) afirmam que o lucro Presumido é “uma forma

de tributação simplificada para determinação da base de cálculo do imposto de

renda e da contribuição social sobre lucro líquido (devidos trimestralmente) das

pessoas jurídicas que não estiverem obrigadas à apuração do lucro real.”

O artigo 14 da Lei 9.718/98 define as empresas que podem optar pelo lucro

presumido, sendo: as pessoas jurídicas que não estão obrigadas à tributação pelo

lucro real e aquelas cuja receita total do ano tenha sido igual ou inferior a R$

48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais) ou ao limite proporcional de R$

4.000.000,00 (quatro milhões), multiplicado pelo número de meses de atividade no

ano.

Os percentuais aplicados sobre a receita bruta atribuídos pelo fisco serão de

9% para CSLL e 15% IRPJ.

O quadro abaixo apresenta os percentuais aplicados sobre o faturamento

para a determinação do lucro presumido, conforme determinado pelo RIR/99, no

artigo 519:

ATIVIDADES Percentuais Percentuais Reduzidos

Receita Anual até R$ 120.000,00*

Administração, locação ou cessão de bens imóveis, e móveis. 32,0 16,0

Quadro 03 – Percentuais aplicáveis sobre a receita bruta Fonte:Art. 519, RIR/99

Assim, de acordo com esta tabela de serviços, a holding Patrimonial é uma

empresa prestadora de serviços que, se faturar até R$ 120.000,00 (cento e vinte mil

reais) por ano, poderá ter o percentual de base de cálculo reduzido em 50%, ou seja,

de 32% para 16%.

3.8 OUTRAS INCIDÊNCIAS TRIBUTÁRIAS

No caso de formação de uma holding patrimonial, deverão ser levadas em

consideração outras tributações no momento de sua constituição, que são os gastos

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com as transferências dos bens da pessoa física para jurídica. Esses gastos

compreendem: ITCMD, ITBI, Funrejus, Certidão do imóvel, Lavratura, e o Registro.

O ITCMD é o Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doações e está

previsto na Constituição Federal de 1988, que, no art. 155, inciso I, designou os

Estados da Federação como competentes para instituir esse imposto.

O Estado do Paraná, por meio da Lei n.º 8.927/88, regulamentou a cobrança

desse tributo, fixando o seu fato gerador, base de cálculo, alíquotas e demais

requisitos e condições.

O fato gerador do ITCMD é a transmissão causa mortis ou por doação de

direitos e da propriedade, posse ou domínio de quaisquer bens ou direitos (quotas,

ações, dinheiro); a transmissão, por uma das modalidades previstas no inciso

anterior, de direitos reais sobre quaisquer bens, inclusive os de garantia; e sobre a

cessão, a desistência ou a renúncia por ato gratuito, de direitos relativos às

transmissões referidas nos incisos I e II.

A base de cálculo do imposto está no art. 13 da lei estadual e estabelece que

a base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou direitos ou o valor do título

ou crédito, transmitidos ou doados, apurados mediante avaliação procedida pela

Fazenda Pública Estadual. A alíquota é de 4%.

A cobrança do ITBI pelos municípios está prevista na CF art. 156, inciso II. O

ITBI é o Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis. Em Maringá, o ITBI está

regulado pela Lei complementar 677/2007, dos art. 32 a 54. O fato gerador do ITBI

no caso da holding patrimonial está previsto no art. 33, item V, incorporação de bens

imóveis ao patrimônio de pessoa jurídica.

A base de cálculo do imposto é o valor dos bens imóveis ou dos direitos reais

transmitidos ou cedidos apurado no momento de transmissão ou cessão, sendo que

o valor (base de cálculo) é o valor apurado pela administração tributária (valor venal)

ou da transação imobiliária efetivada, se este for maior. A alíquota do ITBI é de 2%.

O Funrejus é o Fundo de Reequipamento do Poder Judiciário, criado pela Lei

Estadual no Estado do Paraná nº 12.216, de 15 de julho de 1998, com a finalidade

de suprir o Poder Judiciário Estadual com os recursos financeiros necessários para

fazer frente às despesas especificadas no artigo 2º da mesma lei.

No artigo 3º, inciso VII, ficou estabelecido que constitui receita do Funrejus,

entre outras, 0,2% (zero vírgula dois por cento) sobre o valor do título do imóvel ou

da obrigação nos atos praticados pelos cartórios de protesto de títulos, registro de

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imóveis, títulos e documentos e tabelionatos. Portanto, a base de cálculo do

Funrejus, em relação aos Serviços Notariais e de Registro de Imóveis, de acordo

com esse dispositivo legal, é o valor do título, nos casos de transação imobiliária

(isto é: valor da compra e venda, da permuta, da doação em pagamento, etc.)

Entretanto, o Funrejus tem um valor máximo a ser praticado, é o equivalente

ao valor máximo das custas fixadas no Regimento de Custas (art. 2º, da Lei

Estadual n. 12.604, de 02.07.99, que alterou o art. 3º, da Lei Estadual n. 12.216, de

15.07.98; item 11 da Instrução Normativa n. 02/99, baixada pelo Presidente do

Conselho Diretor do FUNREJUS), que é atualmente R$ 435,00.

Os valores de certidão, lavratura e registro foram pesquisados em tabelionato

de notas situado na cidade de Maringá/PR onde a holding patrimonial foi constituída.

3.9 SIMPLES NACIONAL

O SIMPLES NACIONAL foi instituído e normatizado pela Lei Complementar nº

123/06, alterada pela Lei Complementar 127 de 14/08/2007 e pela Lei

Complementar 128 de 19/12/2008,

De forma específica, as holdings são vetadas quanto a optar pelo SIMPLES

NACIONAL por dois artigos. Primeiramente, pelo art. 3, parágrafo 4, que define que

não poderá se beneficiar do tratamento jurídico diferenciado previsto nesta Lei

Complementar, para nenhum efeito legal, a pessoa jurídica que: I - de cujo capital

participe outra pessoa jurídica; (principio de uma holding é participar de outras

empresas de um grupo, administrando-a); II - que seja filial, sucursal, agência ou

representação, no país, de pessoa jurídica com sede no exterior; (offshores); IV -

cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra

empresa não beneficiada por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta

global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo; e VII - que

participe do capital de outra pessoa jurídica;

De forma complementar, ainda o artigo 17 apresenta outras atividades

vetadas ao SIMPLES NACIONAL, e nesta lista no item XV, proíbem-se ao

enquadramento as empresas que realizem atividade de locação de imóveis próprios,

exceto quando se referir à prestação de serviços tributados pelo ISS, que são as

holdings patrimoniais, objeto principal deste artigo.

Page 13: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

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Assim, dentro deste contexto exposto acima, as empresas constituídas como

holdings não podem ser optantes pelo Simples Nacional.

Apresentadas as incidências tributárias, a seguir estão os resultados do caso

estudado.

4 ESTUDO DE CASO

Em primeiro momento, estão apresentados os valores de Imposto de Renda

Pessoa Física incidentes sobre os rendimentos das pessoas proprietárias dos

imóveis, de acordo com os percentuais específicos. Em seguida, demonstra-se a

constituição da Holding, apresentando a carga tributária e o resultado, quando se

atribui a esta o recebimento dos rendimentos até então direcionados às pessoas.

Complementa com quadro comparativo, demonstrando em que situação as

pessoas físicas estão sujeitas aos menores valores do imposto analisado.

4.1 IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA JURÍDICA INCIDENTE SOBRE OS

RENDIMENTOS RECEBIDOS PELAS PESSOAS FÍSICAS

A seguir, nos quadros 04, 05 e 06, estão os dados que demonstram o quanto

de Imposto de Renda Pessoa Física os proprietários do patrimônio que formará a

Holding estão sujeitos mensalmente.

As receitas mensais apresentadas no Quadro 04 se referem a aluguéis

recebidos das propriedades das pessoas físicas.

Imóvel Receita Mensal Receita Anual

Imóvel 1 1.160,00 13.920,00

Imóvel 2 1.480,00 17.760,00

Imóvel 3 1.150,00 13.800,00

Imóvel 4 700,00 8.400,00

Imóvel 5 1.200,00 14.400,00

Imóvel 6 1.406,60 16.879,20

Imóvel 7 1.300,00 15.600,00

Imóvel 8 1.450,00 17.400,00

Total 9.846,60 118.159,20

Quadro 04 – Receita com Alugueis Fonte: elaborado pelos autores

Page 14: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

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Diante das receitas expostas no Quadro 05 e não contando com os

rendimentos que a pessoa física possa ter com rendimento advindo de vínculos

profissionais trabalhistas, está o Quadro 06, com a seguinte apuração do imposto de

renda devido:

Pessoa Física

1. IRPF em reais

Receita do Período 118.159,20

( - ) INSS - Base de Cálculo do IRPF 118.159,20 Percentual de Presunção do IRPF 27,50% IRPF Apurado 32.493,78 ( - ) Dedução da faixa 662,94 Total do IRPF Apurado 31.830,93

Quadro 05 – Tributação na Pessoa Física Fonte: elaborado pelos autores

Nota-se que 26,93% da receita obtida com aluguéis têm a incidência do IRPF.

Assim, somente 73,03% da receita recebida podem ser considerados para gastos ou

novos investimentos pela pessoa física. Anualmente, esse valor será de R$

381.971,16.

Receita Total 118.159,20

( - ) Deduções 31.830,93 1. IRPF 31.830,93 (=) Lucro no período (a ser distribuído como dividendos) 86.328,27 73,03%

Quadro 06 – Receita Liquida na Pessoa Física Fonte: elaborado pelos autores

Apresentados os resultados, caso os aluguéis sejam obtidos na forma de

rendimentos de pessoa física, a seguir estão os resultados, caso constituam uma

Holding.

Page 15: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

15

4.2 IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA JURÍDICA INCIDENTE SOBRE OS

RENDIMENTOS RECEBIDOS PELAS PESSOAS FÍSICAS, APÓS A

CONSTITUIÇÃO DA HOLDING

A seguir, estão apresentados os tributos incidentes sobre a Holding, de

acordo com as opções tributárias possíveis, juntamente com o Imposto de Renda da

Pessoa Física, então, a que estarão sujeitos os proprietários dos imóveis.

A hipótese nesse caso é que os bens passam a ser de propriedade da

Holding, constituindo seu Capital Social. Para formar a sociedade em sua

constituição jurídica, os sócios são os antigos proprietárias dos bens transferidos.

No Quadro 06 estão os gastos com as transferências de propriedades, para a

Holding, dos imóveis que estavam no patrimônio das pessoas físicas.

Imóvel Valor do imóvel

Declaração PF

Valor venal

ITBI

Funrejus

Certidão Lavratura

Registro Custo total

% Valor a ser

recolhido

% Valor a ser

recolhido Imóvel 1 135.000,00

72.478,36 2%

1.449,57 0,2% 270,00 150,00 530,00

460,00

2.859,57 Imóvel 2 136.000,00

73.057,76 2% 1.461,16 0,2% 272,00 150,00 530,00

460,00

2.873,16 Imóvel 3 120.000,00

21.617,46 2% 432,35 0,2% 240,00 150,00 530,00

460,00

1.812,35 Imóvel 4 62.300,00

69.686,41 2% 1.393,73 0,2% 124,60 150,00 530,00

460,00

2.658,33 Imóvel 5 120.000,00

93.000,00 2%

1.860,00 0,2% 240,00 150,00 530,00

460,00

3.240,00 Imóvel 6 109.500,00

85.620,00 2% 1.712,40 0,2% 219,00 150,00 530,00

460,00

3.071,40 Imóvel 7 160.000,00 101.256,40 2% 2.025,13 0,2% 320,00 150,00 530,00

460,00

3.485,13 Imóvel 8 109.000,00

84.562,30 2% 1.691,25 0,2% 218,00 150,00 530,00

460,00

3.049,25 Total 951.800,00 601.278,69

12.025,57 1.903,60 1.200,00 4.240,00

3.680,00

23.049,17

Quadro 06 – Custo de Transferências Fonte: elaborado pelos autores

Nesse quadro 06 não estão os valores respectivos do ITCMD, pois não houve

doação de cotas da empresa.

Os valores considerados para o custo de certidão, lavratura e registro foram

obtidos junto a um tabelionato de notas na cidade de Maringá/PR, onde foi realizado

o estudo de caso.

Page 16: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

16

De acordo com a Lei Complementar 123/06, como à holding patrimonial está

vedada a optar pelo SIMPLES NACIONAL, porque recebe aluguel de imóveis

próprios, as opções tributárias possíveis são Lucro Real e Lucro Presumido.

No Lucro Presumido a pessoa jurídica constituída irá arcar com os tributos

diretos de PIS, COFINS, IRPJ e CSLL. Observa-se que não incide ICMS (Imposto

sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transportes e

Telecomunicações) por ser serviço, assim como a locação de bens próprios não é

tributado pelo ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza), como já

mencionado na revisão bibliográfica.

4.1.1 Carga tributária e resultados na opção Lucro Presumido

Na opção Lucro Presumido, o PIS e a COFINS têm incidência cumulativa, ou

seja, as alíquotas respectivas são 0,65% e 3%. Já a CSLL têm a presunção da base

de cálculo de 32% como as demais empresas optantes por essa forma de tributação.

No Lucro Presumido, para o cálculo do IRPJ, de acordo com o art. 519 do

RIR e o quadro 03, os serviços de administração, locação ou cessão de bens

imóveis e móveis têm alíquota de presunção de lucro de 32%. Caso a receita anual

da empresa não ultrapasse R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), o percentual de

presunção será de 16%.

Portanto, de acordo com os tributos descritos, no quadro 08 estão os valores

das receitas e as incidências tributárias decorrentes:

Cálculo do Imposto Pessoa Jurídica com receita até 120.000,00

1. IRPJ

Receita do Período 118.159,20

Percentual de Presunção do IRPJ 16%

Base de Cálculo do IRPJ Presumido 18.905,47

Alíquota da IRPJ 15%

IRPJ Apurado 2.835,82

Adicional de 10% sobre lucro presumido -

Total do IRPJ Apurado 2.835,82

2. CSLL

Receita do Período 118.159,20

Percentual de Presunção da CSLL 32%

Base de Cálculo da CSLL Presumido 37.810,94

Alíquota da CSLL 9%

Page 17: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

17

CSLL Apurado 3.402,78

3. COFINS

Receita do Período 118.159,20

Alíquota da COFINS 3%

COFINS Apurada 3.544,78

4. PIS

Receita do Período 118.159,20

Alíquota do PIS 0,65%

PIS Apurado 768,03

Quadro 08 – Tributação na Pessoa Jurídica Lucro Presumido até R$ 120.000,00 Fonte: elaborado pelos autores

Utilizando as incidências tributárias e os gastos com as transferências de

propriedade, está a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) da Holding, na

opção Lucro Presumido, apresentados nos quadros 09 e 10. Para a opção Lucro

Real, estão apresentados os quadros 11 e 12.

Inicialmente (quadros 09 e 11), estão apresentados com receita bruta anual

não superior a R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais). Em seguida (quadros 10 e

12), com a receita superior ao valor citado.

Receita Total 118.159,20

( - ) Deduções 10.551,62

1. IRPJ 2.835,82

2. CSLL 3.402,98

3. COFINS 3.544,78

4. PIS 768,03

( - ) Custos operacionais 23.049,17

ITBI 12.025,57

Funrejus 1.903,60

Certidão 1.200,00

Lavratura 4.240,00

Registro 3.680,00

(=) Lucro no período (a ser distribuído como dividendos) 84.558,41 71,56%

Quadro 09 – DRE Pessoa Jurídica Lucro Presumido até R$ 120.000,00 Fonte: elaborado pelos autores

Como destaca o quadro 08, os tributos demonstram uma carga total de 8,93%

da receita. Já no quadro 09, o resultado positivo de R$ 84.558,41 representa 71,56%

da receita recebida.

Page 18: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

18

Vale ressaltar novamente que a despesas de transferências de R$ 23.049,17

só ocorrem no primeiro ano. Assim, o resultado poderá ser de R$ 115.248,94,

passando para 88,67% da receita.

A seguir, nos quadros 10 e 11, estão os resultados da carga tributária e do

resultado, caso a empresa obtenha receitas anuais superiores a R$ 120.000,00.

Quadro 10 – Tributação na Pessoa Jurídica no Lucro Presumido com receitas acima de R$120.000,00. Fonte: elaborado pelos autores

Cálculo do Imposto Pessoa Jurídica com receita acima de R$ 120.000,00

1. IRPJ

Receita do Período 129.975,12 Percentual de Presunção do IRPJ 32% Base de Cálculo do IRPJ Presumido 41.592,04 Alíquota da IRPJ 15% IRPJ Apurado 6.238,81 Adicional de 10% sobre lucro presumido - Total do IRPJ Apurado 6.238,81 2. CSLL

Receita do Período 129.975,12 Percentual de Presunção da CSLL 32% Base de Cálculo da CSLL Presumido 41.592,04 Alíquota da CSLL 9% CSLL Apurado 3.743,28 3. COFINS

Receita do Período 129.975,12 Alíquota da COFINS 3% COFINS Apurada 3.899,25 4. PIS

Receita do Período 129.975,12 Alíquota do PIS 0,65% PIS Apurado 844,84

Page 19: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

19

Receita Total 129.975,12

( - ) Deduções 14.726,18

1. IRPJ 6.238,81

2. CSLL 1.403,73

3. COFINS 3.899,25

4. PIS 844,84

( - ) Custos operacionais 23.049,17

ITBI 12.025,57

Funrejus 1.903,60

Certidão 1.200,00

Lavratura 4.240,00

Registro 3.680,00

(=) Lucro no período (a ser distribuído como dividendos) 92.199,77 70,94%

Quadro 11 – DRE Pessoa Jurídica Lucro Presumido acima de R$ 120.000,00 Fonte: elaborado pelos autores

Como destaca o quadro 10, os tributos demonstram uma carga total de

11,33% da receita. Já no quadro 11, o resultado positivo de R$ 92.199,77 representa

70,94% da receita recebida.

4.1.2 Carga tributária e resultado na opção Lucro Real

Nessa opção, deve-se ressaltar que o PIS e a COFINS devem ser calculados

de acordo com a modalidade denominada não-cumulativa, utilizando-se os

percentuais respectivos de 1,65% e 7,60%.

O IRPJ e CSLL terão as alíquotas de 15% e 9%, respectivamente, sobre o

lucro apurado no período. Para chegar à base de cálculo do IRPJ e da CSLL,

consideraram-se, como despesas dedutíveis, os custos operacionais, originados na

transferência dos bens imóveis para a Pessoa Jurídica.

Ressalte-se que a hipótese considerada no Lucro Presumido sobre o valor da

receita anual ser superior, ou não, ao valor de R$ 120.000,00 não é considerada no

Lucro Real, já que o IRPJ e a CSLL são calculados com base no Lucro Real.

Portanto, a carga tributária decorrente não sofre mudanças, já que o aumento

dos tributos corresponde, proporcionalmente nesse caso, ao também aumento da

receita e do Lucro Real.

Page 20: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

20

Cálculo do Imposto Pessoa Jurídica no Lucro Real

1. IRPJ

Receita do Período 118.159,20

( - ) Deduções -33.978,90

PIS e COFINS -10.929,73

Custos Operacionais -23.049,17

(=) Base de Cálculo do IRPJ 84.180,30

Alíquota da IRPJ 15%

IRPJ Apurado 12.627,05

Adicional de 10% sobre lucro real -

Total do IRPJ Apurado 12.627,05

2. CSLL

Base de Cálculo do CSLL 84.180,30

Alíquota da CSLL 9%

CSLL Apurado 7.576,23

3. COFINS

Receita do Período 118.159,20

Alíquota da COFINS 7,60%

COFINS Apurada 8.980,10

4. PIS

Receita do Período 118.159,20

Alíquota do PIS 1,65%

PIS Apurado 1.949,63

Lucro Líquido do Exercício 63.976,75

Quadro 12 – Tributação na Pessoa Jurídica Lucro Real Fonte: elaborado pelos autores

Como destaca o quadro 12, considerando a soma dos tributos no valor de R$

31.133,01, estes representam uma carga total de 26,35% da receita. O resultado

positivo de R$ 63.976,75 representa 54,14% da receita recebida.

4.1.3 Comparação entre as duas opções tributárias para a Holding

No quadro 13 estão apresentadas as cargas tributárias para a pessoa física e

para a Holding, nas opções analisadas.

Page 21: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

21

Forma de tributação Valor dos tributos

%

Pessoa Física 31.830,93 26,94% Lucro Presumido até R$ 120.000,00 8.424,75 8,93% Lucro Presumido acima de R$ 120.000,00 12.386,63 11,33% Lucro Real 39.287,93 33,25%

Quadro 13 – % das formas de tributação Fonte: elaborado pelos autores

Observe-se que, proporcionalmente, as maiores incidências estão nas

situações de que os rendimentos sejam totalmente recebidos pela pessoa física,

com o percentual de 26,94% sobre os rendimentos; também, como representativa de

alta carga tributária, está na situação em que os rendimentos sejam tributados na

Holding, na opção Lucro Real, com o total de 33,25%.

Diante do fato de que, sendo constituída a Holding, e que os rendimentos até

então totalmente recebidos pelas pessoas físicas se transformem em receitas para a

empresa, a melhor opção tributária é o Lucro Presumido.

Essa constatação pode ser até evidente, já que o lucro tributável na opção

Lucro Real e que, portanto, será a Base de Cálculo do IRPJ e da CSLL, representa

71,24% da receita. Comparada essa Base de Cálculo com a utilizada pela opção

Lucro Presumido, ou seja, 32% da receita, fica evidente que a melhor opção

tributária para a Holding é o Lucro Presumido.

Quanto aos valores correspondentes à pessoa física, quando os rendimentos

de aluguéis são transferidos para a Holding, eles são “transferidos” como lucro

distribuídos àquelas. Portanto, conforme o Artigo 39, Inciso XXIX do Decreto

3000/99 (Regulamento do Imposto de Renda), o recebimento de lucros é isento do

IRPF. Assim, a pessoa física, que anteriormente à constituição da Holding tinha

carga tributária de 26,94% de seus rendimentos, passa a não ter qualquer valor de

IRPF a pagar.

Diante dessas alterações,, os gastos totais tributários deixam de ser 26,94%,

para 8,93% das receitas. Quanto aos lucros passíveis de distribuição, deve-se

observar que os gastos com transferências ocorrem somente no primeiro mês.

Assim, para os outros meses, o lucro será reduzido apenas pelos tributos incidentes

sobre possíveis receitas.

Page 22: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

22

Dessa forma, nos meses seguintes, o lucro, que foi identificado de 71% da

receita no primeiro mês, passa para R$ 107.607,58, correspondendo a 91,07 da

receita mensal nos onze meses seguintes do ano.

Em termos anuais, os rendimentos líquidos da pessoa física, caso adotem a

opção de constituição da Holding nos formatos descritos, que antes seriam, no

máximo, de R$ 381.971,16, passam a ser de R$ 1.268.241,79. Uma diferença muito

interessante de R$ 886.270,63, o que corresponde a 232% ao rendimento sem a

constituição da Holding.

5 CONCLUSÃO

A atualidade da legislação brasileira faz com que sempre seja necessário

analisar, interpretar e modificar a realidade tributária, seja da pessoa física ou da

pessoa jurídica. Com esse objetivo, as holdings patrimoniais são utilizadas como

meio de proteger o patrimônio de pessoas físicas, não só nos aspectos tributários,

mas também como salvaguarda do patrimônio, no caso de insolvência de outra

empresa e mesmo como forma de sucessão familiar de maneira a dividir a

participação dos herdeiros na sociedade.

No estudo de caso analisado podem-se avaliar todas as opções tributárias em

vigor na legislação brasileira de forma a verificar qual a melhor opção, sempre

observando os trâmites legais de forma a evitar qualquer situação definida como

fraude tributária na Lei 8137/90.

Analisando as opções tributárias, verificou-se que a forma adotada pela

pessoa física em receber os rendimentos de aluguéis gera carga tributária de

26,94% da receita auferida no ano.

Com a constituição da pessoa jurídica, mesmo no primeiro mês de R$

23.049,17 referente a tributos e gastos de transferências dos bens imóveis da

pessoa física para a pessoa jurídica, a constituição da Holding mostra-se como

procedimento lícito claramente positivo.

Esse fato é demonstrado pela diferença positiva na carga tributária, somente

de 8,93%, e o resultado líquido que será distribuído à pessoa física, como lucro, no

valor anual de R$ 1.268.241,79.

Page 23: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

23

No caso estudado, a formação de uma holding, além de ser um instrumento

jurídico também direcionado à proteção patrimonial, pode ser utilizada também como

uma forma lícita de planejamento tributário, conforme verificado através deste estudo

de caso.

REFERÊNCIAS

ALVES, Geraldo Gonçalves de Oliveira e. Sociedade Holding no direito brasileiro. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006. BRASIL, Código Tributário Nacional. Lei n° 5.172, de 25 de Outubro de 1966. São Paulo: Manole, 2004. BRASIL, Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 28 abr. 2009. BRASIL, Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99 (Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999). Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/rir/>. Acesso em: 11 abr. 2009. BRASIL, Secretaria da Receita Federal. Lei Complementar n° 123, de 14 de Dezembro de 2006. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/LeisComplementares/2006/leicp123.htm>. Acesso em: 01 jul. 2009. BRASIL, Decreto-Lei 1598/77. Cria o LALUR e dá outras alterações tributárias. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del1598.htm>. Acesso em: 01 abr. 2009. BRASIL. Lei 6.404/76. Dispõe sobre as sociedades por ações. Diário Oficial da União de 15 de dezembro de 1976. BRASIL. Lei 8137/90. Define crimes contra a ordem tributária e contra as relações de consumo, e dá outras providencias. Diário Oficial da União de 28 de dezembro de 1990.

BRASIL. Lei 9065/95. Dá nova redação a dispositivos da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, que altera a legislação tributária federal, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9065.htm>. Acesso em: 01 abr. 2009.

BRASIL, Lei 9718/98. Altera a legislação tributaria federal. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/leis/Ant2001/lei971898.htm>. Acesso em: 01 abr. 2009.

BRASIL, Lei 11.945/09. Altera a legislação tributária federal e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11945.htm>. Acesso em: 10 maio 2009.

Page 24: A constituição de holding como forma de planejamento tributario

24

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