a. c. bhaktivedanta swami prabhupada - o rei do conhecimento - raja vidya

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  • O REI CONHECIMENTO RAJ VIDY

    Sua Divina Graa A.C. BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPDA

    Fundador-Arharya do Movimento Hare Krishna. Autoridade mxima em cincia espiritual no mundo contemporneo - Autor do

    BHAGAVAD-GT COMO ELE e outras obras clssicas.

    "Este conhecimento o rei da educao, o mais secreto de todos os segredos. o conhecimento mais puro, e por dar direta percepo do eu atravs da realizao, a perfeio da religio. Ele eterno e

    se executa alegremente"

    Bhagavad-git 9.2

    TODAS AS GLRIAS A SR GURU E GAURNGA

    Sua Divina Graa A.G BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPDA

    Fundador-crya da Sociedade Internacional da Conscincia de Krishna

    NDICE

    1. Rja-vidy: o rei do conhecimento 2. O conhecimento que transcende sarhsra 3. Conhecimento das energias de Krsna.

  • 4. Conhecimento por meio dos mahtms, grandes almas

    5. Parampar: conhecimento atravs da sucesso discipular

    6. Conhecimento dos aparecimentos e atividades de Krsna

    7. Conhecimento como f no guru e rendio a Krsna 8. Ao com conhecimento de Krsna Glossrio

    1

    Rja-vidy:

    o rei do conhecimento

    sri bhagavn uvca idam tu te guhyatamam pravaksymy anasuyave jnam vijnna-sahitarh

    yaj jntv moksyase 'subht

    "O Senhor Supremo disse: Meu querido Arjuna, como jamais tiveste inveja de Mim, transmitir-te-ei esta secretssima sabedoria, conhecendo a qual aliviar-te-s das misrias da existncia material." (Bg. 9.1) As palavras iniciais do Nono Captulo do Bhagavad-git indicam que a Divindade Suprema quem est falando. Neste verso, Sri Krsna chamado de Bhagavn. Bhaga significa opulncias e vn, aquele que

  • possui. Ns imaginamos o que seja Deus, porm, recorrendo literatura vdica, encontraremos descries e definies categricas do que Deus possa ser, e tudo isso pode ser resumido com uma s palavra Bhagavn. Bhagavn possui todas as opulncias, a tota-lidade do conhecimento, da riqueza, do poder, da beleza, da fama e da renncia. Ao encontrarmos algum que possui essas opulncias na sua plenitude, com certeza teremos encontrado Deus. Muitos homens so ricos, sbios, famosos, belos e poderosos, mas ningum pode afirmar possuir todas essas opulncias. Apenas Krsna pode afirmar tal coisa.

    bhoktram yajna-tapasm sarva-loka-mahesvaram suhrdarh sarva-bhtnm

    jntv mm sntim rcchati "Sabendo que Eu sou o objetivo ltimo de todos os sacrifcios e austeridades, o Senhor Supremo de todos os planetas e semideuses e o benfeitor e benquerente de todas as entidades vivas, os sbios libertam-se das dores das misrias materiais." (Bg. 5.29) Neste verso, Krsna proclama ser o desfrutador de todas as ativi-dades e o proprietrio de todos os planetas (sarva-loka-mahesvaram). Pode ser que determinado indivduo possua uma grande extenso de terra, e talvez ele se orgulhe disso, mas Krsna afirma ser proprie-trio de todos os sistemas planetrios. Krsna tambm diz ser o amigo de todas as entidades vivas (suhrdam sarva-bhtnm). Quem compreende que Deus proprietrio de tudo, o amigo de todos e o desfrutador de tudo torna-se muito pacfico. Esta a verdadeira fr-mula da paz. Ningum poder ter paz enquanto pensar: "Eu sou o proprietrio." Quem pode afirmar possuir alguma coisa? H apenas cem anos, os ndios era considerados os proprietrios dos Estados Unidos. Hoje em dia, so os brancos que esto reivindicando tal propriedade, porm, dentro de quatrocentos ou mil anos, talvez outra raa reivindique a mesma coisa. A terra est a, mas ns a

  • ocupamos e alegamos falsamente que ela nos pertence. Esta filosofia do falso proprietrio no compatvel com os preceitos vdicos. O Sn Isopanisad declara que "todas as coisas animadas ou inanimadas existentes no universo esto sob o controle do Senhor e Lhe perten-cem (isavsyam idam sarvam)." Esta declarao apresenta uma ver-dade insofismvel, porm, iludidos, ns achamos que possumos algo. Na realidade, tudo pertence a Deus, e por isso Ele conhecido como o mais rico. claro que muitos homens afirmam ser Deus. Na ndia, por exem-plo, em qualquer poca, no difcil encontrar pelo menos uma dzia de pessoas afirmando ser Deus. Contudo, se lhes perguntamos se tudo lhes pertence, elas tm dificuldade em responder-nos. Este critrio nos ajuda a entender quem Deus. Deus o proprietrio de tudo, e, sendo assim, Ele necessariamente mais poderoso do que qualquer outra pessoa ou qualquer outra coisa. Quando o prprio Krsna esteve presente na Terra, ningum conseguia venc-lO. A histria no tem registro de alguma batalha que Ele tenha perdido. Ele pertencia a uma famlia de ksatriyas (guerreiros), cuja funo proteger os mais fracos. Quanto Sua opulncia, Ele casou-Se com 16.108 rainhas e cada uma delas teve seu prprio palcio. E, como se isso no bastasse, Krsna expandiu-Se 16.108 vezes a fim de divertir-Se com todas elas. Talvez seja difcil acreditarmos nisso, mas isso encontra-se registrado no Srimad-Bhgavatam, uma escritura reconhecida por todos os grandes sbios da ndia, os quais tambm reconhecem que Krsna Deus. No primeiro verso deste Nono Captulo, ao utilizar o termo guhya-tamam, Sr Krsna d a entender que est transmitindo o conheci-mento mais confidencial a Arjuna. Por que Ele proclama isto a Arjuna? Porque Arjuna anasyu no-invejoso. No mundo ma-terial, se encontramos algum superior a ns, ficamos com inveja. Temos inveja, no somente uns dos outros, mas tambm de Deus. Alm disso, quando Krsna diz: "Eu sou o proprietrio", no acre-ditamos nisso. Porm, com Arjuna a coisa diferente, pois ele ouve

  • Krsna sem sentir inveja. Arjuna no argumenta com Krsna, seno que concorda com tudo o que Ele diz. Esta a sua qualificao es-pecial, e assim que devemos compreender o Bhagavad-gt. No temos possibilidade de compreender o que Deus mediante nossas prprias especulaes mentais: necessrio que ouamos e apren-damos a aceitar. Como Arjuna no invejoso, Krsna lhe comunica este conhecimento especial. No se trata de mero conhecimento terico, mas sim de conhecimento prtico (vijnna-sahitam). No devemos assimilar o conhecimento recebido do Bhagavad-git de maneira sentimentalista ou fantica. Tal conhecimento tanto jnna quanto vijnna, sabedoria terica e conhecimento cientfico. Para quem se torna bem versado neste conhecimento, a liberao est garantida. A vida neste mundo material , por natureza, inauspiciosa e miservel. Moksa significa liberao, e o que se promete que, em virtude de ter compreendido este conhecimento, a pessoa libertar-se- de todas as misrias. Logo, importante entender o que Krsna diz a respeito deste conhecimento.

    rja-vidy rja-guhyam pavitram idam uttamam

    pratyaksvagamam dharmyam susukham kartum avyayam

    "Este conhecimento o rei da educao, o mais secreto de todos os segredos. o conhecimento mais puro, e, por proporcionar percepo direta do eu mediante a compreenso prtica, a perfeio da religio. Alm de ser duradouro, posto em prtica com muita alegria." (Bg. 9.2) Segundo o Bfiagavad-gTt, o conhecimento mais elevado (rja-vidy rja-guhyam) a conscincia de Krsna, pois, no Bhagavad-git, encontramos que o sintoma daquele que tem conhecimento de fato que ele rendido a Krsna. Enquanto insistirmos em especular sobre Deus sem nos rendermos a Ele, pode-se concluir que ainda

  • no teremos alcanado a perfeio do conhecimento. A perfeio do conhecimento :

    bahnm janmanm ante jnnavn mm prapadyate

    vsudevah sarvam iti sa mahatm sudurlabhah

    "Depois de muitos nascimentos e mortes, aquele que tem conheci-mento de fato rende-se a Mim, sabendo que Eu sou a causa de todas as causas e de tudo o que existe. Uma grande alma assim muito rara." (Bg. 7.19) Enquanto no nos rendermos, no poderemos compreender Deus. Talvez tenhamos que nascer muitas vezes at que nos rendamos a Deus, porm, se aceitarmos que Deus grande, bem possvel que nos rendamos a Ele imediatamente. De um modo geral, contudo, esta no a nossa posio no mundo material. Somos caracteristi-camente invejosos, e por isso pensamos: "Ah! por que deveria eu render-me a Deus? Sou independente. Prefiro agir independentemente." Portanto, a fim de retificar esta idia falsa, somos obrigados a trabalhar neste mundo material por muitos nascimentos. A este respeito, o nome de Krsna especialmente significativo. Krs significa repetio de nascimentos e na, aquele que impede. S Deus pode impedir que nasamos repetidas vezes neste mundo. Sem a imotivada misericrdia de Deus, isto no possvel para ningum. O assunto do Nono Captulo rja-vidy. Rja significa rei e vidy, conhecimento. Na vida comum, observamos que algum* rei de certo assunto, ao passo que outrem rei de outro assunto. Este co-nhecimento, contudo, tem soberania sobre todos os demais, e todos os outros conhecimentos so sujeitos ou relativos a ele. A expresso rja-guhyam indica que este conhecimento soberano muito confi-dencial, e o termo pavitram quer dizer que ele muito puro. Este

  • conhecimento , tambm, uttamam; ud significa transcender e tama, escurido. Aquele conhecimento que transcende este mundo e o conhecimento prprio deste mundo chama-se uttamam. o conheci-mento da luz, do qual a escurido est separada. Quem trilhar este caminho de conhecimento poder perceber pessoalmente o quanto j progrediu no caminho rumo perfeio (pratyaksvagamam dharmyam). Susukham kartum indica que este conhecimento posto em prtica de maneira muito alegre. E avyayam indica que este conhecimento permanente. Talvez trabalhemos neste mundo material em busca de educao ou de riqueza, s que essas coisas no so avyayam, pois, to logo este corpo chegar ao fim, todas as outras coisas tambm acabaro. A morte d fim a tudo nossa educao, nossos diplomas, contas bancrias, famlia e assim por diante. Nada do que estamos fazendo neste mundo material eterno. Entretanto, o conhecimento do Bhagavad-git no assim.

    nehbhikrama-nso 'sti pratyavyo na vidyate

    svalpam apy asya dharmasya tryate mahato bhayt

    "Quem se esfora neste sentido no um perdedor nem se v privado de nada, e um pouquinho de avano que faa neste caminho poder proteg-lo do maior dos temores." (Bg. 2.40) O conhecimento em conscincia de Krsna to perfeito que, se algum trabalha em conscincia de Krsna mas no alcana a perfei-o, mesmo assim, em sua prxima vida, continua do ponto onde parou. Em outras palavras, as aes realizadas em conscincia de Krsna so duradouras. Por outro lado, as conquistas materiais, por estarem relacionadas ao corpo, so destrudas hora da morte. O conhecimento relativo a designaes corpreas no perdura. Achamos que somos homens ou mulheres, americanos ou indianos, cristos ou hindus todas essas designaes so relativas ao corpo,

  • e assim, quando o corpo acabar, elas tambm tero fim. Na verdade, somos esprito, e por isso nossas atividades espirituais nos acompanharo aonde quer que formos. Sri Krsna indica que este rei do conhecimento tambm posto em prtica alegremente. Pode-se perceber com facilidade que as ati-vidades em conscincia de Krsna so executadas alegremente. Can-tamos, danamos, comemos prasdam (alimento oferecido a Krsna) e estudamos o Bhagavad-git. So estes os processos principais. No h regulamentos rgidos de que tenhamos que nos sentar eretos durante muito tempo ou fazer tantos exerccios ou controlar nossa respirao. No, o processo posto em prtica de maneira muito fcil e alegre. Todos gostam de danar, cantar, comer e ouvir a verdade. Este processo realmente susukham alegre. No mundo material, so muitas as graduaes por que tem que passar o estudante. Certas pessoas jamais conseguem terminar os cursos elementares, ao passo que outras prosseguem at o nvel uni-versitrio, aps o que se esforam por obterem bacharelado, mes-trado, PhD e assim por diante. Mas o que vem a ser este rja-vidy, o rei da educao, o summum bonum do conhecimento? Trata-se da conscincia de Krsna. Conhecimento verdadeiro consiste em compreender "quem eu sou". Se no chegarmos ao ponto de com-preender quem somos ns, no poderemos obter conhecimento verdadeiro. Quando Santana Gosvmi deixou seu servio gover-namental e foi ter com Caitanya Mahprabhu pela primeira vez, ele perguntou ao Senhor: "Que educao?" Embora Santana Gosvmi soubesse vrios idiomas, incluindo o snscrito, ele mesmo assim perguntou o que era educao verdadeira. "As pessoas em geral consideram-me muito culto", disse Santana Gosvmi ao Senhor, "e eu sou to tolo que acabo acreditando nisso." O Senhor replicou: "Por que no deverias te considerar culto? s muito erudito em snscrito e em persa." "Pode ser que sim", disse Santana Gosvmi, "mas eu no sei o que sou." Em seguida, ele disse ao Senhor: "No desejo sofrer, mas sou

  • forado a experimentar estas misrias materiais. Tampouco sei de onde venho nem para onde vou, mas as pessoas consideram-me culto. Quando elas me chamam de grande erudito, sinto-me satis-feito, porm, na verdade, sou to tolo que no sei o que sou." Na verdade, Santana Gosvmi estava falando em nome de todos ns, pois esta a situao em que nos encontramos. Mesmo que nos orgulhemos de nossa educao acadmica, ao sermos questionados, no temos capacidade de dizer o que somos. Todos acreditam que este corpo o eu, porm, os textos vdicos ensinam-nos que somos algo mais. S poderemos assimilar conhecimento verdadeiro e com-preender o que somos de fato depois de entendermos que no somos estes corpos. a partir de ento que o conhecimento comea. Pode-se ainda definir rja-vidy como agir conforme o conhecimento do que se . Se no soubermos quem somos ns, como poderemos agir da maneira correta? Se estivermos equivocados quanto nossa identidade, tambm ficaremos equivocados quanto a nossas atividades. O simples conhecimento de que no somos estes corpos materiais no suficiente: devemos agir com a convico de que somos espirituais. A ao baseada neste conhecimento ou seja, a atividade espiritual o trabalho realizado em conscincia de Krsna. Talvez no parea to fcil obter esta espcie de conhecimen-to, porm, isto torna-se muito fcil pela misericrdia de Krsna e do Senhor Caitanya Mahprabhu, o qual fez com que este conhecimento se tornasse facilmente disponvel atravs do processo de cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rma, Rma Rma, Hare Hare. Caitanya Mahprabhu categorizava as entidades vivas em duas classes principais: as mveis e as inertes. As rvores, a grama, as plantas, as pedras e outras no se movem por carecerem de cons-cincia suficientemente desenvolvida. Apesar de terem conscincia, ela est encoberta. O ser vivo que no compreende sua posio como uma pedra, mesmo que habite num corpo humano. As enti-dades vivas os pssaros, os rpteis, os mamferos, os insetos, os

  • seres humanos, os semideuses, etc. compreendem 8.400.000 formas diferentes, entre as quais apenas um nmero muito reduzido so de seres humanos. O Senhor Caitanya explica, tambm, que existem 400.000 espcies de seres humanos, entre os quais apenas alguns so civilizados; e, entre muitas pessoas civilizadas, pouqussimas so devotadas s escrituras. Hoje em dia, a maioria das pessoas professa ter alguma religio crist, hindu, muulmana, budista, etc. , mas, de fato, no crem realmente nas escrituras. Os que crem nas escrituras so, em geral, apegados a atividades filantrpicas piedosas. Acreditam que religio quer dizer yajna (sacrifcio), dna (caridade) e tapas (penitn-cia). Quem pratica tapasya submete-se voluntariamente a regulaes muito rgidas, tais-como as praticadas por estudantes brahmacris (celibatrios) ou sannysis (membros da ordem renunciada). Caridade significa desfazer-se voluntariamente das posses materiais. Atualmente no se pratica sacrifcio, porm, segundo nos informam textos histricos como o Mahbhrata, os reis de outrora faziam sacrifcios, distribuindo rubis, ouro e prata. Basicamente, eram os reis que praticavam yaja, ao passo que os chefes de famlia, em escala bem menor, faziam caridade. Aqueles que acreditavam piamente nas escrituras costumavam adotar algum destes princpios. Contudo, nesta era, de um modo geral, as pessoas s fazem dizer que pertencem a uma religio embora no faam nada realmente. Dentre milhes de tais pessoas, um nmero muito reduzido delas chega realmente a praticar caridade, sacrifcio e penitncia. Caitanya Mahprabhu observa, ainda, que, de milhes de pessoas praticantes desses princpios religiosos em todo o universo, poucas so as que alcanam conhecimento perfeito e entendem o que so. O simples fato de saber: "Eu no sou este corpo mas sim espiritual" no suficiente. Precisamos escapar do enredamento da natureza material. Esta liberao chama-se mukti. Entre muito milhares de pessoas auto-realizadas em termos do que e de quem so, apenas

  • uma ou duas talvez sejam realmente liberadas. E, entre milhares de pessoas liberadas, talvez uma ou duas apenas compreendam o que e quem Krsna. Portanto, compreender Krsna no tarefa muito fcil. Sendo assim, nesta era de Kali, era esta caracterizada pela ignorncia e o caos, a liberao est fora do alcance de praticamente todo mundo. A pessoa obrigada a se submeter a toda a tribulao de tornar-se civilizada, ento religiosa, e em seguida ela precisa praticar caridade e sacrifcio para atingir a plataforma de conhecimento, e depois a fase de liberao, e, enfim, aps a libera-o, ela pode compreender o que Krsna. O Bhagavad-gTt (18.54) tambm menciona este processo:

    brahma-bhtah prasanntm na socati na knksati

    samah sarvesu bhtesu mad-bhaktim labhate param

    "Quem est assim transcendentalmente situado compreende de imediato o Brahman Supremo. Nunca lamenta nem deseja ter nada; equnime com toda entidade viva. Nesse estado, ele alcana o servio devocional puro a Mim." So estes os sintomas indicativos da liberao. O primeiro sintoma da pessoa liberada que ela muito feliz. Nunca vamos v-la acabrunhada. Tampouco ela tem ansiedade. Nunca vamos v-la lamentando-se: "No tenho isto. Ah! preciso conseguir aquilo. Preciso pagar esta conta. Tenho que ir aqui, tenho que ir ali." A pessoa liberada est livre de ansiedades. Mesmo que seja o homem mais pobre do mundo, ela nem se lamenta nem se julga pobre. Por que deveria julgar-se pobre? Quando achamos que somos estes corpos materiais e que portanto precisamos ter posses, isto nos faz crer que somos pobres ou ricos, porm, aquele que liberado do conceito de vida material nada tem a ver com posses ou falta de posses. "Nada tenho a perder e nada tenho a ganhar", pensa ele.

  • "Sou totalmente distinto de tudo isso." Tampouco ele encara as demais pessoas como ricas ou pobres, cultas ou incultas, belas ou feias, etc. Ele no se atm s dualidades materiais, pois mantm sua viso plenamente na plataforma espiritual, sabendo que toda enti-dade viva parte integrante de Krsna. Assim, encarando todas as entidades vivas segundo sua verdadeira identidade, ele procura traz-las de novo conscincia de Krsna. Segundo seu ponto de vista, todos os brhmanas e os sobras, os negros e os brancos, os hindus e os cristos, e assim por diante devem adotar a conscincia de Krsna. Quando algum est nesta situao, ento: mad-bhaktim labhate parm candidata-se a tornar-se devoto puro de Krsna. Praticamente falando, no muito fcil executar este processo nesta era de Kali. O Srimad-Bhgavatam descreve as pessoas desta era: elas vivem muito pouco, tendem a ser neumticas e lentas, so muito dadas a dormir e, quando no esto dormindo, esto atarefadas ganhando dinheiro. No mximo, dispem de apenas duas horas por dia para suas prticas espirituais, de modo que no h esperanas de que desenvolvam compreenso espiritual. Afirma-se, tambm, que, mesmo algum ansioso por fazer progresso espiritual, deparar com muitas sociedades pseudo-espirituais que tentaro aproveitar-se dele. Outra caracterstica das pessoas desta era o infortnio. Elas tm muita dificuldade para satisfazer as necessidades primrias da vida comer, defender-se, acasalar-se e dormir , necessidades estas satisfeitas at pelos animais. E, mesmo conseguindo satisfazer essas necessidades, elas vivem preocupadas com a guerra, quer defendendo-se de agressores, quer sendo obrigadas a participar elas mesmas da guerra. E, como se isto no bastasse, sempre surgem doenas estranhas e problemas econmicos em Kali-yuga. Portanto, o Senhor Sr Krsna considerava impossvel que as pessoas desta era chegassem fase perfectiva da liberao seguindo as regras e regulaes prescritas.

  • Logo, por Sua imotivada misericrdia, Sr Krsna veio como o Senhor Caitanya Mahprabhu e distribuiu o mtodo para se atingir a perfeio mxima da vida e o xtase espiritual mediante o cantar de Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rma, Hare Rma, Rma Rma, Hare Hare. Este processo de cantar muito prtico, e no depende de sermos liberados ou no, ou de nossa condio ser conducente vida espiritual ou no quem quer que adote este processo purifica-se de imediato. Portanto, ele chama-se pavitram, puro. Alm disso, para quem adota este processo de conscincia de Krsna, todas as sementes de reaes latentes a suas atividades pecaminosas so anuladas. Assim como o fogo reduz a cinzas tudo o que nele colocado, este processo reduz a cinzas todas as reaes pecaminosas de nossas vidas passadas. preciso que compreendamos que estamos sofrendo devido a nossas atividades pecaminosas, as quais so conseqncia de nossa ignorncia. Cometem pecados, ou transgresses, aqueles que no sabem o que o que. Uma criana, por exemplo, capaz de colocar sua mo no fogo devido ignorncia. Resultado: ela fica queimada, pois o fogo imparcial e no faz nenhuma concesso especial criana inocente. Sua funo agir como fogo e pronto. Analogamente, no sabemos como funciona este mundo material, quem o controla nem como ele controlado, e, graas nossa ignorncia, temos atitudes tolas. A natureza, porm, to estrita que no nos permite escapar s reaes a nossas aes. Quer ajamos consciente ou inconscientemente, as reaes e conseqentes sofrimentos viro. Contudo, munidos de conhecimento, poderemos compreender a verdadeira situao, Deus e nossa relao com Ele. Este conhecimento, mediante o qual podemos libertar-nos do so-frimento, possvel na forma humana de vida, e no na forma animal. Para nos dar conhecimento e orientao adequada, existem escrituras coligidas em diversos idiomas em toda parte do mundo. O Senhor Caitanya Mahprabhu frisou que, desde tempos imemo-riais, as pessoas esto esquecidas de sua relao com o Senhor Su-

  • premo; por isso, Krsna tem enviado muitos representantes Seus para transmitir as escrituras ao homem. Devemos tirar proveito delas, especialmente do Bhagavad-git, que a escritura primordial para o mundo moderno.

    2

    O conhecimento que

    transcende samsra

    Krsna declara especificamente que este processo de conscincia de Krsna susukham, muito agradvel e fcil de se praticar. De fato, o processo devocional bastante agradvel: cantamos melodiosa-mente com nossos instrumentos, e, quem nos ouvir, tambm desejar cantar conosco (sravanam kirtanam). Evidentemente, a msica deve fazer parte da glorificao ao Senhor Supremo. Ouvir o Bhagavad-git tambm faz parte do servio devocional, s que, alm de ouvi-lo, devemos tambm ansiar por p-lo em prtica na nossa vida. A conscincia de Krsna uma cincia que no deve ser aceita cegamente. So nove os processos de servio devocional recomendados (ouvir, cantar, lembrar, adorar, orar, servir, ocupar-se como servo do Senhor, estabelecer amizade com o Senhor e oferecer-Lhe tudo). So processos fceis de serem praticados e que podem ser praticados alegremente. Naturalmente, se algum achar que o Bhagavad-gt e o mantra Hare Krsna fazem parte do sistema hindu e no quiser aceit-los por causa disso, poder, no obstante, freqentar a igreja crist e cantar l. No h diferena entre este e aquele processo: a idia que,

  • qualquer que seja o processo que adotemos, devemos nos tornar conscientes de Deus. Deus no nem muulmano nem hindu nem cristo Ele Deus. Tampouco ns devemos ser considerados hindus, muulmanos ou cristos. Estas so designaes corpreas. Todos ns somos esprito puro, partes integrantes do Supremo. Deus pavitram, puro, e ns tambm. De alguma forma, contudo, camos neste oceano material, ao sabor de cujas ondas sofremos. Na verdade, nada temos a ver com as ondas oscilantes das misrias materiais. Basta que oremos: "Krsna, por favor, tire-me daqui." To logo esquecemos Krsna, o oceano da iluso aparece e em seguida nos engole. Para escaparmos deste oceano, importante que cante-mos Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rma, Hare Rma, Rma Rma, Hare Hare: trata-se de som (sabda) que no diferente de Krsna. O som Krsna e o Krsna original so a mesma coisa. Quando cantamos Hare Krsna e danamos, Krsna tambm dana conosco. claro que poderemos argumentar: "Mas eu no O vejo", porm, por que enfatizamos tanto o ver? Por que no ouvir? Ver, saborear, cheirar, tocar e ouvir tambm so instrumentos para adquirirmos experincia e conhecimento. Por que enfatizamos de maneira to exclusiva o ato de ver? Um devoto no deseja ver Krsna; ele contenta-se simplesmente com ouvir falar de Krsna. claro que ele acabar vendo tambm, mas no se deve considerar o processo de ouvir como menos importante. H certas coisas que ouvimos mas no vemos o vento passa soprando por nossos ouvidos, e podemos perceb-lo com a audio, embora no tenhamos possibilidade de v-lo. J que ouvir no uma experincia menos importante nem menos vlida do que ver, podemos ouvir Krsna e perceber Sua presena atravs do som. O prprio Sri Krsna diz: "No Me encontro em Minha morada, nem no corao do yogi meditativo, mas sim onde cantam os Meus devotos puros." Podemos sentir a presena de Krsna conforme vamos avanando.

  • No devemos simplesmente pedir coisas a Krsna sem Lhe oferecer nada. Todos vivem tirando algo de Deus. Por que, ento, no dar-Lhe algo? Krsna nos proporciona luz, ar, alimento, gua e assim por diante. Sem esses recursos fornecidos por Krsna ningum consegue viver. Por acaso amor simplesmente continuar tirando, tirando, tirando sem jamais oferecer-Lhe nada em troca? Amor quer dizer dar e receber. Se apenas recebemos de algum sem lhe dar nada em troca, isto no amor explorao. No devemos apenas continuar comendo sem jamais oferecer nada a Krsna. No Bhagavad-gt (9.26-27), Krsna diz:

    patram puspam phalam toyam yo me bhakty prayacchati tad aham bhakty-upahrtam

    asnmi prayattmanah yat karosi yad asnsi yaj juhosi dadsi yat

    yat tapasyasi kaunteya tat kurusva mad arpanam

    "Se algum Me oferecer, com amor e devoo, uma folha, uma flor, frutas ou gua, Eu as aceitarei. filho de Kunt, tudo o que fizeres, tudo o que comeres, tudo o que ofereceres e deres em caridade, bem como todas as austeridades que praticares deves fazer tudo isso como uma oferenda a Mim." Alm de dar e receber, o praticante de servio devocional deve submeter a Krsna quaisquer aflies ou problemas ntimos que ele tenha. Ele deve dizer: "Krsna, estou sofrendo desta maneira. Ca neste agitado oceano de iluso material. Por favor, tire-me daqui. Agora sei que no tenho nenhuma identificao com este mundo material. Simplesmente ca aqui, como se tivesse sido atirado no Oceano Atlntico. Embora no me identifique de forma alguma com

  • o Oceano Atlntico, estou merc da oscilao do oceano. Na verdade, sou uma centelha espiritual, uma parte fragmentria Sua." Infelizmente, tentamos identificar-nos com este oceano e conter suas oscilaes. No devemos perder tempo com essas tentativas, pois impossvel conter as ondas do oceano material, as quais sempre existiro, controladas pela natureza material. Apenas os tolos tentam ajustar-se a este mundo; o verdadeiro problema est em como sair dele. Aqueles que tentam ajustar-se a este mundo e jamais se voltam para Krsna esto sempre sujeitos transmigrao no oceano de nascimentos e mortes.

    asraddadhnh purus dharmasysya parantapa aprpya mm nivartante mrtyu-samsra-vartmani

    "Quem no tem f no caminho do servio devocional no pode alcanar-Me, conquistador dos inimigos, seno que volta a nascer e morrer neste mundo material." (Bg. 9.3) Por definio, religio aquilo que nos liga a Deus. Se no capaz de estabelecer nosso vnculo com Deus, no religio. Religio significa buscar Deus, entender Deus e estabelecer uma relao com Ele. Isto religio. Quem se ocupa em servio devocional age em nome de Krsna, ou Deus, e, como deste modo fica estabelecido um vnculo com Deus, a conscincia de Krsna uma religio. No possvel inventar uma religio. A verdadeira religio provm necessariamente de uma fonte autorizada, seja ela Deus ou Seu. re-presentante. Religio o mesmo que lei de Deus. Ningum pode inventar um cdigo de lei estadual. O cdigo j existe, e foi decreta-do pelo estado. Talvez algum crie algumas leis adicionais para sua prpria sociedade, mas essas leis precisam ter a sano da lei do estado. Analogamente, se desejamos estabelecer algum princpio religioso, ele deve ser corroborado pela autoridade vdica.

  • O Bhagavad-gTt tambm religio. Grandes autoridades como Rmnujcrya, Madhvcrya, Visnusvmi, o Senhor Caitanya, Sankarcrya e tantos outros aceitam o Bhagavad-gTt como o prin-cpio supremo de religio e Krsna como a Suprema Personalidade de Deus. No h dvidas quanto a isto. Tambm no Ocidente, o Bhagavad-gTt aceito como um grande livro de filosofia, e muitos intelectuais e filsofos ocidentais tm-no lido e feito comentrios sobre ele. A despeito da aceitao por parte de eruditos e cryas, h pessoas que no aceitam o Bhagavad-gTt nem tm f nele. Elas no o aceitam de forma alguma como autoridade, pois acham que se trata de um exagero sentimentalista inventado por um homem chamado Krsna. Portanto, Krsna declara no verso supramencionado que, ao rejeitarem o Bhagavad-gTt como autoridade, as pessoas no podem estabelecer nenhuma relao com Ele, e, por no estarem relacionadas a Ele, permanecem no ciclo de nascimentos e mortes. Aprpya mm nivartante mrtyu-samsra-vartmani. O fato de estarmos sujeitos ao samsra, o ciclo de nascimentos e mortes, no garante que necessariamente obteremos uma oportunidade para compreender o Bhagavad-gTt na prxima vida. Talvez no voltemos a nascer como seres humanos, ou nos Estados Unidos, ou na ndia, ou mesmo neste planeta. No h certeza alguma: vai depender de nosso trabalho. No processo de nascimento e morte, nascemos, vivemos por algum tempo, desfrutando ou sofrendo, depois outra vez abandonamos este corpo e entramos no ventre de outra me, seja ela um ser humano ou um animal, quando nos preparamos para adquirir outro corpo, com o qual sairemos do ventre materno e retomaremos nosso trabalho. Isto chama-se mrtyu-samsra-vartmani. Quem quiser evitar este caminho dever adotar a conscincia de Krsna. Quando perguntaram a Yudhisthira Mahrja: "Que lhe parece mais espantoso neste mundo?" ele respondeu: "A coisa mais impres-sionante que todo dia, a cada instante, algum est morrendo, e, mesmo assim, ningum acredita que vai morrer." A cada minuto, a

  • cada segundo, ouvimos falar de entidades vivas que foram para o templo da morte. Homens, insetos, animais, pssaros, todos vo para l. Por isso, este mundo chama-se mrtyuloka o planeta da morte. Os funerais sucedem-se dia aps dia, basta darmo-nos ao incmodo de visitar os cemitrios e os crematrios. Todavia, todos continuam pensando: "Hei de sobreviver de alguma forma." Apesar de estarmos todos sujeitos lei da morte, no a levamos a srio. Isto iluso. Achando que viveremos para sempre, continuamos fazendo o que bem entendemos, sentindo que jamais nos reponsabilizaro por isso. Esta espcie de vida muito arriscada, e constitui a forma mais profunda de iluso. Devemos ser muito srios e compreender que a morte est nos esperando. Sempre ouvimos a expresso: "to certo como a morte." Isto quer dizer que, neste mundo, a morte inevitvel. Quando a morte chegar nossa filosofia orgulhosa e nossos diplomas no nos ajudaro. Nesse momento, nosso corpo forte e musculoso e nossa inteligncia que no ligam para nada so destrudos. Nesse momento, a poro fragmentria (jivtm) fica sob o controle da natureza material (prakrti), a qual nos fornece o tipo de corpo que merecemos. Se quisermos encarar este risco, podemos evitar Krsna; caso contrrio, Krsna vir ajudar-nos.

    3

    Conhecimento das energias

    de Krsna

    Observe-se aqui que o Nono Captulo do Bhagavad-git destina-se especialmente queles que j aceitaram Sri Krsna como a Suprema

  • Personalidade de Deus. Em outras palavras, um captulo para devotos. Para quem no aceita Sri Krsna como o Supremo, este Nono Captulo parecer algo diferente do que de fato. Como se afirmou a princpio, o assunto do Nono Captulo a parte mais confidencial de todo o Bhagavad-git. Quem no aceita Krsna como o Supremo achar que o captulo no passa de um exagero. Isto aplica-se especialmente aos versos que descrevem a relao de Krsna com Sua criao.

    may tatam idam sarvam jagad avyakta-murtin

    mat-sthni sarva-bhtni na cham tesv avasthitah

    "Sob Minha forma imanifesta, permeio todo este universo. Todos os seres esto em Mim, mas Eu no estou neles." (Bg. 9.4) O mundo que vemos tambm energia de Krsna, Sua my. Neste caso, may quer dizer "por Mim", como quem diz: "Este trabalho foi feito por mim." Este "por Mim" no quer dizer que Ele conclui Sua obra e vai embora ou Se aposenta. Se eu inauguro uma grande fbrica e digo: "Fui eu quem inaugurou esta fbrica", no se deve de forma alguma concluir que eu me perdi ou que no estou mais presente. Mesmo que o fabricante refira-se a seus produtos como tendo sido "fabricados por mim", isto no quer dizer que ele prprio criou ou construiu seus produtos, mas que eles foram produzidos por sua energia. Analogamente, se Krsna diz: "Tudo o que vs no mundo foi criado por Mim", no devemos supor que Ele deixou de existir. No difcil ver Deus em toda parte da criao, pois Ele est pre-sente em toda parte. Assim como na fbrica Ford os trabalhadores vem o Sr. Ford em cada canto, quem bem versado na cincia de Krsna pode v-lO em cada tomo da criao. Tudo repousa em Krsna (mat-sthni sarva bhtn), mas Krsna no est em tudo (na cham tesv avasthitah). Krsna no diferente de Sua energia, porm,

  • a energia no Krsna. O sol no diferente do brilho do sol, mas o brilho do sol no o sol. Pode ser que o brilho do sol penetre nossa janela e entre em nosso quarto, mas isto no quer dizer que o sol est em nosso quarto. O Visnu Purna afirma: parasya brahmanah saktih. Parasya significa supremo, brahmanah significa Verdade Absoluta e saktih, energia. A energia do Absoluto Supremo tudo, porm, Krsna no Se encontra nesta energia. Existem duas classes de energia a material e a espiritual. As jivas, ou almas individuais, pertencem energia superior de Krsna, porm, por sua propenso a sentirem-se atradas pela energia mate-rial, elas so chamadas de energia marginal. Contudo, na verdade, existem apenas duas energias. Todos os sistemas planetrios e uni-versos apiam-se nas energias de Krsna. Assim como todos os pla-netas no sistema solar apiam-se no brilho do sol, tudo o que existe na criao apia-se no brilho de Krsna. O devoto sente prazer ao ouvir sobre todas essas potncias do Senhor, ao passo que quem tem inveja de Krsna rejeita-as. Para o no-devoto, as afirmaes de Krsna soam como um grande blefe. Por outro lado, o devoto pensa: "Oh! meu Senhor to poderoso", e enche-se de amor e adorao. Segundo pensam os no-devotos, porque Krsna diz: "Eu sou Deus", eles e qualquer outra pessoa podem dizer a mesma coisa. Mas, se lhes pedirmos para revelarem sua forma universal, eles no conse-guiro faz-lo. Isto mostra a diferena entre um pseudo-deus e o Deus verdadeiro. Ningum pode imitar os passatempos de Krsna. Krsna teve 16.000 esposas e manteve-as com todo o conforto em 16.000 palcios, mas, o homem comum no consegue fazer isso nem sequer com uma nica esposa. Alm de ter falado muitas coisas maravilhosas, Krsna tambm agiu maravilhosamente. No devemos acreditar em algo que Krsna tenha dito ou feito e rejeitar outra coisa: se acreditamos nEle, devemos acreditar em tudo o que se relacione a Ele. A este respeito, conta-se uma histria de Nrada Muni, o qual foi certa vez questionado por um brhmana: "Ah! fiquei sabendo que

  • ests indo ao encontro do Senhor e gostaria que Lhe perguntasses quando que obterei minha salvao." "Est bem", concordou Nrada.. "Assim o farei." Mais adiante, Nrada encontrou um sapateiro sentado sob uma rvore a remendar sapatos, e este sapateiro fez o mesmo pedido a Nrada: "Fiquei sabendo que ests indo ao encontro do Senhor. Por favor, pergunta-Lhe quando chegar o dia de minha salvao." J nos planetas Vaikuntha, Nrada Muni, conforme havia pro metido, perguntou a Nryana (Deus) a respeito da salvao do brhmana e do sapateiro, ao que Nryana replicou: "Logo aps abandonar o corpo, o sapateiro vira a Mim." "E o brhmana?" perguntou Nrada. "Este ter que permanecer l por mais uns tantos nascimentos. No sei quando poder vir." Nrada Muni ficou admirado e, por fim, disse: "No consigo compreender este mistrio." "Logo compreenders", disse Nryana. "Quando eles te per-guntarem sobre o que ando fazendo em Minha morada, dize-lhes que estou passando um elefante pelo orifcio de uma agulha." Quando Nrada regressou Terra, ele foi ter com o brhmana, que lhe perguntou: "E ento? Estiveste com o Senhor? Que estava fazendo?" "Ele estava passando um elefante pelo orifcio de uma agulha", respondeu Nrada. "No acredito em semelhante disparate", replicou o brhmana. Nrada pde imediatamente compreender que aquele homem no tinha f e que no passava de um erudito inspido. A seguir, Nrada foi ter com o sapateiro, que lhe perguntou: "Ah! estiveste com o Senhor? Dize-me, ento, que Ele estava fazendo!" "Estava passando um elefante pelo orifcio de uma agulha", respondeu Nrada. O sapateiro ps-se a chorar: "Oh! meu Senhor to maravilhoso!. Ele pode fazer qualquer coisa."

  • "Acreditas realmente que o Senhor possa passar um elefante pelo orifcio de uma agulha?" perguntou-lhe Nrada. "E por que no?" disse o sapateiro, " claro que acredito." "Como!?" "Bem, como vs, estou sentado debaixo desta figueira-de-bengala", respondeu o sapateiro, "e podes perceber que dela caem muitos frutos diariamente. Pois bem, em cada semente de cada um desses frutos existe uma figueira-de-bengala como esta. Se dentro de uma pequena semente pode caber uma rvore enorme como esta, difcil acreditar que o Senhor esteja passando um elefante pelo orifcio de uma agulha?" Isto o que chamamos de f. No se trata de acreditar cegamente. H uma razo para se ter a crena. Se Krsna capaz de colocar uma rvore enorme dentro de tantas sementinhas, acaso to espantoso que Ele esteja mantendo todos os sistemas planetrios flutuando no espao por intermdio de Sua energia? Embora os cientistas achem que os planetas esto suspensos no espao simplesmente graas natureza, por trs da natureza est o Senhor Supremo. A natureza age sob Sua orientao. Como declara Sri Krsna:

    maydhyaksena prakrtih syate sa-carcaram hetunnena kaunteya

    jagad viparivartate "Esta natureza material funciona conforme Minha orientao, filho de Kunti, e produz todos os seres mveis e inertes. Por intermdio de seu controle, esta manifestao criada e aniquilada repetidas vezes." (Bg. 9.10) Maydhyaksena significa "sob Minha superviso". A natureza material no consegue fazer tantos prodgios se no tem a mo do Senhor orientando-a. No podemos dar nenhum exemplo de coisas materiais que funcionem por si mesmas. A matria inerte, e ela

  • no tem como agir se no impulsionada pelo esprito. A matria no pode agir independente ou automaticamente. Talvez os meca-nismos das mquinas sejam muito interessantes, porm, a menos que algum homem as acione, elas no-podem funcionar. E este homem, que ? Ele uma centelha espiritual. Sem o estmulo es-piritual, nada pode mover-se; portanto, tudo apia-se na energia impessoal de Krsna. Embora Sua energia seja impessoal, Krsna uma pessoa. Costumamos ter notcia de pessoas que fazem prodgios; todavia, a despeito de suas conquistas energticas, elas continuam sendo pessoas. Se isto possvel para seres humanos, por que no o seria para o Senhor Supremo? Todos ns somos pessoas, s que dependemos de Krsna, a Pessoa Suprema. Muitas vezes vemos gravuras de Atlas, um homem musculoso que carrega um grande planeta sobre os ombros e se esfora muito para mant-lo suspenso. Talvez pensemos que, pelo fato de Krsna estar mantendo o universo, Ele est fazendo o mesmo esforo que Atlas. Mas no bem assim.

    na ca mat-sthni bhtni pasya me yogam aisvaram

    bhta-bhrn na ca bhta-stho mamtm bhta-bhvanah

    "E, mesmo assim, nada do que criado repousa em Mim. V s a Minha opulncia mstica. Embora Eu seja o mantenedor de todas as entidades vivas e embora Eu esteja em toda parte, mesmo assim, Meu Eu a prpria fonte da criao." (Bg. 9.5) Embora todos os seres no universo se apoiem na energia de Krsna, mesmo assim, eles no esto nEle. Krsna mantm todas as entidades vivas e Sua energia onipenetrante; todavia, Ele est em outra parte. Este o inconcebvel poder mstico de Krsna. Ele est em toda parte, todavia, mantm-Se parte de tudo. Mesmo podendo perceber Sua energia, no podemos v-lO, pois nossos olhos materiais no tm essa capacidade. Porm, quando desenvolvemos

  • nossas qualidades espirituais, santificamos nossos sentidos de maneira que, mesmo dentro desta energia, possamos v-lO. A eletricidade, por exemplo, est em toda parte, e um eletricista sabe como utiliz-la. Analogamente, a energia do Senhor Supremo est em toda parte, e, ao situarmo-nos na transcendncia, podemos ver Deus, face a face, em toda parte. Essa espiritualizao dos sentidos possvel atravs do servio devocional e do amor a Deus. O Senhor onipenetrante em todo o universo e encontra-Se dentro da alma, do corao, da gua, do ar em toda parte. Assim, se fazemos uma imagem de Deus com algum elemento argila, pedra, madeira ou o que for , no devemos consider-la uma simples esttua. Essa imagem tambm Deus. Se tivermos devoo suficiente, a imagem tambm falar conosco. Deus est em toda parte impessoalmente (may tatam idam sarvam), porm, se fizermos Sua forma pessoal com algum elemento, ou se criarmos uma imagem de Deus dentro de ns mesmos, Ele estar presente em pessoa diante de ns. Os sstras recomendam oito espcies de imagens, sendo que qualquer uma dessas imagens pode ser adorada porque Deus est em toda parte. Talvez algum proteste e questione: "Por que deveramos adorar Deus atravs de imagem em vez de ador-lO sob Sua forma espiritual original?" A resposta que no podemos ver Deus imediatamente sob Sua forma espiritual. Nossos olhos materiais s nos permitem ver pedras, argila, madeira, algo tangvel. Por isso, Krsna aparece como arc-vigraha, uma forma autorizada apresentada pelo Senhor Supremo a fim de que possamos v-lO. Resultado: se nos concentrarmos na imagem e Lhe fizermos oferendas com amor e devoo, Krsna corresponder por intermdio da imagem. Muitos exemplos provam que isto j aconteceu. Na ndia, existe um templo chamado Sksi-Gopla (Krsna tambm conhecido como Gopla). A mrti ou esttua de Gopla encontrava-Se certa vez num templo de Vrndvana. Dois brhmanas, um idoso e um jovem, foram visitar Vrndvana em peregrinao. A viagem foi longa, e naquela

  • poca no havia ferrovias, de modo que os viajantes passavam por muitas dificuldades. O homem idoso ficou muito agradecido ao jovem por este t-lo ajudado durante a viagem e, ao chegar a Vrnd-vana, ele disse a seu acompanhante: "Meu caro rapaz, prestaste-me muito servio e no sei como agradecer-te por isto. Eu gostaria muito de poder retribuir-te por esse servio, dando-te alguma recompensa." "Meu caro senhor", disse o rapaz, "s um homem idoso como meu pai. Portanto, meu dever servir-te. No preciso ser recompensado por isto." "No, estou-te agradecido e sinto que devo recompensar-te", insistiu o velho. Ento, prometeu dar sua jovem filha em casamento ao rapaz. O velho era muito rico, ao passo que o rapaz, apesar de ser um brhmana erudito, era muito pobre. Levando isto em considerao, o rapaz disse: "No faas esta promessa, pois tua famlia jamais concordar com isso. Eu sou um homem to pobre e tu s um aris-tocrata; logo, este matrimnio no ocorrer. Por favor, no faas esta promessa perante a Deidade." Os dois conversavam no templo, perante a Deidade de Gopla Krsna, e o rapaz no queria ofender a Deidade. Contudo, a despeito das splicas do rapaz, o velho insistia em manter a promessa do casamento. Aps permanecerem em Vrndvana por algum tempo, eles finalmente regressaram ao lar, e o velho informou a seu filho mais velho que sua jovem irm casar-se-ia com o brhmana pobre. O filho mais velho ficou muito irritado. "Mas como foste escolher aquele pobreto para casar-se com minha irm? Assim no pode ser!" A esposa do velho tambm veio falar com ele: "Se casares nossa filha com esse rapaz, cometerei suicdio." Assim, o velho ficou perplexo. Passado algum tempo, o jovem brhmana ficou muito preocupado. "Ele prometeu casar sua filha comigo, e foi uma promessa perante a Deidade. Por que ser que

  • ainda no veio cumpri-la?" Resolveu, ento, ir falar com o velho e lembr-lo de sua promessa. "Fizeste uma promessa perante o Senhor Krsna", disse o rapaz, "e ainda no a cumpriste. Que est acontecendo?" O velho ficou calado. Comeou a orar a Krsna, pois estava confuso. Para no criar um distrbio na famlia, no queria mais casar sua filha com o rapaz. Nisso, apareceu o filho mais velho, que comeou a acusar o jovem brhmana: "Tu roubaste meu pai no lugar de peregrinao. Tu o embriagaste tiraste-lhe todo o dinheiro, e agora ainda vens dizer que ele prometeu dar-te minha irm caula em casamento. Patife!" Dessa maneira, formou-se uma grande confuso, e comeou a apa-recer gente para ver o que havia. O rapaz percebeu que o velho no retrocedera em sua deciso mas que a famlia estava dificultando as coisas. As pessoas comearam a juntar-se no local por causa da discusso provocada pelo filho mais velho, e o jovem brhmana passou a exclamar que o velho fizera aquela promessa perante a Deidade mas que ele no queria cumpri-la devido objeo da famlia. O filho mais velho, que era ateu, interrompeu o rapaz e disse: "Tu dizes que o Senhor foi testemunha disso. Pois bem, se Ele vier e der testemunho dessa promessa, dar-te-emos nossa irm em casamento." O rapaz replicou: "Sim, pedirei que Krsna venha dar Seu teste-munho." Ele estava confiante de que Deus viria. Ento, foi feito um acordo perante todos os presentes, de que a moa lhe seria dada em casamento se Krsna viesse de Vrndvana como testemunha da promessa do velho. O jovem brhmana regressou a Vrndvana, onde comeou a orar a Gopla Krsna. "Querido Senhor, precisas vir comigo." Ele era um devoto to resoluto que falava com Krsna assim como algum falaria com um amigo. Para ele, Gopla no era apenas uma esttua ou uma imagem, mas sim o prprio Deus. De repente, a Deidade falou-lhe:

  • "Como achas que poderei acompanhar-te? Eu sou uma esttua. No posso ir a parte alguma." "Bem, se uma esttua pode falar, pode tambm caminhar", replicou o rapaz. "Est bem, ento", disse finalmente a Deidade. "Irei contigo, mas com uma condio. No devers de forma alguma virar-te para olhar-Me. Eu te acompanharei, e sabers disso pelo tilintar dos sinos de Meus tornozelos." O rapaz concordou, e dessa maneira ambos saram de Vrndvana em direo outra cidade. Quase no final da viagem, bem pertinho da entrada da aldeia do rapaz, ele deixou de ouvir o som dos sinos e se apavorou. "Oh! onde est Krsna?" No conseguindo se conter mais, virou-se para trs. Ento, viu a esttua parada, bem atrs dele. Por ter olhado para trs, ela no iria prosseguir. Ele correu imedia-tamente para a cidade, onde pediu que todos viessem ver Krsna, a testemunha. Todos ficaram espantados ao verem que uma esttua to grande percorrera toda aquela distncia, e assim construram um templo no local em honra Deidade, e at hoje adoram Sksi-Gopla, o Senhor-testemunha. Portanto, devemos concluir que, como est em toda parte, Deus tambm est em Sua esttua, na imagem feita semelhana dEle. Se Krsna est em toda parte, como at os impersonalistas admitem, por que, ento, no estar em Sua imagem? Agora, se a imagem ou esttua vai falar ou no conosco, isto depender do grau de nossa devoo. Mas se preferirmos ver a imagem como uma mera escultura de madeira ou pedra, Krsna sempre permanecer como madeira ou pedra para ns. Krsna est em toda parte, porm, conforme avanarmos em conscincia espiritual, passaremos a v-lO como Ele . Ao colocarmos uma carta na caixa de correio, ela chegar a seu destino porque a caixa de correio autorizada. De forma semelhante, se adorarmos uma imagem autorizada de Deus, nossa f surtir algum efeito. Se nos dispusermos a observar as diversas regras e regulaes quer dizer, se nos qualificarmos ,

  • ser-nos- possvel ver Deus em qualquer lugar. Devido presena de Seu devoto, Krsna, mediante Suas energias onipresentes, manifestar-S- em qualquer lugar, porm, na ausncia de Seu devoto, Ele no far isto. Muitos incidentes ilustram este fato. Prahlda Mahrja viu Krsna numa pilastra. Existem muitos outros exemplos de que Krsna est em toda parte: basta termo-nos qualificado para v-lO. O prprio Krsna d o seguinte exemplo de Sua onipresena:

    yathksa-sthito nityam vyuh sarvatra-go mahn

    tath sarvni bhtni mat-sthnlty upadhraya

    "Assim como o vento poderoso, soprando em todas as direes, sempre repousa no espao etreo, fica sabendo que, da mesma maneira, todos os seres repousam em Mim." (Bg. 9.6) Todos sabem que o vento sopra no espao, bem como em todos os cantos da Terra. No h lugar onde no haja ar nem vento. Se queremos evitar o ar, temos que criar um vcuo artificialmente, com a ajuda de uma mquina. Assim como o ar sopra em todos os cantos do espao, da mesma forma, tudo existe dentro de Krsna. Se assim, para onde vai a criao material ao dissolver-se?

    sarva-bhtni kaunteya prakrtim ynti mmikm kalpa-ksaye punas tni

    kalpdau visrjmy aham

    " filho de Kunt, ao final do milnio, toda a manifestao material imerge em Minha natureza, e, no comeo do outro milnio, por intermdio de Minha potncia, Eu crio outra vez." (Bg. 9.7) Krsna aciona Sua natureza (prakrti) assim como algum d corda em um relgio, e, quando a natureza se dissolve, ela imerge no Senhor. A criao espiritual, contudo, no assim, pois permanente. Na

  • criao material tudo temporrio. Assim como nossos corpos desenvolvem-se devido centelha espiritual que existe dentro deles, de modo semelhante, toda a criao material surge, desenvolve-se e desaparece devido ao esprito do Senhor que est dentro dela. Assim como nosso esprito est presente dentro do corpo, o Senhor est presente dentro do universo como Paramtm. Devido presena de Kslrodakasyi Visnu que existe a criao material, tanto como nossos corpos existem devido nossa presena. s vezes, Krsria manifesta a criao material e, s vezes, no. De qualquer modo, a existncia da criao deve-se presena de Krsna.

    4

    Conhecimento por meio dos

    mahtms, grandes almas

    A presena de Krsna em todos os aspectos da criao percebida pelos mahtms, as grandes almas, que esto sempre adorando Krsna. Conforme declara o prprio Krsna, essas grandes almas so versadas no conhecimento confidencial encontrado no Nono Cap-tulo do Bhagavad-git, e sabem que Krsna a fonte de todas as coisas.

    mahtmnas tu mm prtha daivim prakrtim srith

    bhajanty ananya-manaso jhtv bhtdim avyayam

  • " filho de Prth, aqueles que no se iludem, as grandes almas, vivem sob a proteo da natureza divina. Eles se dedicam plenamente ao servio devocional porque sabem que Eu sou a Suprema Personalidade de Deus, original e inexaurvel." (Bg. 9.13) A grande alma no tem dvida de que Krsna a Suprema Perso-nalidade de Deus e a origem de todas as emanaes. Como afirma o Vednta-stra, athto brahma-jijns: a vida humana feita para indagarmos acerca de Brahman. Hoje em dia, dedicamo-nos a es-tudar coisas fteis e temporrias. Brahman quer dizer o maior, porm, ao invs de nos interessarmos pelo maior, temos perdido nosso tempo, procurando resolver problemas, tambm comuns ao reino animal, como comer, dormir, defender-se e acasalar-se. Esses pequenos problemas so resolvidos naturalmente. Mesmo os animais desfrutam de acasalar-se, dormir, comer e defender-se. A prpria natureza lhes proporciona isto. Essas exigncias do corpo no chegam a ser problemas de verdade, mas ns as transformamos em problemas. O Vednta-stra orienta-nos a que no nos preocupemos com esses problemas, pois eles so resolvidos em qualquer forma de vida. Nosso problema indagar acerca da fonte de todas essas manifesta-es. A forma de vida humana no se destina rdua luta para resolver os problemas materiais que mesmo um porco, comedor de excremento, pode resolver. O porco considerado o mais baixo dos animais, todavia, ele tem recursos para comer, acasalar-se, dormir e defender-se. Mesmo que no lutemos por essas coisas, ns as con-seguiremos. O homem destina-se, antes, a descobrir a fonte da qual provm todas essas coisas. O Vednta-stra afirma que Brahman I a fonte de onde tudo emana (janmdy asya yatah). Filsofos, cien-tistas, yogis, jrinis e transcendentalistas, todos esto tentando j descobrir a fonte ltima de tudo. Esta fonte revelada no Brahma- samhit como sarva-krana-kranam: Krsna a causa de todas as causas.

  • Compreendendo que Krsna a fonte primordial de tudo, como agem as grandes almas? O prprio Krsna caracteriza-as como segue:

    satatam kirtayanto mm yatantas ca drdha-vrath

    namasyantas ca mm bhakty nitya-yukt upsate

    "Sempre cantando Minhas glrias, esforando-se com muita determinao, prostrando-se ante Mim, essas grandes almas perpetuamente adoram-Me com devoo." (Bg. 9.14) Esta gloroficao o processo de bhakti-yoga, o cantar de Hare Krsna. As grandes almas, compreendendo a natureza de Deus, Seu advento e Sua misso, glorificam-nO de muitas maneiras, porm, existem pessoas que no O aceitam. Krsna tambm faz meno delas no Nono Captulo:

    avajnanti mm mdh mnusim tanum sritam param bhvam ajnanto

    mama bhta-mahesvaram "Os tolos zombam de Mim quando advenho sob a forma humana. Eles ignoram Minha natureza transcendental e Meu domnio supremo sobre tudo o que existe." (Bg. 9.11) Os mdhas, ou homens tolos, que so inferiores aos animais, zombam dEle. Qualquer pessoa que no acredite em Deus deve ser, ou um louco, ou o tolo nmero um. No h por que no acreditar em Deus, e tudo nos leva a acreditar nEle. Talvez algum diga no acreditar em Deus, mas quem lhe deu o poder para dizer isto? Esta faculdade de falar cessa hora da morte mas que pessoa a est proporcionando? Acaso a faculdade de falar surgiu de uma pedra? Assim que a Autoridade Suprema retira a capacidade de falar, o corpo fica como se fosse uma pedra. A prpria capacidade de falar prova que existe um Poder Supremo que nos est fornecendo tudo.

  • Uma pessoa consciente de Krsna sabe que no tem controle sobre as coisas que possui. Se no cremos em Deus, pelo menos precisamos admitir a existncia de um poder superior a ns, que nos controla a cada passo, e chamar esse poder de Deus, ou de natureza, ou do que quisermos. Em suma, nenhum ser humano sensato pode negar que existe um poder controlando o universo. Quando Krsna esteve presente na Terra, parecia um ser humano dotado de poderes sobrenaturais. Naquela poca, contudo, noventa e nove por cento das pessoas no O reconheceram como Deus. E no o fizeram porque lhes faltava a viso adequada (param bhvam ajnantah). Como possvel reconhecer Deus? Mediante poderes sobrenaturais, por meio da evidncia das escrituras e por intermdio do veredito das autoridades. Quanto a Krsna, todas as autoridades vdicas aceitam-nO como Deus. Quando de Sua presena na Terra, as atividades por Ele executadas foram sobrenaturais. Se algum no acreditar nisto, deve-se concluir que no acreditar em nenhuma evidncia que se possa dar. Se queremos ver Deus, devemos tambm ter a viso adequada. J que no podemos ver Deus com nossos sentidos materiais, o processo de bhakti-yoga o processo purificador dos sentidos e qe nos permite, portanto, compreender a posio e a personalidade de Deus. Temos capacidade de ver, ouvir, tocar, saborear e assim por diante, todavia, mantendo esses sentidos embotados, no nos possvel compreender Deus. O processo de conscincia de Krsna consiste em treinar esses sentidos por intermdio de princpios regu-lados especificamente por meio do cantar de Hare Krsna. Sri Krsna apresenta outras caractersticas dos mdhas:

    moghs mogha-karmno mogha-jnn vicetasah rksasm surm caiva

    prakrtim mohinm srith

  • "Essas_pessoas confusas sentem-se atradas por pontos de vista ates-tas e demonacos. Iludidas a este ponto, vem frustrar-se suas esperanas de liberao, suas atividades fruitivas e seu cultivo de conhecimento." (Bg. 9.12) A palavra moghsa indica que as aspiraes dos atestas sero frus-tradas. Os karmis, ou trabalhadores fruitivos, vivem na esperana de conseguirem algo melhor para o gozo de seus sentidos. Suas aspiraes praticamente no tm limites. Eles procuram aumentar o saldo bancrio e esperam ser felizes algum dia, s que esse dia nunca chega, porque a busca deles insacivel. Aqueles que se. deixam seduzir pelas atraes da energia ilusria no podem com-preender a meta ltima da vida. A expresso mogha-karmnah mostra que, apesar de se esforarem tanto, no final eles s tero frustraes. A menos que ns estabeleamos em conscincia de Krsna, todas as nossas atividades acabaro por nos frustrar. No um homem comum quem diz isto, mas sim o prprio Sr Krsna. Se nossa inteno adquirir conhecimento, devemos pesquisar para ver se Krsna ou no Deus. De que adiantam milhares de anos de especulao sem objetivo algum? O Senhor Supremo to vasto que no se pode abrang-lO atravs da especulao mental. Se viajarmos velocidade da mente e do vento por milhes de anos, no nos ser possvel alcanar o Supremo mediante a especulao. No h registro de sequer uma pessoa que tivesse alcanado a Suprema Verdade Absoluta por meio de sua prpria especulao mental. Portanto, a expresso mogha-jnnh indica que o processo de conhecimento mundano s faz confundir-nos. Por intermdio de nosso prprio esforo, no temos condio de ver o sol depois que ele se pe. Somos obrigados a esperar at que o sol se revele ao nascer da manh. Se no temos condio de, com nossos sentidos limitados, perceber algo material como o sol, como poderemos perceber o que no material? No podemos descobrir ou entender Krsna por meio de nosso prprio esforo.

  • Precisamos qualificar-nos por intermdio da conscincia de Krsna e esperar que Ele Se revele a ns.

    tesm satata-yuktnm bhajatm priti-prvakam

    dadmi buddhi-yogam tam yena mm upaynti te

    "queles que se dedicam constantemente a Mim e Me adoram com amor, Eu dou a compreenso mediante a qual eles podem vir a Mim." (Bg. 10.10) Embora Krsna esteja dentro de ns, devido ao nosso condiciona-mento material, no percebemos isso. Aqueles cuja natureza hostil e demonaca (rksasm surm) acham que esta vida material tudo e que o objetivo da vida humana tirar tanto prazer da matria quanto possvel. Eles espremem a natureza material, mas vivem sendo frustrados. No espremendo a natureza material que desco-briremos o verdadeiro prazer. Caso queiramos o verdadeiro prazer, devemos adotar a conscincia de Krsna. No mundo material, toda felicidade tem seu comeo e seu fim, mas, em conscincia de Krsna, a felicidade ilimitada e sem fim. Se quisermos obter esta felicidade, simplesmente precisamos sacrificar um pouco de nosso tempo e cantar Hare Krsna. Em outras eras, grandes sbios e semideuses costumavam sacrificar suas vidas inteiras para compreenderem o Supremo, e nem sempre tinham sucesso. Para esta era, Caitanya Mahprabhu recomenda um processo fcil de compreenso de Deus. A nica coisa necessria ouvir atentamente. Devemos ouvir o Bhagavad-gt e devemos cantar os nomes de Krsna, ouvindo-os com ateno. No devemos ser orgulhosos, pensando falsamente que temos muito conhecimento ou que somos muito eruditos. Precisamos apenas ser bem educados e submissos para ouvir as mensagens de Krsna.

  • Atualmente, este mundo administrado pelos rksasas. Os rksasas so canibais comedores de seus prprios filhos para a satisfao de seus sentidos. Grandes regimes tm sido criados para prejudicar tantas pessoas em benefcio da satisfao dos sentidos dos rksasas, mas eles no percebem que seus sentidos jamais ficaro satisfeitos desta maneira. No obstante, os rksasas esto dispostos a sacrificar tudo se para satisfazer seus desejos caprichosos. Eles tm muita dificuldade de compreender o que est acontecendo de fato porque esto muito fascinados pela civilizao material. Ento, quem poder compreender? Os mahtms, cujos coraes se abriram para a transcendncia, entendem que "tudo pertence a Deus, e eu tambm perteno a Deus." Semelhantes mahtms no esto sob o controle da natureza material (mahtmnas tu mm prtha daivm prakrtim srith). Deus grande e o corao do mahtm tambm torna-se grande servindo ao grande. Mahtm no o carimbo de um lder poltico. No so votos que fazem de algum um mahtm. O Bhagavad-git estabelece o padro do mahtm: mahtm aquele que se refugiou na energia superior do Senhor. Evidentemente, todas as energias so dEle, e Ele no faz distines entre a energia espiritual e a energia material. Porm, no caso da alma condicionada, situada marginalmente entre a energia material e a energia espiritual, faz-se uma distino. Os mahtms percebem esta distino e, por isso, refugiam-se na energia espiritual (daivm prakrtim). Servindo ao grande, os mahtms tambm tornam-se grandes, identificando-se com a energia superior: "Eu sou Brahman esp-rito" (aham brahmsmi). Isto no quer dizer que eles ficam orgulhosos e passam a achar que so Deus. Pelo contrrio, quem se torna Brahman deve demonstrar suas atividades em Brahman. O esprito ativo, logo, tornar-se Brahman no significa tornar-se inativo. Brahman esprito, e esses corpos materiais s so ativos por terem Brahman dentro deles. Se somos ativos a despeito de nosso contato com a natureza material, por acaso deixamos de ser ativos quando

  • nos purificamos das contaminaes materiais e nos estabelecemos em nossa identidade como Brahman puro? Compreender "Eu sou Brahman" significa ocupar-se em atividades espirituais, pois somos esprito, e nossas atividades manifestam-se, mesmo que estejamos contaminados pela matria. Tornar-se Brahman no significa desintegrar-se, mas sim estabelecermo-nos na natureza superior, o que significa ocuparmo-nos nas atividades superiores da energia superior. Tornar-se Brahman significa ocupar-se completamente em prestar servio devocional ao Senhor. Deste modo, o mahtm com-preende que, se tiver que prestar servio, que este seja prestado a Krsna, e a ningum mais. Por tanto tempo servimos a nossos sentidos No temos condio de parar de servir, pois fomos feitos para servir. Existe algum que no est servindo? Se perguntarmos ao Presidente: "A quem o senhor est servindo?" ele nos dir que est servindo nao. Ningum fica sem servir. No podemos parar de servir, mas precisamos reorientar nosso servio, trocando a iluso pela realidade. Fazendo isto, viramos mahtms. O processo de krtana (krtayantah), de sempre cantar as glrias do Senhor, o comeo do processo do mahtm. O Senhor Caitanya Mahprabhu simplificou este processo ao apresentar humanidade o cantar de Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Existem nove processos diferentes de servio devocional, dos quais sravanam krtanam, ouvir e cantar, so os mais importantes. Na verdade, kirtanam significa "descrever". Podemos fazer descrio musical, verbal, visual, etc. Sravanam acompanha kirtanam, pois, sem ouvir nada podemos descrever. No necessria nenhuma qualificao material para se alcanar o Supremo. Basta ouvirmos de fontes autorizadas e repetir rigorosamente o que ouvimos. Outrora, o estudante ouvia os Vedas recitados pelo mestre espiritual, e em virtude disso os Vedas tornaram-se conhecidos como sruti, "aquilo que se ouve". No Bhagavad-gt, por exemplo, Arjuna ouve

  • Krsna no campo de batalha. Ele no est estudando a filosofia Vednta. Podemos ouvir as palavras da Autoridade Suprema em qualquer lugar, mesmo num campo de batalha. Conhecimento, recebe-se-o, no inventado. Certas pessoas pensam: "Por que deveria eu dar-Lhe ouvidos? Posso pensar sozinho. Posso inventar algo novo." Este, porm, no o processo vdico de conhecimento descendente. Mediante o conhecimento ascendente, a pessoa tenta elevar-se por seu prprio esforo. Atravs do conhecimento descen-dente, contudo, recebemos o conhecimento de uma fonte superior. Na tradio vdica, o mestre espiritual encarrega-se de transmitir conhecimento ao discpulo, tal como ocorre no Bhagavad-gTt (evam parampar-prptam imam rjarsayo viduh). A audio submissa tem tanto poder que, pelo simples fato de ouvirmos de fontes autorizadas, aperfeioamo-nos inteiramente. Sendo submissos, conscientizamo-nos de nossas prprias imperfeies. Em nosso estado condicionado, estamos sujeitos a quatro classes de imperfeies: fatalmente cometemos erros, ficamos iludidos temos sentidos imperfeitos e enganamos. Portanto, uma futilidade tentarmos compreender a Verdade Absoluta com nossos sentidos deficientes e nossa experincia limitada. Precisamos ouvir de um representante de Krsna que seja devoto de Krsna. Krsna fez de Arjuna um representante Seu porque Arjuna era Seu devoto: bhakto 'si me sakh ceti. (Bg. 4.3) Ningum pode tornar-se representante de Deus sem ser devoto de Deus. A pessoa que pensa: "Eu sou Deus" no pode represent-lO. Por sermos partes integrantes de Deus, temos as mesmas qualidades que Ele, e por isso, se estudarmos essas qualidades em ns mesmos, acabaremos aprendendo algo sobre Deus. Isto no quer dizer que compreenderemos a quantidade de Deus. Este processo de auto-realizao uma maneira de compreendermos Deus, mas no devemos em hiptese alguma pregar: "Eu sou Deus." No podemos afirmar ser Deus se no conseguimos revelar os poderes de Deus. Quanto a Krsna, Ele provou ser Deus

  • demonstrando muitssimo poder e revelando Sua forma universal a Arjuna. Krsna mostrou esta forma impressionante a fim de desanimar as pessoas que no futuro tencionassem assumir a posio de Deus. No devemos nos deixar enganar por algum que afirma ser Deus; seguindo os passos de Arjuna, devemos pedir para ver a forma universal antes de aceitar alguma pessoa como Deus. S um tolo aceitaria outro tolo como Deus. Ningum pode equiparar-se a Deus, e no h ningum superior a Ele. Mesmo o Senhor Brahm e Siva, os mais elevados dos semi-deuses, so-Lhe subservientes e prestam-Lhe respeitosas reverncias. Em vez de tentarmos virar Deus atravs deste ou daquele processo de meditao, melhor que ouamos submissamente sobre Deus e tentemos compreender tanto Ele quanto nossa relao com Ele. Nem o representante de Deus nem a encarnao de Deus jamais afirmam ser Deus, mas sim servos de Deus. Esta a caracterstica do representante fidedigno. Podemos descrever tudo o que aprendemos a respeito de Deus da parte de fontes autorizadas, e isso ajudar-nos- a avanar no caminho espiritual. Esta descrio chama-se kirtana. Ao tentarmos repetir o que ouvimos, estabelecemo-nos em conhecimento. Praticando o processo de sravanam kirtanam, ouvir e cantar, podemos livrar-nos do condicionamento material e atingir o reino de Deus. Na era atual, impossvel praticar sacrifcio, especulao ou .yoga. O nico caminho aberto para ns o de ouvir submissamente de fontes autorizadas. Foi assim que os mahtms receberam o conhecimento mais confidencial. Arjuna tambm recebeu-o de Krsna desta maneira, e a ns recomenda-se o mesmo processo, o de receber conhecimento a partir da sucesso discipular proveniente de Arjuna.

  • 5

    Parampar: conhecimento

    atravs da sucesso discipular sr bhagavn uvca

    imam vivasvate yogam proktavn aham avyayam vivasvn manave prha manur iksvkave 'bravit

    "O bem-aventurado Senhor disse: Ensinei esta imperecvel cincia da yoga ao deus do Sol, Vivasvn, e este ensinou-a a Manu, o pai da humanidade, que, por sua vez, ensinou-a a Iksvku." (Bg. 4.1) H muitos anos, Krsna transmitiu o conhecimento divino do Bhagavad-gt a Vivasvn, o deus do Sol. Pelo que costumam nos dizer, o sol um lugar muito quente, e no consideramos que seja possvel algum viver l. Nem sequer possvel chegar bem perto do sol com os corpos que temos. Contudo, os textos vdicos explicam que o sol um planeta tanto quanto o nosso o , mas que tudo l composto de fogo. Assim como o elemento predominante neste planeta a terra, h outros planetas onde os elementos predominantes so o fogo, a gua e o ar. As entidades vivas desses diversos planetas adquirem corpos com-postos de elementos compatveis com o elemento predominante no planeta; logo, os seres que vivem no sol tm corpos compostos de fogo. De todos os habitantes do sol, a personalidade principal um deus chamado Vivasvn. Ele conhecido como o deus do sol (srya-nryana). Assim como em cada pas h um chefe de estado, todos os planetas tambm so presididos por suas respectivas personali-dades principais. O texto histrico chamado Mahbhrata relata que outrora, neste planeta, governava um nico rei, chamado Mahrja

  • Bharata. Ele governou h cerca de 5.000 anos, e o planeta recebeu um nome em homenagem a ele (Bhratavarsa). Mais recentemente, a Terra foi dividida em muitos pases diferentes. Dessa maneira, cada planeta do universo tem um controlador e, s vezes, muitos controladores. Este primeiro verso do Quarto Captulo do Bhagavad-git ensina-nos que, milhes de anos atrs, Sr Krsna transmitiu o conhecimento de karma-yoga a Vivasvn, o deus do Sol. Sri Krsna, agora transmitindo os ensinamentos do Bhagavad-git a Arjuna, indica neste verso que os mesmos ensinamentos, longe de serem algo novo, foram apre-sentados muitos anos atrs num planeta diferente. Vivasvn, por sua vez, repetiu esses ensinamentos para seu filho, Manu. Manu transmitiu o conhecimento novamente a seu discpulo Iksvku. Mahrja Iksvku foi um grande rei e antepassado do Senhor Rma-candra. O que se est tentando dizer aqui que, se quisermos aprender o Bhagavad-git e tirar benefcio deste aprendizado, deveremos adotar o processo para compreend-lo, processo este descrito aqui. Ao falar o Bhagavad-git para Arjuna, Krsna no o est fazendo pela primeira vez. As autoridades vdicas calculam que o Senhor, h aproximadamente quatrocentos milhes de anos, transmitiu essas instrues divinas a Vivasvn. O Mahbhrata d a entender que o Bhagavad-git foi transmitido a Arjuna h aproximadamente 5.000 anos. Antes de Arjuna, os mesmos ensinamentos foram transmitidos atravs da sucesso discipular, s que, passado um perodo to longo, os ensinamentos ficaram perdidos.

    evam parampar-prptam imam rjarsayo viduh sa kleneha mahat

    yogo nastah parantapa

    sa evyam may te 'dya yogah proktah purtanah

  • bhakto 'si me sakh ceti rahasyam hy etad uttamam

    "Esta cincia suprema foi assim recebida atravs da corrente de sucesso discipular, e os reis santos compreenderam-na deste modo. Porm, no transcorrer do tempo, a sucesso rompeu-se, e por isso a cincia como ela parece estar perdida. Agora, transmito-te esta antiqussima cincia da relao com o Supremo porque s Meu devoto bem como Meu amigo; logo, podes compreender o mistrio transcendental desta cincia." (Bg. 4.2-3) O Bhagavad-gt trata de diversos sistemas de yoga bhakti-yoga, karma-yoga, jhna-yoga, hatha-yoga e por isso aqui fala-se de yoga- A palavra voga significa "vincular-se", e a idia que, praticando yoga, vinculamos nossa conscincia com Deus. Trata-se de um mtodo de reunirmo-nos com Deus, ou de restabelecermos nossa relao com Ele. No transcurso do tempo, esta yoga transmitida por Sri Krsna ficou perdida. Como isto foi possvel? Por acaso no havia sbios eruditos na poca em que Krsna teve Seu dilogo com Arjuna? No, muitos sbios estavam presentes na poca. "Perdido" neste contexto quer dizer que o significado do Bhagavad-gt estava perdido. Talvez os intelectuais apresentem sua prpria interpretao do Bhagavad-gt, analisando-o para favorecer seus prprios caprichos, mas isto no o Bhagavad-gt. isto o que Krsna est enfatizando, e o estudante do Bhagavad-gTt deve atentar para isto. Talvez algum seja um timo intelectual do ponto de vista material, porm, isto no o qualifica para comentar o Bhagavad-gTt. Caso queiramos compreender o Bhagavad-gTt, precisamos aceitar o princpio da sucesso discipular (parampar). necessrio que assimilemos o esprito do Bhagavad-gTt, ao invs de abord-lo simplesmente do ponto de vista da erudio. Por que, de todas as pessoas, Sri Krsna escolheu Arjuna como receptculo deste conhecimento? Arjuna no era de forma alguma um grande erudito, nem era yog, meditador ou homem santo. Ele

  • era um guerreiro prestes a participar de uma batalha. Havia muitos grandes sbios vivendo na poca, e Sri Krsna poderia ter transmitido o Bhagavad-gTt a eles. A resposta que, apesar de ser um homem comum, Arjuna tinha uma grande qualificao: bhakto 'si me sakh ceti "s meu devoto e Meu amigo." Esta era a qualificao excepcional de Arjuna, uma qualificao que os sbios no tinham. Arjuna sabia que Krsna era a Suprema Personalidade de Deus, motivo pelo qual rendeu-se a Ele, aceitando-O como seu mestre espiritual. Quem no devoto do Senhor Krsna no tem possibilidade de compreender o Bhagavad-gTt. Quem quiser compreender o Bhagavad-gTt no poder faz-lo com o auxlio de outros mtodos. Deve-se compreender o Bhagavad-gt conforme o mtodo prescrito no prprio Gt, exatamente como Arjuna compreendeu-o. Se de-sejarmos entender o Bhagavad-gt ao nosso prprio modo, ou se desejarmos dar-lhe nossa prpria interpretao, talvez isto demonstre a nossa erudio, mas no ser o Bhagavad-gt. Pode ser que, com nossa erudio, consigamos inventar alguma teoria baseada no Bhagavad-gt, tal como fez Mahtm Gandhi ao interpretar o Bhagavad-gt com a inteno de substanciar sua teoria da no-violncia. Como possvel provar que o Bhagavad-gt trata da no-violncia? O tema central do Bhagavad-gt gira em torno da relutncia de Arjuna em lutar e de como Krsna induziu-o a matar seus adversrios. De fato, Krsna diz a Arjuna que o resultado da guerra j fora decidido pelo Supremo, que as pessoas reunidas no campo de batalha estavam predestinadas a jamais retornar. Era plano de Krsna que os guerreiros iriam todos morrer, e Krsna deu a Arjuna a oportunidade de receber o mrito pela vitria. Se o Bhagavad-gt proclama que lutar uma necessidade, como possvel provar que ele defende a no-violncia? Tais interpretaes so tentativas de distorcer o Bhagavad-gt. Basta o Gt ser interpretado segundo a motivao de algum indivduo para seu objetivo ficar obscurecido. Afirma-se que no podemos chegar

  • concluso da literatura vdica valendo-nos de nossa prpria lgica e argumentao. Existem muitas coisas que transcendem a jurisdio de nosso sentido de lgica. Quanto s escrituras, diferentes escrituras descrevem a Verdade Absoluta de maneiras diferentes. Se analisarmos todas elas, ficaremos confusos. Existem, tambm, muitos filsofos, cada um com sua opinio, e eles vivem se contradizendo. Se no lendo diversas escrituras, dando argumentos lgicos ou propondo teorias filosficas que se pode compreender a verdade, como, ento, pode-se chegar at ela? O fato que a sabedoria da Verdade Absoluta muito confidencial, porm, se seguirmos as autoridades, poderemos entend-la. Na ndia, h sucesses discipulares descendentes de Rmnuj-crya, Madhvcrya, Nimbrka, Visnusvm e outros grandes sbios. Os textos vdicos so compreendidos por intermdio dos mestres espirituais superiores. Arjuna aprendeu o Bhagavad-gt com Krsna, e, se desejamos aprend-lo tambm, devemos recorrer a Arjuna, e no a qualquer outra fonte. Qualquer conhecimento que tenhamos do Bhagavad-gt deve coincidir com a maneira como Arjuna o compreendeu. Se compreendermos o Bhagavad-git maneira de Arjuna, ento nossa compreenso ser correta. Este deve ser o critrio para nosso estudo do Bhagavad-git. Para realmente recebermos benefcio do Bhagavad-git, precisamos seguir este princpio. O Bhagavad-git no um livro de conhecimento comum que podemos adquirir em qualquer livraria, ler e recorrer a um dicionrio para entend-lo. No bem assim. Se o fosse, Krsna jamais teria dito a Arjuna que a cincia estava perdida. No difcil compreender a necessidade de recorrer sucesso discipular para se compreender o Bhagavad-git. Quem quer ser advogado, engenheiro ou mdico precisa receber conhecimento dos advogados, engenheiros e mdicos autorizados. O advogado iniciante precisa tornar-se aprendiz de um advogado experiente, ou, no caso de um jovem estudante de medicina, preciso que ele passe a conviver e a trabalhar com aqueles que j so mdicos licenciados.

  • No podemos aperfeioar o conhecimento que temos de um assunto sem que o recebamos por intermdio de fontes autorizadas. Existem dois processos de adquirir conhecimento o indutivo e o dedutivo. O mtodo dedutivo considerado o mais perfeito. Considerando, por exemplo, a premissa de que todos os homens so mortais, no necessrio discutir para ver se o homem mortal mesmo. Em geral, aceita-se que tal premissa um fato. A concluso dedutiva : "O Sr. Paulo um homem, logo, o Sr. Paulo mortal." Mas como se chega premissa de que todos os homens so mortais? Os adeptos do mtodo indutivo preferem chegar a esta premissa por meio de experimentos e observaes. Deste modo, estuda-se que este homem morreu e aquele homem tambm, etc, e, aps observar-se que tantos homens morreram, conclui-se ou generaliza-se que todos os homens so mortais; s que h um grande defeito neste mtodo indutivo, a saber, que nossa experincia limitada. Talvez jamais tenhamos visto um homem que no fosse mortal, porm, fazemos nosso julgamento com base em nossa experincia pessoal, que finita. Nossos sentidos tm poder limitado e temos muitas deficincias em nosso estado condicionado. Conseqentemente, o processo indutivo nem sempre perfeito, ao passo que o processo dedutivo, baseado numa fonte de conhecimento perfeito, perfeito. Assim funciona o processo vdico. Apesar de a autoridade ser reconhecida, existem muitas passagens do Bhagavad-git que parecem ser dogmticas. No Stimo Captulo por exemplo, Sri Krsna diz:

    mattah parataram nnyat kicid asti dhanajaya

    mayi sarvam idam protam stre mani-gan iva

  • " conquistador de riquezas (Arjuna), no existe verdade superior a Mim. Tudo repousa em Mim, assim como as prolas so ensartadas num cordo." (Bg. 7.7) Sri Krsna est dizendo que no existe autoridade superior a Ele, o que parece ser muito dogmtico. Se eu digo: "Ningum superior a mim", as pessoas pensaro: "Oh! Svmj muito orgulhoso." Se um homem que est condicionado por tantas imperfeies diz que o maior de todos, ele blasfemo. Mas Krsna pode dizer isto, pois, segundo registros histricos de quando Ele esteve na Terra, podemos compreender que Ele foi considerado a maior personali-dade de Sua poca. De fato, Ele Se sobressaiu em todos os campos de atividade. Segundo o sistema vdico, considera-se perfeito aquele conheci-mento que recebido da maior autoridade. De acordo com os Vedas, existem trs classes de evidncia: pratyaksa, anumna e sabda. Pratyaksa quer dizer percepo visual direta. Se h algum sentado minha frente, posso v-lo diretamente, e por meio dos olhos que recebo conhecimento de que ele est sentado ali. O segundo mtodo, anumna, auditivo: ouvindo o barulho de crianas brincando na rua, chegamos concluso de que elas esto l. O terceiro mtodo, sabda, consiste em aceitar as verdades apresentadas por uma autoridade superior. Aceitamos da parte de autoridades superiores a premissa de que o homem mortal. Todos aceitam isto, mas ningum tem experincia da mortalidade de todos os homens. Temos que aceitar isto por tradio. Se algum disser: "Quem foi o primeiro a descobrir esta verdade?" ser muito difcil responder. S poderemos dizer que se trata de um conhecimento popular e que o aceitamos. Dos trs mtodos de adquirir conhecimento, os Vedas afirmam que o terceiro mtodo, aquele atravs do qual recebemos conhecimento de autoridades superiores, o mais perfeito. A percepo direta sempre imperfeita, especialmente na fase de vida condicionada. A percepo direta faz-nos ver o sol como se fosse um disco, do tamanho do prato em que comemos. Contudo, os

  • cientistas esclarecem-nos que o sol muitos milhares de vezes maior do que a Terra. Que devemos aceitar, ento? A proclamao cientfica, a proclamao das autoridades, ou nossa prpria experincia? Embora ns mesmos no possamos provar quo grande o sol, aceitamos o veredito dos astrnomos. Dessa maneira, aceitamos as declaraes de autoridades em todos os campos de nossas atividades. Os jornais e o rdio informam-nos, tambm, o que est acontecendo na China, na ndia e em outros cantos do planeta. No temos experincia direta desses eventos, tampouco sabemos se tais eventos esto ocorrendo de fato, porm, aceitamos a autoridade do rdio e dos jornais. Se queremos obter conhecimento, nossa nica escolha acreditar nas autoridades. E se a autoridade for perfeita nosso conhecimento ser perfeito. Segundo as fontes vdicas, Krsna a maior e mais perfeita de todas as autoridades (mattah parataram nnyat kicid asti dhanajaya). No s Krsna que proclama ser a autoridade mxima isto tambm aceito por grandes sbios e eruditos no Bhagavad-gt. Se no aceitarmos Krsna como autoridade e no aceitarmos literalmente as Suas palavras, no poderemos obter nenhum benefcio do Bhagavad-gt. Isso no dogmtico a pura verdade. Se analisarmos minuciosamente o que Krsna diz, descobriremos que a verdade. Mesmo eruditos como Sankarcrya, cujas opinies so diferentes das opinies da Personalidade de Deus, admitem que Krsna svayam bhagavn Krsna o Senhor Supremo. O conhecimento vdico no uma descoberta recente. Trata-se de antigo conhecimento revelado. Krsna refere-se a ele como pur-tanah, que quer dizer antigo. Krsna diz ter transmitido esta yoga ao deus do Sol milhes de anos atrs, e no sabemos quantos milhes de anos antes disso Ele transmitiu-o a outra pessoa. Este conheci-mento vive sendo repetido, assim como o vero, o outono, o inverno e a primavera se repetem a cada ano. Nosso fundo de conhecimento muito pobre; nem sequer conhecemos a histria deste planeta se remontamos a mais de cinco mil anos. Porm, os textos vdicos

  • contam-nos histrias que remontam a milhes de anos atrs. O fato de no sabermos o que aconteceu h trs mil anos neste planeta no justifica que concluamos que ento no existia histria. claro que algum poder desconfiar da validade histrica de Krsna. Talvez diga que Krsna, segundo o Mahbhrata, viveu h cinco mil anos, e, neste caso, no possvel que Ele tivesse transmitido o Bhagavad-gTt ao deus do Sol tantos milhes de anos antes. Se eu dissesse que dei uma palestra sobre o sol ao deus do Sol alguns milhes de anos atrs, as pessoas diriam: "Svmlj est falando disparates." Mas o mesmo no se aplica a Krsna, pois Ele a Suprema Personalidade de Deus. Se acreditamos que Krsna falou o Bhagavad-gTt ao deus do Sol ou no, de qualquer modo Arjuna aceita este fato. Arjuna aceitou Krsna como o Senhor Supremo, e por isso sabia que era bem possvel que Krsna tivesse falado com algum milhes de anos antes. Apesar de pessoalmente aceitar as declaraes de Sr Krsna, a fim de esclarecer a situao para pessoas no futuro, Arjuna pergunta:

    aparam bhavato janma param janma vivasvatah katham etad vijnTym tvam dau proktavn iti

    "Vivasvn, o deus do Sol, nasceu antes de Ti. Como posso com-preender que no princpio Tu lhe ensinaste esta cincia?" (Bg. 4.4) Na verdade, esta uma pergunta, muito inteligente, qual Krsna responde do seguinte modo:

    bahni me vyattni janmni tava crjuna

    tny aham veda sarvni na tvam vettha parantapa

  • "Tanto Eu quanto tu j passamos por muitssimos nascimentos. Eu posso lembrar-Me de todos eles, mas tu no o podes, subjugador do inimigo!" (Bg. 4.5) Apesar de ser Deus, Krsna encarna muitssimas vezes. Sendo uma entidade viva, Arjuna tambm nasce muitssimas vezes. A diferena entre a Suprema Personalidade de Deus e a entidade viva est em tny aham veda sarvni: Krsna lembra-Se dos eventos de Suas en-carnaes passadas, ao passo que a entidade viva no o pode. Esta uma das diferenas entre Deus e o homem. Deus eterno e ns tambm o somos, mas a diferena est em que vivemos mudando de corpos. hora da morte esquecemo-nos dos eventos de nossa vida; morte significa esquecimento, isto tudo. noite, ao dormir-mos, esquecemos que somos casados e que temos este e aquele filho. Ficamos esquecidos quando adormecemos, porm, ao acordarmos, lembramos: "Ah! sou fulano de tal e preciso fazer isto e aquilo." O fato que, em nossas vidas anteriores, tivemos outros corpos com outras famlias, pais, mes e assim por diante em outros pases, mas esquecemo-nos de tudo isso. Talvez tenhamos sido ces ou gatos ou homens ou deuses mas agora estamos esquecidos de tudo o que possamos ter sido. A despeito de todas essas transformaes, como entidades vivas, somos eternos. Assim como em vidas anteriores nos preparamos para obter este corpo, nesta vida estamos nos preparando para obter outro corpo. O corpo que receberemos depender de nosso karma, ou atividades. Quem estiver no modo da bondade ser promovido a planetas superiores, a um status de vida superior (Bg. 14.14). A pessoa que morrer no modo da paixo permanecer na Terra, e quem morrer no modo da ignorncia talvez nasa em espcies de vida animal ou seja transferido a um planeta inferior (Bg. 14.15). Este o processo que vem transcorrendo, mas ns nos esquecemos dele. Certa feita, Indra, o rei dos cus, cometeu uma ofensa aos ps de seu mestre espiritual, o qual amaldioou-o a que nascesse como porco.

  • Assim, o trono do reino celestial ficou vazio enquanto Indra nascia na Terra como porco. Vendo a situao, Brahm veio Terra conversar com o porco: "Meu caro senhor, viraste um porco neste planeta Terra. Eu vim para salvar-te. Vem logo comigo." Mas o porco replicou: "Oh! no posso ir contigo. Tenho muitas responsa-bilidades meus filhos, esposa e esta agradvel sociedade suna." Mesmo tendo Brahm prometido que o levaria de volta aos cus, Indra, sob a forma de porco, recusou-se a ir. Isto chama-se esqueci-mento. De modo semelhante, o Senhor Sr Krsna vem e nos diz: "Que esto fazendo neste mundo material? Sarva-dharmn parityajya mm ekam sarariam vraja. Venham a Mim que Eu os protegerei." Mas ns dizemos: "No acredito em Vs. Tenho algo mais importante a fazer aqui." Esta a posio da alma condicionada ela est esquecida. Este esquecimento esvai-se rapidamente para quem trilha o caminho da sucesso discipular.

    6

    Conhecimento dos aparecimentos

    e atividades de Krsna

    Existem duas foras da natureza que nos influenciam internamente. Por causa de uma delas, decidimos fazer avano espiritual nesta vida, porm, no momento seguinte, a outra fora, my, ou energia ilusria, diz: "Por que voc est se submetendo a todo este incmo-do? Simplesmente goze esta vida e no se esforce tanto." Esta ten-dncia de cair no esquecimento que faz a distino entre o homem que Krsna aparece em qualquer planeta, Arjuna tambm nasce e

  • aparece ao lado dEle. Quando transmitiu o Bhagavad-gt ao deus do Sol, Arjuna tambm estava presente com Ele. Mas, por ser uma entidade viva finita, Arjuna no podia lembrar-se disso. A entidade viva esquecida por natureza. Nem sequer podemos lembrar o que estvamos fazendo neste exato momento ontem ou uma semana atrs. Se nem disso podemos nos lembrar, como poderemos nos lembrar do que aconteceu em nossas vidas anteriores? Pois bem, se ns no podemos, como que Krsna pode lembrar-Se dessas coisas? A resposta que Krsna no muda de corpo.

    ajo 'pi sann avyaytm bhtnm isvaro 'pi san

    prakrtim svm adhisthya sambhavmy tma-myay

    "Embora Eu seja no-nascido e Meu corpo transcendental nunca se deteriore, e embora Eu seja o Senhor de todos os seres conscientes, mesmo assim, apareo em cada milnio sob Minha forma transcen-dental original." (Bg. 4.6) A palavra tma-myay significa que Krsna desce tal como . Ele no muda de corpo, mas ns, como almas condicionadas, mudamos, motivo pelo qual ficamos esquecidos. Krsna, alm de conhecer o passado, o presente e o futuro de Suas atividades, conhece o passado, o presente e o futuro das atividades de todo mundo.

    vedham samattni vartamnni crjuna bhavisyni ca bhtni

    mm tu veda na kascana

    " Arjuna, como a Suprema Personalidade de Deus, Eu sei de tudo o que aconteceu no passado, de tudo o que acontece no presente e de todas as coisas que ainda esto por vir. Conheo, tambm, todas as entidades vivas; mas a Mim ningum Me conhece." (Bg. 7.26)

  • O Srmad-Bhgavatam tambm define o Senhor Supremo como aquele que sabe de tudo. O mesmo no se pode dizer inclusive de entidades vivas elevadssimas, como Brahm e Siva. Somente Visnu, ou Krsna, sabe de tudo. A este respeito, pode-se levantar outra questo: se o Senhor no muda de corpo, por que Ele aparece como uma encarnao? Entre os filsofos, h muita divergncia a respeito desta pergunta. Alguns dizem que, ao vir aqui, Krsna assume um corpo material, mas isto no verdade. Se Ele assumisse um corpo material como o nosso, no poderia lembrar-Se de tudo, pois o esquecimento decorrncia do corpo material. A verdadeira concluso que Ele no muda de corpo. Deus chamado de todo-poderoso, e o verso supramencionado explica Sua onipotncia. Krsna no nasce e eterno. Do mesmo modo, a entidade viva no nasce e tambm eterna. Apenas o corpo, com o qual a entidade viva se identifica, que nasce. Bem no comeo do Bhagavad-git, no Segundo Captulo, Krsna explica que aquilo que aceitamos como nascimento e morte decorre do corpo e que, to logo recup