a compreensão do funcionamento saudável e não saudável

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  • 8/18/2019 A Compreensão Do Funcionamento Saudável e Não Saudável

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     A COMPREENSÃO DO FUNCIONAMENTO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL A SERVIÇO DO PENSAMENTO DIAGNÓSTICO PROCESSUAL EM GESTALT-TERAPIA 1 

    Lilian Meyer FrazãoFone/Fax (011) 3260-1638

    INTRODUÇÃO

    Meu primeiro contato com a Gestalt-terapia se deu há mais de vinte e cinco anos, quando participei do primeiro workshop nesta abordagem noBrasil, coordenado por Sylvia Peters. Foi uma experiência profunda e marcante, tanto para minha vida pessoal quanto profissional.

    Do ponto de vista pessoal, foi um mergulho na minha intimidade como eu nunca havia experienciado antes (embora já fizesse terapia

    há alguns anos); do ponto de vista profissional, fiquei impressionada pela maneira direta e pessoal na qual a terapeuta interagia conosco.

    Comecei a estudar Gestalt-terapia, cada vez mais entusiasmada com seus conceitos e sua visão holística e existencial de Homem.

    Paralelamente ao meu treinamento em Gestalt-terapia, comecei a trabalhar como psicoterapeuta. Ao longo dos meus primeiros anosprofissionais tive algumas experiências que foram muito significativas para o desenvolvimento posterior de meu trabalho.

    Algumas tiveram a ver com as conseqüências que podem advir de diagnósticos pouco cuidadosos. Um exemplo ocorreu numainstituição para deficientes mentais graves, como uma criança diagnosticada como “idiota” devido a seu baixo Q.I. Na realidade, como pudeverificar posteriormente, era uma criança que tinha apenas um alto grau de surdez e que, no entanto, vinha sendo tratada como “idiota” hámuitos anos.(............)

    Desejo compartilhar com vocês um pouco deste caminho falando brevemente de minha compreensão de funcionamento saudável enão saudável e de diagnóstico, o qual concebo como pensamento diagnóstico processual.

    FUNCIONAMENTO SAUDÁVEL ENQUANTO FENÔMENO INTERATIVO

    Em Gestalt-terapia temos uma concepção holística de Homem, o qual concebemos como ser bio-psico-social, considerando suas múltiplasdimensões: física, afetiva, intelectual, social e espiritual. A experiência é fruto da interação do indivíduo com seu meio-ambiente.

    O que possibilita a experiência na interação do indivíduo com seu ambiente é contato e “awareness”. Embora possamos traduzir“awareness” por “estar consciente”, prefiro manter o termo em inglês a fim de que não se confunda seu significado com o conce ito de“consciência”, tal como concebido e utilizado em psicanálise.  

    “Awareness” se refere à capacidade de aperceber -se do que se passa dentro e fora de si no momento presente, tanto a nívelcorporal, quanto a nível mental e emocional. É a possibilidade de perceber, simultaneamente, o meio externo e interno, através de recursosperceptivos e emocionais, embora num determinado momento alguma coisa possa se tornar mais proeminente.

    Para que haja “awareness” é necessário haver contato, embora possa haver contato sem “awareness”. O contato se dá através daquilo que em Gestalt-terapia chamamos de funções de contato: visão, audição, olfato, tato, fala e

    movimento. É através das funções de contato que nossa percepção se organiza e nossos sentimentos adquirem significado.

    Contato com “awareness” empobrecida resulta em contato que carece de qualidade. É o processo de contato de boa qualidade quepropicia que a interação indivíduo/ambiente seja nutritiva e que ocorram mudanças no campo relacional pessoa-ambiente, i.e., crescimento edesenvolvimento.

    Em nossa vida temos necessidades distintas e interrelacionadas: as de natureza fisiológica (como comer, beber, dormir) e as denatureza psicológica (como nos relacionarmos com um outro, expressarmos nossas emoções, sermos amados e respeitados). Ao longo dodesenvolvimento, nossas necessidades tornam-se progressivamente mais complexas e abrangem diferentes âmbitos de inserção social ecultural. Qualquer que seja a natureza ou a abrangência da necessidade, é no campo indivíduo/ambiente que ela irá se manifestar.

    Desde o início da vida, as experiências da pessoa são relacionais. Para o recém-nascido, este campo está, em grande parte,

    delimitado pela relação mãe-bebê.A mãe, através de sua “awareness” tem a possibilidade de capta r empaticamente seu bebê, percebendo suas necessidades. Uma

    vez que é ela que, a um só tempo, supre as necessidades fisiológicas e está junto ao filho amorosa e respeitosamente, ela é o primeiro outrosignificado com quem a criança tem contato. Ela se constitui num primeira e importante possibilidade de estabelecimento de relação e é nestecampo relacional mãe-bebê que terá início o processo de desenvolvimento. Pouco a pouco, à medida que se sinta segura, a criança poderácomeçar a desenvolver seu potencial e ampliar seu contato com o mundo, ampliando cada vez mais o âmbito e a complexidade de suasexperiências.

    Embora se costume pensar no bebê como sendo “aquele que depende”, creio ser importante assinalar que existe também umainterdependência, uma relação de reciprocidade mãe-filho, um interjogo de satisfações mútuas. Ao mesmo tempo em que a mãe satisfaz obebê, ela também se sente satisfeita; tanto quanto o bebê precisa ser amamentado, também a mãe precisa aliviar a pressão do seio repleto deleite; aos incômodos fisiológicos e psicológicos sentidos e manifestos pelo bebê, correspondem desconfortos na própria mãe. As reações damãe no sentido de aliviar o filho dos incômodos que manifesta cumprem, também, a função recíproca de lhe proporcionar satisfação. Desta

    forma a relação mãe/bebê envolve interdependência e uma certa mutualidade.

    1 Trabalho apresentado no V Encontro Goiano da Abordagem Gestáltica/Maio/1999 

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    Estar com seu bebê amorosa e respeitosamente, aceitando-o e confirmando-o tal como ele é, favorecerá os processos dediferenciação e desenvolvimento da individualidade. Este processo de tornar-se um indivíduo único decorre da qualidade da relação com ooutro e, na medida em que o outro faz parte do ambiente, o que possibilita o desenvolvimento psíquico saudável é a interação saudávelindivíduo-ambiente, Eu/não-Eu, através da qual se dará a satisfação de necessidades  –  em especial aquela que considero fundamental: oestabelecimento e a manutenção da relação com o outro.

    O atendimento de necessidades ocorre através do ajustamento criativo, que é a capacidade de interagir ativamente com o ambientena fronteira de contato, adaptando, quando necessário, a demanda das necessidades às possibilidades de atendimento do ambiente.

    Ajustamento criativo saudável implica “awareness” de nossas necessidades, bem como ser capaz de priorizá-las, de acordo com

    aquilo que Perls denominou de hierarquia de valores ou dominâncias (1951, pg. 277-278; 1973, pg.7) referindo-se ao fato de que quandodiferentes necessidades ocorrem simultaneamente a pessoa atende à necessidade dominante primeiro.

    Na medida em que a pessoa possa experienciar, ao longo de seu desenvolvimento, uma relação amorosa e respeitosa, em quepossa expressar suas necessidades (sejam elas de que natureza forem ) e exercer seu potencial, poderá desenvolver -se enquanto indivíduoúnico e singular, interagindo com seu ambiente através do ajustamento criativo, de acordo com sua hierarquia de valores.

    Embora esteja focalizando o processo de desenvolvimento a partir do que ocorre na interação mãe/bebê, processos análogosocorrem em outros tipos de relacionamento ao longo da vida, com suas diferenças significativas:

    Primeira: não existe o mesmo grau de dependência em relação ao outro como na relação mãe/bebê. Conforme a pessoa passapelos diferentes estágios de desenvolvimento sua independência e autonomia gradativamente aumentam. Embora a necessidade de serelacionar

    com um outro persista, a natureza desta relação se modifica: enquanto decresce em grau de dependência, cresce em grau de reciprocidade e

    mutualidade.Segunda: quanto mais se ampliam os processos de desenvolvimento e maturação, maior o âmbito e a complexidade das

    experiências que se apresentam para a pessoa, e maior a possibilidade de dar conta destas experiências.

    Considero funcionamento saudável um fenômeno interativo, que ocorre na fronteira de contato, e que se refere à habilidade de serelacionar criativamente com o ambiente como indivíduo único, com vistas à expressão e atendimento de necessidades, mantendo,ao mesmo tempo, uma relação respeitosa com o outro em sua unicidade.

    FUNCIONAMENTO NÃO SAUDÁVEL ENQUANTO FENÔMENO INTERATIVO

    Ao longo do desenvolvimento, a satisfação de certas necessidades pode rivalizar com a manutenção da relação com o outro. Quandoisto ocorre, a pessoa, através do ajustamento criativo, buscará formas diferentes de expressar suas necessidades, mantendo, ao mesmotempo, a relação com o outro. No entanto, se estas tentativas falharem, haverá conflito. Uma vez que a mãe é necessária para atender nossasnecessidades mais primárias, este conflito poderá se tornar crucial, especialmente se ocorrer cedo e repetidamente na vida. De forma menoscrucial, mas ainda assim significativo, o mesmo pode se aplicar a outras experiências relacionais significativas ao longo da vida.

    Se a tentativa de expressar as necessidades de forma diferente repetidamente falhar, a fim de diminuir o conflito e manter a relação,dada a hierarquia de valores, a expressão de necessidades poderá ser distorcida ou até suprimida. O ajustamento, ao invés de funcional setornará disfuncional; o funcionamento, ao invés de saudável, se tornará não saudável.

    Uma vez que, como já mencionei anteriormente, é através das funções de contato que nossa percepção se organiza e nossossentimentos adquirem significado, o funcionamento não

    saudável implicará em algum grau de desorganização ou distorção do universo das percepções e dos sentimentos, o que, por sua vez,

    interferirá nos processos de “awareness”. 

    Nestas condições, a relação que a criança mantém com sua mãe em lugar de segurança, favorecerá o surgimento do sentimento dedesamparo e insegurança, interferindo na qualidade e possibilidade de desenvolvimento do potencial da criança, e na ampliação do âmbito ecomplexidade de suas experiências.

    Tobin se refere a este processo como “respostas  adaptativas necessárias à sobrevivência em função de situações infantis difíceis ”  (adaptative survival-necessary responses to difficult childhood situations) e diz que estas respostas estão sendo mantidas em situações atuaispresentes que parecem semelhantes ou idênticas às situações passadas. Na opinião deste autor as pessoas tinham escolhas possíveis,apesar de sentirem como se não as tivessem (1983, p.76).

    Gostaria de discutir três questões relativas à colocação feita por Tobin.

    A primeira questão: considero interessante a maneira como Tobin nomeia o resultado deste processo, exceto pelo fato de restringirestas respostas a situações infantis. Embora eu concorde que elas ocorrem e são significativas especialmente em situações infantis difíceis,quando a necessidade de manutenção da relação com o outro é maior e o conflito mais crucial, estas “respostas adaptativas necessárias àsobrevivência”  podem ocorrer em resposta a outras situações relacionais significativas difíceis ao longo da vida, como já mencionei.

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    A segunda questão: minha compreensão do fato de que as pessoas tinham outras escolhas possíveis apesar de sentirem como senão as tivessem, é que elas não podiam fazê-las, seja qual for a natureza da impossibilidade. O fato de a pessoa não poder ter feito outraescolha não deve ser entendido como se os pais tivessem sido tão “ruins” que a pessoa não teve outra alternativa, ou então co mo se a pessoanão quisesse fazer outra escolha. O que precisa ser considerado é como a pessoa percebeu o evento e a reação que isto suscitou nela, ou ditode outra forma, de que fundo aquela figura emergiu de modo a Ter tal significado. A escolha feita pela pessoa é sempre a escolha que aquelapessoa, naquela circunstância, com aquela experiência, pôde fazer. A escolha feita foi em função de uma necessidade que consideroabsolutamente verdadeira e legítima: a de sobreviver psiquicamente, mantendo a relação com o outro.

    Este tipo de escolha pressupõe a lei da pregnância da Psicologia da Gestalt, de acordo com a qual a organização psicológica serásempre tão “boa” quanto as condições reinantes o permitirem (Koffka, 1975, pg.121). A lei da pregnância é o pressuposto do conceito de auto-

    regulação organísmica da Gestalt-terapia, segundo o qual o organismo fará o melhor que pode para se regular, dadas simultaneamente suascapacidades e os recursos do ambiente (Latner, pg. 15). No meu entendimento as respostas adaptativas necessárias à sobrevivência, queobservamos em funcionamento não saudável, resultam de processos de auto-regulação organísmica, são (em sua origem) ajustamentoscriativos e constituem aquilo que é possível.

    A terceira questão: como já disse anteriormente, o funcionamento não saudável implica numa certa desorganização ou distorção douniverso das percepções e dos sentimentos, e é por esta razão que, como colocou Tobin, as situações presentes parecem idênticas àssituações passadas.

    Considero funcionamento não saudável um fenômeno interativo, que ocorre na fronteira de contato, e que se refere à inabilidade e/ouimpossibilidade de se relacionar criativamente com o ambiente, relacionando-se ao invés disso através de padrões cristalizados erepetitivos, através dos quais a expressão de necessidades e sentimentos é distorcida ou suprimida, com vistas a manter a relação

    com o outro, por mais artificial ou inautêntica que uma relação deste tipo possa parecer.É justamente este “parecer” que salta aos olhos no Pensamento Diagnóstico Processual do qual desejo falar a seguir e cuja

    importância venho enfatizando nos últimos anos. Quanto mais intensa a necessidade e maior a dificuldade de expressá-la e satisfazê-la equanto mais precocemente isto ocorrer, tanto mais provável nos depararmos com sintomas graves (físicos ou psíquicos).

    PENSAMENTO DIAGNÓSTICO PROCESSUAL

    A Gestalt-terapia, assim como o movimento humanista e a anti-psiquiatria da década de 60, rejeitou a idéia de diagnóstico, quer porachá-lo despersonalizante, quer por acreditar ser ele um rótulo limitante que reduz as pessoas a conceitos e categorias, que pouco contribuempara a compreensão e o desenvolvimento do paciente.

    Acredito que pensavam desta forma talvez porque considerassem apenas os critérios diagnósticos, cuja função é a de verificar o quehá de comum entre os homens. Para tanto agrupam, nomeiam e classificam aquilo que se refere à perda dos mecanismos normais defuncionamento (como é o caso do DSM III, CID 10, etc.).

    Embora classificações deste tipo possam ser úteis por proporcionar uma linguagem comum importante no campo do trabalhointerdisciplinar, não são suficientes.

    Para pensar em diagnóstico no campo da Psicologia é preciso que nos afastemos do modelo médico que supõe, conforme colocadopor Rogers (p. 220-221):

      Que uma situação orgânica tem uma causa que a antecede;

      Que o controle desta situação é mais possível se esta causa for conhecida;

      Que a descoberta e a descrição exata da causa é um problema que pode ser cientificamente investigado.

    No modelo médico, tal como descrito por Rogers, observamos freqüentemente um pensamento casual e linear, insuficiente einadequado para compreender a complexidade, a dinâmica e a singularidade do psiquismo de cada ser humano.

    Se os critérios diagnósticos nos oferecem é a comutalidade (o que há de comum entre os homens), o que falta é a singularidade (oque há de diferente, próprio, singular em cada homem).

    Diagnóstico no campo da psicoterapia, precisa ser entendido como uma descrição e compreensão de cada cliente em suasingularidade existencial.

    Diagnóstico não pode ser vinculado a uma doença ou anormalidade; e sim ao modo de existir de alguém.

    Na literatura psicológica freqüentemente encontramos uma distinção entre diagnóstico e psicoterapia na qual o objetivo dodiagnóstico é investigar, enquanto o objetivo da psicoterapia é tratar. Antes de iniciar o trabalho terapêutico considero útil e necessárioinvestigar a fim de ter uma compreensão inicial do paciente. No entanto, ao longo do processo terapêutico, investigação e tratamentocaminham lado a lado. Estamos sempre nos perguntando o que está acontecendo e a serviço do que isto está acontecendo.

    Diagnóstico deve acompanhar o processo terapêutico levando em consideração o crescimento do paciente, suas mudanças ao longodo tempo e na sua relação consigo e com o outro, as de seu mundo intra e inter-pessoal. Por isso em lugar de diagnóstico, prefiro falar em:

    pensamento

    diagnóstico

    processual

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    Ao diagnosticar precisamos estar atentos àquilo que se mostra no que aparece e não apenas no que aparece, como colocou meucolega Ari Rehfeld. O pensamento diagnóstico processual não pode ser despersonalizante nem tem a ver com um rótulo limitante. Não serefere ao que a pessoa é, e sim a como ela está a cada momento do processo terapêutico.

    Aquilo que o cliente nos traz no aqui-e-agora não é apenas seu presente imediato, ahistórico. O aqui-e-agora inclui o passado. Trata-se de uma figura que se insere num fundo, e por fundo entendo a história de vida do cliente, suas experiências, seus relacionamentospassados (em especial as relações primárias significativas), seus sucessos e insucessos nas mais diferentes áreas (profissional, afetiva, social,etc.), suas potencialidades e seus limites, etc. É preciso compreender a relação do aqui-e-agora com lá-e-então; do passado com o presente; arelação que existe entre a figura/queixa e o fundo, pois é a relação figura/fundo que dá sentido à figura.

    A ênfase dada pela Gestalt-terapia ao aqui-e-agora freqüentemente gera um mal-entendido no qual pensa-se que o passado não temimportância, devendo ser desconsiderado. Ao enfocarem a função da recuperação de cenas passadas, Perls, Hefferline e Goodman (1997,p.105) colocam que “...o conteúdo da cena recuperada é bastante sem importância, mas (que) o sentimento e a atitude infantis que viveram acena são da máxima importância. Os sentimentos infantis não são importantes como um passado que deve ser desfeito, mas como alguns dos poderes mais belos da vida adulta que precisam ser recuperados...” .

    O pensamento diagnóstico processual implica compreender a relação da pessoa com sua história passada e presente, pois aconfiguração presente está relacionada a como a pessoa viveu suas experiências, e como elas a afetaram e ainda a afetam.

    O cliente é sempre a figura e o conhecimento que posso ter dele se dá, de um lado, através daquilo que ele apresenta: suaexpressão verbal e não-verbal, sua história de vida, seus sintomas e queixas, seus sentimentos, etc. Por outro lado, conheço-o tambématravés do que experiencio em minha relação com ele: sentimentos, intuição, fantasias e observação, além do conhecimento e da minhaexperiência clínica prévias ( que orientam meu olhar e minha escuta).

    O pensamento diagnóstico processual com cada cliente é tão singular quanto é singular cada cliente. Embora não seja um processolinear, nem o mesmo com todos os pacientes, numa tentativa de sistematizar como se pode alcançar um diagnóstico compreensivo,mencionarei alguns aspectos úteis e importante a fim de compreender o significado da relação figura/fundo.

    Desde o primeiro momento de contato com o paciente, quer na primeira entrevista, no telefone quando ele marca sua primeiraconsulta ou no início de uma sessão, é importante não ter nenhuma idéia apriorística em mente. É um estado de disponibilidade interna, noqual é possível deixar-se entrar em contato com aquilo que possa emergir na relação. Trata-se de uma atitude respeitosa de curiosidade.

    Presto especial atenção àquilo que me impacta, querendo com isso dizer que presto atenção ao que me captura a atenção, meintriga, não faz sentido, me impressiona e assim por diante. Isto pode ocorrer a nível do discurso do paciente, de sua aparência, de suaenergia, de sua postura corporal, de sua afetividade (ou bloqueios dela), de sua voz, ou expressões de outra natureza. Freqüentemente oimpacto me sinaliza alguma coisa que, via de regra, não compreendo de imediato, mas que me parece importante tentar compreender ao longodo tempo.

    BIBLIOGRAFIA

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