a alquimia da palavra: yeats, pessoa e as ciÊncias ocultas

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ANDERSON AMARAL DE OLIVEIRA A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS. Ijuí, RS 2009

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Final Paper (monography) Letters College Unijui, RS, Brazil, Trabalho de conclusão de curso Licenciatura em Letras e resp. literaturas, Unijuí, RS, Brasil

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Page 1: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ANDERSON AMARAL DE OLIVEIRA

A ALQUIMIA DA PALAVRA:YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS.

Ijuí, RS

2009

Page 2: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

ANDERSON AMARAL DE OLIVEIRA

A ALQUIMIA DA PALAVRA:YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Letras – Língua Inglesa e Respectivas Literaturas da Universidade Regional do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí.

Orientador: Prof. Me. Larry Antônio Wizniewsky

Ijuí, RS

2009

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DEDICATÓRIA:

À minha dedicada e carinhosa esposa, pelo amor incondicional e pela paciência incomensurável, dedico essa conquista.

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AGRADECIMENTOS:

Agradeço aos meus pais pelo apoio, carinho e fortaleza de sempre;

À Dominique pela luz em minha vida;Agradecimento especial ao grande

amigo Paulo Ivan da Costa por sempre ter acreditado em mim e ter tornado tudo possível;

Agradeço à Dione Ester da Costa pela paciência maternal;

Agradeço a todos os meus professores, colegas e amigos pelo estímulo e pelos “puxões de orelha”;

“Last but not least”, agradeço ao meu mentor Larry Antônio Wizniewsky pelo apoio e inspiração profissional.

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RESUMO

Foi realizada, no presente trabalho, uma pesquisa de cunho bibliográfico- comparativa, apontando a ligação entre a vida e obra dos poetas William Butler Yeats e Fernando Pessoa, motivados pela falta ou inexistência de pesquisas neste campo. Pela perspectiva da literatura comparada, os dados biobibliográficos foram analisados levando em consideração os elementos relativos às ordens místicas e esotéricas das quais esses importantes escritores do século XX fizeram parte e que tiveram influência na sua formação discursiva. Dentre as diversas ordens abordadas, darei ênfase a Hermetic Order of Golden Dawn, ou apenas Golden Dawn Society. Dentre as influências comuns que possuíram, Aleister Crowley foi considerado como uma forma de se estabelecer uma ligação da poesia de Pessoa e Yeats, apesar do fato de nunca terem conhecido a obra um do outro, assim como pessoalmente. Considerados os maiores poetas de seus respectivos países, Fernando Pessoa e William Butler Yeats são responsáveis pelo desenvolvimento de novos pontos de vista estéticos dentro do movimento modernista. Assim a magia se torna além de uma abordagem química e filosófica, um importante elemento de construção artística.

Palavras-chave: Fernando Pessoa, William Butler Yeats; Golden Dawn; Alquimia da palavra.

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ABSTRACT

It is done, in this paper, a comparative bibliographical research, pointing out a connection between William Butler Yeats and Fernando Pessoa’s life and work, motivated by the lack of studies in this field. Through comparative literature’s perspective, bibliographical data were analyzed, considering elements of mystic and esoteric orders, in which these important 20th century writers participated and were influenced in their discourse formation. Among different orders approached, I will emphasize the Hermetic Order of Golden Dawn, or Golden Dawn Society. Among common influences, Aleister Crowley was considered a way to establish Pessoa and Yeats poetry’s connection, although they never met each other’s work not even personally. Considered as better poets ever in their countries, William Butler Yeats and Fernando Pessoa are responsible for the development of a new esthetic point of view inside Modernism movement. Thus, magic theories became more than chemical and philosophical approaches, being an important artistic building element.

Key words: Fernando Pessoa, William Butler Yeats; Golden Dawn; Word’s Alchemy

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................7

1. FERNANDO ANTÔNIO NOGUEIRA PESSOA.......................................................9

2. WILLIAM BUTLER YEATS....................................................................................22

3. PESSOA, YEATS E AS CIÊNCIAS OCULTAS.....................................................30

4. CONCLUSÃO........................................................................................................42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................44

OBRAS CONSULTADAS..........................................................................................46

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Page 8: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

INTRODUÇÃO:

Um dos aspectos mais interessantes dos Estudos Comparados em

Literatura reside na possibilidade de aproximação estética e intelectual de artistas

que, a rigor, desconheciam um a obra do outro, mas dedicavam-se a projetos

intelectuais e artísticos muito semelhantes - este é o caso dos dois escritores que

são o tema deste trabalho pois ambos têm enorme importância na cultura de seu

país e desenvolveram obras literárias preocupadas com a questão da identidade

nacional, da identidade individual e de suas relações com o universo da magia e do

esoterismo. Desta forma, torna-se possível fundamentar um estudo literário, desde

que exista um elemento comum aos trabalhos dos dois artistas. Este elemento

comum é a Hermetic Order of Golden Dawn, sociedade esotérica extremamente

influente na cultura do século XX bem como a figura controvertida de Aleister

Crowley, conhecido pelos dois poetas, que por sua vez não se conheciam.

Fernando Pessoa e W. B. Yeats estão entre os maiores poetas de suas

respectivas culturas e nacionalidades. Nunca se encontraram pessoalmente e, até

prova em contrário, desconheciam a obra um do outro. Ambos no entanto

mantiveram extensa e complexa relação com a Golden Dawn Society. Este terceiro

elemento, ao mesmo tempo simbólico, concreto e social, é o elo que permite

analisar dentro do mesmo paradigma a obra destes dois autores.

Neste trabalho pretende-se, através da análise comparada e da pesquisa

histórica, evidenciar que Pessoa e Yeats podem ser considerados poetas-gêmeos,

se colocarmos como ponto de referência Aleister Crowley e a Golden Dawn. A

contribuição maior deste trabalho está na abertura de uma linha de pesquisa ainda

inédita nos estudos comparados, mas que se encontra autorizada e justificada pela

existência de um ponto comum entre esses dois autores e cuja consistência pode

ser amplamente estabelecida. Trata-se também de um estudo comparado na área

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da cultura e das influências interculturais da língua inglesa, uma vez que Fernando

Pessoa valia-se do inglês como língua franca na elaboração de sua obra.

Desta forma, este trabalho tem por objetivos estabelecer um estudo

comparado entre as obras de Fernando Pessoa e William Butler Yeats, tomando por

base ampla de relações, a visão mística e esotérica que ambos defendiam em

relação ao fazer poético. Ao mesmo tempo, o trabalho busca evidenciar as relações

estabelecidas pelos dois autores com a Golden Dawn mostrando que os elementos

utilizados na criação literária correspondem aos rituais e principalmente, aos

princípios que organizavam o modo de ser desta organização. Serve também como

um diálogo de referências simbólicas e literárias entre duas culturas, mostrando que

Fernando Pessoa e William Butler Yeats foram dois poetas visionários e cuja obra

ainda não foi igualada no âmbito das literaturas em língua inglesa e portuguesa.

O primeiro e o segundo capítulo, trazem elementos que fizeram parte da

formação psíquica e estilística de Fernando Pessoa e William Yeats

respectivamente. O terceiro capítulo trás a análise de obras poética destes autores e

como pode se estabelecer à relação entre eles.

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1. FERNANDO ANTÔNIO NOGUEIRA PESSOA

Nascido em Lisboa em 13 de junho de 1888, filho de Joaquim de Seabra

Pessoa e Maria Madalena Pinheiro Nogueira, Fernando Pessoa é considerado um

dos maiores poetas da língua portuguesa, (BLOOM, 2003 p. 610) sendo segundo

este, apenas menor que Camões, viveu boa parte de sua infância na sua terra natal,

indo posteriormente morar em Durban, na África do Sul. Sua vivência em Portugal,

compreende o período de seu nascimento até o segundo casamento de sua mãe em

1895, que se deu, cerca de três anos após o falecimento de seu pai. A mudança,

deve-se ao fato de seu padrasto ser nomeado cônsul interino de Portugal naquele

país (CRESPO, 1988, p. 26-28). Diante dos ares de mudança, cogitava-se a

possibilidade de Fernando permanecer em Portugal, vivendo com suas tuas, o então

pequeno poeta escreve a sua primeira obra como forma de influenciar sua família:

À minha querida Mamã

Eis me aqui em Portugal,

Nas terras onde eu nasci,

Por muito que goste delas,

Ainda gosto mais de ti

(FERNANDO PESSOA apud CRESPO 1988, p. 27)

Se a poesia foi fator determinante para a ida a Durban, não se sabe, o fato é

que seu padrasto, o comandante João Miguel Rosa, sempre apoiou a idéia dos

filhos acompanharem D.Maria Madalena.

O gosto pela poesia em Pessoa obviamente não se iniciou de forma mágica

ou misteriosa, tendo profundas raízes no seu próprio convívio familiar, sua Tia Maria

Xavier escrevia versos de considerável qualidade, assim como sua mãe, segundo

Crespo (1988, p. 19, 25 e 26). Além disso, a erudição de seus pais era certamente

notável, “[sua mãe] falava com fluência o francês, inglês e alemão, lia latim, e

quando era solteira havia se entretido a escrever versos.” O pai de Fernando,

também era um homem culto, sendo além de poliglota, funcionário público e redator

do jornal Diário de Notícias.

Apesar de pouco dinheiro a família de Fernando possuía hábitos

requintados, aspersões aristocratas e acreditavam na monarquia, seguindo uma

linhagem de família na qual as pessoas possuíam grandes cargos e títulos. Para se

ter uma idéia, o nome “Fernando” foi escolhido em homenagem a Fernando de

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Bulhões, nome de batismo de Santo Antônio, o qual a família acreditava ter ligação

genealógica. Dentro deste ambiente familiar e mais tarde nas escolas de freiras

irlandesas de West Street e na Durban High School, se deu à instrução de nosso

poeta, seguindo os padrões britânicos de educação.

Pessoa destacou-se dentre seus colegas, obtendo quase sempre grandes

resultados, sendo contemplado com prêmios por diversas vezes em reconhecimento

ao seu empenho e sua notória inteligência. Apesar disso, não concluiu sua

graduação no curso de Letras que iniciou ao retornar definitivamente para Portugal,

passando a atuar como correspondente estrangeiro e tradutor em escritórios

comerciais pois, possuía domínio do inglês e francês além de paralelamente atuar

também como escritor e crítico literário, produzindo artigos para diversas revistas e

outros periódicos.

Do seu trabalho nos escritórios, Pessoa dedicava dois dias da semana, que

lhe geravam rendimentos suficientes para suas despesas, de homem de hábitos

simples. No restante do tempo, dedicava-se às obras literárias, principalmente a

poesia, além de passeios e outras atividades. Apesar das diversas ocasiões em que

salários tentadores foram lhe ofertados, Pessoa nunca abriu mão de sua liberdade,

não se submetendo ao trabalho em tempo integral. Antes de entrar no mercado de

trabalho, tentou a sorte se lançando como empresário, montando uma tipografia

chamada “Empresa Íbis”, que adquiriu com o dinheiro herdado da avó. Contudo não

muito tempo depois o empreendimento malogra (SIMÕES, in COUTINHO, 2006 P.

33.).

No tempo que restava livre, Pessoa aproveitava a beleza de todas as coisas,

o que lhe fazia na realidade pensar e refletir sobre seu mundo, auxiliando na sua

obra como insumo para a sua visão poética do mundo

(...) Há poesia em tudo – na terra e no mar, nos lagos e margens dos rios. Também há na cidade – não o neguem – é evidente para mim aqui onde me sento: há poesia nesta mesa, neste papel, neste tinteiro, há poesia na trepidação dos carros nas ruas, em cada movimento ínfimo, trivial. (...) Há para mim um significado mais profundo do que os medos humanos no aroma do sândalo, nas latas velhas deitadas num monturo (...) (FERNANDO PESSOA).

Trago aqui uma poesia Chamada “Os Castelos” datada em 08 de dezembro

de 1928 publicada na primeira parte do livro “Mensagem” em que é possível verificar

a influencia extremamente simbolista na descrição imagética, mas basicamente de

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caráter nacionalista e monarquista como o próprio Pessoa defendia ser. As obras de

“Mensagem” possuem por trás de seu significado primeiro de exaltação a Portugal, a

busca pelo Supra-Camões como sendo o grande poeta nacional. Esta busca era na

realidade parte de uma corrente de pensamento da nata intelectual da época no

movimento de “Renascença Portuguesa”.

OS CASTELOS

A Europa jaz, posta nos cotovelos:De Oriente a Ocidente jaz, fitando,E toldam-lhe românticos cabelosOlhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;O direito é em ângulo disposto.Aquele diz Itália onde é pousado;Este diz Inglaterra onde, afastado,

A mão sustenta, em que se apoia o rosto.Fita, com olhar sphyngico e fatal,O Ocidente, futuro do passado.O rosto com que fita é Portugal.

Nos primeiros versos vemos a Europa em uma forma humanizada, a Europa

como se fosse uma criatura viva ou algo corpulento, na forma descrita da disposição

dos cotovelos, lembra a imagem de uma criança ou uma mulher, preguiçosamente

deitada de bruços, com as pernas dobradas e voltadas para cima, mas com um

olhar vago e distante. No segundo verso temos a dimensão da totalidade deste

continente “De Oriente a Ocidente”, e fitando como se estivesse de prontidão, de

sentinela, no mínimo observador e inquiridor, mas este tom sério ameaçador e

quebrado pelo verso seguinte que se refere aos cabelos “românticos”. Os “olhos

gregos” citados no último verso da primeira estrofe, são a origem do ponto de vista

português, uma espécie de parâmetro grego para a avaliação situacional, social e

nacional, uma forma conservadora de julgar o restante do mundo mesmo com a

figura claramente jovial descrita. Apesar de Pessoa ter sido conservador político

monárquico, é considerado como um dos representantes do movimento modernista

português.

Na segunda estrofe, temos a descrição da Europa antropomórfica, que apóia

a cabeça com a mão num tom quase infantil, doce e vago que encobre todo o

continente corroborado com as descrições da primeira. Esta criatura que cobre todo

o continente e que ao mesmo tempo lho é, demonstra uma imagem de unidade

européia. A exata localização e a disposição das mãos e dos braços, estando o

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cotovelo está apoiado na Itália, relacionamos facilmente com a base da civilização

européia, a Grécia portanto que reforça a idéia dos “olhos gregos”. Temos aqui uma

adição de detalhes da expressão ilustrada anteriormente, no segundo verso da

terceira e última estrofe, no qual o ar vago de antes, dá lugar ao mistério e

voracidade da esfinge. Podemos relacionar a então corpulenta “esfinge européia”,

com aquela que aterrorizava Tebas na peça Édipo Rei, escrito por Sófocles no

século V a.C., que devoradora se tornava se não desvendados seus enigmas. Quem

poderia ser nosso Édipo na condição de salvador senão D. Sebastião que viria para

concretizar a profecia do quinto império? Ou o Supra-Camões através da superma

poesia colocar por terra os segredos de uma poesia complexa? Como o próprio

Fernando Pessoa escreve (apud CRESPO, 1988, p. 68) “Meu intenso sofrimento

patriótico, o meu desejo de melhorar o estado de Portugal, provocam em mim (...)

um sofrimento horrível que, afirmo-o, me mantém constantemente nos limites da

loucura”. Vale ressaltar que além defensor da monarquia, Pessoa, era militante do

movimento de Renascença Portuguesa, cujo porta-voz era a revista “A Águia”, na

qual foi um dos fundadores. Além de europeísta, esta poesia lembra os feitos e as

conquistas das grandes navegações lusitanas, pois, o ocidente descoberto/

invadido, mas enfim dominado por Portugal era a perspectiva de um futuro,

exploratório talvez, mas era uma nova esperança. Nacionalista por excelência,

Pessoa encerra, dando um rosto a esta esfinge, ora inquiridora, ora doce e infantil.

Portugal é o rosto da Europa, nesta perspectiva nacionalista e saudosista, assim

como os movimentos literários que a pesar de sofrerem grandes influências do

decadentismo e do simbolismo da linha francesa, eram defendidos por ele.

Além de possuir em sua extensa produção literária, material poético de

excelente qualidade, Fernando Pessoa foi adiante nas temáticas épicas lusitanas do

seu livro “Mensagem”, se destacando de outros poetas de sua geração pela curiosa

obra assinada por outras diversas “vozes” contidas no seu imaginário, tendo

algumas destas “vozes” inclusive o acompanhado pelo restante da vida: É a

chamada produção heteronímica.

Produz inúmeras obras sob o nome de Álvaro de Campos, Alberto Caieiro,

Ricardo Reis, relacionando ao todo 72 heterônimos (URBAN, 2007) que o se

iniciaram na infância (Chevalier de Pás) seguindo na adolescência (Alexander

Search) e na fase adulta (os anteriormente citados entre tantos outros). Pessoa

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possuía a habilidade de criar bem mais que meros personagens, criando na vida

heteronímica dos diversos “outros” poetas, suas biografias, profissões, estilos de

escrita peculiares, preferências, além de outras características que os permitiram ter

uma vida literária à parte da vida do poeta ortônimo, assim chamada à obra

assinada por Fernando Pessoa sendo “ele mesmo”, e não Caieiro, Reis, ou nenhum

outro heterônimo.

A visão quase mítica e errônea que se tem de Fernando Pessoa, sendo um

poeta solitário, de limitada vida pública e social, é esclarecida por Crespo, (1988, p.

87, 89) que nos remete a uma vida de participação ativa nos meios intelectuais e

culturais de Portugal, colaborando no corpo editorial da revista A Águia, Orpheu e

posteriormente na revista Presença. Pessoa colaborou também em diversos

periódicos com seus artigos políticos, ensaios e críticas literárias. Pessoa era

discreto quanto a seu lado pessoal, de forma que buscava não se intrometer na vida

dos outros, inclusive de seus amigos, como uma forma de ter sua vida e sua

intimidade preservadas.

Segundo Urban (2007) o espólio de Fernando pessoa conta com exatos

27.543 textos em verso e prosa, contemplando textos sobre os mais diversos temas.

Pessoa participou também do movimento literário chamado “Renascença

Portuguesa”, que se iniciou no ano de 1912, (data esta em que nosso poeta se torna

oficialmente escritor e crítico literário), desta forma a revista a “A Águia” se torna

veículo de publicação de artigos que defendiam estas aspersões. A sua participação

ativa no reduto cultural português fez com que a qualidade de seus textos e a sua

competência fosse elogiada, passando a ter destaque neste espaço, no qual era

discutido o futuro e as tendências da literatura portuguesa e mundial. (CRESPO,

P.72).

Por trás da pacata figura pessoana, temos grande interesse em apontar os

aspectos religiosos dos quais nosso poeta se interessava.

Desde cedo o poeta direciona sua alma a espetacular qual o ‘sentido da vida’, enquanto procura decifrar o enigma de sua própria origem. E nos confessa ser de sua poesia fruto de seu estado de ‘participação mística’. (URBAN, 2007).

Fernando Pessoa era um grande entusiasta dos estudos das ciências

ocultas, pois sua personalidade complexa não encontrava as respostas para seus

dilemas particulares na religião estabelecida, procurando a si mesmo nos aspectos

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transcendentes dos sistemas esotéricos. Possuía em sua biblioteca particular,

muitas obras relacionadas além do sebastianismo português com magia, alquimia e

ordens iniciáticas. Alguns exemplos são A. E. Waite, MacGregor Mathers (um dos

fundadores da Golden Dawn sobre a qual iremos falar posteriormente), João

Antunes, entre outros. Além de ler, traduziu muitas obras da Ordem Rosa Cruz e

Sociedade Teosófica, foi também iniciado na ciência da astrologia, que segundo

Crespo (1988, p. 150) tenha sido por influência de seu amigo Augusto Ferreira.

Porém a origem de seus interesses provém de uma era mais remota, tendo

presenciado seções espíritas na casa de sua tia Anica (Ana Luisa Pinheiro

Nogueira). O aprofundamento dos estudos místicos se dá após a tradução dos livros

da russa Madame Helena Blavatsky fundadora da Sociedade Teosófica de Londres,

que foi por algum tempo mestra do poeta Irlandês William Butler Yeats, segundo

Crespo (1988 pg. 149).

O espólio de Fernando Pessoa contém entre outras, diversas obras e

tratados filosóficos, alquímicos e herméticos, revelando uma faceta ocultista do

poeta à medida que é publicada. Aventurou-se como filósofo alquímico descrevendo

suas teorias sobre diversos assuntos tocados pela metafísica criando seus próprios

conceitos sobre a vida e sobre o próprio ocultismo: Reservemos esta passagem

descrita por Pessoa para compreender a outro fato posterior

Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (...), extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, por que envolve a transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, mas antes com defesas que os demais caminhos não têm. (CENTENO e RECKERT, 1978, p. 118).

Os estudos místicos vão muito além. Pessoa começa então a escrita

automática, ou seja, passa a psicografar cartas ditadas por espíritos, transcrever

símbolos, sinais cabalísticos e maçônicos, recebendo inclusive uma mensagem de

seu tio através destas ligações. Se objetivarmos constituir ainda que brevemente

uma base do pensamento poético de Pessoa, devemos ter o correto discernimento

que ele ao mesmo tempo era uma pessoa única no plano material e no campo

literário “vários”, através de seus heterônimos.

A Heteronímia é uma sistematização e uma quase superstição, frustradas, como que uma sobreposição a um Deus negado, mas criador na hipótese de o haver, uma nostalgia do verbo construtor, magicamente interrogadas na transmutação dos símbolos ocultos nos seus versos e

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desoladoramente inatingidas na conclusão com que comenta inoperante o desejo inscrito na sua poesia. (GALHOZ apud COUTINHO, 2006, p. 20).

Podemos compreender que o poeta através destas outras vozes, consegue

exprimir seus pontos de vista distintos, não possuindo compromisso com uma

verdade única, podendo lutar por uma causa, atacando-a de diversos lados, tendo o

direito de se contradizer e possuir discussões intrínsecas entre seu ser. Se numa

voz Fernando tem uma opinião, Alberto Caieiro pode muito bem discordar, sem que

nenhum dos dois seja prejudicado. Fernando Pessoa tem a possibilidade de “dizer e

desdizer” sobre ele mesmo ou sobre qualquer assunto que lhe convenha. Contudo,

seria simples demais se fosse somente isso.

Retomamos a passagem anterior na qual Pessoa descreve os caminhos

para o “oculto”. Podemos compreender sua aventura alquímica, (segundo ele, o

caminho mais perfeito) trazendo a fragmentação de sua personalidade nas diversas

vozes heteronímicas podendo ser na realidade mais que apenas poetas discursando

sobre diversos assuntos, mas sim peças de uma grande obra esotérica e alquímica

de Fernando Pessoa que se eleva a um legado extremamente complexo que vai

além das fronteiras da obra de arte.

Desde cedo Pessoa já possuía preocupações com questões filosóficas e

metafísicas como no trecho abaixo:

Mas que é o próprio homem senão um insecto cego e inane, zumbindo contra uma janela fechada? Instintivamente pressente, para além da vidraça, uma grande luz e calor. Porém é cego e não pode vê-la; nem pode ver que algo se interpõe entre ele e a luz (...) mas não consegue chegar mais perto desta do que a vidraça o permite. Como irá a Ciência ajuda-lo? (...) E todavia acredito que o homem de gênio, o poeta, consegue de algum modo atravessar a vidraça e sair para a luminosidade exterior; sente calor e satisfação por ter ido tão mais longe do que todos os homens, mas mesmo ele não continua cego? Estará mais próximo de conhecer a Verdade Eterna? (FERNANDO PESSOA apud URBAN 2007).

O excerto acima é comentado por Urban da seguinte maneira:

Neste vislumbre de um jovem, revela-se uma alma muito velha, sábia o bastante para perceber o panorama comportamental de uma humanidade acostumada a viver fechada em seu cotidiano mecanicista, teimosamente cega, alienada das possibilidades transcendentes. A angústia que pulula no trecho, a fazer do poeta um atormentado visionário, equivalente ao grande dilema universal: “de onde vimos, quem somos, para onde vamos?” (URBAN, 2007).

Os ensaios filosóficos e ocultistas de Fernando Pessoa compreendem

sistemas místicos e ocultistas de diversas ordens outrora estudadas por ele, aliando

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a sensibilidade típica do poeta, que se preocupa com a evolução da humanidade

como um todo, sendo a sua iniciação nos grandes mistérios, uma forma de

aprofundar sua visão, percebendo uma realidade paralela, que pode ter uma

intersecção com a realidade física em que vivemos e que, de uma forma ou de

outra, acaba por nos influenciar. Seria algo como uma conspiração astral, ou partes

de um sistema cósmico que está em funcionamento. O poeta parte então ao aspecto

transcendente com sua poesia, e no caso da alquimia heteronímica, o ritual se dá ao

seu modo.

Contudo, uma grande dúvida que paira no aspecto metafísico de Pessoa é o

ato da sua iniciação em si. Em sua nota autobiográfica que possui dados muito

vagos sobre o poeta, nos é revelado seu grau de iniciação: “Iniciado, por

comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da

(aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.” Vale observar, que o poeta

era muito discreto enquanto sua vida pessoal, então é extremamente compreensível

que as revelações contidas nesta nota sejam apenas superficiais. Crespo (1988, pg.

356) apesar de se eximir de opinar de forma mais incisiva, trás à tona a

possibilidade de um processo de auto-iniciação nos grandes mistérios por parte do

próprio poeta, sendo ele grande estudioso das ciências ocultas. Ainda que passível

de discussão, a criação heteronímica considerada como parte de um ritual de

produção alquímica. Mas a discussão da forma da iniciação de Pessoa é certamente

um assunto mais profundo que necessitaria um embasamento de maior vigor das

tradições iniciáticas, além de que tendo Pessoa participado, mesmo sendo apenas

como estudante, fez contato certamente com as mais diversas ordens dentro das

quais podemos encontrar opiniões controversas sobre o assunto. Outra

possibilidade é a participação de Crowley neste ato de iniciação, que será relatado

posteriormente.

Dentro da extensa produção poética de Fernando Pessoa, há que destacar

a poesia “No túmulo de Christian Rosencreutz” escrita em vocabulário altamente

hermético, retrata um pouco da influência da Ordem Rosa Cruz na formação e

desenvolvimento de seu pensamento esotérico. A Ordem Rosa Cruz foi uma das

bases teóricas para a fundação da Golden Dawn.

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No Túmulo de Christian Rosencreutz

Não tínhamos ainda visto o cadáver do nosso Pai prudente esábio. Por isso afastamos para um lado o altar. Então pudemoslevantar uma chapa forte de metal amarelo, e ali estava um belocorpo célebre, inteiro e incorrupto…, e tinha na mão um pequenolivro em pergaminho, escrito a oiro, intitulado T., que é, depois daBíblia, o nosso mais alto tesouro nem deve ser facilmente subme-tido à censura do mundo.

Fama Fraternitatis Rosas Crucis

I

Quando, despertos deste sono, a vida,Soubermos o que somos, e o que foiEssa queda até Corpo, essa descidaAté à Noite que nos a Alma obstrui,

Conheceremos pois toda a escondidaVerdade do que é tudo que há ou flui?Não: nem na Alma livre é conhecida…Nem Deus, que nos criou, em Si a inclue.

Deus é o Homem de outro Deus maior.Adam Supremo, também teve Queda;Também, como foi nosso Criador,

Foi criado, e a Verdade lhe morreu…De além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;Aquém não a há no Mundo, Corpo Seu.

II

Mas antes era o Verbo, aqui perdidoQuando a Infinita Luz, já apagada,Do Caos, chão do Ser, foi levantadaEm Sombra, e o Verbo ausente escurecido.

Mas se a Alma sente a sua forma errada,Em si, que é Sombra, vê enfim luzidoO Verbo deste Mundo, humano e ungido,Rosa Perfeita, em Deus crucificada.

Então, senhores do limiar dos Céus,Podemos ir buscar além de DeusO Segredo do Mestre e o Bem profundo;

Não só de aqui, mas já de nós, despertos,No sangue atual de Cristo enfim libertosDo a Deus que morre a geração do Mundo.

III

Ah, mas aqui, onde irreais erramos,Dormimos o que somos, e a verdade,Inda que enfim em sonhos a vejamos,Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

Sombras buscando corpos, se os achamosComo sentir a sua realidade?Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?Nosso toque é ausência e vacuidade.

Quem desta Alma fechada nos liberta?Sem ver, ouvimos para além da salaCalmo na falsa morte a nós exposto,

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O Livro ocluso contra o peito posto,Nosso Pai Rósea-cruz conhece e cala.

O prefácio do poema é um excerto do manifesto Rosa Cruz denominado

Fama Fraternitatis, publicado em Kassel, na Alemanha em 1614, segundo Urban

(2007). Segundo seu Site Oficial,

A Ordem Rosacruz, AMORC é uma organização internacional de caráter místico-filosófico, que tem por missão despertar o potencial interior do ser humano, auxiliando-o em seu desenvolvimento, em espírito de fraternidade, respeitando a liberdade individual, dentro da Tradição e da Cultura Rosacruz.¹

É oportuno trazer outro conceito básicos que auxiliará na compreensão

deste trabalho, sendo,

O Hermetismo, em sentido estrito, surgiu no final da época helenística, afirmando-se como uma revivescência de um legado egípcio. Compunha-se, como seu antepassado, de um complexo de conhecimentos em que se destacavam a Astrologia, a Alquimia e a Magia.(COSTA, 2008).

O hermetismo se inclui na constituição estrutural do poema, pois possui três

partes, que pode ser relacionado com o grau de evolução mística do poeta,

referindo-se ao grau de adepto (CRESPO, 1988, p. 375). Christian Rosencreutz

citado nos remete a uma suposta personagem a quem é atribuída uma compilação

de escritos ocultistas. Fundou um mosteiro chamado Sanctus Spiritus. O Corpo de

Christian foi encontrado e segundo o mito, intacto, possuindo entre seus braços um

livro contendo tais postulações.

Tomando partido disso, Pessoa segue com seu hermetismo e suas

considerações teóricas sobre a vida após a morte e o encontro de uma verdade

suprema. Esta sucinta análise não tem por pretensão ser definitiva, mas trás

algumas observações pessoais embasadas em diversos artigos lidos, pois trata de

um assunto que por mais que seja discutido, nunca terá uma conclusão, a própria

religião. A metafísica pessoana parte de preceitos religiosos para suas ponderações

como o compromisso de ir além, ou seja, buscar através dos estudos ocultistas uma

verdade maior que o dogmatismo e a plasticidade das religiões conservadoras

permitem, apesar das ordens místicas não se constituírem religiões, mas sim

organizações que buscam respostas mais profundas em ensinamentos e discussões

que não se prendem a nenhum ortodoxismo.

Na primeira parte temos a descrição de que a vida seria apenas uma etapa,

para Pessoa, um sono que terá um despertar, sendo este, a própria morte. Contudo

19

Page 20: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

o grande questionamento é quanto à descoberta da Verdade: Seria acessível a nós

homens? Categoricamente Pessoa diz que nem mesmo, Deus que a criou, a ela não

se inclui. Contudo, vejamos a terceira estrofe e o primeiro verso da quarta:

Deus é o Homem de outro Deus maior:

Adam Supremo, também teve Queda;

Também, como foi nosso Criador,

Foi criado, e a Verdade lhe morreu...

A Bíblia diz (1 Timóteo, 2: 5): “Pois há um só Deus, e um só Mediador entre

Deus e os homens, Cristo Jesus, homem (...)”. Desta forma, sendo mesmo os

estudos místicos de uma ou de outra forma embasados na Bíblia, acredito que

Pessoa esteja apenas relatando a passagem de Jesus Cristo pela terra, pois a

queda pode se referir ao fato do mesmo ter passado do estado espiritual ao carnal,

na qual tudo o que lhe condiz com a Verdade fica em no primeiro plano, não lhe

sendo posse enquanto não seja crucificado e retorne ao plano espiritual.

Na segunda parte temos no primeiro verso: “Mas antes era o Verbo, aqui

perdido”, se tratando o Verbo à segunda pessoa da Santíssima Trindade, “o Filho”,

temos claramente que Fernando pode ter apenas trocado as figuras de nome em um

jogo simbólico, ou seja, não tendo um Deus acima de Deus, e sim, apenas o Verbo

que se tornou Carne, portanto, tendo após a queda, se reconstituindo como Verbo

novamente, perante a sua morte, e nas palavras de Pessoa, “despertou deste sono,

a vida”. Isso se reforça quando pensamos em “Adam Supremo” referenciado no

décimo verso, pois segundo a Cabala, à qual nosso poeta também era adepto,

teríamos o “Adam Kadmon” ou seja, a base primordial de toda a criação do universo.

Ou seja, neste caso, a queda de Deus, assim como a queda de Adam Kadmon, se

refere à transmutação, pois se o progresso é de fato para toda a alquimia e toda a

ciência oculta, a purificação do ser através das evoluções transcendentais do

espírito através dos ciclos reencarnatórios, a queda vem a ser a materialização

destes espíritos superiores, podendo ser interpretada como o caminho inverso do

que buscavam. Não acredito portanto que Pessoa se refira a um Deus superior a

outro Deus, pois cairia certamente na principal questão da teoria Cosmogônica de

criação do universo que é: “se um ser é gerado de um ser precedente, como surgiu

o primeiro ser?”.

20

Page 21: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

O desfecho deste poema nos leva a visão de Pessoa, que tange a busca da

verdade como sendo algo inacessível aos homens, assim como o trecho anterior em

que compara o homem a um inseto batendo na vidraça. Fica subentendido que o

conhecedor da verdade, neste caso Christian Rosencreutz, leva o grande

conhecimento consigo, uma vez grande parte das revelações vêm com a morte, não

toda a verdade, e que na realidade nossa incompletude é uma grande sombra, que

terá luz. O fato de “ouvirmos para além da sala” nos remete a dimensão de uma

antecâmara, termo muito utilizado pelos místicos rosacruscianos.

Fernando Pessoa, apesar de não viver às custas de sua poesia, a levava

muito a sério, abrindo mão entre outras coisas, de se casar (pois segundo ele, teria

que trabalhar mais dias por semana a fim de obter uma situação financeira mais

confortável) para ter tempo de dedicar-se a ela, sua obra. Mesmo tendo um longo

caso amoroso com Ophélia Queiroz que descambou num envolvente noivado, optou

por se dedicar ao seu grande trabalho. Fernando recusou segundo Crespo (1988,

pg. 64) convites de trabalho em diversos escritórios comerciais que ofereciam

excelentes salários, recusando inclusive uma proposta para dar aula de literatura

inglesa na faculdade de letras de Coimbra. Uma das frases famosas de pessoa

inspirada em navegadores antigos é de que: “Viver não é necessário; o que é

necessário é criar” “(PESSOA, apud COUTINHO 2006, pg.17)”.

Em Fernando Pessoa a possessão de uma voz poética amassa-se-lhe da vivência íntima da poesia e da luta por uma tradução verbal dela. A vivência da poesia era-lhe um mundo inquietante, apertado e estreitamente numa concentração obscura do ilimitado e do desconhecido, e que ele tenta penetrar inventando as portas rigorosamente racionais que julga a condição mais alta do seu espírito...(Id. p. 19).

Desta forma é possível verificar ao longo da vida e obra de Pessoa este

esmagamento e fragmentação de seu “eu” que se torna ao mesmo tempo no

aspecto pessoal um tormento, é transformado dentro de seu processo criativo e

intelectual na vida independente de seus heterônimos.

Fernando Pessoa deixa bem clara a relação de interdependência de si

próprio, com seus heterônimos em “Ficções do Interlúdio” e esclarece sua relação

com seus outros “eus”:

Um exemplo: escrevi com sobressalto e repugnância o poema oitavo do ‘Guardador de rebanhos’, com a sua blasfêmia infantil e o seu antiespiritualismo absoluto. Na minha pessoa própria (...) nem uso da blasfêmia, nem sou antiespiritualista. Alberto Caieiro, porém como eu o

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concebi é assim (...).(FERNANDO PESSOA, apud COUTINHO 2006. Pg. 168).

Pessoa vai além, dizendo:

Assim têm esses poemas de Caieiro, os de Ricardo Reis e os de Álvaro de Campos que ser considerados. Não há que buscar em quaisquer deles idéias ou sentimentos meus, pois muitos deles exprimem idéias que não aceito, sentimentos que nunca tive. (id).

A pesar da intensa produção poética de Fernando Pessoa ortônimo e

heterônimo, apenas teve publicado em vida o livro “Mensagem” em dezembro de

1934 (COUTINHO 2006, pg. 40) e poemas que escrevera em inglês além, de artigos

e outros poemas esparsos publicados nas diversas revistas e periódicos dos quais

fez parte. Após a sua morte em 30 de novembro de 1935, Luis de Montalvor e João

Gaspar Simões, publicam a grande parte da obra de Pessoa em 1942 em prosa em

poesia (segundo a Encyclopaedia Britannica do Brasil). Em 2003 é lançado pela

editora Assírio e Alvim, sob supervisão do Editor Ricardo Zenith, o livro “Fernando

Pessoa, Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal” que contém

muitos escritos que nosso poeta psicografou entre 1916 e 1917.

O aspecto transcendental almejado por Pessoa na sua produção poética, foi

alcançado com tal primor, que toda vez que o espólio é consultado, novas

revelações são feitas da vida e obra deste fantástico pensador. No próximo capítulo,

encontraremos o decorrer sobre outro importante poeta contemporâneo a Pessoa, o

irlandês, W.B. Yeats.

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Page 23: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

2. WILLIAM BUTLER YEATS

“O autor é um personagem moderno, produto sem dúvida, da nossa

sociedade, na medida em que, ao sair da Idade Média, com o empirismo

inglês, o racionalismo francês, e a fé pessoal da Reforma, ela descobriu o

prestígio do indivíduo, ou como se diz mais nobremente, da ‘pessoa

humana’.” (BARTHES apud COMPAGNON, 2006, pg; 50).

Nascido em 13 de junho de 1865 em Dublin, Irlanda William Butler Yeats foi

um dos principais poetas de língua inglesa do seu século, trazendo em sua obra

retratos de sua vida pessoal e de seus ideais políticos, religiosos, metafísicos e

filosóficos. Faz-se imprescindível que nos valhamos da forte influência da sua vida

pessoal para que se possa compreender a complexidade de seu legado cultural. O

fato de misturar o eu lírico de Yeats com o ego do próprio poeta dá-se á medida em

que as frustrações e os anseios da vida pessoal atingiram grandes porções da sua

obra, apresentando-se na forma de conflitos amorosos, culturais, religiosos, sociais

e econômicos.

Os primórdios de sua biografia, já revelam fortes influências ao mundo

artístico, iniciando sua carreira na pintura, recebendo a influencia primeira de seu pai

John Butler Yeats, que era um pintor com difusão local. Yeats freqüentou a Escola

Metropolitana de Artes, em Dublin e logo descobriu suas vocações literárias,

dedicando-se principalmente à poesia, ao folclore, à crítica literária. Vale lembrar

que participou da edição das obras de William Blake 1893. Yeats, assim como o

português Fernando Pessoa, teve uma educação basicamente britânica, vivendo em

Londres com a família no período de 1867 a 1880. Apesar do peso que a cultura

britânica exercia sobre a sua formação, tanto no idioma quanto nos costumes,

preservava as questões essencialmente nacionais na sua obra e no seu discurso,

utilizando-se na fase inicial das fortes influências da mitologia gaélica sendo

considerado então um poeta nacionalista. O reflexo do nacionalismo de Yeats pode

ser expresso pela representação da paisagem característica da Irlanda,

especialmente da região do Silgo onde passou parte da infância.

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Page 24: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

Desta primeira fase podemos compreender que além amor regionalista que

sua poesia é carregada, William Yeats enquanto pessoa pública, lutou em

movimentos pela autonomia irlandesa, na esfera política e cultural, sendo também

um poeta sonhador que levava para sua obra o encanto das paisagens naturais,

ricas em sentidos místicos característicos típicos irlandeses assim como seus

conflitos pessoais e esteticistas, na tentativa de encontrar a beleza ideal recorrente

ao seu apaixonado mundo de sonhos que constantemente entravam em conflito com

a realidade. A exploração dos limites do sonho e da realidade dá o tom

predominante da sua obra principalmente nesta fase.

No poema “A criança roubada” (The stolen child), lançado originalmente no

volume “Encruzilhadas” de 1889, a dicotomia do sonho e realidade fica claramente

definida assim como o esforço do poeta de remeter o leitor a uma visualização do

seu conceito de beleza ideal, que novamente nos remete à deslumbrante paisagem

do condado de Silgo.

Dialeticamente o sonho da beleza ideal irlandesa da sua infância entra em

choque com a seriedade da realidade inglesa que encontra na sua juventude. Estes

conflitos internos de sonho infantil, numa paisagem bucólica estão em oposição a

um mundo real com sérios problemas que a “criança” citada no poema ainda não

entende. As fadas levam o menino para o mundo de magia e beleza, antes que o

sonho da infância termine e o menino tenha que acordar e enfrentar os problemas

da realidade. As fadas representam além da magia, um aparato cultural mais

profundo simbolizando a religião nativa e tradicional da Irlanda, em oposição ao

catolicismo e o puritanismo que se instalava com o domínio Inglês.

O trecho do poema a seguir, tem tradução de Vizioli (2001, p. 35.)

A CRIANÇA ROUBADA

Onde na água mergulha a rochosa

Montanha de Sleuth Wood deserta,

Lá se acha uma ilhota frondosa

Onde a garça ruflando desperta

Dos torpores os ratos dos lagos;

Deixamos ali nossas tinas de fadas

Cheias de bagos

E as mais vermelhinhas cerejas roubadas.

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Page 25: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

Vem, humana criança, ao folguedo!

Para as águas e para o arvoredo

Uma fada te traz pela mão,

Pois no mundo há tristeza demais para a tua compreensão.

Desta primeira fase da obra de Yeats são lançados os seguintes livros:

“Encruzilhadas” (Crossroads) de 1989, “A Rosa” (The Rose) de 1983 e “O vento

entre os caniços” (The Wind among the reeds). Dentre as publicações acima, Vizioli

(2001, pg. 11) descreve a existência de três ciclos literários menores distintos entre

si, sendo: o “mitológico” (com os deuses Lir, Aéngus, Danu e outros), o “heróico” ou

do “Galo Vermelho” (com histórias como as de Cuchulain, da invejosa rainha Meve,

de Deirdre das Dores ou de Férgus), e o “ossiânico”, mais perto da fase histórica

(com Finn e se filho Oisín).

A fase seguinte de Yeats possui características que ultrapassam a dimensão

anterior do sonho, demonstrando as preocupações de um poeta e de um homem

mais maduro, como por exemplo, a sua relação de desapontamento com a

burguesia católica irlandesa e o seu fracasso amoroso com a ativista política e atriz

Maud Gonne, cujo sentimento é posto de forma transcendental em toda a sua obra,

mesmo após o seu casamento. Maud seria a personalização do conceito de beleza

ideal vivido por Yeats, ou apenas um ídolo cercada de amor platônico que era

apenas valorizado por não poder ser alcançado? De qualquer forma, a poesia de

Yeats é fortemente influenciada pelos acontecimentos da sua agitada esfera pessoal

em todo o seu vasto sentido.

Além da conhecida e apreciada poesia passa posteriormente a escrever

diversas peças de teatro se inserindo ativamente nos movimentos literários e

nacionalistas irlandeses, fundados em parceria com Lady Gregory e Martyn, além de

escritores como John M. Synge, Sean O'Casey, Padraic Colum e James Stephens.

Todo o fervor intelectual da época, vem a se tornar o renascimento literário irlandês,

ou renascimento Celta, que estimulava a produção de obras que ressaltassem a

cultura original irlandesa que vinha se perdendo com o domínio inglês, além do

ensino da língua céltica em sala de aula.

Segundo Vizioli (2001, p. 12-16), as obras com temáticas mágicas e

nacionalistas que propusera na fase inicial, foram tomando outros rumos, tendendo

ao modernismo, devido às influências que sofria trabalhando como dramaturgo e

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Page 26: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

diretor teatral do teatro Abbey, inaugurado em 1904. As desilusões políticas com a

burguesia católica irlandesa, a recusa dos pedidos de casamento de Maud Gonne e

mais tarde também, da filha adotiva desta, a jovem Iseult Gonne fizeram com que

Yeats tivesse um maior contato com a vida quotidiana, abandonando a esfera do

sonho dando lugar a uma maior riqueza na descrição dos fatos reais, além de que

os conceitos de beleza ideal foram deixados de lado e os conceitos menos

profundos rebuscados nos poemas de sua fase anterior, dão lugar a um espírito

decadente, certamente influenciado pelo movimento decadentista que vinha

trazendo grandes mudanças aos artistas desta época. Um exemplo bem claro, é no

poema “A tolice que é ser consolado” no qual temos além a representação imagética

da amada do poeta que está envelhecendo, é narrada em um estilo moderno se

diferenciando do estilo anterior da sua obra. “Com o seu tom gentil ontem me disse

alguém;/ ‘Há fios brancos no cabelo de seu bem(...)’.” Contudo além do realismo,

conserva-se ainda a cortesia e a polidez burguesa.

Pertencente ao volume de poesias “Responsabilidades” de 1914, segue

abaixo trecho do poema “Setembro de 1913” na qual relata a sua grande

insatisfação com a burguesia e suas dificuldades de administração do teatro,

ressaltando problemas inerentes à gestão financeira e do mercantilismo selvagem

trazido pela Inglaterra a seu país. Obviamente que o mundo mágico e de fantasias

impregnado pela beleza ideal e rodeado pelas paisagens estonteantes do Silgo, são

muito mais interessantes que a realidade política e cultural de um país e os dilemas

do mundo dos negócios. Vemos que anteriormente, Yeats não possuía tais

preocupações, que são trazidas também pela sua querida Maud Gonne. Desta

forma é possível ter outra visão do poeta, como um homem, mais maduro e

experimentado pelas suas vivências e que parece estar dentro de um processo de

aprendizagem da vida prática, em uma realidade que as pessoas comuns vivem

todos os dias. Fica obvio o título do volume, Responsabilidades, sendo que nesta

poesia a mesquinhez da burguesia católica é retratada, assim com as suas

frustrações com a sociedade da época e o amor não correspondido. Vale lembrar,

que John O’ Leary citado no último verso, foi um líder nacionalista, admirado por

Yeats, segundo Vizioli (2001. p. 146).

Que mais querem vocês, pensando bem.

Que mexer em gaveta gordurosa

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Page 27: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

E somar ao vintém, meio vintém,

E reza acrescentar a reza ansiosa,

E sugar o osso até não restar mais nada?

Para rezar nascemos... e poupar:

A romântica Irlanda está acabada;

O túmulo de O’Leary é seu lugar.

Após esta fase turbulenta de desilusões, Yeats passa certo tempo com

amigos aristocratas em uma espécie de retiro, que reflete na volta do “belo” em suas

obras, como no volume “Os cisnes selvagens de Coole”. A beleza alva dos cisnes

que ruflam nos lagos irlandês, pode ser compreendida como uma visão da própria

sociedade aristocrata e a conservação de suas tradições e os princípios de beleza,

buscados anteriormente pelo poeta, que agora demonstram uma maior maturidade.

Antes de tratar a fase da síntese final da obra de Yeats, vale lembrar que

temos até aqui três fases bem delineadas, começando com os conceitos de beleza

ideal, do sonho de uma Irlanda livre, contrária às imposições da Inglaterra

opressora; A segunda fase na qual a realidade amarga é retratada através de

protestos dentro da própria poesia nas quais Yeats conflitava consigo mesmo nos

problemas do teatro Abbey, os problemas amorosos com Maud Gonne, além da

frustração com a burguesia católica irlandesa; Encerra-se esta espécie de trilogia

Yeatseana com a retomada de alguns aspectos do estilo inicial de sua poesia, o seu

reencontro em uma nova classe social, a aristocracia. Além de aspectos antes não

abordados, mas que já eram estudados citamos do misticismo e os estudos

ocultistas que resultaram em mudanças de rumo significativas na carreira de Yeats.

Passando pela primeira guerra mundial, revolução russa em 1917, guerra

civil irlandesa em 1921, além da expansão de regimes totalitários, Yeats entra num

mundo poético mais simbólico, o influenciando inclusive na compra de uma torre

normanda em 1917 que segundo Vizioli (id. p. 18) se torna seu símbolo. O

simbolismo francês além do modernismo, também irá influenciar fortemente suas

obras a partir de então, por mais que Yeats evitasse essa relação. Esta fase,

nomeada de síntese final, é o nosso maior objeto de estudo.

Desta fase, surge entre outros, o poema “A Segunda Vinda” que é

considerado por muitos sua obra prima, pela maturidade poética e seu tom profético

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Page 28: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

carregado de Hermetismo. Assim como outros artistas de sua época, Yeats busca

respostas aos seus dilemas pessoais no aprofundamento dos estudos místicos e

metafísicos pois os conhecimentos apenas religiosos protestantes não davam conta

de seus anseios. Dentre tais estudos, podemos relacionar aos estudos teosóficos,

de Madame Helena Petrovna Blavatsky que tinha por preceitos básicos relacionar a

filosofia, a ciência e a religião sendo de caráter inteiramente místico. Em 1887

passou a fazer parte da Sociedade Teosófica, se tornando inclusive amigo da

própria fundadora em Londres. Segundo Vizioli (2001. p. 19) desde jovem Yeats já

se interessava nos estudos ocultistas, tendo diversas influências na poesia, inclusive

a obra anteriormente citada de William Blake. Yeats se tornou um iniciado nas

ciências herméticas da Golden Dawn society de Londres, vindo posteriormente a

fundar a Sociedade Hermética de Dublin, carregando consigo também fortes

influências rosacruscianas. Devemos ressaltar que o fato de ser irlandês,

principalmente nacionalista, levava Yeats a uma atmosfera mística, pois o povo da

Irlanda possui descendência Celta, que eram politeístas e muito supersticiosos,

crendo em fadas, grandes mistérios e outras formas de expressões artísticas e

culturais que difundiram, influenciando outras culturas.

Após affairs românticos com Olívia Shakespear e com Lady Gregory, Yeats

encontra em Georgie Hyde-Lees, seu tão sonhado matrimônio. A participação desta

vem alterar o sentido da vida e da obra de nosso poeta. Descobre quatro dias após

o casamento, que sua esposa possuía o dom da mediunidade, psicografando

diversos escritos realizados de forma automática (VIZIOLI, 2001. p. 19). Com base

neste material coletado durante algum tempo, desenvolve suas teorias metafísicas

sobre o desenvolvimento da humanidade, os movimentos cíclicos da história e o

universo metafísico. Com uma gama de materiais de escrita própria com base nas

psicografias de Georgie, publica a obra “One Vision” (Uma visão), em 1925 que na

opinião de Vizioli (2001, pg. 19), principia por opor a Racionalidade à Imaginação,

sendo o grande divisor de águas de sua obra. Uma de suas constatações foi de que

a evolução do nosso mundo se dá da seguinte forma:

(...)a evolução se faz em “espiral”, em voltas que se alargam ou se estreitam constantemente, ou na direção do pólo primário, ou na direção do antitético. É o que Yeats chama de ‘giro vortical’ (gyre). Enquanto uma civilização se desintegra, outra vai ao mesmo tempo se formando, de modo que um giro vortical, fica sempre embutido em outro, com o ápice na base do outro como dois cones invertidos. Vizioli (2001, p21).

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E segue dizendo,

O que esse ‘duplo cone’ nos revela é que toda a civilização está sempre entrosada com a que veio antes e com a que vem depois, pois a cultura que nasce se nutre daquela que vem substituir (...)”(VIZIOLI, 2001, pg. 21).

Desta forma a visão de Yeats sobre vida após a morte e o processo

reencarnatório possui grandes semelhanças com os sistemas de outros filósofos e

místicos:

Outro ponto interessante é a admissão da existência de uma espécie de memória universal, que recolhe as lembranças e as experiências comuns a todos os homens e que pode influenciar nossos sonhos e nossas vidas: é o Spiritus Mundi, concepção que de certa maneira, recorda o “inconsciente coletivo” de Jung. (VIZIOLI 2001, pg.25)

Saliento a teoria do giro vortical, que será demasiadamente útil ao

abordarmos o poema “The Second Coming” ou “A segunda vinda” posteriormente.

Há visível mudança na obra yeatseana após “Uma visão” sendo uma delas, o uso

dos símbolos deixando de escrever sobre eles, passando a escrever com eles.

Ademais segundo Pécora e Franchetti (2005), os espíritos que sua esposa tinha

contato disseram: "Nós viemos trazer-lhe metáforas para a sua poesia".

O sistema contido em “Uma visão, vem a caracterizar a obra de Yeats como

sendo uma “Síntese final” não unicamente na sua riqueza poética, mas também pela

maturidade pessoal do próprio poeta; Ganha-se no peso hermético e místico que

possui além do aspecto transcendente. É certo que por vezes o poeta se vê como

um velho, descrevendo a si, como “trapos sobre um bastão (espantalho)” em

oposição aos conceitos anteriores de beleza buscado. Podemos realizar um

contraponto com sua fase inicial pois o poeta revisita o dilema da beleza de maneira

mais madura, quase nostálgica, que parece importar menos à medida em que o

aspecto transcendente da poesia se revela. É Exatamente esta busca pela

transcendência que nos dá um “tempero” especial na obra desta última fase de

Yeats tornando a leitura muito interessante.

É oportuno lembrar, porém que os conceitos de beleza foram retratados por

outros autores contemporâneos como por exemplo Oscar Wilde (1854-1900) na sua

clássica obra “A pintura de Dorian Gray” (The Picture of Dorian Gray), escrita em

1891, que retrata o poder e a influencia da busca por padrões estéticos

extremamente elevados sendo colocados acima de outras qualidades humanas.

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Contudo, podemos dizer felizmente, que o público leitor ganhou com uma geração

de obras de singular qualidade.

Outra característica marcante desta fase da obra yeatseana é que

(...) sua obra se tornou muito mais difícil e, às vezes, até obscura.

Esse fato, porém, não constitui inconveniente insuperável, porquanto, em

vista da coerência de todo o sistema, o leitor pode intuir o caráter simbólico

dos pormenores mesmo sem conhecer aquele texto. (VIZIOLI, 2001. p.27)

Ainda segundo Vizioli (id.) :

A segunda vantagem do sistema [One Vision] é que ele finalmente

unificou o pensamento do autor. E como se trata de uma visão mítica

fundamentada no conflito, todos os opostos encontraram lugar em seus

versos, como aspectos primários e antitéticos da mesma verdade.

Na realidade, o que vemos em caráter prático, é que Yeats pode unificar

seus pensamentos, sendo a metafísica presente no “seu” sistema apenas a matéria

alquímica que forneceu ligação entre os conceitos constitutivos já adquiridos

anteriormente pelo poeta, fazendo parte do mesmo ritual mágico. Segundo Vizioli

(2001, pg. 19) “(...) [alcança] sua fase de maior grandeza, como poeta”.

Levar em consideração todos esses elementos biográficos se faz de grande

valia para compreender a perspectiva de interpretação pessoal yeatseana que vem

se tornar parte integrante de sua produção poética, pois se dos conflitos amorosos e

pessoais surge representativa parcela da sua inspiração, as influências metafísicas

se tornam itens recorrentes em sua fase de produção mais madura, utilizando

inclusive suas próprias teorias sobre a história e sobre o universo como subsídios

para a construção de suas obras. A evolução de uma poesia que ilustrava uma

realidade de sonhos vai se tornando cada vez mais humana, levando a inclusão de

aspectos simbolistas, com caráter mais moderno e prático deixando-nos a refletir se

conhecemos Yeats pela sua obra, ou a obra por conhecê-lo. Para tanto é mister o

estudo das suas produções, aliadas ao estudo crítico de suas aspersões pessoais e

ideológicas. No próximo capítulo, estabelecerei a conexão entre os dois poetas

através da literatura comprada.

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3. PESSOA, YEATS, E AS CIÊNCIAS OCULTAS:

Assim como William Yeats, Fernando Pessoa também possuía ligações com

estudos herméticos e ocultistas, sendo um alquimista à sua própria maneira, como

diz Coutinho (id.), “...tentou, mas para ele rigorosamente vã por sua própria maneira,

a aventura dos filósofos alquímicos”. A busca seja pela beleza ideal de Yeats, ou a

ambição dos alquímicos na busca da pedra filosofal e do elixir da juventude, fez com

que muitos artistas se lançassem nesta aventura altamente influenciada pelo

modernismo do século XIX a utilizando-se de diversos instrumentos como as artes

plásticas, a literatura entre outros métodos ritualísticos de magia.

Pessoa anuncia em no livro “Mensagem” de poesia ortônima e em tom

profético o retorno de D. Sebastião, para dar início ao quinto império português.

O jovem Dom Sebastião conduziu as forças portuguesas a um massacre, no Marrocos, em 1578. Uma vez que o corpo do rei não foi encontrado no campo de batalha, surgiu um mito nacional, o sebastianismo, segundo o qual o herói continuava vivo, em uma terra misteriosa, e um dia retornaria na condição de “O Encoberto”, a fim de estabelecer Portugal como o Quinto Império. (BLOOM, 2003, P.610)

Profetiza também a chegada do “Supra-Camões” como sendo o supremo

poeta da língua portuguesa. Ambos os poetas eram visionários em muitos aspectos:

Pessoa a fazer suas previsões astrológicas e Yeats, através de seus contatos do

além, tentaram inovar, apesar do compromisso que a poesia possuía, Yeats realizou

previsões históricas a partir de suas manifestações teóricas de giros vorticais,

(previsões históricas que mais tarde iriam se concretizar, coincidentemente ou não),

como por exemplo o avanço dos regimes totalitários e a segunda guerra mundial.

Vale ressaltar que aos nossos poetas visionários as teorias dogmáticas das religiões

vigentes eram demais superficiais pois não dando conta de explicar tudo o que

desejavam saber nossos artistas, mergulhando eles em meios alternativos, ocultos

com seus inquietos espíritos.

Yeats e Pessoa tiveram grandes ligações através de suas obras sem ao

menos terem de fato se conhecido e acredito que nem ao menos tiveram a

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oportunidade de ler um o trabalho do outro apesar das várias leituras de autores

clássicos e místicos em comum. Se William Blake influenciou Yeats com sua mística

temos em Fernando Pessoa grande influência de Walt Whitman na criação

heteronímica apesar da sua simbologia densa ser embutida em um sistema

hermético e alquímico mais complexo.

Embora incontestável influência poética sobre Pessoa seja Walt Whitman, concordo com a sugestão de alguns especialistas de que, de um modo bastante complexo, Pessoa tenha desenvolvido o esquema dos heterônomos a partir dos monólogos dramáticos de Robert Browning (dramaturgo Inglês). Pode-se conjecturar que Álvaro de Campos tenha sido o Frei Lippo Lippi de Pessoa, que Ricardo Reis correspondesse a Andréa del Sartro, Alberto Caieiro a Abt Vogler, enquanto “ Fernando Pessoa” seria Childe Roland. (BLOOM, 2003. p.613).

Yeats em 1885 cria na sua cidade natal, a Ordem Hermética de Dublin,

assim como participa da Loja Teosófica da mesma localidade. Seus estudos

herméticos e ocultistas se iniciam um pouco antes, em Londres com a própria

fundadora da Sociedade Teosófica, Madame Helena Petrovna Blavatsky (VIZIOLI ,

p. 19). Segundo a mesma fonte Yeats fora entusiasta do rosacrucianismo e de

magia. Ainda segundo a Wikipédia, Yeats era dirigente da Ordem Hermética do

Amanhecer Dourado, ou apenas Golden Dawn, cargo que vem ocupar também em

Dublin.

Ainda em Londres, Yeats e seus irmãos místicos da Golden Dawn estavam

passando por momentos difíceis, com grandes conflitos internos, sendo o principal

deles dizendo respeito à rápida evolução de um dos membros, o qual utilizava o

nome mágico de Besta 666, Thérion, ou apenas Aleister Crowley.

A curiosa origem da denominação “Besta” se deu no seu convívio familiar,

sendo chamado pela própria mãe de “Grande Besta”, devido à sua conduta familiar

um tanto quanto turbulenta. Ao procurar na Bíblia tal significado, ao invés de

abalado, ficou maravilhado passando a se chamar assim. Nascido em 12 de outubro

de 1875, Edward Alexander Crowley conheceu a fundo o puritanismo cristão através

de seus pais tendo uma educação baseada na rigidez moral e religiosa. Obviamente

seu perfil rebelde per si, logo deixou de encontrar as respostas das quais inquieto

como era, necessitava, indo buscar nos estudos do oculto assim como Pessoa e

Yeats, o que a religião cristã não dava conta de explicar. Tendo nas mãos poder

financeiro, inteligência e status de bom atleta, possuiu acesso ao fervor da

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intelectualidade britânica, estudando inclusive na conceituada universidade

Cambridge.

Logo conheceu Samuel Liddell McGregor Mathers, um dos fundadores da

Golden Dawn. Na opinião deste, Crowley possuía grande potencial e tinha muito a

contribuir com a magia, uma vez que era muito erudito, tendo conhecimento de

grego, latim entre outros idiomas, além de grande conhecedor da bíblia e dos rituais

considerados por sua família como pagãos. Contudo a conduta do mago fez com

que Yeats nesta época seu “Frater” se posicionasse contrario a sua iniciação nos

mistérios mais profundos da ordem, de forma que sua rápida ascensão nos degraus

evolutivos desta deveria ser realizado cautelosamente.

Além do mais à tumultuada vida particular de Crowley se incluíam

escândalos sexuais e abuso de drogas. Ainda segundo Alprim (2001), Yeats havia

dito que a Golden Dawn não era lugar para curar a rebeldia de ninguém. Apesar

desta postura de Yeats, Crowley recebe em Paris, a iniciação que lhe foi negada na

Inglaterra, vindo a causar grandes problemas para a ordem, como exemplo à

publicação de rituais e preceitos altamente secretos na sua própria revista (Equinox)

anos mais tarde.

A uma distância considerável de Londres e de todos estes acontecimentos,

estava Fernando Pessoa em 1915, dedicando-se à tradução de diversos livros das

ciências ocultas das quais era também entusiasta. Dentre seus prediletos, fica muito

impressionado com a Teosofia de Madame Blavatsky, a mesma visionária russa que

fora professora de Yeats em Londres. Pessoa por sua vez, possuía amizade com

diversos estudiosos das ciências ocultas dos quais ressaltamos Augusto Ferreira

que segundo Crespo (p. 150) “É muito possível que fosse este seu íntimo amigo que

o havia iniciado nos segredos da astrologia”

Fernando Pessoa possuía em sua biblioteca diversos livros de autores

ocultistas, se tornando também autor de muitos materiais desta estirpe.

Redigiu uma infinidade de textos esotéricos, interessou-se pelo hermetismo

clássico, pelo tarô, a cabala, a magia pagã, e por todas as ordens iniciáticas

ativas ou extintas de seu tempo. Debruçou-se sobre as principais obras da

teosofia, traduziu varias delas, e elaborou centenas de mapas astrais de

celebridades como Napoleão, Goethe, Shakespeare, Sou João III e outros

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tantos, além de compor um detalhado estudo astrológico sobre si próprio e

seus vários heterônimos. (URBAN 2007).

Anos mais tarde em 1930 possuindo a visão de um experiente e seguro

astrólogo leu o livro “Confissões” de Aleister Crowley, então já famoso e polêmico

bruxo Inglês, e verifica que o horóscopo ali veiculado continha erros. Envia então

uma carta para a editora de Crowley, apontando as falhas e demonstrando as

correções a serem consideradas. Inicia-se então, a partir deste curioso fato a ligação

entre Fernando Pessoa e Aleister Crowley segundo CRESPO (1988, p. 357),

Sendo uma pessoa de hábitos discretos, Fernando Pessoa sente-se

desconfortável com o fato de encontrar tão sinistra (e espalhafatosa) personalidade

(CRESPO, 1988. p. 360). Crowley vai até Portugal para encontra-lo, fato que deu

origem a muitos boatos e histórias misteriosas. Uma delas é o desaparecimento do

bruxo Inglês. Cerca de um mês após a sua estada em Lisboa, são encontrados em

uma estrada que levava a um local chamado “Boca do Inferno” alguns pertences

seus e uma carta de cunho passional-suicida. Fernando afirmou em um depoimento

policial que encontrara com Crowley nos dias 22, 23 e 24 de setembro de 1930,

contudo há registros da estada do bruxo no dia 23 na fronteira espanhola (CRESPO,

p. 360). Seria um fato a se atribuir a uma farsa encoberta pelo senso de humor

negro de Pessoa, ou mágica pura com requintes de projeções astrais dos dois

ocultistas? Se houve de fato o suicídio, não se têm registros, permanecendo ligação

(espiritual ou não) de Pessoa e Crowley mesmo após o tumultuado encontro, pois o

poeta português anda traduziu para a sua língua pátria diversos materiais do bruxo

inglês. Um dos exemplos é a tradução do Hino a Pã, (Hymn to Pan), do prefácio do

livro "Magick in Theory and Practice", de Aleister Crowley. Esta tradução foi

publicada em outubro de 1931 na revista "Presença", que Pessoa colaborava.

HINO A PÃ(de Mestre Therion *)

Vibra do cio subtil da luz,Meu homem e afãVem turbulento da noite a fluxDe Pã! Iô Pã!Iô Pã! Iô Pã! Do mar de alémVem da Sicília e da Arcádia vem!Vem como Baco, com fauno e feraE ninfa e sátiro à tua beira,Num asno lácteo, do mar sem fim,A mim, a mim!Vem com Apolo, nupcial na brisa(Pegureira e pitonisa),

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Vem com Artêmis, leve e estranha,E a coxa branca, Deus lindo, banhaAo luar do bosque, em marmóreo monte,Manhã malhada da àmbrea fonte!Mergulha o roxo da prece ardenteNo ádito rubro, no laço quente,A alma que aterra em olhos de azulO ver errar teu capricho exulNo bosque enredo, nos nás que espalmaA árvore viva que é espírito e almaE corpo e mente - do mar sem fim(Iô Pã! Iô Pã!),Diabo ou deus, vem a mim, a mim!Meu homem e afã!Vem com trombeta estridente e finaPela colina!Vem com tambor a rufar à beiraDa primavera!Com frautas e avenas vem sem conto!Não estou eu pronto?Eu, que espero e me estorço e lutoCom ar sem ramos onde não nutroMeu corpo, lasso do abraço em vão,Áspide aguda, forte leão -Vem, está faziaMinha carne, friaDo cio sozinho da demonia.À espada corta o que ata e dói,Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!Dá-me o sinal do Olho Aberto,E da coxa áspera o toque erecto,Ó Pã! Iô Pã!Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,Sou homem e afã:Faze o teu querer sem vontade vã,Deus grande! Meu Pã!Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobraDo aperto da cobra.A águia rasga com garra e fauce;Os deuses vão-se;As feras vêm. Iô Pã! A matado,Vou no corno levadoDo Unicornado.Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!Sou teu, teu homem e teu afã,Cabra das tuas, ouro, deus, claraCarne em teu osso, flor na tua vara.Com patas de aço os rochedos roçoDe solstício severo a equinócio.E raivo, e rasgo, e roussando fremo,Sempiterno, mundo sem termo,Homem, homúnculo, ménade, afã,Na força de Pã.Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

Segundo Madjarof, o Deus Pã na mitologia grega era responsável pela

guarda dos rebanhos, possuindo chifres e pernas de bode. Pã também era

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Page 36: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

responsável pela multiplicação dos rebanhos, sendo freqüentemente invocado para

este fim, contudo era também símbolo da obscuridade. Tomando partido de entes

mitológicos, Crowley faz uma homenagem à divindade com poesia carregada de

sentidos herméticos e mágicos.

Fernando Pessoa que se descobrira médium em dezembro de 1915

(CRESPO 1988, pg. 148) psicografando símbolos esotéricos, da ordem maçônica e

cabalística além de outros tantos em francês e inglês. Yeats, através de sua esposa,

também possuía contatos sobrenaturais. Ambos estudaram a teosofia de Madame

Blavatsky, Yeats em Londres na sociedade teosófica e Fernando Pessoa através

das suas atividades de tradutor, na qual realizou também muitos outros trabalhos

contemplando diversos autores e ordens esotéricas.

Desta forma breve, é possível relacionar a ligação de nossos dois poetas

entre si, utilizando para isso o viés da magia e das ciências ocultas. Ressalto que a

Ordem Rosa Cruz, a Golden Dawn a Cabala, a astrologia e todo o universo

Hermético, foram os principais meios para que esta ligação mística pudesse ocorrer

colocando lado a lado a obra destes dois incríveis escritores que nem se quer

tiveram a oportunidade de conhecer um ao outro. A magia cerimonial representava

na realidade um viés alternativo de se explorar todas as potencialidades do ser

humano, aliado à natureza, visando o aspecto transcendental. A morte em ambos os

casos, era vista como uma espécie de passagem para uma nova etapa, sempre

encarado como evolução. A magia alquímica a qual se propuseram, foi uma maneira

de recriar uma nova realidade, seja na sebastianita capital lusitana, ou no Silgo

irlandês, montando em palavras mais que os versos, mas sim encantamentos com

novos significados literais e não literais, que penetramos a cada leitura que por

vezes é obscura ou quase incompreensível. Para tal compreensão se faz necessário

conhecer a atmosfera na qual nossos poetas se confrontavam e as principais

correntes de pensamento, pois grande parte dos significados ficará somente visível

ao olhar crítico e amplo do iniciado.

A formação discursiva destes artistas, proporcionou que seus poemas

trouxessem grandes influências herméticas na sua construção, na escolha lexical e

semântica, resultando em muitos casos de métricas cuidadosamente trabalhadas,

formando uma obra de arte realmente importante para o legado da cultura literária,

sendo reconhecida mundialmente. Apesar de não gozar o título em vida, de melhor

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Page 37: A ALQUIMIA DA PALAVRA: YEATS, PESSOA E AS CIÊNCIAS OCULTAS

poeta da língua portuguesa, (abaixo de Camões) o trabalho de Fernando Pessoa era

bastante apreciado pelos participantes da “nata” artística portuguesa. William Butler

Yeats, foi galardoado com o prêmio Nobel de literatura em 1926 sendo considerado

um dos maiores poetas da língua inglesa de todos os tempos também.

A superficial alquimia, apenas conhecida pela a utilização de matérias

místicas e mágicas com o intuito de buscar o elixir da juventude e a pedra filosofal,

se expande e se aprofunda violentamente como importante corrente de pensamento

místico e filosófico que nos demonstra quão amplos podem ser conceitos que

derivaram desta ambição da transcendência dos seres humanos que extravasaram

os padrões químicos e físicos para buscando novos conceitos e novas variáveis pelo

viés artístico. Tais teorias aliadas ao movimento simbolista francês, e ao

modernismo, proporcionou que os poetas em questão se utilizassem destes

“símbolos” (que também foram associados aos símbolos cabalísticos) para criar,

recriar e repovoar um universo mágico no qual se tocam as diversas facetas

heteronímicas de Fernando Pessoa com o Spiritus Mundi de Yeats. Se o espírito de

Pessoa, estava aprisionado em seu corpo, ganha vida perene e transcendente

dentro de sua plural obra poética, ao lado de Álvaro de Campos, Ricardo Reis,

Alberto Caieiro, (ao todo são 72) e outros tantos que não tiveram força suficiente

para ganhar o “status” de heterônimo.

Ligados pelos aspectos dos estudos ocultistas encontramos em ambos

autores relações estreitas com ordens iniciáticas como a Maçonaria, a

rosacrucianismo, a cabala e a Golden Dawn. Ambos poetas possuem suas

trajetórias profissionais irrigadas pelo misticismo e estudos do “oculto” como uma

característica de manifestação destes conhecimentos intersecionados nas suas

obras poéticas em uma fase consideravelmente avançada da maturidade poética.

Yeats apega-se a vida quando se vê velho e próximo à passagem desta vida

para a nova fase do ciclo reencarnatório descrito por ele mesmo. A velhice lhe

incomoda, dado que pode ser comprovado com uma leitura ainda que superficial de

sua poesia no início da carreira. A região irlandesa do condado do Silgo nos leva

através dos versos de Yeats a uma atmosfera de pura, legítima da infância vivida

pelo poeta naquele lugar, além da riqueza de imagens e a clara busca de um padrão

de beleza ideal que encontra vazia à medida que se distancia da sua metafísica. A

dialética do sonho e da realidade era fortemente povoada por elementos simbólicos

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dos seus padrões estéticos e suas concepções políticas e sociais, como a garça

rufante e sua mitologia céltica e grega inicial revisitada na sua fase final já com a

entrada do elemento transcendental.

Quanto à Pessoa, além de escrever poesias mais densas, escreve muitos

tratados filosóficos e herméticos apenas acessados após seu falecimento. Apesar da

sua iniciação em ordens místicas ser um pouco controversa, demonstra em um

poema de dezembro de 1932 (in CRESPO, pg. 368) grande conhecimento dos

rituais da Golden Dawn:

Oscila o incensório antigo

Em fendas e ouro ornamental,

Sem atenção, absorto sigo,

Os passos lentos do ritual.

Mas são os braços invisíveis

E são os cantos que não são,

E os incensórios de outros níveis

Os que vê e ouve o coração.

No grande Templo antenatal

Antes de vida e alma e Deus...

E o xadrez do chão ritual

É o que é hoje a terra e os céus...

O mesmo autor nos trás a seguinte constatação:

(...) seria lícito pensar que o ritual evocado neste poema pode ser o de qualquer sociedade esotérica, mas a última estrofe do poema não deixa lugar a dúvidas (...) pois nas cerimônias da Golden Dawn (...) exige-se a aprendizagem e a prática do jogo do xadrez enochiano.” (CRESPO, 1988, Pg. 368)

No poema “Oscila o Incensório Antigo”, pode se visualizar o neófito (novato)

participando dos ritos que o iniciam nos diferentes graus da Golden Dawn em uma

cerimônia na qual se dá a formalização da entrada do novo membro à ordem. Pela

clareza das informações trazidas na própria poesia, não a detalharemos mais, pois

uma análise mais pormenorizada foge dos propósitos destas páginas.

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Ainda segundo Crespo (1988, p.367) o encontro entre Aleister Crowley e

Pessoa anteriormente citado influenciou violentamente nosso poeta, uma vez que

sua produção de materiais de cunho esotérico cresceu no período que o seguiu.

Yeats por sua vez, além do seu tratado filosófico e metafísico One Vision

(1925) produziu e publicou diversas poesias contendo evidentes traços esotéricos, a

exemplo de A torre (1928) e A escada em espiral e outros poemas (1933).

Segundo Vizioli (2004, pg. 27) “os próprios títulos são simbólicos, pois tanto

a ‘torre’ quanto à ‘escada em espiral’ são emblemas – contrapartes masculina e

feminina da mesma imagem – do giro vortical e da ascensão do homem em direção

ao infinito”. Os giros vorticais na verdade dizem respeito às teorias que Yeats

possuía sobre a vida e a evolução dos seres humanos ilustrada pela figura de um

cone com a parte menor para baixo. Desta parte inferior parte uma espiral com

voltas mais largas, que representam o movimento cíclico da humanidade. Este giro

vortical yeatseano é uma concepção muito recorrente na sua vida e obra. A poesia

“A Segunda Vinda” (1921) faz referência a esses giros, sendo considerada o

prenúncio de uma nova era, ou apenas como uma profecia dos acontecimentos

bélicos que se sucederiam. A genialidade desta obra, encontra-se entre outros

elementos, na fusão da segunda vinda de Jesus Cristo e o apocalipse, profetizados

pela Bíblia cristã.

A SEGUNDA VINDA

Rodando em giro cada vez mais largo,

O falcão não escuta o falcoeiro;

Tudo esboroa, o centro não segura;

Mera anarquia avança sobre o mundo,

Maré escura de sangue avança e afoga;

Os ritos da inocência em toda parte;

Os melhores vacilam, e os piores

Andam cheios de irada intensidade.

Aí vem por certo uma revelação;

Por certo próxima é a Segunda Vinda.

Segunda Vinda! Digo as palavras,

E do Spiritus Mundi vasta imagem

Turba-me a vista: ao longe no deserto,

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Um corpo de leão com rosto de homem,

O olhar vazio e duro como o sol,

As lerdas coxas move, enquanto em torno

Rondam sombras de pássaros coléricos.

Retorna a escuridão; mas ora eu sei

Que a vinte séculos de sono pétreo

Vexou o pesadelo de um bercinho;

E que rude animal, chegado o tempo,

Arrasta-se a Belém para nascer?

Além da metafísica recorrente na obra dos poetas analisados, muitas obras

possuem tons “premonitórios”, assim como Yeats descreve as marés de sangue e

irada intensidade, que são interpretada como a ascensão dos regimes totalitários, na

poesia anterior, Fernando Pessoa nos trás o sebastianismo português, que aguarda

o retorno de Dom Sebastião que historicamente foi morto na batalha de Alcácer-

Quibir em 1578 para livrar o império português do domínio do rei Felipe II. No livro

Mensagem de 1934, seu único livro ortônimo publicado em vida, Pessoa publica

diversos poemas cujo conteúdo inspira seus sentimentos e aspirações sebastianitas.

Apesar de toda a mística que cerca o rei-herói, nos cabe aqui ir além, trazendo outra

obra em que essa mística ocultista é retratada de maneira mais clara. A exemplo,

segue abaixo o poema iniciação de veiculado originalmente na revista presença n°

35 em maio de 1932. Vale ressaltar que o encontro de Pessoa e Crowley foi em

1930 e tais conhecimentos práticos podem perfeitamente ser uma conseqüência da

iniciação de Pessoa nos grandes mistérios pelo seu amigo igualmente ocultista.

Iniciação

Não dormes sob os ciprestes,Pois não há sono no mundo.O corpo é a sombra das vestesQue encobrem teu ser profundo.Vem a noite, que é a morte,E a sombra acabou sem ser.Vais na noite só recorte,Igual a ti sem querer.Mas na Estalagem do AssombroTiram-te os Anjos a capa.Segues sem capa no ombro,Com o pouco que te tapa.Então Arcanjos da EstradaDespem-te e deixam-te nu.Não tens vestes, não tens nada:Tens só teu corpo, que és tu.Por fim, na funda caverna,

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Os Deuses despem-te mais:Teu corpo cessa, alma externa,Mas vês que são teus iguais.A sombra das tuas vestesFicou entre nós na Sorte.Não ’stãs morto, entre ciprestes.Neófito, não há morte.

O sugestivo título nos remete ao ritual da iniciação ocultista, que objetiva

segundo Fortune (1930, pg. 33), “produzir a iluminação da alma por meio da Luz

Interna. (...)significa aquele em que o Eu superior, a Individualidade, se entrefundiu

com a personalidade e se encarnou realmente no corpo físico.” Assim como a

alquimia filosófica estudada pelos nossos poetas, busca da essência de todas as

coisas, os rituais iniciáticos das ordens místicas também visa um profundo

conhecimento do próprio ser humano, aproveitando as potencialidades existentes

principalmente do espírito em detrimento ao corpo carnal.

Na poesia acima, cipreste citado não pode ser visto apenas como uma

árvore, pois segundo as lendas, a cruz à qual Jesus Cristo foi apregoado, era feita

desta madeira, além de que segundo a tradição persa é a arvore do paraíso, nos

remetendo a um sentido muito além da dialética do sonho e da realidade. Temos

uma relação cíclica nesta obra, na qual a vida – morte – ressurreição (de Jesus

Cristo) – paraíso pode ser interpretada com os preceitos transcendentais

herméticos nos levando a outra dimensão que se esclarece nos versos

subseqüentes. A relação vigente no poema é a vida – morte – reencarnação, uma

vez que nos verso final temos : “Neófito, não há morte.”. Esta frase deriva do latin

“non omni moriar.”

Temos segundo Crespo (1988, pg. 369) a descrição do ritual de iniciação

praticado pela Golden Dawn. Apenas um fato pelo menos curioso, é que apesar de

ter sido iniciado na ordem, inclusive tendo presidido a loja de Dublin, Yeats não

revela na sua poesia detalhes cerimoniais ficando sua metafísica por vezes

condensada ou escamoteada entre outros versos e simbolismos. Crespo aponta o

fato de que Pessoa pode ter sido iniciado nas ciências ocultas por conta própria e

que sua poesia heteronímica o tornariam um iniciado.

Desta forma a fusão artística de Pessoa e Yeats fica clara, não sendo o

hermetismo apenas um adorno à obra, mas sim parte de estudos intensos que se

utilizaram de metodologias das mais diversas, e por vezes nada ortodoxas, incluindo

evocações de espíritos e rituais de magia. Contudo, a nós cabe apenas avaliar o

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teor da obra e o ganho que a literatura teve com as influências tão profundas de

pessoas visionárias que sempre buscaram transcender a arte, nem que para isso

seu “eu” tivesse que ser deixado para segundo plano como Fernando Pessoa. A

riqueza da literatura se edificou de tal forma que dois artistas de lugares diferentes,

que nunca imaginaram se conhecer, tiveram uma ligação através de uma obra

poética ímpar que reforçou suas nações e a suas respectivas produções culturais,

desenvolvendo uma poética identitária nacional.

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CONCLUSÃO:

A Golden Dawn Society foi, sem dúvida, a ordem mística esotérica de maior

influência na cultura ocidental. Sua marca se faz sentir na literatura, na pintura

chegando até o cinema e a música pop. Este elemento de influência vem

adicionando magia e mistério as artes exatamente devido ao modo como as

questões ligadas ao hermetismo e a alquimia permeiam os processos artísticos bem

como os iniciáticos. É neles e através deles que a simbolização de um mundo oculto

se revela em um segundo mistério que só o trabalho crítico e de pesquisa analítica

consegue restaurar integralmente, conforme nos propusemos a fazer neste trabalho.

Nesta pesquisa, que teve por objetivo destacar as interações de sentido

hermético e esotérico nas obras de Fernando Pessoa e W. B. Yeats, para depois

integrá-los em um denominador comum e que está relacionado com a forte

influência e as referências da Golden Dawn Society e um de seus mais conhecidos

representantes, que é Aleister Crowley. Após um exaustivo exame do material

teórico e das análises literárias, fica claro que ambos os poetas convivem com o

universo simbólico que estrutura os princípios das sociedades herméticas, ganhando

com isso expressividade e relevância. Nesse sentido o trabalho de pesquisa e

principalmente análise literária é de extrema importância para um professor de

língua e literatura inglesa. Primeiro porque permite um acesso privilegiado ao

universo da criação literária, bem como permite posteriormente que estes elementos

possam ser usados didaticamente no ensino de língua e literatura.

Pessoa é o maior gênio da literatura portuguesa porque é o criador de todo

um sistema literário baseado no hermetismo e na magia mas, principalmente, na

capacidade que deposita no leitor de ser o verdadeiro intérprete de seu universo

simbólico. Sua relação alquímica com sua obra se dá na perspectiva de uma plural

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criação, tendo na relação do poeta ortônimo com seus diversos heterônimos a

intimidade e ao mesmo tempo o devido distanciamento. A vida mágica e

transcendente que ganha na vida de seus outros “eus” deve-se ao ritual alquímico e

mágico feito ao estilo singular do gênio Fernando Pessoa.

Com uma tal falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar os seus amigos, ou quando menos, os seus companheiros de espírito? (FERNANDO PESSOA)

William Butler Yeats, ganhador do prêmio Nobel, realiza em relação à cultura

de língua inglesa o mesmo processo realizado por Pessoa com a língua portuguesa

e inglesa. A grandeza de sua obra só pode ser compreendida como uma

interpretação mágica dos destinos do indivíduo, da Irlanda bucólica e em busca da

sua autonomia, da sua identidade cultural e religiosa a uma rebelião a dominação

inglesa, que opõe–se à atmosfera de sonhos trazida na sua primeira fase poética.

Ambas poéticas passam do aspecto local para o universal, interligadas com

a capacidade de decifração dos mistérios poéticos mais profundos, que remetem o

leitor a essa atmosfera, tornando a leitura e a sua interpretação o elemento

alquímico que transforma uma obra de arte em um encantamento mágico.

Para mim como futuro professor de língua e literatura inglesa e aluno de

pós-graduação em literatura comparada este trabalho representou a descoberta de

um novo universo da recriação ficcional, no qual a genialidade destes dois poetas

conseguiu transformar uma corrente de pensamento em obras de arte sem

equiparação até nossos dias. Mais que uma nova realidade, novas possibilidades de

interpretação são sempre possíveis a cada nova visita à obra poética estudada, pois

quanto mais experiência se tem como leitor, novas interpretações são possíveis e

novos níveis semânticos são atingidos.

Tendo perene capacidade de se re-inventar, a literatura em especial os

estudos comparados, podem contribuir para criação de novos paradigmas e novas

relações deste universo ficcional com a vida real, possibilitando que os estudantes

de língua e literatura tenham uma visão mais critica da sociedade que os cerca,

fazendo das obras de arte, assim como a poesia, um instrumento de

desenvolvimento de um pensamento autônomo e criador sob um olhar

especialmente crítico e mais humano.

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