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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Ciências Contábeis Olívio Júnior Anselmo de Souza Rafael Gustavo Camargo A APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEB – Secretaria Municipal da Educação Lins, SP – Estudo de Caso LINS – SP 2008

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UNISALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Ciências Contábeis

Olívio Júnior Anselmo de Souza Rafael Gustavo Camargo

A APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEB – Secretaria Municipal da Educação

Lins, SP – Estudo de Caso

LINS – SP 2008

OLÍVIO JÚNIOR ANSELMO DE SOUZA

RAFAEL GUSTAVO CAMARGO

A APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEB – Secretaria Municipal da Educação

Lins, SP – Estudo de Caso

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, sob a orientação das Professoras M.Sc. Noeli Bordim Graminha e M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva

LINS – SP 2008

Souza , Olívio Júnior Anselmo de; Camargo, Rafael Gustavo

A Aplicação dos recursos do FUNDEB – Secretaria Municipal da Educação – Lins, SP – Estudo de Caso / / Olívio Júnior Anselmo de Souza; Rafael Gustavo Camargo. - - Lins, 2008.

97p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins-SP, para graduação em Ciências Contábeis, 2008.

Orientadores: Heloisa Helena Rovery da Silva; Noeli Bordin Graminha

1. FUNDEB. 2. Contabilidade Pública. 3. Prestação. I Título.

CDU 657

S716a

OLÍVIO JÚNIOR ANSELMO DE SOUZA

RAFAEL GUSTAVO CAMARGO

A APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEB – Secretaria Municipal da Educação

Lins, SP – Estudo de Caso

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

Aprovada em:____/____/____

Banca Examinadora:

Professora Orientadora: M.Sc. Noeli Bordim Graminha – Mestre em

Contabilidade Avançada pela Universidade de Marília – UNIMAR/SP

Assinatura:______________________________

1º Prof.(a):_______________________________________________________

Titulação:_______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura:______________________________

2º Prof.(a):_______________________________________________________

Titulação:_______________________________________________________

_______________________________________________________________

Assinatura:_____________________________

Dedico esse trabalho a minha familia: Cilmara, Caio e Isabela, pelo esforço, dedicação

e compreensão; pois são as pessoas que mais amo.

Olívio

Ao Rafael: Meu amigo verdadeiro,

parceiro durante todo o curso. Olívio

Ao meus amigos: Marco, Sabrina e Bel,

que nas horas mais difíceis náo me deixaram abandonar.

Olívio

A minha família Dedico este trabalho a vocês por terem a cada dia alimentado os nossos sonhos, dando-me entusiasmo para alcançar os meus objetivos. A vocês que jamais mediaram esforços para me apoiar, não só na realização deste trabalho, mas em todas as etapas de minha vida. RAFAEL Dedico este trabalho a minha noiva Viviane pela compreensão, apoio, comprometimento e confiança em toda essa trajetória. O amor e a paciência recebidos foram determinantes para o alcance dos objetivos alcançados. RAFAEL Ao Olívio:Meu amigo e companheiro nesse período de muito esforço e dedicação durante nosso curso. RAFAEL A Deus que me concedeu a vida, saúde e capacidade para concretizar mais essa etapa, dando-me força, coragem e determinação na busca de mais um ideal. Eu louvo a Deus por mais essa trajetória alcançada e por saber que Ele está comigo em todos os momentos e fará infinitamente mais por mim nessa nova etapa alcançada em minha vida, pois é Ele quem segura mais minhas mãos e diz: “Náo temas que eu te ajudo”. RAFAEL

Agradeço aos meus professores e colegas de classe, pois, não faz mal que amanhece devagar, as flores não tem pressa nem os frutos. sabem que a vagareza dos minutos adoça mais o outono por chegar e também não faz mal que o dia vença noite em seus redutos de leste. o que importa é ter enxuto os olhos e a intenção de madrugar.

OLÍVIO

Os acontecimentos que atraímos para nós, por mais desagradáveis que sejam, são necessários para ensinar o que necessitamos aprender. Quando iniciamos a vida, cada um de nós recebe um bloco de mármore e as ferramentas necessárias para converter esse bloco em escultura. Podemos arrastá-lo intacto a vida toda: Podemos reduzi-lo a cascalho, ou podemos dar-lhe uma forma gloriosa...

Richard Bach

Assim, agradeço a todos os professores e companheiros de curso.

Rafael

A estimada Profª. Noeli.... Agradecemos pela paciência, carinho,

estímulo, apoio, compreensão, dedicação e profissionalismo durante

todo o curso e a orientação deste trabalho.

Olívio e Rafael

A Prefeitura Municipal de Lins e a Secretaria Municipal de Educação

nossos sinceros agradecimentos pelo apoio, compreensão, e

profissionalismo durante a execução de todo este trabalho.

Olívio e Rafael

RESUMO

Este trabalho analisa a evolução histórica do financiamento da Educação Pública Brasileira, a legislação atual, bem como documentos elaborados pelo Governo Federal e Municipal sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, a aplicação desses recursos e da prestação de contas pelo poder público municipal de Lins. Faz também uma leitura sobre a contabilidade pública e suas bases legais, para amparar a análise da prestação de contas dos recursos do FUNDEB. Apesar dos avanços obtidos pela Educação Pública no Brasil, e nas políticas de financiamento que nela ocorrem, neste contexto, especialmente a Lei nº. 11.494/2007 o aspecto apresentado pela análise dos dados deste trabalho revelou que a execução da mesma necessita ser melhorada e ampliada. Os dados coletados são significativos e exigem uma reflexão séria em sua análise. Ao analisar a participação e as atividades do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB, constatam-se as dificuldades enfrentadas pelos membros que o compõe: analisar dados contábeis sem formação adequada. Portanto, após a realização da pesquisa o presente trabalho conclui que ocorre a utilização dos recursos conforme os preceitos legais e que a prestação de contas apresenta dificuldades de compreensão que se originam, na maioria dos casos, de formulações não uniformes na própria legislação e nos muitos equívocos contidos nos documentos oficiais que pretendem oferecer explicação e orientação. Assim, o trabalho indica a necessidade de um profissional da área de ciências contábeis para atuar em todo o processo de aplicação dos recursos do FUNDEB até a finalização da prestação de contas, com vistas a tornar o processo mais ágil, eficiente e transparente. Palavras-chave: FUNDEB. Contabilidade Pública. Prestação de Contas.

ABSTRACT

This work analyzes the historical evolution of the financing of the Brazilian Public Education, the current legislation, as well as documents elaborated for the Federal and Municipal Government on Maintenance’s Deep of and the of Basic Education’s Development and of Teaching’s Valuation of the, the application of these features and the rendering of accounts for the municipal public power of Lins. It also makes a reading on the public accounting and its legal bases, to support the analysis of the rendering of accounts of the features of the FUNDEB. Despite the advances gotten for the Public Education in Brazil, and the politics of financing that in occur, in this context, especially the Law nº. 11.494/2007 the aspect presented for the analysis of the data of this work disclosed that the execution of the same one needs to be improved and to be extended. The collected data are significant and demand a serious reflection in it’s analysis. To analyze the participation and the activities of the Advice of Accompaniment and Social Control of the FUNDEB, evidence the difficulties faced by the members that compose it: to analyze countable data without adequate formation. Therefore, after the accomplishment of the research the present work concludes that the use of the features occurs in agreement the legal rules and that the rendering of accounts presents difficulties of understanding that if they originate, in the majority of the cases, of formularizations not uniforms in the proper legislation and the many mistakes contained in the official documents that they intend to offer to explanation and prompt. Thus, the work indicates the necessity of a professional of the area of countable sciences to act all in the process of application of the features of the FUNDEB until the finishing of the rendering of accounts, with sights to become the process most agile, efficient and transparent.

Keywords: FUNDEB. Public accounting. Rendering of accounts.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Mapa territorial do município de Lins/SP .................................... 28

Figura 2: Av. Floriano Peixoto – entrada do município de Lins/SP ............ 29

Figura 3: Bandeira do município de Lins/SP.............................................. 29

Figura 4: Brasão do município de Lins/SP................................................. 29

Figura 5: Percentual dos representantes no Conselho do FUNDEB

por segmento............................................................................................. 37

Figura 6: Distribuição das funções do Estado pelos respectivos poderes . 43

Figura 7: Integração das áreas de gestão e administração financeira....... 51

Figura 8: Classificação dos fatos contábeis públicos................................. 51

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Recursos de base de cálculo do FUNDEB ............................... 24

Quadro 2: Quadro de funcionários da Secretaria Municipal de Educação

de Lins/SP ................................................................................................. 31

Quadro 3: Distribuição das escolas, número de professores e alunos

por modalidade .......................................................................................... 32

Quadro 4: Principais características da contabilidade pública ................... 45

Quadro 5: Demonstrativo de despesa do FUNDEB – percentual de 60%. 68

Quadro 6: Demonstrativo de despesa do FUNDEB – percentual de 40%. 68

Quadro 7: Unidade executora 02.02.02 ..................................................... 72

Quadro 8: Unidade executora 02.02.03 ..................................................... 72

Quadro 9: Unidade executora 02.02.04 ..................................................... 73

LISTA DE SIGLAS

CEJA – Centro de Educação de Jovens e Adultos

CF – Constituição Federal

CFC – Conselho Federal de Contabilidade

CME – Conselho Municipal de Educação

CT – Conselho de Tutelar

FPE – Fundo de Participação dos Estados

FPM – Fundo de Participação dos Municípios

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e

de Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental

e de Valorização do Magistério

GASB - Governmental Accounting Standards Boards

ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados

IPVA – Imposto Sobre Propriedade de Veículo Automotor

ITCM – Imposto de Transmissão "Causa Mortis"

ITR – Imposto Territorial Rural

LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias

LOA – Lei Orçamentária Anual

LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal

MEC – Ministério da Educação e Cultura

OGU – Orçamento Geral da União

PFC – Princípios Fundamentais da Contabilidade

PML – Prefeitura Municipal de Lins

PPA – Plano Plurianual

SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

SME – Secretaria Municipal da Educação

SOF – Secretaria de Orçamento Federal

TCESP – Tribunal de Contas do Estado de São Paulo

TCM – Tribunal de Contas do Município

TCU – Tribunal de Contas da União

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 14

CAPÍTULO I – O FUNDO DE MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENT O

DA EDUCAÇÃO BÁSICA E DE VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONA IS

DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE LINS................... ....................................... 17

1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DA LEI DO FUND EB ... 17

1.1 Financiamento da Educação Pública no Brasil .......................................... 17

1.2 Lei de criação do FUNDEB ....................................................................... 22

1.2.1 Exigências legais e obrigatoriedade na aplicação dos recursos do

FUNDEB ............................................................................................................... 25

1.2.2 Exigências legais na prestação de contas dos recursos do FUNDEB ...... 26

1.3 Breve Histórico do Município de Lins (SP) ................................................ 28

1.4 Secretaria Municipal de Educação de Lins (SP) ....................................... 30

1.5 Conselho de acompanhamento e controle social do FUNDEB .................. 32

1.5.1 Lei de criação do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB de Lins (SP) ......................................................................................... 36

1.5.2 Composição do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB de Lins (SP) ......................................................................................... 37

1.5.3 Atividades do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB de Lins (SP) ......................................................................................... 39

CAPÍTULO II – A CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL NA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.............................. ................................................. 41

2 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.......................... ............................................ 41

2.1 Princípios da administração pública........................................................... 42

2.2 Contabilidade pública................................................................................. 43

2.2.1 Funções e princípios contábeis aplicados na contabilidade pública .......... 44

2.2.2 Escrituração contábil.................................................................................. 50

2.2.3 Regimes contábeis .................................................................................... 52

2.3 Orçamento.................................................................................................. 53

2.3.1 Princípios orçamentários............................................................................ 56

2.4 Receita pública........................................................................................... 59

2.5 Despesa pública......................................................................................... 60

2.5.1 Tipos de empenho...................................................................................... 61

2.6 Demonstrações contábeis .......................................................................... 64

2.7 Prestação de contas públicas..................................................................... 64

CAPÍTULO III – A APLICAÇÃO DOS RECURSOS E A PRESTAÇ ÃO DE

CONTAS DO FUNDEB NO MUNICÍPIO DE LINS .............. ................................. 67

3 A APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEB/2008 .......... ................... 67

3.1 A aplicação dos recursos do FUNDEB no município de Lins (SP)............. 67

3.2 A prestação de contas dos recursos do FUNDEB de Lins (SP) pelo

poder executivo..................................................................................................... 69

3.3 A publicidade na prestação de contas........................................................ 73

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO............................ ............................................. 76

CONCLUSÃO.......................................... ............................................................. 78

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 79

APÊNDICES......................................................................................................... 82

ANEXOS............................................................................................................... 87

14

INTRODUÇÃO

O interesse em pesquisar sobre a aplicação dos recursos do FUNDEB

surgiu em decorrência do trabalho realizado no Programa Bolsa Família do

município de Lins (SP).

A possibilidade de pesquisar um tema próximo ao trabalho realizado de

forma a interagir com a formação profissional em questão proporciona um

grande interesse, uma vez que o cotidiano de trabalho e de formação

acadêmica se aproximam de tal forma, que se vivencia a utilização da teoria X

prática.

Neste trabalho, tem-se o objetivo de ampliar os conhecimentos na área

da contabilidade pública, por entendê-la como um importante espaço de ação

profissional para o contador, e para tal, propondo-se a analisar FUNDEB como

fonte de recursos para a Educação Básica desde a sua aplicação ao processo

de prestação de contas, abordando com ênfase a atuação dos profissionais da

área de contabilidade no processo.

Para tanto foi analisada a seguinte hipótese: Se a aplicação dos

recursos do FUNDEB segue as regulamentações de acordo a Lei nº 11.494 de

20 de junho de 2007 e todos os preceitos legais e o acompanhamento

realizado pelo Conselho Municipal do FUNDEB é suficiente para tornar

transparente o processo de aplicação dos recursos? E dessa forma a

contabilidade pública das peças contábeis, é um dos meios capazes de

oferecer suporte para que os órgãos públicos cumpram as determinações

legais?

Para demonstrar a veracidade ou não desses pressupostos, realizou-se

uma pesquisa bibliográfica e de campo. O método de pesquisa desenvolvido

na pesquisa foi o qualitativo. A abordagem qualitativa foi empregada por

oferecer condições para interpretar e compreender a realidade em seus

aspectos mais importantes.

Para realizar a pesquisa de campo e colher dados necessários para a

análise foi utilizada a técnica da observação sistemática (com o objetivo de

observar e descrever o que está em torno do objeto pesquisado, informações

referentes à estrutura, funcionamento, e atividades realizadas pela instituição);

15

o questionário e a entrevista que são os recursos adequados para poder se

analisar os dados aferidos e confrontá-los com a hipótese levantada,

norteando-se sempre pelos objetivos estabelecidos.

Assim, o presente trabalho está dividido em três capítulos, com a

intenção de facilitar a leitura e a compreensão do tema.

No Capítulo I, o trabalho apresenta de maneira sucinta a evolução do

financiamento público da educação no país, a criação e aprovação de Lei do

FUNDEB, situando-o no contexto do município de Lins e descrevendo a

formação do Conselho do FUNDEB de Lins/SP, até as atividades

desenvolvidas por este.

De acordo com a ementa da Lei Nº 11.494/2007, sancionada em 20 de

junho de 2007 que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB,

entrou em vigor desde o dia 1º de janeiro deste ano, por Medida Provisória, o

novo Fundo substitui o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF.

Considerando que o FUNDEB movimenta somas grandes de recursos,

torna-se ainda mais indispensável que a lei determine a constituição de

instâncias e mecanismos de controle sociais efetivos e eficazes.

Assim, é fundamental o papel desempenhado pelo Conselho Municipal

do FUNDEB, como um mecanismo de controle social, onde sua eficiência está

relacionada à sua formação que deve ocorrer de forma democrática entre seus

pares nos diversos segmentos e na autonomia de sua atuação nas atividades

de controle e acompanhamento no que se refere ao planejamento e aplicação

de recursos advindos desse Fundo.

O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB é um

colegiado, cuja função principal, segundo o art. 24 da Lei nº 11.494/2007, é

proceder ao acompanhamento e controle social sobre a distribuição, a

transferência e a aplicação dos recursos do Fundo, no âmbito de cada esfera

Municipal, Estadual ou Federal.

No Capítulo II, apresentam-se as questões inerentes à administração

pública e à contabilidade publica, com enfoque na importância dos preceitos

teóricos, pautando-se por pesquisa bibliográfica.

16

De acordo com Kohama (2006) a contabilidade pública, além de registrar

todos os fatos contábeis (modificativos, permutativos e mistos), registra os atos

potenciais praticados pelo administrador, que poderão alterar qualitativa e

quantitativamente o patrimônio.

Isto posto, pode-se colocar que o objetivo da Contabilidade Pública é o

de fornecer aos gestores informações atualizadas e exatas para subsidiar as

tomadas de decisões, aos órgãos de controle interno e externo para o

cumprimento da legislação e às instituições governamentais e particulares

informações estatísticas e outras de interesse dessas instituições.

No Capítulo III, o foco está na aplicação dos recursos e no processo de

prestação de contas: seus mecanismos para cumprir a regulamentação legal.

O Poder Executivo deve oferecer ao Conselho o necessário apoio

material e logístico, disponibilizando, se necessário, local para reuniões, meio

de transporte, materiais, equipamentos, etc, de forma a assegurar a realização

periódica das reuniões de trabalho, garantindo assim, condições, para que o

Colegiado desempenhe suas atividades e efetivamente exerça suas funções

(Art. 24, § 10 da Lei nº 11.494/2007).

Assim, o que se pretende é através de argumentos e dados sólidos

pautar a discussão entre as exigências e determinações previstas na Lei Nº

11.494/2007 e sua aplicação na prática cotidiana da administração pública, e a

atuação do profissional de ciências contábeis nesse processo.

17

CAPÍTULO I

O FUNDO DE MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO

DA EDUCAÇÃO BÁSICA E DE VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONA IS

DA EDUCAÇÃO NO MUNICÍPIO DE LINS

1 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DA LEI DO FUNDEB

1.1 Financiamento da Educação Pública no Brasil

De uma maneira resumida, a história do financiamento da Educação

Pública no Brasil pode ser dividida em três períodos distintos: a educação a

cargo da Igreja Jesuítica; a educação contemplada pela Constituição Imperial e

a educação no período republicano, especificamente a partir da Constituição de

1934. (SCHMIDT, 2007)

Conforme Schmidt (2007) No momento inicial da colonização do nosso

território, o Estado (representado por Portugal, metrópole do Brasil) deixou a

cargo dos Jesuítas o monopólio, a responsabilidade e o financiamento da

Educação Pública no Brasil, caracterizando assim o primeiro período do

processo de financiamento da Educação do país:

Em dezembro de 1548 a catequização da fé é realizada de forma a colonizar o Brasil. Este por sua vez, realizou a implantação da Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loiola em 1534. Tinha como objetivo propagar a “fé católica” (isto para os jesuítas; pois Portugal tinha outros planos a mais). Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil em março de 1549. E foi aí que a Educação Brasileira teve o seu início (LUCCHEZE, 2008, p.1).

Considerando a população que aqui vivia – os nativos indígenas, os

degredados vindos de Portugal por condenação penal e os fugitivos da

Inquisição – não havia nenhum interesse por parte da metrópole em cuidar da

18

educação no Brasil. Nesse período poucas são as iniciativas do governo em

relação à educação formal no país.

As medidas tomadas pelo ministro D. José I, o Marquês de Pombal, sobretudo a instituição do Subsídio Literário, imposto criado para financiar o ensino primário, não surtiu nenhum efeito. Só no começo do século seguinte, em 1808, com a mudança da sede do Reino de Portugal e a vinda da família Real para o Brasil-Colônia, a educação e a cultura tomaram um novo impulso (PAES, 2002, p.1).

Pode-se identificar no processo histórico um segundo período onde a

responsabilidade sobre a oferta e financiamento da Educação brasileira passa

a ser discutida e debatida na sociedade, promovendo um esboço de política

educacional. Assim, a educação passa a ficar sob os cuidados das Câmaras

Municipais e dos governos estaduais através de dotações orçamentárias

próprias previstas em Lei.

Como resultado desse movimento de idéias, surgiu o compromisso do Império, na Constituição de 1824, em assegurar "instrução primária e gratuita a todos os cidadãos", confirmado logo depois pela lei de 15 de outubro de 1827, que determinou a criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e vilarejos, envolvendo as três instâncias do Poder Público. (PAES, 2002, p.1)

A educação no Brasil passa a ser vista como instrumento fundamental

para a redução das desigualdades sociais e diversos grupos passam a debater

medidas e ações com esse objetivo (PAES, 2002).

Na década de 1920, devido mesmo ao panorama econômico-cultural e político que se delineou após a Primeira Grande Guerra, o Brasil começou a se repensar. Em diversos setores sociais, as mudanças foram debatidas e anunciadas. O setor educacional participou do movimento de renovação. Inúmeras reformas do ensino primário foram feitas em âmbito estadual. Surgiu a primeira grande geração de educadores, Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Almeida Júnior, entre outros, que lideraram o movimento, tentaram implantar no Brasil os ideais da Escola Nova e divulgaram o Manifesto dos Pioneiros em 1932, documento histórico que sintetizou os pontos centrais desse movimento de idéias, redefinindo o papel do Estado em matéria educacional. (PAES, 2002, p.1)

19

O terceiro período desse processo é marcado inicialmente pela

Constituição Federal de 1934 que introduziu o princípio da vinculação de um

percentual mínimo da receita de impostos dos três níveis de governo (federal,

estadual e municipal) para o financiamento da educação. Conforme nos aponta

Paes (2002), a Constituição promulgada após a Revolução de 1930, em 1934,

consignou avanços significativos na área educacional, incorporando muito do

que havia sido debatido em anos anteriores.

Ainda segundo Paes (2002), este princípio da vinculação constitucional

de recursos para a educação pública brasileira, com exceção dos períodos

ditatoriais (Constituições Federais de 1937 e de 1967), tem sido praticamente o

único meio de garantir recursos públicos o financiamento da manutenção e do

desenvolvimento do ensino no Brasil.

No entanto, em 1937, instaurou-se o Estado Novo concedendo ao país uma Constituição autoritária, registrando-se em decorrência um grande retrocesso para vários setores do país, especialmente no desenvolvimento e na área educacional. (PAES, 2002, p.1)

A implantação do Estado Novo, no cenário político nacional, segundo

Romanelli (1993, p. 153), faz com que as discussões sobre as questões da

educação, profundamente rica no período anterior, entre "numa espécie de

hibernação". As conquistas do movimento renovador, formado por inúmeros

educadores, que acabou por influenciar a Constituição de 1934, perderam a

consistência na nova Constituição de 1937.

Com o fim do Estado Novo, o Brasil passa a adotar preceitos mais

liberais e democráticos em sua política nacional e conseqüentemente nas leis

que o regem. É neste cenário que a nova Constituição passa a contemplar a

educação.

Esta nova Constituição, na área da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso a nova Constituição fez voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de 30. (ROMANELLI, 1993, p. 158)

20

A nova Constituição e o momento econômico mundial possibilitaram

uma ampla discussão nacional para a criação de uma política para a educação

brasileira em que o Estado se responsabilizasse cada vez mais pela

manutenção e desenvolvimento desta, que culminou com a promulgação da Lei

4.024/61, sem atender aos anseios dos que defendiam uma participação maior

do Estado nesse processo.

Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto com os que defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros. (ROMANELLI, 1993, p. 167)

Com o golpe militar de 1964, a educação nacional passa a ser vigiada

de perto. Os educadores atuantes e que influenciavam o pensamento político e

cultural da época passaram a ser perseguidos em função de posicionamentos

ideológicos, o que acabou determinando que estes ou se exilassem ou

mudassem de profissão.

O Regime Militar espelhou na educação o caráter anti-democrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos, feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores; o Ministro da Justiça declarou que "estudantes tem que estudar" e "não podem fazer baderna". Esta era a prática do Regime. (ROMANELLI, 1993, p. 169)

Pressionada pela força popular e de personalidades influentes de vários

setores da sociedade, a ditadura militar se enfraqueceu e acabou terminando,

com a passagem do governo para um presidente civil eleito num processo de

eleições indiretas.

Com o fim do Regime Militar, a eleição indireta de Tancredo Neves, seu falecimento e a posse de José Sarney, pensou-se que poderíamos novamente discutir questões sobre educação de uma forma democrática e aberta. (ROMANELLI, 1993, p. 172)

21

E, com a Constituição Federal de 1988, recomeçam as discussões e

debates sobre a implantação de políticas públicas voltadas para a educação

nacional, definindo em seu teor os direitos dos cidadãos e deveres do Estado

sobre essa questão.

De acordo com Ranieri (2000) além do regramento minucioso, a grande

inovação do modelo constitucional de 1988 em relação ao direito à educação

decorre de seu caráter democrático, principalmente quando evidencia a

preocupação em prever instrumentos que garantam a para sua efetividade.

Inicialmente a Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 6º já

reconhece a educação como um Direito Social.

Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência

social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta

Constituição.

Também garantido pela Constituição Federal de 1988, no Artigo 22,

inciso XXIV, compete a União legislar sobre o estabelecimento e a implantação

das leis de diretrizes da educação nacional.

Neste contexto, a Constituição Federal de 1988 tratou do financiamento

da educação de maneira clara e objetiva em seu Artigo 212.

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de

dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios

vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante

de impostos, compreendida a proveniente de

transferências, na manutenção e desenvolvimento do

ensino.

Assim, o percentual mínimo da receita de impostos (considerando-se as

transferências de um nível de governo para o outro) que deve ser destinado à

manutenção e desenvolvimento do ensino é de 18% para a União e de 25%

para estados e municípios. Também podem as constituições estaduais ou as

22

leis orgânicas municipais fixarem um percentual mínimo superior a este,

passando a valer este novo índice. Em Lins (SP) o percentual previsto pela Lei

nº 92/1991 é de 30% da receita prevista no orçamento.

Ao vincular outras receitas para a manutenção e desenvolvimento do

ensino, além do artigo 165, IV; instituindo a contribuição social do salário-

educação e prevendo o fundo de natureza contábil voltado para a educação, a

Constituição Federal de 1988, trata de forma ampla o financiamento e a

manutenção da educação no país, implantando a partir desta uma série de

programas, projetos e propostas com a finalidade principal de garantir o direito

à educação aos brasileiros.

Dentre as diversas leis implantadas a partir da implantação da

Constituição Federal de 1988 e da Lei nº 9394/96, a lei de criação do FUNDEF

– Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério, substituída posteriormente pela Lei nº 11.494/2007,

que regulamentou o FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação é que são

objetos de estudo deste trabalho.

1.2 Lei de criação do FUNDEB

De acordo com o Ministério da Educação e Cultura – MEC, o Fundo de

Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos

Profissionais da Educação - FUNDEB é um Fundo de natureza contábil,

instituído pela Emenda Constitucional N.º53, de 19 de dezembro de 2006 e

regulamentado pela Medida Provisória nº 339, de 28 de dezembro do mesmo

ano, convertida na Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, e pelos Decretos nº

6.253 e 6.278, de 13 e 29 de novembro de 2007, respectivamente.

A implantação do FUNDEB foi iniciada em 1º de janeiro de 2007 e está

sendo realizada de forma gradual, alcançando a plenitude em 2009, quando o

Fundo estará funcionando com todo o universo de alunos da educação básica

pública presencial e os percentuais de receitas que o compõem terão

alcançado o patamar de 20% de contribuição.

23

O FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, regulamentado pela

Lei nº 11.494/07 em substituição ao FUNDEF – Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério,

aprovado pela Lei nº 9424 em 1996 e vigente desde 1998.

Para se compreender o FUNDEB, é necessário fazer uma pequena

consideração acerca do FUNDEF, uma vez que, enquanto o FUNDEF

destinava exclusivamente ao ensino fundamental, o FUNDEB financia toda a

Educação Básica. Segundo os critérios da Lei no 9394/96, a Educação Básica

compreende as etapas da educação infantil (creches para crianças de 0 a 3

anos e pré-escola para crianças de 4 a 6), do ensino fundamental e do ensino

médio, além das modalidades: educação de jovens e adultos, educação

indígena, educação profissional, educação do campo e educação especial –

destinada a portadores de deficiências.

Portanto, o FUNDEB foi instituído com o mesmo objetivo do FUNDEF,

ou seja, visando promover uma redistribuição dos recursos financeiros

vinculados à educação básica, adotando como critério o número de alunos

matriculados por nível de ensino no âmbito de cada rede (ANDRADE, 2007).

O FUNDEB constitui-se assim em um fundo contábil, em que parte dos

recursos destinados ao ensino será transferida para este, com percentuais

menores nos dois primeiros anos de vigência (2007 e 2008) sendo progressivo

o percentual até atingir no terceiro ano (2009) o equivalente a 20%, conforme

previsto na Lei nº 11.494/2007 (ANDRADE, 2007).

A Emenda Constitucional nº 53, de 19/12/2006, que criou o FUNDEB,

estabeleceu o prazo de 14 anos, a partir de sua promulgação, para sua

vigência. Assim, esse prazo será completado no final de 2020.

Com adoção de um mecanismo similar ao do FUNDEF, o FUNDEB atua

no âmbito de cada Estado, com a captação de parte dos recursos dos estados

e municípios, redistribuídos através do número de alunos matriculados por

nível de ensino em cada rede pública, levando-se em conta a totalidade das

matrículas no ensino fundamental, 1/3 (um terço) das matrículas da educação

infantil, do ensino médio e da educação de jovens e adultos no primeiro ano,

2/3 (dois terços) no segundo ano e sua totalidade a partir do terceiro ano

(ANDRADE, 2007).

24

De acordo com a Emenda Constitucional nº 53/2006, as receitas que

compõe a base de cálculo do FUNDEB são as seguintes discriminadas no

Quadro 1:

Exercícios Dispositivo

Constitucional

Receitas que comporão o FUNDEB

conforme EC nº 53/2006 2007 2008 2009

Art. 155, I 1112.07.00. ITCM – Estado 6,66% 13,33% 20%

Art. 155, II 1113.02.00 ICMS – Estado 16,66% 18,33% 20%

Art. 155, III 1112.05.00 IPVA – Estado 6,66% 13,33% 20%

Art. 158, II 1721.01.05 Cota-parte do ITR - Municípios

6,66% 13,33% 20%

Art. 158, III 1722.01.02 Cota-parte do IPVA – Municípios

6,66% 13,33% 20%

Art. 158, IV 1722.01.01 Cota-parte do ICMS – Municípios

16,66% 18,33% 20%

Art. 159, I, a 1721.01.01 Cota-parte do FPE – Estado

16,66% 18,33% 20%

Art. 159, I, b 1721.01.02 Cota-parte do FPM – Municípios

16,66% 18,33% 20%

Art. 159, II 1721.01.12 Cota-parte do IPI Exportação – Estado

16,66% 18,33% 20%

Art. 159, II, § 3º da CF c/c art 3º, § 2º da MP nº 339/2006.

1722.01.04 Cota-parte do IPI Exportação – Municípios

16,66% 18,33% 20%

Lei Complementar nº 87 c/c art 3º, § 2º da MP nº 339/2006.

1721.36.00 Cota-parte do ICMS Desoneração Exportação – Municípios

16,66% 18,33% 20%

Art. 20, MP nº 339/2006.

1321.xx.xx Rentabilidade de aplicação dos recursos

100% 100% 100%

Fonte: ANDRADE, 2007, p. 180. Quadro 1 – Recursos da base de cálculo do FUNDEB

Com essa composição e a maneira pela qual o cálculo da distribuição

dos recursos, afirma Andrade (2007), que se comprova uma melhor distribuição

dos recursos destinados ao ensino, bem como, colocou-se ao gestor público

maior responsabilidade na gerência deste mesmo recurso.

25

1.2.1 Exigências legais e obrigatoriedade na aplicação dos recursos do

FUNDEB

Para que o Estado cumpra o seu papel de promover o benefício público

mediante atos e fatos administrativos, a legislação vem estabelecendo limites e

percentuais para a aplicação dos recursos com vistas ao atendimento das

necessidades da população em geral (ANDRADE, 2007).

Limites constitucionais e legais são exigências fixadas pela Constituição Federal, leis e resoluções da esfera federal que obrigam o município a destinar parte de sua receita a determinado fim, assim como limitar determinadas despesas com base em certos parâmetros (ANDRADE, 2007, p. 158).

Andrade (2007) coloca que os recursos do FUNDEB destinam-se ao

financiamento de ações de manutenção e desenvolvimento da educação

básica pública, independentemente da modalidade em que o ensino é

oferecido (regular, especial ou de jovens e adultos), da sua duração (Ensino

Fundamental de oito ou de nove anos), da idade dos alunos (crianças, jovens

ou adultos), do turno de atendimento (matutino e/ou vespertino ou noturno) e

da localização da escola (zona urbana, zona rural, área indígena ou

quilombola), levando-se em consideração os respectivos âmbitos de atuação

prioritária (art. 211 da Constituição Federal), que delimita a atuação dos

Estados e Municípios em relação à educação básica.

A exigência de maior ênfase no tocante a legislação de manutenção do

ensino, está nos percentuais mínimos aplicados na remuneração dos

profissionais do magistério em efetivo exercício, fixados em 60% do total dos

recursos advindos do fundo. O restante dos recursos, ou seja, 40% podem ser

destinados a outras despesas de manutenção e desenvolvimento da Educação

Básica pública (ANDRADE, 2007).

Portanto, os recursos do FUNDEB, sob responsabilidade do gestor da

área da educação municipal, devem ser aplicados na manutenção e

desenvolvimento da educação básica pública, observando-se os respectivos

âmbitos de atuação prioritária dos Estados e, Municípios, conforme

estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 211 da Constituição (os Municípios devem

26

utilizar recursos do FUNDEB na educação infantil e no ensino fundamental e os

Estados no ensino fundamental e médio), sendo que o mínimo de 60% desses

recursos deve ser destinado anualmente à remuneração dos profissionais do

magistério (professores e profissionais que exercem atividades de suporte

pedagógico, tais como: direção ou administração escolar, planejamento,

inspeção, supervisão e orientação educacional) em efetivo exercício na

educação básica pública (regular, especial, indígena, supletivo), e a parcela

restante (de no máximo 40%), seja aplicada nas demais ações de manutenção

e desenvolvimento, também da educação básica pública, observando que de

acordo com as diretrizes do diploma legal em exame o termo “demais ações”

compreende aquelas destinadas à aquisição de recursos materiais de consumo

e permanentes – pedagógicos ou de uso administrativo –, construção e

reformas de prédios escolares.

1.2.2. Exigências legais na prestação de contas dos recursos do FUNDEB

De acordo com Andrade (2007) os executivos municipais prestarão

contas do controle anual e trimestral do FUNDEB, de acordo com o art. 69, §

4º, da Lei nº 9394/96, sob pena de aplicação de multas pelos Tribunais de

Contas, e os demonstrativos de apuração dos gastos junto ao FUNDEB são

padronizados por deliberações dos Tribunais de Contas em que os municípios

estão jurisdicionados.

A legislação que institui e regulamenta o FUNDEB estabelece a

obrigatoriedade dos governos estaduais e municipais apresentarem a

comprovação da utilização dos recursos do Fundo em três momentos distintos,

que são:

a) Mensalmente - Ao Conselho de Acompanhamento e Controle

Social do FUNDEB, mediante apresentação de relatórios

gerenciais sobre o recebimento e emprego dos recursos do Fundo,

conforme estabelece o art. 25 da Lei nº 11.494/2007.

b) Bimestralmente - Por meio de relatórios do Poder Executivo,

resumindo a execução orçamentária, evidenciando as despesas de

27

manutenção e desenvolvimento do ensino, em favor da educação

básica, à conta do FUNDEB, com base no disposto no § 3º, art.

165 da CF, e art. 72 da LDBEN (Lei nº 9.394/96).

c) Anualmente - Ao respectivo Tribunal de Contas

(Estadual/Municipal), de acordo com instruções dessa instituição,

que poderá adotar mecanismos de verificação com periodicidades

diferentes (bimestrais, semestrais, etc). Essa prestação de contas

deve ser instruída com parecer do Conselho de Acompanhamento

e Controle Social.

Para a apuração mensal do emprego dos recursos do FUNDEB,

recomenda-se a montagem de uma pasta exclusiva, com os empenhos e seus

respectivos comprovantes na ordem de contas orçamentárias mencionadas no

livro Razão, recomendando-se ainda, que os comprovantes da despesa

ajustem-se às retiradas apontadas nos extratos bancários, mostrando cuidado

e zelo no controle financeiro vinculado ao controle orçamentário (ANDRADE,

2007).

Andrade (2007, p. 186) coloca ainda que por ser o FUNDEB um fundo

de natureza contábil, não sendo objeto de contabilidade própria, seu controle

se realiza pela movimentação da conta bancária distinta e suas receitas e

despesas são “constantes de dotações específicas do orçamento fiscal do

município”.

De acordo com o art. 21, § 2º, os recursos do FUNDEB devem ser

utilizados pelo município no exercício financeiro em que ocorrer o crédito,

podendo ainda utiliza-lo no primeiro trimestre do exercício subseqüente, até

cinco por cento dos recursos recebidos, mediante a abertura de crédito

adicional, por meio de decreto municipal, com a indicação da fonte de recursos

(ANDRADE, 2007).

O responsável por gerenciar os recursos advindos do FUNDEB é o

secretário municipal de educação, que pode através de decreto específico, ter

delegado a si a responsabilidade de assinar cheques em conjunto com o

responsável pela Fazenda do município (ANDRADE, 2007).

Portanto, trata-se de uma gerência de recursos compartilhada, ou seja,

há a presença do executivo diretamente através do seu representante legal.

28

1.3 Breve Histórico do Município de Lins (SP)

Conforme informações da SEADE – Fundação Sistema Estadual de

Análise de Dados – a origem do município de Lins foi um pequeno povoado às

margens do córrego chamado Douradinho, posteriormente Campestre. Os seus

primeiros moradores construíram uma rústica capela sob a invocação de Santo

Antônio, e o povoado passou a chamar-se Santo Antônio do Campestre. Em

1908, foi construída no local uma estação da Estrada de Ferro Noroeste do

Brasil, denominada Albuquerque Lins, em homenagem ao governador do

Estado. Em 1913, o coronel Joaquim de Toledo Piza e Almeida doou uma

gleba, junto à estação, com o objetivo de expandir o povoado. No mesmo ano,

a 30 de dezembro foi criado o distrito, com o nome de Albuquerque Lins, no

município de Bauru. Foi transferido para Pirajuí em 3 de dezembro de 1914 e,

em 27 de dezembro de 1919, obteve a emancipação político-administrativa.

Sua denominação foi simplificada para Lins em 29 de dezembro de 1926.

De acordo com dados oficiais da Prefeitura Municipal, Lins localiza-se a

Oeste do Estado de São Paulo (Fig. 3), mais precisamente no chamado

Noroeste Paulista, com área total de 571 Km². A região de Lins é composta por

dez municípios: Cafelândia, Getulina, Guarantã, Guaimbê, Lins, Sabino,

Pongaí, Promissão, Guaiçara e Uru. Está localizada a 455 quilômetros da

Capital do Estado, por rodovias pavimentadas; e por ferrovia, a 533

quilômetros. Próxima dos grandes centros, ao norte com São José do Rio

Preto; a leste com Bauru; a oeste com Araçatuba; ao sul com Marília e a

Sudoeste com Tupã.

Fonte: SEADE, 2008.

Figura 1: Mapa Territorial do Município de Lins

29

Fonte: Nosso São Paulo, 2008.

Figura 2: Av. Floriano Peixoto – Entrada do Município de Lins/SP

Fonte: Nosso São Paulo, 2008. Figura. 3 – Bandeira do Município de Lins/SP

Fonte: Nosso São Paulo, 2008.

Figura. 4 – Brasão do Município de Lins/SP

30

De acordo com histórico na Câmara Municipal de Lins, o Brasão de Lins

origina-se do Escudo Português, contingência das raízes portuguesas,

firmadas no Brasil. O Brasão de Lins foi elaborado recebendo características

baseadas na história do lugar e traduzidas em linguagem heráldica, pela Lei

281, de 17 de dezembro de 1953 e correções autorizadas pela Lei 1128, de 02

de janeiro de 1970.

A coroa que se encontra em cima do Brasão de Lins, significa Lins

fazendo parte das cidades consideradas de primeira ordem, pela riqueza

cafeeira do passado e pela riqueza da Educação no presente.

O Brasão de Lins é alicerçado por um ramo de café frutificado à

esquerda e, à direita, algodão e cereais em suas cores naturais, representando

as fontes de riqueza que deram ao município a estabilidade sócio-econômica

tão necessárias ao seu desenvolvimento.

Hoje, Lins sofre as conseqüências positivas e outras nem tão positivas

assim, do progresso. O avanço da tecnologia e a evolução deixaram para trás

o cultivo do café, abrindo as portas para uma nova faceta de um município que

entrou na Era da Comunicação: A riqueza do Saber.

Por isso, a base do Brasão traz como Lema "Ex coffea - Ac-Scholla":

"DO CAFÉ E DA ESCOLA SURGE LINS".

1.4 Secretaria Municipal de Educação de Lins (SP)

Com uma população estimada em 69.240 habitantes (IBGE, 2007), o

município de Lins apresenta uma estrutura político-administrativa organizada

por secretarias de governo.

A Secretaria da Educação apresenta um quadro complexo de

funcionários e servidores (quadro 2), organizados pelo Estatuto dos Servidores

Municipais (LC 92/1990), visando atender as suas necessidades

administrativas e pedagógicas, além dos preceitos legais.

31

FUNCIONÁRIOS DA EDUCAÇÃO

ATIVA AFASTADOS

COM REMUNERAÇÃO

AFASTADOS SEM

REMUNERAÇÃO

PISO SALARIAL

(R$)

ESPECIALISTAS

SUPERVISOR 05 1 2.785,32

DIRETOR 15 1 2.644,14

COORDENADOR 08 2.394,14

PROFESSORES

EDUCAÇÃO INFANTIL 90 02 1.247,80

ENSINO FUNDAMENTAL 29 01 1.871,70

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

25 1.123,02

QUADRO DE APOIO

AGENTE ADMINISTRATIVO

09 01 1.247,80

AGENTE EDUCACIONAL 08 01 941,76

ASSISTENTE EDUCACIONAL

09 01 1.139,59

ATENDENTE DE ATIVIDADES INFANTIS

95 01 941,76

MERENDEIRA 26 02 860,29

SERVENTE 93 01 790,45

MOTORISTA 15 02 1.139,59

OUTROS 13 Variável

Fonte: Secretaria Municipal de Educação, Lins (SP), 2008.

Quadro 2 – Quadro de Funcionários da Secretaria Municipal de Educação de Lins

De acordo com dados oficiais, o município de Lins possui uma das

melhores taxas de alfabetização do país, estando em cerca de 93,1% de

população alfabetizada. Este dado se deve a política de educação implantada

no município desde o final da década de 1990 até os dias atuais, com vistas a

32

promover a escolarização da população: no ensino regular e na educação de

jovens e adultos.

Segundo a Câmara Municipal de Lins, em 2007, Lins contava em seu

quadro municipal de educação com 12 (doze) unidades de Educação Infantil; 4

(quatro) unidades de Educação Fundamental – Ciclo I e 1 (uma) unidade

gestora de Educação de Jovens e Adultos.

Para o ano de 2007, de acordo com informações disponíveis na Câmara

Municipal de Lins, foram repassados pelo FUNDEB-2007: R$ 2.211.376,06 e

pelo Fundo Participação dos Municípios – FPM-2007: R$ 12.567.438,59, para o

emprego na Educação Básica no município de Lins.

EMEI – PRÉ-

ESCOLA

EMEI - CRECHE

ESCOLA DE

E. F. CICLO I

ESCOLA DE

E.J.A.

TOTAL

Nº de escolas 05 07 04 01 17

Nº de professores

80 10 29 25 144

Nº de alunos 1580 435 724 366 3105 Fonte: Secretaria Municipal de Educação, Lins (SP), 2008.

Quadro 3 – Distribuição das escolas, número de professores e alunos por modalidade

Já para o ano de 2008, conforme informações da SME estão previstos

em orçamento o repasse de R$ 2.211.376,06 e pelo Fundo de Participação dos

Municípios – FPM-2007: R$ 12.567.438,59, para o emprego na Educação

Básica no município de Lins.

1.5 Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB

Com a Constituição Federal de 1988, os municípios passam a ser “entes

federativos”, promovendo uma “idéia de proximidade” entre a população e os

executores de políticas públicas. (SANTOS, 2007, p. 32)

33

As mudanças constitucionais deram impulso ao aumento da participação no processo de exercício democrático do governo tanto pela via da municipalização das políticas quanto pela exigência da criação de Conselhos paritários responsáveis pela gestão de políticas públicas (RODRIGUES apud SANTOS, 2007, p. 32).

Em estudo sobre o Conselho de acompanhamento e controle social do

FUNFEF, Santos (2007), afirma que este desempenha um importante papel

uma vez que permitem aos membros conselheiros a “vivenciar uma experiência

de gestão”, fortalecendo a presença da sociedade civil no processo de

elaboração de políticas públicas, tornando-se “co-responsável” por elas.

Com a finalidade específica de acompanhar e controlar socialmente a

distribuição, a transferência e a aplicação dos recursos do ensino e do

FUNDEB, devem ser criados conselhos para este fim (ANDRADE, 2007).

O Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB é um

colegiado, cuja função principal, segundo o art. 24 da Lei nº 11.494/2007, é

proceder ao acompanhamento e controle social sobre a distribuição, a

transferência e a aplicação dos recursos do Fundo, no âmbito de cada esfera

Municipal, Estadual ou Federal. O Conselho também pode receber queixas e

abordar, formalmente, os governantes responsáveis, comunicando-lhes sobre

as impropriedades ou irregularidades praticadas, além de solicitar correções.

Os conselhos serão criados por legislação específica, editada no âmbito de cada município. Aos conselhos incumbe, ainda, supervisionar o censo escolar anual e a elaboração da proposta orçamentária anual com o objetivo de concorrer para regular e tempestivo tratamento e encaminhamento dos dados estatísticos e financeiros que alicerçam a operacionalização do FUNDEB (ANDRADE, 2007, p. 184).

De acordo com o Art. 24, § 10 da Lei nº 11.494/2007, o Poder Executivo

deve oferecer ao Conselho o necessário apoio material e logístico,

disponibilizando, se necessário, local para reuniões, meio de transporte,

materiais, equipamentos, de forma a assegurar a realização periódica das

reuniões de trabalho, garantindo assim, condições, para que o Colegiado

desempenhe suas atividades e efetivamente exerça suas funções.

Andrade (2007) afirma que de acordo com a Lei nº 11.494/2007, ser de

responsabilidade do Conselho o acompanhamento trimestral da aplicação dos

34

recursos no ensino, assim como emitir pareceres e o encaminhamento de

relatórios para o Tribunal de Contas ao que o município estiver jurisdicionado,

respeitando-se o prazo de trinta dias antes do vencimento do prazo para a

apresentação da prestação de contas.

Para Callegari (2008) a importância da existência de um conselho de

acompanhamento e controle social dos recursos do FUNDEB, centra-se na

transparência do uso do dinheiro público, por considerar esse um recurso

sagrado. Neste contexto, um dos maiores desafios é tornar os conselheiros

capazes de acompanhar as contas e entender os balanços para garantir a

transparência da aplicação dos recursos da educação.

Cabe também ao conselho verificar se estados e municípios criaram planos de carreira para os professores, uma vez que 60% dos recursos do fundo são destinados aos profissionais da educação; acompanhar as transferências de recursos da União para os estados que precisam de complementação e dos estados para os municípios; supervisionar as estatísticas produzidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC), as quais são a base da distribuição anual de recursos do fundo; articular as demandas que chegam de estados e municípios ao Ministério Público e aos tribunais de contas, órgãos responsáveis pela fiscalização (CALLEGARI, 2008, p. 1).

Neste sentido, é importante para a gestão dos recursos do FUNDEB e

até mesmo para o processo democrático que o Conselho de Acompanhamento

do FUNDEB seja atuante e capaz de realizar o acompanhamento do uso dos

recursos, evitando irregularidades de todas as formas, garantindo o melhor uso

do dinheiro destinado a educação.

Para tratar do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB, faz-se necessário relatar de forma breve o percurso dos Conselhos

no Brasil.

Ao longo da história, no Brasil existiram várias formas de Conselhos e os

primeiros datam do início do século XX, sendo chamados de Conselhos

Técnicos, articulando os interesses políticos das camadas dominantes uma vez

que “garantem a adesão das demais parcelas da sociedade ao seu projeto

político social” (FERREIRA, 1992, p.300).

Ao estudar os conselhos brasileiros Gohn (2003), indica a existência de

três tipos destes: os comunitários, instituídos na década de 70; os populares,

35

do final da década de 70 e início dos anos 80; e, os Conselhos Gestores,

criados a partir da Constituição Federal de 1988.

Para Gohn (2003, p.176) os conselhos assumiram várias formas e

representavam as contradições de cada tempo e, o seu aspecto mais

importante estava nas “circunstâncias que determinavam como seria a inserção

desses nas esferas de poder”.

De acordo com Celso Daniel (2000), o conceito de Conselho Gestor está

associado à cidadania, a uma idéia de “co-gestão, uma concepção de partilha

de poder”. São portanto, novos espaços, novas esferas públicas no interior das

quais o que é primordial é o fortalecimento dos direitos de cidadania (CELSO

DANIEL, 2000, p. 123).

As mudanças constitucionais deram impulso ao aumento da participação no processo de exercício democrático de governo tanto pela via da municipalização das políticas quanto pela exigência de criação de Conselhos paritários responsáveis pela gestão das políticas públicas (RODRIGUES, 2005, p. 12).

A Constituição Federal de 1988, cria mecanismos de participação direta

e indireta da sociedade. Já no seu primeiro artigo, a Constituição coloca que a

cidadania é um princípio fundamental do indivíduo, o que supõe a participação

da população na gestão do bem público.

Antes de analisá-los [conselhos], cabem algumas breves reflexões sobre a criação de conselhos com representação de entidades da sociedade para a fiscalização de atos do poder dito público (DAVIES, 2008, p. 56).

Conforme afirma, Gohn (2003), os conselhos gestores assumem uma

significativa importância, pois “têm o papel de serem instrumentos mediadores

na relação sociedade/Estado” (GOHN, 2003, p. 177).

Os Conselhos gestores são novos instrumentos de expressão, representação e participação, em tese são dotados de potencial de transformação política. Se efetivamente representativos, poderão imprimir um novo formato às políticas sociais, pois relacionam-se ao processo de formação das políticas e a tomada de decisões. Com os Conselhos, gera-se uma nova institucionalidade pública, pois criam uma nova esfera social-pública ou pública não-estatal. Trata-se de um novo padrão de relações entre Estado e sociedade porque viabilizam a participação de segmentos sociais na formulação

36

de políticas sociais, e possibilitam à população o acesso aos espaços onde se tomas as decisões políticas (GOHN, 2003, p. 178).

Nesse sentido, as diferentes formas de organização dos Conselhos

representam as várias concepções que os sustentam, de acordo com o

momento histórico ou da conjuntura político-social do período em que se

constituíram.

1.5.1 Lei de criação do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB de Lins (SP)

No município de Lins, a Lei que dispõe sobre a criação do Conselho

Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação - Conselho do FUNDEB é a Lei 1.003/2007 (anexo A).

De acordo com a referida lei, o Conselho de Acompanhamento e

Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação

Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação tem por competência

acompanhar e controlar a aplicação dos recursos do Fundo; supervisionar a

realização do censo escolar e a elaboração da proposta orçamentária anual no

âmbito municipal, com o objetivo de concorrer para o regular e tempestivo

tratamento e encaminhamento dos dados estatísticos e financeiros que

alicerçam a operacionalização do Fundo; examinar os registros contábeis e

demonstrativos gerenciais mensais e atualizados relativos aos recursos

repassados e recebidos à conta do Fundo; emitir parecer sobre as prestações

de contas dos recursos do Fundo, que deverão ser disponibilizadas

mensalmente pelo Poder Executivo Municipal; apresentar, sempre que julgar

conveniente, ao Poder Legislativo local e aos órgãos de controle interno e

externo, manifestação formal acerca dos registros contábeis e dos

demonstrativos gerenciais do Fundo; convocar, por decisão da maioria de seus

membros, o Secretário Municipal de Educação, para prestar esclarecimentos

acerca do fluxo de recursos e a execução de despesas do Fundo, devendo a

37

autoridade convocada apresentar-se em prazo não superior a trinta dias;

elaborar e alterar seu regimento interno; e as demais outras atribuições que a

legislação específica eventualmente estabeleça.

Assim, o município de Lins, apresenta de maneira clara e organizada, o

atendimento aos preceitos legais da Lei nº 11.494/2007, no que se refere a

criação do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB.

1.5.2 Composição do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB de Lins (SP)

De acordo com a Lei 1003/2007, em seu artigo 2º o Conselho do

FUNDEB será composto por dez membros titulares, acompanhados de seus

respectivos suplentes, representativos de cada segmento interessado.

Assim, o processo de escolha desses representantes será organizado

pela SME (artigo 3º da LC 1003/2007), respeitando-se a escolha entre os pares

de cada segmento representado (artigo 4º da LC 1003/2007), comprovadas

pelas atas de reunião do Conselho (anexo A).

Portanto, de acordo com a legislação municipal, o percentual de

representação dos segmentos no Conselho deve apresentar a seguinte

configuração:

Percentual de representantes

10%

10%

10%

10%

10%10%

20%

20% SME

CME

CT

PROFESSORES

DIRETORES

SERVIDORES

PAIS

ESTUDANTES

Fonte: Lei Complementar 1003/2007. Figura 5 – Percentual dos representantes no Conselho do FUNDEB por segmento.

38

A presente composição permite-nos atentar para que dessa forma,

embora haja a presença de segmentos da sociedade civil (como o caso do

representante do Conselho Tutelar e do Conselho Municipal de Educação), o

Conselho pode estar propenso a ter a maioria de conselheiros que de alguma

forma representem os interesses do governo municipal, uma vez que os

representantes da SME, dos professores e dos diretores podem estar ligados a

administração municipal, já que se trata de funcionários públicos municipais.

Discussão que aparece registrada em atas do próprio Conselho do FUNDEB

de Lins.

A questão acima levantada vai além do fator numérico, mas é

extremamente importante e deve ser considerada na análise dos pareceres

dados ao poder executivo pelo Conselho.

Segundo Davies (2008, p. 57), “o potencial democrático desses

conselhos é bastante limitado, por uma série de razões”, uma vez que “são

compostos por mais representantes do Estado do que da sociedade”.

De acordo com a Presidenta do Conselho do FUNDEB de Lins (gestão

2007/2008) o [Conselho do] FUNDEB está organizado de acordo com a Lei

Complementar nº. 1.003 de 25/06/2007; contamos com um representante da

Secretaria Municipal de Educação – SME, um representante dos professores

das escolas públicas municipais de educação básica, um representante dos

diretores das escolas públicas municipais de educação básica, um

representante dos servidores técnico-administrativo das escolas públicas

municipais de educação básica, dois representantes de pais de alunos das

escolas públicas municipais de educação básica, dois representantes de

alunos das escolas públicas municipais de educação básica, um representante

do Conselho Municipal de Educação – CME e um representante do CT –

Conselho Tutelar,

Fica clara a preocupação do poder público em Lins de garantir a

participação dos diversos segmentos da educação e da sociedade civil

organizada no Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB,

uma vez que segundo a Diretora da Educação de Lins, a SME atua em

parceria com o Conselho Municipal de Educação e com o Conselho do

FUNDEB, respeitando a legislação vigente, em especial à LDBEN e a CF.

39

Porém, não se deve deixar de observar as dificuldades enfrentadas pelo

próprio conselho em compor seus membros e posteriormente em executar

suas atividades de acordo com as competências estabelecidas em Lei.

1.5.3 Atividades do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB de Lins (SP)

Ao acompanhar as reuniões do conselho e a leitura das atas de registros

do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB, fica

compreensível que a dificuldades dos conselheiros, principalmente os que

estão exercendo seu primeiro mandato, no que tange aos demonstrativos

financeiros, operações contábeis, balancetes, à legislação pertinente, à folha

de pagamento, à complementação da União, bem como quanto à própria

dinâmica de funcionamento do FUNDEB.

A função do Conselho do FUNDEB é acompanhar e controlar a

aplicação de recursos do Funda; é supervisionar a realização do censo escolar

e a elaboração da proposta orçamentária anula no âmbito municipal, com o

objetivo de concorrer para o regular tratamento e encaminhamento dos dados

estatísticos e financeiros que alicerçam a operacionalização do Fundo. Cabe

também ao Conselho, examinar os registros contábeis e demonstrativos

gerenciais mensais e atualizados relativos aos recursos repassados e

recebidos à conta do Fundo, emitir parecer sobre as prestações de contas dos

recursos do Fundo, que deverão ser disponibilizadas mensalmente pelo Poder

Executivo Municipal; apresentar manifestação formal acerca dos registros

contábeis e dos demonstrativos do Fundo, sempre que necessário; elaborar,

alterar regimento interno e convocar por decisão da maioria dos membros, o

Secretário de Educação, para prestar esclarecimentos sobre o fluxo de

recursos e a execução de despesas do Fundo, conforme afirma em

depoimento a Presidenta do Conselho do FUNDEB de Lins (gestão 2007/2008)

Um conselheiro em reunião ordinária do Conselho chegou a afirmar seu

descontentamento dizendo “[...] que se for para participar dos Conselhos, para

simplesmente aprovar e desaprovar iria se afastar, pois as pessoas querem

40

respostas”. Quanto às planilhas, disse “que são complexas demais e que

haveria necessidade de mais tempo para capacitação e conhecimento”.

A afirmação do Conselheiro remete à análise de Davies (2008) que

alerta que a falta de capacitação técnica pode enfraquecer a representação

social.

Para se compreender um orçamento ou balancete, é preciso uma formação mínima para se decifrar as rubricas, que, vistas cruamente, pouco esclarecem sobre a receita e aplicação dos recursos (DAVIES, p. 41, 2008).

Portanto para Davies (2008), seria necessário que os representantes

sociais do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB,

recebessem uma formação adequada para realizar a análise dos registros

contábeis, para que se evite que estes se submetam à apreciação feita pelos

representantes “estatais”, que dada a sua condição de melhor compreensão

dos dados, mesmo estando em minoria numérica poderão hipoteticamente

fazer prevalecer a sua leitura dos fatos contábeis.

Para a Presidenta do Conselho do FUNDEB de Lins (gestão 2007/2008)

o processo de prestação de contas de aplicação dos recursos do FUNDEB se

dá através de reuniões com fins específicos de analisar/investigar os

documentos relacionados aos valores/recursos e sua destinação, conforme

depoimento dado.

Para que o Conselho de Acompanhamento e Controle Social do

FUNDEB tenha seu trabalho feito e sua missão cumprida, é necessário que

haja investimento na formação do grupo que o compõe, uma vez que no caso

da Secretaria Municipal de Educação do município de Lins, há total

transparência no fornecimento dos dados contábeis.

41

CAPÍTULO II

A CONTABILIDADE GOVERNAMENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBL ICA

2 A ADMINSTRAÇÃO PÚBLICA

Apesar das diferentes conceituações sobre Administração Pública, os

teóricos afirmam relação entre Administração Pública e a satisfação dos

interesses da coletividade.

Meirelles (2004) coloca que a classificação de Administração Pública em

sentido formal e material, conceitua-se como sendo "todo aparelhamento do

Estado preordenado à realização de seus serviços, visando à satisfação das

necessidades coletivas".

O conceito de Administração Pública está indissociavelmente ligado a

idéia de atividade desenvolvida pelo Estado, através de atos executórios

concretos, para a consecução direta, ininterrupta e imediata dos interesses

públicos. Trata-se, pois, da função administrativa de competência,

predominantemente, do Poder Executivo.

Di Pietro (2005) admite haver dois sentidos orientadores para a

conceituação da Administração Pública:

Em sentido objetivo, material ou funcional, a administração pública pode ser definida como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob regime jurídico de direito público, para a consecução dos interesses coletivos. Em sentido subjetivo, formal ou orgânico, pode-se definir Administração Pública, como sendo o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado. (DI PIETRO, 2005, p. 61-62)

Entretanto, a Administração Pública compreende não só o Poder

Executivo, como também a complexa máquina estatal, através da qual o

Estado visa à realização dos seus fins. Assim sendo, também integram a

42

chamada Administração Pública não só Poder Executivo, mas também os

Poderes Legislativo e Judiciário.

Administração Pública é dividida em dois níveis: direta e indireta.

Segundo Araújo e Arruda (2004) a administração direta é aquela exercida pela

administração por meio dos seus órgãos internos (presidência e ministros), ou

seja, compreende a estrutura administrativa dos três poderes. Já a

administração indireta é a atividade estatal entregue a outra pessoa jurídica

(autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista, fundações), que

foram surgindo através do aumento da atuação do Estado, são, portanto as

entidades públicas dotadas de personalidade jurídica.

Neste trabalho, o foco das pesquisas é a administração direta, uma vez

que os recursos aqui trabalhados, estão sob responsabilidade desta.

2.1 Princípios da administração pública

A priori os princípios relativos à Administração Pública não faziam parte,

de forma expressa, dos textos constitucionais. A maioria dos princípios, quase

que a totalidade das normas relativas à Administração Pública encontrava-se

na legislação infraconstitucional (DI PETRO, 2005).

Mas, a constituinte de 1988 inovou, inserindo no texto constitucional que

a Administração Pública, em todos os níveis (federal, estadual e municipal),

seja direta ou indireta, obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade,

moralidade e publicidade. Mais recentemente, incorporou-se ao texto

constitucional, através da Emenda Constitucional nº. 19/98, o princípio da

eficiência (ROCHA, 1994).

Portanto, os cinco princípios fundamentais da Administração Pública

estão arrolados na Constituição Federal de 1988, em seu art. 37 e são os

seguintes:

a) Legalidade: a administração está sujeita a lei;

b) Moralidade: a administração não pode desprezar o ético

(probidade);

43

c) Impessoalidade: evitar o favoritismo ou privilégios, o interesse

público é norteador;

d) Publicidade: divulgação dos atos ao público;

e) Eficiência: administração com qualidade.

Sendo a Constituição o texto legal maior e fundamental de um Estado,

conclui-se, que os princípios nela contidos expressamente, ou dela extraídos,

configuram-se como os princípios norteadores fundamentais de todo o

ordenamento jurídico do Estado. Assim, os princípios deverão advir da escolha

da sociedade como um todo, que neste momento determinam quais serão as

linhas orientadoras de sua conduta, quais são os valores que estão presentes

em seu espírito social, advindos do seu desenvolvimento através da história,

como “povo organizado sobre determinado território, detentor da soberania de

auto-determinar seu presente e seu futuro” (ROCHA, 1994, p. 23).

2.2 Contabilidade pública

Antes de colocarem-se as questões pertinentes à contabilidade pública,

é necessário explicitar de maneira simples as funções básicas do Estado.

Fonte: Silva (2004, p.22)

Figura 6 – Distribuição das funções do Estado pelos respectivos poderes. Conforme nos aponta Slomski (2003), o Estado passa a ter existência a

partir do momento em que o povo, consciente de sua nacionalidade, organiza-

se politicamente, devendo ser estruturado como um sistema de funções que

disciplinam e coordenam os meios para atingir seus objetivos.

Função Normativa Poder Legislativo

Função Jurisdicional Poder Judiciário

Função Executiva Poder Executivo

44

Silva (2004) ainda apresenta as finalidades básicas do Estado, segundo

a concepção aristotélica, como sendo: a segurança, com o objetivo de manter a

ordem política, econômica e social e o desenvolvimento, com o objetivo de

promover o bem comum.

2.2.1 Funções e princípios contábeis aplicados na contabilidade pública

A razão de ser do Estado está no fato de ser ele a expressão harmônica

e abstrata de uma sociedade e sua finalidade está na manutenção da ordem

social através da aplicação do direito, para que assim sendo, essa sociedade

não venha a se destruir por conflitos internos ou externos, e nem com

influências diretas ou indiretas de terceiros (DI PIETRO, 2005).

Após a organização do Estado, tornou-se necessário obter meios para

manter sua existência e cumprir suas múltiplas atividades, especificamente a

financeira que se preocupa em obter, gerir e aplicar recursos necessários para

fazer funciona as instituições.

No Estado moderno, as finanças públicas não são somente um meio de assegurar a cobertura para as despesas do governo, mas, também fundamentalmente, um meio para intervir na economia, de exercer pressão sobre a estrutura produtiva e modificar as regras da distribuição de renda (SILVA, 2004, p. 23).

É neste contexto que a contabilidade estuda a atividade financeira do

Estado, englobando o estudo da receita, da despesa, do orçamento e do

crédito público, e de todos os atos provenientes da ação dos administradores

que incidam sobre o patrimônio, analisando os diversos aspectos da atuação

do Ente público na prestação de serviços necessários ao cidadão (SILVA,

2004).

Dentre as principais funções da contabilidade pública, destacam-se estudar, orientar, controlar, e demonstrar a organização dos orçamentos e a sua execução, além de todos os atos e fatos administrativos referentes à fazenda pública (WILKEN apud ARAÚJO e ARRUDA, 2004, p. 31).

45

De acordo com Slomski (2003) a contabilidade pública possui

características próprias, que produziram um sistema altamente sofisticado,

representado no quadro 2 abaixo:

Principais características da contabilidade pública

Legislação Lei nº 4.320/64

Registro Atos e Fatos Administrativos

Regime de Escrituração Contábil Regime Misto, sendo: Regime de Caixa para as receitas e Regime de Competência para as despesas.

Resultado Superávit ou déficit de gestão

Sistemas de Escrituração Quatro sistemas independentes. São eles: Sistema Orçamentário; Sistema Financeiro; Sistema Patrimonial e Sistema de Compensação.

Demonstrações Financeiras Balanço Orçamentário; Balanço Financeiro; Demonstração das Variações Patrimoniais e Balanço Patrimonial.

Fonte: Adaptado de Slomski (2003, p. 23-32). Quadro 4: Principais características da contabilidade pública

Assim, de acordo com Kohama (2006), a contabilidade pública, além de

registrar todos os fatos contábeis (modificativos, permutativos e mistos),

registra os atos potenciais praticados pelo administrador, que poderão alterar

qualitativa e quantitativamente o patrimônio.

Neste contexto, Ferreira (2008), afirma ser importante considerarmos a

insubsistências e as superveniências.

Insubsistências Ativas: Ocorrem por fatos que não podem mais existir

por qualquer motivo causando uma diminuição do Ativo e do Patrimônio

Líquido. São representativas de despesas, contas de natureza devedora. O

Ativo deixa de existir.

Insubsistências Passivas: Ocorrem por fatos que não mais podem

existir, isto é, deixam de existir por qualquer motivo causando uma diminuição

do Passivo (baixa de obrigações) e aumento do Patrimônio Líquido. São contas

representativas de receitas, portanto, de natureza credora.

46

Superveniências Ativas: Ocorrem por fatos inesperados e inevitáveis

aumentando o Ativo e Patrimônio Líquido. É uma conta de resultado (receita),

portanto, conta de natureza credora.

Superveniências Passivas: Ocorrem por fatos inesperados e inevitáveis

causando aumentos do Passivo (aumento de obrigações) e diminuição do

Patrimônio Líquido. São contas representativas de despesas, portanto, contas

de natureza devedora.

Diante do que foi colocado, pode-se concluir que o objetivo da

Contabilidade Pública é o propiciar aos gestores informações atualizadas e

exatas para auxiliar as tomadas de decisões, aos órgãos de controle interno e

externo para o cumprimento da legislação e às instituições governamentais e

particulares informações estatísticas e outras de interesse destas mesmas

instituições.

Segundo Slomski (2003) a importância da contabilidade na atividade

pública está no controle do uso do patrimônio em razão dos objetivos sociais

pretendidos, independente da geração de recursos financeiros, nos resultados

sociais que proporcionem bem-estar a maioria da população.

Assim:

A contabilidade pública é uma especialização da Ciência Contábil que registra, controla e estuda os atos e fatos administrativos e econômicos operados no patrimônio de uma entidade pública, possibilitando a geração de informações, variações e resultados sobre a composição deste, auferidos por sua administração e pelos usuários (ANDRADE, 2007, p. 05).

Araújo e Arruda (2004) colocam que a contabilidade pública tem

evoluído consideravelmente e dado ao volume de informações que apresenta

tem se constituído em ações e atividades cada vez mais complexas.

Para isso, foram instituídos alguns princípios denominados de Princípios

de Contabilidade e, que servem, portanto, para orientar a prática profissional.

Os Princípios Fundamentais da Contabilidade – PFC – representam a essência

das doutrinas e teorias relativa à Ciência da Contabilidade, e o seu

entendimento predominante nos universos científico e profissional de nosso

país. Concernem, pois, à Contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência

social, cujo objeto é o Patrimônio das Entidades. De acordo com a Resolução

47

CFC nº 750 de 29 de dezembro de 1993, são Princípios Fundamentais de

Contabilidade:

a) Princípio da Entidade

b) Princípio da Continuidade

c) Princípio da Oportunidade

d) Princípio do Registro pelo valor original

e) Princípio da Atualização monetária

f) Princípio da Competência

g) Princípio da Prudência

Assim, ao se estabelecer seus princípios faz uso e referência aos

princípios que regem a metodologia contábil. Com a Lei de Responsabilidade

Fiscal, Lei Federal nº 101 de 04/05/2000, tornou-se obrigatório o uso dos

Princípios Fundamentais de Contabilidade estabelecidos pela Resolução 750

do Conselho Federal de Contabilidade de 29.12.1993, publicada no D.O.U. de

31.12.1993.

a) Entidade: reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e

afirma a autonomia patrimonial, a necessidade de diferenciar um

patrimônio particular de uma pessoa física, independentemente dos

patrimônios das pessoas jurídicas individuais, do conjunto de

pessoas jurídicas, sem considerar se a finalidade é ou não a

obtenção de lucro. O patrimônio de uma pessoa física não se

confunde, nem se mistura com o patrimônio da pessoa jurídica em

que fizer parte. Na prática, como exemplo: despesas particulares de

pessoas físicas (administradores, funcionários e terceiros) não

devem ser consideradas como despesas da empresa; bens

particulares de administradores não devem ser confundidos ou

registrados na empresa.

Este princípio, segundo Araújo e Arruda (2004) encontra aplicação na

contabilidade pública, ao mencionar que o patrimônio de uma entidade não se

confunde com o patrimônio de outra, pois cada uma apresenta personalidade

própria. Portanto, os registros contábeis devem ser elaborados considerando a

autonomia da entidade.

b) Continuidade: continuidade ou não de uma Entidade (empresa), bem

como a sua vida estabelecida ou provável, devem ser consideradas

48

quando da classificação e avaliação das variações patrimoniais. Essa

continuidade influencia o valor econômico dos ativos e, em muitos

casos, o valor e o vencimento dos passivos, especialmente quando a

extinção da sociedade tem prazo determinado, previsto ou previsível.

Para Araújo e Arruda (2004), este princípio na contabilidade pública

poderia ser conceituado como princípio da gestão continuada, onde as ações

devem ser continuas e por tempo indeterminado, portanto os registros

contábeis devem seguir essa premissa.

c) Oportunidade: refere-se ao momento em que devem ser registradas

as variações patrimoniais. Devem ser feitas imediatamente e de

forma integral, independentemente das causas que as originaram,

contemplando os aspectos físicos e monetários.

Esse princípio, de acordo com Araújo e Arruda (2004), aplica-se a

contabilidade pública, pois quando o gestor público necessita tomar uma

decisão deve pautar-se por informações confiáveis e em registros contábeis

elaborados por procedimentos técnicos adequados, de forma cronológica e

oportuna.

d) Registro pelo Valor Original: as variações do patrimônio devem ser

registradas pelos valores originais das transações com o mundo

exterior, expressos em valor presente e na moeda do país. Esses

valores serão mantidos na avaliação das variações patrimoniais

posteriores, quando configurarem agregações ou decomposições no

interior da entidade.

O princípio fundamental do registro pelo valor original, aplica-se segundo

Araújo e Arruda (2004) com perfeição à contabilidade pública, uma vez que

estabelece que todos os bens e direitos devem ser registrados pelo preço real

da aquisição , já as obrigações, pelo valor da dívida que deve ser reembolsada.

e) Atualização Monetária: refere-se à correção monetária proveniente

da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional. Não

representava uma nova avaliação e sim o ajustamento dos valores

originais para a data presente, aplicando os indexadores oficiais.

Este princípio aplica-se a contabilidade pública, com algumas ressalvas

observadas por Araújo e Arruda (2004). Neste princípio, as demonstrações

contábeis passam a ser expressas em termos de moeda nacional de poder

49

aquisitivo na data do último balanço, desde que os índices praticados sejam

compatíveis com as taxas de inflação.

f) Competência: estabelece que as Receitas e as Despesas devem ser

incluídas na apuração do resultado do período em que foram

geradas, sempre simultaneamente quando se correlacionarem

(Princípio da Confrontação das Despesas com as Receitas),

independentemente de recebimento ou pagamento. Prevalece

sempre o período em que ocorreram.

As Receitas são consideradas realizadas (ocorridas):

I – a nas vendas a terceiros de bens ou serviços, quando estes

efetuarem o pagamento ou assumirem o compromisso firme de

efetivá-lo, quer pela investidura na propriedade do bem

vendido, quer pela fruição (usufruto) do serviço prestado;

II – quando do desaparecimento parcial ou total de um passivo,

qualquer que seja o motivo;

III – pela geração natural de novos ativos independentemente

da intervenção de terceiros.

As Despesas são consideradas incorridas:

I – Quando deixar de existir o correspondente valor ativo, por

transferência de sua propriedade para terceiro;

II – pela diminuição ou extinção do valor econômico do ativo;

III – pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente

ativo.

Dos mais importantes princípio da Contabilidade, o princípio da

competência segundo Araújo e Arruda (2004) é de difícil entendimento devido

ao hábito de somente considerar a existência de uma operação quando ocorre

uma movimentação de caixa. Para efeito de planejamento e controle das

operações de uma entidade a adoção do princípio de competência possibilita

um conhecimento muito mais amplo e efetivo sobre a situação patrimonial da

entidade. Ao se considerar o fato gerador da receita ou da despesa,

independentemente de seu recebimento ou pagamento, reconhece-se todos os

fatos que estejam afetando o patrimônio da entidade, no momento em que eles

ocorrem e não somente quando da movimentação de caixa. A adoção do

princípio de competência pode propiciar uma melhor apuração do resultado do

50

exercício, e possibilitar uma melhor avaliação do patrimônio da entidade,

traduzindo-se em um efetivo instrumento de planejamento e controle por

obrigar os gestores a realizarem análises, conferências, ajustes, etc.,

possibilitando um maior conhecimento sobre a ação.

g) Prudência: determina a adoção do menor valor para os componentes

do Ativo e do maior valor para os componentes do Passivo, sempre

que se apresentarem alternativas igualmente válidas para a

quantificação das variações patrimoniais que alterem o PL. Impõe a

escolha da hipótese de que resulte menor PL, sempre que se

apresentarem opções igualmente aceitáveis diante dos demais

PFC’s. Baseia-se na premissa de “nunca antecipar lucros e sempre

prever possíveis prejuízos”. A aplicação desse PFC ganha ênfase

quando devem ser feitas estimativas para definir valores futuros com

razoável grau de incerteza.

O princípio da prudência determina a adoção do menor valor para os

componentes do ativo e do maior para os do passivo, sempre que se

apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações

patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Neste contexto, Araújo e Arruda

(2004) apontam que princípio da prudência impõe a escolha da hipótese de

que resulte menor patrimônio líquido, quando se apresentarem opções

igualmente aceitáveis diante dos demais princípios fundamentais da

contabilidade.

Portanto, no se que refere a adoção dos princípios de contabilidade,

Araújo e Arruda (2004), entendem que são normalmente aceitos e aplicáveis à

contabilidade pública.

2.2.2 Escrituração contábil

De acordo com Kohama (2006) a contabilidade pública é um dos mais

complexos ramos da ciência contábil, não só pela sua importância, mas

também, pela sua complexidade no Estado Moderno. Opera assim, como um

sistema integrador de registros (Figura 6).

51

Fonte: Silva (2004, p. 199)

Figura 7: Integração das áreas de gestão e administração financeira.

Neste sentido, o patrimônio público constitui o campo de aplicação da

Contabilidade Pública, registrando por registros próprios, os fatos e atos

administrativos, conforme aponta Silva (2004).

De acordo com Mota (2006), os fatos contábeis são resultantes da

escrituração de atos e fatos administrativos. Ou seja, quando atos e fatos

administrativos são registrados tornam-se fatos contábeis.

A contabilidade tem assim uma missão que segundo Mota (2006) é de

coletar dados para cumprir uma de suas principais funções: controlar o

patrimônio, uma vez que tudo aquilo que possa provocar de imediato ou no

futuro alteração quer seja ela de natureza quantitativa ou qualitativa deve ser

contabilizado de forma a se tornar um fato contábil (figura 8).

Fonte: Adaptado de Mota (2006, p. 199).

Figura 8: Classificação dos fatos contábeis públicos

CRÉDITO PÚBLICO

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

E

CONTABILIDADE

GESTÃO E

ADMINISTRAÇÃO

ORÇAMENTO

FATO CONTÁBIL

ATO ADMINISTRATIVO: (não envolve bens, direitos e obrigações)

FATO ADMINISTRATIVO: (envolve bens, direitos e obrigações).

52

Conforme o artigo 83, da Lei Federal Nº. 4.320/64, através de contas a

contabilidade faz evidenciar a “a situação de todos quantos, de qualquer modo,

arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens

pertencentes ou confiados à Fazenda Pública”.

Pode-se colocar então que a contabilidade serve-se das contas para os

registros, os controles a as análises de atos administrativos ocorridos na

Administração Pública e conforme o artigo 86 da Lei Federal Nº. 4.320/64, a

“escrituração contábil das operações financeiras e patrimoniais efetuar-se-á

pelo método das partidas dobradas”.

2.2.3 Regimes contábeis

Os regimes contábeis de acordo com Araújo e Arruda (2004) é o

processo pelo qual o orçamento e os demais fatos administrativos contábeis

que afetam o patrimônio governamental são contabilizados.

Os regimes contábeis que podem ser utilizados pela contabilidade são:

a) Regime de competência;

b) Regime de caixa;

c) Regime misto.

De acordo com Araújo e Arruda (2004), no regime de competência, as

receitas e as despesas devem ser incluídas na apuração do resultado do

período em que ocorrer, sempre simultaneamente quando se correlacionarem,

independentemente de recebimento ou pagamento (art. 9º da Resolução nº

750/93 do Conselho Federal de Contabilidade - CFC). O regime de

competência é também denominado pela doutrina de regime de exercício ou

regime jurídico.

O regime de caixa, também denominado pela doutrina de regime de

gestão anual, é aquele em que são consideradas receitas e despesas do

exercício tudo o que for recebido ou pago durante o ano financeiro, mesmo que

se trate de receitas e despesa referentes a exercícios anteriores, conforme

coloca Araújo e Arruda (2004).

53

Para Araújo e Arruda (2004), no regime misto adota-se ao mesmo tempo

o de caixa e o de competência. Esse regime é o adotado pela contabilidade

pública no Brasil, ou seja, registra-se a despesa pelo regime de competência e

a receita pelo de caixa.

Podemos dizer que regime contábil é um procedimento ou técnica

adotado para a realização dos registros dos fatos aplicados à ciência contábil,

estabelecendo as diretrizes para classificação das variações ou alterações

patrimoniais.

O reconhecimento simultâneo das receitas e despesas, quando

correlatas, é conseqüência natural do respeito ao período em que ocorrer sua

geração (art. 9º, § 2º da Resolução CFC nº 750/93).

2.3 Orçamento

O Orçamento Público, em sentido amplo, é um documento legal

(aprovado por lei) contendo a previsão de receitas e a estimativa de despesas

a serem realizadas por um Governo em um determinado exercício (geralmente

um ano).

O orçamento público é uma lei de iniciativa do Poder Executivo que estabelece as políticas públicas para o exercício a que se referir, terá como base o plano plurianual e será elaborado respeitando-se a lei de diretrizes orçamentárias aprovada pelo Poder Legislativo. (SLOMSKI, 2003, p. 304).

Os primeiros orçamentos que se têm notícia eram os chamados

orçamentos tradicionais, que se importavam apenas com o gasto (a ênfase no

da peça orçamentária se dava no gasto). Eram simples documentos de

previsão de receita e autorização de despesas sem nenhum vínculo com um

sistema de planejamento governamental. Fazia-se uma estimativa de quanto

se ia arrecadar e decidia-se o que comprar, sem nenhuma prioridade ou senso

distributivo na alocação dos recursos públicos (KOHAMA, 2006).

O Orçamento evoluiu ao longo da história para um conceito de

Orçamento-Programa, segundo o qual o Orçamento não é apenas um mero

54

documento de previsão da arrecadação e autorização do gasto, mas um

documento legal que contém programas e ações vinculados a um processo de

planejamento público, com objetivos e metas a alcançar no exercício (a ênfase

no Orçamento-Programa é nas realizações do Governo).

O Orçamento Público no Brasil (Orçamento Geral da União) inicia-se

com um texto elaborado pelo Poder Executivo e entregue ao Poder Legislativo

para discussão, aprovação e conversão em lei.

O documento contém a estimativa de arrecadação das receitas federais

para o ano seguinte e a autorização para a realização de despesas do

Governo. Porém, está atrelado a um forte sistema de planejamento público das

ações a realizar no exercício.

O OGU – Orçamento Geral da União – é constituído de três peças em

sua composição: o Orçamento Fiscal, o Orçamento da Seguridade Social e o

Orçamento de Investimento das Empresas Estatais Federais.

Existem princípios básicos que devem ser seguidos para elaboração e

controle dos Orçamentos Públicos, que estão definidos no caso brasileiro na

Constituição, na Lei 4.320/64, no Plano Plurianual, na Lei de Diretrizes

Orçamentárias , na Lei Orçamentária Anual e recente Lei de Responsabilidade

Fiscal (ANDRADE, 2002).

A Constituição Federal de 1988 atribui ao Poder Executivo a

responsabilidade pelo sistema de Planejamento e Orçamento, e a iniciativa dos

seguintes projetos de lei:

a) Plano Plurianual (PPA)

b) Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)

c) Lei de Orçamento Anual (LOA)

O PPA é a lei que define as prioridades do Governo pelo período de

quatro anos. O projeto de lei do PPA deve ser enviado pelo poder executivo até

o dia 31 de agosto do primeiro ano de seu mandato (quatro meses antes do

encerramento da sessão legislativa) (ANGÉLICO, 1995).

De acordo com a Constituição Federal, o PPA deve conter “as diretrizes,

objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital

e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração

continuada”.

55

A LDO é a lei anterior à lei orçamentária, que define as metas e

prioridades em termos de programas a executar pelo Governo. O projeto de lei

da LDO deve ser enviado pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo até o dia

15 de abril de cada ano (oito meses e meio antes do encerramento da sessão

legislativa).

De acordo com a Constituição Federal, a LDO estabelece as metas e

prioridades para o exercício financeiro subseqüente, orienta a elaboração do

Orçamento (Lei Orçamentária Anual), dispõe sobre alterações na legislação

tributária e estabelece a política de aplicação das agências financeiras de

fomento (ANDRADE, 2002).

Com base na LDO aprovada a cada ano pelo Poder Legislativo, o Poder

Executivo, consolida a proposta orçamentária de todos os órgãos dos Poderes

(Legislativo, Executivo e Judiciário) para o ano seguinte no Projeto de Lei

encaminhado para discussão e votação ao Poder Legislativo.

Por determinação constitucional, o Governo é obrigado a encaminhar o

Projeto de Lei Orçamentária Anual ao Poder Legislativo até 31 de agosto de

cada ano (quatro meses antes do encerramento da sessão legislativa).

A Lei Orçamentária Anual disciplina todos os programas e ações do

governo ano do exercício. Nenhuma despesa pública pode ser executada sem

estar consignada no Orçamento.

A Constituição determina que o Orçamento deva ser votado e aprovado

até o final de cada Legislatura (15/12 de cada ano). Depois de aprovado, o

projeto é sancionado e publicado pelo Poder Executivo, transformando-se na

Lei Orçamentária Anual.

A Lei Orçamentária Anual (LOA) estima as receitas e autoriza as

despesas do Governo de acordo com a previsão de arrecadação. Se durante o

exercício financeiro houver necessidade de realização de despesas acima do

limite que está previsto na Lei, o Poder Executivo submete ao Poder Legislativo

um novo projeto de lei solicitando crédito adicional.

Por outro lado, a necessidade de contenção dos gastos obriga o Poder

Executivo muitas vezes a editar Decretos com limites orçamentários e

financeiros para o gasto, abaixo dos limites autorizados pelo poder legislativo.

São os intitulados Decretos de Contingenciamento, que limitam as despesas

abaixo dos limites aprovados na lei orçamentária.

56

Segundo Andrade (2002) A Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada

em 2000 pelo Congresso Nacional introduziu responsabilidades para o

administrador público em relação aos Orçamentos da União, dos Estados e

Municípios, como o limite de gastos com pessoal, por exemplo.

A LRF instituiu a disciplina fiscal para os três Poderes: Executivo,

Legislativo e Judiciário, estendendo também a disciplina aos Orçamentos de

Estados e Municípios (SLOMSKI, 2003).

2.3.1 Princípios orçamentários

Princípios orçamentários são premissas, linhas norteadoras a serem

observadas na concepção e execução da lei orçamentária.

Princípio orçamentário é um conjunto de proposições orientadoras que balizam os processos e as práticas orçamentárias, com vistas a dar-lhe estabilidade e consistência, sobretudo ao que se refere a sua transparência e ao seu controle pelo Poder Legislativo e demais instituições da sociedade (PISCITELLI, et al, 2004, p. 43).

Lima (2000) aponta que alguns doutrinadores afirmam que os princípios

orçamentários não têm caráter absoluto ou dogmático, tendo divergências

sobre estrutura e conceitos. Entretanto, estes princípios são os mais aceitos

pela maioria dos doutrinadores:

a) Princípio da legalidade: Todas as leis orçamentárias (PPA, LDO e

LOA) são encaminhadas pelo Poder Executivo para discussão e

aprovação pelo Poder Legislativo.

b) Princípio da anualidade/periodicidade: O orçamento deve ter

vigência limitada a um exercício financeiro. Esse princípio está

consagrado na legislação brasileira por meio da Constituição Federal

(art. 165, inciso III) e Lei nº. 4.320/64 (arts. 2º e 34).

c) Princípio da unidade/totalidade: O orçamento deve ser uno, ou seja,

deve haver somente um orçamento para um exercício financeiro, com

todas as receitas e despesas. Esse princípio está consagrado na

57

legislação brasileira por meio da Constituição Federal (art. 165, §5º) e

Lei nº 4.320/64 (art. 2º).

d) Princípio da universalidade: O orçamento deve conter todas as

receitas e despesas referentes aos Poderes da União, seus fundos,

órgãos e entidades da administração direta e indireta. Esse princípio

está consagrado na legislação brasileira por meio da Constituição

Federal (art. 165, §5º) e Lei nº 4.320/64 (art. 2º).

e) Princípio da exclusividade/pureza: A lei orçamentária não poderá

conter matéria estranha à previsão das receitas e à fixação das

despesas. Exceção se dá para as autorizações de créditos

suplementares e operações de crédito, inclusive ARO (antecipação de

receita orçamentária). Esse princípio está consagrado na legislação

brasileira por meio da Constituição Federal (art. 165, §8º) e Lei nº

4.320/64 (art. 7º).

f) Princípio da especificação/especialização/discriminação: Veda as

autorizações de despesas globais. As receitas e despesas devem ser

discriminadas, demonstrando a origem e a aplicação dos recursos. O

§4º do art. 5º da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF estabelece a

vedação de consignação de crédito orçamentário com finalidade

imprecisa, exigindo a especificação da despesa. As exceções a esse

princípio orçamentário são os programas especiais de trabalho e a

reserva de contingência (art. 5º, III da LRF).

g) Princípio da publicidade: Esse princípio zela pela garantia da

transparência e total acesso a qualquer interessado às informações

necessárias ao exercício da fiscalização sobre a utilização dos

recursos arrecadados dos contribuintes. Deve ser divulgado por meio

de veículos oficiais de comunicação para conhecimento público e para

gerar eficácia de sua validade enquanto ato oficial de autorização de

arrecadação de receitas e execução de despesas.

h) Princípio do equilíbrio: Esse princípio visa assegurar que as

despesas não serão superiores à previsão das receitas. Contabilmente

o orçamento está sempre equilibrado, pois se as receitas esperadas

forem inferiores às despesas fixadas, e o governo resolver não cortar

58

gastos, a diferença deve ser coberta por operações de crédito que, por

lei, devem também constar do orçamento.

i) Princípio do orçamento bruto: Esse princípio estabelece que todas

as receitas e despesas devem constar do orçamento em seus valores

brutos, sem qualquer tipo de dedução, de forma a permitir efetivo

controle financeiro do orçamento e universalidade. Esse princípio está

consagrado na legislação brasileira por meio da Lei nº 4.320/64 (art.

6º).

j) Princípio da não-afetação (não-vinculação) das receitas: Esse

princípio dispõe que nenhuma receita de impostos poderá ser

reservada ou comprometida para atender a certos e determinados

gastos (CF/88, art. 167, IV). Pretende-se, com isso, evitar que as

vinculações reduzam o grau de liberdade do planejamento. As

exceções estão dispostas nos arts. 158, 159, 198 e 212 da CF/88.

Quando as receitas de impostos são vinculadas a despesas

específicas, diz-se, em geral, que essas despesas são obrigatórias.

k) Princípio da programação: Esse princípio dispõe que o orçamento

deve ter o conteúdo e a forma de programação.

l) Princípio da clareza: Esse princípio dispõe que o orçamento deve

ser expresso de forma clara, ordenada e completa, embora diga

respeito ao caráter formal, tem grande importância para tornar o

orçamento um instrumento eficiente de governo e administração.

Os princípios orçamentários são colocados e considerados de diversas

formas de acordo com a doutrina dos autores, porém estes são os mais

difundidos e relevantes para a administração pública na orientação da

execução de seus trabalhos (LIMA, 2000).

Desse modo, além de instrumento de planejamento na formulação das

ações de políticas públicas o orçamento passa a ser ferramenta para a ação

gerencial do Estado, visto que introduz novos conceitos e indicadores que

permitem avaliar a eficácia e a efetividade da prestação dos serviços públicos

(PISCITELLI et al., 2004).

Para tanto é necessário ter em vista uma efetiva cobrança de resultados

pela sociedade das ações desenvolvidas pelos governos, as quais devem ser

aferidas em termos de benefícios que lhe foram prestados, sem esquecer, é

59

claro, da importância de promover a responsabilização dos "gerentes do poder"

em caso de má gestão na realização dos gastos.

2.4 Receita pública

Receita Pública é a soma de ingressos, impostos, taxas, contribuições e

outras fontes de recursos, arrecadados para atender às despesas públicas.

A Lei nº. 4.320, de 17 de março de 1964, representa o marco

fundamental da Classificação da Receita Pública Orçamentária (ARAÚJO;

ARRUDA, 2004).

No capítulo II da referida Lei, intitulado “DA RECEITA”, o texto legal trata

das entidades de Direito Público interno, ou seja, da União, dos Estados, do

Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias, explicitando em seu

próprio corpo, no art. 11, § 4º, a discriminação das fontes de receitas pelas

duas categorias econômicas básicas, as receitas correntes e as receitas de

capital.

Ainda no próprio texto, o art. 8º, § 1º, estabelece que os itens da

discriminação da receita mencionados no art. 11 serão identificados por

números de código decimal, na forma do Anexo III da referida Lei. O conjunto

de informações que formam o código é conhecido como classificação por

natureza de receita (SLOMSKI, 2003).

No decorrer do tempo, esse anexo sofreu várias alterações,

incorporando as transformações econômicas do país e seu reflexo nas receitas

públicas.

Em 2001, para atender às disposições da Lei Complementar nº. 101, de

4 de maio de 2000, Lei de Responsabilidade Fiscal, no que se refere à

uniformização dos procedimentos de execução orçamentária, no âmbito da

União, Estados, Distrito Federal e Municípios, o conteúdo do Anexo III da Lei

nº. 4.320, de 1964 foi consubstanciado no Anexo I da Portaria Interministerial

STN/SOF nº. 163, de 4 de maio de 2001, com a discriminação da receita para

todos os entes da Federação, ficando facultado o seu desdobramento para

atendimento das respectivas peculiaridades (ANDRADE, 2002).

60

Cabe à SOF – Secretaria de Orçamento Federal – o detalhamento da

classificação da receita a ser utilizado, no âmbito da União, o que é feito por

meio de portaria de classificação orçamentária por natureza de receita (LIMA;

CASTRO, 2000).

A atuação da Administração Pública nos campos da receita e da

despesa públicas, através da sua atividade financeira, visa ao atendimento das

necessidades coletivas, transformadas pelo poder político em necessidades

públicas.

2.5 Despesa pública

Despesa pública é aquela da qual se ocupa a Administração que, pelo

critério político da decisão de gasto, objetiva atender ao interesse público, de

forma direta ou indireta.

A LRF classifica a despesa pública em duas categorias (FERRAZ, 2001,

p. 199), “as despesas obrigatórias de caráter continuado e as despesas

derivadas de contratos e demais atos administrativos” ou cuja repercussão não

se estenda os três exercícios consecutivos.

A despesa obrigatória de caráter continuado (art. 17 da Lei nº. 101/2000)

é aquela que provém de lei, medida provisória ou ato administrativo normativo

que fixe para o ente federativo obrigação legal de sua execução por período

superior a dois exercícios.

Os atos que criarem ou aumentarem tais despesas deverão ser

instruídos com a estimativa de impacto orçamentário-financeiro no exercício em

que deva entrar em vigor e nos dois subseqüentes, além de demonstrar a

origem dos recursos para seu custeio (art. 17, § 1º da Lei nº. 101/2000). Desta

exigência estão dispensadas as despesas destinadas ao serviço da dívida e ao

reajustamento de remuneração de pessoal (art. 17, § 7º da Lei nº. 101/2000).

A despesa compreende os recursos gastos na gestão, a serem

computados na apuração do resultado do exercício. São os gastos realizados

pelos órgãos públicos em bens e serviços, com a dotação autorizada pelo

61

orçamento. As despesas, para serem incorridas no serviço público, precisam

estar autorizadas na lei orçamentária.

Segundo a classificação econômica da despesa, as despesas são

desdobradas nas seguintes categorias econômicas:

a) Despesas Correntes: Compreendem as de Pessoal e Encargos

Sociais, Juros e Encargos da Dívida Interna e Externa e Outras

Despesas Correntes, observadas as conceituações existentes nos

dispositivos legais e normas pertinentes em vigor.

b) Despesas de Capital: Correspondem às de Investimentos, Inversões

Financeiras, Amortização da Dívida Interna, Amortização da Dívida

Externa e Outras Despesas de Capital, observadas as

conceituações legais pertinentes em vigor.

A Lei n. 4.320/64 trata, nos artigos. 58 a 70 das fases da despesa

pública, em que esta é realizada em seis estágios: programação, licitação,

empenho, liquidação, suprimento e pagamento (LIMA FILHO, 2004).

Para Andrade (2007), os estágios da despesa são etapas que devem ser

observadas na realização da despesa pública. E dentre estes se destacam: o

empenho, a liquidação e o pagamento.

2.5.1 Tipos de empenho

O empenho é o primeiro estágio da despesa pública. É ato emanado de

autoridade competente que cria, para o Estado, obrigação de pagamento

pendente, ou não, de implemento de condição. É a garantia de que existe o

crédito necessário para a liquidação de um compromisso assumido. O

empenho da despesa não poderá exceder o limite dos créditos concedidos. É

vedada a realização de despesa sem prévio empenho (ANDRADE, 2002).

O empenho é um instrumento importante não só para assegurar o princípio da legalidade, ou seja, se há autorização orçamentária para realização da despesa, mas, sobretudo para assegurar o equilíbrio orçamentário, já que a essa não poderá exceder o crédito autorizado. (ANDRADE, 2002, p. 98)

62

Nesse sentido, o empenho precede a realização da despesa e está

restrito ao limite de crédito orçamentário, conforme o artigo 59 da Lei 4.320/64,

que diz “o empenho da despesa não poderá exceder o limite de créditos

concedidos”, conforme Mota (2006, p. 208).

O empenho apresenta, segundo Kohama (2006), três modalidades: o

empenho ordinário, o empenho por estimativa e o empenho global.

O empenho ordinário ou normal, de acordo com Kohama (2006),

consiste no ato emanado de autoridade competente, que cria para o estado

obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição; a

garantia de que existe o crédito necessário para a liquidação de um

compromisso assumido; é o primeiro estágio da despesa pública.

Na modalidade de empenho por estimativa, Kohama (2006), afirma que

é o empenho da despesa destinado à realização de despesas cujo valor não

possa ser determinado com antecedência durante o exercício financeiro.

Kohama (2006) coloca que na modalidade de empenho global é o

empenho da despesa destinado a atender despesa com finalidade determinada

e quantificada, mas cuja liquidação e pagamento devam ocorrer, normalmente,

em cada mês no decorrer do exercício financeiro.

Para tanto, em qualquer procedimento, utiliza-se a Nota de Empenho

que é o documento correto para registrar as operações que envolvem

despesas orçamentárias realizadas pela Administração Pública federal, ou

seja, o comprometimento de despesa, seu reforço ou anulação, indicando o

nome do credor, a especificação e o valor da despesa, bem como a dedução

desse valor do saldo da dotação própria (ANDRADE, 2007).

A anulação do empenho é o cancelamento total ou parcial de valor

financeiro que já cumpriu a primeira etapa da despesa pública. Segundo

Andrade (2007) ela deve ocorrer sempre que haja necessidade de se atentar

para os procedimentos legais.

Para Andrade (2007), a liquidação é o segundo estágio da despesa

pública. É o procedimento realizado sob a supervisão e responsabilidade do

ordenador de despesas para verificar o direito adquirido pelo credor, ou seja,

que a despesa foi regularmente empenhada e que a entrega do bem ou serviço

foi realizada de maneira satisfatória, tendo por base os títulos e os documentos

comprobatórios da despesa. Essa verificação tem por fim apurar:

63

a) a origem e o objeto do que se deve pagar;

b) a importância exata a pagar e;

c) a quem se deve pagar a importância, para extinguir a obrigação.

O pagamento é o último estágio da despesa pública. É quando se efetiva

o pagamento ao ente responsável pela prestação do serviço ou fornecimento

do bem, recebendo a devida quitação. Caracteriza-se pela emissão do cheque

ou ordem bancária em favor do credor, facultado o emprego de suprimento de

fundos, em casos excepcionais. O pagamento da despesa só será efetuado

quando ordenado após sua regular liquidação. (ANDRADE, 2007)

Com a promulgação da Lei nº. 101/2000 – Lei de Responsabilidade

Fiscal e a importância que a contabilidade pública tem no sentido de atender a

sociedade é necessário aprofundar os estudos relativos ao conhecimento dos

resultados da execução do orçamento, do cumprimento das metas, com vistas

a dar transparência aos atos e fatos públicos e ao dever de prestação de

contas à sociedade. (SILVA, 2004)

Realizado o empenho, passa-se à próxima fase da despesa, a

liquidação, que consiste na verificação do implemento de condição, ou seja, do

direito do credor com base nos documentos comprobatórios de seu crédito (art.

63 da Lei n. 4.320/64). A verificação busca apurar se o objeto da despesa foi

realmente alcançado, por qual valor exato, e a quem se paga este numerário.

O último estágio da despesa é o pagamento, cuja ordem consiste no

despacho de autoridade competente, determinando que a despesa seja paga

(art. 64 da Lei n. 4.320/64). O chefe do executivo – Prefeito – originariamente,

é esta autoridade, que poderá delegar a competência aos seus secretários ou a

outros servidores. Como forma de fiscalização prévia, o parágrafo único dispõe

que a ordem de pagamento será emitida apenas em documentos processados

por órgão contábil do ente público.

O pagamento da despesa, segundo art. 65 da Lei n. 4.320/64, efetua-se

pela tesouraria, por serviço instituído, por estabelecimento bancário e,

excepcionalmente, por adiantamento. É importante ressaltar que o art. 66 da

Lei n. 4.320/64 dispõe o previsto no art. 100 da Constituição Federal, o qual

determina que, os pagamentos fazem-se por ordem cronológica de

apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos crédito

adicional aberto para este fim.

64

2.6 Demonstrações contábeis

No que se refere aos registros de resultados nas entidades públicas, os

resultados são apurados nos Balanços Orçamentário, Financeiro e na

Demonstração das Variações Patrimoniais. O resultado econômico do exercício

é somado ou diminuído (depende do caso) do saldo da conta Saldo

Patrimonial, no Balanço Patrimonial. O resultado quando é positivo, é

denominado superávit. Já quando o resultado é negativo, é denominado déficit.

Araújo e Arruda (2004), afirmam que superávit é o excesso de receita

sobre a despesa; saldo credor que representa a supremacia dos ganhos sobre

os custos; lucro; redito positivo. Já o déficit constitui-se pela deficiência de

receita sobre a despesa, ou ainda, insuficiência das operações da entidade,

demonstrada por comparação entre as receitas e as despesas, onde estas são

maiores que aquelas.

2.7 Prestação de contas públicas

A Ciência Contábil tem grande importância para a sociedade como um

todo. Segundo Silva (2004, p.195) “a contabilidade teve um grande avanço á

medida que floresceram as formas democráticas de organização política e

estas estão na razão direta da utilização”, uma vez que está “intimamente

ligada ao regime democrático adotado nos Estados modernos”.

A ciência da contabilidade para as instituições públicas tem evoluído enormemente nos últimos tempos e trabalhos de relevante valor científico estão surgindo de estudiosos da área, principalmente com o objetivo de promover uma gestão fiscal responsável (ANDRADE, 2007, p. 3).

Como já afirmado anteriormente, além da mensuração do patrimônio e

das escritas fiscais, a Contabilidade é reconhecida como a principal ferramenta

para transformação de fatos do dia a dia em informações que auxiliam os

65

gestores nas tomadas de decisões para o desenvolvimento das entidades quer

sejam públicas ou privadas.

Assim, a prestação de contas é um procedimento, que possui prazos

fixados, onde o responsável está obrigado a comprovar os atos e fatos

administrativos sobre os numerários e valores que lhes foram destinados

(SILVA, 2004).

Portanto, estão sujeitos à prestação de contas o titular do Poder

Executivo e os responsáveis por diversas unidades da Administração Direta ou

Indireta.

No primeiro, temos a prestação de contas por meio de Balanços Gerais do Estado com base na qual o Tribunal de Contas deverá apresentar um minucioso relatório conclusivo sobre os resultados do exercício, emitindo parecer prévio que servirá de apoio ao Poder Legislativo na apreciação da ação administrativa do Governo [...] No segundo, temos as prestações de contas que devem ser apresentadas pelos diversos setores com relação a gestão contábil e financeira dos responsáveis por bens e valores do Estado e, ainda, com relação as despesas decorrentes de convênios, ajustes, e concessão de subvenções (SILVA, 2004, p. 378).

O processo de prestação de contas dos órgãos públicos é o

demonstrativo organizado pelo responsável, acompanhado ou não dos

documentos comprobatórios das operações realizadas, que respeitados os

prazos legais, devem ser encaminhado ao órgão responsável (ANDRADE,

2007).

A elaboração do processo de prestação de contas deve conter

elementos necessários que permitam o acompanhamento e a fiscalização

orçamentária e financeira por agentes de controle interno e externo, sendo

responsável por este processo o poder executivo ou pessoa a quem for

delegada essa competência (SILVA, 2004).

Trata-se de um processo elaborado pelo órgão de contabilidade das entidades da Administração Pública, ou de quem fez uso de recursos públicos, mediante autorização legal e com termo pactuado, no qual constarão os atos de gestão efetuados em determinado período, por agente devidamente qualificado (ANDRADE, 2007, p. 282).

66

Nesse sentido, é preciso que a contabilidade pública seja mais que uma

simples coletora de dados e fornecedora de informações. É necessário que

essas informações contribuam para o fortalecimento do sistema de

informações do Governo, tornando-a mais útil e significativa, e que atenda as

necessidades dos administradores.

Para Silva (2004) as informações advindas do processo de prestação de

contas, são de interesse de grupos de usuários, identificados pelo

Governmental Accounting Standards Boards (GASB), como sendo:

a) o cidadão;

b) os membros do legislativo

c) os investidores e credores.

Neste caso, é de extrema importância, conhecer e estudar os tipos de

usuários. Silva (2004) coloca ser uma obrigação das instituições

governamentais e dos responsáveis pela execução e gerência de recursos este

fato, uma vez que os contribuintes têm o direito a essa informação e com a

implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal, a exigência no que se refere a

transparência no uso do dinheiro público é regra básica para uma relação

harmoniosa entre cidadão e Estado.

67

CAPÍTULO III

A APLICAÇÃO DOS RECURSOS E A PRESTAÇÃO DE CONTAS DO

FUNDEB NO MUNICÍPIO DE LINS

3 A APLICAÇÃO DOS RECURSOS DO FUNDEB/2008

3.1 A aplicação dos recursos do FUNDEB no município de Lins (SP)

A aplicação dos recursos do FUNDEB deve obedecer aos preceitos

legais que estabelecem percentuais mínimos de aplicação, ou seja, 60% dos

recursos devem ser destinados ao pagamento da remuneração dos

profissionais da educação e os 40% restantes nas demais despesas de

manutenção do ensino da Educação Básica. E, de acordo com a atual Diretora

de Ensino da Secretaria Municipal de Educação de Lins, que em depoimento

afirma ser o que de fato acontece, pois, segundo esta o percentual de 60% dos

recursos do FUNDEB são destinados ao pagamento dos salários de

professores e o percentual de 40% destinados às demais despesas.

Para o ano de 2007, de acordo com informações disponíveis na Câmara

Municipal de Lins, foram repassados pelo FUNDEB-2007: R$ 2.211.376,06 e

pelo Fundo Participação dos Municípios – FPM-2007: R$ 12.567.438,59, para o

emprego na Educação Básica no município de Lins. Em se tratando de

repasses de recursos, estima-se que o valor do FUNDEB destinado ao

município de Lins para o ano contábil de 2008, chegue a esse valor,

ultrapassando-o em torno de 20%.

Segundo Balancete da Despesa Orçamentária do município de Lins

(anexo C), emitido em julho/2008, a aplicação dos recursos está cumprindo os

preceitos legais. Do total previsto na dotação inicial para o ano de 2008 do

percentual dos 60% para pagamento dos profissionais da educação, que é de

R$ 979.126,50, já foram empenhados e efetivamente liquidados no pagamento

68

dos profissionais do magistério R$537.089,41 até o mês de julho/2008. Estes

valores estão demonstrados no quadro 5:

Unidade Orçamentária

Unidade executora

Funcional programática

Fonte de recursos

02.02.00

02.02.04

12.361.0042-2.441

05

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

ENSINO FUNDAMENTAL

MANUTENÇÃO DO FUNDEB – 60%

TRANSFERÊNCIAS E CONVÊNIOS FEDERAIS

Dotação inicial autorizada Total empenhado Porcentagem dos recursos Saldo a pagar da dotação

979.126,50 537.089,41 58,53% 442.037,09

Fonte: Adaptado do balancete da despesa orçamentária – Prefeitura Municipal de Lins

Quadro 5 – Demonstrativo de despesa do FUNDEB – percentual de 60%

No que se refere aos 40% restantes que deve ser utilizado nas demais

despesas de manutenção do ensino da Educação Básica, o Balancete da

Despesa Orçamentária do município de Lins (anexo C), emitido em julho/2008,

os valores expressos são os constantes no quadro 6:

Unidade Orçamentária

Unidade executora

Funcional programática

Fonte de recursos

02.02.00

02.02.04

12.361.0042-2.442

05

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO

ENSINO FUNDAMENTAL

MANUTENÇÃO DO FUNDEB – 40%

TRANSFERÊNCIAS E CONVÊNIOS FEDERAIS

Dotação inicial autorizada Total empenhado Porcentagem dos recursos Saldo a pagar da dotação

627.480,00 524.231,74 83,54% 103.248,26

Fonte: Adaptado do balancete da despesa orçamentária – Prefeitura Municipal de Lins

Quadro 6 – Demonstrativo de despesa do FUNDEB – percentual de 40%

Ao comparar os quadros 3 e 4 conclui-se que considerando que os

valores apresentados, estes podem sofrer modificações até o encerramento do

ano contábil (dezembro/2008), a aplicação dos recursos em julho de 2008, em

pagamento aos profissionais da educação está em 58,53%, ou seja, 1,47%

abaixo do percentual previsto em lei. Tal fato não compromete a aplicação

anual, uma vez que a despesa com o pagamento de servidores é maior no

último mês contábil em função do pagamento de 13% salário e conforme

previsto em orçamento, contempla o percentual de 60% do total de recursos do

FUNDEB para o pagamento de profissionais da educação, cumprindo assim a

69

exigência legal. Essa situação encontra-se respaldada pela fala da Diretora de

Educação da Secretaria Municipal da Educação do Município de Lins, quando

afirma em depoimento que os recursos do FUNDEB são destinados à

manutenção da formação continuada de professores e especialistas da

educação, nos segmentos da Educação Infantil, Ensino Fundamental Ciclo I e

CEJA.

O cumprimento legal dos dispositivos da Lei, se reforçam quando a

Diretora de Educação da Secretaria Municipal da Educação do Município de

Lins afirma que existe um trabalho em parceria com os Conselhos da área e

que a SME atua em parceria com o Conselho Municipal de Educação e com o

Conselho do FUNDEB, respeitando a legislação vigente, em especial à LDBEN

e a CF.

3.2 A prestação de contas dos recursos do FUNDEB de Lins (SP) pelo poder

executivo

O Controle da Administração Pública pode se dar sob dois aspectos:

político e administrativo. O primeiro, estudado pelo Direito Constitucional, está

diretamente relacionado ao "sistema de freios e contrapesos", enquanto o

segundo, estudado pelo Direito Administrativo, se refere à atividade

administrativa propriamente dita (MEIRELLES, 2004).

Os preceitos legais que norteiam a fiscalização dos recursos do

FUNDEB estão dispostos na Lei nº 11.494/2007, sendo realizada pelos

Tribunais de Contas dos Estados e Municípios (Tribunais de Contas Municipais

– TCM’s, é importante destacar que no Brasil, são em número de dois, situados

nos Municípios do Rio de Janeiro e São Paulo) e, quando há recursos federais

na composição do Fundo em um determinado Estado, o Tribunal de Contas da

União e a Controladoria-Geral da União também atuam nessa fiscalização,

naquele Estado.

Constitui-se em um trabalho diferente do feito pelos Conselhos de

Acompanhamento e Controle Social do Fundo, uma vez que estas instâncias

70

têm a prerrogativa legal de examinar e aplicar penalidades, na hipótese de

irregularidades.

De acordo com a Presidenta do Conselho do FUNDEB (Gestão de 2007

e 2008) o processo de prestação de contas de aplicação dos recursos do

FUNDEB, se dá através de reuniões com fins específicos de analisar/investigar

os documentos relacionados aos valores/recursos e sua destinação

(Presidenta do Conselho do FUNDEB, gestão 2007/2008).

O Ministério Público, mesmo não sendo uma instância de fiscalização de

forma específica, tem a atribuição de zelar pelo efetivo e pleno cumprimento da

lei. A Constituição Federal fixou as competências do Ministério Público como

órgão fiscalizador em seu artigo 129 e incisos. estas competências se soma a

unidade de sua organização. O Ministério Público está estruturado de maneira

uniforme. Seu estudo demonstra que esta instituição possui suas raízes na

história e que evoluiu essencialmente segundo as exigências da própria

evolução da justiça e da administração do Estado. A Constituição de 1988

garantiu a independência do Ministério Público diante dos Três Poderes do

Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário) de forma nunca antes vista na

história do ordenamento político-administrativo do Brasil (MEIRELLES, 2004).

Nesse aspecto, desempenha uma função que, em relação a eventuais

irregularidades detectadas e apontadas pelos Tribunais de Contas,

complementa a atuação destes, tomando providências formais quando

necessário na órbita do Poder Judiciário.

De acordo com a Lei nº. 11.494/2007 existe a obrigatoriedade dos

governos estaduais e municipais apresentarem a comprovação da utilização

dos recursos do Fundo em três momentos distintos:

a) Mensalmente - Ao Conselho de Acompanhamento e Controle Social

do FUNDEB, mediante apresentação de relatórios gerenciais sobre

o recebimento e emprego dos recursos do Fundo, conforme

estabelece o art. 25 da Lei nº. 11.494/2007.

b) Bimestralmente - Por meio de relatórios emitidos pelo Poder

Executivo, resumindo a execução orçamentária, evidenciando as

despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino, em favor da

educação básica, à conta do FUNDEB, com base no disposto no §

3º, art. 165 da CF, e art. 72 da LDB (Lei nº. 9.394/96).

71

c) Anualmente - Ao respectivo Tribunal de Contas (Estadual/Municipal),

de acordo com instruções dessa instituição, que poderá adotar

mecanismos de verificação com periodicidades diferentes

(bimestrais, semestrais, etc.). Essa prestação de contas deve ser

instruída com parecer do Conselho.

A avaliação impõe a necessidade de um sistema estatístico cuja

informação básica se obtém nos órgãos e entidades e com base nestes dados,

deve-se elaborar tabelas, calcular indicadores e apresentar informes periódicos

para uso e tomada de decisões por parte dos gestores.

Nos casos de déficit ou superávit referentes à execução orçamentária,

pode-se observar que:

a) Se a execução da receita apresentar-se menor que a execução da

despesa, pode-se deduzir que o superávit financeiro do exercício

anterior deixou de ser realizado no corrente exercício;

b) Se a execução da receita apresentar-se maior que a da despesa, a

avaliação poderá afirmar que houve um excesso de arrecadação

que não foi utilizado no corrente exercício.

Na Contabilidade Pública, segundo Andrade (2007) as contas do Plano

de Contas são separadas em sistemas de contas independentes, para facilitar

a elaboração dos balanços e demonstrativos e esses sistemas são

classificados em:

a) Sistema Financeiro

b) Sistema Patrimonial

c) Sistema Orçamentário

d) Sistema de Compensação

Considerando que os relatórios analisados nesta parte são componentes

do Sistema Orçamentário, é importante mencionar que tal sistema é

representado pelos atos de natureza orçamentária, tais como: previsão da

receita, fixação da despesa, descentralização de créditos e empenho da

despesa.

De acordo com os relatórios de Saldo de Dotação (anexo D) está

caracterizada a situação de economia na realização de despesas porque as

despesas previstas são menores que as realizadas, independente de algumas

72

despesas já empenhadas ainda não terem sido liquidadas – especificamente o

código 02.02.04, relativo ao Ensino Fundamental.

Analisando as fichas denominadas Saldo de Dotação (Por Unidade e

Ficha), foi selecionada uma relativa à Manutenção do FUNDEB, inerente a

Créditos Suplementares, de modo que na mesma há recursos adicionais,

integralmente autorizados, no valor total de R$ 875.308,54, dos quais restaram

como saldo o valor de R$ 686.258,21 divididos da seguinte maneira (anexo D):

Unidade Executora 02.02.02 - SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO/ Crianças de 0 a 6 anos/Creche

Título Suplemento Empenhado Liquidado Saldo

Criança de 0 a 6 anos – Creches 215.000,00 0,00 0,00 215.000,00

Manutenção do FUNDEB – 60% 150.000,00 0,00 0,00 150.000,00

Vencimentos e vantagens fixas –

pessoal civil 100.000,00 0,00 0,00 100.000,00

Obrigações Patronais 50.000 0,00 0,00 50.000

Manutenção do FUNDEB – 40% 65.000,00 0,00 0,00 65.000,00

Vencimentos e vantagens fixas –

pessoal civil 50.000,00 0,00 0,00 50.000,00

Obrigações Patronais 15.000 0,00 0,00 15.000

Fonte: Secretaria Municipal de Educação, Lins (SP), 2008. Quadro 7 – Unidade Executora 02.02.02

Unidade Executora 02.02.03 - SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO/ Crianças de 0 a 6 anos/Ensino Infantil

Título Suplemento Empenhado Liquidado Saldo

Criança de 0 a 6 anos – Infantil 471.258,21 0,00 0,00 471.258,21

Manutenção do FUNDEB – 40% 471.258,21 0,00 0,00 471.258,21

Vencimentos e vantagens fixas –

pessoal civil 350.000,00 0,00 0,00 350.000,00

Obrigações Patronais 121.258,21 0,00 0,00 121.258,21

Fonte: Secretaria Municipal de Educação, Lins (SP), 2008. Quadro 8 – Unidade Executora 02.02.03

73

Unidade Executora 02.02.04 - SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO/ Ensino Fundamental

Título Suplemento Empenhado Liquidado Saldo

Ensino Fundamental 189.050,33 189.050,33 141.787,75 0,00

Manutenção do FUNDEB – 60% 114.050,33 114.050,33 85.537,76 0,00

Subvenções Sociais 114.050,33 114.050,33 85.537,76 0,00

Manutenção do FUNDEB – 40% 75.000,00 75.000,00 56.250,00 0,00

Subvenções Sociais 75.000,00 75.000,00 56.250,00 0,00

Fonte: Secretaria Municipal de Educação, Lins (SP), 2008. Quadro 9 – Unidade Executora 02.02.04

Portanto, no Sistema Orçamentário é feita a comparação da receita

prevista com a sua realização e da despesa fixada com a sua realização, e

para isso é necessário que os fatos de arrecadação da receita e liquidação da

despesa passem por este sistema.

As demonstrações contábeis, que representam o resultado das

operações relacionadas às origens e aplicação de recursos pelos Órgãos da

Administração Pública Direta e Indireta, são instrumentos de análise e controle

em nível gerencial (tomada de decisão), demonstrando as situações

econômico-financeira e patrimonial do exercício estando às informações

disponíveis nos Balanços Orçamentário, Financeiro, Patrimonial,

Demonstração das Variações Patrimoniais e Demonstração das

Disponibilidades Financeiras por Fonte de Recursos.

3.3 A publicidade na prestação de contas

A publicidade na administração pública brasileira está estabelecida como

princípio no artigo 37 da CF/88 e detalhada em seu § 1º, conforme trecho a

seguir:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de

qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de

74

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte: [...]

§ 1º - A publicidade dos atos, programas, obras, serviços

e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter

educativo, informativo ou de orientação social, dela não

podendo constar nomes, símbolos ou imagens que

caracterizem promoção pessoal de autoridades ou

servidores públicos.

Extrai-se do princípio da publicidade que o povo tem o direito de

conhecer os atos praticados na administração pública, passo a passo, para o

exercício do controle social, derivado do exercício do poder democrático.

Destaca-se o “caráter educativo, informativo ou de orientação social” das

divulgações, exigido pelo artigo 37 da CF/88 que revela a preocupação da

assembléia constituinte com a compreensibilidade das informações para o

controle social.

No ano de 2000, com a publicação da Lei Complementar nº 101, de 4 de

maio, denominada Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a exigência de

transparência recebeu um novo reforço no âmbito estatal brasileiro. A LRF

possui um capítulo sobre o tema, intitulado de “Da Transparência, Controle e

Fiscalização” (artigos 48 a 59), enquanto que sua 1ª seção trata da

Transparência da Gestão Fiscal, abrangendo os artigos 48 e 49.

Andrade (2007, p. 183) apresenta o entendimento dado à transparência

na LRF da seguinte forma:

A transparência na gestão fiscal é tratada na Lei como um princípio de gestão, que tem por finalidade, entre outros aspectos, franquear ao público acesso a informações relativas às atividades financeiras do Estado e deflagrar, de forma clara e previamente estabelecida, os procedimentos necessários à divulgação dessas informações (ANDRADE, 2007, p. 183).

Diversas estratégias de divulgação e meios de comunicação podem ser

utilizados para oferecer uma publicidade mais completa para as contas

públicas.

75

Desse modo, a transparência, como princípio da gestão fiscal

responsável, pressupõe a publicidade e a compreensibilidade das informações.

76

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Durante o desenvolvimento do trabalho, perceberam-se determinados

entraves que se refletem na composição do Conselho e na formação específica

na área contábil que os membros deveriam ter para poder exercer seu papel de

acompanhamento e gestão com propriedade e eficiência.

Identificou-se como sendo um desses principais entraves, o fato dos

membros do conselho: funcionários públicos da educação, pais e professores

que pouca familiaridade tem com as análises contábeis.

Este dado se deve em parte ao fato dos membros que compõe o

Conselho não possuírem a formação específica contábil ou assessoria

adequada cotidianamente, e por isso sentem dificuldade em lidar com a

burocracia e o acompanhamento dos gastos apresentados pelo poder

executivo. Os membros do Conselho ao tratarem da conferência de valores e

gastos, poderiam acompanhar a execução das ações no momento em que

estas ocorrem e assim poder ter maiores condições de conferir as

documentações apresentadas.

Outra observação é a de que principalmente os pais têm pouca

participação no processo quer seja pela dificuldade de compreensão do

assunto, mas também por uma questão prática: a disponibilidade de chegar às

reuniões. Isso ocorre por falta de tempo, já que não podem pedir licença do

serviço a qualquer hora, uma vez que a lei só ampara a dispensa do serviço

sem prejuízo da remuneração os servidores públicos.

Uma outra proposta possível seria a diminuição da rotatividade da

eleição, cujos mandatos são de dois anos, e para tal, seria necessário alterar o

Estatuto do Conselho. Com isso, incentiva-se o acúmulo de conhecimentos,

mantendo por mais tempo uma pessoa que pode se capacitar para atuar no

conselho.

No que se refere à análise contábil, quer pelo Conselho de

Acompanhamento e Controle Social, quer pelo próprio poder executivo, se faz

necessária à presença de um profissional de ciências contábeis, com

especialização em contabilidade pública e com conhecimento para lidar com a

administração pública e poder assim, exercer o cumprimento legal dos

77

dispositivos do FUNDEB na área contábil – desde o recebimento dos recursos,

sua utilização e a prestação de contas finais.

78

CONCLUSÃO

Apesar dos avanços obtidos pela Educação Pública no Brasil, e nas

políticas de financiamento que nela ocorrem, neste contexto, especialmente a

Lei nº. 11.494/2007 o aspecto apresentado pela análise dos dados deste

trabalho revelou que a execução da mesma necessita ser melhorada e

ampliada. Os dados coletados são significativos e exigem uma reflexão séria

em sua análise.

Mesmo com a implantação da Lei nº. 11.494/2007 e da criação do

Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB observamos que

as dificuldades em compreender e consequentemente analisar os dados

contábeis da prestação de contas dos recursos do FUNDEB pelos membros

que o compõe mostram que há muito que avançar neste sentido.

O estudo chegou a algumas conclusões a respeito da organização

interna e do funcionamento dos conselhos do FUNDEB.

Não se pode afirmar que a simples apresentação de dados, em uma

exposição oral e sem muitos detalhes executores que pode-se concluir que os

recursos foram efetivamente aplicados conforme as determinações legais.

A esse respeito pode-se concluir que seria necessária uma formação

séria e aprofundada durante o mandato para que os eleitos para o conselho

aprendam um pouco sobre legislação e contabilidade – ao menos o suficiente

para redigir documentação oficial e analisar o cumprimento da legislação no

que se refere à aplicação dos percentuais exigidos por lei. E, nesse quesito é

fundamental a presença do profissional da área de ciências contábeis para

atuar em todo o processo de aplicação e prestação de contas dos recursos do

FUNDEB.

Neste contexto a presença de um profissional da área de contabilidade

que acompanhe todo o processo de aplicação dos recursos do FUNDEB e por

seguinte a sua prestação de contas, e que fosse o elo didático entre o poder

executivo e os membros do Conselho de Acompanhamento e Controle Social

do FUNDEB é essencial para a garantia do cumprimento legal estabelecido,

reforçando o princípio da transparência da contabilidade pública.

79

REFERÊNCIAS

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80

públicos estáveis. In: ROCHA, Valdir de Oliveira (Org.). Aspectos relevantes da lei de responsabilidade fiscal . São Paulo: Dialética, 2001. FERREIRA, M. G. Conselho Federal de Educação: o coração da reforma. In VELLOSO, J. et al. Estado e Educação . Campinas-SP:Papirus:CEDES; São Paulo: Ande: ANPED, 1992 (Coletânea C.B.E.). FERREIRA, R.J. Contabilidade básica : finalmente você vai aprender contabilidade. 5. ed. Rio de Janeiro: Ferreira, 2008. GOHN, M. G. Conselhos gestores e participação sócio-política . São Paulo: Cortez, 2003. KOHAMA, H. Contabilidade pública : teoria e prática. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2006. LIMA, D. V.; CASTRO, R. G. Contabilidade pública : integrando União, Estados e Municípios (Siafi e Siafem). São Paulo: Atlas, 2000. LIMA FILHO, J. B. O processamento da despesa pública com ênfase em programas de trabalho . Classe Contábil, Fortaleza, jan. 2004. Disponível em: <http://www.classecontabil.com.br/trabalhos.php>. Acesso em 02 ago. 2008. LINS. Lei de criação do Conselho de Acompanhamento e Cont role Social do FUNDEB de Lins/S P – Lei nº. 1.003/2007. LUCCHEZE, L. A origem da escola pública . Disponível em < http://www.leticialuccheze.com.br/aorigemdaescolapublica.htm>. Acesso em 24/05/2008. MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro . 29 ed. São Paulo: Malheiros, 2004. MOTA, F.G. L. Curso básico de contabilidade pública . 2 ed. Brasília, 2006. NOSSO SÃO PAULO. Disponível em <www.nossosaopaulo.com.br/reg05/reg05_linshtm>. Acesso em 11/06/2008. PAES, M. Histórico da educação . Disponível em < http://intra.vila.com.br/sites_2002a/urbana/marina_paes/historico_da_educacao.htm>. Acesso em 24/05/2008. PETER, M.G.A.; MACHADO, M. V.V. Manual de auditoria governamental . São Paulo: Atlas, 2003. PISCITELLI, R. B.; TIMBÓ, M.Z.F.; ROSA, M.B. Contabilidade pública: uma abordagem da administração financeira pública. 8.ed. São Paulo: Atlas, 2004. RANIERI, N. Educação Superior, Direito e Estado : Na Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96). São Paulo: Edusp, 2000.

81

ROCHA, C. L. A. Princípios Constitucionais da Administração Pública . Belo Horizonte: Del Rey, 1994. ROMANELLI, O. O. História da Educação no Brasil . 15. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. SANTOS. K. A. O Conselho de acompanhamento e controle social do Fundef : um estudo de caso do Município de São Paulo. São Paulo, 2007, Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-29012008-165547/>. Acesso em 23/05/2008. SCHMIDT, M. Nova história crítica . São Paulo: Nova Geração, 2007. SILVA, L.M. Contabilidade governamental: um enfoque administrat ivo . 7.ed. São Paulo: Atlas, 2004. SLOMSKI, V. Manual de contabilidade pública : um enfoque na contabilidade municipal. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2003. SEADE. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. Perfil municipal . Disponível em: <http://www.seade.sp.gov.br/produtos/perfil/perfil.php>. Acesso em 21/05/2008.

82

APÊNDICES

83

APÊNDICE A – Roteiro de Observação Sistemática

I IDENTIFICAÇÃO Nome da Instituição:

Localização:

Natureza Jurídica:

Ramo de Atividade:

Número de servidores:

Tempo de existência:

Objetivos e finalidades:

Composição da equipe gestora:

II ASPECTOS A SEREM OBSERVADOS:

Gestores responsáveis pela aplicação dos recursos do FUNDEB:

Forma de atuação do profissional de contabilidade na prestação de contas do

FUNDEB:

Estrutura da organização da instituição:

Características básicas do trabalho realizado pela instituição:

Recursos:

• Humanos:

• Materiais:

• Físicos:

• Financeiros;

Relacionamento entre equipe gestora e membros do Conselho Municipal do

FUNDEB.

Aplicação dos preceitos legais na utilização dos recursos;

Parceria entre a equipe gestora e os membros do Conselho Municipal do

FUNDEB no acompanhamento e controle da aplicação dos recursos do

FUNDEB.

84

APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista para os gestores da educação de Lins (SP)

I IDENTIFICAÇÃO

Escolaridade:

Formação:

Ano de conclusão:

Profissão:

Tempo de atuação:

Cargo atual:

Tempo de atuação de nesta função:

Outras experiências profissionais:

II PERGUNTAS ESPECÍFICAS:

1- Em que consiste seu trabalho no que se refere a aplicação dos recursos

do FUNDEB?

2- Quais os objetivos e planos que a SME (Lins - SP) tem para a aplicação

dos recursos do FUNDEB?

3- Com a aprovação da Lei do FUNDEB, a administração pública passou a

ter melhores condições de atuação na área da educação a que o recurso se

destina?

4- Atualmente, qual o número de alunos e profissionais da educação

atendidos pelo FUNDEB no município de Lins (SP)?

5- Existe um profissional da área de ciências contábeis que cuida

especificamente da prestação de contas da educação no quadro de

servidores da SME (Lins - SP)?

6- Em caso afirmativo, como é feito esse trabalho em linhas gerais?

7- Quais são suas expectativas em relação a aplicação dos recursos do

FUNDEB a médio e longo prazo?

8- Qual a importância do Conselho Municipal do FUNDEB no trabalho

desenvolvido atualmente?

85

APÊNDICE C - Roteiro de entrevista para os membros do conselho municipal do FUNDEB de Lins (SP)

I IDENTIFICAÇÃO

Escolaridade:

Formação:

Ano de conclusão:

Profissão:

Tempo de atuação:

Cargo atual:

Tempo de atuação de nesta função:

Outras experiências profissionais:

II PERGUNTAS ESPECÍFICAS:

1 Em que consiste seu trabalho no Conselho Municipal do FUNDEB?

2 Quais os objetivos e planos no Conselho Municipal do FUNDEB tem para

a aplicação dos recursos do FUNDEB?

3 Com a aprovação da Lei do FUNDEB, a administração pública passou a

ter melhores condições de atuação na área da educação a que o recurso se

destina?

4 Existe um profissional da área de ciências contábeis que cuida

especificamente da prestação de contas da educação junto ao Conselho

Municipal do FUNDEB (Lins - SP)?

5 Em caso afirmativo, como é feito esse trabalho em linhas gerais?

6 Quais são suas expectativas em relação a aplicação dos recursos do

FUNDEB a médio e longo prazo?

7 Qual a importância do Conselho Municipal do FUNDEB no trabalho

desenvolvido atualmente?

86

APÊNDICE D - Roteiro de Entrevista para o responsável pela prestação de contas do FUNDEB de Lins (SP)

I IDENTIFICAÇÃO

Escolaridade:

Formação:

Ano de conclusão:

Profissão:

Tempo de atuação:

Cargo atual:

Tempo de atuação de nesta função:

Outras experiências profissionais:

II PERGUNTAS ESPECÍFICAS:

1- Quais os aspectos e instruções que devem ser observados na prestação

de contas do FUNDEB?

2- Quais as orientações que o profissional de área de ciências contábeis

pode dar aos gestores do FUNDEB e aos membros do Conselho Municipal

do FUNDEB no que se refere a:

a) aplicação de recursos;

b) procedimentos e registros da prestação de contas de uso desses

recursos.

87

ANEXOS

88

ANEXO A – LEI COMPLEMENTAR Nº. 1.003, DE 25 DE JUNHO DE 2007

PREFEITURA MUNICIPAL DE LINS ESTADO DE SÃO PAULO

Prefeitura Municipal de Lins R. Olavo Bilac, 640 - Fone (014)3533-7000 - Fone/Fax (014)3522-2764 e-mail:

[email protected] - CEP 16400-901 - Lins – SP

LEI COMPLEMENTAR Nº 1.003, DE 25 DE JUNHO DE 2007

(De autoria do prefeito Engº Waldemar Sândoli Casadei)

Dispõe sobre a criação do Conselho Municipal de Aco mpanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvi mento da Educação Básica e de Valorizaçãodos Profissionais d a Educação - Conselho do FUNDEB.

O Engº Waldemar Sândoli Casadei , Prefeito Municipal de Lins, usando das atribuições que lhe são conferidas por Lei, Faço saber que a Câmara Municipal de Lins aprovou e eu promulgo a seguinte

LEI COMPLEMENTAR:

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º - Fica criado o Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, Conselho do FUNDEB, no âmbito do Município de Lins.

CAPÍTULO II DA COMPOSIÇÃO

Art. 2º - O Conselho a que se refere o artigo 1º é composto por dez membros titulares, acompanhados de seus respectivos suplentes, conforme representação e indicação a seguir discriminados: I) um representante da Secretaria Municipal de Educação (ou órgão equivalente); II) um representante dos professores das escolas públicas municipais de educação básica;

89

III) um representante dos diretores das escolas públicas municipais de educação básica; IV) um representante dos servidores técnico-administrativos das escolas públicas municipais de educação básica; V) dois representantes dos pais de alunos das escolas públicas municipais de educação básica; VI) dois representantes dos estudantes das escolas públicas municipais de educação básica; VII) um representante do Conselho Municipal de Educação; VIII) um representante do Conselho Tutelar. § 1º - O representante da Secretaria Municipal de Educação será indicado pelo Chefe do Poder Executivo. § 2º - Os representantes de que tratam os incisos VII e VIII serão indicados pelos respectivos Conselhos. § 3º - Os representantes de que tratam os incisos II, III, IV, V e VI serão indicados pelos seus pares, através de processo eletivo, na forma prevista no artigo seguinte. § 4º – A indicação referida no caput deverá ocorrer em até vinte dias antes do término do mandato dos conselheiros anteriores. § 5º – Os conselheiros de que trata o caput deste artigo deverão guardar vínculo formal com os segmentos que representam, devendo esta condição constituir-se como pré-requisito à participação no processo eletivo previsto nesta Lei Complementar. Art. 3º - O processo eletivo de que trata o parágrafo terceiro do artigo anterior será organizado e conduzido pela Secretaria Municipal de Educação, na forma desta Lei Complementar. Parágrafo único – Até sessenta dias antes do término do mandato dos conselheiros anteriores, a Secretaria Municipal de Educação publicará edital contendo as instruções para a realização do processo eletivo. Art. 4º - O processo eletivo de que trata o parágrafo terceiro do artigo 2º desta Lei Complementar será realizado na seguinte conformidade: I - cada escola pública municipal de educação básica escolherá, através de assembléia, por votação secreta ou por aclamação, um representante para cada segmento previsto nos incisos II, III, IV, V e VI do artigo 2º desta Lei Complementar;

90

II – os membros de cada segmento só terão direito a voto para indicarem o representante de seus respectivos segmentos; III - a convocação para a assembléia será feita pelo Diretor da Escola, atendendo o disposto no edital publicado pela Secretaria Municipal de Educação; IV - os representantes eleitos em cada unidade escolar participarão de uma assembléia, especialmente convocada pela Secretaria Municipal de Educação, quando escolherão, por voto secreto ou por aclamação, dentre os eleitos de seus respectivos segmentos, um representante efetivo e um suplente para comporem o Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. Art. 5º – São impedidos de integrar o Conselho: I - cônjuge e parentes consangüíneos ou afins, até terceiro grau, do Prefeito e do Vice- Prefeito, e dos Secretários Municipais; II - tesoureiro, contador ou funcionário de empresa de assessoria ou consultoria que prestem serviços relacionados à administração ou controle interno dos recursos do Fundo, bem como cônjuges, parentes consangüíneos ou afins, até terceiro grau, desses profissionais; III - estudantes que não sejam emancipados; IV - pais de alunos que: a) exerçam cargos ou funções públicas de livre nomeação e exoneração no âmbito do Poder Executivo Municipal ou; b) prestem serviços terceirizados ao Poder Executivo Municipal; V – professores, diretores de escola ou servidores técnicos-administrativos das escolas públicas municipais, contratados em caráter temporário ou que estejam no curso do estágio probatório. § 1º - Caso não existam estudantes emancipados matriculados nas escolas da rede pública municipal, não haverá representação para esse segmento. § 2º - Caso exista apenas uma escola que possua estudantes emancipados, esta indicará em sua assembléia, dois representantes. Art. 6º – O suplente substituirá o titular do Conselho nos casos de afastamentos temporários ou eventuais deste, e assumirá sua vaga nas hipóteses de afastamento definitivo decorrente de: I – desligamento por motivos particulares; II – rompimento do vínculo de que trata o § 5º, do artigo 2º desta Lei Complementar;

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III – situação de impedimento previsto no artigo 5º, incorrida pelo titular no decorrer de seu mandato. § 1º – Na hipótese em que o suplente incorrer nas situações de afastamentos definitivos previstos nos incisos deste artigo, o segmento representado fará indicação de novo suplente, na forma que foi utilizada para a indicação do afastado. § 2º – Na hipótese em que o titular e o suplente incorram simultaneamente nas situações de afastamentos definitivos, o segmento representado indicará novo titular e novo suplente, na forma da que foi utilizada para a indicação dos afastados. Art. 7º - Indicados os conselheiros, o Chefe do Poder Executivo Municipal efetuará a designação, através de decreto. CAPÍTULO III DAS COMPETÊNCIAS Art. 8º - Compete ao Conselho do FUNDEB: I – acompanhar e controlar a aplicação dos recursos do Fundo; II – supervisionar a realização do censo escolar e a elaboração da proposta orçamentária anual no âmbito municipal, com o objetivo de concorrer para o regular e tempestivo tratamento e encaminhamento dos dados estatísticos e financeiros que alicerçam a operacionalização do Fundo; III – examinar os registros contábeis e demonstrativos gerenciais mensais e atualizados relativos aos recursos repassados e recebidos à conta do Fundo; IV – emitir parecer sobre as prestações de contas dos recursos do Fundo, que deverão ser disponibilizadas mensalmente pelo Poder Executivo Municipal; V - apresentar, sempre que julgar conveniente, ao Poder Legislativo local e aos órgãos de controle interno e externo, manifestação formal acerca dos registros contábeis e dos demonstrativos gerenciais do Fundo; VI – convocar, por decisão da maioria de seus membros, o Secretário Municipal de Educação, para prestar esclarecimentos acerca do fluxo de recursos e a execução de despesas do Fundo, devendo a autoridade convocada apresentar-se em prazo não superior a trinta dias. VII – elaborar e alterar seu regimento interno; VIII – outras atribuições que a legislação específica eventualmente estabeleça.

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Parágrafo único - O parecer de que trata o inciso IV deste artigo deverá ser apresentado ao Poder Executivo Municipal em até trinta dias antes do vencimento do prazo para a apresentação da prestação de contas junto ao Tribunal de Contas. CAPÍTULO IV DO MANDATO DOS CONSELHEIROS E DA ORGANIZAÇÃO DO CONSELHO Art. 9º – O mandato dos membros do Conselho será de dois anos, permitida uma única recondução, para o mandato subseqüente. Art. 10 - O Conselho do FUNDEB terá um Presidente e um Vice-Presidente, que serão eleitos pelos conselheiros, em até quinze dias após a data do ato de designação. Parágrafo único – Está impedido de ocupar a Presidência e a Vice-Presidência o conselheiro representante da Secretaria Municipal de Educação. Art. 11 – O Vice-Presidente substituirá o presidente em seus impedimentos temporários e eventuais e o sucederá no caso de impedimento definitivo. Art. 12 - As reuniões ordinárias do Conselho do FUNDEB serão realizadas mensalmente, com a presença da maioria de seus membros, e, extraordinariamente, quando convocados pelo Presidente mediante solicitação por escrito de pelo menos um terço dos membros efetivos. § 1º - As deliberações serão tomadas pela maioria dos membros presentes, cabendo ao Presidente o voto de qualidade, nos casos em que o julgamento depender de desempate. § 2º - As deliberações constarão em ata e serão tornadas públicas. Art. 13 - O Conselho do FUNDEB atuará com autonomia em suas decisões, sem vinculação ou subordinação institucional ao Poder Executivo Municipal. CAPÍTULO V DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS Art. 14 - No prazo máximo de trinta dias após a instalação do Conselho, deverá ser aprovado o Regimento Interno que viabilize seu funcionamento. Art. 15 - A atuação dos membros do Conselho do FUNDEB: I - não será remunerada; II - é considerada atividade de relevante interesse social;

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III - assegura isenção da obrigatoriedade de testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício de suas atividades de conselheiro, e sobre as pessoas que lhes confiarem ou deles receberem informações; IV - veda, quando os conselheiros forem representantes de professores e diretores ou de servidores das escolas públicas, no curso do mandato: a) exoneração de ofício ou demissão do cargo ou emprego sem justa causa, ou transferência involuntária do estabelecimento de ensino em que atuam; b) atribuição de falta injustificada ao serviço, em função das atividades do Conselho; c) afastamento involuntário e injustificado da condição de conselheiro antes do término do mandato para o qual tenha sido designado. Art. 16 - O Conselho do FUNDEB não contará com estrutura administrativa própria, devendo o Município garantir infra-estrutura e condições materiais adequadas à execução plena das competências do Conselho e oferecer ao Ministério da Educação os dados cadastrais relativos à sua criação e composição. Art. 17 – Durante o prazo previsto no § 4º do artigo 2º, os novos membros deverão se reunir com os membros do Conselho do FUNDEB, cujo mandato está se encerrando, para transferência de documentos e informações de interesse do Conselho. Art. 18 - Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação. Art. 19 - Revogam-se as disposições em contrário, expressamente a Lei Complementar nº 486, de 30/12/98 que instituiu o Conselho do FUNDEB. Lins, 25 de junho de 2007. Engº Waldemar Sândoli Casadei Prefeito de Lins/SP Registrada e publicada na Secretaria Municipal dos Negócios Administrativos, em 25 de junho de 2007. José Roberto Alves de Oliveira Secretário Municipal dos Negócios Administrativos

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ANEXO B - LEI COMPLEMENTAR Nº 1.020, DE 17 DE OUTUBRO DE 2007

PREFEITURA MUNICIPAL DE LINS ESTADO DE SÃO PAULO

LEI COMPLEMENTAR Nº 1.020, DE 17 DE OUTUBRO DE 2007

(De autoria do prefeito Engº Waldemar Sândoli Casadei).

Altera dispositivos da Lei Complementar nº 1.003, d e 25 de junho de 2007, que dispõe sobre o Conselho do FUNDEB.

O Engº Waldemar Sândoli Casadei , Prefeito Municipal de Lins, usando das atribuições que lhe são conferidas por Lei, Faço saber que a Câmara Municipal de Lins aprovou e eu promulgo a seguinte LEI COMPLEMENTAR:

Art. 1º - A Lei Complementar nº 1.003, de 25 de junho de 2007, que dispõe sobre a criação do Conselho Municipal de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação Conselho do FUNDEB, no âmbito do Município de Lins, passa a vigorar com as seguintes alterações e acréscimos: I – o inciso I do artigo 2º passa a ter a seguinte redação:

“I) dois representantes do Poder Executivo Municipal, dos quais pelo menos 1 (um) da Secretaria Municipal de Educação (ou órgão equivalente)”;

II – o parágrafo primeiro do artigo 2º passa a ter a seguinte redação: “§ 1º - Os representantes constantes do inciso I serão indicados pelo Chefe do Poder Executivo”;

III – acrescente-se parágrafo no artigo 2º com a se guinte redação:

“§ 6º - Havendo sindicatos das respectivas categorias, com base no Município, estes indicarão os representantes dos professores e dos

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servidores, caso em que para esses representantes não haverá o processo eletivo previsto no parágrafo 3º”;

IV – o parágrafo primeiro do artigo 5º passa a ter a seguinte redação: “§ 1º - Na hipótese da inexistência de estudantes emancipados, a representação estudantil, eleita na forma do parágrafo 3º do artigo 2º, poderá acompanhar as reuniões com direito a voz e sem direito a voto”;

V – o inciso VII do artigo 8º passa a ter a seguint e redação: “VII - requisitar ao Poder Executivo cópias de documentos referentes a: a) licitação, empenho, liquidação e pagamento de obras e serviços custeados com recursos do Fundo; b) folhas de pagamento dos profissionais da educação, as quais deverão discriminar aqueles em efetivo exercício na educação básica e indicar o respectivo nível, modalidade ou tipo de estabelecimento a que estejam vinculados; c) documentos referentes aos convênios com as instituições a que se refere o artigo 8o da Lei Federal nº 11.494, de 20 de junho de 2007; d) outros documentos necessários ao desempenho de suas funções;”;

VI – o inciso VIII do artigo 8º passa a ter a segui nte redação:

“VIII - realizar visitas e inspetorias in loco para verificar: a) o desenvolvimento regular de obras e serviços efetuados nas instituições escolares com recursos do Fundo; b) a adequação do serviço de transporte escolar; c) a utilização em benefício do sistema de ensino de bens adquiridos com recursos do Fundo;”;

VII – acrescente-se incisos no artigo 8º com a segu inte redação: “IX – elaborar e alterar seu regimento interno; X – outras atribuições que a legislação específica eventualmente estabeleça.”;

VIII – o parágrafo único do artigo 8º passa a ter a seguinte redação: “§ 1º - Aos conselhos incumbe, também, acompanhar a aplicação dos recursos federais transferidos à conta do Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar - PNATE e do Programa de Apoio aos Sistemas de Ensino para Atendimento à Educação de Jovens e Adultos e, ainda, receber e analisar as prestações de contas referentes a esses Programas, formulando pareceres conclusivos acerca da aplicação desses recursos e encaminhando-os ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE.”;

IX – acrescente-se parágrafo no artigo 8º com a seg uinte redação:

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“§ 2º - O parecer de que trata o inciso IV deste artigo deverá ser apresentado ao Poder Executivo Municipal em até trinta dias antes do vencimento do prazo para a apresentação da prestação de contas junto ao Tribunal de Contas”.

Art. 2º - Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação. Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário.

Lins, 17 de outubro de 2007.

Engº Waldemar Sândoli Casadei Prefeito de Lins/SP

Registrada e publicada na Secretaria Municipal dos Negócios Administrativos, em 17 de outubro de 2007.

José Roberto Alves de Oliveira Secretário Municipal dos Negócios Administrativos

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ANEXO C – Balancete de despesa orçamentária - 2008

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ANEXO D – Saldo de dotação por unidade e ficha