a chave de salomão

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http://groups.google.com.br/group/digitalsource/ GREG TAYLOR guia para A CHAVE DE SALOMÃO de DAN BROWN Tradução de CLÓVIS MARQUES EDITORA RECORD RIO DE JANEIRO · SÃO PAULO 2006 CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Taylor, Greg T24g Guia para "A chave de Salomão" de Dan Brown / Greg Taylor; tradução de Clóvis Marques. - Rio de Janeiro: Record, 2006. Tradução de: The guide to Dan Brown's The Solomon Key Apêndice ISBN 85-01-07390-3 1. Brown, Dan, 1964-. A chave de Salomão. 2. Estados Unidos na literatura. 3. Maçonaria na literatura. 4. Sociedades secretas na literatura. I. TÃtulo. 06-1506 CDD - 813 CDU - 821.111(73)-3 TÃtulo original em inglês: THE GUIDE TO DAN BROWN'S THE SOLOMON KEY Copyright © Greg Taylor, 2005 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito. Proibida a venda desta edição em Portugal e resto da Europa. Direitos exclusivos de publicação em lÃngua portuguesa para o Brasil adquiridos pela EDITORA RECORD LTDA. Rua Argentina 171 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 2585-2000 que se reserva a propriedade literária desta tradução. Impresso no Brasil ISBN 85-01-07390-3 PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL Caixa Postal 23.052 Rio de Janeiro, RJ - 20922-970 AGRADECIMENTOS O lançamento de um livro de estréia realmente nos permite apreciar a ajuda que recebemos ao longo do caminho. Certamente seria impossÃvel enumerar todos aqueles que me influenciaram de maneira positiva em minha jornada, mas estes que se seguem merecem menção especial. A todos os autores e pesquisadores que contribuÃram para o projeto TDG (The Daily Grail), muito obrigado. Menção especial para Rudolf Gantenbrink, Robert Bauval, Graham Hancock, Robert Lomas, Ralph Ellis, Lynn Picknett, Clive Prince, Füip Coppens, Alan Boyle, Steven Mizrach, Marcus Williamson, Doug Kenyon, Chip Meyers, Steve Nixon, Ian Lawton e

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A Chave de Salomão

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  • http://groups.google.com.br/group/digitalsource/ GREG TAYLOR

    guia para A CHAVE DE SALOMO de

    DAN BROWN Traduo de CLVIS MARQUES

    EDITORA RECORD RIO DE JANEIRO SO PAULO 2006CIP-Brasil. Catalogao-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.Taylor, GregT24g Guia para "A chave de Salomo" de Dan Brown / Greg Taylor; traduo de ClvisMarques. - Rio de Janeiro: Record, 2006.Traduo de: The guide to Dan Brown's The Solomon KeyApndiceISBN 85-01-07390-31. Brown, Dan, 1964-. A chave de Salomo. 2. Estados Unidos na literatura. 3. Maonariana literatura. 4. Sociedades secretas na literatura. I. Ttulo. 06-1506CDD - 813CDU - 821.111(73)-3Ttulo original em ingls:THE GUIDE TO DAN BROWN'S THE SOLOMON KEYCopyright Greg Taylor, 2005Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, armazenamento ou transmisso departes deste livro atravs de quaisquer meios, sem prvia autorizao por escrito.Proibida a venda desta edio em Portugal e resto da Europa.Direitos exclusivos de publicao em lngua portuguesa para o Brasiladquiridos pelaEDITORA RECORD LTDA.Rua Argentina 171 - Rio de Janeiro, RJ - 20921-380 - Tel.: 2585-2000que se reserva a propriedade literria desta traduo.Impresso no Brasil ISBN 85-01-07390-3PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTALCaixa Postal 23.052Rio de Janeiro, RJ - 20922-970 AGRADECIMENTOS

    O lanamento de um livro de estria realmente nos permite apreciar aajuda que recebemos ao longo do caminho. Certamente seria impossvelenumerar todos aqueles que me influenciaram de maneira positiva emminha jornada, mas estes que se seguem merecem meno especial. A todos os autores e pesquisadores que contriburam para o projetoTDG (The Daily Grail), muito obrigado. Meno especial para RudolfGantenbrink, Robert Bauval, Graham Hancock, Robert Lomas, Ralph Ellis,Lynn Picknett, Clive Prince, Fip Coppens, Alan Boyle, Steven Mizrach,Marcus Williamson, Doug Kenyon, Chip Meyers, Steve Nixon, Ian Lawton e

  • Chris Ogilvie-Herald. E tambm a toda a comunidade TDG pelo constanteapoio, alm de um al a Jim Alison pela cortesia de compartilhar suasimagens comigo. Obrigado tambm a Mitch Horowitz pelos inestimveis conselhos epela generosidade, e a Frater Ijynx e seu amigo percussionista pela magia desua msica. Minha gratido a Bill Block, da Key Creatives, e a meus agentesitalianos Asni, Ranghetti e Rotundo por terem acreditado neste livro e peloafinco com que trataram de torn-lo realidade. casa de mquinas do Daily Grail: Bill Bellamy, James Kennedy,Steve Hynd, Rick Gned, Kat Lowry e Rich Shelton, que partiu, mas no foiesquecido. Seu bom humor, sua inteligncia e sua enorme capacidade detrabalhar muito em troca de pouco so em grande medida responsveis pelosucesso do site. No posso deixar de maravilhar-me com a sorte de terpodido colaborar com cada um de vocs. A Simon Cox, por compartilhar idias e tramar comigo a derrubadado paradigma. E a Mark Foster, cuja estrela artstica s empalidece ante seucorao bom. Ao pessoal da equipe Binya, por terem sido irmos de alma.Agradecimentos especiais a David Pickworth por sua disposio de meajudar, independentemente do momento ou do esforo necessrio, e por serum dos indivduos mais sinceros do planeta. Finalmente, a minha famlia. Os ltimos anos foram um perododifcil para todos ns, mas creio que serviram para mostrar os reaissentimentos do nosso cl. A Papai, Mame, Leanne, Nat, Scott e Keith --obrigado por tudo. A Tony, Narelle, Mark e Lee, obrigado por me aceitaremincondicionalmente. Um especial e amoroso obrigado a Tonita, por dividircomigo sua vida e seu amor. Minha vida foi abenoada no dia em que nosconhecemos, eu te amo, querida. E a Isis e Phoenix, que diariamente fazem osol nascer para mim, meu amor incondicional. SUM RIO

    INTRODUO S falta a chaveCAP TULO 1. Os dados bsicosCAP TULO 2. A influncia rosa-cruzCAP TULO 3. A irmandade manicaCAP TULO 4. Os alicerces manicos dos Estados UnidosCAP TULO 5. Estranhas construesCAP TULO 6. Uma conspirao manica?CAP TULO 7. Os cdigos de SalomoCAP TULO 8. Outros temasCONCLUSO E agora, s podemos esperar...APNDICE Um panorama de WashingtonNOTAS NDICE REMISSIVO INTRODUO

    S FALTA A CHAVE Ao lanar em 2003 seu romance O cdigo Da Vinci, Dan Browncertamente esperava algum sucesso. Em 1996, Brown fizera a maior apostade sua vida, renunciando ao emprego de professor de ingls na prestigiadaPhillips Exeter Academy para ganhar a vida escrevendo romances. Seuprimeiro romance, Fortaleza Digital, explorava o polmico confronto entre osinteresses de segurana nacional e o direito de privacidade, utilizando comoveculo um de seus hobbies favoritos: a criptografia. Todavia, apesar deassumir a liderana nacional entre os livros eletrnicos, Fortaleza digital tevevendas apenas razoveis nas livrarias.

    Os dois romances que serviram de continuao, Ponto de impacto e

  • Anjos e demnios, tiveram receptividade equivalente, embora no segundoBrown tenha encontrado uma frmula que tornaria sua obra seguinte umgrande xito. Em Anjos e demnios, encontramos pela primeira vez o hojeclebre personagem de Robert Langdon, professor de Simbologia Religiosaem Harvard que convocado pelas autoridades para ajudar a solucionarcrimes misteriosos, por seu profundo conhecimento de smbolos e cdigos.

    Assim como Fortaleza digital opunha segurana nacional eprivacidade individual, a trama de Anjos e demnios girava em torno dadicotomia cincia-religio -- refletindo talvez influncias pessoais do prprioBrown, filho de um professor de matemtica agraciado com o PrmioPresidencial, que tambm era um profissional da msica sacra. O enredo,envolvendo uma antiga sociedade secreta h sculos em confronto com aIgreja Catlica, permitiu ao autor abordar uma srie de tpicosinteressantes, apesar de dspares: cincia de ponta, teorias conspiratrias,simbolismo religioso e criptografia. O aspecto "caa ao tesouro" constitui um dos ingredientes essenciaisdos romances de Dan Brown, decorrendo de seu interesse pessoal pelacriptografia. Quando era criana, seu pai inventava jogos de caa ao tesouropara os filhos, utilizando cifras e cdigos. Mais tarde, Brown aproveitariaesta vivncia pessoal no personagem de Sophie Neveu, em O cdigo Da Vinci.Para o leitor, o apelo evidente: o simbolismo e os cdigos criptogrficos tmforte poder de envolvimento, no empenho mental para solucionar cadaproblema, ao passo que a "histria oculta" fascina pelo aspecto de revelaode segredos. John Chadwick, o fillogo e especialista em criptologia queajudou a decifrar o antigo manuscrito grego "Linear B", descreveu muito bemo gosto por segredos e enigmas em seu livro The Decipherment of Linear B [Adecifrao de Linear B]:

    A necessidade de descobrir segredos est profundamente arraigadana natureza humana; at a mente menos curiosa fica excitada com aperspectiva de ter acesso a conhecimentos detidos por outros. (...) A maioria dens compelida a sublimar essa necessidade solucionando enigmas artificiaisconcebidos para nosso entretenimento.1

    A associao do gnero "mistrio detetivesco" com o tema dassociedades secretas e da histria alternativa revelou-se das mais inspiradasno romance seguinte de Dan Brown, O cdigo Da Vinci. Remetendo aomistrio histrico da sociedade secreta conhecida como Priorado de Sio erecheando seus enigmas criptogrficos com lendas da histria da arte,Brown finalmente realizou seu sonho de escrever um best-seller -- em escalamundial.

    Poucas vezes um romance ter deixado tais marcas. Desde olanamento, em 2003, O cdigo Da Vinci quebrou recordes de vendas nomundo inteiro. Em maro de 2005, j haviam sido impressos mais de 25milhes de exemplares. De quebra, o sucesso do livro tambm transformouos romances anteriores de Brown em best-sellers. Numa mesma semana doincio de 2004, seus quatro romances estiveram juntos na lista de sucessosde venda do New York Times -- uma proeza inacreditvel. Ainda por cima, aColumbia Pictures comprou os direitos cinematogrficos do romance,escalando dois detentores do Oscar: o diretor Ron Howard e, para o papel deRobert Langdon, o ator Tom Hanks.

  • O cdigo Da Vinci possui igualmente uma enorme influnciasociolgica. A utilizao nele de temas herticos, como o casamento de Jesuscom Maria Madalena, gerou ampla polmica e muito debate em torno da"verdadeira histria" do cristianismo -- e especialmente do catolicismo. Emmaro de 2005, o Vaticano reagiu passando ofensiva contra o best-sellerde Brown: em indito ataque a um livro de fico, o cardeal Tarcsio Bertone,arcebispo de Gnova, declarou que o romance estava "cheio de mentiras emanipulaes". Considerando "lamentvel" o enredo hertico do livro de DanBrown, o cardeal Bertone recomendou que as livrarias catlicas o tirassemde suas prateleiras.

    E VEIO A CHAVE DE SALOMO

    Cabe perguntar, no entanto, se Dan Brown apenas esperava alcanaro sucesso ou se, na realidade, no o planejou. O lanamento de O cdigo DaVinci foi acompanhado de algo equivalente, no mundo editorial, a uma "cargamacia de cavalaria". A editora Doubleday enviou dez mil exemplaresgratuitos a jornalistas, formadores de opinio e grandes livrarias, umconsidervel investimento de risco, pois na poca Brown ainda era umescritor de sucesso moderado. O nmero de exemplares de cortesiadistribudos ficava em torno de metade do total vendido pelos trs romancesanteriores juntos. Mas a ousada cartada valeu a pena, e as primeirasresenhas criaram um boca-a-boca favorvel que acabaria garantindo oenorme sucesso do romance.

    Alm disso, est claro hoje que Dan Brown planejou lanar O cdigoDa Vinci como o primeiro de uma srie de livros a serem comercializados emconjunto, pois na sobrecapa da edio norte-americana esto inscritas cifrasque remetem ao tema do livro seguinte de Brown. Ao serem encontradaspelos leitores pela primeira vez, as mensagens codificadas pareciam, namelhor das hipteses, ambguas e confusas. Mas o motivo de ali estaremficou evidente quando Dan Brown anunciou numa entrevista que podiam serencontradas indicaes sobre seu prximo romance na sobrecapa de Ocdigo Da Vinci. Pouco depois, o site oficial de Brown na Internet lanava umconcurso intitulado "Descubra o cdigo: o segredo est bem diante dos seusolhos".

    Com a promessa de uma viagem a Paris para o vencedor, o concursoera apresentado da seguinte maneira:

    Bem-vindo, amigo leitor de O cdigo Da Vinci.

    Leonardo era sabidamente um trapaceiro que gostava de escamotearsegredos vista de todos (...) muitas vezes codificados em suas obras de arte.Pois agora, exatamente como os segredos dissimulados na arte de Leonardo,uma srie de cdigos foi escondida para voc encontrar.

    Disfaradas na sobrecapa de O cdigo Da Vinci, numerosasmensagens criptografadas apontam para o tema do prximo romance de DanBrown, tendo como personagem Robert Langdon.2

  • A inscrio dos cdigos na sobrecapa foi um golpe de mestre da partede Brown e sua editora, mostrando notvel viso. Centenas de milhares deadmiradores participaram desde ento do concurso, cujas solues solongamente debatidas em fruns na Internet. Alimentando a curiosidadecom graduais revelaes sobre o prximo livro, Brown conseguiu gerar umaexpectativa quase histrica. De tal maneira que, quando o editor StephenRubin revelou o ttulo do romance seguinte, foi o suficiente para que o NewYork Times publicasse uma matria.3 Caso voc ainda no saiba, o ttulo do prximo livro ser A chave deSalomo, devendo ser publicado no incio de 2006.

    DECIFRE ESTE ENIGMA

    Este livro foi escrito com o mesmo esprito utilizado por Dan Brownna concepo e comercializao de suas obras. Em primeiro lugar,examinaremos suas declaraes nos meios de comunicao e em seu prpriosite para tentar encontrar indicaes sobre os provveis temas de seuprximo livro. Trataremos em seguida de consolidar essas idiasinvestigando os cdigos inscritos por Brown na capa de O cdigo Da Vinci eno concurso da Internet, interpretando seus significados. Finalmente,analisaremos a simbologia pessoal de Dan Brown -- seu estilo como escritore suas influncias histricas --, tentando prever possveis linhas de enredo erecursos narrativos de A chave de Salomo, antes mesmo que o livro chegue s livrarias.

    Uma vez estabelecidas as bases das influncias e temas de predileode Dan Brown, passaremos a uma investigao mais minuciosa dos tpicosidentificados. E, embora no possamos naturalmente prever cada detalhe --e algumas de nossas previses com certeza estaro simplesmente erradas --,voc pode estar certo de que boa parte do que descobrirmos em nossainvestigao ter algum papel em A chave de Salomo.

    Vamos ento em frente... CAP TULO 1

    OS DADOS B SICOS

    Comecemos por um exame das palavras do prprio Dan Brown sobrea continuao de O cdigo Da Vinci. Inicialmente, no precisamos enveredarmuito por previses e adivinhaes para deduzir o tema principal de A chavede Salomo, pois a resposta pode ser encontrada na rea dedicada s"perguntas mais freqentes" do site de Dan Brown. Respondendo a umapergunta sobre seu fascnio pelas sociedades secretas, Brown explica:

    Meu interesse deriva de meus anos deformao na Nova Inglaterra,cercado pelos clubes clandestinos das universidades da Ivy League, as lojasmanicas dos Pais Fundadores e as ante-salas ocultas do podergovernamental no nascedouro. (...) O prximo romance em torno de RobertLangdon (...) se passa nos recnditos mais profundos da mais antigafraternidade da histria (...) a enigmtica irmandade dos maons.4

  • Temos neste trecho uma confirmao inicial de que A chave deSalomo envolver a maonaria, uma sociedade secreta vagamente familiarpara a maioria de ns, pelo menos de nome -- e superficialmenteconsiderada pelos que no a conhecem bem como um grupo estranho, masinofensivo, de "velhos camaradas" ou uma maquiavlica mquina de podersubversivo. Existe toda uma abundante e contraditria literatura sobre amaonaria, e geralmente difcil identificar onde terminam as lendas e ondecomea a verdade na histria desse enigmtico grupo. Dan Browncertamente no se eximir de explorar os elementos mais conspiratrios dahistria da maonaria, mas que fontes estar usando para escrever A chavede Salomo? Examinaremos mais detidamente esta questo um poucoadiante. Curiosamente, Brown tambm se refere de passagem, nesse trecho, aoutros temas correlatos -- as lojas manicas dos "Pais Fundadores", as"ante-salas ocultas" do poder e as fraternidades secretas das universidadesda Ivy League. Embora no declare explicitamente que esses temas fazemparte de seu novo livro, a referncia a trs assuntos to estreitamenteligados merece nossa ateno.

    pblico e notrio que alguns dos fundadores dos Estados Unidoseram maons. Sabe-se que George Washington, Benjamin Franklin e PaulRevere foram iniciados na maonaria. Toda uma srie de teorias da "histriaoculta" postula que a fundao dos Estados Unidos foi um projeto manicopara a criao de uma terra da utopia, livre dos erros do "velho mundo", eque esta "conspirao" ainda hoje tem prosseguimento. Os adeptos dessasteorias costumam invocar certas provas, entre as quais se destacam oplanejamento e a arquitetura da capital dos Estados Unidos, Washington, eo estranho simbolismo contido no selo das armas da repblica norte-americana. Tambm chamam nossa ateno para a relao dos presidentesque foram maons, assim como para a atual proeminncia da sociedadesecreta da Ivy League, a Crnio e Ossos.

    Ser que Dan Brown basear A chave de Salomo em alguma dessashistrias ocultas? Tudo indica que podemos ter tropeado cm mais umapea do quebra-cabea, pois ele afirmava em entrevista a RuthMariampolski:

    Estou escrevendo mais um romance de mistrio com Robert Langdoncomo personagem -- uma continuao de O cdigo Da Vinci. Pela primeiravez, Langdon vai se envolver num mistrio em territrio norte-americano. Estenovo romance explora a histria oculta da capital de nosso pas.

    Vale notar tambm que Dan Brown est perfeitamente familiarizadocom a estranha iconografia encontrada nas armas republicanas dos EstadosUnidos, que j era mencionada no primeiro romance da srie envolvendoRobert Langdon, Anjos e demnios. Quando lhe perguntaram o que achavaque esses smbolos tinham a ver com os Estados Unidos, Brown respondeu:

    Absolutamente nada, que precisamente o que torna to interessantesua presena em nossa moeda. (...) o olho dentro do tringulo um smbolopago adotado pelos Illuminati, significando a capacidade da irmandade dese infiltrar e observar todas as coisas.5

  • No devemos esquecer que o tema do "olho dentro do tringulo" estpresente na capa de O cdigo Da Vinci -- embora devamos deixar para maisadiante a anlise deste elemento. Desse modo, se Dan Brown efetivamenteincorporar a imagstica das armas republicanas ao enredo de A chave deSalomo, podemos esperar que o livro tenha alguma relao com osIlluminati, ou pelo menos com uma organizao ligada a eles.

    Reunimos at aqui algumas indicaes mais fortes sobre os provveisprincipais temas de A chave de Salomo. Antes de passar a uma investigaodas enigmticas cifras inscritas na capa de O cdigo Da Vinci, assim como doquebra-cabea proposto na Internet, devemos atentar rapidamente paraoutra dica dada pelo prprio Dan Brown. Observando que Robert Langdondetm-se em O cdigo Da Vinci numa anlise da numerologia cabalstica,Brown comenta:

    O livro tambm d uma indicao da identidade de outra seita ultra-secreta de numerologia que me fascina, mas no posso aqui revelar seu nomesem comprometer o elemento-surpresa do prximo livro.

    No possvel aqui encontrar uma resposta bvia neste caso: umainvestigao das seitas histricas interessadas em numerologia certamenterenderia uma longa lista. De modo que por enquanto limitamo-nos aarquivar esta informao, passando ao "Desafio Da Vinci". BEM DIANTE DOS SEUS OLHOS

    Como dissemos na Introduo, encontram-se na sobrecapa da edionorte-americana de O cdigo Da Vinci criptogramas que remetem ao tema deA chave de Salomo. At abril de 2004, foi promovido na Internet umconcurso que esclarecia alguns desses confusos cdigos, fazendo perguntasa eles relacionadas. Vamos agora examinar essas perguntas e respostas, natentativa de descobrir mais a respeito do prximo livro de Brown.

    As trs primeiras perguntas do concurso servem mais para testar sea pessoa realmente leu O cdigo Da Vinci, e podem ser respondidas comfacilidade, deixando o caminho aberto para o desafio propriamente dito. Aprimeira pergunta que realmente conta convida o leitor a encontrar nacontracapa de O cdigo Da Vinci um cdigo escrito de trs para frente.Aguando-se a ateno -- e recorrendo a um espelho --, vamos encontraruma misteriosa referncia cartogrfica: 37 57' 6,5" Norte e 77 8' 44" Oeste.Antes de ser lanado o concurso na Internet, aqueles que se depararam comeste cdigo foram dar num beco sem sada ao tentar lazer a localizao. Omotivo disso ficou claro quando a respectiva pergunta foi feita no site.

    PI. Qual a enigmtica escultura encontrada a um grau norte dalocalizao indicada no cdigo?

    Faria mais sentido acrescentar um grau latitude, localizando-seassim a sede da Agncia Central de Inteligncia (CIA) em Langley, Virgnia. Amaioria das pessoas que se interessam por criptografia conhece a"enigmtica escultura" que ali se encontra, pois considerada um dosmaiores quebra-cabeas no resolvidos do mundo.

  • RI. Kryptos. No ptio e nas imediaes da sede da CIA, em Langley, existe umaescultura intitulada "Kryptos". Obra do artista norte-americano JamesSanborn, na realidade um conjunto de esculturas, cuja pea maisconhecida uma grande tela vertical em forma de "S" na qual esto inscritos865 caracteres, e que apresenta quatro mensagens codificadas, cada qualcom sua prpria cifra. Sanborn revelou que existe um outro enigma, que spoder ser solucionado uma vez decifradas as quatro passagenscriptografadas. Desde a inaugurao, em 1990, trs dos quatro cdigosforam descobertos, mas o quarto continua preservado.

    Aparentemente, Dan Brown, confesso manaco por criptografia, hmuito se interessa pela histria de Kryptos. H inclusive boatos de que vemtrabalhando estreitamente com Sanborn na trama de A chave de Salomo.6Curiosamente, as primeiras informaes a respeito da escultura davamconta de que fora concebida em colaborao com um "famoso ficcionista".Embora isso tivesse ocorrido muito antes da poca de Dan Brown, e Sanborncontestasse posteriormente a alegao, no estaria indicada a uma faceta dacriao de Kryptos que Brown pode ter acabado "comprando"? A ttulo decuriosidade, ao ser perguntado certa vez sobre a escultura numa entrevistade televiso, Brown respondeu que ela "remete aos mistrios antigos".Analisaremos mais detidamente o enigma de Kryptos adiante.

    Uma vez dada a resposta "Kryptos" no questionrio do site, somosconduzidos a uma nova pgina que contm informaes sobre a escultura deSanborn e remete a um dos cdigos desvendados (o segundo). A mensagemdecifrada a seguinte:

    Eles utilizaram o campo magntico da Terra. A informao foi coletadae transmitida subterraneamente para um lugar desconhecido. Ser queLangley est sabendo a respeito? Eles deveriam saber: est enterrado emalgum lugar. Quem sabe a exata localizao?

    Aparece ento no site a pergunta relativa concluso desse texto: P2. Segundo Kryptos, quais so as iniciais da pessoa que "sabe aexata localizao"?

    A resposta relativamente simples para quem conhece a histria deKryptos. A ltima frase da mensagem decifrada de Kryptos "S WW sabe.":

    R2.WW

    O concurso da Internet no apresenta qualquer outro comentriosobre esta resposta. A maioria das pessoas deduziu que "WW" referia-se aodiretor da CIA na poca da inaugurao da escultura, William Webster. ACIA, certamente temendo que uma mensagem comprometedora fossecodificada pelo artista, insistira em que Sanborn entregasse a Webster umenvelope contendo o cdigo e a mensagem. Assim, WW certamenteconheceria a soluo. Outros tm advertido que a resposta parece demasiadofcil, continuando a buscar outras alternativas -- houve at quem chamassea ateno para o fato de que WW de cabea para baixo MM, as iniciais de

  • Maria Madalena. Seja como for, a frase "S WW sabe." tambm pode serencontrada discretamente dissimulada, de cabea para baixo, na contracapade O cdigo Da Vinci.

    A questo seguinte do questionrio muda de assunto, e a perguntaque se segue remete resposta. Ela instrui os leitores a procurarem nasobrecapa uma mensagem codificada:

    P3. Em meio a esses pargrafos (e muito bem disfarada) encontra-seuma frase mstica de tempos passados. Para fazer a sua busca (...) renuncie atodo medo, pois se voc ousar a fonte da verdade aparecer.

    A mensagem pode ser facilmente decifrada, destacando-se as letrasem negrito do resto do texto. Revela-se ento uma frase que merecer muitadiscusso: R3. Ningum socorre o filho da viva? Encontramos no site, em seguida, uma quarta pergunta baseadanesta frase, a qual faz perfeitamente sentido luz do incio de nossocaptulo:

    P4. Para qual antiga fraternidade (ainda ativa hoje em dia) esta frasetem um significado especial?

    O "filho da viva" uma expresso conhecida na maonaria, e a frase"Ningum socorre o filho da viva?" um pedido de ajuda em cdigo usadopelos filiados em situaes de perigo. Certos pesquisadores consideram quea expresso "filho da viva" poderia designar o filho de Jesus e MariaMadalena--uma idia pertinente, considerando-se o tema de O cdigo DaVinci. Existe ainda um outro possvel significado para a expresso... masesta questo ter de esperar um pouco, pois j estamos quase no fim dodesafio. Vejamos ento a resposta da quarta pista:

    R4. Maons

    Ainda que no tivssemos confirmado suficientemente a participaoda misteriosa organizao no enredo de A chave de Salomo, esta respostacom certeza pode ser tomada literalmente. O questionrio tece algunscomentrios sobre a resposta, referindo-se maonaria como uma das maisantigas fraternidades existentes, um "sistema moral envolto em alegorias eilustrado por smbolos". Poderia haver tema mais natural para um romancede suspense tendo Robert Langdon como personagem central? No incio de2005, surgiu a confirmao final disto com a afirmao, na publicidade dolivro, de que o enredo "gira em torno do assassinato de vrios lderespolticos da atualidade por uma pessoa ligada maonaria, a fraternidadesecreta da qual fizeram parte alguns dos Pais Fundadores".

    A ltima pergunta do desafio muito mais enigmtica, exigindo umolhar arguto e ao mesmo tempo algum conhecimento (ou intuio) decriptografia. A pista fornecida leva a um discreto sinal na contracapa de Ocdigo Da Vinci, consistindo numa srie de nmeros separados pelo smbolodo "olho no tringulo". A pista explica ento como resolver o enigma:

  • Cada nmero mostra o caminho para um captulo Cada captulo comea com palavras em cinza-claro A primeira letra o que voc procura

    Treze delas (embora tudo parea grego) Mais trs olhos que tudo vem -- um quadrado perfeito Comeando em E, e Csar para l te conduz.

    As instrues concluem com a pergunta:

    P5. Qual a frase famosa que est impressa em torno da marca?

    Utilizando os nmeros e procedendo verificao cruzada em cadacaptulo, reunimos 13 letras, que em sua atual ordem no fazem tantosentido assim. Treze letras e trs olhos que tudo vem somam 16 caracteres,um quadrado perfeito, tal como afirma a pista. Mas como podemos formaresse quadrado utilizando as letras e os olhos? A pista indica o caminho:"Csar para l te conduz." Embora Jlio Csar tenha utilizado vriastcnicas de escrita cifrada, uma em particular adapta-se utilizao de umquadrado, a chamada "Caixa de Csar". Para fazer uso de uma Caixa deCsar, o texto cifrado disposto em colunas verticais dentro do quadrado, ea mensagem codificada ento revelada mediante leitura transversal, emsentido horizontal, por essas fileiras. Utilizando este mtodo, e considerandoos olhos que tudo vem como "espaos" entre as palavras, surge uma fraseintrigante:

    R5. E Pluribus Unum.

    Depois de apresentar a resposta, o desafio esclarece a frase. Explicaque "E Pluribus Unum" significa "Dentre muitos... um" em latim, inscrioque aparece nas armas republicanas dos Estados Unidos. Observa tambmque esses motivos podem ser encontrados na nota de um dlar,acrescentando que a discusso das diferentes teorias envolvidas ter deesperar mais um dia. Vamos apanhar Dan Brown de calas curtas e fazerexatamente isso um pouco mais adiante, dedicando uma seo inteira sarmas republicanas e a seu aparecimento na moeda dos Estados Unidos.

    Respondendo corretamente s cinco perguntas, somos levados a umaltima pgina que consiste num derradeiro desafio. Explica-se ento que,para concluir a busca, somos convidados a clicar no "oeil droit" da MonaLisa. O que parece bastante simples, pois "oeil droit" significa "olho direito"em francs. O desafio ento concludo clicando-se no olho direito da MonaLisa. Mas talvez devamos registrar a escolha do olho direito como mais umapista sobre o contedo de A chave de Salomo.

    Dan Brown est constantemente nos lembrando, em O cdigo DaVinci, em seu site na Internet e em entrevistas, de que muitos dos "mistrios"de seus romances baseiam-se na idia de uma continuao deconhecimentos ocultos de tempos antigos. Uma das tradies antigas a que

  • ele costuma recorrer em sua "simbologia" a da grande cultura egpcia queexistiu durante cerca de trs mil anos antes da era crist. E o "olho direito"tinha um certo significado para os egpcios antigos.

    O "Udjat" ou "Olho de Hrus", era um smbolo particularmente fortepara os egpcios antigos. Exemplos desse motivo podem ser encontrados nasparedes de templos e inscritos em pirmides, mas sua utilizao maisfreqente era como amuleto usado pelos vivos ou includo entre os objetosque acompanhavam os mortos mumificados. Ele tem uma curiosa origemmitolgica: diz-se que o deus Hrus perdeu o olho numa batalha com umdeus rival, Set, assassino de seu pai Osris (curiosamente, Hrus tambmfica sendo, assim, um "filho de viva", sendo a viva em questo a deusasis): Seth estraalhou o olho. Thot (...) conseguiu reunir os pedaos. (...) Thotentregou o Olho a Hrus. Hrus, por sua vez, entregou o olho a Osris, seu paiassassinado, com isso trazendo-o de volta vida.7

    Quase sempre o smbolo era descrito anatomicamente como o olhodireito, embora tanto o esquerdo quanto o direito tivessem um significadoprprio. O olho direito de Hrus, tambm chamado "Olho de R", eraconsonante com o Sol -- sendo por isso associado, no hermetismo, com amasculinidade, a racionalidade e a cincia. O olho esquerdo era associadocom a Lua, sendo-lhe atribudas as virtudes da feminilidade, da intuio edo pensamento esotrico na filosofia hermtica. Curiosamente, a iconografiamanica costuma representar o Sol e a Lua juntos na mesma imagem.

    Como amuleto, acreditava-se que o Olho de Hrus tivesse poderes decura e proteo, e at mesmo a capacidade de reviver os mortos (comoaconteceu com Osris). O cone tambm era usado como artifcio matemtico,representando cada "fragmento" do olho dilacerado uma frao do todo. DanBrown poderia utilizar esta nfima referncia num de seus cdigos? Talvezfaa mais sentido levar em conta que tambm h quem considere que o Olhode Hrus serviu de modelo para o olho que tudo v geralmente associado asociedades secretas, como as dos Illuminati e a dos maons, tal comomencionado anteriormente por Brown. Esta utilizao pode decorrer dafuno do olho, que captar a luz, aluso capacidade espiritual deperceber a "luz interior".

    Tambm devemos ter em mente, contudo, que essa diviso dos doisolhos de Hrus representa os aspectos racional e intuitivo da conscinciahumana. Como dissemos na Introduo, os enredos de Dan Brown muitasvezes giram em torno de dicotomias como essas. Em Anjos e demnios, ocombate entre os Illuminati e a Igreja Catlica era apresentado como umcombate entre cincia e religio. Ironicamente, em O cdigo Da Vinci, a Igrejaera apresentada como terreno da dominao masculina, e o Priorado deSio, como defensor do "sagrado feminino". Como em cada um desses casosas sociedades secretas so representadas nos extremos opostos do espectrohermtico, pode ser difcil decidir de que maneira Dan Brown posicionar amaonaria em A chave de Salomo. possvel, no entanto, que investigandomais possamos esclarecer a questo; por isso vamos assinalar este temacomo mais outro a ser aprofundado.

  • A SIMBOLOGIA DE DAN BROWN

    Que podemos depreender dos romances anteriores de Dan Brown, emtermos de pesquisa e contedo, que possa nos ajudar a montar o quebra-cabea de A chave de Salomo7. Muita coisa, na realidade, pois vrios temasrecorrentes de sua fico podem dar-nos uma idia geral do que serencontrado em seu prximo livro. Alm disso, comparando seus habituaisrecursos narrativos com as possibilidades apresentadas pelo tema do novolivro, podemos perfeitamente antecipar certos detalhes de A chave deSalomo.

    Quais so os temas semelhantes dos dois romances de Dan Brownque tm Robert Langdon como personagem? Por onde podemos comear? Aenciclopdia eletrnica Wikipedia8 relaciona essas semelhanas dos enredos:

    O personagem principal, Robert Langdon, segue uma trilha deantigas pistas msticas envolvendo uma sociedade secreta que se ope Igreja Catlica. Cada romance comea com um prlogo envolvendo um assassino euma cena de homicdio com estranhos smbolos. Em cada um deles,Langdon despertado por um telefonema em que sua ajuda solicitada paraa soluo do caso. O enredo de ambos os romances transcorre ao longo de um nicodia, sendo a ao de Langdon acompanhada por uma bela e inteligentemulher ligada vtima de assassinato. Em ambos os livros, o assassino (o Hassassin em Anjos e demniose Silas em O cdigo Da Vinci) tem a impresso de estar agindo em nome deuma organizao, que na realidade est sendo usada para os assassinatos(respectivamente, os Illuminati e o Opus Dei). Nos dois livros, acaba-se descobrindo que o mentor dosassassinatos era o personagem que aparentemente tinha menos motivospara isso. Langdon e sua companheira de investigao acabam a histriaenvolvidos romanticamente (e talvez sexualmente).

    Embora as crticas de que Brown foi alvo por causa desses enredosto semelhantes possam lev-lo a desistir da frmula, podemos presumirque certos elementos de seu estilo voltaro a se manifestar, j que esto toestreitamente ligados a seu sucesso.

    Histria oculta:

    Os dois romances de Dan Brown com Robert Langdon comopersonagem central valem-se ambos de fontes da histria alternativa. Ocdigo Da Vinci recorria generosamente mitologia em torno do Priorado deSio, sociedade secreta supostamente surgida na poca das Cruzadas. Asorigens do Priorado de Sio foram esboadas em 1981 no livro de histriaalternativa O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, que se tornou um best-seller. Sabemos que Dan Brown o tem em alta conta, pois concedeu-lhe ahonra de figurar na estante de Leigh Teabing em O cdigo Da Vinci. Narealidade, Teabing considera-o "possivelmente o livro mais conhecido" sobrea questo da linhagem sangnea de Jesus. O leitor mais atento pode atdeparar-se com esta pequena aluso deixada por Brown: "Leigh Teabing"

  • um anagrama dos sobrenomes de dois dos autores de O Santo Graal e aLinhagem Sagrada -- Richard Leigh e Michael Baigent (sendo o terceiroautor Henry Lincoln).

    Caberia perguntar por que o nome de Henry Lincoln foi omitido doanagrama. Ter sido simplesmente pela facilidade de criar um nomeverossmil para Teabing? Pode haver outro motivo. Depois da publicao deO Santo Graal e a Linhagem Sagrada e de sua "continuao", A heranamessinica, Baigent e Leigh continuaram a escrever livros juntos -- sem acolaborao de Lincoln. Um desses livros trata especificamente da histriada maonaria.

    O templo e a loja, lanado em 1989, investiga as possveis ligaesentre a dissoluo dos lendrios Cavaleiros Templrios e as origens damaonaria. Em sua investigao, eles encontraram vnculos entre amaonaria e a Capela de Rosslyn, um monumento histrico perfeitamenteconhecido dos leitores de O cdigo Da Vinci. Para alm disso, contudo, o fimde O templo e a loja fornece uma pista para nossa investigao, pois tratadas influncias manicas encontradas na formao dos Estados Unidos daAmrica. Seria Dan um f da dupla?

    Outro livro encontrado na estante de Teabing O segredo dostemplrios de Lynn Picknett e Clive Prince. Tambm esse livro sustenta aexistncia de uma linhagem ininterrupta unindo os Cavaleiros Templrios,invocando para isso o testemunho de O templo e a loja e de um outro livro,Nascidos do sangue: Os segredos perdidos da maonaria de John Robinson.Ele vem a ser, igualmente, um dos principais livros de "histria alternativa" apromover a idia de um "culto do sagrado feminino".

    O trecho de O cdigo Da Vinci que trata da Capela de Rosslyncertamente mostra que o autor, ao menos em parte, se deixa influenciarpelos dois livros mencionados, mas h indicaes de que pelo menos umaoutra obra foi usada como referncia. Quando Robert e Sophie chegam aeste curioso monumento histrico, Brown afirma que ele foi concebido pelostemplrios como uma perfeita cpia arquitetnica do Templo de Salomo, emJerusalm. Tambm mencionado um "Selo de Salomo" assinalado emdeterminados pontos da arquitetura da capela. Ambas as idias foramoriginalmente expostas num livro intitulado A chave de Hiram (note-se asemelhana com o ttulo do prximo livro de Brown), de Robert Lomas eChristopher Knight. Curiosamente, ambos so maons, e alguns de seuslivros investigam a histria da ordem, revelando estranhos fatos ecorrespondncias alheias histria ortodoxa. Devemos, portanto, analisaratentamente os seus escritos.

    Por que ser que Dan Brown baseia os enredos de seus romances emlivros polmicos? Provavelmente porque os livros de "histria alternativa"proporcionam ao leitor a emoo da revelao subversiva: o fator chamado"isso no se aprende na escola". O lado "sociedade secreta" dessas histriastambm adensa a intriga, multiplicando as possibilidades dedesenvolvimento da trama. Em Anjos e demnios Brown apresenta os"Illuminati" como uma organizao obscura movendo-se fora do alcance doradar da histria ortodoxa. Em O cdigo Da Vinci, este papel desempenhado pelo Priorado de Sio. Em A chave de Salomo, tudo indica

  • que a maonaria, ou pelo menos alguma parte da fraternidade, ser usadade maneira semelhante.

    Quais seriam, ento, os outros livros de "histria alternativa" a quedevemos estar atentos, luz do que j descobrimos a respeito de A chave deSalomo7. Se estiver em questo a "histria secreta" de Washington, a capitalnorte-americana, pode ser interessante dar uma olhada no livro The SecretArchitecture of Our Nations Capital: The Masons and the Building ofWashington, D.C., [A arquitetura secreta da capital de nosso pas: os maonse a construo de Washington], de David Ovason. O autor no s investiga ainfluncia da maonaria no traado urbanstico da capital como sustentaque houve influncia da constelao de Virgem nesse traado -- talvez umaprovidencial ligao com a utilizao, em O cdigo Da Vinci, de umasociedade secreta que venera o aspecto feminino da divindade. O sagradofeminino se internacionaliza!

    Finalmente, devo mencionar um outro livro que pode desempenharum papel em nossa investigao. O lendrio autor esotrico Manly P. Hall mais conhecido por seu trabalho enciclopdico sobre as tradies ocultas,The Secret Teachings of Ali Ages [Os ensinamentos secretos de todas as eras].Outro de seus livros, The Secret Destiny of America [O destino secreto daAmrica], merece particular ateno no que diz respeito a "A chave deSalomo". Neste intrigante trabalho, Hall sustenta que as sementes de umplano de fundao dos Estados Unidos "foram plantadas mil anos antes doincio da era crist". Recorrendo a obscuras referncias histricas, The SecretDestiny of America investiga o papel desempenhado por outra sociedadesecreta, a dos "Rosa-Cruzes", na fundao dos Estados Unidos.

    Manly Hall acreditava que na importante figura histrica de FrancisBacon pode estar a chave de uma "histria oculta" sobre a fundao dosEstados Unidos. The Secret Destiny of America tenta demonstrar que asociedade secreta de Bacon desempenhou um papel importante noestabelecimento de uma repblica manica nos EUA, livre dosimpedimentos do cristianismo europeu e das monarquias autoritrias quena poca vigoravam na Frana e na Inglaterra. Certamente tambm valeuma investigao mais atenta.

    Enigmas:

    O interesse de Dan Brown pela criptografia tem-lhe sido muito til,devendo-se boa parte do sucesso de seus livros, sem dvida, aos constantesenigmas e cdigos oferecidos curiosidade do leitor. O personagem deRobert Langdon representa uma maneira fcil de inserir refernciassimblicas no enredo. O acrscimo da criptgrafa Sophie Neveu frmula deO cdigo Da Vinci criou mais uma alternativa nesse terreno. E por sinal serinteressante ver se Sophie continua por a no prximo romance, ou sedesaparecer da mesma forma que Vittoria Vetra depois de Anjos e demnios(ou quem sabe ambas voltem a aparecer... um tringulo amoroso semprevem a calhar como recurso narrativo).

    Desse modo, provvel que A chave de Salomo seja muito parecidoem termos de enigmas e desafios para o leitor. Devemos, assim, tomar notadas organizaes e da histria que estaro presentes no romance,

  • examinando os possveis cdigos e cifras a eles relacionados que possam vira ser usados por Dan Brown. Por exemplo, quais os smbolos e cdigos queeram usados pela maonaria e pelos templrios? Algum dos personagenshistricos envolvidos tinha sabidamente interesse por cdigos? Examinandopocas mais recentes, devemos naturalmente incluir James Sanborn e aescultura Kryptos em nossa anlise, pois so explicitamente mencionados nodesafio da Internet. Para no mencionar o fato de que a escultura seencontra na sede da CIA; em Langley, que no fica longe de Washington.

    Outro ponto a ser observado com relao aos enigmas criptogrficosde Dan Brown o fato de que ele regularmente inclui no "jogo" monumentose obras de arte conhecidos. Em O cdigo Da Vinci, Brown serviu-se delugares histricos como o Louvre, Saint-Sulpice e a Capela de Rosslyn, almde quadros e esculturas famosos. Considerando-se j ter ele declarado que ahistria oculta da capital norte-americana far parte de A chave de Salomo,talvez devssemos sair em busca dos monumentos mais interessantes daregio para identific-los como cenrio provvel de passagens do novoromance. Voltaremos a este tema num prximo captulo.

    O sagrado feminino:

    Embora o conceito do sagrado feminino s tenha sido focalizado emum romance de Dan Brown, sua fora como idia pode conduzi-lo tambmao prximo livro. Muita gente atribui boa parte do sucesso do livro mensagem de fora e capacitao que transmite, na medida em que aumentaa visibilidade do aspecto feminino na histria religiosa. Trata-se de um temade particular fora na era moderna, considerando-se que vivemos numasociedade dominada por religies patriarcais. Podemos esperar que Browncontinue a abordar este tema, ainda que no como principal foco do novoromance. H interessantes detalhes a respeito da maonaria e da cidade deWashington a serem discutidos em relao com o sagrado feminino. Dicotomias:

    Como j vimos, outra caracterstica do estilo de Dan Brown oconfronto entre opostos. Em Anjos e demnios, eram os Illuminati, com suafundamentao cientfica, contra a Igreja Catlica, representando a religio.O cdigo Da Vinci explorou um enredo semelhante, desta vez opondo a Igreja-- na forma do Opus Dei -- aos partidrios do sagrado feminino, a sociedadesecreta conhecida como Priorado de Sio. J sabemos qual ser um dosplos em A chave de Salomo, a maonaria. Qual ser ento a organizaoque provavelmente veremos confrontar-se com os maons? Talvez umaordem religiosa como a Companhia de Jesus, dos jesutas, que h sculos sevem opondo maonaria e a outras organizaes semelhantes?

    Ou, quem sabe, com a aluso a Langley no concurso da Internet,assistiremos ao envolvimento de uma agncia de inteligncia no romance? talvez o que devemos esperar, pois, numa entrevista posterior publicaode Anjos e demnios, Dan Brown declarou que havia "tomado conhecimentorecentemente de uma outra agncia norte-americana de inteligncia, deatuao ainda mais secreta que a da Agncia de Segurana Nacional",9 e queela teria papel de destaque em seu romance seguinte. Como a referidaagncia acabou no sendo integrada trama de O cdigo Da Vinci, perfeitamente possvel que Brown tenha reservado sua participao para oprimeiro romance centrado em Robert Langdon a ter como cenrio o

  • territrio norte-americano: A chave de Salomo.

    SURGEM AS LINHAS GERAIS

    Como um navio surgindo da bruma, j podemos comear a identificaras linhas gerais de A chave de Salomo. J conhecemos alguns dos temasprincipais: maonaria, a histria oculta da cidade de Washington, as armasda repblica norte-americana e uma possvel conspirao dos Illuminati.Tambm podemos prever de onde viro certos detalhes dessas linhas gerais,pois autores anteriormente usados como referncia por Brown abordamalguns desses mesmos temas. E conhecemos o seu estilo. Podemos entocomear a reunir os provveis detalhes de um dos romances mais esperadosda dcada. Comearemos por nos familiarizar com o contexto da histria. CAP TULO 2

    A INFLUNCIA ROSA-CRUZ

    Nos dois romances j publicados com o personagem de RobertLangdon, Dan Brown adota as sociedades secretas como um dos principaistemas. Em Anjos e demnios eram os Illuminati, e em O cdigo Da Vinci, oPriorado de Sio. Podemos agora presumir que A chave de Salomo tratarda maonaria. Embora existam muitas dvidas quanto s origens doPriorado de Sio, tanto os Illuminati quanto a maonaria foram grupos deexistncia histrica perfeitamente concreta. A maonaria decididamentesobreviveu na era moderna, ao passo que os "Illuminati Bvaros" parecemter existido por menos de uma dcada no sculo XVIII -- embora muitosadeptos da teoria da conspirao pudessem afirmar que simplesmentepassaram "clandestinidade" a partir de ento, no s sobrevivendo at hojecomo representando uma importante influncia por trs dos acontecimentosmundiais.

    Tanto os Illuminati quanto os maons fazem parte de uma tradioque costuma ser identificada como "rosacruciana". Os grupos rosa-cruzesabarcavam numerosas crenas e filiaes polticas, mas talvez seja maisacertado identific-los conjuntamente pela semelhana de suas aspiraes.Para entender as origens desses grupos, precisamos voltar no tempo cercade quinhentos anos, explorando o clima poltico e religioso da Europa napoca, alm da emergncia da cincia moderna no perodo do Iluminismo.Esse rpido desvio pela histria haver de revelar-se de enorme utilidadepara entender as possveis motivaes dos Pais Fundadores norte-americanos. UMA EUROPA DIVIDIDA

    O incio do sculo XVI foi um perodo conturbado na Europa. A IgrejaCatlica estava moral e financeiramente corrompida. Em todo o continente,as monarquias comeavam a se impor de forma draconiana, descartando oslimites constitucionais a sua autoridade. Alm disso, em conseqncia dastenses causadas pela rapidez das mudanas que se verificavam nasociedade em todo o continente, os problemas comearam a fermentar a vidacotidiana. Incrivelmente, poder-se-ia dizer que um raio literalmenteincendiou aquele inferno que j comeava a descortinar-se...

    Em 1505, um jovem alemo voltava da escola quando um raio atingiuo solo a seu lado. Aterrorizado, ele imediatamente fez uma promessa, em

  • troca da salvao: "Valei-me, Sant'Ana! Vou fazer-me monge." Constatandoque sobrevivera, Martinho Lutero, ento com 21 anos, cumpriu a palavra,deixando a faculdade de direito para entrar para um mosteiro. Todavia,apesar do fervor de sua f crist, o jovem no demorou a desiludir-se com aIgreja.

    O desencanto de Lutero com a cobia e a corrupo endmicas naIgreja Catlica chegou ao ponto de ebulio, em 1517, quando fez umsermo criticando a prtica da venda de indulgncias. No porto da igreja docastelo, ele afixou um documento atacando a cobia e o secularismo naIgreja. Aquele jovem catlico com toda evidncia estava ferindo um pontosensvel na sociedade europia: em questo de duas semanas, o manifestode Lutero havia-se espalhado pela Alemanha, e pouco tempo depois estavasendo lido e discutido em toda a Europa. Tivera incio a Reforma, e logo aEuropa estaria dividida em dois campos religiosos -- catlicos eprotestantes.

    Na Inglaterra, a Reforma anunciava uma nova era, pois a HenriqueVIII convinha politicamente romper com Roma. Uma grande quantidade debens catlicos foi encampada pela monarquia, boa parte passando para asmos da nobreza. Com tais recompensas para os que apoiavam a Reforma, oresultado era previsvel. nessa "nova" Inglaterra que vamos encontraralguns dos personagens-chave que surgiram nas origens dorosacrucianismo.

    O LTIMO MAGO

    O lendrio filsofo elisabetano John Dee (1527-1609) era a autnticapersonificao do "homem renascentista". Respeitado como matemtico,astrnomo e gegrafo, tambm era astrlogo da rainha Elizabeth e grandeestudioso da alquimia, da cabala e da magia. Profundo conhecedor denavegao, era mestre dos grandes exploradores da poca, alm de merecera ateno da rainha da Inglaterra, que o tinha em alta estima.

    Apesar de fervoroso cristo, Dee tambm era fascinado pelastendncias do perodo renascentista para o ocultismo. Para muitos, ele lembrado sobretudo por suas tentativas de comunicao com os anjos,prtica ainda adotada pelos ocultistas modernos sob o nome de "magiaenoquita". Embora hoje suas atividades pudessem parecer herticas e emcontradio com sua f crist, na poca a paisagem religiosa era diferente. Arespeitada especialista Francs Yates assinala que, no Renascimento, aIgreja Catlica no desencorajava os estudos hermticos e cabalsticos,sabendo-se que na realidade os cardeais enveredavam por algumas dessasreas. J a situao da magia era muito mais incerta, sujeitando aacusaes de simonia.

    Dee, todavia, provavelmente considerava que sua magia tinha umfundo cristo, pois estava tentando entrar em contato com os anjos, e noinvocar demnios. Com efeito, seu principal objetivo era contribuir para aunificao da Europa atravs da revelao da religio pura dos antigos,superando os cismas confessionais. Yates identifica em Dee as origens deum "Iluminismo rosacruciano".10 Como o protestantismo demonstrava maior

  • tolerncia com as prticas ocultistas, os primrdios da cincia forampropiciados pelas experincias de alquimia e filosofia natural desses"magos". Todavia, Yates afirma que o lugar desse Dee de tendnciasocultistas na histria, como inspirador da moderna cincia e dorosacrucianismo, foi apagado pelos que temiam as repercusses da caa sbruxas que logo teria incio.

    Em O iluminismo Rosa-cruz, Francs Yates considera Dee a"portentosa personalidade" por trs do incio do movimento rosacruciano. Ea chave desse movimento era a filosofia da incluso, a idia de que ahumanidade s poderia progredir na tolerncia de todas as fs religiosas.

    O AVANO DO CONHECIMENTO

    O alvorecer do sculo XVII foi um extraordinrio perodo dedescobertas. A hertica idia de Coprnico de que a Terra girava em torno doSol comeou a ser levada a srio. As figuras de Galileu e Kepler impem suamonumental influncia sobre a histria. E um cavalheiro ingls chamadoFrancis Bacon inaugurou informalmente uma das maiores instituiescientficas do mundo.

    Sir Francis Bacon (1561-1626) era o mais novo dos cinco filhos de SirNicholas Bacon, o "guardio do selo real" de Elizabeth I. Homem deextraordinria inteligncia, Bacon j no considerava satisfatrios osmtodos e os resultados das "cincias" da poca. Tomou a si, ento, a tarefade instituir um novo modo de explorao do conhecimento, paralelamente asua influente carreira poltica e jurdica nos reinados de Elizabeth I e JaimeI. Em seu livro O progresso do conhecimento, publicado em 1605, Bacondeclarou insatisfatria boa parte do saber ento vigente. Propunha umafraternidade do saber, na qual os homens cultos pudessem trocar idiasindependentemente de suas crenas e filiaes polticas. Temos aqui umacuriosa continuao da aspirao inclusiva de Dee, um pansofismo no qualo conhecimento pertence a todos os homens.

    Em seu Novus Organum, Bacon exps suas idias sobre oaperfeioamento da busca do conhecimento. Pretendendo tomar o lugar doOrganum de Aristteles, o livro estabelecia procedimentos cientficos demuito maior rigor, que vieram a ficar conhecidos como o mtodo baconiano.Este mtodo de investigao leva em considerao as muitas possveisfalcias experimentais, como a tendncia humana para identificar padresem sistemas aleatrios, os mtodos incorretos e os personalismos.

    Bacon continuou a divulgar suas idias sobre o progresso doconhecimento at sua estranha morte, ocorrida em 1626. Interessado napossibilidade de usar a neve para conservar a carne, Bacon comprara umagalinha no mercado, decidido a avaliar a hiptese por si mesmo, como bomcientista. Mas sua frgil sade no resistiu tentativa de rechear a galinhacom neve, e ele contraiu pneumonia, morrendo pouco depois. Depois de suamorte, mais um de seus influentes ensaios foi publicado, A Nova Atlntida,que logo analisaremos.

  • CHEGAM OS ROSA-CRUZES

    Ainda em vida de Bacon, comearam a surgir textos estranhos quelogo viriam a exercer dramtica influncia em toda a Europa, apesar de seucarter obscuro. Em 1614el615, foram publicados na cidade alem de Kasseldois misteriosos manuscritos sem qualquer indicao de autoria, com osestranhos ttulos de Frama Fraternitatis ("A fama da louvvel ordem da CruzRosada") e Confessio Fraternitatis ("Confisso da fraternidade").

    Esses manuscritos contavam a histria mitolgica de um alemochamado Christian Rosenkreutz, nascido em 1378, que aos 16 anos de idadeviajou Terra Santa e ao Oriente Mdio. L, entrou em contato com umacomunidade de convices utopistas, que se deixava orientar exclusivamentepor "homens sbios e compreensivos". Em sua peregrinao, Rosenkreutztambm foi iniciado nos mistrios do ocultismo e na antiga "sabedoriasecreta".

    Os textos tambm afirmam que, de volta Alemanha, Rosenkreutzuniu-se a homens de idias afins para fundar, em 1407, a Fraternidade daCruz Rosada. O grupo tomou para si a misso de viajar pelo mundo,disseminando os ensinamentos antigos e curando os doentes.

    Rosenkreutz teria morrido em 1484, na avanada idade de 106 anos.Um pequeno grupo de iniciados deu prosseguimento ao importante trabalhodo fundador, at que, em 1604, um dos membros da fraternidade descobriuuma porta secreta que levava a seu tmulo. Ao abrirem a porta, na qualestava inscrita a profecia "passados 120 anos eu me abrirei", elesencontraram uma abbada de sete lados coberta de smbolos, livros e outrosobjetos extraordinrios. Um dos tesouros ali encontrados era o chamado"Livro M" que teria sido escrito pelo prprio rei Salomo, e no qual eleregistrara "todas as coisas passadas, presentes e futuras". No meio da criptaencontrava-se um caixo com o corpo perfeitamente preservado de ChristianRosenkreutz. A coisa foi interpretada como sinal de que a existncia daordem deveria ser levada ao conhecimento do pblico, convidando-sepessoas de idias afins para que se juntassem a eles em sua busca.11

    A revelao de que esta sociedade secreta estava por tornar-sepblica causou enorme sensao em toda a Europa. As mudanas queocorriam na sociedade da poca faziam com que muitas pessoas seidentificassem com a mensagem rosacruciana, mensagem de uma sabedoriaantiga reconstituda para orientar os homens para uma nova utopia.Cientistas e filsofos famosos tentaram localizar e entrar em contato com afraternidade rosa-cruz, mas no tiveram xito. A sensao era de que aEuropa estava entrando numa nova era de esclarecimento, guiada pela"verdade" dos antigos, que permitia retornar ao "estado paradisaco anterior queda".12

    Quem eram esses irmos annimos comprometidos com atransformao do mundo? Nem mesmo pesquisas minuciosas permitiramestabelecer a identidade de qualquer membro real da primitiva sociedaderosa-cruz, e todos os indcios so de que os documentos (assim como aposterior publicao de As bodas qumicas de Christian Rosenkreutz) nopassavam de criao fictcia de um telogo alemo chamado JohannValentin Andreae. Jamais existira fraternidade alguma -- Andreae chegou

  • inclusive a empenhar-se reiteradamente para corrigir o equvoco de queesses documentos deviam ser levados a srio.

    Seja como for, o mito havia gerado uma realidade. Embora se tratassede uma fico, o movimento configurara um modelo do que era necessriono mundo material. Um elemento importante da utopia profetizada pelosrosa-cruzes era a recomendao de que os homens cultivados das maisdiferentes formaes colaborassem pelo bem de toda a humanidade.Estranhamente, foi precisamente o que aconteceu logo depois na Inglaterra.

    O COLGIO INVIS VEL

    Pouco antes de morrer, Francis Bacon trabalhava em seu prpriomito utpico, A Nova Atlntida. Apesar de incompleto, o livro veio a serpublicado em 1627, um ano depois de sua morte e pouco mais de umadcada aps a divulgao dos documentos rosa-cruzes na Alemanha. Em ANova Atlntida, Bacon exps seu sonho de uma sociedade perfeita, na qual areligio e a cincia convivessem em harmonia. O livro conta a histria denavegadores que descobrem uma nova terra, onde encontram esta sociedadeperfeita. Nessa cultura, existe um grupo de sacerdotes-cientistasorganizados num colgio denominado Casa de Salomo, dedicado busca doconhecimento esclarecedor e do progresso da humanidade. feita aqui anecessria ligao com a antiga sabedoria, afirmando Bacon, alm disso, quea Nova Atlntida tambm estava na posse de algumas das obras perdidas dorei Salomo.

    O curioso a respeito de A Nova Atlntida que, embora no haja emsuas pginas qualquer referncia Fraternidade da Cruz Rosada, ficaperfeitamente claro que se trata de um documento rosa-cruz. Francs Yatesreuniu slidas provas nesse sentido, entre elas a de que um dos funcionriosda Atlntida utpica usa um turbante branco "com uma pequena cruzvermelha no alto".13 Com efeito, a Casa de Salomo parece extremamentesemelhante fraternidade rosa-cruz.

    Yates assinala que um outro autor, chamado John Heydon, indicoutrs dcadas depois ter identificado esta semelhana, em seu livro HolyGuide [O guia sagrado]. O livro era basicamente uma adaptao de A NovaAtlntida, com a ressalva de que, na verso de Heydon, a "Casa de Salomo" substituda pelos "Sbios da Sociedade dos Rosa-cruzes".14 E ele amplia oregistro das "obras perdidas de Salomo" estabelecido por Bacon, incluindoentre elas o lendrio "Livro M" encontrado no tmulo de ChristianRosenkreutz.

    A pergunta bvia a ser feita : Inspirava-se A Nova Atlntida nosmanifestos rosacrucianos ou teriam sido os manifestos escritosoriginalmente em resposta ao trabalho anterior de Bacon, neste sentidopressagiando sua alegoria utpica? Surge tambm uma terceirapossibilidade, que exploraremos mais detidamente no prximo captulo: a deque tanto Bacon quanto Andreae tenham sido influenciados por umatradio anterior.

  • A publicao de A Nova Atlntida, paralelamente aos manifestos rosa-cruzes, levou a uma expectativa quase febril de que estava para aconteceruma grande mudana. Os utopistas reuniram-se na Inglaterra, ptria deBacon. O utopista Samuel Hartlib escreveu sua prpria viso fictcia, Umadescrio do famoso reino de Maaria, enviando-a ao parlamento ingls, certode que os parlamentares haveriam de "lanar a pedra fundamental dafelicidade do mundo". O grande educador Comenius manifestou o desejo deque agentes de mudana comeassem a se espalhar pelo mundo, ecuriosamente acrescentava que essas pessoas deveriam ser orientadas poruma ordem...

    ... de tal maneira que cada uma delas saiba o que deve fazer, paraquem, quando e com que ajuda, tratando de desempenhar sua tarefa demaneira afazer o bem geral.15

    Mas o sonho utpico ficaria em compasso de espera quando aInglaterra entrou em guerra civil, em 1642, encaminhando-se para aabolio da monarquia e o incio do protetorado de Oliver Cromwell. Ou pelomenos a face pblica dos utopistas desapareceu, pois nesta poca quesurgem os primeiros registros de um "Colgio Invisvel". O qumico escocsRobert Boyle, que enunciaria mais tarde a chamada Lei de Boyle (segundo aqual o volume de um gs varia inversamente presso), menciona estasociedade numa carta de fevereiro de 1647:

    O melhor de tudo que as pedras fundamentais do Colgio Invisvel(como se chamam eles prprios) ou Filosfico vez por outra me honram comsua companhia. (...) homens de mente to aberta e inquiridora. (...) pessoasque se empenham em confundir a estreiteza de esprito, pela prtica debenevolncia to ampla que alcana tudo que humano, e no se satisfazseno com uma boa vontade universal. (...) Eles tomam a seus cuidados todo oorganismo da espcie humana.

    Acredita-se que o Colgio Invisvel fosse um antecedente deinstituio cientfica mais famosa, a Sociedade Real, da qual fizeram partealguns dos mais brilhantes espritos dos ltimos sculos (entre muitosoutros, Isaac Newton). Fundada em 1660, na poca da restauraomonrquica na Inglaterra, a sociedade congregava tanto parlamentaristasquanto monarquistas, reunidos na busca do conhecimento. Francs Yatesassinala que, a essa altura, os objetivos da organizao aparentementemudaram, pelo menos externamente:

    A situao era delicada. Muitos temas tinham de ser evitados: osplanos utpicos de reforma pertenciam ao passado revolucionrio, que agoraera melhor esquecer. (...) A caa s bruxas no ficara totalmente no passado.16

    Hoje, a Sociedade Real considerada por muitos a fonte inspiradorada cincia moderna. De fato, alguns de seus membros eram racionalistas,seguindo os passos de Francis Bacon. Mas tambm estavam presentesalquimistas, hermetistas e cabalistas -- o prprio Newton era um alquimistaque no acreditava na doutrina catlica da Santssima Trindade. E debaixoda superfcie da Sociedade Real espreitava outra sociedade secreta, que nosremete de volta ao tema central do novo romance de Dan Brown, A chave deSalomo: a maonaria.

  • CAP TULO 3

    A IRMANDADE MANICA

    J agora munidos de um entendimento bsico do contexto domovimento rosacruciano, estamos em melhor posio para compreender asorigens da maonaria. A maonaria costuma ser apresentada como "umpeculiar sistema de moralidade envolto em alegorias e ilustrado porsmbolos". Trata-se de uma sociedade secreta, com direito a palavrascodificadas e apertos de mo secretos, que se vale de um sistema graduadode iniciao -- sustentando um sistema hierrquico de membros, que vosendo expostos a"mistrios mais profundos" medida que ascendem naescala. O "sistema de moralidade" utiliza como metfora o tema do pedreiro,que emprega matrias-primas e certas ferramentas para construir umtemplo aprimorado, assim como lendas que se originam na tradio judaica.

    Tais lendas falam da construo do Templo de Salomo, fatomencionado nos comentrios judaicos, no Velho Testamento cristo etambm em fontes islmicas. Depois de suceder a seu pai Davi, Salomodecidiu construir um grande templo, obtendo a ajuda do soberano do reinovizinho de Tiro:

    Bem sabes que Davi, meu pai, no pde construir uma casa em nomedo Senhor seu Deus porque estava cercado de guerras por todos os lados, atque o Senhor as colocou sob a sola dos ps. Mas agora o Senhor meu Deusdeu-me o descanso por todos os lados, de tal maneira que no h maisadversrio nem mal acontecendo. E, v, disponho-me a construir uma casa emnome do Senhor meu Deus..."

    No comentrio do Velho Testamento, encontramos dois elementosque haveriam de tornar-se parte importante da iconografia manica -- ascolunas de bronze chamadas Jaquin e Booz, assim como a designao deum arquiteto/construtor chamado Hiram como "o filho da viva":

    O rei Salomo mandou chamar Hiram de Tiro; ele era filho de umaviva da tribo de Naftali, mas seu pai fora habitante de Tiro, e trabalhava obronze. Ele visitou o rei Salomo e fez todo o trabalho para ele: moldou duascolunas de bronze (...) e ergueu a coluna direita, e deu-lhe o nome de Jaquin; eergueu a coluna da esquerda, e deu-lhe o nome de Booz.18

    As lendas da maonaria falam mais a respeito deste Hiram do que sepode encontrar no comentrio da Bblia. Designando-o como "Hiram Abiff", amitologia da confraria o v como um mestre da arquitetura, muitocapacitado em geometria e matemtica. Na qualidade de pedreiro-mor,Hiram dirigia trs graduaes hierrquicas de trabalhadores do templo --aprendizes, pares e mestres --, sendo utilizadas formas especficas de apertode mo e palavras secretas para designar cada nvel de pedreiro.

    Diz a lenda manica que, aproximando-se a concluso do Templo deSalomo, Hiram estava orando sozinho quando se viu diante de trs "pares"em busca da "palavra do mestre". Como se recusasse a passar adiante essainformao secreta, Hiram foi atacado pelos trs. Diz a lenda que cada umdos viles infligiu uma ferida especfica em Hiram, em trs dos pontos

  • cardinais do templo (norte, sul e oeste): ele atingido na cabea por ummartelo, e em cada uma das tmporas por um prumo e um nivelador. Hiramarrasta-se at a sada do lado oriental do templo, mas cai morto.

    Os assassinos tratam de esconder o corpo de Hiram, enterrando-osob uma accia. Somente sete dias depois o cadver encontrado, sendoexumado e novamente enterrado com os devidos ritos. No funeral, todos osmestres pedreiros usam luvas e aventais brancos, num gesto simblico paramostrar que no esto maculados com o sangue da vtima.

    Embora seja difcil para ns atribuir um significado mais profundo aessa lenda, no resta muita dvida de que se trata de uma "simulao"ocultando algum segredo. Ser talvez uma alegoria remetendo a religies danatureza, ou quem sabe uma referncia em cdigo aos arcaicos morticniosritualsticos usados na Antigidade para consagrar uma nova construo?Seja qual for o significado, a lenda e muitos dos smbolos que aacompanham (a accia, o avental, os pontos cardeais no templo) tm umaprofunda importncia para o cerne da maonaria.

    A ttulo de comentrio, interessante observar que, em seu livro Otemplo e a loja, Michael Baigent e Richard Leigh aventam a possibilidade deque o Templo de Salomo tenha sido construdo em homenagem deusamaterna fencia Astarte -- a "Rainha do Cu".19 Eles afirmam haver provasdisso no Velho Testamento, no qual est dito que Salomo tornou-se umseguidor de Astarte. Diz-se tambm que a conhecida "Cano de Salomo" na verdade um hino a Astarte. No que diz respeito ao emprego do "sagradofeminino" por parte de Dan Brown, pode ser este um tema a merecer especialateno em A chave de Salomo.

    A moderna maonaria tornou-se algo enigmtico. Considerada poralguns como o poder secreto por trs de governos em todo o mundo, poroutros, em contrapartida, encarada simplesmente como um ultrapassado"clube de camaradas" voltado para a observncia de rituais que sequer seusprprios membros so capazes de entender. Sustenta que suas origensremontam ao Egito antigo e ao Templo de Salomo, e no entanto os fatoshistricos parecem indicar que se trata de uma inveno (relativamente)moderna. Abraa uma doutrina igualitria e isenta de preconceitos, masopera sob a capa do segredo, observa uma hierarquia interna e s aceita emsuas fileiras membros do sexo masculino. Esses atributos contraditrios damaonaria, embora talvez sejam exagerados, que do origem s principaiscrticas "confraria".

    Como poderia a maonaria ser integrada ao enredo de Dan Brownsobre a histria oculta dos Estados Unidos? Existe uma resposta simples,que se encontra no fato de que certos fundadores dos Estados Unidos erammaons ou sofriam forte influncia da organizao. E se estou certo emminhas previses a respeito de A chave de Salomo, Dan Brown certamentevai explorar a idia de que os Pais Fundadores foram profundamenteinfluenciados pelo ideal rosacruciano de uma utopia para a qual ahumanidade pudesse convergir em busca da iluminao. Vejamos se possvel completar o tracejado.

  • A HISTRIA OFICIAL

    A histria oficial da maonaria comea com a inaugurao da GrandeLoja em Londres, em 1717. A Grande Loja funcionava como organismo-diretor das muitas lojas individuais, estabelecendo prticas a seremseguidas pelas outras. Inicialmente, havia dois nveis de iniciao: o"aprendiz iniciado" e aquele que se lhe seguia, o "confrade". Logo depois seriaacrescentado um terceiro "grau", o de "mestre pedreiro" (o cerradoquestionrio a que submetido o candidato durante a cerimnia de iniciaopassou a dar nome a qualquer interrogatrio intensivo: algum "recebe oterceiro grau"). Costuma-se dizer que esses trs graus habituais configurama maonaria "azul", baseando-se na lenda de Hiram, como mencionamosanteriormente.

    O movimento logo se disseminou pela Europa, demonstrando asclasses cultas francesas particular afinidade pela sociedade fraterna. Aprimeira Grande Loja da Frana foi fundada em Paris em algum momento dadcada de 1730. Uma vez instalada na Frana, a confraria comeou aevoluir, somando-se temas cavalheirescos e elementos msticos mitologiamanica. Desses desdobramentos surgiu uma nova espcie de maonaria-- o "rito escocs" --, que se dizia descendente da tradio dos templrios.

    Voc pode estar-se perguntando por que a variao francesa damaonaria ganhou o nome de rito escocs. Isto se deve em grande parte influncia de um imigrante escocs chamado Andrew Michael Ramsay, queafirmou num discurso introdutrio aos iniciados -- conhecido como a"orao" -- que a maonaria derivou das Cruzadas e da organizao dostemplrios, e que esta tradio autntica foi preservada pela maonariaescocesa. Novos ritos e graus foram acrescentados iniciao da confraria,com base numa histria mstica que remontava construo do Templo deSalomo. Pelo rito escocs, existem atualmente 33 graus (sendo 32 deles poriniciao, e o ltimo, um grau honorrio conferido aos "merecedores"). Essesnovos graus so designados como a maonaria "vermelha".

    Outros tipos de maonaria continuaram a ser gerados medida que aconfraria se espalhava pela Europa, chegando Alemanha, Prssia e aoutras regies. A maonaria alem foi dominada por algum tempo pela"observncia estrita", fundada em 1760, e que mais uma vez enfatizava aexistncia de uma tradio derivada dos templrios por trs da fraternidade.Entre as modificaes posteriormente adotadas estavam o "rito de York" e o"rito escocs retificado", e certas lojas comearam a incorporar tambminfluncias egpcias.

    Uma sociedade secreta que no seguia a estrita doutrina crist nopodia deixar de despertar a suspeita da Igreja, ante a possibilidade de umaconspirao para solapar sua autoridade. Foi ento que o papa Clemente XIIcondenou a maonaria, em 1738, assim como o papa Bento XIV, em 1751.Embora essas bulas papais no fossem aplicadas pelas autoridades locais,continuaram a se disseminar as suspeitas a respeito da confraria, mal sendoas lojas toleradas em muitas regies. Todavia, no obstante a constantepublicidade negativa ao longo de sua histria, existem hoje mais de dez millojas manicas, espalhadas por praticamente todos os recantos do planeta. A HISTRIA OCULTA DA MAONARIA

    At aqui, temos a verso consagrada da histria da maonaria.

  • Vejamos agora algumas das provveis fontes usadas por Dan Brown para oestabelecimento da "histria alternativa" da fraternidade, que provavelmentehavero de aparecer em A chave de Salomo. Pelos motivos anteriormenteexpostos, as principais referncias que utilizaremos sobre este tema so:

    O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, de Michael Baigent, RichardLeigh e Henry Lincoln. O templo e a loja, de Michael Baigent e Richard Leigh. O segredo dos templrios, de Lynn Picknett e Clive Prince. A chave de Hiram, de Robert Lomas e Chris Knight.

    Cada um desses livros aborda explicitamente a teoria de que amaonaria derivou da tradio dos templrios.

    Quando Andrew Ramsay estabeleceu a ligao entre a confraria e osCavaleiros Templrios, certamente no era habitual faz-lo. Este grupo decavaleiros cruzados -- sob o nome oficial de "Pobres Cavaleiros de Cristo edo Templo de Salomo" -- havia-se desfeito no incio do sculo XIV, sobacusaes de devassido e sacrilgio.

    Na sexta-feira 13 de 1307, o rei Felipe IV da Frana ordenara adeteno de todos os templrios que se encontrassem em seus domnios. Aoperao foi realizada sob total segredo, sendo as ordens lacradas do reiabertas por seus homens somente pouco antes do incio da ao, paraminimizar a possibilidade de que os templrios fossem antecipadamenteinformados da iminente catstrofe. A Inquisio catlica encarregou-se entode prosseguir do ponto onde Felipe se detivera, e em toda a Europa ostemplrios passaram a ser interrogados, presos e freqentemente executadosa pretexto de absurdas acusaes. O papa dissolveu a ordem dos templriosem 1312, e, em 1314, Jacques de Molay, o ltimo gro-mestre dosCavaleiros Templrios, foi morto na fogueira.20

    Sob pesado interrogatrio, os Cavaleiros Templrios admitiamentregar-se a estranhos comportamentos, e comearam a circular boatossobre a verdadeira natureza dessa ordem supostamente "sagrada". Entre asacusaes feitas a eles, estavam as de cuspir na cruz e pisote-la, de darbeijos obscenos durante as cerimnias de iniciao e de adorar um demniochamado "Baphomet". Passados tantos sculos, difcil hoje em dia saberquais acusaes teriam algum fundo de verdade. Como assinalam Baigent,Leigh e Lincoln em O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, tentar esclarecerisso examinando os registros da Inquisio mais ou menos como quererestabelecer os fatos sobre as atividades da resistncia francesa durante aSegunda Guerra Mundial consultando os arquivos da Gestapo.21

    Seja como for, certas acusaes parecem ter algum fundamento. Porexemplo, o culto de "Baphomet" aparece com demasiada freqncia e muitaregularidade para ser mera coincidncia. Dan Brown o menciona em Ocdigo Da Vinci-, referindo-se a Baphomet como um "deus pago dafertilidade associado fora criativa da reproduo". Segundo ele, ostemplrios cultuavam Baphomet fazendo um crculo em torno de umaesttua em pedra de sua cabea dotada de chifres, ao mesmo tempo queentoavam oraes. Brown tambm faz com que seus personagens decifrem apalavra "Baphomet" atravs do cdigo criptogrfico Atbash, pelo qual ela

  • traduzida como "Sofia", que significa "sabedoria" em grego.

    Apesar da aparente engenhosidade de Robert Langdon e companhia,essa decifrao na realidade foi dada a pblico pela primeira vez pelo dr.Hugh Schonfield, em The Essene Odyssey [A odissia dos essnios]. Em seulivro, publicado em 1985, Schonfield analisa a seita dissidente judaica dosessnios, que segundo alguns teriam construdo o assentamento do marMorto e redigido os hoje famosos pergaminhos l encontrados. Os essniosutilizavam cdigos em alguns de seus escritos, sendo um deles o cdigocriptogrfico Atbash, que vem a ser a pura e simples substituio de doisalfabetos hebraicos, um escrito para a frente e o outro em forma invertida (aprimeira letra como ltima, a segunda como penltima etc). Hugh Schonfieldaplicou o cdigo Atbash quele a que se referia como o "nome artificialBaphomet", surpreendendo-se ao constatar que ele revelava o nome dadeusa da sabedoria. A conseqncia da descoberta de Schonfield que ostemplrios podem ter sido os protetores dos segredos dos essnios, podendoigualmente ter reverenciado as misteriosas religies das antigas deusas.

    A possibilidade de um fascnio dos templrios pelo "sagrado feminino"pode ser corroborada pela "orao" de Andrew Ramsay antes mencionada,proferida em 1737, e que associava a maonaria aos templrios. Nela, eleafirma:

    Sim, senhores, os famosos festivais de Ceres em Elusis, de Isis noEgito, de Minerva em Atenas, de Urnia entre os fencios e de Diana na Ctiaestavam ligados aos nossos. Nesses lugares, eram celebrados mistrios queocultavam muitos vestgios da antiga religio de No e dos patriarcas.22

    Embora certamente seja uma surpresa agradvel a revelao de que orito escocs se identifica com as antigas escolas dos mistrios das deusassagradas, tambm cabe observar que Ramsay no perdoa qualquer prticado gnero "Hieros Gamos" -- na realidade, ele invoca deturpaes como estacomo motivo para a excluso das mulheres da confraria:

    A origem dessas infmias foi a admisso, nas assemblias noturnas,de pessoas de ambos os sexos, em transgresso aos hbitos originais. paraprevenir abusos semelhantes que as mulheres so excludas de nossa Ordem.No somos injustos a ponto de considerar o belo sexo incapaz de guardarsegredo. Mas sua presena poderia insensivelmente corromper a pureza denossos hbitos e preceitos.23 A descoberta do cdigo Atbash por Schonfield tambm estabelece umvnculo entre duas organizaes separadas por mais de um milnio. Quesegredos dos essnios, ento, eram do conhecimento dos templrios? Em Achave de Hiram, Chris Knight e Robert Lomas afirmam que certas idiasencontradas nos manuscritos do mar Morto so muito semelhantes s damaonaria, o que provaria a continuidade de uma tradio que vai dosessnios aos maons, passando pelos templrios. Cabe notar, contudo, que,em outra das "fontes" utilizadas por Dan Brown, O segredo dos templrios,os autores Lynn Picknett e Clive Prince discordam a esse respeito, poisacreditam que os manuscritos do mar Morto fazem parte na realidade dabiblioteca do Templo de Jerusalm, que foi destruda pelos romanos em 70a.C.

  • Curiosamente, um dos manuscritos do mar Morto, conhecido como"Manuscrito Copper", menciona 24 colees de raridades supostamenteenterradas sob o templo.24 Essa coleo secreta seria formada por tesourosde todos os tipos: metais preciosos, objetos sagrados e tambm algunsmanuscritos. Sabe-se, por outro lado, que os Cavaleiros Templrios, duranteas Cruzadas na Terra Santa, detiveram-se nas proximidades do monte dotemplo. Teriam ido at l em busca do tesouro?

    o que parece. No livro Digging Up Jerusalm [Escavando emJerusalm], de autoria da respeitada arqueloga Kathleen Kenyon, somosinformados de que um grupo de soldados de engenharia do exrcito britnicorealizou buscas e escavaes no monte do templo no fim do sculo XIX.25 E,segundo depoimento de Robert Brydon, o arquivista dos templrios naEsccia, o contingente do exrcito britnico descobriu tneis nos quaisforam encontrados um pedao de uma espada dos templrios, os restos deuma lana e uma cruz dos templrios. Nenhum tesouro. Teria ele sidoencontrado primeiro pelos templrios?

    Em O cdigo Da Vinci, Dan Brown deduz que eles encontraramalguma coisa, baseando seu romance nessa pressuposio. Em suaspalavras, "quatro arcas de documentos" foram encontradas debaixo doTemplo de Salomo, "documentos que tm sido objeto de incontveis buscasdo Graal ao longo da histria" -- entre os quais se encontrariam talvez umtexto escrito pelo prprio Jesus e o "dirio" no qual Maria Madalenaregistrou seu relacionamento pessoal com ele. So os chamados documentos"Sangreal" mencionados por Brown, que, juntamente com o corpo de MariaMadalena, constituem o Santo Graal.

    Knight e Lomas estabelecem a ligao perfeita entre O cdigo Da Vincie A chave de Salomo, para o caso de Dan Brown querer valer-se dela. Em Osegundo Messias, eles fornecem uma explicao alternativa para o motivo dechamarmos os Estados Unidos simplesmente Amrica, envolvendo osessnios, os templrios e os maons:

    Josef o registra que os essnios (e portanto a igreja de Jerusalm)acreditavam que as almas boas vivem alm do oceano em direo oeste, numaregio que no castigada por tempestades de chuva, de neve nem por calorintenso, seno antes acariciada por suaves brisas.

    Era a mesma descrio fornecida por um povo conhecido como osmandeus, que viveu no sul do Iraque desde que deixou Jerusalm poucodepois da crucificao de Jesus, para escapar dos expurgos de Paulo. Essesjudeus deixaram Jerusalm no primeiro sculo de nossa era, e, segundo suaprpria tradio histrica, Joo Batista foi o primeiro lder dos nazarenos,sendo Jesus um lder posterior que traiu os segredos especiais a ele confiados.Os mandeus at hoje promovem batismos no rio, usam formas especiais deaperto de mo e praticam rituais que seriam semelhantes aos da maonaria.Vara eles, essa terra maravilhosa alm-mar abriga exclusivamente osespritos mais puros, to perfeitos que no podem ser vistos pelos olhos dosmortais. Esse lugar maravilhoso assinalado por uma estrela chamadaMerica, que pode ser vista no cu acima dele. Acreditamos que essa estrela e a mtica terra que sob ela seencontrava eram conhecidas dos templrios, com base nos manuscritos poreles descobertos, e que eles navegaram em busca de "Ia Merica", ou Amrica,

  • como a conhecemos hoje, imediatamente depois do banimento de sua ordem.

    Em O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, os essnios soapresentados como uma seita judaica de tendncias msticas, sofrendoinfluncias ao mesmo tempo gregas e egpcias. Como a tradiorosacruciana, eles se interessavam por atos de cura e por estudos esotricoscomo a astrologia e a cabala. Tendo em mente a indicao feita por DanBrown de que far parte de A chave de Salomo uma "seita ultra-secreta denumerologia", devemos lembrar que os membros da reclusa comunidade dosessnios tambm seriam adeptos dos ensinamentos de Pitgoras, comparticular devoo numerologia.26

    Alm do cdigo criptogrfico Atbash, tambm parece haver indicaesde que os templrios lidavam com alquimia, misticismo e cabala, exatamentecomo os essnios. Curiosamente, particularmente no que diz respeito nossa investigao, tambm podem ter cultivado o ideal da unio de todas asreligies e naes. luz desses atributos, fica parecendo que os templriosestavam integrados tradio rosacruciana. O fato de os templrios teremcomo insgnia uma cruz vermelha pode indicar que o autor dos panfletosrosa-cruzes estava tentando ligar diretamente a fraternidade aos cavaleirosdo Templo de Salomo. Especialmente quando lembramos que FrancisBacon afirmava que os sacerdotes da "Casa de Salomo" usavam uma cruzvermelha no turbante. Todavia, como explicar os trs sculos transcorridosentre a proibio imposta aos templrios e o surgimento dos manifestosrosa-cruzes? OS TEMPL RIOS SOBREVIVEM

    Apesar do grande segredo de que foi cercada a represso da ordemdeterminada por Felipe, tudo indica que os templrios -- pelo menos atcerto ponto -- sabiam o que estava por acontecer, Jacques de Molaysupostamente teria mandado recolher muitos dos documentos da ordempouco antes do incio das detenes, para que fossem queimados. Um jovemcavaleiro que por essa poca afastou-se da ordem ouviu o comentrio de quetomara uma sbia deciso, pois estava por ocorrer uma catstrofe.27

    Em O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, os autores afirmam quedeterminado grupo de cavaleiros -- todos ligados ao tesoureiro daorganizao -- desapareceu antes da "surpresa de outubro", levando osdocumentos restantes e o tesouro do templo. Existe uma verso de queembarcaram numa frota de 18 navios em La Rochelle e nunca mais foramvistos.

    Michael Baigent e Richard Leigh tentam seguir a trilha dessescavaleiros desaparecidos em seu livro sobre a maonaria, O templo e a loja.Sustentam que eles podem ter fugido para a Esccia, combatendo ao lado deRobert Bruce contra a Inglaterra. Eles no so os primeiros a chegar a essaconcluso, pois o mesmo haviam feito historiadores dos templrios no sculoXIX:

    Os templrios (...) tero possivelmente encontrado refgio no pequenoexrcito do rei excomungado Robert, cujo receio de ofender o monarca francscertamente cederia ante o desejo de recrutar combatentes bem preparados.28

  • O rito manico da estrita observncia, fundado pelo baro Karl VonHund no fim do sculo XVIII, tambm sustenta que os templrios fugirampara a Esccia. Baigent e Leigh seguem uma trilha na qual a tradio dos templriosdesemboca nas origens da maonaria. Em sua argumentao, citam amaravilha arquitetnica que vem a ser a Capela de Rosslyn, construda entre1440 e 1480. Com participao destacada em O cdigo Da Vinci, essa capelatem smbolos pagos e esotricos esculpidos por toda parte nas paredes e noteto. Curiosamente, encontram-se tambm certos motivos que remetem maonaria. Por exemplo, uma das trs cabeas esculpidas no teto, comouma ferida claramente visvel, identificada como pertencendo ao "filho daviva", tradicional identificao manica do mestre-pedreiro Hiram. Asduas colunas esplendidamente esculpidas no interior da capela constituemoutro lembrete do simbolismo manico, em referncia s colunas gmeas deJaquin e Booz. Alm disso, de acordo com O segundo Messias --continuao de A chave de Hiram, de Lomas e Knight --, a capela foiefetivamente construda como rplica do Templo de Jerusalm.

    Em O segundo Messias, Knight e Lomas tambm se depararam comoutra descoberta incrvel. No atento exame das entalhaduras na Capela deRosslyn, encontraram uma que ilustrava perfeitamente um certo estgio dorito de iniciao de um candidato maonaria.29 Tratava-se de umarevelao surpreendente, j que indicava a existncia de um rito manicocerca de dois sculos anterior ao primeiro registro de iniciao. Maissurpreendente ainda o fato de que a pessoa submetida ao rito trazia umacruz na frente da tnica -- um templrio. Ligando a maonaria aostemplrios e aos essnios, Knight e Lomas consideram que a Capela deRosslyn foi construda na verdade para abrigar os manuscritos essnios, queacreditam ter sido encontrados pelos templrios em Jerusalm:

    Comevamos a dar de cara com o bvio, e ficamos arrepiados.Rosslyn no era uma simples capela; era um santurio ps-templrioconstrudo para abrigar os manuscritos encontrados por Hugues de Payen esua equipe debaixo do Santo dos Santos do ltimo Templo de Jerusalm! Sobnossos ps estava o mais valioso dos tesouros da cristandade.30 Eles emitem a opinio de que William St. Clair, construtor da Capelade Rosslyn, escondeu o tesouro e deixou instrues codificadas no grau doreal arco sagrado da maonaria. Referindo-se aos possveis contornos de umSelo de Salomo no piso trreo da capela (mencionado por Dan Brown em Ocdigo Da Vinci), os autores chamam a ateno para esta definio manicado hexagrama:

    A jia do companheiro do arco real um duplo tringulo, s vezeschamado de Selo de Salomo, no interior de um crculo dourado; na base,encontra-se um pergaminho com as palavras: "Nil nisi clavis deest" -- "Faltaapenas a chave".31

    No sabemos ainda se Knight e Lomas esto certos. Todavia, DanBrown certamente soube valer-se da idia em O cdigo Da Vinci, indicandoque o "Santo Graal" estava encoberto pelo Selo de Salomo no piso da Capelade Rosslyn. E, considerando-se a citao acima, talvez possamos comear aentender o territrio que ser explorado por A chave de Salomo.

    Dan Brown chega inclusive a citar o grau do arco real em O cdigo Da

  • Vinci, num trecho em que Langdon se refere utilizao da clefde vote(fecho de abbada). Ele recorre diretamente pesquisa de Knight e Lomas,ao se referir a este remate de cpula como a pedra central em forma decunha que se encontra no alto do arco que une as peas, suportando todo opeso... e talvez dando acesso a uma cmara secreta.

    Baigent e Leigh sustentam que a Capela de Rosslyn constitui umaprova de que a tradio dos templrios veio a se abrigar no "refgio seguro"da Esccia depois da perseguio por parte de Felipe IV na Frana, mediantetransferncia para as iniciaes secretas da maonaria. interessante notaruma outra indicao de que a confraria j existia nessa poca. Por exemplo,O segredo dos templrios invoca o testemunho de um tratado de alquimiadatado da dcada de 1450 -- a poca da construo da Capela de Rosslyn --que utiliza a palavra "maom".32 Baigent e Leigh tambm mencionam ummanuscrito de 1410 a respeito de uma guilda de pedreiros, que se refere ao"filho do rei em Tiro" e o vincula a uma antiga cincia anterior ao DilvioUniversal, preservada nos ensinamentos de Pitgoras e Hermes.33

    Segundo O templo e a loja, a confraria chegou Inglaterrapropriamente em 1603, quando o rei escocs Jaime VI foi coroado rei daInglaterra, e os aristocratas escoceses -- os guardies da maonaria --transferiram-se para o sul com seu mestre. Mais uma vez, cabe chamar aateno para a cronologia, sendo este precisamente o momento em que tantoFrancis Bacon quanto os manifestos rosa-cruzes ganharam proeminncia.

    Que elos podem ser encontrados entre a filosofia rosacruciana e amaonaria? Em primeiro lugar, exatamente como o sonho utpico dos rosa-cruzes, a confraria prega a doutrina de que todos os homens so irmos, edevem unir-se na devoo religiosa a um ser superior designadosimplesmente como o "Grande Arquiteto do Universo". Numa das principaisobras da maonaria, o Livro das Constituies, isso enunciado da seguintemaneira:

    O maom obrigado, por sua condio, a obedecer Lei Moral; e, sefor capaz de entender corretamente a Arte, nunca ser um estpido ateu, nemum libertino sem religio (...) considera-se hoje mais aconselhvel obedecer (...) Religio abraada por todos os homens, deixando para cada um suasopinies particulares; ou seja, ser homens bons e verdadeiros, ou Homens deHonra e Honestidade, sejam quais forem as denominaes ou crenas comque se identifiquem.34

    Entre as regras da loja manica est a restrio dos debates decarter religioso e poltico, para contribuir para que este objetivo sejaalcanado -- e talvez como maneira de esclarecer o esprito das autoridadesreligiosas e seculares. Todavia, apesar de declaradamente evitar a poltica, amaonaria constantemente desempenhou um papel em revolues eintervenes democrticas ao longo dos sculos -- por exemplo, na Frana,no Mxico e na Itlia, e tambm, como veremos, nos Estados Unidos. O quepode perfeitamente remeter ao desejo utpico originalmente professado natradio rosacruciana.

  • Como indcio mais concreto, as duas organizaes so diretamenteligadas num poema publicado em Edimburgo, em 1638. Cabe lembrar quese haviam