cpi cachoeira 1

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CONGRESSO NACIONAL COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUÉRITO destinada a investigar, no prazo de cento e oitenta dias, práticas criminosas do senhor Carlos Augusto Ramos, conhecido vulgarmente como Carlinhos Cachoeira, e agentes públicos e privados, desvendadas pelas operações "Vegas" e "Monte Carlo", da Polícia Federal, nos termos que especifica”. RELATÓRIO FINAL Presidente: Senador Vital do Rego (PMDB/PB) Relator: Deputado Odair Cunha (PT/MG) Brasília Novembro de 2012

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CONGRESSO NACIONAL

COMISSO PARLAMENTAR MISTA DE INQURITOdestinada a investigar, no prazo de cento e oitenta dias, prticas criminosas do senhor Carlos Augusto Ramos, conhecido vulgarmente como Carlinhos Cachoeira, e agentes pblicos e privados, desvendadas pelas operaes "Vegas" e "Monte Carlo", da Polcia Federal, nos termos que especifica.

RELATRIO FINAL

Presidente: Senador Vital do Rego (PMDB/PB) Relator: Deputado Odair Cunha (PT/MG)

Braslia Novembro de 2012

Agradecimentos Equipe de Trabalho da Assessoria do Relator da CPMI

Ao trmino dessa rdua jornada percorrida nos ltimos sete meses, hora de destacarmos o esforo e a dedicao da equipe de assessores disposio da Relatoria, sem a qual o produto final ora apresentado no seria possvel. Agradecemos de forma especial a todos os servidores que atuaram junto a essa relatoria e aos seus respectivos rgos de origem pela cesso. Fizeram um trabalho rduo e incansvel diante dos desafios que lhes foram propostos e dignificaram a funo pblica e o compromisso democrtico que os movem profissionalmente. Fao uma deferncia especial e congratulo a equipe que coordenou os trabalhos junto minha assessoria. Agradeo em especial minha Chefe de Gabinete, Rebeca de Souza Leo Albuquerque, por ter se doado nesta misso de maneira singular com tamanho zelo a frente da Coordenao Geral. Agradeo ao Dr. Alberto Moreira Rodrigues, Assessor Jurdico da Liderana do PT na Cmara, pelo seu primor na elaborao deste Relatrio, pela incansvel dedicao e pela competncia. Agradeo ao Dr. Alexandre da Silveira Isbarrola, Delegado da Polcia Federal, por compartilhar conosco a sua valorosa experincia. Agradeo ao Senhor Frederico Lopes de Almeida, Servidor do Tribunal de Contas da Unio, por ter sido um espelho de profissionalismo a toda nossa equipe tcnica. Agradeo tambm ao Dr. Marcos Rogrio de Souza, Assessor Jurdico da Liderana do PT no Senado, pela dedicao e pertinentes intervenes nas anlises jurdicas e polticas, ao Assessor Marcelo Bormann Zero, da Liderana do PT no Senado Federal, pelo esmero nas suas anlises e elaborao do Relatrio e ao Dr. Nilson Karoll Mendes de Arajo, Assessor Jurdico do meu gabinete pela competncia e dedicao em todos os momentos. Agradeo a Mario Jorge Taveira de Almeida, Policial do Senado, pelo seu profissionalismo e de sua equipe no hercleo trabalho dos cruzamentos de dados desta Comisso. Agradeo ainda a toda a minha valorosa equipe tcnica que contriburam decisivamente para a elaborao deste relatrio: Cmara dos Deputados Alan Wellington Soares Santos

Bianca Gomes Benn Edmo Luiz da Cunha Pereira Geter Borges de Sousa Mrcio Eduardo Gonalves da Silva Maria Regina Reis Naiara Cunha Teixeira Adilson Jos Paulo Barbosa Antnia Vanda Trigueiro Caldas Mauro Santos

Senado Federal Aderbal de Oliveira Neto Gabriel Carlos dos Reis Costa Dias Kariny Maria Santos Guedes Thiago Luiz Silva Campos Luiz Fernando Concon Liares

Banco Central Elbem Cesar Nogueira Amaral Ronaldo Malagoni de Almeida Cavalcante

Controladoria Geral da Unio Alexandre Gomide Lemos Rodrigo Vieira Medeiros

Receita Federal do Brasil Fbio Cembranel Joo Ribeiro Amorim

Polcia Federal Cairo Costa Duarte Christian Robert Wurster

Tribunal de Contas da Unio Liliane Galvo Colares

Ministrio Pblico do Estado de Minas Gerais Andr Estevo Ubaldino

Agradecemos por derradeiro, aos Chefes de Gabinetes da Liderana do PT na Cmara Federal, Sr. Marcos Braga e no Senado Federal, Sylvio Petrus, pela compreenso na liberao dos respectivos servidores para colaborarem com os trabalhos dessa Comisso.

SUMRIO

Apresentao PARTE I A Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI) 1. Sobre a CPMI. 1.1. O papel de uma CPMI 1.2. Da criao da CPMI e suas competncias. 1.2.1. Ato de criao e composio da CPMI. 1.2.2. Justificativa da criao da CPMI. 1.3. A Composio da CPMI. 1.4. Da Instalao e das primeiras reunies. 1.4.1. Os primeiros documentos recebidos e a Sala-Cofre. 2. Dos trabalhos realizados. 2.1. Metodologia da investigao 2.1.1. Do silncio dos convocados e a singularidade das oitivas desta CPMI 2.2. Dos Requerimentos aprovados. 2.3. Das Reunies da CPMI. 2.4. Das oitivas Resumo de cada depoimento. 2.5. Das Quebras de Sigilos. 3. Os dados recebidos - quantitativo. 3.1. Volume do material analisado. a) Sigilo bancrio, fiscal e telefnico b) Escutas, inquritos e demais relatrios 4. Documentos enviados pelo Poder Judicirio a) Operao Monte Carlo b) Operao Vegas. c) 2. Remessa Monte Carlo e Vegas 5. Relatrios descritivos dos documentos apreendidos pela Polcia Federal a) Busca e apreenso Volume 1.,1.6. terabyte b) Relatrios de material apreendido.

11 17 17 17 19 22 26 28 33 34 35 35 38 42 42 63 231 232 232 233 233 235 235 238 244 248 248 250

PARTE II Da Organizao Criminosa 1. Conceito de Organizao Criminosa 1.1. O Conceito de organizaes criminosas no ordenamento jurdico brasileiro 1.2. Corrupo: elemento central da organizao criminosa 2. O Marco Legal dos Jogos No Brasil 2.1. A Explorao das Loterias em Gois 3. O surgimento do personagem Carlinhos Cachoeira 3.1. O Controle de Carlos Cachoeira na Loteria do Estado de Gois e a expulso da mfia espanhola 3.2. Na Mira da CPI dos Bingos 4. De Bicheiro a Empresrio. 4.1. Os cabeas da organizao criminosa voltada para jogos 4.2. A Famlia Queiroga 4.3. Organograma da organizao criminosa de explorao dos jogos ilegais 5. As Operao Vegas e Monte Carlo da Polcia Federal e a ampliao das atividades ilticas para alm do jogo eletrnico 5.1. A Operao Vegas 5.2. A Operao Monte Carlo 5.3. Descobertas das Operaes Vegas e Monte Carlo: evoluo das atividades ilcitas para alm da explorao do jogo eletrnico 6. Associao de Carlos Cachoeira com Empresas da Construo Civil CRT e DELTA 6.1. A Associao de Carlos Cachoeira com Cludio Abreu (Diretor da Delta Construes) 6.2. A Associao de Carlos Cachoeira com Rossine Aires Guimares (Scio da Construtora Rio-Tocantins - CRT) 6.3. A Operao Saint-Michel da Polcia Civil do DF 6.3.1. Heraldo Puccini Neto, Paulo Vieira de Souza e Luiz Antonio Pagot

272 272 274 279 285 293 298 300 317 334 334 338 342 375 375 381 400 403 404 432 461 466

PARTE III Do Financiamento da Organizao Criminosa 1. Breves consideraes sobre a Teoria Econmica do Crime Organizado 2. A Organizao Criminosa de Carlinhos Cachoeira e a Construo de um "Tringulo de Ferro" em Gois

501 501 512

2.1. O Tringulo de Ferro de Gois 3. O Vrtice das Atividades Ilegais 3.1. Jogos O Capital Inicial 3.2. Anlise da movimentao financeira internacional dos investigados. 3.3. Sub-organizao criminosa: Famlia Queiroga 3.4. Factoring 4. O Vrtice das Empresas com Atividades Formalmente Legais 4.1. Empresas de Medicamentos 4.2. Empresas de Comunicao 5. O Vrtice das Empresas Fantasmas e do Mundo Poltico 6. Um Captulo Importante: Empresas com operaes suspeitas no diretamente vinculadas organizao criminosa 7. Concluses gerais sobre as empresas

512 519 533 590 603 621 657 659 661 691 1158 1590

PARTE IV Das Vinculaes da Organizao Criminosa com Agentes Polticos e Pblicos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios e com o Ministrio Pblico Federal e Estadual. 1. Das vinculaes com integrantes do Poder Executivo Estadual do Estado de Gois 2. Das vinculaes com integrantes do Poder Executivo Municipal no Estado de Gois 3. Das vinculaes com integrantes do Poder Executivo do Distrito Federal 4. Das vinculaes com integrantes do Poder Executivo Municipal no Estado de Tocantins 5. Das vinculaes com integrantes do Poder Legislativo Federal 6. Das vinculaes com integrantes do Poder Legislativo Municipal no Estado de Gois 7. Das vinculaes com integrantes do Poder Judicirio Federal 8. Das vinculaes com integrantes do Ministrio Pblico do Estado de Gois.

1608

1609 2682 2824 2999 3013 3283 3407 3441

PARTE V Das Vinculaes da Organizao Criminosa com Agentes Privados. 1. Dos principais auxiliares do Lder da organizao criminosa Carlos Cachoeira: 1.1. Wladimir Garcez Henrique. 1.2. Gleyb Ferreira da Cruz. 1.3. Geovani Pereira da Silva. 1.4. Lenine Arajo de Souza. 1.5. Adriano Aprgio de Souza. 1.6. Idalberto Matias de Arajo. 1.7. Andr Teixeira Jorge. 1.8. Leide Ferreira da Cruz 2. Dos papis desempenhados pela esposa e pela ex-esposa de Carlos Cachoeira: 2.1. Andressa Alves Mendona de Morais 2.2. Andra Aprgio de Souza. 3. Das vinculaes entre Carlos Cachoeira e empresrios:. 3.1. Cludio Dias de Abreu. 3.2. Rossine Aires Guimares 3.3. Walter Paulo de Oliveira Santiago 3.4. Fernando Antnio Cavendish Soares. 3.5. Marcelo Henrique Limrio Gonalves 4. Dos papis desempenhados pelas pessoas de: 4.1. Antnio Perillo 4.2. Rubmaier Ferreira de Carvalho. 5. Sntese dos Indiciamentos e Recomendaes de Agentes Polticos, Pblicos e Privados - da PARTE III - Empresas e; do ANEXO 2. - Policiais Cooptados

3454 3455 3456 3542 3617 3639 3694 3705 3744 3763 3769 3770 3804 3844 3845 3865 3947 3991 4043 4114 4166 4195 4216

PARTE VI A Organizao Criminosa e suas ramificaes nos Meios de Comunicao.

4269

PARTE VII O Procurador-Geral da Repblica e a Operao Vegas da Polcia Federal.

4618

PARTE VIII Proposies Legislativas I. Das Proposies 1. Proposio Legislativa sobre Organizaes Criminosas 2. Proposio Legislativa que criminaliza a prtica de jogos de azar e modifica outros tipos penais 3. Proposio Legislativa que altera Prazos Prescricionais 4. Da Proposta de Emenda Constituio, que amplia a legitimao de atuao perante o STF e as atribuies do Conselho Nacional do Ministrio Pblico 5. Proposio Legislativa contra a utilizao de Pessoa Interposta (Laranja). 6. Proposio Legislativa que modifica a Lei de Improbidade Administrativa. 7. Proposio Legislativa que cria o Cadastro Nacional de Dados 8. Proposio Legislativa sobre a fiscalizao das empresas de Factoring.

4654 4654 4661 4676 4685 4695 4705 4724 4762 4770

II. Das Recomendaes. 1. Recomendao pela aprovao do PL 6578/2009 (PLS 150/2006), que trata de organizaes criminosas e tramita na Cmara dos Deputados 2. Recomendao e Diligncia acerca do Sigilo Bancrio 3. Recomendaes sobre o Sigilo Telefnico 4. Recomendao para aprovao do Substitutivo ao Projeto de Lei de Reforma Poltica, que tramita em Comisso Especial na Cmara dos Deputados. 5. Recomendao pela aprovao do Projeto de Lei 5.363/2005 que trata da Criminalizao do Enriquecimento Ilcito e tramita na Cmara dos Deputados. 6. Recomendao pelo aperfeioamento dos mecanismos de pesquisa no Dirio Oficial das administraes pblicas estaduais e municipais

4783 4783 4784 4791 4795

4799 4800

ANEXOS ANEXO 1. Do Patrimnio da Organizao Criminosa ANEXO 2. - A Organizao Criminosa no Aparelho de Segurana Pblica do Estado de Gois. ANEXO 3. Requerimentos Apreciados ANEXO 4. Relatrios Descritivos ANEXO 5. Representao ao Conselho Nacional do Ministrio Pblico

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APRESENTAO

Concidados! No nos podemos furtar Histria! Ns, deste Congresso e desta Administrao, seremos lembrados a despeito de ns mesmos. Nenhuma de nossas virtudes, nenhum de nossos defeitos poder poupar a qualquer de ns. O julgamento a que seremos submetidos nos far jazer em honra ou desonra at a ltima das geraes

(Abraham Lincoln 1809 1865).

Recebemos como Congressistas desta imensa nao uma relevante, rdua e ao mesmo tempo gratificante misso da sociedade brasileira: investigar as prticas criminosas do Senhor Carlos Augusto Ramos, conhecido vulgarmente como Carlinhos Cachoeira, e agentes pblicos e privados, desvendadas pelas operaes Vegas e Monte Carlo, da Polcia Federal. Conquanto o caminho a trilhar pudesse se divisar primeira vista relativamente singelo, em funo de todo acervo investigativo que j havia sido produzido pela Polcia Federal no bojo das operaes denominadas Vegas e Monte Carlo, tnhamos plena cincia da grandiosidade e da responsabilidade que iramos enfrentar nos meses que se seguiram instalao dessa Comisso Parlamentar Mista de Inqurito. Com efeito, o elogivel e abrangente trabalho inicial da Polcia Judiciria Federal, embora j apontasse para a abrangncia das atividades da organizao criminosa chefiada por Carlos Cachoeira tinha objetivos mais delimitados, na medida em

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que se concentrara inicialmente na investigao e represso dos jogos de azar e nas prticas criminosas decorrentes dessas condutas. J substanciados nesse cabedal probatrio preliminar, mergulhamos nesses ltimos sete meses, de forma incansvel e diuturna, numa imensa cachoeira de dados e informaes produzidos a partir das decises democrticas desse colegiado. Como consequncia desse trabalho essa Comisso Parlamentar Mista de Inqurito identificou em pormenores uma das maiores e mais complexas organizaes criminosas j estruturas no Pas e que h alguns anos vinha assacando de modo mais frontal o errio e a sociedade goiana e divisava, com a mesma nsia e a total falta de pudores que detinha estender seus tentculos para todo o Pas, no fosse a interveno democrtica da Polcia Federal e do Ministrio Pblico Federal. Cumprimos com denodo nossa misso. O silncio dos investigados em nenhum momento abalou nossa capacidade probatria. Os recessos e paralisaes que levaram, em determinados momentos, suspenso parcial das assentadas pblicas da Comisso, em funo dos compromissos democrticos da Nao e da sociedade, em nenhum instante interferiram no cumprimento da nossa tarefa. Fizemos uma investigao profunda, consistente, serena e

compromissada com a Nao brasileira. A organizao criminosa chefiada por Carlos Cachoeira foi dilucidada exausto. O modus operandi do grupo criminoso, as relaes com agentes pblicos e polticos, suas fontes de financiamento, relaes empresarias, enfim, todo o organograma e funcionamento dessa complexa estrutura criminosa foi minuciosamente delineada em nosso trabalho. Estribados na Constituio Federal que nos outorga uma competncia de investigao,produzimos um trabalho que certamente alimentar as tarefas da Polcia Federal, do Ministrio Pblico Federal e dos Ministrios Pblicos Estaduais, rgos de investigao e persecuo permanentes do Estado brasileiro.

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Nada passou ao largo de nossa investigao. Identificamos, sem paixes ou perseguies e apenas com base na realidade probatria amealhada na investigao, todos os agentes pblicos e privados que aderiram ou colaboraram com a organizao criminosa. Outrossim, afastamos em nossa investigao as suspeitas ventiladas contra tantos outros cidados. Deambulamos sobre as fontes de financiamento da organizao criminosa a partir da empresa Delta, que por sua vez alimentava empresas de fachadas conduzidas e administradas pelos lderes do grupo criminoso. Seguimos e identificamos todos os beneficirios (pessoas fsicas e jurdicas) dos recursos oriundos dessas empresas de fachada, de modo que o caminho do dinheiro est apontado e dever ser percorrido, como dito, pelos rgos de investigao permanente do Estado. Localizamos diversos bens mveis e imveis adquiridos com recursos da organizao criminosa. E em parceria com o Ministrio Pblico Federal conseguimos o sequestro e a indisponibilidade de um grande acervo patrimonial da quadrilha. Fora do fato determinado que direcionou nosso trabalho, mas em sintonia de conexo com o objeto da investigao que fazamos, identificamos outras supostas irregularidades tambm alimentadas financeiramente a partir da empresa Delta e diversas empresas fora da regio centro oeste. No nos omitimos diante dessa realidade. Dentro das limitaes constitucionais do nosso trabalho, identificamos todas essas empresas, os valores movimentados e as irregularidades que as caracterizam, de modo que tambm encaminharemos Polcia Federal e ao Ministrio Pblico Federal um trabalho bastante avanado, com um acervo investigativo que permitir a continuidade e o aprofundamento das investigaes. Identificamos ainda, profissionais ligados aos meios de comunicao que de alguma forma aderiram aos desgnios da organizao criminosa ou colaboraram com Carlos Cachoeira. Respeitando todos os limites e garantias constitucionais,

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especialmente a liberdade de imprensa, dedicamos tambm um captulo especfico de nosso relatrio para discorrer sobre as condutas desses profissionais. No haver impunidades. Ningum ser protegido ou imunizado por essa Comisso Parlamentar Mista de Inqurito. Dentro da quadra constitucional que nos era permitido esgotamos os elementos de investigao. Tnhamos um compromisso com esse Colegiado, com o conjunto de nossos pares, mas substancialmente a sociedade e o Estado Democrtico de Direito. Esse compromisso foi cumprido. Trata-se de um texto verde, azul e amarelo, um relatrio com as cores do Brasil e com a responsabilidade constitucional que temos como representantes da Nao no Congresso Nacional. A dureza com que divisamos algumas condutas nesse relatrio diretamente proporcional ao tratamento que o cidado ou cidad atingido(a) por este Relatrio dispensaram sociedade e ao errio brasileiro. No somos defensores, acusadores ou juzes de ningum. Todas as aes e condutas delineadas no presente relatrio recebero tratamento democrtico do Ministrio Pblico e do Poder Judicirio e aqueles que tiveram seus nomes aqui ventilados, de uma forma ou de outra, sabem que tero assegurado nas instncias competentes todas as garantias constitucionais. A Nao brasileira est unida no enfrentamento da criminalidade e o Congresso Nacional exerce um papel fundamental nesse campo. O Brasil signatrio e est compromissado com vrios organismos internacionais (ONU, OEA, OCDE)1 que possuem o escopo de combater a corrupo, fato que por vezes acontece por meio da disseminao de tcnicas de combate, estipulao de metas e cooperaes entre os pases. O Relatrio Final desta CPMI est dividido em nove partes. A parte I retrata o papel da CPMI, os trabalhos realizados com procedimentos investigativos,ONU Organizao das Naes Unidas; OEA Organizao dos Estados Americanos e OCDE Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico.1

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dados compartilhados dos rgos de controle, documentos partilhados pelo Poder Judicirio e Relatrios descritivos consequentes das operaes da Polcia Federal. A Parte II traz a definio de ORGCRIM, o marco legal da explorao dos jogos no Brasil, discorre sobre as duas operaes da Polcia Federal - Vegas e Monte Carlo; elucida o aparecimento do personagem Carlos Cachoeira e sua associao com as empresas de construo civil. Do Financiamento da Organizao Criminosa o tema da Parte III do presente Relatrio, a construo do que vem a ser o Tringulo de Ferro no Estado de Gois e a Organizao Criminosa de Carlos Cachoeira, apontando e identificando cada um dos vrtices desse tringulo (vrtice das atividades ilegais, vrtice das empresas com atividades formalmente legais e o vrtice do mundo poltico), bem como apresenta, ainda, os vasos comunicantes do Tringulo de Ferro que resultaram na lavagem do dinheiro. As partes IV e V indicam as vinculaes entre o grupo investigado e integrantes de diferentes nveis do Estado Federado Brasileiro, Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios, bem como nas trs esferas do Poder: Executivo, Legislativo e Judicirio, demonstrando ampla teia de relacionamentos da Organizao Criminosa de Carlos Cachoeira e tambm as implicaes com agentes privados. A Parte VI descreve a participao de policiais e servidores da Secretaria de Segurana Pblica do Estado de Gois na organizao criminosa. J a Parte VII discorre sobre as relaes da Organizao Criminosa com funcionrios e at mesmo proprietrios de veculos de comunicao. Por derradeiro, divisamos responsabilidades e fazemos propostas e sugestes de aperfeioamento da legislao brasileira, visando dotar o Estado de mais e melhores instrumentos de enfrentamento da criminalidade.

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Agradecemos, na pessoa do Presidente desta Comisso Parlamentar Mista de Inqurito, Senador Vital do Rego Filho, as importantes colaboraes de todas as Deputadas e Deputados, de todas as Senadoras e Senadores. Todos, independentemente de suas vises de mundo e da quadra ideolgica em que se direcionam, demonstram muita serenidade e compreenso em todo o desenrolar da investigao e deixaram claro seu compromisso com a sociedade e a Nao.

Honramos e dignificamos os mandatos que nos foram outorgados pela sociedade brasileira. Estamos em paz e cientes de que fizemos um grande trabalho em defesa da democracia, do errio e da cidadania.

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Parte I A Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI)

1. Sobre a Comisso Parlamentar Mista De Inqurito - CPMI

1.1. O papel de uma CPMI Um dos princpios basilares da Democracia moderna o da Separao de Poderes. Das Revolues Americana (1776) e Francesa (1789) resultaram Constituies estruturadas na concepo da Separao de Poderes que o pensador Charles de Montesquieu trouxe em sua clssica obra O Esprito das Leis (1748), na qual tratou de conceitos de formas de governo e de autoridade poltica que se tornaram pontos doutrinrios essenciais para a cincia poltica. Trata-se de um perodo que marcou o rompimento do Estado Absolutista e a transio para o Estado Liberal, dentro da evoluo do conceito ocidental de Estado Moderno. A Constituio Democrtica Brasileira de 1988 estabeleceu, em seu art. 2, que os Poderes devem ser independentes e harmnicos entre si. Para isto ser possvel, fundamental que se impea o cometimento de abusos no exerccio das funes estatais. Sendo assim, alm de definir as atribuies especficas de cada Poder, a Constituio tambm determinou que cada um deles exera atividades de fiscalizao sobre os demais e de cooperao entre eles. o chamado equilbrio por meio de freios e contrapesos. O Poder Legislativo possui instrumentos de fiscalizao e controle. A Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) um dos meios de investigao que exerce sua prerrogativa investigando fatos referentes atuao da Administrao Pblica e de interesse da sociedade (CF, art. 58, 3), ainda que praticados por particulares. As competncias da CPI nos tempos atuais so o resultado de um avano que se deu com a institucionalizao e fortalecimento da Democracia no

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Brasil. A prerrogativa de investigar e, assim, contrabalanar os demais Poderes caracterstica do sistema poltico e do avano em relao ao trato transparente da Coisa Pblica. Sendo assim, a histria das CPIs est diretamente associada ao progresso da Democracia, na qual o inqurito parlamentar mostrou ser instncia especial, no centro das disputas polticas, capaz de gerir crises e administrar interesses plurais. Segundo SANTI (2012) 1, desde a promulgao da Constituio Federal de 1988, consoante s novas orientaes democrticas, o instituto das CPIs teve ampliados os seus poderes de investigao, que foram equiparados ao das autoridades judiciais, o que significa, como regra, poder de agir sem a necessidade de prvio consentimento do Judicirio, prerrogativa que no existira no perodo autoritrio e que limitava a ao dessas comisses. O Parlamento brasileiro, dentro de sua competncia do poder de fiscalizar e de decidir, aponta fatos de interesse da sociedade que demandam investigao, investiga-os colegiadamente e encaminha concluses e

indiciamentos aos rgos permanentes de controle, alm de debruar-se sobre a realidade que venha a conhecer e que exige a aplicao ou aperfeioamento de novas leis. A partir das concluses das CPIs podem ser instaurados processos destinados a punir eventuais infratores, sejam eles autoridades, servidores ou cidados; processos esses que podem ser de natureza poltica, administrativa, penal ou civil. As concluses costumam, ainda, servir como subsdios elaborao legislativa que se verificar necessria, em razo do que for constatado no Inqurito (SANTI, 2012) e no intuito de promover melhorias e aperfeioamentos que impeam ou dificultem a recorrncia, no futuro, de irregularidades idnticas s investigadas.1

Comisses Parlamentares de Inqurito e Democracia no Brasil do Tempo Presente (1985-2010). Universidade de Braslia. 2012

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Assim, o papel de uma CPMI deve ser em sua essncia: 1) Contribuir para a transparncia da Administrao Pblica ao revelar para a sociedade fatos e circunstncias que provavelmente no seriam, de outra forma, do conhecimento pblico; 2) Examinar criticamente a legislao aplicvel ao caso sob investigao; 3) Propor abertura de processo contra Senador ou Deputado Federal, na respectiva Casa do Congresso Nacional, sempre que o nome do parlamentar estiver vinculado a fatos ou atos que possam indicar quebra de decoro; 4) Interceder junto a rgos da Administrao Pblica para sustar irregularidades ou prticas lesivas identificadas pela investigao; 5) Apontar ao Ministrio Pblico os delitos que caracterizam prejuzo Administrao Pblica para que esse rgo possa responsabilizar civil e penalmente os implicados; e, 6) Propor modificaes e atualizaes na legislao de forma a contribuir para o efetivo aperfeioamento da Democracia no Pas e a plena confiana do cidado nas instituies do Estado Democrtico de Direito.

1.2. Da criao da CPMI e suas competncias: A Constituio Federal de 1988 trata da Comisso Parlamentar de Inqurito (CPI) no seu art. 58 3, que estatui: As Comisses Parlamentares de Inqurito, que tero poderes de investigao prprios das autoridades judiciais, alm de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, sero criadas pela Cmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou

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separadamente, mediante requerimento de um tero de seus membros, para apurao de fato determinado e por prazo certo, sendo suas concluses, se for o caso, encaminhadas ao Ministrio Pblico, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. Segundo jurisprudncia do Supremo Tribunal de Federal, a CPI pode investigar tudo o que disser respeito ao fato bem delimitado, ou seja, pode investigar os fatos que se ligam, intimamente, com o fato principal, no podendo alargar o seu inqurito para alm do que, direta ou indiretamente, disser respeito ao objetivo para o qual foi criada. No Requerimento de criao da Comisso, necessrio que seja indicado com clareza o fato determinado que ela se prope a investigar, evitando, dessa forma, devassas generalizadas e abusos na investigao de fatos vagos, o que geraria afrontas irresponsveis s liberdades individuais. importante ressaltar que a criao de Comisso Parlamentar de Inqurito independe de deliberao e concordncia da maioria da Casa. um instrumento de garantia das minorias e, para ser criada, basta preencher os seguintes requisitos: subscrio do requerimento de constituio da CPI por, no mnimo, um tero dos membros da Casa Legislativa; indicao de um fato determinado a ser objeto da apurao legislativa; e temporariedade da Comisso Parlamentar de Inqurito. Consta no 3 do art. 58 da Constituio Federal que as Comisses Parlamentares de Inqurito podem ser institudas em cada Casa do Parlamento ou ainda serem mistas. Alm de estabelecer que o inqurito parlamentar seja realizado por um prazo certo. O art. 21 do Regimento Comum do Congresso Nacional determina que as Comisses Parlamentares Mistas de Inqurito so criadas em Sesso Conjunta, sendo automtica a sua instituio se requerida por 1/3 (um tero) dos membros

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da Cmara dos Deputados e 1/3 (um tero) dos membros do Senado Federal. O pargrafo nico do art. 21 traz ainda que tero o nmero de membros fixado no ato da sua criao, devendo ser igual a participao de Deputados e Senadores, obedecido o princpio da proporcionalidade partidria. Por se tratar de Comisso Mista, a CPMI em tela se sujeita ao Regimento Comum do Congresso Nacional e s normas Regimentais do Senado naquilo que o Regimento Comum for omisso, sendo complementado pelo Regimento da Cmara naquilo que o do Senado for omisso. Alm disso, se aplicam s Comisses Parlamentares de Inqurito algumas regras da legislao processual penal. O art. 145 do Regimento Interno do Senado Federal (RISF) estabelece que a criao de uma Comisso Parlamentar de Inqurito ocorre mediante requerimento de um tero de seus membros, e que o requerimento determinar o fato a ser apurado, o nmero de membros, o prazo de durao da comisso e o limite das despesas a serem realizadas. No obstante, o art. 152 do RISF estabelece que o prazo da CPI poder ser prorrogado, automaticamente (no cabe deliberao do Plenrio), tambm a partir de requerimento de um tero dos seus membros, comunicado por escrito Mesa e lido em Plenrio. O 3 do art. 35 do Regimento Interno da Cmara dos Deputados por sua vez, estabelece que, para as CPIs instaladas naquela Casa, o prazo de funcionamento de 120 (cento e vinte) dias, sendo prorrogvel at sua metade, mediante deliberao do Plenrio. O Supremo Tribunal Federal decidiu, com base na Lei n 1.579/52, que as prorrogaes podem ir at o final da Legislatura, divididas em perodos de 60 (sessenta) dias cada uma, para atender a exigncia regimental. A prorrogao na Cmara dos Deputados depende de requerimento do presidente da CPI dirigido ao Presidente da Mesa Diretora, que o submeter ao Plenrio da Casa para deliberao.

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Alm disso, importante pontuar que as Comisses Parlamentares de Inqurito funcionam sob o princpio da colegialidade, devendo suas decises ser tomadas em votaes no colegiado, sob pena da deliberao reputar-se nula. As CPIs podem, no exerccio de suas atribuies, determinar as diligncias que considerem necessrias e requerer a convocao de ministros de Estado, tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais, ouvir os indiciados, inquirir testemunhas sob compromisso, requisitar de reparties pblicas e autrquicas informaes e documentos e transportar-se a lugares para diligncias. No cabe CPI fazer julgamentos. A Constituio Federal instituiu s CPIs poderes de investigao prprios de autoridades judiciais, mas no lhes estendeu os poderes de julgamento, devendo suas concluses ser encaminhadas ao Ministrio Pblico, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. 1.2.1 Ato de criao e composio da CPMI Em 19 de abril de 2012, foi apresentado Mesa do Senado Federal o Requerimento n 1, de 19 de abril de 2012, que, com fundamento no art. 58, 3 da Constituio Federal, combinado com o art. 21 do Regimento Comum do Congresso Nacional, requereu a criao de Comisso Parlamentar Mista de Inqurito, composta de 17 senadores e 17 deputados, e igual nmero de suplentes, destinada a investigar, no prazo de 180 dias, prticas criminosas desvendadas pelas operaes Vegas e Monte Carlo, da Polcia Federal, com envolvimento do Senhor Carlos Augusto Ramos, conhecido vulgarmente como Carlinhos Cachoeira, e agentes pblicos e privados, sem prejuzo da investigao de fatos que se ligam ao objeto do principal, dentre estes, a existncia de um esquema de interceptaes e monitoramento de comunicaes telefnicas e telemticas ao arrepio do princpio de reserva de jurisdio.

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Em 1 de novembro de 2012 foi lido no Plenrio do Senado Federal o Requerimento de prorrogao dos trabalhos da CPMI, por mais 48 dias.1.2.2 Justificativa da criao da CPMI

As atividades criminosas do Senhor Carlos Augusto Ramos, tambm conhecido como Carlinhos Cachoeira, tinham se tornado pblicas com a deflagrao das Operaes Vegas e Monte Carlo quando o Congresso Nacional decidiu instalar a CPMI para realizar investigao, fiscalizar as condutas omissivas ou comissivas de agentes pblicos encarregados da imposio de observncia de leis e aprimorar a legislao existente. As investigaes levadas a cabo pela Polcia Federal com autorizao da Justia, nas Operaes Vegas, entre os anos de 2008 e 2009, e Monte Carlo, entre os anos de 2010 e 2012, evidenciaram um espectro de ilicitudes que envolvem o Senhor Carlos Cachoeira, e seu envolvimento com o Poder Pblico, estendendo-se ao Executivo, Legislativo e Judicirio do Estado de Gois, bem como membros do Ministrio Pblico. O objeto desta Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI), apelidada CPMI Caso Cachoeira, ou simplesmente CPMI do Cachoeira, investigar as prticas criminosas levadas a cabo pelo Senhor Carlos Cachoeira e averiguar como a organizao criminosa por ele liderada conseguiu infiltrar-se nas estruturas de Estado e quais os agentes pblicos e privados que com ele colaboravam. Os indcios tambm apontavam para uma rede de espionagem poltica e econmica, na qual a organizao criminosa se baseava em comprar informaes sigilosas muitas vezes por meio de interceptaes telefnicas clandestinas.

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Os efeitos da atuao da Organizao Criminosa em tela so portanto a corrupo e cooptao de agentes polticos, de foras de segurana pblica e de inteligncia e de demais autoridades; a infiltrao nas instituies estatais com deturpao das mesmas; abuso de poder; explorao de prestgio; cometimento de crimes como lavagem de dinheiro, entre outros, com o comprometimento de Instituies do Estado Democrtico de Direito, em diferentes esferas. Antes da criao desta CPMI, informaes dos resultados das Operaes Vegas e Monte Carlo suscitavam na opinio pblica, as seguintes suspeitas sobre o contraventor: a) de azar; b) Prtica de crimes de corrupo, prevaricao, condescendncia Trfico de influncia com objetivo de legalizar explorao de jogos

criminosa, advocacia administrativa, violao de sigilo funcional, violao e divulgao de comunicao telefnica e telemtica, exerccio de atividade com infrao de deciso administrativa, explorao de prestgio e formao de quadrilha por agentes pblicos, associados ou no a agentes privados, com finalidade de impedir a cessao de atividades ilcitas no setor de jogos de azar, bem como, em consequncia, a obstruo da persecuo, do processo e da punio criminal; c) Transferncia de dinheiro ilegalmente obtido por meio da

explorao de jogos de azar para empreendimentos supostamente legais, direta ou indiretamente; d) Fraude em licitaes com objetivo de obter vantagens decorrentes

da adjudicao do objeto licitado para empresas supostamente legais, direta ou indiretamente; e) Manuteno, modificao ou prorrogao de contrato

administrativo firmado em decorrncia de procedimento licitatrio irregular, com

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objetivo de proporcionar vantagem a empresas supostamente legais de sua propriedade ou que a ele estivessem associadas, direta ou indiretamente. O nome Carlos Cachoeira j esteve em evidncia em outras CPIs, como na CPMI dos Correios, criada em 2005, e na CPI dos Bingos, instalada em 2005 no Senado Federal. Nessas duas oportunidades, os Parlamentares no se aprofundaram nas atividades empresariais de Cachoeira, para alm da jogatina. Foi, portanto, baseado em preocupaes sobre as prticas ilegais de trfico de influncia, fraude em licitaes, lavagem de dinheiro, explorao de prestgio e formao de quadrilha por agentes pblicos que o Parlamento, com suas Casas unidas, decidiu instaurar uma Comisso Parlamentar Mista de Inqurito. Foi, portanto, baseado na preocupao sobre o envolvimento de Carlos Cachoeira com o Poder Pblico, envolvimento tal capaz de comprometer ao todo e em partes Instituies Democrticas de Direito que, 396 (trezentos e noventa e seis) Deputados e 72 (setenta e dois Senadores) assinaram o Requerimento de criao da Comisso Parlamentar Mista de Inqurito. Neste relatrio, esto depositados o acervo probatrio, indicirio e as recomendaes para que as Instituies Permanentes de Investigao e os rgos do Poder Judicirio, possam dar continuidade ao trabalho de investigao produzido por esta Comisso Parlamentar Mista de Inqurito, e promover a responsabilidade civil e criminal das pessoas fsicas e jurdicas envolvidas com a organizao criminosa, dando encaminhamentos s recomendaes aqui propostas.

1.3. A Composio da CPMI

A composio da CPMI mudou ao longo dos meses, tendo a seguinte configurao em novembro de 2012:

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Senadores titulares: Vital do Rgo (PMDB-PB), Presidente; Jos Pimentel (PT-CE), Jorge Viana (PT-AC), Ldice da Mata (PSB-BA), Pedro Taques (PDT-MT), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Ricardo Ferrao (PMDB-ES), Srgio Souza (PMDB-PR), Ciro Nogueira (PP-PI), Paulo Davim (PV-RN), Jayme Campos (DEM-MT), lvaro Dias (PSDB-PR), Cssio Cunha Lima (PSDB-PB), Fernando Collor (PTB-AL), Vicentinho Alves (PR-TO), Marco Antnio Costa (PSD-TO) e Randolfe Rodrigues (Psol-AP). Senadores Suplentes: Walter Pinheiro (PT-BA), Anibal Diniz (PT-AC), Angela Portela (PT-RR), Delcdio Amaral (PT-MS), Wellington Dias (PT-PI), Benedito de Lira (PP-AL), Cyro Miranda (PSDB-GO), Jarbas Vasconcelos (PMDBPE), Cidinho Santos (PR-MT), Eduardo Amorim (PSC-SE) e Sergio Peteco (PSDAC). Deputados titulares: Odair Cunha (PT-MG), Relator; Paulo Teixeira (PT-SP), Vice-Presidente; Cndido Vacarezza (PT-SP), ris de Araujo (PMDB-GO), Luiz Pitiman (PMDB-DF), Carlos Sampaio (PSDB-SP), Domingos Svio (PSDBMG), Gladson Cameli (PP-AC), Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Maurcio Quintella Lessa (PR-AL), Glauber Braga (PSB-RJ), Miro Teixeira (PDT-RJ), Rubens Bueno (PPS-PR), Slvio Costa (PTB-PE), Filipe Pereira (PSC-RJ), Delegado Protgenes (PCdoB-SP), Jos Carlos Arajo (PSD-BA), Armando Verglio (PSD-GO). Deputados Suplentes: Dr. Rosinha (PT-PR), Luiz Srgio (PT-RJ), Emiliano Jos (PT-BA), Leonardo Picciani (PMDB-RJ), Joo Magalhes (PMDBMG), Vaz de Lima (PSDB-SP), Vanderlei Macris (PSDB-SP), Iracema Portella (PPPI), Mendona Prado (DEM-SE), Ronaldo Fonseca (PR-DF), Paulo Foletto (PSBES), Vieira da Cunha (PDT-RS), Sarney Filho (PV-MA), Arnaldo Faria de S (PTBSP), Hugo Leal (PSC-RJ), J Moraes (PCdoB-MG), Roberto Santiago (PSD-SP) e Csar Halum (PSD-TO).

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1.4. Da Instalao da CPMI e suas primeiras reunies

A CPMI foi instalada em 25 de abril de 2012, ocasio em que foi eleito por aclamao o Presidente, Senador Vital do Rgo (PMDB-PB), e indicado o Relator, Deputado Federal Odair Cunha (PT-MG). O Presidente e o Relator subscreveram Requerimento n 1/2012 que, com base no art. 148 do Regimento Interno do Senado Federal, aplicado subsidiariamente aos trabalhos da CPMI, e no art. 151 do Regimento Comum, solicitaram ao Supremo Tribunal Federal, ao Ministrio Pblico e Polcia Federal cpia do inteiro teor das Operaes Vegas e Monte Carlo da Polcia Federal. Ainda na reunio de instalao da CPMI, o Relator se comprometeu a apresentar um Plano de Trabalho na reunio administrativa subsequente, o que aconteceu em 2 de maio de 2012. Nessa segunda reunio, o Relator fez a leitura do Plano de Trabalho, tendo o Presidente o colocado em votao, que foi aprovado pela maioria da Comisso, com trs votos contrrios. Nesta ocasio, ainda foram apreciados 65 requerimentos, dentre eles a quebra de sigilo bancrio, fiscal e telefnico de Carlos Augusto de Almeida Ramos e os convites para prestar depoimento CPMI aos Delegados Federais Dr. Matheus Mela Rodrigues e Dr. Raul Alexandre Marques de Souza, e aos procuradores Dr. Daniel Resende Salgado e Dr La Batista de Oliveira. Tambm foram aprovadas a requisio e cesso de servidores federais para colaborar com a Comisso, dos rgos a saber: Banco Central, Receita Federal, Controladoria-Geral da Unio; Polcia Federal; Advocacia-Geral da Unio (AGU), Ministrio Pblico Estadual. Outros requerimentos aprovados solicitavam compartilhamento integral, em papel e meio eletrnico, das informaes da Operao Monte Carlo e Vegas. A terceira reunio da CPMI aconteceu em 8 de maio de 2012, iniciada s 14 horas e 51 minutos, tornou-se secreta s 15 horas e 34 minutos, aps votao nominal que deliberou pela oitiva do Delegado de Polcia Federal,

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Raul Alexandre Marques de Souza, responsvel pela Operao Vegas, em reunio secreta, que s terminou s 22 horas e 35 minutos. A quarta reunio da CPMI, destinada oitiva, em Reunio Secreta, do Delegado Matheus Mella Rodrigues, responsvel pela Operao Monte Carlo, ocorreu em 10 de maio de 2012, tendo sido iniciada s 10 horas e 35 minutos e encerrada s 19 horas e 23 minutos.

1.4.1. Os primeiros documentos recebidos e a Sala-Cofre

No dia 2 de maio, s 10h, dois oficiais de Justia entregaram CPMI o Inqurito do Supremo Tribunal Federal em nove CDs, com 15 mil pginas e 40 volumes, contendo a Operao Vegas; no dia 7 do mesmo ms, a CPMI recebeu o inqurito da Operao Monte Carlo com 10 mdias: duas delas, com documentos relativos s operaes Monte Carlo e Vegas e oito com anexos. No foram entregues materiais em meio impresso. No dia 28 de maio, o STF encaminhou 19 mdias contendo o Inqurito 3430. Em junho, a Polcia Federal encaminhou mais 6 mdias contendo cpia dos relatrios de inteiro teor das apreenses efetuadas pela Operao Monte Carlo. No dia 24 de agosto, a CPMI recebeu da Polcia Federal mais 280 mdias (documentos, planilhas, fotos, vdeos, extratos, udios, relatrios analticos) reunindo a digitalizao de todo o material apreendido pela Polcia Federal para investigao. Os materiais encaminhados para a CPMI so enviados para Subsecretaria de Apoio s Comisses Especiais e Parlamentares de Inqurito do Senado Federal que os armazena em uma sala cofre. A sala permanece fechada a chave, com vigilncia 24 horas, inclusive com cmeras, e entrada autorizada apenas para parlamentares e assessores cadastrados.O material digitalizado fica

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restrito a acesso mediante senha. A Secretaria Especial de Informtica do Senado Federal (Prodasen) responsvel pelo processamento dos dados de sigilo bancrio e pela segurana desses dados na rede interna do Senado Federal pelas dependncias do Congresso Nacional.

2. Dos Trabalhos Realizados 2.1. Metodologia da investigao A primeira etapa dos trabalhos da Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI) foi dedicada a oitivas da acusao, com depoimentos dos delegados da Polcia Federal responsveis pelas Operaes Vegas e Monte Carlo. Na sequncia, foi a vez da defesa, com a abertura de datas para sesses de questionamentos a Carlos Augusto de Almeida Ramos e demais pessoas identificadas nas Operaes Vegas e Monte Carlo. As oitivas dos Procuradores responsveis, anteriormente prevista para essa fase, acabou ocorrendo na 26 reunio, em 21 de agosto de 2012. Uma CPMI ou CPI tem os mesmos poderes de investigao de uma autoridade judicial, podendo, atravs de deciso colegiada: solicitar quebra de sigilo bancrio, fiscal e telefnico (incluindo dados); requerer informaes e documentos sigilosos diretamente s instituies financeiras ou atravs do Banco Central, desde que aprovadas pelo Plenrio da Cmara dos Deputados, do Senado ou da CPIs (Artigo 4, 1, da Lei Complementar 105/01); ouvir testemunhas, sob pena de conduo coercitiva; ouvir investigados ou indiciados. Esse exerccio parajudicial feito por meio de ofcios e requerimentos dos Parlamentares integrantes de uma CPI ou CPMI. No entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), alguns poderes da CPI no so idnticos aos dos magistrados, j que estes ltimos tm alguns

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atributos assegurados na Constituio e que so exclusivos da magistratura. Alguns exemplos da jurisprudncia do STF:Impende referir, ainda, que a existncia simultnea de investigaes j instauradas por outros rgos estatais (como o Departamento de Polcia Federal, o Ministrio Pbico Federal, o Tribunal de Contas da Unio, a Controladoria-Geral da Unio, o Ministrio da Defesa, a Infraero e a ANAC) no impede que Casas do Congresso Nacional promovam inquritos parlamentares, pois estes tal como tem sido reconhecido pela jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal (RTJ 177/229, Rel. Min. Celso de Mello, v.g.) possuem independncia em relao aos procedimentos investigatrios em curso perante outras instncias de Poder: Autonomia da investigao parlamentar. O inqurito parlamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se como procedimento jurdico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade prpria, circunstncia esta que permite Comisso legislativa sempre respeitados os limites inerentes competncia material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituio promover a pertinente investigao, ainda que os atos investigatrios possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inquritos policiais ou a processos judiciais que guardam conexo com o evento principal objeto da apurao congressual. Doutrina. Precedente: MS 23.639-DF, rel. min. Celso de Mello (Pleno). (RTJ 190/191-193, Rel. Min. Celso de Mello, Pleno). (MS 26.2441-MC, rel. mi. Celso de Mello, deciso monocrtico, julgamento em 29-3-2007, DJ de 9-42007.). No mesmo sentido: HC 100.341, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 4-11-2010, Plenrio, DJE de 2-12-2010; MS 23.652, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 22-11-2000, Plenrio, DJ de 16-2-2001, MS 23.639, rel. min. Celso de Mello, julgamento em 16-11-2000, DJ de 16-22001. Se, conforme o art. 58, pargrafo 3, da Constituio, as comisses parlamentares de inqurito detm o poder instrutrio das autoridades judiciais e no maior que o dessas , a elas se podero opor os mesmo limites formais e substanciais oponveis aos juzes (...). (HC 79.244, rel. min. Seplveda Pertence, julgamento em 23-2-2000, Plenrio, DJ de 24-3-2000.)

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Portanto, uma CPI no pode: determinar indisponibilidade de bens do investigado; decretar priso preventiva (apenas em flagrante); determinar interceptao/escuta telefnica; determinar afastamento de cargo ou funo pblica durante a investigao; e decretar busca e apreenso domiciliar de documentos. Segundo jurisprudncia do STF, h a possibilidade de o investigado ou acusado permanecer em silncio, evitando autoincriminao. Assim, so seus direitos: a) silenciar diante de perguntas cuja resposta implique autoincriminao; b) no ser presa em flagrante por exercer essa prerrogativa constitucional; c) no ter o silncio interpretado em seu desfavor. Para exercer poderes judiciais, as CPIs devem seguir diretrizes fixadas a juzes no artigo 125 do Cdigo de Processo Civil (CPC). Por intermdio de ofcios ou requerimentos, podem determinar as provas necessrias instruo do processo, indeferindo as diligncias inteis ou meramente protelatrias (CPC, artigo 130). Os interessados podem produzir as provas destinadas a demonstrar as suas alegaes, mas a uma CPI lcito investigar livremente os fatos e ordenar de ofcio a realizao de quaisquer provas (CPC, art. 1.107). A partir de ofcio ou requerimentos, pode uma CPI em qualquer fase do processo investigatrio, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de obter esclarecimento sobre fato que interesse ao objeto da investigao (CPC, art. 440). Igualmente importante o poder de cautela, perante o qual a Comisso pode determinar as medidas provisrias que julgar adequadas, quando houver receio fundamentado de prejuzo dos trabalhos de investigao por atos lesivos de difcil reparao (CPC, art. 798). So alguns dos poderes de uma CPI com os quais o pargrafo 3 do artigo 58 da Constituio de 1988 tornou enrgicas as investigaes parlamentares.

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A efetividade do trabalho da CPMI obra de todos os Parlamentares por meio da apresentao de requerimentos, objetos de reunies administrativas. A investigao desta CPMI teve por base os autos da Polcia Federal e do Ministrio Pbico nas Operaes Vegas e Monte Carlo. A Comisso tambm requisitou quebras de sigilo bancrio, fiscal e telefnico dos envolvidos conforme as informaes foram surgindo no decorrer dos trabalhos. Do cruzamento de dados, foram encontrados indcios de movimentao financeira ilcita e suspeita de infiltrao da Organizao Criminosa no Estado de Gois. Alm disso, os requerimentos aprovados pelo colegiado tambm solicitaram o encaminhado CPMI de documentos e informaes por parte de rgos pblicos e empresas privadas, alm de pessoas fsicas, que muito contriburam para o avano desta investigao.

2.1.1. Do silncio dos convocados e a singularidade das oitivas desta CPMI: As convocaes e os depoimentos prestados s Comisses Parlamentares de Inqurito em geral so importantes para a investigao dos eventos sob o foco do inqurito. Os depoimentos revelam fatos, enriquecem a anlise sobre os eventos investigados e confirmam ou refutam vnculos pessoais, econmicos, profissionais que so importantes para a investigao. Qualquer pessoa pode ser intimada na qualidade de testemunha, com o compromisso de dizer a verdade do que souber ou lhe for perguntado, sendo advertida das penas de falso testemunho, segundo o art. 210 do Cdigo de Processo Penal (CPP). Na qualificao, a testemunha deve declarar nome, idade, Estado e residncia, profisso, lugar onde exerce atividade, se parente de alguma das partes ou quais suas relaes com qualquer uma delas (art. 203).

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Recusando-se a depor, salvo das hipteses permitidas em lei, a CPMI poder efetuar priso em flagrante por crime de desobedincia, previsto no art. 330 do Cdigo Penal. Quem pode se recusar a depor, segundo art. 206 do CPP, so: o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cnjuge ainda que desquitado , o irmo e o pai, a me, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando no for possvel por outro modo obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas circunstncias; o advogado, em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional. Outras so proibidas de depor em razo de funo, Ministrio, ofcio ou profisso, devendo guardar segredo salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho (art. 207). Senadores e Deputados Federais no so obrigados a testemunhar sobre informaes recebidas no exerccio da funo, nos termos do art. 53, pargrafo 5 da Constituio Federal. Isto no veda a possibilidade de comparecimento perante a CPI na qualidade de testemunhas, com a prerrogativa de se eximirem de falar acerca desses fatos. A Comisso pode requisitar autoridade policial a apresentao da testemunha que, regularmente intimada, deixar de comparecer sem motivo justificado (art. 218). O no-atendimento da convocao pela testemunha constitui crime de desobedincia ordem legal de funcionrio pblico, previsto no art. 330 do CPP, com penas de deteno de 15 dias a seis meses e multa. Neste caso, fazse a necessria interferncia judicial, por se tratar de medida de carter condenatrio, o que foge alada da CPI, limitada esfera investigativa.

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Portanto, a testemunha no pode recusar-se a depor perante a CPI, tendo a Comisso poder de intimao. Nesse sentido, a jurisprudncia prevista pelo Supremo Tribunal Federal, a seguir:

Ningum pode escusar-se de comparecer a Comisso Parlamentar de Inqurito para depor. Ningum pode recusar-se a depor. Contudo, a testemunha pode escusar-se a prestar depoimento se este colidir com o dever de guardar sigilo. O sigilo profissional tem alcance geral e se aplica a qualquer juzo, cvel, criminal, administrativo ou parlamentar. No basta invocar sigilo profissional para que a pessoa fique isenta de prestar depoimento. preciso haver um mnimo de credibilidade na alegao e s a posteriori pode ser apreciado caso a caso. A testemunha no pode prever todas as perguntas que lhe sero feitas. O Judicirio deve ser prudente nessa matria, para evitar que a pessoa venha a obter HC para calar a verdade, o que modalidade de falso testemunho. (HC n 71.039 RJ, Relator Ministro Paulo Brossard).

Quanto s oitivas, esta Comisso Parlamentar Mista de Inqurito vivenciou uma peculiaridade ao se deparar com uma Organizao Criminosa (ORGCRIM) que possui evidente pacto de silncio, que reproduziu o comportamento mostrado nas instncias judiciais, pois tanto os investigados quanto as testemunhas recorreram ao direito constitucional de permanecer em silncio, sob a escusa do direito a no auto-incriminao (21 pessoas que possuem algum tipo de relao com Carlos Cachoeira vieram CPMI e ficaram em silncio).

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Alm disto, a CPMI aprovou em votao nominal o Rito adotado para as oitivas. Na 19 reunio no dia 3 de julho de 2012, o Presidente da CPMI convocou os lderes de cada partido integrante da Comisso para uma reunio extraordinria em seu gabinete, realizada aps a reunio do dia, para discutir como seria encaminhado o Rito das oitivas (se o depoente, ao invocar o silncio seria dispensado no incio do depoimento, ou se a recusa seria manifesta a cada pergunta feita pelos membros da Comisso). A dispensa foi adotada pela CPMI a partir da 7 reunio, quando Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlos Cachoeira, optou por permanecer em silncio e foi dispensado imediatamente. Esse rito foi adotado por economia processual, aps debates, dilogos e entendimentos com diversos Parlamentares, para que as pessoas no ficassem repetindo perante a CPMI o direito de permanecer em silncio. A proposta em discusso era mudar esse rito dispensar imediatamente os convocados que optassem por permanecer em silncio e no produzir provas contra si. Em votao na reunio seguinte, dia 5 de julho, houve discusses sobre a invocao desse direito ao silncio dos depoentes munidos de Habeas Corpus, sem nem ao menos ouvir as perguntas dos parlamentares; outros argumentaram que no se poderia mudar naquele momento um rito que vinha sendo adotado desde as oitivas anteriores. Depois dos encaminhamentos, a votao concluiu pela manuteno do Rito como estava, 20 votos contra 8, que gostariam de voltar ao rito regimental anterior oitiva de Carlos Cachoeira. Compreenderam os senhores Parlamentares a caracterstica diferenciada desta CPMI, na qual a anlise dos documentos, dos sigilos e cruzamentos de dados se fizeram mais importantes do que muitas das oitivas.

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o caso de se afirmar que o silncio das pessoas convocadas, muitas vezes, falou mais do que o prprio depoimento. Muitas pessoas vieram na condio de testemunha e mesmo assim deixaram de colaborar com os trabalhos da CPMI, evitando prestar esclarecimentos que pudessem ser importantes para a investigao. Ficou ntido o pacto de silncio das pessoas que de alguma forma colaboraram com a complexa organizao criminosa de Carlos Cachoeira. 2.2. Dos Requerimentos Aprovados A CPMI aprovou 275 requerimentos ao total. Convocou 109 (cento e nove) pessoas para prestarem esclarecimentos e convidou outras 4 (quatro). Foram oficiados (agendados) 40 depoimentos, dentre os quais 24 pessoas optaram por no responder s perguntas dos parlamentares evocando o direito de permanecerem em silncio. Dos 275 requerimentos aprovados, 144 foram de providncias ou requisio de documentos e informaes a rgos pblicos e instituies privadas. Sobre os requerimentos de quebra de sigilo, a CPMI aprovou ao total a quebra de 92 sigilos bancrios, 91 sigilos fiscais e 88 sigilos telefnicos. Dos 92 sigilos bancrios, 60 foram de pessoas jurdicas e 32 de pessoas fsicas. Dos sigilos ficais afastados, 60 foram de pessoas jurdicas e 31 de pessoas fsicas. E em relao aos sigilos telefnicos, foram 58 quebras de pessoas jurdicas e 30 de pessoas fsicas. A lista com requerimentos apreciados e aprovados e as providncias solicitadas pela CPMI encontram-se no captulo Anexos deste Relatrio.

2.3. Das Reunies da CPMI

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1 Reunio 25/04/2012 Instalao da CPMI com eleio do Presidente, senador Vital do Rgo (PMDB-PB), e indicao do Relator, deputado Odair Cunha (PT-MG). Foram aprovados requerimentos de compartilhamento de informaes das Operaes Vegas e Monte Carlo, por parte do Supremo Tribunal Federal, Procuradoria-Geral da Repblica e Polcia Federal. 2 Reunio 03/05/2012 Reunio administrativa, quando foi aprovado o plano de trabalho apresentado pelo Relator e tambm 65 requerimentos. Foi pedida a quebra de sigilo bancrio, fiscal e telefnico do senhor Carlos Augusto de Almeida Ramos bem como sua convocao para prestar depoimento CPMI. Tambm foram aprovadas as convocaes do Senador Demstenes Torres e dos investigados Cludio Dias de Abreu, Lenine Arajo de Souza, Gleyb Ferreira da Cruz, Wladmir Garcez Henrique, Idalberto Matias de Arajo (o Dad), Jairo Martins de Souza, Geovani Pereira da Silva e Jos Olimpio de Queiroga Neto. Alm deles, tambm foram convidados a depor os Delegados Matheus Mella Rodrigues e Raul Alexandre Marques de Souza, e os Procuradores Dr. Daniel Rezende Saugado e Dra. La Batista de Oliveira. Foram solicitadas cpias em papel e meio magntico do inteiro teor das Operaes Vegas e Monte Carlo junto Polcia Federal, ao Supremo Tribunal Federal e Procuradoria-Geral da Repblica. 3 Reunio 08/05/2012 Reunio secreta, com oitiva do Delegado de Polcia Federal, Raul Alexandre Marques de Souza (responsvel pela Operao Vegas). As informaes prestadas foram bastante significativas para a continuidade dos trabalhos da CPMI. 4 Reunio 10/05/2012 Reunio secreta, com oitiva do Delegado da Polcia Federal Matheus Mella Rodrigues (responsvel pela Operao Monte Carlo). Seu depoimento trouxe importantes contribuies para os trabalhos da CPMI.

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5 Reunio 15/05/2012 Reunio administrativa (em substituio oitiva anteriormente prevista do Sr. Carlos Cachoeira). Ministro Celso de Mello proferiu despacho suspendendo a presena do Sr. Carlos Cachoeira neste dia CPMI mediante habeas corpus (HC 113/548) do Supremo Tribunal Federal (STF). Justificou sua deciso baseando-se no direito do impetrante e de seus advogados de terem acesso aos autos de investigao penal e parlamentar para proferir defesa. Foram aprovados nesta reunio quatro requerimentos, sendo um deles solicitando informaes ao Procurador-Geral da Repblica, Roberto Gurgel. 6 Reunio 17/05/2012 Reunio administrativa com aprovao de 139 requerimentos. A saber: pedidos de quebra de sigilo fiscal, bancrio e telefnico das seguintes pessoas: Cludio Dias de Abreu, Geovani Pereira da Silva, Gleyb Ferreira da Cruz, Idalberto Matias de Arajo, Andria Aprgio de Souza, Lenine Arajo de Souza, Rosalvo Simprini Cruz, Roberto Coppola, Wladmir Garcez Henrique e Leonardo de Almeida Ramos. Quebra de sigilos das empresas Alberto & Pantoja Construes e Transportes Ltda, Brava Construes e Terraplanagem Ltda, Brazilian Gaming Partnes, Ideal Segurana Ltda, Emprodata Adminstrao de Imveis e Informtica, Laser Press Tecnologia e Servios, Larami Diverses e Entretenimento, JM Terraplanagem e Construo, Construtora Rio Tocantins CRT, Vitapan Indstria Farmacutica, Bet Capital Ltda, JR Prestadora de Servios Construtora e Incorporadora, Misano Ind. Imp. Exp., Let Laminados Estruturados e Termoformatados, MZ Construes Ltda, Fundao Cultural Aprigio Ramos Fundar, Organizao Independente de Comunicao, Delta Construes S/A Tocantis e Delta Construes S/A Gois. Entre os convocados para depor, segundo os requerimentos aprovados nesta reunio, estavam: Deuselino Valadares dos Santos, Joo Carlos Feitoza (o Zunga), Rosalvo Simprini Cruz, Francisco Claudio Monteiro, Sebastio de Almeida Ramos Junior, Alvaro Ribeiro da Silva, Marcelo Vieira da Silva, Rogrio Diniz, Adriano Aprgio de Souza, Andr Teixeira Jorge, William Vitorino, Andria

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Aprigio de Souza, Carlos Antonio Nogueira, Rosely Pantoja da Silva, Joaquim Gomes Thom Neto, Joo Macedo de Miranda, Edson Coelho dos Santos, Paulo Roberto de Almeida Ramos, Anderson Aguiar Drumond, Fernando Antnio Hereda Byron Filho, Marcos Antnio de Almeida Ramos, Carlos Alberto de Lima, Arnaldo Rbio Junior, Roberto Coppola, Benedito Torres, Marcelo Henrique Limrio, Aluizio Alves de Souza, Alex Sandro Klein da Fonseca, Rossine Aires Guimares, Edgardo Mendona Guimares, Antnio Lorenzo, Alexandre Loureno, Edemundo Dias, Jayme Rincn, Walter Paulo Santiago, Rodrigo Moral Dall Agnol, Marcello de Oliveira Lopes, Wladmir Garcez Henrique, Ronald Christian Alves Bicca, Edivaldo Cardoso de Paula, Alexandre Baldy, Wesley Jos Ferreira e Leonardo de Almeida Ramos. Foram feitas as seguintes solicitaes de documentos ou provdincias: ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre movimentaes atpicas de Carlos Augusto Ramos, Cludio Abreu, Idalberto Matias, o Dad, Jos Olmpio Queiroga e da empresa Vitapan Indstria Farmacutica; a todos os partidos componentes desta Comisso a indicar servidores que tero acesso documentao; Polcia Federal o encaminhamento CPMI dos udios brutos das Operaes Vegas e Monte Carlo e do Hard Disk (HD) com informaes obtidas pelo programa Guardio; ao STF a revogao do segredo de justia imposto ao Inqurito 3430 (Operao Vegas) e Operao Monte Carlo; ao Ministrio Pblico o sequestro de bens mveis e imveis de Carlos Augusto de Almeida Ramos e em poder de terceiros; Polcia Civil do Distrito Federal a cpia do inteiro teor dos autos do Inqurito da Operao Saint-Michel; ao Ministrio da Justia e ao Ministrio das Relaes Exteriores informaes sobre os registros de sadas do Brasil, no perodo de dez anos, dos Srs. Carlos Augusto Ramos e Demstenes Torres, e da mulher deste, Flavia Coelho; Anvisa pedido de documentao; Polcia Feeral os relatrios dos delegados federais a respeito das Operaes Vegas e Monte Carlo; ao Departamento de Recuperao de Ativos e

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Cooperao Jurdica Internacional do Ministrio da Justia a negociao de cooperao jurdica internacional para identificao de contas bancrias e bens mveis e imveis de Carlos Augusto de Almeida Ramos, Demstenes Torres e outros referidos nas Operaes Vegas e Monte Carlo; Polcia Federal as gravaes em que Cachoera fala com Policarpo Junior e aquelas em que este jornalista citado por integrantes da organizao criminosa. 7 Reunio 22/05/2012 Oitiva do Sr. Carlos Cachoeira, que compareceu mas permaneceu calado. Diante da insistncia do depoente em no responder a nenhuma das inquiries, optando pelo seu direito constitucional de permanecer em silncio e s responder perante um juiz, a comisso, por iniciativa da Senadora Ktia Abreu, decidiu pelo encerramento da reunio. 8 Reunio 24/05/2012 Oitiva dos Srs. Wladmir Garcez Henrique, Idalberto Matias de Arajo e Jairo Martins de Souza. O Sr. Wladmir Henrique Garcez, devidamente acompanhado por seu advogado, Dr. Ney Moura Teles, falou Comisso. Os senhores Idalberto Matias de Arajo e Jairo Martins de Souza tiveram a assistncia do mesmo advogado, Dr. Leonardo Picoli Gagno, que havia solicitado adiamento do depoimento, em funo do pouco tempo que a defesa teve para tomar conhecimento das 20 mil pginas da investigao, e reivindicou tambm o direito de seus clientes de permanecerem em silncio, evitando responder perguntas que pudessem incrimin-los. 9 Reunio 29/05/2012 Reunio administrativa. Foram distribudas 6 chaves de acesso ao programa i2 (chave 1, chave de acesso ao sr. Relator, Deputado Odair Cunha; chave 2, chave de acesso aos partidos PMDB, PP e PSC; chave 3, chave de acesso ao Partido dos Trabalhadores e PRB; chave 4, chave de acesso ao PSDB e Democratas; chave 5, chave de acesso ao PSB, PR, PTB e PCdoB; chave 6, chave de acesso ao PTB, PSD, PPS, PV e PSOL); eleio do vice-presidente da CPMI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Aprovao de 52 requerimentos, sendo dois de quebra de sigilos fiscal, telefnico e bancrio da

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empresa Delta Construes S/A e dos investigados pela Operao Saint Michel, alm das convocaes de: Heraldo Puccini Neto, Wilder Pedro de Morais, Elias Vaz, Mauro Sebben, Sejana Martins, Lucio Fiuza Gouthier, Fernando Gomes Cardozo, Eliane Pinheiro, cio Antnio Ribeiro, Carlos Antnio Elias e dos responsveis em exerccio pelas empresas Ideal Segurana, JR Prestadora de Servios, JM Terraplanagem, Larami Diverses, MZ Construes, Vitapan Farmacutica, Bet Capital, Brava Construes, Brazilian Gaming Partners, Construtora Rio Tocantins CRT, Alberto & Pantoja, Emprodata Administrao de Imveis, Delta Construes S/A Distrito Federal, Delta Construes S/A Gois, Delta Construes S/A Mato Grosso do Sul e Delta Construes S/A Tocantins. Tambm foram aprovados requerimentos solicitando: Polcia Federal as transcries dos dilogos que envolvam pessoas com prerrogativa de foro nas Operaes Vegas e Monte Carlo; a ntegra dos autos das Operaes Vegsas e Monte Carlo; os relatrios do inteiro teor das apreenses efetuadas e os relatrios de anlise e vigilncia das Operaes Vegas e Monte Carlo; a lista dos Policiais Federais e Estaduais (Civis e Militares) citados nas operaes; cpia do inteiro teor do depoimento do Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos 11 Vara Federal de Goinia; cpia ao Comando da Aeronutica do depoimento de Idalberto Matias de Arajo, o Dad; informaes dos Cadastros Especficos do INSS das construtoras Regional Consultoria, Aprgio Construtora, Brava Construes, Alberto & Pantoja, JR Prestadora de Servios, Delta Construes S/A. MZ Construtora, Mapa Construtora; e informaes de 27 empresas aos Tribunais de Contas dos Municpios e aos Tribunais de Contas Estaduais. Em atendimento ao ofcio n 1 desta CPMI, o Ministro Ricardo Lewandowski deferiu pedido de compartilhamento de informaes sigilosas dos inquritos das Operaes Vegas e Monte Carlo.

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Levantamento parcial do sigilo de Justia da documentao do Inqurito 3.430 deferido pelo Ministro Ricardo Lewandowski, com compartilhamento de informaes processuais restrito CPMI:

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10 Reunio 30/05/2012 Oitiva dos Srs. Cludio Dias de Abreu; Jos Olmpio de Queiroga Neto; Gleyb Ferreira da Cruz; e Lenine Arajo de Souza. O Sr. Gleyb compareceu munido de Habeas Corpus (HC 113646), deferido pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, assim como o Sr. Cludio Abreu, com Habeas Corpus (HC 113665) deferido pela Ministra Crmen Lucia. O Sr. Queiroga Neto se reservou ao direito de permanecer calado, sem responder perguntas cujas respostas pudessem incrimin-lo, conforme orientao de seu advogado, Dr. Luciano Picoli Gagno. O Sr. Lenine foi ouvido pela Comisso. Nesta data, foram aprovados requerimentos de convocao dos Governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF) e rejeitado o requerimento de convocao do Governador Srgio Cabral (PMDB-RJ). O Sr. Jayme Eduardo Rincn, convocado como testemunha, apresentou atestado mdico dizendo que est sendo submetido a tratamento devido a um aneurisma cerebral. O Sr. Rodrigo Moral Dall Agnol, convocado como testemunha, apresentou Habeas Corpus no qual questiona sob em que condio se daria o seu depoimento. Diante da dvida, a Presidncia o dispensou comprometendo-se a proceder nova convocao esclarecendo a condio de testemunha. Foram aprovados tambm 25 requerimentos, em sua maioria quebras de sigilos fiscal, bancrio e telefnico de empresas: Auto Posto T-10 Ltda, Mapa Construes, WCR Produo e Comunicao Ltda, Royal Palace Diverses Ltda, Planeta Center Diverses Eletrnicas, Star Game Com. Imp. Exp., Antares Assessoria Adm.e Part. Ltda, Adriano Aprgio de Souza ME, Gois Game Diveres Eletrnicas Ltda, Planeta Catariennse Serv. Ativ. Lotrica Ltda, Aprgio Construtora e Incorporadora Ltda, American Center Bingo, Calltech Combustveis e Servios Ltda, Fundao Nelson Castilho, Maquinaria Publicidade e Propaganda, Radio Gois Sul FM Ltda, Rede Brasiltur de Televiso e Data Traffic. Tambm foram pedidas as quebras de sigilo de Cludio Kratka e do Senador Demstenes Torres. Os Governadores Agnelo Queiroz e Marconi Perillo foram convocados e foi feita ao Coaf solicitao para que

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encaminhasse as movimentaes consideradas atpicas feitas pelso Srs. Demstenes Torres e Carlos Ramos. 11 Reunio 31/05/2012 Oitiva do Senador Demstenes Torres ( poca no DEM-GO), que se reservou ao direito de permanecer calado e a sesso foi encerrada. Demstenes teve seu mandato cassado pelo Senado Federal em 11 de julho de 2012, em decorrncia da quebra de decoro parlamentar, e ficar inelegvel por oito anos. Foi acusado de usar o mandato em favor de Carlos Cachoeira, segundo revelaes feitas pela CPMI. 12 Reunio 05/06/2012 Oitiva do Sr. Walter Paulo de Oliveira Santiago, da Sra. Sejana Martins, do Sr. cio Antonio Ribeiro e da Sra. Eliane Gonalves Pinheiro. Apenas o Sr. Walter Paulo de Oliveira Santiago falou Comisso. A Sra. Sejana Martins, amparada por Habeas Corpus, no falou; e o Sr. cio Antonio Ribeiro e a Sra. Eliane Gonalves Pinheiro, apesar de convocados, no compareceram mediante a apresentao de atestados mdicos. 13 Reunio 12/06/2012 Oitiva do Governador de Gois, Marconi Perillo (PSDB). 14 Reunio 13/06/2012 Oitiva do Governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). 15 Reunio 14/06/2012 Reunio administrativa, na qual foram aprovados 36 requerimentos, dentre os quais quebra de sigilo fiscal, telefnico e bancrio de: Marconi Perillo, Agnelo Queiroz, Andr Teixeira Jorge, Lucio Fiuza Gouthier, Alcino de Souza e Rubmaier Ferreira de Carvalho, e das empresas Excitant Confeces Ltda, Rental Frota Logstica Ltda, GM Comrcio de Pneus e Peas, Faculdade Padro - Sociedade de Educao e Cultura de Goinia Ltda e Mestra Administrao e Participaes. Novas convocaes foram aprovadas: Andressa Mendona, Hillner Ananias, Luiz Carlos Bordoni, Joo Furtado de Mendona Neto, Lucio Fiuza Gouthier, Rubmaier Ferreira de Carvalho, Ana

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Cardozo de Lorenzo, Aredes Correia Pires, Alexandre Milhomem e Alcino de Souza. Os Parlamentares solicitaram: ao Detran e Receita Federal informaes referente aos veculos vendidos pelas empresas Elevis Comrcio de Veculos, Star Motors, Cotril Motors, Saga S/A e Kasa Motors; ao Ministrio Pblico do DF cpia da Ao Penal 51163-4/2012 na 5 Vara Criminal de Braslia; ao Sub-ProcuradorGeral da Repblica, Dr. Geraldo Brindeiro, informaes sobre transferncias de dinheiro feitas empresa Morais, Castilho e Brindeiro feitas por Geovani Pereira, contador de Carlos Cachoeira; Polcia Federal cpia do material apreendido na Operao Monte Carlo e os DVDs de vdeos apreendidos na casa de Adriano Aprgio. 16 Reunio 26/06/2012 Oitiva dos Srs. cio Antonio Ribeiro, Lucio Fiza Gouthier e Alexandre Milhomem. Apenas o arquiteto Milhomem falou CPMI. Os demais permaneceram calados. 17 Reunio 27/06/2012 Oitiva da Sra. Eliane Pinheiro e do Sr. Luiz Carlos Bordoni. Apenas o jornalista Bordoni falou CPMI. 18 Reunio 28/06/212 Oitiva dos Srs. Marcelo Ribeiro de Oliveira, Joo Carlos Feitoza e Claudio Monteiro. Apenas o Sr. Claudio Monteiro falou CPMI. 19 Reunio 03/07/2012 Oitiva do Sr. Joaquim Gomes Thom e da Sra. Ana Cardoso de Lorenzo. Ambos no compareceram. 20 Reunio 05/07/2012 Reunio administrativa com aprovao de 112 requerimentos, sendo 8 de convocao para prestar depoimento Fernando Antnio Cavendish Soares, Jos Augusto Quintella, Romnio Marcelino Machado, Luiz Antnio Pagot, Andria Aprigio de Souza, Raul de Jesus Lustosa Filho, Adir Assad e Paulo Vieira de Souza e 18 de quebras de sigilo bancrio, fiscal e telefnico das empresas Flexafactoring Fomento Mercantil, Midway International Labs. Ltda, ZUK Assessoria Empresarial, Terra Pneus e Lubrificantes Ltda, G & C

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Construes e Incorporaes (Adcio & Rafael Construes e Terraplanagem), Eletrochance do Brasil Indstria de Mquinas, Eletrochance SRL, Gerplan Gerenciamento e Planejamento Ltda, Tecnologic Tecnologia Eletrnica Ltda, MCGL Empreendimentos e Participaes SA e Construtora Veloso e Conceio; alm das pessoas investigadas Fbio Passagllia, Jayme Rincn, Eliane Pinheiro, Edivaldo Cardoso de Paula, Sebastio de Almeida Ramos Junior e Luiz Carlos Bordoni e Bruna Bordoni (ambos de abril a maio de 2011). A maioria dos requerimentos aprovados nesta reunio faz vrias solicitaes, entre as quais: nomes e CPFs das pessoas do grupo de Carlos Cachoeira que possuam aparelhos Nextel habilitados nos EUA; informaes da Polcia Federal e da Receita Federal do Brasil relativas entrada e sada do territrio nacional dos investigados Andrea Aprgio de Souza, Carlos Augusto de Almeida Ramos, Cludio Dias de Abreu, Geovani Pereira da Silva, Idalberto Matias de Arajo e Wladmir Garcez Henrique; quebra de sigilo de SMS e relatrios de ERBs (Estao Rdio Base) de 18 investigados; informaes do Banco Central do Brasil relativas movimentao de 48 empresas e 19 investigados de entrada e sada de recursos financeiros envolvendo outros pases; convite ao Juiz Federal Paulo Augusto Moreira Lima para prestar depoimento a respeito de ameaa que recebeu em seu gabinete; sitao de queba de sigilo judicial da Operao Saint Michel; informaes CELG - Distribuio e Saneamento de Gois SANEAGO; cpias de processos administrativos que tramitaram em Gois na Polcial Civil, Procuradoria Geral e Secretaria de Segurana Pblica tendo como investigado o Delegado Edemundo Dias de Oliveira Filho; documentos e informaes junto ao comando da Polcia Militar e chefia da Polcia Civil de Gois e tambm junto Secretaria de Estado de Transparncia e Controle do Distrito Federal; cpia de contratos, convnios, processos e procedimentos firmados entre os governos do Tocantins, Distrito Federal, Gois e Prefeitura de Palmas-TO e as empresas Delta Construes SA e Construtora Rio Tocantins; informaes de 17 empresas

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listadas a respeito de depsitos efetuados pelas empresas Alberto & Pantoja e Brava Construes e Terraplanagem Ltda com valores entre R$ 10 mil e R$ 400 mil. 21 Reunio 10/07/2012 Oitiva do Prefeito de Palmas-TO, Raul Filho (PT), que compareceu e falou CPMI. 22 Reunio 07/08/2012 Oitiva da Sra. Andressa Mendona e do Sr. Joaquim Gomes Thom Neto. Ambos compareceram e usaram direito de permanecer em silncio. 23 Reunio 08/08/2012 Oitiva da Sra. Andrea Aprgio e do Sr. Rubmaier Ferreira de Carvalho. Andrea usou do direito de permanecer em silncio, mas ouviu todas as perguntas em sesso reservada. Rubmaier respondeu as questes dos parlamentares. 24 Reunio 14/08/2012 Reunio administrativa com aprovao de 105 requerimentos, a maioria tratando de solicitaes diversas. Entre os pedidos de convoo para depoimento est a reconvocao de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Os demais so o Deputado Federal Carlos Alberto Leria, Alex Antonio Trindade, Leide Ferreira da Cruz, Polyana Barbosa de Carvalho, Francisco de Assis Oliveira, Marcos Teixeira Barbosa, Conrado Caiado Viana Feitosa, Frederico Mrcio Arbex, Cel. Edson Costa Arajo, e os prefeitos Gil Tavares e Geraldo Messias. Foram pedidas quebras de sigilo fiscal, bancrio e telefnico de Andressa Alves Mendona, mulher de Carlos Cachoeira, e das pessoas fsicas Frederico Aurlio Bispo, Marcelo Henrique Limrio Gonalves e Rossine Aires Guimares, alm das empresas Boldt SA, Miranda e Silva Construes, Bet Co. Ltda, ICF - Instituto de Cincias Farmacuticas e Estudos e Pesquisa, Idonea Factoring, Libra Factoring e Instituto Nova Educao Ltda.

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Entre as solicitaes da CPMI esto: cpia do relatrio da Polcia Federal que comunica envolvimento do Governador Marconi Perillo com o esquema de Carlinhos Cachoeira; remessa dos laudos periciais realizados pela Polcia Federal no material encontrado na casa de Andressa Alves Mendona e eventual depoimento prestado a autoridade policial; quebra dos sigilos telefnicos incluindo dados de Estao de Rdio Base (ERB), mensagens e informaes cadastrais dos telefones ou rdios mencionados; cpias de processo judiciais em trmite na 3 Vara de Fazenda Pblica de Goinia; informaes junto ao Deputado Joo Sandes Junior; informaes a pessoas fsicas e jurdicas que fizeram pagamentos ou receberam recursos das empresas Alberto & Pantoja Construes e Transportes, GM Comrcio de Pneus e Peas, JR Prestadora de Servios Construtora, Brava Construes e Terraplanagem; aos governos de Distrito Federal, Gois, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul cpias integrais dos contratos celebrados com a empresa Delta matriz de 1 de janeiro de 2007 at a presente data; aos governos de Distrito Federal, Gois, Tocantins e Mato Grosso cpias integrais de todos os contratos e convnios firmados com as empresas Delta Construes SA, JM Terraplanagem e Rio Tocantins Construes; requisio ao governo de Gois das filmagens de segurana das entradas do Palcio do Governo (Palcio das Esmeraldas) entre 1 de janeiro de 2011 e 31 de dezembro de 2011; requisio ao governo de Gois de cpias dos processos de nomeao de Camila Alvez Gomes e tala Barbosa Vaz; cpia junto ao governo de Gois do processo de licitao para fornecimento de marmitas para presos de Ceraigo vencido pela Coral Refeies Industriais; cpia integral da Reclamao Disciplinar instaurada em face do Desembargador do TRT 18 Regio dr. Juio Cesar Cardoso de Brito e lista de aes propostas que envolvam empresas ligadas a Carlos Cachoeira; ao Conselho Nacional do Ministrio Pblico cpia integral do procedimento instaurado em face do Procurador de Justia de Gois Benedito Torres; ao Senado cpia das portarias de nomeao e exonerao de funcionrios do gabinete do ex-Senador Demstenes Torres; cpia do inteiro teor do Inqurito

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3444, em desfavor do Deputado Federal Joo Sandes Junior, do Inqurito 3443, em desfavor do Deputado Federal Carlos Alberto Leria, e do Inqurito 3445, em desfavor do Deputado Federal Stepan Nercessian, instaurados no STF em decorrncia das Operaes Vegas e Monte Carlo; ao Coaf para encaminhar informaes sobre movimentaes atpicas da Delta Construes SA e de todas as Pessoas Fsicas e Jurdicas com quebra de sigilo; encaminhamento de pedido ao Coaf para que solicite s unidades de inteligncia financeira de outros pases informaes sobre movimentaes atpicas de todas as Pessoas Fsicas e Jurdicas com quebra de sigilo; encaminhamento ao Senado norte-americano de pedido de informaes sobre constataes de atividades do HSBC em lavagem de dinheiro; ao Procurador-Geral ou Ministrio da Justia informaes junto aos Estados Unidos sobre movimentaes financeiras/bancrias da empresa Ocean Development II; pedido de encaminhamento de informaes a 11 empresas relativo a depsitos de valores entre R$ 18 mil e R$ 515 mil feitos pela empresa Brava Construes e Terraplanagem. Alm dessas, tambm constam solicitaes de informaes complementares relativas quebra de sigilo das empresas Alberto & Pantoja junto ao banco HSBC; da Construtora Rio Tocantins CRT (Construtora Vale do Lontra Ltda) junto ao Banco Rural; WCR Produo e Comunicao Ltda junto ao Banco Mercantil do Brasil; Sociedade de Educao e Cultura de Gouinia Ltda (Faculdade Padro) junto ao Banco Industrial e Comercial; Royal Palace Diverses Lta-ME junto ao Banco do Brasil; Planeta Center Diverses Eletrnicas Ltda junto ao Banco Ita e Banco do Brasil; Organizao Independente de Comunicao Ltda junto ao Banco Unibanco; Mapa Construes junto Caixa Econmica Federal e Banco Ita; MZ Construes Ltda junto Caixa Econmica Federal e Banco Ita; Emprodata Administrao de Imveis e Informtica Ltda junto ao Banco do Brasil; Data Traffic junto ao Banco do Brasil e Banco HSBC; Brava Construes e Terraplanagem junto ao Banco ABN Amro Real e Banco Unibanco; JR Prestadora

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de Servios Construtora e Incorporadora Ltda junto ao Banco Bradesco; e da GM Comrcio de Pneus e Peas Ltda junto ao Banco Ita. 25 Reunio 15/08/2012 Oitiva dos Srs. Edivaldo Cardoso de Paula e Hillner Ananias, e da Sra. Rosely Pantoja. Apenas a Sra. Rosely Pantoja falou Comisso. 26 Reunio 21/08/2012 Oitiva dos Procuradores La Batista de Oliveira e Daniel Rezende Salgado. Ambos compareceram e falaram CPMI. 27 Reunio 22/08/2012 Oitiva dos Srs. Jayme Rincn e Aredes Correia Pires. Ambos entraram com Habeas Corpus. O pedido HC 114.831 foi deferido pelo Ministro Joaquim Barbosa, do STF, para o sr. Rincn, que compareceu a CPMI, mas permaneceu em silncio. O mesmo fez o Sr. Correia Pires, munido do HC 114.879, concedido pelo ministro Marco Aurlio de Melo. 28 Reunio 28/08/2012 Oitiva dos Srs. Luiz Antonio Pagot e Adir Assad. Ambos compareceram Comisso, mas apenas Pagot deu respostas aos Deputados e Senadores da CMPI. 29 Reunio 29/08/2012 Oitiva dos Srs. Paulo Viera de Souza Preto, Fernando Cavendish e Gilmar Carvalho Moraes. O Sr. Paulo Vieira Souza, apelidado Paulo Preto, atendeu aos questionamentos da CPMI. O Sr. Cavendish apresentou Habeas Corpus e no falou. O Sr. Gilmar, ex-marido de Rosely Pantoja, decidiu comparecer espontaneamente CPMI, sem requerimento de convocao, alegando temer represlias da organizao criminosa. 30 Reunio 04/09/2012 Oitiva do Sr. Deputado Federal Carlos Alberto Leria (PSDB-GO) e do Sr. Andr Teixeira Jorge. O Sr. Leria alegou compromisso e no pode comparecer, sugerindo adiar para outra data. O Sr. Andr compareceu mas permaneceu calado.

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31 Reunio 09/10/2012 Oitiva do Sr. Deputado Federal Carlos Alberto Leria (PSDB-GO). O Deputado compareceu e falou Comisso, e disponibilizou alguns documentos para a CPMI. 32 Reunio 30/10/2012 Reunio administrativa.

2.4. Das oitivas - Resumo de cada depoimento

A CPMI ouviu 40 pessoas em oitivas, sendo que 24 optaram pelo direito de no responder as perguntas dos parlamentares. Alguns desses, porm, fizeram uso da palavra dos minutos iniciais. Nos resumos relatados aseguir, constam os principais trechos das oitivas dos convocados que compareceram com a transcrio de perguntas do Relator e dos parlamentares e das respostas dos depoentes a respeito dos temas que corroboraram ou colaboraram com as investigaes feitas pela CPMI a partir dos trabalhos da Polcia Federal nas Operaes Vegas e Monte Carlo.

a) RAUL ALEXANDRE MARQUES DE SOUZA 3 Reunio 08/05/2012 oitiva secreta Delegado da Polcia Federal, Raul Alexandre Marques de Souza foi convidado para prestar depoimento Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI) Vegas/Monte Carlo por ter sido o responsvel pela conduo dos trabalhos da Operao Vegas. Compareceu 3 Reunio da CPMI, realizada no dia 8 de maio, em atendimento aprovao do requerimento n 192, de autoria dos Srs. Senadores Jos Pimentel (PT-CE), Humberto Costa (PT-PE) e Walter Pinheiro (PT-BA).

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O Presidente da CPMI, o Senhor Senador Vital do Rgo (PMDB-PB), iniciou a sesso s 14h51 colocando em votao requerimento de n 238, de autoria do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF) e da Senadora Ktia Abreu (PSDTO), propondo que as reunies destinadas a ouvir delegados da Polcia Federal e membros do Ministrio Pblico fossem secretas. O requerimento foi aprovado por 17 votos a 11. Assim, o depoente utilizou os vinte minutos iniciais para fazer sua exposio e, em seguida, foi arguido pelo Relator, Sr. Deputado Federal Odair Cunha (PT-MG), e pelos demais membros da CPMI. Aps responder aos questionamentos dos integrantes da CPMI, o Presidente, Sr. Senador Vital do Rgo (PMDB-PB), encerrou a 3 Reunio.

b) MATHEUS MELLA RODRIGUES 4 Reunio 10/05/2012 oitiva secreta O delegado da Polcia Federal Matheus Mella Rodrigues foi responsvel pela Operao Monte Carlo que resultou na priso de pessoas que integram a Organizao Criminosa montada pelo Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, objeto maior de investigao desta Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI). Presente 4 Reunio da CPMI, realizada no dia 10 de maio de 2012, o delegado Matheus Mella Rodrigues prestou esclarecimentos aos Parlamentares que integram a Comisso em sesso secreta, em decorrncia da aprovao dos requerimentos 193, dos Srs. Senadores Jos Pimentel (PT-CE), Humberto Costa (PT-PE) e Walter Pinheiro (PT-BA), 019, do Sr. Deputado Federal Onyx Lorenzoni (DEM-PR) e 174, do Sr. Relator, Deputado Federal Odair Cunha (PT-MG).

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O depoente forneceu informaes essenciais sobre a Operao Monte Carlo. Aps nove horas de depoimento, realizado em sesso secreta, o Presidente da CPMI, Sr. Senador Vital do Rgo (PMDB-PB), encerrou a 4 Reunio, agradecendo ao Delegado Matheus Mella Rodrigues pelos esclarecimentos e contribuies prestados aos trabalhos da Comisso.

c) CARLOS AUGUSTO DE ALMEIDA RAMOS 7 reunio 22/05/2012 O Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos, comumente conhecido como Carlos Cachoeira, apontado pelas operaes Vegas e Monte Carlo, realizadas pela Polcia Federal, como chefe de um esquema de jogos ilegais que atua em Gois e no entorno de Braslia. Alm disso, figura como suspeito de comandar aes que visam a fraudar licitaes e obter vantagens em contratos com o setor pblico. H suspeitas tambm de que tenha praticado evaso de divisas, uso de laranjas para encobrir bens e propriedades adquiridas a partir de atividades ilcitas, corrupo de agentes pblicos e uso de empresas fantasmas para encobrir movimentaes financeiras. Foi convocado para depor Comisso Parlamentar de Inqurito (CMPI) por fora da aprovao dos requerimentos ns 09, 42, 85, 99, 134, 99, 134, 155, 188 e 167, de autoria de diversos Parlamentares que integram a Comisso, com a finalidade de ouvir o Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos sobre os resultados das investigaes da Polcia Federal, em especial, no tocante s suas relaes com servidores pblicos e polticos. O Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos compareceu CPMI no dia 22 de maio de 2012 acompanhado de seu advogado, oportunidade em que anunciou sua disposio de permanecer calado, visto que responde a inqurito policial, e que s falaria aps seu depoimento em Juzo. Perguntado pelo presidente da

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CPMI, Senador Vital do Rgo (PMDB-PB), se aceitaria falar em sesso secreta, voltou a repetir que permaneceria em silncio, e assim o fez, negando-se a responder s perguntas formuladas pelo Sr. Relator Deputado Federal Odair Cunha (PT-MG) e por outros membros desta Comisso. Diante a opo do depoente de no tecer esclarecimentos s investigaes da CPMI, respondendo aos questionamentos dos Parlamentares, o presidente da Comisso, Senador Vital do Rgo (PMDB-PB), decidiu encerrar a oitiva, com a dispensa do investigado. d) WLADMIR GARCEZ HENRIQUE 8 Reunio 24/05/2012 Wladmir Garcez Henrique ex-vereador da Cmara Municipal de Gois e trabalhava como assessor do ento diretor da Delta no Centro-Oeste, Sr. Cludio Abreu. Concomitantemente, Garcez prestava servios para o Sr. Carlos Augusto Almeida Ramos em seus negcios e na Vitapan, empresa de medicamentos pertencente a Cachoeira. Wladmir Garcez deps Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (CPMI) no dia 24 de maio de 2012, em decorrncia da aprovao dos requerimentos ns 53, 194 e 272, de autoria dos Srs. Parlamentares Carlos Sampaio (PSDB-SP), Jos Pimentel (PT-CE), Humberto Costa (PT-PE), Walter Pinheiro (PT-BA) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). O requerimento assinado em conjunto pelos Srs. Senadores Jos Pimentel (PT-CE), Humberto Costa (PT-PE) e Walter Pinheiro (PT-BA) justifica a convocao de Garcez aps a constatao, na investigao da Polcia Federal, de sua participao junto organizao comandada por Carlos Augusto de Almeida Ramos. Segundo as investigaes da Polcia Federal, Wladmir Garcez era um dos principais colaboradores da organizao criminosa. Na condio de exvereador e de pessoa bem relacionada nos meios polticos de Goinia, Wladmir cumpria o importante papel de fazer a articulao da organizao criminosa com agentes pblicos de Gois, descreve o requerimento.

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Para o sr. senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), em inmeras gravaes fica evidente que o Sr. Wladmir Garcez funcionava como elo entre a Organizao Criminosa e a estrutura do governo estadual. Segundo o requerimento de Carlos Sampaio (PSDB-SP), torna-se imprescindvel consecuo das investigaes a cargo desta Comisso, uma vez que o Sr. Wladmir Garcez Henrique est envolvido nas atividades ilcitas praticadas pela organizao criminosa, ocupando a funo de facilitador do grupo junto s polcias civil e militar do Estado de Gois. Convocado para contribuir CPMI, Wladmir Garcez Henrique utilizou o tempo concedido para suas falas iniciais, porm no respondeu aos questionamentos dos parlamentares, recorrendo ao direito constitucional de se manter em silncio. Segundo disse em seu depoimento, Wladmir Garcez recebia, mensalmente, R$ 20 mil da Delta e R$ 5 mil de Cachoeira, como se segue em conformidade com os registros desta CPMI:O SR. WLADMIR GARCEZ HENRIQUE: [...] Minha funo era s de assessoramento ao Dr. Cludio e, por isso, ganhava em torno de R$20 mil. Tambm assessorava o Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos, nos seus negcios e na sua empresa de medicamentos Vitapan mas no participei de nenhum negcio dele nem de nenhum negcio ilcito, e ganhava por isso R$5 mil.

Um dos pontos que o assessor da Delta abordou em seu depoimento diz respeito a nomeaes polticas no governo de Gois em nome de Carlos Augusto Ramos. Garcez disse que indicava pessoas em nome de Carlinhos Cachoeira, como era vulgarmente conhecido Carlos Augusto Ramos, mas que nenhuma delas foi concretizada. Disse Garcez:O SR. WLADMIR GARCEZ HENRIQUE - Jamais fiz qualquer indicao diretamente ao Governador Marconi Perillo, pois tratava sempre com seus

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auxiliares, com seus secretrios. Para me classificar junto ao Carlinhos, dizia ele que eu tinha mais poder, mais fora. Queria usar o nome dele para conseguir esse emprego. Vaidoso como sempre, ele achava aquilo muito bom. E levei algumas indicaes, sendo que nenhuma dessas indicaes, como vocs podem ter visto nas gravaes que foram mostradas, foi feita. No consegui as nomeaes que falaram por a. Nenhuma das pessoas que levei foi nomeada pelo Governador Marconi Perillo.

Outro episdio tratado por Wladmir Henrique Garcez em sua fala aos parlamentares envolve a venda da casa do governador do Estado de Gois, Marconi Perillo. O Sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos, alvo principal das investigaes conduzidas por esta CPMI e suspeito de ser o lder da Organizao Criminosa instalada na regio Centro-Oeste do pas, residia na casa que pertenceu ao Sr. Perillo poca em que foi preso pela Polcia Federal em decorrncia das investigaes realizadas no mbito da Operao Monte Carlo. Acerca da transao, o sr. Wladmir Henrique Garcez afirmou em depoimento CPMI ser o comprador da casa de Marconi Perillo pelo valor de R$ 1,4 milho. Segundo Garcez informou Comisso, a casa foi paga em trs vezes com cheques emprestados por seu patro, o diretor da Delta no Centro-oeste, Cludio Abreu. O depoente, contudo, disse no ter conhecimento da origem dos cheques, como se segue:O SR. WLADMIR HENRIQUE GARCEZ: [...] O Governador queria receber logo, e eu queria ficar com a casa para mim ou para vender para outra pessoa, pois vi que o preo estava baixo e eu estava querendo ganhar uma comisso em cima da venda dessa casa. Fiquei com medo de perder o negcio. Eu no podia conseguir o dinheiro e ficar com a casa ou vend-la por um preo maior e ganhar algum. Ento, pedi ao Cludio, meu patro, e ao Carlinhos que me emprestassem o valor de R$1,4 milho, para eu repassar ao Governador. O Cludio me arranjou trs cheques, um de R$500 mil, outro de R$500 mil e outro de R$400 mil, para os meses de maro, abril e maio. No lembro bem a data desses cheques, mas lembro que eram para o incio de cada ms. No sei quem so os emitentes, nem perguntei de