a carreira executiva e a força interior que nos guia

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A CARREIRA EXECUTIVA E A FORÇA INTERIOR QUE NOS GUIA 18 ARTIGO vice-presidente de Recursos Humanos da Nextel e diretor voluntário do Instituto Ser+ “As pessoas parecem estar sem um referencial maior e se questionam por que colocar o melhor do seu coração, da sua inteligência, da sua energia a serviço da organização.” ILUSTRAÇÃO: LOVATTO Costumo pensar que aquilo que nos move e forja o nosso caráter e os nossos valores é uma mescla entre a paixão e a crença. E isso nada tem de místico: é simplesmente muito difícil, atual- mente, penso, competir em um mercado extremamente cheio de dificuldades, barreiras, entraves e bons competidores sem paixão. É óbvio que não dá para minimizar, sob nenhum pretexto, a importância da estratégia e de uma boa gestão econômico-financeira. Mas dados os desafios que estão sendo colocados no sécu- lo XXI, vejo uma crise muito grande de valores e propósitos. As pessoas parecem estar sem um referencial maior e se questionam por que colocar o melhor do seu coração, da sua inteligência, da sua energia a serviço da organização. Diariamente, as pessoas são bombardeadas por um grande número de notícias ruins, difusas, que afetam a esperança de uma vida melhor, que derrubam o estado de motivação; há várias crises éticas manchando a reputação de grandes empresas, e isso mexe com o moral e a crença das pes- soas de que é possível vencer executando um trabalho honesto. Mas quem quer abraçar uma car- reira executiva com seriedade deve driblar isso, pois o impacto que esses profissionais terão na formação das próximas gerações é enorme. É quase um exercício de fé nos valores, na crença de que é possível persistir em prol de uma causa relevante, maior. Tomando o cuidado para não con- fundir esse tópico com religião, pois de forma alguma tenho essa intenção, devo dizer que acredi- to que a fé pode nos ajudar a superar vários limites. Há uma força interior, independentemente de classificações, que nos move. E ela nos ajuda a perseguir uma causa justa, realizar um trabalho socialmente relevante. É claro que é preciso estar atento para as “distrações” ao longo do caminho. Falo do ego e das “máscaras” que adotamos para jogar o jogo do poder. Tenho percebido na minha experiência como executivo, as empresas cada vez mais demonstrando sinais de que estão doentes. Sempre com o devido cuidado da não generalização, pois seria inapropriado de minha parte, tenho co- nhecido, entretanto, algumas empresas, as quais parecem operar negócios que, para gerar riqueza, estão tratando as pessoas como se fossem recursos descartáveis. Não é normal e isso, a meu ver, coloca em xeque a viabilidade desse tipo de negócio. Há aí um apelo hedonista que dá vazão a questões superficiais, achando que o consumismo é a resposta para tudo. Mas o vazio é existen- cial, falta de um propósito maior a inspirar o melhor das pessoas. É preciso humildade e resiliência para enxergar o que precisamos para nutrir essa força inte- rior. Aqui, geralmente, a busca pelo autoconhecimento se faz notar quase de maneira natural. Quanto mais nos abrirmos ao processo de autoconhecimento, honrando as origens, a família, as tradições, os antepassados, a ética, o trabalho sério, a educação, o respeito pelo ser humano e por todos os seres vivos, melhor. Acredito que a espiritualidade será cada vez mais uma disciplina a ser discutida nas empresas modernas, pois quando nos livramos de preconceitos e paradigmas ultrapassados, temos mais chances de desenvolver organizações mais humanizadas e competiti- vas, em sintonia com as demandas de um novo tempo que já nos faz perceber a necessidade de novos modelos de empreendimentos e de novos referenciais. E essa força é poderosa o suficiente para captar o melhor das pessoas, conectando-as em prol de uma boa causa.

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A CARREIRA EXECUTIVA E A FORÇA INTERIORQUE NOS GUIA

18

A R T I G O

vice-presidente de Recursos Humanos da Nextel e diretor voluntário do Instituto Ser+

“As pessoas parecemestar sem um

referencial maiore se questionam

por que colocar omelhor do seu

coração, da suainteligência, da

sua energia aserviço da

organização.”

ILU

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ÃO

: LO

VA

TTO

Costumo pensar que aquilo que nos move e forja o nosso caráter e os nossos valores é uma

mescla entre a paixão e a crença. E isso nada tem de místico: é simplesmente muito difícil, atual-

mente, penso, competir em um mercado extremamente cheio de dificuldades, barreiras, entraves

e bons competidores sem paixão.

É óbvio que não dá para minimizar, sob nenhum pretexto, a importância da estratégia e de

uma boa gestão econômico-financeira. Mas dados os desafios que estão sendo colocados no sécu-

lo XXI, vejo uma crise muito grande de valores e propósitos. As pessoas parecem estar sem um

referencial maior e se questionam por que colocar o melhor do seu coração, da sua inteligência, da

sua energia a serviço da organização.

Diariamente, as pessoas são bombardeadas por um grande número de notícias ruins, difusas,

que afetam a esperança de uma vida melhor, que derrubam o estado de motivação; há várias crises

éticas manchando a reputação de grandes empresas, e isso mexe com o moral e a crença das pes-

soas de que é possível vencer executando um trabalho honesto. Mas quem quer abraçar uma car-

reira executiva com seriedade deve driblar isso, pois o impacto que esses profissionais terão na

formação das próximas gerações é enorme. É quase um exercício de fé nos valores, na crença de

que é possível persistir em prol de uma causa relevante, maior. Tomando o cuidado para não con-

fundir esse tópico com religião, pois de forma alguma tenho essa intenção, devo dizer que acredi-

to que a fé pode nos ajudar a superar vários limites. Há uma força interior, independentemente de

classificações, que nos move. E ela nos ajuda a perseguir uma causa justa, realizar um trabalho

socialmente relevante.

É claro que é preciso estar atento para as “distrações” ao longo do caminho. Falo do ego e das

“máscaras” que adotamos para jogar o jogo do poder. Tenho percebido na minha experiência

como executivo, as empresas cada vez mais demonstrando sinais de que estão doentes. Sempre

com o devido cuidado da não generalização, pois seria inapropriado de minha parte, tenho co -

nhecido, entretanto, algumas empresas, as quais parecem operar negócios que, para gerar riqueza,

estão tratando as pessoas como se fossem recursos descartáveis. Não é normal e isso, a meu ver,

coloca em xeque a viabilidade desse tipo de negócio. Há aí um apelo hedonista que dá vazão a

questões superficiais, achando que o consumismo é a resposta para tudo. Mas o vazio é existen-

cial, falta de um propósito maior a inspirar o melhor das pessoas.

É preciso humildade e resiliência para enxergar o que precisamos para nutrir essa força inte -

rior. Aqui, geralmente, a busca pelo autoconhecimento se faz notar quase de maneira natural.

Quanto mais nos abrirmos ao processo de autoconhecimento, honrando as origens, a família, as

tradições, os antepassados, a ética, o trabalho sério, a educação, o respeito pelo ser humano e por

todos os seres vivos, melhor. Acredito que a espiritualidade será cada vez mais uma disciplina a

ser discutida nas empresas modernas, pois quando nos livramos de preconceitos e paradigmas

ultrapassados, temos mais chances de desenvolver organizações mais humanizadas e competiti-

vas, em sintonia com as demandas de um novo tempo que já nos faz perceber a necessidade de

novos modelos de empreendimentos e de novos referenciais. E essa força é poderosa o suficiente

para captar o melhor das pessoas, conectando-as em prol de uma boa causa.