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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA A COMUNICAÇÃO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS EM EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA Relatório da Prática Profissional Supervisionada Mestrado em Educação Pré-Escolar RITA SOFIA GOMES FONSECA 2014

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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA

A COMUNICAÇÃO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS EM

EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA

Relatório da Prática Profissional Supervisionada

Mestrado em Educação Pré-Escolar

RITA SOFIA GOMES FONSECA

2014

ii

INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA

A COMUNICAÇÃO NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS EM

EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA

Relatório da Prática Profissional Supervisionada

Mestrado em Educação Pré-Escolar

Sob orientação da Professora Manuela Rosa

RITA SOFIA GOMES FONSECA

2014

iii

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por todos os desafios e dificuldades superadas neste percurso.

Ao Nuno e ao Diogo, por todos as longas horas de trabalho que acompanharam.

À Leonor, pela coragem e parceria nos momentos mais difíceis deste percurso.

Às educadoras que me acompanharam, pela partilha de conhecimentos e

experiências que me ajudaram a crescer profissionalmente. Mas também pelos desafios

que me lançaram ao longo do tempo. Tornaram-me uma profissional mais versátil.

Às auxiliares, por terem confiado em mim e nas minhas competências.

Às crianças com quem trabalhei pelo carinho, atenção e desafio constantes. Não

me deixaram desistir e ajudaram-me a desenvolver muitas e novas aprendizagens.

Às instituições que tão bem me receberam, e que contribuíram para a minha

formação.

À professora Marina Fuertes pela confiança e apoio no contexto de creche.

À professora Manuela Rosa pela exigência, apoio e sobretudo pelo respeito

demonstrado. Todas as suas partilhas e reflexões no contexto de jardim de infância,

tornaram-me uma melhor profissional.

À minha sobrinha, por me fazer lembrar constantemente do meu papel na educação

das crianças que acompanhei diariamente e que irei continuar a acompanhar ao longo do

tempo.

E claro, às melhores amigas que poderia ter, Mariana, Carolina, Carina e Luciana,

que ainda que ausentes fisicamente, não duvidaram de mim um segundo.

iv

RESUMO

Na educação de infância, a criança é exposta a novos contextos, sobretudo com a

entrada na creche e jardim de infância. Este novo desafio, é especialmente importante

pelo contacto privilegiado com pessoas fora do seu contexto familiar. É também nesta

primeira fase do convívio social que a criança contacta com outras crianças numa

relação de igualdade. Estas interações são marcadas pelos primeiros grandes desafios

sociais que a criança enfrenta fora da família, e que são cruciais para o seu

desenvolvimento social. No decorrer da PPS, a forma como as crianças do grupo de

creche e jardim de infância se relacionavam e sobretudo como resolviam os seus

conflitos, foi tornando-se progressivamente mais evidente. “A comunicação na

resolução de conflitos em educação de infância” é um reflexo do trabalho desenvolvido

com os dois grupos de crianças, no sentido compreender o papel da comunicação entre

as crianças face a situações problemáticas com os seus pares. Em parte este tema surge

pela caracterização socioeducativa de ambos os contextos e da definição e reflexão

sobre as intenções pedagógicas que defendo para uma ação pedagógica adequada. Ao

longo de todo este processo, procurei refletir de forma regular sobre as minhas práticas

e estratégias, adequando-as às características das crianças.

Palavras-chave: resolução de conflitos, comunicação, interação

v

ABSTRACT

In childhood education, the child is exposed to new contexts, especially with the

nursery and kindergarten entry. This new challenge is especially important for the

privileged contact with people outside the family context. It represents the first phase of

socializing the child contact with other children in a relationship of equality. These

interactions are marked by the first great social challenges facing the child outside the

family, and are crucial to their social development. During the PPS, the way children's

in nursery and kindergarten were related and especially the way they resolve their

conflicts, it was becoming increasingly evident. "Communication in conflict resolution

in early childhood education" is a reflection of the work with the two groups of children

in order to understand the role of communication between children in problematic

situations with their peers. In part this topic arises by socio characterization of these

situations and the definition and reflection on educational intentions that advocate for

proper pedagogical action. Throughout this process, I tried to reflect regularly on my

practices and strategies, adapting them to the characteristics of children.

Keywords: conflict resolution, communication, interaction

vi

Léxico de siglas e abreviaturas

CEB – Ciclo de Ensino Básico

ILE - Iniciativa Local de Emprego

IP – Intervenção Precoce

INE – Instituto Nacional de Estatística

IPSS - Instituição Particular de Solidariedade Social

NEE – Necessidades Educativas Especiais

OCEPE – Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar

PC – Projeto Curricular

PE – Projeto Educativo

PPS – Prática Profissional Supervisionada

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação

vii

ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO 9

1. CARACTERIZAÇÃO REFLEXIVA DO CONTEXTO SOCIOEDUCATIVO

12

1.1 Meio onde estão inseridas as instituições 12

1.2 Contexto socioeducativo 13

1.3 Equipa educativa 14

1.4 Contexto familiar 15

1.5 Grupo de crianças 16

1.6 Análise reflexiva das intenções educativas 17

2. ANÁLISE REFLEXIVA DA INTERVENÇÃO 19

2.1 Identificação e fundamentação das intenções para a ação pedagógica 22

2.2 Identificação da problemática 25

2.2.1 Enquadramento teórico da problemática 34

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44

ANEXOS A 48

Anexo A.1. Dados das freguesias onde se encontram inseridas as instituições 49

Anexo A.2. Rotina Diária do Estabelecimento ABC 50

Anexo A.3. Rotina Diária do Jardim de Infância Lilás 51

Anexo A.4. Planta Sala de Aquisição de Marcha do Estabelecimento ABC 52

Anexo A.5.Planta Sala Intelectual do Jardim de Infância Lilás 53

Anexo A.6. Caracterização das Famílias do Grupo de Crianças do Estabelecimento

ABC 54

Anexo A.7. Caracterização das Famílias do Grupo de Crianças do Jardim de

Infância Lilás 56

Anexo A.8. Caracterização do Grupo de Crianças do Estabelecimento ABC 60

Anexo A.9. Caracterização do Grupo de Crianças do Jardim de Infância Lilás 61

Anexo A.10. Discussão com o Grupo de Crianças sobre a Importância das Regras

63

Anexo B. Portfolio da PPS em Creche

viii

Anexo C. Portfolio da PPS em Jardim de Infância

ÍNDICE DE FIGURAS

Imagem 1. Planta da Sala de Aquisição de Marcha ....................................................... 52

Imagem 2. Planta da Sala Intelectual.............................................................................. 53

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Dados comparativos entre as duas freguesias ............................................... 49

Tabela 2. Horário das Rotinas Diárias do Grupo da Sala de Aquisição de Marcha .... 50

Tabela 3. Horário das Rotinas Diárias do Grupo da Sala Intelectual........................... 51

Tabela 4. Dados relativos às famílias das crianças: progenitores, género, profissão e

fratria .............................................................................................................................. 54

Tabela 5. Dados relativos às famílias das crianças: progenitores, género, profissão,

fratria e tipo de família ................................................................................................... 56

Tabela 6. Dados relativos às crianças, idade, género e percurso institucional............. 60

Tabela 7. Dados relativos às crianças, data de nascimento, idade, género, situação

escolar e residência ........................................................................................................ 61

INTRODUÇÃO

A entrada na creche ou jardim de infância é uma etapa importantíssima na vida das

crianças, por todo o contacto que estes contextos permitem com outros adultos e crianças.

Numa fase inicial da vida das crianças “é na família e no meio sócio-cultural em que vive

os primeiros anos que a criança inicia o desenvolvimento pessoal e social” (ME, 1997, p.

52). No entanto, este desenvolvimento continua noutros contextos, sobretudo com a

colaboração e mediação do educador de infância. “É nos contextos sociais em que vive, nas

relações e interações com outros, que a criança vai interiormente construindo referências

que lhe permitem compreender o que está certo e errado, o que pode e não pode fazer, os

direitos e deveres para consigo e para os outros” (ME, 1997, p. 51).

O primeiro momento da PPS, decorreu no estabelecimento ABC com crianças de

creche e foi dividido em duas etapas, uma primeira semana de observação e quatro semanas

de intervenção, respectivamente entre 9 de dezembro de 2013 e 31 de janeiro de 2014, com

11 crianças com idades compreendidas entre os 12 e os 24 meses. No contexto de jardim de

infância, este foi desenvolvido no Jardim de Infância Lilás, também foi dividido em duas

etapas, a observação e a intervenção, de 10 de Fevereiro a 23 de Maio de 2014. O grupo da

sala intelectual tinha 37 crianças com idades compreendidas entre os 4, 5 e 6 anos.

Após a caracterização inicial de ambos os grupos e das primeiras observações e

intervenções com cada um dos grupos surgiram algumas questões na minha PPS, algumas

delas relacionadas com a minha prática profissional, que foram sendo superadas ao longo

do tempo. Inicialmente, revelando-se fragilidades da minha parte, acabaram por se revelar

momentos privilegiados de aprendizagem, pelas reflexões que me permitiram. Esta reflexão

foi também um momento importante, no estudo da resolução de conflitos entre crianças.

Na PPS com o grupo de creche, os conflitos frequentes entre crianças, relacionados

sobretudo pela disputa de brinquedos, foi suscitando o meu interesse pelo papel do

educador na mediação destas situações problemáticas e como este papel contribui para o

desenvolvimento social das crianças. Esta intervenção levantou-me algumas questões que

10

na intervenção com o grupo do jardim de infância, que mais tarde me dirigiram para a

importância da comunicação entre as crianças na resolução de problemas.

A entrada na creche e/ou jardim de infância proporciona um ambiente novo e

desafiante, em que o educador assume um papel importante. Nas OCEPE, podemos

encontrar descrito que a educação pré-escolar permite às crianças, “A oportunidade de

usufruir de experiências educativas diversificadas, num contexto facilitador de interacções

sociais alargadas com outras crianças e adultos, permite que cada criança, ao construir o seu

desenvolvimento e aprendizagem, vá contribuindo para o desenvolvimento e aprendizagem

dos outros” (ME, 1997, p. 19). Com base, nesta crença, acredito que todas as interações

sociais proporcionadas às crianças deverão ser de qualidade, assim, o papel do educador é

essencial. No entanto, o papel do educador não se restringe apenas à promoção de

interações significativas com outros adultos e crianças, mas também a muitos outros

aspetos. Na minha PPS, gerir um currículo e promover novas aprendizagens que partissem

das vivências das crianças do grupo e que respondessem aos seus interesses, não

descurando a minha visão das crianças e do trabalho que deve ser desenvolvido por um

educador de infância, foram grandes desafios. Estas foram algumas das dificuldades que

tive de superar, sobretudo no que diz respeito ao estudo desta problemática e que procuro

de forma sintetizada descrever neste relatório.

Como objetivos deste relatório, saliento a caracterização dos contextos

socioeducativos, a definição das intenções para a ação partindo de um referencial teórico, a

identificação e reflexão sobre a minha ação e intervenção, sobretudo no que diz respeito a

esta problemática, bem como a exploração e reflexão sobre a minha identidade profissional.

Numa primeira parte, caracterizei de forma reflexiva os dois contextos

socioeducativos, focando o meio em que se encontram inseridas as instituições, o contexto

socioeducativo, a equipa educativa de ambas as instituições, os dois grupos de crianças e

suas famílias. Num segundo momento, fiz uma análise reflexiva da minha ntervenção.

Recorrendo aos dados da caracterização, identifiquei e fundamentei as minhas intenções

para a ação pedagógica, identificando por fim a problemática em estudo, bem como o

11

enquadramento teórico que fundamentou não apenas as minhas decisões pedagógicas como

me permitiu adequar algumas estratégias implementadas. Face à especificidade do tema em

causa, recorri a conhecimentos do âmbito da pedagogia e psicologia. Os nomes das crianças

e profissionais apresentados, das próprias instituições, são fictícios, e os locais em que estas

instituições se encontram inseridos não são revelados, procurando garantir a

confidencialidade destes dados. Os documentos das instituições foram consultados nas

instalações das mesmas e os dados apresentados dizem respeito aos dados recolhidos com

base na análise dessa documentação.

12

1. CARACTERIZAÇÃO REFLEXIVA DO CONTEXTO SOCIOEDUCATIVO

O conhecimento dos contextos em que a criança está inserida é essencial para a

organização do ambiente educativo. Segundo a abordagem sistémica e ecológica, o

desenvolvimento humano é um processo dinâmico em que o indivíduo e meio são

influenciados mutuamente (ME, 1997). Esta abordagem considera ainda que o indivíduo no

seu desenvolvimento interage com diferentes sistemas, também eles em evolução.

Ao considerar de forma dinâmica as características do contexto educativo em que o

estabelecimento se encontra, bem como as características e necessidades das crianças do

grupo e suas famílias, a ação do educador pode ser adaptada de forma adequada (ME,

1997). Foi com base nestas premissas que considero esta caracterização importante para

desenvolver um trabalho de qualidade.

1.1 Meio onde estão inseridas as instituições

A minha Prática Profissional Supervisionada desenvolveu-se em dois contextos

distintos, sendo assim necessário caracterizar ambos, aspeto que foi essencial para a minha

ação.

Em creche, intervi no estabelecimento, que será designado, como ABC, e que fica

situado num Concelho nos arredores de Lisboa. Está inserido numa freguesia com uma

elevada população residente, uma taxa de atividade de 50,04% e uma taxa de analfabetismo

de 4,06%, segundo dados do INE (2013) (consultar Anexo A.1).Para a atualidade, a taxa de

analfabetismo é demasiado elevada para o que seria expectável, e para as medidas que têm

vindo a ser implementadas para a reduzir. Estes dados parecem confirmar os dados da

população deste estabelecimento, no que diz respeito à taxa de atividade, porém

contradizendo-os no que se refere à escolaridade das famílias, o que pode ser explicado

pela maioria dos pais trabalhar no complexo empresarial envolvente (consultar Anexo

A.1.).

Em jardim de infância, desenvolvi a PPS numa cooperativa de ensino, que será

designado como Lilás, situado num Concelho nos arredores de Lisboa. Esta freguesia tem

13

uma população residente elevada, com uma taxa de atividade de 52,4% e taxa de

analfabetismo de 3,16% (INE, 2013). Ambos os dados parecem comprovar a realidade das

famílias abrangidas, aspeto que tive oportunidade de constatar através de observações

informais, análise documental e contacto com as famílias da população abrangida.

A caracterização do meio, permite assim, reconhecer as potencialidades do meio para

enriquecer as vivências das crianças. Ambas as instituições se situam em zonas de fácil

acessibilidade, tanto a serviços como a equipamentos sociais e uma boa rede viária.

1.2 Contexto socioeducativo

O conhecimento do contexto socioeducativo de uma instituição é essencial para

desenvolver um trabalho de qualidade com as crianças de um grupo, respeitando a missão e

intenções da mesma.

O estabelecimento ABC recebe crianças desde os 4 meses até aos 9 anos, distribuídas

por 4 valências: berçário, creche, pré-escolar e 1º CEB. Tem como missão, contribuir para

o desenvolvimento gradual das crianças, contribuindo de forma positiva para a construção

da personalidade e caráter das mesmas, contando com o apoio dos seus profissionais e

famílias das crianças. Procura proporcionar um ambiente socialmente rico que promova um

ambiente de aprendizagem e de competências sociais de forma lúdica e interactiva, onde o

conforto e a segurança não são descurados. Valoriza a participação ativa, a aprendizagem e

a compreensão do mundo por parte das crianças (PE do Estabelecimento ABC, 2013).

A instituição onde realizei a PPS em Jardim de Infância, tem vários estabelecimentos

e apoia crianças, adolescentes, jovens e as suas famílias, contribuindo para o

desenvolvimento local e educativo do Concelho, através de uma dinâmica comunitária.

O Jardim de Infância Lilás, acolhe crianças desde os 3 até aos 6 anos de idade e segue

uma metodologia específica desenvolvida pela sua equipa técnica, com base em correntes

humanistas. Defende a diversidade como uma riqueza, acreditando assim, que todos os

intervenientes têm a possibilidade de participar ativamente nas decisões que os envolvem.

Encara a escola como um espaço em que o desenvolvimento cognitivo, as aprendizagens, o

14

desenvolvimento pessoal e social, o bem-estar físico e emocional, a educação para o

ambiente e para a cidadania tem uma importância equivalente (PC da Sala Intelectual,

2013). Cada uma das crianças tem uma sala de referência onde se dirige no início do dia,

antes e depois do almoço: o grupo intelectual (4/5/6 anos) e o de jogo dramático (3/4 anos).

Após o acolhimento e recreio do almoço, é proposta a escolha de uma das três salas de

atividades (expressões, jogo dramático e intelectual) para o desenvolvimento das várias

áreas de conhecimento.

Por ter contactado com estas duas instituições e com os seus princípios educativos,

considero que os valores que defendem são também valores em que acredito, aspeto que

considerei essencial para este momento da minha formação e identidade profissional.

1.3 Equipa educativa

A equipa educativa contribui para uma maior igualdade de oportunidades, como

indicam as OCEPE (ME, 1997), como tal, o educador e os restantes profissionais assumem

um papel crucial no desenvolvimento global das crianças, colocando em prática a missão e

visão dos estabelecimentos no que diz respeito à educação das mesmas.

A equipa do estabelecimento ABC é constituída por um corpo docente, outros

técnicos e pessoal não docente. Assim, existem 5 educadoras de infância, 4 professoras de

1º CEB, 2 de educação física, 1 de educação musical, 1 de TIC, 2 de inglês, 1 de ciências, 1

de ballet e 1 de judo. Existem também outros técnicos, nomeadamente 1 terapeuta da fala e

1 psicóloga a tempo parcial. A equipa de pessoal não docente é constituída por 1 diretor

geral, 1 coordenador pedagógico, 2 rececionistas, 1 escriturária, 11 auxiliares de educação,

1 cozinheira e 1 ajudante de cozinha (PE do Estabelecimento ABC, 2013). A coordenação

do estabelecimento gere e apoia a consecução dos objetivos do mesmo, através do

desenvolvimento de competências sociais nas crianças, da gestão dos espaços físicos e da

cooperação com as famílias.

A equipa da sala de aquisição de marcha, é constituída por 1 educadora e 1 auxiliar de

educação, que acompanham este grupo desde a início do ano letivo, ambas trabalham em

15

parceria, o que se revela benéfico para uma relação profissional de confiança. No

acolhimento, refeições (almoço e lanche) e repouso, existem outras 3 auxiliares que

acompanham o grupo e com as quais as crianças mantêm uma relação significativa,

manifestando afecto, respeito e confiança pelas mesmas.

A instituição em que se insere o Jardim de Infância Lilás tem uma equipa

multidisciplinar que dá apoio às valências de creche, jardim de infância e 1º CEB, sendo

que todos estes colaboradores assumem um papel importante na gestão da mesma.

No Jardim de Infância, existem 4 educadoras e 5 auxiliares de educação, várias

funcionárias do refeitório e 2 rececionistas. As crianças beneficiam ainda do apoio de 1

diretora pedagógica e 1 coordenadora de setor e psicóloga educacional. Existem ainda,

professores de áreas específicas do currículo, que apoiam as crianças, nomeadamente o

professor de educação física, a de inglês e o de música. Os dois primeiros desenvolvem as

suas atividades em pequeno grupo (12/13 crianças), fora da sala de atividades no decorrer

das atividades habituais e o de música em grande grupo com o apoio da educadora. As

crianças com NEE beneficiam de1 terapeuta da fala e de 1 educadora de IP (PC da Sala

Intelectual, 2013).

A sala intelectual, é acompanhado por 1 educadora e 1 auxiliar de educação, que

trabalham juntas à algum tempo, tendo desenvolvido uma parceria que garante a

continuidade no trabalho desenvolvido. A partilha de informações fomenta esta

continuidade e permite adequar de forma eficaz alguns aspetos da prática educativa.

1.4 Contexto familiar

A família é um dos grupos em que a criança está inserida que assume um papel

determinante na sua educação, assim caracterizar as mesmas, é um primeiro passo no

sentido de estabelecer e estreitar uma relação de parceria entre família e estabelecimento

(ME, 1997).

As famílias das crianças do estabelecimento ABC são maioritariamente famílias

tradicionais, sendo que apenas uma família tem os pais separados. Relativamente às idades,

16

os pais das crianças encontram-se maioritariamente na faixa etária dos 30 anos. No que diz

respeito à condição social destas famílias, não existem dados relevantes que permitam fazer

inferências a este respeito. No entanto, com base na análise das profissões dos pais das

crianças, é possível inferir que estes têm habilitações profissionais elevadas, exercendo

profissões liberais, de modo geral.

Das 35 famílias do Jardim de Infância Lilás, 30 têm um tipo de família tradicional e 7

famílias são monoparentais (pais divorciados em que as crianças vivem apenas com a mãe

ou pai). Uma parte significativa dos pais encontra-se, de momento, desempregada,

sugerindo que algumas destas famílias possam estar com dificuldades económicas,

inferindo assim que a maioria das famílias pertença a uma classe média/baixa. As restantes,

encontram-se de momento a trabalhar, e desenvolvem na sua grande maioria, profissões na

área da prestação de serviços. Apesar de não ter dados concretos relativos às habilitações

académicas das mesmas, a análise documental sugere que a maioria das famílias poderá não

ter formação académica superior (consultar o Anexo A.7.).

De modo geral, as famílias de ambos os grupos de crianças envolvem-se no contexto

escolar e quando solicitadas comparecem em reuniões ou atividades da instituição, segundo

dados recolhidos em conversas informais com as educadoras cooperantes.

1.5 Grupo de crianças

Conhecer as crianças e o grupo em que estão inseridos, permite à equipa conhecer as

suas capacidades, interesses e naturalmente as suas dificuldades, como sugerem as OCEPE

(ME, 1997). A recolha e análise destas informações foram importantes, para que eu pudesse

desenvolver uma prática profissional adequada a cada grupo.

O grupo da sala de aquisição de marcha, tem idades compreendidas entre os 14 e os

23 meses de idade e a maioria frequentou o berçário deste estabelecimento. O grupo tinha 5

crianças do género feminino e 6 do género masculino, porém (consultar o Anexo A.8.).

Estas crianças são curiosas, com forte interesse pelas atividades propostas e por

histórias, com uma grande capacidade de envolvimento em atividades diversificadas. Os

17

momentos em grande grupo têm sido cada vez mais frequentes. Na interação com os pares,

revelam alguma preocupação com o Outro, exibindo sinais de culpa ou remorso quando

envolvidas em conflitos. Com mediação, na maioria das vezes pedem desculpa e

demonstram um gesto de carinho. Demonstram também uma relação significativa e de

confiança com a equipa, chegando a iniciar interações espontaneamente.

O grupo de crianças do Jardim de Infância Lilás é heterogéneo, composto por 37

crianças, das quais 23 são do género feminino e 14 do género masculino, com idades

compreendidas entre os 4 e os 6 anos de idade, sendo 23 finalistas e 9 condicionais.

Neste grupo, 7 crianças já pertenciam à Sala Intelectual no ano letivo transato, 28

crianças vieram do grupo do Jogo Dramático e 4 crianças vieram de outros Jardins de

Infância desta instituição. Este aspeto permitiu o reconhecimento da dinâmica e

funcionamento da instituição, sendo um facilitador para a integração das mesmas (consultar

o Anexo A.9.).

O grupo demonstra alguma dificuldade nos tempos de grande grupo, nomeadamente

em manter a atenção, respeitar os pares, organizar o trabalho de pequenos e grandes grupos,

em estabelecer relações positivas com os pares e grupo. É um grupo alegre, com interesse

particular pela música, por histórias, por conversar e dar opiniões sobre assuntos

diversificados. As crianças são independentes no que concerne à sua higiene e alimentação.

1.6 Análise reflexiva das intenções educativas

O estabelecimento Arco-Íris é uma instituição de construção recente, com um espaço

amplo, tanto interior como exterior, tem três recreios (cobertos e descobertos) e três pisos

amplos. No que diz respeito à sala de aquisição de marcha, existem várias áreas

organizadas segundo áreas de interesse como pode ser constatada pela análise da planta

(consultar o Anexo A.4.).

Na creche, as rotinas são bastante importantes e ocupam uma grande parte do dia,

sobretudo na higiene, alimentação e sono, ainda que em todos estes momentos se promova

uma progressiva autonomia das crianças. O trabalho em pequeno e grande grupo é

18

desenvolvido em momentos específicos do dia, particularmente no período da manhã,

procurando respeitar a agenda diária (consultar o Anexo A.2.).

O Jardim de Infância, ainda que de construção de raiz, é um edifício mais antigo,

constituído por dois pisos, e dois edifícios anexos ligados por um dos recreios exteriores.

No andar superior, existem as salas de 1º CEB, um ginásio, um refeitório, instalações

sanitárias, um recreio exterior, gabinetes técnicos e salas de reuniões. No piso inferior, é

possível encontrar uma ludoteca, a recepção, o refeitório, a creche, a sala de jogo

dramático, sala das expressões e sala intelectual, assim como as instalações sanitárias. No

edifício anexo, existe a sala de transição, bem como gabinetes técnicos e salas de reuniões.

Os edifícios encontram-se interligados por dois recreios exteriores divididos por um portão.

A sala intelectual tem uma disposição específica (consultar o Anexo A.5.),

organizada de forma lógica e devidamente identificada. Cada uma das áreas de interesse

tem identificadas as atividades possíveis, os materiais disponíveis e o número de crianças

permitidas. Os instrumentos reguladores, permitem incidir sobre várias áreas do

conhecimento e estão presentes em áreas específicas da sala de atividades, sendo

consultados com regularidade pelas crianças do grupo.

A rotina diária está descrita numa agenda semanal (consultar o Anexo A.3.). No

acolhimento, após a escolha de uma das salas é realizado o plano do dia com as crianças

que permanecem na sala intelectual. Estes dois momentos são importantes pela

possibilidade das crianças partilharem as suas ideias e opiniões sobre as aprendizagens que

pretendem desenvolver nas várias áreas do conhecimento.

Estes estabelecimentos são idênticos no que diz respeito à filosofia educativa. A

criança é encarada como o principal interveniente da ação educativa, sendo o seu

desenvolvimento global o principal enfoque do trabalho desenvolvido. Os dois grupos têm

uma rotina diária definida e estão organizadas por áreas de interesse.

19

2. ANÁLISE REFLEXIVA DA INTERVENÇÃO

Durante este percurso da minha formação profissional acompanhei dois grupos de

crianças com características, necessidades e fases de desenvolvimento distintas. Com

ambos os grupos desenvolvi não apenas novas aprendizagens mas também novas

competências, e fui-me tornando progressivamente mais consciente das inúmeras

competências das crianças. Um dos aspetos mais surpreendentes para mim, foi a capacidade

de comunicarem tão eficazmente, sobretudo o grupo de creche e de tornarem perceptíveis

os seus desejos, interesses e opiniões. Ao longo do tempo, considero que com ambos os

grupos, de forma diferenciada, fui sendo desafiada a encontrar novas e diversificadas

formas de lhes dar voz, nomeadamente em situações de conflito.

No contexto de creche, os inúmeros conflitos entre as crianças do grupo, sobretudo

pela disputa de materiais suscitaram o meu interesse. Considerando estes aspetos, e face a

uma situação problemática, observei a educadora cooperante a intervir, tornando claro para

a criança que havia tirado um brinquedo ao colega, a forma como o seu colega se sentia.

Nestas situações, ainda que com alguma dificuldade as crianças acabavam por devolver o

brinquedo que estava no centro do conflito.

“Neste dia, o túnel foi uma brincadeira recorrente e um desafio especial

[…] Um desses exemplos foi com a Adriana e a Sara, quando esta última

mordeu a sua colega. Ao pedir a ambas que saíssem do túnel para falar com

elas, procurando acalmar a Adriana, e ajudando a Sara a refletir sobre a sua

atitude, esta começou a gritar. […] De forma calma e tranquila, referi que esta

não deveria morder os seus amigos, uma vez que os magoava e os deixava

tristes, e assim deveria pedir desculpa à sua “amiga”. Esta manteve-se firme,

não respondeu a nenhuma das minhas iniciativas, […] aguardei que esta se

acalmasse e repeti o que havia dito anteriormente, questionando por fim se se

sentia pronta para pedir desculpa à Adriana. Acabou por acenar

afirmativamente, e após ter pedido desculpa, permiti que brincasse

livremente...”

20

Com base nestas observações e nas minhas intenções e crenças profissionais, fui

orientando o meu olhar para estas situações, intervindo sempre que possível. Neste

momento, o meu interesse ainda não estava dirigido para a comunicação na resolução dos

conflitos e sim para as estratégias de resolução de conflitos entre as crianças deste grupo e

para a importância da mediação do adulto. Durante o tempo em que acompanhei este grupo,

não houve alterações significativas na forma como cada criança lidava com as situações

problemáticas com que se deparavam, no entanto, tornou-me progressivamente mais atenta

para a importância da comunicação entre pares.

Ao longo do tempo que intervi com este grupo de crianças, tive oportunidade de

constatar que no decorrer de uma brincadeira livre de uma criança com um ou mais

brinquedos, com alguma frequência outras crianças se aproximavam com interesse pela

atividade do colega. Constatei ainda, que na grande maioria dos casos, as crianças que se

aproximavam iniciavam brincadeiras paralelas com outros brinquedos e que quando

pretendiam iniciar uma brincadeira ou jogo com o colega ou com o brinquedo,

manifestavam dificuldades em expressar verbalmente esse desejo, acabando por tirar o

brinquedo alvo do seu interesse.

Nas minhas observações, sempre que constatei esta situação, procurei que as crianças

resolvessem este conflito entre si, mediando o conflito apenas no caso em que os

envolvidos manifestavam dificuldades em resolver o mesmo autonomamente. Nessas

situações, e sempre que possível com a presença de ambas as crianças procurava que o

desencadeador do conflito se familiarizasse com as emoções do colega, tornando claro que

deveria esperar que este terminasse a brincadeira ou pedir o brinquedo ao colega. Na

grande maioria dos casos, a criança que desencadeava o conflito manifestava algum

embaraço pela sua atitude, revelando dificuldade em olhar para mim e para o colega. Foi

também notório na maioria das vezes que a criança compreendia que deveria pedir desculpa

e ter um gesto de carinho para com o colega, ainda que manifestassem de forma geral

dificuldade em tomar essa atitude de imediato.

21

Um dos aspetos que considerei importante na prática com as crianças deste grupo, foi

o respeitar o tempo que cada uma destas crianças precisava para gerir as suas próprias

emoções ou para se acalmar. Considero que o desenvolvimento de novas competências

sociais, como colocar-se no papel do Outro, compreender as emoções do Outro, iniciar uma

interação, comunicar com os pares é um grande desafio para esta faixa etária. Por acreditar

que no decorrer destas aprendizagens é importante a reflexão, quando as crianças do grupo

manifestavam esta dificuldade, sugeria que se sentassem num dos tapetes da sala para

pensarem e se acalmarem durante uns momentos, indicando mais tarde quando se sentiam

prontas.

O papel do educador é crucial no desenvolvimento social das crianças, na minha

opinião, promovendo deste modo, o desenvolvimento de competências de resolução de

conflitos e de reconciliação. Acredito também, que ao tornar claro para as crianças, as

emoções e sentimentos inerentes a cada um dos intervenientes em determinada situação

problemática, a criança passa a conseguir colocar-se no papel do Outro.

Depois da intervenção com as crianças do grupo de creche, refleti bastante sobre as

minhas crenças e sobre as estratégias implementadas com este grupo. Apesar de não ter

desenvolvido uma pesquisa e intervenção consolidada com este grupo, levantei algumas

questões que se revelaram essenciais para o trabalho que acabei por desenvolver com o

grupo de crianças de jardim de infância.

Após a caracterização do grupo da Sala Intelectual constatei que a intervenção na

resolução de problemas com este grupo também era importante. Porém, tratando-se de dois

grupos com características específicas, senti necessidade de refletir de forma mais cuidada

sobre os aspetos que havia considerado importantes na intervenção com o grupo de creche,

o que me permitiu implementar novas estratégias. Ao longo do tempo, o meu interesse pela

mediação do educador na resolução de problemas para a comunicação na resolução de

conflitos. Deste modo, neste relatório irei debruçar-me sobretudo no contexto de jardim de

infância, pois foi neste contexto que pude intervir sobre esta problemática.

22

2.1 Identificação e fundamentação das intenções para a ação pedagógica

Enquanto futura educadora, senti algumas inseguranças na PPS, nomeadamente no

que diz respeito à gestão de um grande grupo, à gestão de um currículo, mas também do

desenvolvimento de um projeto educativo que valorize as intenções pedagógicas em que

acredito. De forma diferente, estas inseguranças manifestaram-se não só no contexto de

creche mas também no contexto de jardim de infância. Apesar de já ter prática no trabalho

com crianças, a especificidade do trabalho de uma educadora de infância desafiou-me a ser

cada dia, uma profissional mais versátil.

As intenções pedagógicas do educador são o fio condutor da sua ação ao longo da sua

prática profissional. Esta tomada de consciência ajudou-me a definiras minhas próprias

intenções, uma vez que só conhecendo as mesmas poderia desenvolver um trabalho de

qualidade com ambos os grupos, procurando respeitar a visão e intenções das instituições

onde intervi e das educadoras que pude acompanhar.

A visão que tenho da criança, encara-a como um ser ativo, participativo, competente e

capaz de intervir no seu desenvolvimento e aprendizagem. Partindo da caracterização dos

diversos contextos que acima foram caracterizados, foi possível pensar num plano de ação

que levou em consideração a visão e as intenções que defendo.

Deste modo, considero que os princípios de aprendizagem ativa, segundo Sylvia e

Siraj-Blatchford (1995, cit. Siraj-Blatchford, 2004), foram em parte reguladores da minha

prática, como é o caso de:

Partir da experiência das crianças para desenvolver actividades que auxiliem a

aprendizagem do currículo;

Planear actividades tendo em conta os grupos específicos de crianças;

Encorajar e desenvolver a aprendizagem cooperativa;

Estimular a resolução de problemas, a partir da observação directa do meio;

Trabalhar cooperativamente com os pais e a comunidade;

Observar e avaliar o alcance da aprendizagem;

23

Desenvolver a responsabilidade social das crianças através negociação da estrutura

da sala de aula e das regras;

Criar um ambiente que seja organizado, atractivo e entusiasmante, dentro da sala de

atividades.

Por acreditar que estes princípios são importantes e transversais no trabalho

desenvolvido com crianças dos 0 aos 6 anos, procurei integrá-los na minha prática com o

grupo de creche e de jardim de infância, procurando superar os desafios inerentes a cada

grupo e suas especificidades.

Um dos grandes desafios com que me defrontei, foi encontrar formas de atribuir uma

voz às crianças e um papel progressivamente mais ativo no seu processo educativo. Este

aspeto foi verdadeiramente desafiante, no contexto de creche, pois com crianças tão jovens,

encontrar estratégias e mecanismos de escutar cada uma das crianças foi bastante exigente.

No que diz respeito, ao trabalho em jardim de infância, os desafios foram diferentes,

ainda assim, as minhas intenções mantiveram-se, pois acredito que em qualquer fase de

desenvolvimento as crianças devem ter uma participação na definição no seu percurso

educativo. Enquanto futura educadora considero importante assumir um papel de

mediadora neste processo. Este aspeto não é só nos momentos das atividades organizadas

mas também nos momentos de atividade espontânea, em parte garantidos pela

intencionalidade na organização das áreas disponíveis (consultar o Anexo A.4. e A.5.).

Apesar de não ter tido um papel na organização das áreas de nenhuma das salas de

atividades, constatei que estas haviam sido cuidadosamente pensadas pelas educadoras

cooperantes. Face a este aspeto, e tendo em conta que as crianças já reconheciam esta

organização, não propus qualquer tipo de alteração à mesma.

Outro desafio difícil de superar na minha PPS, especialmente em jardim de infância,

foi partir das vivências, experiências e partilhas das crianças para desenvolver

aprendizagens significativas em todas as áreas de conhecimento. Só assim, as crianças

poderiam construir aprendizagens significativas e desenvolver uma motivação intrínseca

para continuar a construir aprendizagens novas ao longo da vida. Inicialmente, a preparação

24

das atividades permitia-me estar mais segura na minha intervenção, o que dificultou o

desenvolvimento de atividades e/ou projetos que partissem dos interesses das crianças.

Ainda assim, com o apoio da educadora cooperante, professora orientadora e crianças, foi

sendo possível integrar cada vez mais os interesses das crianças nas atividades e propostas

diárias.

Acredito ainda, que para que as intenções pedagógicas para um determinado grupo de

crianças, sejam adequadas, estas devem ser estipuladas considerando as características do

grupo, da fase de desenvolvimento e mesmo do contexto social em que as crianças estão

inseridas. Apesar de considerar que existem intenções pedagógicas transversais a qualquer

contexto e grupo de crianças, algumas deverão ser formalizadas após conhecer bem o grupo

de crianças. Foi com esta crença, que procurei conhecer bem cada um dos grupos e adequar

as minhas intenções às necessidades das crianças que acompanhei.

No que diz respeito, à creche, as minhas intenções pedagógicas prenderam-se

sobretudo com a resposta às necessidades físicas das crianças, bem como às necessidades

destas crianças desenvolverem relações significativas com os adultos. Acredito ainda, que é

importante o educador responder às necessidades de segurança, impondo limites e

referências às crianças, assim como desenvolver um ambiente que seja previsível e

securizante para as mesmas. Assim, como sugere Portugal (2012), importa promover o

reconhecimento e afirmação da criança, permitindo que esta se sinta aceite, apreciada,

escutada, respeitada, desenvolvendo o sentimento de pertença ao grupo. O educador deve

promover o sentimento de competência na criança e a construção de um conjunto de

valores e significados.

Relativamente ao jardim de infância, o documento orientador para a ação do educador

são as OCEPE (ME, 1997), definindo um conjunto de intenções pedagógicas transversais

para a educação pré-escolar. Ainda assim, na minha prática, algumas destas intenções

foram assumindo para mim, uma importância vital, no trabalho com as crianças.

Na minha intervenção procurei contribuir para o desenvolvimento pessoal e social das

crianças, permitindo-lhes usufruir de experiências de uma vivência democrática. Procurei

25

ainda, permitir que cada criança se sentisse integrada no grande grupo, desenvolvendo um

respeito pela diversidade de culturas. No que diz respeito, às aprendizagens de cada criança,

procurei que a partir dos interesses das mesmas fossem desenvolvidas novas aprendizagens

e competências que estimulassem o desenvolvimento global, a curiosidade e o pensamento

crítico de cada uma.

Ainda assim, com base na minha caracterização inicial do grupo de crianças da sala

intelectual, considero que uma das minhas principais intenções para este grupo se prendeu

com a promoção de novas estratégias de resolução de problemas. Procurei sobretudo, que

em diferentes situações problemáticas, este grupo conseguisse recorrer à comunicação para

alcançar a reconciliação, clarificando e aceitando o ponto de vista do Outro. Procurei ainda,

que este grupo se envolvesse de forma ativa e espontânea em diferentes atividades e nas

várias áreas da sala de atividades, desenvolvendo assim novas aprendizagens em todas

áreas de conteúdo.

2.2 Identificação da problemática

Como referi acima, neste relatório, a problemática que estudei não surgiu de forma

linear e foi sendo redefinida com o tempo. Numa fase inicial, com a minha intervenção com

o grupo de creche, surgiu o tema da resolução de problemas, sobretudo para a mediação do

educador. Foi com o início da minha intervenção com o grupo de jardim de infância e com

a sua caracterização que foi progressivamente tomando consciência para a importância da

comunicação na resolução de conflitos. Ao longo deste processo, posso considerar que a

PPS em creche foi um marco muito importante para a escolha desta problemática, pois fui

definindo uma intervenção mais marcada, com estratégias consistentes e recorrendo a uma

dinâmica própria, procurando não me distanciar muito da atuação da restante equipa.

De modo geral, considero que alguns princípios orientadores se mantiveram ao longo

do tempo, e que se encontram de forma significativa relacionadas com as minhas intenções

pedagógicas. Assim, procurei em todos os momentos da minha intervenção, agir de forma

calma e tranquila, valorizando a comunicação com as crianças sobre as situações e emoções

26

em causa. Este tipo de atuação permitiu que as crianças me reconhecessem como um

modelo a seguir, para situações futuras. Acredito que ao fornecer bons modelos sociais às

crianças, estas desenvolvem aprendizagens significativas que acabam posteriormente por

adoptar nas suas vivências. Numa fase posterior, passei a transferir a importância da

comunicação entre educador e crianças para a comunicação entre crianças, uma vez que um

dos meus principais objetivos com o estudo desta problemática e com a minha intervenção,

conseguir que todas as crianças do grupo não necessitassem da mediação de nenhum adulto

para resolver os seus conflitos.

A minha intervenção em jardim de infância, teve início com a caracterização do grupo

de crianças. A partir desta caracterização, fui constatando as dificuldades que estas crianças

tinham em aceitar as ideias e opiniões dos Outros, em tomar consciência do papel do Outro,

em pedir desculpa e em recorrer à comunicação para transmitir ideias e opiniões. A estas

dificuldades surge uma forte concorrência pela liderança do grupo. A chegada a este novo

contexto educativo, implicou um novo período de observação das dinâmicas entre as

crianças, mas também das estratégias utilizadas pela educadora cooperante e auxiliar de

educação, com o intuito de manter alguma consistência no trabalho que já havia sido

desenvolvido anteriormente pela equipa de profissionais.

Coutinho et al. (2009) indica que para que exista uma mudança nas práticas

profissionais dos educadores, inicialmente é necessário conhecer as teorias que sustentam

essas aprendizagens e posteriormente investigar e colocar em causa essas teorias adequando

à realidade do contexto de intervenção. Assim, tornou-se essencial conhecer de forma mais

aprofundada as etapas do desenvolvimento moral e linguístico das crianças nesta faixa

etária. Com base nestes conhecimentos, poderia realizar novas aprendizagens e colocar em

causa alguns aspetos da minha prática, reformulando e adequando estratégias.

Recorrendo à investigação-acção, é possível ter uma nova perspectiva da realidade,

uma vez que ao colocar em causa novas formas de pensar e agir, é possível construir novas

realidades sobre a educação (Sanches, 2005). Enquanto educadora, foi importante

27

questionar as minhas ações, bem como os contextos e ambientes de aprendizagem de modo

sistemático e contínuo, permitindo-me adequar as estratégias implementadas.

Sanches (2005) refere que ao tornar o processo educativo mais informado, sistemático

e rigoroso, é possível partilhar o mesmo com os alunos e colegas, conduzindo a uma

melhor compreensão do ensino e aprendizagem e desencadeando um processo dinâmico,

motivador, inovador, responsável e responsabilizante para os vários intervenientes.

Mesquita-Pires (2010) indica que os estudos que incidem sobre a investigação-ação

são potenciadores do desenvolvimento profissional, uma vez que a sistematicidade com que

o educador organiza o seu trabalho a partir dos dados recolhidos se refletem nas suas

próprias concepções. Assim, esta sistematicidade reflexiva por parte do profissional

constitui-se como mais um grande desafio na sua prática profissional.

Coutinho et al. (2009, cit. Kemmis & McTaggart, 1988; Zuber-Skerritt, 1992; Cohen

& Manion, 1994; Denscombe, 1999; Elliot, 1991; Cortesão, 1998)aponta como

características desta metodologia, as seguintes:

Participativa e colaborativa;

Prática e interventiva;

Cíclica;

Crítica;

Auto-avaliativa.

Acreditando nesta metodologia e nas suas potencialidades, procurei implementar os

seus princípios orientadores na minha PPS e naturalmente no estudo desta problemática.

A minha caracterização inicial do grupo, ajudou-me a definir as minhas intenções

para o estudo e intervenção sobre esta problemática, que de alguma forma foram

orientadoras do rumo que esta intervenção seguiu. Uma das minhas principais intenções

com esta intervenção foi expor as crianças a adequados modelos sociais, no que se refere à

comunicação na resolução de conflitos. Tive também como intenção pedagógica, promover

uma comunicação mais eficaz com os pares, permitindo uma adequada transmissão das

suas emoções, ideias e opiniões sobretudo no que diz respeito a situações problemáticas.

28

Por fim, a minha última intenção com o estudo desta problemática, foi promover o

desenvolvimento de comportamentos sociais mais adequados, bem como a resolução de

conflitos sem recorrer à mediação de um adulto.

Inicialmente, as crianças do grupo, não conseguiam falar com os outros intervenientes

(pares e adultos) sobre situações problemáticas. No entanto, por acreditar que a

comunicação na resolução de conflitos é essencial, estabelecer um ambiente calmo e seguro

para que as crianças pudessem partilhar os seus sentimentos e emoções, tornando-os claros

para o Outro, era essencial. Nas situações em que intervi, este era um dos pontos que

considerava importante. Assim, garantia, antes que cada criança pudesse relatar o sucedido,

que ambos se encontravam num ambiente securizante, se possível afastados do restante

grupo de pares. Em todos os momentos, em que surgiam situações problemáticas comigo,

procurei servir de modelo para situações com os seus pares.

“O Lourenço durante o momento de grande grupo e após a minha

chegada à sala estava a comportar-se de forma desajustada, e como tal decidi

sentar-me junto a ele, este recusou e começou a pontapear-me. Procurei falar

com ele, mas este continuou com o comportamento e como tal sentei-me e

aguardei que este se acalmasse. O comportamento parou quando foi o momento

da escolha e apesar deste ter ido para o jogo dramático […] Ambos

concordámos que deveríamos aguardar que ele quisesse conversar comigo para

depois ir para a sala do jogo dramático.

De forma calma, fiz com que este recontasse o sucedido e refletisse sob o

seu comportamento. Pediu-me desculpa e deu-me um beijinho.”

No início, procurar isolar as crianças do seu grupo de pares não foi uma preocupação

minha, porém em algumas situações, várias crianças que não haviam estado envolvidos na

situação problemática faziam comentários e/ou relatos pouco fidedignos, tomando o partido

de um dos intervenientes. Face a esta situação, comecei a garantir que na resolução de um

conflito, apenas estariam presentes os intervenientes diretos, que de forma calma e tranquila

relatavam a sua versão dos acontecimentos.

29

A mediação, como sugerem Morgado e Oliveira (2009) é uma forma de a comunidade

escolar prevenir conflitos futuros, através do apelo à colaboração, respeito e

responsabilidade, recusando uma imposição de soluções. Estas autoras acrescentam que

consiste numa negociação com a intervenção de um terceiro elemento, imparcial, que

auxilia na procura de uma solução mutuamente satisfatória. Na procura desta solução,

oferece aos envolvidos um espaço securizante para que estes trabalhem na resolução do seu

problema em conjunto. Por fim, o mediador garante o carácter pedagógico uma vez que os

intervenientes mantêm a sua capacidade de atuação e aprendizagem, na procura de um

acordo.

Ao longo do tempo, e de forma consistente, as crianças reconheciam que no decorrer

de um conflito quando solicitavam a minha mediação, procurava que se estabelecesse um

ambiente calmo e sereno, onde cada um dos intervenientes podia relatar a sua versão da

situação problemática. Esta antecipação por parte das crianças tranquilizava as mesmas,

que sabiam o que podiam esperar do meu apoio.

Em determinados momentos, o recurso ao diário, um dos instrumentos reguladores da

sala de atividades foi frequente, aspeto que foi incentivado por mim e pela restante equipa,

pela possibilidade de envolver o grande grupo na discussão de algumas situações

problemáticas. Relativamente a esta ferramenta, no portfolio de jardim de infância, registei

as seguintes reflexões:

“Na discussão dos aspetos escritos no “não gostámos”, o grupo é

envolvido na resolução dos conflitos que surgiram ao longo da semana. É um

momento para se confrontarem as várias perspectivas dos intervenientes,

momento crucial para todas as crianças resolverem os seus conflitos de forma

adequada.”

“é um momento por excelência destinada à resolução de conflitos ou

situações problemáticas de forma democrática e com recurso ao diálogo entre

os intervenientes. São fundamentais os aspetos decididos neste momento da

30

semana, o que me faz acreditar no enorme potencial regulador deste

instrumento, o diário.”

Um dos exemplos, em que foi discutida uma situação em grande grupo, está descrita

no excerto seguinte:

“Ao chegar à coluna do não gostámos, havia apenas uma notícia, da

Carina referente a um colega seu, o Lourenço que a havia empurrado por ter

perdido no decurso de um jogo realizado em grupo. Esta criança ao ser

confrontada com esta notícia, partilha com o grande grupo que se tinha sentido

triste por ter perdido o jogo e acabou por empurrar a sua colega. De seguida,

pede-lhe desculpa. Esta resolução surpreendeu, sobretudo por se tratar de uma

criança com grandes dificuldades em lidar com a frustração e confronto.”

As disputas pela liderança do grupo, como referi acima são frequentes e intensas por

parte de alguns elementos do grupo de crianças, como se pode constatar no próximo

excerto.

“Quando regressei à sala, o grupo de crianças estava a realizar a

votação para eleger o melhor trabalho do sinal de proibido. Este momento foi

particularmente especial, pela observação […] (d)as pressões sociais de alguns

elementos do grupo relativamente às restantes crianças. A educadora constatou

o mesmo e decidiu intervir […] ainda assim, os resultados não foram

compatíveis com os comentários iniciais das crianças que diziam que o

trabalho da Ester era o mais bonito […]Depois de discutida mais uma vez, esta

situação com o grupo, foi decidido realizar uma nova votação no dia seguinte.”

Face à repetição deste tipo de comportamentos, esta situação e outras foram

discutidas no conselho. Os contributos do grande grupo foram importantes para envolver as

crianças numa reflexão sobre os motivos da repetição destes comportamentos. Esta

discussão abordou ainda aspetos como a importância de cada criança ter a sua própria

opinião e do grupo respeitar a mesma.

Outro exemplo, desta pressão de pares, está descrita no episódio crítico seguinte:

31

“No decorrer do conselho, ao serem discutidas as notícias do não

gostámos, a Marisol refere ter uma notícia que quer ver discutida no conselho.

Assim, esta refere que não gostou que a Marisa e a Nádia chamassem

"estúpida" à Marisol e ao Marco. Depois de terem sido relatadas várias vezes a

situação problema pelos vários intervenientes, ficou evidente que uma criança

estava a mentir, e as quatro crianças foram questionados sobre este aspeto,

ainda assim, durante cerca de 15 min, todos mantiveram a sua versão dos

acontecimentos. Posteriormente, o Marco, acabou por referir que não tinha

ouvido a Marisa chamar nomes aos dois colegas, admitindo que tinha mentido

até àquele momento. Quando confrontada, a Marisol troçou da situação, o que

foi discutido, pela injustiça para com as colegas, Marisa e Nádia, mostrando

arrependimento uns momentos mais tarde.”

Esta situação teve repercussões no grupo, por a Marisol só ter revelado

arrependimento mais tarde. Elementos do grande grupo, chegaram mais tarde a chamar

“mentirosa” a esta criança, noutros episódios conflituosos, referindo-se a este momento.

Outro aspeto que considerei essencial, foi o facto de na resolução de um conflito, os

intervenientes verbalizarem as emoções em causa. Por considerar, que a verbalização das

mesmas, envolve uma reflexão importante para desenvolver competências sociais mais

adequadas, num dos momentos da hora do conto que dinamizei, apresentei um livro que

considero adequado para esta discussão, o livro “Quando me sinto zangado”.

“Às 14h, com todo o grupo sentado no tapete, dinamizei a hora do conto.

[…] cada uma das crianças referiu uma situação em que se sente muito

zangado. […] De seguida, fez-se o registo de alguns comportamentos ou ações

que as crianças fazem para se sentirem melhor depois de vivenciarem esta

emoção.”

A discussão que se seguiu foi riquíssima, não só pela reflexão sobre algumas

situações que deixam cada criança zangada, mas sobretudo pela reflexão sobre o que

podem fazer para se sentirem melhor.

32

“Sinto-me melhor quando:

Peço desculpa e brinco com os amigos outra vez e respiro fundo (Mara).

Brinco com um amigo falo com alguém sobre o que me deixou zangada

(Nádia).

Peço a um amigo para me fazer rir (Lisandro).

Jogo à bola (Ester).

Digo piadas (Nelson).

Tento encontrar uma coisa para me rir (Lea).

Brinco com as minhas amigas (Valéria).

Convido alguém para brincar comigo (Ema).

Canto músicas (Regina).

Chamo os amigos para brincar (Renato).

Vou brincar com os amigos (Valentina).”

Após esta atividade, algumas crianças começaram a adoptar estas estratégias para se

sentirem melhor quando vivenciavam algumas emoções negativas.

Ao longo do tempo, como já tinha referido, a minha intervenção foi sofrendo

alterações graduais. Inicialmente, a minha intervenção era muito ativa, questionando

frequentemente as crianças, procurando que estas tornassem mais clara a situação,

sentimentos e emoções envolvidas, mas também discutindo com as crianças a melhor

solução para o problema.

Num momento intermédio, apesar de ainda ser necessária a minha presença para

garantir um espaço seguro para que as crianças pudessem comunicar, a minha intervenção

passou a ser mais passiva e limitada, uma vez que as crianças não necessitavam da minha

intervenção para que se conseguissem escutar. Este momento intermédio foi dividido em

duas fases, em que a minha presença era necessária:

até ao fim da resolução do conflito/reconciliação;

durante parte da resolução do conflito/reconciliação, abandonando a situação

problemática durante a sua resolução, deixando os intervenientes reunidos na procura de

33

uma solução.

Num momento final, pretendi que as crianças conseguissem resolver os seus conflitos,

recorrendo à comunicação, sem que fosse necessária a mediação de um adulto em nenhum

momento da resolução. Infelizmente, este nível não foi alcançado por todas as crianças,

mais uma vez face às características individuais de cada uma. Este aspeto é constatado

também pelas crianças, como se tornou evidente na discussão em grande grupo da

importância das regras.

“- Nós estamos a falar de resolver os problemas a falar, a conversar com

os amigos, mas há meninos aqui na sala que não conseguem, ainda. Ou acham

que já todos conseguem fazer? Quem é que já consegue pedir desculpa e

resolver os problemas a conversar.

- Eu (Nair).

- A Nair?

- Acho que não (Criança 1).

- A Nair se calhar tem de pensar melhor, não é? Se calhar tem de baixar o

dedo. E a Bianca? Acham que a Bianca consegue resolver os problemas a

conversar?

- Eu nunca resolvi os problemas a conversar. (Lisandro)

- Tu nunca resolveste os problemas a conversar?

- Então tens de aprender (Marisol).

- A Nádia está com o dedo no ar, e eu acho que ela é uma menina que

consegue resolver os problemas a conversar. Eu acho que sim. E acho que é

das meninas, aqui da sala, que sabe fazer isto melhor. Quem é que também

acha que consegue. (Marília levanta o dedo) A Marília, quem é que acha que a

Marília já consegue?

- Sim (várias crianças).

- A Valéria também (Criança 3).

- Mas a Valéria não está cá. Ainda não chegou.

34

- Está, está.

- Ah, pois é. Também acho que a Valéria já consegue. E a Marisol, acham

que já consegue?

- Não (Várias crianças).

- Porque é que acham que a Marisol, ainda não consegue.

- Ó Marisol, já alguma vez resolveste os problemas a conversar?

(Marina)

Marisol acena afirmativamente.

- Quando? (Nair)

- Eu já pedi desculpa. (Conversas paralelas) (Marisol)

- Mas isso foi um acidente.”

Ao longo do tempo, procurei desenvolver com as crianças uma maior consciência das

suas próprias dificuldades relativamente a alguns comportamentos sociais, no entanto, na

auto-avaliação que estas crianças realizaram estes resultados não são espelhados. Este

aspeto pode estar relacionado com o facto de os dados recolhidos na avaliação inicial e

final, terem sido próximos do ponto de vista temporal, por outro lado, não foi possível obter

os registos da auto-avaliação final relativos a todas as crianças do grupo.

Apesar de estes dados não revelarem de forma clara a evolução das crianças do grupo,

julgo que a proeficiência social de algumas crianças, bem como as suas competências

comunicativas tenham contribuído de algum modo para o sucesso destas crianças.

2.2.1 Enquadramento teórico da problemática

O desenvolvimento social é, um processo dinâmico que depende de vários fatores, em

que os primeiros anos da criança são cruciais. Erikson (1976), refere que para as crianças

aprenderem, necessitam de ambientes emocionalmente ricos, que promovam a confiança,

que emerge das relações que se estabelecem com os adultos significativos.

Já Zabalza (1998) indica que o desenvolvimento social depende do desenvolvimento

da personalidade da criança, e envolve as suas capacidades para a construção de

35

instrumentos e recursos que permitam às crianças terem comportamentos autónomos,

responsáveis e serem flexíveis quando confrontadas com problemas. As relações

estabelecidas entre a criança e os outros permitem também que a criança aprenda um

conjunto de valores, normas e regras de comportamento e competências comunicativas,

assim como desenvolver novas formas de pensar e agir.

A família, é assim a primeira instituição em que a criança contacta com os outros.

Desde uma fase inicial do seu desenvolvimento, a família, é responsável pela transmissão e

construção de conhecimentos e novas aprendizagens, que mais tarde são enriquecidas com

a entrada na escola, contribuindo para o global desenvolvimento da criança (Dessen &

Polonia, 2007). Porém, o enfoque destas duas instituições é distinto, uma vez que a família

se centra nos processos de socialização, bem como no desenvolvimento social, cognitivo e

afetivo, já a escola se centram sobretudo no desenvolvimento de novas aprendizagens e

conhecimentos.

O desenvolvimento e aquisição da comunicação também tem início muito cedo, como

sugerem Warren, Yader e Leew (2007), é desde o terceiro trimestre de gravidez que a

criança começa a estar mais atenta a novos sons, sobretudo à voz da mãe. Ao atingir os 3

anos de idade, a criança já exibe um vocabulário vasto, bem como a capacidade de produzir

algumas frases elaboradas. A competência social emerge deste modo, a partir das primeiras

interações com os pais ou outros prestadores de cuidados, sendo estas as bases de um

desenvolvimento de novas competências sociais. Assim, as interações entre crianças não

são suficientemente importantes, antes que as crianças consigam de forma eficaz e

significativa envolverem-se em conversas com outras crianças.

As crianças são inicialmente influenciadas através da sua exposição gradual, pela

família, a um background étnico, a relações emocionais diversas, à atitude face à educação

e ao status social. Como resposta a esta exposição, a criança começa a desenvolver as

primeiras relações com os elementos da sua família (Saracho & Spodek, 2007b).

Posteriormente, as relações desenvolvidas com os seus pares assumem um papel

importante no desenvolvimento social. As interações vivenciadas no contacto com os pares

36

permitem que as crianças aprendam a aceitar, a trabalhar e a cooperar com crianças que

pensam de formas diferentes (Saracho & Spodek, 2007b).

Atualmente, desde cedo que as crianças têm a possibilidade de contactar com os seus

pares, iniciando assim as suas primeiras relações interpessoais, manifestadas sobretudo nas

primeiras brincadeiras em conjunto. Porém, como refere Furman (1982 in Goldstein &

Morgan, 2002), nesta idade as relações com os pares não se constituem como verdadeiras

amizades, dado que não demonstram preferência pela interação com crianças específicas.

Warren, Yoder e Leew (2007) consideram que o modelo transacional pode ser

bastante importante na compreensão do desenvolvimento comunicativo-social das crianças,

por assumir a importância das interações diádicas. Os autores acrescentam que na faixa

etária dos 0 aos 3 anos, o seu fraco reportório comportamental pode ser facilmente

identificável pelos pais ou prestadores de cuidados que conseguem deste modo, adequar a

sua responsividade face às competências das crianças.

Ao entrar no jardim de infância, a criança é confrontada com as exigências do meio

social extra-familiar, uma vez que, que permite-lhes desenvolver relações mais relevantes

com os seus pares, sobretudo através do envolvimento em brincadeiras diversificadas. Por

sua vez, este envolvimento acaba por exigir das crianças, face aos inúmeros desacordos e

conflitos que surgem e o desenvolvimento de competências sociais mais elaboradas

(Goldstein & Morgan, 2002). Assim, a interação com outras crianças constitui-se, não

apenas como, uma fonte de excitação e divertimento, assumindo também um papel social

determinante no desenvolvimento afetivo e social, assim como na comunicação das

mesmas.

Este contexto permite a interação entre crianças com diferentes maturidades sociais e

emocionais, ainda que para a maioria destas, a sua capacidade de lidar com as suas

emoções e sentimentos seja limitada. Porém, no contacto com os pares, as crianças têm

possibilidade de vivenciar e treinar novas competências e habilidades, que mais tarde serão

essenciais para um adequado desenvolvimento social (Trentacosta & Izard, 2007).

37

Saracho e Spodek (2007a) indicam que um dos resultados deste desenvolvimento

social é a aquisição de competências social que permitem corresponder às exigências que a

integração num grupo requer. Estes autores acrescentam ainda, que alguns dos indicadores

desta competência social passam pela exibição de comportamentos prossociais, atitudes

positivas face aos outros, competências de brincadeira apropriadas, capacidade de resolver

problemas e controlar emoções.

Com a entrada na creche ou jardim de infância, as crianças passam a ter um contacto

mais regular com os seus pares. A maioria destes contextos está organizada, com o intuito

de proporcionar um contacto privilegiado entre pares, através de brincadeiras, atividades e

experiências. Estas interações como tem sido referido, são um importante promotor de

novas aprendizagens, como sugere Ladd (2005 in Ladd, 2007), que aponta os pares como

um dos principais agentes de socialização no desenvolvimento social das crianças.

Acredito que face aos aspetos referidos, o papel do educador não se prende apenas

com os modelos que apresenta ao grupo de crianças, mas também pelo papel que assume na

forma como faz a mediação das situações de conflito. Acredito também, que numa fase

inicial o educador deverá permitir um espaço seguro e imparcial para as crianças

resolverem situações problemáticas com a sua intervenção ou mediação, para que

posteriormente, esta resolução seja feita sem a intervenção do adulto, promovendo uma

verdadeira aprendizagem social.

No sentido de promover e facilitar o desenvolvimento comunicativo-social senti a

necessidade de ensinar determinadas habilidades, recorrendo para tal a estratégias que fui

implementando com consistência, reavaliando e refletindo sobre os seus resultados e

realizando as alterações necessárias. Um dos procedimentos importantes, segundo Warren,

Yoder e Leew (2007) refere-se ao controlo do contexto, através da reorganização do

ambiente; do respeito pelo foco de atenção da criança; e por fim, da construção de rotinas

sociais.

Ao considerar estes aspetos, e aplicando-os na intervenção desta temática com o

grupo de crianças, o respeito pelo foco da atenção da criança, foi um aspeto que senti

38

necessidade desde a fase inicial da intervenção de controlar. Uma vez que, a maioria dos

conflitos surgia no pátio durante os recreios, sempre que surgia um conflito, os estímulos

distrácteis em redor dificultavam a direção da atenção das crianças para a situação

problema. Ao verificar esta situação, tornou-se necessário afastar as crianças desses

elementos, para que pudessem dirigir o seu foco para a resolução da situação problemática.

Um outro aspeto que tomei consciência, foi que este aspeto, tornou-se de algum modo

uma rotina para as crianças, permitindo que estas numa fase posterior da intervenção

conseguissem com maior eficácia se descentrar dos estímulos distrácteis para se

concentrarem na resolução dos seus conflitos com os pares. Todas as outras rotinas, foram

também sendo desenvolvidas, como foi o caso, da tomada de vez na discussão da situação

problema entre os intervenientes, ou mesmo o respeito pela opinião dos outros e/ou respeito

pela sua vez de falar.

No que diz respeito ao controlo do envolvimento, este aspeto não foi uma

preocupação constante da minha parte, pois era do meu interesse que os conflitos das

crianças surgissem de forma espontânea, permitindo assim uma maior generalização destas

competências para outros contextos. Este controlo seria deste modo, uma interferência no

envolvimento do grupo.

Acreditando como já foi referido que, o papel do educador no desenvolvimento de

todas as competências que foram referidas, surge o meu interesse no estudo deste tema. A

partir da revisão bibliográfica, observações informais e intervenção, acredito que o meu

papel no desenvolvimento social destes dois grupos de crianças foi importante para o seu

futuro enquanto seres sociais.

39

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel do educador de infância na educação das crianças é essencial e não deve ser

menosprezado. Foi com base nesta crença que acredito que conhecer e questionar diferentes

filosofias, metodologias, estratégias e formas de intervenção, me permitem reconhecer o

meu perfil profissional que está em constante desenvolvimento

A PPS em creche e em jardim de infância colocaram-me desafios diferentes, que fui

superando ao longo do tempo com o apoio e colaboração das educadoras cooperantes e

professoras orientadoras, sem descurar o apoio das crianças.

Com o grupo de creche, as maiores dificuldades prenderam-se com a organização de

atividades que respeitassem os interesses e necessidades das crianças, valorizando a

experiência e vivência das crianças como base da minha ação pedagógica. Por outro lado,

respeitar os tempos de concentração das crianças nem sempre foi conseguido com sucesso,

uma vez que não conhecia bem as crianças, nem o grupo. Ao longo do tempo, fui

aprendendo a respeitar os sinais do grupo, relativamente ao seu período de concentração.

No que diz respeito ao grupo de jardim de infância, as dificuldades com que me

deparei foram distintas. Porém, uma das maiores dificuldades consistiu na preocupação de

partir das vivências e conhecimentos das crianças para desenvolver as várias áreas do

currículo. Esta dificuldade foi particularmente difícil de superar, pelo facto de o

planeamento antecipado das atividades me permitir estar mais segura na sua

implementação. Ao longo do tempo, e mais uma vez com a colaboração da equipa e das

crianças, este aspeto foi tornando-se menos difícil de gerir, e os contributos das crianças e a

minha disponibilidade para aceitar as suas ideias e opiniões, permitiu que conseguisse de

forma mais eficaz fazer corresponder as atividades propostas aos interesses do grupo.

Outro desafio difícil de superar na minha PPS, relacionou-se com a gestão de um

currículo e desenvolvimento de um projeto educativo que valorize as minhas intenções

pedagógicas. Por fim, o último grande desafio foi a gestão do grande grupo, desafio este

que considero não ter superado de forma eficaz, e que terei de assumir enquanto futura

40

profissional como uma fragilidade, no sentido de a ultrapassar na minha prática profissional

futura.

O estabelecimento onde fiz a PPS em jardim de infância, teve ainda um aspeto muito

particular, que diz respeito à metodologia implementada, como referi na caracterização,

esta baseia-se numa vertente humanista que dá ênfase à criança e às suas escolhas. Numa

fase inicial, compreender e adaptar-me às características desta metodologia não foi uma

tarefa fácil, o que fez com que questionasse a equipa sobre alguns aspetos com frequência.

O apoio da educadora cooperante e auxiliar foram muito importantes durante este processo.

De forma diferente, no estabelecimento em que desenvolvi a PPS em creche, também é

atribuído um papel central à criança, valorizando enquanto ator no seu processo educativo.

Apesar do processo de adaptação à metodologia própria de cada uma destas instituições,

considero que foi muito útil poder intervir em instituições que partilham a mesma visão que

eu tenho relativamente às crianças e ao seu papel na sua educação e na construção do seu

percurso educativo.

Durante a minha intervenção, todas as atividades foram planeadas com o intuito de

desenvolver um conjunto de competências, estipulando estratégias e recursos adequados

para as mesmas. Uma das minhas preocupações foi focar as várias áreas do currículo,

promovendo o desenvolvimento global das aprendizagens de ambos os grupos. Procurei

também definir mecanismos de avaliação para estas aprendizagens, que me permitissem

avaliar a evolução das crianças do grupo.

Relativamente à área de desenvolvimento pessoal e social, estes são “valores que não

se “ensinam”, mas que se vivem na acção conjunta e nas relações com os outros” (ME,

1997, p.52). Assim, em todos os momentos relevantes, foram discutidas as regras sociais, o

respeito pelas opiniões e ideias dos outros entre outros aspetos importantes. Momentos

como o acolhimento, o conselho e outros momentos de grande grupo priveligiam a análise

em grande grupo de algumas situações destas, promovendo a aprendizagem de novas

competências. Ainda assim, em momentos como o recreio exterior, a frequência dos

conflitos interpessoais e a minha intervenção sobre a problemática em estudo, permitiram

41

desenvolver competências mais específicas com os intervenientes. Em todas as situações

enumeradas, o recurso ao diálogo e a reflexão foi uma preocupação constante.

A ênfase que dei ao estudo da problemática “a comunicação na resolução de conflitos

em educação de infância” foi grande, uma vez que considerei as dificuldades dos dois

grupos de crianças. Estes aspetos detetados no decorrer da caracterização dos contextos

socioeducativos, nomeadamente dos grupos de crianças e das minhas intenções para cada

um deles. Com base nesta caracterização, foi possível definir uma intervenção refletida e

adequada às necessidades destas crianças e que são descritas neste relatório.

Numa fase inicial, procurei desenvolver laços afetivos com todas as crianças de

ambos os grupos, ainda que não tenha sido possível fazê-lo do mesmo modo ou com a

mesma celeridade com todas. Respeitando a individualidade de cada criança, foi possível

fazê-lo com todos os elementos de ambos os grupos, garantindo para isso uma grande

disponibilidade e empatia sempre que procuravam o meu apoio. No que diz respeito, à

equipa, tive a preocupação de criar um ambiente de partilha e reflexão com as técnicas que

me acompanharam de perto, e sempre que possível alargando a toda a equipa de cada

instituição, ainda que não tenha sido possível totalmente com os elementos com quem

contactei com menos frequência. Relativamente às famílias das crianças, a minha

preocupação foi a mesma, porém tive maior facilidade com as famílias do estabelecimento

ABC, por contactar com estas com maior frequência, uma vez que os horários para levar e

ir buscar as crianças coincidiam com o meu horário no estabelecimento. Já as famílias das

crianças da sala intelectual, chegavam de modo geral mais cedo e iam buscar os seus filhos

mais tarde, geralmente no final do dia. No entanto, tive a possibilidade de contactar com

algumas famílias alargadas nesta instituição, o que não aconteceu com o estabelecimento

ABC.

O estudo desta problemática foi muito aliciante para mim e permitiu-me aprender

imenso relativamente ao desenvolvimento social das crianças nas várias fases da sua

infância. O facto de ter adotado uma postura reflexiva na minha intervenção, permitiu-me

42

definir uma identidade profissional forte, com base nas minhas intenções pedagógicas e na

minha visão da criança.

Considero que o meu papel de mediadora durante a resolução de conflitos entre as

crianças, me permitiu constatar que estas muitas vezes têm inúmeros recursos para resolver

de forma autónoma os seus conflitos, manifestando dificuldades em mobilizá-los para a

reconciliação. Ao constatar este aspeto, reconheço que as crianças têm inúmeras

competências e não devem de forma alguma ser menosprezadas. Acredito que a minha

mediação, permitiu gerar um ambiente calmo e tranquilo para que as crianças mobilizassem

essas competências, bem como realizassem novas aprendizagens, sobretudo no que diz

respeito ao conseguirem colocar-se no papel do Outro e procurarem de forma ativa uma

solução vantajosa para ambos os intervenientes.

Nesta investigação, julgo que teria sido importante ter registados gravados de várias

situações conflituosas, da minha ação e das evoluções de cada criança neste processo.

Porém, de forma a garantir que a minha intervenção era ativa, e que não eram

comprometidos os contextos introduzindo uma nova variável.

Uma outra limitação deste estudo diz respeito à dificuldade em desenvolver uma

parceria com as famílias na promoção do desenvolvimento social de cada criança. Ainda

assim, no decorrer da minha intervenção foi proposto um questionário às famílias com o

intuito de compreender se as dificuldades destas crianças também eram sentidas no

contexto familiar e as atuação dos familiares, sobretudo os pais face a algumas situações

problemáticas. No entanto, por questões de ordem institucional, não possível apresentar

estes dados.

Trabalhar com estes grupos de crianças foi muito aliciante e acredito que tenha tido

um impacto grande no seu desenvolvimento social das mesmas, no entanto, para

compreender de uma forma mais abrangente a influência das competências comunicativas

das crianças na sua capacidade de resolver conflitos esta amostra não foi significativa.

Deste modo, acredito que na minha prática futura a continuação deste estudo poderá ser um

desafio importante.

43

Relativamente a uma outra limitação deste estudo prende-se com os dados recolhidos

na auto-avaliação das crianças sobretudo no que diz respeito ao domínio da Formação

Pessoal e Social. Na minha pesquisa bibliográfica contactei com alguns instrumentos de

avaliação de competências sociais, como “Assessment of Peer Relations” (Guralnick,

2003), que considero que poderia trazer novos dados para o estudo desta problemática.

Acredito ainda, que face à grande complexidade das competências que esta intervenção

focou, seria também útil analisar os resultados num período de tempo mais longo, como por

exemplo, ao longo de um ano letivo.

Na minha opinião, uma nova investigação sobre esta problemática que controlasse

estas e outras limitações descritas, poderia trazer dados ainda mais relevantes para a

compreensão destas duas variáveis desenvolvimento comunicativo e social.

Concluo assim, que a minha intervenção foi benéfica para ambos os grupos de

crianças, mas também para mim, enquanto futura profissional. A intervenção com ambos os

grupos de crianças, equipas e instituições permitiram-me refletir sobre as minhas práticas

de forma regular, aspeto este que me fez crescer profissionalmente e desenvolver novas

competências. Acredito assim, que as competências que adquiri ao longo desta PPS serão

essenciais para o meu futuro, quando estiver responsável pelo percurso educativo do me

próprio grupo de crianças, pois são elas o maior alvo da nossa ação e merecem todo o meu

profissionalismo.

44

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Zabalza, M. A. (1998). Didáctica da educação Infantil. (2ª Ed.) Rio Tinto: Edições ASA.

Outros documentos consultados, inerentes ao Estabelecimento ABC:

Estabelecimento Arco-íris (2013). Projeto Curricular de Escola. Retirado por motivos

éticos.

Estabelecimento Arco-íris (2013). Projeto Curricular de Grupo – Sala de Aquisição de

Marcha do Estabelecimento ABC 2013/2014. Retirado por motivos éticos.

Estabelecimento Arco-íris (2013). Projeto Educativo do Estabelecimento ABC. Retirado

por motivos éticos.

Fichas individuais das crianças da sala de Aquisição de Marcha do Estabelecimento ABC

(2013/2014).

Outros documentos consultados, inerentes ao Jardim de Infância Lilás:

Jardim de Infância Lilás (2013). Projeto Curricular – Sala Intelectual 2013/2014. Retirado

por motivos éticos.

Fichas individuais das crianças da sala intelectual do Jardim de Infância Lilás (2013/2014).

47

ANEXOS

48

Anexos A

A.1. Dados das freguesias onde se encontram inseridas as instituições

A.2. Rotina Diária do Estabelecimento ABC

A.3. Rotina Diária do Jardim de Infância Lilás

A.4. Planta Sala de Aquisição de Marcha do Estabelecimento ABC

A.5. Planta Sala Intelectual do Jardim de Infância Lilás

A.6. Caracterização das Famílias do Grupo de Crianças do Estabelecimento ABC

A.7. Caracterização das Famílias do Grupo de Crianças do Jardim de Infância Lilás

A.8. Caracterização do Grupo de Crianças do Estabelecimento ABC

A.9. Caracterização do Grupo de Crianças do Jardim de Infância Lilás

A.10. Discussão com o Grupo de Crianças sobre a Importância das Regras

A.11. Questionário aos Pais das Crianças

49

Anexo A.1. Dados das freguesias onde se encontram inseridas as instituições

Tabela 1.

Dados comparativos entre as duas freguesias

Estabelecimento

ABC

Jardim de Infância

Lilás

Área da freguesia 7.3km2 20 km

2

População residente 15.157 habitantes 57.502 habitantes

População presente 14.570 habitantes 55.206 habitantes

Número de famílias clássicas 5.675 21.786

Nº habitantes com o 1º ciclo de

escolaridade

3.866 13.326

Nº habitantes entre com o 2º ciclo de

escolaridade

1.310 4.625

Nº habitantes com o 3º ciclo de

escolaridade

2.481 9.149

Nº habitantes

com o ensino secundário

2.787 11.711

Nº habitantes com o curso universitário 2.911 11.525

Nº habitantes analfabetos 546 1600

Taxa de analfabetismo 4.06% 3.16%

Nº habitantes que trabalham no setor

primário

12 45

Nº habitantes que trabalham no setor

secundário

1.025 4.522

Nº habitantes que trabalham no setor

terciário

5.476 21.834

Taxa de atividade 50,04% 52,4%

Taxa de desemprego 14,13% 12,38%

50

Anexo A.2. Rotina Diária do Estabelecimento ABC

Tabela 2.

Horário das Rotinas Diárias do Grupo da Sala de Aquisição de Marcha

2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

07h30 Acolhimento das Crianças

09h30 Lanche da Manhã / Higiene

10h00 Acolhimento no Tapete

10h15 Atividades Orientadas / Recreio

11h15 Higiene

11h30 Almoço

12h00 Higiene

12h30 Repouso

15h00 Higiene

15h30 Lanche

16h00 Higiene

16h30 Atividades Livres / Recreio

51

Anexo A.3. Rotina Diária do Jardim de Infância Lilás

Tabela 3.

Horário das Rotinas Diárias do Grupo da Sala Intelectual

2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

7h30 Acolhimento

9h00 Hora da escolha

9h30

Planificação da manhã

Ed. Física

-----

Atividades

-----

Projetos

Atividades

-----

Projetos

Ed. Física

-----

Atividades

-----

Projetos

Atividades

-----

Projetos

Conselho

-----

Organização

de Trabalhos

11h30 Arrumação da sala, apresentação de trabalhos e avaliação do plano do dia

12h00 Pátio / Conversas / Histórias

12h45 Almoço

13h30 Pátio / Brincadeira livre / Filme

14h30 Hora da escolha

15h00

Planificação da tarde

Inglês

-----

Atividades

-----

Projetos

Atividades

-----

Projetos

Inglês

-----

Atividades

-----

Projetos

Atividades

-----

Projetos

Música

-----

Jogos

16h00 Arrumação da sala, higiene, lanche

17h00 –

18h30 Conclusão de atividades / Pátio / Atividades livres / Receção às famílias

52

Anexo A.4. Planta Sala de Aquisição de Marcha do Estabelecimento ABC

Legenda:

A – Mobiliário;

B – Lavatório;

C – Mesas;

D – Tapete;

E – Casinha;

F – Tapete;

G – Almofadas.

A

C

D

E

G

F

B

Imagem 1. Planta da Sala de Aquisição de Marcha

53

Anexo A.5.Planta Sala Intelectual do Jardim de Infância Lilás

Imagem 2. Planta da Sala Intelectual

Legenda:

A – Mesas;

B – Estantes;

C – Estantes;

D – Zona de limpeza;

E – Biblioteca;

F – Tapete;

G – Almofadas;

H – Computadores.

54

Anexo A.6. Caracterização das Famílias do Grupo de Crianças do Estabelecimento

ABC

Tabela 4.

Dados relativos às famílias das crianças: progenitores, género, profissão e fratria

Criança Prog. Género Profissão Fratria

Luís Pai M Gestor

1 Irmão Mãe F Psicóloga

Nuno Pai M Consultor

__________ Mãe F Analista Informática

Manuel Pai M Economista 1 Irmão + 1 irmão

que vai nascer Mãe F Bancária

Martim Pai M PSP

__________ Mãe F Gerente de Loja

Dinis Pai M Maquinista

__________ Mãe F Func. Pública

Sara Pai M Informático

__________ Mãe F Func. Pública

Lara Pai M Emp. Escritório

__________ Mãe F Emp. Escritório

Maria Pai M Gestor de Formação

Vai nascer 1 Irmã Mãe F Bolseira de Investigação

Adriana Pai M Empresário

1 Irmã Mãe F Prof.ª Univ. / Psicóloga

Patrícia Pai M Comercial

1 Irmã Mãe F Fisioterapeuta

Miguel Pai M s.d.1 __________

1 Sem dados.

55

Mãe F s.d.2

2 Sem dados.

56

Anexo A.7. Caracterização das Famílias do Grupo de Crianças do Jardim de Infância

Lilás

Tabela 5.

Dados relativos às famílias das crianças: progenitores, género, profissão, fratria e tipo de

família

Criança Prog. Profissão Idade Fratria Família

Bárbara

Teixeira

Mãe Func. Armazém 38 1 Irmão Monoparental

Pai Construtor Civil 34

Benedita Alves3

Mãe s.d. 34 1 Irmã Tradicional

Pai Carteiro 35

Bruno Ferreira Mãe Administrativa 44

_____ Tradicional Pai Eletricista 43

Bianca Clérigo Mãe Emp. Limpeza 33

1 Irmã Monoparental Pai s.d. 37

Carina

Clemente

Mãe Cozinheira 39 3 Irmãs Tradicional

Pai Mecânico 33

David

Guerrinha

Mãe Desempregada 33 ______ Tradicional

Pai Administrativo 33

Emilia

Fazendeiro

Mãe Engomadoria 41 1 Irmão Monoparental

Pai s.d. s.d.

Ester Rodrigues

Mãe Esteticista 31

1 Irmão Tradicional Pai

Téc. Energia

Renovável s.d.

Gonçalo

França4

Mãe Desempregada 31 2 Irmãos Tradicional

Pai Desempregado 29

3 Tem uma irmã gémea que está integrada na sala Intelectual.

4 É irmão da Valéria França.

57

Gustavo de

Paula

Mãe Administrativa 33 _____ Tradicional

Pai Op. Máquinas 36

Gil

Albuquerque

Mãe Desempregada 33 1 Irmão Tradicional

Pai Empresário 39

Gaspar Simões Mãe Trab. Ind. 34

____ Tradicional Pai Op. de Loja 35

Luís Batcha Mãe Emp. Doméstica 38

4 Irmãos Tradicional Pai Const. Civil 42

Lisandro Silva Mãe Desempregada 34

1 Irmão Tradicional Pai Agente policial 36

Lara Alves5

Mãe s.d. 34 1 Irmã Tradicional

Pai Carteiro 35

Lea Ramos Mãe s.d. 36

1 Irmão Tradicional Pai Const. Civil (Pintor) 33

Lourenço Pinas Mãe Emp. Limpeza 24

1 Irmão Tradicional Pai s.d. 28

Mara Reis Mãe Auxiliar Ed. s.d.

______ Tradicional Pai Carpinteiro s.d.

Magali Santos Mãe Professora 35

1 Irmã Monoparental6

Pai s.d. s.d.

Márcia Antunes

Mãe Professora 1º Ciclo 34

______ Tradicional Pai

Pedreiro

/Ladrilhador 35

Marília Félix Mãe Desempregada s.d.

1 Irmã Monoparental Pai Empresário s.d.

5 Tem uma irmã gémea que está integrada na sala Intelectual.

6 A criança reside com a mãe, padrasto e irmã.

58

Marisa Palmela Mãe Enfermeira 35

1 Irmã Monoparental Pai Piloto Linha Aérea 35

Marina Reis Mãe Assistente Loja 34

______ Tradicional Pai Motorista 41

Marco Grêlo Mãe Emp. Refeitório 28

______ Tradicional Pai Carpinteiro 34

Mateus Santos Mãe Cabeleireira 37

1 Irmão Tradicional Pai s.d. 35

Marisol

Figueira

Mãe Administrativa 35 1 Irmão Tradicional

Pai Empresário 36

Nádia Oliveira Mãe Desempregada 25

______ Monoparental Pai Emp. de Mesa 28

Nelson Brito Mãe Contabilista 37

2 Irmãos Tradicional Pai Consultor 42

Nair Cabral Mãe Esteticista s.d.

______ Monoparental Pai s.d. s.d.

Renato

Sequeira

Mãe Administrativa 38 1 Irmão Tradicional

Pai s.d. 38

Rafaela Silva Mãe Desempregada 29

1 Irmão Monoparental7

Pai s.d. s.d.

Regina Cruz Mãe Escriturária 36

1 Irmão Tradicional Pai Desempregada 33

Rita Mangir Mãe Emp. Doméstica 26

______ Tradicional Pai Pintor 31

Sabrina Nunes Mãe Professora 41

1 Irmã Tradicional Pai Engenheiro Civil 41

7 A criança reside com a mãe, padrasto e irmão.

59

Tomé Elias Mãe s.d. 26

______ Monoparental8

Pai Eletricista 26

Valentina

Cardoso

Mãe Doméstica 33 2 Irmãos Tradicional

Pai Carpinteiro 36

Valéria França9

Mãe Desempregada 31 2 Irmãos Tradicional

Pai Desempregado 29

8 A criança reside com a avó, e pontualmente fica com o pai.

9 É irmã do Gonçalo França.

60

Anexo A.8. Caracterização do Grupo de Crianças do Estabelecimento ABC

Tabela 6.

Dados relativos às crianças, idade, género e percurso institucional

Criança Idade10

Género Perc. Inst.

Luís 21M Masculino Casa

Nuno 23M Masculino Berçário

Manuel 20M Masculino Casa

Martim 18M Masculino Berçário

Dinis 21M Masculino Berçário

Sara 23M Feminino Berçário

Lara 21M Feminino Berçário

Maria 19M Feminino Casa

Adriana 18M Feminino Casa

Patrícia 14M Feminino Berçário

Miguel s.d. Masculino Berçário

10

A idade das crianças refere-se à idade (em meses) que cada criança tinha no dia 11 de dezembro de 2013.

61

Anexo A.9. Caracterização do Grupo de Crianças do Jardim de Infância Lilás

Tabela 7.

Dados relativos às crianças, data de nascimento, idade, género, situação escolar e

residência

Criança Data de

Nascimento Idade

11 Género

Situação

Escolar Residência

Bárbara Teixeira 13/03/2008 5a10m Feminino Finalista Tires

Benedita Alves 26/04/2008 5a9m Feminino Finalista Tires

Bruno Ferreira 29/08/2008 5a5m Masculino Finalista Tires

Bianca Clérigo 26/06/2008 5a7m Feminino Finalista Matarraque

Carina Clemente 13/01/2008 6a0m Feminino Finalista Parede

David Guerrinha 20/12/2008 5a1m Masculino Condicional Carcavelos

Ema Fazendeiro 27/07/2008 5a6m Feminino Pré-Escolar Tires

Ester Rodrigues 12/10/2008 5a3m Feminino Condicional Matarraque

Gonçalo França 20/09/2007 6a4m Masculino Finalista Zambujal

Gustavo de

Paula 23/09/2007 6a4m Masculino Finalista Tires

Gil Albuquerque 20/02/2008 5a11m Masculino Finalista Tires

Gaspar Simões 22/02/2009 4a11m Masculino Pré-Escolar Caparide

Luís Batcha 04/10/2008 5a4m Masculino Finalista Tires

Lisandro Silva 09/05/2008 5a9m Masculino Condicional Matarraque

Lara Alves 26/04/2008 5a9m Feminino Finalista Tires

Lea Ramos 25/02/2008 5a11m Feminino Finalista Caparide

Lourenço Pinas 21/03/2008 5a10m Masculino Finalista Abrunheira

Mara Reis 18/11/2007 6a2m Feminino Finalista Manique

Magali Santos 17/09/2008 5a4m Feminino Condicional Talaíde

11

Idade cronológica calculada com referência ao dia 10 de fevereiro de 2014.

62

Márcia Antunes 30/12/2008 5a1m Feminino Condicional Rana

Marília Félix 08/10/2008 5a4m Feminino Condicional s.d.

Marisa Palmela 08/05/2008 5a9m Feminino Finalista Matarraque

Marina Reis 21/03/2009 4a10m Feminino Pré-Escolar Caparide

Marco Grêlo 19/07/2008 5a6m Masculino Finalista Matarraque

Mateus Santos 19/06/2008 5a7m Masculino Finalista Carcavelos

Marisol Figueira 02/09/2008 5a5m Feminino Finalista Parede

Nádia Oliveira 12/06/2008 5a7m Feminino Finalista Tires

Nelson Brito 12/02/2009 4a11m Masculino Pré-Escolar Tires

Nair Cabral 24/06/2008 5a7m Feminino Finalista Matarraque

Renato Sequeira 27/09/2008 5a4m Masculino Condicional Matarraque

Rafaela Silva 21/11/2007 6a2m Feminino Finalista Alapraia

Regina Cruz 29/07/2008 5a6m Feminino Finalista Murtal

Rita Mangir 21/10/2008 5a3m Feminino Condicional Abóboda

Sabrina Nunes 21/01/2009 5a0m Feminino Pré-Escolar Estoril

Tomé Elias 02/04/2008 5a10m Masculino Finalista Tires

Valentina

Cardoso 03/08/2008 5a6m Feminino Finalista Polima

Valéria França 24/10/2008 5a3m Feminino Condicional Zambujal

63

Anexo A.10. Discussão com o Grupo de Crianças sobre a Importância das Regras

(Com todas as crianças dispostas em círculo, no momento do acolhimento, surge o seguinte

debate)

Olha eu estava ali ao fundo, naquela (pedido de silêncio) parede a escrever as coisas que

estão lá escritas. O que é que nós temos lá escrito? Naquela parede ali ao fundo? Por cima

dos jogos (indicando o placar das regras da sala intelectual).

- As regras (Criança 1).

- É verdade. Como nós tínhamos um papel mesmo muito grande, para não estarmos a tirar

da parede, a Rita escreveu aqui.

- O quê? (Criança 1)

- As regras. Querem que eu leia o que está aqui escrito? (Estagiária)

- Sim (Várias Crianças).

- Diz duas coisas. O que nós devemos fazer e o que nós não podemos fazer, e a Márcia vai

sentar-se outra vez onde no sítio onde estava. Pode ser?

- Ela não tem almofada (Criança 1).

- Podes pedir uma almofada, ali o Luís arranja-te uma almofada.

- A Marisa tem almofada (Criança 1).

- A Marisa não precisa de almofada porque está no tapete. Então diz assim. (diálogo entre

as crianças) Posso? “O que podemos fazer. Podemos estar sentados nas almofadas e

partilhá-las com os amigos.” Podemos não podemos? (Estagiária)

- Sim (Várias crianças).

- Estás a começar pelas coisas que podemos fazer? (Criança 1)

- Pelas coisas que podemos fazer, sim. Podemos trazer brinquedos e partilhá-los com os

nossos amigos na hora do pátio.

- Podemos (Criança 2).

- Podemos, mas entretanto já temos outra regra, não é? Havia muitas confusões, então só

podemos trazer à… (Estagiária)

- Sexta (Várias crianças).

64

- Sexta-feira, muito bem. Depois diz assim, podemos trabalhar em todas as áreas

respeitando o número de meninos que nós combinámos, é ou não é?

- Sim (Várias crianças).

- Podemos conversar e dar a nossa opinião e dar ideias um de cada vez, podemos?

- Sim (Várias crianças).

- Quando entramos do pátio lavamos as mãos e sentamos, podemos?

(Conversa paralela)

- Sim (Várias crianças).

- Podemos, quando chegamos à sala marcar a…

- Presença (Várias crianças).

- Presença, claro.

- Podemos escrever no diário, mas só podemos escrever notícias que são…

- Importantes (Várias crianças).

- Importantes e…

- Verdade (Várias crianças).

- Verdade. É ou não é?

(Algumas crianças conversam entre si)

- Olha lá, não podemos escrever mentiras, pois não?

- Não (Várias crianças)

- Pronto, é isso mesmo.

- Só no dia das mentiras (Lisandro)

- Não, nem no dia das mentiras podemos escrever mentiras no diário

- Olha, depois diz assim no que nós não podemos fazer.

(Interrupção para lidar com um conflito entre duas crianças)

- Olha, então diz assim. O que não podemos fazer. Mateus vai ao cacifo pôr a pulseira.

- Olha, o que não podemos fazer. Não podemos riscar… (Pedido de silêncio) Não podemos

riscar, nem amachucar, nem estragar os trabalhos dos amigos.

(Pausa, para resolver uma situação com algumas crianças)

65

- Podemos voltar a falar sobre o que estávamos a falar? Podemos continuar? (Interrupção

pela chegada de uma criança) Então, nós não podemos correr na sala. (Indicação a uma

criança) Não podemos gritar, nem discutir uns com os outros. (Interrupção para lidar com o

comportamento de algumas crianças) Não podemos estragar os materiais da sala. Não

podemos bater, nem empurrar, nem arranhar, nem beliscar os nossos amigos.

- Nem morder (Criança 1).

- Nem morder, obviamente. Nem podemos brincar com as almofadas ou fazer guerras de

almofadas. Mas o que eu queria perguntar agora aos amigos, e os amigos vão colocar o

dedo no ar para eu conseguir ouvir todos os meninos. E, porque é que nós temos todas estas

regras na nossa sala? Marina.

- Para cumprir as regras. (Marina)

- Para cumprir as regras, boa.

- E para lembrar-nos. (Marco)

- Para nos lembrarmos do que é que podemos e não podemos fazer, é isso?

- Sim. (Marisa)

- Muito bem.

- Para não fazerem mal aos meninos. (Criança 3)

- Para não fazerem mal aos meninos da sala?

- Gozar com os meninos (Criança 3)

- Mas a Marisa, está agora a gozar comigo.

- Mas ela vai parar. E a Marília, diz lá Marília. (…) Eu quero ouvir a Marília. Diz lá porque

é que nós temos estas regras aqui na nossa sala.

- Para não estragar os materiais. (Marília)

- Para não estragar os materiais. (Interrupção pela chegada de crianças do grupo do jogo

dramático) Quem mais é que gostava de dizer porque é que temos as regras aqui na sala?

Marisol, diz lá.

- Para nos olharmos, e para… (Marisol)

66

- Para sabermos o que podemos e não podemos fazer, é isso? (Marisol acena). Mas há aqui

uma coisa, eu até vou ler outra vez. Não podemos bater, nem empurrar, nem arranhar, nem

beliscar. E até já houve uma menina que disse, nem morder, os amigos. Porque é que nós

temos esta regra?

- Por nada. (Lourenço)

- Mas porque é que não podemos?

- Porque fazem mal (Criança)

- Porque quem é morde são os cães (Criança)

- Quem morde são os cães, é verdade.

- E os gatos (Criança)

(Crianças falam em simultâneo)

- Assim não consigo ouvir todos. Têm de pôr o dedo no ar para falar. (Crianças falam em

simultâneo) Quero ouvir a Marisol, que a Marisol começou a falar primeiro, pode ser?

- Para não fazermos o mesmo que os outros meninos fazem. (Marisol).

- Para não fazermos o mesmo que os outros meninos fazem, muito bem. Diz Bianca.

- Para não batermos, nem arranhar (Bianca)…

- Porquê?

- Porque, hum…

- Diz lá. Porque é que não podemos fazer isso na nossa sala?

- Porque está escrito (Bianca).

- Mas quem é que escreveu estas regras, foi a educadora?

- Não.

- Então? (Estagiária).

- Foi a Rita.

- Sim, estas que estão escritas no papel, fui eu. Mas aquelas que estão ali ao fundo, quem é

que escreveu?

- Foi a educadora (respondem várias crianças em simultâneo).

- Foi a educadora e foi que teve a ideia de pôr essas regras?

67

- Foi no computador (Criança 4).

- Foi no computador. Mas quem é que disse essas regras? (Educadora)

- Foi os meninos. (Criança 5).

- Ah, foram os meninos. Então, os meninos desta sala é que acharam importante pôr ali o

que é que nós podemos fazer na sala e o que é que não podemos fazer na sala.

- Não podemos arranhar os amigos (Criança).

- Sim, isso já lemos. Mas olha… Diz Nair.

- Não podemos… (Nair)

- O Lourenço disse que podemos bater. (Criança 5)

- Não disse não (Lourenço)

- Não podemos beliscar os amigos. (Criança 1).

- Sim, isso é verdade, mas e os amigos…

- Dar chapadas (Criança 1).

- Claro que não, diz aqui que não podemos bater, por isso não vamos dar chapadas. Mas se

os meninos puseram ali aquelas coisas, foi porque acharam importante. Porque é que é tão

importante pormos estas regras ali, para ninguém se esquecer.

- Para nos lembrar. (Várias Crianças)

- E mais?

- Para nós lembrarmos para não batermos (Criança 1)

- Então vocês acham muito importante não bater uns aos outros. Às vezes, penso assim

numas coisas, vejam lá se eu percebo melhor. Nós não podemos bater, nem empurrar, nem

arranhar, nem beliscar aqui na sala. Podemos no pátio?

- Nem puxar os cabelos. (Nair)

- E podemos fazer isso no pátio?

- Não (Várias crianças).

- E podemos fazer isso quando estamos na rua ou em casa?

- Não (Várias crianças).

- Então esta regra não é só aqui da sala, pois não.

68

- Não, é em casa e na rua. (Criança 2)

- Então nós nunca podemos fazer essas coisas?

- Não (Várias crianças).

- Porquê?

- Porque às vezes quando nós estamos… (Criança 1).

- Porque é um disparate. (Marisol).

- É um disparate? E porque é que tu achas que é um disparate?

- Porque isso é fazer mal aos amigos (Criança 3).

- Então e nós não podemos fazer mal aos amigos? Porquê?

- Olha, porque eles choram (Nair).

- Porque eles choram?

- Sim (Conversas paralelas). (Criança) Quando eles batem, nós podemos bater. (Marisol).

- Ah é?

- Têm de fazer o mesmo. (Marisol).

- Ah. Têm de fazer o mesmo.

- O meu pai diz que quando nos batem, nós também temos de bater. (Marisol)

- O teu pai diz isso?

- Sim. (Marisol)

- Para eles aprenderem (Mateus).

- Para eles aprenderem? Então, mas se vocês dizem… (Conversas paralelas) Espera, então

eu tenho uma dúvida. Nós não podemos fazer estas coisas, nem na sala, nem no pátio, nem

na rua, nem em casa, e depois vocês dizem que se alguém fizer, vocês batem, porque essa

pessoa fez. Então nós podemos ou não podemos? Já não percebo nada.

- Não (Várias crianças).

- Tem de se pedir desculpa. (Nair)

- Pede-se desculpa, mas tem de se resolver. (Marília)

- Têm de resolver. Como é que vocês resolvem?

- Falando. (Nair)

69

- Uns dizem que resolvem conversando, a Marisol e o Marco dizem que às vezes se pode

resolver batendo à pessoa, como ela fez.

- Quando eles batem, tem de se resolver (Nair)

- Então é para eles aprenderem (Marisol).

- Para eles aprenderem?

- É para eles aprenderem a não bater (Marisol).

- Então nós batemos para as pessoas aprenderem a não fazer as coisas?

- Não, para aprenderem a fazer coisas (Marisol).

- Então espera aí, se nós batemos para as pessoas aprenderem, quer dizer que a Rita, a

educadora e a auxiliar podem bater para vocês aprenderem, é isso?

- Não (Várias crianças).

- Mas foi o que a Marisol disse.

-Temos que resolver (Criança 3).

- Temos que pedir desculpa quando batemos, é isso?

- Pedimos desculpa (Criança 1).

- Temos de resolver (Criança 2).

- Desculpas não chegam (Nair).

- A Marisol está a dizer que se pode resolver batendo.

- Não (Várias crianças).

- A Nair diz que é conversando. A Marisol diz que é batendo.

- Ainda bem que a Nair diz que é conversando, porque eu não vejo isso. (Educadora)

- Mas sabes o que eu acho Marisol, que se calhar tinhas outra ideia e não estavas a explicar

muito bem. Não era? Tu não estavas a dizer mesmo, que batemos aos amigos para resolver

os problemas, ou era? Qual era bem a tua ideia, que eu acho que nós ainda não percebemos

bem. (Conversas paralelas) Vamos perceber bem qual é a ideia da Marisol. A ideia dela

também é importante.

- Resolver a bater não é nada (Nair).

- Resolver a falar é que é (Nair).

70

- Também achas que resolves às vezes?

- Tu disseste (Conversas paralelas)

- Ouve lá Lisandro, a Marina está aqui a dizer uma coisa importante. Diz lá. (Conversas

paralelas) A Marina diz que nós podemos resolver os problemas a falar com os amigos

sozinhos numa sala, para não haver mais ninguém a dizer coisas, é isso?

(Marina acena)

- Eu acho que é uma boa ideia. Diz lá Marisol, é que tu ainda não explicaste bem.

(Conversas paralelas) Um menino bate-te, o que é que fazes? Espera, ela é que vai dizer.

(Conversas paralelas) Eu perguntei à Marisol, eu sei como é que tu resolves. Tu bates, eu

sei (falando com Lisandro)

- Peço desculpa. (Marisol)

- Pedes desculpa? Mas se a pessoa é que te bateu, tu é que pedes desculpa?

- Eu digo que a culpa é de quem bate. E digo para pedir desculpa. (Marisol)

- Dizes para pedir desculpa, pois eu isso acho que já é muito bom.

(Conversas paralelas)

- Olha Lisandro, isso é uma coisa importante que tu dizes, porque tu és um menino que por

exemplo, no pátio, ou às vezes até na sala intelectual, tem muita dificuldade em…

- Bater (Nair).

- Não.

- Em pedir desculpa (Criança 1).

- Em pedir desculpa, por exemplo. Mas também tens dificuldade em evitar as desculpas,

porque muitas vezes não consegues conversar com os teus amigos, não é?

(Conversas paralelas)

- Nós estamos a falar de resolver os problemas a falar, a conversar com os amigos, mas há

meninos aqui na sala que não conseguem, ainda. Ou acham que já todos conseguem fazer?

Quem é que já consegue pedir desculpa e resolver os problemas a conversar.

- Eu (Nair).

- A Nair?

71

- Acho que não (Criança 1).

- A Nair se calhar tem de pensar melhor, não é? Se calhar tem de baixar o dedo. E a

Bianca? Acham que a Bianca consegue resolver os problemas a conversar?

- Eu nunca resolvi os problemas a conversar. (Lisandro)

- Tu nunca resolveste os problemas a conversar?

- Então tens de aprender (Marisol).

- A Nádia está com o dedo no ar, e eu acho que ela é uma menina que consegue resolver os

problemas a conversar. Eu acho que sim. E acho que é das meninas, aqui da sala, que sabe

fazer isto melhor. Quem é que também acha que consegue. (Marília levanta o dedo) A

Marília, quem é que acha que a Marília já consegue?

- Sim (várias crianças).

- A Valéria também (Criança 3).

- Mas a Valéria não está cá. Ainda não chegou.

- Está, está.

- Ah, pois é. Também acho que a Valéria já consegue. E a Marisol, acham que já consegue?

- Não (Várias crianças).

- Porque é que acham que a Marisol, ainda não consegue.

- Ó Marisol, já alguma vez resolveste os problemas a conversar? (Marina)

Marisol acena afirmativamente.

- Quando? (Nair)

- Eu já pedi desculpa. (Conversas paralelas) (Marisol)

- Mas isso foi um acidente.

(Conversas paralelas)

- Eu estou a falar de problemas. Isso foi um acidente. (Conversas paralelas) A Marisol, acha

que consegue parar com a almofada? Diz-me lá, quando foi aquela notícia no diário com a

Marisa, o Marco e a Nádia, tu achas que conseguiste conversar com eles para resolver o

problema? Achas que conseguiste? Não há problema de nós ainda não conseguirmos, mas

temos de ver o que precisamos aprender um bocadinho melhor, não é? Diz lá.

72

(Entra uma educadora na sala para levar um grupo de crianças)

- Olha, já falámos muito. A Bianca pode sentar bem. O Bernardo vem para a roda. Olha nós

estávamos aqui a falar uma coisa com a Marisol. Achas que conseguiste nesse dia resolver

os problemas a conversar.

- Não (Marisol).

- Não, eu também que não conseguiste. Mas sabes o que acho que foi muito importante, é

que como não conseguiste falar sobre o problema para resolver, acho que foi importante

escreveres uma notícia, para podermos todos conversar e resolver a conversar, que é o que

é mais importante, não é? Sim? O que é que achas? Mas não é a única menina que não

consegue bem, resolver os seus problemas a conversar, há mais meninos aqui na sala, não

há? Quem é que acha que ainda precisa de aprender a resolver os problemas a conversar,

pode pôr o dedo no ar. São só estes meninos.

- Pouquinhos (Criança 1)

- Isso quer dizer, que estes meninos já sabem muito bem resolver problemas, é isso?

- Eu sei mais ou menos (Criança 1).

- Então quem é que acha que ainda não consegue? É a Marisa. Achas que precisas de

aprender melhor, é isso? Marco, também achas que precisas aprender melhor, a resolver a

conversar. A Marina também acha que precisa aprender melhor. E o Lucas? Lisandro? Olha

fico contente de ver o teu dedo no ar, porque realmente também precisas aprender melhor.

Mas mais meninos que precisam aprender melhor? A Nair, acho que sim. E mais? (Entrada

de crianças da sala do jogo dramático) E a Bianca? Achas que já consegues resolver bem?

(Acena afirmativamente) Toda a gente acha que a Bianca já consegue?

- Não (Várias crianças).

- Os teus amigos dizem que acham que não.

- Mas eu (Bianca).

- Achas que já consegues fazer mesmo bem?

- A Marisol está a dizer que sim. (Nair).

- Sim, eu já sei porque é que a Marisol está a dizer que sim.

73

- Porque gosta dela (Nair).

- Mas olha, gostar dos nossos amigos também é dizer o que é que eles precisam aprender

melhor.

- Eu gosto de dizer a ela que não se portou mal (Criança 6).

- Não se portou mal? Mas nós não estamos a falar disso, estamos a falar dela conseguir

resolver os problemas a conversar. Queres pensar um bocadinho melhor, Bianca? Não,

então achas mesmo que já consegues bem. Tens a certeza? Muito bem. Pronto, a vossa

amiga acha mesmo que já consegue. Eu acho que às vezes quando estamos no pátio, às

vezes quando alguns meninos querem brincar contigo, tu não consegues sempre resolver os

problemas que acontecem no pátio, por exemplo. Pois não? Vens muitas vezes fazer

queixinhas à Rita, à auxiliar, à educadora. Não sei se isso quer dizer que sabes bem resolver

os problemas a conversar. E a Márcia já resolve bem os problemas a conversar, é? Achas

que já consegues pedir desculpa aos teus amigos? É que no outro dia quando riscaste o

trabalho do Marco, demoraste muito tempo a pedir desculpa, não foi assim tão fácil.

- E não foi logo falar com ele (Educadora)

- Oh Rita, quando eu e a Marisol chocámos, eu pedi desculpa. (Nair)

- Muito bem. Eu acho que já falámos sobre muitas coisas com os meninos. E eu fico muito

contente com os meninos. É que os meninos já sabem que é a conversar que os problemas

se resolvem.

- Se resolvem (Várias crianças).

- Sim, isso quer dizer que já sabem que devem conversar para os resolver, mesmo que ainda

não consigam fazê-lo bem.

Nota: Nem sempre foi possível identificar a criança que fez a comunicação, nesses casos as

crianças não são identificadas pelos nomes fictícios.

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