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A CASCAVEL BANGUELA

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A CASCAVEL BANGUELA

São Paulo, 2012

Giusone Ferreira Rodrigues

A CASCAVEL BANGUELA

Editor responsávelZeca MartinsProjeto gráfico e diagramaçãoClaudio Braghini JuniorControle editorialManuela OliveiraCapaZeca MartinsRevisãoTiago SorianoRevisão críticaRaquel Benchimol

Esta obra é uma publicação da Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.6466.0001-33www.editoralivronovo.com.br@ 2012, São Paulo, SPImpresso no Brasil. Printed in Brazil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser

criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

R696cRodrigues, Giusone Ferreira A cascavel banguela / Giusone Ferreira Rodrigues. – Águas de São Pedro: Livronovo, 2012.

264 p.ISBN 978-85-8068-106-2

1. Cultura popular. 2. Regionalismo - nordeste. 3. Sertão. 4. Realismo fantástico.

CDD – 306.086

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SUmário:

DEDiCAtóriA: ..............................................................................7

SoBrE o AUtor .......................................................................... 9

AprESENtAção .......................................................................... 11

i ..................................................................................................... 13

ii ...................................................................................................18

iii .................................................................................................23

iV .................................................................................................26

V ....................................................................................................32

Vi ..................................................................................................41

Vii ............................................................................................... 47

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iX ..................................................................................................57

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Xi .................................................................................................70

Xii ................................................................................................75

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XiV ............................................................................................ 87

XV ..............................................................................................96

XVi ...........................................................................................108

XVii ..........................................................................................121

XViii ....................................................................................... 129

XiX ........................................................................................... 135

XX .............................................................................................140

XXi ........................................................................................... 147

XXii .........................................................................................154

XXiii .......................................................................................161

XXiV ...................................................................................... 168

XXV ...........................................................................................174

XXVi ....................................................................................... 179

XXVii ..................................................................................... 187

XXViii ....................................................................................191

XXiX .......................................................................................198

XXX .........................................................................................203

XXXi ......................................................................................209

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DEDiCAtóriA:

A minha esposa:Cleodomira Guedes RodriguesA meus filhos:Arquimedes, Gilson, Miraídes e Sandra A meus netos:Arthur, Gabriel, Aimée, Lívia, Tayná, Marina e HannahA meu irmão Salatiel, pelo muito que colaborou para a publi-

cação deste livro.

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Leia do mesmo autorA Raposa Diferente

A Grande Jiboia A Queda do Meteorito

A Porca de Zé SilvaA Besta de Mané José

Histórias de Taperoá, em meio cento de cordéis.O Bode de Zé Hilário

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SoBrE o AUtor

O autor de “A CASCAVEL BANGUELA” nasceu no municí-pio de Taperoá, no Estado da Paraíba, onde fez o primário no Grupo Escolar Doutor Félix Daltro e o curso comercial básico na Escola Comercial Professor Minervino Cavalcanti. Em seguida, fez o curso técnico de contabilidade na Escola Técnica de Comércio de Campina Grande,PB e, depois, integrou a turma fundadora da Faculdade de Ciências Sociais e Jurídicas da Fundação Universidade Regional do Nordeste (FURNE) que deu nascimento à Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Em Taperoá trabalhou na roça até os dezoito anos, em seguida atuou como comerciário. Vindo para Campina Grande, trabalhou como comerciário e escriturário, depois se submeteu a concurso públi-co e foi aprovado, obtendo o terceiro lugar entre os concorrentes. Foi, então, nomeado Agente Fiscal da Fazenda Estadual e designado para a Coletoria Estadual de Lagoa Grande. Dali foi removido (a pedido) para a Coletoria Estadual de Pocinhos, onde trabalhou no Posto Fiscal de Cacimba Nova, posteriormente foi nomeado Escrivão da Coletoria. Removido para Campina Grande, exerceu o cargo de Chefe da Seção de Administração da Recebedoria de Rendas. Logo após, passou a integrar a fiscalização de estabelecimentos. No fisco estadual trabalhou doze anos e meio sendo promovido diversas vezes, todas por merecimento absoluto, alcançando o último nível de promoção da carreira: a AF-3.

Submeteu-se a concurso de provas e títulos para a Magistratura paraibana e foi aprovado em oitavo lugar, sendo designado para a Comarca de Serra Branca, onde judicou por dez anos. Foi promovido para a Comarca de Monteiro e, depois, removido para a Comarca de

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São João do Cariri. Dali, obteve nova promoção para a 2ª Vara Cível da Comarca de Campina Grande onde trabalhou como titular das 1ª e 2ª Varas Cíveis e, como substituto eventual ou plantonista de todas as Varas Cíveis e da Fazenda Pública da Comarca.

Substituiu as Comarcas de Monteiro, Sumé, Serra Branca, São João do Cariri, Cabaceiras, Boqueirão, Queimadas, Aroeiras e Umbuzeiro.

Exerceu a função de Juiz Eleitoral em todas as Comarcas em que trabalhou como titular ou substituto e, em Campina Grande, foi diretor do Fórum Eleitoral Evandro de Sousa Neves, juiz eleitoral coordenador da Propaganda Eleitoral e coordenador do Núcleo de Totalização de votos da região.

Recebeu as comendas de cidadão honorário das cidades de Serra Branca e de Campina Grande.

Casou, quando ainda trabalhava em Pocinhos, com a Senhora Cleodomira Guedes Rodrigues, e dessa união nasceram quatro filhos. Atualmente, tem sete netos.

Escreveu sete livros sobre mitos de sua terra natal, sendo seis em prosa e um em poesia popular, mas, até o presente momento, publicou apenas “A PORCA DE ZÉ SILVA”, “A QUEDA DO ME-TEORITO” , “ A RAPOSA DIFERENTE”, “A BESTA DE MANÉ JOSÉ” e “ A PORCA DE ZÉ SILVA”.

Também teve seu nome incluído na coletânea de Aparício Fernandes “TROVADORES DO BRASIL”, em cujo terceiro volume encontram-se 10 trovas de sua autoria, dessas, a segunda foi incluída no primeiro concurso de trovas do Diário da Borborema de Campina Grande, que tem o seguinte texto:

Eu vivo perdido a esmopor este mundo sem fim,procurando por mim mesmo,sem ter notícias de mim.

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AprESENtAção

Quem ler A Cascavel Banguela pode ter a impressão de que se trata de história fantasiosa e inverídica. Na verdade, não é isso, propriamente, o que acontece. A Cascavel Banguela é uma história verídica que foi contada inúmeras vezes pelos pais aos filhos, de gera-ção em geração, e acabou sendo contada da forma como se encontra neste livro. Diz a sabedoria popular que “Quem conta um conto, aumenta-lhe um ponto” e assim sucedeu com a história da serpente do Matagal-da-Areia, que restou afetada e, em parte, mesclada de fantasias inacreditáveis.

As personagens, o local do acontecimento, a paisagem, as cren-dices populares e costumes da época — ali acreditavam que as cobras venenosas tinham quatro ventas, e que todas as aranhas e centopeias eram peçonhentas — são absolutamente reais.

Na época em que aconteceu o fato, havia quem acreditasse que as cobras, quando iam beber água, tiravam cautelosamen-te o veneno e punham sobre uma folha de mato à margem do bebedouro para que, depois de satisfeitas, pudessem recolocá-lo no lugar, puro e mortal como dantes, porquanto a água poderia alterar sua composição e eficácia. Se perdessem o local em que haviam depositado a peçonha, enlouqueciam, ficavam desespe-radas e morriam.

Foi nesse mundo de crendices que aconteceu e se espalhou a história da cascavel banguela. Ela chegou ao Matagal provavelmente arrastada pelas águas do rio Taperoá e ali fixou residência. Presun-çosa e cruel, tentou formar seu reinado, matando e afugentando os

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inimigos, até reinar soberanamente sobre todo o torrão. Encontrou inimigos poderosos tais como: a suçuarana, grande e valente, protegida pelo velho Lino Onça e seu bisneto, Tadeu — o verdadeiro amigo da onça — e Gil Ananias, que tinha o corpo fechado, segundo a crença dos contemporâneos.

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O rio Taperoá tinha suas nascentes lá para as bandas do municí-pio de Teixeira e vinha beirando a Serra da Viração, também chamada Serra do Pico, aqui e ali passando por dentro dela, enfrentando os obstáculos naturais de pedras dispostas em seu leito, para, depois, espraiar-se por sobre a planície de areia que ele mesmo construíra, logo depois de transpor o juremal que se vislumbrava do alto do Pico do Jabre, ponto culminante do maciço da Borborema, que era conhecida regionalmente como Serra da Viração.

De um lado da serra ficava o município de Taperoá e, do outro, o município de Patos. O rio sempre se conteve dentro das margens, correndo acomodado, manso como cordeiro, até o dia em que, não se sabe por que, entendeu de se lançar bravamente sobre as ribanceiras, arremetendo contra elas e levando de roldão os limites naturais da correnteza. O resultado foi o alargamento do campo de areia sobre o qual corria e a alteração de todo o quadro que a natureza tinha traçado.

Alcançando, agora, o areal, o rio espalhava-se vitorioso, cor-rendo mansamente em direção ao leste. Nada havia no local mais impressionante do que vê-lo correndo na estação das chuvas, em toda a nova largura, sem o ronco estridente das quedas violentas por que passava na serra e sem os turbulentos remansos que levantava nas regiões mais acidentadas. Contudo, não dava para ser atravessado sem perigo. A correnteza não deixava de ser forte e densa, arrastando tudo que encontrava nas proximidades do leito. Ao cobrir a planície arenosa, tornava-se menos violenta e, quando as águas iam baixando, permitia que por ali ficassem muitos dos trambolhos que arrastava, sobre a areia ou enterrados nela.

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Quem vinha da Serra do Pico para a cidade de Taperá teria forçosamente de passar pelo mesmo caminho. Vereda tortuosa e estreita, que se metia por entre gravetos e matagais, conforme fosse a estação das secas ou das chuvas. Ora tinha de enfrentar galhos de árvores, ora espinhos de arbustos que vinham diretos ao rosto do transeunte. Era preciso andar com muito cuidado para não ser molestado pela vegetação agressiva que se punha de ambos os lados do caminho. Mas, cuidado dobrado era necessário ter com o lugar onde se devia pisar. Havia muitos espinhos no chão e os que não eram dali vinham trazidos pelas casacas-de-couro, para construção dos ninhos. Por um motivo ou outro deixavam cair no chão e lá ficavam os espinhos, à espera de um transeunte incauto que lhe chapasse o pé descalço. Quando as águas do rio começavam a baixar, formava-se novamente o matagal sobre o imenso banco de areia, aqui e acolá deixando ver grandes jaribaras, com uma parte imersa e outra sobressaindo da areia. A parte saliente depois era coberta pelo cipó-de-leite ou pelo feijão-de-boi. O dito matagal passou a ser conhecido como o “Matagal-da-Areia”.

A travessia era dolorosa, mas não havia como não enfrentá-la. De ambos os lados se erguia o juremal espinhoso, que tinha sobre a terra uma áspera vegetação, formada por cactos, em grande maioria macambira. Por ser demasiadamente intricada, só um louco tentaria atravessá-la. Além do mais, a jurema preta, que formava a vegetação predominante, quase sempre era infestada por lagartas brancas que formavam casulos ou teias sobre os troncos. Quando evoluíam para borboletas, os restos das teias ficavam agarrados nos caules das juremas, esvoaçando ao vento, e triste de quem se aproximasse. Saía com a pele ardendo, coçando e comichando, passava dias e dias sem recuperar o sossego. Era a lagarta-de-fogo, espécie de taturana do agreste, temida e respeitada pela capacidade de causar desconforto às pessoas.

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Aqui e acolá, onde houvesse clareira, viam-se no chão os ras-tros dos calangos bico-doce, tejuaçus, iguanas e, vez por outra, de serpentes que por ali tinham passado contorcendo-se na areia quente. O sol causticante não perdia a oportunidade de mostrar o quanto era capaz. Sempre que a folhagem não cobria qualquer naco de areia, sobre o local se via o dardejar característico da temperatura elevada. O vento corroborava com o comportamento do sol, parando de soprar durante a maior parte do dia. Só ao anoitecer é que se podia sentir uma leve aragem, amena e passageira, que mal dava para balançar os galhos mais flexíveis das árvores.

Era fora de dúvida que não se tinha como evitar o sacrifício de enfrentar o caminho quase intransitável. Quem quisesse chegar à cidade teria de passar por ele. Era constrangedor contemplar aquele caminho longo e sinuoso. As passagens por cima de pedras, por debaixo de árvores espinhosas, por detrás das casas dos habitantes da vizinhança que sempre criavam vira-latas zanhos e covardes, que mordiam de furto, estendiam-se por vários quilômetros. Por isso, não muito raro chegava alguém à cidade, arrastando uma perna com mordida de cachorro no mocotó, espinho enfiado no pé, ou unha arrancada por topada. Ainda era feliz o que assim chegava. Bem podia ser pior a situação, se tivesse a desventura de pôr o pé ao alcance de uma rodilha de cobra peçonhenta. Aí, talvez nem chegasse vivo para contar a história.

Mas... Fazer o quê? O único caminho que existia era aquele e não se podia viver sem ir à cidade para adquirir víveres e bugigangas que a vida não dispensava. Por esta razão, sempre havia um penitente enfrentando os perigos da vereda. Vinham de longe, do pé da serra, dos sítios distantes, dos grotões das cabeceiras do rio. E, por falar no rio, tinha mais esse complicador, se estivesse cheio, não dava passagem. Aí se teria de esperar oito ou dez dias, para que as águas baixassem.