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  • 8/11/2019 A Avaliao de Proficincia Em Protugus Lngua Estrangeira - o Exame Celpe-bras -- Norimar Jdice

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    Rev. Brasileira de Lingstica Aplicada, v.3, n.l , 153-184, 2003 153

    A avaliao deproficincia em portuguslngua estrangeira: o exame CELPE-Bras

    Regina L.P.DellIsolaU F M G

    Matilde V. R. ScaramucciUnicamp

    Margarete Schlatter

    UFRGSNorimar JdiceUFF

    N este art ig o apre sentamos o perf il do exame de proficincia em

    Lng ua Portuguesa, institudo pela Secretaria de Educao Superior

    (SESu) do MEC, denominado CELPE-Bras. Trata-se da proposta

    oficial brasileira que permite efetuar exames de Portugus Lng ua

    Estrangeira (PLE) em qualquer parte do mundo, desde que exista

    um Centro reconhecido e credenciado pelo MEC. O exame, denatureza comunica t iva , uma proposta inovadora . Em nossa

    exposio, apresentaremos o objetivo, a natureza e o formato do

    ex ame ; ab o rd a remo s o s t ex to s se l ec io n ad o s e o s n v e i s d e

    certificao institudos; trataremos da crescente demanda ao exame

    e da nossa preocupao com o efeito retroativo do CELP E-Bras no

    ensino de PLE no Brasil e no exterior.

    In this article we present the Portuguese Proficiency Exam Profile,

    as established by the Secretary of Higher Education (Secretaria de

    Educa o Superior) o f the Ministry of Education, also denominatedCELPE-Bras. This is the Brazilian official proposal which will allowPortugu ese as a Foreign Languag e (PFL) exams to be conducted in

    an y p a r t o f t h e wo r ld , p ro v id ed th e r e is a Cen t r e th a t is

    acknow ledged and accredited by the Ministry of Education of Brazil.

    The exam , of a communicative nature, is an innovative proposal.

    In this article, we will present the objective, the nature and the formatof the exam. We will also deal with selected portions of texts and

    the levels o f certificates to be issued; we will deal with the growingdemand for exams and our concern with CELPE-Bras backwash

    effect in the teaching of PFL in Brazil and abroad.

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    154 Rev. Brasileira de Lingstica Aplicada, v.3, n.J, 154-184, 2003

    Introduo

    A necessidade de se demonstrar domnio de mais de um idiom a e

    de se comprovar o nvel de proficincia em uma lngua estrangeira tem

    se tornado cada vez mais freqente em um mundo no qual intercmbios

    econm icos, culturais e polticos tm se multiplicado de forma acelerada.

    O Brasil tem desenvolvido aes nos domnios do ensino, da difuso e

    da promo o da variante brasileira da lngua portuguesa - como Segunda

    Lng ua (L2) ou como Lngua Estrangeira (LE) - tanto em territrio

    nacional quanto no exterior, alm de investir na valorizao da presena

    da cultura brasileira no mundo, por meio das universidades, em

    cooperao com entidades no governamentais e governamentais, em

    especial, com o Ministrio da Educao (MEC).

    Nesse contexto, fo i criado o exam e para obteno

    cio Certificado de Lngua Portuguesa para

    E strangeiros - CELPE-Bras, institudo pela

    Secretaria de Educao Superior (SESu) do MEC.

    Trata-se da proposta oficial brasileira que

    perm ite efe tuar exames de Portu gus Lngua Estrangeira (PLE) em qualquer parte do mundo,

    desde que exista um Centro reconhecido e

    credenciado pelo ME C.

    O Brasil tem investido esforos no incentivo aprendizagem da

    variante brasileira da lngua portuguesa, atravs da manuteno de

    Centros de Estudos Brasileiros, Institutos e Fundaes de Cultura

    Brasileira, no exterior; da oferta de cursos de lngua portuguesa para

    estrangeiros em diversas instituies nacionais; do desenvolvimento deprogramas es truturados para a d ivulgao da cultura nacional.

    Assim, a criao de um exame de proficincia brasileiro, tem

    como objetivo a afirmao da Lngua Portuguesa como um idioma de

    interesse estratgico para a comunicao internacional. Esse exame, sem

    dvida, refora as estruturas existentes e estabiliza o corpo docente de

    todos os centros difusores da lngua portuguesa, bem como promove a

    poss ib il id ad e de cr ia o de cursos espec ficos de prepara o para arealizao do exame.

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    O objetivo e a natureza do exame

    O objetivo do exam e CE LPE-B ras avaliar, por meio da realizao

    de tarefas comunicativas, a comp etncia de uso oral e escrito da lngua

    portugu esa, em sua variedade bras ileira. Partindo do princpio de que

    esse um exame comunicativo, os atributos a serem avaliados devem

    refletir o uso da lngua em situaes reais de comunicao e, por isso,

    durante o exame, o candidato levado a desempenhar tarefas

    (Scaramucci, 1995 e 1999a; Schlatter, 1999; Jdice e D el lls o la , 2000)

    o mais prximo possvel daquelas desenvolvidas cotidianamente pelaspessoas em geral.

    O exame est fundam entado nos seguintes pressupostos:

    - A com petncia do candidato verificada por meio da realizao,

    em portugus, de tarefas relacionadas comunicao no dia-a~dia.

    Por exemplo, uma resposta a uma carta, o preenchimento de um

    formulrio, a compreenso de um artigo de jornal ou de um

    pro gra ma de televiso;

    - No se busca aferir conhecimen tos sobre a lngua, como o caso

    de exames tradicionais que formu lam questes sobre morfolog ia esintaxe, porm, sim, a capacidade de uso dessa lngua, j que a

    competncia lingstica um dos componentes da comunicativa.

    Assim, o exame est centrado no desenvolvimento de uma

    com petncia de uso que requer mu ito mais do que a man ipulao

    de formas e regras lingsticas, exigindo tambm o conhecimento

    de regras de comunicao e de formas que sejam no apenas

    gramaticalmente corretas, mas socialmente adequadas;

    - O material do exame contextualizado, de maneira a levar em

    conta os aspectos socioculturais no conjunto da avaliao;- Os critrios de avaliao utilizados so holsticos, tomando a

    realizao da tarefa em seu todo: em lugar de uma aferio

    quantitativa de pontos isolados da lngua, se faz uma avaliao

    qualitativa do desempenho dentro do objetivo de comunicao a

    ser atingido;

    - O resultado da avaliao expresso em descritores de competncia

    e desempenho do candidato. Por exemplo, ser capaz de selecionar

    informaes em um texto, de acompanhar uma conversa no meio

    de rudos, de fazer um relato conciso, etc;

    Rev. Brasileira de Lingstica Aplicada, v.3, n.l , 155-184, 2003 155

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    156 Rev. B rasileira de Ling stica Aplicada, v.3, n ., 156-184, 2003

    O formato do exame

    Elaborado por uma Comisso Tcnica formada por especialistas

    na rea de PLE, o CEL PE-Bras avalia, atravs de um nico exame, dois

    nveis de proficincia - intermedirio e avanado.O exame est dividido em duas partes, uma coletiva e outra

    individual. A parte coletiva realizada simultaneamente em todos os

    centro s aplicadores. Essa parte, com a durao de duas horas, compe-se de tarefas que abarcam com preenso e produo (oral e escrita), em

    que so utilizados suportes impressos, em udio e vdeo, de modalidades

    e organizaes diversificadas. As provas escritas so corrigidas no

    Ministrio da Educao em Braslia por uma comisso ad hoc , sob a

    superviso da Comisso Tcnica.

    A parte individual, com durao de vinte minutos, consiste em um ainterao face a face do candidato com uma dupla de avaliadores - um

    entrevistador e um observador. Essa interao gravada em udio e/ou

    vdeo e desenvolve-se em duas etapas: a primeira, que consiste numa

    entrevista baseada no questionrio preenchido pelo candidato quando

    da inscrio; e a segunda a partir de um conjunto de trs elementosprovocad ore s (car tum, quadrinhos, pub licidade, foto, dentre ou tros).Nessa etapa, a avaliao feita pela dup la de avaliadores com base em

    um a grade de correo especialmente desenvolvida para esse fim.

    A Comisso Tcnica ministra, para professores das instituies

    brasi leiras e es trangeiras credenciadas , um cu rso que os hab ilita para aaplicao das partes coletiva e individual do CELPE-BRAS, de forma

    homognea. Ao retornarem para as suas instituies, esses professores -

    que j atuam no ensino de PLE - tornam-se aplicadores/avaliadores e

    podem atuar como multiplicado res, am pliando progressivamen te suasequipes, ao preparar para nelas atuarem outros docentes tambm

    experientes no ensino de Portugus para falantes de outras lnguas.

    Nveis de certificao

    Por meio de um nico exame, so avaliados dois nveis de

    proficinc ia: In term edirio (Primeiro Certificado) e Avanado (SegundoCertificado). A diferena entre os nveis espelha a qualidade do

    desempenho nas tarefas de compreenso e produo textual (oral e

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    Rev, Brasileira de Lingstica Aplicada, v.3, n.l, 157-184, 2003 157

    escrita) em trs aspectos: adequao ao contexto-ou situacional

    (efetivamente cumprir o propsito, levando em conta o interlocutor),adequao discursiva (coeso e coerncia) e adequao lingstica

    (adequao e riqueza de vocabulrio e de estruturas gram aticais).O desempenho do candidato avaliadode forma global, ou seja, a

    par tir de um desempenho integrado em todas as tarefas. A obteno de

    um ou de outro certificado est condicionada a esse desempe nho global,

    o que pressupe um desempenho que represente a capacidade do

    candidato e m realizar na lngua alvo as tarefas propostas. U m candidato

    pode te r m ais desenvolvida , p or exem plo, a habilidade de pro duo oral

    do que a de escrita. Nesse caso, mesmo que seu desempenho oral sejacompatvel com o nvel necessrio para a obteno do Certificado

    Avanado, o candidato no o receber se sua compreenso e produoescrita no estiverem harmonicamente desenvolvidas.

    O Ce rtificado Intermedirio (Primeiro Certificado) conferido ao

    candidato que evidencia um domnio operacional parcial da lngua

    portugu esa, demonstrando compreenso e produo de textos ora is e

    escritos de assuntos limitados, em contextos conhecidos e situaes do

    cotidiano; usa estruturas simples da ngua e vocabulrio adequado a

    contextos conhecidos, podendo apresentar imprecises, inadequaes einterferncias da lngua materna tanto na pronncia quanto na escrita.

    Entretanto, tais imprecises e inadequaes no podem comprometer a

    comunicao. Portanto, um candidato que, vivendo em situaes de

    contato mais intenso com a lngua alvo, tem grandes chances de

    desenvolvimento desse potencial.O Certificado Avanado (Segundo Certificado) conferido ao

    candidato que evidencia um domnio operacional amplo da lngua

    portugu esa, dem ons trando compreenso (e produo) de textos orais e

    escritos de assuntos variados em contextos conhecidos e desconhecidos;

    usa estruturas complexas da lngua e vocabulrio adequado, podendoapresentar imprecises e inadequaes ocasionais na comunicao,especialmen te em contextos desconhecidos. Entretanto, tais imprecises

    no podem comprometer a comunicao. O candidato que obtm este

    certificado tem condies de interagir com desenvoltura nas mais variadas

    situaes que exigem dom nio da lngua alvo.A exigncia de um certificado ou de outro uma deciso exclusiva

    da instituio de ensino ou empresa que pretende usar o exame como

    um instrumen to de seleo de seus alunos ou funcionrios e dev er estar

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    condicionada s exigncias ou necessidades de uso da lngua alvo nesses

    contextos.

    Os textos utilizados

    N as provas, pre dominam os textos im pressos e, entre esses, so

    mais freqentes aqueles tecidos por palavras em associao com imagem.A grande maioria dos textos proveniente da mdia, ou seja, de

    per idicos, rdio ou tev e apenas alguns so oriundos de outras fontes

    - pro spectos , correspondnc ia, livros de arte brasileiros. Os textos damdia so provenien tes de emissoras de rdio e de tev e de peridicos

    de circulao nacional e local, comoFolha de S. Paulo, O Globo,Jo rnal

    do Brasil, Zero Hora , Pampulha, Veja, ISTO , poca, Revis ta deDomingo, A manh, Hiato .Tambm h textos originrios de peridicos

    especficos de determinadas reas profissionais e de empresas.Investe-se nesse tipo de seleo pelo fato de serem muitas as

    vantagens de se utilizarem os textos da mdia para instaurar situaescomunicativas. Na atualidade, os meios de comunicao de massa

    constituem poderosos formadores de opinio e atitudes, trazendolinguagens diversas, via texto e/ou imagem da internet, tev, rdio,

    per idicos, e configurando mltiplos discursos .

    A razo do espao ocupado nos exames CELPE-Bras pelos textosproven ientes da m dia, e em particu lar pelos textos jornals ticos da mdia

    impressa, decorre no s do fato de, na atualidade, esse tipo de texto

    fazer parte do quo tidiano de todos, mas tambm de essa modalidade de

    texto vir sendo incorporada, em grande escala, dinmica de ensino de

    lnguas estrangeiras.

    A escolha dos textos que integram as tarefas de exames depro ficincia em lngua estrangeira LE cujo objetivo avaliai; em variadas

    situaes de comunicao, as habilidades de compreenso e produo

    textual de candidatos com perfil muito diversificado, constitui empresa

    bas tante delicada. Ao em preender essa seleo, as bancas elaboradoras

    do exame CELPE-B ras, alm da j rotineira observao das construesgramaticais da superfcie, avaliam criteriosamente a permeabilidade dos

    temas, articulando modalidades e modos de organizao discursiva,

    atentando para o con junto de registros, variedades regionais, discursos,

    imagens veiculadas e, finalmente, exam inando a adequao do material

    158 Rev. B rasileira de Ling stica Aplicada, v.3, n. l, 158-184, 2003

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    Rev. Brasileira de Lingstica Aplicada, v.3, n.l, 159-184, 2003 159

    textual sua funo de implementar as tarefas comunicativas a serem

    p ropostas ao s candid ato s (D e lT Iso la , 1997; Jd ice , 2001b). indispensvel levar em conta todos esses aspectos na escolha dos textos

    que integram um exame de proficincia para a garantia do sucesso daelaborao de diversificadas tarefas de comunicao que o constituem.

    Alm disso, investe-se na clareza da delimitao de um lugar deinterlocuo acessvel a todos os candidatos, qualquer que seja suanacionalidade e seu perfil.

    Quando se invoca a interlocuo preciso ter em men te a natureza

    interativa de tratamento do texto. preciso levar em conta que essa

    interao implica todos os tipos de conhecimento que o leitor utilizadurante a leitura - conhecimentos e crenas sobre o mundo (esquemasde contedo), conhecimentos de diferentes tipos de textos e de suaorganizao e sua estrutura (esquemas formais) e conhecimentos lexicais,

    sintticos, semnticos e pragmticos (esquemas lingsticos).No ca so do CELPE-BRAS, proced er a uma seleo de textos que

    leve em conta esses parmetros tem sido uma preocupao constantedas bancas que elaboraram as tarefas comunicativas das provas realizadas

    entre 1998 e 2001.

    Atualmente possvel investigar-se se essa preocupao doselaboradores do ELPE-BRAS tem se refletido numa escolha de material

    textual sintonizado com a mesma, porque j existe um consistente esignificativo corpusde textos para anlise. Certamente, lanar um olharcrtico para o que se fez at o momento, nesse e em outros campos,

    contribuir para aperfeioar o processo e o produto.:

    O papel da imagem

    As imagens utilizadas no exame C ELPE-BRAS, isoladas - comoem determinados cartuns e fotos - ou associadas a texto - como em

    quadrinhos, em ilustrao de capa de peridico com chamada, e emmontagens tm papel importante na parte individual do exame, naqual funcionam como elementos provocadores da interlocuo entre

    candidato e examinador.No processo de le itura desses textos no verba is, o candidato,

    empregando a lngua-alvo, puxa o fio dos sentidos que capaz de fazerfluir, pouco a pouco, da imagem que se lhe apresenta como texto global,

    imediato e aberto a mltiplas abordagens (Jdice, 2002).

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    160 Rev. Brasileira de Lingstica Aplicada, v.3, n.l, 160-184, 2003

    Com textos no-verbais que, em diferentes perspectivas, trazem

    cena imagens insc r i ta s em contex tos b ras i le i ros , ob je t ivamospro porc ionar aos candidatos oportun idades de verbalizao tpicas de

    situaes variadas e com modo de organizao diverso. No processo de

    leitura de imagens, podem ser ativados os saberes, as habilidades

    adquiridos em experincias prvias escolares e extra-escolares. Com base

    na constatao de que ler um processo que envolve a combinao entrea inform ao textual e a informao que o leitor traz para o texto, espera-

    se que haja uma espcie de dilogo entre texto e leitor. A leitura,

    considerada um processo de comunicao e interao, pressupe troca

    entre lei tor e texto para tornar explcita um a convergncia de significados(Jdice, 1997; Delllsola, 2000, 2001).

    Nas tarefas propo stas , o le itor/produtor de textos no real iza um

    exerccio de transcodificao de imagens - que se impem globalmente

    percep o - em uma sucesso de palavras organizadas em texto verbal;

    no transporta pra um discurso linear - que se desenvolve no tempo - a

    realidade imed iata da imagem observada. Ao compor, no texto oral em

    que interage com o avaliador, sua leitura em funo da tarefa proposta,associando alguns elementos da imagem e apartando-os de outros, o

    candidato vai recortando, rearticulando e reconfigurando, com matria

    lingstica - portanto, de outra natureza - o que na imagem tem fisionomia

    e textura prprias.

    N o exerccio de le itura de textos verba is e de im agens do Brasil, os

    candidatos do CELPE-BRAS articulam informao, na construo deuma concepo do contexto em que interagem na lngua-alvo. No contato

    com os textos que integram o exame, o conhecimento da realidade

    brasile ira neles configu rada vai sendo tecido ponto a ponto, e alinhavados suas experincias prvias (Jdice, 2001, 2002)

    O crescente interesse pelo exame

    cada vez maior a demanda tanto pelo exame quanto pelocredenciamento de instituies que se interessam em ser centro de

    aplicao do CELPE-Bras. Desde 1999, o CELPE-Bras exigido pelas

    universidades brasileiras para ingresso em cursos de graduao e emp rogram as de ps-graduao e p a ra validao de d ip lom as de

    profiss ionais es trangeiros que pre tendem atuar em sua rea de fo rm ao

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    no Brasil. Tam bm algumas entidades de classe j esto estudando sua

    exignc ia para inscrio profissional. O Conselho Federal de M edicina(CFM), por exemplo, j exige o certificado dos mdicos estrangeiros

    como requisito para inscrio nos Conselhos Regionais de Medicina(CRM).

    A prim eira aplicao do exame aconteceu no ano de 1998, em cinco

    universidades pblicas brasileiras situadas no Distrito Federal e nos

    estados do Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e So Paulo

    e, em trs instituies da Amrica do Sul, localizadas na Argentina, no

    Uruguai e no Paraguai. Dos 141 candidatos inscritos, 125 participaram

    e foram examinados.No ano de 1999, houve duas ap licaes, sendo que, nesse ano, o

    nmero de centros aplicadores passou de 5 para 15 instituies brasileiras

    (no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Minas Gerais, So Paulo,Paraba, Paran, Pernambuco, R io de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa

    Catarina) e de 3 para 18 instituies no exterior (Alemanha, Argentina,

    Bolvia, Chile, Colmbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guiana,

    Mxico, Nambia, Nicargua, Panam, Paraguai, Peru, Suriname,

    Uruguai, Venezuela). O nmero de inscritos na segunda aplicao do

    exame foi de 273 e na terceira aplicao, de 430 candidatos.Em 2000, houve uma aplicao, com 1178 inscritos (227 no Brasil

    e 951 no exterior), em 2001, inscreveram-se para as duas aplicaes do

    exame um total de 1362 candidatos (360 no Brasil e 1002 no exterior) e,

    em 2002 , o total de inscritos apenas para primeira aplicao foi de 1024

    (335 no Brasil e 689 no exterior). A segunda aplicao acontecer emoutubro de 2002.

    O efeito retroativo esperado

    O que se observa em geral, tanto no Brasil como no exterior, um

    ensino de portugus ainda centrado na forma, um ensino da gramticapela g ram tica: ensin am -se regras e trabalham -se exercc io s demanipulao de formas, sem a mnima preocupao com o uso da

    linguagem com propsito social, como uma ao conjunta entre

    participantes que ex ige a coordenao de aes individuais.Uma das justificativas para a implementao do CELPE-B ras foi o

    efe i to potencia l que esse exame poderia ter como ins trumento

    Rev. B rasileira de Ling stica Aplicada, v.3, n. l, 161-184, 2003 161

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    redirecionador do ensino de PLE no Brasil e no exterior, sinalizando

    no apenas a importncia em se estudar portu gu s mas, principalm ente,como deveria ser essa proficincia (Scaramucci, 2000), que aspectos

    deveriam ser considerados ou que hab ilidades, competncias e con ted os

    so importantes para o candidato fazer frente s situaes de uso da

    lngua. O exame, dessa forma, forn ece ria aos candidatos, institu i es e

    pro fe sso re s re sp onsv eis pela preparao de candidato s elem entos e

    informaes sobre o contedo e objetivos que devem ser priorizados

    nesse ensino, ressaltando, principalmente, a nece ssidade de reve rem sua

    abordagem, sua viso de linguagem e de apr end er lnguas, ou, em outra spalavra s, seu conceito de pro ficincia.

    O que se espera com um exam e dessa natureza, portan to, so

    candidatos com um perfil diferenciado, que poss am atender s dem and as

    que lhes so impostas. Desta forma, o que se almeja , antes de mais

    nada, fazer com que esse exame seja um mecanismo para introduzir

    mudanas a mdio prazo no ensino de po rtug us no Brasil e no ex terior,

    contando com o que tem sido denom inado na literatura de efeito retroativo

    ('washbackou backwash) da avaliao no ensino (vide Scaram ucci 1999

    a, 1999b e 1995, para um aprofundamento do conceito).Estudos recentes sobre o conceito, entretanto, tm nos mostrado

    no ser esse efeito determinista - um bom exame ter sempre um efeito

    positivo e um mau em efeito negativo salienta ndo a importncia de se

    considerar juntamente com a qualidade do exame, as informaes

    disponibilizadas pelos seus responsveis e, principalmente, o contexto

    onde implementado, incluindo a formao do professor. Todos tm

    apontado para a necessidade de se considerar o professor, com suas

    crenas, formao e experincias na interpretao das inov aes

    pro postas pelo exam e, re jeitando a viso ante rior de neu tralidade do

    pro fe ssor na aplicao de propostas.

    Se o professor no tiver uma form ao adequada, alinhada com as

    tendncias contemporneas, ter dificuldades em entender a natureza e

    as caractersticas das inovaes propostas, condio fundamental para

    que venham a ser efetivamente implem entadas na preparao dos alunos,

    e um efeito retroativo benfico ocorrer. Nesse caso, por melhor que seja

    o exame, seu efeito retroativo vai ser limitado.

    162 Rev. Brasi le i ra de L ing st ic a Apl icada , v .3 , n . l , 162 -184 , 2003

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    Rev. Brasileira de Lingstica Aplicada, v.3, n.l, 163-184, 2003

    Uma palavra finai

    163

    Esse o perfil do CELPE-Bras, institudo pela Secretaria de

    Educao Superior (SESu) do MEC. Pelo exposto, trata-se de uma

    proposta inovadora, pela natu re za do exame, por suas ca ractersticas

    relativas aos objetivos, ao form ato e seleo de textos. Est em estudo

    a necessidade de se ampliar os nveis de certificado inserindo-se o NvelSuperior. lm disso, h pesquisas em andam ento que visam avaliao

    do exame em si, da qualidade de sua aplicao e do efeito retroativo do

    CELPE-Bras no ensino de PLE no Brasil e 110 exterior. Certamente, 0crescente nmero de profissionais interessados na rea de lingstica

    aplicada ao ensino de PLE muito contribuir para 0aprimoramento dosestudos e das discusses sobre este e de outros exames de proficinciaem lngua portuguesa.

    Referncias bibliogrficas

    DELL ISOLA, Regina. Portugus para estrangeiros: do texto ao texto.

    In: III Sem inrio da Sociedade Internacional de Portugus LE. Anais ...Niteri: Ed.UFF, 1997, v. 1, n. 3, p. 33-39.

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