a arte de ver e ouvir

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Nossos talentos, nossas vidas (A vida é uma tela em branco, o que pintamos nela determina o nosso valor e o nosso destino) 1ª Parte

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Page 1: A arte de ver e ouvir

Nossos talentos, nossas vidas

(A vida é uma tela em branco, o que pintamos nela determina o nosso valor e o nosso destino)

1ª Parte

Um Amigo 2013

Page 2: A arte de ver e ouvir

Dedico este livro à toda humanidade, em especial, aos meus amigos, aos meus alunos, à minha mãe física, à Flávio Sparapan Siqueira, ao meu pai, à Luiz Carlos Tessarin, à Custódio Manoel, à Diogo Felipe Campozan Ferrigato, à Josely Rosa Francisco, à Samael Aun Weor, à Gurdjief, ao anjo Adonai, ao V. M. Rabolú, à Francimar Pereira Lima, à Jesus (o Cristo), ao Sol, aos Pássaros, ao Duque, ao vento, que tantas informações me traz, à minha avó Maria, à Luiz Fernando Bernardes Ribeiro, enfim, dedico este livro à todos que possuem ou possuíram importância vital em minha vida.

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Page 3: A arte de ver e ouvir

Índice – 1 ª Parte

-Prólogo - Pérolas---------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Introdução – (Minha história de escritor)---------------------------------------------------------------------------------

-Começo-fim – (A linha da existência)---------------------------------------------------------------------------------------

-O filho pródigo – (O Ciclo)-----------------------------------------------------------------------------------------------------

-O mago completo e o alfabeto mágico-----------------------------------------------------------------------------------

-A letra “A” (Significado)-----------------------------------------------------------------------------------------------------

-A unidade------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Formatos de Deus-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-A ronda do espírito-------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Ser---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Sonhos e desejos---------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Tijolo por tijolo – (Republicação)---------------------------------------------------------------------------------------------

-Nota-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-O verdadeiro conhecimento (Extrair de tudo a sabedoria)----------------------------------------------------------

-O caminho da “Eureca” (O conhecimento deve surgir de dentro para fora)------------------------------------

-A simplicidade da vida-------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Vida-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Grupos esotéricos--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Por favor, pratique!-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

-A mentira------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-Crescer como uma árvore (Amarrando o interno com o externo)-------------------------------------------------

-Fraternidade (Republicação)-------------------------------------------------------------------------------------------------

-Tolerância (Republicação)---------------------------------------------------------------------------------------------------

-Paciência (Republicação)------------------------------------------------------------------------------------------------------

-O verdadeiro querer----------------------------------------------------------------------------------------------------------

-A lei das oitavas, a lei da entropia e o fogo do querer (Republicação)---------------------------------------------

-A humildade (Republicação)--------------------------------------------------------------------------------------------------

-O caminho (Republicação)----------------------------------------------------------------------------------------------------

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Page 4: A arte de ver e ouvir

Prólogo

(Pérolas)

No abismo profundo há muito tempo me lancei com o intuito de resgatar o que me faltava.

Para mim, desde jovem as coisas eram muito fáceis e então, menosprezava o que realmente tinha valor, geralmente é assim para aqueles que já nascem com certas facilidades e dons, dificilmente medem corretamente o que possuem. Como já vim com muita coisa construída nunca soube pesar a importância das coisas. Enchi-me de tola arrogância, pois tudo era fácil, comecei a adiar coisas importantes sabendo que a qualquer hora as faria rapidamente e assim me atrasei muito.

Sempre que pedia socorro os deuses me acudiam rapidamente, então abusava, comecei a viver como um príncipe preguiçoso e presunçoso que tudo pode sem imaginar o que me aguardava. Ai! Como fui tolo, comecei a desobedecer e a fazer as coisas do meu jeito, achava que poderia corrigir a obra dos deuses, ignorei assim um dos principais preceitos da magia, “a obediência aos superiores”. Achei que poderia salvar o mundo ao meu modo, enfim, não restou outro remédio, aos poucos fui abandonado pela misericórdia divina, fui entregue ao meu próprio destino, comi meu próprio fruto e tudo se voltou contra mim. Fui lançado ao abismo e depois de tanto sofrer, aos poucos fui reconstruindo tudo de novo, tudo foi ficando claro, descobri o que realmente possui valor, até onde posso ou não posso ir, enfim, estou encontrando o meu posto na vida, minha função.

Dizem que aprendemos pelo amor ou pela dor e no meu caso, já que minha cegueira foi tanta, obriguei que me viesse a segunda opção.

Não relatarei aqui tudo o que sofri, apenas direi que vivi cinco largos anos de espantoso sofrimento, antigos erros reapareceram no cenário da vida, vaguei na terrível noite do espírito e na ausência da luz errei e sofri muito até que a lembrança de um passado glorioso tornou-se como um distante sonho, cuja lembrança já esfumaçada causava ainda mais dor, lembrando o que fui e que já não era mais.

Nunca, em nenhum momento imaginei conhecer tamanha dor.

Agora, do meio da escuridão, como um pontinho opaco de luz que aparentemente surge do meio do nada, estou ressurgindo sobre a superfície terrestre.

Dolorosamente e com muita dificuldade estou escalando novamente aquele apertado caminho que conduz do inferno aos céus, mais uma vez estou diante daquele monte sagrado que subi outrora em cujo pico raios e trovões espantam aqueles que ainda não estão preparados para subir.

Ali, no pico daquele monte, conhecido como montanha da iniciação, pacientemente aguardam o meu retorno mestres, anjos e deuses. Demônios furiosos estancam o meu caminho, pois em minhas costas carrego uma bagagem muito pesada, carrego pérolas recolhidas das profundezas do mundo submerso.

Tenho a missão de entregar estas pérolas a ti humanidade, que provavelmente me olhará com desdém, mas pelos poucos capazes de assimilar estes fragmentos de luz correrei este risco.

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Page 5: A arte de ver e ouvir

Introdução

(Minha história de escritor)

Um dia, nesta minha atual existência, percebi que havia algo em mim, um algo com sabor delicioso, mas que talvez todos também tivessem este algo dentro de si, porém, independente de todos possuírem ou não este algo, era algo que fazia pressão de dentro para fora, era algo que precisava sair de dentro de mim a todo custo.

Então fui tomado por certa compulsão em escrever, passava noites em claro escrevendo, apenas por que isto me fazia bem e nada mais, sem pretensão alguma e também, para me sentir aliviado daquela pressão quase que insuportável.

Acumulei pilhas e pilhas de escritos e para ser sincero, não gostava muito deles, não esperava que alguém pudesse gostar de tais coisas malucas. Eram apenas poesias e uma infinidade de exposições de questões sem respostas alguma. Eu não queria chegar a lugar algum.

Voltemos agora um pouco mais atrás nesta minha atual existência.

Pouco tempo antes de ser tomado por esta compulsão em escrever tive acesso a certas informações que me levaram a experimentar coisas além daquilo que os olhos físicos podem enxergar, falo de vivências místicas e transcendentais, coisas que mudaram decididamente o rumo de minha existência. Experimentei mudanças profundas em meu caráter e em meu ser. Vi claramente que existe dentro de todo ser humano um caminho que pode transformar nosso animal interior em homem; o homem em poeta; o poeta em mago; o mago em mestre; o mestre em anjo; o anjo em Deus e que este Deus é a origem e a meta de toda vida. Compreendi por aquela época, enquanto me esforçava para trilhar dito caminho, que não somos o que pensamos ser e que podemos sempre nos transformar em algo melhor, não por cobiça e sim por amor ao crescimento, ao caminho e ao próximo. Esta coisa de “somos assim” e “somos assados e pronto” é uma mentira. Somos um terreno fértil de inúmeras possibilidades e em nós se encontra a semente do anjo e de Deus. Não é hipocrisia acreditarmos que podemos nos converter em Deuses viventes, pois em essência é isso que já somos, porém em estado latente e potencial não desabrochado.

Nossas imperfeições não são necessárias à vida como acreditamos ser, elas obscurecem o que precisamos fazer, elas são a causa da falta de respostas interiores e de nossa insatisfação pessoal. Não só é possível como também se faz necessário eliminar o que está errado em nós a fim de voltarmos a ser aquilo que realmente somos e que atualmente dorme profundamente em nosso próprio interior.

Nascemos numa sociedade onde incutiram em nossas cabeças o “isto é certo” e o “isto é errado”, o “isto pode” e o “isto não pode”, em outras palavras, fomos domesticados e não educados. Desde então atrofiamos a nossa capacidade de refletir como seres responsáveis e com coleiras no pescoço e cabresto nos olhos passamos a ser guiados pelo “social”.

Mas ninguém tem culpa, nossos pais, amigos e familiares também foram vítimas de toda espécie de domesticação que vem se propagando de geração em geração.

O social fracassou. Agora só resta o individual. Cada indivíduo deve transformar a si próprio e um dia, a soma dos indivíduos transformados poderá fazer ressuscitar um social novo, regenerado e vitorioso. A mudança radical deverá começar individualmente dentro de cada ser humano.

Quando cada um, individualmente deixar de reagir com conceitos emprestados do social, quando cada qual aprender a meditar seriamente sobre tudo que está dentro de si mesmo, quando nos convertermos em pessoas sérias, pensando alto e sentido profundamente antes de agir, quando nossos impulsos e instintos animais forem submetidos à razão pura e não mais controlarem nossa

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máquina humana, então, neste dia, a transformação que conduz cada ser ao infinito e à felicidade se tornará possível.

Ainda somos crianças humanas irresponsáveis por nós mesmos e como crianças humanas ainda não abandonamos a condição de animais.

Somente o amor consciente e a razão pura poderão transformar o animal que existe em nós em homens autênticos no real sentido da palavra e então as portas da eternidade nos serão abertas e os segredos cósmicos revelados.

Quando nossa capacidade de refletir por conta própria foi atrofiada e nossa domesticação foi estabelecida, então “Deus morreu” dentro de nós.

Com a morte de nossa divindade interna, através de vida após vida, nos acostumamos apenas a viver nas sombras do mundo e sem a luz do discernimento passamos a alimentar impurezas de toda espécie dentro de nós, passamos a criar conceitos estúpidos sobre as coisas, sobre a vida, sobre o sexo, sobre o amor, sobre o certo, sobre o errado, sobre Deus, sobre o mal, inclusive passamos a acreditar que o mal em nós é necessário, que somos o que somos e não podemos mudar, passamos a conceituar que certos erros são virtudes e que certas virtudes são erros.

Hoje em dia o amor verdadeiro é chamado de cafonismo e ingenuidade.

As paixões desenfreadas e as pornografias passaram a receber o título de amor.

Se não somos irados e intolerantes somos considerados covardes.

Se perdoamos somos bobos.

Etc, etc, etc, etc, etc.

E assim, desta forma, com a ausência da divindade nos corações, seguindo padrões e convenções sociais degenerados, criando mais e mais conceitos errôneos acerca do bem e do mal, a humanidade percorre atualmente caminhos de amarguras, de vazio, de desconsolo e nem sequer desconfia que a causa de tamanha desgraça seja aquilo que ela considera o “certo”.

Muitas vezes defendemos o “eu sou assim” e não desconfiamos que estamos defendendo imperfeições sociais que se arraigaram a nós desde tempos remotos.

Os sufis maometanos dizem que o pior pecado é o esquecimento e em suma estão certos. Quando esquecemos que somos deuses cometemos o pior dos pecados, pois com o esquecimento desta espécie passamos a alimentar e a defender o que está errado dentro de nós.

Existe o certo e o errado social, que varia de acordo com o lugar, com os costumes, com a religião, com a cultura e com a época.

E existe o certo e o errado universal, que será sempre eterno, invariável e imperecível.

Esta moral e este código de conduta universal está gravado dentro do coração de cada ser humano e não tem nada que ver com conceitos, com teorias mentais equivocadas, não tem nada que ver com nossas imundícies criadas e alimentadas através dos séculos.

Esta moral e esta conduta universal não tem nada que ver com os tratados de psicologia contemporâneos, não tem nada que ver com as religiões e com aquilo que nos dizem os amigos e familiares.

Esta moral universal é a nossa lei interna que deve guiar-nos pelo caminho do acerto, do aprendizado, da superação e da felicidade.

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Se é que queremos encontrar nosso verdadeiro posto na vida e saber quem somos, porque estamos aqui, o que devemos fazer, torna-se então urgente aprender a ouvir e a obedecer rigorosamente a lei interior, que fala através de nossos corações quando estamos num estado de paz e tranqüilidade. Esta lei interior é aquela voz que fala baixinho dentro de nós e que nunca damos atenção a ela dizendo: Isto é bobagem, isto é besteira, é coisa da minha cabeça.

A lei interior é a voz do coração, é a voz da consciência que existe para guiar-nos pelo caminho da perfeição, da libertação, desde que estejamos prontos a obedecer.

A lei interior diz afasta-te de tal pessoa, não faça isto ou faça aquilo, não fique com este rapaz, não fale assim, não vá por aí e sempre que desobedecemos estas ordens internas geramos sofrimento em nossas vidas e aí precisaremos criar uma nova teoria ou se apegar em algum conceito para tapar o vazio que ficou em nós.

Foi por não seguir a lei interior e para tampar o vazio gerado por conseqüência de nossa desobediência que inventamos religiões, seitas, tratados de psicologia, enfim, bastaria que cada qual fosse extremamente fiel ao seu coração.

Mas quando seguimos o coração e sua lei interior deixamos de ser compreendidos pelos outros, nos sentimos sozinhos inicialmente, perdemos amigos, perdemos oportunidades e ao não sabermos suportar esta dor inicial passamos a nos prostituir para não perdermos um amigo, para não perdermos aquela oportunidade e o resultado é o fracasso na escola da vida.

Antes de falarmos algo, antes de darmos um beijo, antes de tomarmos uma iniciativa, antes de decidirmos ir para tal lugar, antes de qualquer coisa precisamos consultar profundamente nossa lei interior e a obedecer. Assim estaremos marchando pelo caminho do triunfo, da maestria, estaremos indo de encontro àquilo que verdadeiramente somos: Deuses.

Quando aprendermos a estar de acordo com a lei interior não precisaremos mais de livros, nem de teorias, nem de pessoas que nos dizem o que é o certo ou o errado, pois teremos encontrado a fonte de onde surgiram todas as verdades existentes no mundo, e esta fonte está em nosso interior.

O maior problema é que a mente humana com seus ciclos intermináveis de pensamentos, parecendo um formigueiro, constitui tremendo obstáculo contra o coração. A mente é a inimiga número um do coração. A mente é um fora da lei em nós. Precisamos silenciar para poder ouvir.

Platão uma vez citou que em nós existem dois cavalos, um é o cavalo do amor puro e o outro é o cavalo do desejo. Estes dois cavalos travam lutas constantes dentro de nós para assumir o controle da máquina humana. O cavalo do amor puro convida-nos a uma vida de beleza, de ternura, de romantismo, retidão, arte, poesia e leva-nos ao céu. Já, o cavalo do desejo arrasta nossa alma para a escuridão, quer cada vez mais e mais, é insaciável, sujo, cativante, tentador.

Temos em nossas mãos as rédeas dos dois cavalos. Um sempre gerará felicidade e contentamento, enquanto que o outro ocasionará dores, remorsos, aflição e vazio.

Ser ou não ser, eis a questão.

Os desejos, as paixões, embrutecem nosso caráter e atrofiam nosso ouvido interior para não mais ouvirmos a lei do coração que nos libertaria se acaso a obedecêssemos.

Os desejos são nuvens e fumaça, enquanto que o amor puro é luz e fogo.

Deus-amor é o Sol e nossos desejos são as nuvens que tapam nosso Sol interior.

Nossos desejos são furacões que nos arrastam e tempestades que destroem e arrasam nossa possibilidade de libertação.

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Bem, voltemos agora para a minha história.

Por certo tempo me desviei daquele caminho sagrado que no inicio desta minha atual existência me foi permitido percorrer e através do qual pude vivenciar diversas experiências transcendentais.

Vivendo cego na escuridão da matéria apenas me esforçava para ser um bom professor de música quando de repente fui atacado por aquele vício de escrever que comentei no começo deste capítulo e que me levou embora muitas noites de sono, mas que não me arrependo nem sequer um único segundo.

Quando comecei a escrever não via nenhuma relação em escrever com aquele caminho que citei a pouco, pois já havia esquecido este caminho e me deliciava na lama das paixões, por aquele tempo cavalgava velozmente sobre o cavalo do desejo citado por Platão, porém continuava a escrever com uma fome que nunca saciava.

Num certo momento comecei a lembrar novamente daquele caminho, comecei a ter recordações de mundos estranhos, de lugares coloridos onde o Sol é diferente e brilha mais forte, lembranças de regiões celestiais, de anjos, de Deuses e demônios, comecei a sentir o peso dos séculos sobre meus ombros, comecei a reconhecer que não sou daqui, que as coisas são estranhas, que a sociedade não faz sentido, que as pessoas são malucas e gostam de sofrer e de gerar incessantemente mais e mais sofrimentos a si mesmas e ao próximo. Então me senti sozinho e sofri. Me isolei muitas vezes e cada vez mais escrever e tocar era a única coisa que fazia sentido para mim. A caneta e o papel me entendiam e a música me colocava em contato com aquelas regiões celestiais que existem dentro de nós mesmos.

Mas sozinho eu não era feliz e também não conseguia viver em paz vendo as pessoas que eu amava infelizes.

Decidi então associar a minha capacidade de escrever com aquele caminho que percorrera outrora para entregar à humanidade as chaves daquilo que me fez um dia feliz, as chaves daquilo que permite ao ser humano ser ele mesmo, que permite ao ser humano se sentir parte de tudo e de todos, as chaves daquele caminho que permite o ser humano voltar ao Sol.

Mas não me senti capaz, devido a minha deficiência com relação à língua portuguesa e sua correspondente gramática. Não me senti capaz devido a estar desviado naquele momento do caminho que queria ensinar e assim sendo eu me converteria num grande hipócrita, ensinando aquilo que eu não era.

De qualquer forma escrevi meu primeiro livro e publiquei-o com certo receio, mas nem tanto, pois nunca me preocupei muito com a opinião alheia ao meu respeito e no mais, estava tentando ajudar, mesmo sem acreditar que daria certo.

Mas o resultado foi surpreendente, foi muito melhor do que esperava. Recebi cartas, notícias de que certas pessoas estavam estudando minha obra e transformando suas vidas e ainda hoje encontro pessoas com o livro debaixo do braço para presentear alguém e diversas outras coisas que me fizeram acreditar que posso realmente contribuir de alguma forma para o crescimento do todo, mesmo com minhas deficiências gramaticais.

E para confirmar ainda mais a minha certeza em poder contribuir de alguma forma com mundo das idéias humanas, pude perceber que o universo estava me ajudando escancaradamente, presenteando-me com encontros inusitados, presenteando-me novamente com experiências espirituais grandiosas e como que por encanto consegui muito facilmente alguns mil reais, na forma de doação, para a publicação deste primeiro trabalho .

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Então, já convencido de minha capacidade de servidor e com o auxílio de seres superiores a mim, trabalhei sem descanso em minha segunda obra e os resultados não demoraram a aparecer. Por estes dias até encontrei via internet grupos que estudam meu livro e que colocaram na página inicial de seus sites capítulos deste trabalho.

Mas algo horrível aconteceu. Fui assaltado por certo orgulho repugnante. Esqueci que eu era apenas um servidor, comecei a fazer as coisas a meu modo e fui abandonado pelas forças superiores. Voltei a vagar como cavalheiro errante, antigos vícios reapareceram em meu mundo interior, cicatrizes profundas da dor foram fixadas em meu coração, me acreditei perdido, chorei, sofri, esperneei, busquei no álcool alívio para meus fracassos, me converti em algo monstruoso, conheci o desespero.

Aprendi duras e terríveis lições e depois de sorver cada gota de fel no cálice da infinita amargura, hoje estou novamente em meu lugar, em meu posto de humilde servidor.

A misericórdia divina é infinita.

Meus fracassos se converteram em força.

Meus tombos estão se convertendo em sabedoria.

E agora, pisando novamente o solo do caminho, compreendo que a aparente derrota fazia parte do processo.

Estou trabalhando agora nesta minha terceira obra em condições muito melhores, estou mais maduro e lapidado pela dor, sem orgulho, sabendo o meu papel, mais não subestimo o inimigo que está sempre pronto a nos devorar.

Hoje lembro, depois de grande tempo de esquecimento, que um dia olhei para o céu e comovido pela dor humana clamei que me fosse concedido o direito de ensinar o caminho aos homens. Meu desejo sincero foi atendido. Mas isto não me faz melhor que ninguém. Sou igual a todos. Todos somos pedaços de um mesmo e único Deus, todos somos “um” e a infelicidade de um é a infelicidade de muitos.

Hoje fui colocado em meu posto, sou apenas um servidor e me sinto pleno e feliz em meu trabalho de escritor.

O caminho é um só, sempre foi e sempre será um só, porém, os capítulos deste livro são flores no caminho, regadas e alimentadas com minhas lágrimas e com o sangue que escorreu de meus pés.

Graças ao Sol as sementes germinaram e floresceram.

Agora, aguardarei pacientemente as flores se converterem em frutos e que os homens possam saciar parcialmente a fome devoradora da inquietude íntima.

Escrevo para a centelha divina nos homens e não exatamente para os homens.

Que a ressonância possa fazer vibrar as cordas de vossa alma querido leitor e que a música que dela sair dissipe a neblina da ignorância e faça aparecer diante de vossos olhos internos o caminho da iniciação.

Estou embaixo, mas quando escrevo, faço isto do alto. Sou serpente e sou pássaro.

Quando vivo sou serpente, mas quando escrevo, subo ao trono e converto-me em Deus-Pássaro.

Do alto posso sentir a fúria do tempo rugindo sobre a cabeça da humanidade.

Do alto vejo o rio da humanidade correr para o mar da destruição.

Uma cavalaria selvagem puxa a charrete da humanidade para baixo.

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Page 10: A arte de ver e ouvir

Do alto contemplo a espada e a balança e posso ver os raios e tempestades da Lei.

O vento é imperioso, as águias são severas. Somos apenas filhotinhos de águia.

Em breve as grandes águias nos lançarão ao abismo para aprendermos a voar.

Do alto posso contemplar a dor humana, sinto pena do mundo e de mim mesmo, pois lá de cima também posso me ver lá embaixo, porém, do alto, emergido em compaixão, me transformo em cachoeira de amor e transbordo sobre o mundo, então ocorre invisivelmente uma chuva de esperança, de fé, há um alívio em cada coração, há trovões de compreensão em cada íntimo e novamente há o desejo de melhora em cada coração.

Este é o poder do íntimo Deus em nós.

Todos estamos amarrados por uma rede invisível de influência mútua e tudo aquilo que sentimos do alto em nós influencia toda a rede humana, ou pelo menos uma parte dela. Quando um ser se levanta muitos outros seres também se levantam.

Pois bem, o que uma pessoa sente profundamente e em essência faz com que muitas outras pessoas sintam o mesmo.

Mas agora não estou mais no alto, me transformei em chuva, me doei ao mundo para aliviar sua dor. Hoje vivo dentro de cada coração, me transformei em cada um deles e junto com todos sofro o indivisível, amarguro, luto, sofro, batalho, me alegro. Isto acontece com cada um que amou do alto e se converteu em chuva de compaixão.

Hoje sou cada um de vocês, todos somos “um”.

Acontece que sou todos vocês, mas muitos de vocês ainda não se conscientizaram de que são todos. A conscientização da unidade ainda não prevaleceu. Ainda não se deram conta de que só há um ser com vários rostinhos. Ainda sentem-se independentes e isolados de tudo e de todos e este é o mal do mundo. As células terrestres (cada um de nós) se rebelaram contra o corpo e querem trabalhar por conta própria como se não fizessem parte de um único corpo.

Sozinho sou apenas uma célula que sabe que faz parte de um corpo “uno”, mas pouco posso fazer, o mundo desenfreou e o avião mundial vai despedaçar de encontro ao chão.

Precisamos de trabalhadores (anticorpos).

A nossa função como servidor é deixar um rastro, um caminho, uma escada, a mão estendida aos arrependidos como nós, já cansados de tanto sofrer.

Para servir se faz urgente amar e esquecer-se de si mesmo em prol da felicidade alheia.

Somente o amor pode salvar nossas vidas. O amor é o único caminho, é o único sentimento digno de ser vivido, é o único jeito de sermos úteis e descobrirmos quem somos. O amor é a única chave para a liberdade. Só o amor deve restar, só o amor deve existir. Em essência somos unicamente amor, todo o resto foi sendo constituído e alimentado por uma vida de erro e escuridão.

Um brinde ao amor!

Bendito seja o amor!

Bendito sejam os seres que se amam e fazem do amor suas vidas!

Tudo o mais deverá perecer.

Senhor! Que minhas palavras sejam somente a expressão de seu hálito sagrado.

Peço perdão quando minhas palavras atropelaram a tua.

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Page 11: A arte de ver e ouvir

Peço perdão quando minha escuridão ou fumaça atrapalharam o teu brilho.

Hoje sei que a palavra é matemática e como disse um amigo, ela possui um sentido mágico.

Reconheço que és Tu o verdadeiro homem interior e na tua ausência minha infelicidade.

Que em teu brilho eu possa me dissolver.

Que somente Tu prevaleças.

Que a minha transcendental morte seja o teu eterno renascimento.

Possas Tu ouvir com meus ouvidos, enxergar com meus olhos, falar com minha boca e escrever com minhas mãos.

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Page 12: A arte de ver e ouvir

Começo-fim

(A linha da existência)

Armadilhas terríveis, prisões emocionais, cárceres mentais, abismos físicos.

Por aqui afundamos em lagos insondáveis, por ali labirintos gigantescos estancam nossos passos, cobras, crocodilos e escorpiões querem nos devorar, enquanto que tigres e leões da lei nos espreitam.

É inevitável, precisamos encontrar uma saída ou sucumbimos de uma forma ou de outra.

Tempestades horríveis, águias gigantescas, trovões e relâmpagos. O caminho se esconde, as rosas são apenas sementes enterradas que ainda não germinaram. Uivos, lamentações, tudo é instável.

O Sol brilha com a mesma intensidade que surge a noite. As nuvens vão e vem de acordo com o vento. As estrelas cintilam, mas em seu silêncio não fazem brotar a força e a sabedoria de que necessitamos.

O desespero já abriu as portas de nossos corações. Promessas, temores, esperanças. O por vir é incerto. Caminhar reto, sem distrair-se é quase impossível, porém, quem perde a serenidade vive em furacões e rodamoinhos furiosos.

O mar está agitado.

O Sol está queimando.

O vento urge como lobos furiosos que ora nos ajudam e ora querem nos devorar.

Pessoas vão e vem e por trás de cada sorriso se esconde um brilho estranho.

Voar é necessário e urgente, como também possível, mas se as asas ainda não abriram, então o que fazer?

Mas só quem voa pode ver tudo do alto da colina e decidir o que fazer.

No desespero criei esperança, na esperança me desesperei. Apegos, ilusões, decepções, alegrias, preocupações, pobre vida mortal. A eternidade paira tranqüila sobre as multidões, como que zombando da pobreza humana, mas por trás desta zombaria há um certo respeito e uma certa misericórdia por homens de verdade, ainda que dormindo, ainda que inconscientes, porém homens, anjos levantados ou caídos.

O mundo sempre será dos anjos, daqueles que possuem em si mesmos o mistério ativo ou sepultado.

Anjos que caem.

Homens que se divinizam.

Que as asas daqueles que a possuem resplandeçam como fogo luminoso nas trevas da humanidade.

Que aqueles que dormem acordem de seu sonho nostálgico.

Que os despertos lutem por mim e pelos homens.

Os lagos não podem ser tão profundos assim.

Os trovões e relâmpagos não podem ser tão assustadores assim.

O veneno dos escorpiões e das víboras não podem ser tão letais assim.

Os ventos não podem ser tão impetuosos que arrastem tudo assim.

Onde está a coragem homens?

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Page 13: A arte de ver e ouvir

Por que haveis abandonado a guerra assim?

Que covardia é esta?

Onde estão os guerreiros?

Bom, ainda há esperança. Nem tudo está perdido

De uma simples semente surge uma árvore.

De um simples esperma surge um homem, um Deus ou um demônio.

As sementes ainda não foram destruídas em vós, mortais.

Fazei da semente a árvore que possa libertar-vos. Somos sementes de Deus e em todo homem se oculta o potencial – semente da libertação.

Abandonai os vícios.

Abandonai o medo.

Suportai os ventos.

Não temei aos trovões.

Não temei aos lobos e leões da lei, eles carregam a espada da justiça para castigar-nos e possuem a mão para erguer-nos. Reconciliemo-nos com a lei, com a balança, com o grande chacal da justiça cósmica. Escutai o chamado que grita em vossos corações, dei-lhe ouvido, obedeça-o.

A humanidade está entre o seu fim e o seu começo.

A hora é grave.

A escolha se faz de ação em ação, de ato após ato e não através de palavras ocas e vazias.

A Terra está sendo dividida entre fim e começo.

De que lado está vós?

O Sol esgota mais um de seus ciclos e aguarda a hora para recolher as sementes que germinaram.

O tempo é curto, porém suficiente para a transformação radical.

Mestres, anjos, hierarquias, estão trabalhando incessantemente pela redenção humana, mas como sempre o número de eleitos será pouco.

Lutai homens de fé para que ingresseis nas fileiras da redenção humana.

Abandonai as tolices da vida, virai as costas ao mundo profano para com ele não sucumbir ao abismo.

A misericórdia do universo é infinita.

Caminhando no estreito caminho que conduz à luz vossos pecados serão dissolvidos, pois em essência não existe pecado para aquele que está caminhando. Para o caminhante tudo é aprendizado e os erros passados se convertem em força e sabedoria.

Virai as costas ao passado, esquecei o pegajoso sabor do pecado.

O passado é apenas um livro morto para ser estudado e posteriormente esquecido.

Trilhai o caminho reto da virtude, do dever, do perdão, do amor e do sacrifício.

Após estudar o livro do passado não olhai para trás para não virardes pedra.

A guerra é dura, o caminho é longo e trabalhoso.

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Page 14: A arte de ver e ouvir

Serenidade, paciência e ação infinitas são necessárias. Mas ao final de tanto sofrer, de tanto esperar e de tanto sacrifício a felicidade de participar de um novo começo terráqueo será também infinita.

Há que se morrer para tudo o que não seja nobre, bom e útil.

Analise sempre antes de agir, sinta sempre antes de agir.

Olhai para dentro, para o interior e permita àquela silenciosa voz guiar-nos a cada instante.

O cavalo da intuição deve guiar silenciosamente a charrete de nossa existência.

O amanhecer será breve, tudo já está em andamento, a bola de neve já rolou montanha abaixo, não há como impedir a avalanche de um novo amanhecer.

E na mesma proporção da luz serão as trevas e a intensidade da escuridão momentânea, pois jamais as trevas poderão ser eternas em um mundo criado pela luz.

Mas embora a escuridão não seja eterna ela será intensa durante muito tempo para os homens na Terra.

A Terra ficará dividida entre luz e trevas, aparentemente durante um tempo, serão só trevas até que a luz prevaleça, como sempre prevaleceu e prevalecerá sempre.

São apenas processos naturais, que eternamente sempre se repetirão.

Este tempo de trevas será como segundos na eternidade e séculos para os homens.

Este é o apocalipse bíblico, os tempos do fim, ou melhor, os tempos da grande transformação chegaram.

O fim é apenas um novo começo como a cobra que morde o próprio rabo, seu rabo é o fim e sua boca é o novo começo que morde o fim.

Este é o momento do julgamento final onde cada qual, individualmente, escolherá com suas obras seu próprio destino.

Estes são os tempos do fim-começo.

Esta é a hora da transformação.

Estamos cada qual numa grande encruzilhada, ainda que invisível por enquanto e de ato após ato estamos escolhendo sem perceber o nosso futuro

Cada ato é um ponto em nossa vida e ato após ato, ponto após ponto, vamos traçando uma linha em direção ao nosso futuro, que pode ser doce ou amargo de acordo com a direção da linha traçada por nossos atos-pontos.

O futuro é uma construção, ponto por ponto, ato por ato, pensamento por pensamento, emoção por emoção, ação por ação, segundo após segundo, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano e eis que surge o resultado final de nossa vida, eis que participaremos do começo ou do fim do ciclo.

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O filho pródigo(O ciclo)

A criação do homem é resumida pela parábola do filho pródigo citada pelo grande mestre Jesus, o Cristo.O filho pródigo tinha tudo em sua casa, nada lhe faltava, porém, sem que ele tivesse consciência do que possuía, sem que percebesse que já era feliz e tudo tinha, saiu então em busca da felicidade abandonando o seu lar. Sofreu então o indivisível, mas ao final, ao se dar conta de que já era feliz e não sabia, se arrependeu e retornou ao seu lar, daí aquela expressão:-” O bom filho à casa torna”.O mesmo aconteceu com nossa alma. Vivíamos felizes no absoluto, mas sem dar-nos conta de nossa própria felicidade, sem consciência do bem e do mal. Todos formávamos uma única massa, todos éramos Deus. Então o Absoluto, Deus mesmo, querendo entender mais sobre si mesmo fragmentou-se em toda a criação.Sou um pedacinho deste Deus, Tu és um pedacinho deste Deus, os pássaros, as árvores, os animais, tudo é um pedacinho deste Deus fragmentado. Este é o big-beng espiritual, mas não falo de uma massa sólida que explodiu gerando planetas e sim, uma massa espiritual e sagrada chamada Deus que se explodiu gerando toda a criação.Para que o Absoluto Deus não perdesse o controle de sua própria criação, apenas um pedacinho dele se fragmentou e sua maior parte sempre esteve, sempre está e sempre estará governando tudo e todos.Nossa função é estudar-nos a nós mesmos, estudar nossos semelhantes, nossos triunfos e nossos fracassos, enfim, temos que tornar-nos conscientes de tudo e de nós mesmos a fim de voltarmos para nossa casa cósmica com a maestria na escola da vida. Assim, desta forma, o plano de Deus se realizará através de cada um de nós, através de cada pedacinho divino que é cada homem, então o ciclo se fechará e a parábola do filho pródigo se concretizará em cada alma.Ao final, todos nos fundiremos novamente e voltaremos a ser o que éramos, um único Deus, ainda mais satisfeito, ainda mais consciente de sua própria felicidade.Por isso o dever de cada cidadão é tornar-se consciente de sua própria divindade, é acordar e lembrar que é Deus e que precisa voltar para o lugar de onde veio e entregar a maestria nas mãos de seu Criador.Cada pedacinho de Deus, que somos nós mesmos, possui as mesmas características e qualidades de Deus Absoluto como um todo. Por exemplo, Deus é o centro e o responsável por toda a criação, assim também somos nós, o centro e o responsável pela vida ao nosso redor. Deus é o governante do grande universo e nós, somos os governantes do pequeno universo de nossas vidas, ou pelo menos deveríamos ser. Deus, utilizando-se da natureza, cria, transforma, realiza. Assim, da mesma forma, utilizando tudo o que temos à nossa disposição, temos que criar, que transformar, que realizar, enfim, temos condições e até posso dizer que temos a obrigação de imitar a Deus em nosso pequeno universo individual. Se o Grande Deus é amor e perdão, então assim devemos imitá-lo. Jesus disse: - “Sedes perfeitos como vosso Pai que estás nos céus é”. Em outra passagem bíblica está escrito que somos a imagem e semelhança de Deus.No processo da criação a primeira parte do homem que foi criada foi um fragmento super-divino chamado de íntimo, de Pai interno. Nosso íntimo, nosso Pai interno é verdadeiramente Deus em nós, o centro de nossas vidas, a verdadeira imagem e semelhança do Grande Criador. Os chineses chamam o íntimo de Shen, os hindus o chamam de Atma, Pitágoras o chama de Mônada, os gnósticos o chamam de Real Ser, é também chamado de Espírito por outros.Em nosso Real Ser ou Pai interno está a nossa vontade, nossa sabedoria, nossa força, nossa capacidade de meditar e de se concentrar, nossa capacidade de organização e de extrair de tudo a sabedoria e o aprendizado.Nosso Real Ser é representado pela letra “A”.

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O Real Ser de cada indivíduo continua conectado com o Absoluto Deus criador fazendo com que todos formemos um único ser com vários rostinhos. É como se cada pessoa fosse um tentáculo de um grande polvo.O segundo aspecto da criação é chamado de Divina Mãe. Deus Pai dentro de nós se fragmentou em duas metades dando origem a Deus Mãe.Todos temos nosso Real Ser, nosso Pai interno e todos temos a nossa Mãe Divina interior.Nossa Mãe Divina é o amor em nós, é a arte em nós, a poesia, a compreensão, a compaixão.A Mãe Divina é representada pela letra “B”Como reflexo de Deus Pai-Mãe em nosso interior surgiu no mundo visível homem-mulher, dia-noite, sabedoria-amor, órgão-função, yang-yin, bem-mal, luz-sombra.Entre Deus Pai-Mãe brotou a força do amor e através desta sagrada união surgiu nossa alma, o terceiro aspecto da criação. Portanto não confundam alma com Espírito, pois alma somos nós e toda alma possui seu Pai interno ou Espírito. Toda alma, através da dor, da compreensão e do estudo deve chegar a tornar-se consciente de seu Espírito e obedecê-lo.A alma, que somos nós aqui embaixo, precisa reconectar-se com seu Deus Pai-Mãe a fim de realizar sua missão aqui na Terra e voltar a ser Deus completo, mas a alma possui o livre arbítrio e não pode ser forçada a fazer isto.A beleza está exatamente nisto, reconhecer o que verdadeiramente somos e por livre espontânea vontade optarmos em voltar para nosso lar cósmico.A alma é representada pela “letra ‘G” e como seu reflexo temos homem-mulher-filho, positivo-negativo-eletricidade, pensamento-sentimento-ação, etc.A alma está revestida por quatro corpos, chamados corpo mental, astral, vital e corpo físico.Estes quatro corpos que revestem a alma constituem o quarto aspecto da criação que é representado pelo número letra “D” e como seu reflexo temos terra-fogo-água-ar, norte-sul-leste-oeste, amanhecer-dia-entardecer-noite, tese-antitese-discussão-conclusão, saber-querer-ousar-calar, primavera-verão-outono-inverno, filosofia-arte-religião-ciência, pensamento-sentimento-ação-fruto, etc.Até aqui Deus criou por nós, mas daqui pra frente o homem deve fazer sozinho utilizando seu querer, sua vontade e seu livre arbítrio.Se os quatro corpos ficam desgovernados, se a alma não controla seus pensamentos, emoções, instintos e corpo físico então perdemos a maestria na escola da vida e nos convertemos numa estrela de cinco pontas de cabeça para baixo. As quatro pontas para cima são nossos quatro corpos e a ponta para baixo é nossa alma dominada pelos quatro corpos. Se isto ocorrer nossa vida terá sido em vão.Mas se a alma dominar seus quatro corpos ela entra no caminho da iniciação, no caminho de volta para casa e se converte numa estrela de cinco pontos de cabeça para cima, ou seja, a ponta superior apontando para cima e as quatro pontas para baixo indicam a alma dominando os quatro corpos e superando a si mesma.Quando a alma domina a si mesma surge o quinto aspecto da criação, a alma dominando os quatro corpos que é representado pela letra hebraica “Hé” e como seu reflexo temos os chineses com seus cinco elementos ou movimentos que são água-madeira-fogo-terra-metal, temos as cinco vogais sagradas da natureza I-E-O-U-A, temos também os cinco sentidos do homem que são visão-audição-olfato-paladar-tato, etc.Se a alma conseguir a realização do número “5” ela alcançará o “6”, o “7”, o “8”, o “9” e o “0” que representa o todo, a perfeição, o Absoluto que tudo abarca em seu seio, o retorno para casa com a maestria nas mãos, mas tudo isto será assunto para posteriores trabalhos. O aprendiz deve compreender e praticar a fundo o mistério do A, B, G, D e Hé que detalharemos nesta nossa presente obra.

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O mago completo e o alfabeto mágico

Somos um todo, fragmentado em várias partes, virtudes, ferramentas internas, corpos, chacras, anjo da guarda, intercessor elemental, Ser, Mãe Divina, etc...Cada uma das 24 letras do alfabeto representam uma destas partes do nosso Ser. Quando todas as letras estiverem vibrando em nosso interior teremos nos tornado um mago completo, um fiel e poderoso servidor da criação.

Cada letra é uma parte de nosso ser interior e exige exercícios, atividades, purificações e vivências até que entre em atividade.

Imagine um organismo humano. Ele não é formado por vários órgãos, cada um com sua função e atividade? Mas no entanto, vendo de fora é um corpo só não é?

Igualmente, a nossa parte espiritual é constituída por diversas partes representadas por cada uma das letras do alfabeto. O que acontece é que diferentemente de nosso organismo, nossas partes espirituais estão inativas, estão dormindo.

A fim de nos convertermos em seres completos e úteis na criação (pois este é o objetivo da vida), precisamos estudar e praticar os mistérios das letras, que escondem mútiplos significados e poderes.

Cada uma destas letras é parte integrante de uma sinfonia que necessita de trabalho para chegar a perfeição, tal como um músico treina horas a fio um único trecho de uma peça que ainda não está perfeito. Depois treina outro trecho, depois outro e depois treina o todo, até que a sinfonia ou o concerto realmente aconteça, assim estamos nós, como uma sinfonia desajustada, bagunçada, com trechos que ainda nem sequer foram tirados e outros que necessitam de exercício e aperfeiçoamento.

Quando a sinfonia realmente acontece, ela informa, desperta e carrega em si mesma o poder do mistério e serve como instrumento ou canal para que o Deus interno se manifeste.

Quando o homem está pronto, tal como uma sinfonia ou um cálice, ele pode então suportar a voltagem do conhecimento, de Deus, pode suportar o calor do vinho que é derramado em nosso interior diretamente pelas mãos do sol espiritual.

As mesmas leis que regem um indivíduo regem também um grupo, um astro, uma galáxia ou uma sinfonia, mas assume formas diferentes de acordo com o contexto e com o nível de vibração em que está atuando, de acordo com o mundo, com a dimensão, de acordo com o macro ou com o micro.

Tudo é parte de um todo integrado, compenetrado, amarrado e, portanto, as leis são iguais tanto para o pequeno como para o grande, mas sempre respeitando a lei da relatividade que faz com que a mesma coisa assuma diferentes formas em contextos diferentes.

É necessário ritmo, constância, amor, alegria, expansão e recolhimento, harmonia e somente a vontade do homem em busca da perfeição em cada ato, em cada atividade, em cada prática, em cada ritual, em cada coisa, é o que poderá verdadeiramente conduzi-lo à meta que é tornar-se uma galáxia em expansão, uma perfeita sinfonia, ocultando o mistério em si mesmo e expandindo infinitamente a substância sagrada do amor divino.

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A letra “A” (significado)

(Ensinamentos baseados na obra do Anjo Adonai)

Plano espiritual (estrutura interna espiritual)

No plano espiritual a letra “A” representa o Ser interior profundo, o Pai interno, Deus em nós, o espírito do homem, a sabedoria, a inteligência, a força.

“A” é a primeiro parte interna do homem criada pelo universo.

“A” no plano espiritual também representa os processos sintéticos, as ciências secretas, representa a iniciação nos mistérios, representa a causa das coisas.

O “A” em nós dá-nos o poder de decifrar os mistérios, de servir-se deles e de se iniciar neles.

O “A” em nós nos dá o poder de transmutar coisas inferiores em coisas superiores.

O “A” no plano espiritual é a vontade e o ideal.

“A” é o mago, o Homem-Deus ou Super-Homem, que por sua vontade adquire todo poder e toda força.

“A” é o microposopo, isto é, o criador do pequeno mundo.

Enfim, “A” é Deus em nós, nossa Mônada, nosso Atma, é a origem de nossa vida e a meta de todo esforço, pois de Deus tudo saiu e a Deus tudo deve retornar.

“A” é o espírito de qualquer situação, é o espírito de um átomo, de uma célula, de um animal.

“A” é o ponto, é o início.

“A” é a unidade.

Plano Mental/Astral (mundo da alma)

No plano mental “A” é também a organização do pensamento, a transmutação de pensamentos baixos em pensamentos elevados. É o poder para considerar e resolver os problemas, despertar e dominar as paixões. Ajuda a meditação, a concentração, a reflexão e a iniciativa.

Plano Físico (manifestação)

No plano físico “A” é a atividade constante, é a cura da preguiça e da instabilidade de idéias e atos. “A” ordena os elementos naturais, domina as forças em movimento. Dá aptidão para adquirir e dispor, criar, modelar e dar impulsos.

“A” promete domínio dos obstáculos materiais, realização de novas e felizes iniciativas e empresas.

Se o “A” está vibrando em nós adquirimos amigos fiéis.

Práticas

Diariamente meditar nos significados do “A” nos três mundos (espiritual, mental e físico).

Temos que ler, meditar, observar a nós e o mundo até compreendermos o “A” em nós, nos outros e nas coisas.

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Temos também que fechar os olhos diariamente e buscar o “A” espiritual (Deus Pai) dentro de nós (Meditação).

No “A” estão as respostas a todas as nossas perguntas, no “A” está a nossa missão aqui na Terra, no “A” está a força que precisamos, no “A” está tudo o que devemos fazer, pois o “A” é Deus em nós.

Temos também que vocalizar a vocal “A” diariamente para despertarmos os poderes em nós.

Devemos inspirar o ar meditando nos significados do “A”.

Vamos reter o ar por alguns segundos enquanto continuamos meditando sobre o “A”.

Vamos exalar pronunciando: AAAAAAAAAAA (se for possível ajustar a vocalização a nota Fá).

Fazer este exercício durante 10 minutos diariamente, sempre aliando a vocalização com a meditação sobre o significado do “A”.

Outro exercício muito importante é esforçar-nos a todo instante e onde quer que estejamos para sentir que todos somos “um”, que estamos todos amarrados, que não existe eu e tu e sim nós formando um único Deus. Este exercício nos conduzirá à unidade da vida, ao trabalho pelo bem comum, com este exercício desarmaremos o nosso egoísmo e marcharemos triunfante pelo caminho do amor e do êxito e conseguiremos realizar os dois primeiros mandamentos da Lei de Deus que são amar o nosso Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, pois se reconheço meu Deus interior como a coisa mais importante da vida e também reconheço você como um pedaço deste mesmo Deus, como poderei fazer-te mal ou deixar de amar-te como a mim mesmo?

Ainda mais um exercíco consiste em aprender a enxergar o todo de cada coisa como sendo uma unidade. A música, por exemplo, com sua harmonia, interpretação, técnica, história, contra-ponto, em fim, tudo isto forma uma unidade musical que deve ser buscada pelo músico. Assim, precisamos buscar a unidade de cada coisa na vida.

O último exercíco está relacionado com a intuição.

A intuição é a voz de Deus em nosso coração, é a lei universal de que falamos na introdução deste livro e devemos segui-la rigorosamente, nos mínimos detalhes, nas menores coisas da vida, em tudo devemos segui-la. Assim, não cometeremos graves erros na vida, não nos desviaremos do caminho e sempre teremos uma direção a seguir.

Desta forma, meditando, lendo, vocalizando diariamente, buscando o significado vamos despertar as seguintes faculdades e virtudes em nós:

-No plano espiritual despertaremos Deus em nós, despertaremos o poder de nos lembrarmos de nossas vidas passadas, despertaremos a facilidade de compreender as ciências secretas, despertaremos o desejo invencível que nos conduz a meta e a vontade firme de realizar sem temor o justo e o bom. Este exercício da vocalização transmuta nossas baixas paixões em idéias sublimes.

“A” é a invocação mais direta e mais escutada por Deus . Por “A”, nosso Deus íntimo acolhe nossos pedidos e nos inicia nos mistérios internos para nos servirmos deles.

-A vocalização do “A” desperta no plano mental o poder para a transmutação e a coordenação, dá poder para resolver nossas dificuldades, para despertar nossas paixões e depois domina-las.

-No plano físico a vocalização diária da vogal “A” cura as enfemidades dos pulmões, ativa nossa energia, depura nosso sangue, ordena os elementos naturais, dá impulsos positivos, cura a preguiça e a indolência, estabiliza as idéias e os atos.

Lembre-se que toda idéia que não se manifesta em ato é uma idéia vã, é um tesouro guardado num baú sem utilidade alguma.

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O Mago é como Deus; trabalha sem cessar até que atinja seu objetivo. Mago é aquele ser que tem um coração sem paixão para poder dispor do amor dos demais.

O Mago é impassível, sóbrio, casto, desinteressado, impenetrável. Deve estar sempre preparado para toda aflição e traição.

A vontade firme e a fé em si mesmo, guiadas pela razão e o amor da justiça, o levarão ao fim que quer alcançar e o preservarão dos perigos do caminho.

Queres ter os poderes da Magia? Pois bem, AMA SEM QUERER E TRABALHA SEM TEMER. Amar sem pedir nada para ti e trabalhar sem temer a ninguém. Sabes amar? Sabes querer? Sabes distinguir entre o amor e o querer? Pois bem, o amor pode ser sem afeição; o amor se sacrifica. O querer pede sacrifícios porque é afetivo.

O Mago deve tratar de conquistar o grande Poder da Sabedoria, isto é, ser agradável e digno com todos.

Agora bem, a vontade firme e a aspiração podem conduzir o aspirante (Aprendiz) ao trôno da Magia, por meio do Verbo e a vocalização das letras.

Já vimos que a vocalização da letra “A” produz certas vibrações em nosso corpo. Se estas vibrações estão guiadas por nossos elevados pensamentos, nossa pura aspiração e nossas profundas respirações, os efeitos e atributos da letra “A” se deixam sentir facilmente em nós outros.

E assim sucessivamente: Cada vocalização de uma letra tem que ser acompanhada com as condições enumeradas (Até aqui extrato do livro Grau do aprendiz maçom do Dr. Adoum).

Pouco a pouco, nesta nossa presente obra, passaremos mais algumas letras correspondentes ao início da jornada do estudante aprendiz.

Síntese:

-Meditar diarimente sobre os signicados de “A”.

-Meditar diariamente buscando encontrar Deus Pai, o “A” interior, até tornar-nos uno com ele.

-Mantra “A” diariamente.

-Viver a unidade da vida “Todos somos um”.

-Buscar a unidade de cada coisa, de cada arte, de cada ciência, de nossas vidas.

-Seguir rigorosamente a intuição, pois ela é a voz de Deus em nosso coração.

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A unidade

Por ser um assunto de extrema importância, segue neste presente capítulo uma espécie de resumo do capítulo anterior, porém, com ênfase a um aspecto definido, a unidade.

Como vimos anteriormente todos temos dentro de nós, em nosso interior, o nosso Real Ser, nosso Deus individual, nossa Mônada, nosso Atma ou Músico Celeste como o chamam os hindus.

Esta parte divina que habita em nosso interior é conectada com o Absoluto, o Deus maior de onde tudo veio e é representada pela letra “A”, como também já vimos.

O Absoluto é o Sol central e o Real Ser Interior de tudo e de todos são os raios deste Sol.

Como todas as coisas vivas do universo possuem o seu Ser interior profundo e este Ser está conectado ao Sol central, então a vida passa a ser uma unidade, todos os seres amarrados a um único ponto que governa e dirige tudo.

É como se existisse muitas formas, mas apenas um cérebro central que rege tudo.

O Absoluto ou Sol central é o maestro da orquestra. Nossos Pais interiores ou Reais Seres Interiores são os músicos e nós somos os instrumentos.

Nosso organismo físico é constituído de muitos órgãos e cada órgão possui a sua função, mas existe uma inteligência que rege tudo isto e faz com que exista uma unidade por trás de tantas funções. Existe um todo harmônico em cada organismo chamado unidade.

Assim é a vida, muitos homens com diferentes funções, mas no fundo existe apenas um único Deus manifestado através de diferentes faces e dons, formando assim um grande organismo terrestre.

Nosso Pai interno obedece ao Sol Absoluto Central e nós devemos obedecer nosso Pai interior através da intuição para não quebrarmos a unidade da vida.

Quando não obedecemos ao nosso interior para agir e fazemos as coisas sem sentir, ao nosso modo, então quebramos a unidade da vida e geramos sofrimento para nós e para os outros.

Se cada ser humano aprendesse a seguir e a trabalhar de acordo com a unidade que habita dentro de si, então a Terra se tornaria um verdadeiro organismo onde cada órgão estaria realmente exercendo a sua função com eficiência e a unidade se faria visível.

Mas tal como a luz faz sombra, então a unidade fez a sua sombra dentro e fora de nós e esta sombra é a pluralidade sombria.

Então a mente vive em conflito com seus múltiplos pensamentos. A mente, coração e o corpo também vivem em conflitos terríveis. A vida material e espiritual de cada ser humano também vive em conflito e este conflito interno particular de cada homem se reflete na sociedade. Então surgem as guerras, a fome, as doenças, pois o corpo terráqueo perdeu a sua unidade, as funções dos órgãos terráqueos estão todas danificadas.

Precisamos resgatar a unidade interna e externa de nossas vidas. Todo conflito deve cessar.

Material e espiritual devem se unir dentro de nós.

Todas as atividades de nossa vida devem se tornar um organismo sem conflito, onde uma parte colabora para o bom funcionamento da outra.

A sinceridade com nós mesmos, com nosso interior, com nosso coração deve voltar a reinar em nosso castelo interior.

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Não podemos mentir para nós mesmos, pois mentir é se desviar das ordens do coração, da unidade em nós, nosso Deus interior.

Temos que voltar a ser um, tanto interna como externamente.

Os muitos pensamentos devem cessar para que a mente possa refletir a unidade do Pai.

As muitas emoções devem cessar para que no coração reine o amor do Pai.

As ações devem ser unicamente a obediência ao Pai.

Intelecto e coração devem se tornar uma unidade.

Coração e ação devem se alinhar.

Não podemos pensar uma coisa e sentir outra.

Não podemos sentir uma coisa e fazer outra. Isto é conflito e todo conflito traz desordem, descontentamento e uma perda terrível de energias que deveriam ser utilizadas para outros fins mais nobres.

A unidade só pode ser resgata quando aprendemos a ouvir e a obedecer rigorosamente a voz do Pai, que guia-nos através da intuição, aquela voz que fala baixinho em nosso interior e que facilmente pode ser ouvida quando mente e emoções negativas silenciam.

O Pai interno é o ponto de apoio em nós que deve guiar nossos pensamentos, emoções e obras.

Tudo em nós deve partir de um único ponto não conflituoso, o Pai.

A persistência e a vontade numa única direção pertencem à unidade em nós.

Há um ponto em nós que deve se expandir em todas as direções, de dentro para fora, tal como o universo partiu de um único ponto que se explodiu, se expandiu e continua a se expandir ainda hoje. Se este ponto é Deus em nós que se expande, então, mesmo que nos expandimos em muitas direções, ainda assim não haverá conflitos e todos os opostos se harmonizarão.

Mas se o ego em nós se expandir, então haverá bagunça e confusão, pois o ego é pluralidade e não unidade.

Ao reconhecermos que o mesmo Deus que habita dentro de nós também habita o coração de tudo e de todos, surgem então o verdadeiro amor e o respeito para com tudo e todos.

Temos que amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Isto é unidade.

Quando a unidade de nosso organismo entra em conflito e deixa de ser unidade, então surgem as dores de cabeça, os vômitos, diarréias, mal-estares.

Quando a sociedade deixa de ser unidade, surge então toda espécie de conflitos que todos nós conhecemos.

E quando o planeta deixa de ser unidade por nossa causa, surgem então os maremotos, as enchentes, os tornados e todos estes sintomas constituem o mal estar do corpo planetário.

Faz-se urgente afirmar a unidade e negar a pluralidade, afirmar o Ser e negar o ego.

Outro ponto importante é o seguinte:

Eu, tu, a árvore da esquina, meu cachorrinho, os pássaros, somos todos pedaços de um mesmo e único Ser manifestado de diferentes formas.

Um pouquinho de mim está em ti, no bandido, no poeta, no médico, no ator da televisão, nos gatinhos da minha mãe.

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Eu Sou você, sou sua mãe, sou seu pai, sou sua tia e da mesma forma você sou eu.

Eu e Deus somos um. Você e Deus são um.

Tudo quanto existe sou eu e também és tu.

Quando ajudas a alguém estas ajudando a ti mesmo.

Todos somos um.

Quando eu respiro és tu quem respira.

Você não é este corpo de carne e osso e nem nada disto.

O mesmo Deus que sou, tu também és.

A única diferença é que existem Deuses dormindo acreditando na pluralidade e existem Deuses acordados vivendo a unidade.

Eu sou você, você sou eu.

Eu sou Deus em ação, logo:

Você é Deus em ação.

Todos somos um.

Vamos amigo, acorde, acorde, acorde...

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Formatos de Deus

Uma importante lição da sabedoria relacionada com a unidade da vida são os formatos de Deus.Tal como Deus é um único Ser manifestado através de diversos rostos e formas físicas, da mesma forma todas as situações da vida constituem algum formato de Deus.Quando alguém que está faminto aparece em nosso portão pedindo comida não temos que ver este alguém como uma pessoa pedindo comida e sim como Deus se apresentando diante de nós na forma de necessidade, pois qualquer ser é um pedacinho de Deus acordado ou dormindo.Quando somos casados e uma bela mulher aparece em nossa vida para nos tentar a cometer adultério, temos então que enxergar esta mulher como Deus no formato de tentação para testar nossa vontade e nossa força espiritual.E assim, desta forma, cada situação esconde um aspecto de Deus e cada pessoa ou ser é uma roupa exterior de uma divindade interior, dormindo ou acordada.Para cada formato de Deus ou situação de Deus existe uma forma correta para se relacionar.Se formos possuidor de algum conhecimento artístico ou científico e possuímos alunos nesta ou naquela área, então, em realidade, não possuímos alunos e sim Deuses no formato de querer aprender.Ou ao contrário, vamos supor que somos alunos de algo, então ainda que imperfeitos, temos que ter nossos professores como formatos de Deuses ensinos.Existem Deuses perfeitos, Deuses semi-acordados e Deuses dormindo profundamente na ignorância da matéria, mas ainda assim todos somos Deuses.Existem situações agradáveis, situações neutras e situações desagradáveis, mas todas elas constituem algum formato de Deus exigindo alguma atitude apropriada da nossa parte que também somos Deuses.Vamos supor que sua mãe está estressada com muito serviço, toda atrapalhada e irritada, você precisa então ver sua mãe não como mãe, mas como Deus num formato clamando “me ajuda a compreender e a superar esta situação”.Quando Deus é formato necessidade, temos que saná-la.Quando Deus é formato tentação, temos que superá-la.Quando Deus é formato amor e este amor é lícito, temos que retribuí-lo.Quando Deus é formato planta, temos que regá-la e podá-la.Quando Deus é formato animalzinho, temos que alimentá-lo e dar-lhe carinho.Quando Deus é formato trevas, temos que iluminar-lhe.Quando Deus é formato ódio, temos que convertê-lo em amor.Quando Deus é formato ciência, temos que estudá-lo.Quando Deus é formato arte temos que contemplá-lo.Ora Deus nos tenta, ora nos ajuda, ora nos pede auxílio.Esta é a ciência do karma. Se quando Deus se apresentou na forma de necessidade nós o ajudamos, então, quando formos nós os necessitados Ele se apresentará para nós na forma de auxílio e assim sucessivamente.Deste jeito, temos que aprender a nos relacionar bem com cada formato de Deus, tanto para servi-lo como para aliviar nosso karma.Esta forma de enxergar a vida e de agir nos aproxima muito da divindade e nos converte em verdadeiros servidores, nos traz sabedoria e libertação.

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A ronda do Espírito

Ali onde todos dizem: “Venha, venha, olha que maravilha, olha que bom, olha que legal”. É bem ali onde a vida carece de sentido real, não pela vida em si, mas por sairmos de nosso centro ao seguirmos àquilo que não nos pertence em Espírito.Temos que buscar o nosso legal e o nosso maravilhoso, temos que sair da opinião das massas e construir nossa própria opinião.Enquanto que a vida é um pássaro livre o social cria gaiolas.Enquanto vivemos dentro do aquário não vemos a beleza do próprio aquário.Se somos um peixe podemos cometer o erro de achar que uma erva-marinha ou uma pedra que serve de gruta é muita coisa.Vendo de fora podemos estudar toda a amplitude do aquário, podemos trocar os peixes, tratá-los, alimentá-los.Dentro do aquário somos peixes, fora dele somos senhores.A vida é um grande aquário.Mas ninguém sai do aquário sem que antes tenha vivido dentro dele. Primeiro é necessário sermos peixinhos, para um dia, ao sairmos do aquário e observá-lo de fora, sabermos o que sente cada peixinho que está ali dentro, mas já faz muito tempo que estamos aprisionados, chegou a hora da libertação.Quando estamos dentro do aquário é o mesmo que tatearmos as coisas no escuro, tudo fica muito perto e não conseguimos ver direito.Ao observarmos as coisas de certa distância podemos estudá-las melhor, mas a distância não pode tornar nosso coração frio. Precisamos sair do aquário, vê-lo de fora, estudá-lo e amá-lo, amar a cada peixinho que permanece ali dentro.Uma vez fora do aquário precisaremos de uma boa dose de serenidade para que as dificuldades da vida não nos jogue novamente para dentro do aquário. Cabe aqui ressaltar que a serenidade é a chave de todo poder e uma vez perdida esta virtude todo o poder se esvai com ela.Quando tudo começa a perder o sabor é sinal de que estamos crescendo e prestes a pular para fora da água.De peixes conformados vamos nos tornando seres inquietos.Da inquietude vem a rebeldia.Da rebeldia surge o cansaço e a falta de sabor das coisas.A falta de sabor em tudo nos traz dor.A dor conduz à reflexão e à meditação.Meditando vamos nos afastando cada vez mais do aquário para observá-lo de fora. Vamos tornando-nos cada vez mais contemplativos.Da contemplação as asas do Espírito começam a se abrir, pouco a pouco vão aumentando em beleza e tamanho.Chega o momento em que já podemos voar.A vida adquiri novo sabor. Tudo se torna espiritual e místico, o véu cai e a ciência secreta se revela aos olhos do novo pássaro.Teremos que submeter todas as coisas ao filtro de nossas profundas meditações. O que é o amor? E a dor? E o pecado? E a alegria?Cada mistério decifrado por nosso Espírito representa um vôo cada vez mais alto. Os livros e teorias alheias começam a perder o sentido, pois do interior começam a vir todas as instruções.Devagar as asas se convertem em chamas, aos poucos as chamas vão nos consumindo e até o conhecimento que nos levou até ali começa a desintegrar.

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É um eterno conquistar e abrir mão dos frutos da própria conquista, pois uma coisa só serve até que uma nova coisa superior a substitua. Tudo nos serve por um determinado tempo e logo outra coisa vem.É o eterno novo, morrendo e nascendo o tempo todo. São intermináveis degraus ao infinito. É a constante morte de si próprio para que o verdadeiro Ser surja.É um ir se dissolvendo pouco a pouco até que só reste o fogo, até que tenhamos nos convertido em chamas, até nos convertermos em pássaros de fogo iluminadosMeditar, captar o profundo significado das coisas e se corrigir o tempo todo, assim vamos escalando a montanha da iniciação.Meditar, captar, corrigir-se.Não há quem nos diga isto é certo ou isto é errado, senão a própria consciência a nos guiar, fruto de intensas experiências, reflexões profundas e meditações contínuas.Precisamos abandonar a condição de peixes dentro do aquário.Ainda há poucos pássaros no céu.Para que ocorra a metamorfose é necessário que um querer muito sincero surja em nosso coração.Um grande cansaço de tudo deverá surgir antes disso.Tal como da fonte a água brota ininterruptamente, questionamentos verdadeiros devem brotar insaciavelmente da alma.Enquanto a inquietude prevaleça o progresso continua, pois no universo não existe pergunta sincera que não seja respondida.A alma precisa transformar-se numa fonte cristalina de inquietações.A meditação deve conduzir à correção.Tudo deve ser medido e analisado, mas não com a mente racional e sim com aquela faculdade do Espírito que contempla, que se inquieta e experimente em si mesmo a resposta para todas as perguntas.Sentir e vivenciar uma resposta é ter uma questão resolvida ou pelo menos iniciada.Por trás da mente racional, tal como o cabelo está por trás da face, existe uma faculdade em nós que experimenta a vida em forma livre, que questiona e vivencia todas as respostas; é como que uma segunda mente, só que muita mais rápida e mais poderosa que a mente racional.Esta faculdade, esta segunda mente de que falo, precisa entrar no comando, mas para que isto aconteça a mente racional precisa calar.Esta segunda mente é uma espécie de serenidade-receptiva que consegue captar quase que imediatamente a profundidade de cada coisa; é um sensor que reconhece a verdade numa flor, numa pedra, numa pessoa, numa equação, numa situação, numa obra de arte, etc...Esta segunda mente ou mente do Espírito é uma faculdade sem a qual ninguém poderia caminhar espiritualmente. Esta faculdade é o Ser pensante e meditativo em nós, que cresce e se desenvolve no silêncio da mente racional.Este é o Ser ou não ser da filosofia; mente racional ou Ser interior pensante. A mente racional é a nuvem. O Ser interior pensante é o Sol. Nuvem ou Sol? Ser ou não ser?Sem o Sol interior jamais poderíamos nos converter em pássaros de fogo ou em serpentes aladas.Artistas verdadeiros passam a maior parte de suas vidas conectados com esta segunda mente ou Ser interior pensante. É desta faculdade interior que chegam até eles a direção e a criatividade e por mais que eles se orgulhem de suas obras e eles não passam de verdadeiros instrumentos úteis nas mãos do Sol Central.Podemos nos entregar e sem esforço algum nos converter em úteis instrumentos nas mãos das potências inferiores ou trabalharmos duro até nos convertermos em instrumentos do Sol Central Absoluto. Em verdade vos digo que este é o único livre-arbítrio que possuímos, tudo o mais surge como conseqüência de uma destas duas escolhas.

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Somente com a abstração deste mundo, com o olhar dirigido para o interior, com a mente racional quieta e sem tribulações é que poderemos dar o primeiro passo do peixinho conformado até o pássaro de fogo.Quando as chamas e a serpente nos tragam absolutamente, podemos dizer que a ronda do nosso Espírito esta completa. Neste ponto estaremos muito perto da iluminação final e assim que isto ocorrer seremos um tijolo a mais na muralha formada pelos guardiões do mundo.A ronda do Espírito é a nossa viagem pela Terra até juntarmos todas as peças do quebra-cabeça da nossa existência.Assim é como o homem vira Deus e Deus vira homem.A segunda mente que surge quando a mente racional está em silêncio é a ponte que nos une com o universo, com o seio do Pai.A lei da atração só existe enquanto dois seres possuem desejos semelhantes.Os mestres e seres superiores querem sempre nos ajudar e se nossa busca pelo reino superior da natureza é sincera, receberemos sempre ajuda da Fraternidade Oculta, pois existirá sempre atração entre nós e eles.Buscar sinceramente armados com a espada da fé e com a bandeira da esperança, sem desanimar e sem desistir jamais, assim, desta forma, nos converteremos em seres invencíveis.

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Ser

Só resta amar, só resta servir, ajudar, aconselhar, ensinar, cultivar a música e sagrada ciência da alma.

O véu da ilusão caiu, a visão se abriu, cessaram-se os apegos e as falsas responsabilidades.

Sou leve, sou vento, sou o que sou e nada mais.

Já não há mais conflitos, há somente a canção, há somente a poesia, resta somente o amor, o amor profundo e sincero.

Tudo é belo, tudo é terno.

Em cada olhar contemplo a majestade universal, em cada flor há eternidade.

Já posso voar, o Sol está próximo.

Não há temor.

A morte, com sua foice, não me aterroriza.

Sou ar, sou chuva, sou vento.

Estou em todas as partes.

Tudo se convergiu para o centro em mim.

Sou fogo, sou estrela, sou números.

Estou dentro de tudo e de todos.

O vazio se apossou de mim. Estou me dissolvendo, Deus está surgindo, ressuscitando.

Em cada reino há um pouco de mim acordando, pois tudo contém tudo.

Posso viver.

Posso morrer.

Posso ganhar.

Posso perder.

Tudo se tornou distante, estou longe, emergido profundamente dentro de mim mesmo, emergido em tudo e em todos.

Estou indo embora e quanto mais me sinto parte de tudo, mais posso contemplar o mundo do alto.

O velho está morrendo.

O bater das asas causa furacões.

Sou raios e trovões.

Sou a erupção dos vulcões.

Sou homem, sou Deus, sou ancião, sou menino.

Como é deliciosa a melodia da eternidade.

O tempo, venerável Senhor, abriu-me seus portais. O ontem morreu. O passado foi esquecido. Tudo é agora.

Já não existo. Apenas sou.

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Como é bom percorrer o caminho de volta para casa.

Como é bom apenas ser o que se é.

Como é bom estar em paz consigo mesmo.

Ah! Como sou grato.

Nada podemos sem a permissão da misericórdia universal.

Quanto errei.

Quanto vaguei.

Quanto mal fiz.

E no entanto...

A misericórdia divina é infinita.

Todos sofrem.

Todos erram.

E como sou todos eles, o meu vôo ainda é parcial.

Como sou todos eles, sou livre parcialmente.

Ainda estou acorrentado.

Cada sofrimento alheio é meu próprio sofrimento.

Cada lágrima alheia é uma lágrima de sangue escorrendo de meu próprio coração, é uma dor em minha própria alma.

Eternidade, abri vossas portas aos homens.

Discernimento e sabedoria, coroai as mentes humanas.

Amor, bondade, compaixão, flui através dos corações.

Serviço, obrai em cada mão.

Senhor, tenha piedade de nós.

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Sonhos e Desejos

Nossos desejos são como a fumaça.

Nossos sonhos são como a luz.

Nossos desejos nascem da mente e do ventre.

Nossos sonhos nascem do coração.

Nossos desejos são como uma balde furado, pois nunca se saciam.

Nossos sonhos verdadeiros são como setas que nos indicam a direção.

Nossos desejos são como as grades de uma prisão.

Nossos reais sonhos e aspirações são os espaços que existem entre um ferro e outro da grade de nossa prisão.

Nossos desejos nos causam frustrações, pois quando se realizam perdemos um pedaço de nosso ser.

Nossos sonhos são como combustível que alimentam a vida de nosso ser.

Nossos desejos, como pedras amarradas aos nossos pés, nos conduzem ao fundo do precipício.

Nossos sonhos são como asas que nos permitem voar.

Nossos desejos nos convertem em escravos e animais.

Nossos sonhos nos elevam às alturas e se forem aliados à pureza do coração, nos convertem em anjos colaboradores da criação.

Nossos desejos nos embrutecem.

Nossos sonhos nos dignificam e nos transformam em alguém no meio de muitos.

Nossos desejos são como o mar enfurecido e como o tornado devastador.

Nossos sonhos são rios que nascem no seio do SER e nos conduzem à realização da vida.

Os desejos nos empobrecem interiormente.

Os sonhos nos animam, ensinam e nos permitem conquistar riquezas indescritíveis e invisíveis aos olhos do mundo.

A vida, quando é guiada pelos desejos, gera escuridão e insatisfação.

A mesma vida, guiada pelos sonhos e altas aspirações, se converte em alegria e contentamento.

Esta é a guerra da vida, a mente e o baixo ventre dando as mãos e lutando contra o coração.

Quando os desejos da mente e do ventre vencem, surgem as trevas e o fracasso.

Quando o coração vence, surge o Sol da meia-noite no interior do homem.

O homem, quando é guiado por seus sonhos, torna-se forte, convicto e invencível.

O homem, quando guiado por seus desejos torna-se fraco e débil.

Os desejos surgem do inferior em nós.

Os sonhos nascem do superior em nós.

Todos possuem o superior e o inferior dentro de si mesmos.

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Lutar é a função do homem prudente e sábio.

Se entregar é ser tolo e covarde.

O universo criou o homem para que possa, através dele, realizar os seus objetivos, pois nossos sonhos são depositados em nossos corações pela vontade universal.

Lutar para realizar nossos sonhos elevados e altas aspirações é o mesmo que fazer a vontade de Deus aqui na Terra. Muitos se perguntam o que Deus quer que eu faça? E Deus responderá:- Lute e realize os seus verdadeiros sonhos, porque “Eu sou eles”.

Sonhos realizados, assim, desta forma, Deus se materializa e o homem se diviniza. Necessitamos espiritualizar a matéria e materializar o divino.

Todo aquele que é um realizador de sonhos se converte em uma peça na engrenagem da evolução do mundo. O realizador dos sonhos é como um cavalo alado que puxa a carruagem da humanidade para frente e para cima.

Mas existe um grave problema, é que quase sempre agimos contra nossos próprios sonhos e nos entregamos insaciavelmente aos nossos desejos.

Somos nossos próprios inimigos.

Pensamos de uma forma e agimos de outra.

Sentimos uma coisa e fazemos outra.

Queremos uma coisa e agimos contra os nossos próprios ideais. Somos sabotadores de nós mesmos.

Precisamos encontrar, dentro de nossos próprios corações, os nossos sonhos, precisamos bater as asas da realização e voando nesta empreitada, dizer adeus ao passado e sem temer, mergulhar no infinito.

Precisamos reconhecer, dentro de nós mesmos, tudo o que atrapalha a realização de nossos próprios sonhos.

E então, devemos nos animar e lutar.

Lutar pela realização dos sonhos.

Lutar para pisar na cabeça do desejo e desintegrá-lo, tal como São Miguel pisa na cabeça do demônio.

Lembre-se: - Em nossos sonhos estão a direção de nossa existência, o mapa dos nossos passos e as chaves do caminho.

- Em nossos desejos estão a direção do nosso fracasso e o caminho da dor e da escuridão.

Ser prudente é lutar contra a escuridão e com passo firme, erguer tijolo por tijolo o castelo puro de nossos ideais.

Sonhos versus desejos, eis o mistério da alegria e da tristeza, eis o mistério do fracasso e do triunfo.

Um homem quando está armado com a armadura dourada dos sonhos, ele sente que está envolto em uma armadura de aço, então ele empunha a espada da vontade e age.

Quando nas costas de um homem batem forte as asas dos ideais, ele voa e pode contemplar a vida do alto das colinas.

Ter sonhos é ter encontrado o caminho, é saber o que fazer, é ter sentido e direção no agir.

Existe uma bela frase popular que diz: - “Por não saber que era impossível ele foi lá e fez”.

Deus é um eterno sonho sendo realizado através dos corações prudentes.

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Um homem que luta e realiza constantemente os seus sonhos sente-se Deus criador.

Uma mulher que luta e realiza constantemente os seus sonhos converte-se na própria natureza, cheia de encantos e mistérios.

Sorte daqueles que se encontram e podem partilhar dos mesmos sonhos, sejam amigos, parentes ou enamorados. Pois quando seres se unem pelos mesmos sonhos, pode-se dizer que estes estão unidos em espírito, porque é do espírito (Deus em nós) que os sonhos surgem.

Sonhar e amar são as águas de dois rios que se encontram no mesmo lugar.

A água do rio dos sonhos nos ensina e mostra a direção. Deste rio provém a sabedoria.

A água do rio do amor realiza o sonho, age e faz.

Sonho-amor.

É como pai-mãe.

É como Deus-natureza.

É como homem-mulher.

Sonho-amor.

O sonho é a nascente do rio.

O amor é a correnteza do rio com sua força de ação.

A realização é o oceano onde o rio deságua.

O sonho é Deus.

O amor é a natureza.

A concretização do sonho através do amor é o fruto.

Deus, natureza e fruto.

Pai, mãe e filho.

Sonho, amor e realização.

Ideal, emoção e ação unidas em vibrante harmonia.

Esta é a sagrada trindade da vida, sem a qual não pode existir a felicidade.

Os desejos são os destruidores de nossos sonhos.

Por desejos traímos o que amamos para fazer o que não amamos e como resultado compramos um pouquinho mais nossa infelicidade. Por desejos traímos a nós mesmos e nossos ideais.

Torna-se urgente e inadiável aprender a ser fiel aos nossos sonhos e ideais e dissolver os desejos, se é que não queremos ser derrotados pela parte obscura da vida.

A gula é o desejo de comer, a ambição sempre quer mais, o orgulho sempre deseja sobressair-se, o desejo da fama é como um cabresto em nossos olhos, o desejo sexual desenfreado sempre destrói o amor puro e inocente, a preguiça é um terrível desejo de não fazer nada, a ira é o desejo horrível de brigar que nunca tolera as falhas alheias, o desejo de ressentir-se nunca perdoa, etc, etc, etc...

Nossos desejos sempre serão nossos melhores inimigos e sempre estarão prontos a nos destruir, sempre estarão prontos para fazer fracassar os nossos sonhos e ideais.

Pergunte sempre: - “Isto é sonho ou é desejo?”.

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Jamais se esqueça: - Agarre nas garras da águia de vossos sonhos e se entregue para onde ela te levar, mas se acaso a tua mão começar a doer e você não conseguir se manter firme segurando as garras da águia dos sonhos e cair do alto e se machucar, não se preocupe, pois outra águia sempre passará, agarre então de novo e desta vez segure ainda mais firme para não cair novamente.

Sonho, coração e ação unidos em vibrante harmonia, assim podemos conseguir qualquer coisa e nada parecerá impossível.

Um dia quero poder olhar para o céu e ver um grande pássaro voando, porém tão alto que eu não conseguirei identificar exatamente o que é que está voando. Pegarei então o binóculo e olharei bem e verei uma águia que de tão alto estará quase sozinha, voando entre poucas e nesta águia verei alguém agarrado em suas garras, olharei bem e verei que este alguém é você, olharei então para baixo e verei uma construção enorme, um castelo maravilhoso, gigante, este castelo é a sua construção, sim você conseguiu. Então, neste dia de meus olhos escorrerá uma lágrima e de meu semblante um gostoso e sincero sorriso vendo que mais um ser cumpriu a sua missão.

Lute, acredite, busque e desta forma, vendo você armada (o) com a invencível armadura dos sonhos e empunhando em sua mão a espada do amor e da vontade, saberei que nosso encontro aqui na Terra não foi em vão, pois se este texto chegou a vossa mão é porque nossas órbitas se encontraram.

Nada é por acaso. Os homens são como planetas, estão orbitando no cenário da vida e todo encontro de órbitas possui uma finalidade

Quando as órbitas humanas se cruzam sempre existe um justo motivo para que isto aconteça.

Dê o primeiro passo e o próximo passo aparecerá logo em seguida, pois o caminho revela-se na própria caminhada.

Deus sonhou, amou seu próprio sonho e criou o universo.

O homem sonha e imita Deus.

Gandhi sonhou e libertou a Índia.

Buda, Jesus e outros mestres sonharam e amaram os seus próprios sonhos e com a força da realização influenciaram parte do mundo e suas influencias chegam até os dias de hoje.

O sonho é a alavanca da criação e da realização e a vida sem sonho-ideal torna-se vazia.

Um grande mestre disse: - “A única diferença entre vocês e nós é que nós chegamos aonde chegamos porque nunca desistimos”.

É como se ele quisesse dizer: - “Diversas vezes caímos e fracassamos como todos vocês, mas em cada tombo sempre nos levantamos e seguimos adiante até que aquilo que acreditávamos se convertesse em realidade”.

O problema é que as pessoas desistem muito fácil e já no primeiro tombo se consideram fracassadas.

Jamais desista.

Sonhe...,Voe...,Ame..., Voe..., Sonhe..., Ame..., Faça..., Aprenda..., Acredite..., Siga em frente..., Levante-se..., Sonhe..., Faça..., Ame..., Voe..., ..., ..., ..., ..., ..., ..., ..., ..., ..., ...,

Voe..., ..., ..., ..., Voe...,...,...,...

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Tijolo por tijolo

Este é um simples ensinamento, mas sem o qual pouco se pode realizar.

Cada nobre ideal é um castelo pronto no mundo poético, ou melhor, uma pirâmide e para fazermos com que ela se torne realidade necessitamos compreender que uma pirâmide se constrói tijolo por tijolo. Há que se aprender a fragmentar todo ideal, toda meta, em pequeninos tijolos e ir assentando um por um. Lembre-se de que a natureza não dá saltos e quem ignora a lei do tijolo por tijolo geralmente fracassa na maior parte de seus ideais e intentos, ainda que sejam nobres e sublimes. Trabalhar sempre na mesma direção, persistindo e sabendo esperar pacientemente o tempo e a hora de assentar cada tijolo, tijolo por tijolo, até que pouco a pouco o castelo começará a se fazer visível, o ideal se transformando em realidade, a pirâmide ganhando forma.

A grande Mãe Natureza revela, infunde na mente do mago os seus sublimes ideais e o mago assume estes ideais como se fossem dele próprio e muitas vezes até ignora que não o seja. Deve o mago contemplar estes sublimes ideais em seu próprio interior, deve fragmentá-lo em diversos tijolinhos (minúsculas etapas que culminarão no ideal feito realidade) e mantendo silêncio e sem perder o ideal de vista, deve então, de acordo com o todo e com o momento presente, assentar pacientemente tijolo por tijolo até que o ideal se torne realidade. Este é o mago ou maçom construtor, silencioso, alegre e paciente trabalhador rumo a construção de um mundo melhor, sempre guiado pelos elevados ideais de sua Divina Mãe, a natureza.

Pobre daqueles que ignoram que as coisas não acontecem do dia para noite e que tudo é uma lenta e laboriosa construção, estes sofrem amargamente por não saberem esperar, pois seus planos vão por água abaixo. Paciência e persistência, tijolo por tijolo, sempre na mesma direção, aprendendo com os erros e fracassos e suportando tenazmente toda adversidade até a concretização daquilo que nos propomos realizar, eis a maçonaria, eis a construção, eis a grande obra, tanto interna como externamente. Estou falando da verdadeira maçonaria espiritual, da verdadeira escola de mistérios da natureza que luta severamente para que surjam sobre a face da Terra homens de verdade, mensageiros do amor e da luz, verdadeiros filhos da sabedoria.

É desta mesma forma que se compreende ou se ensina uma grande verdade, é desta mesma forma que se instrui o próximo, é desta forma que se estuda um livro ou a si próprio, tijolo por tijolo.

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Nota

Em primeiro lugar, que fique bem claro que não sou nenhum mestre.

Não sou maçom, mais sei que existe uma Maçonaria bela e formidável ocultada entre as dimensões superiores da natureza e hoje em dia, tudo o que leva o nome de maçonaria está muito longe de sê-la realmente.

Não sou gnóstico, pois como muitos sabem, gnóstico é um Buda ou um Jesus de Nazaré, mas posso afirmar sem medo de me equivocar que a Gnose é o conhecimento que surge em um homem de dentro para fora e não de fora para dentro, é aquilo que o Deus interno de cada um entrega de lábios a ouvidos através do coração tranqüilo, é algo que desabrocha em nosso interior como uma flor que vai surgindo vagarosamente, como que por encanto.

Não sou Rosa-Cruz, mas sei que um Rosa-Cruz é aquele cuja rosa da alma resplandece através do suado e digno carregar da cruz da existência (trabalhos e práticas ininterruptas a serviço da luz, da elevação da humanidade e da purificação da alma). Sei também que a verdadeira ordem Rosa-Cruz não se encontra no mundo físico e que poucos são os humanos dignos de adentrar em seus profundos e antigos mistérios, pois é necessário que primeiro o homem se faça merecedor.

Para aquele que é capaz de passar pelas duras provas da vida e que é capaz de se elevar através de suas próprias obras, o seu Deus interior começa a revelar-lhe internamente os mistérios para que possa prosseguir adiante sua escalada pela montanha da iniciação. Tudo acontece na hora certa e de acordo com a necessidade, méritos e obras.

A verdadeira sabedoria está no mundo interno do homem e jamais em livros ou escolas. Escolas e livros possuem a sua função, mas a verdadeira sabedoria é uma questão interna e individual, é o extrato da vida bem vivida, é o sumo de cada instante revelado pelo nosso próprio Ser interior profundo, é como o vapor que se eleva das águas e se dirige ao céu.

Aprenda com os exemplos, lê e aproveita, mas jamais ignore o seu próprio ser, jamais deixe de ser você mesmo ainda que a solidão tenha que ser sua melhor amiga.

Deus, dentro de cada homem, está esperando para ser reconhecido e entregar, em particular, a cada ser humano, a sabedoria das idades.

Não siga homens, uma vez que o verdadeiro homem superior está dentro de cada qual esperando para se manifestar.

Através das obras e de uma vida digna, o verdadeiro homem, senhor de si mesmo, pode receber das mãos de seu Deus interior, de forma interna, a sabedoria maçônica, os conhecimentos gnósticos e os mistérios rosa-cruzes.

Que a obra resplandeça e meu nome seja esquecido.

Que a obra brilhe como fogo e minha insignificante pessoa permaneça opaca como as nuvens cinzas do céu escuro.

A obra deve resplandecer, porém, pessoas externas não devem ser glorificadas.

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O verdadeiro conhecimento (extrair de tudo a sabedoria)

Para o sábio a sabedoria está em todos os lugares.

O sábio, sabendo neutralizar-se, extrai de tudo a sabedoria.

A sabedoria não é a forma e sim, a essência.

A sabedoria não é a flor, mas sim, a sua fragrância.

Ao estudarmos um parágrafo de uma obra, devemos então, com o olho do coração, resgatar o que o escritor sentiu quando ele escreveu aquele parágrafo, o que foi que o moveu a escrever.

Quando alguém está falando temos que sentir o que a pessoa está sentindo para poder entendê-la e muitas vezes suas palavras não são aquilo que ela está dizendo realmente, pois a verdade está no impulso de suas palavras, está naquilo que a está movendo a falar.

Quando estamos ouvindo uma música, temos então que ir além do som e sentir profundamente o que é que ela está nos comunicando.

Temos que buscar o espírito das coisas, sua origem, sua função.

Nesta busca pela origem das coisas construímos a verdadeira gnose em nosso interior. Tijolinho por tijolinho edificamos a sabedoria. Este é um lento processo e a boa vontade e a infinita paciência não podem esfriar.

Lemos uma frase, nos colamos de forma neutra após tentar entendê-la com todos os nossos recursos internos e aguardamos uma resposta do universo para aquela questão, como que formando um ímã dentro de nós que extrai do universo e atrai para nós a resposta almejada. É olhar para a coisa externa (pessoa, som, objeto, situação, frase, palavra, etc...) com um sentimento de interrogação e esperar que do mundo interno venha uma resposta intuitiva. Concentramos nossa mente de forma interrogativa e aguardamos a resposta que vem do alto como um ponto que surge em nossa consciência. Se soubermos ser neutros ao aguardar a resposta, então a resposta será exatamente a origem da questão, será exatamente aquilo que o compositor sentiu ao compor e o escritor ao escrever e o próximo ao falar, a resposta será exatamente a alma da coisa, a essência da coisa.

Esta faculdade de se neutralizar a aguardar uma resposta interna deve estar presente em nós vinte e quatro horas por dia. Desta forma, pouco a pouco o universo nos entrega a sabedoria, vamos nos tornando sábios na medida em que agüentamos suportar.

A sabedoria está por traz das músicas, por traz das obras de arte, por traz das palavras dos mestres, por traz de um olhar, enfim, está em toda parte, em toda obra dos gênios e em toda a natureza, mas só aquele que aprendeu a ser neutro é que consegue extraí-la. Só aquele que aprendeu a olhar de forma interrogativa e ouvir a resposta no silêncio de seu próprio coração é que pode tornar-se sábio. Olhar para fora e ouvir para dentro, indagar para fora e se aprofundar para dentro simultaneamente, eis como pouco a pouco nos tornamos nosso próprio mestre, pois teremos aprendido a ouvir o universo dentro de nós mesmos. Ouvir a voz do silêncio, ouvir, ouvir, ouvir, ouvir a sagrada canção da alma.

Deus está em nosso coração e pode fazer de qualquer ignorante um sábio sem a necessidade de teorias, Deus pode transformar cada um de nós em mestres da sabedoria, mas precisamos permitir que isto aconteça, precisamos aprender a ser neutros e a ouvir a voz de nosso próprio coração, a silenciosa voz que nos ensina em cada instante, a suprema canção . Mas só enxergaremos a essência

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das coisas na mesma proporção em que tenhamos a essência livre em nós, pois só o igual reconhece o igual. Só o amor reconhece o amor, só a alma reconhece a alma.

Muitas vezes o universo diz em nosso coração, observa a humildade desta pessoa, agora sinta esta humildade, está vendo, isto é ser humilde e se soubermos ser neutros, sentiremos então exatamente aquilo que a pessoa está sentindo e de forma direta compreenderemos o que é ser humilde, na proporção em que podemos compreender, sendo que esta pessoa, que em determinado momento nos ensinou a ser humilde, pode ser, aparentemente, mais ignorante do que nós, porém, mais humilde. A sabedoria está em todos os lugares. Esteja sempre neutro e receptivo, olhe com interrogação a todas as coisas e aprenda a escutar a silenciosa voz de Deus em seu coração. No bom há mal e no mal há bom. Não existe sequer uma única coisa que não tenha algo a nos acrescentar, desde que saibamos extrair, com coração puro e mente interrogativa-neutra-receptiva.

A sabedoria está e sempre esteve ao nosso redor, em tudo que nos rodeia, mas por falta de sabermos ser neutros não conseguimos enxergá-la. Quando estamos neutros é a essência que está atuando em nós.

Lembre-se: Só a essência em nós é capaz de enxergar a essência das coisas e tornar-se sábia por isto, pois só o igual reconhece o igual. Em tudo existe uma essência esperando para ser reconhecida pela essência que há em nós. De tudo podemos extrair a sabedoria, tal como o perfume sai da flor.

O óculos com que olhamos é o segredo daquilo que vemos: Se uma pessoa possui o orgulho e milhões de virtudes divinas e nós a olhamos com orgulho, com o óculos do orgulho, então o orgulho em nós enxergará o orgulho nela e não será capaz de enxergar suas virtudes e a sabedoria que existe nela passará desapercebida para nós. Permanecendo com o óculos da neutralidade poderemos enxergar o todo e chegaremos na essência das pessoas e das coisas, adquirindo assim a sabedoria.

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O caminho da “Eureca” (O conhecimento deve surgir de dentro para fora)

Atualmente nossa alma é uma massa escura e cada verdadeira compreensão é um foco de luz que perfura esta massa e permite que o sol brilhe de dentro para fora.

Cada verdadeira compreensão é uma ferramenta a mais nas mãos de nosso íntimo.

Cada compreensão é uma atualização em nosso programa (software) interno.

Cada compreensão é uma atualização em nossa formatação interna para que o íntimo Deus em nós possa usar-nos como um computador a serviço da obra. Somos simplesmente servos do Senhor e quanto mais compreensões profundas e verdadeiras que surjam de dentro para fora, então mais úteis seremos para o universo, pois poderemos ser melhores utilizados para a construção universal, para a verdadeira Maçonaria de Deus.

Cada compreensão é um alívio.

Cada compreensão é um consolo, uma esperança, uma alegria.

Mas a compreensão só é real quando surge de dentro para fora.

A verdadeira compreensão é aquele AHHH! Eureca, entendi.

A verdadeira compreensão é um brilho que dá na consciência, é uma micro explosão interna que registra no livro da alma a nossa sabedoria, até que o livro seja totalmente escrito.

Cada compreensão é um novo ânimo, é uma nova vontade de seguir adiante, mas é algo interno que não é transmissível por palavras, senão que é adquirida por esforço e trabalhos próprios.

Cada compreensão é um ponto rodeado por círculos e quando o círculo se fecha, então: Eureca.

Através de cada micro ponto de luz-compreensão vamos transformando a massa escura de nossa alma em uma massa de consciência luminosa, em algo como um amontoado de moedinhas de ouro resplandecentes e cada moedinha foi uma compreensão que foi se amontoando. Antes, as moedinhas de ouro eram de chumbo, eram um amontoado de moedinhas de chumbo, uma massa escura, um amontoado escuro que não resplandecia. Cada compreensão é a transformação de uma moedinha de chumbo em uma moedinha de ouro, até que o amontoado resplandeça e brilhe, até que a massa escura se converta em algo luminoso, em luz pura. Cada qual vem para a Terra com uma quantidade de moedinhas de chumbo que precisam ser transformadas em ouro através do caminho da Eureca e só o coração é quem pode ajudar guiando-nos até o livro certo, até a pessoa certa, até a atividade certa que contribuirão para nossas compreensões.

Para que uma moedinha de chumbo possa se converter em moedinha de ouro ela precisa ser rodeada pelos elementos certos, cada moedinha de chumbo precisa de um círculo exato de certos elementos a rodeando para que ela possa se converter em moedinha de ouro. Estes elementos nos chegam de forma natural e ordenada desde que o nosso querer não esfrie. Precisamos estar atentos aos acontecimentos, aos fatos, livros, conversas, sensações, intuições, sentimentos, etc... e de repente outra eureca e mais outra e outra e desta forma vamos caminhando rumo ao infinito.

De eureca em eureca construímos os degraus da perfeição em nosso interior.

Não existem regras, senão o próprio coração a nos guiar e a eureca para surgir.

Existem moedas de 5, de 10, de 20, de 30 de 50, de 100, etc.

Cada compreensão possui o seu valor dentro de nosso programa interno, mas todas são úteis, pois são usadas para o mesmo programa funcionar em perfeita harmonia, o programa do homem-mago, servo

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fiel de Deus. Tudo está contribuindo para que um único programa seja instalado dentro de nós. Este programa possui as ferramentas de que o universo necessita para nos usarmos como servos, de dentro para fora em sua construção universal.

Todo o caminho poderia ser resumido no seguinte: Siga rigorosamente o seu coração e tudo o mais acontecerá como conseqüência, mas às vezes teorias são necessárias para contribuir com aqueles que estão tentando formar o quebra cabeça de suas existências e que ainda não encontraram dentro de si mesmos a linha através da qual as eurecas são constantes e ininterruptas.

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A simplicidade da vida

Cuide de um gatinho ou cachorrinho como se fosse seu filho.

Cuide de uma plantinha como se fosse sua irmã.

Todos os dias, ao acordar, dê bom dia ao Sol.

Aprenda a tocar um instrumento musical.

Tente compreender as pessoas e faça disto uma prática diária.

Todos os dias faça um favor para alguém.

Deixe de comer algo que te faz mal.

Abandone um vício.

Visite um amigo que mora sozinho ou que está doente.

Faça algum serviço voluntário.

Observe a beleza do azul do céu.

Dê um presente para sua esposa.

Abandone antigas mágoas.

Abra o guarda roupa e doe metade de suas roupas.

Faça boas obras todos os dias pelo simples fato de fazê-las.

Agradeça a Deus por tudo aquilo que você tem. Seja grato.

Aprenda a ser dócil a amável com todos.

Aprenda a expandir o seu amor em todas as direções, pois é no ato de amar que está o crescimento espiritual do homem.

Construa ao seu redor um círculo e torne-se um Sol no meio dele expandindo amor em todas as direções. Aos poucos vá aumentando o tamanho do círculo.

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Vida

A vida é aquilo que se passa em nosso interior durante as vinte e quatro horas do dia-a-dia e nada tem haver com os acontecimentos exteriores de nossa existência, que podem ser karmas, atrações psicológicas, tentações, recorrências, dharmas ou meros eventos sem relação alguma com nós mesmos. Mas a vida continua, de forma contínua, a se processar dentro de nós mesmos, aqui e agora.

Quando ouvimos um concerto de música clássica sentimos algo em nosso interior. Aquele concerto, por ressonância, despertou algo dentro de nós. Este algo é o que interessa e não o concerto em si.

Ao lermos um livro sentimos algo em nosso interior. Este algo é o que interessa e não o livro em si.

A vida é o que está se processando dentro de nós e não fora. Precisamos aprender a viver se é que queremos ser livres e felizes. A única realidade da vida é aquilo que se processa em nosso interior. As coisas externas são somente usadas para despertar algo dentro de nós, são unicamente botões para acessar algo em nosso interior. Este algo despertado, que pode ser bom ou ruim, é a única realidade que deverá ser alimentada ou trabalhada.

Qualquer obra, seja esotérica ou de arte, possui uma única função, despertar algo em nosso interior. Este algo deve ser analisado e estudado, pois este algo constitui parte de nossa própria vida.

Confundir a vida com os acontecimentos exteriores nos faz cometer graves erros e nos leva ao desperdício de tempo e da própria vida.

Precisamos aprender a magnetizar nossos estudos e o poder do nosso pensamento para dentro de nós mesmos, para o mundo interno a fim de podermos viver verdadeiramente.

A gnose é o que se processa em nosso interior ao estudarmos uma obra de um mestre, mas não é a obra em si. O mestre sentiu uma verdade em seu interior e a escreveu e por ressonância, ao lermos o que ele escreveu, a mesma verdade deverá ressoar em nós, mas é claro que isto deverá acontecer na mesma proporção de essência livre que tenhamos conseguido liberar através do trabalho psicológico.

O que fazem as trevas é criar ilusões no mundo externo para atraírem o nosso pensamento e a nossa atenção para fora de nós mesmos e desta forma morremos para o nosso interior e passamos a viver nas trevas externas. As trevas se utilizam de todos os recursos possíveis para adormecerem a nossa consciência, para dirigirem o nosso pensamento para fora de nós mesmos e então passamos a viver como escravos do sexo, de programas de TV, de belos bumbuns, de belos pratos, de roupas da moda, do que vão dizer , do que vão pensar, etc...

O segredo de qualquer ciência, filosofia ou religião está em nosso próprio interior, está naquilo que foi despertado por ressonância dentro de nós mesmos. Quando aprendermos a estudar para dentro, então descobriremos todas as verdades e segredos do universo, do cosmo e do homem.

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Grupos esotéricos:

Cada qual necessita acordar para a sua participação ativa no universo.

Cada qual necessita conscientizar-se de que mesmo no meio da multidão, ainda assim está só e vagando no deserto da matéria.

O que temos de real e verdadeiro em nossas vidas é nosso Real Ser, nosso Deus interior, tudo o mais é pura perda de tempo.

Este Deus precisa nascer no presépio do mundo, se expandir, se desenvolver, deixar sua obra, despertar a consciência de sua alma, criar seus corpos através da magia sexual e partir novamente para o mundo do espírito, mas com a maestria, vestido com seus corpos solares e com méritos que adquiriu no mundo dos homens.

Porém, muitos querem se afiliar a grupos esotéricos com o intuito de conseguirem a maestria, mas o trabalho inicial não começa em grupos e sim, individualmente e com as coisas simples da vida.

Forre sua cama, arrume sua casa, faça sua comida, lave sua louça, varra sua casa, doe, ame, leve seu cachorrinho para passear (em outras palavras, comece com aquilo que tens), escreva suas idéias espirituais e as divulgue, desenvolva-se em alguma arte, em alguma ciência, ensine e aos poucos se imponha novas responsabilidades que contribuam para a evolução do mundo, começando com seu lar.

O quê? Lavar louça? Passear com o cachorrinho? Arrumar a cama? Varrer o chão? Dar presente para a esposa?

Sim meu caro aprendiz. O caminho da verdadeira magia começa quando nos tornamos um bom dono de casa. Esta é a primeira lição na escola da vida. Sem isto jamais daremos um único passo rumo a maestria e será inútil ingressarmos em alguma escola ou grupo esotérico.

Dependa cada vez menos de outras pessoas, mas não seja orgulhoso a ponto de não aceitar ajuda.

Se ainda não aprendeu a pagar suas contas, se trata mal sua esposa e filhos, se és desorganizado, o que poderás fazer de útil dentro de um grupo. Qual será sua contribuição para um grupo quando não contribui nem mesmo dentro de sua própria casa.

Pessoas que não aprenderam a seguir a si próprias, que não aprenderam a ser um bom dono de casa, se convertem em escravas de grupos, pois sozinhas ainda são incapazes de realizar algo de real e verdadeiro. Sentem-se fracas e sozinhas e fazem dos grupos uma muleta perigosa.

Um verdadeiro grupo é formado por seres que aprenderam a guiar a si próprios, cada um contribuindo para o grupo com suas próprias percepções e compreensões, cada um trazendo para o grupo uma força nova, cada um lutando individualmente pela melhoria do mundo, cada um cumprindo com seus deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo.

Não dependa de grupos para ser feliz, depende única e exclusivamente do Deus que há em ti. Um grupo se converte em escravidão para aquele que não aprendeu a guiar-se sozinho.

Só um grupo formado por homens individuais (não me refiro aos egoístas, mas àqueles que aprenderam a ouvir seus próprios corações e que já se tornaram bons dons de casa) é que pode dar frutos e ser verdadeiramente útil.

Um grupo é algo vivo, é algo que precisa caminhar junto com o eterno agora, com oitavas contínuas, constantes. Um grupo não é como um método, pois não pode ficar estagnado no tempo.

Um livro de teoria musical usado no século XV já não pode ser adotado nas universidades do séc. XXI(a menos que seja para pesquisa). Muita coisa nova surgiu de lá para cá, muitas mudanças, etc.

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Imaginem que ainda hoje, no séc. XXI ainda existam grupos querendo fazer valer que tudo tinha que estar como estava e que a gente não poderia ter abandonado os métodos do séc. XV, que não podemos usar computadores porque temos que escrever tudo à mão, que o sistema tonal é uma traição ao sistema modal, que os instrumentos modernos são uma falta de respeito com os instrumentos antigos, etc. Ir contra o novo é defender uma eterna estagnação no tempo e só o homem livre é que pode conceber e transmitir o novo.

Um grupo deve ser uma antena que capta e transmite o novo, contribuindo assim para a evolução do mundo. Um grupo, tal como o indivíduo, deve ser uma árvore que produza constantemente saborosos frutos para alimentar a Terra.

Em tudo isto só há uma questão a ser preservada: “Que o novo seja uma linguagem, que fale ao interior do homem e que esteja baseado nas Leis cósmicas e universais que regem o homem e o cosmos”.

O novo será sempre na forma e no método, pois a essência da vida será sempre imutável e os valores do espírito continuarão a ser sempre os mesmos.

O novo não é uma questão intelectual como muitos pensam por aí, o novo é uma concepção que o universo revela ao homem livre, de dentro para fora, para que este homem plasme e concretize a obra no mundo visível, contribuindo para o mundo em sua evolução.

Imaginem então o que seria um grupo formado por homens livres, atuantes e operantes.

Este grupo seria uma verdadeira fonte de luz para todos os membros e dele sairiam planos conscientes para se ajudar o mundo e a humanidade. Este grupo seria aceito pela Branca Irmandade.

Primeiro aprenda a ser só e depois procure grupos se esta for a sua vontade, de preferência monte o seu, reunindo-se com outros seres compreensivos, com o intuito de ajudar e pesquisar constantemente ou agrupe pessoas para tentar mostrar-lhes o caminho até que elas também possam seguir sozinhas.

Um ser individual ou um grupo que trabalhe contribuindo para a evolução do mundo se iguala aos elementais superiores da natureza que nunca cessam de trabalhar neste sentido, então, ditos elementais se tornarão amigos do homem e o ajudarão em sua obra e em sua vida, protegendo-o e comunicando-lhe a sabedoria das idades.

O que seria da humanidade se nenhuma obra existisse, nem livros, nem obras de arte, nem esculturas, nem pinturas, nem partituras, etc...? Toda obra verdadeira desperta algo no homem, uma lembrança de um mundo superior e ideal e esta lembrança, este sentimento o motiva a viver, a pesquisar, a estudar. Toda obra verdadeira é um foguete que puxa para frente, para o futuro, a carroça da humanidade. Os gênios e suas obras são engrenagens que puxam a humanidade para frente, são engrenagens na evolução do mundo.

O que seriam das universidades de música se nunca tivesse existido os mestres da música como um Mozart ou um Beethoven? O mesmo acontece no mundo das filosofias, das ciências e das religiões.

Uma vez alguém disse: Só cheguei aonde cheguei porque subi no ombro de gigantes (se referindo aos mestres do passado)

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Por favor, pratique!

Quando, dia após dia, semana após semana, ano após ano vamos praticando, por exemplo, um mantra qualquer para despertar a intuição, começamos então a sentir coisas inexplicáveis em nosso interior, estas coisas são a gnose, estas coisas são o verdadeiro conhecimento que nada tem haver com teorias e falatórios. Vamos supor também que dito mantra despertou em nós outros poderes e que, utilizando estes poderes conseguimos interpretar certos símbolos e livros sagrados e esta interpretação atinge o nível do espírito em nós, então, de nada adiantará tentar comunicar estas realidades por palavras, pois só as entenderá aquele que através da prática também foi capaz de alcançar o mesmo nível.

Só saberá o que é clarividência aquele que despertá-la.

Só saberá o que é amor aquele que senti-lo.

Só saberá o que é a telepatia aquele que for telepata.

Só sabe o que é choque aquele que enfiou o dedo na tomada.

Só sabe o que é Deus aquele que já se sentiu uno com ele.

O pardal só entende o pardal.

O beija-flor só entende o beija-flor.

E quando o telepata ouve alguém falando da telepatia, ele sabe então do que se trata.

E quando o clarividente ouve algum comentário sobre clarividência, ele sabe então do que se trata.

Só aquele que pratica pode conhecer a verdade.

Só com outros sentidos desenvolvidos, além dos normais, é que podemos penetrar fundo no interior das coisas e absorver sua sabedoria, sua essência.

Não se canse.

Não passe sequer um único dia sem fazer uma caridade.

Não passe sequer um único dia sem conversar com Deus.

Não passe sequer um único dia sem fazer um favor à alguém.

Não passe um único dia sem melhorar em algo.

Não passe sequer um único dia sem estudar nossas obras.

Não passe sequer um único dia sem meditar.

Policie-se, corrija-se, reflita como foi o seu dia, melhore e cresça sempre.

Só a prática faz surgir o homem de verdade.

Teorias são apenas setas para o progresso, são apenas direções, sentidos e para compreendermos de forma profunda e verdadeira todas estas setas que nos deixaram aqueles que foram na frente, é necessário que tenhamos outros sentidos além dos comuns, são necessárias outras capacidades, latentes, porém adormecidas no homem comum. Alguns mestres só ensinam teorias após anos de prática, pois sabem que não serão informações jogadas ao léu.

Méritos também se fazem necessários para podermos compreender certas coisas. A chave consiste em práticas diárias constantes, boas obras diárias constantes e auto-correção constante. Então, na hora certa as coisas começam a acontecer. Somos todos vigiados constantemente pelos irmãos maiores da

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humanidade, que examinam judiciosamente nossa consciência, nossa moral, etc. Estes seres trabalham sobre as ordens da Divina Mãe e de acordo com o plano cósmico.

Seja persistente e pratique sem se cansar.

Persevere com paciência e tenacidade. Dia após dia, suportando com alegria o fardo do dia a dia. Seja bondoso, ajude a todos quanto puder, selecione bem suas práticas esotéricas e esqueça que um dia elas te abrirão as portas da sabedoria, realize-as por amor, pelo divino sabor da mística, pelo bem estar que ela nos causa, pela alegria que ela nos permite experimentar.

Não seja tolo, não cobre antes do trabalho, se não tens é por que ainda não merece, ainda não estás maduro o suficiente para saber de certas coisas, as coisas possuem um tempo certo e este tempo é o nosso preparo exato, através de nosso próprio esforço. Tempo certo se refere às nossas condições internas.

Realmente o processo é lento e nada acontece da noite para o dia, é um caminho, uma jornada onde temos que aprender muitas coisas por esforço próprio. Existem pontos ocultos que precisam surgir de dentro para fora em nossa própria consciência antes de sermos aceitos pela fraternidade oculta. Não se canse, não pare de praticar, dia após dia, ano após ano. Devagar vá intensificando suas práticas, suas obras, enfim.

Jamais viva na sombra da experiência alheia, tenha suas próprias experiências. Não coloque os mestres em um patamar impossível de ser alcançado, mas pelo contrário, se um pode, todos podemos.

Não inveje aquilo que outros conseguiram através de muito esforço e sacrifício. Faça o mesmo esforço e sacrifício e também conseguirás.

Após 6 meses de prática não cobre do universo aquilo que ele só te dará depois de três anos de práticas constantes e diárias.

Cada qual possui aquilo que merece, na hora certa e de acordo com méritos, esforços e sacrifícios.

Pratique!!!

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A mentira

A verdade é um raio de luz emanada diretamente de nosso Real Ser interno, como um verdadeiro raio que cai em cima de um pára-raios.(Raio = Deus em nós / Pára-raios = Nós em baixo do raio)

Mentir é desviar-se do raio do Pai, é sair debaixo do raio da verdade para dizer tolices.

Mentimos por medo do que vão pensar.

Mentimos para sair com vantagens em uma determinada situação.

Mentimos para encobrir um erro.

Mentimos para não perdermos algo querido.

Mas o raio da verdade é severo e não admite mentiras e é por isto que dizem que mentiras têm pernas curtas.

Quanto mais mentimos, mais teremos que mentir para sustentar nossas mentiras e desta forma vamos nos distanciando cada vez mais do raio sagrado do Pai.

Aquele que sofre por falar a verdade será exaltado nos céus.

Liberte-se do social e seja livre.

O raio do Pai pede para usarmos a laringe criadora e fazer a luz brilhar através de nossas palavras.

A mentira é passar o poder da palavra para as sombras e trevas que existem em nós, desviando-nos assim do raio sagrado que quer expressar-se de dentro para fora.

Não minta amigo aprendiz se é que realmente ama a verdade.

A mentira estancará o seu progresso.

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Crescer como uma árvore

(Amarrando o interno com o externo)

Em primeiro lugar necessitamos adquirir habilidades e desenvolver talentos e de forma paralela purificar-nos constantemente e abrir-nos para o universo para logo em seguida aprender a obedecê-lo.

Imagine que no mundo espiritual somos todos vistos como uma árvore e todos os galhos são nossas faculdades espirituais que precisam crescer e se desenvolver. É como se a vida fosse a escola onde precisamos desenvolver os galhos desta árvore, mas como vamos fazer isto? –Em primeiro lugar, aceitando esta responsabilidade de estar vivo (a) e segundo, compreendendo que cada galho desta árvore é uma virtude, um dom ou um talento que precisa ser desenvolvido.

Imagine que um galho desta árvore é o nosso poder de concentração. Tenha então uma atividade semanal onde você treine e exercite a sua concentração e este galho estará crescendo.

Imagine que outro galho desta árvore é sua intuição, outro é sua sensibilidade, outro é o seu poder de reflexionar, etc...

O que importa em si não é a atividade material em si, mas o que ela te proporciona desenvolver internamente. Quando desencarnarmos, a atividade externa também morrerá para nós, mas o que conseguimos desenvolver internamente através dela irá conosco para o além e estaremos mais ou menos capacitados para os trabalhos espirituais que nos aguardam.

Lembre-se, somos uma árvore e precisamos nos organizar para crescer.

Outro ponto importante é que muito de nossa prisão e inconsciência está de certa forma relacionado com dívidas em nossa própria balança. Não digo dívidas que serão cobradas por um Deus que castiga, mas falo de contas matemáticas onde às vezes somos prejudicados pelo resultado, pois muitas vezes há mais moedinhas no lado negativo do que no positivo de nossa própria balança(boas e más obras nesta ou em outras vidas). E então, muitas vezes, através de uma atividade externa podemos tanto crescer, desenvolvendo os galhos de nossa árvore (concentração, sensibilidade, intuição, tato, reflexão, etc...) como também, através de nosso desenvolvimento, ajudar outros a crescerem, pagando assim um pouco de nossas dívidas, colocando moedinhas no lado positivo da balança, exercitando o nosso amor e desta forma abrindo caminho para nós mesmos.

Sem desespero, de forma calma e tranqüila, precisamos nos organizar para crescer, para amar e de forma natural, vamos reconhecendo as oportunidades onde poderemos também ajudar.

No livro “20 dias no mundo dos mortos” o Dr. Adoum nos relata que o que permitiu que ele vivenciasse experiências em outras dimensões e em outros mundos não foi somente os seus méritos, mais sim, estar preparado através do amor sincero que ele desenvolveu pelas artes quando era mais novo, pelas curas gratuitas que ele realizava e também descobri que no final de sua vida ele dedicava-se exclusivamente para a pintura. O mundo das cores, dos sons, das sensações, das altas matemáticas e da geometria sagrada é o mundo de Deus, que paira sobre o mundo do frio intelecto. Isto deixa claro que boas obras não são tudo, mas que também se faz necessário crescer e se desenvolver através de nosso trabalho e dedicação.

Purificação e boas obras de um lado. Estudo, prática e desenvolvimento do outro.

Precisamos rogar a Deus para que ele nos mostre o caminho através do qual poderemos crescer e desenvolver os galhos de nossa árvore. Esta é a responsabilidade de nossa vida, desenvolver nossa própria árvore interna e para isto necessitamos de atividades externas.

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Lembra-se daquelas frases de que a vida é uma escola, que somos sementes, que árvore que não dá frutos não sei que, que existem os jardineiros do universo ?

A vida externa é uma ilusão de que necessitamos para desenvolver algo interno e mais rápido poderemos nos desenvolver quando nos organizamos para isto. Mas é claro, não queira mais do que pode carregar, análise as coisas com cuidado antes de tomar atitudes, não arrume um estress a mais em sua vida, saiba o que e para que está escolhendo algo. Livre-se da ansiedade e do medo, mas tente crescer e se desenvolver em algo (se sentir que deve, é claro! Esta é minha compreensão das coisas e espero poder ajudar de alguma forma. Espero também não causar mais confusão ao invés de ajudar). Sei que a vida do lar também é um ótimo lugar para crescer e se desenvolver. Bem, quanto às escolhas só você é quem pode decidir o que te parece melhor. Podemos ainda usar a criatividade e criar nossas próprias formas para se desenvolver, enfim... O importante é crescer e não deixar a chama apagar.

A missão do Dr. Adoum, no plano espiritual, era reacender a chama no coração daqueles que não queriam mais viver ou que estavam desanimados, reanimando-os para que se interessassem por algo novamente.

Este interesse sincero por algo faz com que nos tornemos mais leves, animados e alegres e como um bom metal vamos sendo atraídos para Deus que é o grande ímã, em outras palavras, a árvore começa a crescer na direção do Sol enquanto o ânimo permanece.

Podemos crescer através de quatro colunas a saber: Filosofia, arte, mística e ciência.

Podemos usar só uma delas, duas delas, três delas ou até um pouquinho de cada uma.

O que importa não é um diploma e sim o nosso amor, nosso desenvolvimento, nosso crescimento e nossas boas ou más obras.

Por um lado, o homem será medido por seu crescimento e por seu desenvolvimento como árvore.

Por outro lado, o homem será reconhecido por suas obras. A árvore será conhecida por seus frutos.

Um bom mestre é aquele que ajuda a desenvolver os galhos das árvores de seus alunos e discípulos e não aquele que deseja reconhecimento e idolatria.

Um bom artista é aquele cuja obra aviva nos corações alheios o desejo de crescer e se expandir.

O bom estudante é aquele que trabalha no desenvolvimento de seus próprios galhos.

Faça a seguinte imaginação: imagine-se sendo o tronco e os galhos de uma árvore e que nesta árvore começam a desabrochar flores. Você é o centro e as flores são a circunferência ao seu redor. Uma flor chama-se organização, a outra chama-se paciência, a outra castidade, a outra compaixão, a outra moderação, a outra tolerância, a outra zelo, a outra intuição atendida, a outra precisão, etc. Precisamos cultivar e cuidar das flores de nossa alma.

Se você é o tronco, as virtudes são os galhos e as flores, lembrando que para cada virtude necessitamos de atividades exteriores que as exercitam.

Outro exemplo, vamos supor que o espaço de sua vida aqui na Terra é como se fosse um terreno, um sítio ou uma chacra. Este terreno é dado a você cheio de mato e sem construção alguma. Você terá então o tempo de sua vida para construir uma boa casa, para fazer plantações disto e daquilo, para cuidar de flores e animais, para produzir algo para o seu sustento, enfim, ou poderá deixar o mato tomar conta de tudo, etc. Este exemplo não deve ser visto de forma externa e sim interna.

Teremos o tempo de nossa vida para utilizarmos a nossa consciência e administramos nosso espaço interior, cuja vida externa será unicamente o espelho ou reflexo daquilo que interiormente somos e pretendemos desenvolver.

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Tempo, espaço e consciência.

Aquilo que se alimenta cresce. O homem deve recriar a si próprio e se a obra for boa servirá de comida para o Grande arquiteto Do Universo.

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Fraternidade

“Muitas vezes, presos, querendo que as coisas sejam de determinada maneira, acabamos por não perceber as coisas como verdadeiramente são e geralmente, ainda que pareça que não, as coisas como são costumam ser muito mais belas do que gostaríamos que elas fossem”.

Fluxos e refluxos na imensidão, bailando sobre a majestade do misterioso pulso do coração da vida.

Na ausência de real sentido, cantos lançados ao nada, esperando inutilmente por algo que jamais chegará, veias cujo sangue anêmico minguando deixará de fluir, triste eco de uma estranha realidade.

Arde o Sol e de forma elegante a brisa carrega aquele hálito, cuja misericórdia ainda tenta animar as brasas que lutam por não apagar.

Fraternidade, fácil palavra, belo sonho, difícil acesso a esta possível realidade.

Feliz canta o pardal e alegremente voa o beija-flor na felicidade do córrego que com seu deslizar nos mostra o incessante desabrochar da doce substância, terríveis provas, sublimes alegrias.

Na ausência de conceitos.

No pleno reconhecimento da unidade da vida.

Na certeza de que tudo quanto existe é tão só um pedaço diferente de uma única e bela coisa.

Na certeza de que cada árvore possui um fruto e que este fruto é de importância vital para a realização do todo.

Na felicidade espontânea de ver desabrochar cada flor, cada fragrância, cada perfume.

Na vontade sincera e profunda de que cada estrela brilhe cada vez mais forte e que a terra alimente cada raiz e que cada árvore alcance o Sol.

Na luta para canalizar cada rio.

No esforço constante para que cada órgão trabalhe devidamente e cumpra a sua função dentro deste grande corpo planetário.

No reconhecimento de que não existe nem eu, nem tu e nem ele e sim, um único Deus fragmentado, lutando ele mesmo (todos nós), através dele mesmo (através de cada um de nós), para que ele mesmo (cada um de nós) se realize e tendo a absoluta certeza de que ele mesmo sou eu, és tu e é cada um deles.

Quando o cintilar da estrela de cada olhar extrair da brasa de nosso coração o perfume da compaixão e a alegria do carinho e quando absolutamente a ilusão da separatividade deixar de existir e tudo isto devido a uma única e bela coisa:-“ O desabrochar do amor em nosso coração”.

Eis então que, na ausência do meu e do teu poderá então surgir o fraternal, esta luta sincera e espontânea pela realização de cada parte, de cada indivíduo, sabendo que o conjunto forma o todo...

Que maravilhoso sonho, possível, mas quase utópico, imaginar uma humanidade embriagada com puro fogo e em estado de êxtase contínuo viver e trabalhar na certeza de que cada qual é realmente uma importante peça nesta grande obra universal.

Todos somos um: - “Eis a fraternidade esperando para voar livremente nas asas do amor universal”.

Ai! Que flecha dolorosa! Como poderá o fraternal voar livremente nas asas do amor puro enquanto nos sentimos mais importantes ou melhores do que os outros? Como o milagre poderá acontecer

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enquanto acharmos que somos mais importantes que o engraxate só porque escrevemos ou somos advogados ou isto ou aquilo?

Oh! Terrível delírio de grandeza, o que fazer contigo?

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Tolerância

Na insuficiência de minha percepção e ainda como pequeno broto, tentarei com minha imaginação, alcançar a sabedoria dos frutos de uma árvore madura.

Ruge o macaco para que lata o cachorro. Late o cachorro para que mie o gato. Mia o gato para que o rato corra. Corre o rato para que o gavião faminto voe rasante e diante deste vôo se deslumbra a admiração humana.

Mas no veneno da ignorância e da rígida hipocrisia lutamos ridiculamente para que o cachorro ruja como o macaco, para que o gato lata como o cachorro, para que o rato mie como o gato e como o gavião com vôos rasantes mergulhamos no abismo.

Como exigir que um recém-nascido ande, que um aprendiz corra, que um companheiro voe ou que o amor de um mestre seja igual ao de um Cristo?

Como julgar a falta de percepção de um homem?

Se um pai briga colericamente com seu filho é porque ainda não percebeu o veneno asqueroso que sai junto com suas palavras.

Se o vizinho se embriaga é porque ainda não percebeu a semente daninha que está infiltrando-se em sua vida ou talvez, percebendo, não tenha forças para livrar-se dela.

Se o irmão deteriora-se em busca de riquezas mundanas é porque talvez nada de belo, novo ou superior tenha acontecido em sua vida.

Como condenar a ignorância?

Como julgar o escravo que não possui ferramentas ou forças para libertar-se?

Como querer que o cavalo, usando cabresto e sem virar a cabeça, enxergue o que está em sua lateral?

E o pior, como exigir que façam aquilo que nós mesmos não somos capazes de executar?

Tolerância: -“ Eis aqui uma grande chave para deslizar, como suave brisa, por estreitos caminhos. Eis aqui como evitamos machucar o próximo, como evitamos inimigos e guerras desnecessárias.”

De nada adiante se colocar no lugar dos outros conservando-nos como nós mesmos (ah! Se eu fosse ele...).

É necessário morrer para nós mesmos e nascermos de novo no meio do condicionamento alheio e então, por alguns instantes, com novo óculos, com novo prisma, olhar ao nosso redor.

É claro que da desta observação e desta compreensão deverá surgir a tolerância, da tolerância a compaixão e da compaixão o serviço desinteressado:-“ Amor em ação, neutralidade colorida, o SER fluindo como doce canção sobre o ritmo do coração tranqüilo, que ama, que arde, que incendeia outros corações com a sagrada substância.”

Observando, percebendo, compreendendo, tolerando, tendo compaixão, amando, agindo e como numa eterna primavera permitindo e contribuindo para que flores e mais flores, cores e mais cores, notas e mais notas fluam alegremente por entre mundos e mundos para que o Sol seja louvado e nós, como perfumado incenso, pouco a pouco nos desintegrando na incandescente brasa do sacrifício...

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Paciência

É tamanha a beleza do fruto que mesmo quando não alimenta ninguém, ainda assim, caindo sobre a terra, apodrecendo torna-se adubo e suas sementes convertem-se em novas árvores: - “Para quem sabe estudar serenamente a cada fracasso, não existe esforço vão e tampouco amor infrutífero.”

Todos sabem repetir muito bem aquela frase: -“ A natureza não dá saltos”, mas quem realmente a compreendeu?

A pressa é o interesse pelos frutos ao invés do amor pela obra.

A pressa é o desejo de adquirir logo ou a má vontade que aspira livrar-se rapidamente de algo que não quer compreender.

Na aspereza de querer os frutos antes da hora acabamos interferindo no crescimento harmonioso e maltratando o desenvolvimento. Na ânsia do desejo acabamos indo contra o próprio fluir da vida e desejando o que ainda não se pode ter só resta sofrer. Disse Buda que o desejo é a raiz da dor.

Sofremos quando nos consideramos invencíveis e não queremos estudar as lições do fracasso, como se nos considerássemos somente dignos de vitórias e mais vitórias.

Não existe vitória ou derrota para quem está caminhando, existe somente lições e mais lições, que vão se somando, como fertilizante para a árvore da sabedoria, que cresce e se desenvolve de acordo com o ritmo da vida e na hora certa as flores e os frutos começarão a desabrochar, naturalmente, sem pressa, como um doce canto de uma árvore silvestre.

A pressa e a impaciência nos fazem achar que o excesso de informações é melhor do que verdadeiros fragmentos de consciência, que embora pequenos em quantidade, grandes em realidade. Eis a confusão.

Na semeadura, na plantação, no cuidado, no amor e no carinho pelo crescimento é que está o segredo de frutos verdadeiramente fortes, belos e nutritivos, porém, o fruto em si mesmo não é o fim e sim um novo começo.

Os frutos podem alimentar, mas em sua maioria, servem unicamente como novas sementes que ao despencarem da árvore geram novas árvores e se as sementes eram fortes e boas, então as árvores vindouras tendem a seguir a mesma linhagem e desta forma devemos compreender a essência de nossos trabalhos, compreender que nossos trabalhos embora estejam no presente, ainda assim, serão a nossa contribuição para o futuro, mas a pressa, terrível inimiga da perfeição, está sempre pronta para arruinar a plantação, a ficar cutucando as sementes na terra, impedindo que se transformem em brotos, os brotos em árvores e assim por diante.

A pressa exige que os brotos dêem frutos e de maneira artificial e com métodos falhos sempre dá um jeitinho para que isso aconteça, mas a cegueira da impaciência não quer enxergar que esses frutos prematuros somente contribuirão para que uma nova linhagem de árvores fracas e degeneradas surjam sobre a superfície da terra.

Meus irmãos amai as sementes, amai os brotos, trabalhai carinhosamente, cuidai do crescimento, mas deixai para que os frutos falem por si mesmos, deixai-os para o futuro e quando menos esperardes já estareis comendo e se alimentando dos frutos das árvores que surgiram das sementes de seus próprios frutos e satisfeitos e plenos no oceano da liberdade podereis abraçar a fraternidade e livremente voar nas asas do amor puro universal e como uma estrela, ser uma lamparina a mais a iluminar as trevas do pensamento humano.

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Mas pobre daquele que não se sente digno do fracasso.

Pobre daquele que não quer estudar detidamente as lições da derrota.

Pobre daquele cujo veneno da impaciência corrói a si próprio e cujo nefasto desejo de saborear os frutos, como oculto inimigo, carcome secretamente as raízes da árvore da vida.

Amor, amor, amor, tão perto, tão longe, tão simples que se torna complicado.

Quando, movidos pelo amor e trabalhando com alegria, chegarmos a compreender todas estas coisas, então o carinho pelas sementes e pelo crescimento dos brotos chegará a tal intensidade que até nos esqueceremos que daquelas árvores um dia poderão surgir frutos. Este é um dos grandes mistérios da vida.

Paciência, paciência, paciência, que exótico perfume exala esta flor...

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O verdadeiro querer

A semente, por amor ao Sol, cresce e se desenvolve.

Jamais a semente pensa “vou crescer e com meus frutos serei suprema no mundo em que vivo”, mas ao contrário, movida pelo amor ela cresce, rasga o véu de si mesma, se transforma, desabrocha e enamorada do Sol exclama: “estes frutos são uma oferenda a ti”.

Este é o fogo do querer que deve queimar toda escória e fazer-nos crescer.

A arte, a ciência, a filosofia e qualquer coisa que seja, devem ser como Sol que por amor desejamos alcançar e como aspirantes ao belo, como sementes, enamorados desta arte, desta ciência, desta filosofia, deste Sol, devemos crescer em direção ao infinito.

O pássaro, por amor à vida, canta, a estrela cintila, a brisa refresca, as rosas exalam o seu perfume e o lago encantado faz ecoar na alma a poesia da eternidade.

Podemos nos enamorar de uma bela donzela.

Mas por outro lado, movidos pela luxúria insana e feridos pela flecha do desejo podemos enganar a bela donzela para tê-la em nossos braços e o que seria uma escada para o céu converter-se-ia em terrível precipício de amarguras.

Podemos nos enamorar da vida, porém, a ignorância e a cobiça podem fazer da vida um labirinto escuro e sem saída.

Podemos nos enamorar da música.

Mas o orgulho, querendo sobressair-se, esquece que a música é a linguagem sagrada através da qual o espírito pode comunicar a outro espírito fragmentos de uma verdade eterna que paira sobre nós.

Só o verdadeiro enamoramento pode fazer com que a árvore humana dê frutos comestíveis e nutritivos.

Dentro de cada alma, dentro de cada coração, existe uma jóia e sempre que esta jóia se manifesta algo belo surge, algo real e verdadeiro aparece sob a luz do Sol. Tudo o que vem desta jóia é feito de fogo puro e tudo o que é de fogo possui o poder de permanecer vivo eternamente e vale a pena ser cultivado.

Mas na ausência da manifestação desta jóia a vida se torna mecânica, aborrecedora e vazia.

A verdadeira arte, tal como a verdadeira ciência, procura fazer com que esta jóia vibre nos corações.

A verdadeira arte, ciência ou filosofia devem ser uma tremenda contribuição ao crescimento humano. Cada obra deve ser como uma pequena estrela que ilumina um pedacinho das trevas do mundo.

Aqueles que se dizem artistas ou cientistas e fazem da arte ou da ciência apenas um objeto comercial infelizmente ainda não entenderam o objetivo da vida.

Arte, ciência e vida são responsabilidades terríveis, pois a arte influencia multidões, a verdadeira ciência conduz à libertação e não há uma pequenina vida que não seja responsável por um círculo que a rodeia.

A arte é educação para a alma e deve, portanto, revelar verdades, deve ser o cálice que contém o ouro, ou seja, deve ser a forma que reveste a mais pura essência da vida para que outras almas possam aprender, possam beber nesta fonte sublime o vinho do crescimento.

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Aquele que se enamora da ciência se funde com a divina matemática da criação e chegará a compreender aquela frase de Platão que diz: “Deus geometriza”.

Aquele que se enamora da vida dá até a última gota de sangue pela elevação da mesma vida.

Aquele que se enamora verdadeiramente de alguém se esquece de si mesmo para fazer este alguém feliz.

E da mesma forma que a árvore oferta os seus frutos ao Sol, a obra do aspirante ao infinito é para o amanhã e nunca para vangloriar-se a si próprio, a obra do aspirante é a sua contribuição para o crescimento da humanidade, para a elevação da vida.

Tal como a rena arrasta o trenó, o artista ou o cientista verdadeiro carregam sobre os ombros o peso do mundo.

Semelhante a grandes asas a arte e a ciência sagrada levam seus adeptos ao encontro de seu destino superior.

A arte e a divina ciência podem ser entendidas como uma religião, onde não cabem conceitos, mas sim, vivências e mais vivências que nos ensinam e amadurecem.

Para chegar à fonte, ao topo, é necessário subir ao cume de uma grande pirâmide e só o querer puro e sincero é capaz de realizar esta escalada. Isto requer muita persistência num mesmo sentido, semelhante ao rio que nunca cessa de correr em direção ao mar.

Todas as coisas são altas pirâmides e cabe a nos subi-las.

O amor é a única chave que abre qualquer porta e converte o homem em algo digno de ser chamado de Homem.

Longe desta vibração, longe desta sagrada substância chamada amor, todas as portas permanecem fechadas e a existência se converte em fracasso.

Oh homem! Lutai pelo amor de vosso coração. Hoje ele pode ser uma pequena semente, mas amanhã poderá se converter em uma grande árvore repleta de flores e frutos.

Muitas secas e tempestades deverão ser suportadas, mas ao final, a força adquirida será imensa e a felicidade inexplicável.

Sim, existe um mundo além daquilo que os nossos olhos enxergam, a vida é formada por processos, leis e mistérios que nos regem a todo instante, independente de acreditarmos nisto ou não.

A sagrada arte e a divina ciência são o estudo e a manifestação deste invisível.

“Sopra o vento e ruge alto a tempestade e no auge da ventania voam telhados, árvores se destroçam, nuvens se chocam e se dissipam para que, posteriormente paire a suave brisa.

O vento varre o fraco, o sujo e o inútil e pleno de sua majestade, jamais será atingido.

No dia da ventania só restará aquilo que deve permanecer e perante o vento não há máscara que prevaleça.

Se prepara guerreiro para que, quando o vento chegar as suas asas possam suportar as alturas, as tuas penas aquentarem firmes e seus ouvidos suportarem o rugido majestoso, mas dolorido. E quando este dia chegar haverá de se encarar a solidão e perder-se nas trevas da noite como águia altaneira e solitária.

Esta é a cação do pássaro.

Bendita sejam as tempestades que prevalecem para testarem a força das árvores.

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Bendita sejam as árvores que podem suportá-las.”

Só o verdadeiro querer pode suportar o vento forte.

O verdadeiro querer é aquela motivação espontânea que surge da alma, do íntimo, é uma sede de saber e de crescer que nada pede em troca, somente quer sentir-se alimentado e nada mais.

O querer verdadeiro é a base, o meio e o infinito do processo.

Cessando o querer, a árvore morre.

Já a cobiça, sendo o oposto do verdadeiro querer, tudo faz pensando nos frutos, pouco se preocupando com verdadeira arte ou verdadeira ciência ou vida real.

A cobiça é a prisão pelos resultados, é o desejo pelos frutos ao invés do amor pela obra, é ir contra o fluir da vida.

O amor é como água pura, cristalina, e aquele que permite esta manifestação em seu interior está sempre sendo purificado e a cada dia sendo renovado e transformado, até que nenhuma mancha mais exista.

Este é o Homem-Deus, por fora um pequeno indivíduo, simples, humilde, servidor, mas dentro um grande oceano abarcando a profundidade da criação.

Amor, eis a porta, eis a chave, eis a vida, eis o mistério.

Oh homem! Levanta-te! Ame!

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A lei das oitavas , a lei da entropia e o fogo do querer.

Quando começamos a realizar qualquer trabalho, seja ele interno ou externo, dito trabalho começa a vibrar a nota dó, logo em seguida ré, depois mi, porém, do mi para o fá sentimos um desânimo, um cansaço, uma vontade de parar e é exatamente nesta pausa onde devemos relembrar a importância de nosso trabalho, revê-lo, analisar o que falta e o que sobra e darmos um novo ânimo em nós mesmos. Segue então o nosso trabalho vibrando fá, sol, lá, si. Mas do si para o dó surge uma nova crise, uma nova pausa e novamente o desfalecimento do ânimo. É então um novo momento para revalorizarmos nosso trabalho, rememorar a sua importância, o “porquê” e o “para quê” o estamos realizando, rever o que sobra, acrescentar o que falta e conscientemente provocarmos em nós mesmos um novo ânimo, sempre levando em conta a vertical e a horizontal da vida formando cruz, sempre levando em conta o momento presente. Desta forma, dó, ré, mi-fá, sol, lá, si-dó, ré, mi-fá, sol, lá, si-dó ..., de oitava em oitava devemos transformar cada um de nossos trabalhos em uma escada que nos conduza a Deus, uma escada para a perfeição, mas só um querer verdadeiro, só um poderoso fogo da vontade, só o verdadeiro amor é que pode vencer cada crise, cada pausa e gerar novos ânimos sem nunca desistir, eis o fogo do querer.

A lei da entropia é uma lei igualativa, uma lei que iguala por baixo, é um ímã que nos puxa para a desordem, para a ignorância, para a inércia, para o desânimo e toda vez que sucumbimos diante de uma crise que existe entre o mi-fá ou si-dó, fracassamos então em nosso intento e somos agarrados pela lei da entropia até que surja um novo ânimo para recomeçarmos algo, algum trabalho que sirva de escada para nos conduzir até a divindade ou para ajudarmos o nosso próximo ou simplesmente retomarmos o trabalho abandonado e reconquistarmos alguns tijolos perdidos. Quanto mais demoramos a sair da entropia, mais vamos perdendo aquilo que havíamos realizado e pouco a pouco vamos nos entregando ao comum e corrente, ao corriqueiro que a nada conduz. Vencer consiste na capacidade de manter as oitavas sempre ascendentes em nossos trabalhos internos e externos, em cada uma das veias de desenvolvimento, gerando em cada crise um novo ânimo a si mesmo. Quando somos tragados por uma crise e pela entropia, entramos em uma noite espiritual e quando há um novo ânimo, entramos então em um novo amanhecer. Ajudar o próximo consiste na capacidade de manter aceso no coração alheio o fogo do querer, o ânimo, o amanhecer espiritual.

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A humildade

“A sabedoria do Pai-Sol é tanta, que Ele se manifesta através de alguém, faz com que ninguém o compreenda e quando esta pessoa que serviu de canal, de instrumento, desaparece ou morre, Ele faz então com que muitos entendam a mensagem, tudo isto para que a mensagem não seja confundida com o mensageiro, que foi somente uma janela por onde os raios do Sol se fizeram visíveis e então, tirando a janela da frente só sobram os raios de luz e de calor do grande astro, para que iluminem as trevas da noite.

O livro da vida está aberto para quem quiser estudá-lo e o terreno da vida prática também está aí esperando para ser semeado...”

Deus é a suprema canção e cada nota desta canção é tocada por cordas que se encontram espalhadas por toda a natureza, desde o bêbado em sua loucura até o pássaro com seu canto. Por onde Deus vê uma brecha, Ele por ali brilha e muitas vezes, a resposta de que necessitamos nós pode estar no sorriso da criança inocente, no murmúrio do sofredor, na nostalgia do boêmio, na suavidade da brisa que massageia os nossos ouvidos, ou quem sabe, escondida com o padeiro da esquina ou no coração daquele que mora debaixo daquela ponte ou ainda, esperando para se manifestar através daquele outro que está deitado no banco daquela praça esperando por nosso amor, pois para o amor, as respostas chegam de todos os lados, através dos mais distintos meios e seres.

Em determinados momentos da vida, não suportamos tocar a nota de nossa própria canção, que carrega em si mesma todas as respostas de que necessitamos nós, mas muitas vezes esta nota ressoa em qualquer lugar, através de qualquer um e se nossa humildade permitir, esta nota fará vibrar a mesma nota em nosso interior, por lei de ressonância e as respostas se farão palpáveis. A canção está em toda parte para quem está apto a ouvi-la.

Deus é tão magnífico que ele mesmo é a provação e a sabedoria ao mesmo tempo. É o bêbado ensinando o sóbrio, é o novo ensinando o velho, é o filho ensinando o pai, é a ignorância ensinando a sabedoria, é o analfabeto ensinando o letrado, e desta forma, aquele que tem o orgulho vivo e a rígida formatação dos conceitos e pré-conceitos em atividade, deixa de aprender, pois Deus se camufla na superfície e brilha na profundidade, a sabedoria protege-se a si mesma e aquele que não é livre, logo se estanca diante da máscara da aparência.

Estar atento, saber escutar, eis o segredo, pois o Sol se esconde dentro de tudo e de todos e se manifesta em quem ele quiser e na hora em que ele bem entender e sentir necessário. Há que se estar sempre alerta e vigilante para se ouvir a canção suprema.

Ouvi uma vez uma história onde uma mulher , diante de um verdadeiro líder espiritual que possuía as respostas de que ela necessitava, deixou de prestar atenção no que o líder dizia quando o viu comendo carne, pois acreditava esta mulher que um líder espiritual não devesse comer carne e foi assim que, “graças aos seus pré-conceitos” ela passou por Deus sem perceber.

Muitos acreditam que um jovem não pode ser um mestre, outros acreditam que um mestre jamais colocaria uma gota de álcool na boca, outros acham que um líder tem que ser assim ou assado e ignoram que um mestre, um líder, é o que é, e que Deus é quem escolhe o disfarce natural que ele bem entender, através do qual Ele irá se manifestar

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O caminho jamais irá se ajustar aos nossos moldes, aos nossos conceitos e pré-conceitos e será sempre o que é, foi e será sempre, camuflado com as mais distintas roupagens, ainda que seja sempre o mesmo.

Pobre daquele que usa a sua seita ou religião como cabresto, pois muitas vezes, o complemento para o quebra-cabeça de nosso entendimento está no coração do irmão que não aceita a nossa religião, está na alma daquele amigo que age contrário aos nossos princípios, está escondido por trás do latido do cachorro da vizinha e acima de tudo, gritando em nosso coração; “- Me escuta, me dê atenção!”

A sabedoria é a própria vida, com nossos erros e acertos e o mais engraçado é ver nas entrelinhas dos livros de muitos mestres uma mensagem como que dizendo: “ Vão viver ao invés de ficarem tentando entender com a mente aquilo que nós extraímos de nossa própria vida, através do sangue de nosso coração, de nosso próprio esforço, de nossos triunfos e de centenas de tentativas frustradas!” ou esta outra, “ Quando vão experimentar por vós mesmos tudo isto que estão lendo?

Aquele que tem medo de errar e que não se sente digno do fracasso é quem mais acaba errando. O medo é um fantasma terrível enquanto que a sabedoria que surge da dor e do fracasso é uma bela princesa, um flor majestosa e esplendidamente perfumada, mas é inevitável que o seu desabrochar doa bastante e que seus espinhos espetem a carne. É necessário aprender a se aliar com a dor a fazer dela uma grande mestra e amiga e com o passar do tempo ela terá se transformado na mais doce das alegrias e na mais sublime loucura que um homem, lembrando que é Deus, possa experimentar: -“ A sabedoria, tão perseguida pelos filósofos”. Um grande mago já dizia: - “ A felicidade é um direito de todos, mas a sabedoria é um dom para poucos. E eu gostaria de acrescentar : -Mas está sempre ali para quem conseguir alcançá-la, como o céu está acima da terra.

Sim, é óbvio que os livros nos servem de direção, de mapa, mas até quando ficaremos admirando as setas sem percorrê-las?

É claro que na ausência de luz própria, necessitamos, como planetas, ser atraídos pela força magnética e orbitar ao redor de alguma estrela, mas que esta órbita seja para nos transformar em estrelas também e não em luas parasitas.

O livro da vida está aberto para quem quiser estudá-lo e o terreno da vida prática também está aí esperando para ser semeado...

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O Caminho

Certa vez ouvi de um amigo o seguinte: -“ Ou se paga o preço ou se segue o fluxo”.

Errar se esforçando para aprender possui o seu valor, pois esta experiência se converte em sabedoria, porém, os erros que surgem da comodidade na ignorância não poderão ser justificados com aquela frase: “é que eu não sabia”.

Portanto homem “mexa-se!”

Nada queira nesta vida a não ser aquilo que quer vosso coração, pois é neste querer que está o vosso caminho, vosso real destino, vossa missão, enfim, queira somente ser um servo fiel deste impulso sagrado.

Aquele que pouco a pouco se permite ser guiado pela intuição, vai então, devagarzinho, compreendendo muitas coisas e comprovando através da própria experiência que aquela musiquinha do coração sempre esteve certa. As coisas começam a acontecer, vão de grão em grão dando certo, mas até que isto comece a acontecer e a se tornar evidente é necessário ter muita coragem e não ligar para o que pensem ou digam ao nosso respeito, pois muitas vezes pareceremos loucos, às vezes infantis, outras vezes irresponsáveis, de vez em quando incoerentes e até desmiolados e ninguém haverá, visivelmente, para nos apoiar. Mas assim é o início do caminho.

Na medida em que vamos superando esta fase e na medida em que vamos ganhando em fé e força vendo as coisas acontecerem, vivenciando na própria carne um mundo novo e a louca, mas precisa matemática da intuição, se mostrando diante de nossos olhos, então as dúvidas começam a cessar, vão desaparecendo e o caminho irá se tornando cada vez mais claro, como se a cortina fosse sendo tirada de nossos olhos e então aquelas frases se tornarão nossa realidade: - “O caminho revela-se a cada um na própria caminhada” ou aquela outra; - “Caminhando organiza”.

Continuando nossa marcha, descobriremos que a intuição sempre foi o próprio caminho e que o caminho sempre foi nosso próprio ser interior, extensão do uno absoluto.

A intuição começa como uma voz muito baixinha. É necessário aprender a exercitá-la nas pequenas e nas grandes coisas também. É um constante treino, que pouco a pouco e na medida em que vamos persistindo, vai se aperfeiçoando e se tornando realidade e então aquela voz baixinha se converte em voz mais alta, vai aumentando e se transforma em música, uma música suave que soa sobre o ritmo de nosso coração. Esta música vai se tornando complexa, como se mais instrumentos fossem sendo agregados na orquestra (o despertar de outras faculdades internas do homem), de repente estaremos ouvindo uma grande sinfonia em nosso interior e esta sinfonia começa a se transformar em imagens, em visões, em clarões, em ordens claras e precisas daquilo que devemos realizar e se sabemos persistir, perseverar e resistir a muitas e duras provas e ataques de toda espécie, então tudo isto nos conduzirá aos pés de nosso mestre interno e começaremos a receber ensinamentos secretos, através da linguagem do coração, de lábios a ouvidos. Chegando neste estágio, então outros seres começam e entrar em contato conosco através da telepatia, intuição e outros recursos mais, de acordo com a missão individual de cada um e de acordo com aquilo que cada qual pode suportar, começamos então a entrar nas primeiras escadas do verdadeiro esoterismo, que não tem fim e caminha sempre rumo ao infinito.

A ciência de escutar a silenciosa música da alma exige tempo para se aperfeiçoar, treino constante e muita experiência que surgirá dos erros e imperfeições, mas não podemos desistir e tampouco temer. É necessário treinar e treinar, errar e sofrer, acertar e sorrir, até que as coisas vão se tornando cada

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vez mais nítidas e claras, até que as asas de nossas almas possam se abrir, até chegarmos a ponto de sermos guiados única e exclusivamente, com perfeição, pela majestosa sinfonia, pelo verbo sagrado.

É necessário aprender a olhar para todas as coisas do mundo como que esperando de tudo um algo novo e ao mesmo tempo esperando uma resposta do coração. É um olhar para fora e um escutar para dentro. É uma eterna interrogação aguardando uma resposta da consciência, porém sem nada perguntar. É estar sempre atento, sempre alerta, observando e ouvindo, tanto na dor como na alegria, pouco a pouco acordando deixando de sonhar.

Este estado de sempre atento, tanto para fora como para dentro é um eterno grito de socorro clamando pelo despertar e só aquele que nunca desiste é que pode acordar.

Um belo dia o encantado baterá em nossa porta e o mistério se fará presente em nossa vida e olhando para frente avistaremos uma grande montanha, olhando para baixo perceberemos que os nossos pés estão pisando a terra da estrada do caminho, para o alto só veremos estrelas, olharemos ao redor e não avistaremos absolutamente ninguém, um hálito gelado subirá dos pés a cabeça, um intenso amor nunca sentido antes e uma promessa de eternidade pairando no ar e então, como um trovão que vem de todas as partes uma majestosa voz dirá o seguinte: - “Sozinho deves marchar por este caminho, não temas jamais, pois foi tendo a solidão como amiga e o hálito da morte como companheiro que todos os que vieram antes de ti completaram esta jornada. Não olhes para trás e tampouco se detenha diante dos processos que sofrerás. Aos poucos irá se transfigurando e lá fora muitos não te reconhecerão mais, embora outros nada de novo perceberão. Tentarão te estancar e deter os teus passos a todo custo. Siga sempre em frente e a ninguém ouças, porém analisa tudo. Marcha serenamente, mas com passo sempre firme e decidido. De agora em diante os erros se tornarão mais perigosos. Muita coisa verá e ouvirá neste caminho, mas não se detenha e não se desespere jamais. Cada vez mais se aprimore em ouvir a canção.

Embora sempre vigiado de longe, estarás sempre só. Quanto ao resto, descobrirá por si mesmo e em determinados trechos algum guia terá”.

A voz então cessa e novamente nos sentimos totalmente sozinhos, dá medo, pois o desconhecido sempre assusta, mas não nos resta outro remédio senão criar coragem e seguir em frente.

Todo conhecimento e toda técnica bem utilizada pode muito ajudar, mas somente o coração é quem pode conduzir o homem até este ponto e deste para frente. Os livros podem ajudar, podem nos alertar de certos perigos, nos dar setas e preciosas indicações, podem também servir de confirmações para não acharmos que estamos ficando doidos ou coisas parecidas, pois se não temos uma confirmação daquilo que vamos vivendo torna-se muito fácil se extraviar ou ser extraviado. O ser e o saber caminhando juntos em pleno equilíbrio.

Certa vez, sobre a intuição um amigo me disse que era bom ter um olho na terra de cegos.

E sobre a intuição (Ser) e o saber equilibrados este mesmo amigo disse que ter dois olhos era muito melhor.

Mas o saber não é a acumulação de informações intelectuais, o saber é a intuição estudando os livros, os evangelhos, a natureza, a vida, a si próprio e tudo o que nos rodeia. Necessitamos estudar as coisas com os olhos da alma. É como ter um olho no centro do peito e estudar com este olho que é o olho do mago.

Há que se ter coragem e aprender a deixar de temer a todas as coisas. Não podemos nos amedrontar com nada, a muitos temos que ajudar e rumo ao infinito sempre marchar, sempre confiar sem para trás olhar.

Avante irmãos, Ser ou não ser, eis a questão.

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A intuição deve guiar nossos processos sexuais, deve guiar nossos estudos, nossos trabalhos, nossa forma de ensinar, nossas reflexões, nossas conversas, nossos silêncios, nossos gestos, nossas refeições, nossos talentos, etc...

Um polvo com vários braços, eis a intuição guiando toda nossa vida, eis o centro real se expandindo em todas as direções, em forma circular e transformando todas as coisas em frutos para a humanidade se alimentar e crescer, eis a árvore dando flores e frutos.

Para dentro: - “O caminho”.

Para fora: - “O Sacrifício pela humanidade (nossa contribuição para o crescimento do todo)”.

Embora um sempre dependa do outro.

Mas vos alerto querido leitor, não vá achando que as coisas acontecem do dia para noite, são anos a fio se esforçando para seguir o coração, sofrendo amargamente por fracassar infinitas vezes, recomeçando milhares de vezes, crendo-se invencível e tombando novamente, ajoelhando e se curvando diante de tanta dor e quando vossas lágrimas forem verdadeiramente o extrato do grito de vossa alma e nunca desistindo de tentar novamente, então um belo dia se verá diante do caminho e descobrirá que ele sempre esteve ali, que ele sempre foi a voz de seu coração, que ele sempre foi Deus em ti e que esse mesmo Deus em ti sempre foi você mesmo e que você mesmo sempre esteve em todas as partes e em todos os lugares, dentro de tudo e de todos, descobrirá que o universo sempre foi você mesmo e neste estado de normalidade simplesmente se lembrará de sua verdadeira natureza, que você sempre foi, é e será sempre: - “AMOR”.

Não desista jamais, pois o querer do coração é o querer de Deus, é o caminho e a vida fluindo harmoniosamente, de dentro para fora, através de cada um.

Continue amigo (a) e quem sabe um dia poderemos nos encontrar, olhar nos olhos um do outro e verdadeiramente reconhecer que não existe nem eu e nem tu e somente um mesmo deus em mim e em ti olhando para si próprio, um mesmo Deus com distintas faces.

Avante irmãos, pois tudo o que necessitais está agora mesmo, neste instante, dentro de ti mesmo, tenha coragem, confie em Deus, ame profundamente sua Divina Mãe, não ligue para o que vão dizer ou pensar ao vosso respeito, estude a si próprio e de uma vez por todas comece a realizar aquelas coisas que só você e vosso coração conhecem, mas, por favor, não use estas palavras para justificar os teus desejos e paixões e depois dizer que ouviu o coração e que deu tudo errado, porém, se realmente seguindo o coração der tudo errado, não te assustes, porque um dia descobrirás que este errado deu certo.

Concluirei este obra com as palavras de um sábio-anjo-maçom-amigo: “Perante a sagrada substância ninguém é ninguém (pois todos somos um).

Alguma teoria pode ensinar o pássaro a cantar?

Alguém pode ensinar um pássaro a voar?”

A vida espera ansiosa o vôo e o canto de cada pássaro...

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