a comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

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BRUNA DE LIMA SILVA O USO DA INTERNET NA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA: ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE LONDRINA 2010

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Page 1: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

BRUNA DE LIMA SILVA

O USO DA INTERNET NA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA: ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE

LONDRINA 2010

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BRUNA DE LIMA SILVA

O USO DA INTERNET NA PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA:

ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof. Dr. Rozinaldo Antonio Miani

LONDRINA 2010

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BRUNA DE LIMA SILVA

O USO DA INTERNET NA PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA:

ANÁLISE DO PORTAL ÍNDIOS ONLINE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Dr.Rozinaldo Antonio Miani

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Dra. Florentina das Neves Souza

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Dra. Rosane da Silva Borges Universidade Estadual de Londrina

Londrina, _____de ___________de _____.

Page 5: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

AGRADECIMENTO (S)

A Deus, o primeiro e verdadeiro motor e incentivo de todas as ações

e etapas realizadas desde a idealização deste projeto, até sua finalização.

Ao professor e orientador Rozinaldo Antonio Miani e todos os

demais professores da Universidade Estadual de Londrina que de alguma forma

contribuiram e apoiaram a elaboração e andamento deste trabalho em todas as suas

etapas.

Aos amigos e colegas que serviram de incentivo durante a execução

do trabalho, sendo importante base de sustentação diante das limitações e

oferecendo apoio constante.

Aos familiares pela presença imprescindível, o apoio, o carinho e a

dedicação pessoal em todos os momentos.

Agradecimentos também a Anápuáka Muniz, da Web Brasil

Indígena, Potyra Tê Tupinambá e Sebastián Gerlic, da gestão da rede Índios Online,

pela receptividade e disposição em colaborar com informações via email para a

execução do trabalho.

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SILVA, Bruna de Lima. O uso da Internet na prática da comunicação comunitária: Análise do portal Índios Online. 2010. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social - Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.

RESUMO

O seguinte trabalho tem como objetivo analisar o projeto Índios Online e através dele avaliar como a Internet e seus recursos de mídia digital podem ser utilizados em benefício da comunicação comunitária. O portal Índios Online existe desde 2004 e caracteriza-se no padrão de comunicação comunitária pois todo o seu conteúdo é produzido e divulgado por grupos indígenas, além de ser voltado também para esse público. É coordenado pela ONG Thydewá, com apoio do Ministério da Cultura e do governo federal. Faremos uma abordagem sobre a história e desenvolvimento do site, além de uma descrição estrutural. Observaremos de que maneira os recursos multimidia (como vídeos e fotos) são utilizados e o padrão de conteúdo e de forma observado nos textos e na linguagem. Além disso, avaliaremos quais são os meios usados para interação com o público fora das comunidades indígenas que colaboram com o site, os resultados positivos que o projeto da rede Índios Online trouxe para as comunidades integrantes e quais expectativas ainda devem ser atendidas.

Palavras-chave: Comunicação. Comunidade. Indígenas. Interatividade. Internet.

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SILVA, Bruna de Lima. Internet use in the practice of community communication : Analysis of the project Índios Online. 2010. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social - Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2010.

ABSTRACT

The following study aims to analyze the project Índios Online and through it to evaluate how the Internet and its digital media capabilities can be used to benefit the community communication. Portal Índios Online exists since 2004 and characterized the pattern of community communication for all its content is produced and disseminated by indigenous groups, and is also directed to that audience. It is coordinated by the NGO Thydewá, supported by the Ministry of Culture and the federal government. We will make an approach on the history and development of the site, beyond a structural description. We will see how the multimedia features (such as pictures and videos) are used and the standard of content and form found in the texts and language. In addition, we will assess what means are used to interact with the public outside of indigenous communities that contribute to the site, the positive results that the network project Índios Online brought to the community members and expectations what still must be met Key-words: Communication. Community. Interactivity. Internet. Native.

Page 8: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Página inicial do portal Índios Online (05 de outubro de 2010) ... .......... 18

Figura 2 – Página do Google Maps mostrando as aldeias onde estão

presentes pontos do Índios Online: cada "@" marcada no mapa

representa uma aldeia diferente (06 de outubro de 2010) ....................................... 19

Figura 3 – Janela do chat do portal Índios Online (06 de outubro de 2010) ............ 20

Figura 4 – Perfil na rede social de comunicação Twitter do portal Índios

Online (06 de outubro de 2010) ................................................................................ 21

Figura 5 – Página inicial do canal da Índios Online no portal Youtube

(06 de outubro de 2010) ........................................................................................... 24

Figura 6 – Página inicial do blog Retomada Tupinambá (13 de outubro de 2010) .. 29

Figura 7 – Fotografia tirada durante oficina realizada pelo projeto

Fotografia Tupinambá. Autor: Alessandro Tupinambá (13 de outubro de 2010) ..... 30

Figura 8 – Página do artigo "A beleza do Rio São Francisco", publicado

por Juayran (11 de outubro de 2010) ....................................................................... 33

Figura 9 – Página inicial do portal da rede Grumin (16 de outubro de 2010) .......... 41

Figura 10 – Página inicial do portal do grupo Esperança da Terra

(13 de outubro de 2010) ........................................................................................... 55

Figura 11 – Página inicial do portal da Web Brasil Indígena

(13 de outubro de 2010) ........................................................................................... 58

Figura 12 – Cartaz de divulgação da pré-estreia do documentário

Indígenas Digitais em Salvador - BA (18 de outubro de 2010)................................. 61

Figura 13– Página inicial do portal Indígenas Digitais (17 de outubro de 2010) ...... 64

Page 9: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AJI – Ação dos Jovens Indígenas

AL - Alagoas

ANAI – Associação Nacional de Ação Indigenista

APOINME - Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste Minas Gerais e Espírito

Santo

BA - Bahia

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

Cedi – Centro Ecumênico de Documentação e Informação

CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço

Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

Funarte – Fundação Nacional de Artes

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

GESAC – Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão

Inbrapi – Instituto Indígena para Propriedade Intelectual

ISA -Instituto Socioambiental

MinC – Ministério da Cultura

MS – Mato Grosso do Sul

NDI – Núcleo de Direitos Indígenas

ONG – Organização Não Governamental

PDF – Portable Document Format – Documento em Formato Portátil

PE - Pernambuco

PIB – Povos Indígenas no Brasil

RJ – Rio de Janeiro

S/A – Sociedade Anônima

SP – São Paulo

STF – Supremo Tribunal Federal

Unesco – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization -

Organização Educacional, Cultura e Científica das Nações Unidas

Page 10: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09

2 A REDE ÍNDIOS ONLINE E A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET ............... 14

2.1 O PORTAL ÍNDIOS ONLINE E O ARCO DIGITAL ........................................................... 17

2.2 O QUE TÊM A DIZER OS ÍNDIOS ONLINE ..................................................................... 27

2.3 A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET ....................................................................... 37

3 A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA NA INTERNET ............................................. 45

4 A WEB BRASIL INDÍGENA E O PROJETO ESPERANÇA DA TERRA .............. 54

4.1 O DOCUMENTÁRIO INDÍGENAS DIGITAIS ................................................................... 59

4.2 OBJETIVOS ATINGIDOS, EXPECTATIVAS E NECESSIDADES PENDENTES

NA COMUNICAÇÃO DIGITAL ............................................................................................ 70

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 78

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 80

ANEXOS ................................................................................................................... 83

ANEXO A – Documentário Indígenas Digitais ........................................................... 84

Page 11: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

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1. INTRODUÇÃO

A profusão da Internet e das tecnologias mais recentes como alternativas de

comunicação de certo modo levou a mídia, que até o final do século XX se

concentrava em difundir seu conteúdo de forma massiva através dos meios

eletrônicos - rádio, TV e impressos -, a descobrir e explorar esse potencial ambiente

comunicativo digital. Em seus estudos sobre o ciberespaço, definido

superficialmente com “um espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial

dos computadores e de suas memórias” (LÉVY, 1999, p.92), o filósofo francês Pierre

Lévy já apresentava esse novo meio digital como um espaço de interações, de

práticas e relacionamentos humanos antes restritos apenas ao ambiente físico.

A prática da comunicação comunitária, vista como uma alternativa de

sociabilidade dos grupos minoritários (FERNANDES, 2007), encontra nos meios

digitais e na Internet uma alternativa simples, relativamente barata e que não exige

experiência elevada. Entre os diferenciais da rede estão a estrutura basicamente

não-linear, ausente no material impresso, por exemplo, e as ligações hipertextuais,

que permitem ao usuário se movimentar mediante as estruturas de informação do

site sem uma sequência predeterminada, mas sim saltando entre os vários tipos e

dados que necessita (PINHO, 2003), com o auxílio dos chamados links.

A Internet também se destaca pelo modo ágil e instantâneo como as

informações podem ser apuradas, publicadas e dispersas por todos os limites da

rede; a perenidade das informações, que ficam arquivadas (e muitas vezes

acessíveis a maioria das pessoas) por tempo indeterminado; e talvez um dos fatores

mais importantes, a interatividade digital: a Internet possibilitou uma grande

variedade de opções de interação online entre usuários, até então não explorada

pelos meios de comunicação convencionais. A interação é característica comum das

interações sociais do cotidiano, mas a ascensão das tecnologias e relações digitais

ajudou a ampliar esse conceito.

O conceito de comunidade, incluindo aí o de comunicação comunitária, não

se restringe mais à prática social e comunicativa realizada dentro de um espaço

geográfico limitado:

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Há mudanças substanciais nas concepções de comunidade, ao mesmo tempo em que alguns de seus princípios ainda se verificam. O sentimento de pertença, a participação, a conjunção de interesses e a interação, por exemplo, são características que persistem ao longo da história, enquanto a noção de lócus territorial específico como elemento estruturante de comunidade está superada pelas alterações provocadas pela incorporação de novas tecnologias da informação e comunicação. Sem menosprezar que a questão do espaço geográfico continua sendo um importante fator de agregação social em determinados contextos e circunstâncias (PERUZZO, 2008, p.12).

Os meios de comunicação digitais tecnicamente são um campo ainda pouco

explorado dentro da prática comunitária, mas com grande potencial de expansão e

utilização, como veremos a partir do exemplo do portal Índios Online 1, que desde

2004 serve como veículo de comunicação para grupos nativos indígenas e mesmo

não-indígenas de todo o país. No caso da criação da rede Índios Online, a partir da

iniciativa da Organização Não-Governamental (ONG) Thydewá (sediada em

Salvador - BA), é relevante lembrar que esta iniciativa de inclusão digital é paralela a

outras atividades de caráter voluntário: oficinas realizadas por facilitadores nas áreas

de saúde, jornalismo étnico, educação, cidadania e direitos, economia solidária e

agroflorestagem; atividades voltadas tanto para os próprios indígenas quanto para a

comunidade em geral.

A descoberta e exploração adequada de todas as ferramentas

proporcionadas pelos meios digitais, além da superação dos desafios que ainda

separam a prática comunitária das novas tecnologias, como a necessidade de maior

iniciativa de inclusão digital, são questões fundamentais para potencializar o uso da

Internet como meio de comunicação comunitária. Como lembra Marili de Souza, em

seus estudos sobre a prática comunicativa no contexto das comunidades “o custo

dos equipamentos ainda é uma barreira que deixa de fora as populações pobres,

embora os telecentros e os softwares livres já enfrentem essa realidade, fazendo

aumentar a inclusão entre as camadas mais populares” (SOUZA, 2007, p. 02).

A partir dessa iniciativa, é possível expandir os limites dos meios de

comunicação comunitários, fortalecendo os grupos e as iniciativas sociais que

sustentam esses veículos. No caso da rede Índios Online, de certo modo é possível,

inclusive, quebrar a ideia da perda de identidade étnica, a partir do momento que os

1 http://www.indiosonline.org.br

Page 13: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

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indígenas passam a se expressar através da Internet: para esses povos, o contato

dinâmico com as redes digitais é um modo de se manter sintonizado às mudanças e

avanços sociais e tecnológicos. No entanto a Internet funciona principalmente como

uma forma de registrar, manter e globalizar as tradições indígenas, sem esquecer de

suas raízes.

Através da análise do conteúdo, estrutura e funcionamento do portal Índios

Online, nosso objetivo é constatar como as funcionalidades da Internet, da rede

digital, podem ser exploradas na prática da comunicação comunitária. O uso da

Internet na comunicação comunitária ainda é uma ideia em ascensão, envolta em

preconceitos, mas que pode ser bem explorada. A rede tira as pessoas do papel de

meros espectadores ou ouvintes – comum na mídia tradicional – e as coloca como

difusoras e produtoras de conteúdo (PERUZZO, 2008). A Internet ajuda a romper

limites geográficos, quebrando a ideia de que a comunicação comunitária está

restrita a um limite territorial, além de possibilitar o uso de diversas mídias (som,

texto, imagens) simultaneamente (a chamada convergência) e de forma eficiente.

Os desafios da prática da comunicação comunitária na Internet também serão

abordados. A administração de funções e objetivos dentro do grupo - comum em

qualquer prática comunitária -, a necessidade de recursos materiais para a prática

comunicativa, a habilitação adequada para o uso das ferramentas de comunicação.

No caso específico da rede Índios Online, a preocupação com a perda da identidade

indígena a partir do momento em que esses grupos se identificam na Internet

também é vista como um desafio a ser superado. Os próprios indígenas enxergam a

rede como uma forma de se integrarem ao mundo globalizado sem perder suas

raízes, perpetuando suas tradições e divulgando-as para o resto do mundo

(PEREIRA, 2008). São essas questões que abordaremos adiante.

A pesquisa apresentada caracteriza-se como um trabalho de observação,

exploração, análise e descrição. Através da observação geral do funcionamento,

ferramentas e características do site Índios Online tentaremos aplicar estudos

teóricos sobre as funcionalidades da Internet e elementos que definem a prática da

comunicação comunitária, para mostrar que é possível unir de forma efetiva a rede

digital e o conceito comunitário.

Estudaremos o site Índios Online em um período de aproximadamente duas

semanas, com suas atualizações e todo o material publicado (textos, vídeos,

imagens etc). É válido lembrar que os membros da rede Índios Online, os produtores

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de conteúdo, são oficialmente de tribos indígenas da região nordeste, de estados

como Bahia, Alagoas e Pernambuco. No entanto, a participação no site e produção

de conteúdos é disponibilizada a qualquer membro da população indígena (e mesmo

não-indígena), contanto que o tema apresentado seja de interesse desses grupos,

sem teor ofensivo.

Como explicado anteriormente, a análise do conteúdo e dos recursos

aplicados na estrutura e alimentação do portal Índios Online serão feitos com base

na observação, além do contato com representantes do grupo. A princípio a

distância geográfica da sede da ONG Thydewá, principal responsável pela

organização do projeto, poderia caracterizar uma certa limitação na realização da

pesquisa: o contato direto com o processo de produção de conteúdos para o site

proporcionaria uma abordagem mais delicada e aprofundada do assunto. No

entanto, considerando-se que um dos objetivos do site Índios Online é justamente

poder expandir fronteiras de comunicação, levando seu conteúdo para públicos

geograficamente mais distantes, pareceu adequado e conveniente manter toda a

comunicação necessária através da rede digital.

Após a pesquisa teórica, cujo objetivo é coletar o máximo de conteúdo sobre

a comunicação digital na Internet e a prática da comunicação comunitária, a próxima

etapa é a análise do site e aplicação dos conceitos estudados no modelo do portal

Índios Online. Com isto posto, podemos concluir o cumprimento das expectativas já

apresentadas. Nos capítulos seguintes apresentaremos, inicialmente, uma descrição

geral da estrutura do portal Índios Online, a história do projeto, os principais

conteúdos abordados e recursos (que a rede digital disponibiliza) utilizados.

Também destacaremos as demais formas de presença indígena desenvolvidas

dentro da Internet, direta ou indiretamente inspiradas pelas atividades da rede Índios

Online. A partir dessa experiência, ofereceremos a seguir uma abordagem teórica de

como a Internet pode ter seus recursos utilizados em benefício da prática da

comunicação comunitária.

Em destaque apresentaremos também três projetos desenvolvidos com

participação direta de membros da equipe da rede Índios Online, que utilizam

dinâmicas distintas e demonstram diferentes fases de desenvolvimento da presença

indígena na Internet: o portal Web Brasil Indígena, a rede de informação

compartilhada Esperança da Terra e o documentário Indígenas Digitais, iniciativa da

própria Thydewá que teve seu lançamento no início de 2010. Todas as iniciativas

Page 15: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

13

citadas, que detalharemos mais adiante, caracterizam a tendência de se reafirmar a

presença indígena no ambiente digital pelas próprias aldeias, inserindo o cotidiano e

a cultura desses povos dentro da sociedade urbana sem que eles se percam de

suas origens e tradições. A ideia é mostrar que, embora ainda existam muitos limites

a ser superados (como falta de equipamentos e questões de acessibilidade, por

exemplo), a Internet se encaixa adequadamente na atividade da prática da

comunicação comunitária. Não só entre os indígenas, mas em todas as

comunidades e grupos que de alguma forma são considerados socialmente

excluídos.

O ambiente digital tem se tornado não apenas uma extensão da comunicação

convencional, praticada no dia a dia, mas de todo tipo de atividade praticada no

cotidiano. As práticas sociais em geral aos poucos migraram e se adaptaram aos

caminhos e possibilidades digitais. A Internet, por ser um espaço relativamente

acessível a qualquer indivíduo e pela sua facilidade de compartilhamento e

divulgação de informações tem todo o potencial para ser uma ferramenta útil na

comunicação comunitária. É com essa constatação e seus desdobramentos que

concluímos nosso trabalho.

Page 16: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

14

CAPÍTULO 2 A REDE ÍNDIOS ONLINE E A PRESENÇA INDÍGENA NA INTERNET

Como explicamos, o meio digital é atualmente um campo bastante viável para

a prática da comunicação, por seus custos reduzidos, manejo simples, grande

abrangência e imensa possibilidade de liberdade de comunicação que garante. No

entanto, quando se pensa em comunicação na Internet é necessário planejar uma

estrutura atraente, prática e que ofereça o máximo de interatividade ao internauta. A

partir de uma apresentação do portal Índios Online e uma observação sobre alguns

de seus conteúdos, definiremos quais recursos digitais são explorados, suas

principais características e também o teor do conteúdo publicado: uma espécie de

linha editorial do site.

Interessante recordar que o portal Índios Online é essencialmente de

comunicação, não de jornalismo; como veremos nos exemplos adiante, o material

publicado se caracteriza por possuir um teor opinativo visível. É certo dizer que a

maioria das notícias publicadas exprime o sentimento, a visão dos próprios

indígenas sobre os atos acontecidos no cotidiano desses grupos. Divulgação de

eventos, projetos realizados por ou para a comunidade indígena, denúncia de crimes

ou ilegalidades praticadas contra índios ou contra o meio ambiente, atividades do dia

a dia das comunidades indígenas, protestos, conflitos indígenas contra órgãos do

governo etc., qualquer assunto voltado ao universo indígena, de cultura à política,

tem espaço para ser abordado. O portal Índios Online passou a funcionar ativamente

a partir de abril de 2004. Foi uma iniciativa da Organização Não-Governamental

Thydewá, sediada em Salvador, na Bahia, com colaboração da rede de

supermercados Bompreço do Nordeste S/A e do Programa governamental

Fazcultura de incentivo ao patrocínio cultural.

Em 2004 o governo da Bahia apoiou um projeto de conexão entre aldeias.

Foram comprados sete computadores com conexão pelo serviço Star One, da

Embratel, com o apoio da Unesco. Foi feito contato com diversas aldeias, das quais

foram escolhidos dois representantes de cada uma delas para uma oficina de

qualificação, a fim de orientar para o uso dos computadores. A primeira oficina foi

desenvolvida em uma semana, em horário integral, em Salvador, na sede da

Page 17: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

15

Thydewá, e cada etnia saiu com um computador para ser instalado em suas aldeias,

num total de sete aparelhos, além de seis meses de conexão de Internet.

O site do portal Índios Online é hospedado atualmente pelo serviço gratuito de

gerenciamento de conteúdos na Internet Wordpress 2, e elaborado pelo também

gratuito sistema de tecnologia digital Livresoft. Atualmente, onze nações indígenas

colaboram ativamente no portal: Kiriri, Tupinambá, Pataxó-Hãhãhãe, Tumbalalá na

Bahia, Xucuru-Kariri, Kariri-Xocó em Alagoas e os Pankararu em Pernambuco. No

próprio site o projeto Índios Online é descrito como uma oportunidade de diálogo,

encontro e troca de experiências entre indígenas e não-indígenas de tribos diversas.

A conexão com a Internet é feita dentro das próprias aldeias, buscando o benefício

dessas mesmas comunidades. Como explicado no site do portal:

Nossos objetivos são: Facilitar o acesso à informação e comunicação para diferentes nações indígenas, estimular o dialogo intercultural. Promover aos próprios índios pesquisarem e estudarem as culturas indígenas. Resgatar, preservar, atualizar, valorizar e projetar as culturas indígenas. Promover o respeito pelas diferenças. Conhecer e refletir sobre o índio de hoje. Salvaguardar os bens imateriais mais antigos desta terra Brasil. Disponibilizar na internet arquivos (textos, fotos, vídeos) sobre os índios nordestinos para Brasil e o Mundo. Complementar e enriquecer os processos de educação escolar diferenciada multicultural indígena. Qualificar índios de diferentes etnias para garantir melhor seus direitos (ÍNDIOS ONLINE, 2010).

Todos colaboram na rede voluntariamente e, desde 2005, o projeto conta com

o apoio do Ministério da Cultura (MinC), que auxilia através dos programas Pontos

de Cultura Viva e Associação Nacional de Apoio ao Índio (ANAI). O Pontos de

Cultura Viva é uma parceria do MinC com os Ministérios das Telecomunicações e do

Trabalho e Renda criado em 2006 como parte do programa Governo Eletrônico –

Serviço de Atendimento ao Cidadão (GESAC). O programa trata exatamente da

disponibilização de computadores conectados à Internet em postos da Fundação

Nacional de Saúde (FUNASA) instalados nas aldeias. Novos povos se integraram à

rede e a ideia inicial era de que cada aldeia pudesse participar ativamente,

representando um ponto de cultura. Já a ANAI é uma ONG também sediada em

Salvador existente desde 1978 e que trabalha com práticas de inclusão e

2 http://pt-br.wordpress.com/

Page 18: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

16

reafirmação dos grupos indígenas na sociedade, cuidando pela manutenção dos

direitos dos povos indígenas e sua representatividade cultural e social.

Em relação ao GESAC, é interessante recordar que este tipo de apoio do

Ministério da Cultura em recursos materiais e estruturais não significa que a rede

Índios Online se submeta a alguma gestão ou critério governamental: o trabalho não

perde seu perfil independente, alternativo, comunitário. A ideia da criação da rede

Índios Online surgiu depois da organização Águia Dourada, fundada pelo argentino

Sebastián Gerlic, radicado há 15 anos na Bahia, e constituída por grupos indígenas

e não-indígenas, criar a série de livros Índios na visão dos índios. A coleção continha

textos, fotos e desenhos feitos pelos indígenas das etnias Kiriri, Tupinambá e Truká.

Em 2001 os membros da Águia Dourada se dividiram e em 2002 foi fundada a ONG

Thydewá (“esperança da terra” no idioma Pankararu), coordenada por Gerlic. Entre

1997 e 2004 foram publicados oito livros pelas instituições. Sebastián Gerlic passou

a se dedicar à causa das comunidades indígenas depois que ele e um grupo de

índios foram vítimas de um ataque feito pela Polícia Militar, quando Gerlic gravava

um documentário na Bahia. A ideia das iniciativas da ONG seria dar mais espaço de

atuação e representatividade para os indígenas brasileiros.

No ano de 2006, na ocasião de um encontro da rede Índios Online (chamado

de “Encontrão”), em Ilhéus, na Bahia, foi eleito um coordenador indígena geral para

o grupo (Alex Pankararu), além de outros responsáveis principais pela coordenação

de setores específicos como administração, informática, monitoramento, contatos

com parceiros etc. Até então os coordenadores responsáveis eram Ivana Cardoso,

Laura Juliani, Sebastián Gerlic e Luis Henrique Moreira. No Encontrão, além da

eleição dos novos administradores, feita por representantes das aldeias integrantes

da rede, também foram discutidas novas ideias de gestão, parceria, expansão e

trabalho em rede, além de atividades culturais e apresentação dos principais

trabalhos desenvolvidos até ali.

Em 2007 a Thydewá, pelo projeto Índios Online, recebeu o selo de Iniciativa

Reconhecida Prêmio Cultura Viva, do MinC, através do Programa Cultura Viva, de

incentivo a práticas culturais executadas pelo Brasil. No ano de 2008 o projeto

recebeu o prêmio AREDE de inclusão digital. Em 2009, o Índios Online também

ganhou os prêmios Rodrigo Melo Franco de Andrade (por divulgação do patrimônio

nacional através da Internet, livros e campanhas) e Prêmio Mídias Livres do MinC. A

partir do recebimento deste último, a Índios Online se expandiu e com o objetivo de

Page 19: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

17

afirmar ainda mais a presença indígena no projeto foi criado o método de Gestão

Compartilhada: a partir dele, representantes de todas as aldeias ligadas à Índios

Online e espalhadas pelo Brasil passaram a ter o mesmo peso, o mesmo poder de

gestão e administração. Isso eliminava a necessidade de um coordenador geral para

o conteúdo publicado no site, resultando numa atividade mais igualitária e bem

distribuída para todos. Inicialmente foram escolhidos oito representantes de povos

diferentes: dois Pankararu, dois Tupinambá, um Kariri-Xocó, um Guarani, um Terena

e um Potiguara. Em janeiro de 2010 a Thydewá organizou o I Encontro Nacional da

Rede Índios Online no Pontão de Cultura Esperança da Terra em São José da

Vitória, na Bahia.

Hoje, lembra Sebastián, a Índios Online é uma rede independente,

administrada por seus próprios integrantes. A Thydewá, que antes era a principal

gestora da rede, hoje trabalha em um sistema de parceria. Nas palavras de Gerlic,

Entendemos que Índios On-Line é uma rede de comunicação indígena, onde dá oportunidade e autonomia aos índios de todos os povos brasileiros e não brasileiros, a expressar suas opiniões e ser um etnojornalista, ciberativista, etnocelumetrista e ser o protagonista de sua própria cultura, historia, costumes e tradições. Para que assim possam ser compartilhada com outros povos e vice versa (GERLIC, 2010).

2.1 O portal Índios Online e o Arco Digital

O site da rede Índios Online é considerado um pioneiro na ideia da

organização, representação e interatividade das comunidades indígenas de diversas

etnias através da Internet. Atualizado pelos próprios indígenas, o site (figura 1)

apresenta conteúdo em formato de textos, fotos, vídeos (gravados através de

aparelhos celulares), além de ser aberto a comentários. Também é disponibilizado

um chat (sistema de bate papo virtual), promovendo a ideia do diálogo intercultural.

Atualmente são mais de 3000 matérias publicadas e 10000 comentários no site, que

conta com cerca 500 participantes de 25 etnias diferentes.

Atualmente o grupo de gestão da rede Índios Online conta com oito

integrantes, de diferentes aldeias indígenas do Brasil: Alex Pankararu, Graciela

Guarani (Cunha Poty Rory), Ivana Cardoso (Potyra Tê Tupinambá), Jaborandy

Yandê Tupinambá, Diana Terena (Diana Davilã), Luciano Pankararu, Jaqueline

Page 20: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

18

Potiguara (Irembé) e Nhenety Kariri Xocó. Todos os integrantes da rede podem

postar no site, com periodicidades variáveis. Aos membros da gestão é exigido

apenas que se comprometam a gerenciar e postar conteúdo no site, além de cuidar

do chat que o portal oferece. Os elementos gráficos que compõem a apresentação

visual do site, como os detalhes que lembram o desenho do trançado da fabricação

de cestos de sisal e os tons esverdeados e terrosos reforçam a ideia dos elementos

da cultura e do cotidiano indígenas mantidos firmemente mesmo no contexto da

presença no ambiente digital. Na página inicial do site estão organizados links para

todos os serviços oferecidos pelo portal, além das chamadas dos textos publicados

mais recentemente (com o link Leia mais para se acessar o texto completo).

Figura 1

No menu, localizado logo acima do logotipo Índios Online são visíveis os

seguintes botões de acesso:

Oca – direciona para a página inicial do Índios Online.

Mapa – através de imagem obtida pelo programa de mapeamento geográfico

digital via satélite Google Maps 3 é mostrada a região das comunidades indígenas

3 http://maps.google.com.br/

Página inicial do portal Índios Online (05 de outubro de 2010)

Page 21: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

19

que integram a rede Índios Online. Cada “ponto” de acesso do programa é

representado pelo símbolo “@” (figura 2).

Arquivos – são exibidos links das postagens mais recentes publicadas no site.

Chat – é o programa de comunicação instantânea do portal. Para acessá-lo é

necessário criar um cadastro na página com email, uma senha e um nome de

usuário. No site Índios Online, o serviço é normalmente frequentado por fundações

ou grupos interessados na temática indígena, além de estudantes que buscam

informações para trabalhos escolares. A página exibe também o número de usuários

conectados no chat. Elaborado pelo Livresoft, o serviço é semelhante à estrutura de

uma sala de bate papo digital comum (figura 3): uma janela lateral com a listagem

dos usuários, uma janela onde se escreve a mensagem e outra maior, onde aparece

todo o conteúdo da conversa.

Figura 2

Também é possível enviar emoticons (as “carinhas” animadas que ajudam a

expressar o que o usuário está sentindo, de forma bem humorada) e sinais sonoros

para chamar a atenção dos outros usuários. Além disso, existe a possibilidade de

compartilhar jogos com outros usuários, utilizar cores e fontes de texto

personalizadas e avatares, ilustrações que representam a figura do usuário dentro

do chat. O serviço conta ainda com um botão de registros, marcando as últimas

Página do Google Maps mostrando as aldeias onde estão presentes pontos do Índios Online: cada "@" marcada no mapa representa uma aldeia diferente (06 de outubro de 2010)

Page 22: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

20

atividades do chat, e um link de ajuda com instruções (em inglês) de utilização dos

recursos do programa.

Quem somos – a página contém uma espécie de editorial, com explicando o

que é e quais os objetivos e as metas do projeto Índios Online.

Participe – uma espécie de convite para os indígenas ainda não incluídos na

rede Índios Online. Para o cadastro, é necessário apenas informar nome, email para

contato e a etnia, a “nação” a qual o indígena pertence.

Figura 3

Contato – espaço aberto para comunicação direta com a administração do

portal. Para isto é apenas necessário informar o nome e email para contato,

deixando a mensagem desejada.

Ainda no alto da página inicial, há um botão de busca onde o usuário pode

pesquisar um elemento desejado no conteúdo do site. Nos resultados da busca, são

exibidos integralmente artigos relacionados ao tema procurado. À esquerda da

página inicial, uma série de janelas/links levam a outros pontos ligados ao portal. De

cima para baixo, pode-se ver:

Janela do chat do portal Índios Online (06 de outubro de 2010)

Page 23: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

21

Siga nosso Twitter – abre uma nova janela para o perfil no Twitter 4 (rede

social de que permite a troca de mensagens instantâneas curtas) do Índios Online

(figura 4). Atualmente o perfil do Índios Online, descrito por seus criadores como “um

portal de diálogo intercultural”, conta com 435 seguidores. No perfil do Twitter da

rede Índios Online são postadas algumas atualizações do portal, com as manchetes

e os links para cada texto publicado. O primeiro registro de atividade do perfil da

Índios Online no Twitter data do dia 5 de maio de 2010.

Figura 4

Imprima e difunda a petição! - clicando nesta caixa, o usuário é direcionado

para um link do site da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do

Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). A APOINME 5, sediada em

Olinda, Pernambuco (PE), integra 64 povos indígenas e atua em defesa dos direitos

e causas desses grupos: demarcação e identificação de terras; educação escolar

respeitando a cultura e tradições indígenas; assistência técnica e extensão rural

para as comunidades; respeito ao meio ambiente e uso consciente de recursos

naturais (APOINME, 2010). O link no portal da Índios Online redireciona para uma

4 http://twitter.com/indiosonline

5 http://www.apoinme.org.br/

Perfil na rede social de comunicação Twitter do portal Índios Online (06 de outubro de 2010)

Page 24: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

22

página da APOINME, com um texto denominado “Campanha Opará – Povos

indígenas em defesa do rio São Francisco”. No artigo, a organização convoca os

povos indígenas a se manifestarem contra o trabalho de transposição do rio São

Francisco, operado pelo governo federal.

A obra - ainda não concluída totalmente - teria como objetivo irrigar as regiões

do nordeste e semi-árido brasileiros, mas o argumento da APOINME é de que o

projeto danifica o ecossistema às margens do rio (onde estão localizadas aldeias

indígenas) e o próprio São Francisco, além de não suprir as necessidades da

população instalada na região do semi-árido. A transposição do rio beneficiaria

apenas o agronegócio, latifundiários e empresas multinacionais com instalações na

região. Em documento publicado no mês de junho de 2010 no Blog do Planalto 6 –

site com informações gerais do governo mantido pela Presidência da República – o

presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que a previsão é de que o projeto seja

concluído no final de 2012, e a APOINME orienta a população a assinar uma petição

(disponível no site) contra o andamento do projeto, que posteriormente seria

encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF).

No documento, a APOINME requere ao STF uma audiência pública dando

voz a especialistas na área do meio ambiente e ecologia, além dos residentes na

região afetada pelo trabalho de transposição, a fim de averiguar se os impactos

ambientais realmente têm ligação com a transposição do rio. Se comprovados os

danos ao ecossistema, o documento pede ainda que sejam aplicadas ações judiciais

referentes ao projeto. Além da versão digital, a instituição também orienta para que a

petição seja enviada via fax ou correio, disponibilizando cópias do documento para

download em cinco idiomas (português, alemão, francês, inglês e italiano). O foco

atual das reivindicações da APOINME é o prejuízo provocado pelo andamento das

obras do São Francisco, e informações gerais relativas ao tema estão publicadas no

site da organização.

Índio off- line? Você é a nossa Rede. Fique on! - o link redireciona para a

página de cadastro dos usuários indígenas (em Participe).

Novo chat no ar!!! Acesse aqui - redireciona para a página de login (entrada)

no chat, onde o usuário pode criar seu cadastro no bate papo (se ainda não possuir)

ou solicitar o reenvio de sua senha, caso se esqueça dela. Nesse caso, uma nova

6 http://blog.planalto.gov.br/

Page 25: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

23

página solicita o nome utilizado pelo usuário no chat e seu endereço de email, para

onde a respectiva senha será enviada.

Indígenas Digitais – o filme - clicando na janela, o usuário é direcionado ao

site Indígenas Digitais 7. Nele, é possível assistir e saber mais detalhes sobre o

documentário Indígenas Digitais, com depoimentos de indígenas das nações

Tupinambá e Pataxó Hahahãe, da Bahia, Kariri-Xocó de Alagoas, Pankararu de

Pernambuco, Potiguara da Paraíba, Makuxi de Roraima e Bakairi de Mato Grosso. O

documentário foi produzido por indígenas e não indígenas integrantes da Thydewá,

além da empresa de capacitação e gerenciamento de projetos sociais, educacionais

e culturais Cardim Soluções Integradas, sediada em Salvador. Adiante detalharemos

com mais cuidado o projeto do documentário Indígenas Digitais.

Login - clicando no link dentro da caixa de cor verde, o usuário é direcionado

para o site da APOINME, citado anteriormente. Abaixo da caixa há outro link

também escrito Login, mas este serve para que aqueles cadastrados no site (através

da página Participe) tenham acesso à administração do portal, publicando seu

material no Índios Online.

Na página inicial do portal Índios Online também é possível visualizar a barra

Canal Celulares Indígenas Youtube. São vídeos produzidos pelos próprios

indígenas, com o uso de câmeras de aparelhos celulares, que também são

publicados na rede de compartilhamento de vídeos Youtube. Segundo Potyra Tê

Tupinambá, entre computadores, filmadoras e câmeras digitais os celulares são os

aparelhos mais comuns e utilizados pelos indígenas no dia a dia, justamente por

serem os de mais fácil transporte e praticidade. Os assuntos abordados são

variados: cultura, manifestações artísticas, opiniões, eventos, apresentação de

projetos realizados e dos integrantes da rede, até “tutoriais” que ensinam os demais

participantes da Índios Online a postar matérias no site principal da rede, por

exemplo. No portal Youtube é possível encontrar inclusive uma página exclusiva

criada pela rede Índios Online 8 (figura 5) com todos os vídeos produzidos pelo

grupo. Esse tipo de serviço é totalmente gratuito; para ter acesso a ele basta possuir

um endereço de email e criar uma conta no site.

No Canal somos informados de que ele foi criado no dia 28 de maio de 2009,

e até o último dia 07 de outubro tinha 70 vídeos publicados no total, que juntos foram

7 http://www.indigenasdigitais.org/

8 http://www.youtube.com/indiosonline

Page 26: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

24

visualizados 15.173 vezes. A página da Índios Online no Youtube possuía 1223

acessos e 22 colaboradores, outros usuários do Youtube que podem se inscrever

para contribuir com o Canal na administração e em postagem de vídeos. Ao acessar

o site é possível aos demais usuários postar comentários nos vídeos, fazer

avaliações positivas ou negativas do conteúdo, pesquisar vídeos por ordem de

postagem no site, número de visualizações ou pela ordem dos melhor avaliados pelo

público. O usuário também pode recomendar e compartilhar os vídeos desejados

através de outras redes sociais, como Twitter, Orkut, blogs e mesmo por email.

Figura 5

É importante lembrar que, no caso da rede Youtube, a participação indígena

não se restringe apenas ao canal do portal Índios Online. Outros índios, a maioria

ligados de alguma forma ao projeto Índios Online, mantém canais com vídeos

próprios mostrando entrevistas com representantes indígenas, o cotidiano das

aldeias, eventos etc. É o caso de Graciela Guarani, de Dourados, Mato Grosso do

Sul (MS). A jovem, além de ser membro da equipe de gestão da Índios Online, faz

parte do grupo de representação socio-cultural Ação de Jovens Indígenas (AJI) de

sua cidade. Em sua página no Youtube 9, Graciela, que mantém o perfil desde

9 http://www.youtube.com/gracielaguarani

Página inicial do canal da Índios Online no portal Youtube (06 de outubro de 2010)

Page 27: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

25

fevereiro de 2009, posta vídeos sobre manifestações e histórias que retratam o

cotidiano de sua aldeia.

O uso de aparelhos celulares para a produção de vídeos na rede Índios

Online passou a ser facilitado a partir do estabelecimento do projeto Celulares

Indígenas, em 2009. O programa, uma parceria com o programa Oi Futuro, ofereceu

oficinas de etnojornalismo, publicação digital, fotografia e vídeo para sete

representantes indígenas em janeiro do ano passado. A partir daí, esses agentes

puderam reproduzir e integrar todos os conceitos aprendidos aos demais integrantes

da rede. Foram distribuídos 60 aparelhos celulares para representantes indígenas

de 24 nações diferentes. Vídeos de poucos minutos até pequenos documentários,

como o filme Indígenas Digitais, que aprofundaremos adiante, foram produzidos

basicamente com o uso desses celulares.

Entre 2006 e 2007, também em parceria com o programa Oi Futuro, a

Thydewá criou dentro da rede Índios Online a proposta da comunidade colaborativa

de aprendizagem Arco Digital. A ideia do Arco Digital foi fornecer a indígenas de

todo o Brasil cursos de aprendizagem colaborativa através de um programa gratuito

de educação digital à distância, o Moodle 10. A metáfora do arco digital é associada

pelos próprios indígenas à figura do arco e flecha, ferramentas que simbolizam ao

mesmo tempo, caça (sustento) e arma (ataque e defesa). As novas tecnologias

representariam os mesmos significados da caça e da guerra no contexto da

sociedade informacional contemporânea.

No projeto Arco Digital foram oferecidas oficinas realizadas por facilitadores

igualmente atuantes nas áreas de saúde indígena, jornalismo étnico, educação,

cidadania e direitos, economia solidária e agrofloresta, voltadas para qualquer

indígena, sem nenhum custo e dentro do princípio colaborativo. O objetivo

impulsionador do Arco Digital foi a troca de ideias e reflexão sobre desenvolvimento,

cidadania, tecnologias de Informação e comunicação, bem como compartilhar

experiências, práticas e saberes. A partir da realidade dos povos indígenas, tomou-

se a iniciativa do diálogo (como forma de construção coletiva de conhecimento e

interação para a transformação) no qual os próprios índios são protagonistas

responsáveis por decidir o caminho de suas comunidades, lutando e seguindo por

melhores condições de vida. O incentivo constante à autonomia entre os indígenas,

rompendo os estereótipos em relação a esses povos enraizados dentro da

1 0

http://www.moodle.org

Page 28: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

26

sociedade urbana e apresentando a real identidade e capacidade de independência

das comunidades e seus membros é um dos objetivos dessas iniciativas

desenvolvidas.

Numa espécie de reflexão integrada em rede, esses povos passam a refletir,

planejar, elaborar e executar suas próprias ações e projetos. No ano de 2008, com o

apoio do MinC, a Thydewá lançou a publicação @rco Digital com 3000 exemplares,

narrando as experiências dos integrantes da Índios Online dentro do Arco Digital. O

livro é descrito por seus organizadores como uma oportunidade de refletir sobre a

tecnologia, a realidade contemporânea dos povos indígenas e suas relações com as

novas tecnologias, rompendo possíveis preconceitos e ajudando a estender as

iniciativas do Arco Digital. O “criador” do Arco Digital, Nhenety Kariri-Xocó, descreve

deste modo o início das atividades no programa e seus objetivos:

Pela primeira vez, índios de comunidades distantes se encontravam num chat para dialogar sobre seus interesses... intercambiar ideias, experiências...se apoiar...pesquisam e projetam suas culturas publicando suas matérias no portal. Abrem espaços para divulgar suas visões com o objetivo de serem mais respeitados...dialogam com os internautas promovendo a paz... (NHENETY KARIRI-XOCÓ, 2007).

Nhenety ainda realça a importância do computador como ferramenta útil aos

povos indígenas:

Nós índios já estamos usando o computador como ferramenta de buscar soluções. O computador nos serve para escrever projetos ou cartas, que nos auxiliam para buscar melhorias na saúde, educação, sustentabilidade e tudo que se refere a nossa sobrevivência e desenvolvimento, servindo como um Arco e Flecha. O arco e flecha é um instrumento de defesa, de caça… Hoje em dia, um computador com internet também pode ser utilizado pelos índios como um instrumento de defesa e caça [...] Hoje em dia, também nos reunimos em grupo e através do computador e a Internet nós estudamos todas as possibilidades: os órgãos do governo e seus editais e suas leis, as agências de cooperação, os financiadores, os programas, os patrocínios de empresas, o mundo das parcerias...Preparamos nossos projetos e saímos na busca de concretizar nossa caçada. (Idem, 2007).

Para o índio online, ou “caçador eletrônico”, Nhenety recorda a necessidade

da prática no aprendizado do uso da informática. Com a Internet é possível descobrir

Page 29: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

27

novas instituições, agências, empresas, como elas atuam... pesquisar na rede digital

para saber como se comunicar adequadamente, como atrair o “público” que se

quer. O fato do projeto Arco Digital não existir mais dentro da rede Índios Online não

significa que seus ideais, ações, práticas e projetos se perderam. As iniciativas e

propostas de reflexão e discussão levantadas pelo projeto continuam se propagando

por todas as vias da rede Índios Online, a cada nova geração que ingressa no

projeto, na produção de vídeos, textos e nos debates e discussões levantadas.

2.2 O que têm a dizer os Índios Online

O conteúdo do portal Índios Online, totalmente produzido pelos próprios

indígenas membros da rede, é marcado por um forte teor opinativo, muitas vezes em

tom de denúncia, e não há uma preocupação rígida em relação à linguagem formal,

organização da página, harmonia estrutural entre texto e fotos, quantidade de

caracteres etc. É visível a liberdade que os autores dos artigos publicados no Índios

Online têm não só na seleção e produção de todo o conteúdo publicado, mas

também para reproduzir sua opinião no texto, denunciar ou criticar o que julgar

necessário, e mesmo organizar o modo como será publicado no site (ordem das

imagens, fonte de texto) da maneira que considerar mais adequada e de fácil leitura

para o internauta.

O teor do material produzido e abordado no portal Índios Online demonstra

bem a força dessa proposta de reflexão, de autodescobrimento, a iniciativa que

conduz ao fortalecimento da cidadania, da representação social e cultural desses

grupos. Denúncias, artigos, opinião, material político, eventos, cotidiano das aldeias

indígenas: tudo isso atua em benefício da demarcação do espaço e inclusão desses

indígenas não só no campo geográfico, mas no ciberespaço, em todas as áreas da

sociedade, de forma independente, livre e realmente atuante. O portal Índios Online

pode ser visto como um canal sem restrições de comunicação dos indígenas de

qualquer lugar do país com toda a população, uma oportunidade de livre

manifestação de expressões.

Questões sobre demarcação e posse de terras, resistência de grupos

indígenas, preservação do meio ambiente, histórias de antepassados, novidades na

área de tecnologia e infra-estrutura para os índios, tudo isso ganha espaço para

Page 30: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

28

abordagem no Índios Online. Tudo isso sempre com um tom crítico e de análise, que

direciona para a reflexão dos próprios leitores. Em relação ao assunto de posse de

terras e resistência indígena, por exemplo, ou mesmo denúncia de atitudes violentas

contra as comunidades indígenas, é possível notar que sempre se ressalta a postura

pacífica entre os índios, cujo interesse maior é sempre a defesa dos próprios direitos

da maneira mais justa e organizada possível. No artigo “Retomada Tupinambá – Na

comunidade Santana” (11 de outubro de 2010), assinado por Bruno Tupi, o rapaz

retrata a retomada dos indígenas Tupinambás daquela região a uma fazenda cuja

terra lhes seria de direito. Segundo relato do próprio Bruno:

Com o objetivo de reaver o que é nosso, e de maneira pacífica entramos na fazenda. Permanecemos ainda na fazenda, até o instante momento, e até agora graças ao nosso pai Tupã ainda não tivemos nenhum registro de conflito. Mas segundo o Administrador da FUNAI – Ilhéus – BA, a filha do Fazendeiro Juvenal que é o morador da fazenda retomada, foi informar a Polícia Federal, que nós estamos mantendo em cárcere privado, dois idosos hipertensos, mas isso não é um fato real, pois estamos abertos a diálogos pacíficos, pois não temos em mente maltratar ninguém, só apenas reaver o que é nosso e ampliar até porque essa fazenda se encontra dentro de nossa demarcação. Sendo assim reafirmamos mais uma vez, que essa retomada é pacífica, não queremos conflitos, só queremos o que é nosso de fato e se tem esses idosos com a gente é porque eles não tiveram tempo de se locomover ainda, e porque também não vamos colocar eles na rua de uma hora pra outra. Nesse instante estamos dentro da fazenda e se nosso pai Tupã permitir, nosso povo não sairá mais. Pois lá pertenceram os nossos ancestrais e agora pertenceram aos nossos herdeiros. (BRUNO TUPI, 2010).

A causa da retomada de terras pelos Tupinambás também é um bom

exemplo da utilização da Internet, da rede digital para divulgação de algum tipo de

mobilização popular. Neste caso, ela não se limita apenas ao que é publicado na

rede Índios Online. No blog Retomada Tupinambá 11 (figura 6) é possível fazer todo

um acompanhamento das atividades dos Tupinambás pela retomada de suas terras.

Textos, vídeos e fotos (a maior parte deles compartilhados com o portal Índios

Online) expõem depoimentos do cotidiano desses indígenas. Segundo o Retomada

Tupinambá, atualmente há cerca de 7000 Tupinambás no Brasil em um território

1 1

http://www.retomadatupinamba.blogspot.com/

Page 31: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

29

reconhecido pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) de 47300 hectares, ao sul da

Bahia. No entanto nem todas essas áreas ainda foram demarcadas, e esta é a

principal luta atual dos indígenas.

Figura 6

Além da Índios Online, o Retomada Tupinambá ainda conta com sete

colaboradores oficiais e o apoio do projeto Fotografia Tupinambá. O programa nada

mais é do que oficinas de fotografia oferecidas aos indígenas Tupinambás da Bahia.

No site do Fotografia Tupinambá 12, é possível se informar sobre as oficinas já

realizadas, ver fotografias tiradas durante os eventos (com direito a galerias de fotos

tiradas pelos participantes) (figura 7) e também um vídeo, realizado pela equipe da

rede Índios Online em parceria com a produtora Petei Xe Rajy, sobre a pintura e o

artesanato praticado pelos Tupinambás. As fotos exibidas nas galerias são

hospedadas e visualizadas através de programas de distribuição e

compartilhamento gratuito de imagens, como o PicLens e o Flickr 13, de 2004. Para

utilizar o PicLens é necessário instalar uma das versões do programa em seu

computador, através de portais especializados em informática que oferecem esse

1 2

http://fotografiatupinamba.com/novo/ 1 3

http://www.flickr.com

Página inicial do blog Retomada Tupinambá (13 de outubro de 2010)

Page 32: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

30

tipo de serviço. Já no Flickr basta fazer um cadastro no site indicado. O projeto

Fotografia Tupinambá ainda conta com a colaboração da Fundação Nacional de

Artes (Funarte), do MinC e da Petrobrás.

Figura 7

Em alguns casos, o apelo mais explícito à comunidade não indígena a favor

das causas desses grupos também se mostra presente. No texto intitulado “Área

retomada sofre ataque de pistoleiros na tarde de ontem” (08 de outubro de 2010),

assinado por Fábio Titiá em nome da comunidade Pataxó Hãhãhãe, é relatado um

ataque violento a indígenas ocupantes de uma fazenda em terras que seriam de sua

propriedade.

Os Pataxó Hãhãhãe estão determinados a permanecer na áreas, e pede a justiça possa agora fazer o seu papel, devolvendo as nossas terras. As fazendas que antes servia para criatório de gado, de hoje em diante acreditamos que ela possa servir para buscar a sustentabilidade de várias familias indígenas que vivem a margem da linha da pobreza. e assim evitaríamos que mais de nossa terra fosse destruída, já que foi comprovado desmatamento por parte dos fazendeiros. Os índios Pataxó Hãhãhãe, está cansado de esperá pela a justiça, que anda lenta como uma tartaruga. Enquanto as “autoridade retarda o julgamento de nossas terras” tem índios

Fotografia tirada durante oficina realizada pelo projeto Fotografia Tupinambá. Autor: Alessandro Tupinambá (13 de outubro de 2010)

Page 33: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

31

morrendo assassinados. por falta de condições melhores para poder cuidar da saúde, de uma educação e alimentação de qualidade. Sendo que essas terras nos pertence temos prova, e a STF, continuam deixando o povo indígenas amingua. Através da rede indios online, levamos para a sociedade que nos ajude, a cobrar das autoridades desse país , que assuma a nossa causa com carinho e não permita mais que um pai de familias perca a sua vida nessa luta árdua e necessária. (FÁBIO TITIÁ, 2010).

O texto é um exemplo claro de como a rede Índios Online é vista e utilizada

como uma ponte de manifestação e contato entre os povos indígenas e a

comunidade em geral. E é uma estrada de duas vias, considerando que o internauta,

o público, também pode se comunicar de formas diversas com os autores do portal,

expressar sua opinião e suas ideias. A participação de indígenas e não-indígenas

nos comentários dos textos postados no site é constante, o que sinaliza um grande

comprometimento e interesse não só entre aqueles que já estão ingressos na rede

Índios Online, mas também da parte do público em geral. No artigo de Fábio Titiá,

por exemplo, são vistos os seguintes comentários:

Mauro Alessandro Zalcbergas – Salvador – BA - Estudante de Direito disse: sexta-feira, 08 de outubro de 2010 as 8:55 Diante de tal violência, procurem coletar o máximo de provas possíveis,como fotos dos carros, pistoleiros, placa dos carros, videos e testemunhas. Com todas essas provas em mãos, divulguem em todos os meios de comunicação, vamos fazer todo o Brasil saber quem são essas pessoas, mas somente com relatos não é suficientes, boas imagens são bem fortes e ajudam até nas decisões da justiça. Conseguindo boas imagens e fotos, vamos divulgar na internet e youtube, tenho certeza que a mobilização terá muita repercursão. ARATIMBÓ disse: sexta-feira, 08 de outubro de 2010 as 18:30 É UMA VERGONHA PARA AS AUTORIDADES O QUE ESTÁ ACONTECENDO, ELES FAZEM VISTA GROSSA QUE Ñ VER OS PISTOLEIROS É UMA TERRA SEM LEI. [...] SÓ PARA LEMBRAR A SOCIEDADE, QUE NA HISTORIA DE LUTA DO POVO PATAXÓ HÃ-HÃ-HÃE, NO DECORRER DO TEMPO ONDE FORAM MORTOS VÁRIAS LIDERANÇAS, ATÉ QUEM FIM ONTEM FOI UM BANDIDO PRA CADEIA O FAMOSO ”GILBERTO ALVES DE BRITO” ISSO DEPOIS DE MUITAS QUEIXAS NO MINISTÉRIO PUBLICO E NA POLICIA FEDERAL, DE ILHÉUS. [...] ESPERO QUE AS AUTORIDADES FAZ O SEU PAPEL QUE SEJAM

Page 34: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

32

PROFICIONAIS, CHEGA DE IMPUNIDADE, VAMOS FAZER JUSTIÇA, VAMOS COLOCAR OS CULPADOS NA CADEIA. sebas disse: domingo, 10 de outubro de 2010 as 6:07 Hoje de manha recebei varios recados no meu celular… [...] o recado era: “A retomada foi invadida pelos pistoleros hoje pela manha, só quem esta na área são os homens, as mulheres foram obrigadas a sai. ESTA VENDO UMA GUERRA HORRIVEL, por favor entre em contato com a funai para ajudar no reforço, Yonana diretamente da retomada” Existe uma corrente para divulgar os acontecimentos diretamente da retomada… (ÍNDIOS ONLINE, 2010).

A presença constante dos comentários serve não apenas como uma forma de

intervenção dos leitores, dos outros integrantes no conteúdo abordado, mas também

como um meio de estímulo ao trabalho dos Índios Online. Ao final de cada texto,

junto com o nome e uma breve descrição do usuário, é exibido o número de artigos

já postados por ele (com um link que leva para uma listagem desses textos). No

caso de Juayran, por exemplo, que no dia 05 de outubro de 2010 apresentou o texto

“A beleza do Rio São Francisco” (figura 8), descrevendo o rio São Francisco e

destacando a necessidade de sua preservação, podem ser vistos os seguintes

comentários sobre a matéria:

seredser disse: quarta-feira, 06 de outubro de 2010 as 7:13 juayran sua materia é muito boa, nós temos o dever de presevar o nosso querido velho chico, por que como vc falou uma belesa como essa não passa despecebido por que o nosso rio é lindo demais. Josemar pires disse: quarta-feira, 06 de outubro de 2010 as 9:52 ola juayran , o são francisco apesar de tanta poluição ainda guarda suas belezas. (ÍNDIOS ONLINE, 2010).

Page 35: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

33

Figura 8

Para Juayran, que até o momento registrava oito artigos publicados na rede

Índios Online, os comentários sobre seu trabalho podem manifestar não apenas o

interesse pelo assunto abordado, mas o incentivo para prosseguir suas experiências

e seguir cada vez mais atuante na rede Índios Online, além de estender sua voz,

sua atividade para outras redes digitais de raiz indígena e não-indígena. Enfim,

buscar oportunidades de atuação e representação na Internet, na sociedade digital,

através da comunicação.

Ainda em relação aos conteúdos observados nas matérias do Índios Online,

percebe-se de que modo práticas culturais, religiosas, tendências e mesmo vícios

antes considerados “não-indígenas” hoje se encontram inseridos, de alguma forma,

no cotidiano desses grupos de forma bastante natural. Não estamos nos referindo

apenas ao uso da Internet e da inclusão digital nessas tribos, mas de influências

relativas ao consumo em geral e mesmo à religião. Um exemplo interessante é o

texto publicado por Hemerson Pataxó no dia 27 de setembro de 2010, “Um dia sem

drogas”. Na matéria Hemerson destaca um seminário, organizado pelas próprias

instituições indígenas na cidade de Pau Brasil (BA), abordando os malefícios do

consumo de drogas em geral.

Página do artigo "A beleza do Rio São Francisco", publicado por Juayran (11 de outubro de 2010)

Page 36: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

34

O encontro contou com a presença de representantes indígenas da FUNASA

e psicólogos, além de depoimentos de índios ex-usuários de drogas. A matéria de

Hemerson Pataxó é só um exemplo de como as influências nascentes no centro das

sociedades urbanas tem afetado essas comunidades, tanto para o bem quanto para

o mal. Essa tendência é natural e praticamente inevitável, com a expansão da

globalização e a introdução cada vez mais profunda dos povos indígenas na

sociedade e no ciberespaço. A preocupação, no entanto, é de se saber selecionar

quais influências podem ser negativas ou positivas, usá-las com moderação

estabelecendo cada um seus devidos limites, e tomando iniciativas para repelir

aquilo de negativo que possa se aproximar. Trata-se de uma questão de

conscientização e bom senso que deveria estar presente e ser estimulada não só

entre os povos indígenas, mas em toda a sociedade.

Outro ponto de miscigenação visível dentro da cultura indígena, e cujo teor

fica claro no contexto das matérias publicadas no Índios Online diz respeito à

religião. A inserção dos costumes das igrejas cristãs na cultura indígena é assunto

de bastante relevância e conflito para esses povos. Apesar da diversidade religiosa

presente entre as comunidades indígenas atuais, existe um grande esforço para que

sejam preservadas e respeitadas as tradições de culto de seus antepassados.

Embora exista espaço para manifestações de fé católica e evangélica dentro das

aldeias, para muitos índios algumas dessas igrejas ameaçam as tradições,

estruturas e direitos naturais dos povos indígenas.

O desejo de preservação do patrimônio natural e passado histórico são

marcantes na discussão da cultura religiosa indígena. O ponto de equilíbrio seria

conciliar a liberdade de culto cristão (daqueles que realmente desejarem seguir este

caminho) sem desvalorizar os valores, cultos e tradições históricas indígenas. A

consciência crítica contra a simples imposição de tradições religiosas, sociais e

culturais, a liberdade de culto sem ameaças nem preconceitos: este é o padrão

buscado pela maioria dos representantes indígenas. As igrejas católica e evangélica

normalmente são criticadas por tentarem afastar os povos das aldeias de suas

crenças, valores e ideais tradicionais, o que é visto como abuso pelos indígenas.

Portanto, além do respeito e tolerância por parte das instituições religiosas, é

necessário estimular nos índios essa reflexão e visão crítica sobre os valores,

ideologias e crenças que lhes são apresentados.

Page 37: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

35

A preservação dos hábitos e tradições indígenas é tema de muitos artigos,

além de depoimentos e opiniões de vida dos próprios índios. No caso do texto de Fa

Tupinambá, autora de “Pintura Tupinambá” (22 de setembro de 2010), a arte da

pintura corporal indígena é mostrada como uma prova de resistência e

representação deste povo que se mantém viva através dos tempos:

Para nós Tupinambá a pintura é de muita importância, pois é uma forma de nos afirmamos como uma comunidade indígena, por conta que é uma pintura unica de nosso povo, fortalecendo assim nossa identidade étnica. Nossa pintura tanto a corporal como as diversas outras pinturas, que pertence ao nosso povo é repassada de pai para filho, e tem diversos significados que vai desde a pintura para guerrear até a pintura de festa. As tintas para pintura corporal é feita de jenipapo ainda verde, onde ralamos e esprememos para extrair o caldo do fruto, desse caldo misturamos com carvão para que ele fique mais escuro. A tinta do jenipapo demora em media 15 dias para sair do corpo, mesmo agente lavando e escovando bem a pele, a permanecia da tinta em nossa pele é a mesma. [...] é de costume da maioria dos índios se pintarem, assim quando estivermos na caminhada nos mostramos com uma cultura forte e resistente. Que mesmo depois de varias repressões, massacres e discriminações, o nosso povo se fortalece cada vez mais e mais, e a quem dizia que o povo Tupinambá era um povo extinto, estamos aqui para mostrar que não, e que somos um povo forte e resistente, com uma cultura forte e com pinturas lindas e expressivas. (FÁ TUPINAMBÁ, 2010).

Além da arte e da cultura, manifestos, depoimentos e relatos de experiências

de vida também compõem o material da rede Índios Online. Texto publicado em

nome de Seu Gino, em julho de 2005, é um bom exemplo do registro histórico das

memórias das tribos indígenas; intitulado “Nossos avós levantavam cedo”, o artigo

traz uma visão crítica e pessoal da história da colonização e da atual situação

indígena. A tristeza pela exploração do passado e o desejo de um futuro melhor são

as marcas do pensamento expresso por Seu Gino:

Nossos avós levantavam cedo, pegavam seus arquinhos e iam para o mato. Matavam um nambu, um preá, um tatu, viviam comendo batatas do mato, tipã, gravitaia, agisaia, salbu (fruta selvagem), mandaunhão, não trabalhavam que nem hoje. Ele vivia do mato, caçando seus inhames. Depois o branco tomou conta, desmatou a floresta, aí o índio não teve como viver mais. Eles foram tomando as terras do índio, dizendo assim: “Índio vamos trocar essa terra por uma cabeça de animal!”.

Page 38: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

36

Depois o branco pegava a terra e dava só a cabeça do animal, não era um animal inteiro, se aproveitava da fome para enganar e pouco a pouco ia tirando nossas terras. [...] Os costume da gente é a parte da Natureza que Deus deixou aqui na terra e nós não podemos trocar essa sabedoria pela sabedoria do branco. Não podemos só estudar e esquecer nossos costumes. O branco quer que a gente esqueça até o nome de Deus, porque nosso direito é levantar e dar benção ao pai e a mãe, isso para o pai lembrar o nome de Deus todo dia. O estudo trás bom dia pai, bom dia mãe e faz esquecer o nome de Deus. Aqui na terra estamos todos juntos, com um Deus só. Nós temos que ser todos por um e um por todos. Nós temos que seguir um caminho. Estamos na beira do abismo, sem promessas para o futuro, muitas pessoas fazendo as coisas erradas, saindo do caminho. Nós temos que conversar, sentar juntos e combinar as coisas. (SEU GINO, 2005).

Manifestos de necessidade de luta, mobilização e atuação indígena, como o

artigo “Vida de Guerreiro”, assinado por Seredser em 07 de outubro de 2010,

também representam o apelo dos indígenas na necessidade de manter suas

culturas, raízes e objetivos, sem se deixar corromper por outros valores ou

ideologias que não sejam positivas.

Desde que o Brasil foi descoberto que nós índios viemos lutando, lutando contra a escravidão, lutando pela democracia, lutando por uma vida melhor. Hoje que estamos totalmente civilizados, temos lutado pelos o que tiraram da nós,o que é nosso por direito, que é a nossa língua e o que é mais importante as nossas terras, quem é que não quer ter o seu pedaço de terra para criar o seu gado, para plantar legumes, fazer sua casinha e morar com sua família, fazer uma roda de toré todas as noite e repassar sua cultura. Guerreiro que é guerreiro luta pelos seus objetivos, luta para que eles nunca venham desaparecer, cultiva os seus costume, acredita que um dia vai vencer, nós podemos perde a batalha mais a guerra nós nunca perdemos, por que quem acredita em Deus enfrenta vários obstáculos mais no final sempre vence. (SEREDSER, 2010).

Além de depoimentos, denúncias e cenas do cotidiano das aldeias indígenas,

o Índios Online também procura dar destaque a todo assunto relativo à inclusão e

investimento digital entre os indígenas. Esse tipo de iniciativa também é ressaltada,

justamente para estimular e mostrar que é possível a realização desse tipo de

projeto. Vale lembrar que, estruturalmente, parte da estratégia de divulgação e

Page 39: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

37

multiplicação do material publicado no portal Índios Online inclui as funções de

impressão e divulgação por email das matérias publicadas, representadas por

ícones dentro da própria página de texto, contribuindo assim para a expansão e

divulgação desses conteúdos para públicos mais amplos. Para facilitar a navegação

do internauta, cada página de texto também inclui links diretos para o último artigo

publicado anteriormente e o que tenha sido publicado depois.

Um marco importante para o trabalho dos integrantes da rede Índios Online

foi a representação nos anos de 2009 e 2010 no Campus Party Brasil, evento

realizado anualmente em São Paulo desde 2008. A exposição, realizada no mês de

janeiro, reúne novidades, grupos, palestras, debates, oficinas, tudo relacionado à

Internet ou às novas tecnologias. Nas duas edições em que participou do evento, o

Índios Online manteve um estande próprio com exibição de vídeos, materiais e

conteúdo sobre o projeto. Durante os dias do evento, é feita uma cobertura diária,

pelos próprios indígenas, de tudo o que acontece por ali, além de suas impressões

particulares de tudo o que foi apresentado. No ano de 2009, por exemplo, quando o

Campus Party deu destaque especial às mídias digitais móveis, o Índios Online

aproveitou para promover a iniciativa Celulares Indígenas, além de apresentar

palestras e entrevistas sobre o tema. Naquele ano foram ao Campus Party sete

integrantes da Índios Online, seis da Bahia e um da Paraíba. A viagem e a estadia

em São Paulo, no período do evento, foi concedida pela própria organização do

Campus Party e pelo MinC.

2.3 A presença indígena na Internet

O portal Índios Online, que de abril de 2004 até o dia 11 de outubro de 2010

registrara 1.866.860 acessos, é considerado uma inovação entre os meios de

comunicação digital feitos por e para os povos indígenas, pois ao contrário de outras

tentativas postas em prática anteriormente, o site permite o uso e associação de

ferramentas colaborativas, onde qualquer usuário de postar, enviar informações ou

colaborar, numa integração até então não experimentada na comunicação entre

indígenas (PEREIRA, 2008). A presença indígena na Internet, embora relativamente

pouco expressiva, tem se mostrado cada vez mais crescente, especialmente no

Brasil. Em levantamento realizado no mês de setembro de 2008 por Eliete da Silva

Page 40: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

38

Pereira foi calculado um total de 39 sites brasileiros voltados para o público

indígena, alguns infelizmente até já desativados.

No Brasil, os primeiros registros de participação indígena na Internet datam

de 2001, e de lá para cá essas manifestações se multiplicaram em sites, blogs,

comunidades virtuais e portais. O portal, como é o caso da rede Índios Online, se

difere dos sites comuns exatamente pelas múltiplas funções e possibilidades de

interatividade e comunicação entre usuário e produtor de informação que oferece.

Os participantes da rede podem se comunicar de qualquer distância em tempo real

(via chat, por exemplo) e pela troca de mensagens e comentários simples. Segundo

os dados da pesquisa de Pereira a presença indígena na Internet pode ser escalada

do seguinte modo: 70,27% de sites; 27,02% de blogs e 2,70% de portais,

equivalente à rede Índios Online. Desses, 56,7% utilizavam serviços de hospedagem

de sites gratuitos e 43,25% domínios de sites pagos.

No total são 48,64% dos sites em plena atividade e atualização, embora esta

seja uma tendência crescente. Em 2008, 70,27% dos sites exploravam recursos de

interatividade. A Internet se tornou um importante ambiente interétnico e de

(re)formulação étnica não só para os indígenas, mas para todos os povos muitas

vezes considerados “excluídos”, à margem do contexto social. 62,71% dos sites e

portais de atuação indígena no Brasil são gerenciados por organizações derivadas

das próprias aldeias, de abrangência nacional, regional ou local. Isso demonstra o

quanto o ambiente digital tem sido visto e desenvolvido como meio propício à luta

por direitos, instrumento de reivindicações políticas e visibilidade étnica perante a

sociedade global.

Aos poucos, essas organizações se aperfeiçoam no serviço de gestão de

informação e boa utilização dos recursos disponibilizados, criando mais experiência

e tomando consciência de como a comunicação pode servir positivamente aos

movimentos sociais. A atuação indígena na Internet, como vimos no exemplo do

projeto Arco Digital, vem associada a outras iniciativas de políticas públicas em

áreas como a saúde, educação, conscientização ambiental e uso de informática.

Portanto, é válido dizer que a inclusão digital nas aldeias reflete em benefícios e

desenvolvimento para toda a comunidade, que consequentemente propiciam o

incremento da experiência indígena na Internet. O protagonismo indígena

identificável nos sites, portais e mesmo em redes sociais de relacionamentos (como

o Twitter e em comunidades virtuais do Orkut) permite que esses indivíduos

Page 41: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

39

exerçam sua cidadania de forma mais atuante, ativa e consciente: fiscalização da

gestão pública de recursos destinados às populações indígenas, denúncias contra

violação de direitos indígenas, articulações de apoio entre povos indígenas e não

indígenas para ações específicas em rede, direito à voz e acesso ao conhecimento.

Observa-se um amadurecimento constante do movimento indígena e

crescimento no número e na diversidade de organizações nativas, dirigidas pelos

próprios índios, que buscam cada vez mais participar na formulação e execução das

políticas para os povos indígenas. Além disso, organizações não-governamentais

(ONGs) têm aumentado sua participação na formulação e execução de políticas

indigenistas, função antes atribuída exclusivamente ao Estado brasileiro. A rede

digital é importante também como instrumento político para as tribos indígenas, pois

é um bom instrumento de reforço e difusão de ideias de identidade, o que aumenta a

responsabilidade das organizações indígenas em difundir ideias para a obtenção de

ações e conquistas políticas justas. Enfim, a rede digital abriu, como define Yakuy

Tupinambá, do Índios Online, novas possibilidades para a comunidade indígena em

todas as áreas:

A internet promoveu a abertura de horizontes – contrariando o pensamento de uma grande maioria interessada em nos manter amordaçados – trouxe-nos novos significados, sem que isso implique no abandono das nossas tradições. Devolvendo nossas vozes, que foram caladas por muito tempo, coberta pelas vozes dos que julgam especialistas. Conectar-se ao mundo através da internet é ter direito a ter um rosto, e fazer ouvir nossa voz é saber dos acontecimentos e interesses que envolvem toda a humanidade. Através desse mecanismo tecnológico conseguimos perceber uma janela para o mundo, a tão sonhada inclusão dos Povos Indígenas, como sociedade fundamentada, negada há décadas e décadas. (YAKUY TUPINAMBÁ, 2008).14

A presença indígena na Internet é importante não só para apresentar o

cotidiano dessas tribos a um público mais extenso, mas também para que as

comunidades possam redefinir e atualizar a imagem que tem deles mesmo, e a que

querem passar a outros usuários indígenas e não indígenas. Esse processo de auto-

1 4O depoimento de Yakuy Tupinambá foi extraído do artigo Ciborgues Indí[email protected]: entre a atuação nativa no

ciberespaço e as (re)elaborações étnicas indígenas digitais, de Eliete da Silva Pereira, publicado no ano de 2008.

Page 42: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

40

representação resulta num processo de fortalecimento cultural, elevando a auto

confiança desses povos muitas vezes tão sufocados por estigmas e preconceitos. O

fortalecimento cultural é justamente o conjunto da prática representativa, da atuação

dos grupos indígenas na rede. A presença dos índios no ambiente de comunicação

digital mostra formas de compartilhamento de significados que rompem, pelo menos

em parte, a dependência desses indivíduos em relação a instituições

governamentais incumbidas de representá-los, oferecendo uma visão particular e

livre desses grupos.

A ação comunicativa na rede digital tem resultados no modo em que esses

grupos são vistos pela sociedade não indígena e no modo como eles mesmos se

veem e se definem em rede. Um dos resultados dessa expansão da participação e

representação indígena na rede digital é demonstrado ativamente através da rede

Grumin, de representação de mulheres indígenas. A rede Grumin surgiu oficialmente

no ano de 1987, e foi fundada por Eliane Potiguara em cima da experiência de vida

de sua avó, Maria de Lourdes de Souza, índia nascida na Paraíba cuja história é

marcada pela sobrevivência física, moral e étnica. Eliane ainda é conselheira do

Instituto Indígena de Propriedade Intelectual (Inbrapi) – órgão promotor da defesa de

bens e direitos relativos ao meio ambiente e ao patrimônio intelectual dos povos

indígenas - e coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet.

A Grumin atua basicamente na defesa dos direitos dos povos indígenas,

oferece projetos de capacitação e formação para mulheres em diversas áreas, atua

em parceria com diversas entidades de defesa do meio ambiente e movimentos

sociais, além de difundir informação sobre as ações do órgão através do portal

Grumin Online15 (figura 9). O Grumin dá prioridade e assistência a mulheres

indígenas ou afrodescendentes, de alguma forma excluídas socialmente. O site do

projeto Grumin, além de explicar as ações, objetivos, parceiros e iniciativas do

grupo, publica notícias referentes ao universo e às conquistas sociais, políticas e

culturais dos negros e indígenas, especialmente as mulheres, com espaço aberto

inclusive para comentários dos internautas.

Além dessas iniciativas, o Instituto Socioambiental (ISA), ONG criada em

1994 que incorpora o patrimônio do Programa Povos Indígenas no Brasil do Centro

Ecumênico de Documentação e Informação (PIB/Cedi), e o Núcleo de Direitos

Indígenas (NDI), do Ministério da Justiça, em Brasília, também têm desenvolvido

1 5

http://www.grumin.org.br/

Page 43: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

41

trabalhos importantes na divulgação e preservação da cultura indígena. Todos esses

projetos estimulam e convergem para uma maior inserção e associação de todos os

grupos sociais considerados marginalizados ou não.

Figura 9

Cada um deles, a sua maneira, com os recursos e apoio disponíveis, são

exemplos de como a rede digital, a Internet, pode ser campo fértil na prática da

comunicação popular. Com estrutura material disponível e gerenciamento adequado,

é possível administrar e expandir um projeto de comunicação de qualidade voltado

às comunidades, sem dependências governamentais e empresariais que aprisionem

e restrinjam a prática comunicacional. E esse trabalho bem sucedido reflete em

conquistas para toda a comunidade, não só em relação à comunicação, mas em

vários âmbitos. Na interação com as modalidades de comunicação digital, o

protagonismo indígena assume formas criativas em que o diálogo intercultural não é

mediado por instituições indigenistas que antes eram as únicas mediadoras. Em

muitos momentos essa independência dessas instituições possibilita que os próprios

indígenas exponham suas críticas em relação às entidades governamentais que os

representam. Para os próprios indígenas, no exemplo da rede Índios Online, a

criação e desenvolvimento do projeto beneficia principalmente pelo intercâmbio

Página inicial do portal da rede Grumin (16 de outubro de 2010)

Page 44: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

42

cultural, a troca de experiências entre os integrantes da rede. O que antes só podia

ser discutido, debatido e compartilhado através de encontros pessoais, de forma

muito limitada, a Internet ajudou a transformar para melhor.

A Internet propicia um trabalho autônomo de comunicação e a não-

interferência de instituições e órgãos majoritários, que poderiam acabar “desviando”

o foco das necessidades e anseios dos povos indígenas também é vista como um

ponto positivo oferecido pelo ambiente da rede digital. Pela conexão e interação via

Internet os povos indígenas divulgam seus valores e pontos de vista para o mundo

formando redes de apoio, conhecendo pessoas, construindo relacionamentos e se

fazendo presentes além das aldeias e espaços territoriais demarcados. Como

explica Yakuy Tupinambá:

Novas realidades são construídas, sem que isso implique abandono de nossas tradições. Toda a sociedade se move, se expande, enquanto a nossa tem que permanecer fixa, imutável, para atender à necessidade de uma saudade da tradição? Tradições são sistemas intelectuais dinâmicos capazes de mudar... conectar-se ao mundo através da Internet é ter direito a ter um rosto e mostrar nossa voz. É saber dos acontecimentos e interesses que envolvem toda a humanidade. Fazemos parte desse contexto. (Idem, 2008).

Em artigo publicado por Rodrigo Diego dos Santos (Rodrigo Makuxi) no dia 29

de setembro de 2010, integrantes da rede expõem suas opiniões em relação ao

trabalho do Índios Online como um movimento social indígena e as parcerias futuras

(ou já realizadas) com organizações de iniciativas semelhantes dispostas a ajudar

de alguma forma (principalmente na questão estrutural) no desenvolvimento da rede:

RODRIGO MAKUXI - 'Quanto mais parcerias tivermos dos nossos parentes será muito melhor, pois é nelas que estão e saem as demandas do que realmente acontecem em nossas aldeias e comunidades indigenas. E nisso também ajudara a ficarmos muito mais autonomos contando com o apoio de cada uma delas. E rede ajudara a circula as necessidades e outros parentes puderam dar ideias. E sobre a reflexão acho que não diretamente mas a Rede Indios Online é sim movimento que esta se repercutindo no brasil.' ALEX MAKUXI - 'Somos sim um movimento social indígenas. E isso está nas petições on line que fazemos. No apoio, quando fazemos matérias sobre o que acontece nas aldeias e nos estados. Mais de certa forma também estamos distantes. E acredito que com essa parceria podemos sim estar cada dia mais presentes nos movimentos sociais indígenas, e da

Page 45: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

43

mesma forma que contribuimos com cada uma elas também contribuem com a rede' FABIO TITIÁ - 'para que serve o indios online se não poder ajudar o seu povo. Para que servem a internet para nós classe em grande parte excluida, vivendo em situações desumana, se não for para mostrarmos a realidade e buscar ajuda pelo o mundo afora, que tem senso de justiça. Indios Online, é preciso que nos fortalecemos para ajudar o nosso povo no momento certo, ou seja está presente na hora certa seja fisico ou em espirito. A nossa rede está sendo motivada a fazer de fato o papel de um índio online. Parabens parentes todos são felizes nos seus texto, bola para frente, rumo em defesa de nossos direitos.' (SANTOS, 2010)

Pelos depoimentos apresentados, é possível avaliar a relevância que o canal

Índios Online tem como ferramenta de comunicação e desenvolvimento geral das

comunidades para os povos indígenas. As parcerias com instituições de interesses e

objetivos semelhantes ajudam na expansão dessas redes, contribuindo para uma

independência maior e atividade mais eficiente. A iniciativa do projeto Índios Online

também ajuda a aproximar essas pessoas e organizações, muitas vezes

geograficamente distantes, levando mais eficiência ao trabalho da rede. A Internet

representa uma voz para os povos indígenas, uma forma de serem incluídos e

expressarem sua diferença, possibilidade de auto representação sem a mediação de

nenhuma instituição. As transformações culturais desde o período colonial,

passando pelo etnocídio e esquemas de assimilação e mistura, até as mudanças

sofridas durante esses processos não provocaram uma perda ou desaparecimento

das referências étnicas indígenas por esses sujeitos e grupos.

A luta dos indígenas pelo direito à assistência e demarcação de terras passa

pela intermediação comunicativa, seja na divulgação de denúncias e reivindicações

por meio da rede, seja pelo contato com pessoas e apoiadores envolvidos com a

questão indígena. A rede digital serve como um recurso essencial para auto

desenvolvimento dos povos indígenas participantes, ávidos em buscar novos

caminhos com o estudo de formas alternativas de sustentabilidade. A Internet atesta

uma permanente e ativa presença indígena, num contexto muitas vezes de

invisibilidade étnica por parte do próprio Estado. Ainda há o que se fazer no sentido

da inclusão indígena no uso das tecnologias digitais, como lembra Potyra Tê

Tupinambá: “Este mundo (das tecnologias) já está presente em nossas

comunidades. No Brasil existem duas realidades indígenas distantes. Os índios da

Page 46: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

44

Amazônia estão, de fato, mais isolados. Mas no restante do país estamos muito

próximos da urbanidade” (INDÍGENAS DIGITAIS, 2010). 16 Porém a atual presença

indígena na Internet, cujo principal expoente é a rede Índios Online, mostra que com

investimento estrutural adequado (incluindo incentivos por parte do próprio governo

ou de outras organizações) e boas iniciativas de criação e participação é possível

expandir e aprofundar espaços comunicacionais e de convivência social não só

entre os povos indígenas, mas para todos os grupos comunitários de alguma forma

excluídos socialmente.

A presença indígena na Internet representa a capacidade de se integrar

diferentes pontos de vista nesse novo espaço social que promove uma nova

sociabilidade, interativa e flexível, movida por fluxos comunicativos. As ações dos

sujeitos e movimentos sociais em geral incorporam as transformações

comunicativas da sociedade, organizadas e amplificadas na rede e na virtualidade.

Essa sociabilidade na rede promove novas espacialidades públicas. Novas formas

de interação social com a Internet têm como base a própria noção de comunidade,

já existente no cotidiano. As relações digitais afetam diretamente as configurações

dos relacionamentos do dia a dia: os sistemas informativos e a circulação de

informações em tempo real transformam continuamente os cenários sociais, dando

novo significado a práticas e atuações. E este é um processo cujos limites ainda são

desconhecidos, considerando que a cada geração novas potencialidades e

utilidades para a Internet na comunicação e na sociedade vão surgindo, sem um

limite de alcance muito definido.

1 6

Depoimento extraído do documentário Indígenas Digitais, lançado no início de 2010.

Page 47: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

45

CAPÍTULO 3

A COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIA NA INTERNET

A prática da comunicação comunitária vem desde suas origens, a partir dos

movimentos sociais da década de 1970, como um contraponto às mídias

empresariais, meio de resistência e de manifestação desses grupos. A comunicação

comunitária é uma das denominações para comunicação popular, participativa,

horizontal ou alternativa, entre outras expressões, para se referir ao processo

comunicativo levado a efeito por movimentos sociais populares e organizações sem

fins lucrativos da sociedade civil (PERUZZO, 2008). Ainda hoje ela tem como uma

de suas mais marcantes características os relacionamentos baseados na coesão,

convergência de objetivos e de visão de mundo, interação, sentimento de pertença,

participação ativa, compartilhamento de identidades culturais, co-responsabilidade e

caráter cooperativo. Como recorda Peruzzo:

A história dos movimentos sociais populares revela que uma carência, num primeiro momento sentida individualmente, pode vir a contribuir para uma ação conjunta, num processo de transição da consciência-organização-articulação-ação para uma demanda coletiva. A satisfação de certas necessidades passa de sua apreensão enquanto direitos individuais para sua compreensão com direitos da pessoa humana e de todos os que estão na mesma situação. (PERUZZO, 1998, p. 61).

É importante lembrar que, embora a autora em questão defina os conceitos

de comunicação popular e comunitária praticamente como sinônimos, uma análise

mais aprofundada aponta especificidades de cunho ideológico e mesmo na atividade

prática referente aos termos apresentados. A comunicação popular, por exemplo,

tem relação direta com os conceitos de cultura popular e multidisciplinaridade

(PEREIRA, L. H., 2008). Isso porque ela se baseia nas experiências de vida dos

grupos sociais, suas diversidades, anseios e necessidades. Considera-se também o

fato de que muitas vezes a expressão “comunicação popular” acaba sendo

apropriada pelos grandes meios de comunicação, definindo uma espécie de

comunicação voltada diretamente à comunidade, embora praticada por empresas de

mídia comerciais.

Page 48: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

46

Neste caso, o termo se distancia muito do conceito original de comunicação

comunitária definido por Peruzzo, que tem o povo como principal protagonista da

ação comunicativa. E na prática este seria o mais relevante diferencial entre as duas

expressões. A comunicação comunitária é desenvolvida como experiência

comunicativa e prática social dentro de uma comunidade promovendo a manutenção

da cidadania através de práticas participativas. Os integrantes da comunidade,

participantes ativos de todas as etapas processuais dessas experiências, passam a

construir uma nova sociabilidade de certo modo fortalecendo e alimentando a

disputa pela hegemonia (contra as grandes empresas, os monopólios de mídia) no

campo da comunicação (MIANI, 2006).

Não só os movimentos sociais, mas também as Organizações Não-

Governamentais (ONGs), centros e institutos de assessoria e educação popular,

enfim, qualquer instituição sem ligação empresarial ou governamental está aberta a

utilizar os meios de comunicação de forma alternativa como força de manifestação e

protesto. Normalmente esses meios alternativos e comunitários atuam como forma

de denúncia, articulação social, conscientização e divulgação de conteúdo sobre o

cotidiano de determinados grupos, que muitas vezes não recebem a devida atenção

das grandes mídias.

No meio desses movimentos populares são desenvolvidos valores de

igualdade, luta pelos direitos, democracia, autonomia e solidariedade. Os integrantes

de um grupo podem compartilhar carências e necessidades semelhantes, embora

sejam seres individuais, com históricos de vida e interesses particulares. Nas

experiências de caráter popular-comunitário, a finalidade, em última instância, é

favorecer a autoemancipação humana e contribuir para a melhoria das condições de

existência das populações empobrecidas, a fim de reduzir a pobreza, discriminação,

violência etc, avançando na equidade social e no respeito à diversidade cultural

(PERUZZO, 2008). A autora recorda que a prática da comunicação comunitária é

resultado dessa demanda dos movimentos e grupos sociais - um modo de

preencher suas necessidades - cuja atuação é normalmente voltada para a questão

da mudança social. A conquista do direito à comunicação serviria como uma espécie

de mecanismo facilitador das lutas pela conquista de direitos de cidadania.

A prática da comunicação comunitária, ao contrário dos grandes órgãos de

mídia, não se submete a interesses empresariais, sem buscar lucro econômico e

com interesses ideológicos e políticos firmes e bem apresentados, caso existam.

Page 49: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

47

Fato é que as práticas de comunicação popular e comunitária, com o passar das

gerações, o desenvolvimento e expansão dos meios de comunicação e a

conscientização e crescimento dos próprios movimentos, passaram a ganhar cada

vez mais espaço em veículos impressos, radiofônicos, televisivos e mesmo nas

novas tecnologias digitais.

A comunicação comunitária é realizada de acordo com os recursos e

conforme as necessidades e a realidade sentida por cada grupo. Nela, os interesses

e objetivos de seus grupos criadores podem ser observados não só pelo conteúdo

produzido, mas também na forma como a informação é distribuída e apresentada ao

público. No caso do portal Índios Online, por exemplo, vemos que mais do que o fato

do material ser produzido diretamente pelos próprios indígenas, são relevantes as

formas de interação com o público externo e os recursos de mídia utilizados.

Entre as marcas da comunicação popular, comunitária e alternativa atual

estão a agregação de formas inovadoras de comunicação e a continuidade de

outras experiências de cunho comunitário e alternativo (PERUZZO, 2008). A partir

do início do século XXI, a comunicação comunitária começou aos poucos a

descobrir os meios digitais e suas potencialidades. A Internet e os meios digitais

proporcionaram uma possibilidade até pouco tempo atrás impensada: a de estender

seu conteúdo e sua produção para muito além de um limite geográfico restrito. Tudo

isso, como veremos mais adiante, de modo ágil, sem altos custos e explorando ao

máximo a interatividade, a relação com o próximo. Muitas vezes, como recorda

Cicília Peruzzo, os segmentos organizados das chamadas classes subalternas não

têm acesso a veículos para transmissão em rádio e TV, pois falta estrutura. Com a

expansão da rede digital e da inclusão digital – como os pontos de acesso à Internet

públicos e redes de conexão sem fio – tornou-se mais fácil e acessível produzir e

pesquisar conteúdos na rede.

Isso não significa que as iniciativas de comunicação comunitária não sejam

viáveis no rádio ou na TV, por exemplo. O fato é que pelo menos no Brasil o

incentivo quanto a esse tipo de meio de comunicação ainda é considerado um tanto

burocrático, e a falta de recursos também prejudica essas iniciativas. Peruzzo

recorda limitações como a baixa abrangência desses veículos, tanto no caso dos

impressos quanto das ondas de rádio e TV; a falta de uma formação adequada, uma

habilitação e prática no uso dos equipamentos necessários para esses tipos de

transmissões; a falta de estrutura física e financeira para manter esses projetos.

Page 50: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

48

Além disso, a luta pela legalização – junto ao Ministério das Comunicações – dos

meios comunitários radiofônicos ainda é uma questão urgente e relevante.

Atualmente a demanda seria agregar as possibilidades comunicativas das novas

tecnologias sem desprezar os meios mais tradicionais.

Na comunicação comunitária o indivíduo participa ativamente de todas as

etapas do processo comunicativo, desde a produção de conteúdos até a gestão dos

meios. Em matéria de conteúdo é possível afirmar que o material produzido na

comunicação comunitária é marcado por um teor essencialmente crítico, sem deixar

de lado a preocupação em informar os fatos. Essa característica pode ser observada

de forma marcante no caso do portal Índios Online. Como define Cicília Peruzzo:

Julga-se a realidade concreta, local ou mais abrangente, tanto em nível de denúncia descritiva quanto de interpretação ou de opinião levantando reivindicações, apelando à organização e à mobilização popular, apontando para a necessidade de mudanças. Tudo isso mexe com a cultura, mesmo que não de forma predominante. Há na verdade incorporação de novos valores, ao mesmo tempo em que se reproduzem outros. (PERUZZO, 1998, p. 156).

A comunicação comunitária também exerce um importante papel social na

área de prestação de serviços públicos de interesse de uma determinada

comunidade, atendendo às suas principais demandas, além de servir como meio de

preservação da memória e da cultura de um grupo. Para Peruzzo, o avanço das

iniciativas em comunicação comunitária pode estimular cada vez mais atitudes

desse tipo: a comunicação popular, à medida que se ampliarem o número de rádios,

televisões e outros veículos a serviço da comunidade estará servindo cada vez mais

à democratização dos meios e do poder de comunicar desses grupos (PERUZZO,

1998). Embora ainda faltem, por parte do governo, políticas de regulamentação

específicas para os meios de comunicação comunitária – o cenário atual demonstra

repressão desses meios e indisponibilidade de recursos – a comunicação

comunitária cava espaços em busca de seu próprio espaço comunicativo, com todos

os recursos possíveis. O incentivo às práticas de comunicação comunitária também

poderia impulsionar uma postura social e política mais democrática, em todos os

sentidos.

Como define Giuseppa Sperillo, numa sociedade em que tecnologia e

velocidade se colocam em evidência nas dinâmicas sociais faz-se necessário pensar

Page 51: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

49

uma nova comunicação nos meios populares (SPERILLO, 2004). A inclusão social

na produção de informação e comunicação seria, de certo modo, uma porta de

entrada para que esses grupos legitimem seus direitos de decisão, participação e

exercício da cidadania. O meio de comunicação escolhido por um determinado

grupo deve levar em conta as condições da comunidade, o tipo de interesse e sua

cultura. Para Adilson Cabral, a Internet se revela atualmente como um meio onde

existe uma possibilidade ativa de participação, a partir de sua capacidade de

articulação e convergência de mídias: textos, imagem e som.

O ciberespaço pode ser apresentado como uma alternativa propícia aos

meios de comunicação convencionais: um espaço aberto de representação e

comunicação independente para os indivíduos. A informação produzida em rede

normalmente não precisa ser submetida a interesses ideológicos externos,

empresariais ou cortes editoriais. Não há monopólio ou força maior que censure o

conteúdo veiculado na Internet (PRUDÊNCIO, 2003). Ela cria um via de mão dupla

na comunicação, pois permite que seus usuários sejam produtores e receptores

ativos de informação, ao mesmo tempo podendo divulgar sua mensagem por toda a

extensão da rede virtual. Foi basicamente essa característica da liberdade de

expressão, muitas vezes sem necessidade de mediações, e o alto grau de

interatividade que ajudaram a Internet a se popularizar, principalmente como palco

de redes sociais e meio de comunicação. A comunicação pela Internet é bastante

conveniente para as camadas populares, grupos e comunidades, pois ao contrário

dos meios de comunicação tradicionais não exige a reivindicação de espaços a

partir da luta pela aprovação de leis democráticas, visando a sustentação legal de

rádios e TVs comunitárias (CABRAL, 2004). Além, é claro, de ofertar mais recursos

do que qualquer outro instrumento de comunicação atualmente.

Em sociedades democráticas a Internet é livre de qualquer tipo de censura ou

domínio econômico e empresarial. A partir do momento em que se possui o material

necessário, qualquer informação lançada na Internet é disponível a todos. Portais e

sites de Internet oferecem serviços específicos que prometem agilizar e potencializar

a navegação na rede. As pessoas passam a atuar não apenas como receptoras,

mas como produtoras e difusoras de mensagens. Além de possibilitar a circulação

de mensagens independente de territórios geográficos, tempo, diferenças culturais e

de interesses econômicos, culturais ou políticos, a Internet altera o sistema

convencional de tratamento da informação ao permitir a produção de conteúdos e

Page 52: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

50

sua transmissão, sem limites, por qualquer indivíduo. No entanto, ainda se faz

necessário estimular o uso da Internet entre os grupos comunitários como uma

ferramenta viável de comunicação para as massas.

A manipulação de softwares e arquivos se torna cada vez mais simples e

fácil. Atualmente a indústria da segurança e a própria legislação de direito criminal

têm buscado se adaptar às novas realidades e tecnologias, para impedir e julgar

possíveis fraudes e infrações eventualmente realizadas no campo digital. Adilson

Cabral lembra que, se por um lado esse desenvolvimento e massificação de

tecnologias pode ser identificado como parte de um sistema de produção

empresarial, é válido recordar que são os próprios usuários e programadores que

determinam as tendências de comportamento e utilização da rede. Como afirma o

autor

[...] o uso compartilhado de seus recursos (da rede), nos leva a crer que ao contrário dos meios de comunicação antecedentes, estar na Internet fazendo o uso cada vez mais amplo dela será cada vez mais uma atribuição de todos, do que uma casta de privilegiados ou mesmo de profissionais do setor, visto que tanto o público pode ser concebido como consumidor de produtos e serviços, como incentivador e realizador de projetos cooperativos. (CABRAL, 2004, p.278).

Basicamente, a Internet é um instrumento que permite a reprodução de

comportamentos e atitudes comuns do cotidiano no meio digital: as relações sociais

via rede digital de certa forma são uma espécie de reconfiguração das relações do

dia a dia, com normas de comportamento e estrutura diferentes. O ambiente de

interação, convivência e compartilhamento de informações digital, também

apresentado pelo filósofo Pierre Lévy como ciberespaço, é considerado o mais

inclusivo de todos os meios de comunicação. Para Dênis Moraes (2003) o

ciberespaço, mais do que permitir a livre expressão para seus usuários com um grau

de acesso à informação nunca visto antes, estimula os cidadãos a adotar uma

postura política e socialmente mais ativa e consciente.

É possível travar debates e discussões com profissionais de diversas áreas,

especialistas, figuras políticas etc. Trocar ideias com pessoas de qualquer lugar do

mundo, com interesses semelhantes ou divergentes. Essas discussões e contatos

em rede podem incentivar no cidadão o protagonismo político e social numa

comunidade do cotidiano. Por isso a importância de que todos, tanto o representante

Page 53: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

51

da comunidade quanto o líder político descubram, compartilhem e interajam entre si

no meio virtual: para que um sinta a presença, interesse e atuação do outro,

podendo dialogar sobre os mais diversos assuntos e, desse modo, trocar

conhecimentos e também exercer cidadania.

Pessoas sem maior experiência ou conhecimento de programação podem

facilmente utilizar funções de busca de informações na Internet ou envio de

mensagens eletrônicas. Empresas e sites especializados oferecem informação e

estrutura que permitem a qualquer indivíduo criar uma página pessoal na Internet,

para publicação de todo tipo de conteúdo. A emergência desse ciberespaço,

segundo Pierre Lévy, é a representação do contraponto aos veículos de

comunicação de massa. A Internet se expandiu comercialmente no Brasil a partir da

década de 1990, superando as barreiras do universo acadêmico e se estendendo a

todos os setores da sociedade. E neste momento de revolução tecnológica e

ascensão de inclusão digital, embora muito ainda precise ser realizado, é que a

mídia digital se caracteriza como um dos meios mais promissores de comunicação

comunitária.

Enfim, é importante recordar que o texto, o conteúdo digital, exige que sejam

exercitadas novas habilidades pelo usuário. A questão é que o conteúdo antes

publicado apenas nos meios impressos, televisivos e radiofônicos precisa ser

adaptado para a Internet, para a tela do computador. A estrutura da página, do portal

da Internet, juntamente com seus links (ligações, interconexões entre páginas

diferentes) e recursos que facilitem a interação do usuário com o site, pode ser

definido como hipertexto. As informações, os links são bem amarrados, numa

estrutura não-linear, que oferece várias possibilidades e caminhos de leitura para o

usuário. O leitor pode criar o seu próprio percurso ao longo dos textos, retornando

ao ponto que desejar de forma fácil e quantas vezes quiser (BUGAY; ULBRICHT,

2000).

A história registra que o termo hipertexto foi utilizado pela primeira vez por

Ted Nelson, na década de 1960. Originalmente o termo designa o desejo de se

manter os pensamentos em estrutura multidimensional, e não sequencial. É o

hipertexto que faz com que a própria Internet seja concebida como uma rede, uma

teia infinita de informações que se interligam, com milhares de possibilidades de

navegação. Ícones ou botões que executam ações no hipertexto assim que clicados,

barras de rolagem de texto, que permitem a leitura de grandes extensões textuais de

Page 54: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

52

forma prática na tela do computador, além dos links contidos em textos que

encaminham o usuário para outras páginas; todos esses recursos contribuem para

uma navegação mais agradável e maior interatividade entre site e usuário.

De acordo com Lúcia Leão (1999) o leitor cria sua própria trilha pelos

caminhos do hipertexto. Aqueles que programam e produzem conteúdo para a

Internet, especialmente os meios de comunicação, devem pensar e cuidar para uma

estrutura de hipertexto balanceada, que permita boa interatividade, seja atraente,

inovadora, prática e agradável ao leitor. Um documento, uma página construída de

forma clara e bem estruturada evita que o usuário se perca em meio a toda

informação disponibilizada, e assim perca também o interesse. O texto pensado

para a Internet deve, basicamente, priorizar a concisão, a clareza e a praticidade. O

usuário da rede deseja encontrar a informação que procura da forma mais ágil e

precisa possível, e a leitura é quase sempre feita de forma ágil (MARTIN, 1992).

A questão da inclusão digital, da democratização do acesso e capacitação

dos indivíduos ao uso da Internet e dos demais recursos de informática é um entrave

que, aos poucos, vem sendo superado. Com o surgimento crescente de programas

de computador de uso gratuito, pontos de acesso livre em escolas, bibliotecas e

locais públicos disponibilizados pelo próprio governo e o incentivo em projetos e

cursos gratuitos de aperfeiçoamento em informática (muitas vezes com ajuda de

recursos de empresas privadas) que promovem a acessibilidade e a inclusão, os

movimentos sociais encontram medidas propícias para utilizar esses recursos na

comunicação, sem perder seu foco e objetivo na cidadania. A necessidade é

despertar o interesse dos grupos, a consciência do potencial que a Internet pode

trazer não só como meio de expressão e representação, disseminação e

fortalecimento de elementos da própria cultura, mas de acesso a praticamente todo

tipo de conteúdo desejado e mesmo ainda desconhecido, enfim, de um meio de

comunicação realmente “revolucionário”.

Além disso, é importante buscar novas medidas de superação dos problemas

de falta de acesso e qualificação de indivíduos para a utilização básica da Internet.

Trata-se aí não apenas de uma questão de inclusão digital, mas de uma inserção

social, política e cultural entre os indivíduos de diferentes esferas sociais em um

novo meio comunicativo e de troca de experiências. Estimular enfim a

independência desses cidadãos em relação à Internet, para que eles possam utilizar

Page 55: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

53

todos os recursos possíveis da rede na comunicação, expressão de ideias e

relacionamento com outros indivíduos.

Page 56: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

54

CAPÍTULO 4

A WEB BRASIL INDÍGENA E O PROJETO ESPERANÇA DA TERRA

É importante lembrar que a atuação da rede Índios Online na Internet não se

limita somente ao portal Índios Online. Vimos anteriormente que muitos projetos

desenvolvidos por grupos indígenas, e hoje representados na rede digital, como o

Retomada Tupinambá e o projeto Grumin, tiveram para isto apoio e iniciativas de

membros da rede Índios Online. Além do portal Índios Online, já analisado, o projeto

também rendeu frutos mais diretos ao longo de sua trajetória, que por sua vez

ajudam a multiplicar e explicar a importância do uso da Internet e da interação no

ciberespaço para as comunidades indígenas. Destacaremos aqui as respectivas

iniciativas: o site Web Brasil Indígena, de 2007; o projeto Esperança da Terra, de

2009 e o documentário Indígenas Digitais, do início de 2010, todos sob orientação e

desenvolvimento da ONG Thydewá.

O Esperança da Terra17 (figura 10) é uma rede de compartilhamento de

informações, de culturas e diálogo entre os mais diversos grupos indígenas. O

programa busca dar apoio às práticas que incluem cruzamento de saberes,

cidadania, protagonismo indígena, juventude, eco-alfabetização, tecnologias de

informação e comunicação, bioconstrução, sustentabilidade, ciberativismo, cultura

de paz, intercâmbios, consciência planetária, plantas medicinais, agroflorestagem,

comunidade colaborativa de aprendizado, inteligência e diversidade. O projeto conta

com 300 membros cadastrados atualmente, e sua prioridade é justamente

compartilhar conhecimentos ligados ao meio ambiente e ao cotidiano indígena.

No total, são 12 grupos atualmente integrados no Esperança da Terra. Eles

atuam em áreas como liderança comunitária, trabalhos e iniciativas ligados a grupos

indígenas, ecologia e meio ambiente. O Esperança da Terra foi idealizado por

Sebastián Gerlic em 2007, mas a iniciativa só pode tomar forma a partir de 2009.

Além da Thydewá e Índios Online, o programa ainda conta com o apoio do MinC, do

programa Pontos de Cultura Viva, do GESAC e da Prefeitura Municipal de São José

da Vitória, na Bahia. Cada membro cadastrado na rede (o cadastro é feito

gratuitamente no site) tem uma porta aberta de comunicação e integração com os

demais participantes. É possível postar conteúdos no site, vídeos, fotos, e

1 7

http://esperancadaterra.ning.com/

Page 57: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

55

compartilhar as informações publicadas através de email e redes de relacionamento

como Twitter e Facebook. O material, é claro, deve ser preferencialmente

relacionado à temática abordada pelo Esperança da Terra.

Figura 10

Cada membro mantém seu próprio perfil no site, onde pode publicar as

informações que desejar para que sejam acessadas pelos demais usuários. Há links

específicos para que o integrante convide outros membros, através de email, e

páginas organizadas pela ordem dos vídeos, fotos e textos já publicados no site. É

possível também divulgar eventos a serem realizados na sua região. Aos usuários

não cadastrados, também é livre a postagem de comentários sobre os conteúdos

publicados. Além disso, o portal do Esperança da Terra conta com um sistema de

bate papo (chat) simples, de estrutura semelhante ao modelo daquele incluído no

Índios Online: as caixas de texto, listagem de membros conectados, botão de

volume sonoro e emoticons que podem ser enviados. Também é possível visualizar

um mapa com localização para a cidade de São José da Vitória, “sede” do

Esperança da Terra.

Página inicial do portal do grupo Esperança da Terra (13 de outubro de 2010)

Page 58: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

56

O projeto Web Brasil Indígena foi gestado ainda no início de 2007 por

Anápuáka Muniz Tupinambá Hãhãhãe, jornalista, programador e integrante da rede

Índios Online. Na época, ainda batizado como Web Rádio Brasil Indígena, o site

tinha estrutura e organização simples e servia como canal de divulgação de notícias

relativas aos direitos e mobilizações sociais dos povos indígenas, cidadania, cultura,

passado histórico, educação, além de iniciativas na área de comunicação e

desenvolvimento (digital ou não) em benefício dessas comunidades. Enfim, trata-se

de um canal de informação, prestação de serviços e especialmente de interatividade

para os grupos indígenas. Com mais de 300.000 acessos registrados, a Web Rádio

Brasil Indígena também incluía um canal de bate papo através do sistema gratuito

Skype 18, que uma vez instalado no computador permite a conversa instantânea via

áudio e vídeo com qualquer usuário também conectado no sistema.

A Web Rádio Brasil Indígena, assim como a rede Índios Online, também deu

importante destaque ao Campus Party 2009, evento no qual pode participar

diretamente. Foi aproximadamente nesse período, no final do ano de 2008, que o

site foi reformulado e ganhou o nome de Web Brasil Indígena que carrega até hoje.

Com a parceria da professora de artes visuais e paisagista Rosane Farias, o site foi

visual, estética e estruturalmente reformado, a fim de renovar e agilizar a estrutura e

acessibilidade do mesmo. Foram seis meses de preparação para a recriação do site,

segundo Anápuáka. Ele destaca o longo, porém satisfatório, trabalho de elaboração

do portal, cuja principal meta é justamente ser um canal de representatividade e

comunicação aos povos indígenas. O conceito da representação social,

fortalecimento da cultura tradicional, cidadania e justiça para os povos indígenas,

além de novas descobertas úteis ao desenvolvimento desses povos, em todos os

sentidos, permanecem fortes como bases do trabalho da Web Brasil Indígena:

Não nos interessa a nós veicular produtos culturais que não seja exclusivamente da visão de quem o faz ou pratica cotidianamente; e trabalhar acima de tudo em prol de uma sociedade mais humana, compreensiva e justa. Poder viabilizar encontros com nossas origens indígenas, mesmo que seja em 1%. Este conceito de “ninguendade” pode ser muito perverso pelo ponto de vista social e politico, ja que a miscigenação sucessiva leva a falta de pertencimento do indivíduo a um determinado grupo ou cultura. A veiculação desta cultura viva nos meios midiáticos nos possibilita um encontro de nossas origens, como também um processo de descobertas de

1 8

http://www.skype.com/intl/pt-br/home

Page 59: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

57

questões relevantes ainda desconhecidas por falta de facilitadores na busca destes conteúdos. (Anápuáka Muniz Tupinambá, 2010). 19

A Web Brasil Indígena tem como meta a construção de uma rede social

colaborativa que gere conteúdo tecnológico comunitário, de conhecimento, cultural,

informativo e de compartilhamento com povos indígenas e não indígenas. A

capacitação e conscientização dos indígenas (e da comunidade em geral) para

utilização das novas tecnologias como meio de expressão livre, voltado por e para o

próprio cotidiano das aldeias e dos índios, também é objetivo central da rede. A Web

Brasil Indígena também incentiva a prática da produção de conteúdos em texto,

vídeo e fotos pelos indígenas; possibilita o resgate do patrimônio cultural e

informativo dessas etnias e a comunicação ampla com aldeias e indígenas de todo o

país.

Trata-se de mais uma iniciativa útil que habilita esses povos a difundirem suas

ideias, visões e cotidianos em um nível extremamente amplo, perpetuarem suas

culturas para novos públicos, enfim, alcançarem um universo comunicativo e

informacional praticamente ilimitado. Ainda no início, quando era a Web Rádio Brasil

Indígena, foi desenvolvido um projeto de integração de mídias indígenas por todo o

país, a Rádio Brasil Indígena transmitida via Internet. A ideia era que cada aldeia

conectada à Web Rádio, com condições de produzir material em áudio,

disponibilizasse o conteúdo para que este fosse incluído na grade da Rádio, gerando

assim uma mídia de alcance local e nacional produzida pelos próprios indígenas. No

entanto, por limitações técnicas e falta de equipamentos, o trabalho foi encerrado

sem data de retorno definida.

O portal da Web Brasil Indígena 20 (figura 11), além do trabalho de Anápuáka

e Rosane Farias, conta também com a colaboração de Poran Potiguara, (Paraíba),

Yawar Muniz Tupinambá Hãhãhãe, Arakatibé Tupinambá Hãhãhãe, Bekoy Pataxó

Hãhãhãe (Bahia), Xohã Karajá, Niara Fulni-ô (Rio de Janeiro) e Huru Kuntanawa

(Acre). Basicamente o conteúdo é todo voltado à divulgação e compartilhamento de

eventos, protestos, novidades em todas as áreas – da preservação do meio

ambiente aos novos canais de comunicação abertos – desde que o mesmo possa

ser de interesse da comunidade indígena e da sociedade em geral.

1 9

Depoimento recebido por email no dia 05 de outubro de 2010 2 0

http://www.webbrasilindigena.org/

Page 60: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

58

É dado um destaque especial à representação da luta e resistência das

mulheres indígenas e ao cotidiano dos índios que necessitam residir ou trabalhar

nos grandes centros urbanos (inclusão social, permanência de valores,

discriminação e mesmo a abordagem que a sociedade possui e transmite para as

novas gerações sobre os povos e a cultura indígena). Além disso, conta também

com o canal TV Web Brasil Indígena, que nada mais é do que uma série de

programas (disponíveis para visualização segundo a escolha do internauta) de

temática indígena: seu cotidiano, suas culturas, tradições, manifestações, desafios,

meio ambiente etc.

Figura 11

Para Anápuáka, apesar dos esforços concentrados em torno da

administração e sustento da rede, ainda há muito que ser conquistado para que a

Web Brasil Indígena possa funcionar ativamente, 24 horas por dia. Novas parcerias

são buscadas para facilitar e aperfeiçoar essa tarefa. Outro problema é que algumas

aldeias indígenas ainda não têm disponibilidade para acesso constante à Internet.

Por isso mesmo é incentivado que cada um disponibilize uma parte de seu tempo

para colaborar no programa de desenvolvimento comunicativo. Àqueles que

Página inicial do portal da Web Brasil Indígena (13 de outubro de 2010)

Page 61: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

59

puderem colaborar, a Web Brasil Indígena oferece inclusive capacitação para uso e

manipulação de ferramentas de informática e navegação na Internet.

São apenas alguns exemplos, diretamente mais ligados ao trabalho da rede

Índios Online, de como a rede digital pode ser usada como meio eficiente de

comunicação por e para as comunidades indígenas, em nível global. A possibilidade

de livre expressão, da pesquisa, do compartilhamento de informações, do

intercâmbio de culturas e experiências, tudo isso é facilitado a partir do momento em

que se tem acesso ao universo digital. Com um mínimo de habilitação técnica e

estrutura material, qualquer indivíduo torna-se um membro da rede ciberespacial,

fazendo dela o uso que julgar conveniente. Por esse motivo é importante a presença

não só de uma estrutura material adequada para o uso dessas ferramentas de

comunicação, mas de conscientização para o uso da rede, objetivos claros, éticos e

definidos, que de alguma forma representem a comunidade de modo positivo e

proporcionem benefícios ao sujeito e ao seu grupo.

Para Anápuáka, o trabalho da rede Web Brasil Indígena, apesar das

limitações, é positivo especialmente pelo fato do próprio portal se pautar em cima de

material e conteúdo confiável, originário de instituições e pessoas dedicadas e

engajadas no desenvolvimento da comunicação e da cultura indígenas. Além disso o

contato com outras etnias, com o objetivo de mostrar o quão fértil pode ser o

território digital para a articulação, presença e comunicação indígena, também é

visto como um passo para o progresso. Como lembra Anápuáka, “[...] esta terra

binária (a Internet) é de cada indígena e que todos possam utilizar o portal Web

Brasil Indígena para plantar suas reivindicações individuais e coletivas de cada etnia

que ele pertença ou venha a apoiar, já que somos um só povo com 270 culturas

distintas”. O objetivo final, a meta é de que todos tenham acesso e conscientização

do bom uso que podem fazer da rede digital como ferramenta de manutenção da

cidadania e comunicação.

4.1 O documentário Indígenas Digitais

Dentro dos resultados do trabalho de inclusão dos povos indígenas na

comunicação digital, encabeçado pela rede Índios Online e pela Thydewá, é

importante destacar o projeto do documentário Indígenas Digitais (figura 12). O

Page 62: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

60

trabalho executado é curioso tanto em sua temática quanto em sua execução, pois,

além da otimização do uso de recursos digitais na produção do filme, Indígenas

Digitais procura mostrar, na visão dos próprios índios, como a Internet e ferramentas

como celulares, câmeras digitais e computadores têm sido importantes na busca de

melhorias para as aldeias e nas relações das mesmas com o mundo globalizado.

Produzido pela Thydewá e pela Cardim Soluções Integradas, com patrocínio do

governo da Bahia e da empresa de telecomunicações Oi, o filme de 26 minutos

(cortados de um total de 15 horas de material gravado) foi dirigido e filmado por

Sebastián Gerlic. Segundo ele a ideia do projeto surgiu em 2009, com a busca de

parcerias e o incentivo fiscal do projeto Fazcultura, de incentivo a prática e produção

de projetos culturais, financiado pelo governo da Bahia. Representantes das aldeias

indígenas, como Jaborandy Tupinambá e Fábio Baenã Hãhãhãe também tiveram

participação direta em todas as etapas de produção do filme, recebendo apoio

essencial das comunidades.

Filmado com câmeras full HD, com definição de alta qualidade, o curta-

metragem foi produzido com depoimentos de indígenas de várias nações, entre elas

Tupinambá e Pataxó Hãhãhãe, da Bahia; Kariri-Xocó do Alagoas; Pankararu de

Pernambuco; Makuxi de Roraima e Bakairi do Mato Grosso. As gravações

ocorreram entre os meses de janeiro e fevereiro de 2010. Homens, mulheres, idosos

e crianças, todos em meio a suas atividades cotidianas dentro das aldeias relatam a

importância que a Internet, assim como aparelhos celulares, câmeras e

computadores, tiveram em levar as novas tecnologias contemporâneas para mais

perto desses povos e, ao mesmo tempo, servindo como uma nova forma de

expressão para os grupos indígenas. A Internet é usada como forma de

comunicação, de protesto, manifestação e perpetuação dos valores e da cultura

indígena, além de ferramenta para se manter contato com outras culturas e

“parentes”, indígenas da mesma etnia que residam em aldeias de outras partes do

país.

Page 63: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

61

Figura 12

Um meio de comunicação de uso relativamente simples: com orientação e

estrutura adequadas, tanto os mais velhos quanto as crianças indígenas podem

fazer uso do computador e navegar pela Internet. Como explica o índio Jaborandy

Tupinambá:

Indígena digital é aquele índio que se apropria da ferramenta e

faz o uso dela para ajudar a sua comunidade, para estar aproximando a sua comunidade, dar voz à sua comunidade, apresenta tudo o que acontece dentro da comunidade. Mas também tem o índio digital que incentiva aqueles mais antigos a usarem essas ferramentas, a estar aprendendo, que são os

Cartaz de divulgação da pré-estreia do documentário Indígenas Digitais em Salvador - BA (18 de outubro de 2010)

Page 64: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

62

anciões, os mais velhos, que acham que essa tecnologia não é para eles. Esse também é um índio digital [...] Ele sabe a importância que é essa ferramenta dentro da nossa comunidade, ele sabe que nós vamos usar para apoiar a nossa causa, para fortalecer a nossa luta. (INDÍGENAS DIGITAIS, 2010). 21

No documentário, cada índio entrevistado é identificado por seu endereço de

email, dentro da rede Índios Online. Entre um e outro depoimento, as câmeras

mostram os próprios indígenas fotografando ou filmando os entrevistados e o

ambiente ao redor com aparelhos como filmadoras digitais e celulares. No

documentário, no relato dos índios, nota-se o interesse em integrar o uso, o

conhecimento e a habilidade com as novas tecnologias à luta pela defesa dos

interesses e direitos dos indígenas, prática da cidadania, interculturalidade e

inserção na sociedade. Os primeiros contatos com os computadores e a Internet, o

uso da rede como veículo de comunicação, manifestação e contato com autoridades

e serviços governamentais, o protesto e resistência pela posse e demarcação de

terras. Nas palavras da cacique Jampoty, uma das primeiras mulheres a conquistar

o posto de chefe de uma aldeia indígena:

O índio não tem que só estar na mata, caçando, pescando...já não existe mais uma mata para a gente caçar; já não existe mais peixe no rio para a gente pescar. Então a gente agora vai dizer ao mundo que os homens brancos, os grandes latifundiários, destruíram todo o habitat dos indígenas [...] E aí a gente tem avançar conforme a tecnologia vai avançando, a gente tem que avançar pra mostrar ao mundo o que nós precisamos. Nós plantamos, preservamos, mas precisamos estar englobados dentro do mundo, das coisas que acontecem lá fora. (INDÍGENAS DIGITAIS, 2010). 22

Para Jamapoty a Internet é ferramenta útil de participação e integração dos

povos indígenas em acontecimentos globais que fazem parte de seus interesses,

ligados ao meio ambiente, saúde e direitos humanos, por exemplo. É um caminho

de voz para os povos indígenas com o resto do mundo. Os índios desejam ter seus

direitos garantidos e serem inclusos na sociedade das novas tecnologias de

comunicação, porém sem perder suas particularidades étnicas, o respeito por suas

raízes e sua liberdade. Mostrar ao mundo a realidade dos povos indígenas. A

2 1

Depoimento extraído do documentário Indígenas Digitais 2 2

Depoimento extraído do documentário Indígenas Digitais

Page 65: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

63

apropriação da Internet, de câmeras e celulares pelos indígenas seria uma forma de

extensão da história e da cultura desses povos: manter suas ideologias e tradições

sem precisar parar no tempo e usando a rede digital como benefício próprio, de toda

a comunidade, numa atividade definida como ciberativismo. Expor sua realidade e

seus ensinamentos para outras comunidades, com uma verdadeira troca de culturas

e conhecimentos. Como define Yakuy Tupinambá:

A comunicação virtual nos dá condições de falar pela nossa própria voz, semos protagonistas da nossa própria história. O indígena digital é o ciberativista, o etnojornalista, que dá condição de aproximar as culturas, de buscar os direitos, de respeitar a diversidade e fortalecer nossa cultura e nossa tradição. (INDÍGENAS DIGITAIS, 2010). 23

Um caminho de expressão e comunicação alternativo, que as grandes mídias

normalmente não oferecem aos povos indígenas. Quando eles ganham voz,

normalmente são intermediados por organizações ou instituições representantes

como a Funai, de maneira insatisfatória para esses indivíduos. A possibilidade de

comunicação e contribuição social sem a necessidade de se deslocar de seu

território também é vista como grande vantagem na utilização da Internet pelos

índios. Transmitir a realidade dos indígenas para a sociedade, fugindo dos

estereótipos mostrados nos meios de comunicação e nas escolas, nos livros

didáticos, também é uma função considerada importante da comunicação digital

entre os índios. A rede Índios Online, dentro da Internet, serviu não só como forma

de comunicação com a sociedade urbana, mas de diálogo e interação entre povos

indígenas de diferentes pontos do Brasil. Em outras condições, o diálogo direto entre

essas comunidades seria praticamente inviável. A Índios Online proporcionou a

união e integração desses povos em um único canal.

As agressões sofridas pelos indígenas, problemas de infraestrutura nas

aldeias, as queimadas florestais criminosas e a luta dos índios contra fazendeiros

pela reintegração de posse e demarcação de suas terras ganham destaque no

documentário Indígenas Digitais. Em casos como esses a tecnologia é realçada

como forma de aproximação dos indígenas com as autoridades responsáveis pela

administração desses problemas, além de ajudar a realizar denúncias contra essas

irregularidades. O preconceito étnico contra índios e o uso do computador como o

2 3

Depoimento extraído do documentário Indígenas Digitais

Page 66: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

64

“arco digital”, arma e ferramenta dos povos indígenas, também são abordados. O

documentário é interessante também pelo registro do cotidiano das aldeias através

das lentes dos próprios indígenas e entre os depoimentos, apresentando essa

realidade para o público em geral. O trabalho foi traduzido para os idiomas inglês,

francês e espanhol. De acordo com Sebastián Gerlic o documentário foi realizado

justamente para incrementar o diálogo intercultural entre indígenas e não indígenas,

contribuindo para a troca de experiências e conhecimentos.

O filme é exibido até hoje em escolas e institutos para incentivo de debates

sobre o assunto e promoção da cultura indígena, com o objetivo de reduzir o

preconceito e desconhecimento social em torno dessas etnias, de que elas vivem

restritas ao território de suas aldeias. O curta-metragem foi lançado oficialmente no

dia 20 de abril de 2010 através da página Indígenas Digitais24 (figura 13), e também

transmitido em pré-estreias no Rio de Janeiro, em Salvador e nas aldeias das

comunidades indígenas integrantes da Índios Online. No portal do projeto Indígenas

Digitais é possível conferir um trailer, além do próprio documentário na íntegra. Há

links para o portal Índios Online e o site Esperança da Terra.

Figura 13

Página inicial do portal Indígenas Digitais (17 de outubro de 2010)

2 4

http://www.indigenasdigitais.org/

Page 67: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

65

O site do Indígenas Digitais pode ser lido em cinco idiomas diferentes

(português, inglês, italiano, francês e espanhol). Também é disponibilizado um link

para compartilhamento do vídeo via email, Twitter e outras redes sociais e uma

pequena lista com matérias relativas ao documentário publicadas em outros meios

de comunicação impressos e digitais. As matérias são apresentadas em formato

Portable Document Format (PDF) no portal do Indígenas Digitais. Exemplo é a nota

sobre o lançamento do documentário publicada no site do Ministério da Cultura, no

canal do programa Cultura Viva:

Filme mostra a relação de culturas indígenas com a cultura digital No dia 15 de abril, acontece em Salvador (BA), a pré-estreia do curta-metragem Indígenas Digitais documentário que retrata como indígenas de várias etnias brasileiras estão utilizando a tecnologia para troca de informação e aprendizado. O projeto é o resultado da parceria da ONG Thydewá, Ponto de Cultura e Ponto de Mídia Livre Índios Online, com a Cardim Projetos e conta com o patrocínio da Oi e apoio Oi Futuro. O curta-metragem terá também lançamento nacional, no espaço Oi Futuro Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), dia 19 de abril. No curta-metragem, integrantes de várias nações indígenas, como Tupinambá (BA), Pataxó Hahahãe (BA), Kariri-Xocó (AL) e Pankararu (PE), relatam como celulares, câmeras fotográficas, filmadoras, computadores e, principalmente, a internet vêm sendo ferramentas importantes na busca das melhorias para as comunidades indígenas e nas relações destas com o mundo globalizado. O documentário é uma produção de 26 minutos, editados a partir de 15 horas de filmagens. Entre as histórias do curta, é possível conhecer a da cacique Jampoty, uma das primeiras mulheres alçadas ao cargo de cacique no Brasil. Ela é a líder dos Tupinambá, povo que teve seu reconhecimento étnico em 2002, após estudos da Funai. Acesso aos meios digitais O filme mostra o funcionamento da rede Índios – Online, projeto de fomento à inclusão digital, que existe desde 2004, que proporcionou a criação de um portal para facilitar a informação e a comunicação entre sete nações indígenas na Bahia, em Pernambuco e em Alagoas. Nos últimos 6 anos, o projeto contou com a participação de 500 indígenas de 25 etnias. Com o projeto, os índios já publicaram 3 mil matérias e receberam 10 mil comentários, chegando a quase 2 milhões de visitas ao Portal. Junto ao trabalho do Índios Online, há também o projeto Celulares Indígenas, realizado pela ONG Thydewá, em parceria com o Ministério da Cultura e o Oi Futuro, que permitiu capacitar os indígenas para utilizarem os celulares como ferramenta de promoção à diversidade cultural, justiça social e

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66

cultura da paz. Saiba mais aqui (MINISTÉRIO DA CULTURA, 2010).

Na nota divulgada pelo site do Cultura Viva, há dois links representados pelo

grifo no texto: ambos direcionam o usuário para a página inicial do portal Índios

Online. No site, também é possível encontrar “extras” do documentário: são vídeos

feitos pelos indígenas no período de produção do filme. Alguns foram publicados

como matérias no portal Índios Online, outros retratam simplesmente os “bastidores”

da produção do documentário. Todos esses vídeos foram feitos com o uso de

aparelhos celulares, dentro do projeto Celulares Indígenas. No portal do Indígenas

Digitais encontramos três vídeos: o primeiro, de cerca de seis minutos, mostra uma

pescaria com rede numa praia na aldeia Tupã, dos Tupinambás. O segundo, com

duração de aproximadamente um minuto, mostra uma das etapas do plantio da

mandioca na aldeia. Já o terceiro vídeo, “O Sal Tupinambá”, de três minutos, feito

por Sebastián Gerlic, traz o relato do menino Binho sobre os métodos de sustento de

sua tribo: a pesca e a agricultura, para comercialização ou simplesmente para a

própria subsistência. No portal Indígenas Digitais são apresentados ainda alguns

dos “protagonistas” do curta-metragem: o vice-cacique Pankararu Sarapo, a

professora Maya Tupinambá Pataxó Hãhãhãe e o artesão Ayrá Kariri-Xocó. Há

também um texto explicativo, assinado por Sebastián, que apresenta os projetos

desenvolvidos pela Thydewá: a rede Índios Online, o Arco Digital, o Celulares

Indígenas e o grupo Esperança da Terra.

No texto de Sebastián Gerlic também é apresentado um link para uma página,

no próprio portal Indígenas Digitais, onde é possível fazer downloads no computador

dos oito livros da série Índios na visão dos índios. Os livros retratam as comunidades

Kariri-Xocó, Pankararu, Fulni-ô, Tumbalalá, Kiriri, Tupinambá e Truká, sendo que

esta última teve publicações disponibilizadas também em francês.

Outras iniciativas culturais e educativas apoiadas pela Thydewá também são

destacadas: o programa Indígenas nas Salas, que atua desde 2002, onde índios

visitam escolas das cidades com a intenção de promover o diálogo intercultural.

Entre 2003 e 2004 foi criado o programa Índios Lendo, com patrocínio do Centro

Ecumênico de Serviços (CESE), para estimular a prática de leituras diferentes e

novas alternativas: para isso, 1500 livros da coleção Índios na visão dos índios

Page 69: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

67

foram trocados por 3000 livros de temáticas diversas, a fim de fortalecer e renovar

as bibliotecas indígenas.

Ainda em 2004, a Thydewá ajudou na realização do documentário Irmãos no

Mundo, patrocinado pela Fundação Padre Anchieta (SP) e o Ministério da Cultura, e

dirigido por Sebastián Gerlic. O filme, que aborda a cultura, as tradições e o

cotidiano dos povos Tupinambá (Ilhéus/BA) e Tumbalalá (Curaçá/BA), recebeu

ainda o prêmio Nacional DOCTV, pelo estado da Bahia. Entre 2004 e 2005, a ONG

lançou seu primeiro livro coletivo inter-étnico: Cantando as Culturas Indígenas, com

patrocínio do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) através do Programa

de Apoio a Crianças e Jovens em Situação de Risco Social Transformando em Arte.

No livro, 3500 crianças das etnias Pataxó Hãhãhãe, Xucuru-Kariri, Kariri-Xocó,

Pankararu, Tumbalalá, Tupinambá e Truká rememoram as histórias de seus povos

através de danças e cantos sagrados, discutindo temas como cidadania, direitos

humanos, ecologia e diversidade cultural. Em 2007 a Thydewá, com parceria do

Ministério da Educação e do Banco do Nordeste do Brasil, realizou novas oficinas e

lançou mais dois livros, sobre os Pataxó Hãhãhãe e Pataxó do Prado.

No ano de 2008, foram lançados o livro Arco Digital, sobre o programa de

inclusão digital realizado pela ONG, e o projeto Kariri-Xocó canta, com apoio do

Banco do Nordeste, o MinC e a Secretaria da Cultura de Alagoas. Neste foram

produzidos um CD musical e um documentário em DVD sobre os rituais de canto

tradicionais desse povo, além da realização de eventos objetivando o diálogo

intercultural. No mesmo ano, novas oficinas e livros de estímulo à interculturalidade

foram produzidos, inclusive com publicações em francês distribuídas naquele país.

Dentro do projeto da rede Índios Online, algumas conquistas a destacar foram a

criação da Rádio Comunitária Pataxó-Hãhãhãe, em 2005, apoiada pela Unesco e

que qualificou 20 indígenas participantes da rádio. Em 2009 o projeto Índios On

America com parceria do MinC levou 12 indígenas brasileiros a participar de uma

jornada de integração com outros índios do continente. Como pode-se notar o

portal Indígenas Digitais é utilizado não apenas como um meio de divulgação do

documentário produzido, mas como uma extensão, um caminho a mais de

divulgação das atividades promovidas pela Thydewá e pela Índios Online. No site

também é possível fazer comentários e enviar mensagens diretas para os

administradores, semelhante ao sistema do Índios Online. Outro ponto irreverente e

criativo do site é o “Brincando com 'alunos' e 'professores'”, uma brincadeira ao

Page 70: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

68

modo como a cultura indígena é abordada nas escolas atualmente. É reproduzido

uma espécie de “questionário”, como uma lição de casa passada para a professora

a seus alunos sobre os hábitos indígenas (alimentação, quais suas tradições etc). As

respostas dadas pelo site procuram ser informativas e irreverentes:

Quais são as tradições indígenas? Imaginem em quase 250 povos, quantas tradições diferentes! Para que serve uma tradição? As tradições se inventam? As tradições mudam? Como é a dinâmica da cultura? As culturas falam entre si? Qual relação existe entre tradição e traição? Quais são as tradições do “homem branco”? Ir ao shopping? Ir à discoteca? Trabalhar? Fazer guerras por dinheiro? Subjugar das tradições dos outros? O importante não é a pergunta que o professor mandou, o importante é aproveitar a provocação para pensar, para refletir. Então aqui não há receitas para massas ou bolos. Aqui é um site de divulgação que mostra canais, meios, caminhos para a brincadeira de aprender. (INDÍGENAS DIGITAIS, 2010).

Fica claro, no discurso dos integrantes e administradores da rede Índios

Online e em todas as atividades promovidas, a busca da interculturalidade, da troca

e compartilhamento de vivências, estimulando a riqueza e o desenvolvimento

cultural. A quebra de estereótipos e preconceitos culturais seria resultado natural

dessa intercambialidade. No portal Indígenas Digitais também é possível encontrar

matérias, escritas pelos próprios indígenas e publicadas no Índios Online, sobre

eventos de divulgação, exibições e pré-estreias do documentário em escolas e salas

de cinema de Salvador, além das aldeias participantes.

A partir dos três projetos apresentados ligados diretamente à rede Índios

Online (Web Brasil Indígena, Esperança da Terra e Indígenas Digitais) notamos

como pontos comuns entre eles que: todos contaram (ou contam) com participação

ativa de representantes indígenas ou de suas comunidades em pelo menos uma das

etapas do projeto; em todos os casos, os principais objetivos destacados são a troca

de culturas e conhecimentos entre indígenas e não indígenas, a inclusão das

comunidades indígenas na rede digital e consequentemente na sociedade urbana, a

representação dos índios na sociedade segundo a visão deles próprios e a

reafirmação de sua cultura. No caso do site Esperança da Terra a ideia e a estrutura

são mais simples: um espaço compartilhado de troca de experiências e informações

possivelmente úteis relativas ao universo indígena, ambiental e comunitário.

Pessoas de qualquer lugar do mundo podem contribuir com informações para

Page 71: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

69

enriquecimento do projeto, que por sua vez, pode gerar novas ações e iniciativas

sociais e comunitárias.

O projeto da Web Brasil Indígena funciona de forma semelhante, embora a

ideia de site compartilhado não funcione exatamente do mesmo modo que no

Esperança da Terra. No entanto a estrutura física precária e a falta de investimento

material e recursos podem fazer com que projetos mais amplos e ambiciosos

acabem sendo descartados, como no caso da Rádio Brasil Indígena citado por

Anápuáka. No caso do documentário Indígenas Digitais foram encontradas

condições adequadas em todos os sentidos para que o documentário fosse

produzido e assumisse seu papel, de levar a cultura e a realidade indígena para

novos públicos e mostrar como esses grupos se relacionam com as novas

tecnologias. O filme condiz adequadamente com as ideias e objetivos demonstrados

pelo trabalho da rede Índios Online; as comunidades e os representantes indígenas

participaram ativamente de todas as etapas do processo e a iniciativa ainda teve

bons investimentos estruturais e materiais por parte de órgãos do governo e outras

instituições, sem se desviar de sua temática de mostrar o ponto de vista dos

indígenas. A partir disso podemos concluir que a Internet, por requerer habilidade

técnica simples, ser de fácil acesso nos dias de hoje e ter custo relativamente baixo,

é também campo propício para a prática comunicativa entre as comunidades que

não possuem acesso a grandes ferramentas de comunicação para se expressar ao

mundo (rádio e TV, por exemplo).

A Internet também possui alcance territorial ilimitado e amplas possibilidades

de utilização, como vimos anteriormente. Entretanto, quando se pretende

estabelecer projetos maiores e/ou mais ambiciosos em outros meios de

comunicação ou simplesmente aperfeiçoar estruturalmente a iniciativa que já é feita

na Internet, o investimento e incentivo de outras instituições ou mesmo do governo

se mostram essenciais para esse desenvolvimento. É possível firmar novas e

positivas parcerias sem se desviar dos objetivos originais, das ideologias de um

projeto. Por isso é importante que programas como a rede Índios Online sejam

divulgados entre grupos indígenas e não indígenas e que a participação ativa dos

indivíduos nos mesmos seja estimulada, para que estes projetos ganhem cada vez

mais visibilidade na sociedade (e no universo virtual também) e consequentemente

novos parceiros, investimentos e incentivos.

Page 72: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

70

4.2 Objetivos atingidos, expectativas e necessidades pendentes na

comunicação comunitária digital

O projeto da rede Índios Online, mesmo sendo uma iniciativa relativamente

recente, já serviu de impulso para evoluções no sentido da prática comunicacional

entre os povos indígenas na Internet e através de outros meios de comunicação.

Esses programas nem sempre são necessariamente ligados à rede Índios Online e

já demonstram uma tendência positiva: os grupos comunitários começam a tomar

suas próprias iniciativas, a caminhar de forma independente, dentro das limitações

estruturais encontradas (de acesso a computadores, Internet e outros aparelhos, por

exemplo) e em alguns casos conseguindo bons incentivos por parte do governo e de

outras instituições de alguma forma engajadas nesses progressos. Como vimos, a

questão do incentivo e de parcerias na produção e execução desses projetos muitas

vezes é essencial para que eles se desenvolvam com sucesso e novas iniciativas

possam ser tomadas.

No caso do Índios Online, que começou com a publicação de livros sobre a

temática indígena, partiu para a comunicação entre aldeias e com o restante da

sociedade via Internet e segue realizando palestras, convenções, editando mais

livros e investindo em projetos na ideia da interculturalidade e da integração entre os

diversos povos indígenas e a sociedade em geral, pode-se dizer que durante essa

trajetória o ideal original da comunicação indígena nunca foi abandonado.

Outras iniciativas como a rede Grumin, o Esperança da Terra, a Web Brasil

Indígena e mesmo o Retomada Tupinambá, relacionado a uma temática um pouco

mais específica, tentam otimizar o uso dos poucos recursos que têm disponíveis

produzindo ativamente e estimulando a colaboração de todos os lados em matéria

de conteúdo e manutenção dos projetos. As carências estruturais ainda são sentidas

de forma bastante intensa, mas a ideia de luta constante, a integração digital e

social, o aperfeiçoamento das comunidades em todos os sentidos e a conquista

progressiva de direitos, tudo isso influi para que esses programas sigam em frente

apesar das limitações encontradas.

Em relação a essa comunicação feita por e para os povos indígenas percebe-

se que as propostas de interculturalidade, troca de experiências, autonomia indígena

na produção de informação, inclusão digital e social e defesa do meio ambiente e de

direitos indígenas levam para um caminho cada vez mais positivo a todos. A Internet

Page 73: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

71

e as novas tecnologias que aos poucos são disponibilizadas aos índios, como eles

próprios avaliam, são parte importante desse progresso. O fortalecimento e

reconhecimento das tradições e culturas pelos indivíduos das aldeias, pelas novas

gerações, também é uma atividade constante trabalhada dentro de todas as

atividades de comunicação digital indígena. Em termos de inclusão digital, acesso a

computadores e outras ferramentas tecnológicas e treinamento, qualificação mínima

para o uso desses aparelhos, ainda há muito a ser realizado. No entanto a própria

rede Índios Online é um exemplo de como esse progresso é absolutamente viável e

pode trazer resultados positivos para as comunidades indígenas e a sociedade em

geral. A principal meta, o maior resultado a ser conquistado a partir desse trabalho

de troca de experiências e cidadania para todos, seria o enfraquecimento de

preconceitos sociais, étnicos e culturais.

Por isso mesmo essas conquistas envolvendo a comunicação e a tecnologia,

que de certa forma servem de caminho e incentivo para outros avanços sociais, não

precisam ser apropriações exclusivamente dos povos indígenas. Grupos de bairros,

igrejas, instituições de apoio e caridade, ONGs sob os mais diversos interesses,

associações de trabalhadores, todos eles podem encontram a forma mais adequada

de se fazer ouvir, de dar voz a seus integrantes e ampliar ou investir na

comunicação nesses grupos. Cada um pode, através de experiências ou a partir do

levantamento de informações sobre o público que se deseja atingir (que meios de

comunicação usa para se informar ou em atividades cotidianas, quais características

são consideradas mais atraentes em um meio de comunicação, em qual período do

dia ou da semana procura se informar ou cumprir outras atividades), definir onde, de

que modo e com qual frequência um veículo de comunicação voltado para esses

grupos poderia circular. É importante identificar um perfil geral daqueles para quem

essa comunicação será destinada e instrumentar uma forma interessante,

abrangente e ao mesmo tempo de boa qualidade de informar esses grupos,

incentivando-os a participar do projeto e mostrando que aquele canal também é para

eles.

Cada organização pode encontrar a forma de comunicação mais adequada:

um simples panfleto ou boletim com periodicidade regular, para que o leitor dê

credibilidade àquele material e seu conteúdo e até deseje, de alguma forma, fazer

parte daquele processo. A Internet é ferramenta útil nesse tipo de comunicação:

criação de sites e blogs gratuitos (com garantia de atualização de informações

Page 74: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

72

constantes) e mesmo o envio de boletins periódicos via email, para cada um que

mantiver um endereço eletrônico e interesse em receber essa informação. Tudo

depende das condições técnicas, estruturais e da disponibilidade geral de quem

produz e de quem deve receber o material. O importante é não esquecer que o

trabalho deve alcançar o maior público possível, de forma atraente, com conteúdo e

um pouco de descontração, para que o material não se torne uma coisa pesada e

cansativa. Como recorda Vito Giannotti, todo material disponível é válido nesse tipo

de comunicação:

Mesmo [...] com escassos recursos é possível fazer uma publicação regular. Não será a revista colorida dos grandes sindicatos, mas pode ser um boletinzinho de meia folha ofício, toda semana. Um boletinzinho feito a mão, com uma caneta, um pincel atômico, uma régua e uma bisnaga de cola pode dar bons resultados. [...] Se o boletim chegar no dia certo, na hora certa, com uma linguagem inteligível para quem o recebe e, óbvio, com o conteúdo adequado, será um poderoso instrumento. (GIANNOTTI, 1997, p.103-104).

Por conteúdo adequado deve-se entender aquele que é de real interesse de

seu público, com elementos que deem leveza e descontração ao material, além de

uma linguagem adequada e compreensível ao leitor. Informativos em rádios,

cartazes, revistas em quadrinhos, acessórios, é variada a lista de equipamentos que

podem ser usados na prática da comunicação comunitária entre os mais diversos

grupos. Como foi dito, tudo depende do perfil do público, da disponibilidade, dos

recursos disponíveis a quem produz a informação e da criatividade e iniciativa dos

mesmos. No projeto do Índios Online, por exemplo, existe o esforço em se estender

as atividades da rede para além do ambiente virtual, em ações como palestras,

oficinas e encontros presenciais promovidos pelos próprios integrantes da rede.

Esse tipo de iniciativa ligada ao projeto desenvolvido através da Internet serve para

estimular o interesse entre novos públicos, proporcionar trocas de ideias e novos

debates e consequentemente passar mais credibilidade às ações administradas pelo

grupo.

A consciência da importância que representa a criação um meio de

comunicação para determinados grupos e a utilização do máximo de recursos

disponibilizados é fator importante para que a comunicação comunitária tenha

resultados eficientes. O conteúdo produzido deve, quando conveniente, ser

estendido para outros públicos, outras comunidades: se algum assunto relativo a um

Page 75: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

73

determinado grupo, mas que seria de interesse de todos, é divulgado na grande

imprensa, este grupo tem o direito (e mesmo o dever) de manter a população

informada sobre o seu ponto de vista dos fatos, a realidade vivida por eles mesmos.

O material, como em qualquer meio de comunicação comunitário ou

empresarial, deve ser apresentado sempre em cima de fatos concretos, se preciso

for com alguma pesquisa ou levantamento histórico sobre assuntos relativos ao

tema entre jornais, sites, livros ou mesmo recorrendo ao depoimento de pessoas

que passaram por situações semelhantes ou relacionadas ao tema. É necessária

uma boa organização em todas as etapas da produção desses veículos, para que o

trabalho seja definitivamente bem sucedido. Mais do que ter em mãos o “arco e

flecha” (na associação feita pelos integrantes do Índios Online) é importante saber

como, quando e com qual objetivo usar essas ferramentas.

No caso da presença indígena na rede, percebe-se uma preocupação

pertinente de se garantir legitimidade e credibilidade aos meios de comunicação em

relação ao público. Segundo Anápuáka, na Web Brasil Indígena, o fato de se

receber informações de fontes consideradas seguras (instituições, grupos indígenas

etc) e aos poucos poder mostrar aos índios que aquele é um espaço livre e

adequado de comunicação já é uma grande conquista. O progresso entre as

comunidades indígenas nas próprias aldeias, entre a sociedade urbana e no meio

digital, o fato desses povos já possuírem um território independente e livre de

comunicação na Internet que pode encaminhá-los para outros progressos em todos

os sentidos, tudo isso é considerado uma vitória para essas etnias, embora ainda

haja muito o que se evoluir em relação a essa temática.

A rede Índios Online ainda busca apoio para que possam ser abordadas com

mais profundidade questões como a sustentabilidade, o uso consciente de recursos

naturais e a preservação da flora e da fauna naturais, por exemplo. Levar o acesso à

Internet (e consequentemente o trabalho da Índios Online) para outras aldeias do

país, aprimorando e desenvolvendo ainda mais a qualidade e o conteúdo oferecido e

desenvolvido pela rede e estendendo assim todos os valores e conquistas

disseminados pelo programa em outras comunidades é desafio a ser superado.

Apoio voluntário na área técnica em informática, divulgação e articulação de

conteúdos e iniciativas e tradução de materiais para outros idiomas também são

algumas das carências que a Índios Online ainda tenta superar. O serviço voluntário

é a base de sustentação dessas iniciativas comunitárias, não só em relação à

Page 76: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

74

comunicação, mas em todas as áreas, como vimos anteriormente. Essa

comunicação desempenha um papel de democratização da informação e da

cidadania como um todo, tanto na ampliação do número de canais informativos e

inclusão de novos emissores quanto no fato de ser caracterizada como um processo

educativo, na medida em que habilita seus participantes para a atividade da

produção comunicacional e atuação geral em diversos setores da comunidade

(PERUZZO, 2004). A comunicação comunitária ainda tem pouca visibilidade entre a

sociedade e sua abordagem pelas grandes mídias é insignificante, embora tenha

crescido com a contribuição, inclusive, da rede digital.

A comunicação comunitária ou alternativa tradicional normalmente é praticada

apenas em pequena escala, embora existam iniciativas deste tipo em todo o mundo.

A participação popular em experiências mais avançadas de comunicação

comunitária representa um significativo progresso na democracia comunicacional e

na própria cidadania. Com a resolução de questões como a limitação ao acesso e

capacitação para uso da Internet, ela se torna ferramenta potencial para a prática

comunicativa. Apesar dessas necessidades, no entanto, nunca a liberdade de

comunicação foi tão intensificada quanto no universo da Internet. A questão principal

é tornar o indivíduo sujeito do processo de mudança social, que passa pela

comunicação e pelos demais mecanismos de organização e ação populares. Como

afirma Peruzzo:

Todas as áreas da comunicação e demais campos do conhecimento têm espaço potencial para ação concreta dentro de suas especialidades. O que mais importa é a conjugação de princípios que favoreçam a autogestão popular, o respeito ao interesse social amplo e a inserção das pessoas como protagonistas da comunicação e organização populares. (PERUZZO, 2004, p.03).

A Internet se torna o componente essencial de um novo tipo de movimento

social emergente, a sociedade em rede (PEREIRA, 2008). A sociedade em rede é

caracterizada como uma forma específica de organização social, processamento e

transformação, tornando-se assim meio fundamental de produtividade. Os

movimentos da sociedade em rede têm como objetivo mudar os códigos de

significados nas instituições e na sociedade. A partir disto, as organizações

tradicionais já estabelecidas tendem a entrar em crise, cedendo espaço para a

atuação de poder desses movimentos num contexto cada vez mais amplo. Um novo

Page 77: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

75

imaginário social e interativo emerge, com um novo tipo de ação social e de

relacionamento entre sociedade, informação, indivíduos e tecnologias de

comunicação. A presença indígena e de outras comunidades na Internet representa

a capacidade de integração de diferentes pontos de vista em um novo espaço de

sociabilidade, interativo e flexível, movido pela comunicação.

Na avaliação de Antônio Andrade (2007) a rede digital tem se apresentado

como um dos fatores de ampliação da influência das novas tecnologias de

informação e comunicação no comportamento da sociedade contemporânea. As

redes sociais, a possibilidade de compartilhamento de informações de uma forma

antes não imaginada, a facilidade e praticidade para execução de tarefas do

cotidiano através de sites da Internet, todas essas novas ideias contribuem para

uma alteração significativa no comportamento e mesmo nos valores de uma

sociedade. É dentro desse contexto, numa realidade de escassez de recursos

técnicos e financeiros e pouca consciência política que a comunicação comunitária,

participativa, é exercitada. É a partir daí também que ela segue para novos objetivos

e horizontes, ocupando aos poucos espaços nos grandes meios de comunicação e

ganhando mais representação dentro das tecnologias mais avançadas. Há muito

ainda que se fazer nesse sentido, mas a prática de experiências é sempre

considerada válida. O sentimento de solidariedade é uma crescente em tempos de

individualismo social (PERUZZO, 1998).

Na divisão entre conceitos de sociedade e comunidade, a autora Raquel

Paiva oferece uma definição interessante:

Já a partir dessas duas visões pode-se detectar uma compreensão do que seria comunidade em oposição à sociedade, na medida em que a primeira pauta-se pela integração do indivíduo ao lugar, sua vinculação as laços de sangue, sua preocupação com a tradicionalidade, os costumes e hábitos que deviam ser seguidos, com a família; ao passo que a segunda visão está comprometida com o trabalho socialmente organizado, o cumprimento dos contratos, o progresso impregna-se da visão monetária que inclusive se justifica legalmente a partir da jurisprudência, que tudo dimensiona através da lógica do universal. (PAIVA, 2004)

Dentro da análise de Raquel, o conceito de sociedade está relacionado

diretamente ao ideal capitalista, ao consumismo e ao racionalismo. Já a comunidade

prezaria o tradicionalismo, os costumes e as ligações afetivas e familiares. Se de

algum modo o desenvolvimento e massificação das novas tecnologias se insere

Page 78: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

76

numa lógica de produção empresarial, como destaca Adilson Cabral, são os

usuários da rede que estabelecem as futuras tendências de comportamento e

utilização da mesma. A principal delas é o uso compartilhado de recursos: este nos

leva a crer que, ao contrário do que ocorre com os demais meios de comunicação,

estar na Internet e fazer uso cada vez maior dela futuramente será um direito

garantido a todos os indivíduos, de qualquer classe social, com formas de atuação

igualitárias (CABRAL, 2004). Na Internet, a informação se torna cada vez mais um

bem quase gratuito: a partir de um computador conectado à Internet, um universo

infinito de informações se abre ao nosso controle. Os limites potenciais da rede

digital, no entanto, ainda são desconhecidos.

Em relação ao ambiente digital, o filósofo Pierre Lévy alerta sobre a

necessidade de uma reavaliação constante das implicações sociais e culturais das

novas tecnologias, uma vez que o desenvolvimento do que ele chama de

ciberespaço está diretamente relacionado à evolução da nova sociedade em rede,

da sociedade em geral. A cada geração as tecnologias de comunicação e

compartilhamento de informações desenvolvidas contribuem para reconfigurações

comportamentais, linguísticas e mesmo geográficas na sociedade. A própria

definição de comunidade no sentido que estudamos sofreu alterações com o

advento do ciberespaço e das relações sociais digitais: não há mais a visão de um

limite territorial dentro desse conceito, os veículos e práticas de interação e

compartilhamento de ideias e experiências foram alterados (PRUDÊNCIO, 2003).

Apesar dessas modificações, no entanto, as raízes da ação comunitária

permanecem vivas. A representação política e social da comunidade, a luta pela

defesa de direitos e manutenção da cidadania, esses objetivos se mantém bem

definidos no centro das atividades e mobilizações comunitárias.

Novos programas foram criados para facilitar o uso da Internet e dos

computadores por qualquer pessoa, já que ela se mostra cada vez mais

imprescindível ao cotidiano. O ambiente digital é uma extensão, um aprimoramento

do cotidiano da sociedade. Trata-se de um reflexo do dia a dia urbano, embora com

adaptações e possibilidades de comunicação e interação consideradas muito mais

inovadoras. Para Lévy “a perspectiva de digitalização geral de informações deve

tornar o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da

humanidade a partir deste século” (LÉVY, 1999, p.93). Ou seja: o futuro da

Page 79: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

77

comunicação e do armazenamento de informações a partir de agora seria baseado

em cima da Internet.

O ciberespaço encoraja a troca recíproca e comunitária, enquanto as mídias

convencionais praticam uma comunicação unidirecional na qual os receptores se

encontram isolados uns dos outros. As diversas relações sociais, econômicas e

culturais devem ser transferidas para esse ambiente digital, e caberá aos próprios

usuários definir qual o limite dessa transição, da utilização e convivência no

ciberespaço. As novas tecnologias digitais devem ser utilizadas tendo como

prioridade a valorização da cultura, dos recursos, competências e projetos regionais,

estimulando os indivíduos a participar de ações coletivas, voluntárias, em benefício

das comunidades. Essas atividades devem objetivar o combate ao preconceito e às

desigualdades, promovendo a autonomia dos grupos sociais considerados

excluídos.

A emergência do ciberespaço representa a ascensão do contraponto aos

meios de comunicação de massa, da comunicação comunitária: as grandes

empresas de comunicação aos poucos enfraquecem o poder de seus monopólios e

os meios de expressão social, através da rede de forma livre, tendem a se

multiplicar de forma imprevisível. A Internet é, enfim, canal propício para a

aglomeração e compartilhamento dos mais diversos tipos de informações e culturas.

Dispositivos de navegação e filtragem são desenvolvidos por empresas que lidam

diretamente com as redes digitais para facilitar a navegação e permanência do

usuário conectado em rede. O futuro da Internet e de sua utilização neste momento

depende especificamente de como as pessoas desejarão fazer uso dela: afinal, o

público é o principal responsável por toda a informação que circula ao longo dessa

infinita rede digital.

Page 80: A comunicação comunitária na internet caso da rede índios online

78

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fato da rede digital ter se revelado, na medida do avanço nas novas

tecnologias desde o início no século XXI, como um ambiente propício para a prática

de uma comunicação livre e com possibilidades de interatividade até então

impensáveis, torna esse ambiente adequado para a emergência de novas

alternativas de comunicação. As práticas sociais do cotidiano aos poucos têm sido

incorporadas em um ambiente digital, configurado pela própria presença humana na

Internet e nas redes sociais de comunicação. Os meios de comunicação,

naturalmente, procuram abrir seus caminhos também na rede digital para

acompanhar o novo ritmo, a nova realidade de seu público e aproveitar as

vantagens que a Internet permite: informação em tempo real, interatividade,

comunicação e contato direto com o leitor/usuário, utilização de diversos recursos

(som/vídeo/imagens/textos) de forma simultânea.

Os meios de comunicação empresariais e privados já descobriram e exploram

essa nova realidade, com transmissões de rádio e TV via Internet por todo o país (ou

pelo mundo, em alguns casos), postagem de vídeos e material publicado na TV ou

no rádio para acesso direto na Internet, enquetes, pesquisas de opinião, serviços de

comunicação instantânea e presença constante e atuante nas redes sociais de

comunicação. Todos esses canais são extensões da comunicação tradicional feita

no rádio, na televisão e nos veículos impressos.

A tendência mais viável, portanto, é que os meios de comunicação

comunitária sigam esta vertente, pois além da liberdade de expressão e

comunicação que a rede digital garante (nos dias atuais, não é preciso pagar

nenhum valor alto para criar um grande blog comunicativo na Internet) ela também

apresenta uma grande variedade de canais comunicacionais e permite atingir um

público muito mais extenso que os veículos tradicionais, considerando que toda

informação lançada na Internet estará disponível ao acesso de pessoas de qualquer

lugar do mundo que estejam conectadas.

Para a produção comunicativa, a Internet atualmente é uma via de acesso

relativamente simples e barato e cujo uso requer uma especialização técnica

simples em relação aos outros veículos de comunicação. Não só os meios de

comunicação comunitários, mas toda a sociedade pode e deve exigir de seus

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governantes condições mínimas de acesso à Internet e de educação para o uso

dessas ferramentas, exercendo seu assim seus direitos em relação à liberdade de

comunicação. Levar a Internet, os computadores e as novas tecnologias para todos

ainda é um grande desafio que limita muito a prática da comunicação comunitária,

mas com o apoio do governo e a ação voluntariada de instituições e indivíduos esse

problema aos poucos tem sido contornado. As comunidades devem tomar a Internet,

os meios de comunicação digitais e os recursos que estes oferecem como o

principal e mais fértil espaço para a prática da comunicação comunitária.

A busca de espaço entre as novas tecnologias de comunicação, no entanto, é

apenas a primeira etapa pela luta democrática e de garantia da cidadania e de

direitos para todos. Como podemos ver no caso da rede Índios Online a exploração

de meios alternativos de comunicação, de curta ou longa abrangência, também deve

ser buscada. Além da Internet, palestras em escolas, comunidades e instituições

regionais; divulgação de iniciativas através de panfletos e cartazes bem elaborados;

boletins periódicos distribuídos entre toda a comunidade; enfim, material atrativo e

de conteúdo firme e sustentado que estimule o interesse da comunidade pelos

valores e causas defendidos. Toda forma legal de manifestação é válida na prática

da comunicação alternativa e comunitária, não importa se o objetivo seja o alcance

em nível local ou nacional. No caso da Internet, por suas características ela se

apresenta como ferramenta adequada aos meios de comunicação comunitária

considerando-se que facilita o exercício da democracia pelas comunidades, não só

no sentido social, mas na política e na cultura; promove o extenso intercâmbio de

culturas e experiências entre grupos sociais diferentes e serve como forma de

representação social e digital de comunidades muitas vezes consideradas

socialmente excluídas.

O caminho da prática da comunicação comunitária, como exemplificado no

trabalho da rede Índios Online, não deve se limitar, no entanto, ao uso da Internet. É

importante que comunidades, grupos, instituições e organizações continuem lutando

junto aos governos e responsáveis para garantir o acesso democrático a veículos de

rádio e TV, que são os mais custosos e de legislação ainda burocrática em relação a

outros meios de comunicação. Com meios de comunicação comunitários e

alternativos estabelecidos em todas as vias, exercendo livremente seu direito de

liberdade de expressão, já é facilitado um caminho a mais para a luta e conquista da

cidadania e democratização em todos os sentidos, para todas as pessoas.

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80

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ANEXOS

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ANEXO A

Documentário Indígenas Digitais