a 36 do não esclarece dúvidas e a proposta de cpi ganha força · bradesco, o banco estatal...

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A noticia Ban Curitiba, 22 de março a 4 de abril de 1997 Ano II N a 36 do não esclarece dúvidas e a proposta de CPI ganha força NãO à PRIVATIZAçãO A sessão secreta realizada pela Assembléia Legislativa na última quinta-feira, 20 de março, entre os deputados estaduais, dire- tores do Banestado e o secre- tário da Fazenda, Miguel Salo- mão, teve como resultado o aumento das suspeitas em tomo das operações do banco e o fortalecimento da proposta de CPI-Comissão Parlamentar de Inquérito, feita por deputados do PT e do PMDB. O secretário de Estado e os diretores do Banes- tado não conseguiram esclarecer as dúvidas que pairam sobre a compra de títulos públicos pelo Banestado, bem como sobre a emissão de debêntures. Os deputados da oposição, entre os quais se destacaram Ângelo Vanhoni e Florisvaldo Fier (PT) e Caíto Quintana e Orlando Pessuti (PMDB), deram o tom na sessão, encurralando segui- damente os diretores do Banes- tado e o secretário. Enquanto isso, a bancada da situação não conseguiu articular uma defesa consistente do governo. O de- senvolvimento da sessão secreta. aliado aos novos fatos apurados pela CPI do Senado Federal (que incluem gravação de conversas telefônicas entre corretores e representantes do governo esta- dual), podem levar deputados hoje indecisos a subscrever o requerimento para a instauração de uma CPI na Assembléia Legislativa. Em São Paulo, o prefeito Celso Pitta está politicamente paralisado pelas revelações da CPI do Senado, que apontam o envolvimento, além de diversos assessores, de sua própria esposa. Página 4 Multi não paga horas- extras e é processada O Movimento Reage Brasil, que luta contra a privatização da Vale do Rio Doce, realizou na Assembléia Legislativa ato público com a presença de senadores, deputados, vereadores, sindicalistas e militares. Página 4 A multinacional Peròxi- dos do Brasil Ltda., pertencente ao grupo belga Solwey, está sendo pro- cessada na Justiça do Trabalho do Paraná por não pagar horas- extras e adulterar o cartão- ponto de seus funcionários. O ex-funcionário Roque Aloísio Kessler, que trabalhou na empresa por mais de oito anos, gravou uma conversa telefônica com o gerente administrativo da Peróxidos, cuja transcrição a Folha Popular publica. Na gravação, o gerente reconhece os direitos de Kessler. Página 2 Fecha ou não fechai WQAR ATENPIMENTO ^ ft PRIVATIZAÇÃO. . itw i&Ftftt -w Atlético Total, rumo ao ano 2000 Bairro denuncia violência policial O Atlético Paranaense está realizando uma campanha para atrair seus torcedores, captar re- cursos, reformar o estádio da Baixada e chegar ao ano 2000 como uma das grandes forças do futebol brasileiro. O Cam- peonato Paranaense chega á sua fase final, com oito times deci- dindo o título de 97. Enquanto isso, 13 equipes disputam o "Torneio da Morte". Página 8 Encarceradas rejeitam piedade Manifesto distribuído por dez organizações populares em vários bairros da região Sul de Curitiba está denunciando a violência cometida por soldados da Polícia Militar na desocupação da área da Vila Osternak, no final de fevereiro. O manifesto também exige respostas das autoridades para o problema da moradia. Pesquisa realizada pelo IPPUC-Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba mostra que a violência aumenta a cada dia na capital paranaense. Página 6 Em crise, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná esteve para fechar o Pronto Atendimento, proposta defendida pela direção do Hospital, mas contestada por funcionários e pela Reitoria. Página 5 A Penitenciária Feminina de Curitiba, em Pira- quara (município da Re- gião Metropolitana), não apre- senta problemas tão graves qua^ío os que ocorrem freqüen- temente em presídios masculinos, no Paraná e demais estados do Brasil. As mais de 100 mulheres encarceradas trabalham, estu- dam, cuidam de seus filhos peque- nos. Mas querem ser tratadas com consideração e exigem respeito da sociedade. Página 5 FESTIVAL DE TEATRO A atriz Carla Candiotto está no elenco de U Fabuliô, peça em cartaz neste final de semana no 6 o Festival de Teatro de Curitiba. Leia sobre as apresentações do Festival, seus destaques e pontos negativos. Página 7

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Page 1: a 36 do não esclarece dúvidas e a proposta de CPI ganha força · Bradesco, o banco estatal paranaense foi o que negociou o maior montante de títulos atualmente sob investigação

A noticia

Ban Curitiba, 22 de março a 4 de abril de 1997 ♦ Ano II ♦Na 36

do não esclarece dúvidas e a proposta de CPI ganha força

NãO à PRIVATIZAçãO A sessão secreta realizada pela Assembléia Legislativa na última

quinta-feira, 20 de março, entre os deputados estaduais, dire- tores do Banestado e o secre- tário da Fazenda, Miguel Salo- mão, teve como resultado o aumento das suspeitas em tomo das operações do banco e o fortalecimento da proposta de CPI-Comissão Parlamentar de Inquérito, feita por deputados do PT e do PMDB. O secretário de Estado e os diretores do Banes- tado não conseguiram esclarecer

as dúvidas que pairam sobre a compra de títulos públicos pelo Banestado, bem como sobre a emissão de debêntures. Os deputados da oposição, entre os quais se destacaram Ângelo Vanhoni e Florisvaldo Fier (PT) e Caíto Quintana e Orlando Pessuti (PMDB), deram o tom na sessão, encurralando segui- damente os diretores do Banes- tado e o secretário. Enquanto isso, a bancada da situação não conseguiu articular uma defesa consistente do governo. O de- senvolvimento da sessão secreta.

aliado aos novos fatos apurados pela CPI do Senado Federal (que incluem gravação de conversas telefônicas entre corretores e representantes do governo esta- dual), podem levar deputados hoje indecisos a subscrever o requerimento para a instauração de uma CPI na Assembléia Legislativa. Em São Paulo, o prefeito Celso Pitta está politicamente paralisado pelas revelações da CPI do Senado, que apontam o envolvimento, além de diversos assessores, de sua própria esposa. Página 4

Multi não paga horas- extras e é processada

O Movimento Reage Brasil, que luta contra a privatização da Vale do Rio Doce, realizou na Assembléia Legislativa ato público com a presença de senadores,

deputados, vereadores, sindicalistas e militares. Página 4

A multinacional Peròxi- dos do Brasil Ltda., pertencente ao grupo

belga Solwey, está sendo pro- cessada na Justiça do Trabalho do Paraná por não pagar horas-

extras e adulterar o cartão- ponto de seus funcionários. O ex-funcionário Roque Aloísio Kessler, que trabalhou na empresa por mais de oito anos, gravou uma conversa telefônica

com o gerente administrativo da Peróxidos, cuja transcrição a Folha Popular publica. Na gravação, o gerente reconhece os direitos de Kessler.

Página 2

Fecha ou não fechai

WQAR ATENPIMENTO ^ ft PRIVATIZAÇÃO. . itw i&Ftftt -w

Atlético Total, rumo ao ano 2000

Bairro denuncia violência policial

O Atlético Paranaense está realizando uma campanha para atrair

seus torcedores, captar re- cursos, reformar o estádio da Baixada e chegar ao ano 2000 como uma das grandes forças

do futebol brasileiro. O Cam- peonato Paranaense chega á sua fase final, com oito times deci- dindo o título de 97. Enquanto isso, 13 equipes disputam o "Torneio da Morte".

Página 8

Encarceradas rejeitam piedade

Manifesto distribuído por dez organizações populares em vários

bairros da região Sul de Curitiba está denunciando a violência cometida por soldados da Polícia Militar na desocupação da área da Vila Osternak, no final de fevereiro. O manifesto

também exige respostas das autoridades para o problema da moradia. Pesquisa realizada pelo IPPUC-Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba mostra que a violência aumenta a cada dia na capital paranaense.

Página 6

Em crise, o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná esteve para fechar o Pronto

Atendimento, proposta defendida pela direção do Hospital, mas contestada por funcionários e pela

Reitoria. Página 5

A Penitenciária Feminina de Curitiba, em Pira- quara (município da Re-

gião Metropolitana), não apre- senta problemas tão graves qua^ío os que ocorrem freqüen- temente em presídios masculinos,

no Paraná e demais estados do Brasil. As mais de 100 mulheres lá encarceradas trabalham, estu- dam, cuidam de seus filhos peque- nos. Mas querem ser tratadas com consideração e exigem respeito da sociedade. Página 5

FESTIVAL DE TEATRO

A atriz Carla Candiotto está no elenco de U Fabuliô, peça em cartaz neste final de semana no 6o Festival de Teatro de Curitiba. Leia sobre as apresentações do Festival, seus

destaques e pontos negativos. Página 7

Page 2: a 36 do não esclarece dúvidas e a proposta de CPI ganha força · Bradesco, o banco estatal paranaense foi o que negociou o maior montante de títulos atualmente sob investigação

Página 2 - 22 de março a 4 de abril/97

Olpiníào A bola da vez

Tudo indica, pelas últimas revelações da CPI do Senado

Federal, que chegou a vez do Banestado explicar com detalhes suas operações. Não se trata, absolutamente, como talvez nossos governantes estaduais pensem e com certeza digam, de uma perseguição contra o Paraná, motivada por inconfessos motivos eleitoreiros.

Os senadores que investigam o escândalo da emissão irregular de títulos públicos têm uma razão muito simples para debruçar-se agora sobre o Banestado. Depois do Bradesco, o banco estatal paranaense foi o que negociou o maior montante de títulos atualmente sob investigação.

Fala-se na compra de cerca de 270 milhões de reais de títulos podres de Alagoas, um estado falido, que não paga há meses seu funcionalismo. Isso, por si só, justificaria as atenções da CPI.

É preciso lembrar que a enorme repercussão nacional e internacional das investigações do Senado atrai denúncias de todos os tipos e de todos os cantos do país. As falcatruas com os títulos públicos, envolvendo estados, municípios, bancos e corretoras, são um costume financeiro generalizado. Nesse mar de denúncias, só mesmo indícios muito sérios

poderiam levar um banco (o Banestado) a ocupar um papel de destaque.

A grande preocupação do

governador Jaime Lerner e de seus colaboradores é que, devido aos problemas com o Banestado, a Banestado Leasing e o Banco dei Paraná, o próprio estado e sua administração sejam colocados na berlinda, no mesmo plano dos casos mais graves (estados de Alagoas e Pernambuco e município de São Paulo). Neste último, o prefeito Celso Pitta, com menos de três meses no cargo, está com seu mandato paralisado pelas denúncias, sendo obrigado a admitir com reservas hoje aquilo que negou enfaticamente ontem. Hoje, se o Banestado simplesmente nega

as irregularidades, não convence. Se admite algumas, ninguém sabe onde a coisa vai parar.

República: de Banana ou de Laranja?

ARoem9?

Economia HORAS-EXTRAS

Multinacional na Justiça Empresa é acusada de

ponto frio e nega. Horário "flexível" é o

defesa da Peróxidos do Brasil. Em fita gravada de

conversa ao telefone, empresa reconhece

direitos do funcionário

Uma ação tramita na Jus- tiça do Trabalho do Para- ná contra a multinacional

Peróxidos do Brasil Ltda., do grupo belga Solwey, fabricante de Peróxido de Hidrogênio (água oxigenada) para uso industrial. O ex-funcionário da empresa Roque Aloísio Kessler acusa a Peróxidos de, além de não pagar horas-extras trabalhadas, instituir uma espécie de "ponto frio", no qual só consta a jornada normal de trabalho. Contrariamente à informação da empresa, esta não é a primeira ação movida contra a Peróxidos cobrando o pagamento de horas- extras.

Kessler trabalhou na Peróxidos por oito anos e meio e, recen- temente, exercia a função de supervisor de turno, mas "quando o relógio ponto foi instalado, fomos informados de que o Grupo Sol- wey, que administra a Peróxidos, não pagava horas-extras acima de uma determinada faixa salarial", informou. O gerente adminis- trativo da Peróxidos, Milton Ignácio de Oliveira, informou que "por se tratar de um funcionário de cargo mais elevado, o Roque tinha um horário flexível, podia entrar um pouquinho mais tarde e não precisava justificar deter- minadas saídas", mas negou-se a dar qualquer informação sobre o sistema de gerência da empresa, restringindo suas respostas ao caso de Roque Kessler.

Apesar dessa flexibilidade, a empresa anexou aos autos do processo diversos cartões-ponto do funcionário, preenchidos com um horário rigorosamente regular.

Kessler acusa estas provas de serem frias. "Era coagido a assinar estes cartões", justifica, e, para provar, afirma que, em algumas datas, nem se encontrava em Curitiba, pois viajava a tra- balho para a multinacional.

Entre dezembro de 1994 e janeiro de 1995, durante a fase final de instalação de um com- putador industrial para monito- ramento de segurança da em- presa, Kessler afirma ter traba- lhado em tomo de 14 horas por dia, pois era um dos 3 progra- madores do projeto que, ao todo, durou mais de um ano. E argu- menta que, entre junho e no- vembro de 1994, viajava conti- nuamente a Osasco-SP, para programar o mesmo computador em um centro de robótica, contra- tado pela Peróxidos. Mesmo estando a semana inteira em Osasco, os cartões-ponto estão assinados em horário normal. "Eles foram todos preenchidos e assinados durante o mês de dezembro", responde Kessler.

Kessler fazia plantões gerais para a empresa com telefone celular, o que é reconhecido por ela Com o celular, fora de horário de trabalho, ele argumenta que tomava importantes decisões para a fábrica, auxiliando os funcio- nários de outro tumo.

Em cartaz visível na entrada principal, a Peróxidos do Brasil se orgulha de seu próprio recorde de 824 dias de serviço sem um único acidente de trabalho com afastamento de funcionário, uma vez que o Paraná ostenta o status de ser o sexto Estado brasileiro com maior número de acidentes dessa natureza.

A flexibilização de horários, bem como de direitos, na multina- cional belga parece andar na contramão da política externa recente daquele país. O governo da Bélgica acaba de premiar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) por sua

contribuição à luta pela reforma agrária no Brasil. O prêmio é concedido a pessoas e entidades, organizações não-govemamen- tais, que contribuam para o desenvolvimento e o progresso das nações em todo o mundo.

Mas, nisso, a Peróxidos não está sozinha. Para abrir a fábrica na região de Curitiba, a monta- dora Renault está fechando outra na Bélgica, demitindo 3 mil operários. A Renault pode estar sendo atraída, também, pela mesma "flexibilidade" mencio- nada pelo gerente da Peróxidos.

GRAVAçãO REVELA

POSTURA EMPRESARIAL

Uma conversa ao telefone entre o gerente administrativo e advogado da empresa, Milton Ignácio de Oliveira, e o ex- funcionário. Roque Aloísio Kessler, foi gravada por Kessler. Confira trechos desta gravação:

MILTON - "Você veio con- versar outra vez aqui com o Teichum (Gerente Industrial). O que o Teichum te disse?"...

ROQUE - " ... Que eu tinha razão, pô."

MILTON - " Pô! Então como a empresa não tá de certa forma apta a reconhecer?"

MILTON - "A empresa tá realmente propondo ou tentando propor um acordo para você. Isso, tá de certa forma, quando você propõe um acordo que... alguma coisa a empresa te deve".

ROQUE - "Tá, Milton, outro fa.. (interrompido)"

MILTON - "Senão, proporia zero que seria o normal, né?"

ROQUE - "Oi!" MILTON - "Senão, a empresa

proporia zero, né?" ROQUE - "Aha" MILTON - " Mas quando a

gente te dá um valor substancial, claro que ela tá reconhecendo que.., você realmente tem alguns direitos, né".

ROQUE -" Vocês... vocês tão fazendo isso com uma ação da qual você mesmo diz que tem... você reconhece que há direitos reais, tá? Entende? Mas você faria isso com uma ação dessas, Milton?"

MILTON - "Se faria isso?" ROQUE-"É". MILTON-"Faço". ROQUE - "Com a minha

ação;' MILTON - "Faço". ROQUE - "Puxa!" MILTON - "Faço. Não tem

problema nenhum, tá? Todo mundo desempenha um papel na sociedade. Roque".

ROQUE - "Seja ele qual for, né?"

MILTON - "Não, dentro de uma certa moral, né? Não assim..."

ROQUE - "Mas, onde é que está a moral disso?"

MILTON - "Não, mas veja. É do sistema. Roque. É do sistema. Eu, como representante da em- presa, como preposto do empre- gador, vou lá e conto as maiores mentiras."

ROQUE - "Certo, certo". MILTON -" Por quê? Porque

eu não sou... a empresa não é obrigada a dizer a verdade. Depende do cara que tá... que tá dizendo. Tá? E o papel do pre- posto é este: é defender a empresa ... O papel do teu advogado é carcar ferro, pô".

ROQUE -" Ó, é um conceito bem interessante".

MILTON - "Não, mas é assim que funciona a coisa".

ROQUE - "Hum! Mas têm pessoas que se prestam a isso e outras não. Este que é o pro- blema".

MILTON - "É... Infelizmente, se isso é um ataque pessoal, né, a gente tem que ganhar dinheiro de algumjeito".

Thea Tavares

EM ALTA

Desemprego volta a crescer

Curitiba e Região Metro- politana tinha em janeiro deste ano um total de 123

mil pessoas desempregadas. Este dado foi revelado pelo Depar- tamento Intersindical de Esta- tística e Estudos Sócio-Econô- micos (Dieese) na última sexta- feira, 14 de março, na divulgação

da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego).

A PED apontou um aumento na taxa de desemprego, de 11,7% (dezembro do ano pas- sado) para 12,1% (em janeiro deste ano). Em Curitiba o índice oassou de 10.5% oára 10,7%.

Atividade i deve se expandir

O modesto desempenho apresentado pela indústria de transformação em

1996 não deverá se repetir esse ano. Com base na 122a Sondagem Conjuntural realizada com 1.326 indústrias em janeiro último, o economista Éden Gonçalves de Oliveira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), já está projetando um crescimento de 6% para o setor no primeiro semestre desse ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. Segundo Oliveira, chefe do Centro de Estudos Tendenciais da FGV, se este crescimento for confirmado.

a indústria de transformação voltará a operar no mesmo nível do primeiro semestre de 1995.

O trabalho da FGV mostra ainda que em janeiro deste ano a taxa de utilização da capacidade instalada era de 81%. O número é inferior ao de outubro de 96 (85%), quando a economia estava mais aquecida, porém supera os 79% registrados em janeiro do ano passado. Dos setores pesquisados, oito apresentam uma taxa de ocupação superior a 90%, com destaque para o de celulose (97%), o automobilístico (95%) e o de fios naturais (95%).

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f A • itica 22 de março a 4 de abril/97 - Página 3

PROPAGANDA OFICIAL

Campanhas aumentam gastos do governo Lemer

Deputado vai à Justiça para conseguir

informações

O governo do Paraná gastou mais em propaganda, nos meses próximos a outu-

bro de 1996, quando aconteceram as eleições municipais. A possível ligação entre o aumento das despesas com publicidade oficial e as campanhas políticas será um dos aspectos que o advogado üenésio Natividade pretende esclarecer, com várias medidas judiciais que está preparando para questionar, na Justiça, as contas da Secretaria de Comunicação do estado. Natividade é procurador do deputado Florisvaldo Fier, o Dr. Rosínha, do PT, que tentou, no início de março, aprovar um requerimento na Assembléia Legislativa, pedindo informações sobre as despesas de propaganda do governo.

Um relatório, que circulou nos meios políticos, revelava que.

apenas no mês de novembro de 96, o governador Jaime Lemer consumiu R$ 17,5 milhões junto aos veículos de comunicação, agências de propaganda e empre- sas produtoras de material publici- tário. A bancada govemista impe- diu a aprovação do requerimento e agora o deputado está buscando a documentação na Justiça.

O primeiro passo foi protocolar no Palácio Iguaçu um pedido administrativo, com base no artigo 27 da Constituição do Paraná, requisitando o relatório geral das despesas com comunicação social nos anos de 1995 e 96, com todos os Pedidos de Autorização para Divulgação e Veiculação (PADV). O pedido foi protocolado no dia 4 de março, com prazo de 15 dias para resposta. O advogado escla- rece, no documento, que "requisita as informações objetivando exercer o seu direito de cidadania, espe- cialmente para propor ação popu- lar contra os gastos abusivos de pubücidade ilegal da administração do governo Jaime Lemer".

Até o fechamento desta edição, no dia 21 de março, o reque- rimento não tinha sido atendido e Genésio Natividade estava con- cluindo a petição inicial da Ação Cautelar, através da qual pretende que a Justiça obrigue o govemo a exibir os documentos.

"Temos informações, que certamente serão comprovadas com a documentação pedida, de que o gasto do governo com propaganda, no ano passado, foi de R$ 105 milhões, contra R$ 35 milhões em 1995- número que o próprio Tribunal de Contas consi- derou muito alto", disse o advo- gado. Ele atribiu este acréscimo aos gastos feitos pelo governador Jaime Lemer para ajudar seus candidatos nas eleições municipais. Em Curitiba, por exemplo, o semanário "Hora H" recebeu R$ 300 mil em novembro. Ojomal era distribuído de graça nos terminais de ônibus durante a campanha, contendo matérias favoráveis ao candidato do governo e falando mal dos opositores.

O deputado Rosinha fará um pedido semelhante à Prefeitura de Curitiba. Ele quer saber quanto o ex-prefeito Rafael Greca gastou, nos quatro anos de mandato, com publicidade. Quer ainda a previsão de despesas na área da comu- nicação social do atual prefeito, Cássio Taniguchi.

Além das ações populares contra os administradores públi- cos, o-advogado está preparando também uma série de ações cíveis e criminais contra comunicadores- especialmente radialistas- que detêm mandato parlamentar e recebem verbas de publicidade do govemo. E o caso, por exemplo, dos deputados Algaci Túlio (atual vice-prefeito de Curitiba) e Neivo Beraldim e dos vereadores Dino Almeida, Jotapê e Ney Leprevost.

"Eles cometeram crimes de improbidade administrativa, previsto na Lei do Colarinho Branco. Acredito que no final dos processos será declarada a inegibilidade de vários políticos", completou Natividade.

. .:;.-

Governo do estado termina quando se desliga a televisão da parede

Alberto Dines - cai a máscara do funcionário virtual

Antônio Maria

A grande decepção da semana aconteceu na noite de segunda-

feira, dia 17 de março, quando o senador Roberto Requião tirou a máscara do jornalista Alberto Dines, o intelectual de comunicação da Unicamp, Universidade de Campinas. Dines criticou a atuação de Requião como relator da CPI dos Precatórios. Ora, criticar Requião não é algo difícil, já que o senador e ex-gover- nador do Paraná costuma fazer inimigos por onde passa, com o seu estilo "viking" de fazer política.

Requião desmascarou Di- nes, disse que ele o criticava por estar a serviço do atual governador do Paraná, Jaime Lerner, já que havia sido

nomeado reitor de uma uni- versidade virtual mas com um contracheque real. Trocando para um português mais sim- ples, Dines faz parte de uma massa de pessoas que vivem como fantasmas dos cofres estaduais, tendo como único objetivo enaltecer a imagem de Jaime Lerner por todo o Brasil. Uma piada, contada nos co- rredores da Assembléia Legis- lativa, é de que o governo Lemer termina quando se des- liga a televisão da parede, tudo não passa de mídia, mídia paga, é claro. Alberto Dines era apontado por todos como um grande pensador da comuni- cação, uma homem até então de uma moral inquestionável, que jogou tudo na lama ao trombar com um senador da República, que trabalha para desmascarar uma gangue de pessoas

envolvidas em fraudar o can- sado contribuinte.

Sabem porque Alberto Dines entrou nessa? Por que Jaime Lerner resolveu atacar Re- quião? Porque Mário Celso "PC" Petraglia também está envolvido até o pescoço com esta máfía de precatórios e o Banestado. Um dos braços direitos de Petraglia, Ademir Adur, proprietário junto com o seu irmão, o deputado Renato Adur, da Divalpar - distri- buidora de títulos e valores mobiliários, comprou 23 mi- lhões de reais em títulos emi- tidos pelo Banco do Estado do Paraná. Requião chegou mais longe no Banestado e descobriu um rombo que pode chegar a 500 milhões de reais. Lerner sabe que está com a corda no pescoço e começa a gritar em busca de socorro para tentar

desviar a atenção das irre- gularidades no Palácio Iguaçu e suas Secretarias de Estado.

CORREçãO Foi dito aqui neste espaço

que a Inepar, de Mário Celso "PC" Petraglia e de Atilano Ohms Sobrinho, iria cuidar das obras elétricas da indús- tria Renault, como agra- decimento da indústria fran- cesa ao governador Jaime Lemer pela maracutaia envol- vendo a instalação desta montadora no Estado. "PC" Petraglia ganhou muito mais, não apenas as obras internas, mas também a construção de uma subestação da Copei para fornecer energia para a fábrica. Ganhou porque não houve concorrência para a realização da obra, Coisas do amigo do governador.

CSotícías da

A Câmara Municipal, neste ano, teve algumas mudanças em suas bancadas, depois das eleições de 96. Nely Almeida, Mauro Moraes e Mário Celso Cunha, todos do PSDB, mu- daram de sigla: os dois pri- meiros passaram para o PSC e o último foi para o PDT. Ainda, o vereador Ailton Araújo, do PMDB, vice-presidente do Legislativo, migrou para o PDT. Assim, o partido dos governos municipal e estadual passam a ter a maior bancada, com 10 vereadores. E o PSC passa a ter dois representantes

ííííSí

nesta legislatura. ••••

Com relação à mudança de partido, é esperado que alguns vereadores do PTB mudem para o PFL. São eles: Geraldo Bobato, Aldemir Manfron e Tito Zeglin. Outro que iria também para o PFL seria o vereador Jairo Marcelino, do PDT. Se essas noticias se confirmarem, o PDT ficaria com nove vereadores, o PTB com apenas um (Edhen Abib) e o PFL passaria a segunda maior bancada da Câmara, com oito vereadores.

Parece que a discussão sobre as Olimpíadas de 2008, incluin- do aí Curitiba- idéia dos vereadores Gustavo Fruet e Ney Leprevost- não vai prosperar. A proposta não está sendo levada a sério. Nem poderia...

••••

Projeto de lei de autoria do vereador Mauro Moraes, PSC, toma obrigatório o atendimento de todas as doenças incuídas no Código Internacional de Doen- ças da Orgazinação Mundial de Saúde (OMS), por parte das empresas privadas, que atuem

com serviços médico-hospita- lares. Segundo o vereador, o assunto já vem sendo discutido em nível nacional, mas consti- tucionalmente é facultado aos estados e municípios legislar sobre questões de saúde. Mau- ro Moraes destacou princi- palmente o problema da AIDS, cujos pacientes são recusados pela grande maioria dos convênios médicos. Se a lei sair, Curitiba sairá na frente. O projeto prevê multas altas para os que não cumprirem com o que está disposto no projeto em questão. y.F.S.

Rosinha indicou um advogado para conseguir as informações que o governo esconde

Qhíspinhas Aposentadoria especial Previdência quer rever benefícios A Previdência Social vai fazer uma revisão geral nos 3.581 beneficíos

concedidos a anistiados políticos, cortando as parcelas adicionais consideradas indevidas pelo Governo, como a reposição de perdas provocadas por planos econômicos - como o Plano Bresser -, a gratificação de férias, a participação nos lucros das empresas e os adicionais de periculosidade ou insalubridade. Quase um terço das aposentadorias e pensões de anistiados - exatas 1.105 - foram autorizadas no Rio de Janeiro. Jornalistas, bancários, sindicalistas e políticos, dentre outros, que foram perseguidos e perderam o emprego durante o regime militar puderam requerer a aposentadoria especial, mas a Previdência Social calcula que a maioria está recebendo vantagens a que não terig direito. Um dos casos a ser revisado é ode Luiz Inácio Lula da Silva, líder do PT.

Sivam: Governo não leva TCU em conta O Governo Federal decidiu que vai assinar o contrato de R$ 1,4

bilhão do Sistema da Vigilância da Amazônia (Sivam) no prazo combinado, sem levar em conta a nova auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). conforme revelou uma fonte do Alto Comando da Aeronáutica, responsável pela implantação. O ministro-relator José Antônio Barreto de Macedo recebeu do presidente do TCU, Homem Santos, o resultado da auditoria. O relator tem quatro meses para se pronunciar. Macedo garante que vai tratarão assunto o mais rapidamente possível, mas que isso não se dará antes do dia 14, prazo para a assinatura do contrato com a Raytheon Company, empresa americana que fornecerá os equipamentos.

TSE sem verba para informatização O projeto da Justiça Eleitoral de informatizar o voto de 70% do

eleitorado nas eleições de 1998 está ameaçado por falta de verba. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisa de R$140 milhões para comprar as 130 mil umas eletrônicas para os 1.030 municípios com mais de 20 mil eleitores. Mas o orçamento deste ano não prevê repasse.

Preocupado com a continuidade do processo, o presidente do TSE. Marco A urélio de Mello, pretende marcar audiência com o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), para discutir possibilidades de recursos já para o próximo ano.

- Não podemos deixar a chama apagar - diz Marco Aurélio, referindo- se ao sucesso do ano passado.

Nas eleições municipais de 1996, a informatização ocorreu em 57 municípios com mais de 200 mil votantes, atingindo 32,4% dos cem milhões de eleitores. Foram necessárias 77.479 umas eletrônicas. Para 1998. o número deve dobrar, por causa da dispersão maior de eleitores nos municípios.

Projeto único para medidas provisórias A Câmara dos Deputados e o Senado vão elaborar um projeto único

para regulamentar o uso de medidas provisórias, evitando assim que as duas casas continuem disputando qual delas aprovará primeiro a proposta. A decisão foi tomada há alguns dias numa conversa entre o líder do Govemo na Câmara, Benito Gama (PFL-BA); o líder do PFL, Inocência Oliveira (PE); e o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).

Eles concluíram que deixar os dois projetos tramitando ao mesmo tempo, como vem ocorrendo, provocaria desgaste político e brigas entre deputados e senadores. Logo deverá ser feita a primeira reunião para começar o trabalho de juntar o texto das duas emendas em uma única proposta.

Agência Globo

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Página 4 - 22 de março a 4 de abril/97

ítíca RUMO à CPI

Banestado vai à Assembléia dar explicações secretas

Deputados querem esclarecer possíveis irregularidades na compra de títulos

públicos de Estados e municípios e emissão de

debêntures pela Banestado Leasing

Na quinta-feira, dia 20, dezessete diretores do Banestado e dois

secretários de Estado (Fazenda e Turismo) participaram de sessão secreta na Assembléia Legislativa do Paraná para dar explicações sobre supostas irregularidades na compra de títulos públicos de Estados e municípios e na emissão de debêntures pela Banestado Lea- sing. A sessão secreta foi idea-

lizada como forma de impedir a CPI proposta por deputados do PT e do PMDB. Mas os fatos indicam que a discussão sobre eventuais irregularidades não pode mais ser barrada.

O Banestado S/A é o segundo banco (primeiro entre os estatais) em volume de operações na mira das inves- tigações da CPI dos Títulos Públicos, logo depois do Bradesco. Tudo indica que o banco paranaense vai passar nas próximas semanas pelo pente fino da CPI do Senado. O deputado Ângelo Vanhoni (PT-PR) foi a Brasília no dia 18 de março para colher infor- mações junto à CPI sobre o envolvimento do Paraná nas irregularidades apuradas. Uma denúncia anônima que circulou

em Curitiba revelava serem de gerentes do Banestado duas contas existentes nos Estados Unidos, suspeitas de estarem ligadas ao esquema dos títulos públicos apurados pela CPI. O governo determinou o afasta- mento dos gerentes de suas funções e iniciou uma inves- tigação. Outras três funcionárias também foram afastadas. Esse envolvimento é negado. (Leia box).

Procurado pela equipe da Folha Popular, o presidente do Banestado, Domingos Murta Ramalho, não quis dar entre- vista até que fossem concluídas as investigações envolvendo o Banco, segundo informou sua assessoria de imprensa.

Depois de sucessivas nega- tivas do governo do Paraná, o

Estado continua na mira da CPI do Senado e a idéia de uma investigação pela Assembléia Legislativa ainda não é um assunto descartado. Contra- riamente à tranqüilidade apre- goada pelo secretário chefe da Casa Civil, Giovani Gionédis, à medida em que novidades vão surgindo, as investigações da CPI dos Títulos Públicos se aproximam cada vez mais do Paraná.

Um boato que corre o Esta- do especula sobre a iminência de uma mini-reforma no secre- tariado de Jaime Lerner, fican- do Gionédis com a pasta da Fazenda e o atual secretário da Fazenda, Miguel Salomão, com a presidência do Banestado.

TTieo Tavares

Gerente nega acusações: ,fE um pesadelo"

O gerente de Operações da Banestado Leasing, José Edson Carneiro de

Souza, em entrevista à Folha Popular, por telefone, negou qualquer envolvimento no esquema apurado pela CPI dos Títulos Públicos, e disse não possuir conta bancária fora do País. Tanto José Edson quanto o gerente de Administração de Risco do Banco, Luiz Antônio de Lima, também afastado das funções, publicaram nota negando as acusações. Ambos, ainda, emitiram três documentos autorizando a investigação sobre a origem de supostas contas fora do território nacional: para o consulado americano em São

Paulo, para o Banco do Estado do Paraná e para o Citibank. De acordo com reportagem do jornal "Folha de S. Paulo", a conta de número P5120MPE, com saldo de US$ 1,5 milhão, seria de José Edson e a outra, P6120PPS, com US$ 1,6 milhão, seria de Luiz Antônio de Lima.

José Edson afirma que suas atividades em nenhum momento se relacionam com a emissão de debêntures ou com compra de títulos públicos e argumenta que seu apartamento, de 170 metros quadrados, no bairro da Água Verde, em Curitiba, foi adquirido em dezembro de 1994 e não no final de 1995, como diz a

acusação anônima. Para ele, o mesmo se dá com a casa de Luiz Antônio, de 700 metros qua- drados, no Jardim Social, também alvo das denúncias, que levou cerca de três anos para ser concluída. A coincidência está no fato de a família de ambos só ter passado a ocupar os imóveis entre o final do ano de 1995 e início de 1996.

Quanto a uma suposta troca de carros, incompatível com sua renda, Edson argumenta que já utilizou por diversas razões veículos de propriedade de outros membros da família, como os de sua sogra e cunhado. Não acredita que os nomes deles tenham surgido a partir de contas

fantasmas, pois os próprios diretores do Citibank haviam garantido que isso seria impos- sível, dado o conservadorismo e rigor do banco.

À disposição dos auditores da Banestado Leasing, José Edson informou que sai, normalmente, todos os dias para trabalhar. "Brigamos para que a verdade seja dita, que a notícia seja dada de forma límpida e justa e repudio o tratamento que a denúncia anônima recebeu da imprensa. A minha vida pessoal foi virada pelo avesso na última semana, não tive sossego. É um pesadelo", desa- bafou o gerente da Banestado Leasing,

TT

VALE DO RIO DOCE

Ato contra a privatização em Curitiba Militares,

parlamentares e sindicalistas unem-se em defesa da estatal

As entidades, sindicatos e partidos políticos que estão participando do

Movimento Reage Brasil, contra a privatização da Vale do Rio Doce, organizaram no dia 14 de março um ato público na As- sembléia Legislativa do Paraná.

O ato teve a presença de diversas personalidades do cenário político nacional, como o brigadeiro IvanFrota, o almirante Gama e Silva, os senadores Roberto Requião, Pedro Simon e José Eduardo Dutra e o depu- tado federal Ricardo Gomyde. Além deles, estavam presentes o ex-prefeito de Curitiba, Maurício Fruet, a presidente da CUT no Paraná, Ana Maria da Cruz, o

Na mesa do ato público, as lideranças políticas,

representando diversas correntes

W4/âíí^ presidente do Movimento em Defesa da Economia, Ricardo Maranhão, o arcebispo Dom Pedro Fedalto, os vereadores Natálio Stica, Custódio, Tadeu Veneri e Jorge Bemardi e depu- tados estaduais como Ângelo Vanhoni e Dr. Rosinha.

O ato reuniu aproximadamente

400 pessoas. Entre elas estavam pessoas do Movimento Sem Terra, do grupo Tortura Nunca Mais, de sindicatos, grupos popu- lares e grupos de jovens de vários partidos. Para os participantes do evento, o importante foi justa- mente esta diversidade de con- cepções políticas: pela primeira

vez, um ato conseguiu unir pessoas do grupo Tortura Nunca Mais e militares.

Os oradores lembraram os perigos da privatização da Vale e de outras grandes estatais do país, consideradas estratégicas para economia brasileira, como a Petrobrás e a Telebrás.

CPI vai acabar emPitta?

f a grande pergunta do L^ momento. O cerco das JL> investigações da CPI está se fechando em torno da Prefeitura de São Paulo. Celso Pitta, atual prefeito paulistano, foi secretário da Fazenda na administração Maluf, quando seus assessores diretos eram Wagner Ramos, Pedro Neiva, Nivaldo Furtado de Almeida e Maria Helena Cella, que estão envolvidos no esquema fraudulento com títulos pú- blicos. Os funcionários man- tinham contatos diretos com o Banco Vetor, a corretora Perfil, prefeituras municipais e governos estaduais, entre outros, quando fabricavam precatórios e agilizavam a emissão de títulos.

Depois de se dizer "decep- cionado" com seus subordina- dos, o destino foi mais irônico para o prefeito: a CPI desco- briu uma conta de aluguel de carro de Nicéia Pitta, sua esposa, paga pelo Banco Vetor. A partir daí, vai ficando cada vez mais difícil convencer a opinião pública de sua ino- cência. '

A nova estratégia do pre- feito é a de destilar ataques

pessoais ao relator da CPI, senador Roberto Requião, para encobrir a história. Requião, por anal, vem sendo bastante infeliz nos comen- tários agressivos feitos ultima- mente na imprensa; os envol- vidos, até então apenas sus- peitos, são bandidos, o ouvinte de uma rádio nacional virou idiota no linguajar emocio- nado do senador e os colegas que aprovaram a emissão de títulos estão sob suspeita, Mas não gostar desse jeito particular de Requião, acu- sado pelo economista Luiz Nassif de ser a maior estreia da TV Senado, não pode Justificar a necessidade de esclarecer o envolvimento de Celso Pitta no esquema.

Na nova fase de depoi-* mentos da CPI dos Preca- tórios, deverão ser convo- cados os detentores de cargos públicos e diretores de bancos envolvidos, Até ia^ ficam inúmeras perguntas sem res- postas, como quem chefia este quadrilha e para onde vai o dinheiro extraído dos cofres públicos com essas opera- ções.

TT

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22 de março a 4 de abril/97 - Página 5

EN CARCE RADAS

Buscando a readaptação Na Penitenciária

Feminina de Curitiba, presas trabalham e

estudam

Quem já conhece outros presídios e visita a Peni- tenciária Feminina de Curi-

tiba, em Piraquara, fica de início favoravelmente impressionado. Para se chegar até ele, do centro desse município da Região Metropolitana de Curitiba, leva-se de dez a quinze minutos, em estrada de terra batida. Nos domingos, dias de visita, um ônibus do próprio presídio traz os visitantes. O prédio, construído em 1960, tem capacidade para alojar 139 presas e até hoje não precisou de reformas.

Não há superlotação, ao contrário de muitos presídios pelo Brasil afora. Na Penitenciária Central do Estado-PCE, por exemplo, 1.500 presos ocupam um espaço reservado originalmente para apenas 550 pessoas, enquanto a Prisão Provisória de Curitiba, com capacidade para 350 presos, aloja hoje cerca de 800. Nesses dois presídios, em cada cela chegam a ficar de sete a oito presos, enquanto em Piraquara ficam no máximo três (em alguns casos, uma presa é a ocupante solitária de uma cela).

Segundo o Coordenador das Penitenciárias do Estado, Dr. Cezinando Paredes, cuidar e lidar com a mulher é mais fácil. "A mulher é mais cuidadosa, mais organizada e se preocupa muito mais com a questão da higiene".

Ao chegarem ao presídio, todas as detentas passam por um exame de triagem. Vários exames são feitos para poder classificá-las no trabalho para o qual apresentam aptidão. Os trabalhos são feitos em canteiros de trabalho conveniados entre empresas privadas e o governo do Estado, ou nos próprios canteiros do presídio, já

desenvolvendo mais um trabalho artesanal. As empresas utilizam a mão-de-obra barata na produção de materiais feitos em argila, chaveiros, pintura dos enfeites de geladeira e outros. Uma das empresas conveniadas é a Bema- tech, responsável por equipa- mentos eletrônicos. O trabalho artesanal abrange confecção de tricô, crochê, almofadas de pano e outras atividades.

Cada detenta ganha pelo traba- lho artesanal 75% do que é vendido, em média em tomo de 12 a 15 reais por mês; o conve- niado paga de acordo com a empresa, variando muito o valor. Além de trabalharem, uma escola foi montada no local, e quem quer freqüenta as aulas de primeiro e segundo grau. Há aulas de Portu- guês, Matemática e Educação Física; nesta disciplina, a preo- cupação da professora Eni Remor Zelazowski é trabalhar o corpo e cabeça como um todo, "é tomar a consciência do corpo". Aulas de expressão corporal, teatro, esporte e ginástica são dadas duas vezes por semana e participa quem quer; modalidades esportivas ficam também a critério da detenta.

Toda presa recebe apoio psico- lógico, assistência do serviço social e de um advogado e tratamento odontólogico. De quinze em quinze dias, tem atendimento ginecológico. Para o Dr. Cezi- nando, a Penitenciária de Pira- quara pode ser considerada mo- delo, se comparada a outras penitenciárias do país, já que muitas não dão atendimento médico adequado e as presas ficam sem nenhuma atividade.

Já para Frei Luiz, da Pastoral Carcerária, não existe prisão modelo, "se existe eu não conheço". Segundo dados da CNBB (Conferência Nacional do Bispos do Brasil), em algumas prisões femininas centenas de presas não têm assistência ginecológica e, em outras, quando

existe médico falta equipamento. As presas só conseguem absorventes quando a família ou voluntários fornecem. Mulheres grávidas só têm assistência quando colegas de cela fazem muito barulho e o atendimento chega na hora de dar à luz.

Para a diretora do presídio, Dra Elizabeth Bettega, não existe um grande problema interno. "Aqui existem problemas circunstanciais, do dia-a-dia. Às vezes falta verba para um canteiro de trabalho, uma pequena discussão, nada que fuja do controle. Já para as que estão presas, o grande problema continua sendo a morosidade da Justiça".

"NãO ABRO MãO

DA TAREPIA" A detenta E.G.R. foi presa por

estelionato e está em Piraquara há dois anos, tem menos de um ano de pena a cumprir. Ela diz que quando chegou sentiu muito medo. "Chorava todos os dias, o dia todo, cheguei a ficar com ferida nos olhos de tanto chorar". Apesar de ter curso superior, não quis cela e tratamento especial ao qual tem direito, para ela era importante o contato com as outras meninas, modo como se refere às demais presas. Seria uma forma de aprender e crescer.

"Aqui dentro aprendi a ter paciência e respeito, a respeitar o próximo. Saber onde termina o meu direito e começa o do outro". E faz terapia com psicólogas do presídio e não abre mão desse tratamento. Segundo ela, graças à terapia consegue ficar no presídio, sem a qual seria muito difícil. Com o tratamento, conseguiu também superar a sua compulsão por compras. "Quando sair daqui, quero fazer terapia familiar junto com minha filha mais velha, de onze anos". A menina visita a mãe aos domingos, a filha mais nova mora com o pai no Paraguai.

"O berçário é a nossa alegria

"NãO SOMOS

O que realmente impres- siona na Penitenciária Feminina, sem dúvida, é

o berçário. Ambiente limpo e aconchegante, com capacidade para treze crianças entre zero e seis anos de idade. Todo ele é orga- nizado pelas presas e supervi- sionado pela segurança e direção. Toda criança recebe carinho e atenção da mãe, além das agentes que trabalham no berçário. A mãe tem obrigação de cuidar do seu filho, o trabalho é feito por escala. Banho, amamentação, comida e todas necessidades da criança são de responsabilidade da mãe. "O berçário é a alegria do lugar, aqui não falta nada para o meu filho, ele recebe carinho e amor de todos", diz Roseli Mendes, presa por tráfico de drogas, mãe de um menino de cinco meses. Roseli tem mais quatro filhos e, segundo ela, se pudesse traria todos para o presídio.

O presídio tem convênio com o Hospital de Clínicas, Pequeno Príncipe, Evangélico e Angelina Caron, buscando dar toda assis-

tência necessária, além do acom- panhamento psicológico. As crian- ças já freqüentam a escolinha da própria penitenciária, as aulas são dadas por pedagogas, através de um convênio com a Secretaria da Educação. A criança têm direito de permanecer no presídio até os seis anos de idade, depois disso passa a morar com a família da presa, caso tenha alguém fora do presídio; em caso contrário, é encaminhada para o Juizado de Menores. Uma funcionária que trabalha no berçário não sabe como uma criança que até os seis anos teve tudo pode mudar de vida. "Acho que vai entrar numa contradição. Sai de um mundo e entra em outro, sem saber qual é o pior". Já Elizabeth diz que procura dar o melhor possível. "É melhor dar alguma coisa agora do que não dar nada".

MENDIGAS*'

Na última sexta-feira, dia 14, a Pastoral Carcerária, apresentada pelo Frei Luiz Peres, deu uma palestra às presas, na qual explicou o objetivo da Campanha da Fraternidade deste ano, de- dicada aos enccwcerados. Mas as detentas questionaram o papel da campanha. Elogios e críticas fizeram parte da palestra. Para as presentes, as propagandas veicu- ladas na televisão não retraíam a realidade que elas vivem. "Aqui não andamos mal arrumadas nem somos mendigas. Temos cons- ciência do crime que cometemos e só queremos uma chance ao sair daqui", desabafa uma detenta.

Em seguida à palestra, oconvu um jogo de vôlei entre as jy^sas e o grupo da Pastoral Carcerária e um lanche, onde pela primeira vez visitantes e detentas comeram Juntos. "É a primeira vez que que visitantes entram na fila e comem com agente no refeitório".

HOSPITAL DE CLíNICAS

Dmünm atendimento de emergência Funcionários dizem que

os médicos tentaram cessar o atendimento,

mas tiveram medo

O Pronto Atendimento e a Maternidade do Hospital das Clínicas (HC) da Uni-

versidade Federal do Paraná tiveram uma significativa diminuição de pacientes no dia 17 de março. Dos quase cem pacientes que o HC costuma internar durante as se- gundas-feiras de cada semana, foram internadas apenas lOpessoas. Na maternidade só foram internadas três pacientes, quando normalmente este número é de 60 pessoas.

Segundo um funcionário do Pronto Atendimento, que prefere não se identificar, os médicos tentaram fechar, "mas não tiveram coragem de ir na frente do PA e dizer que estava fechado, então nós organizamos a fila normalmente e eles tiveram que atender e fazer a triagem".

O diretor do Hospital, Mário Sérgio Cerci, afirma que o Hospital não deixou, nem pretendia, fechar nenhum de seus serviços. Segundo ele, o que está sendo feito é uma maior avaliação, evitando ao máximo as internações por falta de

O Pronto

Atendimento

do Hospital

das Clínicas,

ameaçado

material. "Nós estamos atendendo todos os setores, mas tentamos mandar os pacientes que precisam de internação para outros hospitais; nós estamos atendendo dentro de um limite, se liberarmos o aten- dimento vai faltar material para tratar dos 400 internados que já estão no Hospital."

Mário Sérgio afirma que a dívida do Hospital com os fornecedores é de 6 milhões de dólares e acredita que a situação pode piorar: "Daqui a pouco vamos ter que deixar

pacientes morrer na rua". O ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, em visita a Curitiba há poucos dias, disse que não poderia pagar esta dívida toda de uma vez, porque outros hospitais também estão esperando dinheiro, mas que no dia 17 chega- riam 300 mil reais.

Mário Sérgio afirma que em todos os outros Hospitais Univer- sitários do pais, como em São Paulo, Porto Alegre ou Maringá, o MEC assume 100% da folha de pagamento, mas em Curitiba só paga

50%. "Não defendo a idéia de transformar o HC em um Hospital privado, mas se for para recebermos 100%, eu aceito que o transformem em uma organização social".

Para o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba e Região (Sindtest), o diretor do HC está omitindo valores reais da dívida. Os sindicalistas explicam que, na reunião do dia 25 de fevereiro, o próprio diretor declarou que a divida, que em 94 era de cerca de 8 milhões

de reais, a partir de 95 superou 40 milhões de reais. Para eles, este aumento em tão pouco tempo é incompreensível. Em um comuni- cado à imprensa, o Sindicato questiona esta dívida e pergunta se não seria o caso de uma ação pública de prestação de contas.

Quanto ao fechamento do Hos- pital, a presidente do Sindtest, Roseli Isidoro, define esta decisão do diretor como um ato de insubordinação, pois o Conselho Universitário, do qual também faz parte o Conselho Administrativo do HC (cujo presidente é o próprio Mário Sérgio ), decidiu por unanimidade contra a redução no

atendimento ou o fechamento de qualquer setor do Hospital

No último dia, em Brasília, o reitor da Universidade Federal do Paraná, José Henrique de Faria, participou de uma reunião com o Ministério da Educação e Cultura (MEC), o Ministério da Saúde e outras autoridades no assunto. Faria foi pedir uma solução para a crise que o Hospital está enfrentando. Ele afirma que, se não houver uma solução em breve, o Hospital de Clínicas corre o risco de ter uma redução em suas atividades, mas não uma interrupção no atendimento.

MILHõES COM PASSAGENS E DIáRIAS

O Ministério da Saúde tem gasto mais com o pagamento de diárias e

passagem de funcionários do que na compra de remédios contra aAids. No ano passado, o Ministério gastou R$ 61 milhões com viagens de serviço, mas desembolsou só um terço disso- R$ 20 milhões- com a aquisição de AZT, essencial ao tratamento dos doentes de Aids.

O pagamento de diárias e

passagens Ja virou uma espécie de complemento salarial para funcionários de setores como o de Auditoria. Só a chefe da Auditoria Contábil do Escritório Regional de Fortaleza, Raimunda Nina Carvalho Cordeiro, recebeu no ano passado R$ 27.242,61, o que dá uma média de R$ 2.270 por mês, mais do que sua remuneração mensal, de cerca de R$ 2 mil. Agência Globo

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Vi LA OSTERNACK

População denuncia violência policial Manifesto também

exige solução para o problema da moradia

Um documento repudian- do a violência da Polícia Militar na desocupação

da área da Vila Osternack, ocorrida no final de fevereiro, está sendo distribuído em toda a região do Alto Boqueirão. As- sinado por dez organizações populares, o manifesto vem acompanhado do convite para a reunião, que acontecerá na segunda-feira, 24, às 20 horas, na sede da Associação de Moradores 23 de Agosto. O objetivo é debater e encontrar soluções para os problemas da moradia popular e da ação da polícia. Para o encontro foram convidados, através de ofícios, o presidente da Cohab, Ivo Mendes de Lima, o secretário estadual de Segurança Pública, Cândido Martins de Oliveira, e o chefe do Comando do Policia- mento da Capital, coronel Remildo Gonçalves da Silva.

No manifesto popular, os moradores dizem esperar que o secretário de Segurança Pública apure os fatos e que o Estado assuma a responsabilidade pelos danos causados a várias pessoas

feridas, além de "tomar provi- dências para que tais fatos não venham a ocorrer". Segundo Mário Gomes Peixoto, presidente do Conselho Local de Saúde do Jardim Paranaense, um dos feridos no confronto ainda está sem condições de trabalhar e, por conta disso, sua família está passando todo tipo de necessidades -até fome.

Claudinei dos Santos Moreira estava na UTI até quinta-feira passada. Foi ferido pelos poli- ciais quando passava na frente da área da ocupação em direção a uma loja, onde ia comprar pregos para a construção de sua casa no Moradias 23 de Agosto. "O Claudinei não tinha nada a ver com a ocupação e agora está lá na cama. Ele trabalhava por conta e tem dois filhos", diz Mário explicando que no dia da reunião a Associação de Mora- dores do Jardim Paranaense pretende fazer uma arrecadação para ajudar a família de Claudinei.

Segundo o manifesto das entidades populares, a Cohab está sendo convidada para a reunião porque "tem a obrigação de oferecer moradia popular aos trabalhadores(as) de baixa ren- da" e sua ausência no momento da desocupação da área da Vila

BAIRROS

Cresce a violência Um deles é o Sítio

Cercado, onde só agora está sendo instalado um

distrito policial

Uma pesquisa realizada pelo IPPUC-Instituto Paranaense Planejamento

Urbano de Curitiba, a pedido do Ministério da Justiça, apontou um grande aumento da violência na cidade de Curitiba. Segundo dados do Mapa da Violência, nome do documento, a violência em Curitiba tem aumentado a cada dia. Um dos bairros que aparece no mapa é o Sítio Cercado, onde a Vila Nossa Luta foi formada há oito anos por famílias vindas do centro de Curitiba e de outras regiões do Estado.

A "Vila Nossa Luta", no Sítio Cercado, com aproximadamente 500 famílias, vem sofrendo diariamente com a violência. Segundo moradores, de um ano para cá a violência vem aumentado assustadoramente. Uma mora- dora, que está na região há oito anos, desde a ocupação, garante que antes vivia em paz. "Quando chegava do trabalho eu realmente me sentia em casa, hoje não sei onde estou chegando". Taxistas têm medo de entrar no bairro, por causa de roubos freqüentes.

Tiros à noite já virou rotina nas ruas da vila. Há quinze dias, em um bar, pai e filho foram mortos a tiros às três horas da tarde. Alguns acreditam que foi vingança. O motivo ao certo ninguém sabe ou, se sabe, tem medo de felar. "Pai de família aqui não dorme mais. Minha casa já teve vidros e telhados destruídos com pedras e tiros. Em um final de semana tive o carro de um amigo todo quebrado na porta da minha casa". O filho de uma moradora, que estudava à noite numa escola da redondeza, foi assaltado e, com medo, não

A nova ocupação: moradores fogem das enchentes

volta mais para a escola, já que a série que cursava só tem aula no período da noite.

Um dos grandes problemas da região é a droga. Crianças e adolescentes cheiram cola nas ruas. O uso da maconha é comum, alguns moradores acreditam que a região é um ponto de tráfico de drogas.

Segundo o Coronel Renildo Gonçalves da Silva, do Comando do Policiamento da Capital, a Polícia Militar está fazendo todo o possível para acabar com a violência na capital. Bloqueios, revistas e rondas noturnas são feitas diariamente em toda a cidade, inclusive na região de Sítio Cercado. Na sexta-feira, 14 de março, foi feita uma batida no Sítio Cercado, que teve como resultados quatro carros apreendidos, uma pessoa presa com maconha, outra portando arma ilegalmente e um terceiro que era foragido da Justiça.

"A função da PM é prevenir, cabendo à Polícia Civil investigar os crimes", afirma o coronel Renildo. Os moradores de Sítio Cercado, no entanto, reclamam e acham que a polícia deveria agir melhor, dar mais atenção ao bairro. "Deveria haver um módulo policial aqui", completa uma moradora.

Segundo o chefe da Polícia Civil, Tólib Ballesthi Barbosa, o índice de criminalidade na região cresceu devido ao grande aumento da população. Na região, falta escola e pronto-socorro. O primeiro distrito policial está sendo cons- truído, depois de muitas reivin- dicações dos moradores. Jaime Tadeu, presidente da Associação Vila Nossa Luta, diz que a região precisa de mais escolas e mais creches. "Na região temos uma creche que atende em tomo de cem crianças, o que é insuficiente, já que aqui são mais de mil crianças".

Osternack contribuiu para o desfecho violento. O documento é assinado pelas associações de moradores Campo Cerrado, 23 de Agosto, Madre Tereza, Quatro Vilas, Vilas Unidas do Jardim Paranense e Pantanal, além do Conselho Local de Saúde do Jardim Paranaense, Conselho Comunitário de Segu- rança Alto Boqueirão e Região, Central de Movimentos Popu- lares e Usuários do Conselho Municipal de Saúde de Curitiba.

NOVA OCUPAçãO

Enchentes, erosão, alarga- mento do Ribeirão dos Padilhas e casas correndo o risco de desmoronar, a qualquer mo-

mento, dentro do rio. Para fugir destes problemas, várias famílias do Moradias 23 de Agosto estão fazendo sua própria relocação para terrenos mais altos na mesma vila.

A nova ocupação começou há cerca de um mês e meio atrás, por ocasião das últimas enchentes no local. Algumas das 75 famílias moradoras das margens do rio, que estão cadastradas desde 93 esperando a relocação da Cohab, tomaram a iniciativa de montar barracas de lona preta no terreno ao lado e cobrar pro- vidências da Administração Regional do Bairro Novo. As providências não vieram até o

momento e, temendo mais chuvas e enchentes, as casas come- çaram a ser transferidas, substituindo as barracas. Com isso, mais famílias sem-teto, vindas de outros bairros, também vão se estabelecendo na nova área, que já tem mais de cem casas.

"Cinco anos atrás a gente morava na Rua 9, que tinha enchente. Mudamos para a Rua 7, que também tinha enchente. De lá, viemos aqui para a beira do rio, que na época era só uma valeta bem estreitinha. Daí, de uns seis meses para cá, começou a desbarrancar tudo porque o rio

faz até onda quando chove", conta Maria Divina Prates Fialho, que ainda está com a casa na beira do rio e uma barraca na nova ocupação. Divina diz que foi cadastrada, pela Cohab, três anos atrás e novamente em abril do ano passado: "Eles fazem o cadastro e demoram para relocar, depois reclamam que entraram mais famílias e não têm terreno para levar todo mundo". O marido trabalha de pedreiro, ganhando vinte reais por dia, "quando tem serviço". Ela traba- lhava de doméstica, mas foi demitida quando a patroa desco- briu que estava participando de

outra ocupação. Segundo ela, a filha de seis anos já teve bicho geográfico, micose e outras doenças. "Quando o rio começa a encher, vem ratazana de todo lado. Quando está seco, também tem rato, mas é um pouco menos. Uma vez eles botaram veneno, mas veio a chuva e a água levou tudo e eles esqueceram o assunto", protesta.

Vera Lúcia Soares Peres, da Coordenação do Movimento de Luta pela Moradia explica que o Moradias 23 de Agosto tinha 737 famílias quando a ocupação foi feita, cinco anos atrás. Depois entraram mais famílias, tendo hoje

em tomo de 800. Além destas, outras 187 famílias moravam em áreas de risco e foram cadas- tradas pela Cohab. "Quando eles foram fazer a relocação, mais 69 famílias já estavam no local. Daí, na hora de entregar a senha do terreno no Madre Teresa, eles pararam no número 187. Desse jeito, sobraram 69 famílias, que depois passsaram a ser umas 75", diz Vera.

A Administração Regional do Bairro Novo, responsável pela área do Moradias 23 de Agosto, procurada várias vezes pela Folha Popular, não retomou as ligações.

BARRAGENS

Águas para a vida Atingidos pela construção de

barragens em diferentes continentes fazem Io

Encontro Internacional em Curitiba

MORATÓRIA PARA AS GRANDES BARRAGENS, EM

TODO O MUNDO. Esta é a principal decisão dos repre- sentantes de mais de 20 países, reunidos em Curitiba no Primeiro Encontro Internacional de Atin- gidos por Barragens. Para quem pensa que este problema atinge umas poucas pessoas, em todo o mundo, não deixa de ser surpreendente que centenas de pessoas, representando milhões de outras, se mobilizem, nos mais diferentes pontos do planeta, para procurar uma solução aos problemas causados pela cons- trução de barragens, em todo o mundo.

A maior prova do caráter amplo e intemacional dos pro- blemas causados e do esforço para buscar soluções foi a mani- festação realizada no sexta-feira, dia 14, último dia do encontro, quando se juntaram as águas trazidas de rios dos mais distantes países, numa demonstração comovente de que todos são habitantes de um mesmo planeta. "Águas para a vida, não para a morte", diziam as faixas e carta- zes, em português, inglês e espanhol.

MORATóRIA

Apesar das diferenças eco- nômicas, sociais, culturais e

ambientais dos países repre- sentados no encontro, existem alguns pontos em comum na construção das barragens, que explicam, em parte, porque os govemos continuam investindo e emprestando dinheiro para cons- truir grandes represas. A Decla- ração de Curitiba, aprovada no final do encontro, apontou alguns dos responsáveis pelos desastres sociais e ambientais causados pelas grandes barragens. O primeiro lugar na lista dos gran- des vilões ficou com as grandes agências financiadoras interna- cionais, principalmente o Banco Mundial (BIRD), considerado como responsável direto pelo modelo adotado principalmente pelos países pobres.

A Declaração deixou muito clara a preocupação dos partici- pantes com a forma como a questão tem sido decidida, ao longo dos anos. Considera, por exemplo, que as represas devem ser previamente aprovadas pela população, "após um processo de decisão efetivamente partici- pativo e informado". Para os participantes do encontro, é preciso que "os govemos, agên- cias internacionais e investidores implementem uma moratória imediata na construção de gran- des barragens". A suspensão da moratória está condicionada ao fim da violência e intimidação contra as populações afetadas; à garantia de reparação dos danos materiais restauração dos prejuí- zos ambientais, respeito aos direitos territoriais das popu- lações indígenas e tradicionais.

Tereso Urban

ANTES DA BARRAGEM ^ ' V

'jÉé&àít^

DEPOIS DA BARRAGEM/^

MAIS QUE MIL PALAVRAS A sabedoria milenar dos india-

nos, com seu jeito manso e sua política de não-violência, en- frenta há anos os gigantescos financiamentos do Banco Mun- dial e a prepotência dos gover- nantes da índia, na região onde foi construída a represa de Narmada. Unia longa história de resistência que, para ser contada.

exigiria um espaço bem maior que o desta coluna. Por isto, o espaço de hoje fica com uma das ilus- trações distribuídas durante o Primeiro Encontro Internacional de Atingidos por Barragens. Com certeza, valem mais do que as 300 palavras que poderia escrever neste espaço.

TU

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22 de março a 4 de abril/97- Página 7

Cultura iOC *; ■■ííJííí:" M

TEATRO

Altos e baixos no Festival de Curitiba Maioria das

apresentações não entusiasma o público

Quando Maria Alice Ver- gueiro subiu ao palco, na noite de segunda-

feira, parecia ter vindo sob encomenda para analisar o que tem acontecido nos palcos, desde o início deste 6o Festival de Teatro de Curitiba. Em meio a apresentações anteriores que variaram entre aplausos sem entusiasmo e vaias, a atriz paulista perguntava com os olhos vidrados na platéia: O que é o sucesso? E ali, vendo a atriz, desnuda dos recursos cênicos das super-produções, voltamos a ver o saudoso teatro do ator. O teatro onde o diretor não é a estrela principal. O que fez de Alvo, com direção de Lüciano Chirolli, aliás, uma exceção no Festival.

Se os organizadores do Festival pretendiam que o evento fosse vitrine para a produção de teatro nacional, o público não tem muitos motivos para comemorar. Poucos espe- táculos conseguiram levantar a platéia, que saía do festival com cara de quem viu e não gostou. Tudo começou na noite de estréia, quando o respeitado Grupo Galpão apresentou O Doente Imaginário. O espe- táculo tinha tudo pra dar certo, não fosse o detalhe de que lugar de Molière é na rua. Em tom de farsa, ficou distante demais de seu público e as "gags", ou seja, os gestos cômicos dos atores, perderam-se em meio à ostentação do Teatro de Arame. Os organizadores perderam uma boa oportunidade de abrir o festival com uma apresentação aberta.

No segundo dia, foi a vez do Círculo de Comediantes subir ao palco, com Viúva, porém

Honesta, de Nelson Rodrigues. Decepção na primeira noite, o espetáculo conseguiu dar a volta por cima na segunda, numa clara demonstração de que o espetáculo está em processo e os jovens atores vão ter que se adaptar ao palco italiano, já que a peça foi concebida para uma sala, transformada em corredor cercado pela platéia. No outro palco do festival, no entanto. Opus Profundum, de Dioniso Neto, revelava o exigente público curitibano, que não se omite, vaia a apresentação na primeira noite e abandona o teatro na segunda. Os espe- táculos abertos foram outra decepção. Ficamos na vontade de ver Suassuna. No sábado, o espetáculo foi transferido de local por causa da chuva. Só esqueceram um detalhe: avisar ao público que ficou esperando na Boca Maldita. No domingo, o espetáculo Romeu e Julieta, que seria às 12 horas, foi trans- ferido para as 19 horas. Quem foi para casa e não voltou, não perdeu muita coisa, a não ser o esforço para conseguir ouvir a perfeita adaptação do nordestino para a obra de Sheakespeare. Dois detalhes impediram: o amadorismo do elenco e a organização do Festival, que teimou em permitir o trânsito de fotógrafos e seus flashes durante o espetáculo.

O único espetáculo de Curi- tiba no Festival, Nora, com direção de Felipe Hirsh, agra- dou mais do que muitas peças de fora. E a expectativa em torno do clássico Tristão e Isolda, que estreou na terça- feira, também agradou ao pú- blico, que aplaudiu de pé o elenco liderado pelo diretor Henrique Diaz. A performance corporal dos atores, além da iluminação e do cenário.

PROGRAMAÇAOPROGRAMAÇAOP

. Água Verde /: O Povo Contra Larry Flynt - de Milos Forman. Às 14h30,17he 19h30. Fone 222- 6859.

Água Verde li. O Paciente Inglês - de Anthony Miinhella, com Ralph Fiennes, Juliette Binoche, Willen Dafe e Kristin Scott Thomas- 15h, 18h, 21h. Fone 222-6859.

Astor - Inimigo íntimo - de Alan J. Pakula. Às 14h, 16h30, 19h, 2 lh30. Fone 232-0084.

Astor Bote/: Jerry Maguire, A Grande Virada - de Jerry Maguire- às 14h, 16h30 e 19h. Shine - de Scott Hicks - às 2 lh30 . Fone 222- 2107.

Astor Champgnat: Evita - de Alan Parker- àsl5h40, 18h20 e 21h. Fone 336-1918.

Curitiba 4: Guerra nas Estrelas - de George Lucas- às 14h, 16h30, 19h,21h30 Fone: 326-1432.

Curitiba 5: Inimigo íntimo - de Alan J. Pakula- às 15h, 17h45, 2Òh30. Fone 326-1432.

Curitiba 6:0 Inferno de Dante -.de Roger Donaldson- 14hl5, 16h30, 18h45, 21h. Fone 326- 1432.

Itália. Evita - de Alan Parker- I5h, ITh, 19h, 21h.

Condor; SLEPPERS. A Vin- gança Adormecida - de Barry

Levinson - 14h30, 17hl5, 20h. Groff: Quando duas Mulheres

Pecam - de Ingmar Bergman-15h, 17h, 19h, 21h.

Guarani: Pequeno Dicionário Amoroso - de Sandra Werneck- às 15h, 17h,

Fargo - de Joel Coen e Ethan Coen-às 19 e 21h.

Luz: - Crede-mi - de Bia Lessa- 15h, 17h, 19h, 21hh.

Ritz; Beleza Roubada - de Stealing Baauty- às 15h, 17h30, 20h.

L/do /: Jerry Maguire- A Grande Virada - de Cameron Crower, com Tom Cruise, Cuba Gooding Jr, Rene Zellwager e Kelly Preston- 14h30, 1650, 19hl0,21h30. Fone 222-6859.

Palace: Guerra nas Estrelas - de George de Lucas- 13h30, 16h, 18h30e 21hs. Fone 233-1112.

Plaza: Guerra nas Estrelas- de George de Lucas- às 13h30, 16h, 18h, 2 Ih. Fone 222-0308.

Rívoli: 101 Dálmatas- de Stephen Berek - 15h, 17h; Jerry Maguire, a Grande Virada - de Cameron Crow - 20H

Antes de sair de casa, confirme filmes e horários; pessoas acima

de 60 anos não pagam ingresso nos cinemas da Fundação

Cultural de Curitiba.

transformaram a fria Ópera de Arame num cenário perfeito para a lenda de amor medieval.

O que é difícil de entender, no entanto, é como um grupo que se dispõe a mostrar um espetáculo alternativo durante o Festival não apresenta nenhuma atividade realmente teatral. Estar dentro de uma caixa de vidro pura e simples- mente não garante ao grupo Caos & Acaso, Grupo de Or- dem e Desordem Teatral, que estejam fazendo um espetáculo.

PúBLICO FANTASMA

PRESTIGIA O FESTIVAL

Os grupos participantes chegavam um dia antes de sua

apresentação e iam embora na

manhã seguinte, numa maratona pouco lógica para quem pretende fazer de um festival um

momento de intercâmbio

cultural. Muitos atores traba-

lharam até de madrugada para

desmontar o cenário e dormiram apenas algumas horas, já que que

tinham de estar no aeroporto logo

cedo. É que suas contas no Hotel

eram fechadas na manhã seguinte

Enquanto isso, notava-se a

circulação de globais pelo Hotel Araucária, onde os participantes

estão instalados. Globais que não

estiveram nos palcos, mas tive-

ram lugar garantido e privilegiado

no Festival, uma vez que assis- tiram às peças e visitaram a

cidade em troca do rosto na platéia.

Mas uma das coisas que mais chamaram a atenção no Festival foi a presença de uma platéia fantasma. Enquanto lá na bilheteria não havia mais ingressos para vender e os organizadores avisavam que o teatro estava lotado, poltronas vazias mostravam que, em Curitiba, fantasmas também gostam de teatro. Em Viúva, porém Honesta, por exemplo, os ingressos haviam se esgo- tado com bastante antece- dência. Não havia como as- sistir à peça. Na entrada das casas de espetáculo, muita gente tentava entrar, mesmo que tivesse que pagar R$ 17,00 para assistir a uma apresentação. Apagadas as luzes, uma triste realidade: a maioria da platéia era apenas dos participantes do festival, o público local era minoria, espantado pelo valor dos ingressos. O restante da platéia, em todas as peças, eram os fantasmas, com seus ingressos de cortesia no bolso, já que 50% dos ingressos foi destinado às empresas patro- cinadoras.

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Mulheres de Lorca, espetáculo dirigido por Sandra Pires

Maria Alice acerta no alvo

Vencedora dos prêmios Mambembe e Shell, Maria Alice Vergueiro

veio a Curitiba mostrar o texto, inédito no país, de Thomas Bernhard. Um casamento perfeito entre autor e a atriz, que está nos palcos desde os anos 60. Maria Alice se diz uma atriz guiada pela paixão e só isso justificaria o interesse por um texto que investiga o teatro, de seu nascimento com a drama- turgia, até sua finalização com o aplauso do público.

Maria Alice se propôs a analisar a relação artista/platéia e perguntou: o autor dramático quer passar alguma mensa- gem? Era o artista trocando de

papel com a platéia ,que foi olhada nos olhos e sentiu-se incomodada ao ter sua atitude passiva questionada. Na boca de cena, em companhia de sua companheira, a atriz Agnes Zulliani, chega a aplaudir, num humor amargo, repleto de reflexão. Seu encontro com Bernhard resultou numa sinfonia da palavra, Amusicalidade e a densidade da discussão a que o texto se propõe transformou O Alvo muito mais do que num bom momento na carreira da atriz. Marca seu gosto pelo teatro de pesquisa, numa rara demonstração de interpretação, onde as nuances e a voz marcam o ritmo de um espetáculo, cujo principal elemento é o talento do aton

Quanto ao Festival, Maria Alice Vergueiro lamentou não poder ficar mais tempo em Curitiba, uma vez que sua passagem de volta já estava marcada para um dia depois de sua última apresentação. "E uma questão de postura, de prio- ridades, e sinto muito não poder ficar mais no Festival, apro- veitando o intercâmbio cultural a que um evento desse tipo deve se propor. Foi muito bom estar aqui, pena que só consegui ficar mais um dia, com muito custo". Maria alice vai estar no Festival Internacional de Lon- drina, que deverá acompanhar na íntegra.

AR

"Síndrome de caipira endiIlheirado,,

O desagrado com a qualidade do VI Festival de Teatro de Curitiba não

é só junto ao público. Para a cuntibana Sandra Pires (diretora do espetáculo Mulheres de Lorca, um dos vencedores do Gralha Azul), tudo isso é resultado de uma espécie de "consciência de colônia", onde tudo o que é de fora é melhor. A diretora não aceita o feto de que tanto o Festival, quanto o governo do Estado e Prefeitura Municipal não invistam em produções locais que.

segundo ela, têm nível para ser conhecidas por todo o país. "É meio que um complexo de inferiordiade. Alguém tem de dizer pra eles que artistas como Luís Mello, Nicete Bruno, Paulo Goulart e Ari Fontoura não são bons porque apareceram na TV e sim porque se formaram aqui e tiveram que ir embora por pensa- mentos como esse. Diretores como Raul Cruz morreram sem ser reconhecidos por falta de incentivo, dinheiro para levar seus espetáculos para serem vistos fora daqui, ou

mesmo aqui dentro". A indignação é compartilhada

pelo diretor Chico Penafiel (Aqua- riofobía). "Só um caipira endinheir- ado investiria em espetáculos de Rio ou São Paulo, com nomes como Marco Nanini, Fernanda Monte- negro e Paulo Autran, como acon- teceu na administração passada. Eles trazem sua equipe e não contribuem em nada com os artistas locais. Sem contar que nem precisam de patrocínio. Isso é projeção pessoal Coisa de caipira endinheirado".

Page 8: a 36 do não esclarece dúvidas e a proposta de CPI ganha força · Bradesco, o banco estatal paranaense foi o que negociou o maior montante de títulos atualmente sob investigação

Página 8 - 22 de março a 4 de abril/97

^Esportes

CAM PANHA

AflétícoTbtalrujnoàvirada do século Clube tenta atrair

torcedor para poder construir seu novo

estádio

O Atlético pretende ser um dos grandes clubes do futebol brasileiro

da virada do século. Foi lançada na semana passada uma campanha publicitária para cativar o torcedor rubro- negro. A campanha, eleborada pela agência curitibana Mercer, tem o nome de Atlético Total e nos próximos.30 dias fará apelos ao torcedor para que volte ao clube.

Nesta primeira fase, a idéia é criar uma grande expectativa para que o torcedor entre no dia-a-dia do clube e comece a ir em maior número ao estádio Pinheirão, onde o clube está jogando atualmente. Realizado este objetivo, a Mercer vai lançar a segunda fase da cam- panha, colocando à venda as cadeiras e camarotes no novo estádio Joaquim Américo, a nova Baixada. O projeto, elaborado por um escritório de arquitetura de Curitiba e outro de São Paulo, prevê que a nova Baixada tenha capacidade para mais de 50 mil pessoas, todas

sentadas, seguindo as normas estabelecidas pela Fifa. A diretoria ainda não confirmou os valores, mas o que se sabe é que a cadeira e cada vaga nos camarotes, cem ao todo e com capacidade para 14 pessoas, vão custar em tomo de 2 mil reais.

A matemática rubro-negra é simples; se a torcida aderir à campanha, o Atlético estará dapdo um grande passo rumo ao futuro. Fontes ligadas à ^iretoria dizem que o novo ;stádio vai custar perto de 5 milhões de dólares, já que toda a estrutura será pré-moldada. Se forem vendidas perto de 20 mil cadeiras, número consi- derado razoável pela diretoria do clube e pela agência que elaborou a campanha, o Atlé- tico vai arrecadar 40 milhões de reais. Isso significa dizer que o clube poderá pagar o estádio e ainda ficar com 35 milhões para montar um supertime, capaz de disputar com chances o Campeonato Brasileiro. Resta saber se a torcida vai entrar de cabeça no Atlético Total e, se isso acontecer, se a diretoria vai ter a transparên- cia de aplicar este dinheiro no seu devido lugar.

A Baixada está sendo demolida para dar lugar a um estádio com capacidade para 50 mil pessoas

CAMPEONATO

Agora é que vai começar

"Ibmeio da Morte" classifica quatro

Paralelamente ao octogonal, 13 equipes disputam o chamado "Torneio da

Morte". A Federação Paranaense de Futebol (FPF) prefere o termo Torneio Extra. Dessas 13 equipes, só as quatro melhor classificadas passam para a divisão principal do futebol paranaense de 1998.

E a briga vai ser feia. Se já não conseguiram se classificar para o octogonal, imaginem o que esperar desses jogos, que não devem chamar muito a atenção do público. Três equipes do interior. Cascavel, Londrina e Nacional, de Rolândia,

estão ameaçados de não participar por problemas financeiros.

A FPF já mandou um aviso aos que não participarem da conti- nuidade do Campeonato. Serão suspensos por dois anos, com multa de R$ 50 mil e outras penalidades.

Além do Londrina, Cascavel e Nacional, participam ainda do 'Torneio da Morte" as equipes do Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Batei, de Guarapuava, Rio Branco, de Paranaguá, Toledo, Mixto Bordo, de Telêmaco Borba, Iguaçu, de União da Vitória, Platinense, de Santo Antônio da Platina, e Paranavaí.

Fase final reúne os pito melhores times

Oito equipes começam a partir deste final de semana a disputar a

fase final do Campeonato Para- naense. O octgonal será em turno e returno. O time que somar o maior número de pontos será declarado campeão da temporada. Se duas equipes terminarem empatadas no pri- meiro lugar, teremos um jogo extra entre elas.

O Atlético entra no octagonal com dois pontos extras, por ter ficado em primeiro lugar na fase classificatória. O Coritiba entra com um ponto por ter ficado no segundo lugar. Paraná, Matsubara, União Bandeirante, Francisco Beltrão e ainda o Apucarana e Iraty, este dois vindos do Grupo B, são os outros times que irão brigar pelo título.

Surpresas? A principio, Atlético, Coritiba e Paraná são

os times mais cotados para ganhar o Campeonato. Os três clubes da capital fizeram a sua parte nesta fase da competição e devem brigar para ver quem será o campeão da temporada estadual.

O Matsubara, que voltou para a cidade de Andirá, e o União se classificaram mos- trando que valeu a tradição dos últimos anos, quando as duas equipes sempre estiveram nas primeiras colocações do regio- nal. O Francisco Beltrão fez uma boa campanha e recuperou a imagem do futebol do Sudoeste do estado.

As surpresas negativas ficaram por conta do Londrina e Rio Branco, que estavam no Grupo A e do Foz do Iguaçu, que disputou o Grupo B. Na bolsa de apostas no inicio do campeonato, quase todos acre- ditavam que essas três equipes se classificariam para o octgonal.

O Londrina foi a caricatura da cara do seu ex-presidente, Marcelo Caldareli. O dirigente foi afastado, depois que um grupo de empresários da cida- de se aliou à Prefeitura de Londrina e assumiu o comando do clube. Mas, mesmo assim, os desmandos continuaram acontecendo e o time caiu para o Torneio Extra.

O Rio Branco perdeu a classificação na última rodada, ao ser goleado em casa pelo Paraná Clube. Mas os empates em casa contra o União e Batei, também em Paranaguá, acabaram fazendo falta ao time do litoral do estado. O mesmo aconteceu com o Foz do Iguaçu, que montou um time competitivo, mas foi "derrubado" pela arbitragem, que inventou um pênalti no último jogo contra o Iraty, que acabou classificado.

Campeonato Paranaense 3/4 - Octogonal 2.° Turno /."TüRNO

1.* rodada Vi 22 e 23/3/97 Atlético x Beltrão Apucarana x Paraná Iraty x Coritiba União x Matsubara 2* rodada^ 29 «30/3/97 Matsubara x Atlético Paraná x Iraty Coritiba x União Beltrão X Apucarana 3.*rodad»% 5 «6/4/97 Paraná x Atlético Coritiba x Matsubara Iraty x Beltrão União x Apucarana 4* rodada»/» 12 «13/4/97 Atlético x Coritiba Beltrão x Paraná Iraty xUniao Apucarana x Matsubara 5.* rodada % 19 e 20/4/97 Atlético xUaia» Beltrão x Coritiba Paraná x Matsubara Apucarana x Iraty 6* rodada % 26 e 27/4/97 Coritiba x Paraná Atlético X Apucarana União x Beltrão Matsubara x Iraty 7.'rodada Víl.0/5/97 Iraty x Atlético Apucarana x Coritiba União x Paraná

Matsubara x Beltrão

2.° TURNO

l.*rod«da% 3 «4/5/97 Beltrão x Atlético Paraná x Apucarana Coritiba x Iraty Matsubara x União 2.' rodada % 10 e 11/5/97 Atlético x Matsubara Iraty x Paraná União x Coritiba Apucarana x Beltrão 3.* rodada % 17 e 18/5/97 Atlético x Paraná Matsubara x Coritiba Beltrão x Iraty Apucarana x União 4.* rodada 'A 24 « 25/5/97 Coririba x Atlético Paraná x Beltrão União x taty Matsubara x Apucarana 5,* rodada % 29/5/97 União x Atlético Coritiba x Beltrão Matsubara x Paraná Iraty x Apucarana 6.* rodada'/* 31/5 ei.0/6 Paraná x Coritiba Apucarana x Atlético Beltrão x União Iraty x Matsubara 7.'rodada 5/i 8/6/97 Atlético x Iraty

Coritiba x Apucarana Paraná x União Beltrão x Matsubara

TORNíIO EXTRA

1.'rodada % 23/3/97 Londrina x Ponta Grossa Foz x Nacional Maringá x Cascavel Batei x Mixto Rio Branco x Iguaçu Toledo x Paraaavai Folga: Platinense 2/rodada V. 30/3/97 Ponta Grossa x Foz Nacional x Maringá Cascavel x Batei Mixto x Rio Branco Iguaçu x Toledo Platinense x Paranavaí Folga; Londrina 3.* rodada % 6/4/97 Nacional x Londrina Foz x Cascavel Maringá x Mixto Batei x Iguaçu Paranavaí x Rio Branco Toledo x Platinense Folga: Ponta Grossa . 4.'rodada H 13/4/97 Londrina x Maringá Batei x Ponta Grossa Rio Branco x Nacional Cascavel x Toledo Mixto x Platinense

Paranavaí x Iguaçu Folga; Foz 5." rodada'/; 20/4/97 Toledo x Batd Platinense x Maringá Foz x Paranavaí Iguaçu x Londrina Ponta Grossa x Mixto Cascavel x Nacional Folga: Rio Branco 6.'rodada % 27/4/97 Ponta Grossa x Cascavel Mixto x Londrina Iguaçu x Foz Maringá x Paranavaí Platinense x Batei Rio Branco x Toledo Folga; Nacional 7." rodada % l.0/5/97 Cascavel x Mixto Maringá x Rio Branco Foz x Toledo Londrina x Platinense Paranavaí x Ponta Grossa Nacional x Iguaçu Folga; Batei 8." rodada % 4/5/97 Paranavaí x Nacional Ponta Grossa x Platinense Iguaçu x Cascavel Toledo x Londrina Rio Branco x Foz Maringá x Batei Folga: Mixto 9." rodada'/. 11/5/97 Platinense x Rio Branco

Batei x Paranavaí Iguaçu x Maringá Mixto x Foz Cascavel x Londrina Nacional x Ponta Grossa Folga; Toledo 10.»rodada Vi 18/5/97 Londrina x Rio Branco Foz x Batei Toledo x Ponta Grossa Platinense x Nacional Paranavaí x Cascavel Mixto x Iguaçu Folga; Maringá H." rodada'/, 25/5/97 Paranavaí x Mixto Platinense x Cascavel Nacional x Toledo Rio Branco x Ponta Grossa Batei x Londrina Maringá x Foz Folga: Iguaçu 12» rodada %l.0/6/97 Iguaçu x Platinense Mixto x Toledo Cascavel x Rio Branco Batei x Nacional Ponta Grossa x Maringá Londrina x Foz Folga; Paranavaí 13.* rodada 8/6/97 Ponta Grossa x Iguaçu Londrina x Paranavaí Foz X Platinense Toledo x Maringá Rio Branco x Batei Nacional x Mixto Folga; Cascavel

EM RESUMO

Palhaçada (I) O centroavante Romário, do

Flamengo, foi absolvido pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Rio da acusação de ter agredido o jogador Cafezinho. Isto apesar das imagens de televisão mostrarem Romário apanhando, mas também batendo no jogador. O técnico Júnior, do Flamengo, foi suspenso por trinta dias por ter agredido o mesmo Cafezinho com um violento soco. No final das contas. Cafezinho, o que mais apanhou, acabou suspenso por quatro jogos. No final do "julgamento", ficou tudo muito claro. O presidente do Tribunal advertiu o presidente do Flamengo, Michel Assef: "Michel, vê se fala com o Romário. Vai chegar o dia em que a gente não vai conseguir segurar..."

Palhaçada ( 2) Tembém no Campeonato do

Rio, o técnico Paulo Matta, do Itaperuna, encontrou uma maneira inusitada de protestar contra um lance que, na sua interpretação, prejudicou seu time: invadiu o campo para tomar satisfação do árbitro e, contido, resolveu arriar as calças como protesto. Mais tarde, as imagens de televisão comprovaram que o gol de Edmundo, o terceiro da vitória do Vasco por 3 a 2, foi absolutamente legal.

Palhaçada (3) Barcelona da Espanha e o Di

Bufala, dos EUA, protagonizaram uma vergonhosa marmelada, durante o Campeonato Mundial Interclubes de Futsal, disputado em Porto Alegre. Para evitar enfrentar o Internacional, a equipe mais forte do torneio, o time espanhol perdeu de propósito, no último dia 13, por 3 a 1. Como a partida estava empatada, os próprios jogadores espanhóis fizeram os gols que deram a "vitória" aos americanos. O Di Bufala também queria perder, mas teve um pouco mais de pudor e engoliu o resultado.

Inter campeão Na final do Mundial de Futsal,

no último dia 16, o Barcelona acabou recebendo o que merecia e foi derrotado pelo Internacional, por 4 a 2. O Inter sagrou-se, assim, campeão do torneio. A partida só foi decidida na prorrogação, após empate de 2 a 2 no tempo normal. O jogador Manoel Tobias, do time gaúcho, foi considerado o melhor da competição, repetindo o feito do Mundial de Seleções.

Bros/7 2006 O Brasil quer sediar a Copa do

Mundo de futebol de 2006. A candidatura brasileira foi apre- sentada oficialmente no início deste ano. O Brasil deverá con- correr com Alemanha, Inglaterra e Rússia, que deverá oficializar sua candidatura nos próximos dias.

Sonho coro Findo o sonho de o Rio sediar

a Olimpíada de 2004, restou a conta a pagar. E salgada. No levantamento das despesas, preparado pelo Comitê Rio 2004, para ser entregue ao prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, um dos itens é assustador, para dizer o mínimo. A empresa Sportsmedia, contratada para cuidar de toda a parte de marketing da campanha, apresentou uma conta de R$ 700 mil apenas pelo relatório com o plano de marketing dos Jogos. Detalhe: o ralatório tem cinco páginas.