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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS LUISA DAHER A CAFEICULTURA NO SUL DE MINAS GERAIS, ESTUDO DE CASO: A FAZENDA CONQUISTA Alfenas/MG 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

LUISA DAHER

A CAFEICULTURA NO SUL DE MINAS GERAIS, ESTUDO DE CASO:

A FAZENDA CONQUISTA

Alfenas/MG 2011

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LUISA DAHER

MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO SUL DE MINAS GERAIS

O CASO DA FAZENDA CONQUISTA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos do curso de Geografia Licenciatura pela Universidade Federal de Alfenas. Orientador: Dr. Flamarion Dutra Alves.

Alfenas/MG 2011

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Para Newton Daher

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof º. Flamarion Dutra Alves pela dedicação e paciência na orientação deste trabalho. Aos meus familiares, em especial ao meu irmão Daniel e minha tia Nenê, por todo o apoio e confiança. À Ericson Hayakawa pelo companheirismo e amor. À Pedro Cisi pela sincera amizade.

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RESUMO

A modernização da cafeicultura, que atingiu principalmente as médias e grandes

propriedades, contribuiu diretamente para a inovação e para a dinamização da

produção do grão e, como resultados observaram-se alterações nas relações de

produção e no arranjo organizacional do território.

Neste contexto, a produção adquire a característica de competitiva, por meio de seu

intenso processo de internacionalização. Portanto, esta se torna funcional à lógica

externa, tanto em relação às demandas quanto às exigências. Diversas

competências foram criadas visando garantir uma logística eficaz que em

conformidade com o aumento da produção e da produtividade conferisse maior

fluidez ao território.

A rede vinculada ao circuito produtivo do café assume posição central na estrutura

territorial da região, ligando os diversos elementos necessários para reforçar a

especialização produtiva já existente.

A Fazenda Conquista, localizada no município de Alfenas/MG, destaca-se entre as

maiores produtoras de café do mundo, com notória diversificação e verticalização de

sua produção. Assim, entrevistamos um funcionário do grupo Ipanema com a

finalidade de evidenciar a competitividade que atinge a fazenda e a importante rede

na qual esta ocupa lugar central, para que desta forma possamos melhor

compreender a realidade da região em questão.

Palavras-chave: Cafeicultura. Região competitiva. Redes.

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RESUMEN

La modernización de la caficultura, que ocurrió principalmente en las medias y

grandes propiedades, contribuyó directamente para la innovación y para la

dinamización de la producción del grano, y como resultado se observaron

alteraciones en las relaciones de producción y en la organización del territorio. En

este contexto, la producción adquiere la característica de competitiva, por medio de

su intenso proceso de internacionalización. Por lo tanto, esta producción se vuelve

funcional a la lógica externa, tanto en relación a las demandas como a las

exigencias. Varias competencias fueron creadas con el objetivo de garantizar una

logística eficaz, que estando en conformidad con el aumento de la producción y de la

productividad atribuyera una mayor fluidez al territorio.

La red vinculada al circuito productivo del café asume una posición central en la

estructura territorial de la región, uniendo los distintos elementos necesarios para

reforzar la especialización productiva ya existente.

La hacienda llamada “Fazenda Conquista”, ubicada en el municipio de Alfenas, en el

estado de Minas Gerais, se destaca entre las más grandes productoras de café en el

mundo, con una notoria diversificación y un aumento vertiginoso en su producción.

Así, entrevistamos un funcionario del grupo “Ipanema”, con la finalidad de evidenciar

la competitividad que atinge la hacienda y la importante red en la cual esta ocupa un

lugar central, para que de esta manera podamos comprender mejor la realidad de la

región en cuestión.

Palabras clave: caficultura, región competitiva, redes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................8

2 OBJETIVO GERAL .......................................................................................11

2.1 OBJETIVOS ESPCÍFICOS .........................................................................11

3 REGIÃO COMPETITIVA E MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA ............12

4 REDES E O TERRITÓRIO ............................................................................16

4.1 REDES E O COMPLEXO AGROINDUSTRIAL ..........................................19

5 METODOLOGIA .............................................................................................22

6 RESULTADOS ...............................................................................................24

7 CONCLUSÃO ................................................................................................29

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................30

APÊNDICE I – QUESTIONÁRIO FAZENDA CONQUISTA .............................33

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1 INTRODUÇÃO

A desregulamentação do setor cafeeiro na década de 1990 contribuiu para a

sua modernização. Este processo foi resultante de dois fatores: i) a crise do Estado

e, ii) os resultados da política de valorização dos preços do café no mercado

internacional. Com isso, novas empresas ingressaram no setor cafeeiro, instituindo

cooperativas e associações que fortaleceram esta monocultura, o que contribuiu

para o seu avanço no mercado externo. Houve um intenso processo de

modernização das redes produtivas do café, com inovações tecnológicas relevantes

como o uso de novos insumos agrícolas, incorporação de modernas máquinas à

produção, criação de selos de qualidade, dentre outros fatores que dinamizaram e

reestruturam a dinâmica territorial nacional.

No contexto nacional, Minas Gerais destaca-se como o principal estado

produtor de café com produção total de 23.944 milhões sacas beneficiadas de café

na safra de 2010, o que corresponde a 53% de todo o café produzido no Brasil

(ABIC, 2011). O território cafeeiro mineiro possui como área de produção 1.007.400

ha e área de formação equivalente a 128.835 ha. Com base nesses valores, a

produtividade fica em torno de 23,77 (sacas/ha). O estado também possui relevância

na produção de cafés especiais, principalmente dos tipos orgânico e Gourmet,

representando 51% da produção nacional.

A região sul do estado de Minas Gerais é a maior produtora de café

nacional, com participação em torno de 38% na produção total do estado,

ressaltando a importância da tradicional produção de mais de um século do café

arábica. Grandes partes das propriedades produtoras do grão são de pequeno e

médio porte, no entanto, algumas das maiores e principais fazendas produtoras do

país se localizam também na região, como é o caso de algumas das fazendas do

grupo Ipanema Coffees.

A Ipanema Coffees surgiu em 1969, com a visita de três empresários a

Alfenas. No município eles adquiriram a primeira fazenda, São Joaquim, e fundaram

o Condomínio Aliança, futuramente chamado de Ipanema Agroindústria S.A.. Entre

os anos de 1970 e 1986 ocorreu o processo de implantação, com a aquisição de

novas fazendas - Campo Verde, Conquista, Capoeirinha e Vitória.

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A área do grupo que anteriormente era de 230 ha passa a apresentar um

total de 7.000 ha. Começaram então, os investimentos na infra-estrutura do preparo

de benefício do café. Em 1986 a Ipanema Coffees possuía 3.000 ha de café

plantados. Nos anos seguintes foram feitos investimentos para a melhoria na

estrutura de lavagem e secagem do café, com a finalidade do preparo dos cafés

descascado e despalpado.

Na década de 1990, concomitante ao processo de modernização da

cafeicultura, a empresa iniciou suas exportações, tendo como primeiro parceiro a

Alemanha. Nesse mesmo período, foi inaugurada a torrefação e foram criados os

primeiros cafés com a assinatura Ipanema - Labels -. Com a produção de cafés

especiais e significativo destaque no mercado internacional, a Ipanema criou

importante aliança com a Starbucks, maior rede varejista de café do mundo, por

meio de um contrato de exclusividade.

Com incorporação crescente de novas tecnologias e o consequente

aumento na produtividade a empresa diversificou ainda mais sua produção com a

criação de novos labels, expandindo consideravelmente suas relações até alcançar

o número de 1.000.000 de sacas de café exportados direto das Fazendas.

Para assegurar a notável presença no mercado internacional, foi criada a

empresa Ipanema Comercial e Exportadora, com sede na Fazenda Conquista,

município de Alfenas. Seu principal objetivo é garantir a comercialização e a

exportação dos cafés produzidos além de também ser responsável pelo comércio

interno do produto, por meio dos cafés moídos e torrados, torrados e em saches.

Nos últimos anos tem- se observado o processo de internacionalização da

Ipanema com o fortalecimento das alianças já existentes com alguns países,

principalmente Alemanha e Estados Unidos, aumento das exportações e por meio da

aquisição de ações da empresa por grupos estrangeiros.

Atualmente, a empresa possui cinco unidades de negócio: Conquista,

Capoeirinha, Rio Verde, Conquistinha e Santana. Trataremos nessa pesquisa as

relações comerciais e a dinâmica produtiva e de trabalho da Fazenda Conquista.

Localizada no município de Alfenas, com coordenadas geográficas 21° 18’

20’’ Latitude Sul e 45º 55’ 24’’ Longitude Oeste, a Fazenda Conquista é uma das

maiores áreas com produção de café no mundo com seus 1.800 há, o que

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corresponde à quase 18 % da produção total do município (Figura 1). Desse total,

79% são destinados ao plantio de café e o restante da área é destinado a reservas

florestais. Por estar situada em uma região com topografia bastante plana, a

Fazenda é considerada totalmente mecanizada. Contudo, a Fazenda conta com um

elevado número de funcionários, em torno de 1.400, desse total, grande parte dos

trabalhadores são residentes de Alfenas, e a minoria é proveniente de outras

cidades do estado de Minas Gerais.

Figura 1 - Total de área plantada de café no município de Alfenas.

Fonte: IBGE, 2010.

A Fazenda possui ainda uma considerável área irrigada pelo método de

gotejamento - 450 ha -. O processo de secagem do café é realizado tendo como

combustível natural durante a safra os eucaliptos plantados na Fazenda

Conquistinha, que por sua vez é anexada à Fazenda Conquista.

São produzidas diversas variedades de cafés do tipo arábica como Mundo

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Novo, Acaiá, Catuaí Amarelo, Rubi Vermelho, Topázio e Bourbon Amarelo e estas

são voltadas principalmente ao mercado externo.

Por fim, pode-se afirmar que há uma forte especialização produtiva regional

no sul de Minas Gerais exemplificada pela Ipanema, e como consequência de tal

processo tem- se o aumento na produtividade e na produção, conferindo à região

competitividade de um produto - o café. Outro aspecto relevante é que tal

competitividade não atinge somente a empresa, mas também o território, por meio

do processo de internacionalização da comercialização e da produção. Tais fatores

conferem à região sul do estado o título de Região Competitiva.

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2 OBJETIVO GERAL

O contexto em que se encontra a modernização da produção cafeeira inicia-

se na década de 1990, quando o Estado desregulamenta o mercado do café. Com

isso, novas empresas entram no mercado, possibilitando mudanças e inovações

tecnológicas. Em algumas fazendas, o uso intensivo de capital, insumos agrícolas e

máquinas promoveram a modernização da produção, privilegiando a produção de

cafés de qualidade, a verticalização da produção e a associação com torrefadoras e

cafeterias internacionais.

Portanto, o objetivo geral desta pesquisa consiste em analisar a cafeicultura

no Sul/Sudoeste de Minas, tomando como estudo de caso a Fazenda Conquista -

Alfenas/MG, que está entre as maiores produtoras de café do mundo, possuindo

uma forte verticalização produtiva e mantendo importantes vínculos com grandes

empresas internacionais do setor.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Discutir o processo de modernização da agricultura brasileira e o contexto do

complexo cafeeiro no sul de Minas Gerais.

- Analisar como a desregulamentação do mercado cafeeiro, no início da década de

1990, contribuiu para a modernização da cafeicultura no Sul de Minas;

- Analisar as estratégias adotadas pela Fazenda Ipanema para modernizar a

produção e se inserir no mercado mundial como produtora de cafés de qualidade

diferenciada;

- Analisar a verticalização da produção da Fazenda Ipanema, com a torrefação e

criação de marcas próprias;

- Analisar as alianças estabelecidas entre as grandes fazendas produtoras de café e

as grandes cafeterias mundiais, como a associação entre a Fazenda Ipanema e a

Starbucks Coffee Company;

- Analisar a logística de produção de café da Fazenda Ipanema (sistemas de

comercialização, meios de transporte e armazenamento, destino da produção);

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3 REGIÃO COMPETITIVA E MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA

Com a difusão do meio técnico-científico-informacional e a globalização

atuando determinantemente sobre o espaço, observa-se a intensificação na divisão

internacional do trabalho, inclusive no campo. Tal fato resultou na especialização

produtiva regional, de acordo com as peculiaridades e potencialidades de cada

região. Com isso, o território brasileiro adquire uma nova configuração por meio do

rápido processo de tecnificação e cientifização do território (SANTOS, 1985, 1994,

1997).

No Brasil, a modernização no campo surge na década de 1960, com a

finalidade não só de contribuir para o mercado externo, mas passa a “ter funções de

suprir a crescente industrialização, com os recursos necessários à sua instalação e

de alimentar a crescente população urbana” (FREDERICO, 2010, p.21). Desse

modo, a agricultura e a indústria passam a estar interligadas, tornando-se

dependentes uma da oura.

A reestruturação do território altera o sistema técnico agrícola do país, por

meio do fortalecimento e criação pelo Estado das instituições de pesquisa - como a

EMBRAPA- e relações intensas com empresas de todo o mundo, e adota-se o

programa da Revolução Verde. Segundo Brum (1987), a Revolução Verde tinha

como objetivo contribuir para o aumento da produção e da produtividade agrícola no

mundo através do desenvolvimento no campo da genética e aplicação de técnicas

mais modernas e eficientes.

Em decorrência da modernização da agricultura e sua industrialização

(KAGEYAMA et al, 1990) surgem os complexos agroindustriais (CAI) na década de

1970, representando a intensa relação entre agricultura e indústria e com

participação direta do Estado como agente regulador.

O complexo agroindustrial é uma forma de unificação das relações

interdepartamentais com os ciclos econômicos e as esferas de produção,

distribuição e consumo, relações essas associadas às atividades agrárias (MÜLLER,

1982).

Segundo Graziano da Silva (1996), o elo que dá unidade às diversas

atividades dos complexos agroindustriais é o fato de que todas elas são atividades

do capital com regulamentação macroeconômica. Há, portanto, presença de

diferentes setores que formando os complexos agroindustriais.

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É importante ressaltar que todas essas transformações ocorridas na

agricultura brasileira foram denominadas por autores como Müller e Graziano da

Silva de “modernização Conservadora”, uma vez que o objetivo principal não era o

de combater a estrutura agrária com caráter fortemente concentrado do país, mas

sim promover o desenvolvimento e o aumento da produção agrícola por meio da

adoção de sistemas técnicos.

Segundo Graziano da Silva (1980, 1996) a modernização conservadora da

agricultura brasileira resolveu a questão agrícola (referente à quantidade e aos

preços dos produtos agropecuários), mas agravou a questão agrária (referente à

maneira como se organiza as relações de produção).

A partir da década de 80 é fortalecida a incorporação de novas tecnologias à

produção como a informática e a biotecnologia e esse aspecto aliado às políticas

neoliberais adotadas no período contribuíram com a maior abertura do mercado para

grandes empresas internacionais, que ocuparam o papel do Estado na regulação e

financiamento da produção.

Para Frederico (2010), a década de 90 marcou a entrada definitiva da

agricultura brasileira no período técnico, científico e informacional. Os eventos

característicos deste período atingiram o campo, transformando as relações

técnicas, econômicas e políticas até então existentes.

Da mesma forma que essa modernização contribui para o fortalecimento de

um circuito produtivo específico, como é o caso do café, torna a agricultura moderna

subordinada ao capital monopolista e cada vez mais suscetível às oscilações e

instabilidades do mercado externo.

Com o período técnico, científico e informacional agindo não apenas sobre o

espaço agrário, mas sobre todo o território, houve um considerável aumento dos

fluxos materiais e imateriais que resultaram no incremento das relações em escala

planetária. No período atual, os diferentes lugares do mundo estão diretamente

conectados, principalmente por meio da circulação e dos meios de comunicação

(SANTOS, 2006; SILVEIRA, 2007).

As regiões se especializam produtivamente e ao mesmo tempo estreitam

suas relações internacionais, tornando-se funcionais ao mercado externo, tanto em

se tratando das demandas, quanto das exigências.

Essas regiões funcionais ao mercado externo são classificadas por Castillo

(2008, p.58) como “regiões competitivas”. Segundo este, a Região Competitiva

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“trata-se de um compartimento geográfico caracterizado pela especialização

produtiva obediente a parâmetros externos (em geral internacionais) de qualidade e

custos” (p.58). Essas regiões atraem grande parte dos investimentos, tanto público

como os privados, o que acaba por conferir uma maior diferenciação dentro do

território.

Há, portanto, um aumento na produção e na produtividade ocasionada pela

especialização produtiva, definida por Elias (2007, p.50) “como a reunião de fatores

produtivos e de características particulares numa determinada porção do território”.

Indissociável da noção de competitividade está o conceito de Logística, que

para Castillo (2008) se refere ao:

(...) conjunto de competências infra-estruturais (transportes, armazéns, terminais intermodais, portos secos, centros de distribuição etc.), institucionais (normas, contratos de concessão, parcerias público-privadas, agências reguladoras setoriais, tributação etc.) e estratégicas / operacionais (conhecimento especializado detido por prestadores de serviços ou operadores logísticos (CASTILLO, 2008, p.).

Nesse contexto, a região Sul do estado de Minas Gerais apresenta-se como

uma região competitiva, pois há nela, uma forte concentração da produção de todo o

café do Estado, conforme podemos analisar na figura 2 abaixo.

Figura 2 – Tabela da produção e produtividade de café nas unidades federativas brasileiras em 2010.

Fonte: (Abic, 2011)

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Outro aspecto importante para a competitividade dessa região é a reunião de

uma série de fatores que contribuem para a especialização produtiva regional –

principalmente o elevado valor das exportações e as crescentes alianças com

empresas internacionais – tornando-a subordinada a uma lógica externa.

Foram criadas no sul de Minas Gerais diversas competências infra-estruturais

(Porto Seco do Sul de Minas em Varginha, Redex de Poços de Caldas e Guaxupé,

armazéns específicos, caminhões contêineres, sistemas de comunicação),

institucionais (presença de agentes da receita federal para o rápido desembaraço

das mercadorias, selo de denominação de origem do café, corretores, cooperativas,

empresas exportadoras), ciência e tecnologia (institutos técnicos federais destinados

a formação e capacitação de profissionais para a cafeicultura, bem como

universidades desenvolvendo pesquisas) e também operacionais (transportadores e

operadores logísticos especializados em café), visando garantir uma logística eficaz

que em conformidade com o aumento da produção e da produtividade conferisse

maior fluidez no território.

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4 REDES E O TERRITÓRIO

O conceito acerca do que é rede é complexo e amplamente discutido. Isso se

deve ao fato de que ao passar dos anos, este foi sendo modificado e recriado por

diversos atores, até que se pudesse avançar e chegar a um conceito estritamente

relacionado com o período atual.

A noção de rede remonta da Antiguidade Grega, uma vez “a ideia existia desde

a mitologia, através do imaginário da tecelagem e do labirinto, mas a medicina de

Hipócrates a associa definitivamente à metáfora do organismo onde todas as veias

comunicam e escorrem umas nas outras” (Musso, 2001, p.197).

A partir do século XVIII o conceito de rede passa a ser referenciado pela

técnica sendo caracterizado então, segundo também as relações com o espaço e

com o tempo. Dentre os conceitos atuais do termo rede destacam-se o de Castells,

Raffestin, Dias e o de Milton Santos. Para Castells:

Redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes

modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência,

poder e cultura. Embora a forma de organização social em redes tenha existido em outros tempos e

espaços, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece a base material para a sua

expansão penetrante em toda a estrutura social (CASTELLS, 1999, p.497).

Logo, “a rede é representada como organismo planetário e parece desenhar a

infraestrutura invisível de uma sociedade, ela mesmo pensada como rede” (DIAS,

2005, p.19).

Milton Santos avança na conceituação de redes, alertando para uma visão

menos técnica e mais territorial, com enfoque maior nas ações determinadas pelos

atores sociais. Ainda segundo Santos, deve-se atentar para a lógica do território já

que “com a presente democracia de Mercado, o território é suporte das redes que

transportam as verticalidades, isto é, regras e normas egoístas e utilitárias (do ponto

de vista dos atores hegemônicos), enquanto as horizontalidades levam em conta a

totalidade dos atores e das ações”. (SANTOS, 2000, p.259).

Levando-se em conta o território, é importante lembrar que no período atual,

este requer maior fluidez de fluxos e funcionalidade frente aos atores que sobre ele

agem diretamente a rede assume papel relevante nas políticas de planejamento

territorial.

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Discorrendo sobre o papel crucial das redes no que se refere à busca pelo

poder por partes dos diferentes atores sociais, Raffestin (1993) dizia que na busca

pelo domínio do espaço tais atores precisam ter conhecimento e controle sobre a

circulação e sobre a comunicação. Afinal, “a circulação é a imagem do poder”

(STOURDZÉ, p.98 apud RAFFESTIN, 1993). Já a comunicação é “a sequência

totalitária da estratégia do poder” (RAFFESTIN, 1993). Portanto, dando continuidade

a seu pensamento RAFFESTIN (1993) afirma que quer se trate de circulação quer

de comunicação, os atores são confrontados sempre com a mesma coisa: uma rede.

Não as “linhas obrigatórias” das quais os fluxos se apoderam e que ninguém nunca

vê em sua realidade e em sua totalidade, mas antes a representação desses

caminhos que ligam pontos.

Portanto, dentre as diversas redes existentes as de circulação e comunicação

representam as que mais se destacam pelo fato de que estas são responsáveis pela

modelagem do território, segundo os interesses hegemônicos. Fica nítida a

crescente importância das redes no período atual, não apenas por estas

representarem maior mobilidade territorial, aumentando a conectividade entre os

lugares, mas também por possibilitarem o controle cada vez mais hegemônico do

espaço-território e desta forma, maior controle social.

No interior de uma região é possível observar várias redes que estão

conectadas e estas por sua vez, estão ligadas a uma rede central, de onde partem

todos os comandos. Essa rede central pode ser uma corporação, uma empresa, o

Estado etc.

Para garantir a fluidez necessária para acompanhar a contemporaneidade, as

redes são também de fundamental importância. Para isso, “criam- se objetos e

lugares destinados a favorecerem a fluidez: oleodutos, gasodutos, aeroportos,

teleportos. Esses objetos transmitem valor às atividades que dele se utilizam. Nesse

caso podemos dizer que eles “circulam”. É como se, também, fossem fluxos”

(SANTOS, 1996, p. 274).

Ainda segundo o autor, “animadas por fluxos, que dominam o seu imaginário,

as redes não prescindem de fixos – que constituem suas bases técnicas- mesmo

quando esses fixos são pontos. Assim, as redes são estáveis e, ao mesmo tempo,

dinâmicas. Fixos e fluxos são intercorrentes, interdependentes. Ativas e não-

passivas, as redes não têm em si mesmas seu princípio dinâmico, que é o

movimento social” (p. 275).

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Uma vez que as redes têm a capacidade de recriar territórios, segundo

interesses, elas podem ser vistas como homogêneas. No entanto são também

heterogêneas e seletivas, contribuindo para uma maior desigualdade socioespacial

dentro do território.

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4.1 REDE E COMPLEXO AGROINDUSTRIAL

Na mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais (Figura 3) há uma rede bem

consolidada ligada à monocultura do café, onde no centro está a Fazenda Conquista

(Alfenas/MG) que mantém vínculos com diversos outros tipos de redes, como

rodoviárias, portuárias, de exportação, migração na época da colheita, insumos

agrícolas, entre outras.

Figura 3- Mapa da mesorregião Sul de Minas Gerais

Elaboração: Flamarion Dutra Alves.

A partir da década de 1990 com mudanças no setor agroindustrial, alteraram-

se também as dinâmicas das relações entre os diversos agentes econômicos na

busca pelo aprimoramento e ao mesmo tempo a expansão das atividades

produtivas, por meio do aumento da flexibilidade destes agentes envolvidos,

sobretudo as empresas.

Segundo Mazzali (2000), na discussão das estratégias de reorganização das

empresas ficaram evidenciadas profundas transformações nas articulações entre as

empresas, onde se sobressaem: novas relações emanadas do processo de

terceirização de atividades; estreitamento das relações com fornecedores, em

particular com os produtores agrícolas, e com distribuidores e clientes e alianças

estratégicas entre empresas concorrentes. Nessa nova reorganização do setor

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agroindustrial, observa-se que há uma maior busca das empresas por alianças com

outros países, com a finalidade de maior inserção nos mercados externos.

O novo arranjo agroindustrial é representado por meio do modelo de

organização em redes, que “constituem arranjos organizacionais que utilizam

recursos e envolvem gestão de interdependências de várias empresas” (Mazzali,

2000, p.155). Diferente da modernização agrícola das décadas de 1960 a 1980, hoje

a rede de produção agroindustrial está interligada com os setores de transporte e

logística, sendo os fluxos da rede no território.

Há, portanto, uma especialização no interior das redes que acaba por

intensificar as relações de interdependência entre as empresas e demais agentes

econômicos.

Para Guilhon (1992), há dois tipos de redes: as horizontais e as verticais.

Neste trabalho daremos mais ênfase as segundas, pois estas “envolvem a

articulação estreitas das atividades de um conjunto de fornecedores e distribuidores

por uma empresa coordenadora que exerce considerável influência sobre as ações

desses agentes, além de assegurar o controle estratégico de toda a cadeia”

(MAZZALI, 2000, p.158). Logo, a rede vertical está vinculada a uma empresa

central, que controlam todas as atividades relacionadas à cadeia produtiva.

Dando continuidade a suas conclusões acerca das redes, o autor afirma:

As redes horizontais se dão por meio de alianças entre empresas concorrentes com os objetivos de assegurar o acesso a novos conhecimentos e/ou a entrada em novos mercados. Assim, enquanto a estruturação horizontal objetiva a expansão dos campos de atuação e a garantia da apropriação dos resultados do esforço de inovação, a estruturação vertical está voltada para a gestão das operações, coordenando as decisões de múltiplos agentes no interior do processo produtivo (MAZZALI, 2000, p.163).

Pode- se afirmar que na mesorregião Sul de Minas, a Fazenda Conquista

assume o papel de rede pivô (Figura 4), que coordena as atividades das demais

redes vinculadas ao circuito produtivo do café, como rede de exportação, rede de

logística e transporte, rede de insumos agrícolas, dentre outras, como também pode

ser caracterizada horizontalmente devido às crescentes alianças da empresa com

outras empresas de outros países, como a Starbucks nos Estados Unidos.

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Figura 4- Composição da rede do agronegócio do café no sul de Minas Gerais.

Organização: Luisa Daher.

Os dois principais destinos da produção de café partem de dois pontos fixos

na região sul mineira, sendo o Porto Seco de Varginha e o Porto de Santos. A mão-

de-obra na Fazenda Conquista é basicamente da região, sendo acrescentada na

época da colheita com trabalhadores oriundos do norte de Minas Gerais.

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5 METODOLOGIA

A metodologia consiste na realização de pesquisa e revisão bibliográfica, na

execução de atividades técnicas e na realização de pesquisas de campo.

Pesquisa e revisão Bibliográfica:

pesquisar e realizar a revisão bibliográfica de textos (livros, artigos e teses)

relacionados à teoria da geografia, ao agronegócio do café, à Fazenda

Ipanema e à produção de café no Sul de Minas. As fontes de pesquisa serão

a biblioteca da Universidade Federal de Alfenas; as bibliotecas virtuais de

teses da Universidade de São Paulo (USP) e Unicamp; a biblioteca da USP; a

biblioteca da Universidade Federal de Lavras; artigos disponíveis em sítios e

revistas eletrônicas na internet.

Atividades técnicas:

Análise, interpretação e elaboração de tabelas e mapas sobre a produção de

café no Sul de Minas, a partir dos bancos de dados disponíveis no Anuário

Estatístico do Café (Gazeta Mercantil), no Cecafé (Confederação dos

Exportadores de Café), na ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café),

na Produção Agrícola Municipal (IBGE), no Cadastro das Unidades

Armazenadoras (Conab) e nas Estatísticas Coffee Business.

Aplicação de questionário relacionado à modernização ao representante do

grupo Ipanema (Anexo 1).

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6 RESULTADOS

Os resultados foram obtidos por meio da aplicação de um questionário - a um

dos gerentes da Fazenda Conquista- e sua posterior análise. Este foi dividido em

quatro itens com questões referentes a cada um deles.

O primeiro item referia-se ao preparo da terra para a plantação dos pés de

café. O funcionário respondeu que este preparo era feito de forma tradicional (Figura

5), seguindo procedimentos de conservação do solo, com adoção de técnicas para

minimizar o efeito da erosão. São utilizados fertilizantes a base de nitrogênio,

fósforo, potássio, cálcio, magnésio, cobre, manganês, dentre outros. A utilização

destes é feita após uma análise detalhada do solo. Pesticidas também são usados

para o controle de pragas de doenças, além de nutrientes de acordo com os

respectivos teores encontrados. Tanto os defensivos quanto os fertilizantes são

adquiridos de empresas multinacionais como a Bayer, Basf, Dupont, Mosaic, Bunge,

Heringer e Fertipar.

Figura 5 – Preparo do solo para o plantio de café.

Fonte: Ipanema Coffees, 2011.

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A segunda parte do questionário abordava questões referentes aos modos e

técnicas acerca da colheita do café, dos processos realizados posteriormente e

destino da produção. Para a realização da colheita, são necessárias 600 pessoas na

via manual (Figura 6) e 200 pessoas para trabalhar na colheita mecânica. Estes 800

trabalhadores são temporários, ou seja, trabalham apenas no período da safra. A

maioria é do próprio município de Alfenas, e uma singular parcela vem de outras

regiões do estado.

Figura 6 - Colheita manual na Fazenda Conquista.

Fonte: Ipanema Coffees, 2011.

A Ipanema possui equipamentos como lavadores e descascadores de café que

realizam a separação do grão por tipo no processo de via úmido (Figura 7) e terreiro

e secadores - que utilizam de madeira de eucalipto - para realizar a secagem no

processo de via seca (Figura 8).

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Figura 7 – Lavador de café utilizado na separação por tipo de grão.

Fonte: Ipanema Coffees, 2011.

Figura 8 – Secadores

Fonte: Ipanema Coffees, 2011.

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A Fazenda possui armazéns próprios que são cobertos e possuem umidade

controlada (Figura 9). O café é armazenado em tulhas de madeira e bags.

Figura 9 - Armazém, Fazenda Conquista.

Fonte: Ipanema Coffees, 2011.

O destino da produção é voltado principalmente para o mercado externo –

80% da produção. Para a exportação o café sai da Fazenda em containers em

direção ao Porto de Santos. Os principais importadores são Estados Unidos, países

Europeus e Japão (Figura 10). O café comercializado no mercado interno (Três

Corações, Londrina, Avaré e Varginha) é ensacado e transportado em caminhões de

carrocerias tradicionais.

Figura 10 – Importadores de café da Fazenda Conquista.

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O terceiro item abordava questões relativas ao maquinário utilizado na

produção. Por ser considerada totalmente mecanizada, a Fazenda Conquista utiliza

diversos tipos de equipamentos que vão desde tratores (90), colheitadeiras (16,

sendo oito automotrizes) e derriçadoras manuais (350) a descascadores (26),

secadores (57, sendo que quatorze são rotativos e o restante vertical), e

classificadores (2). Estes maquinários são provenientes da cidade de Espírito Santo

do Pinhal / SP e foram comprados utilizando financiamentos da Finame.

O último item possuía informações referentes ao uso de tecnologias e alguns

dados quantitativos sobre a produção. As análises das respostas permitiram concluir

que as principais tecnologias utilizadas para melhorias na produtividade e na

produção consistem na utilização de máquinas e equipamentos, na adoção de

sistemas de irrigação e de variedades mais produtivas (renovação de lavouras) e em

uma agricultura de precisão. E para garantir a qualidade do café, a empresa possui

certificações (criação de selos de qualidade). A produção anual da Fazenda é de

cerca de 110.000 sacas, oriundos dos 12.000.000 de pés de café plantados. O

rendimento médio é de 33 sacas/hectares. Para atingir este rendimento há um custo

de cerca de R$ 9.000,00 por hectare e quase metade deste custo é pago por meio

de financiamentos.

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7 CONCLUSÃO

A partir dos estudos teóricos realizados e da análise dos resultados obtidos

pelo questionário, pode-se confirmar a hipótese supracitada no presente trabalho de

que a Fazenda Conquista ocupa o lugar central em uma estruturada e complexa

rede que possui ligações com redes secundárias. Dentre estas redes secundárias

podemos citar algumas como: i) as estradas estaduais e federais utilizadas para o

transporte interno do café e os portos – de Varginha e de Santos- usados para a

exportação do produto final, ii) as empresas fornecedoras diretas de insumos

agrícolas, aqui destacadas algumas multinacionais como Bayer, Basf, Dupont, entre

outras, iii) a rede representada pela empresa – Pinhalense- que vende as máquinas

para a Fazenda, iiii) as empresas terceirizadas responsáveis pelo transporte do café,

iiiii) as empresas de financiamento e, iiiiii) a rede representada pelos trabalhadores.

Outro aspecto relevante é a relação direta da Fazenda com as demandas do

exterior, dada principalmente por meio dos dados referentes às exportações, e com

às exigências deste mercado por meio da criação dos cafés especiais e dos selos de

qualidade, o que mostra sua funcionalidade ao mercado externo e possibilita

caracterizar a mesorregião em questão como competitiva.

Destaca-se, por fim, a grande integração entre os diversos setores da

economia na região com a finalidade principal de fortalecer a monocultura do café,

além de estímulos públicos para a manutenção e reprodução da rede produtiva do

café.

A realização deste trabalho foi de suma importância para melhor compreender

a atual dinâmica socioespacial da mesorregião Sul/Sudoeste do estado de Minas

Gerais, por meio do estudo do complexo cafeeiro. Portanto, compreender o espaço

onde vivemos é fundamental para que possamos analisar e discutir a realidade do

nosso município/estado/país, reconhecendo as potencialidades e questionando

acerca das disparidades existentes no atual período e que se encontram diretamente

reproduzidas no território.

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1. Questionário Fazenda Conquista

1 – Informação sobre a plantação dos pés de café (Modos, técnicas e processos).

a) Como é feito o preparo da terra?

b) Quais as correções e fertilizantes utilizados neste preparo?

c) Como é feito o manejo dos pés de café antes de gerarem frutos?

d) Em relação aos pesticidas, agrotóxicos e fertilizantes utilizados: da onde são

comprados (por revendedoras da própria cidade ou são importados de outra

cidade, estado ou país. Quais?); as principais marcas estrangeiras

envolvidas?

2 – Informações sobre a colheita do café (Modos, técnicas e processos) e destino da produção.

a) Quantos trabalhadores participam da colheita?

b) Quais os tipos de máquinas utilizadas?

c) Como são feitos os processos de separação, lavagem, secagem e

beneficiamento do café?

d) Quais são as técnicas e modos de armazenamento?

e) Como funciona a logística de escoamento e comercialização do café (como é

feito o transporte: se é próprio ou terceirizado; a comercialização: se é por

representantes ou empresas terceirizadas)?

f) Quais as principais vias de escoamento da produção (estradas municipais,

estaduais ou federais)?

g) Para onde é vendido o café (mercado interno da cidade, da região, do estado,

do país e do mundo)?

h) Quais as quantidades e porcentagens anuais dessas vendas?

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3 – Informações sobre os maquinários.

a) Quais e quantos maquinários existem na fazenda (tratores; colhedoras:

automotrizes ou tracionadas; derriçadoras: tratorizadas ou manuais

motorizadas; lavador-separadores; descascador e despolpador; secadores e

beneficiadores; etc.)?

b) São pertencentes da fazenda ou são terceirizados?

c) Da onde vêm esses maquinários (revendedoras da própria cidade, de outras

cidades do estado, de outro estado ou de outro país, quais)?

d) São comprados de que forma (financiamentos ou á vista)?

4 – Informações sobre o uso de tecnologias e dados quantitativos sobre o café.

a) Quais e de que forma são usadas outras tecnologias utilizadas para a

produção e logística do café?

b) Quais os investimentos feitos atualmente e futuramente para a melhoria da

qualidade e produtividade do café?

c) Quantos pés de café existem plantados na fazenda?

d) A terra da fazenda já está toda ocupada com plantações? Existem outras

culturas agrícolas?

e) Quanto se produz de café anualmente?

f) Qual é o rendimento médio por hectare de café colhido?

g) Qual o custo por saca e por hectare da produção de café?

h) Este custo é pago a vista ou é financiado?

i) Como é garantida a qualidade do café (certificações, etc.)?