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3. Identifica, a partir da história, dificuldades à vivência da liberdade. 4. Relaciona Liberdade e desejo de Ser. A :;);-1,!-Ilaiz.•--> ai Era uma vez um camponês que foi à floresta apanhar um pássaro para mantê- l o cativo em sua casa. Conseguiu capturar uma águia recém-nascida e, em- bora fosse a rainha de todos os pássaros, pô-la no galinheiro a comer milho e ração de galinhas. Passados cinco anos, este homem recebeu a visita de um natu- ralista que, ao passar junto do galinheiro, exclamou: Aquele pássaro não é uma galinha! É uma águia! De facto — disse o camponês. É uma águia. Mas eu criei-a como galinha. Por isso, apesar das asas de quase três metros, já não é uma águia. Transformou-se em ga- linha como as outras. Não — retorquiu o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Tem um coração de águia que a fará voar às alturas. Não, não — insistiu o camponês. Ela transformou-se em galinha e nunca voará. Então o naturalista pegou na águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse: - Tu és uma águia, já que pertences ao céu e não à terra, abre as asas e voa! Mas a águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. E, ao ver as gali- nhas no chão a comer grãos, pulou para junto delas. A O camponês comentou: Eu disse-lhe, ela é uma simples galinha! Não— insistiu o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia ao teto da casa e sussurrou- -lhe: - Águia, tu és uma águia! Abre as asas e voa! Mas a águia tornou a pular para o chão. O camponês sorriu e voltou à carga: Eu tinha-lhe dito, ela agora é uma galinha! Não respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia e há de voar. No dia seguinte, o naturalista e o camponês pegaram na águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas, no alto de uma montanha. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: Tu és uma águia, pertences ao céu e não à terra, abre as tuas asas e voa! A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do hori- zonte. Nesse momento, ela abriu as suas potentes asas, grasnou o típico kau- kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou.., até confundir-se com o azul do firmamento... Adaptado de Leonardo Boff (teólogo contemporâneo), A águia e o galinha: uma metáfora da condição humana

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Page 1: A :;);-1,!-Ilaiz.•--> ai · 2020-05-23 · Adaptado de Leonardo Boff (teólogo contemporâneo), A águia e o galinha: uma metáfora da condição humana. Níveis de liberdade 19

3. Identifica, apartir da história,dificuldades àvivência da liberdade.

4. RelacionaLiberdade e desejode Ser.

A :;);-1,!-Ilaiz.•--> ai

Era uma vez um camponês que foi à floresta apanhar um pássaro para mantê-l o cativo em sua casa. Conseguiu capturar uma águia recém-nascida e, em-

bora fosse a rainha de todos os pássaros, pô-la no galinheiro a comermilho e ração de galinhas.

Passados cinco anos, este homem recebeu a visita de um natu-ralista que, ao passar junto do galinheiro, exclamou:

— Aquele pássaro não é uma galinha! É uma águia!— De facto — disse o camponês. É uma águia. Mas eucriei-a como galinha. Por isso, apesar das asas de quasetrês metros, já não é uma águia. Transformou-se em ga-

linha como as outras.— Não — retorquiu o naturalista. Ela é e será sempre uma

águia. Tem um coração de águia que a fará voar às alturas.— Não, não — insistiu o camponês. Ela transformou-se em galinha e nuncavoará.Então o naturalista pegou na águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:- Tu és uma águia, já que pertences ao céu e não à terra, abre as asas e voa!

Mas a águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. E, ao ver as gali-nhas no chão a comer grãos, pulou para junto delas.

A O camponês comentou:— Eu disse-lhe, ela é uma simples galinha!— Não — insistiu o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre umaáguia. Vamos experimentar novamente amanhã.No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia ao teto da casa e sussurrou--lhe:- Águia, tu és uma águia! Abre as asas e voa!

Mas a águia tornou a pular para o chão.O camponês sorriu e voltou à carga:

Eu tinha-lhe dito, ela agora é uma galinha!— Não respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia e há de voar.No dia seguinte, o naturalista e o camponês pegaram na águia, levaram-napara fora da cidade, longe das casas, no alto de uma montanha.O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:

Tu és uma águia, pertences ao céu e não à terra, abre as tuas asas e voa!A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas nãovoou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, paraque seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do hori-zonte. Nesse momento, ela abriu as suas potentes asas, grasnou o típico kau-—kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. Ecomeçou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez paramais alto. Voou... voou.., até confundir-se com o azuldo firmamento...

Adaptado de Leonardo Boff (teólogo contemporâneo),A águia e o galinha: uma metáfora da condição humana

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Níveis de liberdade

19 nível: Matena o

29 nível: interve

391nível: Espiritual

Minguem é mais escrauo do que aqueleque se julga liure sem o ser.

Johcnn Goethe

A liberdade é vivida em níveis diferenciados.

a pessoa é livre se puder movimentar-se paraonde entender e se for capaz disso.

é l ivre quem t iver possibilidade e quiserparticipar na organização política, cultural esocial da comunidade onde vive.

é livre todo aquele que for capaz de mantera consciência da sua própria dignidade e de ausar para criar pensamentos, sentimentos eemoções, mesmo que a sua liberdade materiale social esteja submetida a grandes restrições.

Os reclusos são muito pouco livres no primeiro nível, mas podem sê-lo nosegundo (embora de forma bastante limitada e controlada) e no terceiro níveis.Alguém que viva sob uma ditadura verá a sua liberdade muito restringida doponto de vista da intervenção social, mas poderá ser livre no terceiro nível.Na verdade, o terceiro nível é aquele que não nos pode ser retirado pornenhuma entidade externa. É o último reduto da liberdade humana. É aí,no interior sagrado da consciência e do sermos pessoas, que reside a nossaessência humana e a nossa força contra todos os contratempos e contra todasas opressões e manipulações.

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Estátua da liberdade,Nova Iorque

O Desterrado,

Expressões / impressões de liberdadeO ser humano caminha com a liberdade: liberdade sonhada e liberdade

conquistada. A liberdade permite-nos saborear em plenitude os outros bens; porisso, desejamo-la e exigimos condições para a sua realização.

Sendo um valor tão fundamental na vida humana, a liberdade é tema demuitos poemas, filmes, esculturas, pinturas e músicas.

A liberdade, enquanto possibilidade de criação de novos percursos, cativa,encanta e atrai... e, por isso, é, muitas vezes, personificada, como é o caso da«Estátua da Liberdade», que se encontra na ilha da Liberdade, em Nova Iorque.

Também «o desterrado» ao representar a angústia do exílio, remete paraa liberdade negada e para as consequências que essa negação tem sobre oespírito humano.

O 25 de abril, dia da Liberdade, feriado nacional em Portugal, comemoraa «revolução dos cravos». Ficou assim conhecida por ter sido uma revoluçãorelativamente pacífica, na qual não se usou violência exagerada e pelo facto deos soldados terem enfeitado com cravos os canos das espingardas.

Este acontecimento pôs termo a um regime totalitário (o chamado EstadoSoares dos Reis (1847-1889) Novo) , no qual as liberdades individuais (liberdade de expressão, de associação,

de intervenção política, etc.) não podiam ser plenamente exercidas.

1111< Pg)P-EN'D, q u e a pessoa é liberdade e que esta só faz sentido quando- - o r i en tada para o bem.

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A consciência moralConsciência (do latim consciedia, de cum + média) signgica "com conhecimento", "saber

com", "dar-se conta".Este significado etimológico remete para o conhecimento que o sujeito

tem dos atos que realiza e da restante realidade (dimensão psicológica). Esseconhecimento existe em função do exercício do pensamento crítico que leva apessoa a distinguir o que está bem do que está mal (dimensão moral).

A consciência moral permite julgar as situações e decidir, optandopelo que está bem e rejeitando o que está mal. Julgar, decidir eatuar implicam liberdade, entendida como possibilidade deescolha. Consciência e liberdade estão infimamente relacionadas;sem consciência não há liberdade.

heftexoorAio e, owl-ov\omio n\oro

A autonomia e a heteronomia são dois conceitos muitoimportantes relacionados com a consciência moral.

De acordo com o significado etimológico (auto+nomia = «aprópria lei»), a autonomia refere-se às «normas» que estão inscritasna consciência da pessoa e que são assumidas pela mesma paraorientar a sua vida. Por sua vez, a heteronomia (hetero+nomia= «a outra lei») diz respeito às normas que são exteriores àpessoa e que influenciam as suas ações (o código da estrada,por exemplo).

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oc 2utonomos, r * e s e 1..o s

«Devo salvaguardar os meus valores ou deixar correr e comportar-me comotodos os outros?» Esta é uma pergunta essencial, porque da resposta dependedepois a coragem de escolher certos valores, mesmo que uma pessoa acabepor se sentir, em parte, isolada ou ridicularizada. Então, compreende-se que aautonomia é sinónimo de verdadeira liberdade, mas também aparentada coma atitude de todos aqueles que renunciam a fazer como todos fazem.

Luciano Cian, Nascidos para Voar

O João não toma decisões importantes na sua vida sem consultar o horóscopo.Ele acredita que a posição dos astros no céu determina o futuro das pessoas.Para agir bem, precisa de saber quais as opções que os astros favorecemnaquele momento, para não correr o risco de agir contra-corrente, o quepoderia trazer consequências imprevisíveis.Ultimamente, foi consultar o horóscopo para saber se deve ou não namorarcom a Catarina. Ele gosta mesmo dela e sente que ela também gosta dele.Nota-se pela maneira como olham um para o outro. Um certo brilho nosolhos manifesta a afeição mútua. Quando falam, entendem-se muito bem.Não têm sempre as mesmas opiniões, mas gostam de ouvir o parecer dooutro e isso fá-los pensar. A sua simples presença transforma o ambienteperfumando de felicidade cada gesto.Mas poderia o João tomar uma decisão tão importante sem recorrer aohoróscopo?O seu amigo António disse-lhe que ele era tonto. Como é que era possíveldar mais importância a uma criatura que, a troco de dinheiro, lhe iria darinformações provenientes dos astros, em vez de ouvir a voz do coração?— Escuta o teu íntimo. Ouve a voz da tua consciência. Não há melhorconselheiro — disse-lhe o António.

V