a composição dos estados gerais

41
A composição dos Estados Gerais Os Estados Gerais de 1789 compunham-se de 1.154 representantes: 291 deles eram deputados do clero, 285 da nobreza e 578 do Terceiro Estado (ordem que, genericamente, abrigava o povo e a burguesia). Na época, dos 25 milhões de franceses, apenas 120 mil pertenciam ao clero e 350 mil à nobreza (subdividida em nobreza togada, e a de "sangue", isto é, a aristocracia). Na representação dos Estados Gerais convocados, o povo, que perfazia a imensa maioria, tinha só dois parlamentares a mais. As diferenças entre os deputados do Terceiro Estado, da nobreza e do clero, não ocorriam só no comportamento e na maneira de vestir (os deputados do Terceiro Estado eram obrigados a usar o preto, enquanto os das ordens privilegiadas podiam trajar-se luxuosamente. Só não os fizeram falar de joelhos como se dava no costume antigo). Nos debates que convergiam para a formação de uma monarquia constitucional, os representantes do Terceiro Estado insistiam na abolição de antigos privilégios e na supressão da votação por estados. Desejavam que cada representante tivesse direito a um voto, o que daria maioria, ainda que apenas por dois votos, aos deputados do Terceiro Estado. Os eleitos pelo clero e pela nobreza resistiam, insistindo em manter o antigo sistema no qual cada ordem tinha um só voto, o que permitia aos nobres e ao clero continuar controlando a votação. Por detrás da insistência do Terceiro Estado, alinhava-se um descontentamento generalizado com a monarquia, com a inépcia do rei e com os desatinos da rainha Maria Antonieta, a Austríaca, pessoa das menos estimadas pelo povo francês em todos os tempos. Estados Gerais Constituídos por representantes dos três Estados, são convocados em 1788 depois de 174 anos de inatividade. A convocação resulta do fracasso da Assembléia dos /home/website/convert/temp/convert_html/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Upload: supercristina

Post on 02-Jul-2015

1.902 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A composição dos Estados Gerais

A composição dos Estados Gerais

Os Estados Gerais de 1789 compunham-se de 1.154 representantes: 291 deles eram deputados do clero, 285 da nobreza e 578 do Terceiro Estado (ordem que, genericamente, abrigava o povo e a burguesia). Na época, dos 25 milhões de franceses, apenas 120 mil pertenciam ao clero e 350 mil à nobreza (subdividida em nobreza togada, e a de "sangue", isto é, a aristocracia). Na representação dos Estados Gerais convocados, o povo, que perfazia a imensa maioria, tinha só dois parlamentares a mais.

As diferenças entre os deputados do Terceiro Estado, da nobreza e do clero, não ocorriam só no comportamento e na maneira de vestir (os deputados do Terceiro Estado eram obrigados a usar o preto, enquanto os das ordens privilegiadas podiam trajar-se luxuosamente. Só não os fizeram falar de joelhos como se dava no costume antigo). Nos debates que convergiam para a formação de uma monarquia constitucional, os representantes do Terceiro Estado insistiam na abolição de antigos privilégios e na supressão da votação por estados. Desejavam que cada representante tivesse direito a um voto, o que daria maioria, ainda que apenas por dois votos, aos deputados do Terceiro Estado. Os eleitos pelo clero e pela nobreza resistiam, insistindo em manter o antigo sistema no qual cada ordem tinha um só voto, o que permitia aos nobres e ao clero continuar controlando a votação.

Por detrás da insistência do Terceiro Estado, alinhava-se um descontentamento generalizado com a monarquia, com a inépcia do rei e com os desatinos da rainha Maria Antonieta, a Austríaca, pessoa das menos estimadas pelo povo francês em todos os tempos.

Estados Gerais

     Constituídos por representantes dos três Estados, são convocados em 1788 depois de 174 anos de inatividade. A convocação resulta do fracasso da Assembléia dos Notáveis, reunida pela monarquia em 1787 para resolver a crise financeira. Formada principalmente por nobres, a Assembléia dos Notáveis recusa qualquer reforma contra seus privilégios. Para a Assembléia dos Estados Gerais são eleitos 291 deputados do clero, 270 da nobreza e 610 do Terceiro Estado, dos quais a maioria é burguesa.

Assembléia Nacional Constituinte

     Os Estados Gerais começam seus trabalhos em maio de 1789. A divisão no clero e na nobreza reforça o Terceiro Estado, que pretende ir além das reformas financeiras pretendidas pela monarquia. Para garantir sua maioria, a nobreza quer que a votação seja feita por classe. O Terceiro Estado quer a votação por cabeça e consegue, para esse propósito, o apoio dos representantes do baixo clero e da pequena nobreza. A disposição da burguesia em liquidar o absolutismo e realizar reformas políticas, sociais e econômicas conduz, em junho de 1789, à proclamação em Assembléia Constituinte.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 2: A composição dos Estados Gerais

     No dia 14 de julho a multidão, que estava submetida as fortes tensões dos últimos dias, resolveu atacar a Bastilha (uma fortaleza-prisão construída por Carlos V, entre 1369 e 1382, com oito torres, muralhas de 25 metros de altura cercadas por fossos). Ela era o símbolo do despotismo. Pairava sobre Paris como um feiticeiro, um bruxo, ou ainda um bicho-papão, que, saindo na calada da noite, indo invadir as casas para arrancar suas vítimas do leito e do aconchego da família, as conduzia algemadas, sem nenhuma formalização de culpa, para os carcereiros. Os habitantes de Paris imaginavam-na um local onde o inominável acontecia. Diziam que torturas e punições indescritíveis tinham seu sítio lá.

     Era a representação concreta do pode-tudo dos privilegiados pois permitia aos nobres, graças às cartas assinadas em branco pelo rei (as famosas lettres du cachet), a usar suas instalações como cárcere dos seus desafetos.

     O embastilhado necessariamente não era informado do seu delito, nem por quanto tempo ficaria preso. Poderia ser encalabouçado por alguns meses, como ocorreu com Voltaire, ou chegar a cumprir 37 anos como se deu com o infeliz Latude.

     Nos últimos tempos ela estava desativada. Quando a assaltaram havia apenas sete presos em suas masmorras, nenhum deles fora detido por motivos políticos. Mesmo assim a sua sombra parecia cobrir Paris inteira, sendo que do alto dos seus torreões as sentinelas posavam como se fossem gárgulas vivas, os olhos do velho regime, tudo vendo, tudo cuidando, em estado de alerta contra todos.

Eventos relevantes que precedem a Revolução

1740

Guerra de Sucessão Austríaca (1740-1748) - o Estado francês fica muito endividado.

1756

Início da Guerra dos Sete Anos - agravamento da situação financeira do Estado francês.

1774

Coroação do rei Luís XVI em Reims.

1776

O rei Luís XVI demite o ministro das finanças, Turgot.

Início da Guerra da Independência Americana (1776-1783), com importante auxílio financeiro francês à luta pela independência.

Benjamin Franklin chega a França, onde passa a residir como embaixador dos Estados Unidos da América (1776-1785).

1777

Um ano de más colheitas vinícolas.

1785

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 3: A composição dos Estados Gerais

Campanha contra Maria Antonieta, rainha de França - o Caso do colar de diamantes.

1786

Luís XVI e o Estado da França estão perante a ruína financeira.

Setembro: Tratado de comércio entre a França e a Inglaterra, abre a porta aos produtos industriais ingleses levando à falência muitos pequenos industriais e artesãos.

[editar] Fase Pré-Revolucionária

1787

22 de Fevereiro : Primeira Assembleia dos notáveis, convocada por Charles Alexandre de Calonne num contexto de instabilidade financeira do Estado e de renitência geral (entre outros pela aristocracia) contra a imposição de novos impostos e reformas fiscais.

1 de Maio : Étienne Charles de Loménie de Brienne substitui de Calonne como Controlador-Geral das Finanças.

25 de Maio : Primeira Assembleia dos Notáveis dissolvida.

1788

Formação do "Clube dos Trinta" contra Necker e o ancien régime, iniciando uma intensa campanha de panfletos e brochuras.

8 de Maio : Luís XVI emite o Édito de Lamoignon, abolindo o poder do parlamento no que respeita à revisão dos éditos reais.

1789

24 de Janeiro : Instabilidade geral, ocasionada pelas condições económicas, converge para a convocação dos Estados Gerais pela primeira vez, desde 1614.

5 de Maio : Abertura da reunião dos Estados Gerais em Versailles.

[editar] Estados Gerais e Assembleia Constituinte

17 de Junho : O Terceiro Estado proclama-se "Assembleia Nacional" - o início da Revolução política.

24 de Junho : Luís Filipe II, Duque d'Orleães liderando um grupo de 47 nobres, junta-se aos revoltosos da Assembleia Nacional.

27 de Junho : O rei Luís XVI aceita a demissão de Necker, seu ministro das finanças.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 4: A composição dos Estados Gerais

9 de Julho : A Assembleia Nacional proclama-se "Assembleia Nacional Constituinte".

12 de Julho : Início dos motins em Paris - a "jornada sinistra".

14 de Julho : Tomada da Bastilha - o ínício simbólico da Revolução francesa.

15 de Julho : A "jornada sinistra" estende-se aos campos, com pilhagens de igrejas, queima de colheitas, casas, etc..

28 de Julho : A Assembleia Nacional institui um comité de investigação de "complots" aristocráticos.

4 de Agosto : Sob proposta do visconde de Noailles e do duque de Aiguillon, a Assembleia Nacional suprime todos os privilégios das comunidades e das pessoas, as imunidades provinciais e municipais, as banalidades, e os direitos feudais.

26 de Agosto - "Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão".

10-11 de Setembro: Derrota dos monárquicos - afirmação da Camara Única e rejeição do Veto Suspensivo do Rei.

2 de Novembro : Nacionalização dos bens de rendimento da Igreja Católica para garantia dos assignats.

1790

19 de Abril : O Estado nacionaliza e passa a administrar todos os bens da Igreja Católica.

Maio - Publicação dos decretos de aplicação da abolição dos direitos feudais; início do assalto e destruição dos arquivos notariais e senhoriais.

12 de Julho : Constituição Civil do Clero.[1]

No Verão de 1790: início da organização, sob inspiração de Marat e Danton de "Les Cordeliers", que vêm a ser muito reprimidos por Lafayette em Julho de 1791.

27 de Novembro : Sob proposta do protestante Barnave, a Assembleia decide que todos os eclesiásticos católicos que se mantivessem em funções teriam que jurar manter a Constituição Civil do Clero.

1791

22 de Maio : Lei que anula o direito de Petição colectiva.

14 de Junho : Lei de Le Chapelier proibe os sindicatos dos trabalhadores e as greves, sob a ameaça de morte.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 5: A composição dos Estados Gerais

17 de Julho : Massacre do "Champ de Mars", em Paris, sob o comando militar de Lafayette.

[editar] Assembléia Legislativa

1 de Outubro : Reunião da Assembléia Legislativa

9 de Novembro : Todos os emigrés são ordenados pela Assembleia a regressar, sob a ameaça de morte

11 de Novembro : Luís veta a deliberação da Assembleia sobre os emigrés.

1792

Janeiro – Março : Desacatos por fome em Paris.

7 de Fevereiro : Aliança entre Áustria e a Prússia.

20 de Abril : A França declara a guerra contra a Áustria.

10 de Agosto –13 de Agosto: Ataque ao Palácio das Tulherias. Luís XVI é preso, juntamente com a família

19 de Agosto : Lafayette foge para a Áustria.

22 de Agosto : Revoltas monárquicas em Bretanha, Vendeia e Delfinado

2 de Setembro –7 de Setembro: Os Massacres de Setembro

[editar] A Convenção Nacional

20 de Setembro : Batalha de Valmy

20 de Setembro : Sessões finais da Assembleia Legislativa e primeiro encontro da Convenção Nacional; voto unânime pela abolição da monarquia

10 de Outubro : Os termos monsieur e madame são banidos por decreto, para ser substituidos por citoyen e citoyenne

11 de Dezembro : Tem início o julgamento de Louis XVI pela Convenção

1793

21 de Janeiro : Execução do Rei Luis XVI

1 de Fevereiro : Declarada a Guerra com a Inglaterra, Holanda e Espanha

14 de Fevereiro : A França anexa o Mónaco

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 6: A composição dos Estados Gerais

Março: revolta monárquica da Vendeia.

10 de Março : Estabelecimento do Tribunal Revolucionário

6 de Abril : O poder é concentrado no Comité de Segurança Pública e no Comité de Segurança Geral

2 de Junho : 31 deputados Girondinos são presos

12 de Julho Revolta monarquista em Toulon

13 de Julho : Assassinato de Jean-Paul Maratpor uma jovem girondina

27 de Julho : Robespierre torna-se membro do Comité de Segurança Pública

23 de Agosto : Imposto sobre toda a população masculina, o Levée en masse

17 de Setembro : É aprovada a Lei do Maximum Général: um extenso programa de controlo de salários e de preços ; e a Lei dos suspeitos

9 de Outubro : Lyon é retomada aos monárquicos por republicanos

16 de Outubro : Execução da Rainha Maria Antonieta

31 de Outubro : Execução de líderes Girondinos

10 de Novembro : Abolição do culto de Deus: Culto da Razão

Dezembro: Retirada dos aliados do outro lado do Rêno

8 de Dezembro  : Madame Du Barry foi executada

19 de Dezembro : Os ingleses evacuam Toulon

23 de Dezembro : Batalha de Savenay esmaga a revolta monárquica em La Vendée

1794

19 de Janeiro : Os ingleses desembarcam na Córsega

4 de Fevereiro : Abolição da escravatura nas colónias

24 de Março : Execução dos Hébertistas

2 de Abril : Julgamento de Danton tem início

6 de Abril : Execuçao dos Dantonistas

8 de Junho : Festival do Ser Supremo

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 7: A composição dos Estados Gerais

10 de Junho : Lei de 22 de Prairial, também conhecida como "loi de la Grande Terreur"

26 de Junho : Batalha de Fleurus (1794) (Vitória francesa na Bélgica)

2 de Julho -13 de Julho: Batalha de Vosges (vitória francesa no Rêno)

27 de Julho : Queda de Maximilien de Robespierre (9 Thermidor)

24 de Dezembro : Anulação do maximum

1795

5 de Março : Tratado de Basiléia (A Prússia retira-se da Guerra)

1 de Abril : Desacatos pelo pão em Paris

8 de Junho : Morte do dauphin (Luis XVII da França)

22 de Agosto : Constituição de 1795

1797

18 de Abril : Paz preliminar de Leoben

8 de Julho : República Cisalpina estabelecida

4 de Setembro : Coup d'Etat em Paris (Republicanos contra Reacionários)

17 de Outubro : Tratado de Campo Formio

1798

Fevereiro: República Romana é proclamada

Abril: República de Helvetia é proclamada

21 de Julho : Batalha das Pirâmides

1 de Agosto : Batalha do Nilo

24 de Dezembro : Aliança entre Rússia e Inglaterra

1799

17 de Julho –19: Batalha de Trebia (Suvorov vence Franceses)

24 de Agosto : Napoleão deixa o Egito

22 de Outubro : Rússia deixa a coalizão

[editar] Início da Era Napoleónica

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 8: A composição dos Estados Gerais

Não há uma data precisa para o início da Era Napoleônica. O Golpe do 18 Brumário dissolveu o Diretório; A Constituição seis semanas depois o dissolveu formalmente.

9 de Novembro : O Coup d'Etat do 18 Brumário: Fim do Diretório

24 de Dezembro : Constituição do Ano VIII: Ditadura de Napoleão estabelecida sobre a forma do Consulado

Da Assembléia dos Estados Gerais à Assembléia Nacional Constituinte

A bancarrota do Estado obrigou LUÍS XVI a demitir o ministro Brienne e a nomear novamente Necker. Para obter sugestões, Necker sugeriu ao rei a convocação dos "Estados Gerais", assembléia dos representantes do 121 22 e 32 Estados, que não se reunia desde 1614. (1) "sans-culottes" (tradução: "sem-calças): população pobre de Paris, formada pela massa de artesãos, aprendizes, lojistas, biscateiros e desempregados; teve importante participação nos acontecimentos revolucionários de 1789 a 1794".

 

CARTA DE CONVOCAÇÃO DOS ESTADOS GERAIS EM VERSALHES:

1789 Por ordem do Rei.

Nosso amado e fiel. Temos necessidade do concurso de nossos fiéis súditos para nos ajudarem a superar todas as dificuldades em que nos achamos, com relação ao estado de nossas finanças e para estabelecer, segundo os nossos desejos, uma ordem constante e invariável em todas as partes do governo que interessam à felicidade dos nossos súditos e à prosperidade de nosso reino.

Esses grandes motivos Nos determinaram a convocar a assembléia dos Estados de todas as províncias sob nossa obediência, tanto para Nos aconselharem e Nos assistirem em todas as coisas que serão colocadas sob as suas vistas, quanto para fazer-Nos conhecer os desejos, e queixas de nossos povos, de maneira que, por mútua confiança e amor recíproco entre o Soberano e seus súditos, seja achado o mais rapidamente possível, um remédio eficaz para os males do Estado e que os abusos de toda espécie sejam reformados e prevenidos. Dado em Versalhes, em 24 de janeiro de 1789. Assinado: Luis. Secretário: Laurent de Villedeuil. Ponte: MATTOSO, Kátia M. de Queiróz. Textos e Documentos para o estudo da História Contemporânea, 1789-1963.(São Paulo, HUCITEC, Ed. da Universidade de São Paulo, 1977,).

Decidiu-se que os Estados Gerais se reuniriam em 12 de maio de 1789, constituídos em "ordens" independentes cada uma com o mesmo número de representantes e votando separadamente, como em 1614. Com isso, a aristocracia calculava contar com os votos do 1o. Estado (o Clero) e do 2o. Estado (a Nobreza), contra um voto do 3o. Estado (a burguesia e o povo em geral), assumindo o controle de todas as decisões e és vaziando o poder do monarca. Seria a vitória da aristocracia sobre o Rei e sobre a burguesia.

A convocação para a eleição dos membros dos Estados Gerais trouxe grandes expectativas ao Terceiro Estado. Panfletos e jornais circulavam pelas praças, esquinas e cafés difundindo as palavras de ordem criadas pelos iluministas como: "cidadão", "nação", "contrato social", "vontade geral", "direito do homem", As discussões e os debates ocorriam nos clubes patrióticos, nas sociedades literárias e nas lojas maçônicas existentes nas cidades francesas, colaborando para a politização de seus membros e para a formação de opiniões.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 9: A composição dos Estados Gerais

A Tomada da Bastilha, por Jean-Pierre Louis Laurent Houel.

0 abade Sieyés foi autor de vários opúsculos que contribuíram para criar a consciência revolucionária do Terceiro Estado. No panfleto "Qu 'est-ce que le Tiers Etat", ele fez progredir o debate sobre a 1 forma de convocação dos Estados Gerais, quando indagava: 0 que é o Terceiro Estado? - Tudo. 0 que ele foi até agora na ordem política? - Nada. - 0 que ele quer? Tornar-se alguma coisa." (CHAUSSINAND GARET, Guy. A queda da Bastilha. Rio de Janeiro, Zahar, 1988, p.35).

Representando cerca de 97% da população do país, o Terceiro Estado conseguiu aumentar sua participação nos Estados Gerais, elegendo 1 610 deputados (a metade da Assembléia), oriundos das fileiras da burguesia (advogados, comerciantes, proprietários rurais, banqueiros), a elas se social que tinha um projeto político para substituir o absolutismo, baseado nos princípios iluministas da igualdade perante a lei e do liberalismo político e econômico.

A massa da população, formada por artesão, diaristas pequenos comerciantes, músicos, aprendizes, etc, não participou das eleições, pois só podiam - votar aqueles que tivessem o ofício ou emprego público, grau universitário ou de mestre de corporação e que pagassem pelos menos seis libras de imposto de capitação.

Para expor seus desejos e suas queixas, os eleitores de cada uma das três "ordens" redigiram seus "Cadernos de Reclamações". De sua leitura depreende-se que o clero, a nobreza e a burguesia eram unânimes em reclamar a liberdade individual e o direito à propriedade, bem como a elaboração de uma constituição que definisse claramente os direitos do rei e os da nação, limitando assim o poder real. A nobreza e a burguesia queriam a liberdade de imprensa; o clero opunha-se à -burguesia e o povo em geral exigiam a abolição dos privilégios e dos direi tos feudais, contra os interesses do clero e da nobreza.

CADERNO DE RECLAMAÇÕES DO TERCEIRO ESTADO DA PARÓQUIA DE LONGEY- ELEIÇÃO DE CHATEAUDUN, GENERALIDADE DE ÓRLEANS, BAILIA DO DE BLOIS.

Nós, habitantes da paróquia de Longey abaixo-assinados, tendo nos reunido em virtude das ordens do Rei, na sexta-feira, dia 6 do presente mês de maio de 1789, resolvemos o que segue:

Pedimos que todos os privilégios sejam abolidos.- Declaramos que se alguém merece ter privilégios e gozar de isenções, são estes, sem contradição, os habitantes do campo, pois são os mais Úteis ao Estado, porque por seu trabalho o fazem viver. Que até hoje foram quase os únicos a pagar os exorbitantes impostos de que esta província está carregada; que os campos estão - arruinados e os cultivadores na impossibilidade de poder manter e criar sua família; que à maior parte falta o pão, visto os impostos que os sobrecarregam e as perdas que experimentam todos os anos, seja pela caça, seja por outros flagelos.

Pedimos também que as talhas com as quais a nossa paróquia esta sobrecarregada sejam abolidas; que este imposto que nos oprime, e que só é pago pelos infelizes, seja convertido num só e único imposto ao qual devem ser submetidos todos os eclesiásticos e nobres sem distinção, e que o produto deste imposto seja levado diretamente ao Tesouro. *Pedimos ainda que não haja mais gabela e que o sal se torne comerciável, o que seria um grande benefício

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 10: A composição dos Estados Gerais

para todo o povo e principalmente para nós, habitantes do campo, que pagamos esta mercadoria muito caro e que dela fazemos o maior consumo um imposto que nos e muito oneroso e prejudicial. (Seguem-se 12 assinaturas.) (Mattoso, Kátia M. de Q., op. cit. p. 4/5.)

A instalação da Assembléia dos Estados Gerais deu-se a 5 de maio de 1789, em Versalhes. Os desentendimentos entre os deputados começaram quando a burguesia propôs o voto por cabeça e as duas ordens privilegiadas não concordaram. Durante um mês e meio, a nobreza e o alto clero recusaram-se obstinadamente a votar por cabeça. Diante do impasse, no dia 17 de junho, os deputados do Terceiro Estado apoiados pelo baixo clero proclamaram-se em Assembléia Nacional, decidindo não se separar antes de dotar a França de uma constituição. Isso significa vã a transferência do poder do rei para os representantes da nação e o fim do absolutismo monárquico.

Frente ao perigo que representava o poder da burguesia na Assembléia Nacional Constituinte, a aristocracia recompôs-se com o rei, pregando a utilização da força para dissolver a Assembléia. Mas a revolução popular impediu que isso acontecesse

Revolução FrancesaPode se dizer que a Revolução Francesa teve relevante papel nas bases da sociedade de uma época,

além de ter sido um marco divisório da história dando início à idade contemporânea.

Foi um acontecimento tão importante que seus ideais influenciaram vários movimentos ao redor do mundo, dentre eles, a nossa Inconfidência Mineira.

Esse movimento teve a participação de vários grupos sociais: pobres, desempregados, pequenos comerciantes, camponeses (estes, tinham que pagar tributos à nobreza e ao clero).

Em 1789, a população da França era a maior do mundo, e era dividida em três estados: clero (1º estado), nobreza (2º estado) e povo (3º estado).

- Clero- Alto clero (bispos, abades e cônicos)

- Baixo clero (sacerdotes pobres)

Nobreza- Nobreza cortesã (moradores do Palácio de Versalhes)

- Nobreza provincial (grupo empobrecido que vivia no interior)- Nobreza de Toga (burgueses ricos que compravam títulos de nobreza e cargos políticos e administrativos)

Povo- Camponeses

- Grande burguesia (banqueiros, grandes empresários e comerciantes)- Média burguesia (profissionais liberais)

- Pequena burguesia (artesãos e comerciantes)- Sans-culottes (aprendizes de ofícios, assalariados, desempregados). Tinham este nome porque não usavam os

calções curtos com meias típicos da nobreza.

O clero e a nobreza tinham vários privilégios: não pagavam impostos, recebiam pensões do estado e podiam exercer cargos públicos.

O povo tinha que arcar com todas as despesas do 1º e 2º estado. Com o passar do tempo e influenciados pelos ideais do Iluminismo, o 3º estado começou a se revoltar e a lutar pela igualdade de todos perante a lei.

Pretendiam combater, dentre outras coisas, o absolutismo monárquico e os privilégios da nobreza e do clero.

A economia francesa passava por uma crise, mais da metade da população trabalhava no campo, porém, vários fatores ( clima, secas e inundações), pioravam ainda mais a situação da agricultura fazendo com que os preços

subissem, e nas cidades e no campo, a população sofria com a fome e a miséria.

Além da agricultura, a indústria têxtil também passava por dificuldades por causa da concorrência com os tecidos ingleses que chegavam do mercado interno francês. Como conseqüência, vários trabalhadores ficaram

desempregados e a sociedade teve o seu número de famintos e marginalizados elevados.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 11: A composição dos Estados Gerais

Toda esta situação fazia com que a burguesia (ligada à manufatura e ao comércio) ficasse cada vez mais infeliz. A fim de contornar a crise, o Rei Luís XVI resolveu cobrar tributos ao povo (3º estado), em vez de fazer

cobranças ao clero e a nobreza.

Sentindo que seus privilégios estavam ameaçados, o 1º e 2º estado se revoltaram e pressionaram o rei para convocar a Assembléia dos Estados Gerais que ajudaria a obrigar o povo a assumir os tributos.

OBS: A Assembléia dos Estados Gerais não se reunia há 175 anos. Era formada por integrantes dos três estados, porém, só era aceito um voto para cada estado, como clero e nobreza estavam sempre unidos, isso sempre

somava dois votos contra um do povo.

Essa atitude prejudicou a nobreza que não tinha consciência do poder do povo e também porque as eleições para escolha dos deputados ocorreram em um momento favorável aos objetivos do 3º estado, já que este vivia

na miséria e o momento atual do país era de crise econômica, fome e desemprego.

Em maio de 1789, após a reunião da Assembléia no palácio de Versalhes, surgiu o conflito entre os privilegiados (clero e nobreza) e o povo.

A nobreza e o clero, perceberam que o povo tinha mais deputados que os dois primeiros estados juntos, então, queria de qualquer jeito fazer valer o voto por ordem social. O povo (que levava vantagem) queria que o voto

fosse individual.

Para que isso acontecesse, seria necessário uma alteração na constituição, mas a nobreza e o clero não concordavam com tal atitude. Esse impasse fez com que o 3º estado se revoltasse e saísse dos Estados Gerais.

Fora dos Estados Gerais, eles se reuniram e formaram a Assembléia Nacional Constituinte.

O rei Luís XVI tentou reagir, mas o povo permanecia unido, tomando conta das ruas. O slogan dos revolucionários era “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.

Em 14 de julho de 1789 os parisienses invadiram e tomaram a Bastilha (prisão) que representava o poder absoluto do rei, já que era lá que ficavam os inimigos políticos dele. Esse episódio ficou conhecido como "A

queda da Bastilha".

O rei já não tinha mais como controlar a fúria popular e tomou algumas precauções para acalmar o povo que invadia, matava e tomava os bens da nobreza: o regime feudal sobre os camponeses foi abolido e os privilégios

tributários do clero e da nobreza acabaram.

No dia 26 de agosto de 1789 a Assembléia Nacional Constituinte proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, cujos principais pontos eram:

- O respeito pela dignidade das pessoas- Liberdade e igualdade dos cidadãos perante a lei

- Direito à propriedade individual- Direito de resistência à opressão política

- Liberdade de pensamento e opinião

Em 1790, a Assembléia Constituinte reduziu o poder do clero confiscando diversas terras da Igreja e pôs o clero sob a autoridade do Estado. Essa medida foi feita através de um documento chamado “Constituição Civil do

Clero”. Porém, o Papa não aceitou essa determinação.

Sobraram duas alternativas aos sacerdotes fiéis ao rei.

1ª) Sair da França2º) Lutar contra a revolução

Muitos concordaram com essa lei para poder permanecer no país, mas os insatisfeitos fugiram da França e no exterior decidiram se unir e formar um exército para reagir à revolução.

Em 1791, foi concluída a constituição feita pelos membros da Assembléia Constituinte.

Principais tópicos dessa constituição- Igualdade jurídica entre os indivíduos

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 12: A composição dos Estados Gerais

- Fim dos privilégios do clero e nobreza- Liberdade de produção e de comércio (sem a interferência do estado)

- Proibição de greves- Liberdade de crença

- Separação do estado da Igreja- Nacionalização dos bens do clero

- Três poderes criados (Legislativo, Executivo e Judiciário)

O rei Luís XVI não aceitou a perda do poder e passou a conspirar contra a revolução, para isso contatava nobres emigrados e monarcas da Áustria e Prússia (que também se sentiam ameaçados). O objetivo dos contra-

revolucionários era organizar um exército que invadisse a França e restabelecesse a monarquia absoluta (veja Absolutismo na França).

Em 1791, Luís XVI quis se unir aos contra-revolucionários e fugiu da França, mas foi reconhecido, capturado, preso e mantido sob vigilância.

Em 1792, o exército austro-prussiano invadiu a França, mas foi derrotado pelas tropas francesas na Batalha de Valmy. Essa vitória deu nova força aos revolucionários franceses e tal fato levou os líderes da burguesia decidir

proclamar a República (22 de setembro de 1792).

Com a proclamação, a Assembléia Constituinte foi substituída pela Convenção Nacional que tinha como uma das missões elaborar uma nova constituição para a França.

Nessa época, as forças políticas que mais se destacavam eram as seguintes: - Girondinos: alta burguesia

- Jacobinos: burguesia (pequena e média) e o proletariado de Paris. Eram radicais e defendiam os interesses do povo. Liderados por Robespierre e Saint-Just, pregavam a condenação à morte do rei.

- Grupo da Planície: Apoiavam sempre quem estava no poder.

Mesmo com o apoio dos girondinos, Luís XVI foi julgado e guilhotinado em janeiro de 1793. A morte do rei trouxe uma série de problemas como revoltas internas e uma reorganização das forças absolutistas estrangeiras.

Foram criados o Comitê de Salvação Pública e o Tribunal Revolucionário (responsável pela morte na guilhotina de muitas pessoas que eram consideradas traidoras da causa revolucionária).

Esse período ficou conhecido como “Terror”, ou "Grande Medo", pois os não-jacobinos tinham medo de perder suas cabeças.

Começa uma ditadura jacobina, liderada por Robespierre. Durante seu governo, ele procurava equilibrar-se entre várias tendências políticas, umas mais identificadas com a alta burguesia e outras mais próximas das

aspirações das camadas populares.

Robespierre conseguiu algumas realizações significativas, principalmente no setor militar: o exército francês conseguiu repelir o ataque de forças estrangeiras.

Durante o governo dele vigorou a nova Constituição da República (1793) que assegurava ao povo: - Direito ao voto

- Direito de rebelião- Direito ao trabalho e a subsistência

- Continha uma declaração de que o objetivo do governo era o bem comum e a felicidade de todos.

Quando as tensões decorrentes da ameaça estrangeira diminuiram, os girondinos e o grupo da planície uniram-se contra Robespierre que sem o apoio popular foi preso e guilhotinado em 1794.

Após a sua morte, a Convenção Nacional foi controlada por políticos que representavam os interesses da alta burguesia. Com nova orientação política, essa convenção decidiu elaborar outra constituição para a França.

A nova constituição estabelecia a continuidade do regime republicano que seria controlado pelo Diretório (1795 - 1799). Neste período houve várias tentativas para controlar o descontentamento popular e afirmar o controle

político da burguesia sobre o país.

Durante este período, a França voltou a receber ameaças das nações absolutistas vizinhas agravando a situação.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 13: A composição dos Estados Gerais

Nessa época, Napoleão Bonaparte ganhou prestígio como militar e com o apoio da burguesia e do exército, provocou um golpe.

Em 10/11/1799, Napoleão dissolveu o diretório e estabeleceu um novo governo chamado Consulado. Esse episódio ficou conhecido como 18 Brumário.

Com isso ele consolidava as conquistas da burguesia dando um fim para a revolução.

A CONVOCAÇÃO DOS ESTADOS GERAIS

Os reis da França não convocavam os Estados Gerais - organização integrada por representantes do clero, da nobreza e do povo - desde 1614. Centralizadores, convictos do absolutismo, os reis franceses desprezavam qualquer instituição que lhes criasse obstáculos ao uso irrestrito do poder. Naquele início de 1789, no entanto, Luís XVI resolveu chamar aquela antiga assembléia, cujas origens vinham dos tempos medievais, na tentativa de resolver a grave crise financeira que se alastrava pela França, ameaçando-a com o caos.

Em 24 de janeiro de 1789, o rei baixou um decreto instituindo as votações para a sua composição, tendo sua primeira reunião marcada para cinco de maio daquele ano, a ser realizada em Versalhes. O local não foi escolhido ao acaso: o Palácio de Versalhes, a morada do rei e sede do governo, era um templo de esplendor erguido por Luís XIV, o rei Sol, para celebrar a magnificência do absolutismo. Luís XVI pretendia de certa forma impressionar os deputados com a suntuosidade das instalações e também não interromper as suas caçadas pelos bosques vizinhos, enquanto os parlamentares tentariam tirar o reino do fundo do poço.

Thomas Jefferson, testemunha da cerimônia da abertura, comparou-a a uma imponente ópera, porém pouco conseguiu ouvir do discurso do mestre de cerimônias M. Dreux-Brézé, e quando chegou a vez de Jacques Necker, o celebrado ministro da Fazenda, além de sentir-se frustado com o pouco espaço concedido por ele às grandes reformas constitucionais que o Rapport du Roi, o Relatório do rei, prometera anteriormente, ainda que criticasse "o desejo exagerado de inovação", fez um discurso excessivamente técnico, recorrendo a palavras que poucos entenderam. Necker, além de mencionar que todos estavam ali por benemerência do rei, apresentou um déficit orçamentário de 56 milhões de livres (depois

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 14: A composição dos Estados Gerais

descobriu-se que chegava a 162 milhões!), o qual convocava a nação a pagar. Trocando em miúdos, a montanha parira um rato. Quando o rei e a rainha se retiraram, ouviu-se um uníssono Vive le Roi! Foi a última vez que escutou-se tal aclamação naquela assembléia.

A MERITOCRACIA CONTRA A ARISTOCRACIA

Em Versalhes, dois mundos se defrontaram. O primeiro deles era o mundo do privilégio composto pelos homens e mulheres dos salões, dos castelos, das mansardas, das grande propriedades fundiárias, um universo de bom gosto, de requinte e refinamento, que a renda da terra e os direitos feudais lhes asseguravam. Àquela altura, ele esteticamente se identificava com o rococó e com as paisagens bucólicas, antigas ou atuais, escapistas de um Boucher. A eles, muito próximo, encontrava-se a corporação clerical, os príncipes da Igreja, os teólogos e reitores eminentes, os altos dignatários que representavam os interesses de Roma no seio da sociedade francesa. Depois de terem neutralizado, no século anterior, a dissidência católica dos jansenistas, que tivera no filósofo Pascal a sua maior expressão, o corpo sacerdotal enfrentou um duríssimo embate com a família iluminista, particularmente contra o barão DHolbach, um ateu assumido que exercera um grande influência, e contra Voltaire, que usara o gênio e a pena como um mortífero florete para expor as contradições da vida cristã e a hipocrisia do sacerdócio.

Naquele momento em Versalhes nobres e bispos irmanavam-se numa frente em comum contra o absolutismo (desejavam a restauração de antigas regalias suprimidas pelo rei) e contra o Terceiro Estado, que lá estava justamente para lhes podar as vantagens, os favores e prebendas escandalosas que ainda usufruíam.

O outro mundo, o mundo burguês, era o do trabalho, do comércio, do negócio, da pequena fábrica, da vida sóbria em casas modestas, do ter que suar para ganhar o pão de cada dia, de viver de empreendimentos, de assumir riscos e, por vezes, desabar por causa deles. O seu dia-a-dia era probo, economizando os tostões para não ter que mendigar na velhice. Do seu labor e dos seus próximos é que o reino extraía a prosperidade que conheceu no século XVIII. Cada vez mais lhe parecia odioso o sistema ainda vigente na França, onde justamente quem trabalhava de sol a sol era punido com uma pesada canga tributária que lhe caía sobre as costas. Sentia-se um atlas carregando um peso morto na garupa. Tinham, os burgueses, que pôr um fim naquilo, ainda que não sabendo como, nem quando. O sistema de ordens, os privilégios do sangue e da casta, repentinamente pareceu-lhes insuportavelmente arcaico, injusto, /tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 15: A composição dos Estados Gerais

abominável. O mundo que almejavam era o dos talentos. O que eles representavam eram a produção, os lucros e os salários, enquanto o outro mundo, o do privilégio, vivia da renda, dos tributos e da servidão. Em Versalhes, a meritocracia se insurgiria contra a aristocracia.

A COMPOSIÇÃO DOS ESTADOS GERAIS

Os Estados Gerais de 1789 compunham-se de 1.154 representantes: 291 deles eram deputados do clero, 285 da nobreza e 578 do Terceiro Estado (ordem que, genericamente, abrigava o povo e a burguesia). Na época, dos 25 milhões de franceses, apenas 120 mil pertenciam ao clero e 350 mil à nobreza (subdividida em nobreza togada, e a de "sangue", isto é, a aristocracia). Na representação dos Estados Gerais convocados, o povo, que perfazia a imensa maioria, tinha só dois parlamentares a mais.

As diferenças entre os deputados do Terceiro Estado, da nobreza e do clero, não ocorriam só no comportamento e na maneira de vestir (os deputados do Terceiro Estado eram obrigados a usar o preto, enquanto os das ordens privilegiadas podiam trajar-se luxuosamente. Só não os fizeram falar de joelhos como se dava no costume antigo). Nos debates que convergiam para a formação de uma monarquia constitucional, os representantes do Terceiro Estado insistiam na abolição de antigos privilégios e na supressão da votação por estados. Desejavam que cada representante tivesse direito a um voto, o que daria maioria, ainda que apenas por dois votos, aos deputados do Terceiro Estado. Os eleitos pelo clero e pela nobreza resistiam, insistindo em manter o antigo sistema no qual cada ordem tinha um só voto, o que permitia aos nobres e ao clero continuar controlando a votação.

Por detrás da insistência do Terceiro Estado, alinhava-se um descontentamento generalizado com a monarquia, com a inépcia do rei e com os desatinos da rainha Maria Antonieta, a Austríaca, pessoa das menos estimadas pelo povo francês em todos os tempos.

A ASSEMBLÉIA NACIONAL

De certa forma era previsível o que aconteceu. A nação emudecida por dois séculos, tendo que assistir em silêncio respeitoso os desastres da monarquia Bourbon, só contando com os homens de letras como seus defensores, quando deixaram-na falar nos Estados Gerais, ela não mais se calou. O próprio rei havia aberto as comportas. A enxurrada em breve iria afogá-lo.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 16: A composição dos Estados Gerais

No dia 17 de junho, o Terceiro Estado, numa astuciosa manobra do abade Sieyès, já em fase de pré-rebelião, proclamou-se Assembléia Nacional, transformando-se em representante e órgão supremo do povo. Essa medida provocou a indignação de Luís XVI, pois ele convocara os Estados Gerais para que o auxiliassem a superar a crise, não para que se revoltassem contra a sua autoridade. Mas o seu poder rapidamente entrou em processo de corrosão. Parte da coragem dos representantes devia-se aos chamados cahiers doléances, os cadernos de queixas, que continham os reclamos do povo, trazidos por eles nas suas bagagens quando vieram para a reunião em Versalhes. A insatisfação com o regime era evidente, mas ainda estava longe de prever-se uma insurreição. As ordens privilegiadas, a nobreza e o clero, quando sentiram que o rei pouco mais poderia lhes dar, começaram a debandar para o lado do Terceiro Estado.

Em 20 de junho, o rei ordenou a dissolução da assembléia, mandando a guarda suíça evacuar a sala dos trabalhos legislativos. Os deputados, porém, contando com a defecção de vários parlamentares das ordens privilegiadas, não se renderam. Reuniram-se então num outro local, na sala do jogo de pela (antigo jogo de raquetes, semelhante ao tênis), e lá juraram que não se separariam enquanto não dotassem a França de uma Constituição. Com tal ato, o legislativo, assumindo estar falando em nome do povo inteiro, praticamente rompeu com o absolutismo. Foi nesse momento de grande tensão e forte emoção que despontou a oratória veemente de Honoré Gabriel Victor Riqueti, o controvertido conde de Mirabeau, fazendo dele o grande tribuno do Terceiro Estado e a primeira personalidade da revolução.

MIRABEAU TRIBUNO

Eleito pelo Terceiro Estado, Mirabeau, com seu vozeirão tonitruante, enfrentou diretamente M. de Brézé, o enviado do rei quando esse viera, em 23 de junho, com a missão de dissolver a Assembléia. Disse-lhe que somente o povo francês, a quem os parlamentares representavam, podia cassar os deputados e que eles dali não sairiam: "declaro-lhe que, se está aqui para nos fazer sair, deve pedir ordens para usar a força, pois nós só deixaremos os nossos postos pela força das baionetas". Em seguida, proclamou-se a inviolabilidade parlamentar. Nenhum deputado doravante poderia ser preso pelo motivo que fosse sem autorização da Assembléia Nacional. No nove de julho, ela transformou-se em Assembléia Constituinte, com o propósito de instituir uma nova ordem social. Confirmava-se a rejeição da monarquia absolutista. O rei, desgastado, e como que atacado por uma paralisia, não pôde se opor. O absolutismo cambaleara mas ainda não caíra. Quanto a Mirabeau, mais tarde /tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 17: A composição dos Estados Gerais

confirmaram-se uma série de suspeitas nas quais ele teria se vendido aos interesses da Corte. Marat, num artigo premonitório no seu jornal O Amigo do Povo, em maio de 1790, dissera dele: "reduzido à prostituição para viver (em certa época da sua vida, Mirabeau ganhara uns trocados escrevendo literatura licenciosa), ele venderá a sua consciência ao o que oferecer mais. Que se pode esperar de um homem sem princípios, sem costumes, sem honra? Alma dos gangrenados, dos conjurados e dos conspiradores".

A INSURREIÇÃO POPULAR

Quando informaram-no que o povo havia tomado a Bastilha num assalto sangrento, o rei Luís XVI reagiu com assombro:

- Mas isso é um motim!- Não, senhor. Não é um motim, é a revolução - respondeu-lhe um palaciano.

O incrédulo Luís XVI estava perplexo, mas a revolução estava mesmo nas ruas de Paris. A subversão de ordem política já ocorrera com a proclamação da Assembléia Nacional Constituinte, a nove de julho de 1789. Faltava a insurreição popular, que não tardou.

Os amotinamentos, arruaças, incêndios e refregas, recrudesceram pela França inteira desde o início de julho. No dia 12, com a demissão do ministro Jacques Necker - considerado o único reformista do governo monárquico - as tropas reais concentraram-se em Versalhes e Paris para tentar evitar novas tropelias. O povo, protestando contra o afastamento da sua única esperança, saiu às ruas. Houve enfrentamentos. No dia seguinte, mais tumultos. Os motins de fome se alastravam. Logo pela manhã, após um alarme, os remediados de Paris encheram os largos e vielas armados de machados, pistolas, pedras e porretes. As tropas reais foram abandonando a cidade, bairro após bairro. Os revoltosos, então, assaltaram os armeiros e os arsenais militares, levando centenas de espingardas.

A Bastilha

No dia 14 de julho a multidão, que estava submetida as fortes tensões dos últimos dias, resolveu atacar a Bastilha (uma fortaleza-prisão construída por Carlos V, entre 1369 e 1382, com oito torres, muralhas de 25 metros de altura cercadas por fossos). Ela era o símbolo do despotismo. Pairava sobre Paris como um feiticeiro, um bruxo, ou ainda um bicho-papão, que, /tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 18: A composição dos Estados Gerais

saindo na calada da noite, indo invadir as casas para arrancar suas vítimas do leito e do aconchego da família, as conduzia algemadas, sem nenhuma formalização de culpa, para os carcereiros. Os habitantes de Paris imaginavam-na um local onde o inominável acontecia. Diziam que torturas e punições indescritíveis tinham seu sítio lá.

Era a representação concreta do pode-tudo dos privilegiados pois permitia aos nobres, graças às cartas assinadas em branco pelo rei (as famosas lettres du cachet), a usar suas instalações como cárcere dos seus desafetos.

O embastilhado necessariamente não era informado do seu delito, nem por quanto tempo ficaria preso. Poderia ser encalabouçado por alguns meses, como ocorreu com Voltaire, ou chegar a cumprir 37 anos como se deu com o infeliz Latude.

Nos últimos tempos ela estava desativada. Quando a assaltaram havia apenas sete presos em suas masmorras, nenhum deles fora detido por motivos políticos. Mesmo assim a sua sombra parecia cobrir Paris inteira, sendo que do alto dos seus torreões as sentinelas posavam como se fossem gárgulas vivas, os olhos do velho regime, tudo vendo, tudo cuidando, em estado de alerta contra todos.

O ASSALTO À BASTILHA (14 de julho de 1789)

A grande prisão do estado terminou sendo invadida porque um jornalista, Camille Desmoulins, até então desconhecido, arengou em frente ao Palais Royal e pelas ruas dizendo que as tropas reais estavam prestes a desencadear uma repressão sangrenta sobre o povo de Paris. Todos deviam socorrer-se das armas para defender-se. A multidão, num primeiro momento, dirigiu-se aos Inválidos, o antigo hospital onde concentravam um razoável arsenal. Ali, apropriou-se de três mil espingardas e de alguns canhões. Correu o boato de que a pólvora porém se encontrava estocada num outro lugar, na fortaleza da Bastilha. Marcharam então para lá. A massa insurgente era composta de soldados desmobilizados, guardas, marceneiros, sapateiros, diaristas, escultores, operários, negociantes de vinhos, chapeleiros, alfaiates e outros artesãos, o povo de Paris enfim. A fortaleza, por sua vez, defendia-se com 32 guardas suíços e 82 "inválidos" de guerra, possuindo 15 canhões, dos quais apenas três em funcionamento.

Durante o assédio, o marquês de Launay, o governador da Bastilha, ainda tentou negociar. Os guardas, no entanto, descontrolaram-se, disparando /tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 19: A composição dos Estados Gerais

na multidão. Indignado, o povo reunido na praça em frente partiu para o assalto e dali para o massacre. O tiroteio durou aproximadamente quatro horas. O número de mortos foi incerto. Calculam que somaram 98 populares e apenas um defensor da Bastilha.

Launay teve um fim trágico. Foi decapitado e a sua cabeça espetada na ponta de uma lança desfilou pelas ruas numa celebração macabra. Os presos, soltos, arrastaram-se para fora sob o aplauso comovido da multidão postada nos arredores da fortaleza devassada.

Posteriormente a massa incendiou e destruiu a Bastilha, localizada no bairro Santo Antônio, um dos mais populares de Paris. O episódio, verdadeiramente espetacular, teve um efeito eletrizante. Não só na França mas onde a notícia chegou provocou um efeito imediato. Todos perceberam que alguma coisa espetacular havia ocorrido. Mesmo na longínqua Königsberg, na Prússia Oriental, atingida pelo eco de que o povo de Paris assaltara um dos símbolos do rei, fez com que o filósofo Emanuel Kant, exultante com o acontecimento, pela primeira vez na sua vida se atrasasse no seu passeio diário das 18 horas.

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS

A Assembléia Nacional Constituinte, enquanto isso, continuava elaborando os artigos constitucionais. Uma pequena comissão de deputados, entre eles o marquês de La Fayette, Dupont, Barnarve, La Meth e Blancon, reunidos na casa de Thomas Jefferson, então embaixador norte-americano em Paris, pensaram em dotar a futura Constituição francesa com um preâmbulo, uma Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que sintetizasse os anseios maiores da Revolução. Pronta a sua redação, na qual adotaram o mesmo formato das Tábuas da Lei, com uma introdução redigida por Mirabeau, aprovaram-na na sessão de 26 de agosto de 1789. Em apenas 17 artigos, facilmente aprendidos, expuseram os direitos básicos da modernidade e o desejo de autonomia da burguesia (que como classe universal, falava em nome do povo inteiro). Com ela, com a declaração dos direitos, a revolução francesa de 1789 irmanou-se com a revolução americana de 1776, selando o início do fim do absolutismo e consolidando as assim chamadas, por R.R. Palmer e Jacques Godechot, "Revoluções Atlânticas". O documento tinha também outras ambições, os 17 artigos que a compunham serviriam como um novo catecismo elaborado pela burguesia que assim se auto-delegava a tarefa de emancipar o mundo do feudalismo e dos privilégios herdados pelo nascimento.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 20: A composição dos Estados Gerais

ABOLIÇÃO DOS PRIVILÉGIOS

O segundo semestre de 1789 continuou proveitoso: numa memorável sessão noturna realizada em quatro de agosto, assustados pelo grande medo, provocado pelo assalto dos camponeses aos castelos e moradas dos nobres, aboliram-se os privilégios e os direitos feudais arraigados há séculos na sociedade francesa. Até os deputados da nobreza, empolgados pelo momento cívico, votaram a favor pensando em entregar os anéis para salvar os dedos. Privilégios, diga-se, que beiravam o absurdo. Os nobres eram premiados com a isenção de impostos, tribunais especiais (e sentenças brandas, simbólicas), e o direito de prender quem quisessem. Até as dívidas de jogo de alguns deles foram pagas por Luís XVI. As suas regalias pareciam inesgotáveis, entre elas o poder de lançar mão de antiquíssimos impostos feudais, muitos deles em completo desuso, para arrancar ainda mais recursos dos camponeses empobrecidos. Advogados se especializaram apenas em resgatar esses impostos caducos nos velhos registros paroquiais, no que foi chamado de "segunda servidão", ameaçando os camponeses com a polícia caso não os pagassem.

FIM DO MONOPÓLIO CATÓLICO

A 23 de agosto, os constituintes garantiriam o direito à liberdade religiosa, acabando com a dominação exclusiva do catolicismo e, em 2 de novembro, golpearam a Igreja Católica ao colocar todos os bens eclesiásticos à disposição do país. O decreto da disponibilidade dos bens da Igreja provocou uma onda de invasões de mosteiros e igrejas por toda a França, onde multidões endoidecidas pilhavam o que podiam daqueles interiores até então sagrados. As tropelias foram tantas e tão devastadoras, a quantidade de estátuas e vitrais destruídos tamanha (na Catedral de Notre-Dame até as estátuas bíblicas dos reis de Israel e Judá foram decapitadas), que fizeram com que o deputado padre Gregoire cunhasse uma expressão especial para definí-las: vandalismo!

Na sessão de 24 de agosto, afirmariam a liberdade de imprensa, abolindo-se a censura. Os jornais se multiplicaram. No decorrer de 1789, nasceram mais de 130 periódicos e, até setembro de 1791, eles se aproximaram de 600 títulos.

AS TRÊS FORÇAS

Até aquele momento, na acurada observação de Chaussinand-Nogaret, três forças disputavam o poder na França. A Coroa apesar de combalida /tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 21: A composição dos Estados Gerais

ainda contava com o apoio das guarnições militares, a fidelidade da alta nobreza, e o respeito do clero, e, bem ou mal, mantinha-se pela simples inércia da tradição que educara todos a ser obedientes ao rei. Mas estava em rápido processo de erosão. Emergente era o poder da Assembléia Nacional, que rapidamente transferiu-se de Versalhes para as Tulherias em Paris. Tinha mais de 700 parlamentares, mas sem nenhum poder de fogo além dos seus decretos legislativos. A seu favor tinha a simpatia e o apoio de boa parte da nação. Pode-se dizer que, nessa fase, os deputados, em seus discursos, apenas faziam eco, afinados com o que se dizia no reino inteiro. E por último, por vezes associado à Assembléia Nacional, outras totalmente incontrolável, o instável poder das ruas, a "hidra da anarquia" como disse o deputado Brissot, com a Comuna, com seus comitês de bairros e suas milícias e patrulhas cidadãs, seus amotinamentos, suas arruaças e violações de toda ordem, sua volúpia cada vez mais acentuada por derramar sangue que se combinava com a desgraça da fome e com uma afrontosa coragem. Ao entrar no ano de 1791, a Coroa, a Assembléia e a rua, a aristocracia, a burguesia, e os sans-culottes, se prepararam para travar a grande batalha pela conquista do coração e da mente de toda a nação.

Revolução Francesa

 

A Revolução Inglesa do século XVII marca o início da Era das Revoluções Burguesas, na medida em que cria condições para o desenvolvimento acelerado do capitalismo. A Revolução Francesa, cabe definir o perfil ideológico desses movimentos, por seu caráter liberal e democrático.

Para muitos historiadores, a Revolução Francesa faz parte de um movimento revolucionário global, atlântico ou ocidental, que começa nos Estados Unidos em 1776, atinge Inglaterra, Irlanda, Holanda, Bélgica, Itália, Alemanha, Suíça e, em 1789, culmina na França com violência maior. O movimento passa a repercutir em outros países europeus e volta à França em 1830 e 1848. Há traços comuns em todos esses movimentos, mas a Revolução Francesa tem identidade própria, manifestada na tomada do poder pela burguesia, na participação de camponeses e artesãos, na superação das instituições feudais do Antigo Regime e na preparação da França para caminhar rumo ao capitalismo industrial.

 

Antecedentes

 

A França era ainda um país agrário em fins do século XVIII. Novas técnicas de cultivo e novos produtos melhoraram a alimentação, e a população aumentou. O início de industrialização j á permitia a redução de preços de alguns produtos, estimulando o consumo.

A burguesia se fortaleceu e passou a pretender o poder político e a discutir os privilégios da nobreza. Os camponeses possuidores de terras queriam libertar-se das obrigações feudais devidas aos senhores. Dos 25 milhões de franceses, 20 milhões viviam no campo. A população formava uma sociedade de estamentos (formas de estar), resquício da Idade Média. Mas j á se percebia uma divisão de classes. O clero, com 120 000 religiosos,

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 22: A composição dos Estados Gerais

dividia-se em alto clero (bispos e abades com nível de nobreza) e baixo clero (padres e vigários de baixa condição); era o primeiro estado. A nobreza constituía o segundo estado, com 350 000 membros; os palacianos viviam de pensões reais e usufruíam de cargos públicos; os provinciais viviam no campo, na penúria. A nobreza de toga, constituída de gente oriunda da burguesia, comprava seus cargos. O terceiro estado compreendia 98% da população: alta burguesia, composta por banqueiros, financistas e grandes empresários; média burguesia, formada pelos profissionais liberais, os médicos, dentistas, professores, advogados e outros; pequena burguesia, os artesãos, lojistas; e o povo, camada social heterogênea de artesãos, aprendizes e proletários. As classes populares rurais completavam o terceiro estado; destacavam-se os servos ainda em condição feudal (uns 4 milhões); mas havia camponeses livres e semilivres.

O terceiro estado arcava com o peso de impostos e contribuições para o rei, o clero e a nobreza. Os privilegiados tinham isenção tributária. A principal reivindicação do terceiro estado era a abolição dos privilégios e a instauração da igualdade civil.

No plano político, a revolução resultou do absolutismo monárquico e suas injustiças. O rei monopolizava a administração; concedia privilégios; esbanjava luxo; controlava tribunais; e condenava à prisão na odiada fortaleza da Bastilha, sem julgamento. Incapaz de bem dirigir a economia, era um entrave ao desenvolvimento do capitalismo.

O Estado não tinha uma máquina capaz dê captar os impostos, cobrados por arrecadadores particulares, quê espoliavam o terceiro estado. O déficit do orçamento sê avolumava. Na época da revolução, a dívida externa chegava a 5 bilhões de libras, enquanto o meio circulante não passava da metade. Os filósofos iluministas denunciaram a situação. Formavam-se clubes para ler seus livros. A burguesia tomava pé dos problemas ê buscava conscientizar a massa, para obter-lhe o apoio.

As condições estavam postas; faltava uma conjuntura favorável para precipitar a revolução.

 

A revolta aristocrática

 

A indústria sofreu séria crise a partir dê 1786. Um tratado permitiu quê produtos agrícolas franceses tivessem plena liberdade na Inglaterra em troca da penetração dê produtos ingleses na França. A principiante indústria francesa não agüentou a concorrência.

A seca de 1788 diminuiu a produção dê alimentos. Os preços subiram ê os camponeses passavam fome. Havia miséria nas cidades. A situação do tesouro piorou depois quê a França apoiou a Independência dos Estados Unidos, aventura quê lhe custou 2 bilhões dê libras. O descontentamento era geral. Urgiam medidas para sanear o caos. Luís XVI encarregou o ministro Turgot dê realizar reformas tributárias, mas os nobres reagiram ê ele sê demitiu. O rei então indicou Calonne, quê convocou a Assembléia dos Notáveis, dê nobres ê clérigos (1787). O ministro propôs quê esses dois estados abdicassem dos privilégios tributários ê pagassem impostos, para tirar o Estado da falência. Os nobres não só recusaram como provocaram revoltas nas províncias onde eram mais fortes.

O novo ministro, Necker, convenceu o rei a convocar a Assembléia dos Estados Gerais, quê não sê reunia desde 1614. As eleições dos candidatos para a Assembléia realizaram-se em abril dê 1789 ê coincidiram com revoltas geradas pela péssima colheita desse ano. Em Paris, os panfletos dos candidatos atacavam os erros do Antigo Regime ê agitavam os sans-culottes, isto é, os sem-calções, em alusão à peça de roupa dos nobres, que os homens do povo não usavam. Os nobres eram cerca de 200 000 numa Paris com 600 000 habitantes.

Em maio de 1789, os Estados Gerais se reuniram no Palácio de Versalhes pela primeira vez. O terceiro estado foi informado de que os projetos seriam votados em separado, por estado. Isto daria vitória à nobreza e ao clero, sempre por 2 a 1. O terceiro estado rejeitou a condição. Queria votação individual, pois contava com 578 deputados, contra 270 da nobreza e 291 do clero, ou seja a, tinha maioria absoluta. E ainda contava com os votos de 90 deputados da nobreza esclarecida e 200 do baixo clero.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 23: A composição dos Estados Gerais

 

Revolução Burguesa

 

Reunindo-se em separado em 17 de junho de 1789, o terceiro estado se considerou Assembléia Nacional. Luís XVI, pretextando uma reforma na sala, dissolveu a reunião. Os deputados do terceiro estado foram então para a sala de Jogo da Péla, onde receberam adesão de parte do clero e de nobres influenciados pelo Iluminismo. O rei não teve alternativa senão aceitar a Assembléia Nacional.

Os fatos se desenrolaram com rapidez, como se algumas décadas fossem comprimidas em algumas semanas.

 

9 de julho - Proclamou-se a Assembléia Nacional Constituinte. Os deputados juraram só se dispersar depois de dar uma Constituição à França. Luís XVI procurava ganhar tempo, enquanto reunia tropas.

 

12 de julho - Necker se demite. Aumenta a tensão.

 

13 de julho - Forma-se a milícia de Paris, organização militar-popular. O povo armazena armas e prepara barricadas.

 

14 de julho - O povo toma a Bastilha. A explosão revolucionária alastra-se por todo 0 país. No campo, a violência é maior. Procurando destruir o jugo feudal, camponeses saqueiam as posses da nobreza, invadem cartórios e queimam títulos de propriedade.

 

Correm boatos de que bandidos aliciados pelos senhores vão atacar os camponeses, gerando o grande medo.

 

4 de agosto - A Assembléia Constituinte inicia reunião em que, para conter o movimento, os deputados aprovam a abolição dos direitos feudais: as obrigações devidas pelos camponeses ao rei e à Igreja a são suprimidas; as obrigações devidas aos nobres devem ser pagas em dinheiro.

 

26 de agosto - E aprovada a Declaração dos Diretos do Homem e do Cidadão. De inspiração iluminista, o documento defende o direito à liberdade, à igualdade perante a lei, à inviolabilidade da propriedade e o direito de resistir à opressão. Na sessão que votou o direito de veto (poder concedido ao rei de vetar decisões da Assembléia), os aristocratas sentam-se à direita do presidente; os democratas, à esquerda. Tal fato deu origem à separação que chega aos dias de hoje, entre direita e esquerda na política.

 

O rei se recusou a aprovar a Declaração e a massa parisiense revoltou-se novamente. Foram as jornadas de outubro: o Palácio de Versalhes foi invadido e o rei obrigado a morar no Palácio das Tulherias, em Paris.

Em 1790, foi aprovada a Constituição Civil do Clero. Estabelecia que os bens eclesiásticos seriam confiscados para servir de lastro à emissão dos assignats (bônus do Estado) e os padres passariam a ser

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 24: A composição dos Estados Gerais

funcionários do Estado. Muitos aceitaram e juraram fidelidade à Revolução, desobedecendo ao papa, que já se manifestara contra. Outros, os refratários, emigraram e deram início às agitações contra-revolucionárias nas províncias.

A Constituição ficou pronta em 1791. O poder executivo caberia ao rei, e o legislativo, à Assembléia. O trono continuava hereditário e os deputados teriam mandato de dois anos. Só seria eleitor quem tivesse um mínimo de riqueza. Foi abolido o feudalismo. Foram suprimidos os privilégios e as antigas ordens sociais, com a proclamação da igualdade civil. Reorganizou-se e descentralizou-se a administração. Foram confirmadas a nacionalização dos bens eclesiásticos e a Constituição Civil do Clero. Foi mantida a escravidão nas colônias.

Luís XVI, em contato com outros soberanos absolutos, julgou o momento oportuno para escapar e, com apoio estrangeiro e dos emigrados, iniciar a contra-revolução. Fugiu em julho de 1791, mas foi preso em Varennes, recambiado ao Palácio e mantido sob vigilância.

O êxito da Revolução estimulou movimentos na Holanda, Bélgica e Suíça. Na Itália, Inglaterra, Irlanda, Alemanha e Áustria, simpatizantes organizaram demonstrações de apoio. Os déspotas esclarecidos sustaram as reformas e se reaproximaram da aristocracia. Escritores reacionários defendiam a idéia de uma contra-revolução. As potências européias, de início indiferentes, uniram-se. A ameaça de invasão da França aumentou, o que tornou inevitável a radicalização interna da Revolução.

A unidade inicial entre patriotas contra os aristocratas desapareceu, dando origem a complexa composição político-partidária. Os girondinos, representantes da alta burguesia, defendiam as posições conquistadas e evitavam a ascensão da massa de sans-culottes; os jacobinos, representando a pequena e média burguesia, constituíam o partido mais radical, ainda mais sob a liderança de Robespierre, que buscava o apoio dos sans-culottes; os cordeliers, independentes liderados por La Fayette, procuravam ficar no centro e oscilavam entre os feuillants, à direita, e os jacobinos, à esquerda.

Os girondinos tinham a maioria e o apoio do rei, que neles confiava para conter o avanço revolucionário. Graças a isto, o rei conseguiu vetar o projeto que deportava os refratários e convocava o exército para enfrentar os inimigos da Revolução, cada vez mais ativos fora da França.

Os inimigos, representados pelo exército austro-prussiano e pelo exército de emigrados, comandados pelo duque prussiano Brunswick e apoiados secretamente por Luís XVI, invadiram a França. Radicalizou-se a posição contra os nobres, considerados traidores. A massa parisiense, mais forte politicamente, apoiando os jacobinos e liderada por Danton e Marat, atacou os aristocratas nas prisões: foi o massacre de setembro.

O exército nacional foi convocado, com apresentação obrigatória de todos os homens válidos. Em 20 de setembro de 1792, os austro-prussianos foram batidos em Valmy. À noite, em Paris, foi proclamada a República. O rei, suspeito de traição, aguardaria julgamento.

 

Revolução Popular

 

Uma nova assembléia foi formada, a Convenção, que deveria preparar nova Constituição. Os girondinos perderam a maioria para os jacobinos, reforçados pelos montanheses, grupo mais radical. Robespierre e Saint-Just lideravam os jacobinos. O julgamento de Luís XVI abalou a opinião pública européia. Os girondinos trataram de defendê-lo. Saint-Just e Robespierre pediam a condenação. O rei acabou guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.

O primeiro ano da República, 1793, foi chamado Ano I, no novo calendário. Uma nova representação tomou posse, eleita por sufrágio universal masculino, o que acentuou seu caráter popular; saíram vitoriosos os jacobinos e a Montanha. Pela nova Constituição, os 750 deputados eleitos escolheriam a mesa dirigente, com funções executivas.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 25: A composição dos Estados Gerais

Europa afora, coligavam-se forças absolutistas: Inglaterra, Holanda e Santo Império. A Convenção se defendeu, organizando uma série de instituições: Comitê de Salvação .Pública, encarregado de controlar o exército; Comitê de Segurança Nacional, para garantir a segurança interna; Tribunal Revolucionário, encarregado de julgar os contra-revolucionários. Os jacobinos controlavam a Convenção e os principais Comitês.

Começa então o expurgo de adversários. Os girondinos são acusados de partidários do rei e vários vão para a guilhotina. A jovem Charlotte Corday se vinga assassinando o jacobino Marat. Também é guilhotinada. Entramos no período do Terror, que se estenderia de junho de 1793 a julho de 1794.

A Montanha de Robespierre dirigia essa política. As perseguições se espalharam. Os indulgentes de Danton temiam que a onda os envolvesse. Protestavam e pediam o fim das perseguições. No extremo oposto, os hebertistas, seguidores de Hébert, pregavam mais violência.

Robespierre tentava manter-se entre os extremistas da esquerda. Como a pressão popular era grande, fazia concessões: os preços foram tabelados; os exploradores, perseguidos; os impostos sobre os ricos, aumentados; pobres, velhos e desamparados, protegidos por leis especiais; a instrução tornou-se obrigatória; bens de nobres e emigrados foram vendidos para cobrir as despesas do Estado.

As leis sociais provocaram ondas contra-revolucionárias. Sobrevieram medidas drásticas. O Tribunal Revolucionário prendeu mais de 300 000 pessoas e condenou à morte 17 000. Muitos morreram nas prisões esperando julgamento.

O Terror chegou ao auge e atingiu a própria Convenção. Para se manter no poder, Robespierre precisava eliminar toda oposição. Condenou Danton à morte. O radicalismo dos hebertistas igualmente criava problemas, levando-os também à guilhotina.

O sucesso militar diminuiu a tensão interna, e a população passou a desejar o afrouxamento da repressão. Os girondinos, que tinham se isolado durante o Terror para salvar suas cabeças, voltaram à carga. Robespierre não tinha mais a massa parisiense para apoiá-lo, pois havia liquidado seus líderes. Em julho de 1794, ou 9 Termidor pelo novo calendário, Robespierre e Saint-Just foram presos e guilhotinados em seguida. A alta burguesia voltava ao poder através dos girondinos.

 

Contra-Revolução Burguesa

 

O poder da Convenção caiu nas mãos do Pântano, movimento formado por elementos da alta burguesia, de duvidosa moralidade pública e grande oportunismo político. Ligados aos girondinos, instalaram a Reação Termidoriana. Os clubes jacobinos foram fechados. Preparou-se nova Constituição, a do ano III (1795), que estabelecia um executivo com cinco diretores eleitos pelo legislativo, o Diretório. Os deputados comporiam duas câmaras: o Conselho dos S00 e o Conselho dos Anciãos.

A configuração política da Assembléia mudou: no centro, os girondinos, que tinham deposto Robespierre; à direita, os realistas, que pregavam a volta dos Bourbon ao poder; à esquerda, jacobinos e socialistas utópicos, que reclamavam medidas de caráter social.

Os diretores equilibravam-se em meio a golpes, da esquerda e da direita. Em 1795, os realistas tentaram dar um golpe, abafado por um jovem oficial, Napoleão Bonaparte, presente em Paris por acaso. Como recompensa, ele recebeu dos diretores o comando do exército na Itália.

Em 1796, estourou a conspiração jacobina do Clube de Atenas. No ano seguinte, foi a vez dos realistas, derrotados novamente, pelo general Augereau, enviado por Napoleão, que acabava de assinar uma paz vantajosa com a Áustria. Em 1798, os jacobinos venceram as eleições. A burguesia queria paz. Queria um governo forte que conduzisse a França à normalidade. Alguns diretores, como Sieyès e Ducos, prepararam o golpe que levaria Napoleão ao poder, em 9 de novembro de 1799 ou 8 Brumário. Napoleão evitaria as tentativas jacobinas de tomar o poder, consolidando o poder da burguesia no contexto da Revolução. Uma revolução cujos ideais não tardariam a repercutir em longínquas terras, inclusive no Brasil.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 26: A composição dos Estados Gerais

Assembléia Nacional Constituinte FrancesaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ir para: navegação, pesquisa

A 'Assembléia Nacional Constituinte Francesa (Assemblée nationale constituante, em língua francesa) foi formada pela Assembleia Nacional a 9 de Julho de 1789, nas primeiras fases da Revolução Francesa e foi dissolvida a 30 de Setembro de 1791.

Foi uma constituição criada pelo terceiro estado (camponeses, artesãos, burgueses) que limitava os poderes do rei, e eliminava os privilégios do primeiro (clero) e segundo (nobreza) estamento ou estados. O rei Luís XVI aparentemente aceitou o funcionamento da Assembléia Nacional Constituinte, porém impôs a condição de que dela participassem os representantes do clero e da nobreza.

Uma das principais decisões desta assembléia foi a adoção da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Os Estados Gerais são a reunião das três ordens ou Estados (hoje diríamos classes) da sociedade desde a Idade Média: o nobre que luta, o clero que reza e o camponês (Terceiro Estado) que trabalha. Luís XVI reconquista a popularidade decretando que o Terceiro Estado terá tantos representantes (400) quanto o clero e a nobreza juntos, Mas não sabe aproveitar a situação para orientar as eleições e nem propor aos deputados algum programa de reformas.

REVOLUÇÃO FRANCESA“LIBERTÉ, IGUALITÉ E FRATERNITÉ”: MANIPULAÇÕES DE IDEAIS. ¹Antônio Miranda de Freitas Júnior ²Fabrícia Linhares de Paiva³Sonni Lemos Barreto 4RESUMO:A Revolução Francesa foi um dos maiores acontecimentos da Europa – quiçá do mundo – quedesencadeou gritos de independência ao redor do globo. Essa revolução foi possível graças àpolarização do conhecimento que visava conscientizar as massas. – Terceiro Estado – daopressão do Regime Absolutista, questionando a divindade do rei. Numa sociedade – com fortesheranças feudais – ou nas coloniais – extensão do domínio absoluto; os ideais iluministasinfluenciam a independência dos EUA, a Revolução Francesa e as independências coloniais.Nisto passamos a perceber que “Revolução” é na realidade uma grande transformação naestrutura econômica ou na organização do Estado. A revolução transfere o poder político de umgrupo social para outro. A Revolução Francesa de 1789 destrói a estrutura econômica de basefeudal e abre caminho para o desenvolvimento do capitalismo, destrói o Estado Absolutista e opoder foi transferido da aristocracia para a burguesia. O que foi propagado comoconscientização através das luzes, pela burguesia, na realidade era uma atitude de manipulaçãoburguesa. O escopo do presente trabalho visa apresentar os motivos pelos quais um movimentofeito pelo povo e para o povo não foi efetivamente conquistado por este. Para isso, foi realizadauma pesquisa bibliográfica baseada em autores como Hobsbawm, Hubermam e Burns.Hobsbawm analisa o caráter ecumênico o medo que a burguesia possuía dentro de si de umanova revolução, baseada na Francesa, que destituísse do poder. Hubermam analiticamentedemonstra a manipulação da Revolução pela burguesia e os caminhos que a mesma trilhou naliderança das massas. Concluímos no presente trabalho que a Revolução Francesa e oIluminismo foram movimentos organizados pela burguesia para conquistar privilégios; e estessão universalizados pelos mesmos.Palavras-chave: Revolução, Iluminismo e Burguesia.______________________¹ Artigo apresentado à disciplina de História Econômica como requisito parcial para obtenção denota referente à 3ª avaliação.

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 27: A composição dos Estados Gerais

’ Aluno do 8º Período de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.³ Aluna do 8º Período de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.4 Professora Orientadora do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grandedo Norte – UERN.Existem diversas maneiras de analisar a Revolução Francesa. Muitos textos heróicos têm ecoadonos livros de história sobre esse acontecimento célebre e marcante na história da civilizaçãoocidental. No entanto, nos propomos a analisar a atuação da burguesia neste evento e como amesma, através de sua filosofia iluminista, utilizou-se da massa trabalhadora para conquistar,ou alicerçar os seus privilégios.Consideramos natural a “liberdade” – falar o que pensamos, pôr nossas idéias no papel e tornálaspublicas sem autorização ou censura prévia, o direito de ir e vir, ler o que quisermos. Noentanto, o que nos parece “natural” são frutos revolucionários do Iluminismo e da RevoluçãoFrancesa. Esta última nos deu as noções de cidadãos, cidadania, liberdade, igualdade, direitosdo homem e soberania dos povos, que se tornaram conceitos comuns no mundocontemporâneo. Da França, estes princípios espalharam-se pelo mundo envolto à linguagempolítica dos movimentos revolucionários dos séculos XIX e XX. É preciso tomar consciência que,na Idade Moderna, estabelecem-se novos conceitos sobre o homem, este passa a ser o centrodas atenções – Humanismo – de forma que todos os seres humanos, nobre ou não, são “iguais”e tem os mesmos direitos e deveres. Para se compreender o mundo, a humanidade, a natureza,não é preciso a graça do Espírito Santo, mas a “luz” da razão. Os burgueses desenvolvem opensamento iluminista, acreditando em mudanças fundamentadas na força da lei, na igualdadepolítica e social, enfim, nos direitos do homem. Os homens nascem iguais, são naturalmenteiguais e livres... a razão, o intelecto e raciocínio significam a esperança na construção de ummundo mais justo, por intermédio do qual o homem fazia-se capaz de transforma a própriahistória independentemente da ordem divina. É a partir dessa reflexão que surge o lema daprópria Revolução Francesa: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Esse ideal que carregavaconsigo uma visão otimista do homem passou a ser conhecido como pensamento ilustrado ouiluminista.O povo (terceiro estado) havia chegado ao limite suportável da exploração humana e dasinjustiças sociais. A divulgação e a acessibilidade dos textos iluministas, fez com que brotasseneste, paixão e esperança através das novas idéias. Amparado pela burguesia, que logo vê noardor ao movimento revolucionário das massas a maior oportunidade de queda da monarquiaabsolutista e maior desenvolvimento de seus negócios, o povo se levanta contra a opressão.A Revolução Francesa quebra os estamentos sociais ou ordens às quais a França estavadividida: Clero (Primeiro Estado), Nobreza (Segundo Estado) e o restante da população(Terceiro Estado). Num conhecido folheto popular daquela época, o abade de Sieyes resumiu asituação do Terceiro Estado: “O que é Terceiro Estado? Tudo. O que ele tem sido em nossosistema político? Nada. O que ele pretende? Ser alguma coisa”5. Eric J. Hobsbawm analisa aRevolução Francesa como a “única [revolução] ecumênica”6, fazendo da mesma “um marcopara todos do países”7 onde sua influência encontra-se no ocidente em “sua política eideologia”8. Após a assembléia dos Estados Gerais, os deputados do Terceiro Estado criam anova assembléia. Justificam este ato dizendo que representavam a maioria da populaçãofrancesa. Estes vão mais longe ainda e anunciam que estavam em Assembléia Nacional com ointuito de criar uma Constituição. A revolução passa a acontecer. Convém lembrar que a criaçãode uma constituição significava a destruição do regime absolutista, uma vez que este nãopossuía uma constituição!.Desse modo, durante o enfraquecimento conjuntural das políticas tradicionais do AntigoRegime, foi a classe média burguesa que provocou a Revolução Francesa e que mais lucrou comela.______________________5 Cf. HUMBERMAM, Leo. História da Riqueza do Homem. 21 ed. Rio de Janeiro: LTC – LivrosTécnicos e Científicos. Editora S. A; 1986 p. 150.6 Cf. HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,2004 p. 85.7 Idem, p. 858 Idem, p. 83Esta “burguesia provocou a Revolução porque tinha de fazê-la. Se não derrubasse os seusopressores, teria ela sido esmagada”9. A mesma era composta de doutores, escritores,

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 28: A composição dos Estados Gerais

professores, advogados, funcionários, juízes – classes educadas – eram os mercadores,fabricantes, banqueiros – as classes abastadas que tinham dinheiro e queriam mais, e aomesmo tempo procuravam um Estado Liberal Livre dos “Antigos” preceitos e limitações doestado feudal.Seguindo o declínio histórico do Antigo Regime, a burguesia almejava possuir o poder políticocorrespondente que já tinha.Embora seja verdade que todos os membros do Terceiro Estado – artesões, camponeses eburgueses – estivessem tentando ‘ser alguma coisa’, foi principalmente o último grupo queconseguiu o que queria. A burguesia fornece a liderança, enquanto os outros grupos realmentelutaram 10.Depois que a revolução acabou, foi a burguesia que ficou com o poder político na França. “Oprivilégio de nascimento foi realmente derrubado, mas o privilégio do dinheiro tomou o seulugar. ‘Liberdade, Igualdade e Fraternidade’, foi uma frase popular gritada por todos osrevolucionários, mas coube principalmente a burguesia desfrutar”¹¹. A declaração dos Direitosdo Homem e do Cidadão dizia que a propriedade privada era inviolável, ou seja, que ninguémtinha direito de tocar nas riquezas da burguesia. A assembléia também aprovou leis queextinguiam os monopólios mercantilistas, estabelecendo a liberdade para o mercado e sópoderia votar pessoas com certo nível de renda. Na prática, cerca da metade dos francesesestavam fora do direito de cidadania. Ao mais, deparamos com o Código Napoleônico (1804),percebe-se que______________________9 HUBERMAM, Leo. (1986, p, 148).10 Idem, p. 150.11 Idem, p. 150.(...) este, destinava-se evidentemente, a proteger a propriedade – não a feudal – burguesa.Greves e sindicatos são proibidos, as associações de empregadores permitidas. Numa disputajudicial entre salários, o código determinava que o depoimento de patrão, e não do empregado,é que deve ser levado em conta 12.A burguesia, por ser uma minoria, teme que o “sol revolucionário” venha a nascer para destituílodo poder, eles temem a mobilização das massas, nisso a “dramática dança dialéticadeterminaria as gerações futuras”13. A igualdade é para burgueses que compartilham entre sios privilégios do estado.A Revolução Francesa e o Iluminismo foram movimentos Feitos pela burguesia e para aburguesia, apoiada pelo povo, estes conseguiram manipular as massas, tornando-se donos daspropriedades e privilégios. Neste toque de pensamento volta-se a necessidade da “Igualdade,Liberdade e Fraternidade” manifestada, dessa vez, pelo povo e para o povo.______________________12 HUBERMAM, Leo. (1986, p. 151).13 HOBSBAWM, Eric J. (2004, p. 95).BIBLIOGRAFIABURNS, Edward Mcnall. História da Civilização Ocidental: do Homem das Cavernas às Navesespaciais. 39ed. Vol. 02. São Paulo: Globo, 1999.HOBSAWM, Eric J. A era das Revoluções1789 – 1848. 18 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004.HUBERMAM, Leo. História da riqueza do Homem. 21 ed. Rio de Janeiro: LTC Livros Técnicos eCientíficos; Editora S. A., 1986

A Revolução Francesa

 

A sociedade francesa do século XVIII era estratificada e hierarquizada. No topo da pirâmide social, estava o Clero que tinha o privilégio

de não pagar impostos. Abaixo do Clero estava a nobreza formada pelo rei, sua família, condes, duques, marqueses e nobres que

viviam de banquetes e muito luxo na corte. A base da sociedade era formada pelo terceiro estado (trabalhadores, camponeses e

burguesia) sustentava toda sociedade com seu trabalho e seu pagamento de altos impostos. Pior era a condição de vida dos

desempregados que aumentavam em larga escala nas cidades francesas. De extrema miséria era a vida dos trabalhadores e

camponeses, que desejavam melhorias na qualidade de vida e de trabalho. Mesmo tendo uma condição social melhor, a Burguesia

desejava uma participação política maior e mais liberdade econômica em seu trabalho.  A  Queda da Bastilha marca o início da

Revolução Francesa. O movimento popular em Paris tinha grande significado, porém a Revolução deve ser vista como um processo,

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 29: A composição dos Estados Gerais

onde é necessário analisar a situação econômica do país, os interesses de classes envolvidos e os interesses dos demais países

europeus.

 A importância da Queda da Bastilha reside no fato de que a partir desse momento a revolução conta com a presença das massas

trabalhadoras, deixando de ser apenas um movimento. A gravidade da crise econômica havia envolvido todo o país em uma situação

caótica: os privilégios dados à nobreza e ao Alto Clero dilapidaram as finanças do país, situação ainda mais agravada com a

participação da França na Guerra de Independência dos EUA em ajuda aos colonos e palas secas, responsáveis por uma crise agrária,

que levava os camponeses miséria extrema e determinava o desabastecimento das cidades assim como a retração do comércio

interno. A queda da Bastilha significava a queda do antigo regime.

O Povo Francês, convencido de que o esquecimento e o desprezo dos direitos naturais do Homem são as únicas causas das

infelicidades do mundo, resolveu expor numa declaração solene estes direitos sagrados e inalienáveis, a fim de que todos os cidadãos,

podendo comparar sem cessar os atos do Governo com o fim de toda instituição.

 

A revolução francesa influenciou a sociedade e as instituições de todos os países da Europa. Contribuiu para a elaboração de

constituições na maioria dos países europeus. Os princípios liberais e as idéias contidas na declaração dos direitos do homem e do

cidadão foram incorporados à constituição de outras nações fora da Europa. Influenciou os movimentos de independência nas colônias

da América Latina. As conquistas populares foram muito limitadas. Quem colheu os melhores frutos da revolução foi a burguesia.

 Em 1788, o quadro econômico da França era péssimo e a fome ameaçava a população. Secas atingiam a agricultura, prejudicando as

colheitas e a escassez de alimentos aumentava ainda mais a revolta da população. Os gastos exorbitantes feitos pela corte e pelo

primeiro e segundo estados deram origem a uma forte crise financeira.

A alta burguesia voltou ao poder disposta a consolidar suas conquistas. Seu objetivo era implantar uma república moderada, que

excluísse das eleições os mais pobres e restaurasse a plena liberdade das atividades econômicas, fosse da indústria, do comércio ou

dos bancos. A crise econômica agravava-se dia a dia, a corrupção aumentava e os alimentos continuavam escassos. Formou-se uma

nova coligação de países europeus contra a França. O governo de Diretório foi enfraquecendo.

Um jovem general chamado Napoleão Bonaparte, em 1799, após derrotar os exércitos inimigos, regressou a França. Estava instalado

um novo governo, o Consulado. O governo de Napoleão Bonaparte direcionou-se no sentido de consolidar e proteger as conquistas

burguesas. Toda a sua política promoveu os interesses da burguesia.

Diante dos acontecimentos e atormentados pela elevação do custo de vida e pelo desemprego, os setores mais pobres da população,

liderados pelos jacobinos, passaram a exigir mudanças que beneficiassem as camadas populares. Em abril de 1792, a França viu-se

obrigada a entrar em guerra com a Áustria, juntamente com outras monarquias da Europa. Para defender o país e a revolução, a

população foi organizada. Milhares de voluntários alistaram-se para reforçar o exército. Foi nesse período que apareceu  “A

marselhesa”, hino que logo ganhou popularidade e tornou-se um dos símbolos da França revolucionária. Em agosto de 1792 houve

uma grande revolta popular, o rei Luís XVI foi destronado e preso e seus ministros demitidos. Era o fim da monarquia. Formou-se então

um outro governo, que anunciou eleições para uma nova assembléia encarregada de mudar as leis da França, que foi chamada de

convenção Nacional. A primeira medida da convenção eleita foi confirmar o fim da monarquia na França e proclamar a república.

Dentro da convenção dois grupos principais passaram a se defrontar: os girondinos e os jacobinos.

As principais medidas estabelecidas pela convenção foram:

. Abolição da escravidão nas colônias francesas;

. Fim de todos os Privilégios da Nobreza e do Clero;

. Ensino primário gratuito e obrigatório;

. Assistência aos indigentes;

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc

Page 30: A composição dos Estados Gerais

/tt/file_convert/5571fa8e4979599169927e53/document.doc