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ESTADO, CULTURA E IDENTIDADE NACIONAL NO TEMPO DE VARGAS
João Henrique Zanelatto1
RESUMO
O texto a seguir pretende fazer uma pequena resenha historiográfica de algumas interpretações culturaissobre o período Vargas (1930 – 1945). Esses trabalhos procuram demonstrar como o Estado lançou mão devárias estratégias para disciplinar a sociedade e construir uma identidade nacional.
PALAVRAS-CHAVE: Cultura. Identidade Nacional. Era Vargas.
ABSTRACT
This work aims to make a historiographic reriew with some cultural interpretations about the Vargas period (1930 – 1945). These work try demonstrate how the state resorts many strategies for disciplinate thesociety and build a national identity.
KEYWORDS: Culture. National Identity. Vargas Age.
INTRODUÇÃO
A partir de outubro de 1930, teve início um período, 1930 – 1945, conhecido na
historiografia como a Era Vargas, isso porque Getúlio Vargas foi a figura predominante
no cenário político nacional. Esse período foi marcado por muitas tensões: inicialmente
a revolução de 1930, que elevou Vargas ao poder do estado; crise da democracia liberal;
ascensão dos fascismos; processo de centralização política; controle da organização
operária; construção da identidade nacional; o movimento de 1932 em São Paulo; a
Constituição da Ação Integralista Brasileira e da Aliança Nacional Libertadora; a
promulgação da Constituição de 1934; a Intentona Comunista em 1935; o fechamento
político; golpe de Getúlio em 1937 e a Segunda Guerra Mundial. Esses foram alguns
acontecimentos que marcaram o período e analisados por várias correntes
historiográficas.2
1 Doutor em História, professor do Curso de História da Universidade do Extremo Sul Catarinense.
2 Sobre a historiografia da Era Vargas destaca-se: GERTZ, René E. Estado Novo: Um InventárioHistoriográfico. In: SILVA, José Luiz Werneck da. (Org.). O Feixe e o Prisma: Uma revisão do Estado
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Posto isso, o artigo propõe fazer uma resenha historiográfica das interpretações
culturais do período Vargas. Nessas interpretações, foram enfatizadas as várias
estratégias criadas pelo estado para disciplinar a sociedade e construir uma identidade
nacional. Dentre as interpretações culturais que pretendemos abordar, destacamos: o
samba e o canto orfeônico, a capoeira, o futebol, os índios, bem como as tentativas do
Estado Novo de integração de índios e negros. Esses textos apontaram também para as
resistências, as vozes destoantes, contrariando o discurso da unanimidade nacional.
ÍNDIOS E NEGROS: A INVENÇÃO DA NAÇÃO
O primeiro trabalho analisado é o de Selth Garfield3
que procura demonstrar como funcionários e intelectuais, durante o Estado Novo, procuraram construir o índio
como integrante da formação histórica e cultural do Brasil, na perspectiva da unificação
nacional e defesa do território do País. Aborda também os esforços dos índios para
incorporar tais imagens.
Vargas foi o primeiro presidente a visitar uma área indígena, em agosto de 1940.
Visitou a aldeia dos carajás, no Brasil central. Os carajás estavam sob tutela do SPI
(Serviço de Proteção ao Índio) e receberam Vargas com grande festa, rituaistradicionais, canto do Hino Nacional. Vargas distribuiu facas, machados e como “pai
dos pobres” pegou um bebê nos braços.
Ao proclamar o Estado Novo, Vargas apresentou o projeto de desenvolvimento e
integração nacional (independente economicamente, integrado politicamente e unificado
socialmente), no qual os índios traziam as raízes da brasilidade. Em 1938, foi lançada a
marcha para o oeste, sendo popularizada com a integração do índio ao cenário nacional.
Para Vargas, a marcha incorporou o “verdadeiro sentido de brasilidade”, visto que o
Brasil com seu vasto território somente desenvolveu o litoral.
Novo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990, p. 111-131. CAPELATO, Maria Helena Rolim. Estado Novo: Novas Histórias. In: FREITAS, Marcos César Freitas. (Org). Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998. p. 183-211. LENHARO, Alcir. Sacralização da Política. Campinas. 2° ed.São Paulo: Papiros, 1996. BATALHA, Cláudio H. M. A historiografia da Classe Operária no Brasil:Trajetórias e Tendências. In: FREITAS, Marcos César Freitas. (Org). Historiografia Brasileira em
Perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998. p. 145- 158.
3 GARFIELD, Selth. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-nação na eraVargas. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 20, nº. 39, p. 13-36.
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O Estado Novo criou e transmitiu intencionalmente uma visão romântica do
índio. Já em 1934, Vargas havia estabelecido o dia 19 de abril como Dia do Índio, e, nos
anos posteriores, foram promovidos inúmeros eventos culturais com exibição de vídeos,
discursos, programas de rádios sobre os índios. O Estado vai financiar intelectuais e
interessados em pesquisar os índios.
Garfield demonstrou também em seu texto que alguns grupos indígenas
engajaram-se no projeto governamental (carajás e xerentes); outros, porém, rejeitaram
totalmente (xavantes).
Em relação aos negros, Olívia Cunha4, partindo de duas categorias de análise:
monumento e documento, procurou discutir a construção da memória pública do projeto
de integração do negro durante o Estado Novo. No que tange à questão monumental,
Cunha trabalha com agenda oficial, organizada pelo governo para as celebrações do
cinquentenário da abolição. As comemorações tiveram por base as contribuições
folclóricas, raciais e musicais do negro para o País. Essas comemorações visaram à
integração do negro como raça constitutiva da nacionalidade brasileira em todos as suas
instâncias, principalmente a cultural.
Para trabalhar com a categoria documento, a autora elege o negro enquanto
indivíduo sujeito a intervenções científicas, jurídicas e a processos de regulação moral.
Do ponto de vista da documentalidade, os negros continuaram a ser vistos como
problema social. Frente a isso, na década de 1930, são fortalecidas as políticas públicas
na área de segurança. Cunha ressalta que o pensamento da época defende que os negros
são marcados por uma herança racial, por isso os indivíduos necessitavam ser
controlados e melhorados, por uma política de higiene social.
O artigo de Cunha afirma que a discussão da análise racial ocorre paralelamente
à formação do conceito de nação. Por isso o paradigma de homem brasileiro não resulta
do reconhecimento da diversidade étnica e cultural e da intensa miscigenação, mas deuma nação imaginada, que só seria realizada com projeto político, cujas aparências
criam realidade.
4 CUNHA, Olívia Maria Gomes. Sua alma em sua palma: identificando a “raça” e inventando a nação. p.
257-288. In: PANDOLFI, Dulce (org). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
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AS REPRESENTAÇÕES DO NACIONAL POR MEIO DA MÚSICA
Arnaldo Contier 5, em seu livro, aborda a implantação dos cursos de música e a
formação cívica dos estudantes desde o início do século XX até o Estado Novo. Procura
analisar as relações da atividade musical com o poder, principalmente no primeiro
governo de Vargas. Enfatiza a identificação entre o projeto de Vargas e o campo
musical, e isso fica evidenciado em relação a alguns compositores, entre eles, Villa-
Lobos. Destaca o surgimento do canto orfeônico nas escolas, culminando com os
espetáculos cívicos artísticos. Analisa também a influência da música na propagação do
Varguismo e na classe trabalhadora por meio do lazer operário.
Contier observa, no momento da revolução de 1930, a grande exaltação ao
estado, ao trabalho, à Nação pela música. O canto orfeônico tornou-se nesse período um
fator importantíssimo de difusão do sentimento de patriotismo e do desenvolvimento da
consciência nacional entre a massa popular e entre as novas gerações. A difusão
centrada em Vargas e Villa-Lobos torna eficaz a “socialização” do conceito de
brasilidade na música e na política, tornando-se, assim, um verdadeiro instrumento de
propaganda na década de 1930, repercutindo em todas as camadas sociais.
Manifestações foram feitas com caráter cívico-artístico reunindo um número maior de
pessoas buscando sempre a manutenção do Varguismo, fortalecendo o senso de
disciplina para operários e estudantes, pois entendiam que o estímulo ao trabalho
contribuía para uma nação forte.
Por outro lado, o artigo de Tânia Garcia6 analisa a canção popular enquanto
representação do nacional e a constituição da imagem de Carmem Miranda como
símbolo dessa brasilidade. A divulgação em rádios, discos, cinemas e na revista O
Cruzeiro fez o samba carioca transformar-se em samba nacional. Tanto o samba como
as marchinhas gravadas por Carmem Miranda conquistaram a “nação”. A música popular dos anos de 1930 constituiu-se numa das representações do País, passando a
integrar a identidade nacional.
A representação do imaginário social e político dos anos de 1930 constituiu-se, a
partir das interpretações de Carmem Miranda, com seus sons e sentidos, na canção
popular urbana. Do repertório da cantora, destacavam-se temas como o morro em
5 CONTIER, Arnaldo D. Passarinhada do Brasil : canto orfeônico, educação e getulismo. Bauru:
EDUSC, 1998.6 GARCIA, Tânia Costa. A canção popular e as representações do nacional no Brasil dos anos 30: Atrajetória artística de Carmem Miranda. In: Revista Questões e Debates, Curitiba, n. 31, 1999, p. 67-94.
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oposição à cidade, amores desfeitos, mulheres que sustentavam seus homens, namoricos
no escuro, o rádio, a baiana ou a Bahia, o ufanismo, a festa junina, o carnaval e a
malandragem.
Tânia Garcia afirma que “os sambas interpretados por Carmem Miranda
parodiavam também o comportamento aculturado da sociedade urbana.
Complementando a crítica à ordem instituída, a canção popular, enquanto representação
do nacional, não deixou de expressar as adesões e resistências a essa identidade”.7
Constata também que a música dos anos de 1930, ao mesmo tempo em que trazia a
influência estrangeira na sua sonoridade, se opunha aos costumes importados e
incorporados pela sociedade.
Concluindo seu artigo, Tânia Garcia destaca que, durante os anos de 1930, a
canção popular urbana é eleita pela imprensa e pelo estado como representação do
nacional, e Carmem Miranda, por meio de seu repertório e sua interpretação, torna-se
símbolo de brasilidade, usada pelo poder para pasteurizar as diferenças, no entanto, em
suas canções, aparecia a indagação que colocava em dúvida a homogeneidade
idealizada.
O estudo de Adalberto Paranhos8 aponta para as vozes dissonantes do “Estado
Novo”. Segundo o autor, a ditadura do “Estado Novo” procurou silenciar as práticas e
os discursos que pudessem destoar das normas instituídas, levando muitos a acreditar
em um pretenso “coro da unanimidade nacional”. Divergindo dessa perspectiva, o autor
procurou dar visibilidade às manifestações que desafinam o “coro dos contentes”
durante o “Estado Novo”. Seu foco são as vozes destoantes do samba produzido à
época, apesar da férrea censura dos organismos oficiais, particularmente o DIP
(Departamento de Imprensa e Propaganda).
A ditadura estadonovista procurou instituir certo tipo de sociedade disciplinar e,
simultaneamente, criar um perfil identitário de trabalhador brasileiro, dócil à dominação
capitalista. Contudo, a ideologia do trabalhismo esteve longe de alcançar a
unanimidade. Paranhos, ao avaliar a produção fonográfica do período, afirma que a
situação muda de figura. Mesmo com a censura do DIP, observa-se a “luta de
representações” em torno do trabalho e do trabalhador.
7 GARCIA, Tânia Costa. Idem. p. 85.8
PARANHOS, Adalberto. Vozes dissonantes sob um regime de ordem unida (Música e Trabalho noEstado Novo). In: Artcultura, Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, vol. 4, nº. 4, p. 89-97,2002.
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Nesse período, produziu-se um número elevado de composições e compositores
afinados com o “Estado Novo” e a valorização do trabalho. Por outro lado, constituiu-se
também um discurso alternativo, canções (samba, em sua maioria) que divergiam da
palavra estatal.
A partir de 1940, o DIP apertou o cerco contra os compositores de samba. Essa
ofensiva aliava-se às reações existentes no próprio front da música popular brasileira na
década de 1930. “Nele, se fariam ouvir vários defensores da „higienização poética do
samba‟ ou do „saneamento e regeneração temática‟ das composições populares”. 9 O DIP
e as forças conservadoras à frente do governo Vargas tentaram a qualquer custo atrair os
compositores para o terreno do oficialismo. Aparentemente, o esforço do governo foi
bem-sucedido. Contudo, Paranhos vai mostrar, ao ouvir centenas de gravações originaisde discos 78 rpm, entre 1940 e 1945, que era preciso dar ouvidos ao “lado B” da
história do “Estado Novo”.
Apesar da pressão estadonovista, o coro dos diferentes não deixa de se
manifestar, de forma explícita ou implícita conforme as circunstâncias. Paranhos atenta
para a utilização da linguagem sonora como metalinguagem. Não basta nos atermos às
letras da música, é preciso entender que elas não têm existência autônoma na criação
musical. Enfatiza, ainda, que é preciso estar atento ao discurso musical pronunciado deforma não literal. Assim, utilizando-se de músicas como O amor regenera o malandro,
Recenseamento e Vida apertada, Paranhos procurou demonstrar dribles aplicados à
censura.
CAPOEIRA E FUTEBOL: A CONSTRUÇÃO DA NACIONALIDADE
Em seu artigo, o sociólogo Luiz Renato Vieira10 procurou analisar como se
processou a transição cultural – do popular para o erudito – da capoeira, que num certo
momento, foi apropriada pelas camadas média e alta da sociedade brasileira. A análise
de Vieira pauta-se em duas modalidades dessa luta: a capoeira angolana, defendida por
mestre Pastinha, considerada a mantenedora das tradições trazidas de Angola, e a
capoeira regional, criada e difundida por mestre Bimba, tida por alguns como uma
deturpação da capoeira.
9
PARANHOS, Adalberto. Idem. p. 91.10 VIEIRA, Luiz Renato. A Capoeiragem disciplinada: Estado e Cultura Popular no Tempo de Vargas. In: História e Perspectivas. Uberlândia, n. 7, 1992, p. 111-132.
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O Estado Novo tentou “domesticar” a cultura brasileira, tentando dar -lhe
aspectos de civilidade, moralidade e disciplina. Para tal, era imprescindível cooptar
intelectuais que deveriam realizar a transição do que fosse particular e popular para
abrangente, coletivo e erudito. Mestre Bimba, a partir do contato com universitários de
Salvador, nos anos de 1930, reorganizou as técnicas e os rituais de luta para torná-la
aceitável aos extratos sociais superiores. A capoeira proposta por mestre Bimba
permitiu a transitoriedade do que era particular e popular para outras camadas da
sociedade brasileira, não havendo a substituição da luta, mas sim modificações que
permitissem sua entrada em outras esferas.
A reação vem da capoeira angolana liderada por mestre Pastinha, o qual
“transforma-se em um verdadeiro „guardião‟ das tradições... sempre referido como
contraponto de mestre Bimba considerado deturpador das tradições”.11
Contudo, para o autor, o uso da capoeira ajusta-se à concepção de disciplinar o
corpo, presente na ideologia do Estado Novo. Em vez de brincar na rua, onde não havia
regras, surge a proposta de lutar em locais fechados, com normas e procedimentos
propostos por mestre Bimba. Vieira ainda ressalta que “a capoeira regional de mestre
Bimba reflete a difusão dos princípios militaristas que vigoram na política do período
Vargas na sociedade brasileira”.12 Esses princípios pressupunham habilidade e
resistência física, cumprimento e manutenção dos deveres, obediência ao mestre (chefe
nacional) e disciplina para obter a vitória. Assim a capoeira coadunava-se com o esforço
de construção da nacionalidade, configurando-se como elemento cultural
“autenticamente brasileiro”.
O artigo de Fabio Franzini13 aborda as relações entre futebol e a sociedade
brasileira e sua identificação nacional nos anos de 1930. O futebol foi popularizado; e
seus jogadores, profissionalizados pelos meios de comunicação, principalmente o rádio.
O futebol estabeleceu-se como meio de integração social da população brasileira,dando-lhe uma identificação de cidadania relacionada diretamente ao período Vargas.
Introduzido no Brasil no final século XIX, o futebol não parou de crescer,
mesmo com seu caráter elitista. O esporte inglês difundido inicialmente em clubes e
escolas, logo propagou-se para as camadas populares, que passaram a adequar o
11 VIEIRA, Luiz Renato. Idem. p. 112.12
VIEIRA, Luiz Renato. Idem. p. 12513 FRANZINI, Fabio. Futbol, identidad y ciudadania en Brasil em los años “30”.
http//www.efdeportes.com/edf10/anos30e.htr. (capturado em 29/7/2003).
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desporto elitista a suas realidades: descalços, descamisados, em locais planos e abertos;
criou uma identidade localizada, regional e nacional a partir dos clubes futebolísticos.
O futebol popularizava-se mesmo com as resistências da elite “branca”, que
percebia as gratificações pagas em dinheiro aos bons jogadores, não importando se eram
pobres, ricos, negros, brancos mulatos ou imigrantes. As classes abastadas queriam
manter o povo longe dessa atividade desportiva, pois acreditavam que o futebol fora
criado pela e para a elite.
Na década de 1930, muitos jogadores migraram para Europa e Rio da Prata em
busca de reconhecimento profissional, outros buscaram a criação de entidades de classe
antes da incerta oficialização profissional. A partir de 1933, os dirigentes cariocas e
paulistas sancionavam a homologação do profissionalismo em suas respectivas
entidades, tanto na Liga Carioca de Futebol (LCF) como na Associação Paulista de
Desportos Atléticos (Apea). Com isso, o futebol permitia a sobrevivência imediata e,
também, a realização do sonho de ascensão social dos muitos excluídos pela lógica do
capital que se inseria no Brasil.
Como já foi observado, o rádio constituía-se em um aliado importantíssimo na
popularização do futebol. Posteriormente, o cinema converteu a temática do futebol em
ficção cinematográfica, atrelando as massas à extensão do Estado Nacional. Esse
panorama fazia com que o futebol transcendesse os limites dos estádios e se
desenvolve-se em um fenômeno social, forjando um princípio de cidadania inserido na
população brasileira, formando uma comunidade imaginada sem fronteira de raça e
condição social. Por fim, o futebol configurou-se em um instrumento aglutinador num
momento histórico que necessitava legitimar-se frente à população, pode-se dizer que se
tornou um amálgama nacionalista utilizado de forma sistemática pelos governantes para
atingir as camadas populares, favorecendo o Estado no sentido de uma identificação
nacional.Por fim, o que nos interessou com esta pequena resenha historiográfica foi
demonstrar como o Estado se apropriou de várias práticas culturais, visando disciplinar
a sociedade e construir uma identidade nacional. Buscou também demonstrar as vozes
dissonantes que não se curvaram à imposição do Estado.
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REFERÊNCIAS
BATALHA, Cláudio H. M. A historiografia da Classe Operária no Brasil: Trajetórias eTendências. In: FREITAS, Marcos César Freitas. (Org). Historiografia Brasileira em
Perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998. p. 145- 158.
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Estado Novo: Novas Histórias. In: FREITAS,Marcos César Freitas. (Org). Historiografia Brasileira em Perspectiva. São Paulo:Contexto, 1998. p. 183-211.
CONTIER, Arnaldo D. Passarinhada do Brasil : canto orfeônico, educação e getulismo.Bauru: Edusc, 1998.
CUNHA, Olívia Maria Gomes. Sua alma em sua palma: identificando a “raça” e
inventando a nação. In: PANDOLFI, Dulce (org). Repensando o Estado Novo. Rio de
Janeiro: FGV, 1999, p. 257-288.
FRANZINI, Fabio. Futbol, identidad y ciudadania en Brasil em los años “30”.
http//www.efdeportes.com/edf10/anos30e.htr. (capturado em 29/7/2003)
GARFIELD, Selth. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-nação na era Vargas. Revista Brasileira de História, São Paulo, vol. 20, nº 39, p. 13-36.
GARCIA, Tânia Costa. A canção popular e as representações do nacional no Brasil dosanos 30: A trajetória artística de Carmem Miranda. In: Revista Questões e Debates,Curitiba, n. 31, 1999, p. 67-94.
GERTZ, René E. Estado Novo: Um Inventário Historiográfico. In: SILVA, José LuizWerneck da. (Org.). O Feixe e o Prisma: Uma revisão do Estado Novo. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 1990, p. 111-131.
GOMES, Ângela de Castro. A Invenção do Trabalhismo. 3º ed. Rio de Janeiro: FGV,2005.
LENHARO, Alcir. Sacralização da Política. Campinas. 2° ed. São Paulo: Papiros,1996.
PARANHOS, Adalberto. O Roubo da Fala: Origens da ideologia do trabalhismo noBrasil. São Paulo: Boitempo, 1999.
PARANHOS, Adalberto. Vozes dissonantes sob um regime de ordem unida (Música eTrabalho no Estado Novo). In: Artcultura, Uberlândia: Universidade Federal deUberlândia, vol. 4, nº 4, 2002, p. 89-97.
VIEIRA, Luiz Renato. A Capoeiragem disciplinada: Estado e Cultura Popular noTempo de Vargas. In: História e Perspectivas. Uberlândia, n. 7, 1992, p. 111-132.