95156967 pacto de preferencia
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INTRODUÇÂO
O pacto de preferência é, segundo o art.414º do (Código Civil Português) CC, uma
«convenção pela qual alguém assume a obrigação de dar preferência a outrem na venda
de determinada coisa». Ou seja, trata-se de um contrato pelo qual alguém assume uma
obrigação de, em igualdade de condições, escolher determinada pessoa como seu
contraente, no caso de se decidir a celebrar determinado negocio, e que são admitidos a
todos os contratos onerosos em que tenha sentido a opção por certa pessoa sobre
quaisquer outros concorrentes (Cfr art. 414 e 423 ). Resulta, como característica
fundamental, se apresentar como unilateral, no sentido em que apenas uma das partes se
vincula, permanecendo o beneficiário livre de exercer ou não o direito que lhe assiste,
determina ainda o nascimento de uma obrigação condicionada, pois o contraente
obrigado a dar preferência so terá que o fazer se vier a projectar-se a realização do
contrato em causa. Do pacto de preferência resulta uma obrigação típica, onde a maioria
da doutrina, e como o refere Antunes Varela, determina a obrigação, do obrigado, caso
queira contratar, de escolher a contraparte de preferência a qualquer outra pessoa. Em
face dessa obrigação fica o titular da preferência com plena liberdade de aceitar ou não
o contrato, nos termos em que o obrigado se propõe a realizá-lo.
FORMA
Respeitante à forma do P.P, o art.º415 manda aplicar o disposto no art.º 410, nº2, e desta
remissão resulta , tendo em conta o art.º 219, a validade do PP não depende da
observância de forma especial, devendo respeitar a forma exigida por lei, neste caso
respeitante a um bem imóvel. Pode haver excesso de forma quando o documento é
assinado por ambas as partes e é celebrado por escritura pública, mas segundo o
príncipio de quod abundant non nocet , tal excesso não se revela relevante.
EFICÁCIA
O pacto de preferência apenas possui eficácia obrigacional ou relativa (inter partes), não
sendo o seu titular chamado sequer a exercer o direito nos processos de execução,
falência, insolvência, nem procedendo a preferência contra a alienação efectuada nos
processos desta natureza. Mas pode produzir efeitos em relação a terceiros, gozar de
eficácia real, quando se reporte a bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, desde que
se verifiquem os requisitos exigidos, quer de forma, quer de publicidade previstos no art
413, para o caso paralelo do contrato-promessa (421º/1). Será necessário então uma
estipulação expressa das partes nesse sentido, que o pacto de preferência seja celebrado
por escritura pública ou documento particular autenticado, ou por documento particular
com a assinatura reconhecida do obrigado, e que seja levado a inscrição no registo.
Portanto há direitos de preferências legias atribuídos dirtectamente pela lei. Trata-se
então de preferências legais, as quais gozam sempre de eficácia real. E, no caso o direito
legal de preferência prevalece sempre sobre um direito convencional de preferência,
mesmo que este tenha eficácia real, art 422.Neste caso…
A OBRIGAÇÃO DE PREFERÊNCIA
Ex: “ A faz PP com B. C quer comprar a A, e este pergunta a B se pode”
No tema da obrigação de preferência, o obrigado deve fazer uma comunicação ao titular
do direito de preferência, para este, se quiser, preferir, nas condições contratuais já
ajustadas pelo obrigado com terceiro, ainda que a celebração do contrato entre o
obrigado à preferência e este não haja ocorrido, simplesmente por estar dependente do
exercício ou não da preferência, art 416 n.º1. Decorre também que se o obrigado a
preferência fizer uma comunicação ao titular de preferência propondo-lhe, em certos
termos, celebrar o contrato objecto da preferência, mas não houver negociado e ajustado
previamente esses termos com um terceiro, tal comunicação não é comunicação para
preferência e o titular de preferência, não aceitando essa proposta, continua a manter o
seu direito de preferência. Esta comunicação não carece de forma especial, mas é
aconselhável por motivos de prova, que seja feita por escrito.
Quanto ao conteúdo da comunicação de preferência, o mesmo não pode ser geral, antes
deve conter todas as clausulas ajustadas na negociação entre o obrigado à preferência e
o terceiro, pelo menos as que sejam relevantes para o titular de preferência poder
decidir. Existe a questão se na comunicação de preferência , o obrigado deva indicar o
nome do terceiro com quem haja negociado, e existem divergências doutrinárias, e
segundo Eduardo Santos Júnior, é a que tal identificação deve ser sempre feita, por
exigência de boa fé, como também o refere Menezes Cordeiro, já porque essa
identificação é necessária para o titular da preferência poder indagar da veracidade, ou
não, do ajuste dessas condições com o terceiro.
Em função do prazo,, uma vez que o obrigado à preferência faça a comunicação para
preferência, o titular da preferência , querendo preferir, deverá exercer o seu direito, sob
pena de caducidade, no prazo de oitodias, salvo se estiver vinculado por clausula do
pacto a prazo mais curto ou se o obrigado a preferência lhe assinar um prazo mais
longo, art 416.
Se o titular de preferência, em face da comunicação para preferir, prefere, exercendo a
preferência em relação ao contrato, ocorrem 3 hipóteses, como o refere Menezes
Cordeiro :
- Ou se considera que fica logo concluído o contrato em causa, se essa conclusão se
bastar com a forma que haja sido adoptada pela comunicação para preferência e pela
comunicação de preferir, não havendo qualquer outra clausula que impeça a conclusão
imediata do contrato. ( versão normal )
- Ambos ficam vinculados a celebrar o contrato objecto da preferência, nos termos de
um contrato promessa bilateral, se a forma eventualmente exigida para a celebração do
contrato promessa foi observada, com o que aplicar-se-à o respectivo regime do
contrato-promessa, incluindo, na hipótese de incumprimento, o que nele se determina
sobre a susceptibilidade de execução especifica.
- Em função do caso anterior, se a forma exigida da promessa nao tivesse sido
respeitada, o obrigado à preferência está vinculado, nos termos do pacto de preferencia,
a celebrar o contrato objecto da preferencia, uma vez que o titular da preferencia
preferiu, e este tambem deverá celebra-lo, em conformidade com a boa fe negocial e os
decorrentes deveres acessorios. Assim qualquer um deles incorrerá em respon
sabilidade, se se recursar a celebrar o contrato em causa: o obrigado à preferencia por
violaçao do pacto, e o preferente pela violaçao daqueles deveres acessorios. ( ex:
comunicação feita por oralidade em vez de por escrito, como no 2º exemplo)
*UNIÃO DE CONTRATOS E; CONTRATOS MISTOS
Se o obrigado à preferência vier a celebrar um contrato de natureza diferente daquele
que constitui o objecto da preferência acordada, o titular desta não tem direito de
preferir, mesmo que a celebração daquele contrato torne impossível , a partir daí, a
celebração do contrato objecto de preferência. ( EX. A dá preferência a B de compra e
venda, mas doa-o a C).
No art. 417 prevê-se a hipótese de venda da coisa a que se refere o contrato objecto da
preferência juntamente com outras, havendo estipulação de um preço comum. Há assim
uma união de contratos de compra e venda.
-Se a união for externa, nao ha dependencia entre os contratos em causa, apenas
ocorrendo que foi fixada uma quantia global ou comum de preço: justifica-se que o
titular de preferencia possa preferir relativamente à venda da coisa que foi objecto do
contrato a que a preferencia se reporta, fazendo-o pelo preço que proporcionalmente
couber à coisa ou à venda em causa, art 417, 1ºparte. Esse preço proporcional será
aquele em que as partes convierem ou não havendo acordo, o que vier a ser determinado
em avaliação judicial ( EX: A faz pacto de preferencia com B sobre um carro. A vende a
C 3 carros, e comunica a B)
-Se a união for interna a separação acarretará prejuízo ao obrigado à preferência, e se
esse prejuizo for apreciável, o obrigado a preferencia pode exigir ao titular da
preferencia que, a querer preferir terá de preferir em relação a todos os contratos ou nao
poderá preferir ( art 417 2º parte) ( EX: A faz pacto de preferencia com B sobre imovel.
C quer comprar o terreno, mas so comprava se ele tambem vendesse outro, com um
preço global alto. B exercia a sua preferencia apenas por um terreno, por um preço mais
baixo. havia prejuizo para A)
2. No art 418, referente aos contratos mistos, refere-se às situaçoes em que havendo um
contrato cujos elementos correspondam a um dado tipo contratual e se acrescenta uma
prestação acessoria propria de outro tipo contratual que o titular de preferencia nao
possa satisfazer. ( EX. C além do preço, oferece um quadro especial pintado por si) .
Nesta situação, a solução é a seguinte : 1) a preferencia pode ser exercida, sendo a
prestaçao acessoria compensada em dinheiro, quando susceptivel de tal avaliação
pecuniária; 2) se a prestação acessoria nao for avaliavel em dinheiro, a preferencia é
excluida, a menos que seja licito presumir que, mesmo sem a estipulação de prestação, o
contrato nao deixaria de ser celebrado.
A VIOLAÇÃO DO PACTO DE PREFERENCIA COM EFICÁCIA REAL
Confirmada a eficácia real do pacto de preferencia, assistirá ao titular do direito de
preferencia um direito real de aquisição. Quando exista uma violação do pacto de
preferencia, a acção propria para o titular da preferencia fazer valer o seu direito é a
acção de preferencia, prevista no art.º 1410, para o qual remete o nº2 do art. 421, que
deverá ser intentada no prazo de seis meses a contar da data em que o titular da
preferencia teve conhecimento dos elementos essenciais da alienaçao a terceiro,
devendo depositar o preço nos quinze dias seguintes à propositura da acção, art. 1410
nº1. E a doutrina maioritária indica que a acção deve ser intentada apenas contra o
terceiro, através do argumento que na acção está apenas em causa saber se a coisa
continua na titularidade do terceiro ou é adquirida pelo preferente, nao resultando daí
prejuizo para o obrigado à preferencia que, em regra, terá ja recebido o preço do terceiro
adquirente da coisa.
SIMULAÇão
Se o preço declarado é superior ao preço real, entao será por este que o titular da
preferencia deve exercer o seu direito, art 240 nº2
Contudo, se o preço declarado for inferior ao real já será o titular da preferencia a nao
ter interesse em arguir a simulação; quem terá interesse em fazê-lo serão os proprios
simuladores. Mas a lei veda aos simuladores que invoquem a nulidade proveniente da
simulação contra terceiro de boa fé ( 243 nº1) entendendo-se que está de boa fé quem
ignore a simulação ao tempo em que o respectivo direito se constituiu ( art 243 nº2). Na
visão de Eduardo Santos Junior a lei é clara quando explicita o conceito de boa fé a ser
considerado para o efeito de a nulidade proveniente da simulação nao ser arguivel
contra terceiros de boa fé, pois esta consiste na ignorancia da simulação a otempo em
que foram constituidos os respectivos direitos.