a américa latina no caderno mundo da folha de s.paulo

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A AMÉRICA LATINA NO CADERNO MUNDO DA FOLHA DE S.PAULO Neuber Fischer * Resumo A proposta deste artigo é fazer uma análise do espaço dado à cobertura da América Latina na editoria internacional. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, tendo como base o caderno “Mundo” do Jornal Folha de S.Paulo. Um continente com relevância política, econômica, cultura e onde está localizado o Brasil deve possuir a mesma representatividade no jornalismo internacional brasileiro. A pesquisa revelou que na Folha de S. Paulo, a cobertura da América Latina, em ocasiões rotineiras, é proporcional aos demais continentes. Mas ainda sim tendo em vista os critérios de noticiabilidade poderia ser dado maior espaço aos fatos latino-americanos. A pesquisa analisou a editoria Mundo da Folha de S.Paulo no período de uma semana, de sábado, 02, a sexta-feira, 08 de abril, de 2011, período em que o destaque do noticiário latino-americano foi a crise entre imprensa e governo na Argentina e a eleição presidencial no Peru. Palavras chave: Jornalismo Internacional. Notícia. Editoria. Mundo. América Latina. Introdução * Neuber de Lima Fischer estudante do 7º período do curso de Comunicação Social – Jornalismo na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação – FAPCOM – São Paulo – SP – Brasil. ([email protected]) 1

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Artigo científico sobre o espaço dado a América Latina no noticiário impresso brasileiro. Um estudo de caso do caderno Mundo da Folha de S.Paulo.

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Page 1: A América Latina no Caderno Mundo da Folha de S.Paulo

A AMÉRICA LATINA NO CADERNO MUNDO DA FOLHA DE S.PAULO

Neuber Fischer*

Resumo

A proposta deste artigo é fazer uma análise do espaço dado à cobertura da América

Latina na editoria internacional. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, tendo como base o

caderno “Mundo” do Jornal Folha de S.Paulo. Um continente com relevância política,

econômica, cultura e onde está localizado o Brasil deve possuir a mesma representatividade

no jornalismo internacional brasileiro. A pesquisa revelou que na Folha de S. Paulo, a

cobertura da América Latina, em ocasiões rotineiras, é proporcional aos demais continentes.

Mas ainda sim tendo em vista os critérios de noticiabilidade poderia ser dado maior espaço

aos fatos latino-americanos. A pesquisa analisou a editoria Mundo da Folha de S.Paulo no

período de uma semana, de sábado, 02, a sexta-feira, 08 de abril, de 2011, período em que o

destaque do noticiário latino-americano foi a crise entre imprensa e governo na Argentina e a

eleição presidencial no Peru.

Palavras chave: Jornalismo Internacional. Notícia. Editoria. Mundo. América Latina.

Introdução

O foco deste artigo é o espaço reservado aos acontecimentos latino-americanos na

editoria internacional da imprensa brasileira. O objetivo é analisar como a América Latina é

coberta pelo Jornal Folha de S.Paulo e responder a questão: A América Latina tem espaço

relevante no jornalismo internacional brasileiro? Acredita-se que não. Porque a editoria é

majoritariamente produzida com conteúdo de Agências de Notícias, e estas são sediadas em

países europeus ou nos EUA, sendo assim a atenção está voltada para essas regiões. A escolha

do jornal FSP se deve à importância deste periódico, por ser um dos maiores do país, com

maior tiragem e por ser um veículo de circulação nacional, o que da mais representatividade à

pesquisa.

Inicialmente fez-se um levantamento quantitativo no período de uma semana, do dia

02 a 08 de abril de 2011. Nesse período foram contabilizadas todas as matérias publicadas

* Neuber de Lima Fischer estudante do 7º período do curso de Comunicação Social – Jornalismo na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação – FAPCOM – São Paulo – SP – Brasil. ([email protected])

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pela editoria e separadas por continente. Os artigos (opinião) foram desconsiderados na coleta

e na análise dos dados.

Os dados recolhidos são analisados a partir do referencial bibliográfico proposto. É

importante reforçar que se trata de uma pesquisa quantitativa que tem como objetivo mostrar

em dados numéricos qual a representatividade da América Latina na editoria Mundo da FSP.

Não são objetos da análise o conteúdo das reportagens e nem os temas abordados, mas sim a

quantidade de matérias veiculadas sobre a América Latina. Espera-se que este artigo possa

contribuir para os estudos do Jornalismo Internacional que ainda é pouco pesquisado na

academia.

Referencial Teórico

Jornalismo Internacional

O Jornalismo Internacional é a especialização jornalística na cobertura dos eventos

estrangeiros. O que é assunto "doméstico" num determinado país será "internacional" em

todos os demais. “Este fato faz com que o Jornalismo Internacional seja provavelmente a área

do Jornalismo com maior abrangência de temas entre todas, já que deve dar conta de política,

economia, cultura, acidentes, natureza e todos os assuntos que aconteçam fora de seu país de

origem.” (ELHAJJI, 2006 p. 06).

Há dois tipos de jornalismo internacional: o das Agências de Notícias e o dos

Correspondentes e Enviados Especiais. Embora haja semelhanças entre eles, as diferenças se

dão no cotidiano do trabalho e da produção de material para seus respectivos veículos de

imprensa.

As agências de notícias são empresas jornalísticas especializadas em difundir

informações e notícias diretamente das fontes para os veículos de comunicação. As agências

não fornecem diretamente ao público, mas sim para as mídias, que por isso mesmo media a

comunicação entre a fonte e o público.

Hoje as agências mantêm uma rede de correspondentes nas maiores cidades do mundo

e assim repassam as informações para os veículos de imprensa. “Nos ultimos anos, o trabalho

das agências e seus correspondentes foi enormemente facilitado pelas novas tecnologias de

comunicação, como a Internet.” (ELHAJJI, 2006, p. 06).

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O Correspondente por sua vez, é um repórter baseado fixamente numa cidade

estrangeira, responsável pela cobertura de uma região, um país ou às vezes até um continente.

Dificilmente o jornal pede as matérias. “Em 90% dos casos a decisão do que escrever,

do que apurar é do próprio correspondente. Se por um lado isso dá uma grande liberdade, por

outro obriga que ele seja muito disciplinado, porque tem que manter um fluxo regular de

matérias.” (ELHAJJI 1989, p. 145).

“Nem tudo que é notícia aparece no jornalismo internacional. O noticiário não constrói

um retrato do mundo com determinado grau de exatidão. Muita coisa que será vista no futuro

como de capital importância histórica é diariamente deixada de lado.” (NATALI, 2004, p. 12).

A editoria internacional é semelhante as demais, porém, como a notícia na maioria das

vezes vem de uma agência, a informação transmitida isenta o jornalista de uma investigação

com mais afinco sobre a pauta.

“Utilizar material de agências internacionais sediada nos países centrais do capitalismo

é reproduzir a história dos vencedores, é adotá-las como óculos para enxergar o mundo, os

mesmos dos países do centro do capital.” (BARBOSA, 2007, p. 27).

O papel das agências internacionais é poderoso no mundo todo, inclusive na América

Latina, subcontinente que deveria nos interessar mais de perto, pela proximidade e

semelhança dos problemas. A grande maioria das publicações brasileiras parece pautar seu

enfoque, em fatos internacionais, por assuntos que interessam aos jornais americanos e

europeus.

Não se defende uma exclusividade do jornalismo internacional para a América Latina,

mas sugere que seja melhor pautada e valorizada, afinal é o continente onde está localizado o

Brasil.

A América Latina

Segundo BARBOSA (2007) a América Latina é divida em dois segmentos: a Oficial e

a Popular. Na América Latina Oficial estão as grandes cidades, a elite branca do litoral e dos

centros econômicos. Já a América Latina Popular é a dos rincões, dos sertões, dos pântanos,

das montanhas, mestiça, negra, índia operária e camponesa. Vale salientar ainda que ao

falarmos de América Latina, devemos voltar há 500 anos e relembrar que o continente foi

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colônia da Espanha e de Portugal. Além de ter sido fortemente influenciado pela igreja

católica.

“Os países latino-americanos foram submetidos a imposição da cultura européia, a

migração dos negros, escravos da África; a forte presença indígenas e uma relevante migração

de brancos europeus ocorrida entre o século XIX e o XX. (SANT’ANNA, 2001, p. 05)

Cada nação na América Latina tem a sua imprensa com características particulares, em

algumas a mídia sofre um maior controle por parte do Estado. Já no Brasil, a imprensa é

majoritariamente comandada por grandes grupos empresariais. Isso faz com que os assuntos a

serem pautados passem pelo clivo de governantes ou empresários. BARBOSA (2007) reforça

a idéia de que se não fosse pela imprensa alternativa, a história da América Latina popular não

seria contada.

A América Latina na Imprensa Internacional

Com o progresso tecnológico e a correria da vida cotidiana no século XXI, não é mais

hábito parar e ler um jornal por horas. Atentos a essa situação, os meios de comunicação têm

buscado selecionar e apresentar as notícias da forma mais breve possível.

Mesmo assim, alguns assuntos que são de interesse público acabam sendo

“esquecidos” pela mídia. Sobre isso, Sant’Anna observa que “O avanço das tecnologias bem

como as políticas de integração regional não foram suficientes para propiciar um perfil

editorial na mídia escrita brasileira de forma a viabilizar mais espaço editorial para temas

referentes à América Latina.” (SANT’ANNA, 2001, p. 02)

O Brasil é o maior país (em população, território e economia) da América Latina, e

consequentemente o país mais próximo com o qual as demais nações da América Latina se

relacionam (em alguns casos o maior parceiro). Por isso, as mudanças políticas, econômicas e

sociais que ocorrem nos países têm influência direta uns nos outros.

Os meios de comunicação têm como um dos objetivos informar a população sobre

aquilo que os cerca e que lhes são importantes. Por isso, para a imprensa brasileira a América

Latina deveria ocupar um espaço de destaque.

O acesso à notícia local se torna tema de debates e pesquisas em se tratando de

América Latina talvez pelo seu pouco espaço na mídia, e sua veiculação em segundo plano.

De acordo com SANT’ANNA (2001), “pouco se fala dos países que formam a região e esse

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descaso sempre é carregado de um contexto sensacionalista, grotesco, privilegiando o

negativo.”

Barbosa (2007) ressalta que “diante disso, desfaz-se o mito da imparcialidade e

conclui-se que, para a América Latina não ser condenada a solidão, é preciso desenvolver e

estudar os movimentos sociais latino-americanos, incluído seus processos de comunicação.”

Portanto, analisar o porquê isso ocorre, e como isso pode ser modificado é tarefa de

todos aqueles que buscam não somente receber notícias passivamente, mas analisar, refletir e

transformar nossa sociedade de fato democrática e tornar-se cidadão brasileiro.

“O divisor de águas entre um fato comum e outro de interesse coletivo possui alguns

paradigmas. Para virar noticia, um acontecimento deve possuir uma natureza social, e não

deve ser em tese corriqueiro.” (SANT’ANNA, 2001, p. 04)

Outro fator importante para o critério de “noticiabilidade” é a carga negativa do fato

em questão. Assim, noticias relatando acidentes e catástrofes ganham maior espaço, por conta

do fator cultural e do espaço mercadológico que geram. Entretanto, a notícia pode estar

imbuída da condição de um serviço público. Quando desprovida deste objetivo, ela se

equivale a uma mercadoria, uma commodity, utilizada para atrair audiências e vender

publicidade.

A America Latina no Brasil

Índios, negros, mulheres, sem-terra, pequenos agricultores, seringueiros, líderes

comunitários, sindicalistas e sem-tetos, essas são pautas não retratadas no cenário da notícia

internacional.

As grandes agências internacionais dizem que não, o assunto não é com elas. Reuters,

France Press e outras já provaram estarem conectadas em pautas grandes, manchetes fortes, e

assuntos nem sempre edificantes para os países pobres. Isso se deve à natureza de seu

trabalho, seu público alvo e seus interesses. (ELHAJJI, 2006, p. 15)

A América Latina popular não é retratada na grande imprensa, que só tem olhos para a

oficial, exceto em momentos muito singulares. Apenas a imprensa alternativa tem a América

Latina popular em suas categorias e seleção de notícia, isso é decorrente da educação.

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A solidão da América Latina também é decorrente dos processos de ensino-aprendizagem. Os nomes de grandes figuras históricas são desconhecidos e a história dos países o é igualmente. Na linha marxista de análise histórica, não basta entender os processos, é preciso mudá-los. As propostas de alteração desse cenário de solidão incluem o desenvolvimento dos movimentos sociais latino-americanos e a inclusão de outra história latino-americana. (BARBOSA, 2007, p. 27).

A América Latina está associada ao atraso, corrupção e pobreza. “Essa construção

negativa foi empreendida pelas elites latino-americanas, aliadas às burguesias européias e

norte americanas, nos veículos de comunicação, nos livros de história e nos processos de

ensino. (BARBOSA, 2007, p. 25).

A mídia detém papel de singular importância no processo de formação de um conceito

de identidade cultural, a partir do qual o cidadão baliza seus atos e conceitos.

O jornalismo começou a se desenvolver nas colônias espanholas bem antes do processo de independência, e não trazia, na maioria dos casos, a mesma chama libertária, idealista dos congêneres europeus. Pelo contrário, ele se apresentava como um agente propagador dos ideais das autoridades das metrópoles. Os primeiros jornais da região latino-americana nasceram de iniciativas religiosas e/ou governamentais. (SANT’ANNA, 2001, p. 07).

A América Latina deveria despertar maior interesse pela proximidade, semelhança de

problemas e governos. “Esse é um território em que se viola uma das primeiras lições que se

aprende no primeiro ano de qualquer faculdade razoável de jornalismo, qual seja a de que

acontece perto da minha casa é mais importante do que o que acontece a quilômetros e

quilômetros de distancia.” (SANT’ANNA, 2000, p. 78).

Ploblematização

O caderno Mundo da Folha de S.Paulo

Na semana de estudo da editoria mundo da FSP, os conflitos no Afeganistão entre civis

e as forças da ONU, a ação militar na Líbia e a intervenção da ONU na Costa do Marfim

dominaram o noticiário internacional. Em sete dias de análise a editoria internacional ocupou

40 páginas. Quatro no sábado (02), sete no domingo (03), seis na segunda (04), cinco na terça

(05), cinco na quarta (06), sete na quinta (07) e seis na sexta (08). As notícias internacionais

foram destaque na capa do jornal, com foto, manchete ou os dois em seis dos sete dias

verificados. A América Latina mereceu nota na capa em duas edições. Foram publicadas 88

matérias no caderno Mundo, com exceção de entrevistas e colunas de opinião. Desse total, 24 6

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matérias (28%) foram relacionadas ao continente africano, com enfoque nos conflitos na Líbia

e nos ataques da ONU ao governo de Costa do Marfim. Outras 16 matérias (18%) foram sobre

assuntos relacionados ao continente asiático, em especial a repercussão do tsunami no Japão e

a visita da presidente Dilma à China. A América Latina ocupa o terceiro maior espaço com 14

matérias publicadas (15,5%), a maioria delas sobre o desentendimento entre a imprensa e o

governo Argentino e a eleição para presidente no Peru, mas há ainda notícias sobre Hugo

Chaves da Venezuela, sobre Itaipú e as negociações entre Brasil e Paraguai, Uma pequena

nota sobre o México e uma do Equador. A América Latina esteve ausente em apenas uma

edição do jornal, no período analisado, foi na terça-feira (02). Mas neste dia foram publicadas

duas matéria sobre o Haiti (2,5%), que é um país da região do Caribe. Os EUA sozinhos

ocuparam 12 matérias (13%). A Europa teve espaço em nove textos (10,5%). O Oriente

Médio também teve destaque, foram 11 matérias (12,5%), a maioria delas sobre o conflito no

Afeganistão e as revoltas na Síria.

No sábado (02) foram 12 matérias no caderno Mundo. A África teve cinco, a Ásia

duas, a Europa também duas, América Latina e Oriente Médio uma cada. No domingo (03) 11

textos, quatro da América Latina, três da África, dois do Oriente Médio, um da Ásia e um da

Europa. No segunda dia (04) foram publicados 12 notícias. O Oriente Médio teve três

momentos, África, EUA, América Latina e Ásia dois cada um e a Europa apenas uma citação.

Dia (05) terça-feira, 11 textos publicados, quatro dos EUA, dois da região do Caribe (Haiti),

dois da África, dois do Oriente Médio e um da Ásia. Quarta-feira, (06) de abril, 13 matérias

no caderno Mundo. Seis da Ásia, três da África, duas dos EUA, uma da América Latina e uma

do Oriente Médio. Na quinta (07) foram 15 textos. A África foi citada em cinco, Europa e

América Latina tiveram três momentos cada e EUA e Ásia dois textos cada. No último dia de

análise, sexta (08), foram 14 notícias, três da África, três da América Latina, duas da Ásia,

duas dos EUA e duas da Europa.

A contabilização das matérias leva-se a comprovação de que, em ocasiões de

normalidade, a América latina possui espaço similar aos demais continentes, com pequenas

disparidades. Os EUA enquanto nação é sem dúvida o país de maior destaque na editoria. A

região do Oriente Médio, que não é propriamente um continente isolado, mas merece

destaque pelos fatos relevantes que acontecem por lá, é o principal foco do caderno Mundo.

Mas em termos continentais a AL não perde em espaço para a África, que nessa semana foi o

maior destaque em virtude de acontecimentos extremante noticiosos no continente, nem para

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a Ásia e Europa. O esquecimento fica por conta da Oceania, que em sete dias não figurou

nenhuma vez na editoria internacional da FSP.

Alguns pontos interessante a ressaltar é a constatação de que os assuntos ligados aos

países do Mercosul, bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e

Venezuela como estados membros; Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador como estados

associados e o México como observador dominam o conteúdo latino-americano. Isso se deve

ao fato de nesse bloco estarem os países de maior representatividade financeira, territorial e

populacional da Améria Latina. Outro aspecto relevante é a forma de cobertura do jornalismo

internacional na AL. Ao contrário do que ocorre em esfera global, onde as agências de

notícias dominam a produção editorial, na América Latina, nos sete dias de análise, com

exceção de duas pequenas notas, todo o restante do conteúdo foi produzido por

correspondentes ou enviados especiais. Isso se deve provavelmente pela proximidade com o

Brasil e a facilidade para se deslocar entre as nações latinas.

Com relação às fotos, há uma divisão na produção, cerca de 50% das imagens clicadas

sobre a AL são da própria Folha Press e a outra metade da agência inglesa Reuters. Nos sete

dias não foi publicado nenhum infográfico relacionado a fatos latino-americanos.

Conclusão

O artigo, seguindo sua proposta inicial, analisou a cobertura da América Latina no

caderno Mundo da Folha de São Paulo de 02 a 08 de abril de 2011. No diagnóstico final,

porém, os resultados indicam que o espaço destinado ao continente no jornalismo

internacional não é tão reduzido quanto se esperava inicialmente na hipótese.

Durante a semana de pesquisa, a política dominou o cenário de notícias na FSP. Os

conflitos na Líbia e a busca por Muammar Kadafi. Os ataques da ONU à Costa do Marfim e

os desdobramentos do tsunami no Japão foram os destaques. A América Latina ocupa seu

espaço com notícias sobre a crise da imprensa argentina e o governo Kirchner. Além disso, as

eleições no Peru também têm destaque.

A América Latina transmite um conceito de continente coadjuvante, com países de

menor importância no cenário da noticia internacional, que engatinha ainda rumo a uma

revolução. Isso não deixa de ser uma realidade em se tratando de desenvolvimento social,

políticas econômicas, e até mesmo as brigas internas entre países vizinhos, o que nos leva a

refletir que para aparecer é preciso antes de tudo organizar a casa. Porém, um dos fatores

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fundamentais para o papel figurante da América Latina abrange também o fator educação. Ao

se estudar a história do Brasil, a América Latina é relacionada basicamente para nortear o

país, a maior parte do estudo abrange a cultura européia de nossos colonizadores.

Tamanha pobreza da pauta latino-americana é resultado dessa cultura européia que nos

acompanha desde o ensino fundamental. Melhores resultados podem ser obtidos, bastando

para isso que a pauta européia e americana deixe de ser os óculos da imprensa internacional, e

que a mídia passe a noticiar o que está mais próximo de nós, que é a América Latina. Porém,

uma cobertura menos folclórica e mais jornalística, mais em cima de assuntos do que fatos

isolados.

Vale ressaltar que ao contrário do noticiário internacional global, as notícias da

América Latina são quase que na totalidade cobertas por correspondentes ou enviados

especiais. Tal constatação mostra também que o desinteresse pelos acontecimentos latino-

americanos é muito maior por parte das agências de notícias internacionais do que da

imprensa brasileira. E é exatamente pelo fato de a imprensa brasileira deslocar profissionais

para a cobertura latino-americana que o continente, apesar de todo esquecimento por parte das

agências de notícias americanas e européias, possui um bom espaço dentro do jornalismo

internacional nacional.

Se considerarmos um dos principais critérios de noticiabilidade que é a proximidade,

não só espacial, mas de cultura, sociedade e economia, a AL deveria ser, em situações

cotidianas, o continente com maior espaço no noticiário internacional brasileiro.

Bibliografia

BARBOSA, Alexandre. A solidão da América Latina na grande imprensa. Cenários da

Comunicação, São Paulo, V. 6, p. 21-29 2007.

BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão: seguido de A influência do jornalismo e Os jogos

olímpicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

ELHAJJI, Mohamed. Jornalismo internacional: Sistemas Internacionais de Informação.

Universidade Federal do Rio de janeiro. 2006.

NATALI, João Batista. Jornalismo internacional. São Paulo: Contexto, 2004.

SANT’ANNA, Francisco. América Latina – um tema fora da pauta. Universidade de

Guadalajara – México, 2001.

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