a arte surge assim, na rede

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rede #a arte surge assim, na rede fevereiro - março 2014

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exposição de novos artistas | rede arte contemporânea (joão pessoa-pb) | fevereiro-março 2014 | curadoria de dyógenes chaves

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rede

#a arte surge assim, na redefevereiro - março 2014

alberto moreira cristina carvalho

danielle travassos francisco milhorança

thiago trapo

curadoria de dyógenes chaves

Na Paraíba, como em todo o Brasil, o mercado de arte sempre aposta naqueles artistas visuais que já estão consolidados pela crítica e/ou instituições oficiais, selecionados por meio de competições (os salões de arte) e de curadorias que vez ou outra tentam mapear este imenso território brasileiro. Daí, a partir deste status quo, estes artistas logo ganham espaços nas galerias privadas e entram no mercado de arte dominado pelas escolhas de arquitetos decoradores e exibidos em feiras de arte, notadamente em centros mais desenvolvidos como Rio e São Paulo.

Na Europa, Ásia e Estados Unidos há uma inversão de fluxo. Primeiramente, as galerias comerciais é que lançam os novos artistas que, em sua maioria surgem mesmo é nos bancos universitários, algo raro no Brasil em função da pequena quantidade de cursos de artes. O mercado, neste caso bem mais maduro que o nosso, passa a determinar quem é quem e, na maioria das vezes com a anuência de um professor-artista ou colecionador, público ou privado, individual ou coletivo (museu, fundação etc.). Logo depois é muito comum que este novo talento apresente sua produção em grandes museus e seja selecionado para as bienais e feiras de arte, que hoje proliferam até no nosso país.

Foi pensando neste paradoxo que a galeria Rede Arte Contemporânea (no bairro de Manaíra, em João Pessoa) resolveu apresentar numa mostra coletiva – a primeira neste ano de 2014 – unindo as obras de novos talentos das artes visuais da Paraíba. Em que pese alguma diferença de técnicas, linguagens e idades, estes artistas tem como ponto de referência o fato de serem “novos”. No sentido, claro, de serem pouco reconhecidos em nossa sociedade, por toda a cadeia produtiva – imprensa, críticos, professores, galeristas, colecionadores etc. – e até pelos colegas artistas. Destes artistas, alguns, casos de Alberto Moreira (nascido em Sousa, Paraíba, e atuante entre Recife, São Paulo e João Pessoa) e do paulista Francisco Milhorança (radicado na cidade desde 2008), já possuem larga vivência no mundo da arte, da pintura às artes gráficas. Estudaram e trabalharam em centros de mais tradição na arte contemporânea, como São Paulo e Europa, o que lhes assegura certa “maturidade”, mesmo assim são “novos” para muita gente que ainda não conhece a sua produção.

Por outro lado, as artistas Cristina Carvalho e Danielle Travassos surgiram nos bancos da universidade, no curso de artes visuais da UFPB. Com uma trajetória já reconhecida em importantes eventos dedicados aos novos talentos – o Samap, de João Pessoa, onde Danielle abocanhou o prêmio de artista revelação em sua penúltima edição, e o Salão de Abril, em Fortaleza, selecionada que foi nesta concorridíssima competição nacional –, ainda assim não conseguiram o seu “lugar ao sol” no acanhado mercado local. Cristina Carvalho tem seguido o mesmo caminho de Danielle. Com atuação em eventos regionais e selecionada em projetos do Programa Banco do Nordeste de Cultura, participou de residências artísticas em Recife, Fortaleza e Sousa, no Sertão paraibano. Mas, ainda devemos tratá-las como novos artistas? Claro, chegou a hora de apresentar a rica produção (e suas pesquisas) destas artistas para o grande público, notadamente aqueles que gostariam de investir em um artista jovem, em início de carreira, e que possa oferecer sua arte a valores mais módicos que os “medalhões” da arte paraibana.

Já Thiago Trapo, que completa a mostra coletiva, é o mais novo (e jovem) dos cinco. Descoberto em mostras individuais nos programas para novos talentos da Energisa e da Aliança Francesa João Pessoa, tem atraído atenção de apreciadores das artes visuais pelo despojamento estético (e atualíssimo) de suas colagens-pinturas, o que lhe confere o título de revelação dentre outros artistas de sua geração, emergente há poucos anos nessa febre de arte pública, de coletivos de artistas e de colaboracionismos que, ainda bem, pipocam no país em meio às recentes (e polêmicas) manifestações (e rolezinhos) em praças e ruas, cidades e campos.

Assim, com muito prazer, a Rede Arte Contemporânea investe na obra destes “novos” artistas. As suas pinturas, desenhos e colagens-pinturas passam agora a desfrutar de um “lugar ao sol” no mercado de arte local. E em uma “rede”, na sombra, melhor dizendo.

Dyógenes Chaves (ABCA/ AICA)

alberto moreira

Nasci em 1962 na cidade de Sousa, Paraíba, Brasil. Minha formação acadêmica em engenharia civil, filosofia e teologia, tem-me oferecido uma boa plataforma no exercício da minha habilidade artística. Como membro da Pia Societàdi Don Nicola Mazza, eu vivi um exílio voluntário no circuito da arte.

Atualmente moro em João Pessoa e Recife, trabalho como educador no referido Instituto, deixando-me tempo para o desempenho de minha sensibilidade artística, como um consultor para o “espaço litúrgico” (arte e arquitetura do espaço sagrado) e como artista em si. Continuando após uma pausa, mais maduro e com propostas mais consistentes no que se refere a perseguir o belo e ao dever de expressar o inexprimível, através de algo mais favorável: as belas artes.

Meu desejo de revelar o “ser” na imagem do corpo (humano) foi e sempre será o motor da minha pesquisa. Prova disso é que a minha satisfação pessoal está antes em resultado significativo mais que técnico: um corpo que habita e que ao mesmo tempo condiciona. Mais do que nunca, em uma sociedade sem alteridade, sinto a obrigação de cultivar a sensibilidade e atingir o que há além da figura humana. Ou, neste mundo de conformidade, expressar a sua natureza de mistério: o ser humano é o que ainda não é. Portanto, a expressão do corpo humano que agoniza por um devir, através de pinceladas gestuais, cores, luz e sombra, é a minha realização.

Com mesmo empenho me ponho no objetivo de re-educar o olhar sobre o que é natureza, o que não é obra humana. Tudo o que rodeia o homem deixou de ser com ele outra criatura para ser uma extensão dele próprio, ou seja, uma vida sem alteridade, uma questão da necessidade humana. Então eu fujo de um discurso ecológico, que defende a natureza com valores estéticos como um “bonsai” submisso a medidas violentas. Eu gosto de pintar a natureza indomável, indescritível: luz, vento, fogo, força... Meus trabalhos, com grande empatia, dialogam com o artista inglês William Turner. Seu desafio me parece ser como o meu, quando nada parecia ser capaz de escapar à máquina com o advento da revolução industrial.

Persistindo nesta pesquisa, com a minha residência em São Paulo e o contato com seus subúrbios amorfos e caóticos, lancei um novo desafio: “onde está o homem?”. Meu trabalho então se voltou também para o que o homem produz. Quase como um trabalho de arqueologia para trazer para fora o que foi enterrado por um tempo, meu projeto é revelar a vida na matéria morta, à procura de uma linha poética no que foi construído sem estética.

Um céu sem horizonte, sem imaginação, de uma época, servindo como uma cena de casas sem telhados, tanques de água em lajes descaradamente expostos como troféus e um emaranhado de fios de uma comunicação cheia de interferência e os restos de uma vida que faz tudo isso e tentar viver nele. Nestas imagens, agora completamente desprovido de figuras humanas, quero expressar minha angústia e apelar para outros sentidos...

E, finalmente, como um fotógrafo, clicar sobre o que eu vejo, requer de mim um olhar diferente, como quando eu pinto. Interferir digitalmente as minhas fotos, também quando estas são dos meus trabalhos, é um contínuo impulso: encontrar um modo diferente de expor a “imagem” que a luz do sol não revela.

Alberto Moreira

da série a natureza do natural | acrílica sobre tela | 80x120cm | 2012

da série a natureza do natural | acrílica sobre tela | 80x120cm | 2012

onde está o homem 1 | acrílica sobre tela | 110x175cm | 2012

onde está o homem 2

acrílica sobre tela175x110cm

2012

da série eco romântico | acrílica sobre tela | 80x100cm | 2012

da série o corpo que habita | acrílica sobre tela | 100x80cm | 2012

cristina carvalho

Formada em Artes Visuais pela UFPB, em 2006, a artista plástica Cristina Carvalho, natural de João Pessoa, despontou no cenário das artes visuais em meados dos anos 2000, no Salão dos Novos Artistas Plásticos do Sesc, nas edições de 2005 (primeiro lugar na categoria desenho) e 2006 (menção honrosa pelo conjunto da obra).

Apesar de sua produção transitar por diversos suportes e linguagens como instalações, objetos, pinturas, vídeos e performances, na mostra exibida na sede da Energisa a artista expõe uma série de desenhos expandidos feitos com diversos materiais como linha de algodão, nanquim, grafite, fita de cetim sobre papel. Mais recentemente vem utilizando fios do próprio cabelo para desenhar e bordar, hábito que adquiriu ainda na infância, quando aprendeu a manipular a máquina de costura, agulhas e tecidos da mãe.

Durante algum tempo Cristina relutou em seguir a carreira de artista plástica, mas como afirma a própria artista, “não é a pessoa que escolhe ser artista, é a arte que escolhe a pessoa”. Foi a necessidade de se expressar, questionar e transmitir o seu pensamento que consolidou a sua vocação, pois esta carga emocional, afetiva e estética, presentes em seus trabalhos é algo que vem da infância, dos materiais que utilizava em suas brincadeiras. O uso desta memória e destes materiais no seu trabalho até hoje é a constante tentativa de transceder a sua própria realidade. Dentre as questões mais presentes em suas obras estão a condição humana e espiritual do homem e a relação destas com as instâncias políticas.

Fábio Queiroz (Usina Cultural Energisa), jornalista e crítico

sem título | linha de algodão, tecido e aquarela sobre papel | 42x29,7cm | 2005 (cada)

da série arquétipos | linha de algodão e grafite sobre papel | 42x29,7cm | 2010 (cada)

sem título | linha de algodão, tecido e aquarela sobre papel | 42x29,7cm | 2005 (cada)

penélope | linha de algodão, tecido e guache sobre papel | 42x29,7cm | 2005

danielle travassos

Nossa memória nos prega peças – dizia minha avó. Ela falava de suas lembranças que iam e vinham, trazendo para perto momentos de sua infância e apagando fatos recentes de acontecimentos rotineiros da semana que acabava de terminar. A memória não se constitui de um bloco coeso de informações, imagens e lembranças concretas, ela é construída em camadas e tramas que se conectam criando um corpo flexível onde o vazio, ou seja, o esquecimento disputa com a lembrança momentos de glamour.

Tomando como exemplo uma sala de projeção de cinema equipada com um arquivo de filmes parcialmente acessível. Algumas películas já deterioradas reproduzem imagens distorcidas, outras trazem somente o áudio, a imagem se apagou, outras o projecionista não deseja vê-las novamente então as guarda bem escondidas no fundo do armário, junto às latas velhas de rolo de filme. Semelhante a este espectador – sujeito às mais diversas adversidades que interferem na sua sessão de cinema –, estamos nós em relação à nossa memória, aquela que buscamos insistentemente acessar.

O Acesso Restrito à memória torna-se para Danielle Travassos, o grande desafio de sua pintura. Ao longo dos últimos três anos a artista busca reconstruir a memória urbana do centro histórico de João Pessoa. Suas referências são os vãos dos casarões abandonados, o silêncio das praças, que hoje se tornaram palco de lembranças dispersadas, e os vestígios de plantas de jardim agarrados às grades de ferro das fachadas.

A memória construída pelo vazio do esquecimento, esta é a chave para o universo monocromático da pintura de Danielle Travassos.

Para Danielle Travassos a pintura é concebida como camadas de temporalidade, a construção da cor é pensada simultaneamente à construção da memória. Usando diversas técnicas como frotagem, monotipia e colagem, rendas e grades aparecem e desaparecem como trama de uma sofisticada estrutura pictórica.

Marta Penner (UFPB), professora e artista visual

da série acesso restrito | acrílica, guache e colagem sobre tela | 100x100cm | 2011

da série acesso restrito | acrílica, guache e colagem sobre tela | 130x50cm | 2011 (cada)

francisco milhorança

Radicado há 5 anos na Paraíba, o paulistano Francisco Milhorança, cresceu no Itaim Bibi na zona sul e morou na Rua Augusta, no Centro de São Paulo – dois ambientes urbanos extremos e que são referências icônicas da capital paulista. O primeiro, tomado por incorporadoras, ganhou arranha-céus com escritórios de multinacionais e shoppings de luxo. Já na Augusta – uma das ruas mais famosas da paulicéia – é de onde vem boa parte de sua produção. A atmosfera “Boca do Lixo”, de alta frequência, com prostíbulos, baladas ruidosas e bares undergrounds, contagiou e marcou o ritmo da sua produção, influenciada pela urbanidade, pela vida moderna e pelos objetos do seu cotidiano: música, HQ’s e a própria arte.

Formado em Publicidade e Propaganda na Escola de Comunicação e Artes da USP (São Paulo), em 1982, há mais de 30 anos desenvolve a carreira de designer gráfico. Trabalhou na Editora Abril onde fez edição de artes e projetos para vários títulos, entre eles as revistas Cláudia e Placar (em parceria com a artista visual Lenora de Barros) e ganhou o prêmio Aberj – Comunicação Empresarial. Em seu estúdio de criação, desenvolveu projetos de revistas corporativas para empresas como Odebrecht, Fujifilm, Tyssen Krupp, entre outras. O gosto pelo desenho veio ainda na infância, época em que a imaginação é o brinquedo mais acessível. Dividia o seu tempo entre o futebol na rua e os campinhos de terra, e os muitos rabiscos em qualquer papel que passasse pelas mãos.

Começou a estudar pintura em meados dos anos 80 com o artista multimídia Wilton Azevedo. Participou de algumas exposições coletivas e uma individual. Apesar de adorar o trabalho como editor de arte em revistas, a pintura sempre foi a sua cachaça. “Pintava sem compromisso, por puro prazer. Tinha ateliê em São Paulo e vendia meus trabalhos para amigos e, eventualmente, para algum arquiteto”, revela o artista que vê, na imprecisão do traço, na mistura das cores e nas marcas das suas pinceladas, algo próximo da pintura gotejada do norte-americano Jackson Pollock. Atualmente, divide o tempo e a inspiração entre as pinturas, o design de revistas e o comércio de arte popular e moda artesanal em João Pessoa.

Fábio Queiroz (Usina Cultural Energisa), jornalista e crítico

a vida é feita de som e fúria

acrílica sobre tela127x128cm

2001

sem título | acrílica sobre tela | 67x78cm | 1992

sem título | acrílica sobre tela | 76x100cm | 1994

sem título | acrílica sobre tela | 73x84cm | 1992

vera lendo jornal | acrílica sobre tela | 89x80cm | 1992

sem título | acrílica sobre papel | 60x80cm | 1989 (cada)

thiago trapo

A edição de abril do projeto Arte na Empresa [Energisa Paraíba] apresenta a exposição do artista plástico e estudante de filosofia Thiago Trapo. Natural de Campina Grande, sua infância foi marcada pelas constantes mudanças, consequência de conflitos familiares. “Quando as coisas ficavam estranhas eu desenhava muito. Inicialmente reproduzia estampas de camisetas, depois comecei a criar meus próprios desenhos”, revela. Aos 11 anos, com a separação definitiva dos pais, a família mudou-se para Olinda (PE), onde Thiago passa a desenhar nos shapes dos skates dos amigos e chega a pichar muros. Aos 17 anos, nova mudança: desta vez, retorna a João Pessoa

Em 2006, faz o curso técnico de Pintura Contemporânea no Centro Estadual de Arte do Ensino Fundamental e Médio (CENATED) com o artista e professor Pádua Lucena. “Foi ele quem me ensinou o que era pintura”, revela Thiago. Na mesma época, ingressa no curso de filosofia em busca de matéria prima para a sua arte. Apesar do suporte acadêmico, Thiago Trapo se considera autodidata, pois “aprendo muito mais com os artistas que conheço e que fazem parte do meu convívio, e também vendo e lendo sobre as culturas primitiva, clássica e contemporânea”, comenta o artista.

Há seis anos, Thiago Trapo se tornou profissional das artes plásticas e trabalha também na área de saúde mental, ministrando oficinas de arte. “Acredito que a arte é o resultado da maneira como olhamos e percebemos o mundo ao nosso redor. E essa visão pode formar ou transformar uma nova sociedade”, declara o artista. Suas pinturas quase sempre tratam da relação do homem com o seu cotidiano, abordando a espiritualidade, a política, os medos, a estupidez, a solidão e as belezas que nos circundam. “O mar é meu tema favorito. O homem e o mar: os dois construindo e destruindo as coisas. Transformando tudo para o bem ou para o mal. Geralmente, uso água do mar nos trabalhos pra oxidar alguns materiais e atingir a textura que quero, e também por puro romantismo”, finaliza o artista.

Fábio Queiroz (Usina Cultural Energisa), jornalista e crítico

sem título

acrílica e colagem sobre tela100x100cm

2013

sem título

acrílica e colagem sobre tela100x100cm

2013

sem título | acrílica e colagem sobre tela | 70x70cm | 2013

sem título | acrílica e colagem sobre tela | 70x70cm | 2013

rede

av. guarabira, 200 | manaíra | joão pessoa-pb | 58038-140 fone 00 55 83 8808.7877

www.redeartecontemporanea.com

2OU4fevereiro 2014