a audiência potente e as novas relações do jornalismo

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 596 Artigo recebido em 27/06/2014 Aprovado em 18/09/2014 GIOVANA BORGES MESQUITA Universidade Federal de Pernambuco. giovanamesquita@yahoo. com.br Doutora em Comunicação  pela Universidade Federal de Pernambuco, com estágio doutoral na Universidade Pompeu Fabra de Barcelona. Pesquisadora do  Núcleo de Jornalismo e Contemporaneidade da UFPE. ALFREDO EURICO VIZEU PEREIRA JÚNIOR Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Doutor em Comunicação  pela Universidade Federal do Rio de Janeiro,  professor do departamento de Comunicação da UFPE. Pesquisador do  Núcleo de Jornalismo e Contemporaneidade da UFPE Giovana Borges Mesquita e Alfredo Eurico Pereira Júnior Resumo A audiência tem sido um grande enigma para o jornalismo. Para quem escrevemos? Que assuntos interessam aos nossos leitores, telespectadores, ouvintes, internautas? Neste artigo, lançamos a hipótese da audiência potente - um novo agente que se envolve ou é envolvido nos processos, nas práticas e nas rotinas jornalísticas, possuindo c apacidade de propagação da inormação, não necessariamente notícia; capacidade de ação, proporcionada pelo seu acesso aos meios de produção e divulgação de conteúdos; e capacidade de transormação, na medida em que muda sua orma de ação e de comportamento ao longo do tempo, de- pendendo de condições culturais, econômicas, sociais, tecnológicas, dentre outras. A pre- ocupação central do artigo é buscar compr eender como as audiências são envolvidas e que mudanças têm provocado na produção das notícias no jornalismo, após o que se denomina WEB 2.0, uma ase no desenvolvimento da World Wide Web que avorece e promove a participação dos usuários. Palavras-chave  Jornalismo ; Audiência;  Aud iência P otent e. Abstract Audience has been a great enigma or journalism. o whom we write ? What subjects in- terest our readers, viewers, listeners, internauts? In this article we propose the  poten t au- dience hypothesis – a new agent that either involves itsel or is involved in the journalis- tic processes, practices and routines. It is dened as having capacity or inormation (not necessarily news) spreading and propagation; capacity or action, allowed by its access to conten t production and dissemination; and capacity or transormation, since it changes its action and behavior orms through time, depending on several conditions such as cultural, economical, social and technological ones. Te main concern o this article is to understand the ways in w hich audience is involved and the changing it has induced i n journalism news production afer the upcoming o WEB 2.0, a stage in the development o the World Wide Web, which avors and promotes users participation. Keywords Journalism; Audience; Potent Audience A audiência potente e as novas relações no jornalismo DOI: http://dx.doi.or g/10.5007/198 4-6924.2014v1 1n2p596 Estudos em Jornalismo e Mídia Vol. 11 Nº 2 Julho a Dezembro de 2014 ISSNe 1984-6924

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A audiência tem sido um grande enigma para o jornalismo. Para quem escrevemos? Queassuntos interessam aos nossos leitores, telespectadores, ouvintes, internautas? Neste artigo,lançamos a hipótese da audiência potente - um novo agente que se envolve ou é envolvidonos processos, nas práticas e nas rotinas jornalísticas, possuindo capacidade de propagaçãoda informação, não necessariamente notícia; capacidade de ação, proporcionada pelo seuacesso aos meios de produção e divulgação de conteúdos; e capacidade de transformação,na medida em que muda sua forma de ação e de comportamento ao longo do tempo, dependendode condições culturais, econômicas, sociais, tecnológicas, dentre outras. A preocupaçãocentral do artigo é buscar compreender como as audiências são envolvidas e quemudanças têm provocado na produção das notícias no jornalismo, após o que se denominaWEB 2.0, uma fase no desenvolvimento da World Wide Web que favorece e promove aparticipação dos usuários.

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    Artigo recebido em 27/06/2014

    Aprovado em 18/09/2014

    GIOVANA BORGES MESQUITA

    Universidade Federal de Pernambuco.

    [email protected]

    Doutora em Comunicao pela Universidade

    Federal de Pernambuco, com estgio doutoral na

    Universidade Pompeu Fabra de Barcelona.

    Pesquisadora do Ncleo de Jornalismo e Contemporaneidade da

    UFPE.

    ALFREDO EURICO VIZEU PEREIRA JNIORUniversidade Federal de

    [email protected]

    Doutor em Comunicao pela Universidade Federal

    do Rio de Janeiro, professor do departamento

    de Comunicao da UFPE. Pesquisador do

    Ncleo de Jornalismo e Contemporaneidade da

    UFPE

    Giovana Borges Mesquita e Alfredo Eurico Pereira Jnior

    ResumoA audincia tem sido um grande enigma para o jornalismo. Para quem escrevemos? Que assuntos interessam aos nossos leitores, telespectadores, ouvintes, internautas? Neste artigo, lanamos a hiptese daaudincia potente - um novo agente que se envolve ou envolvido nos processos, nas prticas e nas rotinas jornalsticas, possuindo capacidade de propagao da informao, no necessariamente notcia; capacidade de ao, proporcionada pelo seu acesso aos meios de produo e divulgao de contedos; e capacidade de transformao, na medida em que muda sua forma de ao e de comportamento ao longo do tempo, de-pendendo de condies culturais, econmicas, sociais, tecnolgicas, dentre outras. A pre-ocupao central do artigo buscar compreender como as audincias so envolvidas e que mudanas tm provocado na produo das notcias no jornalismo, aps o que se denomina WEB 2.0, uma fase no desenvolvimento da World Wide Web que favorece e promove a participao dos usurios.

    Palavras-chaveJornalismo; Audincia;Audincia Potente.

    Abstract Audience has been a great enigma for journalism. To whom we write ? What subjects in-terest our readers, viewers, listeners, internauts? In this article we propose thepotent au-diencehypothesis a new agent that either involves itself or is involved in the journalis-tic processes, practices and routines. It is defi ned as having capacity for information (not necessarily news) spreading and propagation; capacity for action, allowed by its access to content production and dissemination; and capacity for transformation, since it changes its action and behavior forms through time, depending on several conditions such as cultural, economical, social and technological ones. Th e main concern of this article is to understand the ways in which audience is involved and the changing it has induced in journalism news production aft er the upcoming of WEB 2.0, a stage in the development of the World Wide Web, which favors and promotes users participation.

    KeywordsJournalism; Audience;Potent Audience

    A audincia potente e as novas relaes no jornalismo

    DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-6924.2014v11n2p596

    Estudos em Jornalismo e Mdia

    Vol. 11 N 2 Julho a Dezembro de

    2014 ISSNe 1984-6924

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    A audincia tem sido um grande enigma para o Jornalismo. Para quem escrevemos? Que assun-tos interessam aos nos-sos leitores, telespectadores, ouvintes, in-ternautas? Diversos autores do campo da comunicao e, especialmente, do campo do Jornalismo tm se debruado sobre essa questo. Com a possibilidade de aces-so a Internet e as novas tecnologias a audi-ncia, que nunca foi passiva, passa a assu-mir um papel em que tem a possibilidade de ser voz nesse dilogo com os meios de comunicao. O novo cenrio oferece ao jornalista, no apenas uma audincia pre-sumida1 (Vizeu, 2005), mas, mais do que isso comea a dar pistas do que pensa e do que quer a audincia e do seu comporta-mento.

    Ao nos referimos audincia estamos falando de homens e mulheres que de al-guma forma estabelecem uma relao ativa com os veculos de comunicao de massa. importante deixar claro que o conceito de audincia, neste artigo no est atrela-do s medies quantitativas usadas com finalidade comercial para posterior ven-da de espao publicitrio nos programas televisivos. Tambm entendemos, como muitos autores do campo da comunicao, superada a ideia da mdia que funciona como emissor e de uma audincia passiva e amorfa, que recebe a informao.

    As novas relaes so mais do que a ressignificao de contedos pela audin-cia. As audincias potencializam a parti-cipao, que para ns significa, no s a possibilidade de coproduo de contedo, como tambm, a amplificao de vozes das pessoas comuns, que por outros meios (por exemplo, as redes sociais) tentam no-vas relaes com os veculos de referncia.

    O artigo teve a preocupao central de compreender como as audincias so en-volvidas e que mudanas tm provocado na produo das notcias em veculos de referncia, aps o que se denomina WEB 2.0, uma fase no desenvolvimento da World Wide Web que favorece e promove a participao dos usurios.

    Lanamos a hiptese de que h uma audincia potente, um novo agente que se envolve ou envolvido nos processos, nas prticas e nas rotinas jornalsticas, possuindo capacidade de propagao da informao, no necessariamente not-cia; capacidade de ao, possibilitada pelo acesso aos meios de produo e capacida-de de transformao, na medida em que muda sua forma de ao e de comporta-mento ao longo do tempo, dependendo de condies culturais, econmicas, sociais, tecnolgicas, dentre outras.

    A audincia potente no s ressignifica as mensagens que recebe, nem atua apenas enviando contedos, por meio de vdeos, udios, fotografias, ou sugesto de pau-ta para a mdia, ou seja, uma relao no sentido de coproduo de notcias - onde a audincia ocupa cada vez mais espao de interveno para a democratizao da in-formao (Vizeu & Mesquita 2011).

    Com as redes sociais, a audincia passa a agir num dilogo onde manifesta seu in-teresse sobre assuntos que gostaria de ver enfocados na mdia e pressiona os vecu-los, quando entende que houve omisso de determinado assunto ou at mesmo uma cobertura inapropriada. Nessa possibilida-de de interao com os veculos de massa possibilitada, por exemplo, por redes so-ciais como o Facebook e Twitter, essa au-dincia potente se manifesta de diferentes formas.

    1- Na conceitua-o de Audincia Presumida, Vizeu( 2002) afirma que os jornalistas con-stroem antecipada-mente a audincia a partir da cultura profissional, da or-ganizao e do tra-balho, dos processos produtivos, dos cdi-gos particulares (as regras da redao), da lngua e das re-gras dos campos das linguagens para, no trabalho de enuncia-o, produzirem dis-cursos. E o trabalho que os profissionais do jornalismo re-alizam, ao operar sobre os vrios dis-cursos, resulta em construes que, no jargo jornalstico, podem ser chamadas de notcias.

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    Percurso metodolgicoPara realizar a pesquisa, acompanha-

    mos as atividades do Dirio de Pernam-buco, o jornal mais antigo em circulao na Amrica Latina, fundado em 1825, se-diado no Recife, Pernambuco; e do lavan-guardia.com, edio digital do dirio La Vanguardia, o mais importante jornal de Barcelona, segundo da Espanha, depois do El Pas, e o oitavo dirio digital em espa-nhol de maior audincia do mundo. Dois jornais que so pioneiros em suas cidades, no s na abertura de espaos ditos cola-borativos ou participativos, como tambm na criao de novas editorias, como a de Mdias Sociais (Diario de Pernambuco) e a de Redes Sociais (La Vanguardia), com o objetivo de envolver a audincia na cons-truo da notcia.

    A nossa preocupao foi observar e des-crever as rotinas dos editores e reprteres que trabalham em espaos identificados como de participao da audincia e nas recm surgidas editorias de Redes Sociais e de Mdias Sociais das empresas objetos de nosso estudo. Procuramos compreen-der como os veculos de referncia incor-poram os contedos advindos da audin-cia potente sua produo.

    Seguindo Casetti & Chio (1999), que entendem que necessrio o analista ob-servar a realidade ao vivo, para no cor-rer o risco de ter dados contaminados por mediaes, viabilizamos uma permann-cia de duas semanas, em cada uma das redaes para ver, em detalhes, como os jornalistas se envolvem com a audincia na produo dos dirios. Assim, escolhe-mos uma abordagem etnogrfica para a realizao da pesquisa de campo, na forma de uma observao participante, que pos-sibilita reunir e obter sistematicamente os dados e as informaes sobre as rotinas de

    produo que acontecem nos media, como observa Wolf (1994, p.167):

    Os dados so recolhidos pelo inves-tigador presente no ambiente que o objeto de estudo, quer pela obser-vao sistemtica de tudo o que a acontece, quer atravs de conversas, mais ou menos informais e ocasio-nais, ou verdadeiras entrevistas com pessoas que pem em prtica os pro-cessos produtivos.

    Como parte da observao, realizamos

    tambm entrevistas em profundidade com os jornalistas envolvidos na pesquisa (edi-tores de Participao e de Mdias Sociais, alm de reprteres). Segundo M. Bauer & G. Gaskell (2002), a entrevista qualitativa fornece os dados bsicos para o desenvol-vimento e compreenso das relaes so-ciais entre os atores sociais e sua situao.

    Entendamos que a abertura de canais ditos colaborativos ou participativos, bem como a utilizao do material produzi-do pela audincia, em alguns momentos como complementar ao trabalho da reda-o, no esgotavam a relao audincia--jornalismo. A mudana na produo da notcia surge a partir das novas relaes que os veculos passam a estabelecer com a audincia, mediada pelas redes sociais (Twitter e Facebook).

    Com acesso, habilidade de uso dos dis-positivos tecnolgicos, conectividade e a possibilidade de interatividade, a audi-ncia potente passa a ter a possibilidade, no s de ressignificar as mensagens que recebe, como tambm de se envolver com os veculos de comunicao das mais di-versas formas. A capacidade de propaga-o dessa audincia potente tem levado o jornalista, no s a incorporar esses con-tedos que esto nessas redes conversa-cionais, mas a movimentar ou ativar essas

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    redes para ter os olhares desse novo agente, que no necessariamente uma fonte institucionalizada do jornalismo. Adghirni (2012, p.66) diz que trata-se de uma situao de interatividade e de refle-xividade indita na histria, que obriga os produtores de contedos a ajustarem ra-pidamente sua produo para os leitores e para os concorrentes.

    Audincia no jornalismoMesmo que de uma forma idealizada,

    sempre houve uma relao da audincia com o jornalismo, mas como ressalta Ma-dureira (2010, p. 42), essa relao manti-nha jornalista e audincia em suas fun-es originais o primeiro com absoluto controle sobre o que ser ou no publica-do, o segundo em uma postura meramente reativa ao trabalho do jornalista.

    A audincia com acesso a espaos cola-borativos, e que atualmente tenta intervir na produo de contedos miditicos, um prolongamento da relao fonte-jor-nalista, que comeou a mudar nos primr-dios da dcada de 1970, segundo observa Ruellan (2006, p.33):

    Se a rua perde a vez para um jor-nalismo de tipo mais esttico, imo-bilista, essa evoluo decorrente da transformao da relao com as fontes e do espao que estas ocupam no continuum da produo infor-mativa. Para se informar, o jornalista mobiliza redes de relacionamentos que lhe permitem entrar em contato, diretamente ou via agncias, com o discurso que os atores sociais produ-zem sobre a realidade. Esse relacio-namento, sem o qual o trabalho de apurao de informaes no exis-tiria, induz a uma interdependncia complexa.

    Em parte, as mdias dependem desse fornecimento espontneo de informaes pelas organizaes (mu nicipais, sindicais,

    associativas, comerciais...). Um estado de dependncia que leva os profissionais da informao a no entrar em conflito com as fontes, em particular as mais importan-tes sob o ponto de vista do fornecimento de infor mao (Ruellan,2006). H ainda a expectativa de atores sociais (movimen-tos sindicais, por exemplo) que desejam no apenas a veiculao de seus discursos (aes e pontos-de-vista), como tambm, principalmente, sua legitimao por meio de sua incorporao aos pro psitos jor-nalsticos. Essas situaes, para Ruellan (2006), no colocam jornalistas e fontes em campos opostos, e, sim, numa conver-gncia de interesses. Os pri meiros necessi-tam da informao, oficial e oficiosa, que os outros tm a ambio de ver veiculada por meio de um discurso externo.

    Ruellan (2006) lembra que essa inter-dependncia jornalista/fonte es trutural, mas a profissionalizao de certos atores nessa relao recente, e parece trans-formar as trocas entre fontes e difusores de informao. Passo a passo, a partir da dcada de 1970, as organizaes foram se munindo de servi os e ferramentas volta-das para a relao com o pblico e com a mdia.

    Duas dcadas depois, com o avano das mdias digitais, as fontes potencializaram ainda mais essa produo de contedos, utilizando, muitas vezes, o mesmo discur-so jornalstico e as ferramentas que fazem com que aquele contedo ganhe visibili-dade miditica. Chaparro (2009) diz que houve uma revoluo das fontes, ou seja, homens e mulheres comeam a deixar de serem receptores passivos da televiso, do rdio e dos jornais para interferirem e participarem de uma forma mais efeti-va no processo de produo de contedos para as mdias. Chaparro (2009, p.7) des-

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    taca que (...) as fontes, antigamente passi-vas, se transformaram em instituies de-liberadamente produtoras de contedos, por meio de fatos e falas noticiveis.

    Mas no s com as fontes oficiais e aque-las que cada vez mais se profissionalizam o jornalismo vem estabelecendo relao. Com a facilidade de acesso as chamadas novas Tecnologias da Informao (TICs), o cidado comum, por vezes excludo do debate pblico articulado pelo jornalismo, comeou a intervir no processo de produ-o de contedos para as mdias, dispu-tando visibilidade miditica com as fontes oficiais, que alimentam a pauta jornalsti-ca.

    Historicamente, o acesso privilegiado pauta jornalstica vem sendo usufru-do pelas fontes oficiais. As demais fontes - movimentos sociais e o cidado comum de uma maneira geral - que se encontram na periferia da estrutura de poder sofrem, quase sempre, uma excluso sistemtica do debate pblico articulado pelo jornalismo. Essa excluso compromete a representati-vidade e a legitimidade da representao simblica que constri a realidade.

    Uma audincia interativaAps essa experincia inicial de envolver

    as audincias na rotina jornalstica, ainda no final da dcada de 1990, foram toman-do forma as ideias de incluir a colaborao dos cidados, e a de informar sobre temas que os meios tradicionais ignoram. Enten-dia-se que era uma nova forma de fazer jornalismo, realizada por no profissionais e contraposta ao jornalismo tradicional e analgico, feito por jornalistas. Surgia a denominao: Jornalismo Cidado.

    Espiritusanto & Rodrguez (2011) con-sideram que o movimento Indymedia, The Independent Media Center, deu os

    primeiros passos, nos idos de 1999, para o que se denomina Jornalismo Cidado. Criado inicialmente como uma rede de jornalistas que se dedicava a informar so-bre contedos polticos ou sociais, o Indy-media se particularizou ao abrir espao, em novembro de 1999, para a participao da audincia durante os protestos contra a reunio do Frum da Organizao Mun-dial de Comrcio (OMC), em Seattle, Wa-shington. A proposta era de atuar como um meio alternativo, que documentasse todos os acontecimentos. Aps esse pri-meiro momento, o Indymedia experimen-tou um crescimento vertiginoso, chegando a ter, no ano de 2006, sites em 150 pases, e publicando informao em ingls, espa-nhol, alemo, italiano, portugus, francs, russo, rabe e hebreu.

    Dentro de uma lgica colaborativa, a audincia foi sendo envolvida de dife-rentes formas, em diferentes sites, como: o Slashdot.org (http://slashdot.org), que permite a participao de mltiplas vo-zes, ao mesmo tempo em que prev um filtro til para a discusso (Bowman & Willis 2005); o DIGG (http://www.digg.com), que posiciona os assuntos mais vo-tados, sejam da mdia tradicional ou no, em destaque na pgina principal, permi-tindo ainda que se publiquem histrias dos usurios; e o famoso OhMyNews (http://www. ohmynews.com), fundado em 2000, aberto a participao dos que convencio-naram chamar de amadores.

    No Brasil, os principais portais de not-cias lanaram, durante os anos 2000, o que consideravam iniciativas de colaborao, entre elas o Minha Notcia, no IG (http://minhanoticia.ig.com.br); o Voc no G1, na Globo.com(http://g1.globo.com.br/vc-no-g1) e o Voc Reprter, no Terra (http://noticias.terra.com.br/vcreporter).

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    Seguindo o caminho dos portais, muitos jornais aproveitaram o espao na Web para criar canais de colaborao, como o caso do Zero Hora, do Estado, de O Globo, do Jornal do Brasil, de O Dia e dos pernam-bucanos Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio.

    Chilln (2010) considera que o Jorna-lismo Cidado, como reclamao de um novo jornalismo que transforma radical-mente as estruturas dos meios de comu-nicao para faz-las mais democrticas e descentralizadas, comea a ter cobertura terica a partir da obra de Dan Gilmor, We The media: Gransroots Journalism by the people, for the people. Acreditando na possibilidade de todo mundo produzir no-tcia, Gillmor (2005) antecipou a emergn-cia do cidado-reprter. Embora tambm no seja consenso, h um reconhecimento de que as reportagens de crises, consoli-dadas pelas imediatas consequncias do Tsunami no Sul da sia, em dezembro de 2004, tenham sido um momento decisivo, como observa Allan (2009), para o termo Jornalismo Cidado figurar proeminente-mente no mundo jornalstico. Allan (2009, p. 18) acrescenta:

    A quantidade notvel de filmagem de vdeo amador, fotos instantneas de celular muitas das quais foram postadas em blogs e pginas pessoais sendo feitas por cidados comuns que estavam no momento (turistas, em muitos casos) foi largamente re-conhecida como uma contribuio nica para a cobertura do jornalis-mo de massa.

    Anos aps o Tsunami, a produo do cidado-reprter tinha conseguido seu lu-gar no meio jornalstico, estando frequen-temente associada a eventos especficos de crise. A atuao dessa audincia passou a ser descrita de vrias maneiras: Jornalis-

    mo Popular, Jornalismo de Cdigo Aber-to, Jornalismo Participativo, Jornalismo Super Local, Jornalismo de Rede, entre outros termos. Mas, como refora Allan (2009), mesmo com vrias descries e controvrsias, um fato no deixa dvida: essa nova forma de produo de conte-dos para os media estava remodelando os protocolos e as prioridades da reportagem de crise.

    Para Bowman & Willis (2005, p.9), o papel da audincia ativo en el proceso de colectar, reportar, analizar y diseminar informacin. La intencin de esta partici-pacin es suministrar la informacin in-dependiente, confiable, exacta, de amplio rasgo y relevante, que una democracia re-quiere.

    Essa cultura participativa, que parece trazer modificaes importantes para o jornalismo, para Anderson (2006), movi-da por trs foras de acelerao. A primei-ra a democratizao das ferramentas de produo - que resultou num grande n-mero de contedos diariamente postados em redes sociais, por qualquer pessoa com acesso a um computador ou a um disposi-tivo mvel, conexo com a Internet para a publicizao, e a habilidade para usar al-guma das muitas redes sociais. A segunda fora a reduo dos custos do consumo pela democratizao da distribuio. O fato de qualquer um ser capaz de produzir contedo s significativo se outros pu-derem desfrut-lo. O computador pesso-al (PC) transformou todas as pessoas em produtores e editores, mas foi a Internet que converteu todo mundo em distribui-dores (Anderson, 2006, p. 55). Por fim, a ltima fora a ligao, cada vez mais prxima, entre oferta e demanda. Os con-sumidores acabam por descobrir que em conjunto, suas preferncias so muito mais

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    diversificadas do que sugerem os planos de marketing (Anderson, 2006, p. 55).

    A difuso dos Weblogs foi um dos pri-meiros sintomas de que algo estava mu-dando, porque, at ento, na primeira dcada de desenvolvimento da Web, a distncia entre o autor e o leitor era quase similar a do livro impresso. Ao final dos anos 90, essas pginas pessoais comea-ram a incorporar um espao que permitia

    a seus leitores agregar comentrios aos ar-tigos, e uma srie de dispositivos que faci-litavam a publicao de posts escritos por seus criadores. Em 1998, eram vrios estes stios chamados Weblogs, ou simplesmen-te blogs, denominao dada por Jon Bar-ger, em 1997 (Scolari, 2008).

    A exploso dos Weblogs foi gerando diferentes descendncias de blogs, dos es-tritamente pessoais at aqueles informa-tivos, inspirados na imprensa tradicional. O Twitter, ao permitir o envio de breves contedos ao longo do dia e a formao de comunidades de leitores (followers), levou a prtica do blogging a um nvel microtex-tual.

    Olhando para esse fenmeno, Gillmor (2005) assegura que estamos assistindo ao casamento entre a lgica do cdigo aberto e da produo informativa (open sourcing the news), que um processo indito na histria dos meios, onde as fontes tendem

    a multiplicar-se e numerosas vozes se cru-zam no ciberespao.

    Scolari (2008) sustenta que estamos na presena de um ecossistema, onde a apa-rio de novas espcies - as tecnologias colaborativas modifica o entorno ao en-trar em relao com as entidades que j o habitam (por exemplo, as tecnologias do broadcasting). No entanto, as novas tecno-logias no desprezam as anteriores, nem, como observa Scolari (2008, p. 201), se suceden linealmente en una cuenta regre-siva hacia el paraso digital, sino que trans-forman el ecossistema al interactuar entre si y dar lugar a nuevas configuraciones.

    Wolton (1999) que, igualmente a Scola-ri (2008), no v as modalidades miditi-cas (mdias de oferta, caracterizadas pelos meios tradicionais e mdias de demanda, caracterizadas pelas Novas Tecnologias de Comunicao) como pontos ascendentes numa escala progressiva e evolucionria, mas como complementares, atenta para a capacidade das Novas Tecnologias de Comunicao no que se refere oferta de informao e de bancos de dados, mas en-fatiza que esse aglomerado de informao requer processos profissionais de filtra-gem, triagem e priorizao. Wolton (1999, p. 85) explica:

    Comunicao direta, sem media-es, como uma mera performance tcnica. Isso apela para sonhos de li-berdade individual, mas ilusrio. A Rede pode dar acesso a uma massa de informaes, mas ningum um cidado do mundo, querendo saber tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais informao h, maior a necessidade de intermedirios - jornalistas, arquivistas, editores, etc - que filtrem, organizem, priorizem. Ningum quer assumir o papel de editor-chefe a cada manh. A igual-dade de acesso informao no cria igualdade de uso da informao.

    1- Setor denomi-nado AE Mdia

    da Agncia Estado (Esta pesquisa no

    inclui os procedi-mentos da Broad-

    cast).

    Jornais seguem ocaminho dos portais e criam canais de colaborao com internautas

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    Confundir uma coisa com a outra tecno-ideologia.

    Deuze (2009) chama a ateno para o fato de que a audincia, no que se deno-mina Jornalismo Cidado, est presente no contexto de um esvaziamento de cria-tividade ou, em outras palavras, de um esvaziamento do trabalho assalariado, tra-balho de notcia na direo de voluntrios no pagos - e de se interpelarem os men-cionados consumidores-cidados como colegas-cidados, sem necessariamente investirem em treinamento, monitorao ou arranjos de proteo.

    J Daz-Noci (2010) ressalta que a in-corporao dos usurios como autores um fenmeno que ainda deve ser contem-plado em sua verdadeira dimenso, sem cair no determinismo ou no otimismo no justificado. Ele considera que do ponto de vista econmico, os meios digitais, sobre-tudo os dirios, oferecem como valor agre-gado os mecanismos de participao (e de fidelizao).

    As novas relaes no jornalismo: a audincia potente

    Denominamos audincia potente esse novo agente que se envolve ou envolvido nos processos, prticas e rotinas jornalsti-cas possuindo: capacidade de propagao da informao, no necessariamente not-cia; capacidade de ao, possibilitada pelo acesso aos meios de produo; capacida-de de transformao, na medida em que muda sua forma de ao e de comporta-mento ao longo do tempo, dependendo de condies culturais, econmicas, sociais, tecnolgicas, dentre outras; e capacidade de amplificao, na medida em que ressig-nifica o contedo, por meio de comentri-os, opinies e novos olhares sobre o assun-

    to, reverberando-o nas redes. Essa ltima capacidade pode servir como norteador do que querem e do que pensam esses ci-dados e cidads que se envolvem com os meios de comunicao.

    Com a emergncia da audincia poten-te, a escolha do que notcia no s feita de uma forma presumida, uma vez que ela fornece indicativos de interesses, que vm sendo apropriados pelo jornalismo na construo da notcia.

    No conceito de audincia potente consi-deramos dois entendimentos de potncia. O primeiro no sentido Aristotlico, segun-do o qual potncia seria o que no existe realmente num determinado momento, ou no est sendo realizado naquele mo-mento, mas pode vir a existir ou vir a ser realizado (em ato). O segundo no sentido das Cincias Naturais, que estabelece o conceito de potncia como trabalho rea-lizado, num dado perodo de tempo. As-sim, se um mesmo trabalho realizado em um tempo menor houve um uso maior de potncia. Tempo (velocidade) um fator fundamental no conceito de potncia para as Cincias Naturais.

    Escolhemos, neste contexto a palavra ca-pacidade para unir os dois entendimentos de potncia (o Aristotlico e o das Cin-cias Naturais). Portanto, capacidade pode ser uma forma do vir a ser da audincia, aquilo que ela tem em potncia e que pode realizar em ato. E por outro lado, capaci-dade pode significar o trabalho que a audi-ncia realiza, mas com um sentido sempre presente de velocidade em sua realizao. Assim, por exemplo, se uma parte da au-dincia decide utilizar sua capacidade de propagao de uma determinada notcia, ento, ela propagadora da notcia em ato (sentido aristotlico), mas ao mesmo tem-po ela realizou um trabalho de propagar

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    essa notcia para centenas de milhares de pessoas, em pouqussimo tempo (segundo entendimento de potncia).

    A capacidade de transformao se d quando a audincia muda sua forma de ao e seu comportamento ao longo do tempo. Ou seja, as caractersticas e a po-tncia da audincia de 50 anos atrs no so as mesmas de hoje. importante res-saltar que a audincia pode sempre usar uma ou mais de uma das suas capacidades. Uma hora a audincia pode ser reativa, ou-tra hora pode ser amplificadora, ou mes-mo a combinao de todas essas caracte-rsticas. No entanto, a audincia potente pode modificar ao longo do tempo as suas caractersticas e capacidades dependendo de condies culturais, econmicas, so-ciais, tecnolgicas, dentre outras.

    Essa capacidade de transformao pode ser observada tambm na atuao da audi-ncia potente, quando ela traz novos agen-tes para o universo miditico, num embate para que outros olhares sejam veiculados pelos meios de comunicao de refern-cia. Dito de outra forma, a audincia po-tente vem modificando no s a pauta dos jornais, rdios e emissoras de televiso colocando na esfera miditica novos as-suntos, quebrando a hegemonia das vozes institucionalizadas que so fontes para o jornalismo, e alterando alguns valores-no-tcia , como tambm as relaes veculos--consumidores da informao.

    Mas toda essa mudana que a audincia potente vem produzindo na relao com os veculos de comunicao s vultuosa por trs aspectos que consideramos em nossa conceituao de audincia potente: a capa-cidade de propagao da informao, no necessariamente notcia; a capacidade de ao, possibilitada pelo acesso aos meios de produo e a capacidade de amplifica-

    o.Com a Internet, os novos dispositivos

    tecnolgicos (celulares, tablets) e as redes sociais, a audincia potente consegue pro-pagar um maior nmero de informaes num menor espao de tempo, sem que emita nenhum juzo de valor sobre aquela informao. O que antes poderia significar anos, agora depende de um click na tecla enviar de um computador ou qualquer dispositivo mvel conectado a Internet.

    Para tentar exemplificar nossa constru-o, aproximamo-nos da definio de po-tncia trabalhada pelas Cincias Naturais para trazer a discusso sobre potncia no jornalismo, nesse momento em que a audi-ncia envolvida na produo da notcia. Potncia pode ser entendida como sendo a razo entre um determinado trabalho realizado, pelo tempo de realizao deste trabalho. Assim, se um mesmo trabalho realizado em um tempo menor houve um uso maior de potncia. Para clarear mais o conceito, vamos usar o exemplo de um carro.

    Quando afirmamos que um carro tem maior potncia, estamos dizendo que ele consegue atingir uma maior velocidade no mesmo intervalo de tempo que outro carro. O exemplo perfeito para ilustrar nossa construo da hiptese da audin-cia potente, no sentido de capacidade de propagao da informao. Assim como o carro potente consegue atingir uma maior velocidade em um menor intervalo de tempo, com a Internet, os novos disposi-tivos tecnolgicos (celulares, tablets) e as redes sociais, a audincia potente consegue propagar um maior nmero de informa-es num menor espao de tempo, com um esforo mnimo, como por exemplo, o de apertar uma tecla do computador ou de um dispositivo mvel qualquer.

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    A maioria das redes sociais, como des-taca Telles (2010), contm o conceito de um grupo - um conjunto de pessoas uni-das com um interesse comum. Os mem-bros do grupo interagem compartilhan-do informaes, discutindo ou enviando mensagens privadas para um determinado integrante, e podem ainda promover mo-bilizaes que, no nosso entendimento, podem ser presenciais, no sentido de ma-nifestaes organizadas pela rede e reali-zadas em dia e local determinados, como tambm no sentido de formar um grupo de presso, que no vai necessariamente s ruas, mas que na prpria rede exerce uma influncia sobre instituies ou empresas. E a entra nosso segundo argumento para a conceituao de audincia potente: sua capacidade de amplificao.

    Espaos essencialmente conversacio-nais, as redes sociais tm a possibilidade de amplificar as vozes da audincia. Portanto, ao usar a capacidade de amplificao, a au-dincia ressignifica o contedo, por meio de comentrios, opinies e novos olhares sobre o assunto, que reverberado nas re-des, oferecendo um extrato do que querem e do que pensam esses cidados e cidads que se envolvem com os meios de comuni-cao. A capacidade de amplificao pode constituir-se em uma expresso da inteli-gncia e da conscincia coletivas.

    Por fim, a capacidade de ao pode ser entendida como a possibilidade da audi-ncia potente testemunhar e coproduzir contedos, alm de vigiar (denunciando atividades pblicas ou privadas ilegais, abusivas ou insatisfatrias) e reagir (a no-tcias que violem valores sociais e ou cul-turais). H nessa capacidade uma mistura do interesse pblico com o interesse da audincia. A

    Acerecho & Ayerdi (2012, p.194) con-

    sideram que as redes sociais son las pla-taformas sociales ms populares y de mayor xito para llevar a cabo la funcin dialgica, que permite que se establezca una conversacin a tiempo real entre dos o ms personas. Para eles, as notcias se convertem em foco de debate entre os ci-dados, e as plataformas onde se debatem as questes sociais, em sua maioria, so as redes sociais, que se transformam em plataformas de apoio ou repulsa. E diante dessa possibilidade de dialogicidade, Vare-la (2005) entende que o jornalismo se con-verteu en una conversacin de la que los ciudadanos ms activos no quieren estar ausentes Varela (2005).

    ConclusoO jornalismo vem passando, desde o fi-

    nal do sculo XX, por uma srie de mu-danas, e a que consideramos mais forte a relao com a audincia. Dentro desse entendimento, propusemos, neste traba-lho, a hiptese de que h uma audincia potente que se envolve, ou envolvida, nos processos, nas prticas e nas rotinas jorna-lsticas. Com a presena desse novo agente que se incorpora ao campo jornalstico, as notcias no so mais construdas somente a partir da imagem que os jornalistas tm da audincia. A produo das notcias que envolvia uma srie de paradigmas e prticas profissionais dadas como naturais, somadas cultura profissional e s restri-es ligadas s organizaes do trabalho acrescida dos olhares dessa audincia potente.

    As redes sociais possibilitam que os jor-nalistas e as empresas de comunicao te-nham acesso, em tempo real, aos interesses dessa audincia potente, e esses dados vm balizando as decises dos veculos de re-ferncia.

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    Ao compartilhar, discutir e comentar uma informao veiculada pela mdia numa rede social, a audincia alm de for-necer feedbacks para a empresa, est di-zendo para um determinado nmero de pessoas, seus amigos no Facebook ou seus seguidores no Twitter, que avalizam ou re-provam aquele contedo miditico, o que demonstra a possibilidade de reforo ide-olgico no compartilhamento das notcias.

    So novas relaes que se estabelecem com o campo jornalstico a partir dessa convivncia entre veculos de comunica-o e a audincia possibilitada pela conver-gncia das mdias tradicionais e digitais. Relaes ainda assimtricas, ainda pau-tadas pelas linhas editoriais e pelos filtros impostos pelas empresas de comunicao, mas que podem fazer surgir um novo for-mato no jornalismo.

    Os desafios para o jornalismo so gran-des. A audincia j tem e ter ainda mais uma participao efetiva no processo de produo da notcia. No entanto, temos bem claro que a produo da notcia ainda uma atividade exercida por um especia-lista denominado jornalista, formado num curso superior e autnomo de jornalismo. neste curso que ele vai aprender o com-

    plexo processo de produo da notcia que longe de ser intuitivo ou obra do acaso re-mete a uma formao que garanta a qua-lidade da notcia e a tica na informao. A colaborao e a participao de uma audincia potente so muito importantes e devem ser privilegiadas nas disciplinas dos cursos de jornalismo, mas no pode-mos deixar que uma atividade que cen-tral na democracia seja resultado do acaso, da participao eventual e no necessaria-mente preocupada com a contextualizao e interpretao dos fatos.

    Ainda h muito que se avanar nos es-tudos sobre essa audincia, que conside-ramos potente. Todo nosso esforo de pes-quisa segue na pretenso de investigar as mudanas na produo das notcias, aps o que se denomina Web 2.0, tendo como foco a interveno da audincia. Acredita-mos que como ns outros pesquisadores tambm estaro com suas atenes volta-das para este novo papel da audincia no jornalismo. Dentro desse contexto, pesqui-sadores, jornalistas e o que denominamos de audincia potente podero contribuir de uma forma mais forte para o aperfeio-amento democrtico da sociedade.

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