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A,

W/ertcary.

MÃI

DRAMA EM 4 ACTOS

1510 ViV. JAIWSIKO

• J11A DE I DE 1'Aül.A « M i n

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HII

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Qs. ae 3vJt!Mcar/. i w # '

MÀI DRAMA EM 4 ACTOS

RIO »E JANEIRO

TYPOGRAPHIA DE F. DE PAULA BRITO

PEAÇA DA CONSTITUIÇÃO

1862

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A MINHA MÂI

E

MINHA SENHORA

D. A M A J. DE ALENCAR

at.

Em todos os meus livros ha uma pagina que me foi inspirada \m tí.,E^JLHB£Üst-emque falla_esse_ajnõr sublime que se reparte sem dividir-se; que remoça quando todas as jjffeições caducam.

Desta vez não foi uma pagina, mas o livro todo.

Escrevi-o com o pensamento em ti, cheio de tua imagem, bebendo cm tua alma perfumes que nos vem do ceo pelos lábios ma-ternos. Se, pois, encontrares ahi uma dessas palavras que dizendo nada exprimem tanto, deves sorrir-te; porque foste tu, sem o que­rer e sem o saber, quem me ensinou a comprehender essa lin­guagem .

Acharás neste livro uma historia simples; simples quanto pôde ser.

E' um coração de mãi como o teu. A differença está em que a Providencia ocollocou o mais baixo que era possível na escala

•» social, para que o amor extreme e a abnegação sublime o clevas-i sem tão alto, que ante elle se curvassem a virtude e a intelligen-

cia; isto é, tudo quanto se apura de melhor na lia humana.

A' outra que não á ti causaria reparo que eu fosse procurar a maternidade entre a ignorância e a rudeza do captiveiro, po­dendo encoiltral-a nas salas trajando sedas. Mas sentes que se

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ha diamante inalterável é o coração materno, que mais brilba* quanto mais expessa é a trevas sp,nt»s~^«~-*««*h.a.._Q.u^escrava a mãi é sempreimfj--•'._-" •

Tu me déste^ a vida, e a imaginação ardente que faz que eu me veja tantas vezes viver em ti, como vives em mim ; embora mil circumstancias tenham modificado a obra primitiva. Me deste o coração, que o mundo não gastou, não; mas cerrou-o tanto e tão forte, q\ie so, como agoraj no silencio da vigília, na solidão da noite, posso abril-o e vasal-o nestas paginas (

que te envio.

Recebe, pois, Mãi, do filho á quem deste tanto, esta peque» parcella da alma que bafejaste.

Rio de Jeneiro.—1859. •

Ç$ c/e J$Mtnca*y.

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DãAMA

no Gymmsio dramaticof ewr1860.

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PERSONAGENS.

DR. LIMA Snr. Joaquim AugustoS JORGE » Paiva. GOMES » Heller. PEIXOTO . » Militão. VICENTE » Graça. ELISA Sra. Ludovina. JOANA » Velluti.

A scena é no Rio de Janeiro. -r—^-...--..— "'"" A época— J§5.5.

Este drama não pôde ser representado sem licença do autor.

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á i £

ACTO PRIMEIRO

Em casa de Gomes. Sala «le visitas.

SCENA I.

ELISA E GOMES.

GOMES.

Já estas cosendo, minha filha ?

ELISA.

Acordei tão cedo... Não tinha que fazer.

GOMES.

Porque me oceultas o teu generoso sacrifício ?. Cui­das que nâo adivinhei?

ELISA.

0"que, meu pai?. Que fiz eu?..

GOMES.

Sâo as tuas costuras que tem suprido esta semana as nossas despezas. Gònheceste que eu não tinha dinheiro para os gastos da casa, e nao me pediste... Traba-lhaste I

ELISA.

Não era a minha obrigação, meu pai?

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GOMES. .

Oh! E' preciso que isto tenha um termo I

ELISA.

Também hoje é 6 do mez. Vm. receberá o seu ordenado.

GOMES. -,

Meu ordenado?.. Já o recebi.

"' ELISA.

Ah! Precisou delle para pagar a casa? M •

GOMES,

Depois que morreu tua mãi, Elisa, tenho soffrido muito. Além da perda irreparável que tivemos, as despezas, da moléstia me atrazaram de modo, que não sei quando poderei pagar as dividas que pesam sobre mim.

ELISA.

E são muitas? .GOMES.

Nem eu seú. Já perdi a cabeça ! Mas isto vai aca­bar.... Não é possivel viver assim.

ELISA.

Que diz, meu pai! GOMES.

Perdoa, Elisa Foi um grito de desespero.. As.v.ezes, confesso-te, tenho medo de enlouquecer 1 Até logo.

8CENA II.

ELISA E JOANA.

JOANA.

Bom dia, Iaiá.

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ELI$A,

Adieis, .Joana. ; - JOANA.

íaiá está boa? ; ' íjpr ELISA.

Boa, obrigada. JOANA.

Sr. Gomes já foi para a repartição . . .

• .ELISA.

Sahio agora mesmo. JOANA.

Encontrei elle na escada. Hoje não é dia de licção de nonhô Jorge ?

ELISA. '.

Segunda feira... E', e ainda nem tive tempo de pas­sar-lhe os olhos.

JOANA.

, Então como hade ser? ELISA.

Estou acabando esta costura. Já vou estudar.

JOANA.

Pois em quanto Iaiá cose, eu vou arrumando a sala: •pôde vir gente.

ELISA.

Mas, Joana... Teu senhor não hade gostar disto !

JOANA.

De que, Iaiá? ELISA.

Tu nos serves, como se fosses nossa escrava. Todas as manhãs vens arranjar-nos a casa. Varres tudo, es-panas os trastes, lavas a louça e até cosinhas o nosso jantar,

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JOANA.

Ora, Iaiá! que me custa a"fazer isso ? . . . Nonhô sabe muito cedinho, logo ás 7 horas ; eu endireito tudo lá por cima, n'um momento, porque também tem pouco^ que fazer; e depois venho ajudar a Iaiá, que se mata com tanto trabalho.

ELISA.

E o Sr. Jorge sabe disto?

JOANA.

Que tem que saiba ? . . . Não é nada de mal I

ELISA.

Muitos senhores não gostam que seus escravos sirvam a pessoas estranhas.

JOANA.

Iaiá não é nem uma pessoa extranha... Depois, Ym. não conhece meu nonhô? .. Não sabeicomo elle é bom?..

ELISA.

Oh ! sei! Ha um anno que é nosso visinho, e nesse pouco tempo quanto lhe devemos 1

JOANA.

Mas Iaiá é uma moça bonita ! . . . E eu que sou sua mulata velha... Desde que nonhô- Jorge nasceu, que o sirvo, e nunca brigou comigo ! Se elle não sabe ralhar... Olhe, Iaiá! Todas as festas me dá um vestido novo, vestido bonito . .E não dá mais porque/é pobre 1

ELISA. - 'fv

Foste tu, que ocreaste?

JOANA.

Foi Iaiá. Nunca mamou outro leite, senão o meu . . .

ELISA.

Ah! Tu és sua — mamai Joana?

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- * JOANA ( estremecendo).

Mamai!...Não diga isto, Iaiá!

ELISA.

De que te espantas ? Uma cousa tão natural!

JOANA.

Nonhô não deve me chamar assim!... Eu sou escrava, e elle é meu senhor.

ELISA. |jfe'-w *••

Mas é teu filho de leite.

JOAXA.

Meu filho morreu ! ELISA.

Ah! Agora comprehendo ! . Esse nome de mãi te lembra a perda que soffreste !... Perdoa, Joana.

JOANA.

Não tem de que, Iaiá. Mas Joana lhe pede... Se não quer vêr ella triste, não falle mais nisto.

ELISA.

Eu te prometto.

JOANA.

Obrigada, Iaiá. (Pausa).

ELISA.

Devem ser perto de nove horas. O Sr. Jorge não tarda.

JOANA.

E mesmo ! Elle que vem sempre á hora certa.

ELISA.

Nem tenho vontade de estudar.

JOANA,

Estão batendo. ,

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SCEAÍA l i l .

ELISA, JOANA E PEIXOTO.

PEIXOTO.

Viva, minha Sra 1. 0 Sr. Gomes ?

ELISA.

Ha pouco sahio.

PEIXOTO.

Já sahio 1 Wáo cedo !... Ainda não são nove horas.

JOANA.

Meu Sr., elle teve que fazer.

PEIXOTO.

Nem de propósito! Sempre que o procuro, o Sr. Gomes não está em casa.

ELISA •

O Sr. não quer sentar-se?

PEIXOTO.

Obrigado; tenho pressa.

ELISA.

Porque não o procura na repartição?

PEIXOTO.

Não estou para isso. Queira dizer-lhe que o Peixoto aqui veio c voltará .dentro de meia hora.

ELISA.

Sim, Sr. PEIXOTO.

Sem mais!

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— 7 —

SCÉiVA IV.

JOANA E ELISA.

JOANA.

Cruzes !... Que homem grosseiro, minha Virgem San­tíssima !... Um senhor assim era um purgatório.

ELISA.

Coitado! A culpa não é delle!

JOANA.

De quem é então?

ELISA.

Dos pais» que não lhe souberam dar" educação.

JOANA.

Que bom coração tem Iaiá ! . . . Desculpa tudo.

> j * ELISA.

Para que me desculpem também os meus deffeitos, Joana. í.

JOANA (fazendoium muxoxo).

E' o que Iaiá não tem. Oh! Joana sabe conhecer a gente! E então Iaiá, que está^mesmo mostrando, o que é, nesse rostinho de prata !

ELISA.

Deixa-te disso, Joana. « JOA.NA.

Ah 1 se Iaiá soubesse como eu lhe quero bem 1 . . .

ELISA.

Assim te podesse eu agradecer, como desejava I

JOANA.

Inda mais, Iaiá?!

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ELISA. • -

Estas brincando ! . . . Nunca te dei nada.

JOANA.

Então Iaiá! Cuida que é pouco vêr meu nonhô feliz ?

ELISA.

Joana I.

JOANA.

Não se zangue, .não, Iaiá, com sua mulata velha. ;••

* . ELISA.

Para que fallas dessas cousas ?... Não gosto.

JOANA.

Está bom! Eú callo a bocca. Então elle não me­rece?

ELISA,

Merece muito maíV, porém.

JOANA.

Ora, Iaiá! Não disfarce!.

ELISA.

Outra vez? JOANA.

Eu só peço uma cousa. Nosso Senhor não me mate sem que eu veja isso. Hade ser uma festa 1

EL16A.

Queres que eu me agaste deveras, heim ?

JOANA.

Não, Iaiá, não! Más que noivo bonito, e a noiva, h i ! . . Feitinhos um para o outro !

ELISA.

Eu te peço, Joana.

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— 9 —

JOANA.

Nesse dia.. , Olhe, Iaiá 1 Heide pôr meu cabeção novo, como as 'mulatinhas da Bahia. Que pensa ! Não faça pouco na sua escrava, Iaiá I Joana também já foi moça... sabia riçar o pixaim e bater com o tacão da chinelli-nha na calçada ; só—taco, taco, tataco !. . . Oh 1 hei de me lembrar do meu tempo. Se eu já estou choran­do de contente ! E meu nonhô como não hade ficar alegre 1

ELISA.

Não gosto destas graças, já te disse.

JOANA.

Que mal faz? E' uma cousa que hade acontecer.

ELISA.

Estás bem livre ! JOANA.

Se Iaiá não pagasse a meu nonhô todo o bem que elle lhe quer...

Que farias' ELISA.

JOANA.

Eu Iaiá ? . . . Nada ! Que pôde fazer uma escrava 1 Mas Iaiá era ingrata I

Pois serei. ELISA.

JOANA.

Iaiá jura ?... (muxoxo) Não é capaz!... Nem que esse ,coração não estivesse ahi saltando!

ELISA.

Se continuas. Vou-me embora 1 [ Batem).

JOANA.

Querem yêr que é nonhô !

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ELISA.

Bico ! . Ouvisle ? JOANA.

Joana sabe guardar um segredo, Iaiá.

SCEUA V.

AS MESMAS E JORGE.

JORGE.

Como passou, D. Elisa?... Ahl Joana está lhe fazendo companhia 1

ELISA.

Veio conversar comigo.

JORGE.

Quando precise de mandar por ella fazer alguma cousá, não tenha acanhamento, D. Elisa.

ELISA.

Já lhe sou tão obrigada, Sr. Jorge!

JOANA.

Eu não lhe disse, Iaiá?

JORGE.

O que? , JOANA.

Não vê, nonhô, que estes dias, desde que o escravo do Sr. Gomes foi doente para a Misericórdia, eu venho fazer algum serviço, pouco...

JORGE.

Tu és sempre bôa, Joana !

JOANA. (

Não diga isso, nonhô !

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— 11 — JORGE.

Digo, sim!—D. Elisa, creio que minha mãi, a quem não conheci, não me teria mais amor do que esta se­gunda mãi, que me crebu.

JOANA.

Hô gente, nonhô 1 Isso são modos de tratar sua escrava?

ELISA.

O Sr. tem razão, Sr. Jorge.

JOANA.

Não tem ! Nã5 tem ! ELISA.

Basta ouvil-a fallar do Sr.

JORGE.

Ah! Ella fallou-lhe de mim? Que disse?.

JOANA.

Nada, nonhô.

ELISA.

Em outras palavras, o que o Sr. acaba de repetir.

JOANA,

Iâiá !... Eu disse que queria bem a meu senhor, como uma escrava pôde querer... só !

JORGE.

Como uma escrava !... Sentes ser captiva, não é?

JOANA.

Eu ! . . . Não, nonhô ! Joana é mais feliz em servir seu senhor, do que se estivesse forra.

JORGE.

Bem, sabes! Hoje.é o dia de meus annos. Tenho um presente para ti.

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— 12 —

JOANA.

Nonhô já me deu um este mez.

JORGE.

Não faz mal. Podesse eu dar-te quantos desejo.—V mos á nossa licção, D. Elisa?

ELISA.

Quando o Sr. quizer. JOANA.

E eu vou cuidar da minha cusinha.

SCEMA VI.

JORGE E ELISA.

JORGE.

Acho-a triste hoje.

ELISA.

E' engano seu. Nunca fui alegre.

JORGE.

Perdão ! Quando a conheci, a Sra. tinha mais viv cidade do que tem passeia.

Sou pouco amiga i

Mas é necessário

hoj

. de

ter

e, Também não se

ELISA.

passeiar.

JORGE.

uma distracção.

ELISA.

Tinha uma de que muito gostava.

Qual?

A musica, mas.

JQUGE.

ELISA.

diverte, n

. * • - . "

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— 13 —

JORGE.

Mas também enfastia. Não é?

ELISA.

A mim, nunca. JORGE.

Pois está em suas mãos cultival-a. ELISA.

Se estivesse! . . . JOHGE.

Não a comprehendo. ELISA.

Escute, Sr. Jorge. Ha dias que tenciono dizer-lhe... porém falta-me o animo.

JORGE.

O que? . . . Diga, D. Elisa.

ELISA.

Não posso continuar com as licções.

JORGE,

Ah!. Tem outro mestre ?

ELISA.

Não seja injusto! Que melhor mestre podia achar do que o Sr. ? . Eu ó que não quero mais estudar.

JORGE.

Porque, minha Sra?

ELISA. - y Não lhe posso dizer.

JORGE.

Desculpe, se commetti uma indiscrição.

ELISA.

Nem uma. . E demais, é preciso que o Sr, saiba. Meu pai não pôde. pagar-lhe.

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— 14 —

JORGE.

A Sra. me offe.nde, D. Elisa ! Exigi alguma cousa?

ELISA.

Oh ! não ! E é por isso que lh'o disse. Já lhe devemos seis mezes...

JORGE.

Não falle n'isto ! Nunca foi minha intenção receber paga de tão pequeno serviço. Ao contrario, tinha-me por feliz em poder prestal-o.

ELISA.

Mas eu é que não devo.

JORGE.

Porque me recusaria isto ?. . . Assim, fique tranquilla. Continuaremos com as nossas licções.

ELISA.

Como?... Não tenho piano. JORGE.

E este?

ELISA.

Meu pai quer vendel-o. . Precisa. .

JORGE.

E' só esse o motivo ? . Eu lhe emprestarei o meu. Nunca toco.

ELISA.

Ainda quando acceitasse, que não devia, o seu delicado offerecimento, Sr. Jorge, era irapossivel continuar.

JORGE.

Entendo, D. Elisa. A Sra. procura um pretexto pára despedir-me; e eu estou torturando-a com a minha insistência.

ELISA.

Sr. Jorge ! . .

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— 15 —

JORGE.

Desculpe. Se tivesse percebido, ha muito que me teria retirado.

ELISA.

Meu Deus! Não me obrigue a confessar-lhe tudo !

JORGE.

Adeos, minha Sra. 1 ELISA.

Mas, Sr. Jorge. JORGE.

Tenho a consciência de que nunca lhe faltei ao res­peito que devia.

ELISA.

Pois bem 1 . . O Sr. quer. . Eu preciso trabalhar ! Preciso ganhar para viver!

JORGE.

A Sra., D. Elisa? ELISA.

Bem vê que não tenho nem tempo, nem vontade para estudar! '&

v JORGE.

Perdoe-me ! Estava tão longe de suspeitar!

ELISA.

Ainda suppõe que seja um pretexto?

JORGE.

Esqueça o que lhe disse.

ELISA.

Só me lembro £o que lhe devemos (Pausa).

JORGE.

Ouça-me, D. Elisa, e sirvam-me as suas lagrimas de testemunhas perante Deos. Ha muito tempo" que traba­lho para conseguir uma posição digna de lhe ser offe-

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— 16 —-recida. Quer dar-me o direito de partilhar a sua sorte?... Responda-me! Eu lhe supplico!

ELISA.

Não!... Não posso responder-lhe !... Nem acceitar.

JORGE.

Porque é pobre?... Também eu o sou ! Seremos dous a lutar,

ELISA.

Meu pai... lhe dirá... Eu não !

JORGE.

Era minha intenção fallar-lhe; mas antes quero o seu consentimento. Recusa-me ?

ELISA.

Não sei! JORGE.

Elisa!... ELISA.

Fallel... JORGE.

Obrigado, minha mulher!...

ELISA.

Não me chame assim !

JORGE.

Esse titulo me impõe o dever de fazer a sua felici­dade, e me dá o direito de velar sobre a sua existência.

ELISA.

Se meu pai não se oppuzer.

JORGE.

Ainda quando elle se opponha, Elisa. Não contra­riaremos a sua vontade, não esqueceremos os nossos de-

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- 17 -

'es; mas a alliança pura de duas almas que se com-mendem, tem a sua religião.

E' meti pai!...

Vem a propósito.

Mas não lhe falle

ELISA.

JORGE.

ELISA.

agora, não

SCENA VII .

OS MESMOS E GOMES.

JORGE.

Bom dia, Sr, Gomes!.

GOMES .

Ah 1... Como passou, Sr. Jorge?.,. Desculpe"'! Nãó o lha visto (senta-se distante).

JORGE.

Permitte que Continuemos íL

GOMES. Pois Hão !

JORGE (aElisa).

Não quer dar a sualicção?

ELISA (ameia voz)> Não posso cantar agora!... Não vê como estou toda

emula ! JOR'GE.

Pois toque um pouco.

GOMES (sentindo a falta do relógio ) .

Ah I... Que horas são ?... Deixei o meu relógio, a con-ertar.

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— 18 — JORGE.

Nove c vinte.

GOMES.

Já ?... Não chega !... Que martyrio !...

ELISA.

Que tem, meu pai? GOMES,

Nada! Deixa-me! Estou afílicto !... Espero uma res­posta.

ELISA.

Vm. está tão descorado !

GOMES.

E' o calor... o cançaço, talvez! Não te inquietes.

JORGE (a Elisa).

Seu pai estáincommodado. Naturalmente deseja licar só. Até logo.

ELISA.

Sim 1 Até logo. jqpGE.

Não se esqueça que mè deu o direito de viver para-a sua felicidade.

ELISA,

E' cousa jque se esqueça nunca?

JORGE.

Se houver alguma novidade, mande-me chamar.

ELISA.

Immediatamente. JORGE.

Sr. Gomes!... GOMES.

Já vai?

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Ah!...

— 19 —

JORGE.

Quando poderei fallar.-lhe hoje, que menos o in-commode ?

GOMES.

A* tarde. . ou á noite.

JORGE.

Eu passarei á-noite. (Volta) Uma carta que acabam de entregar.

GOMES.

SCEMA VII I .

GOMES E ELISA.

GOMES (lendo ).

« Sinto muito... porém... as minhas circumstancias...» E' o que todos respondem !... Infames ! Não se lem­bram que se hoje lhes peço as migalhas, já lhes dei a abastariça.

ELISA.

Que diz essa carta, que o agonia, tanto, meu pai?

GOMES.

O que hade ser, minha filha? 1... Mais um ingrato a quem estendo a mão e que me repelle com o pé.

ELISA.

Nilo lhes peça nada !... Olhe : o nosso trabalho bas­tará para vivermos ! Guarde o seu ordenado para pa­gar a casa e vestirmos. Eu não preciso de nada. Das minhas costuras tirarei o necessário para os gastos diários.

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— 20 —

GOMES.

Não te illudas, Elisa ! Podes te matar, mas não farás impossíveis.

ELISA,

Hade vêr.

SCENA IX.

OS MESMOS E VICENTE.

VICENTE.

O, Sr. Gomes, empregado publico.

GOMES.

Que deseja? VICENTE,

E' V. S. ? GOMES,

Um seu criado, VICENTE.

Então permítta... Cito-o pela petição supra e seu des­pacho, do theor seguinte : — « Illm, Sr. Dr. Juiz Mu­nicipal da 3.a vara. Diz. . »

GOMES.

Peço-lhe que me dispense dessa formalidade,

VICENTE.

Prescinde da leitura, neste caso?

GOMES.

Sei de que se trata. E'do meu senhorio?

VICENTE.

Justamente ! Mandado de despejo, dentro de 24 horas, por não pagamento de alugueis.

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— 21 —

ELISA.

Meti Deus! GOMES.

Estou sciente, Sr. ELISA.

Mas então, meu pai?. . .

GOMES.

Tudo nos persegue,- minha filha.

VICENTE.

V. S. tem á mão papel e tinta para passar a con-tra-fé. senão dou um pulo á venda defronte.

ELISA.

Aqui tem, Sr. VICENTE.

Qualquer pénna serve.

ELISA.

O Sr. não poderá fazer alguma cousa a favor de meu pai?

VICENTE.

Sou suspeito, Sra. Dona. . . Official do juizo !

ELISA.

Então amanhã vem deitar-nos fora de casa ?

VICENTE.

Qual!... O Sr. seu pai não tem advogado ?... E'pe­dir vista. . embargos. aggravo. . Lá o Dr. sabe bem disso ! Tem chicana para um anno!

ELISA.

Ouve, meu pai?— Ainda ha remédio.

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- si -GOMES.

Se eu tivesse dinheiro para pagar a advogados... .Mas nesse caso pagaria antes ao meu credor, cuja divida é justa.

VICENTE.

E' V. S. o primeiro réo que o confessa !

SCEFWA X .

OS MESMOS E PEIXOTO.

PEIXOTO.

Com licença ! GOMES.

Quem é ?

ELISA.

Ah! E' o Sr., que ha pouco o procurou, meu pai.

PEIXOTO.

Finalmente achei-o em casa, GOMES.

Sr. Peixoto, não me nego' a pessoa alguma.

PEIXOTO.

Não digo o contrario, mas é difficil de encontrar.

VICENTE.

V. S. paga a contra-fé?

ELISA. Quanto é?

GOMES.

Não tenho com que pagar, Sr.

VICENTE.

Bom. E' só para declarar.

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— 23 -~

PEIXOTO.

Hum ! Já lhe anda esta gente por casa. Máu signal !

VICENTE.

Viva, Sr. Peixoto! (a Gomes) Aqui tem!

GOMES.

Não preciso deste papel.

VICENTE.

Em todo o caso ahi fica. A's ordens! Queira des­culpar !

PEIXOTO (d meia voz ) . Que foi isso ?

VICENTE (idem). Despejo!

PEIXOTO.

Mául GOMES.

Elisa, vai para dentro. Deixa-me conversar com o Sr.

SCENA. X I .

GOMES E PEIXOTO.

TEIXOTO.

Sabe o que me traz aqui?

GOMES.

Sim, Sr. Não lhe posso pagar.

TEIXOTO.

Fssa é boa ! Porque ?

OOMES.

Porque não tenho dinheiro.

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— 24 « PEIXOTO.

Veremos. GOMES.

Em quanto conservei uma esperança, pedi-lhe que tivesse paciência. Hoje nada espero ; nada peço.

PEIXOTO.

Que fez do ordenado?

GOMES.

Descontei-o seis mezes adiantados para viver.

PEIXOTO.

A sua mobília? GOMES.

Já não é minha. A pessoa que a comprou, deixou-me alugada; e como não lhe tenho pago os alugueis, vem buscal-a amanhã.

PEIXOTO.

E os escravos que possuía?

GOMES.

O ultimo sahio desta casa sob o pretexto de ir para a Misericórdia, a fim de que minha filha ignorasse. Foi penhorado !

PEIXOTO.

Mas ha pouco vi aqui uma mulata.

GOMES.

Era talvez a escrava de meu visinho do 2.° andar.

PEIXOTO.

Ah ! E' verdade. Conheço-a ! Do Sr. Jorge ?

GOMES.

Sim, Sr. PEIXOTO.

Assim, nada lhe resta?

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GOMES.

Nada absolutamente ! Estou na miséria!

PEIXOTO.

-Pois não sei como hade ser. Não estou disposto a per­der o meu dinheiro.

GOMES.

Se eu pudesse vender-me para pagar-lhe, creia que não hesitaria. Não posso. Que heide fazer?

PEIXOTO.

O Sr. não sabe ? GOMES.

Sei 1 PEIXOTO.

E' arranjar dinheiro, se não quer ir parar á cadeia.

•* GOMES.

O Sr. insulta-me 1 PEIXOTO.

Se acha que isto ó um insulto, nesse caso é a lei, não seu eu, quem o insulta.

GOMES.

Commetti algum crime ? . . . E' culpa minha se não tenho com que pagar-lhe ? . . .

PEIXOTO., ;A'•':: Se fosse só isso 1

GOMES.

Explique-se 1 PEIXOTO.

E' muito simples. O Sr. negociou comigo uma letra de 500$ rs. Tinha o seu aceite ; mas estava sacada e endossada pelo Sr. Francisco de Faria, negociante desta praça.

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GOMES.

E o Sr. deu-me por ella 400$ rs., cios quacs ainda* tive de pagar 50 ao Sr. Faria.

PEIXOTO.

"Esta não é a questão. O saque o o endosso são falsos.

GOMES.

Falsos !...

TFIXOTO.

Faria nunca sacou letras.

GOME.1?.

Mas então quem era a pessoa com quem tratei ?

PEIXOTO.

E' cousa que não me interessa. O Sr. responderá á policia.

GOMES.

A' policia? ... Eu ! PEIXOTO.

Está bem visto !... A letra foi negociada com o Sr." Tenho testemunhas. Que me importa essa pessoa?

GOMES.

Mas, Sr., não é possível 1... Não se çondemna assim um homem, qne não tem notas na sua vida.

PEIXOTO.

Sr. Gomes, acabemos com isto! ..Não lhe quero fazer mal ; porém, se ás 5 horas da tarde o Sr. não tiver o dinheiro para pagar-me, ás 6 apresento a letra na policia.

GOMES .

Dê-me tempo ao menos para procurar o homem com quem tratei.

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— Ti —

PEIXOTO.

E o Sr. tratou com alguém?

GOMES.

Infame ! ./. Duvida de minha palavra !

PEIXOTO.

Ah! Quer brigar? Não estou disposto. Até as 5 horas (sahe).

GOM::S.

Meu Deus! Condemnado como um falsário! ....Não1 Já resisti por muito tempo!

SCENA X I I .

GOMES E ELISA.

ELISA.

Meibpai!...

GOMES.

Tu ouviste, minha filha?

ELISA.

Ouvi tudo.

GOMES.

Pois então ouve o resto.

ELISA.

-Socegue primeiro. GOMES.

Não ha socego nestes transes. Acabas de saber que estamos na miséria ; nada temos, nada devemos espe­rar. Mas isto não era bastante ; abi >em a deshenra coroar a miséria.

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— 28 —

E L I S A .

Mas o que disse aquelle homem é uma mentira, não é ?

GOMES.

Tu duvidaste um momento da probidade de teu pai ?

E L I S A .

Oh I Não, não f GOMES.

Se eu quizesse, já não digo roubar, mas transigir com a minha consciência, os que agora nos desprezam, ahi estariam ainda nos importunando com a sua amizade fingida e hypocrita.

E L I S A .

Não se deffenda, meu pai. Eu ereio na sua honra,' como creio em Deus. Se lh'o perguntei é porque dese­java onvir de sua boca o desmentido de semelhante ca-lumnia. (Pausa).

GOMES.

Elisa, minha filha ! ... Este ultimo golpe é mais forte;; que a minha razão. Muitas vezes já a minha coragem, vacillou encarando a miséria: um projecto louco me., passou pelo espirito, e esteve bem prestes a realisar-J se. Resisti, lembrando-me de ti. A' vergonha, á infâmia^ minha filha, não posso... não sei resistir!

E L I S A . «j

Não pense nisto, meu pai.

GOMES. •

Quando não se pode viver honrado, morre-se !

E L I S A .

Quer-se matar! GOMES.

Isto é vida ?

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— a y —

ELISA.

Meu Deus!... Por piedade I

GOMES.

E' necessário! ELISA.

E eu, e sua filha?... Deixa-a ao desamparo?

GOMES.

Preferes que a arraste á vergonha ?... Não sentes que vaes perder teu pai?... Escolhe! Vêl-o infame nas galés, ou choral-o morto, porém honrado.

ELISA.

Mas ainda pode salvar-se!. . Não ha de ser con-demnado, não !

GOMES..

Reflecti, Elisa. Que defeza tenho eu?. . . A minha pa­lavra. E isto basta? Sem dinheiro, sem amigos?. . . Só me resta uma esperança; e ó que esse homem nãò .cumpra o que disse. Mas essa. Não acredito n'ella."

ELISA.

Porque?... Esse homem deve ter um coração! Eu lhe supplicarei de joelhos.

GOMES.

Tu sabes se te quero, Elisa, e com que extremos te amo. A única dôr que levo <d esta vida é deixar-te 1 . Uma menina de 18 annos, sem pai, sem mãi, ao desamparo, é um anjo perdido neste mundo torpe. Toda a sua vir­tude não' basta ás vezes para deffendel-a. Succumbe á necessidade implacável. .

ELISA.

E. quer me abandonar!

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— 60 —

GOMES.

Sou eu que te abandono, Elisa, ou é a fatalidade que me arranca de teus braços?

ELISA.

Deus .se hade condoer de nós !

GOMES.

Se te sentes com força de lutar, minha'filha, talvez a felicidade te depare um homem que te ame, e pro­teja a tua orphandade.

ELISA.

E porque não nos protegerá a ambos?

GOMES.

Eu já não preciso, senão do perdão do Senhor c do teu.—Se porém te sentes fraca. Não te aconselho Não digo que o faças. . . Segue o impulso de tua alma.

ELISA.

Acabe, meu pai! GOMES.

O que ficar deste vidro.

ELISA,

Ah 1 GOMES.

E' a única herança de teu pai, Elisa.

ELISA.

Oh! sim! Mqrreremos juntos 1

GOMES.

Não ! Foi uma loucura ! . .• Esquece o que te disse ! . . Tu ainda podes ser feliz, minha filha ! ..

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ACTO SEGUNDO

Esia c a sa «le Jíorge. $ala simples mas elegante.

SCEMA I .

JOANA E VICENTE.

VICENTE.

Como vai isto por cá?

JOANA,

Oh! Bilro 1 ... Vamos indo, como Deus é servido £

VICENTE.

Ha saúde e patacos, é o que se quer.

JOANA. t •

Saúde não falta, não, Bilro. No mais vai-se vivendo, como se pode.

VICENTE.

Olhe, Sra. Joana ... Ha muito que estou para. lhe pe­dir uma cousa.

JOANA.

. Sra. Joana 1 ... Estás doudo, Bilro?

VICENTE.

Não, mas é que. . Sim. . .Bem vê que tenho hoje uma posição ... E esto modo de chamar a gente de Bilro...

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— 32 —

JOANA (rindo).

Ah ! ah 1 ah!. . Então porque és pedestre, ou mei-rinho. Não sei o que I

VICENTE.

Menos isso 1 Official de justiça I

JOANA:

Pois que seja. . Official da justiça, ou da injustiça Porque és isto, julgas que ficas deshonrado se eu te cha* mar Bilro?... Ora, não vejam só este meu senhor 1 Que figurão ! ... V. S. faz obséquio.. > ou V. Ex. ? ... Queira ter a bondade... Por quem ó... Sr: Vicente ...

VICENTE.

Romão... Romão ... JOANA.

Sr. Vicente Romão. Queira desculpar!... sem mais aquella.

VICENTE.

Está zombando. JOANA.

Hô 1... Não é assim ,que devo tratal-ò? ...

VICENTE.

Toma o recado na escada Eu por mim não me importava; mas faliam.

„ JOANA.

Pois olha! Cá comigo está se ninando ! ... Eu to co-': nheci assim tamaninho, já era rapariga, mucama de mi­nha senhora moça, que Deus tem, e foi sempre Bilro para lá, tia Joana para cá. Se quizeres hade ser o mes­mo... senão, passar bem. Nipguem hahe morrer por isso.

VICENTE.

Mas, Joana.

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— 3 3 -

JOANA.

Tia Joana 1 VICENTE.

Está bom, para fazer-lhe a vontade... Tia Joana 1..4 Não era melhor que a gente se tratasse como os ou­tros?...

JOANA.

Não sei se é melhor, se não... Quando te vir heide chimpar-te com o Bilro na venta.

VICENTE.

Não tem graça nem uma.

JOANA.

Se te parecer não responde ; é o mesmo.

VICENTE.

Em teima ninguém lhe ganha !... Não vè que é pre^ ciso a gente dar-se a respeito.

JOANA.

Dá-te a respeito lá com as outras. Comigo estás bem aviado.

VICENTE.

Pois é isto que eu quero! Não me entendeu... Di­ante dos outros a senhora... a tia Joana que lhe custa me chamar Vicente ?

JOANA..

Diante dos outros ?... Pois sim i Mas olha que é Vi­cente só I

VICENTE.

Vicente Romão. E' mais cheio,

JOANA.

Uma figa!,.. Nem Romão, nem senhor! Vicente. 5

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— M — VICENT!\

Em fim! Era melhor o nome todo... Não quer ! Que se lhe hade fazer!

JOANA.

Então não perguntas por Nhonhô Jorge ?

VICENTE.

Ia perguntar ; mas Vmc ..

JOANA.

Vmc... Hein... Bilro...

VICENTE.

Você me atrapalhou, tia Joana. Como está elle, o Sr. Jorge? Está bom?

JOANA.

Bom e crescido que faz gosto... Se tu o vires !

VICENTE ,

Não ha quinze dias que estive com elle.

JOANA.

Pois faz sua differença !... Todos os dias parece que fica mais alto e mais serio... Eu acho elle tão bonito, meu Deus !

VICENTE.

Poderá não ! Você o criou !

JOANA.

E tu não achas ?

VICENTE.

Então ! E' preciso que diga.

JOANA,

Já lhe sahio todo o buço.

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— a t> - 1

VICENTE.

Também elle já anda rastejando pelos vinte e um.

JOANA.

Completou hoje, Bilro.

VICENTE,

E' verdade. — Ora tia Joana ! Já estamos ficando ve­lhos. Inda me parece que foi outro dia que você dava de mamar a elle.

JOANA,

Como me lembra !... Eu tinha dezessete annos, e tu eras um pirralho de oito. Vinhas bulir com elle no meu collo ', e como eras muito travesso nós te come­çámos a chamar Bilro. Nunca estavas quieto !

VICENTE.

E aquella vez que um sujeito fez-me por força le­var-lhe um recado... Quando a gente ó criança faz cada uma !

JOANA.

Doeu-te o puxão de orelha "que te dei ?

VICENTE. r •*

Oh ! se doeu !..\ Também nunca mais!

JOANA.

E pérdias teu tempo !

VICENTE. ' • • ' ( • • ' : . .

Lá isso", eu sempre disse... Nunca houve mulatinha que se desse mais a respeito do que tia Joanna. Pois em casa punham a boca em todos ; mas delia não ti­nham, que mexericar.

JOANA.

Não faíla mais n'isso, Bilro. A gente tem vontade de chorar.

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— 3t> —

VICENTE.

E mesmo, tia Joana. Bom tempo ! Sr. Br. só fazia ralhar. Tirante disso, era bom amo.

JOANA.

Tens tido noticias delle ?

VICENTE.

Depois que foi viajar, nunca mais soube por onde anda.

•• JOANA.

E a comadre Rosa que elle vendeu a um homem, da Rua da Alfândega?

VICENTE.

Essa morreu... O André está chocheiro na praça.

JOANA.

Cada um para sua banda.

VICENTE.

Vou indo também para a minha. Adeos, tia Joana.

JOANA. ví

Agora até quando ?

VICENTE.

Não sei I Hoje como tive que fazer por aqui, então ;

disse cá com os meus botões : — Deixa-me ver a tia Joana. —Já vi... Estão batendo.

JOANA.

Vê quem é. VICENTE.

Pôde entrar.

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SCENA II.

OS MESMOS E DR. LIMA.

BR. LIMA.

Ainda se lembram por aqui do amigo velho ?

JOANA.

Ah! Meu Sr.,. Dr. Lima! Ha que annos !...

VICENTE.

Sr. Dr. I...

DK. LIMA.

Esqueceste que parti para Europa.

JOANA.

Não esqueci, não... meu senhor. Ainda ha pouco estava fallando nisso.

I)R. LIMA.

Cheguei hoje pelo paquete. Acabo de desembarcar. Que de Jorge ?

JOANA.

Sahio. Que alegria elle vai ler!... Mas como meu senhor acertou com a casa ?

DR. LIMA.

Custou-me!... Já andei por ahi á matroca. Na Rua do Conde é que me ensinaram.

VICENTE.

O visinho de defronte ?

* DR. LIMA.

Justamente 1 Mas eu estou reconhecendo esta figu­ra...

JOANA.

O ciganinho, pagem de meu senhor...

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DR. LIMA.

Ah ! O grande Bilro !

VICENTE.

Vicente Romão, Sr. Dr.

DK. LIMA.

Como vais?... Que fazes?... Estás mais bem com­portado ?

JOANA.

E' official de justiça.

DR. LIMA.

Escolheste um bom emprego, Bilro.

VICENTE.

Vicente Romão, Sr. Dr. Mas então V S. acha?

DR. LIMA.

O que, homem ?.

VICENTE.

Bom, o meu emprego ?

DR. LIMA.

De certo,! Precisas viver bem com a justiça.

VICENTE.

Peço vista para embargos, Sr. Dr.; não tenho culpas no cartório.

DR. LIMA.

Bem mostras que és do officio I

VICENTE l a Joana . E' preciso perder esse máo costume de chamar a

gente da ciganinho. Ouvio ? !

JOANA.

Ai! .. Começas outra vez com as tuas empolias.

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— 39 «*-VIGENTE.

Que embirrancia !...-DR. LIMA ,

Que ó isso lá? Assim ó que festejam a minha che­gada ?

JOANA.

E' Bilro que...

VICENTE.

Não é nada Sr. Dr.; V S. me dê as suas ordens.

D15. LIMA.

Vai-me ver. Estou no Hotel da Europa.

VICENTE.

Obrigado, Sr. Dr. Até mais ver, tia Joana.

SCENA III.

DR, LIMA E JOANA.

JOANA.

Meu senhor não quer dçscançar ?. .

J)R. LIMA.

Recosto-me aqui mesmo, neste sofá.

• JOANA.

Já almoçou, meu senhor ? Ahi tem café e leite.

DR. UMA.

Ainda conservo os meus antigos hábitos. A's oito horas,já estava almoçado.

JOANA.

Quem sabe se meu senhor não quer tomar o seu banho ?

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— 40 —

DR. LIMA.

Não ! Vem cá. Senta-te ahi.

JOANA.

Eu converso mesmo de pé com meu senhor.

1>R. LIMA.

Como vai teu filho ?. . Já está um homem ?

JOANA.

Meu senhor!... Eu lhe peço de joelhos... Não diga este nome !

DR. LIMA.

Pelo que vejo o mysterio dura ainda!

JOANA.

E hade durar sempre ! Meu senhor me prometteu.j DR. LIMA.

Prometti. JOANA.

Meu senhor jurou ! DR. LIMA.

E' verdade 1 Mas julgava que na minha ausência tudo;

se havia de revelar. JOANA.

Elle não sabe nada, e eu peço todos j>s dias a Deus que não lhe deixe nem suspeitar.

DR. LIMA.

Assim tu ainda passas por sua escrava ?

JOANA.

Não passo, não ! Sou escrava delle.

DR. LIMA.

Mas Joana ! Isto não é possível L.

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— 41 — ,

JOANA.

Meu senhor... Eu já lhe disse!... E não cuide que por ter esta côr não heide cumprir... No dia em que elle souber que eu sou... que eu sou... Nesse dia Joana vai resar no céo por seu Nhonhô.

DR. LIMA.

E porque razão has de fazer unia tal loucura?

JOANA.

Porque?... Desde que nasceu ainda está para será primeira vez que se zangue comigo. E Vmc. quer que se envergonhe... Que me aborreça talvez 1... Meu Deus ! Matai-me antes que eu veja essa desgraça 1

DR. LIMA.

E's tu a culpada? JOANA.

Não sei, meu senhor, não sei, A's vezes penso... Quando fazem vinte e um annos eu senti o primeiro movimento delle... de meu...

DR. LIMA.

, De teu filho. Falia ! Que receio é esse?... Estamos sós.

JOANA.

Vmc. nào sabe que medo tenho de dizer este no­me !... Até a*noite quando reso por elle baixinho... não me atrevo.. Elle pôde ouvir... Eu posso me acostumar...

Mas dizias? DR. LIMA.

JOANA,

Ah 1 Quando senti o primeiro movimento que elle fez no meu seio, tive uma alegria grande, como nunca pen­sei que uma escrava pudesse ter. Depois uma dôr que só

6

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— 42 —

tornarei a ter se elle souber. Pois meu filho havia de ser escravo como eu ? Eu havia de lhe dar a vida para que um dia quizesse mal a sua mãi ? Deu-me vontade de morrer para que elle não nascesse... Mas isso era possível?... Não, Joana devia viver!

DR. LIMA.

Foi então que Soares te comprou.

JOANA.

Elle me queria tanto bem ! Deu por mim tudo quanto tinha... Dous contos de réis! Eu fui para sua casa. Ahi meu Nhonhô nasceu, e foi logo baptisado como filho delle, sem que ninguém soubesse quem era sua mat.

DK. LIMA.

Desgraçadamente morreu poucos dias depois... Se eu o soubesse então !. . .

JOANA,

Mas meu senhor não sabia nada. Fui eu que lhe confessei...

DR. LIMA.

Porque já tinha suspeitado...

JOANA.

E por isso só, Vmc. era capaz de afíirmar? Não! Quem lhe contou fui eu, com a condicçao de não dizer nunca !...

DR. LIMA.

Pois bem, Joana! Não direi uma palavra. Conti-, nuarás a ser escrava de teu filho. Será para elle a dôr mais cruel quando souber...

JOANA.

Nunca!... Quem vai lhe dizer?... Além de Vmc. c

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4iJ —

de mim, só Deus sabe este segredo. Em quanto meu senhor estava fora eu vivia descançada...

DK. LIMA.

E tinhas razão... Presente, vendo-te ao lado de Jorge, não respondo por mim.

JOANA.

Meu senhor, Vmc. teve sua mãi... Lembre-se que fc dôr a pobre havia de sentir se seu filho tivesse ver­

gonha delia 1... Não o faça desgraçado! E por causa de quem?... De mim que morreria por elle.

DK. LIMA.

Bem; prometto-te que heide ter coragem! Virei raras vezes aqui. Evitarei o mais^ue puder... com receio de me trahir.

JOANA.

E' melhor. Até Vmc. se habituar.

DR. LIMA.

Nunca me habituarei!... Tu não sabes como eu te admiro, Joana ; e como doe-me no coração ver esse martyrio sublime a que te condemnas.

JOANA.

Eu vivo tão feliz, meu senhor!

EU. LIMA.

Mas que necessidade tinhas, de ser escrava ainda ? Não podias estar forra ?

JOANAi

Eu, meu senhor?... Como?

DR. LIMA.

Com o dinheiro que tiravas do teu trabalho, e gas-tavas na educação de teu filho.

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- *:. — f + —

JOANA.

Nunca pensei nisso, meu senhor!... Demais, forra podiam-me deitar fora de casa, e eu não estaria mais junto delle. A escrava não se despede.

DR. LIMA.

Mas... Estremeço só com esta idéa !

JOANA.

Qual, meu senhor ?

DR. LIMA.

Suppõe que... te vendiam.

JOANA.

Joana morreria ; porém ao menos deixaria a elle aquillo que custasse... sempre era alguma cousa... Para um moço pobre !

DR. LIMA.

E eu heide estar condemnado a ouvir Jorge agra­decer-me a sua educação que elle deve unicamente a t i ; a chamar-me seu segundo pai, ignorando que sua...

JOANA.

Mais baixo 1... Não se zangue meu senhor !

DR. LIMA.

Sabes que mais ! Vou-me embora. Voltarei logo para abraçar Jorge, e não pisarei mais aqui. E' uma tor­tura !

JOANA.

Adeus meu senhor 1 Não se agaste comigo.

DR. LIMA.

Não. Quem sabe se tu não tens razão !

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— 4 0 •

JOANA.

Deus dê muita felicidade a meu senhor Dr. Lima. ( Abre a porta ) .

Ah I.

E' elle?

SCEMA IV

OS MESMOS E JORGE.

JOANA.

DR. LIMA.

JOANA.

Nonhô não conhece, não!.. . . Sr. Dr. Lima!

DR. LIMA.

Jorge !

JORGE.

Ah ! Dr.! — Quando chegou ?

DR. LIMA.

Hoje mesmo. E* à minha primeira visita.

JORGE.

E devia ser pelo bem que lhe queremos, eu e Joana. Venha sentar-se.

DR. LIMA-.

Está um homem \~ JOANA.

Não é, meu senhor Dr. ?... E ura moço bonito ! Hi 1 Faz andar á roda a cabecinha dessas moças todas.

JORGE.

Se lhe der ouvidos, Dr., é um não acabar de elo­gios 1... Mas ha cinco annos que está ausente !

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— 46 —

JOANA.

Hade fazer pela Paschoa.

DR. LIMA.

E' verdade. — Deixei-o quasi criança... Tinha de­zesseis annos. Aeabou os seus estudos naturalmente?

JORGE.

Ainda não. JOANA.

E' o melhor estudante. Não sou eu que digo!. . . São os mestres delle.

DR. LIMA.

Sempre foi... Que profissão escolheu?

JORGE.

Segui o seu conselho... Estudo medicina; estou no 5.8 anno.

DR. LIMA.

E de fortuna... Como vamos?

JORGE.

O necessário. As minhas lições...

D11. LIMA.

Ah ! Dá lições?... De que?

JORGE-

De musica e de francez.

DR. LIMA.

Lembro-me que tinha muita disposição para o piano. Cultivou essa arte?

JOANA.

Toca que faz gosto!... Vmc. hade ouvir.

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__ 47 —

DR. LIMA.

Sem duvida. E quanto lhe rendem as lições?

JORGE.

Uns cem mil róis por mez.

DR. LIMA.

E' pouco. JORGE.

Faço também algumas traducções que me deixam ás vezes um extraordinário. Joanna por seu lado ganha...

JOANA.

Quasi nada, Nonhô! Já estou velha. Não coso mais de noite.

JORGE.

Nem eu quero. Foi de passares as noites sobre costura que ias perdendo a vista.

DR. LIMA.

Faz bem em tratal-a com amizade, Jorge. E' uma boa...

JOANNA,

Sou uma escrava como as outras.

JORGE.

E's uma amiga como poucas se encontram.

JOANA.

Ora, Nonhô !... JORGE.

Sabe Dr. ! Creio que foi Deus que o enviou boje a esta casa.

DR. LIMA.

Porque razão, Jorge?

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— 48 —

JORGE.

Eu lhe digo... Vem cá Joana!... Mais perto!... Quero contar-te uma historia.

JOANA.

Mas... Eu vou dar uma vista d'olhos lá dentro.

JORGE.

Espera. ( toma-lhe a mão )

JOANA.

Que é isso, Nonhô? Já se vio... Que modos?

JORGE.

Olhe Dr. ! Estou no meio de minha família. Meu segundo pai, minha segunda mãi ! Não conheci os outros.

DR. LIMA,

Jorge, meu amigo 1 JOANA.

Para que fallar nestas cousas n'um dia de se estar alegre... Meu senhor Dr. chegou... Nonhô faz annos.

DR. LIMA.

E' verdade!... E' hoje 6 de Fevereiro...

JORGE.

Escolhi justamente este dia para pagar-te uma divi­da. Quem foi testemunha da dedicação, Dr., verá o re­conhecimento.

JOANA.

Nonhô, me dê licença !

JORGE.

Toma, Joana. Eu escrevi-a esta manhã lembrando-me de minha mãi.

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— 49 -

DR. LIMA.

Muito bem, Jorge. Deus o inspirou !

JOANA.

Mas o que... Que papel é este, Nonhô?

DR. LIMA.

E' a tua carta de liberdade, Joana I

JOANA.

Não quero ! Não preciso !4

JORGE.

Não é a tua carta de liberdade, não, minha boa oana ; porque eu nunca te considerei minha escrava. 1' apenas um titulo para que não te envergonhes mais lunca da affeição que me tens.

JOANA.

Mas eu não deixarei a meu Nhonhô ?

JORGE.

A menos que tu não o exijas.

JOANA.

rEu!... Que lembrança!

DR. LIMA.

Não faz idéa do quanto me commove esta scéna.

JORGE.

As nossas almas se comprehendem, Dr.—Guarda, bana, este papel...

JOANA.

Porque Nonhô mesmo não guarda?

JORGE.

De modo algum. Elle te pertence, manda-o regis-rar em um Tabellião.

7

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— 50 —

1>R. LIMA.

E' prudente. JORGE.

Ha muito tempo, Dr., que tencionava realisar este pensamento. Mas tinha tomado algum dinheiro com' hypotheea...

DR. LIMA.

Com hypotheea !... Sobre Joana?

JOANA.

Que mal fazia ? JORGE.

Conheço, que fui imprudente: mas a necessidades urgia.

DR. LIMA.

Não o censuro, Jorge! O Sr. não sabia...

JORGE.

O que Dr. ? DR. LIMA.

Não sabia... Quanto esses empréstimos são perigo­sos !...

JORGE,

Felizmente já não sou devedor... Nem ao homem que me emprestou... Nem á minha consciência, que me ordenava desse a Joana essa pequena prova da estima que lhe tenho. Resta-me ainda uma divida... Divida de amizade e gratidão que nunca poderei pa­gar.

DR. LIMA.

A ella 1... Por certo que nunca !

JOANA.

A meu senhor!... A mim não. ( Batem )..

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— 51 —

SCEMA V.

OS MESMOS E GOMES.

JOANA.

Sr. Gomes !

JORGE.

Tenha a bondade de entrar.

GOMES..

Desculpe se o incommódo, meu vizinho !

JORGE.

Ao contrario, dá-me muito prazer... Porque não se senta ?

DR, LIMA •( a Joana ) .

Agora podes ficar tranquilla,!' Terei forças de ca­lar-me.

JjOANA..

Meu senhor... Não toque nisto... agora:

DR. LIMA.

Que tem?... Não nos ouvem, JOANA.

Falle mais baixo !... Pelo amor de Deus!

JORGE ( a Gomes ).

Hoje me pareceu incommodado?

GOMES. Estou bom !

JORGE.

Mas iuda o acho palJido.

GOMES. Não 6 nada ! •

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— 52 — JORGE.

Ainda bem ! Quero apresentar-lhe a um amigo' qui chegou-nos hoje de repente... Devo-lhe mais que Í existência, devo-lhe a educação.

GOMES.

Como?... Perdão! estava distrahido !... Que dizia'

JORGE.

Que desejava apresentar-lhe um amigo.

GOMES.

Ali! com muito gosto.

JORGE.

Dr. Limai... O senhor estimará fazer o conheci­mento de uma pessoa que todos respeitam pela sue honradez... O Sr. Gomes... Empregado publico.

DR. LIMA.

Estimo muito!... Um medico pobre, sem clinica, que esteve cinco annos fora do seu paiz, de pouco presta, mas pôde contar...

GOMES.

Obrigado, Sr. Dr. ( a Jorge ). Porém eu desejava fallar-lhe em particular.

JORGE.

Porque não disso ?... DR. LIMA.

Neste caso eu me retiro.

GOMES.

Não é preciso ! Não 1 Eu voltarei depois.

JORGE.

Para que ter esse trabalho?... O Dr. pôde entra um momento.

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— 53 —

D!!.. LIMA.

De certo! Vou ver a casa. Anda, Joana. Vem mos­trar-me os teus arranjos.

SCEMA VI.

GOMES E JORGE.

GOMES.

Não incommode seu amigo.—Voltarei depois.

JORGE.

Ora, Sr. Gomes, não é "incommodo. Estou a sua disposição.

GOMES.

E' verdade que o negocio de que lhe pretendia fallar, é urgente... mas...

JORGE. ,\

Pois então, não ha necessidade de adial-o.

GOMES.

Talvez o senhor estranhe... O passo é impróprio, eu conheço...

JORGE.

Falle com franqueza. GOMES.

Não! Temo abusar... Agradeço-lhe a sua attenção... Outra vez conversaremos. Hoje mesmo... Logo mais.

JORGE.

O Sr. Gomes tem alguma cousa que o inquieta creia que se estiver nas minhas mãos sorvil-o...

GOMES.

E' engano seu!... Não tenho nada.

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— 54 -JORGE.

Talvez algum embaraço... Sim ! Isto não depende de nós... Pôde succeder a qualquer... De repente pre-: cisamos de algum... dinheiro...

GOMES. «

Sr. Jorge ! Não vim pedir-lhe dinheiro emprestado !' Não é meu costume.

JORGE.

Perdão, Sr. Gomes ! Não tive intenção de offendel-o. Estimo-o e respeito muito...

GOMES.

Faço justiça as suas intenções... Mas creia... Se me visse reduzido a essas .circumstancias preferiria morrer de fome a tirar esmolas.

JORGE.

A palavra é dura 1 Recorrer a um amigo não é men- • digar.

GOMES.

Não : mas pedir quando não se pôde e nãò se es­pera pagar... é' mais que mendigar. E' abusar da ,< confiança ; é roubar. Bem vê que não seria capaz.A

JORGE.

Mas o Sr. Gomes não está nessas oircumstancias.

GOMES.

Não devo tomar-lhe o tempo com os meus nego-cios. O objecto sobre que desejava fallar-lhe... é muito differente.

JORGE.

Pois eu o escuto. GOMES.

Não ! Preciso reflo.ctir ainda.

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— 55 —

JORGE.

Mas não poderei saber?...

GOMES.

E' escusado... Permitta-me !

JORGE.

Como quizer. GOMES.

Passe bem !

SCEMA VII .

JORGE, DR. LIMA E JOANA.

DR. LIMA.

Já foi o seu amigo ? JORGE.

Já, Dr. DR. LIMA.

Êxaminou-o bem?... Elle tem alguma cousa. Não está no seu estado normal.

JORGE.

Assim me pareceu. DR. LIMA.

Aconselhe-lhe que se trate.'

JORGE.

Hei de procural-o d'aqui a pouco. E' nosso vizi­nho ; mora no primeiro andar... Julgo que tem sof-frido désaranjos nos seus negócios.

JOANA.

Iaiá D. Elisa me disse, Nonhô, que elle sempre foi assim triste.

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— 56 —

DR. LIMA.

Quem é Iaiá D. Elisa ?

JOANA.

E' a filha do Sr. Gomes.

DK. LIMA.

Bonita '!

JOANA.

Como Nonhô ! Parece que nasceram um para o outr

DR. LIMA.

Ah ! Temos romance ?

JORGE.

Qual, Dr. !... São idéas de Joana. DR. LIMA.

Havemos de conversar a este respeito. Corri casa. Está bem acommodado... Tem o que é precii para um moço solteiro.

JOANA.

Oh ! Ainda falta muita cousa ! Mas ha de vir co o tempo.

JORGE.

E graças aos teus cuidados. —Mas não te esqueça Joana ! Vai apromptar o quarto do Dr.

JOANA.

Sr. Dr. fica morando aqui?...

JORGE.

Então !

DR. LIMA.

Já tomei um quarto no Hotel da Europa.

JORGE.

Como Dr. ?... Não esperava.

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— 57 —

DR. LIMA.

Desculpe, meu amigo 1 Tenho os meus hábitos. Já estou velho. Não quero nem incommodal-o, nem in-commodar-me.

JORGE.

Ao menos ha de jantar comnosco...

DR. LIMA.

^ Hoje não ó.possível. JORGE.

Ora! Não o deixo sahir. Lembre-se que dia é hoje.

DR. LIMA.

Já me disse. E' o dia de seus annos.

JORGE.

E o da sua chegada... Mas pertence também a Joana.

DR. LIMA.

E' verdade. JORGE ( a Joana ) .

Vai! Olha que o Dr. chega da Europa, onde se co-sinha perfeitamente. Has de-deitar três talheres.

JOANA.

TNbnhô espera mais alguém?

JORGE.

Quantos somos nós ? JOANA.

Nonhô!... Logo não vê 1... Joana sentar-se na mesa com seu senhor I.... Credo !

JORGE.

Já te disse, Joana!... Aqui não ha nein senhor, 8

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- 58 -

nem escrava... Se me tornas á fallar assim, ralho com-

,10 A NA.

tigo.

Será a primeira vez. JORGE.

E quem terá a culpa?... Anda ! Quem desembarca, precisa jantar cedo.

DR. LIMA.

Mas decididamente, Jorge, não posso.

JORGE.

Serio, Dr. ? DR. LIMA.

Se lhe recuso isto, é que tenho um motivo forte.

JORGE.

Neste caso não insisto. ( escreve )

DR. UMA.

Outro dia ! Breve... Hoje deitarás apenas dous ta­lheres, Joana : um para Jorge e outro para ti.

JOANA.

Não lembre mais isto, meu senhor I

JORGE.

Não acha que deve ser assim ?

DRi LIMA.

De certo. ( baixo a Joana ) Senão, fico.

JOANA.

Está bom... Será como Vmc. quizer.

DR. LIMA.

E no jantar hão de beber duas saúdes.

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^- 59 -~

JORGE.

A' sua, Dr !... DR. LIMA.

A' minha sim, mas em primeiro lugar á de sua mãi.

JORGE.

E á de Joana. DR, LIMA.

Também 1

JORGE.

Joana, escuta : — Permitte Dr. ?

DR. LIMA.

Pois não!

JORGE.

Leva esta carta a D. Elisa.

JOANA.

A Iaiá?... Dê cá, Nonhô.

JORGE.

Não!... Melhor é que eu não lhe escreva;

JOANA.

Que tem isso.agora ? JOlíGE,

Ella pôde offender-se 1. f. Desce e procura saber o ue tem seu pai.

-.'' JOANA.

Sim, Nonhô !...,,Vou já.

JORGE.

Não te demores! JOANA.

Meu senhor Dr. ainda fica?

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— 60 —

DR. LIMA.

Não. Também vou. JORGE.

Espere um momento. JOANA.

Sr. Dr. tem que fazer, Nonhô.

JORGE.

Vai, Joana. DR. LIMA.

Adeus. Basta de massada.

SCEMA V I I I .

DR. LIMA E JORGE.

JORGE.

Que pressa é essa, Dr.; sente-se.

DR. LIMA.

Teremos muitas occasiões de eonversar.

JORGE.

Sem duvida : mas estou impaciente por sabor de sua boca o nome de minha mãi.

DR. LIMA.

De... sua màí? JOPG;5.

Sim, Dr.

DR. LIMA.

Também eu o ignoro, Jorge.

JORGE.

' Mas Dr., eu fui eriado em sua casa. Devo-lhe a edu­cação. ..

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— 61 —

DR. LIMA.

Pela ultima vez lhe digo, Jorge... Nada me deve... Nada absolutamente !

JORGE.

Ora, Dr. !... DR. LIMA.

Dou-lhe minha palavra, e sabe que nunca a dou de balde. * JORGE.

Creio, Dr. DR. LIMA.

Pois dou lhe minha palavra que nunca despendi um real com a sua educação... Quando o quizesse, não podia... SOEI pobre 1

JOllGE.

Mas então quem pagava as despezas que eu fazia ?

DR. LIMA.

Sua mãi. JORGE.

"1

E a occultam. de mim !

DR. LIMA.

,Não a conheci... Escute, Jorge. Todo o segredo do seu nascimento ó este.

JORGE.

Falle, Dr. DR. LIMA.

Uma noite fui chamado a toda a pressa para ver meu amigo Soares...

JORG:. Meu pai !

DR. LIMA.

Quando cheguei, sou pai já estava moribumdo. Ape-

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— 62 —

nas me vio, estendeu-me a mão, balbuciando esl palavras —meu filho... sua mãi... E expirou.

JORGE.

E nada mais? DR. LIMA.

Nada mais. Trouxe-o para minha casa, onde Joa o criou.

JORGE.

Joana; a única herança de meu pai 1

DR. LIMA.

A única!... E' verdade.

JORGE.

Também ella ignora!... Mas Dr., não me dis como esses supprimenlos se, faziam.

DR. LIMA.

De uma maneira muito simples. Quando o senh precisava de roupa, livros ou qualquer objecto, vinha trazel-o á casa...

JORGE.

Quem?...

DR. LIMA.

Caixeiros... alfaiates...

JORGE,

E nunca lhe disseram?

DR. LIMA.

Se elles não sabiam !

JORGE.

Assim estou condemnado a ignorar sempre o nor de minha mãi.

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— 63 —

DR. LIMA.

Não se occupe com isto!... Algum dia, quando me­nos o esperar, ha de saber. Continue a portar-se como homem de hem, e deixe o mais á Providencia.

JORGE.

Mas é triste, Dr.

DR. LIMA.

•Quem sabe!... Quantas vezes esse mysterio não é uma felicidade.

JORGE.

Não o percebo. DR. LIMA.

Quantas vezes a revelação não perturba as relações de pessoas que se estimam, e não acarreta sobre ellas o opprobrio e a deshonra...

JORGE.

E' possível?... Sacrificar-se o filho ao egoísmo...

DR. LIMA.

Não acuse, Jorge. JORGE.

f-Tem razão, Dr.

DR. LIMA.

Já so viram pais que se oceultaram para não en­vergonhar os filhos do seu nascimento.

JORGE.

Não diga isto Dr. !... Um filho nunca se pôde en­vergonhar de seu pai 1

DR. LIMA.

Mas supponha que elle teve a desgraça de soffrer uma condemnação... Que tornou-se indigno....

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— 64 —

JORGE, j

Nem assim ! Não ha motivo que justifique seffle-i "i

DR. LIMA.

lhante ingratidão

Nem um?...

JORGE.

Nemum,Dr.! Se pois é essa a razão...

DR. LIMA.

Que lembrança!... Foi apenas uma supposição... Já lhe disso quanto sabia.

JORGE.

Dá-me a sua palavra ?

DR. LIMA. ;

Jorge, não se esteja a afíligir com estas cojusas, que] no fim de contas nenhuma influencia tem sobre a vida... Adeus. E' tarde.

JORGE.

Estou convencido agora de que sabe mais do que disse.

DR. LIMA.

Engana-se.

JORGE.

Porque não me dá a sua palavra ?

DR. LIMA.

Não vale a pena.

SCENA IX.

OS MESMOS E JOANA.

JOANA.

Ainda está aqui, meu senhor?

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— 65 — - »

DR. LIMA,

Esperava que chegasses.

JORGE.

Então, Joana ? JOANA.

Já fui, Nonhô. , DR. LIMA.

Meu amigo, o Sr. tem que conversar com Joana. Deixo-o. Até amanhã.

JORGE.

Até amanhã, Dr. Heide procural-o.

DR. LIMA.

Já lhe disse onde estou... Hotel...

JORGE.

Da Europa. DR. LIMA.

Justo I Mas não sei se ficarei lá. E' caro para os pobres.

JOANA.

Ora, meu senhor andou viajando.

DR. LIMA

E' o que tu pensas !... Gasta-se por lá metade do que ó necessário para viver aqui modestamente. Adeus.

JORGE.

Reflicta no que lhe disse. Faz mal em occultar-me.

DR. LIMA.

Não pense mais nisso.

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— 66 —

« C E N A X.

JORGE E JOANA.

JOANA.

O que é que o Sr. Dr. não quer dizer a Nonhô?

JORGE.

Uma cousa que não te interessa.

JOANA.

Nonhô não quer que Joana saiba seus segredos... iNão pergunto mais.

JORGE.

Não é por isso. JOANA.

Deve ser assim mesmo, Nonhô... Quem é esta,pobre mulata para que Vmc. lhe conte sua vida 1

JORGE.

Está bom, Joana! Eu te digo... Perguntei ao Dr quem era minha mãi.

JOANA. j

Ah !... E elle?... JORGE.

Respondeu o mesmo que tu,—Mas que soubeste de Elisa ?

JOANA.

De Iaiá D. Elisa... JORGE.

Já não te lembras? JOANA.

Lembro, lembro, Nonhô!... Ella está muito triste; porém não quiz dizer porque.

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— 67 —

JORGE.-

. E seu pai ? -; .,!;,, „ JOANA.

Sr. Gomes sahio. Iaiá perguntou se Vmc. estava em casa... Talvez ella queira fallar com Nonhô.

JORGE.

Vou vel-a. JOANA.

Vá, Nonhô Como ella ha de ficar contente !

JORGE.

Estás com as tuas idéas.

JOANA.

Pois então, Nonhô!,.. Aonde é que se vio um par-zinho mais igual.

JORGE.

Achas que sim ? JOANA.

E não sou eu só!. . . Quando Nonhô descer, cerre a porta. Eu vou enxuguar uma roupa lá dentro. .Pôde alguém entrar.

SCEWA X I .

JORGE E ELISA.

JORGE.

Elisa!

ELISA.

Não me leve a mal, Sr. Jorge.

JORGE.

O que, Elisa?

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— (JS —

ELISA.

Este passo que dei... Se soubesse !

JORGE.

Conte-me !. Que succedeu a seu pai ?

ELISA.

Uma desgraça!... Elle não esteve aqui?

JORGE.

Ha pouco... bastante perturbado... E não me disse o motivo porque me procurava.

ELISA.

Faltou-lhe a coragem... Meu pobre pai !

JORGE. ^

O que foi?... A que vinha elle?...

ELISA.

Vinha... Vinha pedir-lhe emprestado... Oh I como lhe custou 1

JORGE.

Mas... Porque repellio o offerecimento que lhe fiz...

ELISA.

Teve vergonha de aceital-o... E entretanto era para salvar a sua vida !...

JORGE.

A vida de seu pai! Como, meu Deus!... Elisa! Explique-me o que se passa...

ELISA.

Estou tão afflicta... Nem posso fallar... Desculpe; Sr. Jorge !...

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— 69 —

JORGE.

Descance um pouco !

ELISA.

Não! desço já. Não devo me demorar aqui!

JORGE.

Tem receio... Não está em sua casa ? Esqueceu-se!

ELISA.

* Se não tivesse tanta confiança no senhor, subiria aqui?... morreria antes... Veria morrer meu pai! Mas não teria animo...

JORGE.

Diga-me... O que houve?

ELISA.

Meu pai vendeu tudo quanto tinha para pagar as suas dividas...

JORGE.

Socegue ! Não lhe faltará o necessário.

ELISA.

Oh ! se fosse isto!... Eu posso trabalhar... Mas uma cousa horrível, uma calumnia... Dizem que meu pai falsificou uma letra !

JORGE.

Ah!

ELISA.

Meu pai, o homem mais honrado...

JORGE.

Incapaz de semelhante acção.

ELISA.

Teme ser condemnado... Diz aue não pôde resistir á vergonha.-,. Quer matar-se !

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— iV —

JORGE.

Que loucura ! ELISA.

Mas elle o fará I Olhe !

JO!lGE.

O que é isío, Elisa ?

ELISA.

Veneno, Sr. Jorge... Veneno que meu pai 1 comsigo, porque ha muitos dias essa idéa o p< gue.

JORGE.

Dê-me este vidro. — Eu fallarei a seu pai.

ELISA.

Não lhe falle, não !... Elle se irritaria... sem dar de tenção. Já supplíquei de joelhos !

JORGE.

Então confessou-lhe...

ELISA.

Tudo... E disse-me que se eu não tivesse f< para lutar contra a desgraça, ainda ahi ficaria bas para .. mim !

JORGE.

Cale-se, Elisa. ELISA.

« E' a única herança de teu pai! » — me elle chorando. /•

JORGE.

Está louco !... ELISA.

Não» Sr. Jorge ! Elle tem razão ! Devemos m juntos !

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— 71 —

JORGE.

Havemos de viver juntos, Elisa. Porque juro que salvarei seu pai! Mas preciso vel-o.

ELISA.

Não lhe diga que lhe contei...

JORGE.

Como saberei as circumstancias do facto que lhe imputam?

ELISA.

Elle mesmo nada sabe... senão que um homem o procurou ha pouco e ameaçou-o de entregar a letra falsificada á policia, se.lhe não pagasse hoje ás 5 horas da tarde ! "

JORGE.

Em quanto monta essa letra?

ELISA.

Em 500$000 rs.

JORGE.

E paga ella, seu pai está salvo?

KLISA.

Da deshonra... e da morte .. sim!

JORGE.

Não tenho agora essa quantia... Mas prometto ar­ranjai a, Elisa.

ELISA.

Não, não consulto, Sr. Jorge ! Não era isso que lhe vinha pedir...

JORGK.

Qualquer estranho ü faria para salvar a vida de seu semelhante.

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72 — ELISA.

Eu não devia lhe ter dito!... Mas a idéa de ver morrer meu pai I...

JORGE.

Elisa!... Repilla essa idéa!... Confie em Deus!

ELÍSA.

Em Deus e no senhor !.., Quem tenho eu mais na terra, além de meu pai?

JORGE.

Preciso sahir... D'aqui a uma hora voltarei! Hei de salvai-o 1

ELISA.

Vou com essa esperança 1...

S C E U A X I I .

JORGE E JOANA.

JORGE.

Quinhentos mil réis!...

JOANA.

O que é, Nonhô !

JORGE.

Deixa-me !... JOANA.

Meu Deus!... Perdão!... Que lhe fiz eu, Nonhô?

JORGE.

Nada.

JOANA.

Contaram-lhe alguma cousa!... Não acredite!...

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— 73 — JORGE.

Em que ? JOANA.

Não acredite no que lhe disseram 1

JORGE.

E tu sabes o que me disseram?

JOANA.

Não !... não sei... Mas não é verdade í... Eu lhe juro, Nonhô.

JORGE.

Não te entendo, Joana ! Perdeste a cabeça.

JOANA.

Mas... Que terá Nonhô então?

JORGE,

Estou desesperado !,.. JOANA.

Porque ? JORGE.

Preciso de dinheiro... e não sei como hei de ob-tel-o! ( sahe ).

JOANA.

Ah!

10

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ACTO TERCEIRO

Em easa de Jorge. A mesiiua sala.

SÍCEMA I.

JORGE E JOANA.

JORGE.

O Dr. não veio ?.'..

JOANA.

Depois que Nonhô sahio?... Não!

JORGE.

Já não sei o que faça 1

' JOANA.

Nonhô não achou o dinheiro de que precisa ?

JORGE.

Qüall... Fui ao Dr., não estava... Deixei-lhe uma carta. Procurei um homem que me costumava empres­tar ás vezes... Exige penhor.:. Que posso eu dar?... Só tenho: esta mobília 1 •

JOANA.

Mas a casa ha de ficar sem trastes?

'JORGE.

Que remédio, Joana !... Prometteu vir d'aqui a pouco avaliar... Quanto poderão valer estas cadeiras ?... Uma bagatela... cem mil réis?

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— 76 — JOANA-

Vafe muito mais !,...

JORGE.

O meu relógio deu-me apenas eincoenta t

JOANA.

Nonhô foi empenhar o seu relógio?...

JORGE.

Que havia de fazer.

JOANA.

Jesus I... Que pena !... Mas Sr. Dr. já ha de ter recebido a earta?... Não deve tardar por ahi.

JORGE.

E' a minha uniea esperança.

JOANA.

Em quanto elle não chega, venha jantar, Nonhô; ; são mais de 3 horas.

JORGE.

Não quero jantar agora, Joana... Estou fatigado... inquieto... Depois.

JOANA.

Almoçou tão pouco !

JORGE.

Almocei como de costume. Não tenho disposição.

JOANA.

Nonhô não se agasta, se eu Hie perguntar uma cousa?...

JORGE.

Podes perguntar.

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— 77 —

JOANA.

Não é só para saber, não... E' que talvez Joana possa remediar... Esse dinheiro de que Nonhô precisa para que é?...

JORGE.

Se o segredo me pertencesse, eu t'o diria.

JOANA.

Ah ! E' um segredo... Mas precisa mesmo?...

JORGE.

Daria metade da minha vida para obtel-o.

JOANA.

Pois, então, Nonhô, fique descançado ! Tudo se ha de arranjar.

JORGE.

Como, Joana?... Porque meio?

SCENA II.

OS MESMOS E DR. LIMA.

JORGE.

Ah! E' o Dr!... JOANA.

Elle mesmo!... DR. LIMA.

Apenas recebi a sua carta, metti-me n'um tilbury e aqui estou. Que temos ?

JORGE.

Creia, Dr., que só uma circumstancia extraordinária me obrigaria a recorrer á sua amizade.

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— 78 — DR. LIMA.

Nada de preâmbulos, meu amigo. Eu o conheço. Em que lhe posso servir? i

JORGE.

Preciso, Dr...

DR. LIMA.

De que ? Não se vexe !

JORGE.

Talvez repare...

DR. LIMA.

Precisa de dinheiro... Não é?

JORGE.

E' verdade. BR. LIMA.

De quanto? JORGE.

De 500$000 rs... Reconheço que é uma quantia avultada...

DR. LIMA.

Até ahi chegam as minhas forças. Amanhã lh'os trarei.

JORGE.

Amanhã ?...

DR. LIMA.

Apenas tire o meu fato da Alfândega.

JOANA.

Ora, bravo... Está tudo arranjado. Eu bem sabia que meu senhor Dr. Lima era um amigo de mão cheia.

JORGE.

Mas eu preciso para hoje ás 4 horas sem falta.

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— 79 -DR. LIMA.

Eis o que é impossível. Três e dez.., A Alfânde­ga está fechada... os meus papeis estão na mala... A ninguém conheço... Entretanto vou tentar.

JORGE.

Inda mais incommodo !... Com éffeito, o Sr. deve fazer bem triste idéa de mim !

DR. LIMA.

Jorge 1... Não me offenda !

JORGE,

Parece que o estava esperando para importunal-o... Mas quando souber o motivo me desculpará.

DR. LIMA.

Não quero que m'o declare; sei que é honroso, e isto basta-me.

Muito obrigado JORGE.

DR. LIMA.

Não percamos tempo. Si não estiver aqui ás 4 ho­ras, é que nada consegui.

SCEXA III.

JORGE E JOANA.

JORGE.

Está acabado !... Morrerei também !

JOANA.

Nonhô ! Não diga isso!... Ha de ter esse dinheiro.

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— 80 —

JORGE.

A ultima esperança foi-se !

JOANA:

Ainda não, Nonhô ! Não ó de 500$000 rs. que precisa?

JORGE.

Onde irei eu achal-os?

JOANA.

Mas... sua mulata assim mesmo velha, ainda vale mais do que isso.

JORGE.

Que queres dizer, Joana?

JOANA-

Nonhô não me deu este papel?... Eu não careço dellel

JORGE.

A tua carta !... Estás louca?

JOANA.

Ouça, Nonhô...

JORGE.

Não quero ouvir nada.

JOANA.

Mas Nonhô prometteu dar esse dinheiro.

JORGE.

Prometti... JOANA.

Então ! Ha de faltar á sua palavra... E fallar em morrer...

JORGE.

Queres que para evitar um mal, commeta um cri­me?,.. Que roube a liberdade que te dei?...

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- 8 1 • -

JOANA,

Nonhô não rouba nadai... Eu é çjucnão quero... Não pedi 1...

JORGE.

Que importa ?... O que dei não me pertence.

JOANA, '- " ; . '. #

Pois eu não aceito ! Veja...

JORGE.

Que vais fazer ? '

^ JOÁNA ( rasgando o papel ).

Nonhô não ha de me obrigar... Não sou forra!.., Não^quero ser!... Não quero!... Sou escrava de meu senhor!... E elle rião ha de padecer necessidades!...* Tinha que vêr agora uma mulher em casa sem fazer nada, sem prestar para cousa alguma... E meu Nonhô triste e agoniado.

JORGE. *

Não recebo :o teu sacrifício. E' excusadoí... Depois, de que me serviria isto ?

JOANA.

Más" venhas cá Nonhô..vVmc. não disse esta manhã que ha muito tempo me Queria forrar? - *

; ; ; V; '-:. JORGE.-

E disse a verdade. . *

. JOANA. ';

Quem duvida?..^ Mas não forrou porque tinha pe­dido um^inheiro emprestado com... Não sei. como so chama..

JQRGEt

Com hypotheea?... 11

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- 82 -r JOANA.

-àit...

Isso1 mesmo!.... Pois que custa Nonhô pedir oufra vez esse dinheiro emprestado?

J0R6E. ' *.

Tu já não espinha escrava. ~T

JOANA.

O que sou ett então ?... Nonhô não me queímafej.» Não presto para nada... Paciência 1

JORGE.

Estás forFa.

JOANA.

'Mas ea rasguei o papéí-

JORGÊ.

'W indifíêreMe. Eu; o escrevi.

JOANA.

Qae tinha que fizesse istp ? Amanha,, Sr. Dr...Líma tratia o dinheiro, e estava tudo direito.

JORGE- -À .,..'..

Vê quem está batendo- Deve ser o Peixoto.

J O A N A . • • ,,-

Mas errtão> Nomiè? % / " ' JORGE -

Abre a porta.

«CENA IV.

OS MESMOS E ELISA, "

JOfNNA.

Iaiá D. Elisa 1

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— 83 —

ELISA,.

fSr. Jorge. / Joana afasta-se i ? . ' •'- .'.. -••' A •.••': . 'M'i .íó •'».:Í " -:

'f .' JORG&. . — , /»;"•'•'

^ liada obtive ainda, T2Usa-..

ELl&fe.

^ Meu Deus 1... Elle Já me perguntou pelo viaiy*.,, Eu Ike respondi... Nem sei o 'que lhe respondi !,.» São ijoais <íe 3 hoisas....

JORGE.

Não desespere, Elisa! Ainda- temes íeíapo. Vá fa-zar-ihc companhia. -Não o deixe.

ELtSA,.

Oh 1 se as miühas lagrimas o salvassem 1

JORGE.

Em ultimo caso; si nada conseguir, irei ter com ^ e . . . Não o; deixarei realisar o projecto que medita.

. .ELISA.

Mas ficará deshiprado...: Accusado de falsificador, será demettido... Cuida que resistirá?

'Í- JORGE. Í C '

ProcuremíSs/ salvar-lhe a honra... Si não fôr pos­sível, de diaiaà.desgraças a menor... á que ainda pede ser reparada {< *'' .,

. . ~"'--'•'-- .ELiSA.

Conto com o senhor 1... Não nos abandone, Sr. Jorge. _ •

•«'"' JQ»GE.

Vá descansada Talvez mais cedo do que pensa, eu possa levar-lhe uma boa, noticia !... Sé houver alguma cousa de novo, venha me dizer!...

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—• 8 4 —

JOANA.

Que tem Iaiá que está tão triste ?

. - ' ELISA.

Logo te direi, Joana.

JOANA.

Sua mulata de nada serve, mas...

ELISA.

Sei quanto és boa! Porém não me podes valer. ^

JOANA,

Quem sabe, Iaiá ?

, * • • )

gCEMA V

JORGE E JOANA.

JORGE.

Joana!... Aceito o sacrifício que me fazes•!... T*

JOANA.',: Qual sacrifício 1... Isso é o que Nonhô devia ter feito

logo ! Já estava livre de cuidados. JORGE." '-"'

Não o aceitaria nunca se não fosse para ,o fim que é... Para salvar a vida.de um homem..T de um. pai 1;

JOANA. ^ * >

' De Snr. Gomes ? , . JORGE.

Sim, do pai de Elisa. ' JOANA.

Por isso é que Iaiá está com os olhos vermelho* de chorar!... Pois Nonhô sabia e recusava!...

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— 85 —

JORGE.

[em imaginas> quanto me custa ! . Ha muito tempo tenho uma tão grande satisfação como a que senti

i dando-te- a liberdade, Joana ! Nunca o dinheiro ho pelo trabalho honesto me inspirou tão*Tiobre e justo orgulho!... E destpuir agora a minha obra!... 1 Elisa não sabe que fel me fazem tragar as suas •imãs ! V

JOANA.

Istá bom," Nonhô, não esteja triste!.. Tudo vai se jnjar... d'aqui a uma semana, si tanto, que festa i hade haver nesta casa! m

JORGE.

>e eu já tiver restituido o que hoje confias de mim a tanta generosidade. Antes disso juro qüe não gas-ii senão o que for absolutamente necessário para er.'

* • •

JOANA. ", I „ •v*j - * •"

E porque agora Nonhô ha de se privar do que cisar ?

JORGE.

í) devedor quejjássim não procede, rouba ao seu dor. E se hoi^ifedivida sagrada no mundo é esta 3 vòu contrahir* eMiligo.

;*Í>| JOANA.. ,

Não vejo nada de' maior.

V JORGE.

fcugmentas o sacrifício, dimitiuindo-lhe o valor-.-. •* é"- •

' " í J O A N A .

Nonhô hoje não está bom, não ! Tão cheio de rtes I...

JORGE. Será" b Dr. ?

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- 80 —

SCEiVA VI.

OS MESMOS E PEIXOTO.

PEIXOTO.

Com licença [

JORGE,

Ah !... Faz obséquio de sentar-se ?

PEIXOTO.

Tardei um pouco. Tive que fazer. • *

JOANA ( a meia voz- ) ,

E' o- homem dos trates,: Nonhô ?

JORGE,

E o Dr. nada ! » JOANA,

>Não achou. PEIXOTO,

Vamos a isso ! Fallou-me na sua mobília. E' esta?

JORGE. T /:, "1

Sim, senhor. Tenho também^ a1|ujhs trastes na va­randa. <!'

Jf'-PEIXOTO. %

Jacarandá... Mais de meio uso»

JOANA. ""

Quasi nova, meu senhor.

J>- r PEIXOTO/ *

Tem alguns dous annos dè" serviço.

JOANA.

Jesus!... Nem dons mezes !

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— $7 — •

PEIXOTO.

Então foi comprada em leilão. Não fia que fiar agora. Impingem trastes velhos por novos... Lixa e verniz... Não custa.

JORGE.

Mas quanto dá o senhor ?

PELXOTO.

Por isto que aqui está... Ultimo preço .80$ rs. Não ;ffale mais.

' • "Ks&} JORGE.'

Oitenta só? PELXOTO.,

Só. E não" é pouco. ~

' JOANA-

Ora, meu senhor! Mais do que isto casfoa o sofaV

PEIXOTO.

Pôde sér. Não; dou mais.

: V % JORGE. - > , -'*l- -£.".

— Ê pela minha eajáa ?... E' de mogno áfossiço.

r é PEIXOTO.

Vejamos. ( Seche um momento )-

• - - " - * JOANA. ™ i • . . •>>* •*•• •

. . . - . M T . ' - " * • - •

MaS'|íonhô ha de ficar sem a sua camaTlsso .não tem geitO; nenhum.

fíòRGE. ••«. .;

^Comprarei outra depois. JOANA.

7 Melhéf é fazer o que fie disse, Nünh,ô.

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• — 88 —

JORGE.

Deixa vef... Talvez nãõ seja preciso.

PEIXOTO.

A cama e a mobília da sala... Fica iudo por lâO$ rs. Tem mais alguma cousa ?

JOANA.

Tem, sim, meu senhor !... Tem esta escrava ! Quanto acha Vmc. que ella vale?

PEIXOTO.

Ah ! Isto é outro caso !... (a Jorge) Quer renoVâr a hypotheea sobre ella ?

JOANA. '

Quer... Elle quer... Pois já não disse?...

PEIXOTO. :é

Não ouvi! Então fica, sem effeito o negocio dos trastes? ' •' [ ,

JOANA. s ,

Fica, meu senhor !...'Não ó, Nonhô?

JORGE.

• i Não sei.

* -PEIXOTO.

Em que ficamos? * •-' J O A N A . *

V

Deve ser 4 horas f *£

JORGE.

Quatro horas já ?!... Que decide, senhor?

" PEIXOTO.

Sobre a mulata?... , - N JORGB.

S i m ! *'•

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— 89 ~ PEIXOTO.

Dou-lhe sobre ella 300$ rs.

JORGE.

Como, senhor?!;.., Não lhe e|tava.,hypothecada por 600$ rs. que'acabei de apagar hoje? ....

PEIXOTO. '.;-- ,* '

Foi em,outro tempo ! Hoje'está velha. • * " - " • ' • k - •-• . :

JOANA. 'J

Eu velha, meu senhor !..? Mal tenho 37 annos... Depois: não sòu qualquer mülatihha como essas pre­guiçosas que não entendem de outra causa senão de estar na jánellal... Eu sei pentear e vistir uma moça que, faz gosto... Melhor do. que muita mucama de fa-

" ma. '_•••;' RÉIXOTO.

i-$fi. - • .--

$< Não tenho filhas. v -t - JOANA.

Mas eu tàmbem sei coser, lavar, engommar. Que pensa meu senhor?... Onde me. vê, não é por me

. gabar... Dnú conta do arranjo de uma casa... Varro, arrumo tudo, çosinho, ponho a mesa; e*ÍKainda me fica tempo para fazer as minhas costuras, remendar

,.,es pannos de prato, arear as panellas^áfl^ergunte á | Nonhôj • "'•'"', í " ' ' . .;.• ,, ^ ' J O R G E .

Joana, eu .te peço !

••'-• '-..,' > - JOANA. ''' " '%;.

Olhe, meu senhor ! Dê 500$ rs. qu© não se hade arrepender!... Dê serhf; susto, porque, o mais tarde, o mais- tarde, amanhã mçu. NonhcV vai-lhe* pagar.

PEIXOTO.

Não posso. Tu Hão está%, segura. 12

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— 90 — JOANA,

Eu não preciso, * meu senb«0j.. Prometto a \mv. qae não morro!... Não é "capaz!... Tenho vida para cem annos. Vmc. não conhece esta mulata, não. Se­guro... Isto ó para a gente de hoje !...

i * JORGE.

Escuta, Joana. JOANA.

Nonhô espere... Então Vmc. não dá os 500$ rs.? PEJXOTO.

Veremos : veremos ! Conforme as condições que teu senhor aceitar. , '

JOANA»

Logo vi qüe Vmc. havia dechegar... Porque olhe !... Também por menos,- estava bem livre I... — 0 quo c, Nonhô?

JOJUJE ( a meia vos ).

Deixa-nos sós. Quero tratar com este homem.

JOANA. „ . , . • . ;

E que tem que eu esteja aqui, Nonhô? JORGE.

Em tua presença nunca poderei.

JOANA.

Pois eu vou. Não se arrepejída, Notihô. Iaiá D. Elisa está esperando... CoitadinhaJ...

«CENA VII.

JORGE E PEIXOTO.

PEIXOTO. • • * • % "

Está disposto a effectuár Oe negocio?

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- 9 1 ^

JORGE.

Por 500$ rs. dadcV immediatamehte.

PEÍX0TO.

Já vejo que nada fazemos.

JORGE.

O senhor suppõe que estou, como certas pessoas com quem trata, procurando rodeios para tirar-lhe a maior somma possível. Engana-se.

PEIXOTO.

/.- Não supponho tal; í v JORGE. # • ' . • - •

. Tenho urgente necessidade* de 500$ rs. hoje, dentro ide meia hora. Desde que não é possível obter esta Quantia, o negocio .não me convém. E não sei, Sr. Pei­xoto, se, deva agradecer-lhe.

PEIXOTO.

Então precisa de 500$ r£,?

'. 'JÓRGÉ1.

JUStOS.' ; ' " • ",'

' , ; , .„ PEIXOTO. ' - # * • - '

Pois não seja esta a difficuldade. Dou-lhe esse di­nheiro sobre a eserava , ••' •

, ' JORGE '**:

" •• " . •* , „ PEIXOTO* .$... • . -. ^ - *!fe , * , •: r ; ...,-• • ' v ; '

Não o trago aqui,, mas vóu buscal-ó..^ n'uni ins­tante... Isto ó, eu ainda não examinei a peça... m|.s .podemos terminar isto. ; * • JORGE,-

Que é preciso faizer??.. Ir a um tabéllião...

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— 92 — PEIXOTO.

L/evaria muito tempo. Distribuir a escriptura... j sello... Nem amanhã se concjuiria.

JORGE.

Mas eu preciso hoje. ,*- * PEIXOTO.

Ha meio de remediar tudo. Faça um penhor 1

; JORGE.

Para que o senhor a leve.?...

PEIXOTO. .

Um simples escripto, e está o negocio arranjac

JORGE.

Isso de maneira alguma ! Pensei que era o cor que já fizemos I Joana hypothecadá ao senhor, sempre em minha casa.

PEIXOTO.

Deste modo nem é possível, nem eu lhe dar 500$ rs. Devo lucrar os serviços?

JORGE.

Pór algumas horas. .Pois amanhã.

PEIXOTO.

Lá isso não -sei... Pód^ ser por horas e pormez

J O R G E . ;y •> f •-

Não tenhoj^animo de separal-a de mini, de t de casa I *< v

• PEIXOTO.

Pois resolva-seI.... Vou ao escriptorio buscar i nheiro. D'aqui a cinco minutos 'venho" saber a posta.

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— 93 —

JORGE. '"''

,E'r; escusado.,, Par»que se íncommodar?

PEIXOTO,

. Tenho um negocio para feitas bandas. Até já. ""* -' . ,

•',-/..... SÇENA VIII.

JORGE E JOANAÍ.

JOANA.

Àrr«|ou:-sie tudo, Nonhô;!-;Não foi f

JORGE.

.; 'Nlo fiz nada; estou na mesma.

"'* , i : - : • ' • JOANA.

*0 homem teimou "em não dar os 500$ rs. ?

» JORGE.

r Dava ; mas com üma condição que não quiz... que não devia aceitar. '*%*;

. , i " ; . .,% J O A N A .

^;JQual, Nonh ô?•";,. ... ^ ; , . : ';- / ' , . JORGE.

*>'f,Não entendes-de.negocio. ..Tanto faz, dize'r-te como

•:'*'""lí:' JOANA.

E', verdade que Joana não estudou como . os homens que vão á^Sscolá! Mas..., Nonhô não faça, pouco... Eu sei muita causa. Pôde ser que_ lembre unia idéa boa.

':' ;;*- > • " J O R G E . ' . ; ' ; '

; -Não ^zeroos;. nada, Joana. O melhor é résígnar-; m e . • " •••.•- . •"' • % •••:• : • • • -,"„,

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— 94 —

JOANA.

Então Nonhô deixa morrer o*pai de Iaiá D. Elisa,?

JORGE.'

Elle ha de attender-me !... E' impossível que"um homem razoável persista em fazer semelhante loucura.

JOANA.

Mas Vmc. prometteu á Iaiá..^ E quando ella vier que lhe ha de responder?

JORGE. »

O que?... Que esta vida não vale as lágrimas que custa 1

JOANA.

Nonhô!... Não se lembre disso !

JORGE.

Que hei de fazer, Joana?

JOANA.

Sè não ti#«ese deixado o homem sahir.

JORGE. "

Elle ficou de voltar para saber a resposta. ;','V$É

JOANA...

Que resposta ? *. JORGE. ';

Da condição que me propoz .. Queria que te desse em penhor.

» > • • • . 4 , - ,

JOANA.

Que eu fosse para a casa dellé?*v

JORGE.

Bem Vês que não devia aceitar!

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— 9 5 - 7 -

JOAUA-,

Nonhô^precisa do di&hejí^..i.AceiteU.. Mas é por ;hojé: só,' não é ?

JORGE. X

Unicamente!... ,Amáíihâ| apenas o Dr. chegasse; iria-te buscar.

JOANA.

Pois, então!... Uma tarde depressa se passa!... E Nonhô não faltará ao .que prometteu/

JORGE;

Elisa vai agradecer-me o que só deverá a ti LAssim éesfe; mundo. - #

;, " '' % ! •' IflANA.

Eu não faço nada por Iaiá D. Elisa... E' por meu senhor... •\.': • : • ..- ' JORGE. '-. -

O Peixoto está-se démorahde ! Se não voltar 1" ~

JOANA. Eu vou. chamal-o.-

JORGE.

Esperai... A's vezes tenho votitàde què elle,não venha. , ..„

JOANA.

Ah ! si o Sr, Dr. apparece por ahi!

JORGE. Não ouves subir ?

JOANAr* 5: Vou vêr. !«•" ^ _ .

" S C E M A Í I X .

OS MESMOS E PEIXOTO.

„ PEJtXOfO.

Já sei que resolveu-sé?

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— 96 —

JORGE.

As cjrcumstancias me forçaram.

PEIXOTO.

Ora bem ! Fechemos o negocio. — Vem cá, rau-Vj lata.

JOANA,

Meu senhor 1 PEIXOTO.

Deixa vêr lá os pés ! \ JOANA. ., ...

Meu senhor está desconfiado comigo 1 Eu não tenhif doença!.,. Si nunca senti*me# doer a cabeça, até hoje., graças a Deus !

PEIXOTO.

Tá, tá, tá, cantigas!... Vamos!... Não te faças de; boa !

JOANA;

Ninguém ainda me tratou assim, meu senhor !

PEIXOTO.

Anda lál.. . Mostra os dentes!

JOANA.

Todos sãos! PEIXOTO'.

E' o que esta gente tem que mélte inveja.! Sc fosso possível trocar!... E nãfr tens marca?

JORGE.

Senhor! Acabe cora Isto!... Não posso mais vêr: semelhante scena. '

PEIXOTO.

Quem dá o seu dinheiro, Sr. Jorge, deve saber o que compra... Se não lhe agrada...

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- 07 -r-

JORGE. f , 4

Está no seu direito ; quem lhe contesto?.,. Más ter­minemos com isto de uma,vez. , 'A

, , ^PEIXOTO, V ,

Nãp^desejo óútrá cousa. — Então tens as taesrmar­cas, hem ?.,. :• , "' i ' > '•'.'•'-':•;..

/.,'• '•• , "JOANA.

' Fui mucama de minha'senhora moça, que me tra­gava como sua irmã .delia. Sahi para o poder de No­

nhô que até hoje nunca me di^se ,j—; <c Joana, estou '; zangado comiigo 1 „ . : i ;V/;'• .,."'

.' ";'•; .*''-''. ; P E I X O T O . ' r ' - ' • • " ; -

Tens um bom senhor, já ^êjb !

; JORGE,

Perdoa, Joana, o porque te- fiz passar !

JOANA. ' •••''' •'

Não foi nada, 'Nojthô. r ",:

P E I X O T O .

Muito>bem '..Aqui está o papel.

! - Ò senhor éng^íiourso 1 • • • .600$ rs. ? \ v - . ;; • PEIXOTO. ;

«;rE' difficil engánar-me., S5ò#mesmo 600$ rs.,

'••-'" JORGE;

>: Mas eu pedi-lhe 500$ -rej'&

•r-: , : -PEIXOTO.' '."'•

;' Justo! E; o que. ha de receber. tQs. cem são de lurósl'"-; '---^V. '" : - VJ . .-' ' , . - £ * • ' * '•;-' "'•" ' " - . • • ' • 1 3

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— ,98 —•

JORGE.

fó rum dk?. . . Pois amanhã,•„.

PEIXOTO;

Não empresto por um dia! Se qüizer pagar ama­nhã, nada tenho com isso.

JORGE.

Mas receberá.-: PEIXOTO.

Certamente 1 JORGE.

E ganhará em um só dia 20 °/0 .

PEIXOTO. .".'.'

São os riscos cio negocio... Posso esperar ánnos sem| receber.

r, , JORGE..

Nesse caso os serviços...

PEIXOTO.:

Ainda não sei quaes são. Demais, tenho ã * alimen­tação, vestuário, botica^ médico, ptq. „ V-

JORGE.

Emfim !... Já não é tempo 4e recuar. (,^,aidmesà' nssignar o papel ) . , , -*'••

JOANA. ' ; •*' •• '«(

Meu senhor, não cuide que vou-lhe fazer despezas. Como um qua&i nada... « , ' , •/"

PEIXOTO.

,, Que interesse,, tens tu no negocio I Parejce que estás uaórrendo por te vêr livre de teu senhor. -

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— 9 9 -

JOÁNlt.

Está ouvindo, ffenhô ?

i-Mas, senhor !,,.;'Isto é um papel de venda. ,

v '• ... ;, JOÁNA:.. ' - " :' ' , :

De, venda f ! . . . Nonhô'1 me vender 1

• •%>\ ' PEIXOTO. "'" '[.

s- Questão de palavras*!... Não yê; que tem.,a.f„condi— i ^ d e retfâ . •'"-;

^ ' X - - JORGE. •' ' , "•••,•' '< ?<••?- ', • ' . . < • ' ' . . , v ' . • . ; '' '," '''• , ' ' •"' ; ' "k~' fcfy ' "' • " V - .•'•" ' ' » , - ' • ) .

/:•%.senhor fallou-mè éin penhor... /Venda ! Nunca ; teria consentido. ' 'NíJ^. i r ', .?«, " V - . V .''• ?'• •, 'PEIXOTOi ••;;>"•' -

E? uma e a mesma cous,a. No pephor, si o senhor não me pagar, a escrava: é minha.•" Na venda a retro

Jella volta aóseú ; poder, logo que , me pague.

'-.• .'",•' "'" . .JORGE. ". , \ -

„ .Em^odcfi o caso pfefiro o penhor. -*-,> J , - , i. ~\-.J • • • * ' H ^ ' " < * •••• * ,- . •

"'•'. " "', \'/ PEÍxOTOi "' ' "' .''

Meu -Cfró" senhor, %ãhp" tido , todas as condescen-'àdèneias ^oásiveis ; mas V. S. não está habituado a tratar certos negócios, ;de n>ódp que fitunca íâtegató^ <mós% um áccordo. «•'•?>'.r ',.-•'';'"" í'" •" ;

JORGE.

Porque o senhor não diz francamente Q qtte exige?

PEIXOTO.

Essa ./é boa: í Quer" mais franqueza?... E!' aceitar ou* .largar! Não obrigo-!: ' •=••'.•

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— 1U0 —

JOANA.,

Mas/se Nonhô lhe pagar amanhã, fica meu senhí outra vez ?

PEIXOTO-

Que duvida!... Tem um mez para pagar 1 '

JOANA..

Então .Nonhô,.. Vem dar no mesmo !

JORGE.

Não !... não posso assignar semelhante papel W..A

PEIXOTO.

Bem ! O dito por não dito í... Outra vez fará o oh sequió de não me incommodar. Perdi cOni 6 senhor manhã inteira... sem o menor proveito.

( Elisa apparece):

5 SCEMA<X,

OS MESMOS E ELISA.

JORGE.

" . '» -,' Ah! ( assigna ) Tome, senhor. O dinheiro ? f corr

a Elisa ) .

TEIXOTO. §

Eil-o.— Oh ! Quem é esta moça ?

JOANA.

E' a filha do Sr.; Gomes.,;. PEIXOTO.

Humml.., Percebo!

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— 101 —

J O R G E .

Não se importe que a vejam 'aqui! Se a calumnia-rem, eu farei calar o infame!

>• ',. :.,•, E L I S A .

,';-•.Nem seifjá o que faço!... ;' \ , ; ; '•_ .JORGE' {.a Peixoto-\:

0 dinheiro:?

.'•;, : ; • '•',. PEIXOTO'., , , - •

Aqui o* tem. Faça o favor de contar.

ÉLISÀ.

„ Este homem!... ; %;;, " : -.•*''• JORGE,

'• Que tem ? •'•' .-, E L I S A .

.. EJ o que ameaçou meu pai ! ';';% , , , . , • • • • , ' ' . , ; ' ' • ' • • '

"*.."' •'."''. '/" . J O R G E . ' i , „ - , *

c Devia ter adivinhado !

'-; '•;'"••.. "" ' E L I S A . ''••'

VendoTÒ entrar, julguei que já; vinha... Fiquei; fora [de mim... ,Subi! Ha ,ípie tempo eston alli seíjn ani~ jno, de entrar,; :: ." " . , . , •,-' :' ££££3 ' ";•'< •.

JORGE^- - ,

Finalmente seu pai está salvo ! Tome, Elisa I.

" ' " , ' ' , ; ' •- ÍXÍSA.. v "

, Oh! riâo, Sr. Jorge !

JORGÈl

,; Tem, vergonha de aceital-os da mão de seumari-Ho?.. • " .«. ;

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— 102 —

ELISA.

Não .era melhor, que o senhor mesmo entregasse <r meu pai ?

- JORGE.

Elle aceitaria mais facilmente de sua filha! y j ;

ELISA.

Mas eu é que não posso 1... NãO|Sei...

JORGE. - - . ; " * - , . ••• • - . . • " • , • • • ! ' • < • .

/Espere!... (a Peixoto). 'O senhor tem em se$; poder uma letra do Sr. Gomes?

PEIXOTO.

Uma letra de |>00$ rs. ? Sim, meu senhor \

JORGE,

Está paga I Dê-me esta'letra I

PEIXOTO.

Então era esta a necessidade, urgente?^ Dd a letra"j\ Muito podem uns bonitos olhos ! -.

"v . . " • - , • • • ' '•'.-_• • •- "' o f JORGE, ,.. ,*.« 1

Insolente 1... Respeite nesta senhora minha . mulbóg • ' ' , ' . ''>*•'•%

PEIXOTO. * . :, -Vj • * *

Perdão 1 não sabia. -<

JORGE "/ a Elisa).

Agora não deve ter escrúpulos. E' um papel sem valor. r , ' *

ELISA .'>

Sem valor, Jorge!... Vale a honra e a vida dè/ meu pai; vale a nossa felicidade.

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' — 1U3 « ^ , , , , , ; • ' . * ' { * • - ' -

JORGE.

: Vá depressa sjpjeegar seu pai.,. Ab;! Agradeça a r-Joaf tá" , v Ei ís ,a . : : V * * * ""• •"'•-; ; -• ';f'•"••, ••-

",'.',;* - ELISA.

Porque? efia também se interessou por mim ? : ' •'';•.;:-*#fe ;U..; '#.:''! ' 'V'". . ' *v< .• ' JORGE.'

*: -Depois lhe direi porque., tV

' f ' . . . ' - ' - JOANA. •' ' ( •.

Eu só pfço a»;Deus que faça meu Nonhô e Xáiá D. 'Eliáa ^miítõ, 'muito felizes! < ; / ,;

y( Durmiea scena spguinte vè-se Jorge e Elisa \na porta /. " •;

SCEMA.-XIw -\-y

• PEIXOTO EVJ0ANA^: ' ,/; .

PEIXOTO. 3 %

^N| | i : terfe alguma roupa?...; Ou ó só á do corpo?

'"^•' .V. ' , .JOANA..

íit| roupa, graças a Dèuâ; é o que não mo ^alta. J^oímô me dá mais do que eu preciso.

'"'•' -,,.1 .::,-/'*.:; "*• :'PÉIXOTO;. . r t-<,

PdisVentâó, vai arrumar a trouxa. E anda com isso.

•', . . "' JOANA'.' "í"

Por ürha noite ?... Nóiihô.amanhã v,ai-me' bíís^ar.

;.\ ,'; :- '', , - * PEIXOTO'.

Tjidòs efles|dizem o mesmo... Amanhã, amanhã... ò tal amanhã aura um anno.

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IV I —

JOANA/

Que,diz meu senhor?... Um anno !... Oh 1 meu Nonhô não é como esses. Vmc. há déVêr... Elle quer. bem á sua mulata.

PEIXOTO.

Vamos. Despacha-té. Vai sempre vêr a roupa. Não.; digas que te engano.

, •' ,t -", ' :' JOANA. t ;.''";.';

Não, meu senhor. Si eu ficar lá, o qíte Deus nã$§ ha de permitiu^ não... eu virei buscar os nieus tra,-\ pinhos. Agora !... Si eu ós levasse..'. Era coirios s i ' não tivesse mais de Voltar -para o poder de mèu-No-Á nhô!... E Joana não poderia! Vr;

PEIXOTO; ,

Bem ! Eu eá mandarei 1

SCENA XII. '

OS MESMOS E JORGE. ;;

J O R G É ^ "", >

Desculpe sé o fiz esperar.

"' PEIXOTO.

Não manda mais nada ao' soü serviço ?

JORGE.

Tenho apenas uma supplica a fazer-lhe.

PEIXOTO.

Que diremos ? j

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- j^>5 -

JORGE-.

Púrânte o tempo que esta,., que -Joana vai estar $m? suà^câsa. •

* . PEIXOTO.

'••<, 'Oüe 'Ó 'mírihâ escrava, quer o senhor dizer. f í ^ V . 1 ' , ' , . " , . , » . *- , '

-* - .JORGE.

Péçô4hé que a trate còm doçura., Está habituada a Viver comigo, hiais como uma companheira do que...

-,- - •-:- b PEIXOTO. ,.,. >,.;*•,.. ' ; , ;# ' • : ' . • 'v-.A. ,'. ' ;-r' -• - • • • • . -

.,'*Exçüsa ped!r-me isto. Sou bom sejilior. O caso é ;-!sáÊerem levar-me. Anda mulata! Vamos.

y \ " ; , • • ' * JOANA.; ,„ ,

Já? !..'. Me deixe, dizer adeus a, meu Nonhô. *<y, . , . • - ' . • . ' , ' . ' ' ; • ' ' f • • ' • . . , , , ' • • ' " ' '

•!!'; '; ..*-'"• " ' PEIXOTO.'', . -'"' ' ' • , - . .

Pois,iJ'fíe lá o teu adeus... "JE hácta de choramin-g a s . , •'•'>•. ' .

JOANA;

"•r': Meu Nonhô, ádeiis! Sua escrava vai-se embora ! ; / .-. JfJRGjE. "

.•'-'•;*'•' - ; \ JOANA. ' • •, •• ,': .-, , , Í

f\ . Nãò, chore, Nonhô. E' por hoje só*.; iNfão é? .

• :' ' "•...'.''••'*..": > J O R G E ' . •', ; i í * ' , V . <-•., », »

.;r;."Eu te j u ro^ ;" ^ ; ,"'.' . . . " ' . . ' 'JOANA. y : ,-=

' ' • • ' ' • ' * • • • , ' ! ' ' . , • ' : * •

; Oh ! Se não fosãe. Nõnhô me deixava ir ?

,; . JORGE.

uv •• De ceí to que nao í, ' .«í •;•'>;..

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— IQ6 —

JOANA.

.".Mas. se o Sr," Dr. não vier .'amanhã?

JORGE. - *

Se elle faltar, meu Deus! - í

JOANA-., ' j ; %

Não ha ,de faltar não. Sr. Dr. é.homeni de pala'^ vra...v, ' :•/ _ . . •, "' ^ ,'$•

- JORGE.'' , , . i * - : , . ' , . . . . .

E quando por qualquer acaso sujucedessè..'.' Ainda*,' tenho forças para trabalhar. ' * ( ' ' " ' • * , )

" ' ! ; ' '• JOANA". ,' i • • ' ' " " " - • ' o . V , V " ' *'•

@hl meu Nonhô! Nãô é põr>mim qiíe eu tenho| .medo.de ficar lá. D*eu« é testemunha... Mas quenrj %& de tratar de kmeu Nolnhô- quando' súa, Jóáná^nãc estiver, aqui?... Quem ha de preparar tudo, para quol não lhe falte nada? Ê sé * Nonhô *cà|ir doente? l.\'.{ Meu Jesus 1... Que 'dor de coração só .de, pensasp niSSO ! . '•', . .:,:

.•tt ' JOISLGÉ. : .

Cohs"ola-te, Joana. Algumas horas depressa se» pás» s a m . <•/'•

JOANA.'

E'.assim mesmo."Nonhô... Mas que saudados que' Joana vai ter... %\\a ,que nunca sahio.de junto de,seuvj senhor... nem um dia... Que nunca se deitou sem'lhêf | i»mar a benção !... Nonhô também ha de ter- sau-•'* dades de sua escrava?...'' : >.-

JpRGE.

Perguntas, Joanat „ , :>. J O A N A . ' * •,; '-" •

Oh!- Eu sei que Nonhô- ha de ter?,.. Mas não fir',' que triste, não. - ' . ; :

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— 107 —

J0IVG.E.

Joana,': não me faças perder ancoragem,,- Deste ' modo não terei animo. ••

"• JOANA.-. . . j ' *-

1 -;Eslá bom, Nonhô. ' Olhe : Joana nàó chora mais 1 ' Está se rindo. Amanhã ella estará £fqui outra vez, ser­vindo seu Nonhô... E Iaiá D. -'"Elisai Sr. Gomes*,, 'todos *

' contentes I... " l ,*.'". ~%í • PEIXOTO.

' -Se' continuamos assim, não saio d'aqiii hoje 1 E* uma; choradeira que nunca mais.se, acaba.

., ' , ' • »./ . JORGE. m * ,;

.*Não zombe destas lagrimas, senhor ! Joana me criou.; Nunca nos áeparamos. F/. toda a minha família 1 Ella

\e um amigo que tive hoje a;feiicidade de vêr. Amor dè: mãi, que não conheci, amor de, irmã que não tive,

Júttò concentrei n'ella f* .

PEIXOTO. *

Más é preciso, que terminemos, ixrni isto.

. , y ' ' \ ' "JORGE. * „v

E' justai., Joana! Adeus! Até*.amanhã 1 - , ' ' '• ' " ' \ '- • * - : . - ' '

f: .•''•' y JOANA., - < . ' < •'"

>:, Ate. amanhã !... Sim meu Nonhô !... Mas se eu lhe

., »•; ÍÒRGE.

O que? Djze... JOANA.

Hão"... Para que... íncommodar a Nonhô?'

> » '" JORGE. *

Pede... 0 que?'

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— 10& —

JOA.NA.J •

Nonhô á tardinha... 'Quando se recolhesse... Podia passar.,.

JORGE.

Comprehendo... Eu* irei ver-te, minha boa Joana, k<

JOANA.

. Que alegria que Joana terá-! •• • - * . - *

PEIXOTQ.»

Nao. posso mais. — Psio! Mulata! segue-me!

JORGE.

Não,lhe falle assim l *„ • - , , . « -*

PEIXOTO. ,;.' ';,

Ora, essa !. E' minha escrava. Posso fazer .delia ,<i| que quizer. • ' . '* •"

* '• : . JORGE. ; • 0 -'

Usurario !„...* Não me obrigue a fazer uma loucura I, JÓANÁ, ' '-'.'•'':'. •- . . ? .

Nonhô não sé altere... , Vamos,•• meu sentíor 'Es­tou prompta. ' ' "

/ ." ' ' . .. ;.* / - 1 ' . . *.',; PEIXOTO,

Passa 1 Anda...

i JOANA.

Nontíô! ... Lembre-se de sua escrava*.

JORGE.

Meu Deus!'...

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-.;/- . t AÇTG 'QUARTO,

Em casa de J o r g e . A tnesiita sala»

*

v '

Sr.

^

;;•>> • . h . "

> • • * .

Jorge 4.,;. „

Ah! bom dia„ • ! - ; « • '• , • •• " - % " *

8 CEMA I.

(JORGE E ELISA1.

y

"'

E|isa!

' ! '""*

ELISA;

JORGE,/,

riK Seijt pai?

ELISA. " .,.,,

Está, inteiramente calmo, Sahio.., D,isse-me quéd*aqui i poucp lhe veria ^agradecer. *

.-'$•*A}-ií.r, .•. > ; • ' " ; ; r ; ' ; -.. ' ; : . . . f. * • " , . ,#-• . ': , / , , ;•;.. , , . ; * JORGE, . *•'• , . V . ' ; . . '

'Elle já sabe? ">-' ' , . ' ÇLISA.

Contei-lhe tudo !. (. Não -devia ?

Fez bem.

,

* •,'

,Qüe

-• ,

Sorrio, Jorge 1 '* ' •' í

Approvou

c, "j

Parecei,

por

*

"• JORGE., ,

respondeu elle?

• , ]

tonto.

ELISA.

JOPGE..

' • •

• , ELISA.

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— 110 -

. . JORGE. • « . •«,; .

Só nos falta para,',sermos felizes... ;* ,;.!(

ELISA, „ ';

O que?... Não me responde? •:* ^

'JORGK.

Não posso agora 1 Depois saberá, Elisa.

' ELISA.

Deve ser alguma cousa. que lhe pesa"! Está .inquie­to;? : * V ••' •," * '•''•

JORGE. ' ; • ' ' > • - • •' f£

E' engano!... Não tenho motivo de inquietaçãoIM •*,. , ' {* *" -*.'í*;5 ELISA.

Quer *>ccultar de mim, que lb.ê*: contei .todos os meus pézares*? ;

JORGE.

Nada, pcculto,., São recordações..: O .esperitp hyma-ír no é-ass*im... Inquietasse, possue-âe,de um vago te­mor, quando maior razão tem de aíegrarrse.

ELISA 4 >

Pois eu o, deixo... Já, que não posso desvanecer» não quero perturbar essas recordações* - ; !-*

J0UGE.

E' uma queixa injusta. Fique !

ELISA;

Oh.! Não... Não posso demorar-me... Não devo I Quiz unicamente agratlecer-lhe... Na presença de-meu pai não teria animo.

JORGE. .

Porque, Elisa ?

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— 111 —

ELISA i • - • r '

Não sei l... Ha'; certas* cousas que...! Não posso éx-» píitíaV-.. Más só áo senhor asfdiria 1

'*" * ' '- , ' , •' JORGE,

Tem 'razão, Elisa! Se ha pudor sublime' é o áaf-a|ma.

> , -'. . ELISA.

Sertí1 talvez por isso... Et* conheço que é impró­prio vir aqui;,. Porém'hontem a desgraça me arras­tou sorri consciência do que.j, fazia !• Hojo foi a grati­dão que. me trouxe ! •-* -* '.

' "- * • JORGE.

Uma vez: por't^das,'Elisa. Não "tem que me agra-

">.>' • :•• , :{-t ELISA».

' Oh 1 Sr/ Jbrge ! • « " '•'•' ' • JORGE.

'* '

:;Não Èfísa.. O que fiz fòípor egoísmo. Não deffen-dia.a'minha felicidade? E se alguém deve ser*grato, não ,sou euf,'

ELISA.

O que o senhor r chama a sua- felicidade^ w8o > é também á minha ? Fui eu qtíe a dei ou que recebi?...

JORGE, „•

Deü-a. ELISA,

Recebi-a eom a honra e a vida do meu pai. Bem vê -que a gratidão me pertence,,, e a mim • só I ' '••'

JORGE.

De modo algum l

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- liâ — ELISA.

Não m'a roubei... Ê' a minha única riqueza.

JORGE.

fe o-amor»' Elisa?, ELISA.

Esse" nao me* pertence 1 E' seü !..., Bem q sabe I' Adeus.

JORGE, :>

Aíé jogo então? ELISA: .;

Até logo» sim... Onde está Joana?

JORGE.

Joana ?-^-Lá dentro... Sahio:. creio...

ELISA.

* •

Ainda hoje não à vi!.....Desde, homem, á tarde !.i. JORGE.

Esteve occupada talvez.

ELISA.

Ralbe com ella para iião ser ingrata !... É' verdade !... O que ficou de me dizer hontem ?...

JORGE. ' ,

Depois, Elisa 1 ,, ELISA.

Também o senhor hoje vai deixando tudo para depois. Quando se roalisarão todas, as suas promessas?...;

JORGE.

No dia cm que se realisarem as minhas esperan­ças'.'

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— 11& —

ELISA. ,

Ahi... Tem bem qiie;esperarj

' , : JORGE.

Nüp hade ser tão má..

íiÇEÍÍÍA II.

- • ' • ' * .

... '.; Oá MESMOS:E JOANA'

\ ELISA.

''-", Aqui está ella ! ' •'••.,;•" J O R G E .

Joana !,.:'- • „ JOANA.

Meu Nonhô!... Como está?:.. Dormio. bem?... Não teve nenhum incommodo, nãô/... Ai! que já não po­dia 1... Passar tanto tempo sem vêr meu ;Nonhô I — Adeus, Iaiá.

;-: .. ELÍSA.

' Estou muito agastada comtigo ;•;. Onde' & que ân-daste?

\ ';. r JOANA.

Eu 1 Ahi mesmo, Iaiá.,

... ELISA.

Mas: chegaste de: foras.*-; Ainda não tinhas visto Sr. Jorge, hoje?

JORGE,

Atnda não. 15

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_ U4 —

ELISA.

Ô senhor ainda não sahio 1... JOANA.

Não vê,. Iaiá... Sim! Eu fui hontem .de tarde... Aproveitei, como o tempo estava bom... Fui lavar uma trouxa de joupa n'uma chácara em Santa Thereza.--,

ELISA.

Por isso é que não te vi mais hontem?

JOANA.

Foi, Iaiá... Foi por isso mesmo*!... Mas Nonhô está triste ! * Não falia com sua mulata Itfo

JORGE,

Já te fallei, Joana. Estou esperando pelo Dr. !

JOANA.

Não tarda, Nonhô... Vem sem falta, Não se agonie.

ELISA.

E eu não quero que me encontre aqui!

JOANA.

Iaiá já vai?... Então quando é ó dia?

ELISA.

Que dia?... Coineças com as tuas graças !

JOANA.

Ora, isso é uma cousa tratada. Não é, Nonhô f

JORGE.

Só falta o que tu sabes, Joana 1

ELISA.

O que?... Não me dizem?

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— 115 — JORGE.

E' um segredo ! JOANA.

; Iaiá, quer/ sa.bejr ? •''" ''*••"' "•"'•• ";';., E L I S A .

Quero, sim !...' E' a meu respeito?

JOANA.

Escute,Iaiá;*.'.'Nó ouvido. É' o vestido que está se "fazendo. ,

,,' * ' , , ; o - • . .ELISA.

Mentirosa!... Cuidas que eu-acredito?

l JOANA. V'V . -^ - ' '

Si, eu "êtt que heide cosel-o com estas mãos'1

. * ELISA.

Antes disso tens muito que coser. '

JOANA.

O enxoval! Não é, Iaiá1? ,

ELISA. -

Joana! Por, tüa causa não heide vir mais aqui. sahe ) . ; . . , . ; , . • .. ; "'. »;

SCENA I I I .

JOANA E JORGE. i

JORGE.

Como te tratou aquelle homem, Joana?... Não ima-

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— 116 —

ginas quanto me arrependi... Entretanto si o não f& zesse, quem sabe o que aconleria ! i

JOANA.

Não tenha" cuidado, Nonhô! Joana vive em toda a parte... O que tem é" que sente um aperto de.cora­ção quand» não pôde vêr seu Nonhô !

JQRGE.

Também eu! Toda a noite não ,püdé ^socegar... Faltava-me alguma cousa,

JOANA.

Deveras, Nonhô, sentio que sua. Joana se fosse em-"; bora I... Como Nonhô é bom 1 Como quer. bem á sua Joana.!

JORGE. >

Pois duvidavas ? JOANA.

Então eu não sei que Nonhô me estima \y•r.^n" ; s&

JORGE. p/sl

Muito!... E o Dr. que não chega !

JOANA.

Não pôde tardar ! Em quanto Nònhô espera, eu vou'1

endireitar isto... Como hade estar tudo n'uma desor­dem I

JORGE.

Oe certo!,.. Não estando tu aqui. . .

JOANA. • »

Por isso eu- hoje logo, que acordei, pedi a Nosso. Senhor Jesus Christo, primeiro pela vicia e saúde de meu Nonhô, de Iaiá D. Elisa, de Sr. Gomes, de Sr. Dr, ; depois prometti á Nossa Senhora uma carmzinhá^ bordada para sou menino Jesus delia, o que está ria

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— 117 —

-igreja do Sacramento, si não deixasse, dar nove horas l-erò.S^ranciseo de Paula, sem que. eu viesse vêr meu

Nonhô, tomar a benção a elle, o fazer seu serviço para que não sentisse a falta de Joana. • - *'• , * v ' . : , . -

#fcrk'y '^" 'J0IÚ5E. -' >* :. "-• , v y< • , ; . , . ' . , •

E sou eu , que, jheide cumprir 'a tua promessa.;

' JOANA.

Não é Nonhô qRe-me dá tudo,?... Depois,.das mãos de Nonhô a Virgem ..Santa hade receber com mais gosto.

.; JORGE-

'; ?ÊUa' a receberá do teu''Op^pof. Joana.

,; JOANA. ,

Mas ou é que heide bordar a camízinlia !

JORGE.

Faz-te mal aos olhos o: bordar, ^

,., . y , '' ; ; • V j Q A N Á ^ ' , , ' ; . . - ' ' • , ' ? ' '• •'- v , : " * ' * - 1 '•: • - * " " '

v Para; Nossa .Senhora. i't Para seu Menino Jesus '0a l;. QuaÍP>.; .... .., . •"- '• ' ,'" - JORGE.

Só cqnsinto com a cqndicção de não trabàlhares á noite. ' *

. + ; ' : . " . . , •• J O A N A . .V' •.•-',* . - ;"•

Pois sim, Nonhô. Mas eu nao disse como N >ssa Se­nhora, se valeu de mim t;; -,-? ,"-.

JORGE!

.Como foi? ':'•.'• • •'": •'•;; . ; , , , ; , •• J O A N A . - .*<-.*•

i,,(;0lhe,'.;.|í'ón.hô.1... Vê-se .'mesmo que foi'cousa do Çéo-J; É 4ia;gente,que zomba e nãpqjuer/ acreditar !.'.,

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— 118 —

Pois eu estava pensando no meu canto que volta ha-f via de dar para yêr Nonhô, quando o homem UM, chamou o disse: — Si alguém bater falia pela janelláV e manda esperar. Eu costumo fechar a porta da rua e levar a chave. —

JORGE. A • '

'Deixou-te presa ? JOANA.

Não, Nonhô! Ahi é que está o milagre de Nossa;; Senhora! Eu fiquei fria quando elle disse aquillol...? De repente chega uma carta ! O homem lê, atarahta#: se todo, e lá se vai sem chave, sem nadsfc 1 ^ 3

JORGE.

E sahiste? JOANA-

Fechei tudo direítinho, cerrei a porta da rua e corri| até aqui. X

JORGE.

Não se zangue elle quando voltar !

-JOANA.

Antes disso eu heide estar,lá.Í. Deixe-nie endirei­tar tudo... Espanar a mobília.

JORGE.

Talvez não voltes mais! Chegando o Dr...

JOANA'.,", ;

Quem dera, Nonhô ! * " " , . ' '

JORGE.

Não te hade alegrar mais do que a mim.

JOANA.

Ora, Nonhô querer-se privar de sua,mobília tãobo-í

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— 119 —

lula!;., "Simples, irias bem fejtinhâ !... Estas cadeiras" tão dirèiímhas... enleves !... Estes aparadores... Pare--

;;ce que sè tomou á medida pela casa.

JORGE.

Preferia perder tudo isto a ver-te sahtr de minha casa... E como? ' -

.-' ' '•' JOANA. ,

? O melhor é a gente nap se lembrar mais disto 1 'Oh ! Nonhô I, Que vidro ;é este, que está aqui?

JÒROE.

Qual* Joana? . .- . JOANA.' -

Este, Nohhô. Não vê?>, .:" . JORGE.'

"Cuidado, Joana.,. W• veneno !

JOANA. ; :

Veneno !;,;, Nonhô !... Que quer fazer?... Máo!..,

y . >;, . ! ; * ' '.1 •' JORGE. % „ «•

Ouve!.-..'--"----'-^ . - - ' . , - ' ] JOANA., , ' ' • ' ' ; . - -

, Máo, sim' I.y Nonhô é um ingrato L;.. Meu.Senhor J3eusl... E~e.u não :tiye uma pancada no coração, que |j*e dissesse!... . '••, ,.% ly JORGE.

"•- :Qüe estás ahi a inventar, Joana? Quem te disseque jgste veneno era para mim? ;fe ,• ; ; ' ' '- J O A N A . -'"'":" •,

Ah 1 não era... Mas como veio parar aqui?

JORGE. .

'u Eu te1 explico. Ninguém mais do que tu deve sa-

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— 1*20 —

•ber. E' a "prova da tua generosidade!... O pai de Elisa..". '*

JOANA..

Sr. Gomes ? JORGE.

Queria suicidar-se 1 JOANA.

.. Poi* causa daquella letra ?

JORGE.

Justamente. Elisa tirou-lhe o veneno o me .confes­sou tudo hontem !

' : -'..: - * JOANA.

Que menina! Humml... Não me disse nada,!,Foi delia "que Nonhô tomou o vídro?... Mas não devia deixar". por aqui.

J O R G E . : * , (;; •• i .

Esqueci-me. Tenho tido tantas preoccupações.., Dá | cá.

Eu

guardo

se te

, Nonhô,

• >

descuidas^

rJOANA.

para deitar fora:

JORGE.

JOANA.,

Está nõ seio. Vou atirar ao mar... Pódé algum maW fazejo... ,; ;.-. "

JORGE.. '

^Não o abras! " " ;

JOANA.

Eu!... Nosso Senhor me defenda.

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— íáí -« JORGE. (

Ahi está o Dr.! JOANA.

Ai !... Que Ia fazendo?

JORGE.

Hem !... Que foi ? JOANA.

Naquella afflicção de hontem me esqueci!... Nbnhâ não diga nada a elle do que se passou !... Olhe lá !

JORGE.

Porque? Não queres que elle te admire ?

JOANA.

Nonhô! Fora de graça!... Não diga nada! Por tudo quanto ha !

JORGE.

Tens razão!...

NCEüA IV

OS MESMOS E DR. LIMA,

DR. LIMA.

Então, como se arranjou ?

JORGE.

Achei quem m'e emprestasse, mas com a condição de pagar hoje sem falta.

DR. LIMA.

Muito bem ! Eu fiz o que pude. Hontem nada con­segui.

16

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— 122 — JORGE.

E hoje?... DR. LIMA.

Adeus ! Joana.

JOANA.

Meu senhor passou bem?

JORGE.

Mas então, Dr. ?

DR. LIMA.

0 que lhe disse eu hontem ?

JOUGE.

Que hoje ás 9 horas, se não pudesse antes.

DR. LIMA.

Que horas são ?

JORGE.

Não sei! Empenhei o meu relógio!...

JOANA. •

Hão de ser nove, meu senhor. DR. LIMA.

Menos 5 minutos. Eu aqui estou e o dinheiro co­migo.

JORGE.

Ah! JOANA.

Eu sempre disse 1 Homem de palavra, como meu1

senhor. 1... DR. LIMA.

Espera !; que temos uma couta a ajustar... ..,

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— 123 —

JOANA.

Comigo ?... Eu não üi nada !

DR. LIMA.

Já te íal\o ( a Jorge). Aqui tem. Está nesta cartei­ra um conto de réis. Tire o que precisar.

JORGE.

Preciso de 600$ rs. Tenho 80, hastão-me 520.

DR. LIMA.

Não se acanhe !... Esses 80$ rs são naturalmente o producto do seu relógio empenhado!.,.. Vá desfazer tíssa transacção. Gaste o que ior preciso para pôr < em ordem os seus negócios. Depois fatiaremos.

JORGE.

Não lhe sei agradecer, Dr. ! Se este dinheiro fosse para matar-me a fome, eu não o recebenia com tanta avidez.

DR. LIMA.

Agora a nossa conta, Joana. Jorge não té deu hon­tem um papel?...

JOANA.

-I Meu Senhor !... JORGE,

;. Como soube, Dr. ?

DR. LIMA.

Eu não estava aqui?... Já se esqueceram ?

JORGE.

Estava... mas .. DR. LIMA.

,,* jQuando te deu esse papel, que te disse Jorge?

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•>* 124 —

JOANA.

A que vem isto agora, meu senhor ?

DR. LIMA.

Ainda !.,. Disse-te :— Joana, nesta casa não ha mais nem senhor nem escrava? ( a Jorge), Não foi isto?

JORGE.

Foi, Dr., e repito. DR, LIMA.

Ora bem ! Se eu te ouvir d'aqui em diante al­guma destas palavras, meu ^senhor, sua escrava, saio por aquella porta e não ponho mais os pés aqui 1

JOANA,

Meu... senhor Dr, ! JORGE.

Ralbe 1 Ralhe com ella Dr. Para vêr si emenda-se.

DR. LIMA.

Não venho mais cá e escrevo uma carta a Jorge... expücapdo-lbe o motivo l

JOANA.

Ah!... Vmc. não hade fazer isto ! Eu juro o que quizer.

DR. LIMA.

Estamos entendidos. JORGE.

Dê-me licença, Dr. -Vou sahir um instante para saldar essa divida que me pesa.

DR. LIMA.

Sem cerimonia ! Vá. Em quanto espero, Joana, pre­para alguma cousa, que ainda não almocei.

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— 125 —

JORGE.

Ouves, Joana?! JOANA.

Já. N'um momento 1

DR. LIMA.

Chá e pão, basta !... Oh I Quem toca por aqui ?

J O A N A ,

E» Iaiá. JORGE.

E' a minha vizinha do primeiro andar.

DR. LIMA.

Que não tarda subir ao segundo?

JORGE.

Talvez, Dr.

SCEMA V.

DR. LIMA E JOANA.

DR. LIMA.

Dá-me o jornal !... Aquillo que eu te disse é se­rio, ouviste Joana ?

JOANA.

Ouvi, Sr. Dr. Quer que jure outra vez?

DR. LIMA.

Não é necessário.

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- 126

JOANA.

Ai!.'.. Iaiá D. Elisa vai cantar! Como ella está con­tente hoje ! Coitadinha ! E' uma pombinha sem fel 1... E como canta bem!... Ora, discípula de Nonhô!... Que bonita voz ! . . . Não é Sr. Dr. ?

DR. LIMA.

Muito; mas ha outra que eu acharia mais bo­nita.

JOANA.

Qual ?... Não é capaz.

DR. LIMA.

A tua, Joana... JOANNA.

Gentes!... Que partes de Sr. Dr. I

DR. LIMA.

Se ouvisses o resto... E' a tua quando me disse-res que o almoço está prompto.

í> JOANA. * ' , • .

Santo Deus!... E eu a dar á taramella!... Perdão Sr. Dr.

DR. LIMA.,

Perdôo-te o julgares que com 60 annos tinha ten-ções de namorar-te.

SCEMA .VI.

DR. LIMA.

( Scena muda O Dr lê o jornal, interrompendo

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127

ds vezes a leitura para ouvir o romance francez — L'Aiguille — que Elisa canta; e à final adormece. Pouco depois de acabar o romance, entra Jorge ) .

':'/;' jscEfliA V I I .

DR. LIMA E JORGE.

JORGE.

Que massada ! • DR. UMA.

Hannl... Que é l . . . Que temos?

JORGE.

Estou contrariado, Dr. Não achei o homem.

DR. LIMA-

Não é culpa sua. Elle que o procure.

JORGE.

Fiquei de ir levàr-lhe o dinheiro, eu mesmo.

DR. LIMA.

Voltará depois. JORGE.

Devo pagar-lhe hoje sem falta.

DR, LIMA.

O dia apenas começou. Ha tempo de sobra.

JORGE,

Só o encontrarei de manhã.

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— 128 — DR. LIMA.

Ora* se lhe parece!... Faça disso uma questão de honra ! Já o procurou ; cumprio o seu dever. Elle que appareça.

JORGE.

Aqui ? DR. LIMA.

Então!... Onde hade ser?

JORGE.

Eu é que devo ir á sua casa.

DR. LIMA.

Hade poupara-lhe esse iíicommòdo. Não digo !

SCEMA VI I I .

OS MESMOS, ELISA E GOMES.

GOMES.

Não é uma visita, Sr. Jorge, que viemos fazer-lhe, minha filha e eu.

JORGE.

Sente-se, D. Elisa... Sr. Gomes, Dr. !...

GOMES.

Não é uma visita, não. E' uma romaria, como dizem que outr'ora faziam aos lugares santos.

JORGE.

Ora, Sr. Gomes.

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— 129 —

GOMES,

0 Sr. Dr. a quem peço desculpa de minha distrác-ção de hontem...

DR. LIMA.

Não tem de que. Vi que estava indisposto.

G O M E S .

Estava, como pôde estar o homem a qaeni a honra ordena que morra e sua filha orphã pede que viva.

ELISA,

Meu pai!... Esqueça-se 1...

GOMES,

Ao contrario devo lembrar-me ! Devo cõnfessal-o 1 ,: Não temos outro meio de reconhecer a dedicação yídaquelle a quem tu deves a vida dfe teu pai ; e eu |; mais do que a vida. ' JORGE.

Para que voltar a um passado que nos afflige a todos?

GOMES.

Eu nãô conheço egoísmo mais cruel do que o do bemfeitor que recusa o reconhecimento dàquelles a

.: quem soccorreu. A gratidão, Sr. Jorge, não é só um • dever; é também um direito.

DR, LIMA.

% um direito sagrado 1

' , ; '" '>?f/V V JORGE. , '

Porém, Dr., o Sr. Gomes nada me tem a agrade­cer. Elle o sabe ; e vou dar-lhe a prova. Estamos entre amigos, Elisa.., seu pai e o meu...

17

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— 130 — DR. LIMA.

Pela affeição unicamente!... Nunca lhe fiz servi­ços...

JORGE.

Dr 1... Não ha meia hora !

GOMES.

Vê, Sr. Jorge 1 0 senhor mesmo me dá razão.

JORGE.

Não, ^ senhor! Ouça... Eu concebi ha mezes uma esperança de cuja realisação depende a ventura de minha vida. Amava... Amo sua filha !

GOMES.

Ella mo confessou, Sr. Jorge.

JORGE.

Confessou-lhe unicamente que eu a amava ?

GOMES.

E que era... ELISA.

Meu pai!... GOMES.

Não cores, minha filha. O amor puro, como o teu, é a coroa do virgem de uma moça. Elisa também, o ama, Sr. Jorge.

JORGE.

Que fiz eu pois, Sr. Gomes, senão velar sobre a minha felicidade?... Fui apenas egoísta!... Não lenho razão, Dr. ?...

DR. LIMA.

Todos têm razão ; mas é preciso que se entendam.

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— 131 —

Definamos a situação, como dizem os estadistas, quando a querem embrulhar. — Jorge pede-lhe a mão de sua íilha> Sr. Gomes.

GOMES.

Respende, Elisa. ELISA.

Não... Logo..., meu pai 1

GOMES.

E' de ti unicamente que elle deve receber a tua mão !

ELISA."

Elle já não sabe?

JORGE.

E' verdade I Só esperamos pelo seu consentimento.

GOMES.

Não tenho consentimento a dar... Faço um voto pela felicidade de ambos.

DR. LIMA.

Isto é mais claro. Marquemos o dia.

GOMES.

O Sr. Jorge dirá. ELISA.

Já !... Que pressa ! JORGE.

Elisa é quem deve marcar.

ELISA.

Eu não 1 DR. LIMA.

Pois marco eu. E aposto que vão todos ficar sa­tisfeitos.; Que clia ó hoje? :

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— 132 — JORGE.

Terça feira.

DK. LIMA.

Em três dias faz-se um vestido... Sabbado !

GOMES.

Muito bem. JORGE.

Concordo. ELISA.

Tão cedo !... DR. LIMA.

Quanto á casa, esta tem as accomodações necessá­rias.

JORGE.

Ainda não a vio, Sr. Gomes? Venha. Quero mos­trar-lhe o gabinete que lhe destino.

GOMES.

A' mim !... JORGE.

Desejo que Elisa tenha seu pai junto de si. Entre­mos. E' casa de estudante... Não repare.

SCENA IX.

DR. LIMA E ELISA.

DR. LIMA.

Ha pouco, sem o suspeitar, deu-me grande prazer, minha senhora. Ouvia-a cantar.

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— 133 —

ELISA.

Àh t Estava aqui ?

DR. LIMA.

Era um romance francez 1...

ELISA,

Aprendi-o a cantar sentindo-o. Por isso gosto muito delle.

DR. LIMA.

Tem uma finda voz ! ELISA.

Qual!!.. Ha muitos dias que não cantava! Hoje live umas saudades !

DR. LIMA.

Da musica ou do mestre?...

SCEI^ÍA X .

OS MESMOS E PEIXOTO.

PEIXOTO.

Viva, senhor ! DR. LIMA.

Tire.o chapéo!..- Não vê que estA diante de uma senhora ?

PEIXOTO.

Não reparo nestas cousas..'. A minha escrava?...

DR. LIMA'.

Que escrava ? O senhor sabe a quem falb ?

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— 134 — Vi PEIXOTO. í-

\ A escrava que o tal Sr. Jorge me vendeu!... Fu-

gio-me esta manhã !... Está acoutada aqui I ELISA.

Joana ! DR. LIMA.

Tranquillise-se, D. Elisa. Joana está forra. Jorge deu-lhe hontem a carta á minha vista.

ELISA.

Ella o merecia ! PEIXOTO.

Que historias está ahi o senhor a contar ?

DR. LIMA.

Digo-lhe a verdade.

PEIXOTO.

Pois enganou-se!... Quero já para aqui a minha escrava!... Senão vou a policia!... E' uma velhaca-da!

DR. LIMA.

Lembro-lhe que não está em sua casa ! De que es­crava falia o senhor?

PEIXOTO. i

Quantas vezes quer que lhe diga?... Da mulata Joana que comprei hontem !

ELISA.

Ah! DR. LIMA.

O senhor mente !

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— 135 —

PEIXpTO.

Veremos!... Eu lhe mostrarei para que serve este papel.

( O Dr. lê o papel na mão de Peixoto. Joana ap-pareceno fundo ) .

SCENA XI.-

OS MESMOS, JORGE E GOMES.

JORGE.

Calle-se.

GOMES.

Este miserável aqui! PEIXOTO.

A minha eserava ! DR. LIMA,

Desgraçado !...

JORGE.

Dr. I...

DR. LIMA'., -%

Tu vendeste tua mãi!' ( Joana foge ) .

JORGE.

Minha mãi !... Ah !

DR. LIMA.

Tua mãi, sim!... Digo-o, alto; porque te 'sei bas­tante nobre para não renegares aquella que te deu o ser. ( Pequena pausa )'.

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— 136 —

PEIXOTO.

Em todo o caso,.. Eu não perco o meü dinheiro^

DR. LIMA.

Quanto se lhe deve ?

PEIXOTO.

Seiscentos mil réis I ( Jorge atira o dinheiro ) .

DR. LIMA.

Dè-me este papel !

JORGE.

Oh ! Não o rasgue, Dr. !

DR. LIMA.

Para que conservar esse testemunho? JORGE.

Para exprobrar-lhe o que me obrigou a fazer !... Por que foi ella... quem tratou com esse homem!

PEIXOTO.

Lá isso é a pura verdade.

JORGE,

A carta rasgou-a 1 RR. LIMA.

Amor de mãi!... JORGE.

Ah! Meu pail... Meu pai!... Como deves soffref neste momento 1

DR. LIMA.

Elle não teve tempo de declarar... A morte foi re­pentina.

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137 — JORGE.

E ter vivido 20 annos com ella, recebendo todos os dia*s, a todo o instante as effusões desse amor su­blime!... E não adivinhar!... Não pressentir!... Per­dão, minha mãi!... Onde está ella? ( sahe ) .

SCEWA X I I .

DR. LIMA, GOMES, ELISA, PEIXOTO E VICENTE.

VICENTE ( a Peixoto ) .

Alto lá, camarada ! (segura-o pela gola ) .

PEIXOTO.

Isto são modos I

VICENTE.

Bom dia, Sr. Dr. e companhia.

DR. LIMA.

Adeus! PEIXOTO.

Largue-me, senhor !• VICENTE.

Está seguro! Deixe-se de partes.

PEIXOTO.

Com que direito me quer privar de sahir ?

VICENTE.

Já lhe digo (lê). « Mandado de prisão passado a requerimento do Dr. Promotor!... »

18

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— 138 •-"

PEIXOTO.

Eu preso !... Porque?

VICENTE.

Por causa de certas letras...

PEIXOTO.

E* falso!

VICENTE.

São falsas mesmo as taes letras !

PEIXOTO.

Sr. Vicente... VICENTE.

Romão, meu caro senhor, Romão... Tenha a bon­dade de, seguir-me.

GOMES.

Deus é justo ! •

( Elisa entra rapidamente na akova ) .

SCEUA X I I I .

DR. LIMA, GOMES E JORGE.

JORGE'.

Vio-a, Dr. ?... Não a encontrei?... Procurei tudo!

DR. LIMA.

Socegue,- Jorge 1 Deve ter sahido... Ella nada sabe aioda ! Seja 'prudente... Não lhe annuncie de repente!... (J choque pôde ser terrível !t..

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— 139 —

JORGE.

Não me sei conter!... Quero abraçal-a !... Minha mãi!... Que prazer supremo que eu sinto em pro­nunciar este nomel... Parece-me que apprendi-o ha pouco!...

GOMES.

Sr. Jorge... JORGE.

Ah! desculpe... Esqueci-me que estava aqui... O que acabo de saber...

GOMES.

Penalisa-me bastante, creia.

JORGE.

Como, Sr. Gomes ? GOMES.

Sinto muito, porém... O Sr. comprehende a minha -posição... As considerações sociaes...

JORGE.

Acabe, senhor!... GOMES.

Esse casamento não é mais possível l

JORGE.

Ah ! , DR. LIMA.

Porque razão, Sr. Gomes ?

JORGE.

Porque não reneguei minha mãi !

GOMES.

Sr. Jorge, eu o estimo... porém...-

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—-140

JORGE. \

Tem razão, Sr. Gomes 1... O .senhor mé-julga m^> Tüigno de pertencer á sua família porque eu sou filho) daquella que se vendeu para salvar essa mesmlfi honra em nome da qual me repelle !...

GOMES.

Que diz, senhor ?...

ELISA C fora ) .

Jorge !... Sua mãi !... :'

JORGE.

Elisa !.., A©nde ?... ( Entra na álçova f.

GOMES. "^

Nas minhas circumSittacias que faria, Sr. Dr. T

DR. LIMA.

Não ha considerações nem prejuisos, sentíbr, que me obriguem a commetter uma ingratidão.

SCEMA X I V .

DP». LIMA, GOMES, ELISA, JORGE E JOANA.

JORGE. ,

Dr., accuda !... Depressa !...

DR. LIMA.

O que?

ELISA.

Este vidro !...

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— 141 —

GOMES.

'Envenenada !.. . JOANA.

Um ataque !... JORGE.

; | » E ' o mesmo veneno que ella arrancou-lhe dos la-bijos... Sr. Gomes 1

DR. LIMA. .4

Que fizeste, Joana? JOANA.

Nada, meu... Sr. Dr. 1 JORGE.

;Salve-a, meu amigo 1...

'»; DR. LIMA

Só Deus !.,. A sciencia nada pôde í

JORGE.

' Minha mãi!.., JOANA,

'. Não !... Eu não sou sua mãi, Nonhô... O que elle disse, Sr. Dr., não é verdade... Elle não sabe...

DR. LIMA.

Joana !... JOANA.

Não é verdade, nãol... Pois já se vio isso?... Eu ser mãi de um moço como Nonhô!... Eu uma esr-crava!... Não vê, Nonhô, que elle se engana.

JORGE.

Me perdoa, minha mãi, não te haver conhecido 1

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- 142 — JOANA.

Sr. ÍDÍ\ quer dizer que eu fui ama de Nonhô!... Que Nonhô erajjneu... meu... de leite... sói... só de leite !

JORGE. u

Chama-me, teu filho!... Eu te supplico!...

JOANA.

Mas não é... não \... Eu juro... i

DR. LIMA.

Joana!... Deus nos ouve!

JOANA. / •

Por Deus mesmo... Elle sabe porque digo isto !... Por Deus mesmo... juro... que... Ah!... W

JORGE.

Morta !... ELISA. »

Minha boa Joana !...

JOANA.

Escute, Iaiá Elisa... E' a ultima cousa que lhe peço... Iaiá hade -fazer meu Nonhô muito feliz !... Me pro-mette?... Queira a elle tanto bem, como Joana que­ria... Mais, nem Iaiá nem ninguém pôde... não!

JORGE.

Minha mãi 1... Porque foges de teu filho, apeÉBs elle te reconhece ?

JOANA.

Adeus, meu Ndnhô... Lembre-se ás vezes de Joana... Sim?... Ella vai rezar no céo por seu Nonhô... Mas antes eu queria pedir...

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. ! — 143 —

j / ) JORGE.

çj| que, mãi? Pede-me !...

JOANA.

/Njonhô não se zanga ?

JORGE.

sou teu filho!... Dizei... Uma Vez ao menos... "sjelnome.'

7 \ JOANA.

' !... Nao !.,. Não posso !

.TQRGE.

Smfr * ''•• FaNa! Falia

i ,'• JOANAA \ • ' * . '

lljE' um atrevimento!:. Mas eu queria antes de mor-ípr. . . beijar sua... sua testa, meu Nonhô!...

Vy

JORGE.

">\ Mãi!...

í l ' w - . '•/'' .JOANA. „,*.

i-y> Al!. . . Joana morre feliz!

JORGE.

Abane!mando seu filho.

JOANA.

Nanhôl... Elle... Elle se enganou!... Eu n ã o . . . fj Eu não sou tua mãi, não... meu filho ! ( Morre ) .

JGRGE (de joelhos ) . i\ Minha mãi!...

í ELISA.

E minha, Jorge 1...

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• 1 4 4 —*<

GOMES.

Ella abençoe tão santa união !...

t DR. LIMA.

E. me perdoe o mal que #ie fiz 1

Eim do P r ama.

Typ. de Paula Brito — 1862.

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