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Curso de Biologia

Prof. Gerardo Furtado Aula 14

capacidade de um organismo sobreviver e se manter em equilíbrio depende de sua habilidade em

responder a variações do ambiente interno e externo.

Variações dentro do organismo ou oriundas do meio externo, que possam ser detectadas, são chamadas de estímulos. Nos animais menos complexos as respostas aos

estímulos são limitadas e mais simples. Nos animais mais complexos são mais elaboradas, devido à complexidade do sistema nervoso (e endócrino) que controlam estas

respostas, captando-as, analisando-as e estabelecendo as melhores ações possíveis para as dadas condições.

TECIDO NERVOSO

A célula chave no sistema nervoso é o neurônio ou

célula nervosa, especializada em enviar e receber

informações. O neurônio atua através da produção e

transmissão de sinais eletroquímicos, chamados impulsos

nervosos. Outros tipos de células, únicas no sistema

nervoso são as células gliais, que protegem e dão suporte ao

neurônio.

O Neurônio

O neurônio é formado por um corpo celular, que

contém o núcleo e outras organelas, o qual apresenta dois

tipos característicos de projeções: os axônios e os dendritos.

Dentritos são processos celulares, tipicamente

curtos, altamente ramificados, especializados em recebere m

informações e enviarem estímulos para o corpo celular.

Este integra os sinais recebidos, podendo receber impulsos

diretamente. Os impulsos nervosos são conduzidos do

corpo celular para outros neurônios, músculos ou glândulas

através de outro prolongamento, o axônio, que pode ter até

1 metro ou mais de comprimento. Na porção terminal, o

axônio ramifica-se formando o telodendro, que termina em

estruturas minúsculas chamadas botões sinápticos. Estas

estruturas liberam neurotransmissores, substâncias

químicas que transmitem sinais de um neurônio para outro.

Ao longo do percurso, um axônio pode emitir ramificações.

Os axônios de muitos neurônios fora do Sistema

Nervoso Central (SNC) recebem dois tipos de cobertura:

uma camada celular externa ou neurilema e uma interna, a

bainha de mielina. Ambas são formadas pelas células de

Schwann, células gliais encontradas fora do SNC. A bainha

de mielina é fo rmada pelo enro lamento da membrana

plasmática da célula de Schwann ao longo do axônio. A

mielina é uma substância branca, rica em lipíd ios, sendo

um isolante, o que influencia a transmissão dos impulsos

nervosos. Entre as células de Schwann sucessivas, ocorrem

estreitamentos, os nódulos de Ranvier, pontos nos quais os

axônios não estão isolados.

A

Tecido Nervoso e Drogas Psicotrópicas

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O nervo é uma estrutura filamentosa formada de centenas e às vezes milhares de axônios mantidos juntos por tecido

conjuntivo. Os corpos celulares destes axônios são freqüentemente mantidos juntos em uma massa de corpos celulares

conhecidas como gânglios.

Transmissão do Impulso

Quando um neurônio recebe um estímulo, se este é forte o suficiente, ocorre a produção de um impulso nervoso. O

impulso nervoso corresponde a uma onda de despolarização que caminha rapidamente no axônio, geralmente dos dendritos até

os botões sinápticos.

No neurônio não estimulado ou em repouso, a superfície interna da membrana plasmática possui excesso de cargas

negativas quando comparada com o fluido tecidual adjacente, e a DDP é de –65mVolts em média. A membrana plasmát ica

esta assim polarizada. No neurônio em repouso, a diferença de potencial através da membrana plasmát ica é chamada de

potencial de membrana ou potencial de repouso.

A membrana plasmática alcança seu potencial de repouso pela atividade eficiente da bomba de sódio/potássio, ou

Na+K

+ATPase, que transporta sódio e potássio para o exterior e o interior do neurônio. A proteína transportadora de Na

+ e K

+ é

na realidade uma enzima, ATPase, que hidrolisa a molécula de ATP, "liberando" a energia necessária para o transporte destes

íons através da membrana. Para cada ATP hidrolisado, três íons Na+ são bombeados fora da célula para cada dois íons K

+

bombeados para dentro. Ambos os íons Na+ e K

+ podem se difundir de volta através da membrana, através de canais protéicos,

a favor de seu gradiente de concentração. Todavia, pelos tipos de canais existentes e abertos, a membrana é mais permeável ao

K+ do que ao Na

+. Assim, grande amostra de K

+ pode sair, e somente pequena amostra de Na

+ volta para dentro. Como

resultado, mais cargas positivas são mantidas fora da membrana que dentro.

Proteínas negativamente carregadas e outras moléculas grandes contribuem para as cargas negativas relativas ao lado

interno da membrana plasmát ica, pois não se difunde para fora da célu la. Num certo ponto, a carga positiva externa torna-se

tão alta que não é mais possível a saída de K+. Neste ponto o neurônio alcançou seu potencial de repouso, cerca de -70

milivo lts.

Despolarização Local Produzida Pelo Estímulo Excitatório

Qualquer estímulo (químico, elétrico ou mecânico) que faça o neurônio ficar mais permeável ao sódio ou potássio,

pode mudar o potencial de repouso (-70mV). Estas mudanças locais são chamadas potenciais locais.

Estímulos excitatórios abrem canais de sódio, formados por proteínas que estão embebidas na me mbrana, permitindo

a entrada do íon Na+ na célula. Esta passagem de Na

+ para dentro da célula produz um potencial de membrana menos negativo

o que é conhecido como despolarização. Se a despolarização da membrana for de 15mV (o que significa uma alteração d o

potencial de repouso para -55mV), a despolarização será apenas local. Quando a despolarização ultrapassa -55mV, a

membrana alcança um ponto crítico chamado "nível de disparo", o que resulta uma onda de despolarização, que se espalha ao

longo do axônio. O grad iente eletroquímico estabelecido é chamado de impulso nervoso ou potencial de ação.

Quando o nível de disparo é alcançado, um potencial de ação explosivo ocorre; a membrana do neurônio rapidamente

alcança o potencial "zero" e sobe para +35mV. Ocorre u ma "inversão momentânea da polaridade", ou seja, o lado interno da

membrana torna-se positivo, comparado ao lado externo da membrana.

O potencial de ação pode ser assim resumido:

1) Um estímulo forte suficiente para causar uma mudança no potencial de repouso, produzindo o impulso nervoso.

2) O impulso nervoso move-se ao longo do axônio com velocidade e amplitude constantes.

3) À medida que a onda de despolarização se desloca ao longo do axônio, o estado de polarização de repouso é rapidamente

restabelecido ou a membrana é repolarizada. Os canais de Na+ se fecham e não há mais entrada de Na

+ na célula até a

repolarização da membrana - período refratário. Não é possível a transmissão seguida de outro potencial de ação porque os

canais de Na+ não podem ser reabertos.

4) Simultaneamente ao fechamento dos canais de sódio ocorre a abertura dos canais de potássio, que saem. Há então uma

redução de íons positivos dentro da célula o que resulta em sua repolarização.

5) O potencial de repouso só será alcançado com o auxílio da bomba de sódio e potássio, que transporta ativamente o excesso

de sódio para fora do neurônio.

6) Esta transmissão ao longo dos axônios ocorre nos neurônios que não possuem bainha de mielina. Nos neurônios

mielin izados o potencial de ação ocorre ao nível dos nódulos de Ranvier, pontos em que a membrana plasmát ica faz contato

direto com o fluido intersticial. Assim, o potencial de ação "salta" de um nódulo de Ranvier para o seguinte - condução

saltatória - sendo um tipo de condução mais ráp ida e com menos gasto de energia.

Sinapses

Quando o potencial de ação chega ao fim do axônio, encontra fendas, as sinapses, separando um neurônio do outro ou

do efetor. O neurônio que transmite o impulso é chamado de neurônio pré-sináptico, enquanto o que recebe, de neurônio pós-

sináptico. Há dois tipos de sinapses: elétrica e química.

1 - Sinapse elétrica: o potencial de ação pode ser transmit ido diretamente para outra célu la, por meio de conexões célula -célula,

as "gap junctions". A transmissão do impulso nestas sinapses é muito rápida.

2 - Sinapse química: a fenda entre as duas células é de mais de 20nm e o impulso nervoso não consegue "saltar" a fenda para

chegar na outra célula. Assim, é necessário que compostos químicos, os neurotransmissores, conduzam a mensagem neural

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através das sinapses. Após atravessar a fenda sináptica, os neurotransmissores ligam-se a receptores específicos na membrana

plasmática do neurônio pós-sináptico.

Neurotransmissores

Os neurotransmissores são constantemente sintetizados pelos neurônios, armazenados nas vesículas sinápticas. Com a

chegada do potencial de ação ao terminal sináptico, ocorre a abertura dos canais de cálcio, permitindo a entrada de íons Ca++

no terminal. Os íons Ca++

induzem a "fusão" das vesículas de armazenamento com a membrana levando à liberação de

neurotransmissores para a fenda sináptica. Parte do neurotransmissor é recaptado pelo neurônio pós -sináptico, parte é inativado

por enzimas e parte se difunde pela fenda, ligando-se a receptores específicos. Alguns neurotransmissores podem elevar a

permeabilidade ao sódio na célula pós -sináptica, podendo produzir o potencial de ação, continuando a transmissão da

mensagem. Estes são os transmissores excitatórios. Outros transmissores podem levar a uma abertura nos canais de cloro, na

membrana pós-sináptica, tornando o citoplasma mais negativo que o fluido circulante. Isto é chamado de hiperpolarização e

nestas condições são poucas as possibilidades do surgimento de um potencial de ação e a sinapse é uma sinapse inibitória.

São exemplos de neurotransmissores a dopamina, serotonina, epinefrina, acetilcolina, GABA, endorfinas e uma série

de aminoácidos.

PSICOTRÓPICOS

Definição (Organização Mundial da Saúde - OMS, 1981): são aquelas que "agem no Sistema Nervoso Central (SNC)

produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo grande propriedade reforçadora sendo, portanto,

passíveis de auto-administração" (uso não terapeutico).

Psico vem de psique = alma; Trópico vem de tropis mo = direção, ação de aproximar.

A ação de cada psicotrópico depende: do tipo da droga (estimulante, depressora ou perturbadora), da via de

administração, da quantidade da droga, do tempo e da freqüência de uso, da qualidade da droga, da absorção e da eliminação

da droga pelo organismo, da associação com outras drogas, do contexto social bem como das condições psicológicas e físicas

do indivíduo.

Das várias classificações existentes dos psicotrópicos ou drogas psicotrópicas, adota-se aqui a (antiga) div isão em 3

grandes grupos: depressores (psicolépticos), estimulantes (psicoanalépticos) ou perturbadores (psicodislépticos) do SNC.

DEPRESSORES DO SNC

Os Depressores da Atividade do Sistema Nervoso Central (SNC) , referem-se ao grupo de substâncias que diminuem a

atividade do cérebro, ou seja, deprimem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique "desligada", "devagar",

desinteressada pelas coisas. Este grupo de substâncias é também chamado de psicolépticos.

As substâncias que compõem o grupo de Depressores do SNC são:

I. Álcool

Aspectos históricos e culturais : A palavra álcool orig ina-se do árabe al-kuhul que significa líquido. As bebidas

alcóolicas representam as drogas mais antigas das quais se têm conhecimento, por seu simples processo de produção. Obtidas

pela fermentação de diversos vegetais, segundo procedimento no início primitivos e depois cada vez mais sofisticados, elas já

estavam presentes nas grandes culturas do Oriente Médio e são utilizadas em quase todos os grupos culturais, geralmente

relacionadas a momentos festivos. Os mais antigos documentos da civilização egípcia descrevem o uso do vinho e da cerveja.

A medicina egípcia, respeitada em toda a região mediterrânea, usava essências alcoólicas para uma série de moléstias,

enquanto meio embriagador contra dores e como abortivo. O vinho entre os egípcios era bebido em honra à deusa Isis. O

consumo de cerveja pelos jovens era comum; muitos contos, lendas e canções de amor relatam os seus poderes afrodisíacos. O

seu uso social e festivo era bem tolerado, embora, já no Egito, moralistas populares se levantassem contra o seu abuso "por

desviar os jovens dos estudos". A embriaguez, no entanto, era tolerada apenas quando decorrente de celebrações religiosas,

onde era considerada normal ou mesmo estimulada. Na Babilônia 500 a.C., a cerveja era oferta aos deuses. Nas culturas da

Mesopotâmia, as bebidas alcoólicas existiram, com certeza, no final do segundo milên io a.C.; aos poucos, a cerveja à base de

cereais foi substituída por fermentados à base de tâmaras. A fermentação da uva também é regularmente mencionada. O uso

medicinal de produtos alcoólicos é comum. O consumo de álcool nas civilizações gregas e romanas é bem conhecido. Ele era

utilizado tanto pelo seu valor alimentício, quanto para festividades sociais. Ressalt amos apenas a associação entre o uso do

vinho e certas práticas e concepções religiosas representadas pela popular figura do Bacchus. Durante longos períodos, o

consumo de vinho era proibido para as mulheres, interdito do qual testemunham também os relatos bíblicos. Lembramos ainda

que o vinho é parte integrante de cerimônias católicas e protestantes, bem como no judaís mo, no candomblé e em outras

práticas espíritas. Nos anos 20, nos Estados Unidos, houve uma proposta de coibição legal do uso de bebidas alc oólicas

chamada Lei Seca. Porém, durou pouquíssimo tempo. O seu fracasso deu-se devido à pressões econômicas que fácil e

vitoriosamente se interpuseram, além de que o próprio consumidor encontrou uma forma sutil e prática para alimentar suas

necessidades.

O principal agente do álcool é o etanol (álcool etílico).

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As bebidas alcoólicas são elaboradas a partir da fermentação de produtos naturais: vinho (fermentação da uva);

cerveja (fermentação de grãos de cereais); outros (fermentação do mel, cana de açúcar, beterraba, mandioca, milho, p imenta,

arroz etc.).

Bebidas alcoólicas destiladas - como cachaça, rum, uísque ou gim - são obtidas através da destilação de bebidas

fermentadas.

Efeitos físicos e psíquicos

Inibidor da at ividade cerebral

Em caso de uso mais intenso, pode favorecer atitudes impulsivas e, no extremo, levar à perda da consciência

chegando-se ao coma alcoólico.

O uso crônico de doses elevadas leva ao desenvolvimento de dependência física e tolerância .

Em caso de supressão abrupta do consumo, pode-se desencadear a síndrome da abstinência caracterizada por

confusão mental, v isões assustadoras, ansiedade, tremores, desregulação da temperatura corporal e convulsões.

Dependendo da gravidade dos sintomas, pode levar à morte.

"Delirium tremens": quadro de abstinência completamente instalado (estado de consciência turvo e vivência de

alucinações, principalmente táteis).

II. Inalantes/solventes

Inalante: toda a substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no organis mo através da aspiração pela boca ou

nariz. Solvente: substância normalmente apolar, orgânica, capaz de dissolver. Via de regra, todo o solvente é uma substância

altamente volátil, isto é, evapora-se muito facilmente podendo, por isso, ser inalado. Devido a essa característica, são, portanto,

chamados de inalantes. Muitos dos solventes ou inalantes são inflamáveis, isto é, pegam fogo facilmente.

Aspectos históricos e culturais : Os solventes começam a ser utilizados como droga de abuso por volta de 1960 nos

EUA. No Brasil, o uso de solventes aparece no período de 1965-1970. Hoje, o consumo de solventes se dá muito em países do

chamado Terceiro Mundo, enquanto que em países desenvolvidos a freqüência de uso é muito baixa. Eles podem ser aspirados

voluntariamente (caso dos meninos de rua que cheiram cola de sapateiro) ou involuntariamente (trabalhadores de indústrias de

sapatos ou de oficinas de trabalho, expostos ao ar contaminado por essas substâncias). O clorofórmio e o éter chegaram a servir

como drogas de abuso em outros tempos e depois seu uso foi praticamente abandonado. No Brasil, a moda voltou com os

lança-perfumes trazidos da Argentina. O clorofórmio é conhecido desde 1847 como anestésico, mas foi abandonado porque

surgiram anestésicos mais eficientes e seguros. Assim também ocorreu com o éter. Há referências ao abuso do éter como

substituto do álcool durante a Lei Seca nos Estados Unidos e durante a Segunda Guerra Mundial na Alemanha. Por volta de

1960, os lança-perfumes, que eram feitos de Cloreto de Etila, começaram a ser aspirados para dar sensação de torpor, tontura e

euforia. O Quelene, anestésico local, formava par com o lança-perfume e era empregado fora das épocas de Carnaval, quando a

disponibilidade do lança-perfumes era menor. Muitas pessoas morreram de parada cardíaca provocada por essa droga e, por

volta de 1965, o governo brasileiro proibiu a fabricação dos lança-perfumes e do Quelene. Contudo, começaram a surgir

referências ao retorno do uso de lança-perfumes, só que como um produto à base de clorofórmio e éter.

Efeitos físicos e psíquicos

Após a aspiração, o início dos efeitos é bastante rápido. Entre 15-40 minutos já desapareceram. O efeito dos solventes

vai desde uma pequena estimulação, seguida de uma depressão, até o surgimento de processos alucinatórios. Os principais

efeitos são caracterizados por uma depressão da atividade do cérebro.

O aparecimento dos efeitos após a inalação fo i div idido em 4 fases:

1a. fase: fase da excitação. A pessoa fica eufórica, aparentemente excitada, ocorrendo tonturas e perturbações auditivas e

visuais. Podem aparecer náuseas, espirro, tosse, muita salivação e as faces podem f icar avermelhadas.

2a. fase: a depressão começa a predominar. A pessoa entra em confusão, desorientação, fica com a voz pastosa, começa a ter

a visão embaçada, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez e começa a ver e a ouvir coisas.

3a. fase: a depressão se aprofunda com redução acentuada do estado de alerta, incoordenação ocular, incoordenação motora,

fala "enrolada", reflexos deprimidos, já podendo ocorrer processos alucinatórios.

4a. fase: aparece a depressão tardia, podendo chegar a inconsciência. Há queda de pressão, sonhos estranhos, podendo

ocorrer surtos de convulsão. Há possibilidade de se chegar ao coma e à morte.

Os solventes, inalados cronicamente, podem levar a lesões da medula óssea, dos rins, do fígado e dos nervos

periféricos que controlam os nossos músculos. Não há, na literatura médica, afirmat ivas claras de que os solventes possam

levar à dependência. Também não se figura síndrome de abstinência. A tolerância pode ocorrer, instalando -se em um ou dois

meses.

Nomes comerciais:

Os solventes estão presentes em muitos produtos comerciais. Existem dois grupos principais:

Substâncias voláteis: éter, clorofórmio , gasolina, benzina, flu ído de isqueiro, Carbex.

Substâncias usadas na indústria como solvente, diluente e adesivas: cola de sapateiro, tintas, vernizes, removedores,

limpa-manchas, esmaltes.

Estes produtos pertencem a um grupo químico chamado Hidrocarbonetos Aromáticos ou Afiláticos cujas substâncias

ativas são: Tolueno, N-hexano, Benzeno, Xilol, Acetato de Etila, Cloret ila ou Cloreto de Etila etc.

Nomes populares: cheirinho da lo ló ou lo ló, lança-perfumes ou lança, cola.

III. Ansiolít icos

Aspectos históricos e culturais : Os ansiolíticos surgiram em 1950, com o meprobamato, que praticamente desapareceu

após a descoberta do clorodiazepóxido, em 1959. A part ir daí, seguiu-se uma série de derivados que se mostraram muito

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eficientes no controle da ansiedade, insônia e certos distúrbios epilépticos. O Diazepam foi o segundo a surgir, sendo o mais

destacado membro desse grupo de substâncias conhecido como benzodiazepinas. Assim, as principais drogas pertencentes à

classificação de ansiolíticos são os benzodiazepínicos. A benzodiazep ina, sintetizada na década de 50, tem mais de 2.000

derivados. Existem 19 substâncias comercializadas no Brasil, com mais de 250 nomes comerciais. O meprobamato foi sendo

abandonado e as benzodiazepinas dominam completamente os tratamentos farmacológicos das neuroses e das formas de

ansiedade. Além da grande eficiência terapêutica, mostraram-se drogas muito seguras. Tem uso terapêutico como ansiolít ico,

hipnótico e síndrome de dependência do álcool. O crescimento de seu consumo foi vertig inoso entre 1960 e 1980, e estima -se

que cerca de 10% da população adulta dos países desenvolvidos tomem benzodiazep ínicos, regular ou esporadicamente. Estas

drogas têm sido prescritas indiscriminadamente. Hoje assistimos ao desenvolvimento de um novo padrão cultural, a "cultura

das benzodiazepinas", pelo qual as pessoas encaram com permissividade o uso de um "calmante". No Brasil ess a situação é

mais grave, pois esses medicamentos são vendidos em algumas farmácias sem a exigência de receita médica.

Estas drogas estão sendo usadas acima do que se justificaria, do ponto de vista exclusivamente médico. Não poucos

autores tem comparado estas substâncias ao "Soma", descrito por Aldous Huxley em "O Admirável Mundo Novo".

Efeitos físicos e psíquicos

Estimulam os mecanis mos do cérebro que normalmente combatem estados de tensão e ansiedade, inibindo os mecanismos

que estavam hiperfuncionantes, ficando a pessoa mais tranqüila, como que desligada do meio ambiente e dos estímulos

externos.

Produzem uma ativ idade do cérebro que se caracteriza por d iminuição da ansiedade, indução do sono, relaxamento muscular,

redução do estado de alerta.

Dificu ltam os processos de aprendizagem e memória.

Prejud icam, em parte, as funções psicomotoras afetando atividades como, por exemplo, dirig ir automóveis.

Misturados com álcool, seus efeitos se potencializam, podendo levar a pessoa a estado de coma.

Em doses altas a pessoa fica com h ipotonia muscular (" mole"), dificu ldade para ficar de pé e andar, queda da pressão e

possibilidade de desmaios.

O seu uso por mulheres grávidas tem um poder teratogênico, isto é, pode produzir lesões ou defeitos físicos na criança.

Quando usados por alguns meses, podem levar a pessoa a um estado de dependência. Ou seja, sem a droga a pessoa passa a

sentir muita irritabilidade, insônia excessiva, sudoração, dor pelo corpo todo, podendo, nos casos extremos, apresentar

convulsões.

Há figuração de síndrome de abstinência e também desenvolvimento de tolerância, embora esta última não seja muito

acentuada.

Nomes comerciais

Valium, Diempax, Kiatrium, Noan, Diazepam, Calmociteno (substância ativa - d iazepam).

Psicosedim, Tensil, Relaxil (substância ativa - clorodiazepóxido).

Lorax, Mesmerin, Relax (substância ativa - lorazepam).

Deptran, Lexotan, Lexpiride (substância ativa - bromazapam).

Rohipnol, Fluzerin (substância ativa - flunitrazepam).

Nome popular: calmantes.

IV. Barbitúricos

Aspectos históricos e culturais: Os barbitúricos foram descobertos no começo do século XX. Em 1903, foi lançado no

mercado farmacêutico o Veronal, que se mostrava um promissor hipnótico que vinha substituir os medicamentos menos

eficientes até então existentes. O próprio nome comercial era uma alusão à cidade de Verona, sede da tragédia "Romeu e

Julieta", onde a jovem toma uma droga que induz um sono profundo confundido com a morte para, em seguida, despertar

suavemente. Os barbitúricos foram amplamente empregados como hipnóticos até o aparecimento das benzodiazepinas, na

década de 60. A partir daí, suas indicações se restringiram. Hoje alguns deles são úteis como antiepilépticos. Nos primeiros

anos, não se suspeitava que causassem dependência. Depois que milhares de pessoas já haviam se tornado dependentes, é que

surgiram normas reguladoras que dificultaram a sua aquisição. Até algum tempo atrás, sedativos leves que continham

barbitúricos em pequenas quantidades, não estavam sujeitos aos controles de venda, podendo ser livremente adquiridos em

farmácias. Era o caso dos analgésicos. Vários remédios para dor de cabeça, além da aspirina e os antigos Cibalena , Veramon,

Optalidon, Fiorinal etc., continham o butabarbital ou secobarbital (dois tipos de barbitúricos) em suas fórmulas.

O abuso de barbitúricos foi muito mais freqüente até a década de 50 do que é hoje em dia.

Efeitos físicos e psíquicos

São capazes de deprimir (diminuir) varias áreas do cérebro.

As pessoas podem ficar sonolentas, sentindo-se menos tensas, com uma sensação de calma e de relaxamento.

A capacidade de raciocínio e de concentração também ficam afetadas.

Com doses maiores, causa sensação de embriaguez (mais ou menos semelhante à de tomar bebidas alcóolicas em

excesso), a fala fica "pastosa", a pessoa pode sentir dificuldade de andar direito, a atenção e a atividade psicomotora são

prejudicadas (ficando perigoso operar máquinas, dirigir auto móveis etc.). Em doses elevadas, a respiração, o coração e a

pressão sangüínea são afetados.

Efeitos tóxicos: Os barbitúricos são drogas perigosas pois a dose que começa a intoxicar as pessoas está próxima da

que produz efeitos terapêuticos desejáveis. Os efeitos tóxicos são: sinais de incoordenação motora, início de estado de

inconsciência, dificuldade para se movimentar, sono pesado, coma onde a pessoa não responde a nada, a pressão do sangue

fica muito baixa e a respiração é tão lenta que pode parar (a morte ocorre exatamente por parada respiratória). Os efeitos

tóxicos ficam mais intensos se a pessoa ingere álcool ou outras drogas sedativas.

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Os barbitúricos levam à dependência, desenvolvimento de tolerância, síndrome de abstinência, com sintomas que vão

desde insônia, irritação, agressividade, delírios, ansiedade, angústia e até convulsões generalizadas. A síndrome de abstinência

requer obrigatoriamente tratamento médico e hospitalização, pois há perigo da pessoa vir a morrer.

Nomes comerciais

Hipnóticos: Nembutal (substância ativa - pentobarbital); tiopental - substância ativa (utilizado por via endovenosa,

exclusivamente por anestesistas para provocar anestesia em cirurg ia).

Antiepilépticos: Gardenal, Comital, Bromosedan (substância ativa - fenobarbital).

Nomes populares: soníferos, bola, bolinha.

V. Opiáceos

Opiáceos ou drogas opiáceas são substâncias derivadas do ópio. Todas produzem uma analgesia (diminuem a dor) e

uma h ipnose (aumentam o sono). Em função disso, recebem o nome de narcóticos sendo também chamadas de drogas

hipnoanalgésicas ou analgésicos narcóticos. São classificadas como substâncias entorpecentes podendo ser:

Opiáceos naturais:

derivados do ópio que não sofreram nenhuma modificação (ópio, pó de ópio, morfina, codeína)

Opiáceos semi-sintéticos:

resultantes de modificações parciais das substâncias naturais (heroína)

Opiáceos sintéticos ou opióides :

totalmente sintéticos, são fabricados em laboratório e tem ação semelhante à dos opiáceos (zipeprol, metadona)

As substâncias que compõem o grupo de drogas opiáceas são:

Ópio

Aspectos históricos e culturais : O ópio ("suco", em grego) é obtido a partir de um líquido leitoso da cápsula verde da

papoula (Papaver somniferum), planta que cresce naturalmente na Ásia. É também chamada de "dormideira", sendo originária

do Mediterrâneo e Oriente Médio. Quando seco, o suco passa a se chamar pó de ópio. O ópio é apresentado em barras de cor

marrom e gosto amargo que podem ser reduzidas a pó. Quando aquecido, produz um vapor amarelo que é inalado. Pode ser

dissolvido na boca ou ingerido como chá. A papoula é legalmente cultivada, servindo de fonte de matéria -prima a laboratórios

farmacêuticos. Contudo, em sua maioria, as plantações são ilegais e destinam sua produção ao comércio clandestino de ópio e

heroína. Entre os gregos antigos, o ópio era revestido de um significado divino como símbolo mito lógico poderoso. Os seus

efeitos eram considerados como uma dádiva dos deuses, destinada a acalmar os enfermos. Na China, desde tempos imemoriais,

a planta da papoula era símbolo nacional (tal como os ramos do café no Brasil). Parece que o ópio fo i introduzido na China

pelos árabes no século IX ou X. As provas mais antigas do conhecimento do ópio remontam às plaquinhas de escrever dos

sumerianos, que viveram na baixa Mesopotâmia (hoje o Iraque) há cerca de 7.000 anos. O conhecimento de suas propriedades

medicinais chega depois à Pérsia e ao Egito, por intermédio dos babilônios. Os gregos e os árabes também empregavam o ópio

para fins médicos. O primeiro caso conhecido de cultivo da papoula na Índia data do século XI. No tempo do império Mongol

(século XVI), a produção e o consumo de ópio nesse país já eram fatos normais. O ópio era conhecido também na Europa na

Idade Média, e o famoso Paracelso o min istrava a seus pacientes. Quando utilizado por prazer, era ingerido como chá. O hábito

de fumar ópio conta umas poucas centenas de anos. Em muitas sociedades orientais tradicionais, recorre-se ao ópio contra

dores nas enfermidades do corpo mas, também, como tranqüilizante. É também instrumento de relaxamento e de sociabilidade.

No século XIX, a "Brit ish East India Company" produzia ópio na Índia e o vendia para a China. A insistência do governo

chinês em reprimir a venda e o uso da droga que se alastrava, levou a um conflito com a Inglaterra, conhecido como a "Guerra

do Ópio". Os ingleses obrigaram a China a liberar a importação da droga e como resultado, em 1900, metade da população

adulta masculina ch inesa era descrita como dependente da droga.

Amplamente aceita como droga recreativa no Oriente, e comprado livremente na Inglaterra e Estados Unidos, até fins

do século XIX, o ópio provocou o surgimento de "casas de ópio" na maioria das cidades européias. Foi somente no início do

século XX que o seu consumo começou a ser proib ido.

Efeitos físicos e psíquicos

As pessoas não iniciadas podem experimentar náuseas, vômitos, ansiedade, tonturas e falta de ar.

O dependente entra diretamente num estado de torpor, sentindo os membros pesados e o raciocínio lento.

A dependência e tolerância se desenvolvem rapidamente e o dependente passa a sentir tudo, menos prazer.

Privado da droga, tem tremores, suores, angústia, cólicas e cãibras - sintomas da síndrome de abstinência.

Nomes comerciais: Tintura de Ópio, Elixir Paregórico, Elixir de Dover (substância ativa - pó de ópio).

Uso terapêutico: anti-diarréico e analgésico.

Codeína e zipeprol

Aspectos históricos e culturais : A codeína, ou metilmorfina, é um alcalóide natural (opiáceo natural) que compõe o

ópio. O ziprepol é uma substância sintética (opióide), isto é, fabricada em laboratório. Indicadas para tosses irritativas e sem

expectoração (tosse seca), são chamadas de substâncias antitussígenas, estando presentes em xaropes e gotas para tosse como,

por exemplo: Belacodid, Gotas Binelli, Tussaveto etc. Os métodos usuais de admin istração são oral ou endovenoso. A duração

do efeito é de 3 a 6 horas. A codeína é um narcótico de o rigem natural mais amplamente empregado na clínica médica. Mes mo

sendo menos potente que outros opiáceos, seu uso continuado induz a certa tolerância. O zipeprol, devido a sua grande

toxicidade, foi recentemente banido do Brasil (ou seja, está proibido fabricar ou vender remédios à base desta substância no

território nacional). No ano de 1991, foram ret irados do comércio remédios com o ziprepol como, por exemplo: Eritós, Nantux,

Silentós e Tussaveto. Isto ocorreu pelo fato de ter havido várias mortes de jovens que abusavam destas substâncias,

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principalmente crianças em situação de rua. Os xaropes e gotas à base de codeína só podem ser vendidos nas farmácias

brasileiras com a apresentação da receita do médico, que fica retida para posterior controle. Isto nem sempre acontece.

Efeitos físicos e psíquicos

A codeína, quando tomada em doses maiores do que a terapêutica, produz uma acentuada depressão das funções

cerebrais. Como conseqüência, a pessoa fica apática, a pressão do sangue cai muito, o coração funciona com grande lentidão e

a respiração torna-se muito fraca. A pele fica fria, pois a temperatura do corpo diminui, e meio azulada, por respiração

insuficiente. A pessoa pode ficar em estado de coma, inconscien te, e se não for tratada, pode morrer. A codeína leva

rapidamente o organismo a um estado de tolerância. Assim, não é incomum saber-se de casos de pessoas que tomam vários

vidros de xaropes ou de gotas para continuar sentindo os mesmos efeitos. E, se deixam de tomar a droga, já estando

dependentes, aparecem os sintomas da chamada síndrome de abstinência. Calafrios, cãibras, cólicas, nariz escorrendo,

lacrimejamento, inquietação, irritabilidade e insônia são os sintomas mais comuns da abstinência.

Com o ziprepol há, também, o fenômeno da tolerância, embora em intensidade menor. O pior aspecto do uso crônico

(repetido), dos produtos à base de ziprepol, é a possibilidade da ocorrência de convulsões.

Nomes comerciais

Belacodid, Belpar, Benzotio l, Codelasa, Gotas Binelli, Naquinto, Pastilhas Veabon, Pastilhas Warton, Setux,

Tussaveto, Tussodina, Tylex (substância ativa: codeína).

Eritós, Nantux, Silentós, Tussiflex (substância ativa: zipeprol).

Uso terapêutico: antitussígeno e analgésico (codeína); antussígeno (zipeprol)

Morfina

Aspectos históricos e culturais : A morfina é a mais conhecida das várias substâncias existentes no pó de ópio. A

palavra morfina vem do deus da mitolog ia grega Morfeu, deus dos sonhos. Foi isolada em 1806, sendo uma das mais potentes

drogas analgésicas. Após a constatação das desastrosas conseqüências do seu largo emprego , a morfina foi relegada a um plano

secundário em medicina. Os mecanis mos de fiscalização sobre a sua produção e comercialização são severos. Só está

disponível em soluções injetáveis e comprimidos, e seu uso é restrito a algumas situações médicas onde se impõe o uso de um

analgésico potente (como câncer, queimaduras extensas, grandes traumatismos).

Efeitos físicos e psíquicos

Os efeitos agudos da morfina são semelhantes aos do ópio, mas mais potentes.

Tolerância e dependência também se instalam rapidamente. O dependente de morfina vive em um estado de torpor e

insensibilidade.

A síndrome de abstinência é muito grave, acompanhada de intensa angústia, tremores, diarréia, suores e cãibras.

A hospitalização é sempre uma imposição nos tratamentos de desintoxicação. A droga nunca é retirada bruscamente,

havendo necessidade de se estabelecer um programa de ret irada progressiva da droga ou sua substituição por derivados

sintéticos mais seguros.

Nome comercial: morfina, sulfato de morfina.

Heroína

Aspectos históricos e culturais: Obtida a partir da morfina, é muito mais potente do que ela. Conhecida como a "rainha

das drogas" por causa de seus efeitos, foi sintetizada em 1874, em Berlim. A palavra heroína vem do termo "heroich" que, em

alemão, significa potente, enérgico. De início, foi preconizada como substituta da morfina e chegou a fazer parte dos

medicamentos analgésicos, antitussígenos e hipnóticos. Hoje em dia, não tem qualquer indicação médica. Na sua forma pura, é

um pó branco e amargo. Vendida clandestinamente, tem coloração que varia do branco ao marrom escuro, por causa das

impurezas deixadas pelos processos primit ivos de obtenção ou pela presença de talco, açúcar, corantes químicos, leite em pó

etc. A via de admin istração preferida pelos usuários de heroína é a endovenosa. Pode ser também aspirada ou fumada. O

comércio ilegal da heroína representa um dos segmentos mais importantes e rentáveis do tráfico de drogas. A produção e a

distribuição estão sempre ligadas as grandes organizações clandestinas. O uso de heroína é raro no Brasil. Por outro lado, os

Estados Unidos vivem uma situação epidêmica, cujo in ício se localiza por volta da metade da década de 60, coincidindo com o

envolvimento dos americanos na Guerra do Vietnã. Milhares de soldados adquiriram o h ábito de tomar heroína junto às

populações do sudeste asiático. Foi grande a quantidade de jovens que retornou da guerra dependente.

A grande dificuldade em ajudar os dependentes de heroína levou vários países a criar os programas de "manutenção

pela metadona" - opióide sintetizado por químicos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial, em resposta à escassez de

morfina. A metadona é utilizada no tratamento dos dependentes de heroína. Não desenvolve tolerância e o seu efeito pode

durar até quatro vezes mais que os efeitos de outros opiáceos.

Efeitos físicos e psíquicos

Os efeitos agudos são semelhantes aos obtidos com os outros opiáceos: torpor e tonturas misturados com um

sentimento de leveza e euforia.

As primeiras doses podem provocar náuseas e vômitos.

Depois de instalada a dependência, há necessidade de ministrá-la mais vezes a fim de prevenir os desprazeres da

abstinência: cólicas, angústia, dores pelo corpo, letargia, apatia e medo. A tolerância instala-se rapidamente.

A repetição das doses nada mais faz a não ser aliviar estes sintomas.

ESTIMULANTES DO SNC

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Os Estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso Central referem-se ao grupo de substâncias que aumentam a

atividade do cérebro. Ou seja, estimulam o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa fique mais "ligada", "elétrica", sem

sono.

Este grupo de substâncias é também chamado de psicoanalépticos, nooanalépticos, timolépticos .

As substâncias que compõem o grupo de Estimulantes do SNC são:

I. Cafeína

Aspectos históricos e culturais : A forma pura da cafeína foi extraída das plantas em 1820, mas atualmente pode ser

produzida em laboratório. Em nosso dia-a-dia a encontramos em pequenas quantidades por meio do café, do chá preto, chá

mate, guaraná, coca-cola ou da noz de cola.

Café: Infusão feita das sementes do cafeeiro, o café é a bebida que contém cafeína mais consumida no mundo. O

cafeeiro é orig inário da Et iópia, tendo chegado à Arábia no século XIII e à Turquia no século XVI. Mas é somente com sua

chegada à Itália, no princípio do século XVII, que se dá sua grande expansão, pois começaram a surgir, desde então, casas de

café por toda Europa, servindo de local de encontro e discussões sérias. Na segunda metade do século XVII, o café chegou à

América. Antes de ser consumido da maneira que conhecemos, o café, há cerca de 700 anos, foi uma comida, depois vinho e

também remédio. No século XVII, em vários condados da Alemanha e na Rússia Czarist a, consumidores de café foram

condenados à morte. Tendo se popularizado com sua chegada à Europa, foram os Estados Unidos, após sua independência, que

se tornaram o principal consumidor mundial, respondendo hoje pelo consumo de cerca de 1/3 (um terço) do c afé cultivado no

mundo. O Brasil entra, por sua vez, na estatística do café com o primeiro lugar entre os produtores, vindo acompanhado da

Colômbia, detentora do segundo. É também cu ltivado em Java, Sumatra, Índia, Arábia, África Equatorial, Hawaí, México,

Antilhas, América Central e outros países da América do Sul.

Chá ou chá preto: A primeira referência ao chá na literatura chinesa data de 350 d.C.. De origem chinesa, a lenda

remete sua descoberta ao imperador Chen Nung, no ano 2737 a.C.. Tendo se difundido no Japão e outros países orientais,

chegou à Europa por volta de 1600, at ravés de mercadores vindos do Oriente. No século XVII, o chá consolidou -se como a

bebida nacional da Grã -Bretanha. Na segunda metade desse mesmo século, chegou às colônias american as. Em 1767, o

governo britânico passou a cobrar uma taxa pelo chá ali consumido. Esta taxa foi um dos temas explorados pela resistência

anticolonialista na guerra de independência dos Estados Unidos. Atualmente, o principal consumidor mundial é a Grã -

Bretanha, vindo logo em seguida os Estados Unidos. Na produção, o primeiro lugar é da Índia, com a China em segundo. O

chá também é produzido no Japão, Sri Lanka, ex União Soviética, Indonésia, Turquia, Bangladesh, Irã, Taiwan, vários países

da África e América do Sul, inclusive Brasil.

Erva mate: Nat iva da América do Su l, contém relat ivamente, uma grande quantidade de cafeína. É consumida

principalmente como chá ou chá mate, ou chimarrão, bebida popular dos pampas, ou tererê este aqui popular no Paraguai. A

cultura da erva mate é uma grande indústria no sul do Brasil, no Uruguai e Argentina, sendo deles exportada em grande

quantidade para toda a América do Sul.

Guaraná: Fruto do guaranazeiro, arbusto trepador originário do estado do Amazonas, seu cultivo foi in iciado pelos

índios Maues. Esses objetivavam com o seu consumo realizar trabalhos físicos mais cansativos. O consumo era feito através de

dissolução do pó do guaraná em água. O homem branco teve o primeiro contato com o guaraná por volta do século XVI. É

comum encontrarmos hoje refrigerantes com nome guaraná, mas esses são normalmente feitos com sabor artificial. Outra

forma comum de consumo, que se assemelha à dos índios Maues, vincula o guaraná à idéia de um produto natural, sendo um

produto, nesse caso, pouco popular.

Efeitos físicos e psíquicos

A cafeína é uma droga estimulante consumida por v ia oral, que em pequenas quantidades aumenta a circu lação por

provocar dilatação dos vasos sangüíneos. Pode, em dose excessiva, produzir excitação, insônia, dores d e cabeça, taquicardia,

problemas digestivos e nervosismo.

Alguns a usam para resolver problemas cardíacos, auxiliar pessoas com depressão nervosa decorrente do uso do

álcool, ópio e outras drogas. Porém alguns estudiosos não observam nenhum uso terapêutico na cafeína, alertando para o

perigo da dependência psíquica e da síndrome de abstinência.

II. Nicotina

Aspectos históricos e culturais : Planta originária do continente americano, o tabaco já era fumado pelos índios desde

antes da chegada dos colonizadores europeus. Este hábito, como os demais de mascá-lo ou aspirá -lo, fo i sendo adquirido

também pelos viajantes europeus que vinham à América. Foi somente em 1560 que o uso do tabaco veio a tomar grande

impulso na Europa, a partir da propaganda de Jean Nicot - d iplomata francês cujo nome originou a palavra n icotina - de que ela

possuía "maravilhosos poderes curativos". Foi Nicot que introduziu o seu uso na França. Com o passar do tempo, o hábito de

fumar tabaco havia se propagado e, no século XVII, já era um vício generalizado em toda Europa, alcançando também a África

e Ásia. O tabaco perde, contudo, sua auréola de "remédio para todos os males" restringindo seu uso à população de baixa

renda. Mas aos poucos vai ganhando o gosto da nobreza e da burguesia e, po r fim, no in ício do século XVIII, é um dos maiores

valores de comércio internacional. O cachimbo no século XVII, o rapé e o hábito de mascar no século XVIII, assim como o

charuto no século XIX, foram formas muito comuns do uso do tabaco nas respectivas épo cas. Mas a grande "democratização"

do consumo de tabaco veio a acontecer no século XX, com a expansão do hábito de fumar cigarro. Orig inário dos "papeletes"

ou "papelitos" espanhóis do século XVII e do "cigarette" francês do século XIX, o cigarro se popula rizou de forma

impressionante no século XX, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial. Apesar de existirem vozes se opondo ao uso do

tabaco, este sofreu uma expansão constante e crescente. Somente na década de 60, com a revelação dos cientistas de que o

cigarro provoca câncer no pulmão e outros males, é que se deu início a uma campanha contra seu uso. Certos grupos tomam

esta campanha como uma verdadeira "cruzada".

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Efeitos físicos e psíquicos

Consumida por via oral ou nasal, a nicotina, componente do tabaco, é considerada uma droga estimulante. Não possui

nenhum efeito terapêutico, provocando dependência física e psíquica. Provoca tolerância, ou seja, o organismo adapta -se a sua

presença através de um processo biológico, e sujeita a síndromes de abstinência os indivíduos que param de fumar de uma

maneira brusca.

Entre as 4 mil substâncias existentes na fumaça do tabaco, a nicotina é a responsável pela dependência física,

caracterizada por sintomas de irritabilidade, palp itação, tontura, ansiedade e fadiga.

Aumento da pressão arterial, diminuição do fluxo sangüíneo para a pele, diminu indo a temperatura;

Faring ites, bronquites, falta de apetite;

Perturbações da visão;

Diversos tipos de câncer;

Doenças cardiovasculares, angina, infarto.

III. Anfetaminas

Aspectos históricos e culturais : Sintetizada pela primeira vez em 1887, as anfetaminas são drogas estimulantes, ou

seja, alteram nosso psiquismo, aumentando, estimulando ou acelerando o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso

central. São drogas sintéticas, fabricadas em laboratório, não sendo, portanto, produtos naturais. Foi lançada no mercado

farmacêutico na forma de um inalador indicado como descongestionante nasal, em 1932. Em 1937, iniciou -se o comércio de

benzedrina, um comprimido para revigorar energias e elevar estados de humor. Foi usado, durante a Segunda Guerra Mundial,

pelas tropas alemãs para combater a fadiga provocada pelo combate. Os Estados Unidos também permitiram seu uso na Guerra

da Coréia. Por ser uma droga cujo uso terapêutico auxilia principalmente na moderação do apetite, são facilmente encontradas

nas farmácias, que são obrigadas a vendê-las sob prescrição médica. Além de inibidoras de apetite, as anfetaminas podem,

também, a partir de uma certa dosagem, provocar um estado de g rande excitação e sensação de poder. Este uso se popularizou

após a Segunda Guerra Mundial, na década de 50. Na gíria, estas drogas são conhecidas, por exemplo, como "rebite" e/ou

"bolinha". "Rebite" é como são chamadas as anfetaminas entre os caminhoneiro s. Tendo um prazo para entregar determinada

mercadoria, eles tomam o "rebite", objetivando dirigir à noite e não pegar no sono, ficando "acesos" e "presos" ao volante. O

uso entre jovens passou a ser também freqüente. Usadas com o nome de "bolinha", deixa m a pessoa "acesa", "ligadona",

provocando um "baque". Procurando varar a noite estudando, uma pessoa pode usá -las com o objet ivo de realizar esta tarefa

por mais tempo, evitando o cansaço. Mais ou menos em l970, in icia -se o controle da comercialização - pois as anfetaminas

passaram a ser consideradas drogas psicotrópicas, sendo portanto ilegal seu uso sem acompanhamento médico adequado.

Efeitos físicos e psíquicos

As anfetaminas provocam dependência física e psíquica, podendo acarretar, com seu uso freqüen te, tolerância à droga,

assim como a sua interrupção brusca, síndrome de abstinência.

Consumidas por via oral ou injetadas, são consideradas psicotrópicos estimulantes, por induzir a um estado de grande

excitação e sensação de poder, facilitando a exterior ização de impulsos agressivos e incapacidade de julgar adequadamente a

realidade.

O uso prolongado pode provocar forte dependência, sendo que no extremo podem surgir alucinações e delírios,

sintomas denominados "psicose anfetamínica".

Nomes comerciais

Dualid, In ibex, Hipofagin, Moderine (substância ativa - diet ilp ropiona).

Lipomax, Desobesi (substância ativa - fenpropex).

Dasten, Absten, Moderamin, Fagolipo, Inobesin, Lipese, Diazin il (substância ativa - mazindol).

Uso terapêutico: anorexígeno (medicamento utilizado para provocar a anorexia, que é aversão ao alimento).

Pervit in (substância ativa: metanfetamina) - "ice"

Ritaline (substância ativa: met ilfenidato).

Uso terapêutico: sistema hipercinético.

Nomes populares: bolinha, bola, rebite, " ice".

IV. Cocaína

Aspectos históricos e culturais : É um produto extraído da planta Erythroxylon coca, ou, como é popularmente

conhecida, coca ou epadu. Sendo uma planta tipicamente sul americana, é nativa dos Andes, onde mascar sua folhas,

"coquear", é um habito tradicional que remonta vários séculos. Sua principal função é evitar a sede, a fome e o frio. Podemos

encontrar, em algumas sociedades andinas, um valor cultural e mitológico ligado à coca. Em certas sociedades, por exemplo, é

aplicada a folha no recém-nascido para secagem do cordão umbilical - que depois é enterrado com as fo lhas, representando um

talis mã para o resto da vida do indivíduo. Em certas cerimônias funerais é usada, também, mediante certos rituais, como forma

de apaziguar e tranqüilizar os espíritos. O papel sócio-cultural da coca é importante em alguns países andinos. Dois exemplos

são o Peru e a Bolív ia, onde é consumida também sob a forma de chá, com propriedades medicinais que auxiliam

principalmente problemas digestivos. Sua importância é tal que neste primeiro país existe até um órgão do governo

encarregado de controlar a qualidade das folhas vendidas no comércio, o "Instituto Peruano da Coca". Se em alguns países

andinos a coca é um bem sócio-cultural, histórica e tradicionalmente importante, em outros países, como no Brasil, é vista

como um "mal, algo a ser combatido e exterminado de qualquer maneira". A lei destes países procura taxar o seu uso como

ilícito e a sociedade, em sua maioria, procura estigmat izar seus usuários como "desviantes" ou " marg inais". O uso mais comum

nestes casos é sob a forma de sal - o cloridrato de cocaína. É consumida via nasal, ou seja, aspirada, "cheirada". Por ser uma

droga cara, seu uso é dificultado a pessoas de baixa renda. Se o "pó", como é popularmente conhecido o sal cloridrato de

cocaína, é muito caro, favorecendo o seu uso pelas camadas mais altas da sociedade, o uso da coca tornou -se mais acessível à

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população de baixa renda com o advento do "crack". Esta é uma forma de uso que surgiu nos Estados Unidos, e qu e começou a

se difundir no Brasil, principalmente na periferia das grandes cidades. No crack, a substância usada é a pasta básica de coca

("freebasing", em inglês). A cocaína pode também ser injetada na corrente sangüínea. O "pico" como é conhecida esta fo rma

de uso produz um efeito chamado de "rush" ou "baque".

Efeitos físicos e psíquicos

A cocaína provoca sensação de euforia e bem-estar, idéia de grandiosidade, irritabilidade e aumento da atenção a

estímulos externos.

Com o aumento da dose: reações de pânico, sensação de estar sendo perseguido, às vezes alucinações auditivas e

táteis (escutar vozes, sentir sensação de bichos andando pelo corpo). O quadro completo é chamado de "psicose cocaínica".

Intoxicação aguda: em intoxicação com doses mais altas, quadro de síndrome cerebral orgânica (SCO), caracterizado

por confusão e desorientação, podendo resultar em lesão cerebral.

Efeitos físicos: aumento da pressão arterial e da freqüência cardíaca podendo provocar infarto e arritmias que causam

morte súbita. Menciona-se ocorrências de convulsões generalizadas e aumento da temperatura capaz de induzir convulsões.

Com a aplicação endovenosa corre-se o risco de contrair-se os vírus do hepatite e da AIDS.

Nomes populares: pó, neve, brisola, bright, branquinha, pico, crack, coca etc.

PERTURBADORES DO SNC

Os Perturbadores da Atividade do Sistema Nervoso Central referem-se ao grupo de substâncias que modificam

qualitativamente a atividade do cérebro. Ou seja, perturbam, distorcem o seu funcionamento, fazendo com que a pessoa passe a

perceber as coisas deformadas, parecidas com as imagens dos sonhos.

Este grupo de substâncias é tambem chamado de alucinógenos, psicodélicos, psicoticomiméticos , psicodislépticos,

psicometamórficos, alucinantes.

As substâncias que compõem o grupo de Perturbadores do SNC são:

I. Anticolinérgicos (Datura)

Anticolinérgicos: diz-se das substâncias antagonistas da ação de fibras nervosas parassimpáticas que liberam

acetilcolina. Ou seja, que in ibem a p rodução da acetilcolina.

Aspectos históricos e culturais : Em 1866, um médico na Bahia descreveu um quadro apresentado por dois escravos:

"Fui chamado a v isitar estes doentes no dia seguinte, às 8 horas da manhã. Já podiam caminhar, mas estavam t rôpegos e

hallucinados, vendo objectos himaginários, phantasmas, ratos a passear pela câmara, etc., de que procuravam fugir d irigindo -se

para a porta. Ambos tinham as pupilas dilatadas (...), a boca e fauces nada ofereciam de notável (...). Na panela que s ervira para

fazer o cozimento, estavam dous ramos com muitas folhas e algumas flo res rudimentares, de uma p lanta que reconheci ser a

trombeteira (Datura arbórea, Lin)". Além dos medicamentos, as drogas anticolinérgicas podem ser de origem vegetal. Neste

caso, a planta Datura arbórea sintetiza substâncias (atropina e/ou escopolamina) que produzem efeitos anticolinérgicos.

Efeitos físicos e psíquicos

Esta droga é capaz de produzir muitos efeitos periféricos. Assim, as pupilas ficam dilatadas, a boca seca e o coração

pode disparar. Provoca retenção de urina e paralisia das funções intestinais.

Produz delírios e alucinações, que dependem da personalidade e sensibilidade de quem ingeriu a substância. Esta

droga não desenvolve tolerância no organismo e não há descrição de síndrome de abstinência.

Em doses elevadas podem produzir grande elevação da temperatura (apresentação da pele muito seca e quente com

vermelhidão principalmente no rosto e pescoço) que pode provocar convulsões. O número de batimentos cardíacos sobe

exageradamente, podendo chegar até acima de 150 batimentos por minuto.

Nomes populares: lírio, zabumba, trombeta, trombeteira, cartucho, véu de noiva, saia branca (substancia ativa -

atropina, escopolamina)

Uso terapêutico: usos estabelecidos para anticolinérgicos.

II. Maconha

Aspectos históricos e culturais: Maconha é o nome dado a uma planta chamada cientificamente de Cannabis sativa,

conhecida há séculos e que cresce naturalmente em várias partes do globo podendo ser facilmente cultivada e encontrada em

todos os continentes. Seu plantio foi incentivado durante muitos séculos devido à utilização de seus talos para a fabricação de

cordas, fibras têxteis, palitos e até papel. Todavia, é das folhas, bem como de seus topos floridos, que se ext rai a substância

ativa THC Delta-9-Tetrahidrocanabinol. Os produtos da Cannabis sativa podem ser consumidos por via pulmonar (fumada)

ou por via oral (comidos), como ocorre nas populações indígenas. Originária da Ásia Central, seus primeiros registros

históricos são de mais de 200 anos a.C. na China, no Egito e na Índia. No segundo milên io a.C. era empregada com fins

terapêuticos na China e descrita pelo imperador Shen Nung como analgésico. Seu emprego medicinal corresponde a uma longa

tradição entre povos africanos e asiáticos, mas também já era utilizada como desinibidora: os gregos a usavam para liberar do

corpo gases intestinais e para dor de ouvido; e os indianos, há 1000 anos a.C. a utilizavam para "libertar a mente de coisas

mundanas". Seu consumo é tradição secular em alguns países, principalmente naqueles onde o consumo de álcool é proibido.

Parece ter sido introduzida nas Américas pelos espanhóis, que fizeram as primeiras plantações no Chile, no século XVI. O

hábito de fumar ou ingerir folhas e sementes da Cannabis é antigo, vinculado a práticas religiosas de muitos povos. Na

segunda metade do século XIX, escritores e intelectuais franceses fornecem as primeiras descrições do uso recreativo desta

preparação no Ocidente. Há séculos ele fazia parte do arsenal de medicina popular em vários países e, ao final do século XIX,

fez parte de vários medicamentos produzidos por respeitáveis laboratórios farmacêu ticos dos Estados Unidos. Era indicada

como analgésico, antiespasmódico e dilatador dos brônquios. O interesse médico pela Cannabis diminui no início do século

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XX em detrimento da morfina e dos barbitúricos, que ofereciam melhores resultados. Hoje em dia, seu emprego terapêutico é

quase nenhum, mas atualmente, em função de pesquisas recentes, é reconhecida como medicamento em pelo menos duas

condições clínicas: reduz ou abole as náuseas e vômitos produzidos por medicamentos anticâncer, e tem efeito benéfico em

alguns casos de epilepsia. Em algumas partes da Ásia, os médicos ainda a utilizam no tratamento de algumas afecções.

Considerada como "droga da moda" nos anos 60, no auge da contestação hippie (junto com o LSD-25), a maconha continua a

ser muito fumada até hoje, em particular nas faixas jovens, mas perdeu o seu destaque em favor dos inalantes, nas classes

desfavorecidas, e da cocaína, nas classes média e alta. Na Jamaica seu uso é popular. Conhecida como "ganja", é facilmente

cultivada e produzida, embora o seu consumo seja considerado ilegal. Certas seitas atribuem-lhe poderes místicos e divinos,

especialmente o de afastar os maus espíritos. O operário jamaicano encontra na ganja energia para trabalhar e relaxamento

após o trabalho; oferece a droga, mesmo aos filhos, para que fiquem "mais inteligentes". Nessa população, fumar a ganja é um

rito e não um fator de alienação ou desintegração social: seu uso constitui um complexo de crenças, atitudes e costumes

compartilhados por toda a comunidade.

O haxixe é uma mistura mais ativa, extraída da própria maconha. Enquanto a maconha contém 1% de THC, o haxixe

contem até 14%. Pouco comum entre nós, é habitualmente reduzido a pó e misturado ao tabaco normal para ser fumado em

cachimbo. É, em sua maior parte, produzido no norte da África, Paquistão, Nepal, Líbano e Turquia, sendo contrabandeado

para os Estados Unidos e Europa, onde seu preço é elevado.A faixa da população que usa o haxixe é a mesma que usa a

maconha, mas observa-se que a maconha é mais comum entre aqueles que estão iniciando-se no hábito ou que o fazem

esporadicamente. O haxixe é mais encontrado entre aqueles já iniciados e fumantes contumazes, que necessitam doses mais

potentes da droga. É moldado em pequenas barras ou bolos de cor marrom escura e seu óleo é bem mais potente. Diz-se que a

palavra assassino parece originar-se do árabe "hashishin", designação dada a uma tribo do norte da Pérsia, na Idade Média, por

volta do século XI, povoada por homens guerreiros altamente perigosos e temidos por sua g rande crueldade. Sabia-se que seus

homens eram "motivados" pelo consumo de certa substância despersonalizante, que os impelia ao barbarismo e delitos sádicos

dos mais horrendos crimes. Do ponto de vista médico não há unanimidade, mas a maioria dos trabalho s leva a concluir que a

maconha é uma droga que não causa dependência física e cujos malefícios não seriam maiores do que aqueles provocados pelo

álcool e pelo tabaco.

Efeitos físicos e psíquicos

Podem ser físicos (ação sobre o próprio corpo ou parte dele) e psíquicos (ação sobre a mente). Esses efeitos sofrerão

mudanças de acordo com o tempo de uso que se considera. Ou seja, os efeitos são agudos (isto é, quando ocorrem apenas

algumas horas após fumar) e crônicos (conseqüências que aparecem após o uso cont inuado por semanas, meses ou mesmo

anos).

Os efeitos físicos agudos são muito poucos: os olhos ficam meio avermelhados, a boca fica seca e o coração dispara

(de 60-80 batimentos por minuto pode chegar a 120-140 ou até mais).

Os efeitos psíquicos agudos dependerão da qualidade da maconha fumada e da sensibilidade de quem fuma. Para uma

parte das pessoas, os efeitos são uma sensação de bem-estar acompanhada de calma e relaxamento, de diminuição da fadiga e

vontade de rir. Para outras pessoas, os efeitos são mais desagradáveis: sentem angústia, ficam aturdidas, temerosas de perder o

controle da cabeça, trêmulas e suando. É o que, comumente, chamam de " má viagem". Há ainda evidente perturbação na

capacidade da pessoa calcular tempo e espaço, e um preju ízo da me mória e atenção.

Aumentando-se a dose e/ou dependendo da sensibilidade, os efeitos psíquicos agudos podem chegar até a alterações

mais evidentes, com predominância de delírios e alucinações. O delírio é uma manifestação mental pela qual a pessoa faz um

juízo errado do que vê ou ouve. Neste caso, há mania de perseguição (delírios persecutórios). A mania de perseguição pode

levar ao pânico e, consequentemente, a atitudes perigosas ("fugir pela janela", agred ir as pessoas em "defesa" antecipada contra

agressão que julga estar sendo tramada). Já a alucinação, que é uma percepção sem objeto, pode ter fundo agradável ou

terrificante. Os efeitos físicos crônicos da maconha são maiores. Com o continuar do uso, vários órgãos do corpo são afetados .

Os pulmões são um exemplo disso, levando a problemas respiratórios (bronquites), como ocorre também com o cigarro

comum. Porém, a maconha contém alto teor de alcatrão (maior que no cigarro comum) e nele existe uma substância chamada

benzopireno, conhecido agente cancerígeno. Ainda não está provado cientificamente que a pessoa que fuma maconha

cronicamente está sujeita a contrair câncer dos pulmões com maior facilidade. Mas, os indícios de que assim possa ser são cada

vez mais fortes. Outro efeito físico indesejável do uso crônico da maconha refere-se à testosterona, ou hormônio masculino. Já

existem muitas provas de que a maconha diminui em até 50-60% a quantidade de testosterona. Em conseqüência, o homem

apresenta um número bem reduzido de espermatozó ides no líquido espermático, o que pode levar a uma infert ilidade.

Há ainda os efeitos psíquicos crônicos da maconha. Sabe-se que o uso continuado da maconha interfere na capacidade

de aprendizagem e memorização e pode induzir um estado de amotivação. Além disso, a maconha pode levar algumas pessoas

a um estado de dependência, isto é, elas passam a o rganizar sua vida de maneira a facilitar o uso da maconha, sendo que tudo o

mais perde o seu valor.

Nomes mais conhecidos: maconha, haxixe, cânhamo, bangh, ganja, diamba, marijuana, marihuana.

Nomes populares: baseado, erva, tora, beise, fumo, bagulho, fin inho.

III. Ayahuasca

Aspectos históricos e culturais : O Daime é um chá extraído de duas plantas alucinógenas: do "cipó da vida"

(Banisteriopsis Caapi) e de uma folha (Psychotria Viridis). Há referências, também, da utilização da p lanta Chacrona. Essas

plantas, das quais se produz o chá, são utilizadas no ritual do Santo Daime ou do Culto da União do Vegetal e várias outras

seitas. O cipó dá "força" e a folha, "luz". Estes rituais são bastantes difundidos no Brasil e cultuam as forças e os deuses das

florestas. São praticados nas regiões Norte, (Amazônia e Acre), como também na região Centro Oeste, nos Estados de São

Paulo e Rio de Janeiro. O ritual tem origem na sociedade das populações indígenas e mestiças da Amazônia Ocidental. Seu uso

veio dos índios da América do Sul. O Daime é utilizado para rituais mágicos e religiosos, para receber orientação divina, para

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comunicar-se com os espíritos que animam as florestas e, também, para determinar a causa de moléstias e cura, bem como

produzir interação social através do ritual. As alucinações provocadas pelo chá são chamadas de "mirações".

Uma das substâncias sintetizadas por essas plantas é a DMT - Dimetil-t riptamina, responsável pelo seus efeitos.

Efeitos físicos e psíquicos

Provoca dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos.

Perda da discriminação espaço-temporal, ilusões, alucinações e delírios.

Não há desenvolvimento de tolerância; comumente, não induz à dependência e não ocorre síndrome de abstinência.

Nomes populares: Natema, Yajé, Nepe, Caapi. É mais genericamente conhecida pelos índios Quechuas como

"Ayahuasca" (ou huasca, ou hoasca), que significa "cipó dos espíritos" e "vinho da vida".

Uso terapêutico: foi demonstrado cientificamente que os efeitos desse chá têm eficácia no combate a vermes e

protozoários.

IV. Cogumelo Psylocybe

Aspectos históricos e culturais : Seu uso ritual é bastante antigo no México, onde ficou famoso, sendo utilizado pelos

nativos daquela região desde antes de Cristo. Sabe-se que o "cogumelo sagrado" atualmente ainda é utilizado por bruxos, em

seus rituais, e por alguns pajés. É chamado pelos índios astecas do México de "carne dos deuses", sendo considerado sagrado

por certas tribos. Tem o nome científico de "Psylocybe mexicana" e dele pode-se extrair uma substância com forte poder

alucinógeno: a psilocibina.

No Brasil, temos pelo menos duas outras espécies de cogumelos alucinógenos: o " Psylocibe cubensis" e a espécie do

gênero "Paneoulus".

Efeitos físicos e psíquicos

Os sintomas físicos são poucos salientes. Podem aparecer dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e

vômitos. Não há desenvolvimento de tolerância. Também não induzem dependência e não ocorre síndrome de abstinência.

Produzem alucinações e delírios. Estes efeitos são maleáveis e dependem de várias condições, como personalidade e

sensibilidade do indivíduo. As alucinações podem ser agradáveis. Em outras ocasiões, os fenômenos mentais podem ser

desagradáveis (visões terrificantes, sensações de deformação do próprio corpo). Pode também provocar hilaridade e euforia.

Um dos problemas preocupantes deste alucinógeno, bem como da Datura, Daime, Peyote e o LSD -25, é a

possibilidade, felizmente rara, da pessoa ser tomada de um delírio persecutório, delírio de grandeza ou acesso de pânico e, em

virtude disto, tomar at itudes prejudiciais a si e aos outros.

Nomes populares: chá, cogú.

Uso terapêutico: não reconhecido

V. Cacto (Peyote)

Aspectos históricos e culturais : Utilizado desde remotos tempos na América Central, em rituais religiosos indígenas, é

originário desta mesma região. Este cacto mexicano (Lopophora williansi), que não existe no Brasil, produz a substância

alucinógena mescalina. Peyote é seu nome popular, de origem asteca, que significa "planta divina". Carlos Castanheda, em seu

liv ro "A Erva do Diabo", fala de uma experiência com o mescalito: "Abriu a tampa e entregou -me o vidro: dentro havia sete

artigos de aparência estranha. Eram de tamanhos e consistência variados. Ao tato, pareciam a polpa de nozes ou superfície de

cortiça. Sua cor acastanhada os fazia parecer cascas de nozes duras e secas." Era - e ainda é - empregado e venerado como

amuleto, panacéia (remédio para todos os males) ou alucinógeno, nas regiões montanhosas do México, bem antes da chegada

dos conquistadores espanhóis. Por certos índios, era ut ilizado como remédio ou para v isões que permitissem profecias.

Ingerido em grupo pode servir como indutor de estados de transe durante certas ativid ades rituais. Os astecas o mascavam

durante festividades comunitário-religiosas.

O mescalito é considerado como protetor espiritual, pois acredita -se que ele aconselha e responde a todas as perguntas

que você fizer.

Efeitos físicos e psíquicos

Dilatação das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos.

Alucinações e delírios. Essas reações psíquicas são variáveis; às vezes são agradáveis (boa viagem) ou não (má

viagem), onde podem ocorrer v isões terrificantes, como sensações de deformação do p róprio corpo.

Não há desenvolvimento de tolerância, não induz à dependência e não ocorre síndrome de abstinência com o

cessar do uso.

Nomes populares: peyote, peyotl, peiote, mescal, mescalito.

Uso terapêutico: não reconhecido.

VI. LSD-25

Aspectos históricos e culturais: O LSD-25 (abreviação de Dietilamida do Ácido Lisérgico), é uma substância sintética

fabricada em laboratório. Fo i inventado em 1943 por um cientista suíço, Albert Hoffman, que estudava alcalóides (substâncias

encontradas nos vegetais) ext raídos de fungos que atacam o centeio e cereais. Este cientista trabalhava com os alcaló ides da

ergotina, sobretudo a Dietilamida do Ácido Lisérgico, substância que ele próprio, cinco anos antes (1938), havia composto a

partir da associação experimental da Diet ilamida do Ácido Lisérgico-25 e cuja fó rmula final resultou no tratamento de destro-

dietilamida do ácido lisérgico-25 (este nome indica que, além da combinação química básica, a droga desvia a luz polarizada

para a direita - destro -, é solúvel na água e foi a vigésima quinta de uma série de anotações experimentais). Esta substância foi

ingerida acidentalmente pelo cientista, ao aspirar pequeníssima quantidade de pó, num descuido de laboratório, provocando

estranhos efeitos como distorções visuais, perceptuais e alucinações. Eis o que ele descreveu: "Os objetos e o aspecto dos meus

colegas de laboratório pareciam sofrer mudanças ópticas. Não conseguindo me concentrar em meu trabalho, num estado de

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sonambulismo, fui para casa, onde uma vontade irresistível de me deitar apoderou-se de mim. Fechei as cortinas do quarto e

imediatamente caí em um estado mental peculiar semelhante à embriaguez, mas caracterizado por uma imaginação exagerada.

Com os olhos fechados, figuras fantásticas de extraordinária p lasticidade e coloração surgiram diante de meus olhos." Em

1960, apareceram os primeiros relatos do uso do LSD-25 entre jovens e adultos, influenciados pelo movimento hippie. Em

1968, o LSD-25 fo i pro ibido, mas continuou sendo produzido em laboratórios clandestinos. Normalmente, o LSD-25 é

encontrado em minúsculos pedaços de papel, "selos" embebidos da substância. Esporadicamente sabe -se do uso de LSD-25 no

Brasil, p rincipalmente por pessoas das classes mais favorecidas. O Ministério da Saúde do Brasil não reconh ece nenhum uso

terapêutico do LSD-25 (e de outros alucinógenos) e proíbe totalmente a produção, comércio e uso do mesmo no território

nacional.

Efeitos físicos e psíquicos

O LSD-25 produz uma série de distorções no funcionamento do cérebro, alterando as funções psíquicas. Tais

alterações dependem muito da sensibilidade da pessoa, do seu estado de espírito no momento em que tomou a droga e do

ambiente em que se deu a experiência. As alucinações, tanto visuais quanto auditivas, podem trazer satisfação (boa viagem) ou

deixar a pessoa extremamente amedrontada (má viagem, "bode"). Outro aspecto refere -se aos delírios. Estes são chamados

juízos falsos da realidade, isto é, há uma realidade, um fato qualquer, mas a pessoa delirante não é capaz de avaliá -lo

corretamente, podendo desencadear também estados psicóticos como pânico e sentimentos paranóicos.

O LSD-25 produz poucos efeitos no resto do corpo. A pulsação pode ficar mais acelerada, as pupilas podem ficar

dilatadas, além de ocorrer sudoração e certa excitação. São raros os casos de convulsão. Mesmo as doses muito fortes não

chegam a intoxicar seriamente a pessoa do ponto de vista físico. Não leva comumente a estado de dependência e não há

descrição de síndrome de abstinência. A tolerância desenvolve-se muito rapidamente, mas também há desaparecimento rápido

da mes ma com o parar do uso.

O perigo do LSD-25 está no fato de que, pela perturbação psíquica, há perda da habilidade de perceber e avaliar

situações comuns de perigo. Há descrições de casos de comportamento violento e de pessoas que, após tomarem o LSD-25,

passaram a apresentar por longos períodos depressão ou mesmo acessos psicóticos.

O "flashback" é uma variante dos efeitos em longo prazo - semanas ou até meses após a sua utilização, a pessoa passa

repentinamente a ter todos os sintomas psíquicos daquela experiência anterior, sem ter tomado de novo a droga.

Nomes populares: ácido

Fontes:

Tecido Nervoso – Faculdade de Biologia, USP de São Carlos.

Psicotrópicos – Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo - IMESC