a casa é tua mas o quarto é meu

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OLHARES | REVISTA DO CSCM | JAN-MAR 2008 | 1 Fernando Nobre: uma voz contra a indiferença Ecumenismo: a experiência e a unidade “A casa é tua mas o quarto é meu” – recado aos pais Revista do Colégio do Sagrado Coração de Maria de Lisboa Revista trimestral Número 17 Ano 2007 | 2008

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Page 1: A casa é tua mas o quarto é meu

O L H A R E S | R E V I S T A D O C S C M | J A N - M A R 2 0 0 8 | 1

Fernando Nobre: uma voz contra a indiferençaEcumenismo: a experiência e a unidade“A casa é tua mas o quarto é meu” – recado aos pais

Revista do Colégiodo Sagrado Coraçãode Maria de LisboaRevista trimestralNúmero 17Ano 2007 | 2008

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Dossier : Liberdade e Humanidade

O tráfico humano é a venda de seres

humanos com o fim de ganhar dinheiro,

mesmo que signifique enganar

ou obrigar as pessoas a entrar na

prostituição, a pedir ou a fazer trabalhos

forçados.

Todos os anos, cerca de 200.000 pessoas são vítimas de tráfico humano na Europa, a maioria das quais mulheres, adolescentes e crianças que são forçadas a entrar no mundo da prostituição. Na Europa, adolescentes e mulheres jovens encontram-se especialmente em risco de caírem nas mãos de criminosos, que lhes prometem bons empregos ou estu-dos e que depois obrigam as vítimas a prostituírem-se. Os criminosos beneficiam, enquanto as adolescentes e mul-heres são violadas e sofrem outros tipos de violência física e psicológica. O tráfico humano é tão comum nos nossos dias que chega ao ponto de ser a terceira actividade crimi-nosa mais rentável do mundo, depois das drogas ilegais e do tráfico de armas. Obviamente que as vítimas não con-sentem em serem traficadas. Elas são enganadas, iludidas com promessas falsas e levadas normalmente para um país estrangeiro, onde o traficante retira à vítima os direitos hu-manos mais básicos: a liberdade de movimento, de escolha, de controlar o seu corpo e mente e o controlo do seu futuro, sem falar da perda quase total da sua identidade.

É importante não confundir o tráfico humano com con-trabando: um contrabandista facilita a entrada ilegal num

país por uma determinada quantia, mas ao chegar ao seu destino, a pessoa que entra ilegalmente fica livre; a vítima do tráfico humano é escravizada e mantida no país para usufruto de outra pessoa.

Outro ponto importante é que nenhum ser humano se dispõe a ser traficado. As vítimas são enganadas ou forçadas a entrar numa situação perigosa sobre a qual perdem todo o controlo. Elas podem ser mulheres e crianças de países em via de desenvolvimento ou que sofreram recentemente alguma catástrofe natural, podem ser pessoas que não têm dinheiro nem a oportunidade de estudar ou trabalhar, ou podem até ser jovens que querem melhorar a sua vida. As vítimas podem ser pessoas cultas, licenciadas e de todas as origens, raças e classes sociais; e não são só mulheres! Os homens também correm o risco de serem traficados para serem usados em trabalhos não qualificados que envolvem essencialmente, trabalhos forçados.

Pensamos muitas vezes porque é que as pessoas acei-tam fazer este tipo de trabalhos. Não podem simplesmente dizer não? Não é fácil, conhecendo as condições de vida de algumas pessoas. O uso de violência, ameaças à família da vítima, a chantagem relativamente ao que andam a fazer e a servidão financeira à qual as vítimas são obrigadas são motivos mais que suficientes para uma pessoa se resignar e aceitar as terríveis condições a que a submetem.

Isto está a passar-se por toda a Europa, quer vivamos em Inglaterra, Itália, Polónia ou Roménia. E está a afectar pes-soas como nós.

Marta Baptista, 10ºE

O que é ser livre?A liberdade é sentirmo-nos à vontade a fazer uma coisa que nós gostamos.Carolina BarBEira, 2ºB

É estarmos na rua e estarmos sem trabalho.rodrigo rosa, 3ºC

Ser livre é ser solto.Maria BEatriz, 3ºB

Eu sinto liberdade quando estou ao pé da natu-reza com o vento a bater-me na cara.inês sarMEnto, 4ºC

Para mim, a liberdade é sentir tudo de bom den-tro do coração.BEatriz raposo, 4ºC

A liberdade é fazer o que queres. É ser livre e, sem vergonha, dizer sempre o que nos apetece.MadalEna Martins, 4ºB

Ser livre é podermos fazer aquilo que nós quiser-mos, com uma certa mentalidade, distinguindo o bem do mal.João CaBaço, 8ºC

Não comer quando a Elsa me manda.Joana MarChantE, 5ºa

Poder ter liberdade de ideias respeitando as regras da sociedade.Álvaro Malta, 8ºd

O que é ser humano?Ser humano é ter vida e amor.Carolina BarBEira, 2ºB

Ser humano é ser verdadeiro e amigo.João pinto, 3ºa

É sermos nós quando nos portamos bem. É ter-mos coisas que os animais não têm.rodrigo rosa, 3ºC

Ser humano é ser sincero, ter paz, não estragar a natureza e não bater, nem chamar nomes.inês sarMEnto, 4ºC

Ser humano é ser feliz e amigo de todos.Constança BEirão, 4ºC

Para mim, ser humano é saber pensar e ser humilde e sincero. É alguém que sabe a diferença entre o bem e o mal.BEatriz santos, 4ºC

Ser humano é ser solidário com os outros.BEatriz FErrEira, 5ºa

É poder viver livremente.José Carvalho, 8ºd

É ter a possibilidade de conhecer a amizade, o amor e o respeito.ana CaBaço, 11ºa

Ser humano é conseguir demonstrar algo que é apenas nosso, os nossos sentimentos e as nossas emoções.gonçalo sEixas, 11ºa

Tráfico humano:a nova escravatura

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Esses múltiplos OlharesMuitos Homens lutam com aquilo que a sua consciência lhes segreda e o que

fazer na realidade. É o exercício da liberdade individual de tomar as opções mais assertivas para o próprio individuo e o bem comum. É fazer a escolha pela justa proporção entre Liberdade e Humanidade. Percebemos, desde muito cedo, que o uso que fazemos da nossa Liberdade será tanto mais libertador quanto for de Humano. Por vezes, as escolhas mais certas são as que nos trazem provações e desafios novos, mas que, também por isso, confirmam essas mesmas opções. As opções de vida do Pe Gailhac , que há 159 anos fundou o Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, são exemplo desta Liberdade com um forte sen-tido dos outros e do bem comum. Escolheu ser sacerdote, deixando uma possível carreira de farmacêutico. Depois de ordenado padre, foi professor no Seminário durante um tempo, deixando entrever uma carreira académica promissora, não fora a sua escolha pelo trabalho junto dos doentes do Hospital Militar em Béziers, onde foi capelão durante vinte anos. A sua tarefa era levar a todos os doentes a paz, na certeza do amor e da misericórdia de Deus, Dentro deste serviço, Gailhac pub-licamente escolheu associar-se às problemáticas inerentes às mulheres de ‘má vida’, criando uma instituição, o Refúgio, ao

mesmo tempo que iniciava o Orfanato, dando, assim uma particular atenção às mulheres e crianças. Outra escolha do Pe. Gailhac foi fundar o Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria, imbuído de zelo para continuar as obras que ele próprio tinha começado. Conseguimos perceber que todas as opções que Gailhac ia tomando condicionavam as que estavam por vir. Foram escolhas de amor pelo próximo, com toda a sua liberdade, enfrentando desafios, muitos obstáculos e provações.

As escolhas que fazemos para a nossa vida são, muitas vezes, inconsequentes. Até para nós próp-rios. São opções redutoras da nossa própria Humanidade, limitando-nos à mera sobrevivência, sem nos deixarem sentir os limites, possivelmente longínquos, da nossa intervenção na sociedade. As escolhas que fundamentam e dão cor à vida, passam por aquilo que podemos dar de nós em tudo o que fazemos. Será pobre aquele que apenas souber desempenhar com correcção as tarefas que lhe são pedidas. Muito mais do que a formação científica e intelectual, toda a en-trega e espírito de serviço, ou seja, o zelo, com que desempenhamos as nossas tarefas, o modo como vamos concretizando os nossos sonhos para a sociedade e para a vida, são por si geradores de vida, promotores de liberdade e de união. Cada vez mais o leque das valências do ser humano deve ser diversificado, responsável pelo bem pessoal e comum, audaz e compro-metido. Seja a que canto do planeta nos levem as opções que formos tomando, teremos em mente o desenvolvimento da grande sociedade global, de forma humanizada que nos comprometa com situações de injustiça social, como o tráfico de mulheres e crianças, a exploração laboral, a imigração ilegal, o tráfico de órgãos, e ainda com o desenvolvimento sustentável do nosso planeta e que a nossa consciência obrigue as nossas práticas de todos os dias a terem gestos de respeito para com a Natureza. O conhecimento, defesa e luta pela humanização das nossas relações, laborais ou outras, ou ainda escolhas mais profundas, do projecto individual de vida, conduzir-nos-ão à liberdade plena e à realização pessoal e profissional. Teremos sempre obstáculos, impedimentos, as nossas limitações e as nossas fraquezas, mas também a motivação, coragem e deter-minação, para fazer mover o mundo e para que do outro lado do planeta se consigam sentir os efeitos das nossas opções, que sejam, ousadamente semelhantes às escolhas do Pe. Gailhac, para a Vida e pela Vida.

Com amizade, Margarida MarruCho Mota aMador, dirECtora pEdagÓgiCa

A melhor forma de começar este texto talvez fosse deixar duas ou três linhas em branco, não vos parece? É que dessa forma se expressariam bem as “reticências” que sentimos perante tal provocação.

Mas como estas coisas da imprensa têm o seu quê de ética, vamos então à palavra escrita na esperança de que o leitor se reveja e se encontre em algum destes pensamentos.

Desde logo, em Tempo de Ser, surgem-nos dois de-safios: Ser livre e Ser bom! Efectivamente, são conceitos que raramente nos aparecem de mãos dadas, embora seja fácil reproduzirmos chavões como: “ser livre não é fazer tudo o que se quer, ou antes, “ser livre exige ser responsável”. São expressões que ficam sempre bem e não ferem ninguém. Mas será que temos, francamente, a noção do seu alcance?

Todo o nosso agir passa por um processo de discern-imento e avaliação, que pode ser mais ou menos con-sciente. Somos seres à procura de uma felicidade maior e cada escolha é sempre mais um passo nessa busca. Se assim é, então porque existe tanta gente infeliz e insat-isfeita com a vida??? Aqui calhavam bem mais duas ou três linhas em branco, não?! Até porque a resposta será em larga medida pessoal. Mas não andaremos longe se dissermos que a busca que fazemos é por caminhos menos certos. E ao dizê-lo não estamos a encetar a “vel-ha” conversa do bem e do mal, do pecado e da virtude, do correcto e do incorrecto. Se bem que me faz alguma confusão a aversão que hoje em dia se implantou na so-ciedade face a esses conceitos. Vivemos na era do rela-tivismo. Não há bem nem mal, “depende do ponto de vista”, dizem alguns... será mesmo?

A autêntica liberdade não é um agir anárquico. Ser livre, ao contrário do que frequentemente se apregoa, não é ser independente de tudo e de todos, até porque

em boa verdade a vida é sempre uma relação de de-pendências mútuas. E ainda bem que assim é. Depender dos outros, que não é o mesmo que estar incapacitado ou escravo da decisão de outros, ajuda-nos a perceber melhor a nossa humanidade e tomar consciência de que existimos como seres em relação e não isolados de tudo e de todos.

Em todo o caso, ser livre está, obviamente, ligado à capacidade de escolher e seleccionar o que é melhor para mim, mas também para os outros, integrando es-sas escolhas num ideal de vida. É natural que quando se tem quinze ou dezoito anos se pense a liberdade como a capacidade de decidir o que quero, o que me apetece, o que fazer, tendo como ponto nevrálgico desta escolha o ego. Mas é igualmente verdade que não é preciso pas-sar muito tempo sobre a adolescência para que a vida nos vá ensinando a fazer escolhas que se revelam o melhor para outros ou para o conjunto e não exclusi-vamente para mim. Alguns dirão que se trata de uma anulação da própria pessoa, eu diria antes que se trata da capacidade de pôr o bem acima de tudo.

Santo Agostinho disse: “Ama e faz o que quiseres” . Com certeza que este “mandamento” do Santo não era um convite à libertinagem mas antes a convicção pura que se as nossas acções forem por amor, delas só pode resultar o nosso bem e o dos outros, por isso podem-os fazer tudo porque tudo será por bem e originará o bom.

Urge então perguntarmo-nos: Agimos por amor? Ou andamos presos a inúmeras paixões? Talvez se o fizésse-mos mais vezes nos sentíssemos verdadeiramente livres!

luís pEdro dE sousa, Coord.

“O Drama do Ocidente é querer ser livre sem necessariamente ser bom.” Dalai Lama

«Tudo o que faço ou meditoFica sempre na metade.Querendo, quero o infinito. Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me ficaAo olhar para o que faço!Minha alma é lúcida e rica,E eu sou um mar de sargaço –

Um mar onde bóiam lentosFragmentos de um mar de além…Vontades ou pensamentos?Não o sei e sei-o bem.»

in «Poesias» de Fernando Pessoa, 1942

Dossier : Liberdade e Humanidade

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«Porque buscais entre os mortos aquele que vive? Não está aqui; ressuscitou!»

Aproxima-se a celebração do acontecimento mais importante do Cristianismo: a Páscoa, festa da Ressurreição de Jesus, tempo de alegria, de sonho e de esperança. Depois da Quaresma, tempo de deserto, de experiência radical de humanidade e de amadurecimento da fidelidade a Deus, é chegada a altura de gritar bem alto a Vida, porque a ressurreição é isso mesmo, Vida.

Mas não se pode pensar a ressurreição de Jesus, a Vida plena em Deus, sem pensar a vida do Jesus de Nazaré e os grandes desafios que nos lança.

Jesus nasceu em Belém como os pobres, anónimo, sem espectáculo, numa gruta; pisou o chão da vida com o Seu povo e foi amadurecendo a Sua missão; durante toda a Sua vida fez uma única coisa: amou! Amou os amigos e inimigos, com pala-vras e com actos, com toda a Sua vida. Ora se amar é dar-se ao outro, não há maior prova de amor do que dar a Sua vida pelo outro, assim fez Jesus Cristo. E a Sua morte foi uma consumação de tudo quando fizera. O mal, o pecado, a morte não existem para serem compreendidos, para serem ignorados, mas sim para serem assumidos e vencidos pelo amor.

É a ressurreição que dá sentido a tudo o que Jesus disse e fez, é a ressurreição que justifica a nossa fé, é por causa da res-surreição que somos cristãos.

A ressurreição destrói a não comunicação imposta pela morte e Jesus voltou a comunicar com os homens numa liber-dade jamais suspeitada. Essa experiência da comunidade primitiva é a raíz da fé cristã. A morte, que só permite memória para os que ficam, no caso de Jesus Ressuscitado foi despojada das amarras da incomunicabilidade.

Ressuscitando Jesus mostrou em si mesmo a plenitude do Homem, a grandeza, a glória a que todo o Homem é chamado, manifestando-se definitivamente como Homem e Deus. A vida que Jesus tem depois da ressurreição é uma vida nova, plena, que não está mais sujeita à morte, nem às leis humanas, nem aos limites de tempo e de espaço. Jesus ressuscitado assume e transforma o Jesus que nascera na História, torna-o perfeito, pleno, tal como a manhã é mais bela do que a noite ou a flor mais bela do que a semente.

A experiência da Ressurreição é fundamental para a nossa vida de cristãos. Jesus ressuscitado é o fundamento da nossa fé. Jesus ressuscitado dá-nos uma condição nova: a de Filhos de Deus!

paula pErEira, proF.

A casa é tua mas o quarto é meu!“Óptima ideia esta”, pensaram os alunos que assistiram ao pequeno teatro “A casa é tua, mas o quarto é meu!”. Mas óptima porquê?

Foi decidido que a reunião de pais dos alunos do

11ºano tivesse como abertura uma peça, cujas perso-

nagens fossem alguns dos alunos. Esta fase da adoles-

cência é complicada, de facto. Mas não só para os papás.

Nós, jovens, já não queremos “isto e aquilo”, tudo o que

vemos nas montras. Queremos “advérbios”. E quem diria

que tal seria mais difícil de obter do que aquilo que o

dinheiro pode comprar? Queremos liberdade, queremos

confraternizar, queremos conhecer e livrar-nos de algu-

mas responsabilidades. E defendemos o que é nosso: o

quarto neste caso. Que mal tem querer mudá-lo de acor-

do com a nossa personalidade? Pertence-nos ou não,

afinal?

Claro que há pais que não concordam e se opõem,

e os filhos, numa atitude defensiva, respondem daquela

maneira brusca, quase sem modos. Tal situação foi ex-

tremamente bem representada na peça, incluindo até o

uso do calão. “Bué”?

No entanto, foi o desfecho que marcou, diga-se as-

sim, tanto pais como filhos presentes: a carta escrita pela

“filha” aos “pais”, numa atitude de desabafo, espelhava

extraordinariamente o que vai na alma de cada um de

nós, adolescentes. Agradece-se, por isso, ao autor da

“carta”, a psicóloga Vânia.

O pensamento que nos deve ter passado pela cabeça,

numa fracçãozinha de segundo, foi com certeza “Espero

que os pais estejam de ouvidos bem abertos, a ver se me

percebem de uma vez!”.

Dizem que não temos nenhum emprego, que a nossa

obrigação é apenas “estudar e tirar boas notas”. A lenga-

lenga de sempre. Em troca temos a liberdade por que

tanto ansiamos. Tal e qual como um pagamento. Mas

nem sempre é fácil desempenhar um bom trabalho. Aí

é-nos retirada a nossa “querida” e, de repente, revolta-

mo-nos. Curioso, hã? É o chamado “último recurso”. Que

mais podemos nós fazer?

Quem sabe, se escrevêssemos todos uma cartinha

aos progenitores, eles entendessem o drama que a nos-

sa vida consegue ser de vez em quando e o porquê de

algumas das nossas atitudes.

Ou será que nem assim?

Catarina grilo, 11ºE

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O Carnaval no Jardim de Infância…Foi no passado dia 31 de Janeiro que o Jardim-de-infância iniciou os seus festejos de Carnaval. Foi um dia diferente e muito divertido para os nossos petizes, com diferentes momentos de confraternização entre as salas do Jardim-de-infância. Efectuaram-se visitas às salas do 1º ciclo e também a outros espaços do colégio, nomeadamente serviços administrativos e de apoio.

As Salas dos 3 anos brindaram-nos com uma equipa de palhaços. Mas, para tornar o dia ainda mais divertido, as Pro-fessoras colocaram os laços dos palhaços espalhados pelos diferentes espaços do colégio: na sala do Inglês, na sala da Música, no dormitório, nas casas de banho, entre outros, e as crianças tiveram de os encontrar. Fardados a preceito, foram até ao ginásio, onde mostraram os seus dotes de dançari-nos.

Nas Salas dos 4 anos, no âmbito do tema “As profissões”, as crianças foram convidadas a escolher uma das seguintes profissões: médicos ou veterinários, advogados ou juízes, músicos, bancários, bombeiros ou polícias. Trajados a rigor foram até à sala de ballet onde tiveram oportunidade de fazer um jogo musical.

Nas Salas do Pré-Escolar a saúde falou mais alto. Assis-timos a uma manifestação, pacífica mas determinada, por uma alimentação saudável, clamando a bom som: “Comer bem dá saúde e faz crescer!”, “É, é, é! A sopa é que é!”. Cada criança representava um determinado alimento – peixes, legumes e frutos. A concentração evoluiu para o auditório, onde as crianças das três salas representaram pequenas peças para os seus colegas.

Já no dia 1 de Fevereiro, as crianças tiveram oportuni-dade de ser/representar aquilo que tanto anseiam. Imitar o seu herói predilecto. Enfim, puderam brincar livremente ao “faz de conta”, momento tão importante para o seu desen-volvimento.

O corso foi muito variado, desde as princesas, fadas, se-vilhanas, aos homens aranha, polícias e super homens, pas-sando por diferentes animais, houve de tudo. Mas a festa foi feita por todos, alunos, professores e auxiliares. Nas salas as serpentinas voaram num ambiente de grande animação com música de fundo, contando igualmente com a visita dos alunos do 1º ciclo. Posteriormente, o cortejo rumou ao auditório onde teve lugar o tão esperado desfile e, onde cada sala teve oportunidade de dançar uma música pre-viamente escolhida. As crianças dançaram, pularam, riram, cantaram…, enfim, foi um dia em cheio!

Notíciasdo pré-escolar

À descoberta de Lisboa

O 3º ano começou a sua aventura na descoberta da Ci-dade de Lisboa. É um projecto que teve início com a leitura da obra “ Uma aventura em Lisboa”, de Ana Maria Magalhães e Isa-bel Alçada, e que terá continui-dade com a pesquisa dos dife-rentes pontos de referência da nossa capital: museus, mostei-ros, monumentos, ruas, praças, estátuas...

Durante as férias do Carnaval, os alunos, em família, visitaram alguns dos locais emblemáticos

de Lisboa. Elaboraram também pequenos trabalhos, referindo algumas das informações mais pertinentes, e apresentaram-nos aos seus colegas.

Este trabalho de investigação sobre a cidade de Lisboa terá várias etapas e para isso serão de essen-cial importância as disciplinas de Informática e de Estudo do Meio. Para além disso, as Visitas de Estu-do pela cidade e as visitas à Biblioteca em muito irão contribuir para o resultado final.

No final do terceiro período realizar-se-á uma ex-posição, onde serão apresentados todos os trabalhos efectuados pelos alunos.

Notícias do 1º. Ciclo

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Notíciasdo 2º. Ciclo

Mais do que morar, estudar ou trabalhar em Lisboa, vale a pena VIVER LISBOA. Ela constitui uma marca da nossa identidade, embora nem sempre seja tratada como “coisa nossa”. Vale a pena descobrir a sua diversidade, para nos encantarmos por ela e assim possamos dar valor àquilo que foi, que é e será, para que esta Lisboa não deixe de ser amada.

Na Baixa de Lisboa há uma pequeníssima loja que passa despercebida na Rua do Carmo. Trata-se da Luvaria Ulisses. Resistindo ao avanço das cadeias de modas internacionais, actualmente, a única no país a dedicar-se exclusivamente à confecção e venda de luvas. A decoração do espaço, inspi-rada na Arte Nova, mantém-se inalterada.

Fundada em 1925 por Joa-quim Rodrigues Simões, desti-nou-se inicialmente, dada a sua pequena dimensão, a escritório de duas outras lojas que o em-presário tinha na chamada Mu-ralha do Carmo.

Vale a pena descobri-la!laura alMEida – 5ºC

Deliciosos não são? Já os provaste?Com certeza imaginas que sim! Mas certamente

confundiste-te!Agora perguntas: Não é um pastel de nata, que se

vende em qualquer pastelaria? Vá pergunta!A resposta é NÃO!!!! É um pastel de Belém. Estes

pastéis são confeccionados à mão, por pasteleiros que juraram não contar a ninguém a receita de tais doces conventuais (diz-se que tiveram origem no Mosteiro dos Jerónimos).

Por dia confeccionam-se e vendem-se cerca de 14 mil pastéis de Belém.

Por isso já sabes, vai a Belém e come esta maravi-lha. Mariana Carvalho E MElo – 5ºd

A Vida Portuguesa é uma loja onde pode encontrar os mais belos e genuínos produtos de criação e antiga fabricação portuguesa. São eles produtos de cozinha, para o banho, e de escritório, entre outros. Todos são produtos fabricados desde há longa data em Portugal, mantendo ainda hoje a qualidade e as embalagens originais.

Situa-se na Rua Anchieta, nº 11, ao Chiado, em Lis-boa. Joana aMoEdo 6ºB

A Casa Xangai é uma das mais antigas casas comerciais de Lisboa, fundada em 1938 por Caetano Soares da Fonseca. A Casa Xangai é uma loja famosa de bordados, rendas e enxo-vais para bebé. O espaço desta loja, no número 19 da Avenida da República, foi em tempos uma alfaiataria.

Adquire este nome (Xangai) pois no início grande parte dos produtos comercializados eram chineses.

Mas hoje, embora a Casa Xangai continue a dedic-ar-se aos bordados, prefere comercializar produtos nacionais, como por exemplo de Viana do Castelo, ou Açores e Madeira etc.

Mega da Fonseca diz que nesta casa já estiveram presentes a mulher do Marechal Carmona, e grande parte das esposas dos presidentes da República desde então, a comprar roupas para os seus filhos ou netos bebés.

Embora já tenha muitos anos de existência, a Casa “não pára” e mantém com dedicação a sua tradição.

João porFírio 6ºa

O elevador de Santa Justa localiza-se no coração da baixa de Lisboa. Também conhecido por Eleva-dor do Carmo, esta construção de ferro, inicialmente movida a vapor, esteve a cargo do engenheiro Raul Mesnier e do arquitecto Louis Reynaud. Foi inaugura-do em 1901 e ainda se encontra em funcionamento. É uma excelente opção para gozar em família as belas vistas da cidade de Lisboa. Joana MarChantE – 5ºa

Ar fresco, lindas árvores... só pode estar no Jardim Botânico da Ajuda. A entrada é pela Calçada da Ajuda. Ao entrar, pode optar por começar a visita por dois sítios diferentes. Uma sugestão é o jardim dos aromas: um autêntico arco-íris de aromas. Cada planta tem um cheiro diferente e as etiquetas tam-bém estão escritas em Braille. Pode ainda optar por ir pelo labirinto. Este é limitado por buxos que, todos juntos, teriam um perímetro de 40 Km. No labirinto verá umas escadas em pedra e, se as subir, terá acesso a uma deslumbrante vista para o Tejo. Há várias fon-tes; entre elas, a fonte das quarenta bicas, que tem 40 repuxos e canteiros no meio da água.

Suba as escadas e veja a linda perspectiva do la-birinto. Está na zona das árvores, organizadas por continentes. Catarina FErrEira - 5º B

A Brasileira do Chiado é um café emblemático, situado na Rua Garrett. Vendia o “genuíno café do

Brasil”, produto muito apreciado. Adriano Telles foi o fundador da Brasileira. A Brasi-leira do Chiado mantém uma identidade muito própria, tendo o poeta Fernando Pessoa sentado na sua esplanada, pois era o ponto de encontro de muitos e im-portantes pensadores. Tem também uma decoração simbólica e muito convidativa. É um local de referência para os turistas estrangeiros e nacionais, mantendo viva a memória da história lisboeta. Margarida FErrEira – 6ºC

O Bairro Alto…onde os opostos se at-raem…Onde a tradição e a vanguarda con-vivem lado a lado. Foi o que aconteceu no passado dia 13 de Fevereiro quando uma loja de piercings e uma casa de fados reali-zaram uma festa de inauguração conjunta. A festa ficou marcada por vários aconteci-mentos, alguns invulgares, como O Fado do Piercing, que constituiu um concurso aberto aos clientes, que seria ganho por

quem, cantando um fado à sua escolha, obtivesse mais aplausos. gonçalo Morais – 6ºE

A Estação de combóios do Rossio foi construída no ano de 1886\87 e desenhada pelo arquitecto José Luís Monteiro. Foi construída em estilo neo-manuelino, que era um estilo que ligava o estilo gótico à produção artística do reinado de D. Manuel I. O estilo neo-manuelino começou com a edificação do Palácio da Pena, em Sintra de 1839 a 1849.

Não deixe de reparar no relógio situado em cima da fachada, incrivelmente decorado. Foi recentemente recu-perada e renovada e agora a plataforma de embarque está ligada ao Metro e aí está um dos mais fantásticos trabalhos: o tecto.

ClÁudia alMEida - 6º d

O Elevador da Bica é um dos muito ex-libris da cidade de Lisboa. Desde 28 de Junho de 1892 ele faz a ligação entre a Rua de São Paulo e o Largo do Cal-hariz.

O sistema de tracção original baseava-se na utili-zação de contrapesos de água. Mais tarde passou a ser utilizada a máquina a vapor e finalmente a ener-gia eléctrica.

O Elevador da Bica funciona das 7h às 22h45mn e tem a capacidade de transportar 23 pessoas. É por-tanto uma boa opção para levar a família a passear numa manhã de fim-de-semana.

hannah Madatali - 5ºE

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Preparar um mundo que existe e está próximoNo dia 25 de Janeiro, as turmas A e B do 12ºano, participaram no seu último encontro de formação, em Alfragide, no seminário dos Dehonianos.

De manhã, relembrámos as origens do nosso colégio e do seu fundador. Foi-nos dada a conhecer, pela irmã Maria Alice Santos, a vida do padre Jean Gailhac e as suas obras.

Depois, em pequenos grupos, partilhámos experiên-cias que nos marcaram durante a nossa passagem pelo colégio e reflectimos sobre o nosso papel na sociedade, no que ela nos dá e no que lhe podemos retribuir.

Na parte da tarde, recebemos a visita de dois anti-gos alunos e uma mãe de actuais alunos, também an-tiga aluna. Com eles partilhámos as conclusões de cada grupo, pelo que eles retribuíram dando-nos a conhecer as suas memórias do colégio, mencionando tudo que de bom lhes foi dado e que guardaram pela vida.

O encontro terminou com uma oração.Já muitas semanas passaram desde aquele dia, mas

uma certeza irá sempre acompanhar-nos: no Sagrado recebemos e construí-mos as melhores bases que poderíamos para o futuro. No contacto com outros alunos, com as irmãs, com os profes-sores e com os funcionários, prepará-mo-nos para o mundo fora do Colégio, para conseguirmos o melhor dele e para lhe darmos o nosso melhor. Porque esse mundo existe e está próximo.

inês Fraga E Margarida riBEiro, 12ºB

EcumenismoOusar viver a unidadeHá muito que a Igreja percebeu a necessidade de uma nova evangelização. Há que dar passos efectivos no caminho dessa redescoberta do Evangelho e a história já nos provou que somos mais fortes e melhores quando somos capazes de caminhar juntos.

Não foi assim nas primeiras comunidades cristãs? Não veio Jesus Cristo para todos, gregos e gentios? Não nos disse que éramos o seu corpo e que as difer-entes partes do corpo não poderiam viver sozinhas? Vivemos hoje numa Europa que se quer cada vez mais unida. Assinam-se tratados e convenções, mas a verda-deira unidade não se estipula por decreto. Ensinam-se os nossos jovens a pensar a sua vida profissional e pes-soal para além dos limites de Vilar Formoso ou Caia. As fronteiras há muito que caíram. Alegremo-nos com esta unidade e sejamos capazes de a viver também na Igreja de Jesus Cristo, mesmo com as diferentes confissões. Afinal o que nos une é muito mais do que nos separa. Em Taizé há uma comunidade de irmãos que todos os dias faz a experiência da unidade e do encontro da diversidade. Uma diversidade que não é diferença nem separação, mas

que nos enriquece. Lá não se fazem tratados sobre o ecu-menismo, vive-se.

O ecumenismo é um movimento de união de todas as facções do cristianismo, desde o catolicismo até ao prot-estantismo, que procura demonstrar que, independente-mente das nossas formas diferentes de culto ou de interpre-tação da mensagem de Deus,revelados em Jesus Cristo, nós somos um único povo.

Perante a realidade a que somos expostos no nosso quo-tidiano, era impossível imaginar um lugar onde cristãos de todo o mundo possam viver experiências de simplicidade e encontro, livres de conflitos.

Em Taizé a unidade cristã vive-se a todo o momento, permanentemente. Sente-se nesta comunidade o pulsar da fé. Católicos, anglicanos, protestantes, entre outros, encon-tram-se unidos pela mesma razão, a ideia de que Deus nos guia no dia a dia e que é a fonte geradora de amor e paz.

Nesta comunidade encontramos gente de todo o mun-do, com diferentes maneiras de viver a mensagem de Deus, com experiências e modos de vida diferentes, mas com um objectivo comum, a redescoberta de Cristo e a certeza de que somos filhos do mesmo Pai.

Em Taizé descobrimo-nos e descobrimos os outros, alimentamos a semente da fé. Por estes dias, cento e vinte alunos dos Colégios e Obras das Religiosas do Sa-grado Coração de Maria (RSCM) em Portugal foram a Taizé, uma pequena aldeia em França onde há muitos anos o irmão Roger fundou uma comunidade ecumé-nica, que permite ir ao encontro das fontes do Evange-lho, num espírito de reconciliação e unidade dos cristãos. Estar atento aos sinais dos tempos e ousar uma nova evangelização é ser capaz de alargar os horizontes sem perder o essencial. E o essencial é Jesus Cristo! Nas palavras do Padre Jean Gailhac, o fundador das RSCM, e neste início de Quaresma, voltámos com a determinação que “Jesus Cristo seja tudo em nós”.

gonçalo tito (11ºa), MatEus lEitE dE CaMpos (11º E) E luís pEdro dE sousa,Coord.

Por montes e vales... caminhar interiormente

Para nós a viagem à Serra não foi apenas um simples passeio, uma caminhada ou alguns dias de férias para sairmos um pouco do stress. Para nós, foi muito mais do que isso.

Os dias passaram a correr, mas foram muito bem aprovei-tados porque todos os momentos tiveram o seu significado, nenhum foi em vão. Ajudaram-nos a sair por momentos do nosso mundo e a esquecer todos os compromissos. A Serra permitiu-nos pensar nas coisas para as quais nos costuma faltar tempo, devido à imensidão de tarefas que temos para fazer. Este tempo serviu para pensarmos, reflectirmos sobre a nossa vida e ajudou a que nos encontremos.

Com a vivência em grupo e as actividades que nos foram proporcionadas conseguimos caminhar interiormente, num percurso que não seria conseguido sem a ajuda e união de todos. Bastava um de nós não ter estado lá e tudo seria dif-erente.

Percebemos que Deus estava ali e que podemos brilhar sempre que quisermos com a Sua luz, porque quando a

aceitamos tornamo-nos mais fortes tam-bém.

Penso que todos saímos de lá mel-hores do que éramos e, claro, com mui-tas saudades e vontade de repetir.

Foi uma viagem repleta de amizade, divertimento, união e Deus. Valeu a pena, como dizia o poeta.

andré pinhEiro, 10ºa

Notíciasdo Secundário

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Hino inesquecível à solidariedadeDocentes e não docentes viveram um dia de trabalho cívicoDurante o mês de Dezembro, todos nós celebramos o Avento. Tempo de preparação para o Natal, tempo de abrir o coração aos outros. Principalmente aos que estão mais tristes, aos que se encontram mais sós, aos que deixaram de ter esperança... É um tempo em que todos estamos mais disponíveis para os outros, em que esquecemos um pouco de nós e vivemos mais ao jeito de Jesus Cristo.

“Quando for grande não quero ser engenheiro, cozinheiro, nem professor, quando for grande quero ser brincador...”

Álvaro MagalhãEs

Num dia frio e nebuloso e com o Natal no horizonte, um grupo de funcionários do colégio rumou até Tercena (Alojamen-to Temporário para crianças em risco), para aquecer os corações de muitas crianças que nos esperavam de olhos brilhantes e com a esperança de passar momentos enternecedores, de brin-cadeira e alegria.

Uma verdadeira equipa, bem estruturada, organizou-se a embrulhar presentes, a deixar bem asseados os aposentos dos meninos e a ensaiá-los para a sua humilde festa de Natal, que se tornaria numa grande emoção.

Com amizade, todos nós fomos “brincadores” e voltámos a ser crianças, por momentos, vivendo a época natalícia, partil-hando com quem precisa, a nossa alegria, vontade de ajudar e tornar os outros um pouco mais felizes. Ainda os presenteámos com prendinhas de Natal escolhidas especificamente para cada criança, e alimentos para a ceia de Natal.

Teceu-se um hino inesquecível à solidariedade e ao recon-forto de poder contribuir com alento e esperança para os meni-nos que sonham acordados e a quem talvez lhes custe a acredi-tar que um dia terão uma vida plenamente feliz.

Catarina andré, proF.

A época natalícia faz vir ao de cima os nossos melhores sen-timentos que se repercutem nos nossos gestos. É nesta época que sentimos mais as desigualdades sociais e que, de uma for-ma ou de outra, tentamos lutar contra elas. Foi o que um grupo de cerca de cinquenta funcionários do colégio fez antes do final do primeiro período. Este grupo de docentes e não docentes voluntariou-se para trabalhar durante uma tarde na Casa do Gaiato em Santo Antão do Tojal (Loures), onde se disponibili-zou para fazer tudo o que era necessário. Uns colaboraram na lavandaria e rouparia, outros na limpeza das camaratas, do re-feitório ou de outros espaços exteriores ou interiores, e também foi necessária uma “mãozinha” na parte informática. A tarde ter-minou com um lanche com as crianças e com um sentimento

paradoxal: foi muito bom mas foi tão pouco...ficou tanto por fazer e seriam precisas muitas mais mãos em muitas outras tar-des. Ficou o gesto e o gosto que já fez com que uma professora semanalmemte marque presença junto dos gaiatos e a certeza de que continuaremos a colaborar com a Casa do Gaiato.

vítor diniz, proF.

Foi proposto que alguns funcionários do colégio, durante uma tarde, dessem um pouco do seu tempo a alguns idosos do Lar de terceira idade de São Jorge de Arroios...

Primeiro a expectativa de saber com quem iríamos passar

aquela tarde, depois, mesmo não conhecendo, pensar com car-inho numa prenda para quem nos ia abrir a porta de sua casa, a quem íamos dar um pouco do nosso tempo.

Saímos do colégio e fomos à procura do outro! E foi uma surpresa...

Íamos dar um pouco do nosso tempo e recebemos sorrisos, alegria, a história de uma vida. Aqueles que abriram as portas de sua casa, abriram também as portas do seu coração e oferece-ram o que tinham de melhor.

Depois deste momento de partilha de vidas despedimo-nos na certeza que só servindo e amando os outros somos felizes. A vida só faz sentido se a vivermos com os outros e para os outros; e, naquela tarde pareceu tão fácil!

Margarida Charréu E sandra riBEiro, proFs.

Contos nossosEla era uma rapariga de 16 anos que maravilhava qualquer um; era alta para a sua idade, tinha um sorriso elogiado por

todos que fazia as delícias de muitos rapazes. Contentava-se com as coisas mais simples da vida, desde uma caneta colorida

às pastilhas elásticas de que não abdicava em parte alguma.

Ele era um rapaz de 13 anos como todos os outros. Queria gozar a sua idade, jogar à bola. Preocupações com raparigas

viriam a seu tempo. De que maneira podemos ligar dois jovens aparentemente tão diferentes? Uma coisa que vão ter de

memorizar sobre ela é que vivia em função das férias; passava o tempo todo a pensar na praia do Algarve, nas noites à volta

da fogueira a contar historias, na pequena casa alugada que lhe trazia tão boas recordações, onde podia ser livre... ser real-

mente ela. Gostava de ver todas as suas memórias em fotografias; fotografias postas em molduras bonitas para toda a gente

ver, fotografias onde os sorrisos espertos estavam bem à vista, mas que escondiam tão bem os sentimentos…

A recordação que ela mais gostava era dele à beira-mar, quando o sol se punha e reflectia no seu cabelo despenteado,

aquele cabelo com o qual ela delirava, e que simplesmente não conseguia parar de mexer! Tinha as suas mãos marcadas,

cada sorriso dele parecia alegrar o dia dela, bastava um vislumbre de t-shirts largas e calças descaídas para começar numa

alegria exagerada, numa rede infinita de suspiros. Dizem que os jovens o são demasiado para amar, mas quem consegue

meter isto na cabeça destes dois?

Aproveitavam cada minuto; todos os intervalos que passavam juntos à socapa eram preciosos. Não eram os namorados

comuns, daqueles que desatam aos beijos, demonstrando todo o seu afecto num acto tão complexo. Entre eles, tudo era

simples. Um sorriso dizia mais que mil beijos e eles diziam silenciosamente tudo o que precisavam de ouvir para saberem

que se tinham um ao outro, para saberem que não precisavam de mais ninguém, para saberem que não precisavam de ligar

às opiniões dos amigos dela, que acabavam por desaprovar toda a relação, que nascera na praia e se prolongara para as

aulas.

“Amores de Verão enterram-se na areia “, mas tudo isto foi demasiado importante para acabar assim, para se separarem.

Por quanto tempo irão aguentar os sentimentos escondidos nas fotografias? O que estarão dispostos a aguentar para terem

de suportar os comentários, para terem de esconder as mãos dadas atrás de um casaco. Por quanto tempo é que os sor-

risos dela vão passar despercebidos? O tempo suficiente para as aulas terminarem e poderem finalmente voltar à praia do

Algarve, que tem o inexplicável poder de libertar a inocência e a naturalidade…

Marta Baptista, 10ºE

Desafiamos-te a escreveres a continuação desta história. Se aceitares o desafio, envia-nos o teu texto para olhares@

cscm-lx.pt Os melhores textos serão publicados! alExandra lopEs, proF.

Em Português...

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A nossagente...

A partilha da nossa vida é um dom que podemos e devemos dar aos outrosEntrevista à Irmã Maria Augusta FernandesNa nova rubrica da revista Olhares, intitulada A Nossa Gente, decidimos dedicar tempo e atenção a esta gente do nosso Colégio, que vemos todos os dias, com quem trocamos um bom dia. Com quem almoçamos no refeitório ou com quem bebemos um café no bar. Há, contudo, tanta coisa que fica por conversar e por saber. Tantos pormenores interessantes que nos

escapam ou que não têm tempo para surgir à tona de uma conversa sobre o dia a dia, ou sobre os problemas mais prementes. É com o intuito de saber mais e conhecer melhor quem nos rodeia que surge este espaço.

Coube-nos o privilégio de escolhermos a irmã Maria Augusta para o inaugurar. Con-seguimos que roubasse um pouco de tempo à sua vida atarefada e nos respondesse a algu-mas perguntas sobre o seu percurso.

Como se passaram os anos da sua infância e juventude?É sempre difícil e delicado falar sobre aquilo que só Deus

conhece. Mas a partilha da nossa vida também é um dom que podemos e devemos dar aos outros.

Sou a mais velha de quatro irmãos e, com seis anos, perdi os meus pais. Em casa de uns tios, que me acolheram como filha, cresci na experiência de que Deus está presente na história de cada um. Aprendi desde pequenina a caminhar e a crescer na fé. Acção católica, grupos de jovens e sobre-tudo o testemunho de uma vida cristã que vivia em casa ajudaram-me a sentir que Deus me chamava e essa certeza foi crescendo e amadurecendo dentro de mim.

Muitas vezes surgiram dúvidas, hesitações, resistências da minha parte, mas afinal tudo isso era sinal de vocação.

Quais as memórias que guarda dessa altura?Lembro-me que aos dezoito anos partilhei com os meus

segundos pais a alegria do chamamento de Deus que ia sentindo dentro de mim. Lembro-me também que um pri-mo com quem vivera desde pequenina, melhor diria um irmão, entrou para Jesuíta.

Como se cruzou o seu caminho com a instituto do sagrado Coração de Maria?

Conheci as Irmãs do Sagrado Coração de Maria no Colé-gio da Nossa Senhora do Rosário, no Porto, que frequentei enquanto estudei.

Aos vinte anos entrei para o noviciado do Sagrado Coração de Maria em Braga. Mais tarde tive um tempo de formação em Beziers, em França, na casa mãe do Instituto, antes de fazer o meu compromisso para sempre. A esse compromisso chamamos votos.

Precisamente nas vésperas da minha Profissão, o meu tio, e meu segundo pai, deu-me a alegre notícia de que a casa de Deus seria também a sua casa e entrou para Irmão Jesuíta.

Como tomou a decisão de se juntar a este Instituto e de que modo este a preenche espiritualmente ?

Um grande amor que sempre tive a Nossa Senhora levou-me a escolher este Instituto, onde sempre me tenho sentido plenamente feliz, num caminho de realização pro-gressiva, humana e espiritual.

Relativamente ao seu percurso académico, o que nos pode contar?

Todo o meu percurso académico foi uma realização para mim. Entrei para o Instituto com o Curso Geral do Liceu. Fre-quentei o Curso Geral de Piano no Conservatório no Porto e em Braga. Fiz um curso intensivo de Psico-pedagogia na Universidade de Lovaina, na Bélgica. Ao nível da Pastoral Juvenil, frequentei várias acções de formação.

Há quanto tempo se deu a sua vinda para o Colégio do Sagrado Coração de Maria de Lisboa e quais as funções que desempenhou?

Em 1970 vim para Lisboa, para o colégio, e desempenhei o cargo de coordenadora do 1º ciclo. Dediquei-me também à Pastoral na Paróquia.

Regressei a Lisboa, mais tarde, depois de ter estado nas nossas comunidades em Braga e em Monchique, a dar aulas de Religião e Moral no Ensino Oficial.

Presentemente estou integrada na Equipa de EMRC do primeiro ciclo do nosso Colégio.

O que lhe continua a dar mais prazer?Gosto muito do trabalho que faço, da relação com cri-

anças e jovens e estou aberta e disponível para o que for preciso.

Acredito na Educação e Formação das idades mais novas como factor potencial para a transformação da nossa socie-dade. Isto é motivo de alegria para mim.

Qual o segredo para manter a constante boa disposição que a acompanha?

Só sei dizer que me sinto muito feliz, imensamente fe-liz nesta atitude constante de Entrega a Deus e aos outros, “para que todos tenham vida” e sejam felizes também.

Quais os planos para os próximos anos?Ao assumir a minha pertença e identidade como RSCM,

estou aberta ao que me é pedido em função da Missão do Instituto e acredito que o nosso Deus nunca nos falta com a sua Força, aceitando como Nossa Senhora, o imprevisível na minha vida.

EntrEvista Conduzida por Catarina Carrilho, Coord.

Fahrenheit 451Imaginem um mundo, num futuro próximo, onde não existem livros porque são proibidos pelo governo. Um mundo cujos habitantes não passam de um grupo de espectadores apáticos, a olhar, horas a fio, para um gigantesco ecrã de televisão. Um ecrã transmissor de banalidades, factos triviais, impeditivo de conhecimento, de curiosidade e de ideias originais. Bom, talvez não seja algo assim tão difícil de imaginar.

É deste tipo de realidade que trata o interessante livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, conceituado autor norte-americano de ficção científica. É- nos oferecida uma assus-tadora visão de uma sociedade futurista sem livros. Estes são como uma ameaça ao sistema, pois instigam ao pensamento individual e promovem a cultura e sabedoria. Por isso, são objecto de extermínio total. Quem desempenha a função de exterminador são as corporações de bombeiros, as quais, ao invés de apagarem fogos, os ateiam para queimar os liv-ros que ardem à temperatura do título da obra. São elas as responsáveis pela manutenção da ordem e pela destruição do conhecimento. Ter um livro é um crime. Ler um livro é um crime.

Tudo isto decorre numa sociedade aparentemente feliz, onde deambulam pessoas que nada questionam, pessoas com vidas maçadoras e vazias, cuja principal ambição é pod-er adquirir um ecrã de televisão cada vez maior.

Contra o estado, resiste apenas um grupo de rebeldes que decora obras literárias e filosóficas inteiras, na esperança de poder transmitir a sabedoria às gerações vindouras. A este grupo, junta-se, a certa altura, Montag, a personagem princi-pal. Bombeiro de profissão, leia-se exterminador de livros, e pacato cidadão que começa a desafiar as proibições vigentes ao travar amizade com uma vizinha que ilegalmente pos-sui livros. Guarda-se o desenvolvimento e o desenlace para quem quiser ler.

A leitura desta visionária obra, escrita em 1953, permite-nos reflectir sobre a sociedade actual, onde a imagem tem um papel cada vez mais importante e os livros são cada vez mais esquecidos. Parece não haver vontade, tempo ou paciência para ler. Nos papéis que vamos hoje desempen-hando, decoramos menos falas e pensamos menos se sim-plesmente nos sentarmos em frente dos ecrãs. Estão sem-pre ligados, são omnipresentes e transmitem informação de qualidade duvidosa. No nosso caso, a falta de leitura não é uma questão de proibição, mas apenas de cansaço, comodismo, preguiça, prioridade ou tempo.

Concluindo, Fahrenheit 451 of-erece-nos um mundo com todos os perigos que podem surgir de uma sociedade sem pensamento individual e sem diversidade de

opiniões e que nos faz pensar como seria se todos víssemos e ouvíssemos as mesmas coisas. É um livro fascinante que nos leva a revalorizar o que, por vezes, pensamos ter perdido importância, mas que potencia a nossa individualidade e sabedoria: os livros!

Catarina Carrilho, Coord.

Chocolate“Ser livre não é ser independente de tudo, pois a vida é sempre uma relação de dependências, mas escolher e seleccionar essas dependências integrando-as no ideal e no sentido da vida”.

Vianne, mulher que sempre se sentira incapaz de pert-encer a algum lugar, protagoniza nesta história um exemplo vivo disso. Ao chegar com a filha Anouk à sua nova aldeia, ninguém poderia prever o impacto que uma mente tão ab-erta viria a ter na mentalidade conservadora e fechada dos habitantes locais.

Quando, pouco tempo depois de chegar, e em plena Quaresma, Vianne abre uma invulgarmente apetitosa loja, repleta de tentações sob a forma dos mais variados choco-lates, esta não pode deixar de ser considerada, por muitos, um atentado à moral e aos bons costumes da aldeia.

Para ser bem aceite nesta sociedade, preconceituosa e alicerçada em aparências, cada indivíduo tem que saber exactamente qual o seu lugar e corresponder ao que todos os outros esperam dele. Contudo, Vianne, cujo espírito lib-eral e apaixonado choca com tudo o que a aldeia considera aceitável, recusa-se a deixar-se vencer na luta pela igualdade enquanto o conde da aldeia, que vê nela uma ameaça à sua ordem e princípios, faz tudo o que está ao seu alcance para a expulsar.

Apesar disso, Vianne consegue aos poucos mostrar, a todos aqueles que tinham escolhido viver de proibições e aparências, a importância de escolher as dependências cer-tas na nossa vida. Dependências que nos permitam ser fe-lizes. Compreende, por outro lado, que precisa da força e do apoio dos que a rodeiam, acabando, ela própria, por abdicar de parte das suas tradições, para finalmente poder ter uma terra a que chamasse lar.

Até o conde percebe que, enquanto não se libertar da sua maneira de ser, conservadora, inflexível e preconceituosa, não deixará de ser infeliz. Acaba por consegui-lo, libertando-se com ele toda uma sociedade que não passava afinal de

um reflexo da sua personalidade.Chocolate é assim um filme com

uma mensagem intemporal, que nos ensina que o importante é es-colher as dependências que melhor se enquadram no nosso sentido de vida pois só assim nos realizaremos e nos poderemos afirmar e sentir verdadeiramente livres.

BÁrBara MontEiro, 11º a

Culturalmente...

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Temos equipa porque temos união!

Sabe bem quando se sente que há um caminho percorrido e se começa a perceber o resultado de tanto esforço e dedicação. É assim com a equipa de Voleibol Juvenil Feminino do Sagrado que se estreia este ano como federada. Com novas adversárias, novos equipa-mentos e cada vez mais apoiantes, a nossa equipa tem melhorado muito. Não teríamos conseguido nada disto sem o apoio dos nosso treinadores, o professor Fernando e o professor Luís. Eles puxam por nós, ensinam-nos no-vas tácticas e novas formas de encarar o jogo. Ao todo somos dez jogadoras muitíssimo empenhadas e sentimo-nos uma equipa cada vez mais unida.

A nossa equipa começa agora a abrir novos horizontes. No final deste ano lectivo é possível que partici-pemos num torneio no arquipélago dos Açores, tendo a oportunidade de competir com grandes jogadoras. Há já uma espécie de projecto de claque o que muito nos entusiasma. Todos estes passos são incentivos para nós e, julgamos que também, um orgulho para o Colégio.

lEonor Castro, 10ºE

Uma voz contra a indiferença

O Dr. Fernando Nobre, Fundador da Assistência Médica Internacional, esteve entre nós, para uma conversa com Docentes, não docentes e alunos do Centro Jean Gailhac.

Os repórteres da Olhares marcaram presença e fic-aram impressionados com a sinceridade e verdade de uma conversa que percorreu parte da história de Por-tugal mas também mundial, com paragem obrigatória nos conflitos que mancham de negro as nossas notícias diárias mas que (à força de tanta imagem) criaram em nós uma certa insensibilidade.

Numa altura em que no nosso colégio nos empen-hamos na construção da diversidade tendo por base a identidade, o Dr. Fernando Nobre não esqueceu este desafio, mostrando-se muitas vezes preocupado com as gerações futuras, mas optimista, frisando que as gerações que estão para vir ainda têm hipótese de se salvar... basta que não caiamos na indiferença. E numa sociedade do “ter” deixou-nos o (seguinte) desafio de “SERMOS”...

pEdro viEira, 10ºE

(...)Acredito plenamente que o “ser” tem de se so-brepor ao “ter”. Sei que não é o sentimento dominante neste início de século, preocupado com a globalização essencialmente financeira e especulativa, pelo vírus da ganância que galopa na mente de certos yuppies e de certas “empresas”, por uma tecnologia que parece tudo explicar e dominar e por uma visão maniqueísta das re-lações humanas que pretende conduzir-nos para peri-gosos desvios militaristas, assim como para um choque de civilizações e religiões obsoleto porque retrógrado, sem cabimento e esperança e causador de tanto sofri-mento e morte. O terrorismo e o combate que lhe está a ser travado são epifenómenos que decorrem das con-tradições e efeitos negativos quando o “ter”, irreflecti-damente, tem a pretensão e ousadia de se sobrepor ao “ser”. A actual guerra contra o terrorismo está enferma de inutilidade e morte porque manifestamente inadequada e incompleta: só feita de tiros, torturas, prisões arbitrári-as e cárceres fora das normas jurídicas, humilhações e mortes não nos levará a parte nenhuma a não ser a mais terror: será uma espiral infernal para todos, mesmo para aqueles, os do “ter”, que pensam ter-se posto ao abrigo nos condomínios fechados ou outras torres de marfim... (...)

O “ter” é ilusão, é pura aparência, é efemeridade, é in-diferença, é intolerância, é enfermidade e solidão. O “ter”

não tem esperança porque se esgota nele próprio, ali-menta-se dele próprio exigindo sempre mais “ter”! Que saída para essa quadratura do círculo. Para esse não sen-so que alguns tentam erguerem novo paradigma quer-endo fazer-nos querer que é a única via para a resolução dos problemas da Humanidade? Só há uma: inversão de marcha em direcção ao “ser”. Não é fácil, espera-nos mui-ta frustração (tanto maior quanto menor “ser” houver...) e alguma satisfação sobretudo aquela de sabermos que, no mais íntimo do nosso ser, estamos no caminho certo, na única via para a criação da paz e da harmonia entre os seres humanos.

“Ser” é humanidade, consciência social, livre-arbítrio, liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade, cul-tura, preocupação ambiental, ecumenismo, tolerância, aceitação e preocupação do outro... Este é o meu pen-samento, a minha opção, o meu testamento. Não de um rato de sacristia, mas de um cirurgião que muitas vezes teve a vidas entre as mãos, de um operacional que percorreu o mundo e de um homem que sabe perfei-tamente como é a morte e que gostaria de a enfrentar olhos nos olhos com o mínimo de angústia e de medo. Só e apenas isso. Tentar “SER”.

E se tentássemos todos?FErnando José dE la viEtEr riBEiro noBrE

Editorial da revista AMI Noticias, nº 33, Outubro de 2004 e lido durante a conferência para docentes e não docentes, no CSCM – Lisboa escrito

Ajudar a crescer!No início deste ano lectivo, formou-se o Centro Jean Gailhac com o objectivo de, em colaboração com professores, antigos e actuais alunos, intervir de forma positiva em diversas áreas ou situações problemáticas da nossa sociedade.

Uma dessas áreas, que está a ser desenvolvida, é uma sala de estudo no Centro Social e Paroquial de Camarate, com o intuito de proporcionar às crianças do ATL um ambiente de estudo e aprendizagem a que muitas delas, de outro modo, não teriam acesso.

Todas as sextas-feiras um grupo formado por antigos alunos( Hugo Chaves, Filipa Sutre e Catarina Dias) e actuais alunos (Raquel Garcia, Filipa Costa e Inês Fraga) e o incansável Sr. Gonçalves reúne-se por volta das 15h50m para, na carrinha do Colégio, seguir para Camarate, onde as cri-anças nos esperam.

As actividades consistem sobretudo no apoio à resolução dos trabal-hos de casa, bem como na realização de outras actividades educativas, no entanto, também há tempo e espaço para momentos de descontracção com jogos e brincadeiras. Seria impossível terminar a semana de outra forma. Por vezes torna-se difícil mas é nessas alturas que sentimos que o nosso trabalho tem ainda mais valor.

Com a hora do regresso vêm os beijinhos e abraços e nessa altura torna-se visível que a nossa acção foi para além da aprendizagem académica... e ainda bem!

As nossas sextas-feiras são uma experiência para guardar, porque se revela construtiva para ambos os lados. Talvez não vejamos frutos de im-ediato, em termos escolares, mas nas palavras de Jean Gailhac tranquili-zamo-nos: Nós semeamos, plantamos, regamos mas só Deus dá o cresci-mento.

Não são só conhecimentos que transmitimos àquelas crianças mas so-bretudo o nosso afecto (que a algumas tanta falta faz), e nós, no fim de uma tarde exaustiva, regressamos sempre com a vontade de continuar a dar o nosso contributo para lhes proporcionar uma educação melhor. Há por aí alguém que se queira juntar a este desejo de Jean Gailhac de que todos tenham vida e vida em abundância?!...

Filipa sutrE E hugo ChavEs, Ex-alunos

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IRSCM: Semente que dá vida

No dia 24 de Fevereiro o Instituto das religiosas do sagra-

do Coração de Maria, celebrou mais um aniversário. Desta

feita foram 159 anos após a fundação, em Bézieres pelo Pa-

dre Jean Gailhac. Cá, nos nosso Colégio, o dia 25 foi dia de

Festa, com um tempo celebrativo e com os parabéns cantá-

mos a muitas vozes. A propósito, publicamos dois trabalhos

de alunos do secundário sobre o Instituto.

Parabéns ao ideal de Jean Gailhac que vamos mantendo

vivo, como uma semente que há muitos anos foi lançada à

terra e que continua a dar frutos.

4º Campeonato Nacional de Jogos Matemáticos

No passado dia 29 de Fevereiro realizou-se mais um Campeonato Nacional de Jogos Matemáticos, que contou com mais de mil participantes de cerca de trezentas escolas espalhadas por Portugal continental e ilhas. O Sagrado também marcou presença.

A aventura começou no dia anterior, onde onze alunos dos diversos ciclos do nosso colégio, junta-mente com cinco professores, iniciaram a aventura de cerca de 5 horas até à bela cidade de Braga. A dormida ocorreu num convento Franciscano, onde fomos mui-to bem recebidos e onde os nossos alunos dormiram com os sonhos de conquistas ao amanhecer.

Bem cedo nos levantámos, rapidamente nos deslocámos para a Universidade de Minho onde decorriam as provas. A animação aumentava con-forme se aproximava a hora do início da prova.

Começaram as provas... as emoções..., as alegri-as..., as tristezas..., vitórias e derrotas, o suor e as es-peranças existentes em quem participa em qualquer competição. Provas de companheirismo e de ajuda, tanto entre “adversários” como com os colegas do nosso colégio.

No final, houve vencedores e derrotados, mas a certeza de que todos eles são campeões e que todos ganharam histórias e experiências para contar. Con-victo de que só quem participa é que tem a possibili-dade de sonhar com a vitória.

Os parabéns a todos que participaram nesta aven-tura. Para o ano há mais!

MiguEl FErrEira, proF.

Prémios Conquistados1º LugarPontos e Quadrados - Gonçalo Ribeiro, 3º ano A1º Lugar Semáforo - Maria Cordeiro, 3º ano A2º Lugar Ouri - Ema Ferreira, 3º ano A

Vencemos em Braga!Nós somos o Gonçalo, a Maria e a Ema e fomos

os alunos seleccionados para ir representar o nosso Colégio ao Campeonato dos Jogos Matemáticos em Braga, na Universidade do Minho. A viagem foi longa e estávamos um pouco nervosos. Quando chegámos à Universidade tivemos de vestir uma camisola e colocar um fio de identificação. Depois tivemos de esperar que nos chamassem para irmos jogar. Ficamos admirados porque havia imensos par-ticipantes e do país inteiro. Éramos mil e cem!!! Da parte da manhã foram apurados os alunos que iam à final e nós fomos os três apurados. Da parte da tarde, jogámos com os melhores e conseguimos ganhar! O Gonçalo e a Maria receberam um computador portátil e a Ema recebeu um Ipod. Ficámos muito contentes, assim como o nosso Professor Miguel e os nossos Pais. Na segunda-feira, quando chegámos ao Colégio, todos nos deram os parabéns!

Adorámos esta experiência!gonçalo riBEiro, EMa FErrEira,

Maria CordEiro, 3º a

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O teu OlharObrigado aos que participaram. Desta vez, seleccionámos uma fotografia da educadora Ana Isabel Albertino. Que

tal?! Esperamos pelos vossos olhares. Enviem-nos para [email protected]

Cantar os Reis

Foi no dia 4 de Janeiro que o coro do nosso Colégio se reuniu em Fátima para o Concerto de Reis. Este encontro é, aliás, uma tradição anual em que os alunos dos Colégios de Nossa Senhora do Rosário e do Sagrado Coração de Maria se reúnem no Colégio de Nossa Senhora de Fátima. Apesar desta ex-periência ter sido já realizada em anos anteriores, a expectativa e a emoção nunca se esgotam, e, todos os anos, aprendemos algo de novo.

Partimos ainda de manhã. Chegá-mos a Fátima. “Para onde vamos pri-meiro, professor?” - é a pergunta recor-rente, assim que paramos. “Igreja da Santíssima Trindade!”. Para alguns esta igreja era já conhecida, mas para mui-tos só tinha sido vista “virtualmente”. Mas foi com interesse que todos entrá-mos. Vimos as várias esculturas e pintu-

ras e ainda visitámos outros pontos do Santuário de Fátima.

Antes de chegarmos ao Colégio al-moçámos. Colégio Nossa Senhora de Fátima. Sempre bem recebidos. Foi com gosto que reconhecemos aqui e ali caras de quem já participou neste encontro em anos anteriores e guardá-mos na memória outras caras. Cada colégio interpretou várias músicas, cujo tema primordial era o Natal.

Este concerto tem como principal objectivo a partilha, aliada à paixão co-mum daqueles que participam: cantar e tocar. Nele participam alunos desde o primeiro ciclo ao Secundário e tam-bém professores. É caso para dizer: “Há sempre música entre nós...”

sara João, 10ºB

OlharesNúMERO 17 | ANO 6 PROPRIEDADE: COLÉGIO DO SAGRADO CORAçÃO DE MARIA DE LISBOAAV. MANUEL DA MAIA, Nº 2, 1000 – 201 LISBOATEL. 21 8477575 | FAX. 21 8476435DIRECçÃO: MARGARIDA MARRUCHO MOTA AMADORCOORDENAçÃO CATARINA CARRILHO E LUÍS PEDRO DE SOUSAREDACçÃO: BáRBARA MONTEIRO, CATA-RINA GRILO, LEONOR CASTRO, MARTA BAPTISTA, MATEUS LEITE DE CAMPOS.APOIO GRáFICO: FERNANDO COELHOIMPRESSÃO:TIRAGEM: 1330 EXEMPLARESDISTRIBUIçÃO: GRATUITA à COMUNIDADE EDUCATIVA

Lançar redes no silêncioFoi no começo das férias de Natal que os alunos Sara João e Guilherme Borges Pires do 10º ano participaram no Retiro de Advento das Religiosas do Sagrado Coração de Maria que decorreu em Braga nos dias 14, 15 e 16 de Dezembro.

A experiência era diferente de todas as que tínhamos participado an-teriormente pois tratava-se de um retiro de silêncio. Quando entrámos no autocarro rumo a Braga as expectativas e os anseios eram grandes: sería-mos nós capazes de ficar calados durante três dias?

Inseridos na beleza do Solar da Torre e no espírito de reflexão individual ,debruçámos-nos sobre o tema “Lançar as Redes”, este desafio que Deus coloca nas nossas vidas mas que continuamente esquecemos. “Que tipo de redes lanço eu aos que me rodeiam?”, “Irão as nossas redes ao encontro da nossa relação com Deus?”, “Serão elas fortes ou rompem-se facilmente?” foram questões que nos invadiram durante aqueles dias.

No final o balanço era muito positivo mas tínhamos agora uma tarefa de grande responsabilidade em mãos: continuar a lançar as redes de Cris-to. As respostas que encontrámos tornaram-se guias de acção no nosso quotidiano e as dúvidas que nos surgiram fortificaram a nossa relação com Deus.

Quanto ao silêncio, não era preciso ter medo. Na verdade, percebemos que por vezes é necessário silenciarmo-nos para compreendermos qual o melhor rumo a dar à nossa vida.

guilhErME BorgEs pirEs 10ºE

Brevemente…Há Música no AR

Respondendo a uma necessidade natural nos jovens pela música e à sua tendência para novas tecnologias, sur-giu no nosso Colégio, no início deste ano lectivo, o Clube da Rádio. Resulta-do: a música começou a invadir os nos-sos corredores durante os intervalos! Fruto do trabalho entusiasmado dos membros do clube, de gostos musicais muito variados, a animação começou com música, com locutores e “Jingles” que ficarão na memória.

O Clube da Rádio passou a ser um espaço privilegiado, onde os alunos entram em contacto com os meios necessários para a produção de uma rádio, contactando com material téc-nico específico. Aprendem a lidar com música e assim desenvolvem a sensibi-lidade musical e o espírito crítico, para além de uma prática das suas capaci-dades comunicativas.

Em parceria com a Mega-FM, fare-mos deste espaço uma forma de animação do ambiente escolar, mas também um espaço de experiências de comunicação no seio da comuni-dade escolar. Continuaremos a evoluir graças à participação e empenho dos alunos... Em breve, vão começar as entrevistas, as notícias, os concursos e Tops musicais.

Já começámos pelo passatempo “Dá um nome à nossa rádio...” consulte http://moodle.cscm-lx.pt/ Clube da Rádio e surpreenda-nos!!!A música continua... A rádio está no ar!!!

nuno CoCharro, proF.

Associação de EstudantesA associação de estudantes tem o prazer de mais uma vez se dirigir aos leitores da revista Olhares e a todos os pais, alunos, professores e funcionários do C.S.C.M. de Lisboa.

Nesta edição da revista gostaríamos de transmitir as medidas tomadas até ao momento para proveito dos vários anos de escolaridade, dos professores e dos funcionários. Entre estas medidas estão: os descontos nos restaurantes mais fre-quentados pelo “pessoal” do colégio como o Petit café, restaurante Zero e o res-taurante vegetariano Bem-me-quer. Também foi realizado um torneio de futebol direccionado para o terceiro ciclo e secundário e um torneio de basquetebol para o segundo ciclo. Na semana seguinte ao Carnaval realizou-se uma festa de dia dos namorados.

Esperamos poder continuar um bom trabalho com a ajuda de todos. MatEus lEitE dE CaMpos – viCE - prEsidEntE

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