a batalha do radar

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Instruments of Darkness - 1967

A BATALHA DO RADAR: UMA BATALHA SECRETA, EM QUE INTERVIERAM POLTICOS, CIENTISTAS, TCNICOS E ESPIES, E QUE, EM PARTE IMPORTANTE, DECIDIU A SORTE DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. UM LIVRO EMPOLGANTE, BASEADO EM DOCUMENTOS FIDEDIGNOS, RECENTEMENTE DESCOBERTOS, POR UM AUTOR DE EXCEPCIONAL COMPETNCIA:ALFRED PRICE

***** NDICE

Prefcio Agradecimento Prlogo CAPTULO I - Tratando os feixes CAPTULO II - Os instrumentos CAPTULO UI - Descoberta CAPTULO IV - Marchando para a ofensiva CAPTULO V - Dvidas e decises CAPTULO VI - O rude despertar CAPTULO VII - Gomorra e depois CAPTULO VIII - O auge CAPTULO IX - Em auxlio da invaso CAPTULO X - O ltimo assalto Nomes de Cdigo*****

PrefcioA segunda guerra mundial foi dominada pela fora area, que interveio em todas as fases do conflito. A aviao tornou-se num instrumento essencial da ofensiva e da defesa no ar e uma arma vital no auxlio s foras de terra, na guerra martima, no reconhecimento e nos transportes. Esta expanso da fora area foi estimulada por uma srie de notveis progressos nos campos do radar e das radiocomunicaes, de que se tornou dependente de uma maneira crtica. Ambas as partes em conflito empenharam grandes recursos em sistemas sucessivos de aviso prvio e deteco, navegao, identificao de alvos e orientao de armas. Sob o estmulo da guerra a tecnologia avanava rapidamente e cada

um dos novos sistemas fornecia maior alcance, preciso e capacidade. No entanto, pelas normas modernas, eram ainda de uma concepo relativamente ingnua e depressa se verificou serem vulnerveis interferncia, decepo e manipulao. Foi com um rude choque que os engenheiros verificaram que o rendimento demonstrado no laboratrio podia rapidamente ser anulado em operao contra um inimigo com bons recursos; e enquanto a guerra prosseguia, os cientistas e os engenheiros punham em luta os seus espritos, uns contra os outros, para proteger os seus sistemas e para descobrir e explorar as fraquezas dos seus adversrios. essa histria que Alfred Vrice nos descreve. Alfred Vrice um oficial da Royal Air Force, presentemente no Bomber Command; conseguiu apreender a excitao e o drama de uma luta em que as novas tcnicas e tcticas podiam ter consequncias imediatas e catastrficas. Mas tambm um especialista em electrnica, bem qualificado para tratar dos aspectos tcnicos do assunto e para apreciar a importncia relativa das vrias contramedidas da segunda guerra mundial. Desde ento raramente foi possvel para o cientista, no laboratrio, obter um impacto to directo nas operaes militares. Algumas caixas pretas baseadas em novas informaes fragmentrias, uma fotografia de reconhecimento reveladora ou observaes pela tripulao de um bombardeiro que voltava podiam dentro de poucas semanas ou meses afectar a sorte de cidades e as vidas de centenas de aviadores. Nem todas as caixas pretas eram igualmente eficientes; algumas, quanto muito, tinham um valor psicolgico, outras eram um incmodo temporrio, e outras eram no s inteis mas at positivamente perigosas. No calor e na nvoa da guerra qualquer oportunidade, mesmo ligeira, devia ser explorada, mas olhando retrospectivamente torna-se claro que os dispositivos engenhosos e as tcticas habilidosas eram normalmente de valor limitado. As fraquezas triviais de um sistema eram fceis de explorar mas tambm simples de remediar, e os mtodos de interferncia e aviso ultra-aperfeioados eram incompatveis com o holocausto que todas as noites surgia sobre os alvos alemes. As contramedidas efectivas, como a Moonshine eram eficazes em operaes especiais em que a surpresa pudesse ser explorada, e desempenharam um papel importante nas falsas invases do Pas de Calais. Mas a simples interferncia por rudo de fundo e o uso macio do Window foram mais eficientes em operaes demoradas. Alfred Vrice aproveitou os vinte anos que se passaram desde ento para pr a histria na perspectiva correcta. Teve o maior cuidado em apresentar em cada fase tanto a histria inglesa como a alem, e mostra como os progressos de uma das partes seguiam muito de perto os da outra. H um exemplo na extraordinria semelhana da evoluo do Window britnico e do Duppel alemo. Hoje aceita-se que os progressos tcnicos de maior importncia possam correr quase simultaneamente em diversos pases, mesmo nos projectos militares mais secretos. Em tempo de paz, a escala de tempo do desenvolvimento suficientemente longa para que um ano a mais ou a menos na produo de uma nova arma no tenha consequncias srias, mas numa guerra seis meses podem constituir a diferena entre a vitria e a derrota; e foram margens estreitas como essa que determinaram o resultado da Guerra da Rdio. Ambas as partes entraram na guerra acreditando que possuam no radar uma vantagem nica sobre a outra, e nenhuma previu o profundo efeito que esse progresso cientfico iria ter nas operaes areas. Em 1940 os nossos radares eram sob muitos aspectos inferiores ao Freya e ao Wurzburg e no tnhamos sistemas de navegao e bombardeamento comparveis com os feixes Knickebein e os seus sucessores. No fim da guerra os Alemes

introduziram, com grande avano em relao aos Aliados, uma srie de armas dirigidas, incluindo o avio sem piloto V1 e o mssil balstico V2. Mas o Alto Comando Alemo no apreciou devidamente o ritmo do progresso e o seu inevitvel impacto nas operaes. Durante dois anos crticos no souberam manter o impulso da investigao no radar, e perderam rapidamente a sua vantagem inicial. No fim da guerra os equipamentos ingleses e americanos eram muito superiores tanto em rendimento como em extenso de aplicaes; e as armas dirigidas alems surgiram muito tarde para restabelecerem o equilbrio. Em particular, fomos mais rpidos em reconhecer e explorar a vulnerabilidade intrnseca dos sistemas de radar e rdio, e a iniciativa na guerra das interferncias permaneceu firmemente nas nossas mos. A importncia do ambiente electrnico, no s para os avies e as armas dirigidas mas tambm para toda a espcie de operaes militares, agora bem compreendida, e um dos mais importantes critrios de um sistema de radar ou rdio a capacidade de eliminar as informaes indesejveis e sem interesse. A vulnerabilidade pode ser teoricamente estabelecida e aceite. No entanto a interferncia e a decepo so sempre possveis, com suficiente esforo. De uma maneira ideal, deve-se estabelecer um equilbrio econmico entre a complexidade e a vulnerabilidade, de modo que o custo da anulao de um sistema seja comparvel com o custo do seu estabelecimento. Mas esta condio pode poucas vezes ser realizada na prtica, e o livro de Alfred Vrice lembra-nos de uma maneira salutar que a impressionante panplia das armas modernas depende, no fim, na sobrevivncia, em guerra, dos seus sistemas de orientao e comando.SlR ROBERT COCKBURN Director do Royal Aircraft Establishment, Farnborough

PrlogoUMA tarde, em Dezembro de 1939, o couraado de algibeira alemo Graf Spee fundeou nas guas internacionais do esturio do Rio da Prata, ao largo de Montevideu. Cinco dias antes fora atingido vrias vezes numa batalha com trs cruzadores britnicos e o seu comandante pensou que seria pouco provvel que pudesse abrir caminho at um porto amigo. Mas o Rio da Prata tinha um esturio pouco profundo, e quando as cargas de demolio destruram o fundo do navio, ele mergulhou apenas trs metros antes de assentar no lodo. Na manh seguinte, logo que o dia rompeu, uma frota de pequenas embarcaes, com curiosos a bordo, saiu de Montevideu para olhar o couraado destrudo, que ainda ardia. Tiraram-se dzias de fotografias dos destroos e as imagens foram transmitidas atravs do mundo pelas agncias de notcias. A maior parte das pessoas no notou um estranho pormenor das dramticas fotografias do casco ardente, tiradas a curta distncia: um conjunto de antenas que parecia a cabeceira de uma cama de ferro deitada de lado estava montado sobre a ponte do couraado. Os servios de informao britnicos enviaram tambm um curioso, incumbido de observar cuidadosamente o navio: Mr. L. Bainbridge Bell, um perito em radar, chegou a Montevideu pouco depois. Subiu aos destroos e trepou at s antenas - um feito que requeria muita habilidade, uma vez que o couraado adornara de maneira pouco confortvel. Bell informou Londres de que as estranhas antenas pertenciam quase por certo a uma

instalao de radar, provavelmente destinada a fornecer elementos de tiro s peas do navio. Servindo-se dessa informao, os oficiais do Servio Secreto Naval, em Londres, examinaram o arquivo de fotografias do Graf Spee e verificaram que a estrutura em questo j estava presente, ainda que sob pesadas cobertas de lona, em fotografias tiradas em 1938. Era uma descoberta nada agradvel, uma vez que a Royal Navy no possua qualquer radar de artilharia nem viria a receber qualquer instalao dessas antes de 1941. No entanto, o relatrio de Rainbridge Bell foi metido num cacifo e a seco de Informaes Cientficas do Ministrio do Ar s teve conhecimento dela dezoito meses depois.

CAPTULO 1 -- Tratando dos feixesDurante a luta humana entre as foras areas britnica e alem, entre um piloto e outro, entre as baterias contra aeronaves e os avies, entre os bombardeamentos impiedosos e a coragem do povo britnico, outro conflito se desenvolvia passo a passo, ms a ms. Era uma guerra secreta, cujas batalhas eram perdidas ou ganhas sem que o pblico o soubesse; e que s com dificuldade compreendida, mesmo hoje, por aqueles que se encontram fora dos pequenos e elevados crculos cientficos que participavam nela.WINSTON CHURCHILL, Their Finest Hour

A verdade em relao ao trabalho do Servio de Informaes em tempo de guerra que o seu sucesso depende em grande parte da sorte e muito da tenacidade; pouco existe nele que seja to atraente como os leitores das modernas novelas de espionagem pensam. Os oficiais do Servio de Informaes tm vrios meios de obter elementos sobre os progressos inimigos e a espionagem apenas um deles. No entanto, so muitas vezes os mtodos mundanos que fornecem os melhores resultados. No caso de um dispositivo secreto, destinado a guiar os bombardeiros at aos alvos, por exemplo, tratava-se normalmente de uma questo de tempo, at que um atacante equipado com ele fosse obrigado a descer e capturado. Ento o exame dos destroos revelaria os seus segredos. No se podia esperar que antes de um ataque as tripulaes conseguissem fixar longas listas de radiofrequncias, indicativos de chamada e posies geogrficas de radiofaris; para que essas informaes vitais pudessem ser usadas no calor da aco era indispensvel que fossem escritas e trazidas na surtida. E mais tarde ou mais cedo essas folhas de instrues acabavam por ser capturadas. Os sobreviventes da queda, talvez ainda abalados por terem escapado por pouco, podiam ser convencidos a falar, por aqueles que os interrogavam. Alm disso, se fossem utilizados feixes de rdio, os Servios de Informao tinham uma vantagem clara desde o princpio: esses feixes no podiam ser escondidos. Havia apenas que procur-los at que fossem encontrados, e uma vez que o fossem, a sua natureza podia ser analisada e os seus objectivos deduzidos. Assim, meia dzia de homens,

trabalhando a centenas de quilmetros do inimigo, podiam obrigar a mudar toda a estratgia de uma guerra. Foi assim que um pouco depois das 10 da manh, em 21 de Junho de 1940, um avio Anson, solitrio, surgiu a patrulhar os cus por cima da Anglia Oriental: atrs, o radiotelegrafista procedia cuidadosamente escuta, com um radiorreceptor. De repente encontrou aquilo que procurava - uma srie de pontos, sessenta por minuto, que pareciam perfurar-lhe os auscultadores. Enquanto o Anson voava, os pontos pareceram confundir-se numa s nota constante; um pouco depois a nota constante dividiu-se - no em pontos mas em traos - mesma razo fixa de sessenta por minuto. A aeronave voara atravs de um feixe de rdio emitido da Alemanha. O feixe no era de raios da morte. Se a sua energia houvesse sido concentrada durante duas horas sobre um dedal cheio de gua no teria elevado a sua temperatura de um milionsimo de grau. No entanto, representava uma ameaa formidvel: fora estabelecido de modo a dirigir as formaes dos bombardeiros germnicos para a fbrica da Rolls-Royce em Derby, e era tecnicamente capaz de o fazer com a maior preciso, mesmo na mais negra das noites.

No comeo da dcada de 30 a companhia Lorenz aperfeioara um sistema de aproximao sem visibilidade para ajudar os avies civis a encontrar campos de aterragem com mau tempo; o sistema usava dois feixes de rdio adjacentes para desenhar um caminho que se estendia at uma distncia de cinquenta quilmetros do campo. No feixe da esquerda recebiam-se pontos morse e no da direita, traos. Os sinais eram interligados, de modo que quando os feixes se sobrepunham ouvia-se uma nota constante; os avies navegavam voando ao longo da zona de nota constante at ouvirem o emissor do radiofarol. No meio desse decnio o sistema Lorenz tornou-se largamente usado, no s pelas linhas areas civis mas tambm por algumas foras areas.

A Real Fora Area serviu-se dele, tal como a Fora Area Alem. Em 1933, um especialista alemo na propagao de ondas de rdio, o dr. Hans Plendl, comeou a trabalhar na adaptao do sistema Lorenz ao lanamento de bombas areas com grande preciso. Passados cinco anos esse trabalho principiou a dar fruto: o sistema aperfeioado por Plendl recebeu o nome de X-Gerat - o dispositivo-X. Empregava um certo nmero de feixes do tipo Lorenz; um, o feixe de aproximao, apontava directamente sobre o alvo,

muito ao longe; os outros cruzavam-se em trs pontos em frente do lugar onde a bomba devia ser largada.

Todos os feixes de rdio eram transmitidos entre 66 e 75 megaciclos por segundo. O bombardeiro voava para o alvo segundo um rumo paralelo ao feixe de aproximao. Quando ainda se encontrava a cinquenta quilmetros do ponto no qual devia largar as bombas, o avio passava atravs dos feixes cruzados; isso servia como aviso de que era tempo de alinhar precisamente pelo feixe de aproximao. A vinte quilmetros do ponto de largada o avio passava por outro feixe cruzado. Quando isso acontecia o navegador premia um boto para pr em marcha um relgio especial no muito diferente de um contasegundos, mas com dois ponteiros que giravam independentemente. A cinco quilmetros do ponto de largada das bombas o avio passava pelo terceiro e ltimo feixe cruzado, e o navegador comprimia de novo o boto do relgio especial: o ponteiro que at ento estivera em movimento parava, e o outro comeava a mover-se at coincidir com ele. Na verdade, a distncia entre o segundo e o terceiro feixes cruzados era trs vezes maior que a do terceiro feixe cruzado ao ponto de largada da bomba, de modo que o segundo ponteiro rodava trs vezes mais depressa que o primeiro. Quando ambos os ponteiros coincidiam, fechava-se um par de contactos elctricos e as bombas eram automaticamente largadas. Sob todos os aspectos, era um dispositivo terrivelmente aperfeioado, considerando que a segunda guerra mundial nem sequer comeara; a combinao do relgio e dos feixes fornecia elementos seguros sobre a velocidade do bombardeiro em relao ao solo, um dos factos mais importantes que era necessrio conhecer para o bombardeamento de preciso, uma vez que o avio estivesse no rumo exacto para o alvo. Mas o aeroplano tinha de voar a direito e horizontalmente ao longo do feixe de aproximao durante os ltimos vinte quilmetros at ao ponto de largada, e esses trs minutos podiam ser um tempo muito longo para uma aeronave descrever uma trajectria perfeitamente rectilnea sobre o territrio inimigo. Por causa da sua complexidade, e da necessidade de voar de uma maneira particularmente precisa durante o bombardeio, o X-Gerat exigia tripulaes especialmente treinadas. Consequentemente, a Fora Area Alem estabeleceu uma unidade experimental de voo

durante o Inverno de 1938, poucas semanas depois da dmarche de Munique. Essa unidade, o Batalho Areo de Sinais n. 100 (Luftnachrichten-Abteilung 100), destinava-se a aprontar o dispositivo para o servio e a treinar as tripulaes no seu uso; estava equipado com bombardeiros Junkers 52 e Heinkel III, e encontrava-se instalado no estabelecimento de sinaleiros da Fora Area em Kothen, prximo de Dessau. Quando o X-Gerat entrou ao servio, o trabalho de Plendl terminou: o inventor mudou as suas intenes para o aperfeioamento de dispositivos de rdio capazes de permitir aos avies lanarem as suas bombas com uma preciso ainda maior e a distncias maiores. O seu X-Gerat tinha um alcance mximo de cerca de 300 quilmetros e permitia um erro mdio de bombardeamento de cerca de 100 metros. Ele pensava que podia melhorar esses nmeros. Enquanto Plendl dava os ltimos retoques no X-Gerat, a Telefunken - uma das maiores firmas germnicas de electrnica, competidora da companhia Lorenz - trabalhava num segundo sistema de bombardeamento sem visibilidade para a Fora Area germnica. O seu mtodo era designado por Knickebein - a Perna Torta.

Knickebein Comparado com o da rival era a essncia da simplicidade; empregava apenas dois feixes Lorenz, um para a aproximao e outro que o cruzava sobre o alvo. Como era inevitvel, o sistema carecia da grande exactido do dispositivo de Plendl, mas tinha duas vantagens; primeiro, qualquer tripulao podia us-lo sem treino especial; segundo, trabalhava nas mesmas trs frequncias dos receptores normais Lorenz de aproximao sem visibilidade que todos os bombardeiros pesados germnicos possuam - 30 - 31,5 e 33,3 megaciclos por segundo - de modo que os sinais do sistema podiam ser recebidos sem a instalao de qualquer equipamento especializado. A distncia a que este novo sistema de sinais podia ser escutado aumentava com a altitude a que voava o avio: um aparelho que voasse a seis mil metros podia receb-los a 450 quilmetros. Os feixes tinham apenas um tero de grau de largura, resultando numa preciso de um quilmetro em 180. No fim de 1939, a Fora Area Alem instalara trs emissores Knickebein - um em Kleve, perto da fronteira alem e no ponto da Alemanha que se situava mais prximo da Gr-

Bretanha, outro em Stollberg, na costa ocidental do Schleswig-Holstein, perto da fronteira dinamarquesa, e um terceiro em Lorach, no extremo sudoeste da Alemanha, a oito quilmetros das fronteiras francesas e sua. Durante a campanha relmpago contra a Polnia, o sistema Telefunken no pde ser usado por no ter havido tempo para instalar os emissores na Alemanha oriental. Mas os emissores X-Gerat, muito mais pequenos, eram muito mveis, e foram alinhados sobre uma fbrica de munies perto de Varsvia. O Batalho Areo de Sinais n. 100 conseguiu realizar um bombardeamento nocturno de preciso usando os feixes, mas os resultados desse ensaio operacional no puderam ser verificados porque outros bombardeiros haviam atacado o mesmo alvo antes, durante o dia. Fosse como fosse, no houve mais necessidade de os Alemes se preocuparem com os bombardeamentos de preciso nocturnos: a sua fora area obteve supremacia absoluta durante o dia. No fim de Novembro de 1939 o batalho recebeu a nova designao de Kampfgruppe 100 - Esquadro n 100. (*). O equipamento do K. Gr. 100 consistia em cerca de 25 Heinkel 111, todos equipados com os receptores especiais de feixes-X concebidos por Plendl. A unidade entrou em aco na Noruega durante a campanha de Abril de 1940, mas como um esquadro vulgar de bombardeamento diurno. Serviu tambm desse modo durante a campanha da Frana. Pouco depois de as foras expedicionrias britnicas terem evacuado Dunquerque, a Fora Area Alem comeou a instalar emissores Knickebein e X-Gerat ao longo das costas da Holanda e do norte da Frana, os quais foram mantidos de reserva para o caso de os Ingleses serem suficientemente loucos para continuarem a lutar sozinhos: nesse caso seriam necessrios fortes ataques areos para que vissem a luz da razo.(*) O Gruppe (esquadro) era a unidade voadora bsica da Fora Area germnica. Compreendia trs Staffeln, cada um de 12 avies, e um Stab (estado-maior) de 4. Trs Gruppen constituam um Geschwader. As unidades de bombardeiros tinham o prefixo Kampf - e as de caas Jagd - os caas nocturnos tinham o prefixo Nachtjadg - e as de caas pesados Zerstorer.

Mais de um ano antes, a Comisso para o Estudo Cientfico da Defesa Area, sob a presidncia de Sir Henry Tizard, atrara as atenes para a ignorncia dominante na GrBretanha quanto s ltimas armas alems. O Estado-Maior Areo sugerira que fosse adido um cientista Direco de Informaes do Ministrio do Ar, e pediram a Tizard para propor algum. Tizard designou o dr. R. V. Jones, um fsico alto e forte com um esprito brilhante e um fino senso de humor, que assumiu esse cargo muito pouco depois do comeo da guerra. Nas primeiras semanas de Novembro j ele recebera as primeiras indicaes notveis sobre os feixes alemes. Em 4 desse ms o adido naval britnico em Oslo recebeu uma encomenda muito pouco vulgar: continha um mao de papis escritos em alemo que pareciam conter a discusso de um certo nmero de armas novas. O remetente designavase como sendo um cientista alemo com boas intenes. A estranha oferta foi enviada para Inglaterra, onde por fim chegou secretria de Jones. O Relatrio de Oslo, como veio a tornar-se conhecido, era um verdadeiro presente em matria de Informao, e quase mais estranho que qualquer fico. O seu mbito era vasto: falava do desenvolvimento de grandes foguetes, de uma bomba voadora propulsada por um foguete e de uma importante estao de investigao num pequeno lugar chamado Peenemunde, na ilha de Usedon, no Bltico. Descrevia o processo de funcionamento de um novo torpedo magntico e o facto - ento desconhecido na Gr-Bretanha de que o Junkers

88, que estava a entrar ao servio na Fora Area Alem, tanto podia ser usado como bombardeiro de longo alcance como no bombardeamento a picar. Mas isso no era tudo: havia pormenores de um novo dispositivo destinado a permitir aos aviadores medirem a distncia que os separava de estaes especiais em terra por meio de feixes de rdio. Em geral, sempre que as informaes do relatrio de Oslo puderam ser verificadas mostraram-se surpreendentemente exactas. Havia duas explicaes possveis - ou tudo aquilo fora um subterfgio destinado a convencer os Britnicos de que a Alemanha estava tecnicamente muito avanada ou a fonte encontrava-se verdadeiramente insatisfeita com a Alemanha nazi e desejava contar tudo quanto sabia. Jones verificou que onde as informaes se sobrepunham s j conhecidas, eram extremamente precisas; isso conduzia segunda concluso. Outros discordavam: mesmo sem ter em conta as suas suspeitas em relao a todos os relatrios que descreviam uma imagem brilhante do estado da tecnologia germnica, argumentavam que nenhum cientista em particular podia ter acesso a informaes referentes a projectos to diversos. Se o relatrio era confirmado por algumas das informaes j conhecidas na Inglaterra, era porque se esperava exactamente isso de um bom subterfgio. Concordou-se em que s o tempo diria quem tinha razo. Passaram-se quatro meses antes que chegasse outra informao quanto ao que viria a ser a caa aos feixes alemes. Em Maro de 1940 um Heinkel III do KG. 26 caiu na Inglaterra e entre os destroos foi encontrado um pedao e papel em que se dizia:Ajuda navegao: feixes de rdio trabalhando no Plano de Radiofaris A. Radiofarol Dunhen adicional a partir das 0600 h. Farol de luz depois do escurecer. Radiofarol Knickebein a partir das 0600 h. em 315.

Mais ou menos ao mesmo tempo, um prisioneiro confessou, ao ser interrogado, que esse Knickebein era qualquer coisa como o X-Gerat, cuja existncia ele pensava obviamente que os Britnicos conheciam. Disse que era emitido um feixe to estreito que podia estender-se da Alemanha at Londres com uma divergncia no superior a um quilmetro. Se era assim, notou Jones, o dispositivo podia ser usado para bombardeamentos de preciso durante a noite Dois meses depois, o dirio de um aviador alemo foi encontrado entre os destroos de outro Heinkel 111 do KG. 26. Datada de 5 de Maro, havia nele uma nota significativa: Dois teros do Staffel de licena. De tarde estudmos Knickebein, barcos pneumticos, etc. Desses fragmentos de informao agora disponveis, R. V. Jones deduziu que o Knickebein - e o X-Gerat que era qualquer coisa semelhante - deviam ser feixes direccionais de rdio de qualquer espcie. O rumo indicado de 315 graus apontava da costa oeste da Alemanha para Scapa Flow, uma rea onde se sabia que o KG. 26 actuara. O que parecia inacreditvel era a insistncia do prisioneiro em que um feixe de rdio dirigido da Alemanha para Londres - uma distncia mnima de 420 quilmetros - pudesse faz-lo com uma divergncia de apenas um quilmetro; isso representava um avano muito grande em relao a tudo quanto era possvel na Inglaterra. O nico conforto estava no conhecimento de que os prisioneiros dizem muitas vezes mentiras. Em qualquer caso, partindo do

princpio de que o Relatrio de Oslo era genuno, parecia estranho que no houvesse nele qualquer meno explicita do Knickebein ou do X-Gerat. O passo lgico seguinte era examinar o equipamento de rdio transportado pelo Heinkel III uma vez que se tratava do avio ligado aos relatrios dos Servios de Informao sobre o Knickebein - para ver se havia qualquer dispositivo capaz de receber os feixes a longas distncias: a primeira aeronave germnica a descer no solo britnico - um Heinkel abatido perto de Edimburgo em Outubro de 1939 - j fora cuidadosamente dissecada por essa altura. Os peritos tinham analisado todas as suas peas e notaram que o seu receptor de aproximao sem visibilidade Lorenz era muito mais sensvel que o equivalente britnico. Poderia esse dispositivo captar os feixes de longo alcance? primeira vista parecia uma questo simples obter a certeza de que os Alemes tinham um sistema funcional de feixes de rdio de longo alcance: alguns voos com um avio equipado com o material adequado poderiam fornecer bem depressa uma resposta. Mas R. V. Jones era um jovem oficial do Servio de Informaes, recentemente nomeado, e no dispunha de qualquer avio sob as suas ordens. Tinha de jogar a sua cartada com muito cuidado. A gravidade da situao no poderia ser iludida, se a Fora Area Alem dispusesse de um meio preciso de descobrir os seus alvos durante a noite - numa poca em que as defesas britnicas eram ineficazes. Nos primeiros dias de Junho de 1940, o ltimo soldado britnico foi retirado das praias de Dunquerque. No demoraria muito que os Alemes instalassem os seus bombardeiros na rea de Calais, a menos de cento e sessenta quilmetros de Londres. A Fora Area Alem tinha provado a sua capacidade destrutiva durante os seus ataques a Roterdo e Varsvia. Seguir-se-ia Londres? As provas que indicavam que os alemes haviam aperfeioado feixes de rdio para os auxiliar a realizar bombardeamentos de noite eram sem dvida muito nebulosas: um par de pedaos de papel, a indiscrio de um prisioneiro e o facto de que um elemento do equipamento de rdio usado pela Fora Area Alem diferia em sensibilidade do correspondente da R.A.F. Tudo aquilo podia ser um estratagema do Servio de Informaes germnico para desviar as atenes de qualquer coisa completamente diferente. O dr. Jones via a sua posio como sendo anloga de um co de caa: tinha de ladrar quando via perigo, mas se ladrasse ao primeiro cheiro dele e nada viesse a ser descoberto subsequentemente, as pessoas aprenderiam depressa a no escutar os seus gritos. Se, por outro lado, ele ladrasse muito tarde, os Alemes manteriam o elemento de surpresa at terem conseguido realizar os seus objectivos. Tinha de rumar de maneira a passar entre Cila e Caribdis. Havia um homem que podia conseguir para Jones o apoio influente de que ele necessitava - um homem no qual ele podia confiar para uma audincia amiga: o seu mestre em Oxford, antes da guerra, o professor Frederick Alexander Lindemann - Lord Cherwell. Tratava-se no s de um cientista extremamente capaz mas tambm de algum que tinha o dom de transmitir o seu saber queles que tinham pouca compreenso das questes tcnicas. Winston Churchill, apesar de todas as suas qualidades superlativas como chefe em tempo de guerra, tinha um fraco saber de tais coisas. Ele e Lindemann eram amigos

ntimos desde T919 e quando ele se tornou primeiro-ministro em Maio de 1940 a amizade continuou.

F.A. Lindemann O Professor Lindemann continuou a ser o mais prximo conselheiro de Churchill em questes cientficas e consequentemente obteve uma posio dominante na direco do esforo de guerra cientfico da nao. Era claro que se Jones pudesse convencer Lindemann do possvel perigo dos feixes de rdio, a sua batalha estaria meio vencida. Se a caada aos misteriosos feixes tivesse o apoio de Lindemann, nenhum esforo seria poupado para o levar a uma concluso satisfatria. Em 12 de Junho de 1940 o professor mandou chamar R. V. Jones para discutir outro assunto. Depois, Jones encaminhou com todo o cuidado a conversao para o Knickebein. Lindemann no se mostrou impressionado, por uma razo tcnica: no acreditava que um feixe de longo alcance em 30 megaciclos pudesse acompanhar a curvatura da Terra. O emprego de feixes Lorenz a curtas distncias - at oitenta quilmetros - era bem conhecido; mas para que a Fora Area Alem pudesse bombardear alvos em Inglaterra usando emissores situados na Alemanha, os feixes teriam de possuir um alcance efectivo de mais de 320 quilmetros. A residiam as dvidas. Todas as informaes disponveis na GrBretanha mostravam que as ondas de rdio de uma frequncia volta de 30 megaciclos isto era, aquelas que podiam ser captadas pelos receptores Lorenz - no se curvavam volta da superfcie da terra, mas propagavam-se em linhas rectas (*). Isto limitaria o seu alcance a cerca de 300 quilmetros, partindo do princpio de que o avio receptor voava a 6000 metros. Era algo menos que os 420 quilmetros de alcance necessrios para atingir Londres, partindo do ponto mais prximo da Alemanha.(*) Na verdade, nas emisses de feixes em 30 megaciclos ocorre um encurvamento que segue o da superfcieda Terra, mas isso no era conhecido na Gr-Bretanha nesse tempo.

Passados dez dias do seu primeiro e decepcionante encontro com Lindemann, Jones encontrou as respostas s mais extraordinrias perguntas sobre o Knickebein, em resultado de uma notvel combinao de coincidncias e boa sorte. Entretanto visitara de novo o professor Lindemann em 13 de Junho e levara consigo uma comunicao no publicada, da autoria de Mr. Thomas Eckersley, conselheiro cientfico da companhia Marconi e - como Hans Plendl na Alemanha - uma autoridade de primeiro plano na propagao das ondas de rdio. A comunicao continha uma importante srie de grficos desenhados por Eckersley para ilustrar as distncias mximas a que os sinais de rdio nas vrias frequncias podiam ser recebidos. Tomando o extremo de uma das curvas parecia haver provas de que os

sinais em 30 megaciclos podiam ser captados por aeronaves voando a 6000 metros de altitude sobre a maior parte da Gr-Bretanha, se transmitidos de um ponto alto na Alemanha. Isso satisfez Lindemann. No mesmo dia escreveu ao primeiro-ministro. Parece haver algumas razes para supor que os Alemes tm um dispositivo de rdio qualquer com o qual esperam assinalar os seus alvos. Seja isso qualquer forma de R. D. F. (radar)... ou qualquer outra inveno, vital investigar e em especial procurar descobrir de que comprimento de onda se trata. Se soubermos isso poderemos imaginar um meio de os enganar; se o usarem para seguir os nossos navios h vrias respostas possveis... Se usam um feixe estreito podemos torn-lo ineficaz. Com vossa autorizao tratarei disto com o Ministrio do Ar e tentarei estimular a aco. Por baixo da assinatura de Lindemann, Churchill rabiscou uma rpida nota antes de passar a carta a Sir Archibald Sinclair, ento seu secretrio de Estado do Ar: Isto parece muito intrigante e espero que o possa examinar convenientemente. Jones tinha agora o fogo os grandes canhes atrs de si. Sinclair actuou sem demora, porque no dia seguinte, 14 de Junho, quando o exrcito alemo entrou triunfantemente em Paris, encarregou o marechal do Ar Joubert da investigao. Os interrogadores da R.A.F. estavam nesse mesmo dia a ouvir outro aviador germnico, o qual afirmou que o Knickbein era um dispositivo de bombardeamento que consistia em dois feixes de rdio que se intersectavam e podiam ser captados pelo receptor Lorenz do avio (*).(*) Tambm afirmou que o receptor largava automaticamente as bombas, mas era bvio que estava a confundilo com o X-Gerat a esse respeito.

Acrescentou que os bombardeiros tinham de voar muito alto para captar os feixes a longas distncias. Por exemplo, para receber os sinais sobre Scapa Flow os bombardeiros tinham de voar acima de 6000 metros. Jones observou que de Scapa Flow ao ponto mais prximo do territrio ocupado pelos Alemes - o ocidente da Noruega - havia uma distncia de 420 quilmetros, a mesma que separava Londres do ponto mais prximo da Alemanha. Esta nova informao foi obtida a tempo de uma reunio convocada pelo marechal do Ar Joubert em 15 de Junho, um sbado. Entre os presentes contavam-se Lindemann e Jones. Concordou-se em que as provas eram suficientes para justificar a incluso de mais pessoas na questo, Joubert convocou nova reunio para a tarde seguinte. Na conferncia de domingo ele assumiu de novo a presidncia. Alm do dr. Jones, o marechal-chefe do Ar Sir Hugh Dowding - comandante-chefe do Comando de Caas - e o comodoro do Ar Notting - director do Servio de Sinais - estavam tambm presentes.

Sir Hugh Dowding

Jones voltou a relatar as provas existentes e resolveu-se montar receptores especiais nos avies designados para caar os feixes. Os avies foram tornados disponveis em vinte e quatro horas - uma esquadrilha de trs Ansons comandada pelo comandante de ala R. S. Buckle. Comeou a trabalhar imediatamente na instalao dos receptores de rdio necessrios. Um dos encarregados da caa ao Knickebein, o comandante de esquadro Scott-Farnie, predisse que os feixes deviam provavelmente ser captados numa frequncia de 30, 31,5 ou 33,5 megaciclos, uma vez que em todos os casos em que os receptores Lorenz haviam sido encontrados em avies alemes abatidos tinha-se verificado que estavam sintonizados numa dessas trs frequncias. Na tera-feira, 18 de Junho, surgiram novas provas - uma miscelnea de papis recolhidos de um avio alemo abatido em Frana algumas semanas antes. Num deles estava escrito:Radiofarol de longo alcance = V. H. F. 1. Knickebein (perto de Bredstedt, nordeste de Husum); 8 57' - 54 39' 2. Knickebein 5 47' 5" - 6 6' (perto de Kleve)

Tudo isto servia para confirmar as primitivas informaes sobre o Knickebein. A localizao das duas instalaes parecia ter sido escolhida de modo a situar-se to perto quanto possvel da Gr-Bretanha, sem deixar de fornecer o maior ngulo de corte possvel entre qualquer par de feixes. Jones notou que Scapa Flow ficava no azimute exacto de 315 graus, partindo de Bresdstedt; isso explicava as referncias anteriores. Como se fossem necessrias ainda mais provas, os destroos de um Henkel III KG. 4 vieram fornec-las. O dirio do telegrafista fora recuperado intacto e inclua uma lista de radiofaris j conhecidos. Mas cabea da lista estava um apontamento onde se lia: Knickebein Kleve 31,5' - Todos os outros faris mencionados no livro eram seguidos por uma frequncia, e em todos os casos o servio de escuta da R.A.F. pde confirmar que eram as correctas para a noite em questo. Era portanto razovel assumir que o Knickebein de Kleve irradiara nessa noite numa frequncia de 31,5 megaciclos. Portanto parecia que a deduo do comandante de esquadro Scott-Farnie devia ser correcta.

Um dos avies Anson de Blucke levantou voo para procurar emisses de feixes nessa mesma tarde, mas o receptor avariou-se e nada foi ouvido. Na noite de 20, um Anson foi de novo enviado caa dos feixes, mas mais uma vez nada foi ouvido: a Fora Area Alem mantivera-se nas suas bases. Todavia, enquanto o aparelho se encontrava no ar, um oficial do Servio de Informaes da R.A.F. estava literalmente a reunir todas as peas da prova final: na manh de 20, muito cedo, um telegrafista alemo saltara do seu avio avariado; pouco depois de descer na Inglaterra, esse aviador, mais consciente do que muitos dos seus compatriotas, notou que ainda tinha consigo o seu livro de apontamentos e rasgou-o com todo o cuidado nuns trs mil pedaos. Mas quando tentava enterr-los foi descoberto e os pedaos puderam ser recuperados. s 3 da madrugada do dia seguinte as folhas de papel haviam sido reconstitudas. O resultado foi uma tabela com elementos muito confusos:VHF - 54 387 N Knicke - 8 568 L 51 130.4 N qms ( 30 Mc/s ) Cleve - 51 47, 4'' N 6 2' 55'' E 2 E - qms ( 31,5 Mc/s )

Isto era uma descoberta da maior importncia e servia para confirmar tudo o que acontecera antes. Stollberg ficava muito prximo de Bredstedt e parecia que o emissor trabalhava em 30 megaciclos. Cleve era a maneira antiga de escrever Kleve. As outras duas posies mencionadas no papel encontravam-se no mar do Norte, mas eram dadas em nmeros redondos, provavelmente pontos de mudana de rumo que podiam ser ignorados na busca. R. V. Jones pde portanto determinar com considervel preciso as posies e as frequncias de dois dos emissores Knickebein, na manh de 21 de Junho. Por sorte que tal aconteceu, pois que Churchill, nessa mesma manh, havia convocado uma reunio de alto nvel na Sala do Gabinete, no n. 10 de Downing Street, para tomar conhecimento das ltimas informaes sobre os feixes de rdio alemes.Entre os presentes encontravam-se Sir Archibald Sinclair, Lorde Bcaverbrook, o professor Lindemann, Sir Cyril Newall (chefe do Estado-Maior do Ar), Sir Hugh Dowding e Sir Henry Tizard.

O prprio Jones s soube da conferncia quando chegou ao Ministrio do Ar, nessa manh. Encontrou uma mensagem sobre a sua secretria dizendo-lhe para se apresentar na Sala do Gabinete, no n. 10, mas suspeitou que se tratava de uma brincadeira, talvez em paga de outra da sua autoria. Telefonou a Scott-Farnie, que figurava como sendo o remetente, e verificou que era verdadeira. Correu para Downing Street e chegou meia hora depois de a reunio ter comeado. Encontrava-se no auge uma discusso sobre se os avies podiam de facto ser guiados por feixes de rdio de longo alcance. Jones ainda no estava ali havia muito tempo quando Churchill o interrogou directamente sobre um pormenor tcnico: era a oportunidade que Jones aguardava. Contou ao primeiro ministro a massa de provas que apoiavam a teoria de que os Alemes tinham desenvolvido um sistema de feixes de rdio capaz de dirigir os seus bombardeiros para os alvos. Isso pareceu convencer os mais cpticos de que havia qualquer coisa que merecia uma investigao mais profunda. O eixo

da discusso mudou de Os feixes existem? para Como poderemos descobrir mais coisas a respeito deles? Durante a tarde, o comodoro do Ar, Nutting, convocou Jones e Eckersley para o seu gabinete, a fim de discutirem os pormenores tcnicos das emisses dos feixes, se fossem usadas pelos bombardeiros alemes sobre a Gr-Bretanha. Foi ento que Eckdersley largou a sua bomba: apesar da importante srie de grficos que ele desenhara, no podia concordar com a explicao geralmente aceite do Knickebein: os sinais de rdio em 30 megaciclos no podiam ser dobrados de modo a seguir a curvatura da Terra. Os sentimentos do dr. Jones, que fora um dos principais promotores das investigaes durante os dez dias anteriores, podem mais facilmente ser imaginados que descritos. Fez presso sobre Eckersley para explicar o motivo por que ele apresentara a srie de grficos, em que ele prprio se apoiara fortemente durante a reunio na sala do Gabinete, nessa manh. Eckersley renegou-os, dizendo que haviam sido aplicados a um caso muito diferente, quando ele apenas pretendia ampliar a sua teoria, como era o primeiro a confessar. A situao no deixava de ter o seu humor, uma vez que haviam sido aqueles grficos que tinham permitido a Jones convencer Lindemann de que o Knickebein era algo possvel. Por certo que algum ladrava a uma rvore errada. E Jones podia apenas desejar que no fosse ele prprio. Enquanto Jones meditava sobre aquela inesperada alterao, a caa aos feixes de sinais continuava. Nessa tarde um avio Anson descolou de novo de Wyton, para o terceiro dos voos de investigao. O piloto era o tenente H. E. Bufton e o telegrafista era o cabo Mackie. Ao regressar, Bufton comunicou o seguinte: 1. H um feixe estreito, tendo aproximadamente 350 a 450 metros de largura, que passa por uma posio mil e seiscentos metros ao sul e Spalding, e tem pontos ao sul e traos ao norte, num azimute de 104-284 verdadeiro. 2. A frequncia portadora na noite de 21-22 de Junho era de 31,5 mc/s, modulada a 1150 c/s e semelhante Lorenz, nas caractersticas. Devia ser difcil exagerar a importncia desta descoberta. As estaes de radar de aviso preliminar que se mantinham de sentinela em volta das costas da Gr-Bretanha permitiam que o Comando de Caas da R.A.F. tratasse com dureza quaisquer ataques de bombardeiros desencadeados durante o dia. Mas no se podia esperar o mesmo sucesso, com as defesas nocturnas. Houvera sempre a esperana de que a capa de invisibilidade que protegia os bombardeiros das defesas da terra e do ar pudesse tambm esconder deles os alvos. Agora parecia que os Alemes podiam tambm operar com eficcia nas trevas; os alvos na Gr-Bretanha estavam nus e indefesos. Era vital que se descobrissem quaisquer meios de combater essa nova ameaa. A Fora Area Alem ainda no comeara os bombardeamentos nocturnos em larga escala contra a Inglaterra (*).(*) Os feixes Knickebein haviam sido ligados apenas para que as tripulaes se treinassem no seu uso durante ataques ligeiros de sondagem.

Coube ao comodoro do Ar O. G. Lywood, chefe da Direco do Servio de Sinais, no Ministrio do Ar, tratar das contramedidas. Lywood formou uma unidade especial para combater os feixes, numa operao que recebeu o nome nada inadequado de HEADACHE - dor de cabea. A unidade era a Ala n. 80 e o seu comandante era o comandante de ala E. B. Addison. O comodoro do Ar Lywood e eu conhecamo-nos havia algum tempo, disse mais tarde Addison. Tnhamos servido juntos no Egipto e eu ainda ali estava quando a guerra eclodiu. Fez-me voltar do Egipto e colocou-me no Ministrio do Ar, para trabalhar na sua Direco de Sinais. Odiava aquele trabalho. Um dia ele chamou-me e disse-me que um rapaz do Servio de Informao Cientfica chamado Jones contara uma histria extraordinria, segundo a qual os alemes usavam um feixe de ondas sobre o nosso pas para bombardear Londres. Era conhecido como o Knickebein. Ele disse-me: No lhe posso dizer como ele conseguiu essa informao, mas o que certo que a tem. A coisa parece extremamente perigosa. Que pensa que devemos fazer? Tudo quanto vi foi uma oportunidade de fugir quele horrvel trabalho do Ministrio do Ar, que no era positivamente feito para mim. Sugeri que necessitvamos de uma organizao de contramedidas - situada de resto bem longe do Ministrio do Ar. Addison no tinha a mais pequena ideia de onde se ia meter. O comodoro do Ar Lywood seguiu a sua sugesto e nomeou-o para aquele cargo. O terceiro homem da equipa formada para combater os feixes alemes era um jovem fsico que passara a fazer parte do pessoal do Estabelecimento de Investigaes de Telecomunicaes (T. R. E.) de Swanage apenas algumas semanas antes - o dr. Robert Cockburn. Ele e a sua pequena equipa de tcnicos lanaram-se tarefa de produzir um dispositivo produtor de interferncias capaz de anular os sinais do Knickbein. Esse interferidor devia demorar algum tempo at entrar ao servio. Entretanto era essencial dispor de qualquer engenhoca capaz de produzir interferncias, por muito primitiva que fosse, pelo menos para que os aviadores germnicos compreendessem que os Britnicos estavam a perturbar os seus feixes. Se a confiana do inimigo no sistema pudesse ser reduzida antes que os ataques macios comeassem, isso seria melhor que nada. Addison comeou por requisitar um certo nmero de apare-lhos de electrodiatermia (equipamento utilizado nos hospitais para cauterizar feridas) e f-los modificar para transmitir uma papa de rudos nas frequncias do Knickebein num esforo para tapar os sons e os traos. Por causa da sua baixa potncia, esses aparelhos s eram eficazes na rea imediata em seu redor. Os interferidores de diatermia foram de facto instalados em esquadras de polcia escolhidas, cujo chefe de servio tinha instrues para os ligar quando recebesse ordens da sede da Ala 80, em Garston. Addison tambm se apropriou de alguns emissores Lorenz de feixes de aproximao, da R.A.F., e modificou-os para transmitirem um feixe semelhante ao dos emissores Knickebein alemes. A ideia que presidia a isso era a de que o feixe falso intersectaria o feixe alemo, e os avies alemes seriam desviados do seu rumo sem dar conta disso. Voos de prova mostraram no entanto que o desvio causado era desprezvel porque a potncia no era suficiente. Mas a curtas distncias os sinais de interferncia mascaravam a nota contnua dos feixes alemes, e um certo nmero desses aparelhos entrou ao servio da Ala 80. Pouco depois de o avio Anson, voando a grande altitude, ter deparado com os feixes de sinais de rdio do Knickebein, um membro do servio de escuta da R.A.F. - empoleirado de maneira muito pouco confortvel com o seu equipamento sobre uma torre de radar com 10c

metros de altura - tambm as conseguiu captar. Isso foi importante, antes de ser realizada qualquer aco de interferncia era indispensvel conhecer qual das trs frequncias usavam os Alemes; parecia agora que isso podia ser feito sem se manter avies constantemente no ar. Pouco depois verificou-se que os sinais do Knickebein transmitidos por estaes prximas da Inglaterra - as das costas norte da Frana e da Holanda - podiam ser recebidas ao nvel do cho. No fim de Julho, equipas de escuta foram adstritas a muitas das estaes de radar costeiras. Enquanto Addison lutava para reunir o equipamento destinado a uma espcie de organizao improvisada de interferncia, procurava tambm obter outra comodidade vital - pessoal adequado. Com a natureza tcnica da guerra em curso, Addison no tinha lugar para os inadaptados e para os que outras pessoas haviam afastado para longe. Necessitava do que houvesse de melhor. Felizmente, o interesse no bem-estar da Ala 80 vinha do prprio primeiro-ministro, e Addison teve liberdade para escolher quem iria servir sob as suas ordens. Chegou-se at a dizer que a Ala 8o s admitia as mais bonitas das W.A.A.F.s ! (*)(*) Corpo auxiliar feminino. (N. do T.)

Enquanto prosseguia a luta para improvisar medidas capazes de anularem o Knickebein, a Ala 8o foi encarregada de outra misso de interferncia, iniciada alguns meses antes. Durante os ltimos meses de paz, a B. B. C. fizera planos para evitar que as tripulaes dos bombardeiros germnicos usassem as emisses usuais de rdio para obterem elementos de navegao. Desde a declarao da guerra, todas essas emisses eram feitas simultaneamente por um certo nmero de emissores espalhados pelo pas, numa mesma frequncia. Era portanto impossvel para qualquer navegador obter quaisquer elementos teis ao sintonizar o seu receptor direccional e tomar um rumo por essas emisses.

parte a possibilidade de que os bombardeiros inimigos pudessem orientar-se pelos emissores da B. B. C. ainda havia outro perigo: podiam rum2r para radiofaris colocados para seu benefcio por quinta-colunistas - e de resto ainda havia os feixes que os Alemes haviam instalado nos seus prprios territrios. No comeo de 1940, os engenheiros dos Correios tinham descoberto um meio de perturbar os feixes de rdio inimigos, designado por Masking Beacon (Feixe de Mscara) ou Meacon. O primeiro Meacon entrou em operaes a 24 de Julho, em Flimwell, perto de Turnbridge Wells. O Professor Lindemann explicou como o sistema trabalhava numa comunicao magnificamente lcida que enviou ao primeiro-ministro em 10 de Agosto: os Alemes, disse ele, tinham quase oitenta feixes de rdio na Alemanha, Noruega e Norte da Frana, trabalhando em ondas mdias e longas. Nunca eram usados mais de doze ao mesmo tempo, e o resto era mantido em reserva; grupos diferentes eram usados em dias diferentes, com o inimigo a saber que grupo se encontrava em aco e supondo que os Britnicos no sabiam que indicativo correspondia a cada estao. Se o inimigo voasse de maneira que dois ou mais feixes fossem mantidos a qualquer ngulo predeterminado em relao um ao outro, ou aos outros, poderia facilmente seguir uma rota preestabelecida. O primeiro-ministro foi informado: H duas maneiras de tratar de tais faris. A primeira interferi-los, isto : perturbar a transmisso de tal maneira que os seus sinais no possam ser recebidos. Se os compararmos com faris luminosos, ser como se acendermos a luz do dia para que eles se tornem invisveis. Este mtodo difcil porque eles trabalham em tantos comprimentos de onda diferentes que teremos de produzir sinais muito poderosos em todas as bandas para cobrir tudo. Alm disso os operadores tornam-se muito hbeis em distinguir sinais atravs da confuso geral. Ainda que os sinais no correspondam a pontos to definidos como as lmpadas dos faris luminosos, claro que um sistema de transmisso ptica por pontos e traos no poderia ser reconhecido, com um sol brilhante, a no ser que a luz fosse extremamente poderosa. Alm disso haveria de supor-se que cada farol tinha uma cor prpria (um comprimento de onda) que devia ser igualada, de modo que a confuso pudesse ser provocada sobre todo o espectro, desde os 30 aos 1800 metros. Para cobrir esta faixa seriam necessrias oito estaes muito poderosas, mas isso conduzir-nos-ia a outra dificuldade. Se tivssemos oito estaes dessas, os Alemes saberiam depressa onde elas se encontravam e poderiam us-las como faris para se guiarem para os seus alvos. muito mais fcil voar para um farol do que afastarmo-nos dele, tomando rumos inversos. Para evitar isso ser necessrio ligar as nossas estaes de interferncia em grupos de trs, fazendo com que cada grupo relampeje simultaneamente. Se isto for feito (ainda que no haja qualquer analogia ptica) o radiorreceptor no poder diferenar de onde vem o feixe, de modo que este no poder ser usado como ponto de referncia. Usando a B. B. C. e todos os outros emissores poderemos conseguir esse dispositivo em quatro a seis semanas. Mesmo ento teremos dificuldade se os Alemes resolverem usar, em vez dos faris normais, as estaes de super alta potncia normalmente usadas em comunicaes por telegrafia na Frana e na Holanda. Isso conduz-nos ao seguinte mtodo, denominado Masking. Para esse fim necessitamos de um certo nmero de pequenas estaes na Inglaterra que recebam e repitam os sinais

germnicos exactamente em fase. Se isso for feito, o telegrafista, no aparelho germnico, no poder distinguir entre os sinais do seu farol e o sinal de eco da nossa estao e a sua busca de azimutes ser completamente reduzida a nada. Como essas estaes de eco estaro em fase exacta com as estaes de terra ser impossvel rumar para uma delas, de modo que no podero ser usadas como ajuda navegao pelo inimigo, tal como o so as estaes germnicas. Sem dvida que a instalao um pouco mais complicada, mas temos j seis em aco e teremos mais nove dentro de uma semana. Desde que os Alemes no usem mais do que doze estaes de cada vez poderemos mascar-las completamente com estas quinze estaes de modo que este mtodo de navegao ficar anulado. Todos os faris de mascaramento sero fornecidos to depressa quanto possvel e espera-se que dentro de poucas semanas se possa enfrentar qualquer possvel orquestra alem de feixes. bvio que, se tivermos oitenta, poderemos tratar deles se ligarem todos os seus oitenta faris. Por outro lado improvvel que usem muitos ao mesmo tempo porque isso por certo confundiria muito os seus pilotos. Trinta estaes sero sem dvida suficientes para tudo quanto provvel que os Alemes faam. Em 18 de Agosto estavam ao servio nove desses Meacons. Dois dias depois, o estranho sortido de estaes HEADACHE, rapidamente montadas - aparelhos de diatermia modificados e emissores Lorentz - estava pronto para o tratamento regular das emisses Knickebein. Lutava-se contra o tempo, porque nessa altura os trs emissores originais Knickebein haviam sido acrescentados com outros nove, distribudos pelas costas da Frana, Holanda e Noruega. Em 28 de Agosto cento e sessenta bombardeiros da Terceira Fora Area (Luftflotte 3) lanaram o primeiro ataque pesado nocturno sobre a Inglaterra. O alvo fora Liverpul. Voltaram em fora semelhante nas trs noites seguintes. Comeara o esperado massacre nocturno, mas se os Alemes tinham grandes esperanas no Knickebein iam ficar desapontados. Em 7 de Setembro, a Fora Area Alem transferiu os seus ataques nocturnos para Londres, e desde essa noite at 13 de Novembro uma mdia de 160 avies atacou a capital em cada noite, excepto numa ocasio em que o estado do tempo interveio. O assalto germnico a Londres coincidiu quase exactamente com a montagem do primeiro dos interferidores de alta potncia especialmente concebidos por Cockburn e a sua pequena equipa de Swanage para tratar os feixes Knickebein. O interferidor era designado pelo nome de cdigo Aspirina e transmitia poderosos traos Morse nas frequncias dos feixes alemes. Esses traos no eram sincronizados com os sinais germnicos mas sobrepunham-se a eles. O resultado era que quando um piloto alemo entrava na zona dos traos virava na direco determinada; mas quando chegava ao que devia ser a faixa central - da nota constante - continuava a ouvir traos e tendia a continuar em frente. Quando na zona dos pontos, ouvia uma mistura de pontos e traos que no conduzia nunca a uma nota clara. As Aspirinas foram receitadas para os lugares mais importantes, substituindo os interferidores menos eficientes improvisados com os emissores de diatermia e Lorenz; estes ltimos foram transferidos para novos lugares para aumentar ainda mais a rea em que a cobertura de interferncia era possvel.

Durante esta ofensiva de interferncia estabeleceu-se uma certa controvrsia sobre se seria ou no melhor construir um dispositivo que "curvasse" os feixes alemes de modo que os bombardeiros inimigos fossem desviados do seu rumo sem darem por isso. Tecnicamente um dispositivo capaz de "curvar" os feixes nada tinha de impossvel, mas uma contramedida to elegante como essa demoraria tempo a ser posta em aco - e o tempo era aquilo de que Addison tinha mais falta. Se estava a enfrentar um perigo que ameaava a prpria existncia das grandes cidades britnicas no podia perder tempo em subtilezas. A deciso foi tomada por uma margem confessadamente estreita: no caso dos radiofaris alemes a multiplicidade das frequncias usadas tornava a interferncia subtil num processo muito mais econmico, mas os feixes presentes eram irradiados apenas em trs frequncias e a interferncia grosseira era o remdio imediato. Talvez isso comeasse como uma inveno do Servio de Informaes Britnico, destinada a enfraquecer a confiana dos Alemes nos seus feixes, mas o facto que muitos crem que de facto se procedeu "curvatura" dos feixes durante a guerra e essa histria foi at muito espalhada. Isso tornou-se numa fonte de embaraos para a Ala 8o. Addison recorda: Sempre que acontecia qualquer coisa invulgar, todos diziam que era por nossa causa. Nesse tempo trabalhvamos em tal segredo que mesmo quando surgiram os disparates nossa volta no tnhamos meios de os corrigir, mesmo que o quisssemos fazer. Numa ocasio um avio alemo largou bombas sobre os terrenos do castelo de Windsor. Na manh seguinte, o contador da Casa do Rei telefonou-me; estava muito perturbado e desejava saber se havamos "curvado" os feixes sobre Windsor - Sua Majestade podia ter morrido. Era o caso normal de um avio perdido, tentando desfazer-se da sua carga - mas ns que ficvamos com as culpas, conforme o stio onde elas caam. Sobre o mesmo assunto o dr. Cockburn diz: Estabeleceu-se o mito de que "curvvamos" os feixes. Na verdade no o fazamos. Montei um sistema que usava um receptor em Worth Travers, perto de Salisbury. Pretendia captar a modulao do Knickebein, retransmiti-la, e ento empurrar o feixe. Por outras palavras: o meu emissor teria produzido um feixe semelhante ao da estao terrestre alem mas apontando para onde eu queria. Era tudo muito bonito mas nada aconteceu. Quando o sistema ficou pronto j os outros mtodos de interferncia estavam a funcionar a todo o vapor e no podamos despender o tempo e os esforos necessrios para aperfeioar um novo sistema, que seria apenas um suplemento daquele. Portanto a "curvatura" dos feixes alemes, que eu imaginara, nunca veio a acontecer. Quando a Ala 80 tomou conta da estao de Beacon Hill empregaram-na para transmitir pontos no sincronizados, tal como os outros interferidores "Aspirina". O bombardeamento de Dublin, cerca de seis meses depois, foi muitas vezes apresentado como uma prova de que a R.A.F. "curvava" os feixes alemes; criou-se uma larga impresso de que a Ala 80 levara propositadamente uma fora de avies alemes a bombardear a capital da Irlanda neutra. O que na verdade aconteceu foi que no princpio da manh do ltimo dia de Maio de 1941 cerca de 90 avies alemes atacaram Bristol e Liverpul e ao mesmo tempo caram bombas em Dublin, nas reas de North Strand e Phoenix Park: demoliram vinte casas e danificaram cinquenta e cinco; morreram vinte e oito pessoas e oitenta e sete ficaram feridas. Na realidade o departamento da defesa do Eire chegou concluso de que a fora atacante era constituda por um s aparelho! Os Irlandeses foram sempre bem conhecidos pelos seus exageros. Muito provavelmente aconteceu apenas que uma tripulao alem se enganou no caminho; o facto de terem

derivado tanto para oeste pode muito bem atribuir-se ao vento que soprava nessa manh a trinta ns, vindo de leste. Mas se os feixes Knickebein no foram nunca propositadamente "curvados", foram-no acidentalmente em algumas ocasies. Recorde-se que os traos Aspirina no eram irradiados em sincronismo com os traos de feixe. Mas por outro lado no eram propositadamente irradiados fora de sincronismo. O resultado era uma deriva constante, fora e dentro de sincronismo, como duas pessoas que caminhem juntas com passos diferentes to depressa marcham a passo certo como a passo trocado. Assim havia ocasies em que os traos Aspirina se sincronizavam acidentalmente com os traos germnicos, e outras ocasies em que os emissores britnicos estavam to fora de sincronismo - ou os sinais alemes to fracos - que os avies inimigos sintonizavam os seus receptores pelos traos falsos. Em qualquer dos casos o avio continuava a virar na esperana de se dirigir para a zona dos pontos e o resultado era um encurvamento da sua rota. Parece que isso aconteceu, e h a certeza de que os alemes acreditavam em tal possibilidade. Um aviador capturado relatou at que ouvira pilotos dizer que haviam descrito involuntariamente crculos completos, e noutras ocasies as tripulaes germnicas descobriram que estavam muito longe do local onde pensavam que se encontravam e atriburam o seu erro aos feixes. Em Outubro de 1940, Addison foi feito C. B. E. (*) e promovido a comandante de grupo.(*) Comendador da Ordem do Imprio Britnico. (N. do T.)

A Ala 80 compreendia agora vinte oficiais e duzentos sargentos e praas e tinham ao seu servio quinze instalaes Aspirina para interferir os feixes Knickebein. Quais haviam sido os resultados? Em teoria, os feixes podiam ter marcado um quadrado com 270 metros de lado no cu sobre Londres - uma rea correspondente a um dos grandes quarteires dos ministrios, em Whitehall. Se pudesse fazer uso dos feixes sem qualquer perturbao, cada bombardeiro alemo atacante poderia ter largado todas as suas bombas nessa rea; se apenas uma quarta parte das bombas de uma fora atacante de 160 avies houvesse sido largada com tanta preciso, haveria uma saturao de uma bomba por C2da 15 metros atravs de toda a rea do alvo. Durante a sua ofensiva nocturna contra Londres a Fora Area germnica realizou sessenta e sete ataques a essa escala. O facto de no ter ocorrido uma saturao como essa durante qualquer dos ataques demonstra a eficcia das contramedidas HEADACHE. Usando o Knickebein em pequenas operaes de treino, antes de se encontrarem em posio de realizar ataques nocturnos em larga escala, os Alemes haviam comprometido os seus segredos. Quando a sua Fora Area necessitou de facto dos feixes, a Ala 80 j sabia como os perturbar e tinha meios para o fazer. A campanha contra os feixes Knickebein foi travada no mais alto nvel tcnico, por muito poucos combatentes. Os homens da Ala 80 nunca estiveram em grande perigo pessoal; em geral no sofreram mais do que tdio, incmodos e longas horas de trabalho. Mas a sua contribuio para a salvao de Londres no foi inferior dos pilotos dos caas que defendiam a cidade de uma maneira mais conspcua durante o dia. A derrota secreta dos feixes de perna torta foi tambm um grande triunfo pessoal do dr. R. V. Jones e dos

Servios de Informao Cientfica; assegurou que, na prxima vez que o co de guarda ladrasse, algum o ouviria e procederia. Mas no havia tempo para que algum repousasse sobre os seus louros. A batalha contra os feixes ainda estava longe do fim. Os Alemes ainda tinham os seus feixes-X. *** Nos meados de Agosto de 1940, a Fora Area Alem comeou o bombardeamento areo da Gr-Bretanha com todos os seus meios. Na tarde do dia 13, o Dia da guia, quando a primeira das duras batalhas diurnas terminou, uma fora de cerca de 20 avies alemes bombardeara uma fbrica perto de Birmingham que estava a ser equipada para a produo de Spitfires. O que houvera de invulgar nesse ataque fora o inesperado grau de concentrao para uma operao nocturna - onze bombas haviam na verdade atingido os edifcios da fbrica. Se algum estivesse em posio de o fazer, teria verificado que um emblema garrido estava estampado no nariz de todos os avies - um navio viking. Todos os aparelhos transportavam um complexo X-Gerat concebido por Hans Plendl antes de a guerra comear. Era o dispositivo que captava os trs feixes cruzados quando eles interceptavam o feixe principal de aproximao, e determinava automaticamente o momento de largada das bombas por meio de um relgio especial.

Todos os avies pertenciam ao esquadro especial de voo por feixes, Kampfgruppe 100. Depois deste comeo, os avies do K. G. 100 tomaram parte numa srie de pequenos ataques que poucos resultados tiveram, ainda que constitussem um bom treino para as suas tripulaes. O esquadro operou em seguida em fora, em conjunto com o resto da Fora Area Alem numa srie de ataques macios contra Liverpul, no fim de Agosto. Esses princpios sem grande importncia foram o suficiente para que os Servios de Informao Britnicos abrissem uma ficha sobre o novo sistema. A R.A.F. deu-lhe o nome de cdigo Ruffian. A meio de Agosto o seu servio de escuta captara sinais inexplicveis em 74 megaciclos. Como essa frequncia estava fora do alcance de qualquer receptor que se soubesse ser usado pela Fora Area Alem, o relatrio foi acolhido com certa reserva. Mas no fim do ms havia ampla confirmao: no s os pontos de escuta haviam captado mais sinais em frequncias prximas como os Iocalizadores terrestres tinham assinalado as suas fontes nas regies de Calais e Cherburgo. Ainda que os sinais diferissem do

Knickebein quanto frequncia, a agudeza do seu tom e a rapidez da chave eram suficientemente semelhantes para serem identificados como de auxlio navegao. Durante o ms seguinte, Jones juntou mais peas do seu quebra-cabeas, ainda que no houvesse cado nas suas mos qualquer parte do equipamento. O perigo que o dispositivo representava era muito evidente. No fim da terceira semana de Setembro o primeiroministro foi informado: Parece que os Alemes esto a fazer grandes esforos para aumentar a preciso do seu bombardeamento nocturno. Apareceu um certo nmero de feixes novos num comprimento de onda mais curto do que antes... Um Kampfgeschwader (*), KG. 100, composto de cerca de quarenta avies, foi equipado com aparelhos novos, especiais, para explorar esses feixes com os quais, pelo que parece, esperada uma preciso da ordem dos 20 metros.(*) A unidade era o Kampfgruppe 100 e no um Kampfgeschwader (ala de bombardeiros). No seu relatrio a Churchill, acima citado, o professor Lindemann parece ter confundido as duas unidades, pois que atribuiu correctamente ao gruppe (esquadro) a fora de 40 avies.

Com a tcnica que parecem estar a desenvolver um resultado desses no parece impossvel. Conhecemos a localizao exacta das fontes dos feixes em questo. O "feixe pai" fica mesmo na ponta da pennsula de Cherburgo; os feixes cruzados encontram-se na regio de Calais. No devem ir muito alm de Londres. Fora os ataques aos aparelhos que usam esses feixes, as nossas possveis linhas de defesa devem ser: 1- tentar destruir os aparelhos especialmente equipados do KG 100 que esto estacionados em Vannes, a estao-fonte de Luneburgo e a estao de reserva de Kthen; 2- tentar destruir as estaes dos feixes a- por bombardeamento, o que deve ser muito difcil visto serem alvos quase invisveis; b- por operao especial (isto , comandos); 3- empregar radiocontramedidas. A preciso estimada de vinte metros era baseada no grau de preciso que se sabia terem os Alemes conseguido com os seus feixes, e no em qualquer avaliao tcnica das capacidades do X-Gerat. De facto o erro mdio era da ordem de 110 metros, o que ainda representava um nmero muito baixo (*). Dos remdios postos como alternativa no relatrio a Churchill, o menos difcil era o emprego das radiocontramedidas. Mas mesmo isso no era fcil: os Britnicos no tinham na prateleira qualquer emissor capaz de transmitir numa frequncia prxima de 70 megaciclos;(*) Ao calcular o alinhamento angular dos feixes-X os Alemes fizeram quase certamente uso das tbuas trigonomtricas de sete unidades calculadas pelo dr. Hermann Brandenburg, da Universidade de Gottingen. Quando as terminara, antes da guerra, o dr. Brandenburg ficara to ansioso de se certificar de que eram correctas que oferecera o correspondente a trs xelins por cada erro que fosse descoberto. O dr. Cromrie, um dos cientistas britnicos depois empenhados em traar os feixes-X at s suas origens, obtivera dele, dessa maneira, cerca de 200 libras. O dr. Cockburn modificou uma instalao de radar do Exrcito para interferir os feixes-X' e deu-lhe o nome de cdigo de Brometo (Bromide). A sua seco trabalhou a alta presso para produzir o nmero desses interferidores necessrio para prover um mnimo de proteco. O plano imediato era instalar os Brometos entre Cherburgo - a fonte dos feixes pais ou de aproximao - e as cidades da Midland, Manchester e Londres.

Enquanto os emissores Brometo eram construdos, os Alemes puderam usar o X-Gerat sem serem incomodados. No fim de Setembro o K. G. roo tomara parte em cerca de quarenta ataques, metade deles sobre Londres. Durante esse perodo o esquadro operou como uma fora independente, visitando alvos sozinho e tentando ataques de preciso por meio dos seus feixes. Esses ataques de pequena escala tinham todos as mesmas caractersticas, que R. V. Jones pde identificar como ligadas ao esquadro especialista germnico; havia uma grande preciso ao longo de uma linha que partia de Cherburgo, uma preciso um pouco mais pequena em alcance, e no era lanada nenhuma bomba mais pesada do que 250 quilogramas. No comeo de Outubro o esquadro comeou a lanar bombas incendirias. Isto representava uma estranha inovao, porque essas armas com o feitio de bastes no podiam ser precisamente apontadas, o que parecia anular a principal vantagem do sistema de feixes-X. Parecia haver apenas uma explicao razovel: o K. G. 100 estava a praticar para conduzir aos alvos a fora area agora de-Knickebeinizada. Em 24 de Outubro, o professor Lindemann aconselhou devidamente Churchill:H razes para crer que o mtodo adoptado o de enviar alguns avies K. G. 100 equipados com dispositivos especiais para os ajudarem ao bombardeamento sem visibilidade nessas expedies, a fim de provocarem fogos nos alvos que possam servir de referncia a quaisquer aparelhos subsequentes sem equipamento especial.

A nota previu exactamente o processo que os Alemes adoptariam trs semanas mais tarde, e que resultou quase imediatamente na catstrofe de Coventry. Foi o advento das tcnicas de batedor da Fora Area Alem. Entretanto, a sorte surgira nas mos dos Servios de Informao Britnicos num dos mais ineptos episdios da guerra secreta. Ao princpio da manh de 6 de Novembro, um bombardeiro Heinkel atacante sofreu uma avaria na bssola sobre a Gr-Bretanha. Usando azimutes de rdio do farol de Saint-Malo, a tripulao voltou para casa. Voaram direitos ao radiofarol e continuaram at que se sentiram em segurana sobre o sul da Bretanha. O piloto desceu mas quando rompeu as nuvens viu que ainda se encontrava sobre o mar. Aquilo tinha de ser o golfo da Biscaia, portanto voltou ao farol e terra. Mas dessa vez o combustvel estava quase esgotado. Quando surgiu vista a costa, tentou descer com o bombardeiro na praia; no entanto enganou-se na aproximao e no choque resultante um dos tripulantes morreu e dois ficaram feridos. Aqueles que sobreviveram treparam pela margem ngreme para se encontrarem cercados por soldados fardados de caqui. O feixe traioeiro em que haviam confiado era de facto um dos Meacons da Ala 80, e o que haviam pensado ser a costa sudoeste da Bretanha era a praia de West Bay, perto de Bridport. Alguns dos soldados britnicos meteram-se gua e lanaram um cabo em volta dos destroos e teria sido tudo se um navio da Royal Navy no aparecesse. O comandante do navio observou que como o bombardeiro estava no mar, a recolha era, sob o aspecto tcnico, uma questo naval. Depois de algumas reticncias o Exrcito concordou de m vontade. Os marinheiros levaram o cabo para o navio e, com toda a solenidade, rebocaram o avio para guas mais profundas, preparando-se para o iar. Infelizmente o cabo partiu-se e o Heinkel afundou-se.

Quando a alvorada rompeu, a parte superior do bombardeiro destroado pde ser vista acima das ondas, mais parecendo uma baleia que houvesse dado costa. Quando a mar baixou, as marcas apareceram a pouco e pouco vista; pintada na parte traseira da fuselagem em letras de quase um metro e vinte de altura, estava a cifra 6N + BH; no nariz via-se o emblema de um navio de guerra viking. Como a equipa de escuta da R.A.F. havia descoberto, 6N era o indicativo de chamada de esquadro do K. G. 100 O professor Lindemann ficou compreensivelmente indignado quando soube o que acontecera. Uma semana depois escreveu ao primeiro-ministro:O esquadro K. G. 100 o nico que se sabe estar equipado com os aparelhos especiais com os quais os Alemes esperam realizar bombardeamentos nocturnos de preciso usando os seus feixes muito finos. Como importa descobrir tudo quanto seja possvel sobre esses aparelhos e sobre o seu modo de funcionar, muito lamentvel que as discusses entre servios tenham resultado na perda deste avio, que foi o primeiro do seu gnero que caiu nas nossas mos.

Nem tudo se perdera. Os tcnicos britnicos conseguiram retirar os dois inestimveis receptores de feixes-X da fuselagem cheia de gua. Apesar de muito estragadas pela sua prolongada imerso, as peas foram enviadas para exame. Quaisquer dvidas que ainda se alimentassem quanto natureza avanada da tcnica de feixes de rdio alem foram desfeitas pelas datas em algumas das marcas de inspeco do receptor. Datavam de 1938. Na segunda semana de Novembro, a Fora Area Alem transferiu o peso dos seus ataques de Londres para as cidades das Midlands, e o K. G. 100 ia indicar o caminho para a fora de bombardeiros no primeiro desses novos ataques. O alvo era Coventry. Na tarde de 14 de Novembro, em Bolonha, a sede da 6." Companhia Area de Sinais alem - a unidade que operava os emissores dos feixes-X - recebeu as suas ordens sobre o alvo dessa noite da sede do esquadro, em Vannes. Essas ordens foram transmitidas aos emissores Elbe, Oder e Rhein, prximos, e ao Weser, o emissor do feixe de aproximao na pennsula de Cherburgo. O feixe de aproximao atravessava a costa inglesa perto de Christchurch, passava exactamente a reste de Slisbury e Swindon e sobre Lemington e Coventry. Pouco antes dessa ltima cidade os trs feixes cruzados interceptavam-no. Pouco depois de se fazer noite os Heinkel m do K.G.100 levantaram voo de Vannes. Fazendo uma pequena concesso s defesas britnicas, voaram para um lado e para outro do feixe de aproximao principal, como se o feixe propriamente dito pudesse ser patrulhado por caas nocturnos. s 8 da noite os primeiros avies atravessaram a linha do Tamisa, prximo de Bampton. Seis minutos depois voavam atravs do primeiro feixe cruzado e enfiaram-se pelo feixe de aproximao, rumando para Coventry. Havia nessa noite somente quatro estaes Brometo em operao, prontas a lidar com esses novos feixes-X. Uma, em Kenilworth, estava quase debaixo da rota dos bombardeiros. Mas os interferidores pouco perturbaram os Alemes. O sistema fora concebido com demasiada pressa numa poca em que pouco se sabia sobre o X-Gerat e como resultado, ainda que os interferidores emitissem provavelmente na frequncia correcta, a nota que transmitiam era modulada a 1500 ciclos em vez de 2000. A diferena era a mesma que entre um apito e um guincho - mal era perceptvel ao ouvido humano; mas os circuitos de filtro nos receptores germnicos eram suficientemente sensveis para captar com toda a facilidade os sinais do feixe no meio das interferncias. Somente se toda

a interferncia houvesse sido do tipo conveniente teriam os quatro Brometos sido suficientes para tornar inteis os feixes-X. Naquela noite no o foram. Os Heinkel continuaram a voar para norte sem serem perturbados e onze minutos depois da meia-noite, a cinco quilmetros ao sul de Leamington, passaram atravs do segundo feixe cruzado. Em cada avio o observador ps em marcha o seu relgio especial automtico de lanamento de bombas. Dois minutos e meio depois a menos de mil e seiscentos metros de Bagington, passaram atravs do terceiro e ltimo feixe cruzado: o segundo ponteiro de cada relgio comeou a girar, correndo para apanhar o primeiro. Passados cinquenta segundos os dois ponteiros encontraram-se e os pares de contactos elctricos fecharam-se; as bombas incendirias foram largadas. Era meia-noite e um quarto.

Ponto A - O primeiro feixe cruzado (Rhein): o avio acerca-se seguindo o feixe de aproximao (Weser). A distncia de A a B de 30 quilmetros. Ponto B - O segundo feixe cruzado (Oder): o observador do avio carrega no boto para pr em funcionamento o primeiro ponteiro do relgio de bombardeamento. A distncia de B a C de 15 quilmetros. Ponto C - O terceiro feixe cruzado (Elbe): o observador do avio carrega no boto para parar o primeiro ponteiro do relgio de bombardeamento; o segundo gira ao encontro do primeiro. A distncia de C a Coventry de 5 quilmetros. Alvo Coventry: os ponteiros do relgio de bombardeamento sobrepem-se, o par de contactos elctricos fecha-se para ligar automaticamente as bombas.

Os incndios ateados pelo K. G. 100 em Coventry guiaram os bombardeiros vindos de todas as direces. Uma formatura veio pelo Wash, outra pela ilha de Wight e uma terceira por Brighton. A noite estava clara e o luar permitia aos atacantes ver todos os pormenores da cidade incendiada. Ao todo 449 bombardeiros atingiram Coventry durante as dez horas que durou o ataque. Lanaram 56 toneladas de bombas incendirias, 394 de bombas de alto-explosivo e 127 minas de paraquedas. Cada uma das unidades de bombardeiros alemes tinha um alvo especfico para procurar e destruir: a I./L.G. 1 foi incumbida de atacar as instalaes da Standard Motor Company e da Coventry Radiator and Press Company; a II./K. G. 27 as fbricas de motores de avies Alvis; a II./K.G. 51 a British PistonRing Company; a II./K. G. 55 as fbricas Daimler; e o K. Gr. 606 os gasmetros de Hill Street. A maior parte desses objectivos foi duramente atingida e toda a produo cessou em consequncia dos danos sofridos pelo centro da cidade. Morreram quase quatrocentas pessoas e oitocentas ficaram seriamente feridas em consequncia do ataque. Foi uma demonstrao impressionante do que a Fora Area Alem podia fazer se usasse uma fora batedora guiada por feixes de rdio. A deficincia dos interferidores Brometo foi deduzida do receptor X-Gerat capturado. Poucos dias depois da catstrofe os velhos aparelhos Brometo foram modificados para transmitirem a nota correcta de interferncia, e novos aparelhos comearam a sair dos laboratrios de Cockburn num ritmo encorajador. A Ala 80 seria muito mais eficaz quando tivesse de actuar contra a prxima misso de batedor do K. Gr. 100. Dessa vez o alvo dos esquadres alemes era Birmingham, em 19 de Novembro: a noite tambm estava clara, mas graas s interferncias dos Brometos acabados de modificar, o K. Gr. 100 encontrou grande dificuldade em atingir a cidade e somente alguns fogos dispersos puderam ser ateados ao sul. Quando a fora principal de avies chegou, foi obrigada a vagabundear sem objectivo durante algum tempo antes de acabar por despejar a carga sobre uma larga rea. O ataque malogrou-se, como outro semelhante, nessa noite. No entanto o esquadro batedor continuou a andar na crista das ondas: foi a unidade que recebeu mais condecoraes na fora alem de bombardeiros. Mesmo durante Dezembro de 1940 ainda havia cidades inglesas sem adequada proteco Brometo, ainda que o seu nmero fosse cada vez menor, e o esquadro alemo alcanou alguns sucessos contra elas: Londres, Southampton e Sheffield sofreram ataques especialmente pesados para os quais o K. Gr. 100 marcara os alvos. Mas o X-Gerat, a caixa mgica do esquadro estava inexoravelmente a aproximar-se do seu prematuro eclipse. Enquanto a ofensiva de interferncias britnica estava a ganhar impulso, outras medidas eram tomadas para explorar a grande fraqueza das tcticas dos batedores alemes. O ncleo das foras atacantes largava a sua carga de bombas nos fogos ateados pelos avies batedores, portanto porque no atear fogos nos campos para que eles os bombardeassem, em lugar dos alvos desejados? A misso de preparar esses fogos-engodo - misso essa conhecida por Starfish - coube a uma seco chefiada pelo coronel J. Turner, em tempos chefe do departamento fabril da R.A.F. Os engodos tinham uma importncia crtica; era necessrio que comeassem exactamente a tempo de receberem o ataque principal, e era ideal que os bombardeiros devessem voar sobre ele antes de atingirem o verdadeiro alvo. O primeiro Starfish foi ateado na noite de 2 de Dezembro de 1940, durante um ataque a Bristol. Os dois fogos que o constituam receberam um total de 66 bombas de alto-explosivo. Da em diante esses engodos tornaram-se numa caracterstica usual das defesas passivas britnicas. Verificou-se que se os bombeiros

pudessem debelar rapidamente fogos ateados com toda a preciso pelos Alemes, para servirem de marca, um engodo na rota de aproximao podia muito bem atrair uma grande proporo das bombas destinadas cidade. As tripulaes dos primeiros avies informavam geralmente pela rdio que a sua marcao obtivera sucesso; sendo assim, as tripulaes dos avies que se seguiam sentiam-se muito satisfeitas se bombardeassem qualquer conflagrao razovel que lhe aparecesse. Nos meados de Janeiro de 1941 todos os alvos principais na metade sul da Inglaterra tinham um interferidor Brometo a cobrir a sua linha de aproximao, vinda de Cherburgo. Havia at interferidores suficientes para anular alguns dos feixes cruzados. Em Maro, a tripulao capturada de um avio do K. Gr. 100 confirmou que a interferncia dos feixes se mostrara cada vez pior, desde o princpio de Novembro. A interferncia do feixe de aproximao tornara-se muito sria no fim do ano e no comeo de 1941 a Ala n. 80 notou os primeiros sinais inconfundveis de que a Fora Area Alem estava a perder confiana no X-Gerat como dispositivo de marcao para os batedores: duas vezes, durante Maro, o K. Gr. 100 s apareceu no alvo depois de o ataque ter comeado, e numa ocasio lanaram minas de paraquedas - armas que no podiam ser apontadas com qualquer preciso. Mesmo quando os feixes eram usados, sofriam complexas variaes de frequncia enquanto o ataque estava a ser realizado. Durante Maio as estaes de escuta da Ala 80 ouviram os feixes-X somente em trs noites. O esquadro batedor operou em quinze ocasies, mas em cinco delas os registos do radar mostraram que os feixes no eram utilizados. O encarregado do dirio da Ala 80 registou: Parece que, ainda que o inimigo continue a ter considervel confiana na percia do KG. 100, a sua f no Ruffian {X-Gerat) est a declinar rapidamente. A evidncia combinada da complicao cada vez maior das tentativas para evitar as nossas contramedidas e da impossibilidade de usar o sistema no seu presente estado em 33 1/3 das operaes demasiado forte para poder ser ignorada.

Algumas vezes, durante a guerra, os Servios de Informao britnicos chegaram resposta correcta por meio de um raciocnio errado. A deteco do terceiro sistema de feixes de rdio alemo foi um exemplo disso. No fim de Junho de 1940, o dr. R. V. Jones tinha recebido um relatrio segundo o qual emissores Wotan estariam a ser instalados prximo de Cherburgo e Brest. Que demnio poderiam ser os Wotan? O texto do relatrio secreto implicava que o dispositivo fosse qualquer forma de ajuda navegao, mas isso era tudo. Fortificado por um certo hbito de investigao mitolgica, Jones sentiu-se capaz de estabelecer uma hiptese atilada sobre a natureza do Wotan: no passado os Alemes haviam algumas vezes usado nomes de cdigo que, apesar de muito hbeis, haviam trado a natureza do dispositivo que deviam ocultar. Wotan - alis Odin, a divindade principal do reino da mitologia nrdica - tinha somente um olho. Estaria fora dos limites da possibilidade que, usando o dispositivo de medio de distncias descrito no Relatrio de Oslo para conhecer a distncia percorrida, e um dos feixes recm-descobertos Knickebein para conhecer a direco, uma aeronave pudesse determinar a sua posio usando apenas um feixe em vez de dois? Em Novembro de 1940, o ms do ataque a Coventry, o servio de escuta da R.A.F. observou pela primeira vez alguns sinais invulgares nas frequncias prximas de 40

megaciclos. Jones deu a esse sistema o nome de cdigo de Benito1. (Diz ele: Considermos que uma vez que Mussolini estava do lado zarolho do Eixo, era apropriado chamar Benito ao sistema de feixe nico.) A princpio os novos sinais pareciam inexplicveis: o ritmo muito rpido da transmisso dos sinais direccionais tornava impossvel aos escutadores em Inglaterra apurar o que estava a acontecer. A natureza dos sinais s se tornou clara depois de terem sido examinados numa vlvula de raios catdicos. Graas informao prestada pelo Relatrio de Oslo, ento j velho de um ano, no houve dificuldade em compreender como o sistema de medio de alcance funcionava. Como Jones observou: Existem agora poucas dvidas de que, quaisquer que fossem os seus motivos, a fonte annima estava a dar uma descrio escrupulosa dos seus prprios e amplos conhecimentos e que, quanto mais no seja por nos ter avisado a tempo do Benito, lhe devemos muito. Como o seu predecessor, o X-Gerat, o novo sistema fora concebido pelo dr. Hans Plendl. A Fora Area Alem chamara-lhe de facto Y-Gerat. Era um sistema complexo: para alinhar o avio sobre o alvo o emissor de terra irradiava um feixe muito complicado, constitudo por 180 sinais direccionais por minuto. Isso era demasiado rpido para a interpretao humana, e a aeronave transportava um analisador electrnico especial para determinar a sua posio em relao ao feixe. O intervalo que se seguia a cada par de sinais direccionais servia para alinhar o analisador pelo feixe. Esta complicao fora a origem das dificuldades encontradas pelos "escutadores" britnicos. Para medir o caminho percorrido pelo aparelho ao longo do feixe, a estao terrestre emitia sinais adicionais; o avio captava-os e reemitia-os. A estao de terra podia ento calcular a distncia a que se encontrava o avio a uma distncia muito maior que o radar convencional; quando calculavam que a aeronave se encontrava no ponto de largada das bombas, irradiavam instrues para a tripulao as largar. Tanto o alcance como os sinais de azimute eram irradiados em frequncias entre 42 e 48 megaciclos. Como usava uma s estao terrestre, o Y-Gerat era um sistema muito mais flexvel que qualquer dos seus predecessores, e era at mais preciso que o X-Gerat. O general Martini, chefe do servio de sinais da Fora Area germnica durante a guerra, contou como uma vez tentara explicar o funcionamento do Y-Gerat a Hermann Goering. O Reichsmarschall teria escutado durante duas horas e ento fizera algumas perguntas que demonstraram no ter ficado a compreender melhor o assunto. Goering, um s da primeira guerra mundial, tinha pouco tempo para tais engenhocas: as guerras deviam ser combatidas por homens bravos com armas de fogo e no com coisas daquelas. Diz-se que noutra ocasio comentou: As radioajudas contm caixas com bobinas e eu no gosto de caixas com bobinas. difcil no sentir simpatia por ele. O novo sistema de Plendl ficara pronto no fim de 1940. O Y-Gerat foi montado nos Heinkel III do terceiro esquadro do KG. 26 baseado em Poix, prximo de Amiens, e o esquadro comeou a realizar ensaios operacionais usando emissores terrestres em Poix, Cherburgo e Cassel, em Frana. Muito mais tarde, o dr. R. V. Jones soube que a designao completa do Y-Gerat era de facto Wotan II, e que a do X-Gerat era Wotan I, sendo este ltimo sistema sem dvida alguma de multifeixe. A verdade era que o olho solitrio do deus nada tinha que ver com o outro nome de cdigo do Y-Gerat ! Jones confessa actualmente que, se

soubesse isso de princpio, teria talvez demorado muito mais tempo a descobrir o verdadeiro mtodo usado pelo novo sistema. Como o Y-Gerat usava duas emisses separadas para estabelecer o azimute e alcance da aeronave a partir do feixe, o dr. Cockburn tinha de trabalhar num sistema separado de interferncia para cada uma. Pela primeira vez no havia grande pressa de colocar os interferidores em operao - o sistema ainda se encontrava num estado de aperfeioamento. Havia at tempo para ser subtil, quanto s contramedidas. O interferidor de Cockburn - com a denominao de cdigo de Domin - usava um receptor em Highgate e o adormecido emissor de televiso da B. B. C. no Alexandra Palace, no norte de Londres. O receptor era usado para captar o sinal de distncia ecoado pelo emissor dos bombardeiros germnicos; o sinal era passado para o Alexandra Palace, onde o poderoso emissor retransmitia o eco na frequncia da estao terrestre alem. O efeito no Y-Gerat era catastrfico e o sistema de medio de alcance ficava completamente arruinado. O primeiro desses interferidores Domin comeou a funcionar nos meados de Fevereiro de 1941 e um segundo ficou pronto antes do fim do ms em Beacon Hill, perto de Salisbury. Pelo que dizia respeito a Jones, Cockburn e Addison, a interferncia do Y-Gerat foi um sucesso completo. O dispositivo no teve oportunidade de entrar em aco pois foi detido a meio caminho. O nico olho do Benito fora arrancado. Era bvio que os emissores Domin perturbavam muito as tripulaes dos bombardeiros. Em 9 de Maro os sinais do Feixe-Y mudaram de frequncia no meio de uma operao, numa tentativa - infrutfera - de impedir a interferncia. Duas noites depois, uma fora de bombardeiros realizou um ataque especial ao interferidor de Beacon Hill e um dos aparelhos quase o atingiu. Na noite seguinte o interferidor no funcionou e o terceiro esquadro do KG. 26 entrou em aco. Alguns dos aparelhos usavam o emissor de Cassei, mas o interferidor do Alexandra Palace estava a cobri-lo e nenhuma das tripulaes recebeu ordem para largar as bombas. Os avies que usavam o emissor de Beaumont para o qual no havia cobertura Domin - realizaram ataques de alta preciso. Mas na noite seguinte a estao de Beacon Hill estava de novo a funcionar e mais uma vez a cobertura era de 100 por cento. Das 89 surtidas sobre a Inglaterra realizadas com o auxlio do Y-Gerat durante as primeiras duas semanas de Maro de 1941, somente dezoito resultaram na recepo de instrues pela aeronave para largar as suas bombas. Na noite de 3 de Maio o esquadro dos feixes-Y sofreu um desastre ainda pior: trs dos seus Heinkel perderam-se sobre a Gr-Bretanha e em todos os casos o equipamento especial Y-Gerat foi cuidadosamente retirado dos destroos e enviado para Farnborough para investigao. O exame mostrou que o analisador electrnico de azimute era extremamente vulnervel s interferncias. Como depois disse Cockburn: Desorientar o feixe-Y era uma brincadeira: eles tinham cado na ratoeira de fazer tudo automtico e quando as coisas so automticas so mais vulnerveis. Tudo quanto tnhamos a fazer era irradiar uma nota contnua na frequncia do feixe. Isso preenchia o intervalo entre os sinais, desorientava o analisador do feixe e endoidecia todo o sistema. O novo interferidor comeou a funcionar em 27 de Maio e tinha o nome de cdigo de Benjamim. Um simples circuito adicional - um regenerador de corrente contnua - no receptor Y-Gerat das aeronaves teria filtrado a interferncia mas os Alemes no pensaram nisso. Tinham pouco tempo sua frente: a partir dos meados de Maio, primeiro num

simples fio e depois numa torrente, as unidades da fora area deslocaram-se para leste, nos preparativos para a invaso da U. R. S. S. Os bombardeiros deviam voltar a Frana seis semanas depois da abertura da ofensiva - uma estimativa moderada da provvel durao da campanha. O comandante de grupo Addison no podia confiar que a demora fosse algo menos breve. Durante o Vero e o Outono de 1941 a Ala 80 continuou a desenvolver-se, mas j sem a prioridade extrema de que beneficiaria antes. A pouco e pouco os interferidores improvisados do Outono anterior foram substitudos por equipamento especialmente concebido para tal misso. A intensidade da Blitz desapareceu perante o tdio de aguardar um inimigo que raramente aparecia. Os aspectos mais curiosos desse perodo foram os relacionados com os desvios das aeronaves alems devido aco dos Meacons: por vezes a confuso do inimigo era to grande que o avio descia na Inglaterra por engano. Nos fins de Julho a R.A.F. seduziu dessa maneira um