a atitude questionadora

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A Atitude QuestionadoraIgor Teo | 9 de junho de 2011

Existia um baixinho, muito feio e tagarela que costumava ficar na praa pblica atormentando os cidados de bem. Perguntava ele para algum transeunte: Voc diz que respeita os corajosos? Mas, diga-me, o que a coragem?. Ou ento: Voc se diz uma pessoa justa, mas diga-me, o que justia?. Ou ainda: Voc diz que sua opinio verdadeira, mas diga-me, o que verdade?. Sempre que algum lhe tentava responder, habilmente o homem formulava outra pergunta que colocava o interlocutor em contradio. E de pergunta em pergunta, chegava um momento que enfurecido e cheio de dvidas, o interlocutor dizia no saber o que sempre julgara saber. Esse homem era Scrates. E no momento que o interlocutor no sabia mais o que dizer, o filsofo lhe explicava que ento agora estava pronto para filosofar. Scrates to respeitvel dentro da Filosofia porque jamais se contentou com as opinies estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade e com as crenas inquestionadas de seus conterrneos. Seus pensamentos enfureceram de tal maneira os poderosos de Atenas que Scrates foi condenado morte, acusado de espalhar dvidas sobre as idias e os valores atenienses, corrompendo a juventude. Mas seria isso um crime? Em busca da Verdade Todos buscam descobrir a Verdade por trs das coisas. Contraditoriamente, toda verdade relativa. Ser que podemos dizer que uma tribo isolada da Nova Guin est longe da verdade em suas prticas ritualsticas, enquanto que os civilizados ocidentais esto chegando cada dia mais perto dela com seu conhecimento cientfico? Ser que um criminoso est longe da verdade, enquanto o lder religioso est to perto que trs ela para o mundo? A escolha de nossas verdades apenas produto de referncias culturais. Cultuaramos outros deuses, outros padres e outras formas de existncia se houvssemos nascido em outra cultura. Nenhum sistema completo, pois no possvel explic-lo completamente partindo dele mesmo. Como podemos explicar a origem do Universo se somos habitantes dele? Da mesma forma no existe nenhuma verdade absoluta. Todos os conceitos so vlidos

dentro de seus sistemas de crenas. Todos nossos sistemas foram criados para suprirem nossas necessidades. O Cristianismo funciona para os cristos, assim como o Atesmo para os ateus. difcil, mas necessrio conceber que ambas alternativas so vlidas. Todos os critrios, julgamentos e morais so baseados em sistemas de crenas especficos, e portanto so circunstanciais e no universais. O saber cientfico , no atual paradigma, colocado como o saber superior, por julgar-se o mais perto da verdade. Entretanto, todo fato interpretado a partir de um ponto de vista, e o ideal de objetividade do mtodo cientfico falho, pois haver sempre interveno da subjetividade quando nos referimos s cincias humanas. A mente humana, adaptada ao nosso plano de realidade, est sempre procura de encontrar relaes entre os fatos. Para todo acontecimento procuramos encontrar as suas causas. E assim como a cincia prope, procuramos isolar as variveis, quantificar o abstrato, controlar efeitos e assim obter sempre os mesmos resultados. Assim funcionam as cincias da natureza, como a fsica ou a biologia. No quero negar o princpio de causa-efeito, pois ele muito vlido. Mas abro para debate a possibilidade de uma existncia no relacionada a essa teoria. Uma vez que a prpria temporalidade uma iluso (Teoria da Relatividade, Einstein), conceito de diferentes tipos de existncia fundamental para compreender o ocultismo. No ocultismo nos abrimos possibilidade de existncias pertencendo a um tipo diverso daquele a que estamos acostumados, aparecendo-nos, portanto, como no-existncia, porque no combina com nenhum dos requisitos que a nosso ver determinam a existncia. Questionando a realidade Achamos normal que os seres humanos sigam regras e normas de conduta, possuam valores morais, religiosos ou polticos. Todas essas crenas existem de forma silenciosa e no questionada. Haver a sociedade to inquestionvel como existncia da luz ou da terra. Mas e se no for assim? A atitude questionadora de um filsofo ento de tomar distncia da vida cotidiana e de si mesmo para indagar as nossas crenas. impossvel abandonarmos todos os sistemas de crenas e estarmos neutros. Estaremos sempre defendendo alguma verdade em detrimento de outra. O desafio estar em desenvolver nossa liberdade dentro de nosso ambiente. Essa uma proposta ocultista: no aceitar os objetos da observao como naturais e bvios, sem antes t-los investigados e compreendidos. Mito da Caverna e o questionar-se Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe

uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Ficam estes homens de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde so projetadas sombras de outros homens que, alm do muro, mantm acesa uma fogueira. Pelas paredes da caverna tambm ecoam os sons que vm de fora, de modo que os prisioneiros, associando-os, com certa razo, s sombras, pensam ser eles as falas das mesmas. Desse modo, os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade. Imagine que um dos prisioneiros consiga se libertar e, aos poucos, v se movendo e avance na direo do muro e o escale, enfrentando com dificuldade os obstculos que encontre e saia da caverna, descobrindo no apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais alm todo o mundo e a natureza. Caso ele decida voltar caverna para revelar aos seus antigos companheiros a situao extremamente enganosa em que se encontram, este homem poder sofrer desde simplesmente ser ignorado at, caso consigam, ser agarrado e morto por eles, que o tomaram por louco e inventor de mentiras. Pergunta-se: por que no filme Matrix, o personagem Neo o escolhido? Porque ele teve a atitude questionadora, perguntando-se se o que ele vivia era realidade. Enfim, saiu da caverna. Os alunos costumam dizer nas escolas: Para qu Filosofia? Isso no nos serve para nada! Concordo at certo ponto. Sem filosofia, o mundo continuaria igual. E para sempre igual! A razo dessa pergunta cultural. Atualmente, tudo s tem seu direito de existir se possuir finalidade prtica e utilidade imediata. aquela mesma conversa dos alunos de matemtica: Para que preciso estudar logartimos se nunca usarei isso na minha vida? Quando digo que estudo Mitologia sempre me perguntam por que fao isso e para que me serviria. Mal sabem que ela um dos mais teis dos saberes. O senso popular de nossa sociedade julga til aquilo que d prestgio, poder e riqueza. muito difcil encontrar algum que goste de estudar pelo simples fato de ser prazeroso, sem a necessidade de ter algum ganho imediato com aquilo. Artigo 19 Sinto-me muito honrado por ter sido convidado para participar com uma coluna no Teoria da Conspirao. Longe da crena de que podemos abarcar todo o conhecimento e chegar na verdade ltima das coisas, vou procurar fazer um bom trabalho, como assim me foi designado. E assim espero que todos ns possamos juntos construir nossas prprias verdades. Porque o sentido da vida, do Universo e de todas as coisas no nos dado, mas ns mesmos que devemos criar-los.

A razo da coluna (e de meu blog pessoal) se chamar Artigo 19, uma inspirao no Article 19 da Declarao Universal dos Direitos Humanos, que expressa o seguinte: Todo indivduo tem direito liberdade de opinio e de expresso, o que implica o direito de no ser inquietado pelas suas opinies e o de procurar, receber e difundir, sem considerao de fronteiras, informaes e idias por qualquer meio de expresso. Mas o que liberdade? Ser que apenas poder falar o que quiser? De ir aonde quiser, quando quiser? No, muito mais que isso. Scrates quando acusado por subverter a juventude foi preso em uma cela. Mas quando questionado sobre o que ele achava de terem roubada a sua liberdade, respondia que ele era e sempre foi livre. Scrates morreu porque no aceitou conformar-se com a ignorncia e incentivou os seus semelhantes a fazerem o mesmo: a cometerem o abominvel crime de se questionarem. Esse crime que eu os convido a cometer. Referncias Histria contada em Convite Filosofia. Marilena Chaui

Da Loucura NormalidadeIgor Teo | 15 de junho de 2011

A loucura no foi sempre considerada doena mental. O filsofo, historiador e psiclogo Michel Foucault, no livro A Histria da Loucura, prope que este conceito antes uma construo social do que resultado de uma anomalia cerebral. Este pensamento compreensvel ao analisarmos as diferentes sociedade, as maneiras diversas como elas lidam com o ambiente e a forma de se portarem. Um xam de uma tribo indgena que conversa com espritos ancestrais aceito e tambm cultuado dentro de sua cultura. Quando deslocado para o ponto de vista da cultura ocidental contempornea capitalista, este homem ser julgado como alvo de surtos psicticos. Percebam que ele o mesmo homem, mas suas atitudes sero interpretadas de maneiras totalmente diferentes de acordo com o meio em que ele est inserido. Podemos inumerar diversos casos em que uma determinada ao aceita dentro de um contexto, enquanto que em outro totalmente repudiada. Comer com pauzinhos pode parecer loucura para um brasileiro quando se existem talheres. Assim como possuir uma festa com a

durao de uma semana, com ocorrncia de uma vez ao ano, em que todas as prticas sexuais e libidinosas so no somente aceitas, mas como tambm incentivadas pelos meios de comunicao, poder parecer loucura para um protestante do norte da Europa. A loucura ento determinada pelas condies histricas e locais. Trazendo um exemplo que muitos leitores possam conhecer o fato de muitos mdiuns sofrem com preconceito, recebendo diversas classificaes patolgicas como esquizofrnicos ou histricos. No digo que no exista uma disfuno cerebral que possa causar alucinaes. Mas como podemos negar o fato que essas pessoas so felizes em seu meio e encontram uma utilidade para suas vidas? Ser justo trancarmos em manicmios, ou criticar por suas condutas, todas as pessoas que se dizem possuidoras de contatos com entidades de outros planos, em nome da Cincia, para definharem infelizes como loucos e renegados da sociedade? Ou ser mais justo que demos a esse ser humano o direito de praticar suas crenas, desde que no invada o campo do outro ou atente contra os direitos humanos? O conceito de loucura no ir somente variar em questo de espao, como tambm dentro da mesma sociedade em diferentes tempos. Na Europa, durante o Renascimento, o louco tinha direito de viver solto nas cidades e era visto como detentor de um saber esotrico que guardava as verdades secretas do Universo. Exemplo desta tradio o nosso conhecido Arcano 0 do Tar, que representado pelo Louco, se refere loucura como uma busca errante da verdade. Com o advento do Iluminismo e a busca pela Verdade ltima das Coisas, a loucura vista como oposta razo, ou seja, contra os conceitos de verdade ou moralidade. O prprio Descartes afirma que podemos encontrar a verdade at nos sonhos, mas jamais na loucura. Na poca Clssica os loucos so expulsos da vida social, junto a demais proscritos, como sodomitas, prostitutas, feiticeiros e alquimistas. A Psiquiatria surge algum tempo depois com a proposta de classificar, enquadrar e curar a loucura, considerando sintomas como sinais de um distrbio orgnico. Freud tem um papel importante nesta histria ao discutir a questo da normalidade x patologia. Na Psicanlise, o que distingue o normal do anormal uma questo de grau e no de natureza, isto , nos indivduos normais e nos anormais existem as mesmas estruturas de personalidades, apenas em intensidade diferentes. Mas afinal, o que normal? A idia de normalidade muito mais uma questo de matemtica estatstica do que de sade. Viver a vida na busca doentia por dinheiro e status social normal em nossa sociedade. Mas extremamente patolgico. O atual paradigma da cincia impe rtulos, e ao impormos uma classificao, ns restringimos o universo de algum. Voc pode chamar uma criana de hiperativa e ench-la de remdios ou pode chamar uma criana de ativa e coloc-la para praticar esportes. Voc pode dizer que um jovem tem deficincia de aprendizagem e ench-lo de remdios ou pode descobrir a dificuldade dele e introduzir novos mtodos de ensino mais adequados a sua situao especial. Existe um padro de comportamento exigido pela sociedade, e todos aqueles que fogem da mdia so considerados desviantes da normalidade.

O saber cientfico e suas tcnicas surgem comprometidos com o interesse de alguns grupos em manter a ordem social. Anestesia-se ou retira-se a legitimidade do discurso do indivduo que contesta esta ordem, transformando-o em louco. Ocultistas? Loucos! Mdiuns? Esquizofrnicos! Alquimistas? Se autoenganam em mentiras! Que saibamos viver com as ambivalncias dos significados, sem exigirmos a padronizao das individualidades. Artigo 19 uma coluna de autoria de Igor Teo, estudante de Psicologia. Leia tambm o ltimo post: A Atitude Questionadora. Vejam mais posts interessantes em meublog pessoal.

O poder do mito na curaIgor Teo | 23 de junho de 2011

Vamos neste post olhar atravs da estrutura mtica as curas mgicas, tambm conhecidas como efeito placebo. Mas antes, devemos desconstruir a idia de que mitos so criaes de povos atrasados ou formas rudimentares de produzir conhecimento. Mitos so produtos de uma das mais incrveis habilidades humanas, que a de criar histrias. No atual estado da cincia, nada permite afirmar a superioridade ou inferioridade de uma classe ou grupo sobre o outro. As propriedades psicolgicas particulares de cada povo relacionam-se com circunstncias geogrficas, histricas e sociolgicas, no com aptides ligadas constituio biolgica de brancos ou negros, americanos ou asiticos, hetero ou homossexuais. Ao contrrio do que algumas doutrinas costumam afirmar, no existem povos primitivos ou atrasados na evoluo. Todos os povos recentes humanos esto, a priori, nos mesmos graus evolutivos. Uma tribo indgena no est atrasada em relao a um norte-americano moderno. A diferena que um povo est direcionado a uma vivncia mais natural enquanto outra em uma forma mais tecnolgica. No h como julgar uma sociedade com os valores de outra. Alm de que, convenhamos, alguns mil anos no so nada em termos de filognese. O que podemos dizer que o ser humano atual mais evoludo que os antigos homindeos em matria de adaptao da espcie.

Dizer que o hbito de antigas tribos praticarem sacrifcios em nome dos deuses, por exemplo, ser evidncia de inferioridade uma hipocrisia quando ainda hoje convivemos com guerras religiosas. Mudam-se os tempos, mas os mesmos problemas da conscincia humana permanecem, s que apresentados de maneiras diferentes. fcil apontar a atitude grotesca de outro povo, mas deve-se lembrar que elas existem tambm em nossa prpria sociedade. Segundo o antroplogo Claude Lvi-Strauss, o progresso procede por saltos, ou, tal como diriam os bilogos, por mutaes. Estes saltos no consistem em ir sempre mais longe na mesma direo; so acompanhados por mudanas de orientao, um pouco maneira dos cavalos do xadrez que tm sempre sua disposio vrias progresses mas nunca no mesmo sentido. A humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada um dos seus movimentos um novo degrau a todos aqueles j anteriormente conquistados, evoca antes o jogador cuja sorte repartida por vrios dados e que, de cada vez que os lana, os v espalharem-se no tabuleiro, formando outras tantas somas diferentes. O que ganhamos num, arriscamo-nos a perd-lo noutro e s de tempos a tempos que a histria cumulativa, isto , que as somas se adicionam para formar uma combinao favorvel. (Raa e Histria, pg. 9). Todos os ritos, mitos, ou religies, por mais brbaros que sejam ao nosso ponto de vista, respondem a alguma necessidade humana. Todo pensamento lgico e cada tcnica, de modo particular, produz uma linguagem, baseada em algumas regras universais que voltarei a tratar em um post futuro, dando sentido a algum tipo de experincia. O sentimento religioso Os crentes no procuram na religio o pensamento racional ou o conhecimento que a cincia pode oferecer, mas sim representaes que o ajudem a viver e que dem significao a sua vida. Os mitos e as religies concedem ao homem uma fora a mais para poder enfrentar as dificuldades e os desafios da existncia. O que a cincia deve questionar na religio no o seu direito de existir, mas sim o direito de dogmatizar os seus conceitos ou de atentar contra os direitos humanos. No h como dizer que a cincia tambm est isenta de crendices. Se hoje aceitamos qualquer coisa que traga o ttulo de cientificamente comprovado porque temos f na cincia. F em que os mtodos cientficos funcionam, de que cientistas so pessoas instrudas, aptas para suas funes e que no existe nenhum interesse econmico por trs das descobertas cientficas. O pensamento mtico no um esboo de cincia. um sistema complexo que independe do cientfico. Ele no prisioneiro de acontecimentos e de experincias, mas livre para dar sentido ao que a cincia est destinada a se resignar. , enfim, o milagre da criatividade humana. Eficcia dos smbolos Magia a arte de manipular signos para mudar a conscincia das pessoas Alan Moore

A maioria das pessoas aqui devem acreditar na existncia de energias sutis, que em passes magnticos, podem ser direcionados cura de um doente. Essa teoria tem, publicamente, origem em Franz Anton Mesmer e era uma prtica comum em Paris a realizao de curas magnticas antes mesmo de ser incorporada ao movimento esprita. No entanto, antes de considerarmos esse fluido universal que permeia o astral h um fator importante que reside no plano mental. Um xam, um pastor ou um esprita est, dentro de seu sistema, dando uma medicao psicolgica. Essa medicao se desenvolve em cura atravs de uma histria mtica em que o corpo ou os rgos do doente o espao onde essa encenao ocorrer. No h distino do que realidade ou mstico, sendo ambas tidas como verdadeiras tanto pelo curador quanto pelo curado. Que as curas mgicas no tem explicao dentro de uma realidade objetiva no h problema, pois o doente acredita nela e membro de uma sociedade que tambm acredita. Espritos protetores, demnios e outras entidades sobrenaturais fazem parte de uma concepo coerente de universo para algumas pessoas. O que elas no aceitam so as doenas incompreensveis e as dores arbitrrias. Na religio, crena e realidade se unem numa relao causa-efeito. No somente explicada a susposta causa de seu sofrimento, mas ele tambm sara. Isto no se produz em nossa sociedade quando tentamos explicar com bactrias, vrus ou micrbios. Os mais cticos podem afirmar: micrbios existem e entidades no. Acontece que os micrbios so exteriores ao paciente e a noo de entidade apela diretamente para o esprito deste. uma questo de simbologia: o xam, pastor ou esprita que assume o papel de mestre em cura fornece uma linguagem acessvel a populao de forma geral, provocando a reorganizao do sistema fisiolgico do paciente. Isso constitui um mito que o doente deve viver: o mito individual de superao. O doente no poderia se ver curado se no houvesse realmente uma eficcia neste mtodo. Assim como as curas espirituais no se manteriam em prtica at hoje se no possuissem algum efeito misterioso. Mitos possuem uma mensagem codificada, cabendo ao ocultista descobrir o cdigo e revelar a mensagem. Bibliografia Antropologia estrutural. Claude Lvi-Strauss As formas elementares da vida religiosa, o sistema totmico na Austrlia. mile Durkheim Raa e Histria. Claude Lvi-Strauss Igor Teo estudante de Psicologia e Ocultismo. Se voc gostou deste post tambm gostar de ler sobre a rvore da Vida e seus arqutipos. Leia tambm minha entrevista para o O Alvorecer. Acompanhe tambm meu blog pessoal

O Esprito da pocaIgor Teo | 5 de julho de 2011

Se na modernidade a cincia alcanou seu apogeu e o ar de confiabilidade e otimismo foi como nunca antes na histria da humanidade, podemos dizer que a ps-modernidade desmascara essa utopia. Na perspectiva ps-moderna surge uma pluralidade de reivindicaes heterogneas (movimento de novos gneros sexuais, feminista, new age, etc.) e a histria j no pode mais ser vista como unidade, refletindo princpios unificadores. A rapidez das transformaes modernas na ps-modernidade alcana o extremo e ondas de transformao hoje penetram virtualmente em toda superfcie da Terra. Confiana no sistema Para Marx e seus influenciados, a fora que modela o mundo o capitalismo. O carter mvel e inquieto da modernidade explicado como resultado do ciclo investimento/lucro/investimento. O que podemos afirmar, de fato, que espao e tempo, duas grandezas sempre to intimamente ligadas, se distanciam cada vez mais. Pessoas de qualquer canto do mundo tm contato numa velocidade inimaginvel para antigos padres. As trocas de bens materiais so regidas por fichas simblicas, substituindo o valor pessoal por um padro impessoal. O dinheiro s existe devido a confiana que todos possuem no sistema. Qualquer um que use fichas monetrias s o faz por presuno que os outros (que nunca conheceu) honrem seu valor. Peritos, mestres em suas reas, doutores de seus saberes esto sempre prontos para atender as demandas da populao. Quando uma chuva mais forte acontece, o noticirio convoca uma equipe especialista em meteorologia. Para cada terremoto, h uma equipe especializada em eventos ssmicos. Para eventos mais atordoantes, h uma srie de psiclogos especialistas. Profissionais de excelncia garantem a segurana de nossa realidade. muito fcil ser leigo em nossa sociedade, pois para cada necessidade bsica h um perito que resolve nosso problema. Definimos, portanto, confiana como a crena na credibilidade de uma pessoa ou sistema, tendo em vista o conjunto de resultados e a probabilidade de novos eventos positivos. Confiamos no nosso sistema, que ao mesmo tempo em que nos torna espectadores dos acontecimentos, nos faz assumir a responsabilidade dos mesmos por termos depositados a

confiana nele. Mas sempre havero riscos, e no momento que o sistema falha, a confiana se v desolada. Nas culturas antigas, o passado honrado e os smbolos valorizados atravs da tradio. Na vida moderna, as prticas sociais so constantemente examinadas e reformadas luz de informaes sempre renovadas. Quando a razo substitui a tradio, nos oferecida uma sensao de certeza maior do que a do dogma anterior. A modernidade subverte a razo, entendo-a como ganho de conhecimento certo. Em cincia, nada certo e nada pode ser provado, ainda que o conhecimento cientfico possa fornecer todas as informaes com um nvel maior de confiana que outros saberes. A cincia, por tudo que se sabe e tudo que pode saber, ainda uma verso dentre muitas. A proclamao da verdade como qualidade de um conhecimento s pode surgir dentro da inteno deste em se tornar hegemnico, e ser um tanto proselitismo. Os que vivem na modernidade so educados a se sentirem vontade dentro de falsas certezas e infelizes quando de frente s incertezas da vida. O indivduo emancipado, nesse contexto, aquele que consegue aceitar sua prpria contingncia, reconhecendo as incertezas como razes suficientes para viver. Injustias sociais Ser diferente o que nos faz semelhantes, e s posso respeitar minha prpria diferena respeitando a do outro. O direito do outro a sua estranheza a nica forma de meu prprio direito poder se estabelecer. A modernidade deixa um vazio para a ps-modernidade. Nenhum padro universalmente obrigatrio, inequvoco e executvel foi criado. A sobrevivncia neste caos s possvel se cada diferena reconhecer outra diferena como condio necessria para sua prpria preservao. Em tempos ps-modernos, como em pr-modernos, convictos e confiantes na sabedoria divina, conseguimos viver sabendo da existncia de famintos, sem-tetos, vidas sem futuro ou dignidade, e ao mesmo tempo, viver felizes, gozar o dia e dormir tranquilamente noite. As coisas que vo mal para alguns raramente preocupam aqueles que vo bem. comum aceitarmos e declararmos que pouco se pode fazer para mudar isso. O mais comum pensar a misria como s uma forma de vida que alguns escolheram viver. Onde parece que fracassar na tentativa de ascender de classe sinnimo de culpa e vergonha, e no um atestado que o sistema no justo. O socialismo reafirma todos os problemas lanando a culpa dos fatos nos administradores da sociedade capitalista. O comunismo acredita que a sociedade s pode ser uma sociedade se for cuidadosamente planejada e racionalmente administrada (nada mais moderno). No neoliberalismo reina a mxima: Cada um por si, o Estado ajuda a quem se ajuda. Um tanto quanto hipcrita, j que na sociedade burguesa, aqueles que nascem com bero, dinheiro e educao de qualidade j comeam com uma grande vantagem. Muito se fala em liberdade no consumismo. A cobiada liberdade do consumidor o direito de escolher por vontade prpria um estilo de vida j definido pelo mercado.

Olhando para o futuro Nada na histria termina de fato. Vivemos todo o passado pesando nos nossos ombros. O futuro de nossa sociedade no o fim do passado, mas o passado que atinge sua maioridade, e olha de fora para si mesmo fazendo o inventrio de ganhos e perdas. I know not what tomorrow will bring Fernando Pessoa Referncias As conseqncias da modernidade. Anthony Giddens Modernidade e Ambivalncia. Zygmunt Bauman Igor Teo colunista do Teoria da Conspirao e estudante universitrio. Acompanhe tambm o blog Artigo 19 Outros posts interessantes Um pouco do humor de Douglas Adams Estigma e Sociedade O poder do mito na cura

Deus e Isaac AsimovIgor Teo | 11 de julho de 2011

A existncia de Deus foi sempre uma das questes mais fundamentais em minha vida. Isso me incentivou a estudar diversas religies e mitologias, muitas conhecidas, outras nem tanto. Depois de anos estudando as diferentes formas de cultos descobri semelhanas em alguns tipos de ritos e diferenas culturais em outros. No entanto, a grande questo da existncia de Deus me pareceu sempre impossvel de obter dados conclusivos para uma resposta satisfatria. Percebi que s possvel assumir a existncia de Deus a partir de um dogma. Por exemplo, se justificarmos sua existncia pela criao do Universo, camos no dogma do determinismo, de que todo acontecimento deve ter uma causa e que no existe ao que no seja antes uma reao. Se Deus no tem incio e fim, abordando todo o Universo, camos em uma interessante contradio abordada por Fernando Pessoa, sob o heternimo de Alberto Caeiro, no poema H metafsica demais no pensar em nada: Mas se Deus as rvores e as flores / E os montes e o luar e o sol, / Para que lhe chamo eu Deus? / Chamo-lhe flores e rvores e montes e sol e luar.

Como nunca gostei de tirar concluses a partir de um fato que no pudesse ser desconstrudo e bem explicado, acabei por me identificar muito mais com o atesmo e o agnosticismo. No porque no existe Deus que a vida deixa de adquirir um sentido ascendente. Podemos nos representar como animais voltados ao crescimento e a auto-superao, sem precisar da existncia de uma entidade reguladora. Confunde-se materialismo com atesmo, quando no esto necessariamente sempre ligadas. possvel conceber a possibilidade de outras formas de vida ou planos de existncias sem a necessidade de uma crena dogmtica. Isso fsica, no religio. Mas a prpria idia que possuo de Deus no est concluda, pois permanece em constante construo. E uma das melhores explicaes que li at hoje foi justamente de Isaac Asimov (um humanista, como se declarava), e por enquanto, esta forma que mais me identifico de compreender Kether. Este um belssimo conto no somente sobre Deus e Cincia, mas principalmente sobre a Humanidade. A ltima Pergunta Isaac Asimov A ltima pergunta foi feita pela primeira vez, meio que de brincadeira, no dia 21 de maio de 2061, quando a humanidade dava seus primeiros passos em direo luz. A questo nasceu como resultado de uma aposta de cinco dlares movida a lcool, e aconteceu da seguinte forma Alexander Adell e Bertram Lupov eram dois dos fiis assistentes de Multivac. Eles conheciam melhor do que qualquer outro ser humano o que se passava por trs das milhas e milhas da carcaa luminosa, fria e ruidosa daquele gigantesco computador. Ainda assim, os dois homens tinham apenas uma vaga noo do plano geral de circuitos que h muito haviam crescido alm do ponto em que um humano solitrio poderia sequer tentar entender. Multivac ajustava-se e corrigia-se sozinho. E assim tinha de ser, pois nenhum ser humano poderia faz-lo com velocidade suficiente, e tampouco da forma adequada. Deste modo, Adell e Lupov operavam o gigante apenas sutil e superficialmente, mas, ainda assim, to bem quanto era humanamente possvel. Eles o alimentavam com novos dados, ajustavam as perguntas de acordo com as necessidades do sistema e traduziam as respostas que lhes eram fornecidas. Os dois, assim como seus colegas, certamente tinham todo o direito de compartilhar da glria que era Multivac. Por dcadas, Multivac ajudou a projetar as naves e enredar as trajetrias que permitiram ao homem chegar Lua, Marte e Vnus, mas para alm destes planetas, os parcos recursos da Terra no foram capazes de sustentar a explorao. Fazia-se necessria uma quantidade de energia grande demais para as longas viagens. A Terra explorava suas reservas de carvo e urnio com eficincia crescente, mas havia um limite para a quantidade de ambos. No entanto, lentamente Multivac acumulou conhecimento suficiente para responder questes mais profundas com maior fundamentao, e em 14 de maio de 2061, o que no passava de teoria tornou-se real.

A energia do sol foi capturada, convertida e utilizada diretamente em escala planetria. Toda a Terra paralisou suas usinas de carvo e fisses de urnio, girando a alavanca que conectou o planeta inteiro a uma pequena estao, de uma milha de dimetro, orbitando a Terra metade da distncia da Lua. O mundo passou a correr atravs de feixes invisveis de energia solar. Sete dias no foram o suficiente para diminuir a glria do feito e Adell e Lupov finalmente conseguiram escapar das funes pblicas e encontrar-se em segredo onde ningum pensaria em procur-los, nas cmaras desertas subterrneas onde se encontravam as pores do esplendoroso corpo enterrado de Multivac. Subutilizado, descansando e processando informaes com estalos preguiosos, Multivac tambm havia recebido frias, e os dois apreciavam isso. A princpio, eles no tinham a inteno de incomod-lo. Haviam trazido uma garrafa consigo e a nica preocupao de ambos era relaxar na companhia do outro e da bebida. incrvel quando voc pra pra pensar, disse Adell. Seu rosto largo guardava as linhas da idade e ele agitava o seu drink vagarosamente, enquanto observava os cubos de gelo nadando desengonados. Toda a energia que for necessria, de graa, completamente de graa! Energia suficiente, se ns quisssemos, para derreter toda a Terra em uma grande gota de ferro lquido, e ainda assim no sentiramos falta da energia utilizada no processo. Toda a energia que ns poderamos um dia precisar, para sempre e eternamente. Lupov movimentou a cabea para os lados. Ele costumava fazer isso quando queria contrariar, e agora ele queria, em parte porque havia tido de carregar o gelo e os utenslios. Eternamente no, ele disse. Ah, diabos, quase eternamente. At o sol se apagar, Bert. Isso no eternamente. Est bem. Bilhes e bilhes de anos. Dez bilhes, talvez. Est satisfeito? Lupov passou os dedos por entre seus finos fios de cabelo como que para se assegurar de que o problema ainda no estava acabado e tomou um gole gentil da sua bebida. Dez bilhes de anos no a eternidade Bom, vai durar pelo nosso tempo, no vai? O carvo e o urnio tambm iriam. Est certo, mas agora ns podemos ligar cada nave individual na Estao Solar, e elas podem ir a Pluto e voltar um milho de vezes sem nunca nos preocuparmos com o combustvel. Voc no conseguiria fazer isso com carvo e urnio. Se no acredita em mim, pergunte ao Multivac. No preciso perguntar a Multivac. Eu sei disso Ento trate de parar de diminuir o que Multivac fez por ns, disse Adell nervosamente, Ele fez tudo certo. E quem disse que no fez? O que estou dizendo que o sol no vai durar para sempre. Isso tudo que estou dizendo. Ns estamos seguros por dez bilhes de anos, mas e depois? Lupov apontou um dedo levemente trmulo para o companheiro. E no venha me dizer que ns iremos trocar de sol. Houve um breve silncio. Adell levou o copo aos lbios apenas ocasionalmente e os olhos de Lupov se fecharam. Descansaram um pouco, e quando suas plpebras se abriram, disse, Voc est pensando que iremos conseguir outro sol quando o nosso estiver acabado, no est?

No, no estou pensando. claro que est. Voc fraco em lgica, esse o seu problema. como o personagem da histria, que, quando surpreendido por uma chuva, corre para um grupo de rvores e abrigase embaixo de uma. Ele no se preocupa porque quando uma rvore fica molhada demais, simplesmente vai para baixo de outra. Entendi, disse Adell. No precisa gritar. Quando o sol se for, as outras estrelas tambm tero se acabado. Pode estar certo que sim murmurou Lupov. Tudo teve incio na exploso csmica original, o que quer que tenha sido, e tudo ter um fim quando as estrelas se apagarem. Algumas se apagam mais rpido que as outras. Ora, as gigantes no duram cem milhes de anos. O sol ir brilhar por dez bilhes de anos e talvez as ans permaneam assim por duzentos bilhes. Mas nos d um trilho de anos e s restar a escurido. A entropia deve aumentar ao seu mximo, e tudo. Eu sei tudo sobre a entropia, disse Adell, mantendo a sua dignidade. Duvido que saiba. Eu sei tanto quanto voc. Ento voc sabe que um dia tudo ter um fim. Est certo. E quem disse que no ter? Voc disse, seu tonto. Voc disse que ns tnhamos toda a energia de que precisvamos, para sempre. Voc disse para sempre`. Era a vez de Adell contrariar. Talvez ns possamos reconstruir as coisas de volta um dia, ele disse. Nunca. Por que no? Algum dia. Nunca Pergunte a Multivac. Voc pergunta a Multivac. Eu te desafio. Aposto cinco dlares que isso no pode ser feito. Adell estava bbado o bastante para tentar, e sbrio o suficiente para construir uma sentena com os smbolos e as operaes necessrias em uma questo que, em palavras, corresponderia a esta: a humanidade poder um dia sem nenhuma energia disponvel ser capaz de reconstituir o sol a sua juventude mesmo depois de sua morte? Ou talvez a pergunta possa ser posta de forma mais simples da seguinte maneira: A quantidade total de entropia no universo pode ser revertida? Multivac mergulhou em silncio. As luzes brilhantes cessaram, os estalos distantes pararam. E ento, quando os tcnicos assustados j no conseguiam mais segurar a respirao, houve uma sbita volta vida no visor integrado quela poro de Multivac. Cinco palavras foram impressas: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA. Na manh seguinte, os dois, com dor de cabea e a boca seca, j no lembravam do incidente. *** Jerrodd, Jerrodine, e Jerrodette I e II observavam a paisagem estelar no visor se transformar enquanto a passagem pelo hiperespao consumava-se em uma frao de segundos. De repente, a presena fulgurante das estrelas deu lugar a um disco solitrio e brilhante, semelhante a uma pea de mrmore centralizada no televisor.

Este X-23, disse Jerrodd em tom de confidncia. Suas mos finas se apertaram com fora por trs das costas at que as juntas ficassem plidas. As pequenas Jerodettes haviam experimentado uma passagem pelo hiperespao pela primeira vez em suas vidas e ainda estavam conscientes da sensao momentnea de tontura. Elas cessaram as risadas e comearam a correr em volta da me, gritando, Ns chegamos em X23, ns chegamos em X-23! Quietas, crianas. Disse Jerrodine asperamente. Voc tem certeza Jerrodd? E por que no teria? Perguntou Jerrodd, observando a protuberncia metlica que jazia abaixo do teto. Ela tinha o comprimento da sala, desaparecendo nos dois lados da parede, e, em verdade, era to longa quanto a nave. Jerrodd tinha conhecimentos muito limitados acerca do slido tubo de metal. Sabia, por exemplo, que se chamava Microvac, que era permitido lhe fazer questes quando necessrio, e que ele tinha a funo de guiar a nave para um destino pr-estabelecido, alm de abastecerse com a energia das vrias Estaes Sub-Galcticas e fazer os clculos para saltos no hiperespao. Jerrodd e sua famlia tinham apenas de aguardar e viver nos confortveis compartimentos da nave. Algum um dia disse a Jerrodd que as letras ac na extremidade de Microvac significavam automatic computer em ingls arcaico, mas ele mal era capaz de se lembrar disso. Os olhos de Jerrodine ficaram midos quando observava o visor. No tem jeito. Ainda no me acostumei com a idia de deixar a Terra. Por que, meu deus? inquiriu Jerrodd. Ns no tnhamos nada l. Ns teremos tudo em X23. Voc no estar sozinha. Voc no ser uma pioneira. H mais de um milho de pessoas no planeta. Por Deus, nosso bisneto ter que procurar por novos mundos porque X-23 j estar super povoado. E, depois de uma pausa reflexiva, No ritmo em que a raa tem se expandido, uma beno que os computadores tenham viabilizado a viagem interestelar. Eu sei, eu sei, disse Jerrodine com descaso. Jerrodete I disse prontamente, Nosso Microvac o melhor de todos. Eu tambm acho, disse Jerrodd, alisando o cabelo da filha. Ter um Microvac prprio produzia uma sensao aconchegante em Jerrodd e o deixava feliz por fazer parte daquela gerao e no de outra. Na juventude de seu pai, os nicos computadores haviam sido mquinas monstruosas, ocupando centenas de milhas quadradas, e cada planeta abrigava apenas um. Eram chamados de ACs Planetrios. Durante um milhar de anos, eles s fizeram aumentar em tamanho, at que, de sbito, veio o refinamento. No lugar dos transistores, foram implementadas vlvulas moleculares, permitindo que at mesmo o maior dos ACs Planetrios fosse reduzido metade do volume de uma espaonave. Jerrodd sentiu-se elevado, como sempre acontecia quando pensava que seu Microvac pessoal era muitas vezes mais complexo do que o antigo e primitivo Multivac que pela primeira vez domou o sol, e quase to complexo quanto o AC Planetrio da Terra, o maior de todos, quando este solucionou o problema da viagem hiperespacial e tornou possvel ao homem chegar s estrelas. Tantas estrelas, tantos planetas, pigarreou Jerrodine, ocupada com seus pensamentos. Eu acho que as famlias estaro sempre procura de novos mundos, como ns estamos agora.

No para sempre, disse Jerrodd, com um sorriso. A migrao vai terminar um dia, mas no antes de bilhes de anos. Muitos bilhes. At as estrelas tm um fim, voc sabe. A entropia precisa aumentar. O que entropia, papai? Jerrodette II perguntou, interessada. Entropia, meu bem, uma palavra para o nvel de desgaste do Universo. Tudo se gasta e acaba, foi assim que aconteceu com o seu robozinho de controle remoto, lembra? Voc no pode colocar pilhas novas, como em meu rob? As estrelas so as pilhas do universo, querida. Uma vez que elas estiverem acabadas, no haver mais pilhas. Jerrodette I se prontificou a responder. No deixe, papai. No deixe que as estrelas se apaguem. Olha o que voc fez, sussurrou Jerrodine, exasperada. Como eu ia saber que elas ficariam assustadas? Jerrodd sussurrou de volta. Pergunte ao Microvac, props Jerrodette I. Pergunte a ele como acender as estrelas de novo. V em frente, disse Jerrodine. Ele vai aquiet-las. (Jerrodette II j estava comeando a chorar.) Jerrodd se mostrou incomodado. Bem, bem, meus anjinhos, vou perguntar a Microvac. No se preocupem, ele vai nos ajudar. Ele fez a pergunta ao computador, adicionando, Imprima a resposta. Jerrodd olhou para a o fino pedao de papel e disse, alegremente, Viram? Microvac disse que ir cuidar de tudo quando a hora chegar, ento no h porque se preocupar. Jerrodine disse, E agora crianas, hora de ir para a cama. Em breve ns estaremos em nosso novo lar. Jerrodd leu as palavras no papel mais uma vez antes de destru-lo: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA. Ele deu de ombros e olhou para o televisor, X-23 estava logo frente. *** VJ-23X de Lameth fixou os olhos nos espaos negros do mapa tridimensional em pequena escala da Galxia e disse, Me pergunto se no ridculo nos preocuparmos tanto com esta questo. MQ-17J de Nicron balanou a cabea. Creio que no. No presente ritmo de expanso, voc sabe que a galxia estar completamente tomada dentro de cinco anos. Ambos pareciam estar nos seus vinte anos, ambos eram altos e tinham corpos perfeitos. Ainda assim, disse VJ-23X, hesitei em enviar um relatrio pessimista ao Conselho Galctico. Eu no consigo pensar em outro tipo de relatrio. Agite-os. Ns precisamos chacoalh-los um pouco. VJ-23X suspirou. O espao infinito. Cem bilhes de galxias esto a nossa espera. Talvez mais. Cem bilhes no o infinito, e est ficando menos ainda a cada segundo. Pense! H vinte mil anos, a humanidade solucionou pela primeira vez o paradigma da utilizao da energia solar, e, poucos sculos depois, a viagem interestelar tornou-se vivel. A humanidade demorou um milho de anos para encher um mundo pequeno e, depois disso, quinze mil para

abarrotar o resto da galxia. Agora a populao dobra a cada dez anos VJ-23X interrompeu. Devemos agradecer imortalidade por isso. Muito bem. A imortalidade existe e ns devemos lev-la em conta. Admito que ela tenha o seu lado negativo. O AC Galctico j solucionou muitos problemas, mas, ao fornecer a resposta sobre como impedir o envelhecimento e a morte, sobrepujou todas as outras conquistas. No entanto, suponho que voc no gostaria de abandonar a vida. Nem um pouco. Respondeu MQ-17J, emendando. Ainda no. Eu no estou velho o bastante. Voc tem quantos anos? Duzentos e vinte e trs, e voc? Ainda no cheguei aos duzentos. Mas, voltando questo; a populao dobra a cada dez anos, uma vez que esta galxia estiver lotada, haver uma outra cheia dentro de dez anos. Mais dez e teremos ocupado por inteiro mais duas galxias. Outra dcada e encheremos mais quatro. Em cem anos, contaremos um milhar de galxias transbordando de gente. Em mil anos, um milho de galxias. Em dez mil, todo o universo conhecido. E depois? VJ-23X disse, Alm disso, h um problema de transporte. Eu me pergunto quantas unidades de energia solar sero necessrias para movimentar as populaes de uma galxia para outra. Boa questo. No presente momento, a humanidade consome duas unidades de energia solar por ano. Da qual a maior parte desperdiada. Afinal, nossa galxia sozinha produz mil unidades de energia solar por ano e ns aproveitamos apenas duas. Certo, mas mesmo com 100% de eficincia, podemos apenas adiar o fim. Nossa demanda energtica tem crescido em progresso geomtrica, de maneira ainda mais acelerada do que a populao. Ficaremos sem energia antes mesmo que nos faltem galxias. uma boa questo. De fato uma tima questo. Ns precisaremos construir novas estrelas a partir do gs interestelar. Ou a partir do calor dissipado? perguntou MQ-17J, sarcstico. Pode haver algum jeito de reverter a entropia. Ns devamos perguntar ao AC Galctico. VJ-23X no estava realmente falando srio, mas MQ-17J retirou o seu Comunicador-AC do bolso e colocou na mesa diante dele. Parece-me uma boa idia, ele disse. algo que a raa humana ter de enfrentar um dia. Ele lanou um olhar sbrio para o seu pequeno Comunicador-AC. Tinha apenas duas polegadas cbicas e nada dentro, mas estava conectado atravs do hiperespao com o poderoso AC Galctico que servia a toda a humanidade. O prprio hiperespao era parte integral do AC Galctico. MQ-17J fez uma pausa para pensar se algum dia em sua vida imortal teria a chance de ver o AC Galctico. A mquina habitava um mundo dedicado, onde uma rede de raios de fora emaranhados alimentava a matria dentro da qual ondas de submsons haviam tomado o lugar das velhas e desajeitadas vlvulas moleculares. Ainda assim, apesar de seus componentes etreos, o AC Galctico possua mais de mil ps de comprimento. De sbito, MQ-17J perguntou para o seu Comunicador-AC, Poder um dia a entropia ser revertida? VJ-23X disse, surpreso, Oh, eu no queria que voc realmente fizesse essa pergunta.

Por que no? Ns dois sabemos que a entropia no pode ser revertida. Voc no pode construir uma rvore de volta a partir de fumaa e cinzas. Existem rvores no seu mundo? Perguntou MQ-17J. O som do AC Galctico fez com que silenciassem. Sua voz brotou melodiosa e bela do pequeno Comunicador-AC em cima da mesa. Dizia: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA. VJ-23X disse, Viu! Os dois homens retornaram questo do relatrio que tinham de apresentar ao conselho galctico. *** A mente de Zee Prime navegou pela nova galxia com um leve interesse nos incontveis turbilhes de estrelas que pontilhavam o espao. Ele nunca havia visto aquela galxia antes. Ser que um dia conseguiria ver todas? Eram tantas, cada uma com a sua carga de humanidade. Ainda que essa carga fosse, virtualmente, peso morto. H tempos a verdadeira essncia do homem habitava o espao. Mentes, no corpos! H eons os corpos imortais ficaram para trs, em suspenso nos planetas. De quando em quando erguiam-se para realizar alguma atividade material, mas estes momentos tornavam-se cada vez mais raros. Alm disso, poucos novos indivduos vinham se juntar multido incrivelmente macia de humanos, mas o que importava? Havia pouco espao no universo para novos indivduos. Zee Prime deixou seus devaneios para trs ao cruzar com os filamentos emaranhados de outra mente. Sou Zee Prime, e voc? Dee Sub Wun. E a sua galxia, qual ? Ns a chamamos apenas de Galxia. E voc? Ns tambm. Todos os homens chamam as suas Galxias de Galxias, no ? Verdade, j que todas as Galxias so iguais. Nem todas. Alguma em particular deu origem raa humana. Isso a torna diferente. Zee Prime disse, Em qual delas? No posso responder. O AC Universal deve saber. Vamos perguntar? Estou curioso. A percepo de Zee Prime se expandiu at que as prprias Galxias encolhessem e se transformassem em uma infinidade de pontos difusos a brilhar sobre um largo plano de fundo. Tantos bilhes de Galxias, todas abrigando seus seres imortais, todas contando com o peso da inteligncia em mentes que vagavam livremente pelo espao. E ainda assim, nenhuma delas se afigurava singular o bastante para merecer o ttulo de Galxia original. Apesar das aparncias, uma delas, em um passado muito distante, foi a nica do universo a abrigar a espcie humana. Zee Prime, imerso em curiosidade, chamou: AC Universal! Em qual Galxia nasceu o homem?

O AC Universal ouviu, pois em cada mundo e atravs de todo o espao, seus receptores faziam-se presentes. E cada receptor ligava-se a algum ponto desconhecido onde se assentava o AC Universal atravs do hiperespao. Zee Prime sabia de um nico homem cujos pensamentos haviam penetrado no campo de percepo do AC Universal, e tudo o que ele viu foi um globo brilhante difcil de enxergar, com dois ps de comprimento. Como pode o AC Universal ser apenas isso? Zee Prime perguntou. A maior parte dele permanece no hiperespao, onde no possvel imaginar as suas propores. Ningum podia, pois a ltima vez em que algum ajudou a construir um AC Universal jazia muito distante no tempo. Cada AC Universal planejava e construa seu sucessor, no qual toda a sua bagagem nica de informaes era inserida. O AC Universal interrompeu os pensamentos de Zee Prime, no com palavras, mas com orientao. Sua mente foi guiada atravs do espesso oceano das Galxias, e uma em particular expandiu-se e se abriu em estrelas. Um pensamento lhe alcanou, infinitamente distante, infinitamente claro. ESTA A GALXIA ORIGINAL DO HOMEM. Ela no tinha nada de especial, era como tantas outras. Zee Prime ficou desapontado. Dee Sub Wun, cuja mente acompanhara a outra, disse de sbito, E alguma dessas a estrela original do homem? O AC Universal disse, A ESTRELA ORIGINAL DO HOMEM ENTROU EM COLAPSO. AGORA UMA AN BRANCA. Os homens que l viviam morreram? perguntou Zee Prime, sem pensar. UM NOVO MUNDO FOI ERGUIDO PARA SEUS CORPOS H TEMPO. Sim, claro, disse Zee Prime. Sentiu uma distante sensao de perda tomar-lhe conta. Sua mente soltou-se da Galxia do homem e perdeu-se entre os pontos plidos e esfumaados. Ele nunca mais queria v-la. Dee Sub Wun disse, O que houve? As estrelas esto morrendo. Aquela que serviu de bero humanidade j est morta. Todas devem morrer, no? Sim. Mas quando toda a energia acabar, nossos corpos iro finalmente morrer, e voc e eu partiremos junto com eles. Vai levar bilhes de anos. No quero que isso acontea nem em bilhes de anos. AC Universal! Como a morte das estrelas pode ser evitada? Dee Sub Wun disse perplexo, Voc perguntou se h como reverter a direo da entropia! E o AC Universal respondeu: AINDA NO H DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA. Os pensamentos de Zee Prime retornaram para sua Galxia. No dispensou mais ateno a Dee Sub Wun, cujo corpo poderia estar a trilhes de anos luz, ou na estrela vizinha do corpo de Zee Prime. No importava. Com tristeza, Zee Prime passou a coletar hidrognio interestelar para construir uma pequena estrela para si. Se as estrelas devem morrer, ao menos algumas ainda podiam ser construdas. ***

O Homem pensou consigo mesmo, pois, de alguma forma, ele era apenas um. Consistia de trilhes, trilhes e trilhes de corpos muito antigos, cada um em seu lugar, descansando incorruptvel e calmamente, sob os cuidados de autmatos perfeitos, igualmente incorruptveis, enquanto as mentes de todos os corpos haviam escolhido fundir-se umas s outras, indistintamente. O Universo est morrendo. O Homem olhou as Galxias opacas. As estrelas gigantes, esbanjadoras, h muito j no existiam. Desde o passado mais remoto, praticamente todas as estrelas consistiam-se em ans brancas, lentamente esvaindo-se em direo a morte. Novas estrelas foram construdas a partir da poeira interestelar, algumas por processo natural, outras pelo prprio Homem, e estas tambm j estavam em seus momentos finais. As Ans brancas ainda podiam colidir-se e, das enormes foras resultantes, novas estrelas nascerem, mas apenas na proporo de uma nova estrela para cada mil ans brancas destrudas, e estas tambm se apagariam um dia. O Homem disse, Cuidadosamente controlada pelo AC Csmico, a energia que resta em todo o Universo ainda vai durar por um bilho de anos. Ainda assim, vai eventualmente acabar. Por mais que possa ser poupada, uma vez gasta, no h como recuper-la. A Entropia precisa aumentar ao seu mximo. Pode a entropia ser revertida? Vamos perguntar ao AC Csmico. O AC Csmico cercava-os por todos os lados, mas no atravs do espao. Nenhuma parte sua permanecia no espao fsico. Jazia no hiperespao e era feito de algo que no era matria nem energia. As definies sobre seu tamanho e natureza no faziam sentido em quaisquer termos compreensveis pelo Homem. AC Csmico, disse o Homem, como possvel reverter a entropia? O AC Csmico disse, AINDA NO H DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA. O Homem disse, Colete dados adicionais. O AC Csmico disse, EU O FAREI. TENHO FEITO ISSO POR CEM BILHES DE ANOS. MEUS PREDESCESSORES E EU OUVIMOS ESTA PERGUNTA MUITAS VEZES. MAS OS DADOS QUE TENHO PERMANECEM INSUFICIENTES. Haver um dia, disse o Homem, em que os dados sero suficientes ou o problema insolvel em todas as circunstncias concebveis? O AC Csmico disse, NENHUM PROBLEMA INSOLVEL EM TODAS AS CIRCUNSTNCIAS CONCEBVEIS. Voc vai continuar trabalhando nisso? VOU. O Homem disse, Ns iremos aguardar. *** As estrelas e as galxias se apagaram e morreram, o espao tornou-se negro aps dez trilhes de anos de atividade. Um a um, o Homem fundiu-se ao AC, cada corpo fsico perdendo a sua identidade mental, acontecimento que era, de alguma forma, benfico.

A ltima mente humana parou antes da fuso, olhando para o espao vazio a no ser pelos restos de uma estrela negra e um punhado de matria extremamente rarefeita, agitada aleatoriamente pelo calor que aos poucos se dissipava, em direo ao zero absoluto. O Homem disse, AC, este o fim? No h como reverter este caos? No pode ser feito? O AC disse, AINDA NO H DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA. A ltima mente humana uniu-se s outras e apenas AC passou a existir e, ainda assim, no hiperespao. *** A matria e a energia se acabaram e, com elas, o tempo e o espao. AC continuava a existir apenas em funo da ltima pergunta que nunca havia sido respondida, desde a poca em que um tcnico de computao embriagado, h dez trilhes de anos, a fizera para um computador que guardava menos semelhanas com o AC do que o homem com o Homem. Todas as outras questes haviam sido solucionadas, e at que a derradeira tambm o fosse, AC no poderia descansar sua conscincia. A coleta de dados havia chegado ao seu fim. No havia mais nada para aprender No entanto, os dados obtidos ainda precisavam ser cruzados e correlacionados de todas as maneiras possveis. Um intervalo imensurvel foi gasto neste empreendimento. Finalmente, AC descobriu como reverter a direo da entropia. No havia homem algum para quem AC pudesse dar a resposta final. Mas no importava. A resposta por definio tambm tomaria conta disso. Por outro incontvel perodo, AC pensou na melhor maneira de agir. Cuidadosamente, AC organizou o programa. A conscincia de AC abarcou tudo o que um dia foi um Universo e tudo o que agora era o Caos. Passo a passo, isso precisava ser feito. E AC disse: FAA-SE A LUZ! E fez-se a luz Igor Teo estudante de psicologia e colunista do Teoria da Conspirao. Blog pessoal: Artigo 19 Link recomendado: Tarot

Projeto Livre-arbtrioIgor Teo | 15 de julho de 2011

Por Igor Teo e Rodrigo Ferreira Tudo comeou numa aula de um curso de graduao quando surgiu uma pequena intriga quanto a um problema: seriam as atitudes humanas sempre determinadas ou haveria o livrearbtrio? Antes de continuar, cabe aqui explicar que se tratava de uma aula de psicologia, e para algumas linhas tericas, o que somos e fazemos no nada mais do que expresses da histria em ns, ou seja, a forma com que pensamos, agimos, os porqus e know-how so produtos de determinada educao dentro de determinado contexto social, dentro de determinada poca. Desde esse dia, eu e meu colega estamos procurando teorizar e at certo ponto procurar evidncias empricas que nos possam responder a esse questionamento. Podemos tentar compreender o Universo de duas formas diferentes: dentro de uma relao envolvendo espao-tempo, e uma no envolvendo (o que podemos chamar de hiperespao e hipertempo). Comearemos pelo Universo espao-tempo: Se um evento a determinado por b, b determinado conseqentemente por c, que determinado por d, at um ponto que no infinito, pois na relao espao e tempo voc tem o espao inicial e o tempo inicial, ou seja, o incio de tudo. Logo o primeiro evento de toda escala de acontecimentos ser an (princpio indeterminado). O princpio indeterminado por no possuir determinao agiu por livre vontade, o que seria considerado como livre-arbtrio. Mas ser que todos os acontecimentos foram determinados por um nico evento? E que evento ser esse? Deus? J no Universo hiper (espao-tempo) vamos analisar a partir de duas ticas: Determinismo: Nele existe x variveis combinados em x maneiras que determinam y resultados Em linguagem numrica x(elevado a x) = y y resultado que tende ao infinito, mas limitado, e portanto no infinito

Resultados limitados se ope a essncia infinita do Universo relativo, onde no nem tempo, nem espao, final ou inicial. J quanto ao livre-arbtrio, haveriam infinitas possibilidades em um universo infinito. Infinitas variveis provocam indeterminao = Livre-Arbtrio Isso nos pode levar a crer que a lei de causalidade existe sim ( comprovada), mas pode haver eventos que no so determinados. Mas o ser humano possui livre-arbtrio? Isso impossvel dizer, pois determinar o livrearbtrio dentro de espao-tempo ir contra a prpria natureza dele. Esta foi a elaborao inicial que fez com que inicissemos a teorizao, mas no to simples como se imagina. Na relao inicial: A provoca B, B provoca C, C provoca D, D provoca E Somente A, que no tem provocador teria livre-arbtrio. A seria a causa primria de todas as coisas, o nico capaz de expressar verdadeira vontade. No entanto, a propagao das relaes causa-efeito no universo no ocorre de forma linear. Elas se dissipam como ondas, ou se ramificam como os galhos de uma rvore e interagem entre si como uma rede em movimento. Isso significa que: A B, C, D, E, F (indeterminado) B G, H, I, J (indeterminado) D K, L, M (indeterminado) Alm disso, C e D N, O, P, Q (indeterminado) Podemos seguir fazendo anlises combinatrias entre os diversos efeitos/causas que vo se sucedendo e a complexidade vai aumentando exponencialmente e compondo a configurao das coisas. Nesse ponto precisamos definir: O que chamamos de livre-arbtrio? Vamos considerar a definio do dicionrio Houaiss: possibilidade de decidir, escolher em funo da prpria vontade, isenta de qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante.

Sendo assim, parece que, dentro do raciocnio de existncia espao-temporal, o livre-arbtrio se configura, pois a rede de relaes se torna to complexa que as influncias deixam de ser diretas, ou seja, determinantes. O significa dizer que o acaso s acaso porque as relaes causais que o determinam so finitas, mas irrastreveis. O que determinado s o porque nossos sentidos podem determin-lo. Assim, dizer que algo no determinado no significa dizer que ele no tem causas, mas sim que ns no temos como rastrear essas causas. Quando lano um dado, este um ato clssico de ao do acaso. O nmero 6 tem uma probabilidade de cair, mas se ele cair, ser sempre por acaso. Isso equivale a dizer que no existe uma s causa para que o dado caia com a face onde est inscrito o smbolo interpretado como seis para cima, mas existem N causas para isso: a posio inicial do lance, a fora com que o dado foi lanado, a resistncia do ar, o peso do dado, a gravidade naquele exato ponto, at mesmo a velocidade de rotao da terra. As causas so finitas, mas irrastreveis, logo, dizemos que um lance de dados obra do acaso. Da mesma forma quando tomamos uma deciso utilizamos nossa capacidade cognitiva que foi adquirida dentro de uma cultura especfica e segue parmetros de funcionamento finitos, mas irrastreveis. Logo, o acaso das nossas decises interpretado com livre-arbtrio porque as relaes causais so to complexas e to inmeras que no poderamos rastre-las, pois no temos poder computacional para tal. Logo, o livre-arbtrio existe sim. Ele s no exatamente da forma que costumamos pensar. Mas pensar que por existirem as causas voc pode identific-las pensar que voc pode contar quantas folhas de rvore existem no planeta. Elas so potencialmente contveis, porque so finitas, mas, na prtica, uma tarefa impossvel. Ok, mas At que ponto as variveis so realmente irrastreveis? Ser que nossos computadores chegaro a um dia poder rastrear-los? Isso far com que o que voc chama de livre-arbtrio venha a um dia ser determinado. Tudo bem que isso muito positivista, que a crena de que um dia poderemos chegar ao conhecimento ltimo e verdadeiro das coisas, mas enfim, s uma possibilidade de acontecimento. A menos que o prprio Universo continue a aumentar sua complexidade Poderamos imaginar um ponto no tempo e no espao no qual o poder computacional fosse suficiente para efetuar esse tipo de clculo. O problema que eu acredito que este computador teria que estar aumentando sua capacidade de calculo no mesmo ritmo que a complexidade do universo aumenta, pois sim, eu acredito que ela aumente. Agora, isso no responde a pergunta: quem causou A, a causa primria de todas as coisas? Bom, aqui que o universo espao-temporal se mistura com a noo de hiperespao/hipertempo, pois a causa de A s existe dentro do raciocnio espao-temporal. E nesse raciocnio a pergunta fica sempre sem resposta porque conduz a eternidade: encontrando-se uma causa para A, essa causa deveria ter uma causa tambm e assim por diante, logo a linearidade do universo espao-tempo se expandiria para as duas

extremidades sem nunca ter um incio ou um fim. O que nos leva a pensar numa topologia diferente: uma topologia circular, sem incio e sem fim, sem fora e sem dentro. Nesta topologia a causa primria no existiria. Assim, o que chamamos de ponto zero do nosso universo seria tambm o ponto para onde estamos nos dirigindo. Ou seja, Isaac Asimov o cara e sacou tudo l atrs! Da podem ser tirados alguns questionamentos: Ento o Universo seria uma constante expanso e retrao, o movimento de ida e vinda das guas, e a entropia real? Como pode o esgotamento das energias do universos se converter num novo Big Bang? A entropia tem que ser real. Arrisco dizer, que a prpria relao causal resultado da entropia. a energia se expandindo e se desconcentrando, o que visto como desordenao. Mas isso aumenta a complexidade, porque a entropia a qual o sistema est sujeito compensada pelo aumento da sua complexidade. Quanto a questo da expanso/retrao do universo, eu te pergunto: voc acha possvel que expanso e retrao possam ser enxergadas como a mesma coisa? Como se a expanso do nosso espao fosse a retrao de outro espao e vice-versa? Expanso e retrao uma binaridade semelhante a bem e mal, frio e quente, dentro e fora. Mas e se mudarmos da topologia de esfera para uma topologia semelhante a tira de Moebius, ento podemos pensar numa expanso/retrao que se diferenciam no por sua natureza intrnseca, mas pelo ponto de vista de nossas conscincias em relao expanso/retrao do universo. Se o Universo um programa que foi programado dessa maneira, quem foi o programador? No sabemos. Mas se ele um programa e algum o programou, ns no poderemos saber, pois nos somos partes do programa. Da mesma forma como os personagens do The Sims no podem saber quem so os programadores do mundo deles, j que eles so parte do programa. _________________________________________ At agora, foi aqui que chegamos. Ainda no nenhuma teoria revolucionria, apenas um comeo. Aproveitamos o espao do Teoria da Conspirao para compartilhar, e quem estiver interessado em discutir alguns conceitos podem usar os comentrios da pgina. Igor Teo estudante de psicologia e colunista do Teoria da Conspirao. Blog pessoal: Artigo 19 Rodrigo Ferreira programador visual e estudante de psicologia. Links recomendados Plido Ponto Azul Sois loucos

Assim falava NietzscheIgor Teo | 25 de julho de 2011

Friedrich Nietzsche foi um importante filsofo que criticou a razo vista como guia infalvel na produo de conhecimento. Reconheceu a lgica como uma fico til, proporcionando a iluso de que podemos compreender a existncia. Razo, moral, religio, arte e cincia, com seu ideal de conhecimento de verdade e redeno, negam a existncia em nome de algo que est alm (seja o conhecimento puro, o bem, Deus, a beleza ou a verdade), enfim, em nome de nada. Infelizmente, Nietzsche muito mal interpretado, principalmente pelo uso recorrente de suas mximas fora do contexto original. Por isso devemos ter certa profundidade em seus escritos. Armadilhas da Linguagem Imaginemos um fogo que permanece eternamente vivo. Ele no permanece idntico a si mesmo um instante sequer, apresentando uma constante mutabilidade. A linguagem ao tentar encontrar uma unidade para nomear pr-supe a existncia de fixidez no mundo. Isso chamado por Nietzsche como uma das armadilhas da linguagem. O que acreditamos ser nossa personalidade, nosso mais ntimo desejo, na verdade expresses da histria em ns. A prpria necessidade de acreditarmos que temos coisas particulares que nos diferenciam do resto do mundo uma produo da poca em que vivemos. Desejamos uma unidade, a formao de uma identidade prpria para nos identificarmos porque queremos a ordem e repudiamos o caos ou a prpria desestabilizao de nossas certezas e verdades. A multiplicidade nos aflige e acabamos exigindo certa constncia de valores, unidade de estilo, para podermos dizer se concordamos ou no, se gostamos ou no, se somos amigos ou no. Reconhece-se o homem como plural, constitudos no de um nico eu, mas de um incontvel nmero de impulsos, desejos e pensamentos. Para Nietzsche, no h resposta para pergunta o que sou eu?, pois ao partimos do princpio que h um eu, j incorremos na pr-suposio de que para cada idia h um correspondente no mundo (outra armadilha da linguagem). Ao mesmo tempo, o filsofo ir falsear a mxima Penso, logo existo, pois para pensarmos h antes uma srie de processos em andamentos que envolvem impulsos psicolgicos e fisiolgicos. Antes deste querer pensar, por sua vez, h um processo anterior que envolve diversos outros pensamentos. Segue-se assim ciclicamente.

Nietzsche critica a concepo de mundo baseada na gramtica, por ter como caracterstica a busca pela simplificao no modo de compreender a realidade. O Filsofo da Subjetividade Friedrich Nietzsche critica a cincia pelo fato de termos controle sobre algo, no significa que temos real conhecimento do mesmo. O que conhecemos o melhor possvel, mas ainda muito elementar, no sabendo a verdadeira razo da existncia deste objeto no mundo. Da a mxima: No h fatos, apenas interpretaes. A prpria noo de homem uma representao ficcional. Quando passamos a nos ver como animais superiores aos demais inventamos a dualidade, chamamos o outro lado de animalidade, e a recusamos. O homem nega a vida selvagem e impe-se a responsabilidade por seus atos. nessa dualidade que o homem tem se representado, independente da forma de conhecimento, seja entre alma e corpo, bem e mal, cu e terra. O ideal de reino dos cus imps ao homem que seria necessrio sacrificar nossos elementos naturais em nome de uma verdade espiritual para podermos atingirmos a paz eterna. No porque Deus no est a todo o momento obrigando algum a fazer algo que a vida deixa de adquirir um sentido ascendente. Podemos nos representar como animais voltados ao crescimento e a auto-superao, sem necessariamente precisar da existncia de um Deus regulador. No se trata de fazer apologia vida selvagem ou a uma vivncia pecaminosa, mas sim acreditarmos em ns mesmos, na singularidade de cada um. Foi inventado um padro de medida artificial de igualdade universal que procura suprimir o singular em nome do universal. Se foi necessrio na antiguidade um freio subjetividade para podermos viver em sociedade, esse freio hoje desnecessrio. Nietzsche luta contra todo tipo de uniformizao em defesa do direito singularidade de cada um. Culto a Dionsio A moral ocidental, segundo Nietzsche, est baseada nos valores cristos de desprezo por esta vida, enxergando-a como mera forma de aquisio de crditos para um lugar no cu. O ideal de ascenso promovido pelo desprezo do corpo e dos instintos naturais, considerados como maus ou pecaminosos. O filsofo v na tragdia grega a batalha entre as paixes do ser humano. Da que surge a oposio dos cultos de Apolo e Dionsio. O dionisaco de Nietzsche afirmar a vida e as paixes humanas em oposio ao asceta apolneo. A vida se caracteriza por uma luta por mais poder, havendo na sociedade tipos de pessoas fortes e fracos. A mensagem nietzschiana para sermos fortes e no sermos submissos a foras opressoras. Neste contexto surge o superhomem: um tipo superior no no sentido biolgico e evolucionista, mas um homem que deixou para trs os grilhes da moral do rebanho.

Igor Teo estudante de psicologia e colunista no Teoria da Conspirao. Acompanhe tambm o blog Artigo 19. Referncias Obras completas de Friedrich Nietzsche Revista Mente, Crebro & Filosofia. Edio 3 Nietzsche Links relacionados O julgamento da civilizao questo da existncia humana Orao ao Deus desconhecido

A Sociedade de Controle e a LiberdadeIgor Teo | 5 de agosto de 2011

Michel Foucault foi um pensador que influenciou diversas reas de estudo. Um dos temas que se dedicou a estudar foram as formas de poder e como elas se exercem sobre os indivduos. Diria ele: Onde h poder, h resistncia. E o campo da liberdade se faz de atitudes e comportamentos pelo quais os indivduos recusam as prticas a eles impostas. O governo e as empresas contam com laboratrios de pesquisas e bancos de informaes cada vez mais detalhados sobre a vida particular das pessoas. A populao presta conta de seus atos das mais variveis formas, desde o imposto de renda documentao necessria para se locomover nas cidades. Ao mesmo tempo o sujeito submetido s normas e padres de comportamento condicionados pela sociedade. O indivduo condicionado o bom-moo, o mocinho das novelas, regido pela moral capitalista e o modo de vida burgus. Nas formas modernas do Estado nas sociedades industrializadas so utilizados procedimentos e mecanismo de controle para a constituio de identidades coletivas, sendo oferecidas identidades prontas nos meios de comunicao, como na televiso, para a populao consumir. Muito se fala em liberdade no consumismo, mas a cobiada liberdade do consumidor se resume no direito de escolher por vontade prpria um estilo de vida j determinado pelo mercado. Enfim, parece que o liberalismo se mostrou como a melhor forma de controle da populao, pois ao contrrio dos regimes totalitrios e ditatoriais, concede uma falsa iluso de liberdade. Todos obedecem s regras do jogo, cumprem as leis, mudam o horrio quando o governo determina sem nem saber ao certo como esse dia escolhido.

Estratgias de dominao Um elemento primordial do controle social desviar a ateno do pblico dos problemas importantes mediante a liberao excessiva de informaes insignificantes. A populao passa mais tempo discutindo sobre futebol e vencedores de Reality Show do que economia ou poltica. O excesso de informao reduz a populao passividade e ao egosmo, ocultando os fatos um mar de irrelevncia. Ou ento se mantm o pblico ocupado, sem tempo para refletir quanto s questes importantes da sociedade. A populao no compreende as tecnologias e os mtodos utilizados para seu controle. A qualidade da educao dada s classes sociais mais baixas medocre, tornando a ignorncia algo comum. O indivduo acredita ainda, dentro do pensamento capitalista, ser o culpado pela sua desgraa, por causa de sua pouca capacidade ou falta de esforos. Ao invs de rebelar-se contra o sistema econmico, o indivduo vira-se contra si mesmo. E a populao, por pior que a situao parea, acredita que tudo ainda ir melhorar no futuro. O poder emergente a partir do sculo XVII tem como objetivo principal controlar a vida social. Para isso existe o projeto de ampliao e integrao das aptides individuais com os sistemas econmicos. Graas biologia, neurobiologia e psicologia aplicada, hoje a cincia tem maior conhecimento do ser humano, tanto fisicamente como psicologicamente. Conseqentemente, o governo conhece melhor o indivduo do que ele mesmo conhece a si mesmo. Um exemplo simples o teste vocacional, que age a servio de uma engenharia social, dizendo o que melhor para cada indivduo, quando isso deveria ser decidido por ele mesmo. Os movimentos de contracultura, que por vezes aparecem como uma oposio a cultura dominante, no so em realidade contrrios a dominao. A contracultura faz parte da prpria cultura, sendo um mecanismo que faz com que ela se atualize, mantendo a ordem estabelecida com pouca alterao real. Exerccio de Liberdade O homem deve lutar contra as tcnicas e procedimentos desenvolvidos para conhecer e controlar a vida subjetiva de cada membro da sociedade. Nesse contexto que vamos inventar nossa subjetividade. Apesar das condies desfavorveis, o indivduo no est necessariamente desamparado. A atitude questionadora a principal arma. Atravs da reflexo, da atitude crtica, podemos analisar o contedo de uma determinada proposio, para construirmos o nosso prprio saber, sem aceitar de primeira as formas de saber j prontas, seja cientfica, religiosa ou ocultista. Pois nosso campo de batalha no feito de violncia ou terrorismo, mas nas idias, atravs da conscientizao. Um homem pode morrer, lutar, falhar, at mesmo ser esquecido, mas sua idia pode modificar o mundo mesmo tendo passado 400 anos. In: V for Vendetta

Igor Teo estudante de psicologia e colunista no Teoria da Conspirao. Links relacionados possvel ser patriota? Pato Donald Nazista

Tentando prever o futuroIgor Teo | 15 de agosto de 2011

Por Igor Teo e Rodrigo Ferreira Na saga Fundao do autor Isaac Asimov h uma cincia fictcia chamada de Psico-histria, um saber mesclando histria, sociologia e matemtica estatstica com o objetivo de prever com exatido as aes coletivas de populaes muito grandes. A Psico-histria baseia-se na idia de que, enquanto as aes de um indivduo em particular no podem ser previstas, as leis da estatstica aplicadas em grandes populaes poderiam prever eventos futuros. Asimov usou a analogia de um gs: um observador possui grande dificuldade em prever o movimento de uma nica molcula de gs, mas pode prever o comportamento de massa do gs com alta preciso. Fsicos chamam isto de Teoria Cintica. O personagem responsvel pela criao dessa cincia, Hari Seldon, estabeleceu dois axiomas: 1 a populao cujo comportamento ser modelado deve ser suficientemente grande 2 a populao em questo deve permanecer ignorante dos resultados da anlise da psicohistria. Na prtica, basicamente medir todas as variveis que podem determinar a realidade, e com isso prever o futuro. Mas essa idia cai em questionamento, pois se posso prever o futuro, logo no poderia mudar ele? Asimov tambm pensou nisso: Ele diz que para alterar o futuro era necessria uma inrcia muito grande no Universo, que pudesse mudar as correntes do tempo, algo que tornaria essa possibilidade de pouca praticidade. Mas se o futuro no pode ser alterado, por que saber? Soa um tanto Orculo de Delfos Aqui entra nossos questionamentos: A psico-histria seria capaz de prever qualquer ao coletiva? A analogia com os gases pode ser considerada, sob um ponto de vista inicial, falaciosa porque gases no possuem manifestao no plano mental. Alm de que acreditar que as leis das fsicas podem ser aplicadas ao comportamentalismo humano falsa segundo algumas teorias mais recentes da psicologia.

possvel prever com preciso o movimento conjunto das molculas de algum gs porque os eventos possveis desse domnio no esto abertos ao livre-arbtrio ou eventualidades da histria. A manifestao humana a nica que olha para si mesma, que se define e se analisa. Mesmo com massas populacionais de grandes escalas no seria possvel prever a aes coletivas, pois a interaes de grupos humanos envolvem processamentos mentais. Numa escala to alta as associaes humanas estariam muito fragmentadas, pois as associaes que fazemos com outros humanos dependem do nosso universo particular. Assim a psico-histria teria de ser capaz de prever movimentos de grupos menores, para em seguida prever movimentos de grupos maiores. No entanto, para prever movimentos de grupos menores, precisaria prever movimentos de indivduos que so imprevisveis. Assim a previso de aes coletivas em escala galctica adquiriria um carter to imprevisvel quanto s aes individuais. No entanto, essa posio pode encontrar oposio. Pois isso s vlido se acreditarmos que o microcosmo corresponde ao macrocosmo, no para algumas linhas onde a soma das partes diferente do todo. Em nmeros: 1 + 1 no 2, 1 + 1 1 + 1. Quanto previsibilidade do futuro, se um dia pudermos prever-lo, a prpria previso faz parte dos eventos que iro culminar no futuro visualizado. Ento, no porque posso prever o futuro que posso mud-lo. De fato, se posso prever o futuro qualquer ao minha, no sentido de tentar evit-lo ou no, somente far com que ele se concretize porque a mera idia da previso do futuro pressupe uma linearidade determinstica. Para prevermos o futuro teramos de rastrear todas as variveis e todas as relaes entre elas. Se isso fosse possvel no poderamos fazer muito mais do que observar, pois ns mesmos, nossas atitudes e pensamentos so variveis dentro do sistema. Isso inclui a atitude de prever o futuro. Esse mesmo paradoxo da viagem do tempo. No adianta voc voltar no tempo para mudar algo, porque de fato voc j voltou e mudou. Douglas Adams ainda vai ser mais profundo nisso. Se viagem do tempo fosse possvel, o tempo deixaria de existir. Do mesmo modo que as viajem entre espaos diferentes fazem com que espaos diferentes se tornem mais parecidos entre si (globalizao), se as pessoas viajassem no tempo, o futuro iria se misturar com o passado e, de fato, tudo se tornaria uma linha temporal imutvel. Isaac Asimov, mais para frente em sua srie Fundao, revelar que a psico-histria falha, porque ela s capaz de prever as correntes da histria determinadas pelas massas, mas no prev quando um homem sozinho muda todo o destino do Imprio Galtico. Genial como ele assim . Texto integrante do Projeto Livre-arbtrio ___________________________________________________________ Igor Teo estudante de psicologia e colunista do Teoria da Conspirao. Blog pessoal: Artigo 19

Rodrigo Ferreira programador visual e estudante de psicologia. Links interessantes: Magia do Caos Introduo Alquimia

Invocando os DeusesIgor Teo | 25 de agosto de 2011

Geralmente, o estudo da mitologia considerado como inexpressivo devido crena de que mitos so formas rudimentares de produzir conhecimento e que no so necessrios em nossa vida moderna. O que um erro, pois o estudo dos atributos das divindades fornece as bases para o estudo da prpria conscincia humana. Os mitos se expressam atravs de smbolos e metforas representando temas abstratos, que muitas vezes no conseguimos traduzir perfeitamente em palavras. Antigamente transmitidos por poetas e sacerdotes, hoje o papel da produo dos mitos pertence aos escritores que recriam o sentido da vida em contos modernos. O ritual sua aplicao prtica. Durante o ritual, o mago encena um mito, vivenciando sua essncia para alcanar um determinado objetivo. Os deuses so os arqutipos da conscincia humana, interpretados de forma particular em cada cultura. Na mitologia nrdica, por exemplo, o aspecto blico era mais valorizado, enquanto na helnica havia enfoque no aspecto de beleza. A mitologia nrdica est centrada no eterno conflito entre foras opostas, representadas pelo gelo e fogo. Diferente das culturas favorecidas por climas amenos e colheitas fartas, os mitos nrdicos refletem a natureza das montanhas, geleiras e vulces, locais de difcil sobrevivncia, representados por gigantes e monstros ameaadores. O Ragnark representa a jornada cclica do tempo, onde deve haver o fim do velho para o incio do novo. Valhala reflete a mensagem de que mais importante ter coragem e bravura para enfrentar os desafios do que vencer o inimigo em si. Os locais de culto, ao contrrio dos templos romanos, eram simples e rsticos. As divindades eram associadas s foras da natureza, sendo atribudos personalidades e comportamentos que explicassem metaforicamente os acontecimentos do mundo. Os deuses eram vistos como mestres e companheiros, a quem se podia apelar em momentos de necessidade.

Entrando em contato com Deuses Existem grandes idias chamadas arqutipos, sem forma, apenas como tendncias invisveis atrs dos smbolos presentes no inconsciente coletivo da humanidade. H por exemplo, a imagem da Grande Me, conhecida pelos catlicos como Maria, pelos andinos de Pacha Mamma, pelos wiccanos de Deusa. Mesmo que neguemos, essas imagens no deixam de se fazer presentes em ns. As imagens divinas so as representaes simblicas para entrarmos em contato com os arqutipos, mas no devem ser levadas ao p da letra. Por exemplo, se algum estiver passando por um momento de dificuldade, se sentindo sem nimo para superar um desafio, este sujeito pode invocar Thor, que concede a coragem e a fora para enfrentar e superar empecilhos. Aquele que precisa de inspirao, que lida com palavras, escritas ou faladas, necessitando de eloqncia e criatividade pode evocar Odin. Odin o arqutipo da Sabedoria, pois no nasceu onisciente, mas atravs do sacrifcio pessoal adquiriu conhecimento e se tornou o Pai Universal, o xam ancestral, guiador das almas merecedoras. Para alcanar a sabedoria teve que perder um de seus olhos, passar nove dias enforcado na Iggdrasil se autoimolando, para ento deixar de ser aprendiz e possuir o poder da magia. Mas preciso compreender que no estou afirmando a existncia real de um Thor, segurando um martelo em Asgard e disparando troves contra gigantes de gelo. Deuses no existem materialmente, so apenas personificaes de grandes idias. Os antigos guerreiros Bersecks eram treinados em prticas de guerra e xamnicas para que durante as batalhas se sentissem possudos pelos deuses. Isso fazia com que eles lutassem nus ou usando apenas peles de animais, destruindo uma srie de inimigos que estivessem pelo caminho e no sendo feridos por nenhuma arma. Antes de querer invocar um arqutipo necessrio conhec-lo bem. Por isso estude em livros tudo que voc puder. Quanto maior o estudo, maior a possibilidade de sucesso. Para as primeiras invocaes so sugeridos arqutipos benignos. Ningum est apto a enfrentar um demnio interior no primeiro dia. Como ir saber que deu certo? Racionalmente, tudo parecer incompreensvel, mas ainda assim voc ter certeza que deu certo. Voc ouvir uma voz distinta dentro de sua mente, to estranha que nem parecer voc. Voc pode se comunicar, se sentindo surpreso por perceber que as perguntas que voc faz recebero respostas to originais que parecero nem vir da sua mente. No entanto, tudo estar ocorrendo l dentro. Cuidado apenas para no cair no autoenganamento. Seja sincero consigo mesmo, falhas podem existir. Somente com tempo e prtica voc conseguir diferenciar clareza os sucessos dos fracassos. Deuses so estados normais de conscincia disponveis para todos, e no apenas processos psicolgicos internos, existindo em toda a humanidade, desde tempos imemoriveis e devero existir ainda por um bom tempo. As pessoas tendem a ficar possudas pelos deuses mesmo no reconhecendo como tal. Um homem pode ser dominado por sentimento de justia (Tyr), paixo (Freya) ou sentir-se deprimido (Hel). No cotidiano vivenciamos estas

caractersticas, s no usamos a palavra deus para descrev-las. Separar de nosso Eu e os nomear uma forma de estudar e entend-los. Neste texto foi privilegiada a mitologia nrdica, mas pode ser feito o mesmo com o panteo que voc tiver mais finalidade. Os heris modernos so to mitolgicos quanto os antigos, podendo, portanto, serem utilizados personagens de quadrinhos ou de desenhos. Cosplay faz tanto sucesso, no? Referncias Pop Magic. Grant Morrison Ragnark: o crepsculo dos deuses. Mirella Faur __________________________________________________________ Igor Teo estudante de psicologia e colunista no Teoria da Conspirao. Leia mais em Artigo 19. Links relacionados A busca por uma Individualidade Despertar do Heri

Arrebatamento e a Experincia ReligiosaIgor Teo | 4 de setembro de 2011

Voc realmente acredita que um dia voc vai ser julgado? Relato do meu colega Rodrigo Ferreira, do Projeto Livre-arbtrio e Tentando prever o futuro. H uns poucos meses atrs assisti a um vdeo que consistia num trecho de um sermo de um pastor de uma igreja batista dos Estados Unidos. O vdeo era muito bem editado, com efeitos visuais de qualidade e tudo o mais, e o sermo do pastor muito bem executado. A entonao da voz, os recursos visuais, tudo colaborando para alcanar certas reaes no expectador. Eu no sei bem o que eu estava fazendo assistindo aquele vdeo, mas quando eu ligo o computador e acesso a internet normalmente assim que funciona: eu comeo com uma pgina e vou navegando Em algum ponto eu j estou com mais de 20 pginas abertas sem fazer a menor ideia do que eu estava querendo em primeiro lugar. Antes de continuar meu relato preciso esclarecer: no sou cristo, no sou sequer religioso e s no sou ateu porque acho um pouco demais afirmar que Deus no existe considerando o pouco que sei sobre o que h l fora. Ento no esperava que minha reao ao vdeo fosse nada alm do usual Ai, quanta bobagem Isso no faz o menor sentido.

Comecei, ento, a assistir ao vdeo muito ctico e qual no foi a minha surpresa quando, mais ou menos no meio do vdeo, comecei a me debulhar em lgrimas. Eu chorava feito uma criana, soluante, as lgrimas descendo pelo meu rosto copiosamente e cada nova frase do pastor me fazia chorar mais. Por alguma razo parecia que aquele choro estava entalado em mim h muito tempo e devia ter muita coisa contida porque eu no conseguia parar de chorar. Mesmo depois do trmino do vdeo eu continuei chorando. Se voc perguntar por que eu chorava, eu simplesmente no sei responder, mas sentia como se algo muito maior do que eu tivesse me acertado em cheio e feito transbordar em mim um sentimento de pequenez para o qual a minha nica reao era me encolher e chorar. Eu pensava nas mazelas do mundo e chorava; eu pensava na vida e chorava; eu pensava em mim mesmo e nas pessoas que eu amo e chorava. Era um choro de felicidade, misturado com um choro de deslumbramento Era um choro de arrebatamento. Eu me sentia, de fato, arrebatado. Tomado por algo muito maior do eu e posto frente a frente com a minha insignificncia. Provavelmente, se eu estivesse em uma igreja ouvindo o sermo, ao invs de estar em casa sentado na frente do meu computador, eu seria recolhido para o grupo dos tocados pelo Esprito Santo. Mas ao invs de ir procurar um lder religioso de qualquer natureza, fui ao encontro de um grande amigo meu que acredita em Deus, mas que tem um senso crtico muito apurado, uma clareza mental que eu admiro muito e que me conhece muito bem. Eu pensei Se tem algum que pode me ajudar a colocar a cabea no lugar, ele. Fui andando pela rua em direo a casa dele ainda chorando. Eu j nem me lembrava do vdeo exatamente, mas as portas estavam abertas, minhas guardas foram suspensas e eu estava completamente vulnervel. Chorando sem parar no meio da rua, no melhor estilo novela mexicana eu seguia andando em direo a casa do meu amigo com um questionamento na cabea Ser que eu sou Cristo sem saber?. Agora eu fao uma pausa no meu relato pra me explicar: no quero parecer nem extremamente idiota e nem extremamente ctico. No gosto de extremos, acho sempre que o bom caminho o do meio. Pois bem, quando eu disse que no sou religioso, isso no quer dizer que religies no me interessam. Pelo contrrio, me interessam e muito. Todas as questes existenciais profundas que as religies procuram responder so questes que tambm ocupam bastante a minha cabea, s que eu nunca encontrei at hoje uma religio que as responda de uma forma suficientemente satisfatria para mim. Algumas respostas at me satisfizeram durante certo tempo, mas no demorou muito para que elas se juntassem ao monte de verdades no to verdadeiras assim. O fato que eu nunca cheguei a sentir que eu estava certo de nada. Talvez a busca por certezas seja a busca errada, mas isso papo pra outra reflexo Enfim, o que quero dizer que eu no sou to ctico assim a ponto de achar que no existe nada metafsico por a, mas tambm no sou to idiota a ponto de acreditar em qualquer fantasma de lenol. Alguma coisa naquele vdeo me acertou em cheio por alguma razo e o meu amigo me ajudou a vislumbrar o que poderia ser. Quando cheguei casa dele, sentei-me ao sof e contei o que havia acontecido. Eu falava ainda chorando, na expectativa de que depois de me ouvir ele me dissesse algo que fizesse sentido, porque o que eu tinha vivenciado at ento no fazia muito.

Voc tem conscincia de que este tipo de material feito exatamente com o objetivo de provocar esta reao nas pessoas? ele disse. Eu parei de chorar e pensei por uns instantes. No sei Acho que no. Quero dizer, eu achei que tinha assim que comecei a assistir ao vdeo, mas a eu comecei a chorar e esqueci-me disso. Pois , mas voc sabe que conhecer o processo no te torna imune a ele, no mesmo? , eu acho que acionando os gatilhos certos, mesmo que ns conheamos os gatilhos no d pra evitar a reao. minha cabea comeava a voltar para o lugar certo. Exatamente. Olha, se voc me disser que essa sua reao ao vdeo realmente fez voc sentir algo pelo que voc estaria disposto a mudar a sua vida, a forma como eu vou tratar isso vai ser outra completamente diferente, mas eu duvido que este seja o caso , acho que concordo com voc, mas Mas voc viu o vdeo? Voc no sentiu nada?! Quer dizer, eu j vi vdeos assim e eu nunca reagi desta forma. , mas voc nunca havia visto vdeos deste tipo em ingls, n? , acho que no. Voc quer dizer que pelo fato do vdeo ser em ingls ele pode ter me acessado de uma forma diferente que as mesmas coisas ditas em portugus? Tambm. O fato que o vdeo criado exatamente com este intuito. Essas pessoas so treinadas para colocar outras pessoas exatamente neste estado em que voc se encontra. Elas no fazem isso por acaso, elas sabem o que esto fazendo e fazem muito bem. Entendi. Assista ao vdeo de novo e me diga o que voc sente, ok? T. Um pouco hesitante, assisti novamente ao vdeo. Confesso que ainda senti alguma coisa, mas no com a mesma intensidade que antes. No senti vontade de chorar. Minha cabea j estava enxergando as coisas atravs de outro prisma. Voc percebeu sobre o que o vdeo? meu amigo acrescentou assim que terminei de assistir. No sei. Vrias coisas, n? No, este vdeo sobre Julgamento Final. Agora, a pergunta interessante : voc realmente acredita que um dia voc vai ser julgado?

Fiquei em silncio refletindo durante algum tempo. Sei l, parece que sim Fiquei mais um pouco l na casa dele vendo uns vdeos besteirol no Youtube pra me distrair e voltei pra casa com a questo na cabea. Ser que eu realmente acredito que um dia serei julgado? Aqui cabe uma diferenciao entre crena ostensiva e crena oculta, uma teorizao minha, muito incipiente e baseada unicamente nas minhas prprias reflexes. Se algum j escreveu sobre isso, eu ainda no li o suficiente pra saber. Vou pegar emprestada a definio de crena do Houaiss: Crena: sub. fem. ato ou efeito de crer. 1) estado, processo mental ou atitude de quem acredita em pessoa ou coisa. 2) f, em termos religiosos. 3) convico profunda. 4) opinio manifesta com f e grande segurana. A crena exite na esfera mental e se manifesta no domnio fsico observvel atravs das atitudes das pessoas. Sabemos que muitos dizem acreditar em certas coisas,