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Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2013 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural A AGROINDUSTRIALIZAÇÃO COMO ESTRÁTEGIA DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA AGRICULTURA FAMILIAR: O CASO DO PDS BONAL THE AGROINDUSTRIALIZATION AS A STRATEGY OF SOCIAL REPRODUCTION OF THE FAMILY FARM: THE CASE OF PDS BONAL Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade Resumo Uma das grandes discussões relacionadas à agricultura familiar está nas dificuldades de agregação de valor aos produtos. Nesse aspecto, a agroindustrialização surge como uma oportunidade para agregar valor aos produtos oriundos da agricultura familiar e, posteriormente, na geração de renda dessas famílias. O objetivo do presente trabalho é analisar a produção e processamento de palmito trabalhado no Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Bonal, localizado no município de Senador Guiomard-AC. A metodologia utilizada baseia-se no levantamento e análise de indicadores de avaliação econômica. Os resultados indicam que houve uma redução expressiva na produção e processamento do palmito, em particular pela ausência de inovações, implicando em prejuízos para a comunidade. Palavras-chave: Agricultura Familiar. Reforma Agrária. Projeto de Desenvolvimento Sustentável. Amazônia.Agroindústria. Abstract One of the big discussions related to family farming is the difficulty of adding value to products. In this aspect, the industrialization arises as an opportunity to add value to products from family farms, and later in generating income for these families. The aim of this paper is to analyze the production and processing of palm worked in Sustainable Development Project (PDS) Bonal, located in the municipality of Senator Guiomard-AC, Brazil. The methodology is based on the survey and analysis of indicators of economic evaluation. The results indicate that there was a significant reduction in the production and processing of palm, in particular the absence of innovations, implicating in damage to community. Key words:Family Farming. Innovation.Agrarian Reform.Sustainable Development Project.Amazon. Agroindustry. 1. INTRODUÇÃO Sabe-se que o processo de desenvolvimento do Governo Militar praticado na região amazônica, no seio do processo de expansão da fronteira agrícola brasileira a partir da década de 1970, culminou uma série de problemas socioeconômicos. O incentivo a pecuária e implantação de novas técnicas produtivas acarretaram na evasão de produtores rurais para os centros urbanos.

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Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2013

SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

A AGROINDUSTRIALIZAÇÃO COMO ESTRÁTEGIA DE REPRODUÇÃO SOCIAL

DA AGRICULTURA FAMILIAR: O CASO DO PDS BONAL

THE AGROINDUSTRIALIZATION AS A STRATEGY OF SOCIAL

REPRODUCTION OF THE FAMILY FARM: THE CASE OF PDS BONAL

Grupo de Pesquisa: Agricultura Familiar e Ruralidade

Resumo

Uma das grandes discussões relacionadas à agricultura familiar está nas dificuldades de

agregação de valor aos produtos. Nesse aspecto, a agroindustrialização surge como uma

oportunidade para agregar valor aos produtos oriundos da agricultura familiar e,

posteriormente, na geração de renda dessas famílias. O objetivo do presente trabalho é

analisar a produção e processamento de palmito trabalhado no Projeto de Desenvolvimento

Sustentável (PDS) Bonal, localizado no município de Senador Guiomard-AC. A metodologia

utilizada baseia-se no levantamento e análise de indicadores de avaliação econômica. Os

resultados indicam que houve uma redução expressiva na produção e processamento do

palmito, em particular pela ausência de inovações, implicando em prejuízos para a

comunidade.

Palavras-chave: Agricultura Familiar. Reforma Agrária. Projeto de Desenvolvimento

Sustentável. Amazônia.Agroindústria.

Abstract

One of the big discussions related to family farming is the difficulty of adding value to

products. In this aspect, the industrialization arises as an opportunity to add value to

products from family farms, and later in generating income for these families. The aim of this

paper is to analyze the production and processing of palm worked in Sustainable

Development Project (PDS) Bonal, located in the municipality of Senator Guiomard-AC,

Brazil. The methodology is based on the survey and analysis of indicators of economic

evaluation. The results indicate that there was a significant reduction in the production and

processing of palm, in particular the absence of innovations, implicating in damage to

community.

Key words:Family Farming. Innovation.Agrarian Reform.Sustainable Development

Project.Amazon. Agroindustry.

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se que o processo de desenvolvimento do Governo Militar praticado na região

amazônica, no seio do processo de expansão da fronteira agrícola brasileira a partir da década

de 1970, culminou uma série de problemas socioeconômicos. O incentivo a pecuária e

implantação de novas técnicas produtivas acarretaram na evasão de produtores rurais para os

centros urbanos.

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Buscando melhores condições de vida, muitos produtores rurais deixaram as

atividades agrícolas e partiram para as cidades em busca de novas perspectivas de vida que,

na maioria das vezes, não se obteve sucesso devido a muitos fatores, entre os quais se

destacam a sua falta de qualificação e de oportunidades de emprego.

Desta forma, a busca do desenvolvimento rural efetivo torna-se um fator de grande

relevância para atender as necessidades deste público. Assim, é necessário buscar alternativas

produtivas que sejam viáveis, de tal modo que evite o êxodo dos pequenos agricultores do

espaço rural, fazendo-se necessário desenvolver e viabilizar a agricultura familiar na região.

Nesse cenário, surge a discussão sobre o papel das agroindústrias como uma

alternativa que busca em sua essência agregar valor aos produtos e, além disso, criar no

campo oportunidades de trabalho, com capacidade de atender a mão-de-obra excedente e

gerar mais renda para a população.

Por outro lado, a partir da década de 1990 surgem os PDS´s (Projetos de

Desenvolvimento Sustentável), implantado pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária) com o objetivo de promover um novo modelo de reforma agrária,

direcionado ao uso consciente e adequado dos recursos da floresta, baseado no modelo

cooperativista.

O PDS Bonal, fruto dessa política, foi criado em 2005, buscando desenvolver

práticas sustentáveis que viabilizem o desenvolvimento econômico e social da população

assentada, garantindo a preservação dos recursos naturais. Neste sentido, o objetivo deste

estudo é analisar a agroindústria do PDS Bonal, enquanto parte de um processo de inovação

para os agricultores familiares assentados.

A hipótese do presente trabalho consiste no entendimento de que as tecnologias

disponíveis e herdadas – de uma antiga fazenda patronal da região – pelos agricultores

familiares do assentamento, ainda carecem de adequação a esse público, tanto do ponto de

vista produtivo quanto do ponto de vista de gestão da agroindústria do palmito de pupunha.

Assim, busca-se no presente trabalho demonstrar os resultados e desempenho

econômico da agroindústria, através de indicadores econômicos adequados, indicando

possíveis caminhos para a viabilidade do empreendimento – em particular do lado da oferta,

relacionando-se essencialmente à discussão sobre inovações – e, consequentemente, da

própria comunidade.

2. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA AGRICULTURA FAMILIAR

2.1 Meio Ambiente e Inovação Tecnológica

O mundo moderno se depara com um grave problema: a escassez dos recursos

naturais.Nossa civilização e até mesmo a vida neste planeta dependerá das decisões tomadas

pelos países ricos e pobres e estas terão que estar pautadas na preservação do meio ambiente.

Isso só se tornara possível diminuindo, entre outras ações, o consumo excessivo de

recursos dos países do Norte e possibilitando ao Sul o combate a pobreza. O desenvolvimento

depende do meio ambiente para acontecer, assim “Três critérios fundamentais devem ser

obedecidos simultaneamente: equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica”

(STRONG prefácio SACHS, 1993, p.7).

Garantir o desenvolvimento e ao mesmo tempo preservar os recursos naturais tem

sido o grande debate da atualidade,

A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável de garantir

que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade

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de as gerações futuras atenderem também às suas. O conceito de

desenvolvimento sustentável tem, é claro, limites – não limites absolutos,

mas limitações impostas pelo estágio atual da tecnologia e da organização

social, no tocante aos recursos ambientais, e pela capacidade da biosfera de

absorver os efeitos da atividade humana... (NOSSO FUTURO COMUM,

1991, p. 9).

A grande dificuldade das políticas ambientais está em como desenvolver tecnologias

sustentáveis dentro de um sistema de mercado,no qual produtos e processos são selecionados

com base na lucratividade, que é influenciada pela demanda e não em parâmetros ambientais.

Uma das soluções para esse entrave seria o desenvolvimento de políticas capazes de

aproveitar as características cumulativas e auto reforçadoras das mudanças técnicas. Uma

maneira de obter esse resultado seria a elaboração de políticas voltadas para a orientação das

indústrias na busca constante de inovações tecnológicas com a finalidade de serem

empregadas de forma benéfica no meio ambiente (FREEMAN e SOETE, 2008).

Considerando a abrangência e interpretação complexa do processo de inovação,

deve-se ter em mente que ele se materializa através do mercado. Neste sentido, é utilizada

neste trabalho a abordagem schumpeteriana para a conceituação de inovação tecnológica. De

acordo com Schumpeter (1984, p. 110):

[...] O impulso fundamental que inicia e mantém em funcionamento a

máquina capitalista procede dos novos bens de consumo, dos novos métodos

de produção ou transporte, dos novos mercados e das novas formas de

organização industrial criadas pela empresa capitalista.

Dosi (2006) afirma que no sistema capitalista as empresas investem em atividades

inovadoras, quando existe a probabilidade de haver algum retorno financeiro, ou quando, a

ausência dessas inovações compromete os benefícios auferidos pela firma.

Para Dosi (2006, p. 12), a inovação apresenta 03 (três) características fundamentais, as

quais seriam: “... 1) a cumulatividade do progresso técnico, 2) a oportunidade tecnológica e,

3) a apropriabilidade privada dos efeitos de mudança técnica.” Por cumulatividade do

progresso técnico, o autor caracteriza o momento pelo qual passa a empresa na busca pela

inovação, como um período de aprendizado, podendo garantir a empresa resultados

cumulativos significativos. A oportunidade tecnológica diz respeito ao setor empresarial em

que a inovação possui maior oportunidade de aperfeiçoamento. A apropriabilidade privada

dos efeitos de mudanças técnicas é caracterizada pelo beneficio econômico obtido pela

empresa inovadora a partir da mudança tecnológica incorporada ao processo de produção.

De acordo com Schumpeter (1942) corroborado por Silva (2004), a concorrência entre

as empresas capitalistas está estritamente vinculada ao processo de inovação tecnológica, o

que conta são as vantagens diferenciais entre as empresas, essas diferenças resultarão em

novos mercados. Dessa forma Schumpeter analisa o aspecto evolucionário do capitalismo

como estando atrelado necessariamente à inovação. Assim, a empresa capitalista se mantém

como uma “máquina de crescimento”.

Diante dos problemas atuais referentes à escassez dos recursos naturais, parte dos

países vem se comprometendo com a formulação de políticas ambientais, estas objetivam a

defesa de um desenvolvimento pautado na sustentabilidade dos recursos. Uma solução

contundente neste processo tem sido a defesa da incorporação de inovações tecnológicas que

sejam favoráveis ao meio ambiente na produção das empresas. Essas inovações devem ser

estimuladas por um rápido progresso tecnológico que tenha por objetivo a utilização dos

recursos naturais da melhor forma possível.

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[...] o uso da inovação, da tecnologia e de outras políticas complementares

em apoio ao objetivo de um desenvolvimento sustentável. As políticas

tecnológicas e de inovação têm um papel essencial no alcance desse

objetivo, devido à necessidade de inovações para substituir atuais métodos

de produção e padrões de consumo não sustentáveis, e também por causa da

necessidade do desenvolvimento e da mais rápida difusão de uma ampla

gama de tecnologias alternativas mais favoráveis ao meio ambiente [...]

(FREEMAN e SOETE, 2008).

Sem dúvida a inovação tecnológica é a chave mestre neste processo de mudanças

ambientais, no entanto, é preciso mudar alguns aspectos na política mundial, com o objetivo

de fazer as empresas privadas investirem em inovações favoráveis ao meio ambiente em seus

processos produtivos, assim os recursos ambientais disponíveis serão melhores utilizados.

2.2 Inovação Tecnológica e Agricultura Familiar

De acordo com Veiga (2007), a agricultura moderna tem seu início nos séculos

XVIII e XIX em diferentes áreas da Europa. Teve importância nesse momento um forte

processo de mudanças tecnológicas, sociais e econômicas, hoje conhecido como Revoluções

Agrícola, sendo fundamental no processo de transição do Feudalismo para o Capitalismo.

O Progresso tecnológico percorrido pela produção agrícola do ponto de vista do

modo capitalista nos remete a uma tripla classificação das inovações tecnológicas, a saber:

[...] a) Inovações mecânicas, que afetam de modo particular a intensidade e o

ritmo da jornada de trabalho; b) Inovações físico-químicas que modificam as

condições naturais do solo, elevando a produtividade do trabalho aplicado a

esse meio de produção básico; c) Inovações biológicas, que afetam

principalmente a velocidade de rotação do capital adiantado no processo

produtivo, através da redução do período de produção, e da potenciação dos

efeitos das inovações mecânicas e físico-químicas (SILVA, 1981, p. 32).

Veiga (2007) afirma que a primeira Revolução Agrícola foi marcada por uma intensa

mudança tecnológica incorporada nas práticas produtivas da época, que consistiu na utilização

da tração animal no uso da terra, assim a prática até então adotada do pousio1 foi substituída

pelo cultivo anual. Além da tração animal o plantio de forragens e a rotação com plantas

leguminosas permitiram aproximação com a pecuária, deixando de serem atividades

contrárias e aos poucos se complementando.

A relação agricultura pecuária deixou o novo sistema produtivo dependente de matéria

orgânica, o solo necessitava de fertilização constante. O número cada vez maior de plantas

juntamente com os novos métodos de cultivo possibilitou “aumentar a lotação de cabeças de

gado nas propriedades, beneficiando a fertilidade dos solos, principalmente os solos fracos”

(EHLERS, 1994, p. 11).

A Segunda Revolução Agrícola, ocorrida entre o século XIX ao início do século XX,

iniciou-se após o ano de 1840, quando o químico alemão Justus Von Liebig publicou sua

teoria sobre nutrição mineral de plantas, baseada na utilização de fertilizantes químicos. Neste

período, “outras tecnologias de melhoramento genético, máquinas e motores a combustão

1Veiga (2007), “pousio” é a interrupção do cultivo de uma área, por um período anual ou mais, no intuito de

reaver a fertilidade natural do solo.

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somaram-se ao cabedal de conhecimentos científicos e tecnológicos que levaram a uma

especialização da produção (monocultivos) e à separação da agricultura da

pecuária”(PEIXOTO, 2009, p. 7).

Segundo Navarro (2001, p. 83-84), “após lenta acumulação de inovações anteriores,

constituiu-se uma nova e acabada ‘compreensão de agricultura’ […] Alicerçada no que foi

genericamente intitulado de ‘revolução verde’, materializou-se de fato sob um padrão

tecnológico”.

Algum sucesso foi alcançado, sem dúvida. Através da Genética têm-se

conseguido raças e variedades mais produtivas, de ciclo curto, precoces e

tardias. Mediante a irrigação, a época de produção pode ser alterada. Certos

métodos de condução das culturas e criações permitem diminuir o ciclo de

produção. Processos de nutrição e outras técnicas várias procuram condições

mais apropriadas para os interesses do capital e de sua reprodução

(GRAZIANO NETO, 1985, p.84).

No final da década de 1960 e início de 1970, a Terceira Revolução Agrícola,

popularmente conhecida como a “Revolução Verde” ampliou o uso da tecnologia no campo,

através dos insumos químicos (pesticidas e fertilizantes), máquinas agrícolas, sementes

geneticamente modificadas, favorecendo a produção e exportação de alimentos comerciais

produzidos.Mas, apesar do aumento positivo na produção de alimentos, a Revolução Verde

também provocou inúmeros problemas sociais e ecológicos (HENRIQUES, 2009).

De acordo com Valdinoci (1979) corroborado por Mazzoleni e Oliveira (2010) a

Revolução Verde além de abrir novos espaços no mercado, tinha por objetivo desestimular a

agricultura ‘tradicional’, anunciada neste momento de euforia tecnológica como antiquada e

irreversivelmente ultrapassada.

Na visão daqueles que defendiam a Revolução Verde todas as pesquisas destinadas

ao setor agrícola deveriam ser feitas dentro dos padrões químicos conquistados, os

financiamentos deveriam atender somente os estabelecimentos produtivos que praticassem a

agricultura modernizada, deixando de lado aqueles produtores rudimentares. O argumento

utilizado era que nenhum consumidor mereceria um produto que não fosse seguro e moderno

(MAZZOLENI e OLIVEIRA, 2010).

A euforia inicial vivenciada pela Revolução Verde foi ofuscada pelos problemas que

começaram a surgir devido os novos métodos produtivos “a erosão e a perda da fertilidade

dos solos; destruição florestal; a dilapidação do patrimônio genético e da biodiversidade; a

contaminação dos solos, da água, dos animais silvestres, do homem, do campo e dos

alimentos” (EHLERS, 1994, p. 24).

As inúmeras contaminações alimentares decorrentes da produção praticada com

agroquímicos levaram a sociedade a uma posição mais critica sobre o tipo de alimento a se

consumir, é nesse contexto que o consumidor passa a fazer questionamentos sobre as

implicações de problemas na saúde devidas aos agrotóxicos nos produtos, ainda que de forma

regulamentada. Assim, passa a se propor novas formas de agricultura que possa ser mais

dependente dos produtos químicos, garantindo um alimento mais seguro sem riscos de

contaminações a saúde.

O alimento produzido artesanalmente sem a aplicação de agrotóxicos, antes

desvalorizado pelo modelo modernizador de agricultura voltou a ocupar espaço no mercado

consumidor, tornando se preferido e mais valorizado por ser um produto natural. Nos países

desenvolvidos esses alimentos são os mais apreciados pelo mercado, já nos países

subdesenvolvidos devido ao preço elevado a população que mais consome esse tipo de

alimento é aquela que possui o poder aquisitivo alto ou médio.

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O desenvolvimento tecnológico proposto para a agricultura sempre buscou a

diminuição do tempo de produção das culturas e criações, no intuito de encurtar as diferenças

entre o tempo necessário para a produção e o tempo de trabalho, com a finalidade de obter

maiores taxas de lucro, por meio do aumento da produtividade do trabalho e da rotação mais

rápida do capital (GRAZIANO NETO, 1985). No entanto, “o tempo de produção é ainda por

demais regido pela Natureza: afinal, a semente tem de germinar, a planta crescer, florescer,

frutificar e amadurecer os frutos, numa sequência condicionada por leis biológicas [...] (idem.

p. 84)”.

2.3 Agroindústria como Estratégia de Reprodução Social da Agricultura Familiar

A contribuição da ciência e da tecnologia no tocante ao processo de desenvolvimento

da agricultura brasileira foi essencial para sua modernização, no entanto, o resultado desse

processo ocasionou um alto índice de exclusão social. A princípio, essa exclusão procedeu da

substituição da mão-de-obra pela mecanização intensiva das tarefas agropecuárias.

Ultimamente, esse processo de exclusão tem atingido os produtores rurais que não alcançam o

nível da inovação e da padronização tecnológica determinada pelas modernas configurações

das organizações do processo produtivo- agribusiness -, que vem se estruturando mediante a

crescente demanda no âmbito da “nova” economia da qualidade (MEDEIROS, WILKINSON,

LIMA, 2002).

A agricultura familiar, em sua caracterização mais genérica, é parcialmente

dependente do mercado, com algumas atividades voltadas para o mercado. Assim, é

extremamente importante a incorporação de inovações tecnológicas em seu processo

produtivo.

O espaço rural deve ser transformado num local de atividades econômicas

múltiplas e dinâmicas, que permitam às pessoas que ali vivem acesso a

condições dignas de vida, semelhantes àquelas das regiões urbanas. Esse

processo pode ser chamado de desenvolvimento local e definido como um

grande mutirão da comunidade (poder público, sociedade civil, movimentos

e organizações populares) na busca de um projeto para o futuro de seu

território, identificando e valorizando os potenciais e riquezas locais.

(TURGES e BÚRIGO, 1999, apud MEDEIROS; WILKINSON; LIMA,

2002, p. 25).

Uma das grandes dificuldades encontradas pela agricultura familiar brasileira, é que

esta “tem sido relegada a uma situação de abandono, com falta de perspectivas para sua

viabilização econômica.” (SILVA, 2002, p.201). Deste modo, a viabilidade econômica da

família rural e sua sustentabilidade, na reprodução social das famílias, estão vinculadas a

diversificação das atividades econômicas no meio agrícola, requerendo a promoção dos

conhecimentos necessários ao desenvolvimento de atividades e serviços não agrícolas

(MEDEIROS; WILKINSON; LIMA, 2002).

A partir dos anos 1990 com o visível fracasso das formas de agricultura que vinha

sendo praticada, a agricultura familiar passa a ser vista de outra maneira por diferentes

segmentos sociais, estes começam a valorizar esse tipo de agricultura, bem como, o modo de

vida no campo, surgindo inúmeros debates a respeito do meio rural estar destinado

exclusivamente às atividades agrícolas. De tal modo, passam a serem pensadas alternativas

viáveis para a promoção do desenvolvimento da agricultura familiar, entrando neste contexto

a transformação/beneficiamento de produtos e subprodutos da produção agrícola, vista como

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importante alternativa de promoção de desenvolvimento rural sustentável, empregando

tecnologias-equipamentos e instalações-adaptadas.A agroindústria de pequeno porte é lançada

criando meios reais de sustentação do homem no campo (SCHMIDT e TURNES, 2002).

De acordo com o PRONAF (2007), uma agroindústria corresponde ao

beneficiamento e/ou transformação de produtos agrosilvopastoris, aquícolas e extrativistas,

compreendendo dos processos mais simples até os mais difíceis, compreendendo o artesanato

no meio rural, com a finalidade de incorporar valor ao produto em questão. Araújo (2005, p.

93), salienta que a agroindústria caracteriza-se em uma unidade empresarial na qual

acontecem as fases do beneficiamento, processamento e transformação dos produtos

agropecuários “in natura” até a embalagem, prontos para comercialização, envolvendo

diversos tipos de agentes econômicos, como comércio, agroindústrias, prestadores de serviços

governo e outros.

Pelegrini e Gazolla (2006) define a agroindústria familiar como uma atividade de

produção de produtos agropecuários com consequente transformação destes em derivados

alimentares de variados tipos, durante esse processo agrega-se maior valor ao produto final.

Outro ponto que se destaca no empreendimento familiar é a relevância do trabalho e da gestão

pela família.

A agroindústria familiar rural surge sob duas prerrogativas concomitantes: enquanto

uma estratégia/alternativa para as UPFs2, visando garantir sua reprodução socioeconômica e

enquanto atividade que venha a ser inserida em um nicho de mercado em crescente expansão,

graças ao aumento de consumidores que buscam uma identidade territorial expressada no

produto consumido, que é explicado por diversos motivos, entre eles: a busca por uma

alimentação natural atrelada a um processo produtivo ambientalmente correto, etc.

(SULZBACHER, 2009).

A agroindústria familiar se organiza por meio de motivações de ordem econômica e

social. A motivação econômica é tida como a principal, pois seu objetivo consiste em agregar

valor aos produtos, através da transformação artesanal ou semi-artesanal dos excedentes que

os agricultores não conseguem comercializar in natura. Em meio às motivações de origem

sociais mais importantes encontram-se a manutenção do produtor no meio rural e a

conservação da unidade familiar, já que os membros da família participarão dos processos

produtivos (RUIZ et al, 2001).

Entre os benefícios sociais de grande importância relacionados aos empreendimentos

agroindustriais de origem familiarestá a melhoria da qualidade dos produtos processados

nestes estabelecimentos, mediante a diminuição das perdas no processo de comercialização,

além da crescente disseminação das tecnologias adaptadas as atividades agropecuárias. A

qualidade do produto oriunda de uma agroindústria de pequeno porte será melhor,

diferenciada e de origem conhecida (PADILHA, FERREIRA, TRENTIN, 2005).

Em relação às dificuldades encaradas pelas agroindústrias familiares rurais, Ruiz et

al. (2001, p. 2) asseveram que os produtos deste segmento, em geral, são pouco competitivos

devido à baixa escala de produção e a pouca atenção dispensada à apresentação dos produtos

ao consumidor no que se referem às embalagens, rótulos e símbolos. Já em relação à

comercialização dos produtos, os produtores na maioria das vezes enfrentam problemas para

expor em mercados diversos, pois, na maioria das vezes, não existe uma análise prévia dos

nichos e oportunidades. Muitos fracassam em função de não terem sido devidamente

planejados, e terem pouca capacidade de adequação às habituais mudanças econômicas. Falta

gestão, qualificação do produtor rural bem como maior assistência técnica.

2Unidades de Produção Familiares

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3. METODOLOGIA

Este trabalho tem como objeto de estudo a produção agroindustrial do palmito no

Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Bonal. Com o objetivo de verificar a

viabilidade econômica ou não do empreendimento gerido pela cooperativa de produtores

rurais do assentamento CAEB3.

O PDS Bonal foi criado através do processo Nº. 021, em 05/07/2005 e publicado

através da Portaria nº. 45/98 em 24/03/2005. Possui uma área total de 10.447 ha (dez mil,

quatrocentos e quarenta e sete hectares), está localizado no Estado do Acre, no município de

Senador Guiomard à margem da BR-364, km76 entre Rio Branco e Porto Velho- RO com

capacidade para assentar 210 famílias4. (Figura 1)

A área do PDS Bonal foi adquirida pelo INCRA mediante processo compra de um

grupo de empresários de origem Belga, que desenvolviam, desde o início dos anos 1970, um

projeto agroindustrial. A fazenda Bonal, como era conhecida na região, desenvolveu

inicialmente o plantio racional de seringueiras para extração de látex. No início dos anos

1980, a empresa começou o plantio de pupunha para a produção de palmito. E, em meados

dos anos 1990, foi construída a agroindústria para o beneficiamento do palmito (INCRA,

2010).

Figura 1: Mapa de Localização do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal.

Fonte: Base de Dados INPE e ZEE/AC (2012)

As informações contidas neste trabalho são procedentes de dados do INCRA, bem

como os dados obtidos através da pesquisa de campo, realizada no referido assentamento,

como também da avaliação econômica e financeira da agroindústria de palmito do PDS Bonal

executada pelo projeto de pesquisa “Análise Socioeconômica de Sistemas de Produção

Familiar Rural no estado do Acre”, denominado ASPF5, desenvolvido pelo Centro de

Ciências Jurídicas e Sociais Aplicadas (CCJSA), da Universidade Federal do Acre (UFAC).

A metodologia utilizada baseia-se no levantamento e análise de indicadores de

avaliação econômica e financeira. Tais indicadores permitem medir o desempenho econômico

3Cooperativa Agro-extrativista Bom Destino - LTDA

4Publicação de retificação da Portaria/INCRA/SR.14/Nº 21, de 5 de julho de 2005 , através do Diário Oficial da

União nº. 187, de 29 de setembro de 2010, Seção I, pág. 48. 5O projeto ASPF desenvolve pesquisas socioeconômicas na área da produção familiar rural na região acreana

desde 1996, com diversas publicações sobre o tema. Para maiores informações ver: http://aspf.wordpress.com/

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do sistema de produção em questão. Os indicadores econômicos utilizados durante o trabalho

para avaliar a eficiência econômica da agroindústria de palmito no Projeto de

Desenvolvimento Sustentável Bonal, estão descritos a seguir:

Os principais indicadores de avaliação econômico-financeiros são os seguintes:

1) Receitas - são os fluxos financeiros que a empresa recebe ano após ano no decorrer de

sua vida útil (Buarque 1984). Desse modo, tem-se:

R – Receita

Pp - Preço do produto

Qd - Quantidade Demandada

2) Custos Operacionais - Os custos estão divididos basicamente em custos fixos e

variáveis. Os custos fixos são aqueles que não dependem, em cada momento do nível de

produção da unidade. Os custos variáveis são os que dependem diretamente do nível de

produção que a unidade produz num período dado, por exemplo, o custo das matérias-primas.

3) Índice de Lucratividade (IL) - Esse indicador mostra a relação entre o lucro

operacional (LO) e a renda bruta (RB). Em percentagem. É uma medida importante de

rentabilidade da atividade, uma vez que mostra a taxa disponível da receita da atividade após

o pagamento de todos os custos operacionais, encargo, etc., inclusive a depreciações. Então:

4) Custo-Beneficio (B/C) - É o indicador de viabilidade de projetos de investimento. A

relação beneficio/custo (B/C) mostra o quanto o valor presente das entradas representa o valor

presente das saídas de caixa. Para tanto, este indicador é descrito como:

⁄ ∑

B – Benefício;

C – Custo.

5) Ponto de Equilíbrio - É o nível mínimo de produção e venda em que uma fábrica pode

funcionar "autonomamente", ou seja, sem perdas. É representado pela fórmula:

Onde,

PE = Ponto de Equilíbrio

Cf = Custo Fixo

Cv = Custo Variável

R = Receitas

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6) Depreciação - corresponde ao encargo periódico que determinados bens sofrem, por

uso, obsolescência ou desgaste natural. A taxa anual de depreciação de um bem será fixada

em função do prazo, durante o qual se possa esperar utilização econômica. E é dada pela

fórmula:

Onde,

D = Depreciação

Vi = Valor Inicial ou valor pago por um bem

T = Tempo de vida útil

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A produção de palmito no PDS Bonal é uma das bases da economia local. No início da

implantação do assentamento uma das regras era que todos os assentados realizassem o

plantio de pupunheiras, no intuito de ampliar a lavoura herdada da época em que a Bonal era

empresa, aumentando a capacidade produtiva e operacional da agroindústria local, gerando,

assim, maior renda para os assentados (ASPF, 2012). De acordo com dados repassados pelo

INCRA (2010) entre 2006 a 2008 foram plantadas pelos assentados o equivalente a 340.000

(trezentos e quarenta mil) mudas de pupunha. Para os anos de 2010-2011 o INCRA estimou

uma plantação em torno de 200.000 (duzentas mil) mudas de pupunha.

Os plantios de pupunha no PDS Bonal em sua maioria são consorciados com

seringueiras, considerada a principal atividade econômica do assentamento. O palmito

processado na agroindústria Bonal é oriundo dos lotes dos produtores do assentamento, tendo

alguns registros de matéria-prima oriunda de plantações próximas ao PDS.

O processo de agroindustrialização do palmito no PDS Bonal segue inúmeras etapas.

A primeira está relacionada à colheita, onde é realizada entre 18 a 36 meses após o cultivo da

pupunheira. Depois desse processo é realizada uma limpeza parcial dos estipes6 para diminuir

o peso e volume da matéria-prima. Os estipes são submetidos a um desembainhamento

manual, eliminando neste processo bainhas fibrosas que envolvem a parte macia (creme),

restando apenas 4 a 3 bainhas, que servirão como proteção para o palmito durante o

transporte, evitando a desidratação e a contaminação microbiológica. (EMBRABA, 2004).

Após o corte e a limpeza parcial dos estipes, é realizado o transporte à agroindústria durante

os horários mais amenos do dia com finalidade de evitar a desidratação e manter a qualidade

do produto. Quando chegam à agroindústria, as hastes são colocadas sobre bancadas para

ficarem de repouso e no dia seguinte iniciar o processo de agroindustrialização.

A figura 2 apresenta as etapas do processamento do palmito na agroindústria Bonal.

6Estipe é o caule das palmáceas que é indiviso e termina por uma coroa de folhas; é também chamado de estípite

(EMBRAPA, 2004).

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Recepção

Lavagem

Corte do Picado

Repouso

Salmoura ácida

Água (espera)

Resfriamento

Cozimento

Vedação da Tampa

Adição de Salmoura

Envase

Corte e Classificação

Estocagem

Embalagem

Rotulagem

Controle de Qualidade

Quarentena

Figura 2: Fluxograma do Processamento Industrial Padrão na Agroindústria de Palmito de Pupunha do PDS

Bonal – Senador Guiomard, Acre, 2012

Fonte: ASPF (2012).

O processamento inicia com a recepção das hastes do lote do produtor. Após

descansar um dia nas bancadas, as bainhas de proteção são retiradas, deixando o produto

exposto. É nesse momento que é realizada a pesagem do palmito, para fins de pagamento do

produtor e ainda na intenção de controle da produção da lavoura.

Após serem retiradas as bainhas de proteção os palmitos são reunidos passando por

um longo processo de lavagem das hastes, feita com água corrente e em abundância

previamente tratada para a remoção da cerosidade externa.

Depois da lavagem da matéria-prima o palmito é colocado em uma sala onde é feito

o corte e a classificação do palmito conforme os tipos mais comuns encontrados no mercado.

Vale ressaltar que o PDS Bonal é a única agroindústria no Estado que produz oito tipos de

palmito. São eles: Tolete Premium, Tolete Tradicional, Picado 300g e 1200g, Bandas, Rodela

“A”, Rodela “B” 300g e 1200g. Sendo Picado 300g e Tolete Tradicional as tipologias com

mais aceitação dos consumidores.

Após o corte e classificação o palmito deve ser imerso em uma salmoura de espera

para evitar uma possível oxidação do produto. (EMBRAPA, 2004). Logo que saem da água

de espera os palmitos são envasados e os vidros colocados em cima das bancadas.

Em seguida é adicionada a salmoura ácida7, considerado um dos fatores mais

importantes no processamento do palmito. Posteriormente a adição da salmoura ácida os

vidros recebem uma tampa de vedação, sendo encaminhados ao setor de cozimento para ser

realizada a esterilização comercial onde são imersos em caldeiras inoxidáveis. Após este

processo, os vidros devem ser resfriados imediatamente a intenção é evitar a condensação de

vapores ácidos internamente nas tampas. Em seguida o palmito processado é levado para o

7A acidificação deverá ter um pH ≤ 4,3.

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setor de repouso permanecendo por 12 horas para realização do controle de qualidade do

produto.

Saindo da primeira avaliação do controle de qualidade o palmito segue para o setor

de “quarentena” onde permanecerá por 15 dias, quando será feita uma segunda avaliação de

qualidade do produto. Durante a quarentena segue um vidro de cada lote de palmito para o

laboratório existente na própria agroindústria, onde será feito o controle do pH e vácuo.

Após o período de quarentena o palmito processado Bonal é levado ao setor de

rotulagem, onde os rótulos são fixados manualmente pelos funcionários da agroindústria. Os

rótulos contêm informações pertinentes ao produto e é durante este procedimento que é

colocado o lacre plástico na tampa.

Por fim, os vidros são colocados em caixas de papelão e encaminhados ao estoque,

sendo distribuídos por lote, facilitando o controle no momento da comercialização.

Em 2005, quando o INCRA adquiriu a fazenda Bonal implantando o PDS, a

agroindústria já apresentava sinais de fracasso. Com o declínio na produção, a situação só

agravou. Ao ser comprada a fazenda,“de porteira fechada”, toda a estrutura empresarial da

produção de palmito foi repassada para o INCRA, que objetivou transplantá-la para o

ambiente comunitário.

O beneficiamento do palmito pela agroindústria local seria o carro chefe do

assentamento.No entanto, no início de 2012 a produção de palmito parou, gerando transtorno

para as centenas de produtores do PDS, que não conseguem retirar o palmito de seus lotes

para ser industrializado, comprometendo a renda das famílias locais.

Um dos grandes entraves da produção de palmito tem sido a falta de progresso

técnico do empreendimento.É possível perceber através dos equipamentos presentes na

agroindústria que a maioria advém da década de 1990 quando a então empresa implantou a

fábrica. Hoje contabilizando 23 anos de implantação, a agroindústria sofre com a falta de

inovação tecnológica do seu capital fixo.

De acordo com o levantamento feito pelo Projeto ASPF, verificou-se a relação dos

capitais fixos da agroindústria (edifícios, máquinas e equipamentos)e calculada a depreciação

deste capital decorrente do desgaste dos ativos durante o processo de produção e dado o valor

atual dos equipamentos. A maioria do capital fixo do empreendimento encontra-se obsoleto,

alguns equipamentos por possuir vida útil elevada não prejudica a produção na fábrica,

exemplo disso são aqueles fabricados de material inoxidável, como é o caso dos tanques e

mesas de inox (vida útil 50 anos).

Alguns equipamentos de vida útil menor foram renovados periodicamente, na época

da empresa e no novo modelo de assentamento proposto pelo INCRA.Contudo, equipamentos

essenciais no processamento do palmito já acabaram a vida útil e outros estão no final deste

processo. Podem-se citar, como exemplo, os dois tratores adquiridos na época da empresa,

com vida útil de 10 anos, que são responsáveis pelo transporte das hastes de palmito do lote

dos produtores até a fábrica.Esse capital já não possui nenhum valor monetário patrimonial

para a agroindústria, dado sua completa depreciação, tornando-se um estorvo no processo

produtivo.

Além dos tratores que já acabaram a vida útil, cabe citar a caldeira, que no ano em

que foi feita a pesquisa (2012) estava no último ano de vida útil, destacando-se que a mesma

já sido adquirida de terceiros pela fazenda.Vale ressaltar que nas instalações da agroindústria

existem duas caldeiras, no entanto em funcionamento há somente uma, já que a outra está

inutilizada devido a furos. Todos estes fatores aliados a outros comprometem a capacidade

produtiva da fábrica.

Após ser analisado o capital fixo da agroindústria de processamento de palmito

Bonal é fundamental a identificação do quadro funcional da fábrica, para mensurar melhoro

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capital variável, notadamente o que corresponde à parte empregada no pagamento de salários.

A figura 3 representa a estrutura formal da agroindústria Bonal.

Figura 3: Organograma Atual da Agroindústria do PDS Bonal – Senador Guiomard, Acre, 2012

Fonte: ASPF (2012).

Observando a organização funcional da agroindústria Bonal, é possível perceber

deficiências na forma como é administrada. O primeiro problema recai na ausência de um

Gerente/Administrativo/Financeiro, esse papel é desempenhado pela secretária da CAEB, o

que sobrecarrega sua função, além do fato de não ter a qualificação exigida para um

Gerente/Administrativo/Financeiro. Outra dificuldade está relacionada ao responsável técnico

(Químico), este não faz o acompanhamento diário da produção, pois mora em Rio Branco.

Em relação aos funcionários da linha de produção a falta de capacitação específica prejudica o

cumprimento das necessidades de produção da fábrica.

O que se pôde perceber durante a pesquisa de campo é que existe uma necessidade

crescente de capacitação para os funcionários da agroindústria, mesmo aplicando cursos

relacionados a práticas corretas de produção, o INCRA não capacitou as lideranças para

gerenciar de forma correta o empreendimento. É possível perceber desmotivação por parte

dos cooperados principalmente em decorrência de problemas relacionados a gestão.

Para que a agroindústria de processamento do palmito Bonal tenha um quadro de

funcionários eficiente é necessário que ocorram alguns investimentos básicos em formação e

qualificação profissional.O fato de muitas coisas não se desenvolver de maneira exata pode

está atrelada à falta de conhecimento por parte do funcionário e não por má vontade ou

indisposição.

Não obstante, mesmo com os problemas de defasagem tecnológica e qualificação dos

funcionários inadequada existente na agroindústria, ainda é possível colocá-la em pleno

funcionamento.A fábrica consegue operar atualmente com 80% de sua capacidade produtiva

normal, claro que em condições normais de capital de giro adequado para o processo

produtivo. Deve-se destacar que quando a fábrica iniciou suas atividades, em 1990, a

capacidade produtiva era 30% superior a atual.

A tabela 1 apresenta os coeficientes técnicos atuais do processamento do palmito da

Bonal.

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Tabela 1 – Coeficientes Técnicos do Processamento do Palmito do PDS Bonal, Senador Guiomard,

Acre - 2012

Discriminação Unidade Valor/Diária 80% da

capacidade

Capacidade Produtiva kg/dia 1.200,00 960,00

Matéria Prima estipe/haste 3.600,00 3.040,00

Rendimento/Palmito kg/haste 0,32 0,32

Tampa unidade/dia 4.000,00 3.200,00

Caixa unidade/dia 266,67 213,34

Vidro unidade/dia 4.000,00 3.200,00

Rótulo unidade/dia 4.000,00 3.200,00

Produto Químico kg/dia 7,66 6,13

Sal kg/dia 38,40 30,72

Lacre unidade/dia 4.000,00 3.200,00

Fita Gomada kg/dia 0,39 0,31

Mão de Obra homem/dia 15,96 12,77

Água L/dia 960,00 768,00

Energia kwh/dia 299,59 239,67

Lenha kg/dia 400,00 320,00 Fonte: ASPF (2012).

Ainda que muitos dos seus equipamentos estejam em estado avançado de

depreciação a agroindústria possui uma boa capacidade produtiva.Entretanto, outros fatores

impedem a produção, um deles tem sido a falta de capital de giro da fábrica que tem

impossibilitado a compra dos principais insumos para o processamento do palmito.

É importante frisar que a produção de palmito na Bonal é responsável por manter

todos os gastos da CAEB, o caixa da cooperativa e da agroindústria são os mesmos, assim a

agroindústria além de arcar com os custos totais de produção agroindustrial ainda mantém as

despesas da cooperativa.

4.1 Resultado dos Indicadores Econômicos da Produção de Palmito na Agroindústria

Bonal

Para avaliar os resultados econômicos atuais da Agroindústria de palmito Bonal se

faz necessário recorrer aos dados de produção oriundos da época em que a Bonal era empresa

vinculada a um grupo de empresários Belgas (1990 – 2004), comparando-os com os dados da

produção atual de palmito processado pela Agroindústria Bonal, gerenciada pela CAEB desde

agosto de 2005, quando foi adquirida pelo INCRA em parceria com o governo federal.

Em 1990, quando se iniciou o processamento de palmito na então fazenda Bonal, a

produção detinha uma média mensal de quase 17.000kg, conforme figura 4. No início de suas

atividades a fábrica trabalhava com 5.000 hastes de palmito diário processando em média

1578 kg de palmito por dia, o que lhe permitiu exportar o produto para alguns estados

brasileiros e países fronteiriços.

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Figura 4: Média de Produção Mensal de Palmito de Pupunha (em kg) na Empresa Bonal entre os anos 1990 e

2004 – Senador Guiomard, Acre.

Fonte: ASPF (2012).

No início da produção agroindustrial, a empresa Bonal investiu fortemente no

processamento de palmito de pupunha, já que os palmitos consumidos oriundos de palmeiras

nativas vinham sendo questionados pelos organismos ambientais brasileiros, dada sua

exploração predatória.

A produção de palmito da empresa Bonal se manteve alta até o final de 1996, logo

após houve um declínio de 50% na produção, entre os anos de 1997 e 2003 a média mensal da

produção foi de 8.400 kg. A diminuição na produção foi decorrente da análise empresarial

negativa da produção de palmito de pupunha feita pelo grupo Belga8.

No entanto, em 2004, a produção registra uma média mensal de palmito processado

de 20.300kg, é possível explicar a produção recorde da empresa neste ano, comparado aos

anos anteriores, mediante ao fato de ter ocorrido uma superexploração dos plantios de

pupunha, decorrente do processo de negociação de venda da propriedade, levando os

proprietários da empresa a realizar a retirada de palmito em palmeiras que ainda não havia

alcançado a época certa do corte. Essa atitude do grupo resultou na morte de boa parte dos

pupunhais, comprometendo as produções posteriores.

Após a fazenda Bonal ser adquirida pelo INCRA, o processamento de palmito na

agroindústria ficou a cargo dos assentados do PDS, a maioria ex-funcionários da antiga

empresa que detinham certo conhecimento acerca dos procedimentos técnicos.

A avaliação econômica realizada na Agroindústria do PDS Bonal, em 2012, registrou

a produção total de palmito processada na agroindústria e destinada ao mercado consumidor

nos anos de 2006 a 2011, conforme mostra a figura 5.

Figura 5: Produção anual (em kg) de palmito de pupunha no PDS Bonal entre os anos 2006 a 2011 – Senador

Guiomard, Acre, 2012

Fonte: ASPF (2012).

8 Nesse período, várias agroindústrias espalhadas pelo Brasil passaram a competir com a empresa Bonal. A

queda na produção de palmito foi devido aos donos da empresa veem desvantagens nos custos de produção,

chegando à conclusão de que não seria possível aumentar seus lucros produzindo palmito de pupunha.

0

10.000

20.000

30.000

1990-1996 1997-2003 2004

16.900

8.400

20.300

34.091

27.517

31.467

25.590

30.837

27.482

20.000

25.000

30.000

35.000

2006 2007 2008 2009 2010 2011

Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2013

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De acordo com a figura 5, a produção de palmito processada no PDS Bonal entre os

anos de 2006-2011 é claramente inconstante. Tal oscilação está relacionada tanto a problemas

técnicos quanto de gestão, conforme avaliação dos próprios membros da cooperativa

responsáveis pela agroindústria.

Por outro lado, durante a pesquisa foi informado pelos gestores da agroindústria que

o preço de venda do palmito Bonal é definido levando em consideração o preço do palmito

processado pelo RECA9, principal concorrente do palmito Bonal na região, sendo subtraídos

20% do valor de venda do palmito do RECA, caracterizando a formação de preço do palmito

Bonal de forma equivocada.

Essa maneira de definição de preço do palmito utilizada pela agroindústria Bonal

repercute de maneira negativa nos resultados econômicos do empreendimento, já que não se

leva em consideração os reais custos de produção do produto, assim os problemas financeiros

da agroindústria só tendem a aumentar.

A figura 6 apresenta o comportamento dos preços e dos custos unitários entre 2006-

2011, demonstrando a instabilidade do processo produtivo do palmito tanto do lado da oferta

– tecnológica e gestão produtiva – quanto do lado da demanda– formação de preço do

produto, devido à falta de capacitação dos gestores em lidar com seus agentes mercantis.

Figura 6: Variação dos custos unitários e dos preços unitários da produção de palmito no PDS Bonal no período

de 2006 a 2011 – Senador Guiomard, Acre, 2012.

Fonte: ASPF (2013).

Ressalta-se, na figura 6, que em 2006 e 2007 a agroindústria trabalhou dentro do

esperado, ou seja, com os preços unitários maiores que o custo unitário de produção. Isso

aconteceu devido ao momento inicial de implantação do PDS Bonal, no qual algumas

instituições governamentais municipais, estaduais e federais, como é o do INCRA,estarem

presente de maneira atuante na agroindústria.10

Além disso, o presidente da CAEB da época

tinha certo conhecimento acerca da produção e o mercado do palmito, já que havia sido

administrador da antiga fazenda. Em 2008, teve início uma nova gestão da CAEB, sem o

know-how e qualificação adequada. Não por acaso,nesse período, o custo unitário do vidro do

palmito fica acima do preço unitário pago no mercado. Nos períodos seguintes, percebe-se um

esforço de manter as contas equilibradas, sem muito sucesso, pois, em 2012, a fábrica parou

tendo em vista às dívidas acumuladas e a consequente inadimplência no mercado.

De acordo com a figura 7 é possível perceber que a agroindústria de palmito Bonal

na maioria dos anos não alcançou seu ponto mínimo de produção (2006, 2008, 2009, 2010) o

que lhe resultou em prejuízos. Somente em dois períodos (2007 e 2011) a produção da fábrica

ultrapassou o ponto de equilíbrio, mas não suficiente para atenuar os prejuízos. Porém, a

9Projeto de Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado

10 Até o presidente Lula visitou o PDS Bonal!

Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2013

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indicação das perdas produtivas11

, que seriam suficientes para a superação do ponto de

equilíbrio, em cada período, evidencia o papel das ineficiências produtivas decorrentes tanto

da obsolescência tecnológica quanto da gestão da fábrica.

Figura 7: Ponto de Equilíbrio e Perdas da Produção de Palmito na Agroindústria Bonal – Senador Guiomard,

Acre, 2012

Fonte: ASPF (2012).

Agora, mesmo evidenciando os problemas apontados anteriormente do ponto de vista

da produção, a Figura 8 aponta que a agroindústria pode ser lucrativa, dentro da taxa média de

lucratividade do mercado de palmitos no Brasil, em torno de 14%. Claro que a lucratividade

identificada está estreitamente relacionada à demanda do palmito, cujos preços pagos podem

ser mais bem negociados e requer um estudo específico sobre a formação de preços do

produto.

Figura 8: Índice de Lucratividade da Agroindústria Bonal - 2006- 2011 – Senador Guiomard, Acre, 2012

Fonte: ASPF (2012)

Atualmente a agroindústria não está funcionando devido ao acúmulo de déficts

financeiros deixados desde o início da implantação do assentamento. Algumas ações estão

sendo empreendidas para reverter essa situação como é o caso do IN CRA, que está

trabalhando parcerias para a resolução de alguns problemas como efetivos treinamentos e

capacitações dos membros e gestores da agroindústria, viabilização de uma nova caldeira etc.

Ademais, o projeto de pesquisa ASPF trabalhou junto com a comunidade um plano

de negócios para a viabilidade econômico-financeira da agroindústria, enfocando as

necessidades de atualização tecnológica e de financiamento para o empreendimento, além de

11

A perda na produção de palmito esta relacionada a problemas na qualidade do produto processado, como

alterações no aspecto da salmoura (turvamento), estufamento de latas e tampas, vazamentos e deterioração do

produto.

-

2.000,00

4.000,00

6.000,00

8.000,00

10.000,00

2006 2007 2008 2009 2010 2011

Produção Perdas Ponto de Equilíbrio

-12%

17%

-12% -13%

-1%

13%

2006 2007 2008 2009 2010 2011

Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2013

SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

diversas pesquisas que auxiliarão os gestores da fábrica, como um estudo sobre a formação de

preços do Palmito, que acaba de se defendido numa dissertação de mestrado, dentro do

Mestrado em Desenvolvimento Regional (MDR), desenvolvido na Universidade Federal do

Acre (UFAC).

5. CONCLUSÃO

A reforma agrária na Amazônia, desde os anos 1970, têm se mostrado deficiente em

termos de resultados satisfatórios para a agricultura familiar, uma vez que vários problemas

foram relatados ao longo do tempo, como inadequação das áreas ocupadas, créditos

inadequados e insuficientes, dificuldades de assistência técnica, beneficiamento dos produtos.

Ou seja, a busca para a viabilidade da produção familiar rural pautava-se por outro tipo de

reforma agrária.

O Projeto de Desenvolvimento Sustentável Bonal surge com o intuito de conciliar

desenvolvimento com sustentabilidade, trabalhando uma nova forma de gestão dos recursos

naturais, notadamente de forma coletiva, comunitária. Por outro lado, buscou-se integrar a

essa concepção alternativas produtivas extrativistas, cujas inovações já vinham sendo

trabalhadas por empreendimento privados, especialmente na busca pela agregação de valor

via processo de agroindustrialização – sobretudo do palmito de pupunha, um produto com

grandes potenciais de mercado.

O assentamento foi criado após o INCRA comprar a fazenda Bonal, onde havia

instalada a agroindústria de beneficiamento e processamento de palmito de pupunha, além de

haver plantios de pupunhas consorciados, principalmente, com seringueira. A princípio

queriam aproveitar as instalações da fábrica e continuar com as práticas de industrialização de

palmito de pupunha, porém, de modo comunitário e distribuindo as terras em lotes para os

produtores desenvolverem-se no assentamento.

Desse modo, a agroindustrialização teria seu papel de reprodução social da agricultura

familiar consolidado dentro do assentamento. As famílias produziriam seus produtos

agrícolas, tanto para o autoconsumo como para a venda ao mercado via agroindústria.

No entanto, verificou-se que as instalações herdadas da fazenda Bonal, pelos

assentados do PDS, tornaram-se empecilhos para o desenvolvimento do assentamento, uma

vez que os plantios já estavam no final de sua vida útil produtiva; a agroindústria do palmito

estava completamente obsoleta para os padrões atuais do produto; a infraestrutura e as

benfeitorias se mostraram inadequadas para a gestão coletiva.

Além disso, foram identificadas algumas deficiências no assentamento, como

debilidade gerencial dos assentados, inexperiência no manejo dos sistemas produtivos

herdados, bem como de novos sistemas incentivados, caso dos agroflorestais, deficiência na

assistência técnica, entre outras.

Tais questões transformaram o processo de agregação de valor, por intermédio da

agroindustrialização do palmito, num grande estorvo, pois o acúmulo dos prejuízos nos

últimos seis anos levou à paralisação da fábrica em 2012 e, claro, na venda do palmito pelos

assentados, implicando nas dificuldades de reprodução das famílias assentadas.

Contudo, no presente trabalho evidenciou-se, também, que mesmo com as

dificuldades decorrentes da defasagem tecnológica e gerencial, em dois períodos a

agroindústria obteve lucros, relacionados essencialmente do lado da demanda, demonstrando

o potencial do produto no mercado. Além disso, um plano de negócio foi trabalhado com os

gestores indicando as necessidades e resultados para a viabilidade econômica da fábrica.

Belém - PA, 21 a 24 de julho de 2013

SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural

Assim, fica evidente que os problemas oriundos da questão agrária não foram

superados com a criação, por decreto, dos PDS, estando à agricultura familiar vivenciando as

mesmas carências de outras épocas. Torna-se necessária encaminhar as inovações efetivas

para uma agroindústria efetivamente familiar, resolvendo-se as questões relacionadas,

principalmente, à defasagem tecnológica e gestão de empreendimentos por parte dos

assentados.

6. REFERÊNCIAS

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