a acÇÃo catÓlica portuguesa (1933-1974) e a presenÇa da igreja na sociedade - paulo fontes

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A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA  1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE PAULO FONTES A  Acção Católica Portuguesa  (ACP) constitui um bom obser- vatório para a análise do catolicismo contemporâneo e para uma re- novada compreensão do papel da Igreja na sociedade portuguesa, ao longo de mais de meio século. Tal facto resulta não apenas do seu carácter institucional no seio da Igreja católica, mas também do papel que ocupa no seio da sociedade moderna. Vários testemunhos o ates- tam e os recentes estudos de história confirmam-no 1  Registem-se apenas os títulos de estudos que incidem directa e globalmente sobre a história da  Acção Católica Portuguesa:  FALCÃO, M. F.— A Acção Católica Portuguesa: (Origem, orgânica, vida, resultados).  Boletim de Informação Pastoral. 1961. 3 (14), p. 26-34; FERREIRA, A. Matos  —A Acção Católica: Questões em tor- no da organização e da autonomia da acção da Igreja católica (1933-1958).  I n  O ESTADO NOVO. Das origens ao fim da autarcia (1926-1959).  Lisboa; Fragmentos, 1987, vol. 1, p. 281-302; FONTES, P. —  A Acção Católica Portuguesa e a proble- mática missionária (1940-1974).  I n  CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓ- RIA «Missionação Portuguesa e Encontro de Culturas» — Actas.  Braga: U.C.P., 1993, vol. 1, p. 411-451; FRANCO, A. Sousa —  Cinquenta anos de Acção Católica.  I n A ACÇÃO Católica do presente e do futuro.  Lisboa: Rei dos Livros, 1985, p. 49-84; GOMES. J. Pinharanda —  Acção Católica.  I n  DICIONÁRIO de História da Igreja em Portugal.  Lisboa: Ed. Resistência, vol. I, p. 34-40; NOGUEIRA, Eurico Apontamentos para a história da Acção Católica na Diocese de Coimbra.  Estudos. Coimbra, 1959, 37 (381-382), p. 559-592; REZOLA, Maria Inácia —  II-Breve panorama da situação da Igreja e da religião católica em Portugal (1930-1960).  In NOVA História de Portugal.Vol 12: O Estado Novo (1930-1960).  Coordenação de Fernando Rosas. Lisboa: Presença, 1992, p. 222-255; SANTOS, António Retrospectiva da Acção Católica Portuguesa.  I n  JORNADAS Diocesanas da Acção Católica.  Porto: 1980, p. 7-32. LUSITANIA SACRA, 2 série, 6 1994) 61-100

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7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

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7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

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Este a r t igo toma como ob jec to de aná l i se a o rgan ização no stodo , desde a sua ins t i tu ição (1933) a té à sua d i sso lução como coo rgân i co ( 1974 ) , ap r e sen t ando a l guns m ar cos que ba l i za r am a h i s tó r i a . A fo rmulação de h ipó teses de t r aba lho e a de tecção de p ide inves t igação , no quadro da r enovação da h i s to r iogra f i a soc iare l ig iosa por tuguesa , é o p r inc ipa l ob jec t ivo do t ex to , que se insnum p r o j ec t o de i nves t i gação m a i s a l a rgado 2.

Do pon to de v i s t a metodo lóg ico , há que sub l inhar as d i f i cu ldaex i s t en tes nes te t ipo de es tudos , quer as r esu l t an tes de r edu toper spe c t iva s de aná l i se a inda do m ina n te s \ que r as d i f i cu lda de s pven ien tes da inex i s t ênc ia de a rqu ivos o rgan izados e acess íve i s rt ivos aos d iver sos o rgan i smos que in tegra ram a Acção Ca tó l i ca e só rgãos cen t r a i s 4.

Ass i m , p r ocede r em os po r ap r ox i m ações sucess i va s , em f un çãoa l guns nú c l eos t em á t i cos , que e sco l hem os ap r e sen t a r : a Acção Cató-lica Portuguesa no qua d r o do ca t o l i c i sm o con t em por âne o ; a sua p r esença na soc i edade po r t uguesa ; c a r ac t e r i zação do m ode l o e e s t r uda nova o rgan ização de apos to lado ; d inâmica da Acção Ca tó l i capr inc ipa i s e t apas na v ida da A CP . Em je i to de con c lus ão , r e to m area lg um as h ipó tes es in te rp re ta t iv as , a exp lora r em fu tu r os t r aba lho

1. A Acção Católica Portuguesa e o c a t o l i c i s m o c o n t e m p o r â n e o

A i n s t i t uc i ona l i zação da Acção Católica Portuguesa a 16 de N o-ve m br o de 1933 , com a pu b l i c açã o das suas Bases Orgânicas \ ins -

2 Tr a t a - s e d o p r o j e c t o « I g r e j a e M o v i m e n t o s S o c i a i s : a s O r g a n i z a ç õ e s C al i ca s em Po r tu g a l , n o sécu lo XX» , em cu r so n o âm b i to d o Cen t ro d e Es tu d o sH i s t ó r i a R e l i g i o s a ( C E H R ) .

3 N o s e u e s t u d o s o b r e a A c ç ã o C a t ó l i c a , A n t ó n i o M a t o s F e r r e i r a c a r a c t e ra s l e i tu r a s s im p l i f i c ad o ra s , d e v id as à f a l t a d e r ec u o c r í t i co d a an á l i se h i s tó r i c a ,s e g u i n t e s t e r m o s : « D e s d e u m a c e r t a « l e n d a d e o u r o » q u a s e r e d u z i n d o a a c t u a ç ãI g r e j a c a t ó l i c a e d o s c a t ó l i c o s à a c ç ã o d e s t a o rg a n i z a ç ã o a t é à c o m p r e e n s ã o dc o m o u m a s i m p l e s ' c o r r e i a d e t r a n s m i s s ã o ' d a h i e r a r q u i a c a t ó l i c a , e , p o r c o n s e qc i a , 's u s t e n t á c u l o d o r e g i m e ' , o c o n h e c i m e n t o d a c o m p l e x i d a d e d a c o n s t i t u i ç ã oe v o l u ç ã o d a A C P é a i n d a m u i t o e s c a s s o » (op. cit., p . 28 1) .

4 O l e v a n t a m e n t o d e d a d o s e c a r a c t e r i z a ç ã o da a c t u a l s i t u a ç ã o n o q u e s ef e r e à c o n s e r v a ç ã o d e d o c u m e n t a ç ã o , e x i s t ê n c i a e o rg a n i z a ç ã o d e a r q u i v o s , éd o s o b j e c t i v o s d o p r o j e c t o d e i n v e s t i g a ç ã o e m c u r s o .

5 BASES da Acção Ca tólica Portuguesa. B o l e t i m d a A c ç ã o C a t ó l i c a P o r -t u g u e s a , L i s b o a , 1 9 3 4 , l , p . 1 2 - 1 5 . C f . D U R Ã O , P a u l o — Bases da Acção CatólicaPortuguesa. Bro té r i a . L i sb o a , 1 9 3 3 , 1 7 , p . 3 2 5 -3 3 2 .

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c r eve - se no quad r o de r ecom p os i ção do ca t o l i c i sm o e de r ee s t r u t u -ração da Ig re ja em Por tuga l , cu jo marco mais s ign i f i ca t ivo fo ra a r ea -l i zação do Conc í l io P lenár io Por tuguês em 1926 . A par da o rga-n i zação e r egu l am en t ação da p r á t i c a sac r am en t a l , d a p r egação e dai m por t ânc i a da r eo rgan i zação dos sem i ná r i o s pa r a a f o r m ação doc l e r o , o Conc í l i o P l ená r i o r eve l ou i gua l m en t e g r ande p r eocupaçãope l a d i ve r s i dad e e r en ova ção dos agen t e s pa s t o r a i s no âm b i t o da e s t r u -tu ração in te rna da Ig re ja . Par t i cu la r r ea lce fo i dado à «d i sc ip l ina dosle igos» , à necess idade de «educação c r i s t ã da mocidade» , a pa r dor e c o n h e c i m e n t o d a n e c e s s i d a d e d a « A c ç ã o C a t ó l i c a » 6.

A s i t uação po r t uguesa ca r ac t e r i zava - se en t ão pe l a s epa r ação dasIgre jas do Es tad o e pe la s r e l açõe s o ra co nf l i tuo sas , o ra t ensas com oE s t ado r epub l i cano , a pa r de um sen t i m en t o gene r a l i z ado de f r ag i l i -dade i n t e r na e co r r e sp ond en t e vo n t ad e de r eno vaç ão do ca t o l i c i sm o ,que se faz ia sent i r desde os f inais do século XIX 7 . Por out ro lado,Por tuga l v iv ia o impac to da d inâmica in te rnac iona l da Ig re ja ca tó l i ca ,m ar cada pe l a p r opo s t a de « r e s t au r ação c r i s t ã da soc i edade» .

Desde o in íc io do seu pon t i f i cado em 1922 , que P io XI def in i r aco m r edob r ado v i go r o p r o j ec t o de r e s t au r ação da o r dem soc i a l c r i s -tã 8. Pa r a t a l , f e z da ide ia de «acç ão ca tó l i ca » uma nov a p rop os ta deap os t o l ado que p r og r e s s i vam en t e se i n s t i t uc i ona l i za nos pa í se s det radição cató l ica : em 1923, na I tá l ia ; em 1925, na Polónia ; em 1926,na Es pan ha ; em 1927 , na Jug os lá v ia e Ch ec os lov áq u ia ; e em 1928 , naÁust r i a .

No en ta n to , a ide ia da ne ce ss id ad e de um a acção católica c o m oi ns t r um en t o de regeneração da soc ied ad e não surg ia i so lad a . Insc re -ve - se , pe l o con t r á r i o , no con t ex t o do cham ado «ca t o l i c i sm o i n t e -g r al », e m r e n o v a d a a f i r m a ç ã o c o m o c a t o l i c i s m o s o c i a l9 . Mas o con-

6 C f . CONCÍLIO Plenário Português. ( E d . p o r t . o f i c i a l ) L i s b o a : U n i ã o G r á -f i c a , 1 9 3 1 . C o n c l u s õ e s n .0 1 143 e 147 .

1 C f . F E R R E I R A , A . M a t o s — A Igreja na Monarqu ia constitucional: Ocomportam ento da Igreja em face da liquidação do Antigo Regime. I n H I S T Ó R I AContemp orânea de Portugal. D i r. d e Jo ão M ed in a . Vo l . 2 . L i sb o a : M u l t i l a r , 1 9 9 0 ,p . 4 5 - 8 1 ; R O D R I G U E S , M a n u e l A u g u s t o — Problemática religiosa em Portugalno século XIX. no contexto europeu. A n á l i s e So c ia l . L i s b o a . 1 9 8 0 , 1 6 (6 1 -6 2 ) ,p . 4 0 7 -4 2 8 .

8 C f . E n c í c l i c a Ubi Arcano (d e 2 3 d e D ez em b r o d e 1 9 2 2 ) .' C f . P O U L A T, É m i l e — Église contre bourgeoisie. Introduction au devenir

du catholicisme actuei. To u r n a i : C a s t e r m a n , 1 9 7 7 , p . 1 0 9 - 1 3 4 .

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t ex to dos « loucos anos 20» , marcados pe lo f ina l da Grande Guerpe la desor ien tação dos sec to res d i r igen tes e in te lec tua i s , são e lem

tos que def inem um con tex to mais p rop íc io à fo rmulação de nop r opo s t a s soc i a i s , o que t am bém acon t eceu em P o r t uga l 1 0.O p ro jec to de r es tauração c r i s t ã da soc iedade encon t ra expres

s im ból ic a na f es ta do Cr i s to - Re i , ins t i tu ída em 1925 para s ign i fa ideia da «realeza socia l de Cr is to». O projecto de ins taurar e d i lo reinado de Cristo — a rea l iza r pela ac çã o de tod os os f ié is ca tó l ic ossob a o r i en tação da h ie ra rqu ia ec les ia l — va lo r i za o t e r r eno socomo pon to de par t ida para a r ec r i s t i an ização e t em como re fe rêa p o s t e r i o r m e n t e d e n o m i n a d a doutrina social da Igreja n .

A p roc lamação de Cr i s to -Rei e a a f i rmação da sua soberan iasegundo P io XI , cond ição para a sa lvaguarda e o es tabe lec imentopaz a n íve l mundia l . Pax Christi in Regno Christi fo i o lem a do seupont i f i cado . Cr i t i cando-se o «excesso de l a i c i smo» , o que es tá causa é a i nda a ques t ão de de f i n i ção da o r dem soc i a l au t on om amt e à o r dem d i v i na e , con sequ en t e m e n t e , a f u nd am en t aç ão d o pode rper spec t iva do ca to l i c i smo in tegra l , c r i t i ca - se a noção de separado Es tado e da Ig re ja , l imi ta - se a au tonomia das r ea l idades t empoe a f i r m a- se a necess i dade de um a «m e l ho r com pr e en são dos d i r e

da Ig re ja» na soc iedade po l í t i ca l 3 .Es ta per spec t iva encon t ra eco na obra de in te lec tua i s como

co l a s Be r d i ae f f 1 4 e J acqu es M ar i t a i n pen sado r e s com c r e sc en t e

1 0 C f . F R A N Ç A , J o s é - A u g u s t o — Sondagem nos anos 20 - cultura, socie-dade. cidade. A n á l i s e S o c i a l , 1 98 3 , 19 ( 7 7 - 7 9 ) , p . 8 2 3 - 8 4 4 ; M A R Q U E S , A . H . O l i v e i r a — Os anos vinte em Portugal. I n M A R Q U E S , A . H . d e O l i v e i r a — Ensaiosde história da 1 República portuguesa. L i s b o a : L i v r o s H o r i z o n t e , 1 9 8 8 , p . 6 3 - 8 7 .

C f . E n c í c l i c a Quas Primas d e 11 d e D ez em b r o d e 1 9 2 5 , n o f in a l d o An o

S a n t o d e c e l e b r a ç ã o d o X V Io C e n t e n á r i o d o C o n c í l i o d e N i c e i a , q u e l e v o u a R o m am i lh a r e s d e c r i s t ão s .

1 2 C f . F O N T E S , P a u l o — A Doutrina Social d a Igreja num a perspectiva his-tórica, c o m u n i c a ç ã o a p r e s e n t a d a n u m c o l ó q u i o o r g a n i z a d o p e l o C e n t r o d e E s t uS ó c i o - P a s t o r a i s d a U C P, e m 1 9 9 3 ( n o p r e l o ) .

1 3 C f . Quas Primas. § 15 , 16 , 17 , 22 , 32 . e 33 (E di çã o em Pet r op ó l i s : Ed . Voz e s , 1 9 5 7 . C o l . D o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s , n . ° 2 0 )

1 4 N i c o l a s B e r d i a e f f ( 1 8 7 4 - 1 9 4 8 ) f o i u m f i l ó s o f o r u s s o , q u e s e i m p ô s m u n d o i n t e i r o p e l o s e u p e n s a m e n t o d o s t o i e v s k i a n o , e n r a i z a d o n a t r a d i ç ã o o r t oe n a m ís t i ca o c id en ta l . Um a v as t a o b ra q u e t em co m o t em a cen t r a l a l i b e rd ad e

A d v e r s á r i o d o c z a r i s m o , a d e p t o d o s o c i a l i s m o , r e c u s o u o m a r x i s m o c oe x p l i c a ç ã o t o t a l , e m b o r a t e n h a i n i c i a l m e n t e a c e i t e a e x p e r i ê n c i a r e v o l u c i o n á r ii n t e r i o r d a q u a l p r o c u r o u t e s t e m u n h a r u m c r i s t i a n i s m o d a p e s s o a e d a l i b e r d

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i n f l uê n c i a no m o v i m en t o ca t ó l i co e na s nova s ge r açõe s . As suas ob r a sco n t r i bu í r am dec i s i vam en t e pa r a a a f i r m ação da i de i a de que a crise

da civilização moderna — ev i d enc i ada pe l a Gr a nde Gue r r a e quepa r ec i a a r r a s t a r a «des i n t eg r ação da c i v i l i z ação oc i den t a l » 1 6 — i m -p l i ca va a em erg ên c ia de um a «nov a bar bár ie» , a que se im pu nh a opo rum a « nova c r i s t andade» .

O idea l h i s tó r i co concre to de uma nova cristandade 1 7, p ropos to eteor izado por Jacques Mar i t a in , não s ign i f i cava o r e to rno a um mo-de l o do pas sa do , m as a a f i r m aç ão r enov ada da nece ss i dad e do p r i m a-do do esp i r i tua l sobre o t empora l . Es ta ide ia encon t ra - se j á expressaem 1927 na sua obra Primauté du spirituel18, na qua l pre cisa as con -

d ições de uma au tên t i ca restauração cristã. E m con t r apa r t i da à a f i r -

P r o f e s s o r d a U n i v e r s i d a d e d e M o s c o v o , e m 1 9 2 2 a c a b a p o r s e r e x p u l s o , c o n s i d e -r a d o « a d v e r s á r i o i d e o l ó g i c o d o c o m u n i s m o » . É j á e m B e r l i m q u e , e m 1 9 2 4 , p u b l i c aa o b r a q u e l h e t ra z g r a n d e a u d i ê n c i a : Uma Nova Idade Média.

1 5 J a c q u e s M a r i t a i n ( 1 8 8 2 - 1 9 7 3 ) , f i l h o d o l a i c i s m o r e p u b l i c a n o d a « b e l l e é p o -q u e » , c o n v e r t e - s e a o c a t o l i c i s m o e m 1 9 0 6 , c o n j u n t a m e n t e c o m s u a f u t u r a m u l h e r( R a ï s s a ) , p o r i n f l u ê n c i a d e L é o n B i o y e d o P e . H u m b e r t C l e r i s s a c . F i l ó s o f o f r a n c ê s ,e x e r c e u a m a i o r p a r t e d o s e u m a g i s t é r i o c o m o p r o f e s s o r u n i v e r s i t á r i o n o s E s t a d o sU n i d o s . E m b o r a c o n h e c e d o r d e B e rg s o n , B l o n d e l e d o P e . L a b e r t h o n i è r e , f i x a - s e n af i l o s o f i a t o m i s t a , f a c t o q u e o t o r n o u s u s p e i t o a m u i t o s d o s s e u s c o n t e m p o r â n e o s n o -m e a d a m e n t e p e l o s e u antimodernismo — t í tu lo d e u m a o b ra d e 1 9 2 2 .

P e n s a d o r d e g r a n d e i n f l u ê n c i a n o c a t o l i c i s m o c o n t e m p o r â n e o , n o m e a d a -m e n t e a t r a v é s d a s u a o b r a Hum anisme intégral. Problèmes temporels et spirituelsd une nouvelle chrétienté, cu ja p r i m e i r a ed içã o é d e 1 9 3 6 , em b o ra o t ex to se j a or e s u l t a d o d e s e i s c o n f e r ê n c i a s p r o f e r i d a s n a U n i v e r s i d a d e d e Ve r ã o d e S a n t a n d e r e m1 9 3 4 . O f ac to d o Pap a Pa u lo VI o t e r e sc o lh id o p a r a , n a se ssã o so len e d e en ce r r a -m e n t o d o C o n c í l i o , l h e e n t r e g a r p e s s o a l m e n t e a m e n s a g e m d i r i g i d a a o s h o m e n s d acu l tu r a , i l u s t r a b em o lu g a r q u e o cu p o u en t r e a intelligentsia c a t ó l i c a .

S o b r e a s u a i n f l u ê n c i a e m P o r t u g a l , V. G O M E S , J . P i n h a r a n d a — Jacques

Maritain e o pensamento político português. S e p a r a t a d e D e m o c r a c i a e L i b e r d a d e .Lisboa . 1982 , 25 , 20 p .1 6 É e s t a a p e r c e p ç ã o d a g e r a ç ã o i n t e l e c t u a l m a r c a d a p e l a G r a n d e G u e r r a e q u e

Pau l Va lé ry a ss im ex p r im ia em 1 9 2 0 ( in La crise de l Esprit)-. « N o u s a u t r e s c i v i l i -s a t i o n s n o u s s a v o n s m a i n t e n a n t q u e n o u s s o m m e s m o r t e l l e s » . E s t e g r i t o e n c o n t r a m o -- l o d e s e n v o l v i d o e m v á r i a s l i n h a s d e r e f l e x ã o : n a p r o c u r a d o « N e w H u m a n i s m » e mq u e T. S . E l l i o t ( 1 8 8 8 - 1 9 6 5 ) o u We r n e r J a e g e r ( 1 8 8 8 - 1 9 6 1 ) s e i n s c r e v e m ; n o t o ma r r e b a t a d o e p r o f é t i c o d e O s w a l d S p e n g l e r ( 1 8 8 0 - 1 9 3 6 ) ; o u a i n d a n u m a p e r s p e c t i v ah i s t ó r i c a s o c i o l o g i z a n t e c o m o a d e A r n o l d J . To y n b e e ( 1 8 8 9 - 1 9 7 5 ) e m A Study ofHistory.

1 7 P a r a u m a a v a l i a ç ã o c r í t i c a d e s t e p r o j e c t o , c f . S C O P P O L A , P i e t r o — La«Nuova Cristianità» perduta. R o m a : E d i z i o n i S t u d i u m , 1 9 8 5 .

1 8 C f . M A R I TA I N , J a c q u e s — Primauté du spirituel. Pa r i s : P io n , 1 9 2 7 .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

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m ação m aur a s s i ana do politique d abord, a sua cr í t ic a da ins t ru -m en t a l i z ação p o l í t i c a da r e l i g i ão — nom eadam en t e du r an t e a G

ra Civ i l de Espanha — e a r eapropr iação do p r inc ip io da religiond abord, pe r m i t em e s t ab e l ece r a f i l i a ç ão com o m ov i m en t o ca t ó ldo sécu lo XIX l 9.

M as , pa ra le lam en te à ex per iên c ia da gue r ra , um ou t ro f ac to ves t imula r e f avorecer a l e i tu ra da r ea l idade soc ia l f e i t a pe la Igca tó l i c a . Tra ta - se da c r i se ec on óm ica , in ic iad a com o c rash da Bde Nova York em 1929 que se r epercu te por ondas sucess ivas na nom i a m un d i a l e, pa r t i cu l a r m en t e , na eu r ope i a .

Ass i m , é no con t ex t o da Gr ande Dep r e s são ( 1929 - 1933 ) que ac í c l i c a Quadragésimo Anno, de 15 de M aio de 1931 , de ve ser ana l i sa -da . Co m em or a nd o o 40° an i ve r sá r i o da Rerum Novarum, Pio XI ap on -tava os fundamentos e va lo res mora i s com que se dever ia cons t ru«nova o r dem soc i a l » , a s sen t e num a concepção o rgân i ca e co r po r ada soc iedade . E — segundo a enc íc l i ca — se « ( . . . ) e s t a r es taurasoc ia l , t ão a rden temente dese jada , não se pode ob te r sem prév ia rvação do esp í r i to c r i s t ão» , «o mesmo in ten to se consegu i rá t an to seg u r am en t e quan t o m a i o r f o r a con t r i bu i ção das com pe t ê nc i a s t écas , p ro f i s s io na i s e soc ia i s , e ma i s a inda da dou t r ina e p rá t i c a dos p

c íp ios ca tó l i cos por par t e , não da Acção Ca tó l i ca (que não p re tedese nvo l ve r ac t i v i d ade p r op r i am en t e s i nd i ca l ou po l í t ic a ) , m as d al e s ( . .. ) a quem a Ac ção Ca t ó l i ca adm i r av e l m en t e f o r m a naq ue l e s pc íp ios e para o apos to lado sob a o r i en tação e magis té r io da Ig re ja 2 0.

E m sum a , doutrina social ( da r e sp ons ab i l i d ade do m a g i s t é r i o daI g r e j a ) , ciência social católica 2 1 e acção católica — este s os t rês d is-pos i t ivo s que f ac i l i t a m e en qu ad ra m a d in âm ica soc ia l da Ig re jal o ngo do sécu l o XX. O t r aba l ho desenvo l v i do pe l a nova o rgan i za

1 9 M a r i t a i n é d o s p r i m e i r o s a d e m a r c a r - s e d a s p e r s p e c t i v a s m a u r a s s i a n a s a c e i t a r a c o n d e n a ç ã o d a Action Française, f e i t a p o r P io XI , em D ez em b r o d e 1 9 2 6 .É , a l i á s , n o q u ad ro d o m o d e rn i sm o p o l í t i co q u e o seu p e r cu r so e a su a o b ra ds e r a v a l i a d o s . ( C f . T R A N V O U E Z , Yv o n — Catholiques d abord. Approches du mou-vement catholique en France (XIXe- XXe siècle). Pa r i s : Les Ed . O u v r i è r e s , 1 9 8 8 ) .

2 0 C f . Quadragésimo Anno § 1 2 6 e 9 7 . As c i t aç õ e s fo r am f e i t a s a p a r t i r d at r a d u ç ã o p o r t u g u e s a d o t e x t o c o m p i l a d o in CAMINH OS da Justiça e da Paz. Dou-trina social da Igreja. Docum entos de 1891 a 1987. C o o r d . d e P e t e r S t i l w e l l . 2e d i ç ã o . L i s b o a : R e i d o s L i v r o s , 1 9 8 9 . P a r a u m a a n á l i s e m a i s a p r o f u n d a d aD o u t r i n a S o c i a l da I g r e j a e d a s u a e v o l u ç ã o , V. C A M A C H O , I l d e f o n s o — DoctrinaSocial de la Iglesia: una aproximación histórica. M a d r i d : E d . P a u l i n a s , 1 9 9 1 .

2 1 Ibidem, § 20 .

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de apo s t o l ad o to r nou - se a s s im num dos i n s t r um en t o s p r i v i l eg i ad aspe la Ig re ja na sua es t r a tég ia de « reconqui s ta c r i s t ã da soc iedade» 2 2.

Es ta a missão que t ambém em Por tuga l se a t r ibu iu à o rgan izaçãor ecé m - con s t i t u í da . E m a f i r m açõ es que f az ao c l e r o em 1933 , o C a r dea lPa t r i a rca de L i sboa , de f in ia o ob jec t ivo dessa «nova c ruzada de r e -conqui s ta c r i s t ã de Por tuga l» 2 3:

« ( . . . ) T r a t a - s e d e l e v a n t a r e m t o d a a p a r t e o e x é r c i t o d e D e u s .U n i r , o r g a n i z a r e m o b i l i z a r t o d o s o s q u e a c r e d i t a m q u e D e u sf a l o u p o r C r i s t o e C r i s t o f a l a p e l a I g r e j a a o s h o m e n s — a f i m d ee s t e n d e r n o m u n d o o r e i n a d o s o c i a l d e N o s s o S e n h o r .E s t a u n i ã o m i l i t a n t e f o r m a - s e e m v o l t a d o s b á c u l o s p a s t o r a i s d o sc h e f e s e s c o l h i d o s p o r C r i s t o : o s b i s p o s . N ã o h á o u t r o s n a I g r e j ac r i s t ã c o m p l e n o p o d e r d e d i r i g i r e g o v e r n a r . U n i ã o t ã o a m p l a c o -m o a I g r e j a : a b r a ç a o u n i v e r s o i n t e i r o . T o d o s o s i n t e r e s s e s d eD e u s c a b e m n e l a .

U n i ã o s o b u m c o m a n d o n a c i o n a l s u p r e m o . P e l a c o o p e r a ç ã o d et o d o s m u l t i p l i c a - s e o t r a b a l h o d e c a d a u m .E x é r c i t o a p o s t ó l i c o p a r a q u ê ? P a r a t o m a r a ofensiva d a r e c o n q u i s -t a c r i s t ã . » 2 4

S u b j ac en t e a e s t e p r o j ec t o pa s t o r a l , enc on t r a - se um a con cep çãot eo l óg i ca que cons i d e r a a acçã o o rgan i z ada dos l e i gos co m o um aexte nsã o , o «b raç o es te nd ido » da h ie ra rq u ia , pa ra chegar a zon as o ndeo c le r o e ra inca paz por s i p ró pr io de che gar. D a í a de f in içã o de A cç ãoCató l i ca dada por P io XI : «par t i c ipação dos l e igos no apos to lado h ie -rá rq u ic o da Ig r e ja » , sob a d i r e cç ão dos b i spo s , de qu em rece be «m an -da t o» . E m s ín t e se : a A cçã o Ca t ó l i ca , enqua n t o o rga n i za ção de apos t o -l ado r ecebe um mandato da Hi e ra rqu ia , e l a p róp r ia m an da tad a porCr i s t o pa r a evange l i za r 2 5.

2 2 C f . P I R O T T E — Reconquérir la société. L attrait du modèle de chrétientémédiévale dans la pensée catholique (fin du 19 - début du 20 siècle). I n RO S A RT ,Fran ço i se e t ZELIS , Gu y (So u s l a d i r ec t io n d e ) — Le monde catholique et la questionsociale (1891-1950). B r u x e l l e s : E d . O u v r i è r e s , 1 9 9 2 .

2 1 C f . I n t r o d u ç ã o p e l o C a r d e a l C e r e j e i r a a o Boletim da Acção Católica Por-tuguesa. L i sb oa , 1933 , 1 .

2 4 C f . C E R E J E I R A , M a n u e l G o n ç a l v e s ( C a r d e a l - P a t r i a r c a d e L i s b o a ) — ObrasPastorais. L i s b o a : U n iã o G rá f i ca , 1 9 3 6 , v o l . 1 , p . 1 0 2 - 1 0 3 .

2 5 E s t a s e x p r e s s õ e s e n c o n t r a m - s e e m m ú l t i p l o s d o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s d e P i oX I , n o m e a d a m e n t e n a q u e l e s q u e s ã o c o n s i d e r a d o s o s t r ê s p r i n c i p a i s t e x t o s s o b r e aA c ç ã o C a t ó l i c a : Quae Nobis ( C a r t a a o C a r d e a l A d o l f o B e l t r a m , 1 9 2 8 ) ; Laetus sarre

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Só a t r avés de um longo p rocesso , que cu lminou com o Conc í lVat i cano I I , a ide ia do apos to lado l a i ca l amadurecer ia no in te r io r

Igre ja ca tó l ica . Mas, ta l só fo i possível no quadro de uma nova ecs i o l og i a que , tend o aba ndo nad o a co nce pçã o da I g r e j a co m o societasperfecta, se de sen vo lve u a par t i r da dou t r ina pau l ina do corpo místicode Cristo. Es ta dou t r ina a f i rm ou -se p re c i s am en te a par t i r dos ano20/3 0 , pese em bo ra a pe rm an ên c ia de ce r t a ide ia «h ie ra rc o lóg ica»I g r e j a , en t end i da com o «soc i edade des i gua l » 2 6. Ent re a obra de dou-t r inação dos anos 30 e a r e f l exão t eo lóg ica do Pe . Yves Congar década de c i nquen t a 2 7, a Acção Ca tó l i ca v iveu um percur so não i sen-t o d e am b i gu i dades e t en sões , con t r i bu i ndo pa r a um a evo l ução c

cep t ua l e p r o t agon i zando s i gn i f i c a t i va s m udanças a n í ve l do aposlado la ica l .Reg i s t e - se a evo l ução na de f i n i ção da Acção Ca t ó l i ca oco r r i

duran te os pon t i f i cados de P io XI I a Pau lo VI , no sen t ido dr econhec i m en t o da e spec i f i c i dade do apos t o l ado l a i ca l e do l ugprópr io da Acção Ca tó l i ca no con jun to des te apos to lado : de ixa- sefa la r de «par t i c ipação no apos to lado h ie rá rqu ico» para se f a la r «co l abo r ação com o apos t o l ado h i e r á r qu i co» , o que é um m odo d i r ec to de r econhecer a espec i f i c idade do apos to lado l a i ca l ; e quaa ide ia de um apos to lado dos l e igos se a f i rma com n i t idez e de ma l a rgado , ab r a nge ndo um a m u l t i p l i c i dade de f o r m as o rga n i za t i vr e se r va - se à Acção Ca t ó l i ca um l uga r pa r t i cu l a r, de f i n i ndo - a comforma «of ic ia l» do apos to lado dos l e igos . Es ta evo lução fo i aco

nuntius (Ca r t a ao Ca rd e a l Se g u ra , 1 9 2 9 ) e Quam uvis Nosira ( C a r t a a o C a r d e a l L e m e ,1935) .

2 6 Ta l e r a a co n ce p ç ão d e P io X , q u e co n s id e r a q u e a « Ig r e j a é p o r e s s ên c ia us o c i e d a d e desigual, i s t o é , u m a s o c i e d a d e q u e a b r a n g e d u a s c a t e g o r i a s d e p e s s o a s

o s p as to r e s e o r eb an h o , o s q u e o cu p am u m a p o s i ção n o s d i f e r en te s g r au s h i e r a r q u i a e a m u l t i d ã o d o s f i é i s . » ( C f . E n c í c l i c a Vehem enter Nos, d e 11 d e Fe v e r e i rod e 1 9 0 6 . P e t r o p ó l i s : E d . Vo z e s , 1 9 5 7 . D o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s n ° 2 3 ) .

P a r a u m m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o d e s t a q u e s t ã o : A N T O N , A n g e l —E l mis-tério de la Iglesia. Evolución histórica de las ideas eclesiologicas. M a d r i d / To l e d o :L a E d . C a t o l i c a / E s t . Te o l . S t o . I l d e f o n s o , 1 9 8 7 , 2 v o l u m e s ; e P E R E I R A , T e rM a r t i n h o — A identidade laical à luz do Concílio. L i sb o a : Ed . Re i d o s L iv ro s , 1 9 9 0 .U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a P o r t u g u e s a . C o l e c ç ã o N o v a S p e s .

A t ít u l o d e e x e m p l o d a p r o d u ç ã o i n t e l e c t u a l d a é p o c a , v. T R O M P, S e b atian, S. J . — O Corpo Místico de Cristo e a Acção Católica. Pe t r o p ó l i s : Vo zes , 1 9 4 6 .

2 7 V. g . G L O R I E U X , P a u l — Pour la formation réligieuse de nos militantes.Au centre de notre enseignemen t. Corps mystique et apostolat. Pa r i s : Les Ed . O u -v r i è r e s , 1 9 3 4 .

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panhada e consag r ada pe l o s Cong r e s sos Mund i a i s pa r a o Apos t o l ad odos Leigos, rea l izados em 1951, 1957 e 1967.

Di to de ou t ro modo , a exper iênc ia da Acção Ca tó l i ca ao con t r i -bu i r pa ra o r econhec imento do p leno va lo r do apos to lado dos l e igos ,con t r i bu i u s i m u l t an ea m en t e pa ra a d i v e r s i f i c a ção das f o r m as dein ic ia t iv a l a i ca l no âm bi to da Ig re ja ca tó l i ca . D a í a d i f i cu lda de e v i -den c i ada no co n t ex t o pós - c onc i l i a r : com o co n j u ga r a i de i a do «m an-da t o» h i e r á r qu i co com a nov a ec l e s i o l og i a p r op os t a pe l o Va t i ca no I I ?A tensão não fo i apenas t eór i ca e ocupou a r e f l exão de ass i s t en tes ,d i r ig en te s e b i sp os em P or tug a l e no m un do . A t í tu lo de ex em plo , c i t e -se a r e f l exão p roduz ida em 1965 , no quadro de um exame sé r io eprofundo sobre a sua s i tuação da ACP :

« E q u a n d o , p a s s a d o a n o e m e i o , a C o n s t i t u i ç ã o C o n c i l i a r LúmenGentium a p r e s e n t a c o m o u m a d a s f o r m a s d e a p o s t o l a d o d o s l e i -g o s , a c o l a b o r a ç ã o d e s t e s c o m o a p o s t o l a d o d a h i e r a r q u i a , n ã o ét e m e r á r i o ou l e v i a n d a d e e n t e n d e r q u e a í s e s i t u a a A c ç ã o C a t ó -l i c a , q u e n o d i z e r d e P a u l o V I « p e r m a n e c e c o m o c o n c e i t o , c o m op r o g r a m a , c o m o d e v e r , c o m o v o c a ç ã o o f e r e c i d a a o s l e i g o s , p a r ap a s s a r e m d o c o n c e i t o i n e r t e e p a s s i v o d a v i d a c r i s t ã p a r a oc o n s c i e n t e e a c t i v o ( . . . ) » .

Permanece como conceito: a q u e l e c o n c e i t o , e x p r e s s o p o r P i o X I ,d u m a f o r m a c o n d e n s a d a (participação) e e x p l i c i t a d o p o r P i o X I I(colaboração), c o n t i n u a a s e r o m e s m o c o n c e i t o a f i r m a d o p o rP a u l o V I ( . . . )A A c ç ã o C a t ó l i c a p e r m a n e c e c o m o c o n c e i t o , m a s t a m b é m c o m oprograma, i s t o é : c o m o a l g o q u e e x i s t e n ã o s ó p a r a s e r p e n s a d o ea c a d e m i c a m e n t e a p r o f u n d a d o , m a s p a r a s e r f e i t o , p a r a r e a l i z a r -- s e , p a r a m u l t i p l i c a r - s e e m a c t o s , q u e p r o s s i g a m o b j e c t i v o s d e -f i n i d o s . ( . . . )

P e r m a n e c e c o m o c o n c e i t o , c o m o p r o g r a m a , e p e r m a n e c e t a m b é mcomo dever... d e v e r p a r a q u e m t e m a r e s p o n s a b i l i d a d e d e p r o m o v e ra e d u c a ç ã o d o s l e i g o s p a r a a a c t i v i d a d e a p o s t ó l i c a d a I g r e j a . ( . . .)M a s a A c ç ã o C a t ó l i c a p e r m a n e c e a i n d a como vocação oferecidaaos leigos, « v i a m e s t r a » , n o d i z e r d e P a u l o V I , p a r a p r o f e s s a r aa d e s ã o à I g r e j a , p a r a a u m e n t a r e m si m e s m o s a p l e n i t u d e d o s e us i g n i f i c a d o , o sensus ecclesiae (...). 28

2 8 C f . C O N G A R , P e . Yv e s — Jalons pour une théologie du laicat. Pa r i s ,1 9 5 2 . Tr a t a - s e e f e c t i v a m e n t e d a p r i m e i r a r e f l e x ã o s i g n i f i c a t i v a s o b r e a t e o l o g i a d ol a i c a d o .

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Esta long a c i t aç ão r eve la ex ac tam en te o sen t ido e a ne cess idasen t ida em se r edef in i r a na tu reza e o âmbi to da Acção Ca tó l i canovo quad r o ec l e s i a l da época , m ar cado pe l a p l u r a l i dade d e canhos apos tó l i cos o fe rec idos ao con jun to dos ca tó l i cos .

A par des ta l inha de r e f l ex ão , e a ind a no do m ín io t eo lóg ic o , ouq u e s t ã o d e v e s e r c o n s i d e r a d a : o a p r o f u n d a m e n t o da d e n o m i n a d a «log ia da acção» . Sempre que se fo rmulava a ide ia de acção católicaex i s t i a a p re oc up aç ão de não l imi ta r a de f in içã o do ap os t o la doqua l que r f o r m a de acção temporal29, m esm o se de f i n i da com o acçãosocial cristã 3 0. Toda a acção en r a í za num pensamento, exp r i m e um aespiritualidade 3 I, numa re fe rênc ia cen t ra l à pessoa de Cr i s to . Pos-t e r io rmente , j á na década de c inquen ta , a r e f l exão sobre o va lo r acção encon t r ou nov o f ô l ego , num con t ex t o sóc i o - ec l e s i a l d i s t i n t o 3 2.

Por ou t ro l ado , es t a acçã o v i sava um du p lo ob je c t ivo : «a conq uiin te r io r e ex te r io r» . Só o au to -domín io e a educação dos ind iv íduo conhec i m en t o dos seus sen t i m en t o s e pa i xões , a f o r m ação do ca r ác t e r, p e r m i t i r i am r ea l i za r a m o r a l i zaç ão de com por t am en t oa t i tudes segundo os p r inc íp ios c r i s t ãos , t an to no p lano pessoa l quano da v ida em soc iedade . Fo i pe la mobi l i zação , enquadramento e ção dos seus me m bro s qu e a A CP procu rou as seg ura r a sua p res ena soc i edade : f o r m ação de élites e in f lu ênc ia na massa são dois pó losind i ssoc iáve i s no seu t r aba lho de r ec r i s t i an ização da soc iedade .

2 . A p r e s e n ç a d a A c ç ã o C a t ó l i c a n a s o c i e d a d e p o r t u g u e s a

A 10 de N ov em br o de 1933, na car ta Ex Officiosis Litteris — en -de r eç ada ao Ca r dea l - P a t r i a r ca de L i sboa , D . M anue l Go nça l ves r e je i r a —, o papa P io XI cons idera que «en t re as múl t ip las fo rmas

apos to lado que es tão à mão de todos , e ce r t amente benemér i t as toe las da Ig re ja , a Acção Ca tó l i ca é a que mais e e f i cazmente ocor r

2 9 V. g . S O R A S , A l f r e d — Action catholique et action temporelle. Pa r i s :Sp es , 1 9 3 8 .

, 0 P a r a o c a s o p o r t u g u ê s , V. G O M E S , J . P i n h a r a n d a — Política e acção socialcristãs em Portugal (1830-1980). S e p a r a t a d e D e m o c r a c i a e L i b e r d a d e , n ° 3 7 - 3 8 .L i sb o a , 1 9 8 6 .

3 1 B a s t a l e m b r a r - n o s d a p o l é m i c a q u e a t e s e d e M . B l o n d e l (L Action) s u s c i -t o u e m 1 8 9 3 e t o d o o d e b a t e s e g u i n t e s o b r e a s d i v e r s a s f o r m a s d e m o d e r n i s m o

1 2 V. g . L E B R E T , L . - J . —A c t i o n . marche vers Dieu. Pa r i s : Les Ed . O u v r i è r e s ,1949 .

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r em ede i a a s n ova s nec ess i d ade s dos nos sos t em p os , tão a t i ng i d os pe l am or t í f e r a i n f l uênc i a do l a i c i sm o»

O d iagnós t i co que a Ig re ja en tão f az ia da r e lação do ca to l i c i smoc o m a s o c i e d a d e p o d e r e s u m i r - s e em d u a s p a l a v r a s - c h a v e : des-cristianização, de v id o nã o só à in f luê nc ia do l a i c i sm o, ma s t am bé m aoi nd i f e r en t i sm o r e l i g i o so de m u i t o s s ec t o r e s da soc i edade ; e desuniãoou d i v i são dos ca t ó l i co s , con s i de r ada r e sponsáve l pe l a p r og r e s s i v aperd a de pe r t in ên c ia do ca to l i c i s m o e pes o da Ig re ja na soc ied ad e . M a-r i ano P inho na sua obra de apresen tação e comentá r io ao t ex to de P ioXI , co ns i de rad o a «car t a ma gna da A cç ão Ca tó l i ca » , não pod ia se rmais c laro:

« M a s n ã o s ã o , n a m a i o r i a , o s p o r t u g u e s e s , f i l h o s l e g í t i m o s d aS a n t a I g r e j a ? N ã o h a j a i l u s õ e s : o s e c t o r d e s c r i s t i a n i z a d o é e n o r m ee p o d e r o s o ; a l é m d i s s o , d o s m u i t o s q u e n a s e s t a t í s t i c a s p o d e r i a mf i g u r a r c o m o c a t ó l i c o s , p o r q u e s ã o b a p t i z a d o s e n ã o r e n e g a r a mf o r m a l m e n t e a C r i s t o , s ã o i m e n s o s o s q u e p o u c o p e r c e b e m , em e n o s p r a t i c a m d o C a t o l i c i s m o q u e p r o f e s s a m . E f i n a l m e n t e , n ã oé o número que f az a fo r ça , mas a união, e i s so é co i sa que P o r tu -g a l n ão co n h ece : a união dos católicos tem s ido um a das m aisá r d u a s e m p r e s a s e m u m a p á t r i a , c o m g r a n d e g á u d i o e p r o v e i t o d o sa d v e r s á r i o s , q u e s e r e g a l a m d e a s s i s t i r à s n o s s a s d e s a v e n ç a s d ef a m í l i a » 3 4.

O ag r u p am en t o dos ca t ó l i co s l e i gos num a ún i ca o rgan i zaçãonac i ona l , de t i po p r edom i nan t em en t e r e l i g i o so , não só con f e r i a um am ai o r v i s i b i l i dade ao ca t o l i c i sm o e m a i o r f o r ça ao apo s t o l ad o dese n -vo lv ido pe la Ig re ja no se io da so c ie da de , co m o perm i t i a a fo rm aç ão deuma el i te , um «escol» — como se d iz na g í r ia da época — que asse-gura r i a a d i fusão e pene t ração dos «pr inc íp ios c r i s t ãos» no se io dos

d iver sos sec to res da v ida em soc iedade . Es ta concepção es tá bem pa-ten te nos d iver sos documentos e d i r ec t r i zes de P io XI sobre a AcçãoCa t ó l i ca 3 5 e na e s t r u t u r a adop t ada pe l a o rgan i zação po r t uguesa 3 6.

Cf . § 3 d o r e f e r id o l ex to , ed i t a d o in SOBRE A Acção Católica. P e t r o p ó l i s :E d . Vo z e s , 1 9 5 6 ( 2 ' e d . ) . D o c u m e n t o s p o n t i f í c i o s n ° 5 7 .

' 4 P I N H O , M a r i a n o — Carta M agna da Acção Católica Portuguesa. B r a g a :A p o s t o l a d o da O r a ç ã o , 1 9 3 9 , p . 1 2 5 .

A l i t e r a t u r a s o b r e o t e m a é a b u n d a n t e . P a r a u m a p e r s p e c t i v a h i s t ó r i c a g e r a l ,V. A U B E RT , R o g e r — Pastorale et Action catholique. In NOU VELLE Histoire del Eglise. T. V: L Eglise dans le monde moderne ( 1848 à nos jours). Pa r i s : Seu i l , 1 9 7 5 .p . 1 4 1 - 1 5 5 . A d o c u m e n t a ç ã o p o n t i f í c i a e n c o n t r a - s e r e c o l h i d a e c o m e n t a d a e m d i v e r -

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Tr a t a - se de um a f o r m a de o rgan i zação do apos t o l ado cu j o s o b jt ivos se concre t i zam a do i s n íve i s : a « fo rmação in tegra l» dos sass oc iad os no p la no ind iv idua l , que deve cond uz i r a um a ac ção inc idênc ia a n íve l soc ia l , t an to no campo fami l i a r, quan to na vpúb l i ca .

No en tan to , em função dos ob jec t ivos que lhe são comet idos eâm b i t o do ca t o l i c i sm o soc i a l , dom i nan t e de sde f i na i s do sécu l o psado a ins t i tu iç ão da A cçã o Ca tó l i c a ob r iga va a um a sub a l tn ização da ac t iv idade po l í t i ca . É a inda da mesma carta magna o se-gu in te t r echo :

« P o r i s s o , a n a t u r e z a d a A c ç ã o C a t ó l i c a , c o m o a d a I g r e j a , e x i gq u e s e c o n s e r v e a l h e i a à a c t i v i d a d e d o s p a r t i d o s p o l í t i c o s , u mv e z q u e e s t a i n s t i t u i ç ã o d e c a t ó l i c o s m i l i t a n t e s , d e q u e f a l a m ot e m e m v i s t a n ã o j á p a t r o c i n a r i n t e r e s s e s p a r t i c u l a r e s d e g r u p om a s p r o c u r a r o v e r d a d e i r o b e m d a s a l m a s , d i l a t a n d o c a d a v em a i s o r e i n o d e J e s u s C r i s t o n a v i d a p a r t i c u l a r d o s h o m e n s , nr e m a n s o d o m é s t i c o e n a v i d a p ú b l i c a d o s c i d a d ã o s . ( . . . ) I s t ot o d a v i a , n ã o p r o í b e q u e o s c a t ó l i c o s , i n d i v i d u a l m e n t e , p e r t e n ç a

s a s c o l e c t â n e a s , e n t r e a s q u a i s : A R C H A M B A U LT , J . - P . — L Action Catholiqued après les directives pontificales. M o n t r é a l : E c o l e S o c i a l e P o p u l a i r e , 1 9 3 8 ;C I V A R D I , L u i g i — Manual de Acção Católica, 2 v o l u m e s , t r a d u ç ã o d e A i r e s F e r -r e i r a. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 3 4 ; G A R R O N E , M g r. G a b r i e l — 4 Acção Católica.Sua história, sua doutrina, seu panorama , seu destino. S . Pau lo : L iv. Ed . F la m -b o y a n t , 1 9 6 0 ; L E L O T T E S .J . , F e r n a n d o — Para realizar a Acção Católica. Prin-cípios e métodos. L i s b o a : S .E .T. , 1 9 4 9 ( a 1* ed içã o em l ín g u a f r a n c es a é d e 1 9 3 7L I M A , A l c e u A m o r o s o ( c o m o p s e u d ó n i m o d e Tr i s t ã o d e A t h a y d e ) — Pela AcçãoCatólica. R io d e Jan e i ro : Ed . d a Bib . A n c h ie t a , 1 9 3 5 ; e R IC H A R D , M g r. Pau l Notions somm aires sur l Action Catholique. Pa r is : Ed . Sp es , 1937 (2* ed . ) .

1 6 P a r a P o r t u g a l , a p a r d e M a r i a n o P i n h o (op. cit.), c f . F E L I X , M a r i a J o s é —

A Acção Católica. Nascimento e primeiros passos. Vi l a N o v a d e F a m a l i c ã o : G r a n -d e s A t e l i e r s G r á f i c o s M i n e r v a , 1 9 3 7 .

3 7 A t e n t e - s e n a d e f i n i ç ã o d e « c a t o l i c i s m o s o c i a l » , p r o p o s t a p o r u m d o s se x p o e n t e s i n t e l e c t u a i s e m P o r t u g a l , o P r o f e s s o r S e d a s N u n e s : « A e v o l u ç ã o d a sc i e d a d e s m o d e r n a s te m s i d o a c o m p a n h a d a p e l o a p a r e c i m e n t o d e p r o b l e m a s s om u i t o g r a v e s . A r e s o l u ç ã o d e t a i s p r o b l e m a s e x i g i u , e e x i g e a i n d a , o p ç õ e s d on á r i a s e p o l í t i c a s o n d e c o m f r e q u ê n c i a s ã o p o s t o s e m c a u s a o s f u n d a m e n t a i s v a lh u m a n o s . C o m p r e e n d e - s e , a s s i m , q u e p e n s a d o r e s c a t ó l i c o s , a t e n t o s e e m p e n hn a p r o b l e m á t i c a d o s e u t e m p o , h a j a m t e n t a d o e n f r e n t á - l o s , s i t u a n d o - o s e v a l o r a- o s d e n t r o d e u m a p e r s p e c t i v a c r i s t ã e p r o c u r a n d o o r i e n t a ç õ e s c o e r e n t e s c o m ep e r s p e c t i v a s . D e s t e m o v i m e n t o in t e l e c t u a l s u rg i u a c o r r e n t e d e i d e i a s , d e c o n t om a l d e f i n i d o s e v á r i a s r a m i f i c a ç õ e s , d e s i g n a d a v u l g a r m e n t e p o r Catolicismo Social.(In Princípios de Doutrina Social. L i sb o a : Lo g o s , 1 9 5 8 , p . 15 ) .

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a a g r e m i a ç õ e s p o l í t i c a s , c o n t a n t o q u e e l a s o f e r e ç a m g a r a n t i a s d eem nada a t en t a r con t r a o s d i r e i t o s de Deus e da Ig re j a» 3 8.

Esta p ropos ta de a r t i c u laç ão dos ca tó l i cos com a po l í t i ca , inse re -- se numa es t r a tég ia pas to ra l mai s ampla , de f in ida pe la Ig re ja desde opon t i f i cado de Leão XI I I . Ta l es t r a tég ia v i sava secundar iza r tudoaqu i lo que e ra campo de d iv i são dos ca tó l i cos , inc lu indo a v ida po-l í ti c a , e s i m u l t an eam en t e p r ocu r av a sa l vagu a r da r a s con d i çõe s quega r an t i s sem a p r e sen ça au t ón om a da I g r e j a no m u ndo m ode r no . Aau t onom i a de pensam en t o e acção que a I g r e j a p r ocu r ava se r i a ga r an -t ida pe la u t i l i zação con jugada de d iver sos meios que , pa ra os p r i -m e i r o s t r ê s qua r t o s do sécu l o XX po r t uguês , podem se r e sque -m a t i c a m e n t e e n u n c i a d o s d o s e g u i n t e m o d o 3 9:

a ) l ibe rdade de cu l to e o rgan ização in te rna da Ig re ja , nomeada-m en t e pe l a f o r m ação , e l e i ção e enquad r am en t o dos seus p r i n -c ipa i s agen tes pas to ra i s ;

b ) ca tequese e ens ino da r e l ig ião e mora l ca tó l i cas nas esco las el i be r dade de ens i no t eo l óg i co ;

c ) c r i ação e u t i l i zação de meios de comunicação soc ia l p rópr ios ;

d ) e , por ú l t imo , desenvo lv imento e a r t i cu lação de d iver sas fo r-m as d e a s soc i a t i v i sm o ca t ó l i co no cam po sóc i o - r e l i g i o so .

Tendo com o r e f e r ênc i a e s t e quad r o g l oba l , a de t e r m i nação nacr iação da Acção Ca tó l i ca Por tuguesa não pode , no en tan to , se r des-l igada do con tex to po l í t i co - re l ig ioso em que se insc reve . O Es tadoNovo , em cu j a i n s t i t u c i ona l i zação e t eo r i zação se em penha r am pa r t edas é l i t e s ca tó l i cas 4 0, v e i o consag r a r um novo r e l ac i onam en t o doE s t ado com a I g r e j a 4 1 e pe r m i t i r o r ec on he c im en to de um es ta tu to

3 8 Ex Officiosis Litteris, § 9 e 10.3 9 R e s u m i m o s a q u i a l g u n s d o s e l e m e n t o s d e r e f l e x ã o q u e t i v e m o s o p o r t u n i -

d a d e d e a p r e s e n t a r n u m a e x p o s i ç ã o p ú b l i c a , s u b o r d i n a d a a o t e m a « M o d e l o s d e o rg a -n i z a ç ã o e f o r m a s d e p r e s e n ç a d a I g r e j a n a s o c i e d a d e n o s é c u l o X X » ( U n i v e r s i d a d eC a t ó l i c a P o r t u g u e s a , 3 d e J u l h o d e 19 9 3 . R e s u m o d i s p o n í v e l n o C E H R ) .

4 0 C f . C R U Z , M a n u e l B r a g a d a — As élites católicas nos primórdios do sala-

zarismo. A n á l i s e S o c i a l . L i s b o a , 1 9 9 2 , 2 7 ( 2 - 3 ) , p . 5 4 7 - 5 7 4 .4 1 F a l a m o s e x p r e s s a m e n t e d e consagração, n a m e d i d a e m q u e a s m u d a n ç a s d er e l a ç ã o e n t r e o E s t a d o e a I g r e j a f o r a m s e n d o p r o g r e s s i v a m e n t e d e f i n i d a s . E m r e l a -

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ju r íd ic o p rópr io , que a Co nc ord a ta de 1940 t r aduz iu num a cor dd i r e i t o i n t e r nac i ona l 4 2, assente na valor ização do peso socia l doca t o l i c i sm o . E s t a evo l ução e r a conve rgen t e com os e s f o r ços Ig re ja no sen t ido de o r i en ta r a sua acção p redominan temente os domín ios soc ia l e r e l ig ioso , em de t r imento da es fe ra de acpo l í t i ca 4 3. Expressão d i sso mesmo fo i a desac t ivação do Cen tCatól ico , a par t i r de 1934 4 4.

Ne s te cap í tu lo , a r egra da AC P é ex pre ssa nas suas Bases Orgâni-cas de fo rma l ap idar : «A Acção Ca tó l i ca Por tuguesa ac tuará fo rac ima de todas as cor ren tes po l í t i cas , sem de ixar de r e iv ind icade f ende r a s l i be r dades da I g r e j a» 4 S. Es ta f r ase se r i a ex au s t iv am en te

çã o ao s p r im e i ro s an o s d a Re p ú b l i ca , e s sa m u d an ça é v i s ív e l p e lo m e n o s a p a r1 9 1 8 ( C f . F E R R E I R A , A . M a t o s — Aspectos da acção da Igreja no contexto da Ia

República. In HISTÓ RIA Contemp orânea de Portugal - Primeira República, to m o I ,c o o r d . p o r J o ã o M e d i n a . L i s b o a : A m i g o s d o L i v r o . 1 9 8 5 , p . 2 0 7 - 2 1 8 ) e s o f r er a ç õ e s i n s t i t u c i o n a i s s i g n i f i c a t i v a s d u r a n t e a D i t a d u r a M i l i t a r , n o m e a d a m e n t ea d e f i n i ç ã o d o A c o r d o M i s s i o n á r i o d e 1 9 2 8 e a a u t o r i z a ç ã o d o r e g r e s s o d a s or e l ig io sa s ex p u l sa s , em 1 9 2 9 .

4 2 D e e n t r e a s v á r i a s e d i ç õ e s d i s p o n í v e i s : CONCO RDATA e Acordo Missio-nário de 7 de Maio de 1940. L i s b o a : E d . d a I m p r e n s a N a c i o n a l , 1 9 4 3 . D a b i b l i o g r a fs o b r e e s t e t e m a , q u e é v a s t a , r e f i r a - s e o s e s t u d o s p o r t u g u e s e s m a i s r e c e n t e ACONCO RDATA de 1940. Portugal-Santa Sé. L i s b o a : E d . D i d a s k a l i a , 1 9 9 3 ; C R U Z ,M. Brag a d a — A Concordata com a Santa Sé e A Concordata com a Santa Sé quenta anos depois. C o m m u n i o . R e v i s t a I n t e r n a c i o n a l C a t ó l i c a . L i s b o a : 1 99 1 ,(3 e 4 ), p . 2 7 2 -2 8 0 ; p . 3 7 2 -3 7 9 .

4 3 C f . F E R R E I R A , A . M a t o s — Le Christianisme dans l Europe II: La Pénin-sule ibérique entre 1914 et 1958. In HISTO IRE du Christianisme. Vo l . 12 : Guerresmondiales et totalitarisme (1914-1958), c o o r d . d e J . - M . M a y e u r. P a r i s : D e s c l é e ;F a y a r d , 1 9 9 0 , p . 4 0 2 - 4 5 0 .

4 4

C f . C E R Q U E I R A , S i l a s — L Église catholique et la dictature corporatisteportugaise. Rev u e Fra n ça i se d e Sc ien ce Po l i t i q u e . 1 9 7 3 , 2 3 (3 ) , p . 4 7 3 -5 1 3 . Pae s t u d o m a i s a m p l o d a r e l a ç ã o d o s c a t ó l i c o s c o m a p o l í t i c a , n e s t e p e r í o d o , V. CM. Braga da — Ms origens da Dem ocracia Cristã e o Salazarismo. L i s b o a : E d .P r e s e n ç a / G I S , 1 9 8 0 .

4 5 Ba se IV . 1 c i t ad a in GU IA da Acção Católica Portuguesa. V o l . 1 : Bases,Estatuto e Regulam ento Geral. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 5 4 . O D i r e c t o r N a c i o n ad a A C P, d e s e n v o l v e r á r e p e t i d a m e n t e e s t a c o n c e p ç ã o n a s u a o b r a d e p r e g a çd o u t r i n a ç ã o , d e q u e s e d e s t a c a : C E R E J E I R A , M a n u e l G o n ç a l v e s , b i s p o — A Ac-ção Católica - Presença da Igreja (seu significado e razão de ser). In Obras Pas-torais. v o l . I V. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 5 4 , p . 2 8 5 - 2 9 2 ; natureza da AcçãoCatólica. In Obras Pastorais, v o l . I V. L i s b o a : U n i ã o G r á f i c a , 1 9 6 0 , p . 2 8 9 - 2 9 6Acção Católica e Acção Cristã. In Ibidem, p . 3 2 7 -3 4 2 .

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r epe t ida , r e tomada e g losada para se au to - l imi ta r o pape l da ACP oude qu a lqu er um dos seus ó rg ãos em in ic ia t ivas e de ba t es com inc id ên-c ia po l í t i ca . Al iás , o en tend imento do que se en tende por política e dar e l aç ão da I g r e j a com es t a , j u s t i f i c ou pos i c i o nam en t o s d i ve r so s po rpar te dos p r inc ipa i s p ro tagon i s t as e cons t i tu iu um dos e lementos ded i f e r en c i aç ão no i n t e r i o r do ca t o l i c i sm o po r t ug uês , a n í ve l do pensa -mento , ao longo das décadas de t r in ta a se ten ta 4 6.

Por ou t ro l ado , não de ixa de se r s ign i f i ca t ivo o f ac to da AcçãoCató l i ca não f igura r no t ex to da Concorda ta de 1940 , apesar de t e rs ido ob jec to de negoc iações e de se t e r chegado a f a la r na e laboraçãode um pro toco lo ad ic iona l espec í f i co , que nunca chegou a se r es t a -b e l e c i d o 4 7. Ao não se lhe r econhecer per sona l idade ju r íd ica p rópr ia ,a sua ex i s t ênc ia e ac tuação f i cou cond ic ionada às boas r e lações en t r eo E s t ad o e a I g r e j a4 8. Num Es tado por na tu reza au to r i t á r io 4 9, es te fac-to fo i , em s i mesmo, f ac to r de conf l i to — umas vezes l a t en te , ou t r asexpresso — e a rma de a r r emesso nas r e lações do poder po l í t i co paracom a Ig re ja ca tó l i ca .

4 6 S e v á r i o s ' c a s o s ' p e s s o a i s o i l u s t r a m , d e v e r - s e - i a , c o m p r o p r i e d a d e , f a l a r d ec o r r e n t e s d e p e n s a m e n t o n o i n t e r i o r d a I g r e j a e d o c a t o l i c i s m o e s u a e v o l u ç ã o ( V . od e b a t e g e r a d o e m t o r n o d a p u b l i c a ç ã o d e Um Século de Cultura Católica em Por-tugal. L i s b o a : E d . L a y k o s , 1 9 8 4 : Artes d e ser católico português. Um texto e cincoleituras. R e f l e x ã o C r i s t ã . 1 9 8 5 , 4 6 / 4 7 ) . N o e n t a n t o , e c o m o e s t a h i s t ó r i a s e e n c o n t r ap o r f a z e r , r e g i s t e m - s e a l g u n s t e s t e m u n h o s d i s p o n í v e i s r e l a t i v o s a a l g u n s a c o n -t e c i m e n t o s e p e r s o n a g e n s : A L P I A R Ç A , M a n u e l — Os organismos operários da AcçãoCatólica no início dos anos 60. I n R e f l e x ã o C r i s t ã . 1 9 8 7 , 5 3 , p . 6 5 - 7 2 ; B I D A R R A ,M a n u e l — O i católicos e o poder. A Ca p i t a l . 2 9 d e A g o s to d e 1 9 7 9 e s s . ; CO ST A ,J o ã o B é n a r d d a C o s t a - Meus tempos, meus modos. D i á r i o d e N o t í c i a s . 9 d e N o v e m -b r o d e 1 9 8 3 ; F R E I R E , J o s é G e r a l d e s — Resistência católica ao salazarismo-mar-

celismo. P o r t o : Te l o s . 1 9 7 6 ; L I M A , A . C a r l o s — Caso do bispo da Beira. Docu-mentos introdução e notas, s .l .: L i v. C i v i l i z a ç ã o E d ., 1 9 9 0 ; R O D R I G U E S , D o m i n -gos — Abel Varzim. Apóstolo português da justiça social. Pelo 25. ° aniversário doseu falecimento. L i s b o a : R e i d o s L i v r o s , 1 9 9 0 ; S O U S A , A n t ó n i o G o m e s d e — PadreJoaquim Alves Correia, um lutador de Liberdade. Po r to , 1978 , 15 p .

4 ? C f . S A N T O S , A . — op. cit.. p. 13.4 8 Ta l f a c t o é t a n t o m a i s r e l e v a n t e q u a n t o a a s s i n a t u r a d a C o n c o r d a t a d e 1 9 4 0

s e v e r i f i c a d e p o i s d a s g r a v e s t e n s õ e s v e r i f i c a d a s e m I t á l ia , n o m e a d a m e n t e c o m ac r i s e d e 1 9 3 1 . ( C f . P O L L A R D . J o h n — The Vatican and Italian fascism 1929-32.C a m b r i d g e : C a m b r i d g e U n i v e r s i t y P r e s s , 1 9 8 5 ) .

4 9 S e g u i m o s a t e r m i n o l o g i a h o j e c o n s a g r a d a p e l o s e s p e c i a l i s t a s d o a s s u n t o :Cf . CRUZ, M. Brag a d a — O Partido e o Estado no Salazarismo. L i s b o a : E d . P r e -sen ça , 1 9 8 8 .

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Em resumo: t ambém em Por tuga l e à semelhança do que acoceu nou t ros pa í ses 5 0, a pa r da Conc ord a ta e s tab e lec ida en t r e a San tSé e o Es tado , a ins t i tuc iona l i zação da Acção Ca tó l i ca c r iou umins t rumentos p r iv i l eg iados de acção da Ig re ja con t ra as t en tato ta l i t á r i as do Es tado moderno , ass im como a p r inc ipa l fo rma deb i l i za ção e o rg an i zaç ão dos ca tó l i cos para o p r o je c to de r e s tau rc r i s t ã da soc iedade por tuguesa .

Nã o cabe aqu i f azer o h i s to r i a l des te percu r so , ma s ape nas ana la r o modo como a c r i ação da ACP fo i um con t r ibu to dec i s ivd e f i n i ção e i m p l em en t ação de r enovada f o r m a de p r e sença da Ina soc iedade por tuguesa no sécu lo XX e , s imul taneamente , insesua ac t uação no desenvo l v i m en t o do «m ov i m en t o ca t ó l i co » co npo râ ne o. No que a es t e se ref ere , in te ress a sub l inh ar que as suaszes se encon t ram já na p r imei ra metade do sécu lo XIX, conduz in«m i l i t ânc ia ca tó l i ca» v igen te de en tão para cá e cu jas p r inc ipa ir ac t e r í s t i c a s a s s i m f o r am r ecen t em en t e de f i n i da s : «a con sc i ênc id i s t inção en t r e a Ig re ja e a soc iedade e o concomi tan te ape lo ev ang e l i z açã o des ta ; a im po r tân c ia c re sce n te da par t i c ipaç ão lnessa t a re fa ; a au ton om iza çã o dos ob jec t ivo s r e l ig io sos em re laos po l í t i co - pa r t i dá r i o s . » S l .

Nes te apos to lado do i s sec to res concen t ra ram en tão a par t i ca tenç ão da Ig re ja : o op era r i ad o e a juv en tud e , f en óm en os soc ia isu l t an t e s da i ndus t r i a l i z ação m ode r na . Ass i m acon t eceu t am bémPor tuga l , onde se desenvo lveram vár ios es fo rços e in ic ia t ivas , not i do de i m p l em en t a r novas f o r m as de a s soc i a t i v i sm o pa r a co r r eder às necess idades soc ia i s de tec tadas e às p ropos tas r e l ig iosager idas . En t re e l as , des tacam-se r espec t ivamente os Círculos Católicosde Operários 5 2 e as Juventudes Católicas, f e de rad as no seu p r im ei ro

Congresso em 1912 , a Juventude Católica Feminina, cr iad a em 1924

5 0 C f . M I N N E R AT H , R o l a n d — UEglise et les Etats concordataires (1846--1981): La souverainete spirituelle. Pa r i s : Ce r f , 1 9 8 3 .

5 1 C L E M E N T E , M a n u e l J o s é M . N . — Nas origens do apostolado contempo-râneo em Portugal. A Sociedade Católica (1843-1853). B r a g a : U n i v e r s i d a d e C a t ó -l i ca Po r tu g u esa , 1 9 9 3 , p . 1 9 . V. t am b é m d o m es m o au to r : Laicização da sociedadee afirmação do laicado em Portugal (1820-1840). Lu s i t an ia Sac r a . L i sb o a . 1 9 9 1 , 3 ,p . 111 -1 5 4 .

5 2 C f . P O L I C A R P O , J . d e A l m e i d a — O pensamento social do grupo católico

de «/I Palavra» (1872-1913), 2 v o l u m e s . C o i m b r a , 1 9 7 7 e L i s b o a : I N I C , 1 9 9 2 : I D— Os Círculos Católicos de Operários. Sentido e fontes de inspiração. C u l t u r a .H i s tó r i a e F i lo s o f i a . 1 9 8 6 , 5 , p . 3 6 5 -3 8 4 .

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no âmbi to da Liga de Acção Social Cristã, ou os Centros Académicosda Democracia Cristã, t end o o de C oim bra pe rd ura do a té 1971 5 3.

É a inda o «papa da Acção Ca tó l i ca» que na ca r t a ao Cardea lCere je i r a se r e fe re de modo par t i cu la r ao opera r i ado , nos segu in teste rmos:

« H o j e , e n t ã o , e l a [ a I g r e j a ] m o s t r a e s p e c i a l í s s i m o c u i d a d o p e l a sm u l t i d õ e s d e h u m i l d e s t r a b a l h a d o r e s , p a r a q u e p o s s a m n ã o s óa l c a n ç a r e d i s f r u t a r o s b e n s q u e l h e s p e r t e n c e m p o r d i r e i t o d ej u s t i ç a , m a s a i n d a , p a r a o s a r r e b a t a r à e n g a n o s a e p e s t í f e r ai n f l u ê n c i a d o c o m u n i s m o , o q u a l , a o m e s m o t e m p o q u e , c o md i a b ó l i c a p e r f í d i a , s e e s f o r ç a p o r a p a g a r n o m u n d o a l u z d a r e -l i g i ão que os l i be r tou , expõe a um pe r igo ce r to de ca í r em, um d i a ,n a a n t i g a e v e r g o n h o s a e s c r a v i d ã o , d e q u e t i n h a m s i d o l i b e r t a d o sc o m t a n to t r a b a l h o . »5 4 .

Assim, quando se l ançam as bases da nova o rgan ização do apos-t o l ado , g r ande a t en ção é dada aque l a s que são cons i de r adas a l gum asdas «n ec ess i da des m a i s i m p or t an t e s e co m uns » : «a a s s i s t ênc i a ao soperá r ios , não só no que se r e fe re aos in te resses esp i r i tua i s ( . . . ) mastambém da v ida p resen te» ; «o ens ino da dou t r ina c r i s t ã» às c r i anças eaos jov en s ; e «a boa im pre nsa » , «aq ue la que nã o só não a taqu e are l ig ião e os bons cos tumes , mas a que , como a rau to , p roc lama e i lus -t ra os pr incíp ios da fé e as regras da moral» 5 S. Por out ro lado, f ica emaber to a poss ib i l idade da nova ins t i tu ição agrupar a s i o rgan izações j áex i s t e n tes ou , em co n t ra pa r t ida , v ir a c r i á - l as , qu an to mais não fo ssecomo «obras aux i l i a res» ou se rv iços de apo io à ACP. Tudo em nomeda necessá r i a «un ião de fo rças» .

3 . M o d e l o e e s t r u t u r a d a A C P

A de t e r m i naç ão do m ode l o de o rg an i z açã o da Ac ção Ca t ó l i caP o r t ug uesa ( ACP ) é um a das m a i s i m por t an t e s e con t r ove r sa s ques -

C f . C R U Z , M . B r a g a d a —A s origens da Democracia Cristã e o Salazaris-mo. L i s b o a : E d . P r e s e n ç a / G I S , 1 9 80 e S E A B R A , J o r g e ; A M A R O , A n t ó n i o R a f a e l ;N U N E S , J o ã o P a u l o Av e l ã s — O CADC de Coimbra, a Democracia Cristã e osinícios do Estado Novo 190 5-1934. C o i m b r a : F a c u l d a d e d e L e t r a s , 1 9 9 3 .

5 4 C f . § 14.C f. § 12 e 13.

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tões , desde o in íc io e ao longo da sua h is tór ia . Dela se ocupoE p i sc o pad o po r t u guê s na s r eun i ões p r epa r a t ó r i a s do l anç am en t

no va o rg an i zaç ão , em Co nfe rên c ia p len ár ia , r ea l i zad as em 6 e Abr i l de 1932, de 16 a 18 de Feverei ro de 1933 e , f inalmente , emvembro de 1933 , quando reso lveu aprovar apenas as Bases da ACP,de ixando para mais t a rde a def in ição dos Es ta tu tos .

Do i s p r i nc í p i o s no r t ea r am a e s t r u t u r ação qu e p r o g r e s s i v a mf o i dando co r po à nova o rgan i zação : unidade e especialização. A sBases de 1933 , de f in em -n os do segu in te mo do :

« A A C P t e m c o m o p r i n c í p i o d e o rg a n i z a ç ã o o s s e g u i n t e s p o

t u l a d o s :a ) C o o r d e n a ç ã o e c o o p e r a ç ã o d e t o d a s a s a s s o c i a ç õ e s e o b r

c a t ó l i c a s n u m p l a n o nacional único, e m o r d e m à e f e c t i v a ç ã o d au n i ã o c a t ó l i c a p a r a a r e s t a u r a ç ã o c r i s t ã d a s o c i e d a d e

b ) e s p e c i a l i z a ç ã o d a s o rg a n i z a ç õ e s e s s e n c i a i s d a A . C . P. sg u n d o o s e x o , a i d a d e e a p r o f i s s ã o . »5 6

«A un ião das o rgan izações do l a i cado ca tó l i co por tuguês»ob jec t ivo expresso logo na p r imei ra base da o rgan ização , não de

d e co l oca r d i f i cu l dades no r e l ac i onam en t o com f o r m as d e a s st i v i sm o e spec í f i c a s e j á com t r ad i ção a r r e i gad a . Ass i m : um a s pr i am a sua au tonomia para se incorpora rem na nova ins t i tu ição , a con t eceu com os g r upos e a s soc i ações da F ede r ação das Juv en tCa tó l i ca s Po r tug ues as ( ex i s t en te desde 1913) e a Ju ve n tu de Ca tF em i n i na ( f un da da em 192 4 ) ; ou t r a s , m an t e n d o em b o r a nomes t ru tu ra p rópr ia , v i r i am a ocupar um lugar no in te r io r da o rgâda Acção Ca t ó l i ca , com o acon t eceu com o CADC de Co i m b r aAssoc i ação dos E s t udan t e s Ca t ó l i co s do P o r t o que f o r am , naq u

cen t r o s un i ve r s i t á r i o s , o co r r e s p ond en t e d a Ju v en t u de Un i v e r s iCa tó l i ca ( JUC ) a n íve l na c ion a l ; e , f in a lm en te , a lgun s a inda mr iam a sua o rgan ização p rópr ia , como acon teceu com o Apos toda Oração , as Conferênc ias de S . Vicen te de Pau lo ou o Corpoc iona l de Escu tas ( fundado em 1923) , passando quase todas acon s ide rad as «obra s aux i l i a res» da A CP . A pr im ei ra a se r r ec ocida como ta l fo i a P ia União dos Cruzados de Fát ima.

5 6 C f . Bases da ACP, 193 4. § B (In Boletim da Acção Católica Portuguesa.193 4, I (1) , p . 12) .

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Foi ass im que, em 1944, se publ icou o d ip loma que cr iava o Se-c r e t a r i ado das Obr a s Aux i l i a r e s da Acção Ca t ó l i ca pa r a «p r om ove r a

[ sua] ad esã o à A C », «c oo rde nar a sua ac t iv id ad e com a da A C» , « de l i -m i t a r o s r e spec t i vos cam pos e p r og r am as de acção pa r a ev i t a r con f l i -t o s, dup l i caçõ es e con co r r ê nc i a s» e , f i na l m en t e , pa r a « r egu l a r o u sode s ina i s ex t e r i o r e s » 5 7. Mas , apesar des tes es fo rços , a s t ensões susc i -t adas pe l a von t ade de un i dade , sob r e t udo quando con f und i da comun i f o r m i zação e e sp í r i t o de cen t r a l i z ação , não de i xa r am de cons t i t u i rum dos pó los de conf l i to no in te r io r da ACP e da Ig re ja por tuguesa .

No que se r e fe re à espec ia l i zação , es t a f ez - se segundo o sexo , aidade e a p ro f i ssão , a t r avés da c r i ação de qua t ro g randes «organiza-ções» e de m úl t ip los «organismos especializados» da AC P. A Liga dosHomens da Acção Católica ( L H A C ) , a Liga das Mulheres da AcçãoCatólica ( L M A C F ) , a Juventude Católica (JC ) e a Juventude CatólicaFeminina ( JCF ) , f o r am a s qua t r o organizações c r i ad as . Cad a um a t i-nha «Di r ecção Nac i ona l » p r ó p r i a , em bor a t odas f o s sem h i e r a r qu i ca -m en t e dep enden t e s da « Jun t a Cen t r a l » da Acção Ca t ó l i ca , ó rgão d i -r ec t ivo super io r. Só no in te r io r de cada organização se c r i a r am or-ganismos especializados, de ac or do com a de f in içã o de c inco sec to -res socia is — agrário, escolar, independente, operário e universitá-rio — , u t i l i za ndo -se a to ta l id ade das c in co vog a i s do ab ece dá r io p a-ra a cr iação de s ig las própr ias : JAC (J u v e n t u d e Agrária Católica),J A C F (J u v e n tu d e Agrária Católica Feminina), L A C (Liga AgráriaCatólica), L A C F (L ig a Agrícola Católica Feminina) e ass im suc es-s i v a m e n t e . C a d a organismo d i spun ha de um a «D i r ecçã o Ge r a l » , quese encon t r ava h i e r a r qu i cam en t e subo r d i nada à r e spec t i va organi-zação f ede r a t i va .

As s i m sendo , a A C P i nc l u í a o rg an i ca m en t e v i n t e e s t r u t u r a sau t ó no m as de âm b i t o nac i on a l , a l ém de ou t r o s s e r v i ços e o rgan i zaçõ esa e la asso c iad os . Es ta es t ru tu ra r epe t i a - se esc a lo na da m en te a n íve ld ioc esa no e paroq u ia l ou n íve l a f im, co m o as esco la s e as un iv er s ida des ,no caso dos organismos escolares e universitários. A níve l loca l , ca dad i r ecção de secção e organismo e n c o n t r a v a - s e s u b o r d i n a d a à d i r e c -ção da organização r esp ec t iv a (pa roq u ia l e d io ce san a) que , por suavez , in tegrava o r espec t ivo ó rgão cen t ra l de d i r ecção , a «Jun ta pa-roqu ia l» e a «Jun ta d iocesana» da Acção Ca tó l i ca , a pa r da con t inuada

N o t a a s s i n a d a p e l o P r e s i d e n t e d a J u n t a C e n t r a l d a A C P , c i t . p o r S A N TO S ,A . — op. cit., p. 14.

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r e laç ão fu nc ion a l com a es t r u tu ra p rópr ia de cad a organismo. Ou se ja ,cada secção l oca l o u pa r oqu i a l depend i a h i e r a r qu i cam en t e da e

tu ra d i r ec t iva da Acção Ca tó l i ca ao n íve l r espec t ivo e a r t i cu lavf un c i o na l m en t e com a e s t r u t u r a do organismo que i n t eg r ava 5 S.

E s t e m ode l o , f ede r a t i vo e cen t r a l i z ado r, r e su l t a da com b i nade duas t radições: a Acção Catól ica gera l , de or igem i ta l iana; e a de apo s to la do es pe c ia l i zad o , que t eve a sua gé ne se com a JO CCard j in na Bé lg ica , segundo o p r inc ip io in ic ia l de que «os p r imeapós to los dos operá r ios são os operá r ios» . Tra ta - se de um mom is to que v i sava in tegra r a to ta l id ade das in ic ia t iva s e o rga n izado l a i cado ca tó l i co por tuguês e garan t i r uma acção e f i caz nos d

sos g rupos e meios soc ia i s . «Cor unum et anima una» é o lema daACP, que bem t r aduz a sua p reocupação un i t á r i a .

E m P o r t uga l a i de i a da e spec i a l i z ação f o i de f end i da nom eam en t e pe l o s P ad r e s Abe l Va r z i m e Manue l Rocha , f o r m ados n aco la soc io lóg ica de Lova ina 5 9. Su b ja ce n te a es t a p ro pos ta e nco n t ra --se a noção de meio soc i a l , en t end i do não apenas com o cond i c i on ando apos t o l ado pes soa l , m as com o r ea l i dade ca r ac t e r i zada po r etu ras p rópr ias que dever iam se r t ambém ob jec to de c r i s t i an izaçã

Se do pon to de v i s t a concep tua l es t e mode lo su rge como idmente cor rec to , j á ao n íve l da sua ap l i cação os seus d i r igen tes dr a r a m c o m v á r ia s d i f i c u l d a d e s e o b s t á c u l o s6 0. A par da relação com as

5 8 P a r a u m a m e l h o r c o m p r e e n s ã o d a e s t r u t u r a d a A C P, a p r e s e n t a - s e o o rg a n i g r a m a , ta l q u a l s e e n c o n t r a r e p r o d u z i d o n u m a e d i ç ã o d a s B a s e s O r g â n i cA C P d e 1 9 5 0 : L I G A C AT Ó L I C A — Acção Católica Portugesa, L i s b o a : O f i c i n a sG r á f i c a s d a « R á d i o R e n a s c e n ç a » , 1 9 5 0 .

C f : S A N T O S , A . — op. cit., p . 2 3 : e R O D R I G U E S , D . — op. cit., p . 138--1 4 5 , q u e r e f e r e f o r t e p o lém ica q u e ag i t a o s se rv iço s cen t r a i s d a ACP n o an

1941 . Le ia - se a in d a o r e l a to q u e é f e i to , em 1 9 3 5 , p e l o Ass i s t en t e Gera l d a p o r t u g u e s a , p r e s e n t e n u m a S e m a n a d e E s t u d o s I n t e r n a c i o n a l : « ( . . .) 2 . D I F I C UD U E S A L A T R A D I T I O N : o n n e c o m p r e n d p a s bi e n la S P E C I A L I S AT I O N . q u e l q u e s a n n é e s , i l n ' e x i s t a i t p a s a u P o r t u g a l q u e d e s o e u v r e s g r o u p a n t d e s jd e to u s l e s m i l i e u x : ce q u i im p o r t e su r to u t , c ' e s t d e fo rm er d es j e u n es m i l i t a nla c l a s se o u v r i è r e . ( . . . ) » ( I n Comp te-rendu de la Semaine d Etudes Internationale dla Jeunesse Ouvrière Chrétienne. Bru x e l l e s : 1 9 3 5 , p . 3 6 8 ) .

6 0 A l i t e r a tu r a d a Acção Católica Portuguesa a p r e s e n t a d i v e r s o s e x e m p l o sd e s s a s d i f i c u l d a d e s e o b s t á c u l o s a o l o n g o d o t e m p o . R e l a t i v a m e n t e à s i t u a ç ãr a n t e o p r i m e i r o d e c é n i o , l e i a - s e o d i a g n ó s t i c o d o S e c r e t á r i o - G e r a l d a A C P : Ç A LV E S , Av e l i n o — Dez anos de Acção Católica. L i sb o a : 1 9 4 5 , p . 4 9 - 5 3 . Pa r a os e g u n d o d e c é n i o , c f . D U A RT E , A r n a l d o — Posição actual da Acção Católica

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o rg a n i zaç ões p r é - ex i s t en t e s à i n s t i t uc i ona l i zaçã o da AC P, ou t r a sques tões se encon t ram no seu percur so : em pr imei ro lugar, a s t ensões

resu l t an te s do d i f í c i l equ i l íb r io en t r e a au ton om ia de cad a o r ga n i s m oesp ec ia l i z ad o e a p ro cura da un ida de de in ic ia t iv a e acç ão ; em seg un dolugar, a a r t i cu lação en t r e os vár ios n íve i s o rgan iza t ivos de uma es t ru -tu ra que , sendo nac iona l , deve enra iza r na d inâmica d iocesana daIgre ja ; e por ú l t imo , a p rogress iva con tes tação do p r inc íp io de su -bo r d i naçã o do l a i cado ca t ó l i co às d i r ec t r i z e s da h i e r a r q u i a , sob r e t udoà m ed i da que a p r óp r i a Acção Ca t ó l i ca va i f om en t ando o p r o t ago -n i smo dos seus mi l i t an tes e fo rmando c r i s t ãos adu l tos na v ida e na f é .

A subo r d i naç ão d a d i r ecç ão e o r i en t açã o da A CP à s d i r ec t r i z e s doE p i scop ado p o r t uguês e r a ga r an t i da a t r avés de um t r i p l o m ecan i sm o :in te rvenção na e le ição dos p r inc ipa i s r esponsáve i s l e igos , a t r avés dasua nom eação ou hom o l ogação ; nom eação de um Ass i s t en t e ec l e s i á s -t i co pa r a acom panha r e supe r v i s i ona r cada ó rgão de d i r ecção ; ep r e sença d i r ec t a de a l guns p r e l ados no desem penho de ca rgos dedi r ecç ão . É ass im que , des de 1933 e a té 197 1, o D ire cto r N ac ion al daACP se r i a , po r i nd i cação do E p i scopado , o Ca r dea l - P a t r i a r ca deL i sb oa . Tam bém o ca rgo de P r e s i den t e da Jun t a Cen t r a l e r a a s segu -rado por um bispo: D. Ernesto Sena de Ol ivei ra (de 1933 a 1941) ;

D. Manue l Tr indade Sa lgue i ro (de 1941 a 1955) e D. José Pedro daSi lva (a par t i r de 195 6) . Até 1966, o ca rg o de Se cr e tá r io -G er al fo ide sem penhado po r um m em br o da h i e r a r qu i a , no ca so um p r e sb í t e r o :Có n . Dr. A ve l ino de Jes us G on ça lve s (de 1934 a 1947) ; Pe . D om ing osd ' Apr e sen t ação F e r nandes ( de 1948 a 1953 ) ; P e . S ez i nando de O l i -vei ra Rosa (de 1954 a 1965) . O Eng. S idónio de Frei tas Branco Paisé o p r imei ro l e igo a ocupar o lugar de Secre tá r io -Gera l , passando aJun ta Cen t ra l a se r in tegra lmente cons t i tu ída por l e igos e apenas ase r d i r ec tamente acompanhado por um Ass i s t en te Gera l , no caso , o

Pe . Dr. Or lando Le i t ão .

Portuguesa. L i s b o a : E d . A . C . P. , s . d . , p . 2 9 - 4 0 . N a s c e l e b r a ç õ e s d o X X V a n i v e r s á r i od a A C P, t a m b é m s e e n c o n t r a m e c o s d e s s a s d i f i c u l d a d e s : v. g . L E I T Ã O , O r l a n d oA n d r a d e M a r t i n s — Acção Católica e Coordenação dos Movim entos Católicos.« N o v e l l a e O l i v a r u m » . N ú m e r o e s p e c i a l , 1 9 5 9, 1 6 ( 1 6 3 ) , p . 2 3 3 - 2 3 8 ; G O M E S ,J o a q u i m F e r r e i r a — Nos vinte e cinco anos da Acção Católica Portuguesa. S e p a r a t ad e Estudos, 3 6 ( 8 ) . C o i m b r a : 1 9 5 8 . E m 1 9 6 5 e n c o n t r a m - s e n o v a s r e f e r ê n c i a s à sd i f i c u l d a d e s d e f u n c i o n a m e n t o e c o n c r e t i z a ç ã o d o m o d e l o d a A C P e x p r e s s a s n ar e u n i ã o d e A s s i s t e n t e s e c l e s i á s t i c o s : V. APOSTOLA DO dos leigos e acção católica.L i s b o a : L o g o s , 1 9 6 5 .

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A esco lha dos r esponsáve i s l e igos e ra assegurada segundo umdo i s p r oce ssos : nom eaç ão d i r ec t a , no ca so dos r e spo nsáv e i s m á x i

dos r es tan tes ó rgãos d i r ec t ivos — regra gera l , P res iden tes nac iongera i s , d ioc esan os , pa roq u ia i s e de secç ão ; e ho m olo ga çã o das esc ofe i t as para os ou t ros ca rgos — Secre tá r ios , Tesoure i ros e Voga i s

Por ou t ro l ado , o As s i s t en te ec les iá s t i co , f ig ura ju r íd ica p reseem todos os n íve i s da es t ru tu ra o rgan iza t iva , desempenhava um pde g rande r e levo na v ida da o rgan ização . Por ine rênc ia da funçãseg un d o a con cep ção ec l e s i o l ó g i ca dom i nan t e at é ao Con c í l i o Vcano I I , e l e e ra o e lo de l igação permanen te com o Epi scopado ga r an t e da ec l e s i a l i dade em cada secção, sector, organismo ou orga-

nização em que se inse re . O Es ta tu to das O rga n iz aç õe s e dos Ogan i sm os Esp ec i a l i z ad os de 1945 def ine ass im a sua m issão :

« A r t . 9 6 ° - O A s s i s t e n t e E c l e s i á s t i c o é o D e l e g a d o d a H i e r a r q uq u e , j u n t o d a A c ç ã o C a t ó l i c a , t e r á p o r m i s s ã o :a ) m an te r e de fe nd e r a i n t eg r id ade da f é , da mo ra l e da d i s c ip l ida Ig re j a ;b ) f o r m a r, a s s i s t i r e a n i m a r o s a s s o c i a d o s d a m e s m a A c ç ã o Ct ó l i c a e m o r d e m a o s e u a p o s t o l a d o » 6 1.

N o enq ua d r a m en t o dos seus m em br o s l e i gos , a e s t r u t u r açãoAcção Ca tó l i ca assen tava em d iver sos n íve i s de per t ença , segung r au de com pr om e t i m en t o com os ob j ec t i vos da o rgan i zação e o rn h e c i m e n t o s o c i a l d a c o n f o r m i d a d e d o c o m p o r t a m e n t o i n d i v icom d ef in ido s c r i t é r ios de v ida c r i s t ã : aspirantes, efectivos, militantese , f i na l m en t e , o s dirigentes. No t r aba lho com o co n j un to dos seusm e m b r os , a A CP u t i li zou va r i ad í s s i m os m e i os em o r dem à f o r mde élites e à ac çã o de massas: r eun i ões de g r up o , con f e r ê nc i a s , cu r so s ,pa l e s t r a s , i nqué r i t o s , c am pan has de ano , pe r e g r i na ções , r e t i r o s , pcaçõ es (bo le t ins , jo r na i s e r ev i s t as ) , f es t as , con gre sso s , e t c . A me tlogia dos « inquér i tos» e da «revisão de v ida» — com a sua célt r i logia do ver, julgar e agir — fo i in ic ia lm ent e u t i l i zada ape nas pora l g u n s organismos, n o m e a d a m e n t e o p e r á r i o s , m a s g e n e r a l i z o u - sp r og r e s s i vam en t e ao con j un t o da o rgan i zação , f ac i l i t ando o con te i n t e r venção d i r ec t a na r ea l i dade quo t i d i ana 6 2.

6 1 C f . GUIA da Acção Católica Portuguesa, vo l . I , L i sb oa : 1954 , p . 50 .6 2 E n t r e a d i v e r s i f i c a d a p r o d u ç ã o b i b l i o g r á f i c a q u e a b o r d a o t e m a d a m

d o l o g i a , c i t e - s e s o b r e a i m p o r t â n c i a d a « o p i n i ã o p ú b l i c a » p a r a o a p o s t o l

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cem subs t anc i a l m en t e i dên t i ca s , t endo - se un i f o r m i zado a l gu m ass i g n a ç õ e s 6 4; ap rova- se um novo e ún ico Es ta tu to das Organ izações

dos Or gan i sm os E sp ec i a l i z a dos , r e su m i ndo - se a s d i spos i ç ões etu tá r i as a t é en tão d i sper sas por numerosos d ip lomas ; e de f ine- seRegu l am en t o Ge r a l pa r a t oda a o rgan i zação . Nes t e p r ocesso c l acou - s e o l ug a r dos S ec r e t a r i ados e spe c i a l i z ad os , com a f un ção der ig i r ou coordenar as Obras Auxi l i a res da ACP: Secre ta r i ado Enóm i co - S oc i a l ; S ec r e t a r i ado de Cu l t u r a , P r opaganda e I m pr eS ec r e t a r i ado do C i ne m a e da Rád i o ; S ec r e t a r i ado de Co or de naç ãoObras Auxi l i a res . Em 1953 , ve r i f i cou- se novo p rocesso de r evdas Bases Gera i s que p rocurou i r ao encon t ro do d inamismo

Acção Ca t ó l i ca .Só um es tud o ju r íd i co apu rad o per m i t i r á de tec ta r as osc i l aç õ

p r og r e s s i va s m udanças nos m ecan i sm os j u r í d i cos da ACP. Há ,en tan to , a lgumas l inhas de fo rça que só o Conc í l io Vat i cano I I va l t e r a r de m odo m a i s p r o f undo . E f ec t i vam en t e , f o i p r ec i so e sppe la d in âm ica con c i l i a r pa ra se «es tuda r a op or tu n id ad e e os p rosos de ac t u a l i za ção da Ac ção Ca t ó l i ca P o r t u gue sa , com a cons equrev i são das Bas es , Es ta tu tos e Re gu lam en tos , em ordem a um a c i ênc i a m a i o r de s se p r ov i denc i a l Mov i m en t o apos t ó l i co» — sedo os t e rmos do Di rec to r Nac iona l da ACP, Cardea l -Pa t r i a rcaL i s b o a 6 S. Fo i um longo e p rofundo p rocesso de adap tação às d i r et r i zes do V at i c an o I I e à nova d im en são do apo s to la do l a i ca l , d ecoen t re 1965 e 1971, que cu lm ino u com a ap ro va çã o de um textoPr inc íp ios Bás icos , mas de ixando em aber to o p rocesso de e laborde um E s t a t u t o o rgân i co e novo s Re gu l a m en t o s que nunca cheg aa se r e l aborados .

A renovação da Acção Católica Portuguesa e ra o ob jec t ivo ex-p r e s so pe l o E p i scop ado po r t uguês na Ca r t a pa s t o r a l que aco m paa pub l i cação do novo t ex to ju r íd ico . Os b i spos marcaram en tãoper íodo de 5 anos para que a Acção Ca tó l i ca se r eorgan izasse e

6 4 A u n i f o r m i z a ç ã o f e z - s e s o b e r t u d o a o n í v e l d a d e s i g n a ç ã o d o s d i v e ro rg ão s , t a l q u a l f i co u a t r á s d e sc r i to . As organizações d e ad u l t o s v eêm o seu n o m ea l t e r a d o : a L i g a d e A c ç ã o C a t ó l i c a F e m i n i n a p a s s a a d e s i g n a r - s e p o r L i g a C aF e m i n i n a ( L . C . F. ) ; e a L i g a d o s H o m e n s d a A c ç ã o C a t ó l i c a p a s s a a d e s i g n a r - s e s i m p l e s m e n t e p o r L i g a C a t ó l i c a ( L . C . ) . É , n o e n t a n t o , p o s s í v e l e n c o n t r ad e s i g n a ç õ e s a n t e r i o r e s r e f e r i d a s e m p u b l i c a ç õ e s p o s t e r i o r e s a e s t a d a t a .

6 5 Cf . A renovação da Acção Católica Portuguesa. Carta Pastoral do Epicopado da Metrópole e Princípios Básicos, s. 1. : Ed . L og os , s. d. , p. 3.

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v i t a l i z a s se , de ve nd o a Co m i s são E p i sc opa l pa r a o Ap os t o l a do dosLeigos acompanhar es te p rocesso . E ra o in íc io do f im. A procura deeq u i l í b r i o en t r e «a i n d i spe nsá ve l u n i d ad e da A CP e a l eg í t i m aau t on om i a dos M ov i m e n t os apos t ó l i co s que a i n t eg r a m » 6 6d i f i c i l m e n -te se r i a consegu ida no novo quadro ec les ia l e soc ia l .

Ass im se compreende que a 22 de Novembro de 1974 a EquipaE x e cu t i va da A C P t en ha ap r e sen t ado «o ped i do de su spe nsão das suasf un çõe s , de i x and o aos m ov i m en t o s a i n i c i a t i va de se co o r d ena r em ,caso e les s in tam necess idade d i sso , em ordem a uma rev i são de v idaque en f r en t e o s r ea i s p r ob l e m a s g l oba i s da soc i e dad e po r t ugu esa» —nos t e r m os da ca r t a ende r eçad a ao P r e s i den t e da Conf e r ênc i a E p i s -c o p a l 6 7. A t e r m i no l og i a u sada ev i denc i a um a evo l ução que se ve r i -f i co u m ar c ada m en t e de sde a déca da de c i nqu en t a : a t r an s f o r m aç ão dosorganismos e spe c i a l i z a dos da AC P em movimentos ec l e s i a i s au t ó no -m o s 6 S. Pa ra t a l con t r ibu iu a aprox imação e pos te r io r fusão en t r e osorganismos m ascu l i nos e f em i n i no s con gén e r e s , m o b i l i z ad os po rc r e scen t e s p r eo cu p açõ es so c i a is , p a r t i c u l a r m en t e nos sec t o r e s ope -rá r io e un iver s i t á r io .

4 . D i n â m i c a d a Acção Católica Portuguesa

A d i nâm i ca da Acção Católica Portuguesa não se co n f u nd e coma evo lução da sua es t ru tu ra , por mais de te rminan te que t enha s ido oseu pape l . E na a r t i cu lação da Ig re ja com a soc iedade por tuguesa e naevo lução do ca to l i c i smo que se encon t ram os p r inc ipa i s c r i t é r ios quede te rm inar am um pe rcu r so e per m i tem ava l i a r o seu im pac to . Nai m poss i b i l i dade de ana l i s a r m o s a sucessão de con j un t u r a s h i s t ó -

6 6 Ibidem, p. 56 7 C a r t a d a E q u i p a N a c i o n a l E x e c u t i v a d a A c ç ã o C a t ó l i c a P o r t u g u e s a a o

P r e s i d e n t e d a C o n f e r ê n c i a E p i s c o p a l , d a t a d a d e L i s b o a , 22 d e N o v e m b r o d e 1 9 7 4 ,R e P. 4 9 / 7 4 ( A r q u i v o d a J u n t a C e n t r a l d a A C P, Pasta 1973 /74 - Arquivo Geral).

6 8 E s t a q u e s t ã o e x i g i r i a m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o , q u e n ã o é c o m p a t í v e l c o m ae c o n o m i a d e s t e t r a b a l h o . E x i s t e v a s t a b i b l i o g r a f i a r e l a t i v a a o e s t u d o d o a s s o c i a -t i v i s m o r e l i g i o s o a n í v e l i n t e r n a c i o n a l , d e q u e se p o d e m r e g i s t a r a l g u n s e x e m p l o s :C H O LV Y, G é r a r d — Mouvem ents de jeunesse chrétiens et juifs: Sociabilité juvé-nile dans un cadre européen 1799-1968. P a r i s : C e r f , 1 9 8 5 ; FA V A L E , A g o s t i n i ( Acura d i ) — Movim enti ecclesiali contemporane i: Dimensioni storiche teologico--spirituali ed apostoliche. Ro m a: C A S, 1 9 8 2 (2 .* ed . r ev. e au m en tad a ) .

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r i cas , cons ideremos , a t í tu lo de h ipó tese , a lgumas das p r inc id i n â m i c a s 6 9.

No quad r o do ca t o l i c i sm o so c i a l , a A CP dese nvo l v eu um co n jde in ic ia t ivas com grande impac to : as Semanas Soc ia i s no decénquaren ta ; os Congressos que se lhe segu i ram a té meados da décadc i nqu en t a ; e a s S em ana s de E s t u do sob r e dom í n i o s bem con c r e t or ea l i da de po r t ugue sa . A sequên c i a de s t a s f o r m as o rga n i za t i va s ssó por s i , um es tudo reve lador do desenvo lv imento do seu p ro jt an to a n íve l do t ipo de soc iab i l idade que po tenc iou , quan to dat en c i ona l i dade e capac i dade de p r om ove r i n i c i a t i va s com m a i om en or inc id ênc ia no t ec id o soc ia l .

As Semanas Soc ia i s — uma ide ia que nou t ros pa í ses europeumonta ao sécu lo XIX — foram apresen tadas ao pa í s como uma esde ' Un i ve r s i d ade am bu l an t e ' , a p r i m e i r a Un i ve r s i da de ca t ó l i c a t a a toda a gen te . Ti nh am p or ob je c t iv o fo rm ar «um esco l de ca tópre pa ran do -os para bem or ien ta rem e cu m pr i r em o seu dev erpos tos que na v ida c iv i l ocupam, e a f i rmam peran te as demais r en tes de pensamento e op in ião as ide ias e so luções p rá t i cas con i zadas e de f end i das pe l o s ca t ó l i co s» 7 0. Foram qua t ro as SemanasSoc ia i s r ea l i zadas em Por tuga l : o p r imei ro cur so r ea l i zou- seL isboa , em 1940 , subord inado ao t ema Aspectos fundamentais daDoutrina Social Cristã; o seg un do cur s o , r ea l i za do em Co im br a , em1943 — num momento em que o domín io de Hi t l e r sobre a Eupro voc ara n ão só a u rg ên c ia de r e f l ex ão sobre os p ro jec tos de sdad e , m as se de f i n i am j á o s f un da m en t os da o r dem m un d i a l do -guer ra — teve por t ema Bases Cristãs duma Ordem Nova; o t e rc e i rocu r so r ea l i zou - se no Por to , j á em 1949 , sobre o t em a O problema dotrabalho; f in a lm en te , em 1952 e em Bra ga , r ea l i zo u- s e o qua r tú l t i m o cu r so , subo r d i nado ao t em a O problema da educação 7 I .

6 9 A p a r t i r d a g r a n d e d i v e r s i d a d e d e i n f o r m a ç õ e s e f o n t e s h i s t ó r i c a s d in í v e i s , a p e n a s s e r e f e r e m a s m a i s r e l e v a n t e s . P a r a u m a i n f o r m a ç ã o g e r a l s o bp r i n c i p a i s i n i c i a t i v a s c a t ó l i c a s r e a l i z a d a s a o l o n g o d o s é c u l o X X : G O M EP i n h a r a n d a — Os congressos católicos em Portugal. L i s b o a : S N A L - S e c r e t a r i a d oN a c i o n a l p a r a o A p o s t o l a d o d o s L e i g o s , 1 9 8 4 .

7 0 C f . ACÇÃO Católica Portuguesa. B o l e t i m O f i c i a l , 1 9 5 4 ( 2 4 0 - 2 4 1 ) , p . 3 8 --3 9 .

7 1 C f . : S E M A N A S S o c i a i s P o r t u g u e s a s — Aspectos fundamentais da doutrinasocial cristã. L i s b o a : ed . AC P, 1 9 4 1 ; ID . — Bases cristãs duma ordem nova. C o i m -b ra : Ca sa d o Ca s te lo Ed . , 1 9 4 3 ; 1 D. — O problema do trabalho, L i s b o a . Ti p . « U n i ã o

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s i n t on i a com a d i nâm i ca i n t e r nac i ona l da P ax Rom ana 7 5. Sob apres idênc ia de Adér i to Sedas Nunes e Mar ia de Lourdes P in tass ia sua r ea l i zação fo i expressão de uma nova geração de ca tó l isoc ia i s , que en tão emerg ia 7 6.

Por ú l t imo , em 1955 , r eu n iu - se o I Co ng res so da Juv en tuO perá r i a Ca tó l i ca , um a in ic ia t iv a da JO C e JO CF , para ce le bra reX Xo an ive r sá r io da sua fu nd aç ão em Por tu ga l . O eve n to deco r reu Lisboa, no Inst i tu to Super ior Técnico , onde de 12 a 16 de Abr i lr ea l i zo u um a Se m ana de Es tu do s com a pa r t i c ip açã o de 1 00 0 jotas , r epresen tando todas as d ioceses da met rópo le e das p rov ínu l t r am ar i nas , pa r a l e l am en t e à r ea l i z a ção de um a S em an a de E s t upara Ass i s t en tes ec les iás t i cos , que se r ea l i zou no Seminár io dos va i s . A in ic ia t iva t e rminou com uma concen t ração de 40 000 jovem Fá t ima . De rea lça r o f ac to do Congresso t e r t ido a par t i c ipaçãM o n s . C a r d j i n , f u n d a d o r e A s s i s t e n t e G e r al da J O C I n t e r n a c i o n7 7.A von t ade da JOC- JOCF a s sum i r a s suas r e sponsab i l i dades soc i an í ve l da edu caçã o e «de sp r o l e t a r i zaçã o» da j uv en t ud e t r aba l hadbem ass i m com o o seu en t e nd i m en t o em a f i r m ar- s e co m o «cor ep r e sen t a t i vo » dos j ov en s t r aba l had o r e s l evan t ou - l he vá r i a s dcu ldades . A Censura p ro ib iu um Jogo Cén ico , que dever ia r ea l i za

no P av i l hão dos Despo r t o s , e a s Conc l u sões do Congr e s so não ga r am a se r pu b l i cadas 7 8.

A r ea l i z ação dos sucess i vos Cong r e s sos p r ovocou f o r t e s t en sen t re a Ig re ja e o Es tado : o I I Congresso dos Homens Ca tó l i cos , v is to para 1954, nu nca che go u a rea l iza r-s e ; a lgu ns dos votoconc l u sões do Congr e s so j uc i s t a su sc i t a r am descon f i anças e

7 5 I C O N G R E S S O N A C I O N A L D A J U V E N T U D E U N I V E R S I T Á R I A

T Ó L I C A — O pensamento católico e a universidade, 2 vo ls . L isb oa : Ed . das Dir,Ge ra i s d a JU C e JU CF , 1 9 5 3 e 1 9 5 4 .

7 6 C f . F O N T E S , P a u l o — As organizações estudantis católicas e a criseacadémica de 1956-1957. In C O N G R E S S O H I S T Ó R I A D A U N I V E R S I D A D E 7.C E N T E N Á R I O — Universidade(s). História. Mem ória. Perspectivas: Actas 5C o i m b r a , 1 9 9 1 , p . 4 5 7 - 4 8 0 .

7 7 I C O N G R E S S O N A C I O N A L J O C I S TA — Manua l do Congressista. L i s -boa : 1955; ID. — Peregrinação nacional d a juventude trabalhadora a Fá tima.L i s b o a : J O C - J O C F. 1 9 5 5 ; I CONG RESSO NACIONAL DA JOC/JOCF. Lisboa-Fátima. 12/17 de Abril 1955. [ Á l b u m f o t o g r á f i c o ] L i s b o a : E d . d a s D i r. G e r a i s d aJ O C / J C O F. s . d .

7 8 C f . R O D R I G U E S , N a r c i s o — A JOC na década de 50. R e f l e x ã o C r i s t ã ,1987 , 53 , p . 51-64 .

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nece r a m nov o qua d r o de r e f e r ênc i a pa r a a r en ova ção da acção dosjovens un iver s i t á r ios ; e , a cu lminar, os inc iden tes gerados em to rno doCo ngr e s so j oc i s t a ob r i ga r am a um a i n t e r v enç ão d i r ec t a do Ca r d ea lCe r e j e i r a , q ue no seu d i scu r so na se s são de ence r r am en t o a f i r m avacom veemênc ia : « tocar em vós é f e r i - l a [ à Ig re ja ] naqu i lo que e la t emde mais ín t imo, no que e la tem de mais g lor ioso» 7 9. Sub jacen te a es t ast ensões encon t r a - se não só a a f i r m ação da au t onom i a de o rgan i zaçãodos ca tó l i cos , mas a ques tão da l eg i t imidade da sua acção e de l imi -t ação da su a e s f e r a de i n t e r venção na soc i edade po r t uguesa : ondeacaba o sóc io - re l ig ioso e começa o sóc io -po l í t i co? No in te r io r da«S i t uaçã o» po r t ug uesa su rg i a o f an t a sm a da D em ocr ac i a c r i s t ã .

Na i m p oss i b i l i dade dos Co ngr e s sos p r o s seg u i r em , su rg i r am en t ãoco m g r and e v i go r ou t r a s f o r m as de o rga n i za ção e i n t e r v enç ão daI g r e j a t a i s com o Jo r nadas , E ncon t r o s e S em anas de E s t udo , p r om o-v idas pe la Acção Católica Portuguesa: são as I e I I Jo rn ad as Ca tól i -cas de Di re i to , p romovidas pe la JUC, em 1956 e 1957 ; são os Cursosde Deo n t o l og i a Ag r onóm i ca , em 1954 , de Deon t o l og i a U l t r am ar i na ,em 1957 , 1958 , 1959 e 1960 , o rgan izados por secções loca i s da JUC;os Cursos de Soc io log ia Rura l , o Io r e a l i z ado em 1954 8 0 e o 11° em

1959 , por in ic ia t iva das secções da JUC de Agronomia ; é o Cic lo deE s t u do s M i ss i on á r i o s e U l t r am ar i no s , o rgan i za do pe l o C A D C deCoimbra em 1959 , ou a Semana de Es tudos Miss ionár ios ou de For-m ação Mi ss i oná r i a , s egu ndo t e r m i no l og i a d i ve r sa , r e a l i z adas r egu -la rmente no âmbi to da ACP, desde 1959 ; são os Encon t ros Ca tó l i cosde E s t ud os C i n em a t og r á f i c o s , r e a l i z ados anu a l m en t e de sde 1955 eque p r og r e s s i vam en t e ganh a r i am au t onom i a ; s ão a s S em anas de E s t u -dos Rurais , a Ia rea l izada em 1957 e a I Ia em 1962 8 I; é a Ia S em ana deP as t o r a l Ope r á r i a , r e a l i z ad a em F á t i m a , pe l o co n j u n t o dos organismos

operários da A CP , em 1960; é a Se m an a N ac io na l de Es tu dos do sE sco l a r e s Ca t ó l i co s , o rgan i zada pe l a L E C e L E CF em F á t i m a , em1961 ; é a S em ana Na c i ona l de E s t u dos dos Or gan i sm os I nde pen den -tes da Acção Ca tó l i ca , r ea l i zada t ambém em Fá t ima , em 1962 8 2; são

C f . S A N T O S , A . — op. cit., p. 18.8 0 J U V E N T U D E U N I V E R S I T Á R I A C AT Ó L I C A — I Curso de Sociologia

Rural: Instituto Superior de Agronom ia. 6, 8, 13, 16 de Março. L i s b o a : 1 9 5 6 .8 1 ALGUN S problemas do meio rural. G o u v e i a : G r á f i c a d e G o u v e i a , s . d .8 2 SEMANA Nacional de Estudos dos Organismos da A.C. do Meio Inde-

pendente. Fátima, de 25 a 29 de Abril de 1962. s . 1. : L o go s, 19 62 .

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as Se m an as de Es tu do da A CP e dos Ass i s t en tes Ec les iá s t i co sACP, que se sucedem a par t i r das ce lebrações do XXVo an iver sá r io ,em 1959 8 3; são o Io e I Io E ncon t r o de D i p l om ad os Ca t ó l i co s , o rga n i -zad o pe la LU C e pe la LU C F de L i s boa , em 1961 e 1963 8 4; é o Io E n -con t ro Nac iona l sobre P rob lemas da Adolescênc ia , em 1962; sãI o e I Io S impós io Nac iona l da União Ca tó l i ca dos Indus t r i a i s e Dgen tes do Traba lho , r ea l i zados em 1962 e 1963 ; e , f ina lmenteaco l h i m en t o em P o r t uga l de va r i ados Congr e s sos ca t ó l i co s de âmi n t e r nac i ona l .

Com ef e i to , a c res cen te d inâ mic a in te rn ac ion a l do ca to l i c i st eve , de um modo gera l , g rande impac to na evo lução da Acção Cl ica e da Ig re ja em Por tuga l . Esse impac to não é d i f í c i l de comprder no quadro da s i tuação per i f é r i ca da cu l tu ra e do ca to l i c i spor tugu ês . E le fo i t an to ma ior quan to se i a ve r i f i c and o um de sfas ament re a m od ern iza çã o p ro gre ss iv a da soc ied ad e e o a rc a í sm o dotema po l í t i co por tuguês , ge rando-se ass im tensões que só de mconf l i t ua l pude r am se r en f r en t adas . P ense - se no t ão f am oso «casbispo do Por to»: mais do que um caso, e le fo i expressão de ucor ren te de pensamento e acção no in te r io r da Ig re ja em Por tuga

O i m pac t o de s t a d i nâm i ca i n t e r nac i ona l da I g r e j a po de sumr iamente se r ca rac te r i zada , segundo t r ês l inhas de fo rça 8 5:

— a m u l t i p l i c ação de enco n t r o s , cong r e s sos e pe r e g r i n a çõ esâm bi to in te rnac iona l ( europ eu e m und ia l ) ve io f ac i l i t a r a c r i aç ãuma rede de con tac tos pessoa i s en t r e d i r igen tes e ass i s t en tes , a scom o a c r i ação de um a d i nâm i ca i n s t i t uc i ona l sup r a - nac i on a l i n f l ue n c i o u dec i s i vam en t e a evo l uçã o das organizações e organismosd a Acção Católica Portuguesa, pa r t i c u l a r m en t e nos sec t o r e s j uv en i se nos meios operá r io e un iver s i t á r io ;

— a r ea l i z açã o do s Co ngr e s so s M u nd i a i s pa r a o A po s t o l ado Le igos ( em 1951 , 1957 e 1967) o fe receu aos sec to res mais d inâmda Ig re ja em Por tuga l a opor tun idade de um con tac to d i r ec to

8 3 A p r i m e i r a s e m a n a d a t a e x a c t a m e n t e d o a n o d a s c e l e b r a ç õ e s . V. A C ÇC AT Ó L I C A P O RT U G U E S A — Problemas de Espiritualidade. L i s b o a : E d . L o g o s ,1960 .

8 4 A A W s . — Perspectivas cristãs do desenvolvimento económ ico. L i s b o a :D i r. G e r a i s d a L U C e L U C F , 1 9 6 3 .

8 5 O i m p a c t o d a d i n â m i c a i n t e r n a c i o n a l da I g r e j a c o n s t i t u i u m d o s e i x o si n v e s t i g a ç ã o s o b r e o q u a l c o n t i n u a m o s a t r a b a l h a r. O q u e a q u i s e a p r e s e n t a s ã oc l u s õ e s p r o v i s ó r i a s , a e x i g i r m a i o r d e s e n v o l v i m e n t o .

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ou t r a s expe r i ênc i a s de I g r e j a e com a l gum as das exp r e s sões m a i sf e c u n d a s d o p e n s a m e n t o t e o l ó g i c o c o n t e m p o r â n e o , p r o p o r c i o n a n d onovo s r e f e r enc i a i s pa r a a com pr e ens ão e ava l i aç ão c r í ti c a da r ea l i dad epo r t uguesa ;

— a d imensão de ca to l i c idade da Ig re ja , r e f l ec t ida e v ivenc iadapelas é l i tes ca tó l icas — at ravés da le i tura de l ivros e revis tas , dosco n t ac t o s p r o t agon i zados pe l a s g r andes cong r egações r e l i g i o sa s , d ad i nâm i ca d a s Organ i zaçõ es I n t e r nac i ona i s Ca t ó l i ca s , do aco l h i m en t odas r e f l exões e p ropos tas f e i t as pe los sucess ivos Papas , en t r e ou t ras— con t r i bu í r am pa r a um a ab e r t u r a da Acção Católica Portuguesa aos

g r and es d i nam i sm os da I g r e j a un i ve r sa l , com o acon t eceu na p r o -b l em á t i ca m i s s i oná r i a 8 6.

En t re as múl t ip las in ic ia t ivas que u rge inven ta r i a r e es tudar,r eg i s t e - se a in f luênc ia que , desde o in íc io , Card j in e a JOC be lga ein te rnac iona l t ive ram na ide ia de especialização segu ndo o meiosoc ia l , t a l qua l fo i cons ignado pe lo mode lo o rgan iza t ivo e pe la h i s -tó r i a da A CP . Inv er s am ente , ana l i se - s e o pap e l que a lgun s m ovi -m e n t os e ca t ó l i co s po r t u gue ses f o r am ch am ad os a de s em pen ha r nar e f e r i da d i nâ m i ca i n t e r nac i ona l , com o , po r exe m p l o , a p r e se nça daJUCF po r t ugu esa na P ax Rom ana , de que Mar i a de L ou r des P i n t a s -s i lgo fo i P res iden te In te rnac iona l , en t r e 1956 e 1958 8 7. Re f i r a - set am bém a r ea l i z açã o de a l gun s eve n t o s i n t e r na c i ona i s que t i ve r am po rpa lco Por tuga l , em par t i cu la r L i sboa e Fá t ima: o VI I Congresso In -t e r nac i ona l dos Méd i cos Ca t ó l i co s , em 1947 8 8; r eun ião do Conse lhoGera l da Union Mondiale des Oeuvres Féminines Catholiques, em1954; o VI I Congresso In te rnac iona l do Bureau International Ca-tholique de L Enfance, em 1959 ; o Co ng r e s s o I n t e r nac i ona l da s Asso -c iaç ões Pa t r ona i s Ca tó l i ca s , em 1960; a A sse m ble ia mun dia l do Mo -

v i m en t o I n t e r nac i ona l de E s t udan t e s Ca t ó l i co s — Pax Romana, em196 0 ; a XVI I I Con f e r ênc i a I n t e r nac i ona l de E scu t i sm o , em 1961 ; o ua i nda , o VI I Co ng r e s so I n t e r nac i ona l de F a r m acê u t i co s Ca t ó l i co s ,em 1963.

8 6 C f . F O N T E S , P a u l o — A A c ç ã o C a t ó l i c a P o r t u g u e s a e a problemáticamissionária ...

C f . U N D , Vo n U r s A l t e r m a t t ; S U G R A N Y E S D E F R A N C E , R a y m o n d —Pax Rom ana. 1921-1981. Fondation et développem ent. F r i b o u rg : E d . U n i v e r s i -

ta i res , 1981 .8 8 ACTAS DO 111 CONGRESSO INTERNACIONAL DOS MÉDICOS CATÓ-LICOS EM LISBOA (PORTUG AL). A cç ão M éd ica . 1 9 4 7 , 1 2 (4 5 a 4 8 ) .

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A n í ve l dos m em br os da ACP, ve r i f i c a - se um c r e scendo con t í naté 1956. Os dados d isponíveis revelam que ent re 1940 e 1956, o m er o d e a s soc i a dos dup l i cou , u l t r apa ssan do a cen t ena de m i l ha r 8 9.Em 1959 , da ta das ce le bra çõ es do X X V an iver sá r io , ve r i f i c a - s e j á l ige i r a quebra dos seus e fec t ivos , con tando 94 885 assoc iados . ou t ro lado , a ob ser va ção dos núm ero s d i spo n íve i s r eve la t am bém dcons tan tes s ign i f i ca t ivas : a maior ia dos assoc iados da ACP são sexo f em i n i no — co ns t an t e a f i na l do ca t o l i c i sm o po r t uguês con tporâneo , quando se t r a t a de ava l i a r o envo lv imento pessoa l dos cl icos na v ida da Igre ja ; em segundo lugar, as organizações juv en i s sãoaque las que con tam maior número de assoc iados , pa ra o per íore fe r ido . A aná l i se da evo lução da curva dos assoc iados , da sua t r ibu içã o pe las vár i as d ioc eses do pa í s , a ss im com o dos ind icad oreadesão por g rupos ( segundo os c r i t é r ios e t á r ios , de sexo e p rof i ssnecess i t a se r r ea l i zada de modo s i s t emát ico .

No en ta n to , a pa r dos nú m ero s , há que r e fe r i r um a m uda nça ql i t a t iva na def in ição de per t ença à Ig re ja ca tó l i ca . Conjugadamecom o bap t i smo e a par t i c ipação mais ou menos r egu la r na v ida c r am en t a l da I g r e j a ( com a co r r e spo nde n t e poss i b i l i dade de qut i f i cação de missa l i zan tes ou de ce lebração de mat r imónios ca tó l ien t r e ou t ros ind icad ore s) a Ac çã o Ca tó l i ca con t r ib u iu para impoassoc ia t iv i smo sóc io - re l ig ioso como um novo c r i t é r io na ava l i açãon íve i s de iden t i f i cação e per t ença r e la t ivamente à Ig re ja ca tó l i ca 9 0.Por ou t ro l ado , a es t ru tu ra o rga n iz a t iv a , a s m etod o lo g ia s de t r abadese n v o l v i d as e a d i nâm i ca pa r t i c i pa t i va ge r ada pe l a Ac ção Cal ica , con t r i b u í r am d ec i s i vam en t e pa r a o apa r ec i m en t o de um nt ipo de cr i s tão: o militante católico.

5 . P r i n c i p a i s e t a p a s n a v i d a d a A C P

Num a pe r sp ec t i va g l oba l de de senvo l v i m en t o , podem co ns ir a r- se qua t ro g ran des e tapas na h i s tó r i a da A CP . A pr im ei ra

8 , 1 O s d a d o s a q u i r e f e r i d o s e n c o n t r a m - s e n a s e d i ç õ e s d o Anuário Católico dePortugal ( an o s d e 1 9 3 1 , 1 9 3 3 , 1 9 4 1 , 1 9 4 7 , 1 9 5 3 e 1 9 5 7 ) e f o r am co m p i l ad o s R E Z O L A , I n á c i a , op. cit., p . 2 3 8 . Pa r a o an o ju b i l a r d e 1 9 5 9 , ex i s t e u m ex c e le n tee s t u d o d e FA L C Ã O , M . F. — Expansão da A. C. Portuguesa nas diversas diocesese sectores sociais. Bo le t im d e In fo rm aç ão Pa s to r a l , 1 9 5 9 , 1 ( 5 ) , p . 1 6 -2 2 .

C f . A N T U N E S , M . L . M a r i n h o — Notas sobre a organização e meios deintervenção da Igreja católica em Portugal: 1950-80. An á l i se So c ia l . 1 9 8 2 , 7 2 -7 4 ,p . 1 4 1 -11 6 4 .

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cor re da fundação à r ea l i zação da I Decena l da Acção Ca tó l i ca , em1944 , e co r r e spo nde ao l an çam en t o e i m p l an t aç ão da nova o rgan i -

zação de apos t o l ado 9 1. A f o r m ação do cristão integral é a r e f e rê nc iacen t ra l no p ro jec to de c r i s t i an ização da f amí l i a 9 2, da prof issão e dav ida púb l i ca . A n íve l dou t r ina l , e s t a e t apa é marcada pe la conde-nação do to ta l i t a r i smo, pe la a f i rmação de uma v i são c r i s t ã do cor-po r a t i v i sm o e pe l a p r ocu r a de um a nova o r d em soc i a l , no m e ada -mente pe la p reparação da paz .

A segu nda e tap a , qu e en tão se in ic ia , cu lm ina com a ce leb raç ão doXXV an i ve r sá r i o da ACP, em 1958 / 1959 9 3. Do ponto de v is ta da dou-t r ina soc ia l , co loca- se a tón ica na necess idade de r e fo rma das ins t i -tu ições e p r om ov em -se in ic ia t iva s (os inq uér i tos , os co ng res sos , a ssem anas de e s t udo ) com g r ande r epe r cussão na soc i edade . P a r a l e -l am ent e , do pon to de v i s t a o rg an iza t iv o , aum enta a im po r tân c ia dop r i nc í p i o de e spec i a l i z ação segundo o m e i o soc i a l9 4 . Os impasses do

A p a r d a o b r a d e M o n s . Av e l i n o G o n ç a l v e s , j á r e f e r i d a , c f . p u b l i c a ç õ e s d aP R I M E I R A D E C E N A L D A A C Ç Ã O C A T Ó L I C A P O R T U G U E S A : v o l. I - CristãoIntegral. Co im b ra : 1 9 4 6 ; v o l . I I - Apóstolos dos nossos dias. Co im b ra : 1 9 4 6 ; v o l . I I I- Os problemas sociais à luz da fé. C o i m b r a : C a s a d o C a s t e l o E d . , 1 9 5 2 .

n N o d o m í n i o d a f a m í l i a , r e f i r a - s e o p l a n o d e d e f e s a d a f a m í l i a e m 1 9 3 6 , q u el e v o u à f u n d a ç ã o d a Associação dos Chefes de Família e à Campanha da Família, n oa n o s o c i a l d e 1 9 3 8 - 1 9 3 9 , q u e m o b i l i z o u n u m e r o s o s m e i o s e i m p l i c o u d i v e r s a s r e a -l i zaçõ es em to d o o p a í s .

C f . Carta pastoral do Episcopado Português e Mensagem do Papa. E s t u -d o s , 1 95 9 , 3 7 3 e 3 7 6 , p . 3 - 1 2 e 1 9 5 - 1 9 6 ; S E M A N A N A C I O N A L D E E S T U D O S D AA C Ç Ã O C AT Ó L IC A P O R T U G U E S A — Esquem as das sessões parciais e elementosbibliográficos. L i sb o a : Tip . U n i ão G rá f i ca , s . d . ; ID . — XXV Aniversário da ACP.Resultados dos inquéritos (apuramento provisório). Ca sca i s : Tip . Ca rd i m , s . d . Dab i b l i o g r a f i a d i s p o n í v e l , r e g i s t e - s e : G O M E S , J o a q u i m F e r r e i r a — op. cit.-, 2 5 A N O S

D A A C Ç Ã O C A T Ó L I C A P O R T U G U E S A . N ú m e r o e s p e c ia l d a R e v i s t a NovellaeOlivarum. 195 9 , 16 (16 3) .9 4 A e s t e p r o p ó s i t o , r e g i s t e - s e a o p i n i ã o a u t o r i z a d a d o e n t ã o P e. M a n u e l F r a n -

c o F a l c ã o , n u m a r t i g o d e 1 9 6 0 : « É p a r t i c u l a r m e n t e d i f í c i l d e c o m p r e e n d e r t o d o os e n t i d o e i m p o r t â n c i a d o a p o s t o l a d o d o m e i o , e s p e c í f i c o d a A . C . e s p e c i a l i z a d a . S óp o d e r á se r c o m p r e e n d i d a n a m e d i d a e m q u e s e t i v e r n o ç ã o e x a c t a da p r e o c u p a ç ã od o m i n a n t e d a I g r e j a n e s t e m o m e n t o h i s t ó r i c o e m q u e u m m u n d o n o v o e s t á a s u rg i r :a d e e s t a r p r e s e n t e a o r á p i d o e v o l u i r d a s v e l h a s i n s t i t u i ç õ e s s o c i a i s o u d o a p a r e c i -m e n t o d e n o v a s , p a r a q u e a c i v i l i z a ç ã o f u t u r a v e n h a a e s t r u t u r a r - s e e m m o l d e sc r i s t ã o s ; e s s a p r e s e n ç a r e a l i z a - a a I g r e j a p r i n c i p a l m e n t e p e l a A . C . e s p e c i a l i z a d a , aq u e m c o n f i o u o d i f í c i l e n c a rg o d e t r a n s f o r m a r n u m s e n t i d o c r i s t ã o a m e n t a l i d a d ec o l e c t i v a d o s d i v e r s o s m e i o s , d e c r i s t i a n i z a r a s e s t r u t u r a s e a s i n f l u ê n c i a s e d ef o r m a r l e i g o s q u e v e n h a m a a n u n c i a r , c o m p l e n a c o n s c i ê n c i a d a s s u a s r e s p o n -

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ca to l i c i smo soc ia l r eve lam-se na c rescen te t ensão e conf l i tos quever i f i cam en t re ce r tos sec to res ca tó l i cos e o r eg ime po l í t i co v ige

v i s íve l a pa r t i r de meados da década de c inquen ta 9 5.As ce l eb r açõ es do j ub i l eu pe r m i t i r am ex p r e s sa r a l gum as d

p r eocupações que v i nham em erg i ndo no i n t e r i o r do ca t o l i c i spo r t ugu ês : « o m agno p r ob l em a da evange l i zação da Áf r i ca» e , cc re tamente , a s i tuação do Ul t r amar por tuguês é ob jec to de um s im pó s ios que se r ea l i zam du ran te a a Se m an a N ac io na l de E s tudo ou t ro é ded icado ao t ema «O apos to lado da Ig re ja na per spec t ivevo l ução da soc i edade po r t uguesa» . As conc l u sões do even t o r et am a l gum as des sa s evo l uções e suas consequênc i a s pa r a o s d i ve r

sec t o r e s da o rgan i zação 9 6: a s mudanças nos p rocessos fo rmat ivos daj uven t ude que d e i xa r am de se r i n f l uenc i ados exc l u s i vam en t e pees t ru tu ra s t r ad ic iona i s ( f am í l i a e esc o la ) ; a nec ess ida de u rgen tepre pa raç ão para um a pres enç a e ac tua çã o c r i s t ã da m ulhe r no m ua im por tân c ia da ac t iv idad e p rof i ss io na l e a ne ce ss id ad e de um a

s a b i l i d a d e s c r i s t ã s , o s m a i s d i v e r s o s e n c a rg o s d a v i d a p ú b l i c a ( . . . ) . F a z ê - l o cp r e e n d e r é d o s m a i s d i f í c e i s p r o b l e m a s q u e a A . C . d e v e p r o c u r a r r e s o l v e r. » (P r o -blemas actuais da Acção Católica Portuguesa. B o l e t i m d e I n f o r m a ç ã o P a s t o r a l .1960 , 2 (7 ) , p . 12-1 3) .

9 5 A e v o l u ç ã o q u e e n t ã o s e v e r i f i c a g a n h a e x p r e s s ã o p ú b l i c a n a s t o m a d a sp o s i ç ã o d e d e s t a c a d o s m i l i t a n t e s c a t ó l i c o s , e n t r e o s q u a i s d i r i g e n t e s o u e x - d i r i gd a A .C.P. , em to rn o d as e l e i çõ es l eg i s l a t iv a s d e 1 9 5 7 e p r e s id en c ia i s d e 1 9 5 8 . Om e i r o d o c u m e n t o , d a t a d o d e 1 9 5 9 , é u m a c a r ta s u b s c r i t a p o r 2 8 c a t ó l i c o s , i n c l ud i r ig en te s d a JOC e d a JUC, d i r ig id a ao d i á r io ca tó l i co Novidades, p r o t e s t a n d o c o n t r aa p a r c i a l i d a d e d o j o r n a l e m f a c e d a s e l e i ç õ e s p r e s i d e n c i a i s . E m F e v e r e i r o d e 1j á d e p o i s d a f a m o s a c a r t a d o b i s p o d o P o r to , s u rg e n o v o d o c u m e n t o d e c a r á c t e r d o u t r in a l , su b sc r i to p o r 4 3 ca tó l i co s so b re « As r e l açõ es en t r e a I g r e j a e o Es t aa l i b e rd a d e d o s ca t ó l i c o s» , a p ro p ó s i to d a acu saç ão q u e Sa laz a r f i ze r a à I g r e j a d

r o m p i d o a « f r e n t e n a c i o n a l » . E m 1 d e M a r ç o d e 1 9 5 9 s u rg e n o v o d o c u m e n t o , v ez , n u m a « C ar t a a Sa l aza r so b re o s se rv iço s d e r ep re ss ão d o r eg im e» , su b sc r i t a4 5 « c i d a d ã o s c r i s t ã o s » . ( D o c u m e n t o s c o l i g i d o s i n A L V E S , J o s é d a F e l i c i d a d e e A p r e s e n t a ç ã o ) — Católicos e política: De Hum berto Delgado a Marcelo Caetano2 .* ed içã o . L i sbo a : Tip . Lea nd ro , s. d . ) .

S o b r e e s t a q u e s t ã o , M . B r a g a d a C r u z r e f e r e o d e s e n v o l v i m e n t o d e u« l i n h a c a t ó l i c o - d e m o c r á t i c a » d e o p o s i ç ã o a o s a l a z a r i s m o , e m q u e i n c l u i o s cl i co s so c ia i s d o s an o s 5 0 : « In ic i a lm en te m a i s democratas-cristãos, a c a b a r i a mp o r é m p o r p r e v a l e c e r n e s t e s e c t o r , n o s f i n a i s d o r e g i m e , a s p e r s p e c t i v a s s o c itas .» ( In Monárquicos e Republicanos no Estado Novo . L i s b o a : P u b . D . Q u i x o t e ,1 9 8 6 , p . 1 7 7 -1 8 0 ) .

9 6 D eclaração final da Semana Nacional de Estudos. A c ç ã o C a t ó l i c a P o r -t u g u e s a . B o l e t i m O f i c i a l . 1 9 5 9 , 2 9 8 , p. 3 1 8 - 3 2 0 .

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ção c r i s t i an i zado r a dos cen t r o s de i n f l uênc i a da soc i edade ; o r eco -nhec imento do pape l r e l evan te que os t empos l iv res t êm na r ea l i zação

da pes soa e que o s m o de r n os m e i os de co m un i ca çã o soc ia l d e sem -penham na v i da soc i a l , ap r e sen t ados com o desa f i o s à e l abo r ação ed i fu sã o de um a cu l t u ra c r i s t ã .

A t e rce i r a e t apa decor re sob o s igno da p reparação e r ea l i zaçãodo Conc í l i o Va t i can o I I , num con t ex t o de p r o f unda m u t ação r e l i -g i o sa . O b l o qu ea m en t o da ev o l uç ão po l í ti c a na soc i e dad e po r t u gue saco n t r i bu i u pa r a d i f i cu l t a r a r ed e f i n i ç ão da AC P, condu z i nd o p r o -gress ivamente a nova rup tu ra no p ro jec to de un ião dos ca tó l i cos . Ast ensões e con f l i t o s , qu e se ve r i f i c a vam i n t e r n am en t e , ga nha r am ex -

p r e s sã o púb l i ca , ve r i f i c a nd o - se a p r eva l ênc i a da co m pon en t e nac i o -na l i s t a d o ca t o l i c i sm o po r t uguês .

A h i s tó r i a de D. Antón io Fer re i r a Gomes , b i spo do Por to , é em-b lemát ica de vár ios pon tos de v i s t a : em pr imei ro lugar, a sua r e f l e -x ã o e p o s i c i o n a m e n t o p o l í t ic o — e x p r e s s o n o m e a d a m e n t e n u m acar ta a Salazar a 13 de Julho de 1958 9 7 — , f o r a m d e s e n v o l v i d o s n asua con d i çã o de m em br o da h i e r a r qu i a ca t ó l ic a e a l i c e r çav am - se que rna dou t r ina soc ia l da Ig re ja qu er no seu t r ab a lho pas to ra l ; em seg un dolugar, a sua in ic ia t iva não era um acto i so lado, mas deve ser conside-rada co m o a ex pre ssã o púb l i c a de ce r t a co r ren te do ca to l i c i sm osoc i a l que gen e r i c am en t e pode se r de s i gn ada de dem ocr a t a - c r i s t ã ; po rú l t im o , o jog o de acç õe s e om issõ es que se es tab e lec eu no in te r io r daIgr e ja re l a t i va m en te à s i tu aç ão de ex í l io a qu e o b isp o do Po r to se v iuf o r çado , ev i denc i a a s f r ag i l i d ades de s sa m esm a co r r en t e e o pe so daco m ponen t e nac i ona l i s t a no i n t e r i o r do ca t o l i c i sm o po r t uguês 9 8. Parae s sa evo l uçã o te r á con t r i bu í d o dec i s i va m en t e o ec l od i r da gue r r aco l on i a l em Af r i ca .

Por ou t ro l ado , a d iver s i f i cação de fo rmas e o rgan izações de apos-to lado dos l e igos é v i s íve l no aparec imento de novas assoc iações ca -tó l i cas em Por tuga l : os Curs i lhos de Cr i s t andade , o Graa l , o Movi -m en t o po r um Mundo Me l ho r ou o s m ov i m en t os de ca sa i s , s ãoe x e m p l o d i s s o m e s m o . C o m p l e m e n t a r m e n t e , v e r i f i c a - s e a a f i r m a -

C i t . i n A LV ES , J . d a Fe l i c id a d e — op. cit., p . 3 1 - 6 4 .9 8 A h i s t ó r i a d e to d o o p ro ces so n ão fo i a in d a e sc r i t a , p e l o q u e t e r em o s q u e n o s

a t e r a o s t e s t e m u n h o s p e s s o a i s e à v i s ã o g e r a l d a é p o c a . D . A n t ó n i o F e r r e i r a G o m e sn a r r o u a v e r s ã o p e s s o a l d o s a c o n t e c i m e n t o s n a s u a ú l t i m a o b r a : Cartas ao Papa.P o r t o : F i g u e i r i n h a s , [ 1 9 8 7 ] , p . 2 0 3 - 2 1 6 .

9 9 C f . S E C R E T A R I A D O N A C I O N A L D O A P O S T O L A D O D O S L E I G O S —

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ção e au ton om ia de in ic ia t iva de ca tó l i c os que , ind iv id ua lm en tnessa cond ição , tom am pos içã o púb l i ca e in te rv êm nos ma is var i a

cam pos da soc i edade , o rgan i zando e p r om ovendo i n i c i a t i va s : o Ct ro de Cul tu ra Operá r io (1963) , a pub l i cação da r ev i s t a O Tempo e oModo ( 1963 ) , o l ançam en t o da P r ag m a - Co ope r a t i va de D i f u são Ctura l e Acção Comuni tá r i a (1964) são expressões dessa mudançaa t i tude . En t re as pos ições púb l i cas , r eg i s t em-se duas : o p ro tes tocerca de duas cen tenas de in te lec tua i s ca tó l i cos e mi l i t an tes da ACa tó l i ca con t ra a a t i tude de Sa laz ar r e l a t iv am en te à v iag em de PVI a Bo m ba im , em 1964 l 0° ; ou a ind a na m esm a oca siã o , a Ca r ta d i r i -g ida à Conferênc ia dos b i spos por tugueses , subscr i t a por 97 d

gen tes e ex-d i r igen tes da ACP, em Jane i ro de 1965 1 0 1.A quar ta e ú l t im a e tapa in ic ia - se em 1965 e co r res po nd e à r e

f in ição do pape l da ACP, que es teve na o r igem e ap l i cação dos noPr inc íp ios Gera i s de 1971 . A a tenção à r ea l idade soc ia l — apo ina nova teologia dos «sinais dos tempos» e nos cr i tér ios de le i tp ropos tos pe lo magis té r io pon t i f í c io de João XXII I e Pau lo VIt r aduz- se na aná l i se c r í t i ca , necessa r i amente mais «po l i t i zada» ,soc i e dad e po r t ug uesa . A r e f l ex ão sob r e o sen t i do da so l i da r i eda deape lo a um a «re fo rm a da soc ieda de» , a p ro pó s i to da «gr ave s i tuacr i ada pe lo g rande t em pora l que asso lou a r eg ião de L i sb oa» , 1967 , cons t i tu i um bom exemplo 1 0 2.

P o r ou t r o l ado , o ap r o f undam en t o da r e f l exão t eo l óg i ca e s t i mlou a d i f e renc iação de n íve i s de in te rvenção da Ig re ja e dos ca tó lna soc iedade , conduz indo à va lo r i zação da ide ia de c idadan ia p rogress iva ace i t ação do p lu ra l i smo no in te r io r do ca to l i c i smopub l i cação da Carta pastoral no décimo aniversário da «Pacem inTerris», pe l a Co n f e r ên c i a E p i scop a l , em 1973 l 0 \ conf i rma essaevo l ução .

Duran te es te per íodo ev idenc ia - se , mai s uma vez , a impor tânque a d inâmica in te rnac iona l da Ig re ja t eve na r ecompos ição

Perfil dos movim entos e obras d o apostolado dos leigos em Portugal. C a s c a i s :Ti p . C a r d i m , s . d . C o l e c ç ã o « S e p a r a t a s L a y k o s » , I .

1 0 , 1 C f . C E R Q U E I R A , S i l a s — op. cit., p . 4 8 9 .1 0 1 I n A LV E S , J . d a F e l i c i d a d e — op. cit., p . 2 8 7 -2 9 7 .1 0 2 I n Bo le t im Acção Católica Portuguesa. 1968 , 36 8 . p . 66 -6 9 .» C O N F E R Ê N C I A E P I S C O PA L D A M E T R Ó P O L E — Carta pastoral no

décimo aniversário da «Pacem in Terris». L i s b o a : E d . d o S e c r e t a r i a d o G e r a l d oEp i sco p ad o , M a io d e 1 9 7 3 .

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ca t o l i c i sm o , t an t o no que se r e f e r e à p r o b l em á t i ca m i s s i oná r i a , qua n t ono que se p rende com o en tend imento do lugar dos l e igos e o pape l da

Acção Ca tó l i ca , em gera l . A t í tu lo de exemplo , r eg i s t e - se o impac toque as r e f l exões do I I I Congresso Mundia l pa ra o Apos to lado dosLeigos (1967) t ive ram nos d iver sos sec to res da op in ião púb l i ca ca tó -l i ca , ge ran do a po lém ica púb l i ca da Jun ta Cen t ra l da A C P com oj o r n a l Novidades e com o r esp on sáv e l por um pro gra m a re l ig ioso naEmissora Nac iona l , o Pe . Vide i r a P i r es 1 0 4.

A desag r egação da ACP com o co r po o rgân i co , em 1974 , exp l i ca -- se não t an to pe lo novo quadro po l í t i co , quan to pe la imposs ib i l idaded e r e f o r m u l a ç ã o d a Acção Católica Portuguesa num con t ex t o r e l i -

g ioso e quadro pas to ra l d iver so daque le que lhe dera o r igem. Nasc idasob o s igno da «un ião» ca tó l i ca , a ACP não sobrev ive ao p lu ra l i smore l ig ioso , cu l tu ra l e po l í t i co da soc iedade por tuguesa que e la a judaraa f o r j a r. Desde en t ão con t i n ua r am a ex i s t i r organismos ou movimen-tos ca t ó l i co s na t r ad i ção da A cçã o Ca t ó l i ca , m as o pa r a d i gm a apos -tó l i co que e la consubs tanc iou , esse perdura apenas pe la h i s tó r i a l 0 5.

A l g u m a s c o n c l u s õ e s

Ret om ando i de i a s de senvo l v i das ou suge r i da s ao l ongo do t r a -ba lho , cab e aqu i , em je i to de co nc lus ão , apres en ta r a lgum as h ipó-teses in te rp re ta t ivas r e la t ivas ao pape l da ACP na evo lução do ca to -l i c is m o c o n t e m p o r â n e o . E s q u e m a t i c a m e n t e , e n u n c i a m o - l a s s e g u n d ose t e a f i r m ações :

I o ) a h i s tó r i a da A CP , par t e in te gra n te do «m ov im en to ca tó l i co» ,é r eve ladora da evo lução e a jus te do p ro jec to pas to ra l da Ig re ja na suaes t r a t ég i a de « r econqu i s t a c r i s t ã» da soc i edade m ode r na , a s s i m com oum dos p r inc ipa i s pó los de t ensão nessa r e lação ;

1 0 4 C f . B o l e t i m Acção Católica Portuguesa. 1 9 6 8 , 3 6 8 , p . 4 4 -6 3 e 7 0 - 7 7 .1 0 5 E m A b r i l d e 1 9 7 8 , e m r e u n i ã o d a C o n f e r ê n c i a E p i s c o p a l P o r t u g u e s a , o s

b i s p o s a p e n a s r e c o n h e c e r a m , c o m o A c ç ã o C a t ó l i c a , o s s e g u i n t e s m o v i m e n t o s :J U C — J u v e n t u d e U n i v e r s i t á r i a C a t ó l i c a ; L U C — L i g a U n i v e r s i t á r i a C a t ó l i c a ;M E C — M o v i m e n t o d o s E d u c a d o r e s C a t ó l i c o s . À J O C f o i n e g a d a a p o s s i b i l i d a d e d eu t i l i z a r t a l d e s i g n a ç ã o e p a r a o s o u t r o s m o v i m e n t o s e x i s t e n t e s ( J A C , J E C e L O C )f o i e s t a b e l e c i d o n o v o p e r í o d o d e d i á l o g o , d a d o s e c o n s i d e r a r q u e o s s e u s e s t a t u t o s

e p r á t i c a n ã o c o r r e s p o n d i a m i n t e g r a l m e n t e a o s r e q u i s i to s f i x a d o s p e l a C o n f e r ê n c i aE p i s c o p a l .

7/25/2019 A ACÇÃO CATÓLICA PORTUGUESA (1933-1974) E A PRESENÇA DA IGREJA NA SOCIEDADE - PAULO FONTES

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2° ) s imul taneamente , pe lo lugar cen t ra l que ocupou na acpas t o r a l , a A C P f un c i on ou com o age n t e e ca t a l i s ado r de m u dan ça

se io da Ig re ja ca tó l i ca , to rnando-se em ob jec to de conf l i tuos idin te rna ao ca to l i c i smo;

3 o ) nes te p roce sso , a A C P é ex pre ssã o da em erg ên c ia nã o da jin ic ia t iva dos l e igos , mas do moderno «apos to lado dos l e igos» , sum a das suas p r i nc i pa i s f o r m as de conc r e t i z ação a t é ao ConcVat icano I I ;

4 o ) a d i v e r s i f i c aç ão na d i nâ m i ca do ap os t o l ado l a i ca l e a csequen t e r e f l exão t eo l óg i ca — v i s í ve l na m udança concep t ua l q

passagem t e r m i no l óg i ca de « f i e l » a « l e i go» ev i denc i a — aca r rd i f i cu l dades e r eno vadas t en sões , nom eadam en t e no que se r e f eco m pr e ens ão da t eo l og i a do «m and a t o» ;

5 o ) ao p r ocu r a r com ba t e r m u i t a s da s r ea l i z ações e concepçõesm und o m ode r no , a A CP con t r i bu i u pa r a dox a l , m a s i ne xo r ave l mpa r a po t enc i a r novas d i nâm i cas e com por t am en t os no i n t e r i o rc a t o l i c i s m o , f u n c i o n a n d o c o m o in s t â n c i a d e aggiornamento da Igre-j a em Por tuga l ;

6 o ) ao a f i rmar «a acção» como uma das p r inc ipa i s mediações a p r e sença evange l i zado r a da I g r e j a no p r ocesso de secu l a r i zaçãcur so na soc iedade , a ACP con t r ibu iu para r ecupera r e va lo r i za r t ivamente , no in te r io r do ca to l i c i smo, ce r t as fo rmas de l a i c idade

7 o ) pe l o t r aba l h o desenvo l v i do , a ACP f om en t ou o apa r ec i m ede uma nova d inâmica assoc ia t iva no in te r io r do ca to l i c i smo e , tpe la in ic ia t iva ins t i tuc iona l quan to pe lo envo lv imento pessoa l s eus m em br os , con t r i bu i u pa r a a génese de a l guns dos «m o v i m es o c i a i s » c o n t e m p o r â n e o s .

Para uma ava l i ação da Acção Católica Portuguesa e um a aná l i seh i s tó r i ca do seu pape l , u rge es tudar de ta lhadamente as mudançasua o rgân ica ; es t abe lecer as curvas de evo lução dos seus e fec t ia l a rga r a c r on o l og i a dos even t o s que p r o t ag on i z ou ; de t e r m i n a r,s u c e s s i v a s c o n j u n t u r a s , o m o d o c o m o m a r c o u a c o n t e c i m e n t oin f luenc iou a v ida da Ig re ja e a r e l ação des ta com a soc iedadegera l . Mas a inda ass im es ta remos den t ro de um quadro ins t i tuc inecessa r i am en t e r edu t o r.

Pe la na tu reza e t ipo de t r aba lho desenvo lv ido , a ACP fo i uverdade i ra esco la de pensamento e acção de novas é l i t e s ca tó l i

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l e igos e ec le s iás t i c os , jo ve ns e adu l tos , hom en s e m ulh er es de d ive r so sm e i os sóc i o - p r o f i s s i on a i s , ne l a s e i n i c i a r a m na «m i l i t ânc i a ca t ó l i c a»

ao l on go de sucess i va s ge r ações . P e l a pe r spec t i va de « f o r m açãoi n t eg r a l » dos seus m em br os , pe l a r enovada d i nâm i ca de i n t e r acção daIgre ja com «o mundo» , pe las suas p ropos tas nos var i ados campos deorgan ização da v ida , a Acção Ca tó l i ca fo i uma fo rça soc ia l incon tes -t áve l e as suas in ic ia t ivas t ive ram impac to para a lém das suas f ron-te i r as . Pe lo sua cen t ra l idade na es t ru tu ra da Ig re ja , e s t a o rgan izaçãodo apo s t o l ad o f un c i o no u co m o l abo r a t ó r i o de i no vaç ão ec l e s i a l ,no m ea da m en te aos n íve i s t eo ló g ico , l i tú rg ic o e pas to ra l . Pe la su ad i nâ m i c a , a Ac ção Ca t ó l i ca p r epa r o u m u i t a s da s r e f l ex ões e an t ec i po u

a l gum as das p r opos t a s do Co nc í l i o E cum én i co Va t i cano I I .E se a ide ia de «cr i se» a t r av esso u e ac om pa nh ou a A C P pra t i -

ca m en t e de sde o s s eus p r i m ór d i o s , f o i po r que m u i t o te r á c on t r i bu í d opa r a e s sa r enov ada co m pr e en são e r e l açã o da I g r e j a com o m und om ode r no . A h i s t ó r i a da s r ea l i z ações , d i f i cu l dades e i m passe s daAcção Católica Portuguesa é , em m ui to , a h is tór ia da Ig re ja em Po r-tuga l e ex pre ssa , em cer t a m ed ida , a h i s tó r i a dos ava nço s e im pa sse sda soc iedade por tuguesa ao longo do meio sécu lo da sua ex i s t ênc ia .

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V n

a

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QUIAL

DA

ACÇÃO CAT

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E r r a t a

das notas das págs. 68 e 69:

- Deve sup r i m i r - se o núm er o 2 7 , devendo o t ex to emcausa en tender- se como con t inuação da no ta 26 .

-Onde se lê nota 2 8 deve passar e ler-se nota 27.

- Deve ac r e scen t a r - se a no t a 28 : C f . APOSTOLADOdos leigos e acção católica, L i sb oa : Lo gos . p . 79-8 4 .