a caixa de cimento

Upload: kk42b

Post on 04-Jun-2018

222 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    1/58

    A CAIXA DE CIMENTOA CAIXA DE CIMENTO

    CARLOS HENRIQUE DE ESCOBAR

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    2/58

    PERSONAGENSPERSONAGENSMe e seus quatro filhos. A me uma mulher de 40 anos, sempre decidida e em movimento. Ela stem um brao. s filhos so! ". um rapa# de $% anos. Ele o mais forte e para ele parecem se diri&iras prefer'ncias da me. (. uma menina de $) anos, min&uada, fr*&il, semiprostitu+da, leva sempreum pandeiro. . um menino de $4 anos, esperto, moleque. -. de idade indefinida $/ anos eaparentando al&uma debilidade mental. As ve#es parece ser um homem de meia1idade.

    A&indo como outros persona&ens, e como coro, estaro presentes 2 cena tr's atores. Estes atorespreparam as cenas e a passa&em entre as cenas. odem vestir um capu# para fa#er este trabalho.Estes tr's atores fa#em sempre e so, como coro representantes da lei e da cidade.

    3rata1se de uma pequena fam+lia nmade numa &rande cidade 5 fa#endo o que pode para sobre1viver. A me canta, assim como a filha, mas todos trabalham lavando e varrendo.As letras "., ., (. e -., desi&nativas dos filhos, podem ser mantidas ou substitu+das por nomes in1ventados na encenao. Al&uns mutilados na cena da dele&acia.

    6eve1se observar que nas cenas onde a cidade se manifesta atravs de suas autoridades o fundo mu1

    sical sempre uma pea de (ohann ". 7ach. As can8es da me e de (. oscilam entre um toma&ressivo e melanclico.

    clima de uma cidade sob ri&oroso controle e represso! a fam+lia indica toda uma populaomar&inal e punida. 9este quadro, a punio por mutilao e o supliciamento indicam o comporta1mento do poder. 9o se trata de um pa+s particular, nem de uma cidade determinada. lu&ar universal e estili#ado.

    CENA 1CENA 1(A FAMLIA SE APROXIMANDO. TRAZEM UM CARRO DE MO COM OBJETOS E

    JORNAIS VELHOS. DE INCIO OUVE-SE NO PALCO VAZIO UMA RISADA DE TODOSELES, AINDA AUSENTES. O PRIMEIRO A ENTRAR P. ELE SURGE FAZENDOPALHAADAS. A PARECE VESTINDO UM GRANDE E RIDCULO PALET MILITAR,DANDO CAMBALHOTAS E IMITANDO UM MILITAR. EM SEGUIDA APARECEM OSOUTROS. AMANHECE.!

    P.9o disse: ;ualquer um pode deiam. (*no sou . filho da puta, sou um &eneral. (Entram os outros) "ei mandar, sei dar ordens, sei apontaros inimi&os. E tambm sei combater (faz macaquices. S. coloca um capacete nazista em P. J. tiraum pedao de po do bolso e d um pedao a R. Todos se acomodam) que querem que eu faa:

    osso destruir todos os edif+cios. osso quebrar todas as >anelas para que todos os moradores destapraa apaream nelas e venham me olhar. 6uvida: ? pouco: (Ri) osso arrebentar o cho, partir oar... posso matar (uma certa surpresa de todos com esta ltima afirmao). Eu disse @matar:MAE(!utoritria) Bhe&a. Andamos duas ve#es a cidade inteira. =e>am meus ps. Esto em carne viva.6escanse, . Bhe&a de histrias. ("epois)9o se esqueam nunca. mundo &rande e somos obri1&ados a andar em voltas como se a cidade fosse fechada. (Pausa) lhem. sol est* che&ando. Est*amanhecendo e a praa inteira parece se desembrulhando do escuro.J. sol r*pido, me. (* est* bem perto e vai passar por ns.S.

    6o outro lado a cidade >* est* toda iluminada. Aposto que na casa do &rande chefe >* dia alto. "eestivssemos sobre um edif+cio ver+amos tudoCR.

    D

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    3/58

    Me, (. disse que o sol r*pido. (!o lon#e um rufar de tambores.)MAE verdade. 3o r*pido que >* est* atr*s de ns. (!ssustada) ;ue praa esta: ($otam a#ora que no

    fundo da praa e%iste um #rande pano com uma esp&cie de cruz sustica. ' um temor #eral.)(Er#uendose) nde fomos pararC (* andei por estes lu&ares. Estamos na praa das arre&imenta8essociais. Aposto que estamos. Fevantem1se.

    P.(Saindo correndo) =amos embora.S.=amos, me.MAE? tarde. ( coro a*ana em direo a eles.) nde os tambores tocam sempre eam s quem pescamos ho>e. u ser* que todos, mas todos desta cidade,esqueceram que estamos em &uerra: esta a tua chance velha me cantora1pastora desses filhosv*rios e outros que viro. esta a tua chance de en&a>ar tantas mos e braos no trabalho social e

    no trato. (+ordiais) =amos, confesse, este tambm o teu dese>o:MAE

    9o. E repito! noC 9o a primeira ve# que nos encontramos, lo&o no preciso contar a mesmahistria. Bonheo as tuas &uerras. 9o levaro os meus filhos como me levaram um dos braos.Eles so a minha alma. Me deia menos que um brao. E no che&uei a mord'1la. Mas no isso que interessa a&ora. sol >* comea a ficar alto e precisamos trabalhar. =amos embora. (,m tra*esti- com os braoser#uidos- impede que ela se apro%ime do carro de mo e o militar saca de sua arma)TRAVESTI6essa ve# ter* que nos dar al&uma coisa. um dever. Hm dever de todo cidado servir a sua ci1dade.MAE6iabo. Meus filhos no so carne de canho. 9em soldados, nem oper*rios, nem nada. (acilando)=oc's sairiam perdendo. ra, ora, se>amos sensatos. Eles no so como os outros rapa#es. (Para os

    fil/os) Mostrem os dentes para eles. (Todos os fil/os obedecem e s0 o tra*esti parece interessado)CIVIL

    poss+vel minha senhora. Estou at lhe dando f, pois sou um homem de formao reli&iosa, masno queremos todos. (!pontando) ;ueremos apenas o maior. Ele >* pode se alistar e o sal*rio no mau. (s do coro se mostram interessados por S.)MAE

    9o. Ele o meu brao que falta.TRAVESTIEle >* um homem. (* pode responder por si.CIVILense um pouco minha senhora. edimos um e no dois.MILITAR(Para S.) que voc' acha rapa#: ".parece indeciso) lhem para ele. &rande.

    TRAVESTIEu diria que forte como os soldados do primeiro re&imento.CIVIL

    )

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    4/58

    A senhora poder* se or&ulhar dele. um cavalo de homem ". se en*aidece) e levar* dinheiro emantimentos para casa.MAE(1irme)9o.S.Me, eu acho que..

    MAE(+ortando)Eu disse que no. Bale a boca.TRAVESTI (Sem li#ar)=oc' tem ra#o, um belo rapa#. Eu o poria na primeira linha de frente.MILITAR"eria uma maneira de prov*1lo. Mas antes tem que se e

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    5/58

    mas amanh o sol retornar*ao seu passeio habitualcom ps lar&os e claros sobre as Kpedras

    E isso foi nos tr's primeiros >aneiros

    em que pens*vamos o mundocom o tempo se dispersando em Ksonhos

    Mas o inimi&o venceu e mudamosApenas o corao ainda bate 5 esteKIltimo se&redoe no dei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    6/58

    S.6epois ela te devolve. (Para J.) *ra de chorar. ("epois) Empresta para ela, . Eu fico vi&iando

    para que ela no perca.MAEEla est* doente, . " por um pouco. " por um dia.P.

    Est* bem. " por um dia. (5rita) " por um diaCCOROh, ns conhecemos.Meia cidade de oper*rios e de soldadose outra metade de mar&inais.E outra ve# os traquinas, os bobos, os envene1 Knadores de *&ua.utra ve# os incestuosos, os tolos.6inamitadores ocupam por do#e horaso ministrio da construo civil.Autoridades atentas.

    $ de outubro, filho Inico suicidou1seno vaivm do coito parental.=elho sem pau enfiou na meninaa carteira de identidade.Autoridades atentas.E fica decretado outra ve#o mesmo decreto do passado e do futuro!toda violao e

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    7/58

    HOMEM DE UMA PERNA S7ebeto.MULHER DO PESCOO QUEBRADO6isseram por a+ que um tal Jildebrando, homem sem os dois ps, conse&uiu l* uma autori#ao pa1ra ir olhar no Museu dos Membros os seus dois ps que estavam numa caiunto com o mi>o saiu uma pirOmide. (3ostrando) Hma pequena pirOmide. Bomi&o, na verdade,tudo no passou de uma brincadeira.HOMEM SEM OS DOIS BRAOS"e eu fosse a senhora no ficava di#endo isso por a+. 3em &ente deles at entre ns e eles no so de

    brincadeiras. lhe para mim, madame. (Sil7ncio)MULHER DO PESCOO QUEBRADO senhor quer contar sua histria:JMEM "EM 6L" 7-AP"Bortaram1me um brao, depois cortaram o outro. Mas 2s ve#es esqueo e parece que eles estoaqui. Eu ima&ino, fico ima&inando. Mas no di&o para nin&um seno eles podem saber e seirritarem e ento me cortarem a cabea. motivo: Eles sempre t'm motivos, mas >* nem melembro qual foi. "e isso uma histria.

    HOMEM DE UMA PERNA S7rao cortado roubo. ( soldado- trazendo uma mesin/a com uma cadeira- e o oficial- compap&is- *o entrando.) Qaranto que .

    OFICIAL"il'ncio. ? proibido falar. s punidos que certamente no so nem trabalhadores, nem da cor1

    porao militar, devem se abster de comentar o espet*culo de que tiveram a sorte ou o a#ar departicipar. Fembrem1se disso. ( soldado e o oficial preparam os pap&is sobre a mesin/a)HOMEM DE UMA PERNA S(Para a mul/er de pescoo quebrado)Ele disse oMULHER DO PESCOO QUEBRADO

    ? como eles chamam.HOMEM SEM OS DOIS BRAOSMelhor seria di#er @inferno. Mas isso somos nos que di#emos.

    %

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    8/58

    OFICIALBonte os presentes, soldado. Jo>e, pelo >eito, falta muita &ente. 9o estou vendo muitas caras co1nhecidas.JMEM 6E HMA E-9A s"ou novo aqui.. capito. Estou me apresentando porque resolveram me mandar pra estes lados.OFICIAL

    Bapito no, tenente. E cale a boca.SOLDADO(bser*ando os presentes)Acho que faltam o homem da roda e o ne&roOFICIALJomem da roda: que & isso: =oc' disse @homem da roda:SOLDADO6isse.MULHER DO PESCOO QUEBRADO?, da roda. 6ele tiraram tudo menos o torso, que a sua me ps dentro de uma cOmara de pneu, e eleroda pela cidade Acho que ele vir* Ele sempre vem 6eve ser o trOnsitoOFICIAL

    Esse eu quero ver. (l/ando o rel0#io) 3emos cinco minutos de tolerOncia E o tal ne&ro, soldado:=ale a pena esperar:SOLDADOEsse s veio uma ve#. Acho que est* sendo procurado. (8embrando) Espere, tenente. Acho que acantora maneta tambm no est* Ento so tr's.MULHER SEM ORELHASA cantora no veio.

    HOMEM DE UMA PERNA S"e tivesse vindo os filhos dela estariam aquiMAE(Rindo- ela *ai er#uendo a cabea sem nen/uma pressa)Estou aqui, imbecis Mas aproveito para dormir. E voc's, aproveitam para qu': (Er#uida) "empreaproveito para dormir quando me obri&am a fa#er al&uma coisa que no quero. Estou aqui desdeque esta porta se abriu, mas no havia nin&um. (!pontando o soldado e o oficial)9em mesmoeles. "e eu fosse um pouco canalha, e na solido em que fiquei, eu poderia at ter me sentido donade tudo isso 6ona dos membros cortados pelo Estado de todas as putas, ladras, os vadios e bandidosdo mundo. (3ostrando rouco caso) Mas me falta >eito.OFICIAL7asta a&ora. 9o pretendo passar toda a manh aqui. (Sentandose) =amos comear (sentase)."ente1se (a me sentase).MAE(Reer#uendose)

    9em eu pretendo ficar a manh toda aqui.OFICIAL"oldado, onde est* a lista: ( soldado se apro%ima)MAE"ou a primeira da lista. Me chamem e farei o que sempre fao! um R ao lado do meu nome. Masantes me ouam. Jo>e no vim aqui somente para isso. =im tambm fa#er um pedido.OFICIAL;ue pedido: "er* o primeiro pedido que al&um >* ousou fa#er neste recinto.MAErimeiro ou Iltimo, pouco me importa. " sei que estou fa#endo um pedido e pronto. ;uero umaautori#ao destas que so dadas aos oper*rios e aos soldados para visitarem o Museu dos

    Membros. Eles se divertem olhando aquilo que o Estado nos arrancou, mas eu quero ir l* conferir.(Tirando a manta e dei%ando *er que s0 tem um brao) "onhei que o meu brao arrancado eramenor do que esse. (Risin/os dos mutilados) ? um direito que me cabe. ;uero ver o que meu.

    S

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    9/58

    ;uero ver se ainda est* l*, se no apodreceu, se os ratos no comeram...HOMEM DE UMA PERNA SEu tambm quero ir ver minha perna. 9o me pa&am nada por ela, mas cobram entrada dos que vov'1laMULHER SEM ORELHASEu tambm quero ir. 3enho visto tantas orelhas, depois disso, e no me lembro se as minhas eram

    redondas, altas ou...

    HOMEM SEM OS DOIS BRAOSEu tambm e com mais ra#o Bomi&o houve um en&ano e no tenho nenhum dos braos. 3alve# medevolvam.OFICIAL(Er#uendose) que isso: Hm levante: "abem o que isso pode si&nificar: 9o se faam de idiotas, voc's sovelhos conhecidos de toda a cidade. 9in&um vai ao museu sem autori#ao e aquilo l* um &randee $"E E8E"EPE$",R! S 6;+'S ?,E 3!T!.)

    R.(3onolo#a)Ginalmente. "empre demoro e sempre estou cansado quando che&o aqui. =im com montanhas desol sobre mim, mas o sol no inverno se deio&o que vai da mosca ao homem, uma provocao e 2s ve#es quer se tornaruma festa, mas eu no dei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    10/58

    costurador de malhas, e devesse voltar sempre aqui. ("epois) Mas um dia tambm pe&o o bicho1tudo, &rande bicho1pai, repleto de cidades, que anda a terra. Bom estas duas orelhas ouvindo omundo e com este meu p'lo eiustado como uma alma nas minhas mos sem que "., (. ou . estivessem ali e dissessem UUno faaissoNN ou UUfaa issoV ou UUpor 6eus -., no mate o bichinho.

    CENA 4CENA 4(UM VELHO E MISER&VEL GALPO. UM GRANDE PAINEL COM MENDIGOS

    RETRATADOS. BARULHO DE GENTE CORRENDO E DEPOIS VOZ DE MICRO FONENAS RUAS. A MAE E OS FILHOS. MAIS TARDE, UM VELHO ENTRA ESBAFORIDO. ELETEM UM OLHO VENDADO. S. EST& SEM A CAMISA. A MAE EST& ESTENDENDO

    ALGUNS PANOS, #UE TIRA DE UM SACO. DEPOIS VOLTA A COLOC&-LOS NASACOLA. J. A AJUDA NESTE TRABALHO. R. EST& DEITADO NUM BANCO E P.OBSERVA S., #UE SE ESFORA POR ERGUER UM PEDAO DE CONCRETO. A CENA

    COMEA COM A VOZ EM OFF #UE OS FILHOS E A MAE OUVEM IMVEIS. DOISHOMENS ESTO PREGANDO MADEIRA NAS JANELAS.!

    VO DO MICROFONEAteno, atenoCCC Moradores dos bairros do FesteC (+arromicrofone passando) 6esordeiroentrou em vossa re&io depois de depredar a est*tua da >ustia na praa dos &randes cru#amentos. Aa&itao tra# &randes males e fruto de uma incompreenso edimos a colaborao de todos. Lden1tificado o malfeitor, as autoridades devem ser informadas. Al, atenoC Estamos a&ora recebendochamado das ruas % e S 6esordeiros cortaram os fios que permitem comunicao destas ruas com ocentro de controle. -epetimosC (oz se distanciando) A a&itao tra# &randes males e fruto daincompreenso Ldentificados os malfeitores pela populao, as autoridades devem ser informadas.Ateno, atenoC edimos a todos.. (3sica de 6ac/)MAEGiquem calmos, no com a &ente. Estamos aqui e ficaremos aqui. J* &randes chuvas e h* &randesinc'ndios mas no fomos atin&idos. (s /omens batem a madeira)S.Me, eu quase consi&o levantar este concreto. (E%ibindose) =e>a. lha os meus braos. Eu souforte,me..Eu tambm vou ficar assim. =oc' tem quatro anos a mais do que eu.MAE

    ". sempre foi bonito e forte. (E%ibindose) =e>a.MAEEstou vendo Hm dia voc' (diri#indose a P.) J e - sero como ele.J.- est* com febre, meMAE("epois)-. sempre est* com febre. . venha aqui. Eu conheo este bairro. =ai at a primeira rua, descendosempre. 6ois quarteir8es 2 frente tem uma &rande padaria 6i# que voc' o meu filho e quequeremos po. =' se no demora. (?uando P. *ai saindo- cruza com um *el/o que entraesbaforido. P. fica parado. *el/o traz uma pequena trou%a e no in@cio procura dissimular sua

    preocupao.)VELHOra s... "empre nos encontramos. A cantora maneta em nosso &alpo. s miser*veis deste lado da

    $0

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    11/58

    cidade te saIdam. (1az uma re*er7ncia. Ele parece meio alcoolizado.)MAE(Para P.) =* lo&oC (P. sai ol/ando o *el/o.) (* sei que no vou me demorar aqui.S.Eu vou >unto, me. (S. tamb&m sai.)MAE(Para o *el/o)

    Ento voc':VELHOEu o qu':MAE=oc' quem eles esto procurando. or que estariam procurando um velho srdido: Ah, >* sei.VELHO(* sabe: E da+: Eles t'm motivos. ("epois) Eles me se&uiram. 3ive que correr. (Euf0rico) Borri,saltei, eles estiveram perto, mas no me alcanaram. (Em cima)9o foi f*cil. Jo>e sim, ho>e foi pravaler. (1eliz) Goi uma loucuraC (Tirando um martelo do palet0) ;uebrei os vidros da fonte eche&uei at a est*tua. "e me deiurado que iria entrar no Museu dos Membros e recuperar este meu olho.

    Merda, acho que tinha um punhado de soldados por l*. ("epois) Acho que no adiantaria. "ei l*.("epois- apreensi*o) Eles estiveram aqui: assaram por perto pelo menos: -esponda, velhades&raadaC ;uanto tempo ainda tenho: 9o che&aram a ver meu rosto. Bhe&aram:MAEer&unte para os outros. Aqui dorme tanta &ente. =oc' conhece a re&ra. 9in&um viu, nem ouviunada. ("epois) Mas eles viro. "e prepare, velho b'bado. 6essa ve# voc' foi muito lon&e. (Para J.)Acho que >* no tenho pressa. Al&uma coisa vai acontecer por aqui. 9o , (.:J.

    9o sei me.VELHO;ue venham. Estou pronto. (irritado) "ou um b'bado, voc' disse que sou um b'bado. ? verdade."empre fui. Mas nunca um b'bado teve tanta cora&em, nunca. Lsso pelo menos verdade. ("e')*!(* no quero mais nada, o *el/o fin#e danar) Estou bem, ve>a como estou bem.MAE? voc' quem di# isso: arece at que tem muitoa perder. ("epois) are com isso. Me fa# mal. (*el/o pra. "epois) "omos diferentes Eu tenhomeus filhos, eu quero viverCVELHOEu tambm quero viver. ua, eu no contei pra nin&um. Mas em voc' eu confio. (3edroso) Eufao como toda &ente. 9o, como toda &ente noC Mas como pessoas assim como ns. essoas que

    esto paradas. Eu saboto "abe o que isso:(BATIDAS DE MARTELO PREGANDO MADEIRAS NAS JANELAS!MAE(* ouvi falar.VELHOAcho que dessa ve# fui lon&e demais. Futei com dois deles que me a&arraram. Acho que desta ve#me matam.. J* vinte anos que sabotoMAE=oc' est* combinado ento: =oc' e os outros:VELHO"ei l* que isso de combinado: Hma ve# um >ovem a>oelhou1se no cho e per&untou! @=oc' est*

    b'bado: E eu respondi! @9o. 6urmo nas ruas, e isso tudo. Estava mentindo. Ento, e sentouao meu lado e contou que eles so milhares. 9o trabalham, no obedecem, e 2s ve#es... (ol/andoem torno)

    $$

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    12/58

    MAEAs ve#es:VELHOAs ve#es vo lon&e demais Bomo eu, ho>e. 7asta que faamos al&uma coisa, 2s ve#esW nem sempre.Mas ho>e no sei o que me deu na cabea.

    MAEEu sei o que voc' quer di#er. =i uma &rande manifestao de ce&os. =i outras, tambmC s mu1tilados das mar&ens do rio dos Bardumes Ma&ros que foram envenenados pelas f*bricas. "uas l+n1&uas ca+am podres E o que eles conse&uiram: Eles todos: =i tambm as forcas onde todos elesforam dependurados aos milhares =oc' foi en&anado 9s somos apenas pobres =a&abundos, sevoc' quiser.VELHOEu: 9unca estive em manifesta8es. ("epois) 7ebi demais. Estou falando, por falar.MAEEu sabia. A&ora voc' ne&a tudo Afinal, voc' dos que di#em no, ou dos outros: Bora&em, velho.Hm pouco de cora&em. ois eu lhe di&o. Eu sou daqueles que di#em no E nin&um me mandou

    di#er isso. 6i&o porque di&o e porque no h* mais nenhuma palavra no mundoVELHO=oc' das que sabem tudo, hein: Me di&a a&ora, o que eu vou fa#er: Eu fi#, entende: que devodi#er para eles: ;uando eles che&arem o que devo di#er para eles:MAE=oc': 9ada.VELHOE se eles me per&untarem: E se eles me pe&am:MAEAcho que >* te pe&aram. ? tardeC =oc' che&ou at o corao deles. Aquela m+sera est*tua das leis,no centro da cidade. A&ora voc' deve esperar. A&uce os ouvidos, palerma (ri)VELHO(+/eio de medo)Eles >* esto aquiC =oc' est* querendo di#er que eles >* esto aqui:MAEuaC ( *el/o procura ou*ir.) Gaa um esforo.(s membros do coro martelam as tra*es nas 4anelas)MAE3eus ouvidos >* no ouvem. Meus filhos ouvem. =enha aqui. =e>aC (;ndo para uma pro**el 4anela) lhe para eles (J. e R. esto atentos)VELHO(;ndo ol/ar)

    9o ve>o nada.

    MAE3eus olhos tambm no v'em. =oc' uma carcaa va#ia. (oltando) "e eles soubessem que voc'no ouve nem v', talve# nem te matassem. (;ndo arrumar suas coisas)9o posso perder tempo.3enho que arrumar as minhas coisas. (* vi que se continuar aqui voc' vai chorar no meu colo, velhosrdidoC (Para os fil/os) "e apressem. =amos dei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    13/58

    (bebe outra *ez). "im, bom que todos saibam. (Ri)9o a primeira ve# que fao uma coisadessas. "ou homem, sou muito homem. (s marteladores se tornam policiais.5$um outro tom)J* al&um tempo, quando ainda minhas pernas a>udavam, atravessei o muro da casa mais central. F*onde mora o &rande chefe distrital. "abe o que eu vi: =i a mulher dele. (Ri) "im, a mulher do&rande chefe, nua, nua#inha. (uro. ;ue bunda, que peitosC (s /omens colocam capuz) Hm

    punhado de p'los ruivos entre as pernas. ;ue miser*vel como eu pode olhar tal coisa nesta cidade:

    HOMEM 1E o que mais voc' viu, filho da puta: GalaC Fevaremos todas as tuas partes para o museu.VELHO(!#ora s0brio) =i essa mulher nua. erfeitaC arecia o centro de tudo. 6epois, ali, eu me masturbei.(l/ando em torno) "e houvesse tempo eu me masturbava a&ora outra ve#. (uro que memasturbava.OS HOMENS(Jo#andose em cima dele)Gilho da putaCCORO(?ue so os dois /omens que se deslocaram da 4anela);ue tempos so estes em que uma mulher tem que suportar os olhos de um velho srdido no meiode suas pernas:

    (M+*) / B0!

    CENA !CENA !(! me e seus quatro fil/os- de frente para os tr7s /omens de ne#0cios. terceiro faz um tipo mais*el/o que os outros. s /omens t7m *ozes artificiais. o entrando os tr7s /omens- lentamente- e

    sentandose nas tr7s cadeiras. 3sica de 6ac/ permanece. ,m deles faz sinal para a me e amsica cessa.)

    MAE=iemos at voc's porque estamos com fome. Ga# vinte anos que ando e cru#o todos os bairros destacidade (* no sou a mesma mulher do comeo. Mas se uma coisa eu aprendi a conhecer, a cidadee os homens que moram nela Meus filhos cresceram e o pa+s passa por uma crise. Lsso o que todosdi#em uvi di#er que os seus ne&cios vo. mal s meus tambm vo malHOMEM DE NEGCIOS 1"omos apenas os representantes dos homens de ne&cio desta parte da cidade. 9o a mais prs1

    pera. ;uanto a mim, tenho al&umas lo>as. bem verdade que os nossos ne&cios no vo bem.HOMEM 3(oz es#aniada)Ah, a pobre cantora das nossas ruas. (5a#ue4a)9osso rouud*1la. 6eve sobrar al&uma coisa em nossos bolsos e...MAEuam ;uanto ao meu brao verdade "e roubei ou dei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    14/58

    cidade me ensinou a ter um olho piscado e a doer. Mas tudo se eqXivale. ra, isso no d* dinheiro. que sei fa#er cantar, mas estou pronta a fa#er qualquer trabalhoHOMEM 3 que ela quer: uo mal ou ento no estou entendendo. elo que ainda ouo, trata1se de uma vo#firme..HOMEM 1

    (ustamente, uma vo# firme. (!lto para o 'omem A) senhor ainda ouve bem. E uma mulher, masno qualquer mulher. ara pior ou para melhor. ouco importa. "uas palavras so sensatas. 9otemos porque nos importar com o passado, se>a l* de quem. Essa mulher procura um trabalho quan1do centenas de outros abandonam seus trabalhos. ? um eamos... 3enho que pensar. 9o posso decidir a&ora. Amanh,depois, quem sabe.HOMEM 2;uanto a mim, no sei. "ou o mais pobre aqui e se fao parte desta comisso re&ional de homens dene&cio mais pelas comendas que recebi do que pelos meus bens. Mas como sou um homem de

    respeito e como dei mostras de conhecer esta pobre fam+lia, su&iro! rimeiro.. (msica de 6ac/.Todos ficam a#itados- menos R.- J. e a me. l/ando o rel0#io de bolso) A esta hora:S.Me, so os dois bonecos. =ou ver. 6eiudar*: Est* ouvindo: senhor a>udar* a &ente:HOMEM 3Mas em troca de qu': que voc's t'm para mim:MAE(Para J.- que obedece)Mostre a ele. (J. le*anta sua saia)HOMEM 3(Entusiasmado)h, meu 6eusC Este um bom ne&cio. Eu sou um velho. Mas quanto, quanto custa:MAEHma semana de carne e verduras.

    HOMEM 3Mais altoC 9o ouoCMAE

    $4

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    15/58

    Hma semana de carne e verdurasCCORO

    Enquanto arruma a cena5 msica de 6ac/)@Lsso que .

    9a &rande cidade o que se move, se move comri&or.

    6e dia o sol caminha apertado entre os edif+cios,mas a noite che&a e as vitrinas brilhamcom mais fora que as estrelas.Lsso que .s que se movem em ordem sobrevivem.s outros so recolhidos 2s lie dormiremos nos nichosdaquele monumento perto do mar. 9o voltaremos ao &alpo. J* sempre &ente demais l* nasteras1feiras e depois estavam vedando as >anelas. Hm dia saberemos porqu'.

    $

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    16/58

    P.Me, a caio o brilho. Atr*s do

    vidro a cidade parece fu&ir como um lobo. ("epois) Lsso eu &osto de fa#er. ? f*cil.P.Ja>a saboC lhe que eles deram seis pedaos. 9o muito.MAE? suficiente. Qastamos cinco e levo um comi&o. Favar uma &rande >anela melhor do que lavarmictrios. E fa#emos tudo r*pido. "omos cinco.P."omos quatro, me. -. no trabalha.MAE-. est* doente.R.

    que doente, me: (Sil7ncio) eu estou bem.S.Eu trabalho por ele.J.Eu tambm. ntem ele estava com febre, me.MAE3odo mundo aqui trabalha por ele. 9o vamos nos separar nunca.P.

    9em ". me: Ele disse que precisa ir. (Sil7ncio) =oc' no disse: (Para S.)S.Eu quero ser soldado. 6i#em que >* tenho idade. uvi di#er que comem todos os dias e que douma roupa. osso tra#er muita coisa para a senhora. Eles sabem que um soldado pobre tem fam+lia.osso tra#er dinheiro.R;uanto:S.Muito.MAE? pouco (aborrecida).P.Eles usam uma &rande bota, me. arecem ter muito dinheiro.

    J.J* um bando deles pelas ruas.S.Eu tenho visto muitos pela cidade. ? a poca. Eles se alistam e .MAE(;nterrompendo)

    9o se&uro. (5rande sil7ncio)P.A me disse que no se&uro. ., verdade que no se&uro:S."e&uro: 6epois se volta para casa. 3odos depois voltam para suas casas.MAE

    9unca tivemos casa. 9o se&uro para ns. "omos cinco. 9o quero nada com eles. Bom nin&um.A cidade apenas um lu&ar para se atravessar. =e>a meu brao. Arrancaram meu brao. 9o queroque te mutilem. 9o quero em teu rosto nenhuma cicatri#. =oc' meu filho, meu primeiro filho.

    $/

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    17/58

    (Pausa) Eles querem nos separar. Entendeu:J.A me disse que eles querem nos separar. Eu no quero me separar.MAE3rabalhem. (;rritada) E a *&ua: (o&ue esta *&ua no vidro (P. 4o#a a #ua).S.

    ("epois) Eu &ostaria de ser soldado. Hm soldado, por pouco tempo.S.+omo que despertando)"oldadoC (Pausa) Eu sei de um soldado. (Para si- enquanto os outros continuam trabal/ando)Javia um soldado morto na rua. Ele estava pre&ado entre os >ornais e eu, ., ". e todos os outrosvimos. Era um soldado ne&ro, cheio de brilho nas pontas, como um mastro queimado. Goi ontem.(Para a me) Me, ontem havia um soldado morto. Eu viC Eu vi.S.? mentira, me. 9unca ouvi falar disso. @Hm soldado ne&ro morto:P.-. est* falando de uma foto de um soldado morto num >ornal dependurado. Goi ontem. Eu tambmvi.

    R. isso.S.

    9o na rua, ento. Ele est* maluco. ("epois) 6eve ser em outro pa+s.MAE;ue importa. Eu sei de tudo que anda acontecendo por a+. E se os >ornais di#em verdade. A cidadevai mal. "e no so os soldados so eles os que no esto de acordo. Estamos vivos porque estamosso#inhos.S.Mas no somos s ns que estamos vivos.MAEs outros vo morrer. Andam e vo morrer"oldados morrem nas &uerras e as &uerras a&ora so as cidades.S.(!borrecido)Ento eu devo morrer:MAE

    9o, voc' no vai morrer. Eu disse que voc' no vai morrer. Eu prote&erei todos voc's. 3enho vistocoisas horr+veis, mas nada disso acontecer* com voc's. Amanh iremos para um lu&ar. s bairrosmais ao sul. F* esto as &randes lo>as e eu cantarei. ? isso que eu sei fa#er.P.Me, acho que (. tambm sabe cantar. (5rande pausa) ntem

    MAE? verdade. Mas (. se comove.J.?. Eu choro .. Mas depois...MAE

    9o pode chorar. As pessoas vo embora. Eles querem ouvir uma histria e se esquecem. Mas nemsempre as can8es contam uma histria.J.Bante a cano de -., me. Essa eu quero aprender.P.Bante. (* estamos no fim. (J. toca o seu pandeiro)

    J.Assim: ? assim. Eu me lembro. Banta, me.MAE

    $%

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    18/58

    " se ". tambm quiser que eu cante...S. (3elanc0lico)Eu quero.MAE(+anta)@Bomo o sonho, este outro lado do tempoHm homem s no est* morrendo se tiver

    KesquecidoBomo a flor com sua ele&Oncia e com suasKcores.

    9a praa, sobre um banco de m*rmoredescansa um menino1homeme em sua alma (ainda) um deus lhe Kperturba(J. )3 4 56 '5!GUARDAEntrando);ue barulho este: ? a senhora que est* cantando: A esta hora: "e souberem que permito quecrianas venham trabalhar aqui, em plena madru&ada, estou despedido. Buidado, cuidado. 9este

    edif+cio as normas so ri&orosas. =amos, apressem1se. (* est* amanhecendo.R.(Euf0rico)Me, ve>a. Hm rato. Matei um outro rato. (Er#ue o rato morto)GUARDA(Escondendo o rosto)Hm rato: Meu 6eusCMAE=amos. =oltaremos noutro dia.

    CENA #(UMA FAIXA. 7NA FILA DA SOPA DOS POBRES8. NESTA CENA R. FALA PARA ALGUNS

    MENINOS. A MAE SE ENCONTRA FORA DE CENA NUMA SUPOSTA FILA DA SOPADOS POBRES. P. DORME NUM CANTO JUNTO 1S TROUXAS. J. CHEGA NO FIM DACENA. ELA PARECE UM POUCO ALCOOLIZADA. A CENA COMEA COM S.CHEGANDO.!

    S. Entrando e diri#indose a P. que parece dormir)Ei, acorda. nde est* a me:P.(!cordando) qu': A me est* na fila da sopa.(Retendo S.) Espere. (3ostrando um anel) =e>a.-oubei. 6eve valer muito.

    S. (;rBnico)Lsso: 9o vale nadaC ? &rande demais para no ser vidro. =ou di#er 2 me que voc' est* dormindo.-. pode fu&ir. Ele maluco.P.

    9o amole. (olta a dormir e S. sai) =idro. alhao. (Resmun#ando)R. (!os meninos)

    9o acreditam: ;uer que eu conte outra ve#: 9o dif+cil, eu >uro que no dif+cil. A &ente p8e ola&arto no centro da mo e aperta (mostrando como se faz). 9o comeo molhado como terramolhada, depois, mas bem depois, seco como terra seca. 9o h* nada, no fica nada, no temcampainha dentro. 9o tem espelhos, roda, dor, no tem nada dentro. (3elanc0lico) Ah, mas isso o la&arto. "ei de muitas outras coisas.

    MENINO 1;ue coisas:R.

    $S

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    19/58

    Boisas de tamanho pequeno e de tamanho &rande. E todas elas matei com as mos. As borboletasno so f*ceis, elas andam tontas no ar .. e quando pousam nas folhas parece que se perderam. masesto l*. preciso esquecer qualquer coisa na &ente para encontr*1las. f*cil mas tambm dif+cil.Mas das borboletas no h* muito para se contar. 6entro das mos fechadas s se sente o miolo, masele to pouco .. E do vo, nada. As asas, elas desaparecem como se tivessem ficado fora evoassem sem o centro. ruim, chato. Mas isso s com as borboletas. Hm bicho tem que andar

    no cho para que tenha peso e para que fique inteiro nas mos. Mos bem fechadas para que o queest* l*, apertado entre os dedos, no escape e fu>a. Lsso verdade. , acho que eu ainda sei pouco davida e da morte, mas verdade que a cidade sabe ainda menos. 3enho feito tantas coisas com asmos. 9o matei um co, ainda no matei um co. sempre um e depois outro, e eles esto to

    perto. Mas matei um &ato e todo &ato uma s coisa, mas se vamos parti1lo ele fica muitos e dif+cil. Mas isso eu sei, isso eu aprendi. (Entra J. meio alcoolizada. Ela dana e toca melanc0licamente o seu pandeiro. s meninos se afastam e R. *ai at& P. e o acorda.) verdade. (uro que verdade.MAE(1ora de cena)nde esto os meninos: "., v* procur*1los.S.(1ora de cena)

    ., tra&a -. A me est* recebendo a sopa.P.(Pe#ando R.)=amos. (Eles saem e J. continua a tocar e danar)VO DE P.(. est* b'bada, me. 7'bada.J.. (+antando)@Bhamaram1me para olhar os

    Kvidros da fonte centralcheios de *&ua e de lu#mas eram tr's soldados de quepes ne&rosBhamaram1me na varanda quando alua parecia uma l+n&ua de fora da bocaEram tr's soldados de quepes ne&rosE ento levantaram1me o vestido e

    puseram calor e p'los em mimBhamaram1me para olhar os vidros da fonte Kcentral

    CENA $CENA $(UMA ESPCIE DE TENDA IMPROVISADA. ESTA TENDA SE ENCONTRA NO P&TIO DEUM GRANDE ESTACIONAMENTO DE CARROS #UE, PELA MANHZINHA AINDA,

    EST& VAZIO. NO DECORRER DA CENA ESTE SUPOSTO P&TIO DE ESTACIONAMENTOVAI SE ENCHENDO DE RUDOS DE AUTOMVEIS. APROXIMA-SE DA TENDA UMCORO DE TR9S PESSOAS. UM MILITAR, UM CIVIL DE TERNO ESCURO E UMTRAVESTI, FAZENDO UMA SENHORA. NA TENDA DORMEM A MAE E SEUS FILHOS.

    AMANHECE (FUNDO MUSICAL DE BACH!.

    CORO DAS AUTORIDADES LOCAIS(!pro%imandose)Ei1los. Esto dormindo. Estiveram ontem entre as quatro praas e >untos lavaram um caminhodiesel. pequeno -. vomitou a carne comida no meio1fio e (. perambulou pelos quarteir8es

    pr

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    20/58

    entrada da tenda.) rontoC Ei1los aqui. A fam+lia inteira, se que isso uma fam+lia. h, devemosser severos, mas dceis tambmC =amos, >* est* na hora de nos apresentarmos. 6evemos acord*1lose aconselh*1los. As coisas no podem continuar como esto. Ei, acordemC (6atem o p&) AcordemC3udo isso no est* certo, tudo isso no pode continuar assim. Hma mulher uma mulher e crianasso crianas. A cidade tem eloqXentes su&est8es para que tudo retorne aos seus lu&ares. h,devemos ser severos e dceis tambm. Acordem (batem o p&)-por favor acordemC (Some o fundo

    musical de 6ac/5 buzinas ao lon#e.)MAE;uem est* a+: ;ue barulho esse: A cidade acordou mais cedo: (8e*antandoseC os seus fil/os aos

    poucos *o acordando) Ah, so voc's: (* no se pode dormir. 9o basta no poder viver: (Empurrandoos) =o emboraC 9o a primeira ve# que a pol+cia vem me olhar dormindo.SENHORA

    9o se assuste, boa senhora. Ga#emos um trabalho de rotina.

    MAE9o estou assustada. Estou fodida. que voc's querem: 3enho meus papis em ordem. "e notenho, me roubaram. Ah, a&ora estou reconhecendo. s @conselheiros... (1az um cumprimento)

    =ou ter que repetir tudo outra ve#: 9o levaro os meus filhos. 9o vou deiudicar quem quer que se>a.Bompreenda.MAE

    9o.CIVIL$er*oso)A senhora disse no:SENHORAA cidade uma &rande fam+lia. Hm lu&ar cheio de lu&ares. "omos respons*veis por tudo, no s

    pelas crianas mas tambm pela senhora. recisamos saber se no falta nada e se tudo est* sendofeito. =ou ser sincera, >* esquecemos que a senhora foi ladra. "e nos per&untam sobre seu braocortado, di#emos que foi um acidente.MAE(;ronizando)Estou comovida... Eu e meus filhos estamos comovidos. (J. sai com uma bacia dD#ua) uam,aprendi a dar qualquer coisa para receber outra depois, e (com ironia) sempre menor. 9o pedi nada

    a nin&um e no quero me demorar. (! partir de a#ora- um barul/o crescente de buzinas oestacionamento comea a receber carros) 6i&am aos seus chefes que vivemos num mesmo espao,mas que isso tudo. 9o levaro meus filhos... para educ*1los. "abe onde estamos: 9o maiorestacionamento da cidade. Fo&o mais isso aqui ser* um inferno de carros. (!os fil/os) Aprontem1seC=amos embora.SENHORAAinda no. Estamos aqui para sermos ouvidos. "omos todos civili#ados. A senhora mulher comoeu. odemos nos entender. (Entra J. com uma bacia de #ua) Ali*s, eo issoCMAE(+ol&rica)

    9o sou mulher como voc'. 9o sou mulher nem homem. ("ando um sa@ ano na bacia de #uaque J. coloca F sua frente) ara que isso: =e>am, ela tem bons modos. Qostaram: (Para J.) ;uer ir

    com eles: ;uer apodrecer num reformatrio: 9o precisamos de *&ua. 9o temos nada limpo nemsu>o. (?uerendo sair) 6epressa, seno ficamos presos debai

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    21/58

    MILITAR(8e*antando um cassetete)9oC Giquem em seus lu&ares.SENHORA

    9o podem sair ainda. =amos det'1los.CIVILA senhora ouviu: "e quiser podemos det'1los.

    MAE(!*anando com os fil/os)"airemos de qualquer >eito. =amosCMILITAR(+onfuso) que fao:CIVIL"aiam, ento. Mas eu lavo as mos. Estado lava as mos.SENHORA(!o +i*il)odemos for*1la.CORO? odemos for*1la. Gor*1la (! me e seus fil/os saem).A cidade pode for*1la.

    =ai e no perde por esperar.A cidade real so os que trabalhame os que vi&iam, mas a outra, a cidadedesordem, com seus incestos, crimese can8es livres envolveremosnum caule de arames farpados.

    CENA %CENA %(NUMA SALA POBRE UMA VELHA RECEBE A MAE E J. ELAS ACABAM DE CHEGAR.

    H& UMA PORTA PARA UM C2MODO AO LADO.!

    VELHAhC que linda meninaC Me fa# lembrar de mim. Mas isso fa# quase um sculo (!pro%imandose)=em, vem, pequena. (Pe#andoa) 9o fique assustada. amor al&uma coisa entre aves. 9otenha medoCMAE+ortante)Bhe&a de histrias. 9o a primeira ve#. E no ser* a Iltima. 6'1me o dinheiroC (Estende a mo)

    9e&cio ne&cioCVELHA"e assim, melhor. =ou pe&ar na &aveta. (ai at& uma #a*eta e pe#a um mao de notas. P9e os0culos e comea a contar) Est* aqui. 3ome. Goi o que combinamos. (! me pe#a o din/eiro e

    conta.)MAE"o quin#e minutos, mais nada. Gico aqui, podem ir.VELHA(Para J.)=enha, querida. =oc' vai conhecer um vov muito &entil. (J. *ai com a *el/a) =oc' vai &ostar dele.MAEBontarei minuto por minuto. 3enho muito que fa#er ho>e e ainda no comemos. (PausaC depois ame se apro%ima de um espel/o e se ol/a) Ainda me pareo a mim mesma. 3enho meu rosto.Boisas que no servem para nada. (Saindo do espel/o) Mas >* no perco tempo. A&ora devo es1

    perar. (Sentase)J.(Entra correndo e a *el/a aparece atrs)

    Me. so quatroC "o quatro homensCMAE(Er#uendose)=oc' disse um e a&ora so quatro. ;ue histria essa: 9o foi o que combinamos

    D$

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    22/58

    VELHAEles vieram s para ver. uma toliceCMAEE quem est* cobrando isso: =oc': Qanhando o meu dinheiro.VELHA"o comendadores e me prometeram s olhar. A senhora pode confiar. Qente discreta .. A senhora

    sabe como e.MAE9o confio em nada. =amos emboraCVELHAa&o maisCMAE;uanto:VELHAMais quatro ve#es.MAE

    9o mau. Mas eu entro tambm. "e eles vo ver minha filha, eu vou v'1los ver a minha filha.

    (Saem)

    CENA 1&CENA 1&(J., DESTACADA, CANTA A SUA CANO. ALGO ENTRE UMA CANO E UM

    MONLOGO.!J.Ele me bei>ou e pediu perdo por no ser um me Knino.Hm vento frio rachava meus ps descalos.Eu sentia uma &rande triste#a por este homem de Kcabelos brancos.Ele me bei>ou e no ps a l+n&ua dentro de mim

    Kcomo os soldadose me pediu desculpas por no ser um meninocom seus olhos embaados e as suas &randesKorelhas.Mas na cidade, anoitecida como um fundo quei Kmado de panela,ela era &entil como um p*ssaro abri&ando1se no Kninho.(NA PASSAGEM DA CENA!

    CORO;uatro de fevereiro. utra ve# os incendi*rios.Autoridades atentasC7ando de pederastas subiu no teto paraolhar parapl&icosem &in*stica de recuperao. ito de abril

    5 menino eornal para copular

    sem ver, sob lu# de 00 quiloYatts.6o#e de maio 5 outra ve# os incendi*riosAh, noC A mesma ve# outra ve#.

    DD

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    23/58

    CENA 11CENA 11(A MAE E SEUS FILHOS NOVAMENTE NO GALPO. ELE SE APRONTAM PARA

    DORMIR.!

    J.(Entrando com a me no #alpo. s irmos entram em se#uida)Me, -. est* me per&untando o que um bei>o. (* estou cheia disso.

    MAEEle per&unta tudo. (bser*ando o lu#ar) ra, veiam. Andaram limpando por aqui. que teriaacontecido:S.(!#ac/andose e passando a mo no c/o) 3em &asolina no cho. Acho que isso a&ora estacio1namento de dia.MAEBomearam ho>e, ento. Estivemos h* poucos dias aqui. 7ela porcariaC Hma coisa eu sei!quando tocar as sirenas muitos oper*rios vo dormir aqui para pe&ar outra >ornada de trabalho aoamanhecer. A f*brica fica ao lado.P.

    3em &ente dormindo l* no canto. Acho que so eles.J.a mesma &ente que estava aqui da outra ve#. "o pobres como ns. ;ue fiquem por l* e no venhamme amolar aqui. Estou morta.MAEEspalhem suas coisas pelo cho. Jo>e dormiremos aqui. As batatas das minhas pernas esto emfo&o. (+/amando S. com seduo) S.- venha. =oc' sabe fa#er passar esta dor. (Sentase no c/o)Esfre&ue minhas pernas. Estou ficando velha e depois tenho s um brao.S. (!molado)Eu me: (Sentandose ao seu lado e comeando a massa #ela)MAE=oc' mesmo. Assim, assim. (+/ateada) Bom vontade. "eno no vai adiantar.P.(Trazendo um cobertor de uma sacola)Meu cobertor est* cheirando a mi>o de rato. (+/eirando) ;uem a&Xenta:S.Est* tudo cheirando a mi>o de rato (R. perse#ue J.- que procura arruinar seu lu#ar). As coisas fi1cam na caiaCGui mordidoCMAE(Para ". 9o pare. ("epois) MentiraC F* o Inico lu&ar se&uro. 9in&um sabe que aquilo est*va#io. A *&ua foi secada pelo sol ou atravessou a parede e perdeu1se. 6ormi l* v*rias ve#es

    P.Eu tambm, me. Eles vinham me morder. (uro que verdade.S.? mesmo. Matei uma rata#ana deste tamanho. perto da minha boca...MAE

    9o pare, ".J.(5ritando)Me, ele no me deio.S.Ele quer trepar. -. um tarado. (GRi)

    D)

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    24/58

    P.? isso o que ele quer. 3repar. (+om uma #arrafa na mo) "., ve>a o que eu conse&uiC ".se apro

    %ima. Eles bebem)MAE

    9o, no isso. Ele viu al&um bei>ando ou voc's puseram na cabea dele al&uma coisa. -., venhac*. (Ele *em) =oc' tem que se deitar por ai. ("ecidida) 6orme aquiC (R. insiste em falar al#o para

    a me) que a&ora: Eu no te ouo. (3ostrando o ou*ido) Gale aqui. ;ue merda ele quer di#er:GaleC Acaba com essa cara de idio..... (R. fala ao ou*ido da me- e esta ri) isso mesmo, (., bei>arpara ele trepar. (Todos riem) Ele tambm homem.J.Bomi&o noC (J en*ol*ida num pano e a#ora cobrindo a cabea) 3enho no>o dele.MAEBhe&a dessa histria. =amos dormir.

    S.Bom -. ela no quer, mas com os outros. Est* certo isso, me:MAE

    Est*. "e no fosse ela no ter+amos comido esses dias. 3udo que .(. fa# est* certo. ("epois) =em c*.R.Entra debai

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    25/58

    por encantamento quando o coro inicia sua fala de pala*r9es) =ai, mas cuidado.COROh no. uta que pariuC

    9o, no e no. 9o podemos parar,olhar, ouvir. que est* fa#endoesta &ente a+:

    o corao da cidade cimento, va#io nele no enra+#a relva nemcano. 9o, no e no. Estamos

    putos dentro das calasC 9enhumanos deter*. Estamos com pressa

    ao norte as empresas, as f*bricas,ao sul os domic+lios, as hospedarias.

    9o podemos parar, olhar, ouvir. que est* fa#endo esta &ente a+:

    9o, no e noC corao da cidade um sonho enmalhado.

    MAEPara J). 3oca mais forte seu pandeiro. =ou cantar. reciso falar alto, cantar alto, seno eles nos farodesaparecer.P.(Saindo com "."., no me lembro de ter visto nunca as vitrinas assim iluminadas.S.E que o natal est* pr

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    26/58

    MAE? um direito que eles t'm. (Para R.) Bonse&uiu al&uma coisa: (l/ando) ;uase nada.R.As pessoas passam sem parar. Elas esto apressadas.MAE=amosC Ao lon&o da avenida eas maiores que essas. Al&um vai me ouvir. (Saem)

    COROh noCuta que pariuC9o, no e no.9o podemos parar, olhar, ouvir. que est* fa#endo esta &ente a+: corao da cidade cimento, va#io, nele no enra+#a relva nem cano.

    9o, no e no.Estamos putos dentro das calasC

    9enhuma cano nos deter*.Estamos com pressa, ao norte as empresas,

    as f*bricas, ao sul dos domic+lios, as hospedarias.9o podemos parar, olhar, ouvir. que est* fa#endo esta &ente a+:

    9o, no e noC corao da cidade um sonho empalhado.

    CENA 13CENA 13(ENTRAM A MAE E J. E AOS POUCOS VO APARECENDO OS OUTROS

    PERSONAGENS. COMO SE ESTIVESSEM NUM OUTRO LUGAR. OUTRO PAINEL DEPESSOAS APRESSADAS. S. ENGRAXA AS BOTAS DE UM MILITAR. AO LADO, R. COMUM GRANDE EMBRULHO DE JORNAL (TRATA-SE DE UM CACHORRO MORTO!.

    APARECE UM SENHOR GORDO FUMANDO UM CHARUTO. OUTRO PAINEL DEPESSOAS.!

    MAEAqui um lu&ar movimentado. Estamos entre duas avenidas. nde est* -.:J.(!pontando) Ele est* ali. (Surpresa) Aquele homem, meC =e>aC 9o a primeira ve# que ele nosse&ue.MAE6eianeiro. K(* no melembro mais.

    ;uando um homem corpulento como Kum bisonteconvidou1me a mim e a minha filha para

    D/

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    27/58

    o >o&o da roda dos brilhantes.Ah, voc's querem saber o que isso: KEu lhesconto.Hma mulher, um homem e uma menina se en&astam como uma Kroda,

    no cho dos lenise com um teto de mercIrio e &ase Kpor cimase chupam sem se desprenderem, Kcomo um rio nafora de suas *&uas.7rilhando como brilhantes os p'los Kas l+n&uas nas al&emas de brilho Kdos dentes.Goi numa cidade cercada de Kf*bricas...

    (SOMEM TODOS' FICAM APENAS A MAE, J. E P.'(A LUZ DIMINUI!

    MAE9o adianta. Eu no canto seno para mim. tarde. =amos embora.

    CENA 14CENA 14(S. E P. COM UMA GRANDE #UANTIDADE DE BUGIGANGAS. ELES PROCURAM

    ESCOLHER, ENTRE ESTAS COISAS RECOLHIDAS NUM SACO, A#UELAS #UE T9MALGUM VALOR. A MAE ENTRA COM R. ESTE $LTIMO LEVA SEU GRANDEEMBRULHO DE JORNAL. NUM OUTRO PLANO AO ALTO, O HOMEM GORDO SUSTEN-TA J. ERGUIDA NOS BRAOS. ELA SE DESPRENDE.!

    HOMEM(J. acaba de soltarse. E enquanto o /omem se arruma- colocando seu c/aruto na boca)MerdaC Goi pior do que eu ima&inava. Bom a me deveria ser melhor. (J. fica parada. "esse mesmolu#ar ele cantar depois) ;uanto &astei nesta porcariaC 9o te dou o meu charuto porque nem issovoc' vale. 6i&a a sua me que ela ficou me devendo. Ela sabe onde me encontrar. (Sai)S.Me, ve>a. Batamos tudo isso no aterro onde se >o&a o liou umoutro anel. Mostra pra meCP.=e>aC (3ostrando) Lsso vai dar um bom dinheiro. Bonse&ui com um troue vamosat o outro ee quero dormir numa cama.S.A me est* ficando velha. A&ora ela est* sempre cansada.R.;uero dormir. s olhos no ficam abertos (deitase 4unto da cai%a de *iolino onde est o cac/orromorto). Eu tambm quero dormir, me. Acho que vou dormir.MAE6urma. 6escanse. (Para S. e P.) =oc's se apressem. 9o vou ficar aqui toda a noite. Aposto minhacabea como no vo encontrar nada que preste.

    S.Estamos no fim. (* olhamos um saco.P.

    D%

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    28/58

    E (., me: Ela estava na praa.MAE(+om rai*a) Ela est* por a+. (Pausa) 6eve estar che&ando...J.($o plano antes indicado- canta)Essa a histria dos que no acreditam

    a cidade com seus p*tios e os rostos apa&adosois no h* nada no mundo e nada ocorrer*Eu sou um pequeno veloc+pede com suas cores K&astas,

    p*ssaro fr*&il sobre os muros da cidade,Em cada canto do mundo uma orelha surda ouve Kesta canoh, o teu p*ssaro de papel de sedaC Feve1o ao mais

    Kalto edif+cio e lanceois em cada canto do mundo a mo espalmada Kdas botas

    en&ole o salto das coisas leves.h, esta a histria dos que no acreditam mas eu tenho durado e permaneoEu que sou um pequeno veloc+pede na tua praa

    Kva#ia.(8on#a pausa)edao de *&ua em tua sede.(J. DESCE DE ONDE EST& E SE RE$NE 1 MAE E AOS IRMOS. A MAE E SEUSFILHOS ESTO SE ERGUENDO PARA IR EMBORA E DE OUTRO LADO DA CENA

    APARECEM OS TR9S COMPONENTES DO 7CONSELHO8. : COMO SE ELES CRU-ZASSEM COM A FAMLIA NA RUA.!MAE=amosC (. >* est* a+. reparem1se. 3emos muito cho pela frente. (!cordando R.) Acorde. 9o es1quea a caia. Aqueles homens outra ve#.S.Eles v'm para c*. 3ome cuidado, . Esconde esse anelCMAE6eia squem encontramos. Esto me vi&iando:CIVIL

    Ainda por aqui, minha boa senhora:MILITARA senhora disse @vi&iando: Mas claro que no.MAEEstamos indo embora. 9o &ostamos deste lado da cidade. =amos para outro e

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    29/58

    SENHORA que foi que ela disse:MILITAREla disse .. 9o entendi.MAE(!os fil/os)=amos embora. -e#arei por estas mulheres e crianas que voc's vo socorrer. (Sai)

    CIVILGaa isso. 9o vamos perd'1los de vista. =enham. (Sai)

    CENA 1!CENA 1!(UMA SENHORA RELIGIOSA E UM HOMEM FAZEM ENTRAR A MAE, R. E J. NUMC2MODO. R. LEVA A CAIXA DO VIOLINO, #UE ELE COLOCA DEBAIXO DA CAMA. S. E

    P. CHEGAM DEPOIS. ENTRA UM FORTE BARULHO DE TRanela, seno no ouo nem mesmo oque di&o. or favor. ( /omem fec/a a 4anela. Para a me) Aqui, como eu >* lhe disse, acolhemos

    por uma noite todos aqueles que no t'm onde se abri&ar. ? uma caridade. ois bem, ve>amos se oslenis esto limpos. (Procurando a#radar) Blaro que esto. Acho que est* tudo na medida.HOMEMEsto faltando os dois rapa#inhos. Eles subiram a escada conosco ... mas depois...MAE verdade. 6evem estar olhando a casa. ? o que sempre fa#em estes bandidos... (Em cima) Est*

    bem, aceitamos a caridade (colocando no c/o as suas coisas. ! me tira seu casaco. R. coloca acai%a de *iolino debai%o da cama). recisamos dormir.SENHORAAmanh conversaremos melhor. 6escansem (!*anando para a porta) 3ambm &ostamos de saberquais so os sentimentos reli&iosos dos que pernoitam aqui. (Sorri)MAE(Em cima)E a comida: 6isseram1me que havia uma comida.SENHORA tarde. (+omentando) Est* bem... Este senhor providenciar*.MAEbri&ada, o meu dese>o a&ora um bom banho e uma boa cama. 9o sou uma mulher acostumadacom essas coisas, mas re#arei. Garei meus miser*veis filhos re#arem, minha senhora. =ou pedir aeles, mas no &aranto.

    SENHORAbri&ada.HOMEMGiquem 2 vontade. Mandaremos os outros para c*. 9in&um pode ficar fora do seu quarto durante anoite. At lo&o. (! sen/ora e o /omem saem)MAEobres de ns, nas mos desta &ente santa. (Tirando o *estido 5 debai%o aparece umacombinao.) Apressem1se. 6ormiremos todos nesta cama &rande. (J. e R. se deitam na #randecama) ? boa, ve>am. (Testando o mole4o) ;uanto devem ter pa&o por elaC A&ora levantem. 3emosque tomar banho. =enham. Hsem *&ua. de &raa (tirando a combinao).R.

    Favar: Eu, eu no quero.J.3enho sono, me.

    DT

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    30/58

    MAE=enham. (+ontinua se aprontando para o ban/o) 3irem essas roupas.J.Eu tenho sede, me.MAE7eba a *&ua, ento. Eu vou tomar um banho. E voc', -.:

    R.Eu vou dormir.MAE=oc' vai tomar banho tambm. =enha, (. =amos preparar um banho para -. (!s duas saem para oban/eiro.) =oc's t'm que aprender estas coisas (ff) =oc' no o maior, nem o menor, nem o domeio, mas >* est* em tempo de aprender estas coisas.R.(Para si mesmo) Hm banhoC Mas eu no sei tirar a roupa... (Entram S. e P. esbaforidos) Eu no&osto de tirar a roupaCS.(Para P.) =oc' loucoC E se vissem: Essa &ente boa. como a &ente do servio militar. ;uando

    voc' tiver a minha idade voc' vai ver. Goi uma loucura. E se vissem a &ente: (Ri)P.E dai: =oc' morre de medo. =ou voltar l*. (Saindo) =olto depois...S.

    9oC 9o faa issoC =oc' est* b'bado.MAE($a parta do ban/eiro) que foi:S.. entrou na ade&a deles. ;uebrou o &ar&alo de uma &arrafa e bebeu quase tudo. Me fe# bebertambm. Ele voltou para l*. Ele est* louco, me.MAE=eremos. 6ei* est* den1tro dN*&ua. ;ue merda essa: =oc' tem que vir. 9o me faa perder a cabea.R.

    9o queroC 9o queroC (R. escapa e se 4o#a debai%o da cama saindo depois com a cai%a.)S.ra que banho: Ele no quer.MAE

    9o tem o que querer. 3odos vo tomar banho. =oc' tambm. e&a esse doido. Estamos aqui de&raa e voc's no querem nada... no querem aproveitar nada.

    R. (Saindo debai%o da cama com a cai%a de *iolino)Me, ve>aC Eu matei. Gui eu que matei. Goi f*cil. (uro que foi f*cil.MAE

    )0

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    31/58

    que isso: (R. abre a cai%a de *iolinoC espanto de S. e da me) Hm cachorroC E trouanela. 9o podemos ficar com isso aqui. Est* podre.R.

    9oC (! me d uma bofetada em R.)9o queroC 9o queroCMAEBala a boca. e&a, ". ".pe#a o cac/orro da cai%a de *iolino) (o&a esta porcaria pela >anela. =aicheirar a casa toda. (o&ueCS.ela >anela: =o perceber que fomos ns. =ai cair na frente da casa. (J. aparece espantada e nua

    na porta do ban/eiro)MAEouco importa. (o&ue isso duma ve#CR.? meu. Gui eu que matei. Gui euC (+/orando)S.Ele est* cada ve# mais maluco. ntem ele matou outro &ato. Era um &ato pequeno, me. Ele psdentro do bon e >o&ou tudo >unto no es&oto.MAE(Para R.)E o bon: erdeu o bon. . roubou o bon para voc', idiota. Maldito, eu te arrebento.(R. fo#e e fica atrs de J. S. abre a 4anela e entra um forte barul/o de trHnsito da rua. Em se#uida-antes que S. possa arremessar o cac/orro morto- *em a *oz de um carro munido de altofalante.)VO DO ALTO)FALANTEAteno, ateno, cidados.MAE(Para S.)EspereVO DO ALTO)FALANTEA situao est* sob controle. s cr*pulas e assassinos que ontem picharam a &rande casa da lei >*foram locali#ados e cerca1dos. Estamos em plena operao de limpe#a e pedimos a todos os cidados que no saiam de suascasas e mantenham fechadas suas portas e >anelas. 3ropas de elite incumbidas do saneamento e

    preveno >* se acham pr

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    32/58

    CAMA. " DEPOIS " UM GRANDE BARULHO FORA DO #UARTO. TRATA-SE DE UMACORRERIA NO INTERIOR DA CASA, EM SEGUIDA NA RUA. " ALGUM PARECE

    MEXER NA PORTA POR FORA.!S.("espertando) que foi: (Pausa) Esto correndo atr*s de... 9o poss+vel. Me, a senhora ouviu:MAE(!cordada)

    uvi. nde est* .:S.Acho que ele no voltou ainda. 6eve estar b'bado por a+. ("epois) Esto correndo atr*s de al&um.MAEode ser . Ele burro. =ai ver. ". le*anta e *ai at& a porta. 3as a porta est fec/ada por fora.)S.Est* fechada por foraCMAEGechada: (8e*antandose) que houve: Estamos presos: (ai at& a porta) Est* fechada. (5rita)Abram esta porta. 9o poss+vel. (5rita) ;uem fechou esta porta: "omos uma fam+lia, seus putos.Abram issoC 5rande a#itao l fora. !#itao por toda a redondeza.) idros quebrados

    correria). =oc' est* ouvindo:VOESe&aC e&aC ? um ladroC 6eianela.VO DE P.(indo do e%terior)

    9oC 9o. or favorC "ocorroCMAEAcho que ele. Esto atr*s dele. (+orreria) Est* ouvindo: J* uma multido nas ruas. uaCCARRO ALTO)FALANTEPassando)Ateno, ateno, cidados. "oltem este homem, soltem este homem (barul/o de multido). A leitambm ri&orosa mas ela tem os seus canais le&ais. Bidados... ateno, ateno, cidados.MAEAbra a >anela e olhe. (?uando S. abre a 4anela a *oz do carromicrofone c/e#a 6 muito mais fora. R. se abraa a J. com medo.)CARRO ALTO)FALANTE desordeiro deve ser entre&ue 2 sociedade. As leis do pa+s so implac*veis mas s uma autoridade

    pode aplic*1las. Ateno, cidados, pedimos tranqXilidade... Ateno, cidados, ateno (*oz docarromicrofone desaparecendo)MAE

    que voc' est* vendo: ". estou falando com voc'C que voc' est* vendo:S.9ada. ;uase nada. (olta o barul/o de trHnsito carro do alto1falante est* lon&e. Al&umas pessoasainda correm. (oltandose para a me Acho que era . Goi ele que &ritou. ("esesperado- ner*oso)Me, ele estava b'badoC Fembra que eu disse: Ele estava roubando a mulher. Acho que ela viu a&ente saindo da ade&a.MAEA&ora que voc' vem di#er isso: ("epois) que importa: A mim nunca nin&um me proibiu deroubar. 9o pode ser . Esto linchando um ho1mem. Eles t'm que abrir esta porta. e&ue uma cadeira. (S. pe#a uma cadeira) =amos arrombar.3enteC Est* ouvindo: 3enteC ".pe#a a cadeira)

    S.Espere .. Estou ouvindo barulho. 3em &ente che&andoMAE

    )D

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    33/58

    (5rita) Abrem ou tocamos fo&o em tudoC! porta se abre e aparece o /omem da penso 4unto comdois aparamentados #uardas)homem (Para os #uardas)? esta a mulher. Ela a me do rapa#.MAE que aconteceu: or que fecharam a &ente aqui:

    1* GUARDA"omos da tropa de elite e est*vamos em misso no bairro, quando... A senhora no tem um brao:2* GUARDAEspere. ;uero primeiro ver os papis de todos. (* no podemos confiar em nin&um. ;uem soaqueles na cama:MAE(E%plodindo);ue papis: meu brao arrancaram. ;uero saber onde est* meu filho: uvi a vo# dele.HOMEM3enho certe#a de que ela a me do rapa#. Bhe&aram aqui ontem.2* GUARDAs papis so uma e*havia de#enas de pessoas atr*s dele. Ele conse&uiu correr. Mas eram muitos.

    MAE9oC (5ritando) AssassinosCC ("esesperada) Eu quero meu filho. (!4oel/andose) h, a&ora mealcanaramC1* GUARDA que foi que ela disse:HOMEM6isse que a&ora a alcanaram.

    ))

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    34/58

    CENA 1"CENA 1"(P. CHEGANDO AO LUGAR ONDE ELE PENDURA OS BICHOS #UE MATA. ELE

    PARECE CANSADO. R. TRAZ A CAIXA DE VIOLINO COM O CORPO DO CACHORRO.!

    R.Jo>e demorei para che&ar. Estou cansado. 9o dormi ontem e as coisas no vo bem. (Sentase)

    Hm cachorro no pesa muito mas pesa mil ve#es mais que uma borboleta. E um homem, quantodeve pesar um homem: 9a entrada do cemitrio h* sempre duas fileiras de homens carre&ando osmortos. Mas no preciso tra#'1lo todo no ar, pode1se arrast*1lo e ento mais f*cil. (Er#uese eimita) ? assim. elas duas mos que se pu* morta. As ve#es o supl+cio no conse&ue inventarsobre o sil'ncio e tudo parece inItil. Mas isso uma ve# ou outra. 9em sempre. Meu 6eus tarde.3enho que correr. A me est* procurando pela cidade. Al&uma coisa de . Al&uma coisa que tenha

    sobrado. (Sai)

    CENA 1#CENA 1#(UM LUGAR #UAL#UER DA CIDADE. DOIS PARTICIPANTES DO CONSELHO DE

    AUTORIDADES #UE SO O MILITAR E UMA SENHORA, O SOLDADO, O HOMEM DAPENSO. ESTO PRESENTES TAMBM A MAE, S., R E J.' TOCA BACH.!

    MILITARPara a me- que tem o rosto diri#ido para o c/o) "entimos muito -ecebemos autori#ao para viraqui consol*1la em nome da cidade.MAE(6ai%o)

    9o me faam rir. ;uero o corpo do meu filho.MILITARGa#emos o que nos mandam. "omos funcion*rios do Estado. E nessa histria, a senhora sabe, aculpa no foi nossa. "erei sincero. Esper*vamos um dia conse&uir que a senhora transformasse o

    pequeno . em oper*rio. Essa a nossa funo.SENHORArocure pensar. Estado costuma >ul&ar primeiro para depois e

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    35/58

    cidade. E isso no f*cil. 3em &ente de todo tipo. A Iltima ve#, que...MAE(;nterrompendo)Eu per&untei como foiC Bomo e onde mataram meu filhoCHOMEMAh, simC Goi aqui. Lsso simples di#er, mas o resto...MILITAR

    6i&a a ela em poucas palavras. Gaa uma pequena s+ntese.HOMEMGoi aqui. "obre esse estrado. Esse estrado onde amanh o chefe distrital comemorar* o dia da

    participao. Ele >* estava aqui. Goi colocado ontem de manh e quando o pequeno . che&ou ataqui fu&indo...MILITAREaC Est* tudo su>o de san&ue. Ele lutou mas os outros eram muitos.SENHORAMostrem o estrado. =amos er&u'1lo. Eu os a>udo. ( militar- o /omem e a sen/ora er#uem um

    estrado todo manc/ado de san#ue. "ei%am o estrado er#uido) Ei1loC A&ora a senhora no ter* maisdIvidas. Est* vendo as manchas: ois bem, isso tudo.HOMEM

    9o ficou nada... Eles estavam furiosos e eram uma multido...MAE(+omo tomada de uma #rande emoo)S.- ve>aC 9o sobrou nada. Eles esto di#endo que no sobrou nada. 9ada desse meu filho que nacabea deles seria um dia um oper*rio. nde est* meu filho: Fevaram tudo. . . 'los, unhas,sapatos, tudo. 9o posso acreditarC (5rita) Fevaram meu filho em pedaos pela cidade. Hma praacheia de homens que levaram meu filho. Bada um deles com uma ponta, com um centro de meufilho. Bada um deles com uma parte do seu corpo respirando em suas mos, em suas bocas, em seus

    bolsos. Atacaram ele como ratos, como soldados, como aves. 6esapareceram com ele. 9oC 9oposso acre1 ditarC Eu quero meu filhoC Eu quero de volta meu filhoC 9o pode ser verdade...Gi#eram dos seus ombros, do seu cheiro e das suas palavras um nada. E o que vo me dar em troca:;uanto custa um filho: ;uantas cestas de verduras: Hma &ranadaC Eis o que eu quero. Hma&ranada enfeitada de pontas e capa# de e

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    36/58

    CENA 1$CENA 1$(NUM PICADEIRO. S., J. E R. ESTO CATANDO, COM UNS PEDAOS DE PAU

    PONTUDO E PAZINHAS, RESTOS DE PAPEL E SUJEIRAS. O PRSPERO DONO DOCIRCO COM SEU CHARUTO NA BOCA OS OBSERVA DE LONGE. UM HOMEM AVISA O

    DONO DO CIRCO #UE A MAE EST& CHEGANDO. PERTO DOS FILHOS #UETRABALHAM, UM CAVALO DE PAU EM TAMANHO NATURAL. A MAE CHEGA COM

    UM PALET #UE DISSIMULA A FALTA DO BRAO.!

    HOMEM"enhor, a mulher est* che&ando.SENHOR;ue mulher:HOMEMA mulher das ruas. A me dos meninos. (!pontando)SENHOR(Sorrindo)6eiaC Minhas co

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    37/58

    um fracasso. "empre fui contra coisas apressadas. "ua filha, minha senhora, um escoteiro. =oupa&ar uma outra ve# mas quero ser servido. a&o no fim.MAEEu te servirei como um rei mas receber depois, no. ;ue &arantias eu tenho de que voc' pelomenos um homem. (Ri) que falam de mim verdade. =oc' disse que ela foi apressada: Eutambm sou. 3ire as calas. ( sen/or fica confuso) uviu o que eu disse:

    "E9J-Aqui: Mas os teus filhos esto aliC 9o fica bem. 9o, isso srio. u se fa# direito ou no se fa#.MAEEstou trabalhando. srio. Lsso de querer com voc'. Me abrace. Qosto desse cheiro de bosta queos circos t'm. "fica iluminado o lado dos fil/os) Me abraceC =amosC Bom fora. (Se abraam)Estou sentindo. A&ora estou sentindo.SENHORE as calas: 9o quero su>ar as calas. (+ai o palet0 da me)MAEGique abraado. ("epois) s animais se su>am nos p'los e depois eles se lambem.JMEM (Soltandose)

    que isso: =oc' no tem um braoC 9o. (;ndo embora) Assim no.MAE

    9o tenha medo. Ldiota. Meu brao cortado no o teu pau cortado.S.(Para os irmos que trabal/am)

    9uma &ua como se fosse na me. (Ri)9o acredita: Esto vendo aquela &ua: f*cil, mas bem diferente. 9o campo eu...R.(Em cima)9uma &ua no como na meCJ.

    9uma &ua no como numa mulher.S.[ parecido. Bom uma mulher embolado, escuro. Bom a me no. 3udo claro e ali. 9o (.:=oc' uma mulher.J.Acho que ... Eu fecho os olhos. ;uando um homem est* em mim, eu fecho os olhos.S.Bom uma &ua diferente porque a &ente fica ali e a &ua fica fia (., quem que no &osta: At a &ua &osta. ;uer ver: Eu fico assim e s eu que me me

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    38/58

    J.". tambm no se move.

    CENA 1%CENA 1%COROLmposs+vel. (amais al&um conse&uiria. ("u*idando) u no: Melhor seria di#er! >amais al&um

    pensou penetrar no &rande Museu dos Membros amputados, bens p*trios, e de l* roubar o que per 1deu 5 visto que mereceu que o Estado lhe amputasse um brao, uma perna, um olho, o tra* no loucura a alvura desse furorquase torpor dessa mulher atravessadade va#ios e filhosE vamos ver o que vemos e providenciaro que providenciamosdessa outra ve# da mesma ve#.

    (: NOITE. DO FUNDO, ONDE APARECE A FRENTE DO MUSEU DOS MEMBROS, VEMALGUMA LUZ. A MAE COM UM #UEPE MILITAR ARRUMA COM SEUS PANOS UMAESPCIE DE CAMA NO CHO. ENTRA J. COM A CAIXA DO VIOLINO. AO ENTRAR ELACONTEMPLA A MAE COM CERTO ESPANTO.!MAE que foi: "e me* esteve aqui e vai voltar. Goi buscar umcobertor. Ele disse que tem frio. 9o se esquea, voc's t'm a noite toda (apontando)para entrar poraquela porta e pe&ar o meu brao. =oc' sabe onde ele est*. 9a sala dos ladr8es. E uma sala cheia deretido e de lu#. 9o v* errar. ua. meu brao forte porque eu sempre fui uma mulher forte. 9o lu&ar do corte a carne rsea comoa va&ina por dentro. 9o errem.J.Me, ". no veio.MAE

    9o: Mas ele sabe que estamos so#inhas. Ele disse que viria.J.Giquei l* o tempo todo esperando. Ele anda sumido.MAE

    9o h* outro >eito. Eu e voc' podemos fa#er tudo. 9o dei /;/* */ /)4>/6 3 0=. #53 *>?/34 /34>'

    )S

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    39/58

    56 4)' @>4/ / 30=' 6=/ /*4 5>, 5/ '/>6)4/ *>?/34 /3*4> /6 *553.!MAE(1in#indose amolada)Espere. 3em tempo. (Ele a a#arra) =oc' mesmo um cavalo. (Ele continua a apertla) Me solta.=oc' vai me su>ar a roupa. (Soltase)SARGENTO(3ostrando o cobertor e uma #arrafa de bebida)

    =e>a. Lsso foi tudo que conse&ui. =amos tirar a forra, minha velha. (!braando a me que tira oquepe e o dei%a cair no c/o) Jo>e vou pr todo um rio de porra em voc'.

    CENA 2&CENA 2&(A PRAA ONDE SE DESENROLAR& O DESFILE. UM LUGAR DESTACADO PARA OCHEFE DISTRITAL #UE USAR& DA PALAVRA NA PARTE FINAL. JUNTO COM ELE A

    SENHORA DO CONSELHO. UM LUGAR ALTO PARA SIMULAR AS TROPASMARCHANDO. NA VERDADE S APARECE S. MARCHANDO. OS APLAUSOS SDEVEM EXISTIR #UANDO DO DESFILE. UTILIZAR PAINIS. M$SICA DE BACHATRAVESSADA DE FANFARRAS.!

    J.? aqui. 3em &ente de toda parte. Eles vo passar por aqui. ". vai desfilar.MAEEnquanto a festa deles no comea, comecemos a nossa. -., abre o pano nas mos e pede dinheiro

    pela nossa causa.J.;ue causa, me:MAEA da sobreviv'ncia. (., toca. (J. toca o seu pandeiro.) -*pido. A mIsica deles me fa# mal. (! msica de 6ac/ cede quando a me comea a cantar) =ou cantar. ;uando ". passar ele me ouvir*. 3ocaforte (.R.;ue fao me:MAE=oc' estica a mo em direo a eles. Mas no saia de perto. (+antando)Esta a histria de uma mulher que escondiaseus filhos da cidade,e tambm das chuvas e do sol que ocupavamas orelhas e enchiam os nossos bolsos desonhos.E assim foi essa presena sem al&emas

    dessa mulher e dos seus filhos.Bravo sobre o mar1alto das m*quinas e dos crimes.ara durar o tempo que dura um circulo e no mais.Esta tambm a histria de uma me e dos seus filhoscercados na praa mais central pelas tropaso horror no conse&uia transpor as re&i8es

    para salv*1los.Mas o sol da manh abertocomo uma &rande infecodemarcou as dire8ese fe# os soldados se perderem.

    Esta a histria de uma mulher que escondiaseus filhos da cidadee tambm das chuvas e do sol que ocupavam

    )T

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    40/58

    as orelhas e enchiam os nossos bolsos de sonhos.E assim foi essa presena sem al&emasdessa mulher e dos seus filhos.Bravo sobre o mar1alto das m*quinas e dos crimes.ara durar o tempo que dura um c+rculo e no mais.(A VOZ DO CHEFE DISTRITAL INVADE A CANO DA MAE E OCUPA TUDO.

    PARALELAMENTE UM FUNDO IN CRESCENDO DE M$SICA DE BACH 'ATRAVESSADA POR FANFARRA.!BJEGE 6L"3-L3AFJo>e um dia especial. pa+s tem marchado em passo de &anso para a prosperidade e a ordem. Es1to todos de parabnsC Bidados, ho>e o dia do homem nacional. (!parece num plano superior S.que se mo*endo no mesmo lu#ar parece estar marc/ando #arbosamente.)MAE=e>amC ". Aquele parvo. "e eu no o conhecesse eu diria que se trata de um &eneral. =e>amC (Ri)A mesma roupa dos chefes, o mesmo &arbo. "er* que ele >* sente dio: Ele acabar* por despre#ar a&ente.J.

    =e>a, me. Ele marcha como um cavalo. ". est* cheio de cores.MAEBomo um cavalo de p. ". est* cheio de san&ue.CHEFE DISTRITAL=e>am, essas so as nossas tropas. 3ropas frescas para a preservao da se&urana dos cidados e

    para a manuteno da ordem. Bidados, feste>emos este dia, tra#endo at aqui um rapa# que re1presente a eu&enia nacional. Hm puro espcimen dopedi#ree nacional. ;uem se oferece: ;uem de1se>a representar o ho>e e o amanh desse pa+s que no p*ra de crescer: Hm desses rapa#es que noficaram em casa se masturbando mas que vieram at aqui ovacionar as nossas tropas. (!pontando

    para R.) =oc'C =enha aqui rapa#. "uba ao palanque. Aproe um dia especial.J.Me, esto chamando -...MAE-.:CHEFE DISTRITALGale al&uma coisa para ns. =enhaC 9o tenha medo...MAE=ai -., mas no deiuventude responde afirmativamente aoseu chamado. (R. 4 est no palanque) 6i&a1nos al&uma coisa. =amosC que voc' tem a di#er: (!

    sen/ora do consel/o e o c/efe distrital se distanciam de R. apertando com a mo os seus narizes)Gale >ovem. Mas o que se passa:MAELma&ino. que poderia ter acontecido:SENHORAEle ca&ou nas calasC (*ao)

    (PASSAGEM DA CENA' FUNDO MUSICAL DE BACH.!COROAh, noC mesma outra ve#.

    40

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    41/58

    $T de >ulho 5 3ranse

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    42/58

    R.=oc' lisa e tambm no . =oc' tem esses pequenos repu

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    43/58

    me conhecem. 9o a primeira ve# que nos vemos. ;uero meu filho de volta ou sacudo a cidadecom meus &ritos. 9o dei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    44/58

    um. (J. *ai fazendo tudo que a me manda. !os soldados) Ei, esto me ouvindo: (Eles asso*ia*ampara J.5 aparece um terceiro soldado. 5rita) ? verdade que ho>e pela madru&ada ee... ou foi ontem:SOLDADO)9o ouvimos bem. que voc' quer:SOLDADO$Amanh temos licena. Avise a menina. Amanh.MAE(!lto) verdade que eoelhos, escureceram seus olhos. E chovia. ar cheio de *&ua escondia dele todo omeu amor. 9enhuma ave por perto para entrar em sua dor, para tranqXili#*1lo. (5rita) h, an8es domundo, vou fa#er pOnico em meio dos seus &alinheirosC

    CENA 24CENA 24(R. CHEGA AO LUGAR ONDE ELE DEPENDURA OS BICHOS #UE MATA.!

    R.(3on0lo#o)A&ora no falta mais nada. Mais nada que me demore. 9o h* mais nada que caiba entre os animaise o homem. Bhe&uei perto, muito perto, a&ora devo me apressar. Mas como que se mata umhomem: Bom um animal f*cil. ? su>o e f*cil. Bom um homem... parece que preciso tanto

    pensamento. ode1se fa#er um homem doer: Mas assim... dessa forma, no vou conse&uir. recisome esquecer e me lembrar. 6evo matar um homem como se destri um >ardim 5 >o&ando1se emcima dele e devastando tudo. (Ele comea a ol/ar onde esto dependurados os bic/os) Acho que

    posso, como pude cada uma dessas mortes. rimeiro matei o verme, depois a mosca, depois aaranha, o la&arto... (surpreso). Esto nascendo flores no cip. Esto nascendo flores neste corpocheio de mortes que eu fi#. (+urioso) Hma flor minIscula como uma unha, mas to enfeitadaquanto uma noiva. (Tornando distHncia) que quer di#er isso: (Entusiasmado) meu cemitrio seinventa contra mim, ele volta a m*scara. Ele no quer morrer. (+omo que preso por inquieta9esinternas) Mas eu no posso dei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    45/58

    CENA 2!CENA 2!(U6 ;5?> )@); / /@)3)>. P>// ;? /34>/ 56 6)4>) / 56 '/;. U6 06/6 /*45>)33. 56 4)' ;>, / 5;* /*5>*. T)' / ?>3/ )/. N 54> ; -*/ R./;0 >/;)?)*6/34/. #53 06/6 4/>6)3 / /*4 43 * ;* 6/ @;>*/6 *)> */5 ;5?>. F53 65*); / B0.!

    R. (Procurando c/amar a ateno do /omem)Ei. Ei. =oc' mesmo. Est* me vendo: Eu tambm estou te vendo. Estamos no mesmo lu&ar. lhe1me bem. Eu respeito. ( /omem est um pouco perple%o) =e>a, estou a>oelhado, ento eu respeito.6evo ser o Iltimo a a>oelhar numa i&re>a. (Er#uese) Hma ve# vi isso. Goi no outro ee o velho sou eu. ode di#er por a+ que ainda h* um homemque re#a.HOMEM(+/ateado)? comi&o que voc' est* falando: (Tira o palet0 para la*ar as mos) Eu no sei de nada. (Passando#ua no rosto) "abe, isso aqui um mictrio pIblico. =oc' parece que est* numa i&re>a. Mas isso com voc'. Jo>e em dia se v' cada coisa... (;rBnico- la*ando as mos) =e>a. Eu tambm fao o quecada dia se fa# menos. Favo as mos. (Ri)

    (R. #UE J& RETIROU UMA FACA DO BOLSO SE APROXIMA DO HOMEM POR TR&S.!HOMEM(l/ando pelo espel/o)Ei, voc' um rapa#inho. Hm menino que se chamou de velho. Essa no entendi. (Penteandose);uando voc' crescer dar* mais valor a tudo, ento...R.(Ele se lana sobre o /omem e o apun/ala *rias *ezes)3ome, tome. Mais uma ve#, outra.HOMEM

    9o. 9o. "ocorro. (+ai o /omem5pausa)R.? f*cil. 3enho que lev*1lo. 3enho que coloc*1lo ao lado do besouro, do rato, do passarinho e docachorro. (6arul/o de *ozes e assobios de #uardas)

    CENA 2"CENA 2"(R. EST& PUXANDO O CORPO COM DIFICULDADE. NUM PLANO MAIS ALTO DOISGUARDAS O PROCURAM COM LANTERNAS.!

    GUARDA 1 &rito veio de l*.GUARDA 26e l*: Ali uma rua sem sa+da. 6eve ter sido por aqui. 6e onde eu estava eu ouvi como se fosse aomeu lado. Llumina por aqui. (Eles procuram)

    -. (Embai%o- pu%ando o corpo.)Estou fechando o c+rculo e no me lembro de nada. (;rritado) Goi f*cil demais. Escapou tudo. 9oadiantaria nem repetir. ($er*oso) 3udo parece i&ual, tudo ainda parece i&ual. (+om medo) ndeest* a me: Estou com fome. reciso comear e ficar ali no comeo. h, eu estava bemC erto, bem

    perto daquele cheiro do leite e do cobertor em mim. Eu estava bem, e sabia que estava porque euestava quente, a l+n&ua dentro e os >oelhos prendendo o corpo de cima e os ps apertados no cho.Eu era al&um, eu era um peso f*cil de levar e as calas no estavam su>as e a urina estava presa ecorreta. Eu no me enver&onho e a me estava perto e a carne dos seus braos sal&ados e o leite...("esesperado) Mas ento por qu': ($o mesmo tom de antes) (usto era tudo, o cachorro bom e asflores estavam inteiras como pedras, a *&ua no ca+a dos lados e eu tinha tomado a sopa. A meestava l* e o cheiro de leite e depois o cobertor cin#a enrolado. Mas quem ia fa#er com que isso

    continuasse: Era preciso salvar tudo depressa para que depois no morresse, para que tudo noamanhecesse morto como os bichos. Goi isso: Goi isso, ento: Mas ser* que estou certo: Estoudescobrindo tudo: que falta: Ento eu disse, isso um la&arto e lento e quente. =ou .pr a

    4

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    46/58

    mo na morte e na vida. E fi#. E voltei a fa#er. (3elanc0lico) @-., di#ia (., sente1se, e eu mesentava. @-., di#ia "., l*, e eu ficava no canto. E o tempo cheio de lu&ares estava com muito sol edepois com sombras. E tudo eram >ardins se pondo e depois se removendo, perto de "., de (., dame e tambm de . 3udo isso enquanto +amos e v+nhamos pela cidade. E eu estava bem, e euestava bem.GUARDA 1

    =e>aC 3em san&ue aqui...

    GUARDA 2Bontinua para l*. =amos.

    CENA 2#CENA 2#(A CENA DO SUPLCIO. DUAS CRUZES #UE SERO LEVANTADAS. SO DOISFUNCION&RIOS P$BLICOS CRUCIFICADOS. ENTRE AS CRUZES SE ENCONTRA UM

    PE#UENO ESTRADO ONDE SER& SUPLICIADO O PEDFILO. O CHEFE DISTRITAL #UEM FALA PARA TODOS. O CIVIL E O MILITAR, JUNTO COM UM CARRASCO DECAPUZ, ATUAM NO SUPLICIAMENTO. UM GRANDE SLIDE DE R. CONTEMPLANDO

    CURIOSAMENTE. #UASE NO FIM DA CENA ILUMINA-SE O LUGAR ONDE SEENCONTRAM A ME E J. M$SICA DE BACH " S DEPOIS COMEA A CENA. ACANO EST& CHEGANDO A HORA INVADE O FUNDO #UE UMA M$SICA DE

    BACH.!

    CHEFE DISTRITALovo ami&o, &ente ordeira, cidados da &rande cidade. Jo>e um dia de festa mas tambm derefleam os senhores que asforas do mal continuam a atuar e podem nos condu#ir sorrateiramente aos caminhos do desrespeitoe do deboche. ara que isso no acontea continuamos a ensinar o nosso povo. Jo>e tra#emos a estacomemorao crianas deste pa+s para que ve>am e testemunhem o nosso comportamento nas horascr+ticas. A esquerda, tenho o pra#er de anunciar, esto .000 crianas educadas no mtodo do @amorcorreto que vieram ver e aprender >unto conosco. Jo>e um dia tambm importante porque oep+lo&o de uma das mais trabalhosas investi&a8es dos nossos especialistas de desvios see, para o que estamos usando dois funcion*rios

    pIblicos relapsos. Ali*s acreditamos, se de boa conta lembrarmos, que estes dois funcion*riospIblicos esto pa&ando pena na penitenci*ria do Estado por terem aderido ao movimento &revistaautodenominado catatnico. (Entra o ped0filo le*ado pelo carrasco at& o estrado central. *aodas crianas. Entusiasmado) "enhores, est* entrando a&ora o pedfilo. Gi&ura central desteespet*culo. Aquele mesmo que foi surpreendido com as mos nas n*de&as da criana ., forandouma criminosa abertura lon&itudinal. Morte a eleC (*ao.) Morte a eleC (*ao.) A&ora sil'ncioC"il'ncio. 6o contr*rio no poderemos ouvir nem os &ritos nem as confiss8es da v+tima. ara isso osouvidos devem estar atentos e a inteli&'ncia a&uda 5 desfaam1se ento dos papis de bala e di&amo que precisam di#er aos seus vi#inhos porque depois nada mais ser* permitido. Ateno, dou a&orain+cio ao espet*culo.CIVIL(oz neutra)

    Bonforme ficou decidido, este senhor em questo (apontando com o dedo) ser* partido em partes eestas partes recolhidas num saco e levadas por todo o pa+s para e

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    47/58

    comprometedoras 2s mais vitais. ra, isso tem como princ+pio 5 e at as crianas sabem propiciara v+tima momentos de profunda dor e ento de arrependimento. ;uando ento, estenderemos ummicrofone at os l*bios da v+tima buscando captar suas palavras de reconhecimento e pesar.(RETIRA-SE A CAMISA DA VTIMA. O CARRASCO AFIA O SEU MACHADO. ASCRIANAS ENTOAM A CANO EST& CHEGANDO A HORA...!CIVIL( ci*il e o carrasco se apro%imam da *@tima. ci*il que est perto dela se apro%ima de

    um #olpe enfiando suas mos no rosto da *@tima- que d um #rito /orr@*el)Bomecemos com os olhos. (itorioso) Ei1losC s doisC ara ele nunca mais ver. (*ao. ci*il#uarda os ol/os no seu bolso.) =iu como foi f*cil. Bomo at mesmo estas coisas so f*ceis. E a&oraas mos. =amosC ( carrasco e o militar se#uram um dos braos da *itima- eles cortam uma dasmos e a *@tima d um #rito de dor. mesmo & repetido com a outra mo.) Hma. ? pouco. Bomo&rita esse homemC =amos com a outra mo. rontoC (*ao demorada. 3ostrando) Ei1las. Asduas mos. rontoC 6isso pelo menos >* estamos livres. Fivres destas duas mos corruptoras ecriminosas. (+anoEst* che&ando a hora...CARRASCO(+/amando a ateno do ci*il para os esforos da *@tima que a#ora quer falar)Ea a&ora se a v+tima dese>a falar al&uma coisa para todos que esto aqui presentes. Breioque ns estamos nos apro* no posso me moverC or favor. Meu 6eusC (esus piedade, piedade.CIVILer&unta se ele se arrepende, se ele dese>a para a nao dias melhores. er&unte dos valores, dos

    nossos valores.CARRASCO6e valores eu no entendo. "e o senhor quiser. (+omo quem *ai ceder o seu lu#ar) Minha funo

    4%

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    48/58

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    49/58

    J.(+omo que reunindo cora#em)Me, >* sabem que fomos ns que roubamos o brao. Hm soldado me disse que. no &rande >ornalmural da cidade est* escrito que vo cortar o outro brao do ladro. (+/ora)MAE

    9o. Lsso eles no faro. (!n#ustiada) "e pudssemos pelo menos vin&ar. =in&ar ., vin&ar ". etambm me vin&ar. =in&ar todos ns. Acho que no podemos. ("epois) Estou cansada. (Sentase)

    =ou ficar por aqui. Est* deserto e tem uma fonte de *&ua na outra ponta.R.Me eu. (Entusiasmado) Jo>e domin&o. 9esse dia um deles aparece com os dois bonecos quevem daqueles &randes cru#amentos.J. verdade. 9os domin&os eles ensinam. 3odo mundo vai estar l*.MAEE o que voc' faria, -.:R.Eu... eu me lanaria sobre ele.MAE

    9o. Jo>e no. 9o temos armas. 9em mesmo uma pedra. =em c* meu filho (Ela se abraa em R.)Meu Iltimo filho.J.Me, -. capa# de tudo. Ele >*...R.(Soltandose) verdade. Eu posso tudo. Eu vou, eu tenho que ir. "e puder ficar por perto eu...MAE"e puder ficar por perto... Mas nin&um conse&ue ficar perto deles.R.Eu subo alto. 9um muro, num edif+cio, eu...MAE(5rita)

    9o. ("epois- tranqLila) Est* bem. (Tira de dentro da saia a na*al/a) =e>a, uma navalha. Eu voulhe ensinar como se se&ura. (Ela mostra a R. como se de*e se#urar a na*al/a) e&ue ela assim,com os dedos. (R. mostra que aprendeu) E a&ora mova todo o brao. "e voc' conse&uir apro

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    50/58

    pisaram em meus braos.MAE6epois veremos. Bontinuem a empurrar.R.Me, fui eu. corpo meu. Eu conse&ui.MAE(Sempre denotando cuidado)

    Bale a bocaC "e te ouvirem estamos perdidos. EmpurremC Estou com as mos em carne viva e aindafalta toda a avenida para che&armos l*.J.Estou com fomeC Acho que fa#em dois dias que no comemos. 6ois dias, ......MAEEu sei contar. Goram dois dias cheios. E os pre somos mais queos ratos que sempre fomos. =amos. Gora. =amos nos esconder na cai* devem ter espalhado pela cidade. Eles vo querer ocorpo. 3odo mundo deve estar 2 nossa procura.R.Ele meu. Gui eu que fi#. (+ontinuando a empurrar)MAEEle nosso. E eu tambm no quero troc*1lo por nada. Mas vamos assust*1los. A todos eles. ?

    preciso que falem e pensem no que fi#emos, eles devem sentir medo.J.Bomo: Eles so fortes. Eles esto em toda parte. Eu tenho medo, me. "ou eu que tenho medo.MAE(+om desprezo)Medo. Empurrem. ("epois) =oc's no devem ter medo. Lsso no podemos ter, seno ficam osfracos. =amos assust*1los, compreendem:R.Eu compreendo, me... (. no compreende...MAE

    Estamos che&ando. Empurramos a carreta at o e

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    51/58

    MAEEu te a>udo.Ela se#ura a ma para J.- que a come em suas mos.)(ESCURECE A CENA E DEPOIS DE UM CERTO TEMPO!CIVIL($um outro plano5 obser*ando com a mo sobre os ol/os)

    9o compreendo. Eles levam al&uma coisa naquele carro de mo mas o que pode ser: (ornaisvelhos, roupas, comida. (Pausa) ;uanto tempo mais ficaremos aqui:

    SENHORAAcho melhor voltarmos 2 central e receber novas ordens. Hma metade da cidade ou pensa ou fa#al&uma coisa contra.MILITARHma metade pouco enquanto a outra trabalhar e vi&iar. (Somem)

    CENA 31CENA 31(VAI AMANHECENDO. A MAE DORME SENTADA NO CHO E APOIADA NO CARRO DE

    MO. J. E R. DORMEM NO CHO.! S EST& SOBRE A CAIXA D&GUA COM AMETRALHADORA NA MO. ELE TEM DIFICULDADE EM SE UM VER DEVIDO AOFERIMENTO #UE TEM ENTRE AS PERNAS. A LUZ DA MANH VAI PENETRANDO A

    CENA E ILUMINA S. ELE PROCURA CHAMAR A ATENO DA MAE E DOS SEUSIRMOS. 1S VEZES AO LONGE BARULHO DE SIRENES DE CARRO DE POLICIA.!

    S.(+/amando)Ei, meC AcordemC (Pausa) Ei, sou eu. Eu, ". Est* amanhecendo. MeC (Ele bate com a coron/ada metral/adora no c/o) Acordem. Estou aqui. lhem para c*. Aqui, na cai* estava louca (R. e J. esto se le*antando) (., ve>a ". est* vivo.Estamos >untos. ($outro tom) =oc' no sabe o que tem acontecido. Eles esto atr*s de ns. Estamostodos acuados. =oc' e ns.S. (!pressado)siuC Gale bai

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    52/58

    Ento fe# bem. =e>a o que temos aqui. Hm &raIdo...J.

    9o o chefe distrital, me.R.Bala a boca.MAE

    ;uem , ento: ? importante:R.?, me. Estava ao lado dele. Acho que um rei. (6arul/o de carro de policia ao lon#e)S.

    9o esperem mais. Eles esto perto. ("e repente) Gu>amC Gu>am daquiCMAEara onde: =amos ficar >untos. 9o temos escapatria. Matamos. 9in&um mais perdoaria a &ente.S.Mataram quem:R.Hm rei.

    S.9o eude. (Enquanto S. se apro%ima com dificuldade a me e R. tiram o corpoenrolado em lona do carro de mo. Para S.) =oc' est* ferido:S.Estou. 9o nada &rave.MAE=olte. 9s carre&aremos o corpo.S.

    9o. Eu a>udo.MAEA sua cala est* toda su>a de san&ue. =olte.S.

    9o nada. san&ue >* parou. Me a>udem. (s tr7s le*am o corpo e J. com muito esforo le*a assacolas.) Acho que dever+amos fu&ir.

    MAEara onde:S."ei l*.MAE? aqui ou lu&ar nenhum. (* andei esta cidade mil ve#es e no me lembro de outro lu&ar. 3enho umaidia. Gicamos escondidos de dia aqui e 2 noite sa+mos para conse&uir comida.R.3em comida &uardada l* dentro. Eu sei que tem. Eu vi.S.Est* toda comida por rato. (5ritando de dor) AiC arece que vai romper.

    MAE6ei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    53/58

    CENA 32CENA 32(NUM OUTRO PLANO. O CIVIL DO CONSELHO DE AUTORIDADES OBSERVA A CAIXA

    D&GUA A DISTa bem1vindo.MILITAR(1azendo contin7ncia)E

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    54/58

    MAE(Sem li#ar a R.) Amanh queimamos ele, mas sem que nin&um l* fora ve>a. ;uero que pensem que&uardamos o corpo o tempo todo.R.

    9oC 9o quero que queimem o corpo.MAE

    Bala a boca. A idia foi minha.R.Gui eu, fui euCMAEBala a boca. ($outro tom) "., voc' se encosta neste canto e fica a+. =ou te fa#er um curativo. (aiat& a sacola e pe#a um trapo e uma saia de mul/er) 6eita. Estende essa perna. 6i:S.6i muito, me. (! me comea a tirar a cala de S.)MAE-., p8e um pouco de *&ua na lata. (R faz o que a me manda.) =oc' est* muito ferido. Gica calmo.=ou limpar isso. (+om rai*a) -. estou esperando. (R. traz a #ua.)

    S.Me, se eles atacarem vamos nos entre&ar. ? melhor. Eu conheo eles.MAE

    9o. 6e >eito nenhum. Eles te matam, matam -., me matam. Matam todos ns. Gicaremos aqui avida toda se for preciso. ". est a#ora sem as calas.) Meu 6eus, voc' est* muito ferido. (Para R.)Molhe esse pano. (R. mol/a o pano.) nde eles te acertaram, pobre filho:R.

    9os culh8es, me.MAEBala a boca. 9o verdade ".S. que aconteceu, me: 9o sinto mais nada entre as pernas. (5rita) Ai, est* doendoC *ra, meCMAEEstou tirando o san&ue. ? *&ua. bom.S. (Resistindo)

    9o, no. Bhe&aC 6i demais.MAE(Parando de limpar)Est* bem. onha esta saia a&ora. Me a>ude, -. (Eles *estem uma saia em ".!o lon#e um barul/o de

    sirene de carro de pol@cia.) Bom cuidadoS.uviu, me: Acho que eles esto perto. 3enho certe#a de que eles esto perto. reciso olhar. (Ten

    tando ser er#uer.) 3enho que ver se tem al&um deles perto daqui. Me deiude ele a se levantar. (S. empurra R.- que

    procura a4udlo. 3eio er#uido ol/a pela fresta- depois *ai caindo de*a#ar.) 9o h* muita coisapara se fa#er. =amos esperar. elo menos at amanh.

    J.Me, vou vomitar. Est* um cheiro...R. do corpo do morto que meu corpo. A me sabe que meu. A &ente vai se acostumar. A &ente seacostuma com o cheiro.

    MAE6ei

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    55/58

    ;uero dormir, me.MAE(Junto de J.)Lncharam.J.arecem dois bal8es. ? como se os punhos tivessem desaparecido.MAE

    Gique calma. (Para R.) 3ra&a *&ua, -. =ou derramar *&ua em teus braos. =oc' vai sentir umal+vio. ("errubando a #ua nos braos de J.) Est* bom:J.Est*, me. Bhe&a. ;uero dormir.MAE(Para R.) e&a o cobertor da sacola. (Para J.) A&ora voc' vai dormir.J.Estou quente. Me, acho que vou morrer.MAE

    9o, nin&um vai morrer aqui. 6urma.(. ("e repente)

    E os ratos: 3enho medo dos ratos.MAE mentira deles. 9o tem rato aqui. 6urma.S. (!preensi*o)siuC Giquem quietos. Esto ouvindo: (Pausa. Esto todos atentos.) Eles esto encostados na

    parede da caiudar. 8e ele nocanto, -. (R. a4uda S. a ficar no seu canto.) =oc' tem que descansar. 6orme. =e>a (. Ela est*

    dormindo. Amanh voc' est* bom.S.(3ais resi#nado) ;ue amanh: 9o tem amanh.

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    56/58

    MAEEstamos todos >untos. Lsso o ho>e e o amanh pra ns.S.6e que serve estarmos >untos: (+/orando) Eu quero viver, eu quero viverCR.Ele est* com medo, me. or que ele est* com medo:

    S.(6ai%o) Eu estou com medo. ? verdade. E todo aquele dinheiro no bolso da cala. professor disseque eu poderia viver uma nova vida. Eu podia ter tomado um trem. Acho que ele me disse que eu

    podia ter tomado um trem.MAEAquele que te traiu:S., aquele que me traiu. (S. silencia. R. tira o corpo do embrul/o da lona e le*a para cima de umamesin/a sem que a me perceba.) E a&ora: E a&ora: Me sinto mal. Ai, como estou mal.MAE6orme, ". (* no se ouve nada. Eles foram embora. (. est* dormindo. Ela vai acordar curada. Es1

    tamos todos >untos. Acho que at . est* aqui. Eu tambm vou dormir. Estamos numa bola de ci1mento que est* caindo ou subindo, com todos ns dentro.(O LAMPIO PERDE MUITO DE SUA FORA. R. CONTINUA O SEU TRABALHO COM OCORPO DO MORTO. PASSA UM GRANDE TEMPO. SOBRE A CAIXA D&GUA " NUM

    PIANO SUPERIOR " APARECEM TR9S M$SICOS EXECUTANDO BACH. DEPOIS DEUM CERTO TEMPO A AO VOLTA PARA O INTERIOR DA CAIXA D&GUA. #UANDO A

    AO VOLTA PARA O INTERIOR DA CAIXA D&GUA OUVE-SE UMA FORTERESPIRAO ABAFADA, DIFCIL, #UE OCUPA TODA A CENA.!MAE(!cordando de repente)-., onde est* voc':R.Estou aqui, me.MAE que voc' est* fa#endo:R.(Saindo de perto da mesa)

    9ada, me. =ou dar *&ua para ". Est* bem:MAEEst* abafado.R. corpo est* cheirando mal. Eu abri, me. (Enc/endo uma lata com #ua)MAE("esesperada)

    or que, -.: (Em cima) ? ". que est* &emendo:R.E ele.MAEEst* escuro. (Tosse) =oc' me

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    57/58

  • 8/13/2019 A Caixa de Cimento

    58/58

    seus dois olhos de fo&o. Esta vendo, me: (! me parece desacordada) obre#inho. Est* ouvindo:Ele respira com dificuldade. Ele est* so#inho, que vo fa#er com ele: "eus pulm8es voarrebentar. Ele vai morrer. or que ele tem que morrer tambm: =e>a, me. &rande animal1tudoem sua roda me olhando com seus imensos olhos. Eu o estou apertando com as mos. c+rculo est*fechando. "abe, me, todas as sombras, todas as noites do mundo nos seus p'los, mas ele *&ilcomo um raio de lu#. Ele no quer morrer, ele no quer afundar1se sobre si mesmo como uma coisa.

    (3elanc0lico) ;ue vamos fa#er: (Rai*oso) ;ue vamos fa#er: ("erruba o corpo da mesa) Ele noquer morrerC Ele no quer morrerC(OS TR9S M$SICOS PERMANECEM NA PARTE SUPERIOR TOCANDO BACH.!