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tribunal de justiça ik> «y.auw de sjoiôs PODER JUDICIÁRIO Comarca de Silvânia PROTOCOLO: 201403722387 REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS REQUERIDO: MUNICÍPIO DE SILVÁNIA-GO NATUREZA: AÇÃO CIVIL PÚBUCA - SENTENÇA - I- RELATÓRIO Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS em desfavor do MUNICÍPIO DE SILVÂNIA-GOIÁS, ambos devidamente qualificados nos autos. Aduz o Ministério Público, inicialmente, que em 02 de setembro de 2014 foi registrada na Promotoria de Justiça notícia de fato - Procedimento Administrativo (PA) - para apurar falta de vagas nas creches do município. Aponta que requisitou ao Poder Público Municipal que disponibJlizasse vagas na educação infantil (creches) para algumas crianças elencadas no relatório do Conselho Tutelar de fl. 34. Sustenta que a Secretaria Municipal de Educação reconheceu a oferta irregular de vagas na educação infantil, admitindo a existência de registro com lista de espera. Requereu a antecipação dos efeitos da tutela para que o Município disponibilizasse, imediatamente, vagas na educação infantil para as crianças indicadas no relatório do CTS e, ao final, postulou pela procedência do pedido para que o Município de Silvânia garanta p acesso à educação infantil a todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos residentes no município, promovendo, para tanto, a ampliaçãoe/ou construção de aeches e pré escolas necessárias. Foi indeferido o pedido de tutela antecipada (fls. 66/70). O requerido foi citado (fl. 79-v) e apresentou contestação, fora do prazo (fls. 94/108), arguindo preliminarmente^ ausência de interesse de agir do autor. [píeSTO/22, Pah^qe Residencial Anchieta, Silvânia, Goiás jl80-000 - Fone: (62) 3332-1226 DireK° dso

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Page 1: 94/108), arguindo preliminarmente^ ausência deinteresse ...§a... · nem desviou recursos prioritários da educaçãopara atenderoutros interesses municipais. Salienta ter tomado

tribunalde justiçaik>«y.auw de sjoiôs

PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

PROTOCOLO: 201403722387REQUERENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSREQUERIDO: MUNICÍPIO DE SILVÁNIA-GONATUREZA: AÇÃO CIVIL PÚBUCA

- SENTENÇA -

I- RELATÓRIO

Trata-se de Ação Civil Pública proposta pelo MINISTÉRIO

PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS em desfavor do MUNICÍPIO DE

SILVÂNIA-GOIÁS, ambos devidamente qualificados nos autos.

Aduz o Ministério Público, inicialmente, que em 02 de setembro

de 2014 foi registrada na Promotoria de Justiça notícia de fato - Procedimento

Administrativo (PA) - para apurar falta de vagas nas creches do município.

Aponta que requisitou ao Poder Público Municipal que

disponibJlizasse vagas na educação infantil (creches) para algumas crianças

elencadas no relatório do Conselho Tutelar de fl. 34.

Sustenta que a Secretaria Municipal de Educação reconheceu

a oferta irregular de vagas na educação infantil, admitindo a existência de

registro com lista de espera.

Requereu a antecipação dos efeitos da tutela para que o

Município disponibilizasse, imediatamente, vagas na educação infantil para as

crianças indicadas no relatório do CTS e, ao final, postulou pela procedência

do pedido para que o Município de Silvânia garanta p acesso à educação

infantil a todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos residentes no

município, promovendo, para tanto, a ampliaçãoe/ou construção de aeches e

pré escolas necessárias.

Foi indeferido o pedido de tutela antecipada (fls. 66/70). O

requerido foi citado (fl. 79-v) e apresentou contestação, fora do prazo (fls.

94/108), arguindo preliminarmente^ ausência de interesse de agir do autor.[píeSTO/22, Pah^qe Residencial Anchieta, Silvânia, Goiásjl80-000 - Fone: (62) 3332-1226

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tribunalde justiçado estado de gotas

•Sí-V

PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

No mérito, sustenta que nunca deixou de priorizar a educação,

nem desviou recursos prioritários da educação para atender outros interesses

municipais. Salienta ter tomado as providências administrativas cabíveis para

a construção de CMEI no bairro residencial Anhanguera.

Ressalta, ainda, que a pretensão ministerial se esbarra na

teoria da "reserva do possível", não tendo a administaçao pública condições

orçamentárias de garantir o direito à educação infantil a toda a população,

além de afirmar que não pode o Poder Judiciário intervir na esfera

adminsitrativa do Poder Executivo, em vista da separação dos poderes.

Requer, ao final, a extinção do processo sem resolução do

mérito ou a total improcedêcia dos pedidos.

Em sede de impugnação à contestação, o Ministério Público

postulou pelo julgamento antecipado da lide, tendo em vista o processo já se

encontrar devidamente instruído, juntado aos autos documento indicando lista

de espera por vagas em creches com 75 (setenta e cinco) crianças.

O município requerido também pugnou pelo julgamento

imediato da Jide, ante a ausência de outras provas a serem produzidas.

Em seguida, o autor da ação peticionou requerendo novamente

a antecipação dos efeitos da tutela para que o requerido disponibilize

imediatamente vagas na educação infantil para as crianças Bryan Henrique

Marques Simões e Emilily Maria Marques Simões dos Santos.

Após, vieram-me os autos conclusos para sentença.

•-..-•• É o breve relatório. Passo as razões de decidir.

II -FUNDAMENTAÇÃO

Conheço diretamente do pedido, conforme requerido pelas

partes, nos moldes do artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil,

tratando-se de questão de direito e de fato que não necessita de dilação

probatória.

Avenida Dom Bosco. quadra 13, lotes 10/22. Panjue Residencial Anchieta, Silvânia. Goiás

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tribunalde justiçado oituoo ao gotos

PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

- Da decretação da revelia

Verifico que o requerido apresentou sua contestação de forma

extemporânea.

A juntada do mandado de citação foi feita em 1o/12/2014 (fl.

78). Assim, o prazo de 60 dias para a apresentação da defesa, em atenção ao

artigo 188 do Código de Processo Civil, se iniciou em 02/12/2014.

Em decorrência do recesso forense (Resolução 24, de 08 de

outubro de 2014) os prazos processuais ficaram suspensos entre 20/12/2014

e 06/01/2015. Por isso, o prazo final para apresentação da defesa pelo

requerido seria 17/02/2015, prorrogado para 19/02/2015 em decorrência do

feriado de carnaval e quarta-feira de cinzas.

Contudo, a contestação apenas foi protocolada em 03/03/2015.

motivo pelo qual decreto de oficio a revelia do município requerido.

Todavia, por versar a causa sobre direito indisponível, bem

como por figurar no polo passivo Fazenda Pública Municipal, afasto os efeitos

da revelia ora decretada, em especial a presunção de veracidade dos fatos,

com base no artigo 320, inciso II, do Código de Processo Civil.

- Da preliminar de carência de ação pela ausência de

interesse de agir

Sustenta a defesa a falta de interesse de agir do autor, tendo

em vista já ter tomado todas as medidas cabíveis para o suprimento da falta

de vagas nas creches municipais, inexistindo decumprimento voluntário da

legislação.

Inicialmente, ressalto que conforme preconiza o Código de

Processo Civil e a doutrina majoritária, amparados pelos ensinamentos de

üebman, as condições para o exercício regular do direito de ação, a fim de

Avenida Oom Bosco, quadra 13. lotesCEP: 75,

Parqu&ftesidencial Anchieta. Silvânia, GoiásÍ62) 3332-1226

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tribunalde justiçado <»vUtdo de goiôs

PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

limitar uma mínima pertinência a busca pelo Poder Judiciário, são a

possibilidade jurídica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade das

partes.

Por seu turno, o pressuposto da ação "interesse de agir" se

desdobra no trinômio necessidade - utilidade - adequação, devendo o juiz

abstratamente averiguá-lo.

Neste contexto, ante as provas trazidas aos autos (fls.

227/237), verifico ser descabido o argumento da municipalidade, haja vista

que evidenciada a necessidade da presente ação como forma de garantir o

acesso à creche a dezenas de crianças que se encontram em lista para

espera por vagas.

Assim, afastada a preliminar suscitada, passo à análise do

mérito.

• Do mérito

Constato que a pretensão aqui aduzida deve ser

prodecedente.

Além da farta documentação acostada aos autos,

principalmente o ofício n. 122/15 da lavra dos Conselheiros Tutelares de

Silvânia-GO (fls. 227/237), verifico que realmente faltam vagas nas creches

municipais.

A Constituição Federal reconhece em seu artigo 6o o acesso à

educação como Direito Social.

O artigo 205 do mesmo diploma legal preceitua que a

educação é um direito de todos e dever do Estado e da família e será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho.

É dever do Poder Público assegurar a crianças e adolescentes,

Avenida Dom Bosco. quadra 13. lotes 10V22£f%que Residencial Anchieta. Silvânia, GoiásCEP: 75.18O-OO0£Fbne: (Q2),3332-1226

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PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,

à alimentação, À EDUCAÇÃO, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, àcultura, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária, nos

termos da regra prevista no artigo 227, caput, também Constituição Federal.

Com efeito, não sobeja dúvida quanto ao dever do requerido,

haja vista que respaldado na Constituição Federal, a qual proclama o

atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 (zero) a 5 (seis) anos

de idade (art. 208, inciso IV), competindo ao Município a atuação prioritária no

ensino fundamental e na educação infantil (art. 211, § 2°), disposição, aliás,

praticamente reproduzida no artigo 54, inciso IV, do Estatuto da Criança e do

^ Adolescente (Lei n° 8.069/90).Ainda, a Constituição Federal, ao disciplinar a organização da

educação nacional, no § 2° de seu artigo 211, prescreve a obrigação dos

Municípios atuarem prioritariamente no ensino fundamental e na educação

infantil e, em seu artigo 212, exige que os Municípios apliquem, anualmente,

25% (vinte e cinco por cento), no mínimo, da receita resultante de impostos,

compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e

desenvolvimento do ensino.

Nesse mesmo sentido, a Lei de Diretrizes e Base - LDB (Lei n°

9.394/96), nos dispositivos aplicáveis ao caso, dá também suporte aos

p pedidos do Ministério Público. Senão vejamos:

Art. 3o O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;[...J

Art 4° O dever do Estado com educação escolar pública seráefetivado mediante a garantia de:I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17(dezessete) anos de idade, organizadada seguinte forma:a) pré-escola;b) ensino fundamental;c) ensino médio;II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos deidade; [...]VIU - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação

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PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como avariedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumosindispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.X - vaga na escola pública de educação infantil ou de ensinofundamental mais próxima de sua residência a toda criança a partirdo dia em que completar 4 (quatro) anos de idade [...].

Art 5o O acesso à educação básica obrigatória é direito públicosubjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos,associação comunitária, organização sindicai, entidade de classe ououtra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar0 poder público para exigi-lo.§ 1o O poder público, na esfera de sua competência federativa,deverá:

1 - recensear anualmente as crianças e adolescentes em idadeescolar, bem como os jovens e adultos que não concluíram aeducação básica;II - fazer-ihes a chamada pública;

III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.§ 2o Em todas as esferas administrativas, o Poder Públicoassegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, nostermos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis emodalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais elegais.§ 3° Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo temlegitimidade para peticionar no PoderJudiciário, na hipótese do § 2odo art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito sumárioa ação judicial correspondente.§ 4o Comprovada a negligência da autoridade competente paragarantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela serimputada por crime de responsabilidade.§ 5o Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, oPoder Público criará formas alternativas de acesso aos diferentesníveis de ensino, independentemente da escolarização anterior. [...]

Art 11. Os Municípios lncumbir«se-ão de: [...]V - oferecer a educação infantil em creches e pró-escolas, e, comprioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outrosníveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamenteas necessidades de sua área.de competência e com recursos acimados percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal àmanutenção e desenvolvimento do ensino. [...]

Art 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica,tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança deaté 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico,intelectual e social, complementando a ação da família e dacomunidade.

Art 30. A educação infantil será oferecida em:

Avenida Dom Bosco, quadra 13. totós 10/22. Parque Residencial Anchieta. Silvânia, GoiásCEP: ZMÔWH» - Fone: (62) 3332-1226

Direito

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tribunalde justiçatío estaca de c;o>íis

PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até trêsanos de idade;II - prô-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anosde idade. [...]

Ainda, a Lei Orgânica do Município de Silvânia, prevê que:

Art. 109 - O Município prestará assistência social e psicológica aquem delas necessitar, com o objetivo de promover a integração aomercado de trabalho, reconhecendo a maternidade e a paternidadecomo relevantes funções sociais, assegurando aos pais os meiosnecessários à educação, assistência em creches e pré-escolas,saúde, alimentação e segurança de seus filhos.

Art 115-0 dever do Município com a educação seráefetivamente mediante a garantia de: [...]VI - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero aseis (06) anos de idade [...].

Diante de todo esse conjunto de normas, é evidente o dever do

Município de organizar e disponibilizar a educação infantil, garantindo vaga

em creche ou pré-escola para os munícipes.

Acrescente-se que o Supremo Tribunal Federal adota posição

firme contra a inércia do Poder Público no seu dever de prestar educação à

população:

[...] A educação infantil representa prerrogativa constitucionalIndisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, paraefeito de seu desenvolvimento Integral, e como primeira etapado processo de educação básica, o atendimento em creche e oacesso à pró-escola (CF, art 208, IV).• Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, porefeito da alta significação social de que se reveste a educaçãoinfantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivasque possibilitem, de maneira concreta, em favor das "criançasaté 5 (cinco) anos de Idade" (CF, art 208, IV), o efetivo acesso eatendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena deconfigurar-se inaceitável omissão governamental, apta afrustrar, Injustamente, por inércia, o Integral adimplemento, peloPoder Público, de prestação estatal que lhe impôs o própriotexto da Constituição Federal.- A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental detoda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, aavaliações meramente discricionárias da Administração Pública, nemse subordina a razões de puro pragmatismo governamental.- Os Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino

Avenida Dom Bosco.quadra 13. lotes 10/22. Parque Residencial Anchieta, Silvânia. GoiásCEP:75.180-000 v^Jpen52^a232-1226

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PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2o) - não poderãodemitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, quelhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental daRepública, e que representa fator de limitação da discricionariedadepolítico-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das crianças em creche (CF, art 208, IV), nãopodem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízode simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia dessedireito básico de índole social.- Embora inquestionável que resida, primariamente, nos PoderesLegislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executarpolíticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao PoderJudiciário, ainda que em bases excepcionais, determinar,especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pelaprópria Constituição, sejam estas implementadas, sempre queos órgãos estatais competentes, por descumprlrem os encargospolítico-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório,vierem a comprometer, com a sua omissão, a eficácia e aintegridade de direitos sociais e culturais impregnados deestatura constitucional [...] (informativo n. 632/2011 STF, ARE639337/SP, Relator: Min. Celso de Mello).

É certo que não se inclui, primordialmente, no âmbito das

funções institucionais do Poder Judiciário a atribuição de formular e de

implementar políticas públicas, pois este encargo reside, especialmente, nos

Poderes Legislativo e Executivo.

Impende assinalar, contudo, que tal incumbência poderá

atribuir-se, embora excepcionalmente, ao Poder Judiciário, se e quando os

órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos político-jurídicos

que sobre eles incidem em caráter mandatório, vierem a comprometer a

eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de

estatura constitucional, como sucede na espécie ora em exame.

Nessa conjuntura, uma vez constatada a permanência da falta

de vagas em número suficente nas creches municipais (cerca de 75). mesmo

após a juntada nos autos da documentação referente ao processo licitatório

para; a construção de nova creche, não há que se falar em ingerência e

intromissão do Poder Judiciário nos atos privativos do Poder Executivo, vez

que o Judiciário não pode demitir-se do gravíssimo encargo de tomar efetivos

os direitos econômicos, sociais e culturais, que se identificam - enquanto

Avenida Dom Bosco,quadra 13. lote»^t]72Í. ParouftJResidenáal Anchieta, Silvânia, GoiásCEP:1l&áfi^?fWfl^W 3332-1226

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tribunalde justiçalio estado da ijoiàs

PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

direitos de segunda geração (como o direito à educação, p. ex.) - com as

liberdades positivas, reais ou concretas, ante a inércia ou omissão do

Executivo.

A propósito, em caso análogo, também já decidiu o Superior

Tribunal de Justiça que:

ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL - ACESSO À CRECHEAOS MENORES DE ZERO A SEIS ANOS - DIREITO SUBJETIVO -RESERVA DO POSSÍVEL - TEORIZAÇÃO E CABIMENTO -IMPOSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO COMO TESE ABSTRATA DEDEFESA- ESCASSEZ DE RECURSOS COMO O RESULTADO DEUMA DECISÃO POLÍTICA - PRIORIDADE DOS DIREITOSFUNDAMENTAIS - CONTEÚDO DO MÍNIMO EXISTENCIAL -ESSENCIALIDADE DO DIREITO A EDUCAÇÃO - PRECEDENTESDO STF E STJ.1. A tese da reserva do possível assenta-se em idéiaque, desde os romanos, está incorporada na tradição ocidental, nosentido de que a obrigação impossível não pode ser exigida(Impossibilium nulla obligatio est - Celso, D. 50, 17, 185). Por talmotivo, a insuficiência de recursos orçamentários não pode serconsiderada uma mera falácia. 2. Todavia, observa-se que adimensão fática da reserva do possível é questão intrinsecamentevinculada ao problema da escassez. Esta pode ser compreendidacomo "sinônimo" de desigualdade. Bens escassos são bens que nãopodem ser usufruídos por todos e, justamente por isso, devem serdistribuídos segundo regras que pressupõe o direito igualao bem e aimpossibilidade do uso igual e simultâneo. 3. Esse estado deescassez, muitas vezes, é resultado de um processo de escolha, deuma decisão. Quando não há recursos suficientes para prover todasas necessidades, a decisão do administrador de investir emdeterminada área implica escassez de recursos para outra que nãofoi contemplada. A titulo de exemplo, o gasto com festividades oupropagandas governamentais pode ser traduzido na ausência dedinheiro para a prestação de uma educação de qualidade. 4. Épor esse motivo que, em um primeiro momento a reserva dopossível não pode ser oposta à efetivação dos DireitosFundamentais, já que, quanto a estes, não cabe aoadministrador público preterMos em suas escolhas. Nemmesmoa vontade da maioria pode tratar tais direitos como secundários. Isso,porque á democracia não se restinge na vontade da maioria. Oprincípio do majoritário é apenas um instrumento no processodemocrático, mas este não se resume àquele. Democracia é, alémda vontade da maioria, a realização dos direitos fundamentais. [...] 5.Com isso, observa-se que a realização dos DireitosFundamentais não 6 opção do governante, não ó resultado deum juízo discricionário nem pode ser encarada como tema quedepende unicamente da vontade política. Aqueles direitos queestão intimamente ligados à dignidade humana não podem serlimitados em razão da escassez quando esta é fruto dasescolhas do administrador. Não é por outra razão que se afirma

Avenida Dom Bosco. quadra 13, lqto*Tu/22. Pafcmf Residencial Anchieta. Silvânia, GoiásCEP: 75dfiMjOO -Fone: (02) 3332-1226

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tribunalde justiçano estaao 4e gcás

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que a reserva do possível não 6 oponivel à realização do mínimoexistencial. 6. O mínimo existencial não se resume ao mfnimovital, ou seja, o mínimo para se viver. O conteúdo daquilo queseja o mínimo existencial abrange também as condiçõessocioculturais, que, para além da questão da merasobrevivência, asseguram ao indivíduo um mínimo de inserçãona "vida** social. 7. Sendo assim, não fica difícil perceber quedentre os direitos considerados prioritários encontra-se o direitoà educação. O que distingue o homem dos demais seres vivos não éa sua condição de animal social, mas sim de ser um animal político.É a sua capacidade de relacionar-se com os demais e, através daação e do discurso, programar a vida em sociedade. [...} 9. Eis arazão pela qual o art 227 da CF e o art 4o da Lei n. 8.069/90dispõem que a educação deve ser tratada pelo Estado com absolutaprioridade. No mesmo sentido, o art. 54 do Estatuto da Criança e doAdolescente prescreve queé dever do Estado assegurar às criançasde zero a seis anos de idade o atendimento em creche e pré-escola.{...] 10. Porém é preciso fazer uma ressalva no sentido de quemesmo com a alocação dos recursos no atendimento do mínimoexistencial persista a carência orçamentária para atender a todas asdemandas. Nesse caso, a escassez não seria fruto da escolha deatividades não prioritárias, mas sim da real insuficiênciaorçamentária. Em situações limítrofes como essa, não há como oPoder Judiciário imiscuir-se nos planos governamentais, pois estes,dentro do que é possível, estão de acordo com a Constituição, nâohavendo omissão injustificável. 11. Todavia, a real insuficiência derecursos deve ser demonstrada pelo Poder Público, não sendoadmitido aue a tese sela utilizada como uma desculpa genérica

para a omissão estatal no campo da efetivação dos direitosfundamentais, principalmente os de cunho social. No caso dosautos, não houve essa demonstração. Recurso especial improvido.(REsp 1185474 / SC, Min. Humberto Martins, Segunda Turma,Julgado em 20.04.2010).

Assim, também resta afastada a alegação de que deve ser

aplicada a teoria da "reserva do possível", por não ter restado comprovado

nos autos a efetiva insuficênda orçamentária para a construção de novas

creches, mesmo porque o próprio requerido afirma ter instaurado

procedimento licitatórío para a construção de uma creche no bairro

Residencial Anhanguera deste município.

Ademais, ressalta-se que a municipalidade nem mesmo

comprovou o início das obras mencionadas, bem como não juntou aos autos

cronograma com a data provável de entrega da nova creche, permanendo até

o momento a ausência das vagas, sem se saber até quando.

Destarte, considerando todo o sólido sistema de proteção doAvenida Dom Bosco, quadra 13. lotes4e/Z2. Páríjue ResidencialAnchieta.Silvânia, Goiás

CEP: 7jy$&Brfflt Fccfò3rj(62) 3332'1226Üí '& ií ü-1:> > >:S Lá.lÜ^lffi^Mm. i'i U v: •<; ;U: f-:,-.;. :.

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tribunalde justiçado eseaoo do guias

PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

direito à educação, conforme acima exposto, não há qualquer condição de se

negar o pedido feito pelo Ministério Público.

Ressalta-se que o pleito de abertura de vagas foi embasado

em levantamentos oficiais, fornecidos pelo Conselho Tutelar de Silvânia-GO e

por secretaria pertencente ao próprio requerido (Secretaria Municipal de

Desenvolvimento Social, Habitação e Apoio à Mulher).

Nem mesmo o requerido, em sua contestação, refutou a

necessidade de criação de novas vagas.

Nâo se discute que o município tem se esforçado para atender

às demandas da população. Contudo, o direito guerreado pelo Ministério

- Público é premente, devendo ser atendido com prioridade absoluta.

Por todo o exposto, ficam afastadas as teses defensivas.

- Do pedido de tutela antecipada

Solicita o Ministério Público, novamente, a antecipação dos

efeitos da tutela para determinar que o requerido, com urgência, disponibilize

vagas na educação infantil para duas crianças em específico, quais sejam

Bryan Henrique Marques Simões e Emilly Maria Marques Simões dos Santos,

tendo em vista que a genitora dos menores necessita trabalhar e não possui

Ç^ pessoa apta a cuidar deles nesse período.

Pois bem.

Verifico que se trata de pedido idêntico ao formulado na inicial,

quando o órgão ministerial pleiteou a imediata disponibilização de vagas na

educação infantil para 07 (sete) crianças específicas, a despeito da lista de

espera existente.

Neste contexto, outra vez, entendo não ser possível o

deferimento do pleito na forma exata como requerida pelo autor, vez que,

conforme o documento de fls. 227/237, existe grande número de crianças que

necessitam igualmente das vagas na educação infantil (creche). Determinar

Avenida Dom Bosco. quadra 13. iotes-1tJ/22. HâTque ResidencialAnchieta,Silvânia,GoiásCEP: 7§)!á§0-0q0P£ojBBMÔfi2) 3332-1226

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PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

ao ente que proceda à imediata matrícula apenas das crianças indicadas

violaria frontalmente o principio da isonomia, já que desconsideraria o direito

das demais crianças que também se encontram na fila de espera, as quais

possuem semelhante garantia constitucional à educação.

Por outro lado, por verificar a alta gravidade da situação em

apreço e a urgência constatada em sua resolução, entendo que alguma

medida deve ser tomada, vez que a ausência de vagas poderá acarretar

outros problemas sociais, como a perda de emprego por parte das mães.

Desta forma, tendo ainda em vista o poder geral de cautela

conferido aos magistrados, bem como em atenção ao disposto no artigo 461

do Código de Processo Civil, que prevê, principalmente quando procedente o >

pedido, que o juiz deverá adotar providências que assegurem a efetiva

realização da obrigação ou de seu resultado prático equivalente, apuro ser

possível o deferimento de forma parcial do pleito antecipatório, a fim de

determinar que o municfpo dê cumprimento, desde já, a senteça, fornecendo

vagas em creches municipais em número suficiente para a demanda existente

(listade espera), abrangendo, inclusive, as crianças Bryane Emilfy.

III-DISPOSITIVO

Ante o exposto, julgo PROCEDENTE a pretensão inicial, nos

termos do artigo 269, inciso I, do Código de Processo Civil, para CONDENAR /*

o requerido no cumprimento da obrigação de fazer consistente em garantir o

acesso à educação infantil a todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos

residentes no Município de Silvânia-GO.

Com relação ao pedido de antecipação dos efeitos da tutela

pleiteada em fls. 244/245, o DEFIRO no sentido de determinar

DETERMINAR que o ente requerido dê cumprimento, no prazo máximo de

30 (trinta) dias, à sentença ora prolatada, fornecendo vagas em creches

municipais, a todas as crianças que se encontram na lista de espera.

Fixo multa coercitiva de Índole psicológica, em desproveito do

Avenida DomBosco, quadra 13, lotes 1Ô/52ParqueR&»idencialAnchieta.Silvânia,GoiásCEP: 75.180/»BvFone: (62) 3332-1226

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PODER JUDICIÁRIOComarca de Silvânia

requerido, na hipótese de descumprimento da obrigação aventada nos

presentes autos, no valor de R$ 500,00 (Quinhentos reais), por dia de

descumprimento, sem prejuízo de majoração, independentemente de

requerimento do autor, conforme artigo 461, §4°, do Código de Processo Civil,

a ser recolhida ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Isenta a Fazenda Pública de custas, nos termos da lei.

Após o lapso temporal para interposiçâo de recurso voluntário,

certifique-se, e, com ou sem recurso, encaminhem-se os autos ao Egrégio

Tribunal de Justiça com meus cumprimentos, para fins de remessa

obrigatória.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Silvânia/GO, 03 de setembro de 2015.

Galdino Akra de Freias Neto

Juiz de/tíirejÈ© em Substituição

AvenidaDomBosco, quadra 13. lotes 10/22, Parque ResidencialAnchieta, Silvânia.GoiásCEP: 75.180-000 - Fone: (62) 3332-1226

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