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84 DIARIO DE PERNAMBUCO - RECIFE, SEXTA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2000 Suspensas N escavaçoes no Marco Zero Obra de g alerias pluviais estava danificando sítio arqueológico Silvia Baisch ESPECIAL PARA O DIARIO O Ministério Público Federal determinou ontem a parali- sação das obras realizadas pela Empresa de Manutenção e Lim- peza Urbana (Emlurb) na avenida Al- fredo Lisboa, nas imediações do Marco Zero. As escavações feitas du- rante a implantação de galerias plu- viais revelaram, uma semana, es- truturas arqueológicas dos séculos XVllfXVIIT. De aéordo com a recomen- dação feita pelo procurador da Re- pública Marcos Costa, as obras esta- vam sendo realizadas sem o menor cuidado com a preservação do patri- mônio arqueológico. Caso a deter- miriação judicial não seja cumpri- da, a legislação prevê pena de um a três anos de reclusão e multa, por se constituir como crime contra o orde- namento urbano eo patrimônio cul- tural. O prazo para que os trabalhos sejam suspensos é de cinco dias. No do(4mento, ainda são citados o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Se- cretaria de Planejamento, Urbanis- mo e Meio Ambiente do Recife. Ao primeiro, cabe embargar as obras da Emlurb que estejam sendo reali- zadas em desacordo com a legisla- ção que protege os vestígios arqueo- lógicos e o patrimônio histórico na- cional. O lphan deve também exigir, antes de qualquer escavação no bair- ro do Recife, a apresentação de pro- jeto técnico, sob a de de um arqueólogo. A secretaria de Planejamento cabe evitar que se inicie qualquer escavação na mesma área sem esses pré-requisitos. A rminação cau ou revolta no presidente da Emlurb, Eduardo Sivini. "Desde o início fizemos tudo dentro da lei. As obras foram sus- pensas assim que os primeiros ves- tígios foram encontrados e reco- meçaram quando técnicos do Iphan começaram a acompanhar. Inclu- sive, nós estamos dando todo o apoio, bancando o trabalho deles". Si- vini ressaltou que a Emlurb não es- tava destruindo o patrimônio e sim aperfeiçoando os sistemas de drena- gem da cidade. SUSPENSAO "Não temos um ca- dastramento do que existe no sub- solo da cidade. De qualquer forma, mesmo sabendo que estava cum- prindo meu trabalho de forma séria, não vou esperar pelo prazo". A reportagem do DIARIO esteve no local e comprovou que as escava- ções foram suspensas às 15h30 de ontem. "Este foi o momento de cumprir a lei, depois vêm as dis- cussões. Mas não posso ser chama- do de criminoso". Para o coordenador do laborató- rio de arqueologia da UFPE, profes- sor Marcos Albuquerque, não tem sentido as obras serem paralisadas agora. "O embargo está com pelo menos 200 horas de atraso". Ele con- corda, no entanto, que os trabalhos devem ser iniciados com o projeto e acompanhamento técnicos. O su- perintendente do Iphan, Roberto de Hollanda, também concordou que a determinação veio com atraso. Mesmo tendo 5 dias para cumprir recomendação do MP, Em Escombros podem ser de igreja Os pesquisadores do laborató- rio de Arqueologia da Universida- de Federal de Pernambuco (UFPE) ainda não podem precisar que tipo de construção foi descoberta nas escavações da Emlurb. Duas hipóteses estão sendo considera- das. A mais provável é a de que os escombros façam parte de uma antiga igreja construída pelos por- tugueses por volta de 1750, a do . Corpo Santo. Mas as estruturas também podem pertencer à anti- ga muralha que protegia o Reci- fe em 1637. No local das escavações foram encontradas mais de 500 peças, entre cachimbos e tijolos holan- deses, louças (faiança), peças me- tálicas e até ossos de animais. A maior probabilidade de que esses objetos pertençam à igreja é por- que foram encontradas cantarias trabalhadas, caracteristicas fortes para uma igreja. Além disso, as plantas da época indicavam a pre- sença do Corpo Santo no local. 4 Não podemos assegurar, no entanto, nada de forma definiti- va. A hipótese da muralha ainda é muito forte. Seria a parte leste do muro que defendia a cidade", explicou Albuquerque. A dúvida deve acabar em menos de 30 dias, que as peças encontradas serão submetidas a mais de 100 itens de análise O prc\fe.ssor e historiador Edval- do Arleto reforçou a hipótese de que as estruturas encontradas tenceriam à Igreja do Corpo Santo. "Não visitei as escavações, mas o local é o mesmo onde um dia exis- tiu a igreja, demolida entre 1911 e 1917. Na época, foi considerada que a sua preservação atrapalha- ria a reformulação do bairro do Re- cife". O historiador explicou que, se fosse hoje, dificilmente a cons- - trução viria abaixo. "Certamente seriam feitos projetos arquitetô- nicos para preservar a igreja". De acordo com o historiador, o mármore usado na construção do Corpo Santo foi aproveitado como meio fio em vários trechos da ci- dade, inclusive nos arredores do prédio da Faculdade de Direito da UFPE, construída na mesma época. P LACAS EM B RAILLE D eficientes suger em mod ificações Deficientes visuais aproveitaram o Dia Nacional de Luta da Pessoa Com Deficiência, comemorado ontem, para sugerir alterações nas placas em Braille afixadas nas paradas de ôni- bus da avenida Nossa Senhora do Carmo, inauguradas ontem pela Empresa Metropolitana de Trans- portes Urbanos (EMTU), com um semáforo sonoro. Eles conside- raram a altura em que as placas estão colocadas muito baixa, o que pode dificultar a leitura com as mae p i p 8 fl maii ah 5 Além disso, criticaram a falta de ou- tros meios de facilitar a circulação de deficientes fisicos. "A situação das calçadas da cidade, por exemplo, é um obstáculo violen- to ao ir e vir do deficiente", declarou o superintendente de Apoio à Pessoa com Deficiência, Manoel Aguiar. Ele próprio, que é cego, sugeriu a mudan- ça da posição onde as placas estão co- locadas ao presidente da EMTU, Car- los Collier. ·o ideal é que ele fique mais para o alto, pois é mais fácil que pessoas mais baixas estiquem a mão para ler do que os altos se aga- charem", explicou. O coordenador da Associação Brasileira de Educado- res de Deficientes Visuais, Gildo Soa- res, sugeriu também que a escrita fosse colocada no sentido vertical. O presidente da EMTU afirmou que as sugestões servirão para a ins- talação das próximas placas. "Preten- demos colocar 80 a cada mês, <rté atingir todos os abrigos de ônibus do Recife, que são cerca de mil", ga- rantiu. Outra meta da EMTU é colo- car mais 50 sinais sonoros, até o final do ano, nos pontos indicados como sendo os de maior necessida- de pelas associações de deficientes. O sinal funciona emitindo um apito quando estiver livre para pedestres. A fabricação de cada placa custa R$ 30,00. A colocação delas atende às exigências da lei municipal16.591, que obriga a utilização do método Braille em locais públicos. os se- máforos sonoros custam R$ 4 mil.

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84 DIARIO DE PERNAMBUCO - RECIFE, SEXTA-FEIRA, 22 DE SETEMBRO DE 2000

Suspensas N escavaçoes no

Marco Zero Obra de galerias pluviais estava danificando sítio arqueológico

Silvia Baisch ESPECIAL PARA O DIARIO

O Ministério Público Federal determinou ontem a parali­sação das obras realizadas

pela Empresa de Manutenção e Lim­peza Urbana (Emlurb) na avenida Al­fredo Lisboa, nas imediações do Marco Zero. As escavações feitas du­rante a implantação de galerias plu­viais revelaram, há uma semana, es­truturas arqueológicas dos séculos XVllfXVIIT. De aéordo com a recomen­dação feita pelo procurador da Re­pública Marcos Costa, as obras esta­vam sendo realizadas sem o menor cuidado com a preservação do patri­mônio arqueológico. Caso a deter­miriação judicial não seja cumpri­da, a legislação prevê pena de um a três anos de reclusão e multa, por se constituir como crime contra o orde­namento urbano e o patrimônio cul­tural. O prazo para que os trabalhos sejam suspensos é de cinco dias.

No do(4mento, ainda são citados o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Se­cretaria de Planejamento, Urbanis­mo e Meio Ambiente do Recife. Ao primeiro, cabe embargar as obras da Emlurb que estejam sendo reali­zadas em desacordo com a legisla­ção que protege os vestígios arqueo­lógicos e o patrimônio histórico na­cional. O lphan deve também exigir, antes de qualquer escavação no bair­ro do Recife, a apresentação de pro­jeto técnico, sob a res~onsabilida­de de um arqueólogo. A secretaria de Planejamento cabe evitar que se

inicie qualquer escavação na mesma área sem esses pré-requisitos.

A d~t rminação cau ou revolta no presidente da Emlurb, Eduardo Sivini. "Desde o início fizemos tudo dentro da lei. As obras foram sus­pensas assim que os primeiros ves­tígios foram encontrados e só reco­meçaram quando técnicos do Iphan começaram a acompanhar. Inclu­sive, nós estamos dando todo o apoio, bancando o trabalho deles". Si­vini ressaltou que a Emlurb não es­tava destruindo o patrimônio e sim aperfeiçoando os sistemas de drena­gem da cidade.

SUSPENSAO ~ "Não temos um ca­dastramento do que existe no sub­solo da cidade. De qualquer forma, mesmo sabendo que estava cum­prindo meu trabalho de forma séria, não vou esperar pelo prazo". A reportagem do DIARIO esteve no local e comprovou que as escava­ções foram suspensas às 15h30 de ontem. "Este foi o momento de cumprir a lei, depois vêm as dis­cussões. Mas não posso ser chama­do de criminoso".

Para o coordenador do laborató­rio de arqueologia da UFPE, profes­sor Marcos Albuquerque, não tem sentido as obras serem paralisadas agora. "O embargo está com pelo menos 200 horas de atraso". Ele con­corda, no entanto, que os trabalhos devem ser iniciados com o projeto e acompanhamento técnicos. O su­perintendente do Iphan, Roberto de Hollanda, também concordou que a determinação veio com atraso.

Mesmo tendo 5 dias para cumprir recomendação do MP, Em

Escombros podem ser de igreja Os pesquisadores do laborató­

rio de Arqueologia da Universida­de Federal de Pernambuco (UFPE) ainda não podem precisar que tipo de construção foi descoberta nas escavações da Emlurb. Duas hipóteses estão sendo considera­das. A mais provável é a de que os escombros façam parte de uma antiga igreja construída pelos por­tugueses por volta de 1750, a do

. Corpo Santo. Mas as estruturas também podem pertencer à anti­ga muralha que protegia o Reci­fe em 1637.

No local das escavações já foram encontradas mais de 500 peças, entre cachimbos e tijolos holan­deses, louças (faiança), peças me­tálicas e até ossos de animais. A

maior probabilidade de que esses objetos pertençam à igreja é por­que foram encontradas cantarias trabalhadas, caracteristicas fortes para uma igreja. Além disso, as plantas da época indicavam a pre­sença do Corpo Santo no local.

4 Não podemos assegurar, no entanto, nada de forma definiti­va. A hipótese da muralha ainda é muito forte. Seria a parte leste do muro que defendia a cidade", explicou Albuquerque. A dúvida deve acabar em menos de 30 dias, já que as peças encontradas serão submetidas a mais de 100 itens de análise

O prc\fe.ssor e historiador Edval­do Arleto reforçou a hipótese de que as estruturas encontradas per~

tenceriam à Igreja do Corpo Santo. "Não visitei as escavações, mas o local é o mesmo onde um dia exis­tiu a igreja, demolida entre 1911 e 1917. Na época, foi considerada que a sua preservação atrapalha­ria a reformulação do bairro do Re­cife". O historiador explicou que, se fosse hoje, dificilmente a cons­-trução viria abaixo. "Certamente seriam feitos projetos arquitetô­nicos para preservar a igreja".

De acordo com o historiador, o mármore usado na construção do Corpo Santo foi aproveitado como meio fio em vários trechos da ci­dade, inclusive nos arredores do prédio da Faculdade de Direito da UFPE, construída na mesma época.

PLACAS EM BRAILLE

Deficientes sugerem modificações

Deficientes visuais aproveitaram o Dia Nacional de Luta da Pessoa Com Deficiência, comemorado ontem, para sugerir alterações nas placas em Braille afixadas nas paradas de ôni­bus da avenida Nossa Senhora do Carmo, inauguradas ontem pela Empresa Metropolitana de Trans­portes Urbanos (EMTU), jun~o com um semáforo sonoro. Eles conside­raram a altura em que as placas estão colocadas muito baixa, o que pode dificultar a leitura com as mae p i p 8 fl maii ah 5 Além disso, criticaram a falta de ou­tros meios de facilitar a circulação de deficientes fisicos.

"A situação das calçadas da cidade, por exemplo, é um obstáculo violen­to ao ir e vir do deficiente", declarou o superintendente de Apoio à Pessoa com Deficiência, Manoel Aguiar. Ele próprio, que é cego, sugeriu a mudan­ça da posição onde as placas estão co­locadas ao presidente da EMTU, Car­los Collier. ·o ideal é que ele fique mais para o alto, pois é mais fácil que pessoas mais baixas estiquem a mão para ler do que os altos se aga­charem", explicou. O coordenador da Associação Brasileira de Educado­res de Deficientes Visuais, Gildo Soa­res, sugeriu também que a escrita fosse colocada no sentido vertical.

O presidente da EMTU afirmou que as sugestões servirão para a ins­talação das próximas placas. "Preten­demos colocar 80 a cada mês, <rté atingir todos os abrigos de ônibus do Recife, que são cerca de mil", ga­rantiu. Outra meta da EMTU é colo­car mais 50 sinais sonoros, até o final do ano, nos pontos indicados como sendo os de maior necessida­de pelas associações de deficientes. O sinal funciona emitindo um apito quando estiver livre para pedestres. A fabricação de cada placa custa R$ 30,00. A colocação delas atende às exigências da lei municipal16.591, que obriga a utilização do método Braille em locais públicos. Já os se­máforos sonoros custam R$ 4 mil.