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 4  A Neur o s e n ar c ísi c a Tomando por base a história do desenvolvimento do Eu, Freud inicialmente irá afirmar não haver neurose narcísica na infância. Sua argumentação é centrada na relação entre o desenvolvimento do Eu e de seus objetos e a escolha das neuroses. Assim, propõe uma seqüência em que as neuroses são apresentadas de acordo com o momento de sua aparição na vida do sujeito. A neurose de angústia é seguida da histeria de conversão, que surge em torno dos quatro anos. A neurose obsessiva é situada como aparecendo na pré- adolescência. A demência precoce tem seu aparecimento remontado à puberdade e a melancolia-mania, assim como a paranóia, têm sua eclosão próxima à maturidade.  Nessa concepção, as fixações em etapas anteriores do desenvolvimen to da libido como determinantes das disposições para as afecções psíquicas estão  presentes na cara cterização da mela ncolia como se ndo baseada numa identificação narcísica com o objeto. É interessante ressaltar a escala desenvolvimentista para situar as neuroses narcísicas. A paranóia tem sua gênese remetida a uma regressão à escolha homossexual e narcisista de objeto, a melancolia a uma fase narcísica, e a demência precoce ao auto-erotismo. A condição do aparecimento da melancolia é uma identificação narcisista descrita em “Totem e Tabu” (1913) como uma identificação com o pai primitivo morto, que teria sido admirado como um tipo ideal. Portanto, esta identificação se caracteriza por estar referida a um ideal, de natureza narcisista (Freud, 1913/1974,  p.73-81). O campo clínico da melancolia e os mecanismos do luto serão o terreno fértil de emergência dos conceitos citados. A teoria da melancolia desenvolvida em 1917 enfatiza a ambivalência e o narcisismo envolvidos na constituição do Ideal do Eu. Resulta de perturbações relativas ao Ideal do Eu, diferenciando-se do modelo da neurose obsessiva, que toma como apoio a construção do Supereu.  Neste ponto, nos deteremos para diferenciar estas instâncias, que aparecem citadas indistintamente na obra freudiana. No texto de 1917, para    P    U    C      R    i   o      C   e   r    t    i    f    i   c   a   ç    ã   o    D    i   g    i    t   a    l    N       0    2    1    2    0    5    8    /    C    A

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Narcisismo

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  • 4 A Neurose narcsica

    Tomando por base a histria do desenvolvimento do Eu, Freud

    inicialmente ir afirmar no haver neurose narcsica na infncia. Sua

    argumentao centrada na relao entre o desenvolvimento do Eu e de seus

    objetos e a escolha das neuroses. Assim, prope uma seqncia em que as

    neuroses so apresentadas de acordo com o momento de sua apario na vida do

    sujeito. A neurose de angstia seguida da histeria de converso, que surge em

    torno dos quatro anos. A neurose obsessiva situada como aparecendo na pr-

    adolescncia. A demncia precoce tem seu aparecimento remontado puberdade e

    a melancolia-mania, assim como a parania, tm sua ecloso prxima

    maturidade.

    Nessa concepo, as fixaes em etapas anteriores do desenvolvimento da

    libido como determinantes das disposies para as afeces psquicas esto

    presentes na caracterizao da melancolia como sendo baseada numa identificao

    narcsica com o objeto. interessante ressaltar a escala desenvolvimentista para

    situar as neuroses narcsicas. A parania tem sua gnese remetida a uma regresso

    escolha homossexual e narcisista de objeto, a melancolia a uma fase narcsica, e

    a demncia precoce ao auto-erotismo.

    A condio do aparecimento da melancolia uma identificao narcisista

    descrita em Totem e Tabu (1913) como uma identificao com o pai primitivo

    morto, que teria sido admirado como um tipo ideal. Portanto, esta identificao se

    caracteriza por estar referida a um ideal, de natureza narcisista (Freud, 1913/1974,

    p.73-81).

    O campo clnico da melancolia e os mecanismos do luto sero o terreno

    frtil de emergncia dos conceitos citados. A teoria da melancolia desenvolvida

    em 1917 enfatiza a ambivalncia e o narcisismo envolvidos na constituio do

    Ideal do Eu. Resulta de perturbaes relativas ao Ideal do Eu, diferenciando-se do

    modelo da neurose obsessiva, que toma como apoio a construo do Supereu.

    Neste ponto, nos deteremos para diferenciar estas instncias, j que

    aparecem citadas indistintamente na obra freudiana. No texto de 1917, para

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    nomear uma instncia crtica que se separa do Eu e parece domin-lo, como

    acontece na melancolia atravs da crtica e da autodepreciao, Freud concebe um

    sistema que compreende duas estruturas parciais: um Ideal do Eu e uma instncia

    crtica.

    Mais tarde, em 1923, num sentido lato e pouco diferenciado, o Supereu

    engloba duas funes: uma crtica e uma ideal, encarnando a lei e proibindo

    transgresses. A formao do Supereu na vertente da lei o correlato do declnio

    do complexo de dipo, como resultado de uma srie de precipitados em virtude da

    operao realizada pela ameaa de castrao. Na trama edpica so valorizadas as

    identificaes com os pais, com seus substitutos e com os ideais coletivos,

    marcando a vertente cultural que porta, atravs da idealizao.

    Somente em 1932, nas Novas Lies de Introduo Psicanlise, Freud

    estabelece as funes do Supereu: a auto-observao, a conscincia moral e a

    funo ideal, desmanchando assim a indistino inicial, de 1923, no artigo O Eu

    e o Isso.

    O Supereu abarca a funo da interdio e, atravs do Ideal do Eu avalia o

    Eu em suas aspiraes. Da, a importncia dessas instncias para o

    desenvolvimento de um modelo para a melancolia.

    Em sua teorizao a partir dos textos freudianos, a melancolia tem como

    ncora uma perda objetal, um modo de ligao objetal narcsica (em oposio de

    apoio), uma identificao narcsica e uma severa autocrtica, resultado da relao

    ambivalente com o objeto perdido.

    Apresentaremos, atravs da anlise do percurso terico do problema

    colocado pela conceituao do narcisismo, os elementos importantes para

    compreender a situao nosogrfica da melancolia em 1924, j dentro da nova

    terminologia dos conflitos interinstncias prprios da lgica estabelecida pela

    segunda tpica.

    Encontramos na Conferncia XXVI (Freud, 1917) uma teoria da libido

    onde identificamos algumas indicaes importantes, que veremos em seqncia.

    Estabelecendo que o conflito patognico se d entre as pulses do Eu e as

    pulses sexuais, Freud liga a produo de angstia s pulses sexuais, ao passo

    que a insatisfao das pulses do Eu no a desencadearia. Desta forma, na

    discusso com Jung a respeito da viso monista das pulses que o psiquiatra suo

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    defendia, Freud mantm sua viso de que o conflito fundamental. Situemos essa

    discusso.

    Freud mantm a hiptese de uma anttese (Freud, 1914/1974, p.96)

    entre as pulses sexuais e as egicas. Tendo como pano de fundo as dificuldades

    com a anlise de Schreber, Jung teria proposto estender o conceito de libido,

    desistindo de seu contedo sexual (Freud, 1914/1974, p.96). De forma

    contundente, Freud afirma:

    Podemos, ento, repudiar a assero de Jung, segundo a qual a teoria da libido no s malogrou na tentativa de explicar a demncia precoce, como tambm, portanto, eliminada em relao s outras neuroses (Freud, 1914/1974, p.96).

    Para manter a distino entre as pulses, Freud toma o narcisismo como

    complemento libidinal do egosmo (Freud, 1917/1974, p.487). Como decorrncia

    dessa linha de pensamento, na Conferncia XXVI afirma que a hiptese de que

    a libido objetal possa se transformar em libido narcsica seria a nica

    possibilidade para resolver o enigma do que se denomina neuroses narcsicas

    (Freud, 1917/1974, p.490). Esta hiptese marca a diferena entre o campo das

    neuroses narcsicas e as psiconeuroses propriamente ditas: a neurose obsessiva e a

    histeria. Partindo dessa tese, Freud afirma, encerrando a discusso com Jung, que

    libido libido sempre, seja orientada para os objetos, seja para o ego. Nunca

    transformada em interesse egosta (Freud, 1917/1974, p.490). Esta hiptese de

    que a libido oscila entre o objeto e o Eu uma importante contribuio.

    Normalmente, essa plasticidade libidinal se manifesta durante o sono, permitindo

    que o indivduo retire a libido dos objetos, retornando para estes ao acordar. Nas

    neuroses narcsicas, existe um processo anlogo, com o recolhimento da libido

    dos objetos e sua volta para o Eu.

    Uma diferena entre as neuroses de transferncia e as neuroses narcsicas

    estabelecida no aspecto clnico, j que o campo dos fenmenos o mesmo, mas

    que as resistncias no caso de uma neurose narcsica so intransponveis (Freud,

    1917/1974, p.493).

    Para avanar nessas questes clnicas a respeito das resistncias preciso

    lanar um olhar por sobre o muro narcsico (Freud, 1917/1974, p.494),

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  • 49

    indicando que, para uma melhor compreenso de determinados sintomas, como a

    megalomania, devem-se buscar elementos que uma teoria sobre o narcisismo

    possa oferecer. Desta forma, o tipo de escolha objetal operado nas neuroses

    narcsicas corresponde a um processo em que o Eu de uma pessoa substitudo

    por um objeto, to semelhante quanto possvel a ele. Freud escreve:

    ... podemos concluir que o melanclico, na realidade, retirou do objeto sua libido, mas que, por um processo que devemos chamar de identificao narcsica, o objeto se estabeleceu no Eu, digamos, se projetou sobre o Eu. [...] O Eu da pessoa ento tratado semelhana do objeto que foi abandonado e submetido a todos os atos de agresso e dio vingativo, anteriormente dirigidos ao objeto (Freud, 1917/1974, p.498).

    possvel encontrar na melancolia o ponto em que se torna vivel obter

    alguma compreenso (insight) da estrutura interna da doena, diz Freud

    (1917/1974, p. 498), referindo-se a um melhor entendimento dos delrios.

    Na Conferncia XXVII, intitulada Transferncia (1917), Freud

    continua a comentar as questes tcnicas na psicanlise dos melanclicos. Afirma

    que a melancolia, assim como a parania e a demncia precoce, de um modo geral

    so casos intocados e impenetrveis ao tratamento psicanaltico (Freud,

    1917/1974, p.503). Ao se estender sobre a razo para esta afirmativa, oferece uma

    indicao importante para o andamento de nossa tese: o alto grau de conscincia a

    respeito da condio humana que os melanclicos possuem, e este seria o motivo

    pelo qual sofrem tanto.

    ... o sujeito melanclico percebe diretamente o que fundamentalmente constitui o drama humano, a saber, o estatuto imaginrio da identidade, que ele no cessar de denunciar na recusa de todo investimento de objeto, at mesmo de seu prprio corpo (Lambotte, 1997, p. 298)

    Esta conscincia, porm, no os torna mais acessveis ao estabelecimento

    da transferncia, condio essencial para a possibilidade do tratamento

    psicanaltico. Destacamos este aspecto, j considerado por outros autores

    (Pinheiro [2005] e Lambotte [1997]) como caractersticas discursivas e clnicas,

    peculiar, que justifica repensarmos o manuseio tcnico nesta afeco, que no

    pode tomar como referncia a clnica da histeria. Surge assim a necessidade de

    construirmos um campo diferente para a interpretao dos sintomas melanclicos.

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    Ao descrever a dificuldade de estabelecimento da neurose de transferncia

    nos portadores de neuroses narcsicas, Freud aponta que estes s demonstram

    indiferena e frieza ao lidar com as tentativas de interveno por parte do analista.

    No se impressionam [...] Eles permanecem como so (Freud, 1917/1974,

    p.520). O autor sustenta que seus investimentos objetais devem ter sido

    abandonados e que a libido objetal correspondente foi transformada em libido

    narcsica. Conseqentemente, distingue a melancolia da histeria, da neurose

    obsessiva e da neurose de angstia (Freud, 1917/1974, p.521), que encaminhariam

    de formas diferentes a libido para objetos substitutivos.

    Quanto a este aspecto, Pinheiro (2005) nos d uma importante colaborao

    ao apontar que o modelo identificatrio dos melanclicos assume uma forma

    diferente daquele da histeria, o que resulta em uma produo fantasmtica

    diferente, assim como uma forma discursiva e uma relao com o corpo

    peculiares. Isto torna a abordagem desta afeco necessariamente diversa daquela

    com que Freud trabalhou nos primeiros anos de sua clnica, nos moldes da

    neurose de transferncia.

    A ttulo de complementar a descoberta freudiana, Pinheiro (2005) toma

    como exemplo o terceiro momento da montagem fantasmtica do Bate-se numa

    criana (Freud, 1919). Para melhor situar este momento, ressaltamos que Freud

    investigava a construo da fantasia, na forma de um relato muito caracterstico.

    Os histricos e obsessivos relatavam sua fantasia de que uma criana era

    espancada (ein Kind wird geschlagen). Freud, em sua investigao, divide a

    fantasia em trs fases (Freud, 1919/1976, 232-234): na primeira fase, representada

    pela frase o meu pai est batendo na criana, so articuladas recordaes de

    eventos ou desejos que foram despertados; a segunda fase, estou sendo

    espancada pelo meu pai, que masoquista, a mais importante e significativa

    para Freud, j que nunca recordada, ficando inconsciente, e ele a considera o

    prottipo da fantasia; j na terceira fase, esto espancando uma criana (Ein

    Kind wird geschlagen), os agentes na cena so encobertos, exigindo um trabalho

    psquico que s pode ser desvendado transferencialmente. Essa ltima

    caracterstica anloga fantasia do melanclico, uma fantasia sem antecedentes,

    sem futuro, de forma annima, impessoal e universal.

    O mundo fantasmtico do melanclico tem a caracterstica de no articular

    passado, presente e futuro. Esta dimenso no-contgua de seu discurso torna suas

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    queixas pontuais, no historicizadas, sem trazer conseqncias reflexivas. Ele no

    consegue fazer uma narrativa onde se coloca como um dos personagens

    articulados no tempo. Esta uma caracterstica na qual o manejo transferencial

    apresenta dificuldades operacionais, acarretando clinicamente uma produo

    ideativa sem consistncia, talvez a que Freud identificou como a presena de

    traos insuficientes (Freud, 1917/1974, p.520) de transferncia que o

    melanclico porta, o que se manifesta em sua indiferena. Seu discurso, em

    anlise, uma seqncia de imagens descritas pormenorizadamente e sem

    afetao, ou seja, sem uma marcao libidinal em que os objetos possam ter

    valores diferentes e em diferentes momentos. Tem-se a sensao subjetiva de um

    nivelamento discursivo onde a diferena se encontra anulada.

    A libido trazida para dentro do Eu, ao invs de ser deslocada para outros

    objetos substitutivos, como se d no final do luto neurtico desencadeia dentro do

    Eu uma situao caracterizada por autocrticas severas. A indiferena com relao

    aos objetos, apontada anteriormente, notadamente reforada pelo nico interesse

    que o melanclico tem: uma tentativa defensiva de dar sobrevida a este seu objeto

    perdido, internalizado, mesmo que mantenha uma ambivalncia no resolvida,

    como um dilogo interior entre duas partes do psiquismo (Butler, 2003, p.96). O

    resultado desta operao que a raiva, originalmente sentida pelo objeto, muda de

    alvo, voltando-se para o Eu com furor igual ao dispensado anteriormente ao objeto

    quando pertencia realidade externa. Assim, a recusa perda objetal imperiosa

    e a internalizao se torna uma estratgia de ressuscitao mgica do objeto

    perdido, no s porque a perda dolorosa, mas porque a ambivalncia sentida em

    relao ao objeto exige que ele seja preservado at que as diferenas sejam

    superadas (Butler, 2003, p.97). Fdida corrobora este ponto ao escrever:

    Essa ambivalncia significa que o meio mais seguro de se preservar da perda do objeto destru-lo para mant-lo vivo. A incorporao canibal no de forma alguma o ato simblico da resoluo da perda. Ela a satisfao-imaginria da angstia alimentando-se do objeto perdido objeto cuja perda foi de algum modo necessria para que ele permanecesse vivo e presente em sua realidade primitiva alucinatoriamente conservada. O canibalismo seria, ento, a expresso mtica de um luto melanclico espcie de assassinato de um objeto, sob o encanto do qual o Eu foi colocado e do qual no consegue resolver-se a se separar, como mostra a angstia de mant-lo presente a partir de sua ausncia (Fdida, 1999, p.67).

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  • 52

    Isto nos leva a uma discusso a respeito da autocrtica rigorosa

    empreendida pelo melanclico.

    Uma visita ao artigo Psicologia de Grupo e Anlise do Eu, de 1921,

    pode nos auxiliar. Nele encontramos a vigncia da pulso de morte postulada em

    1920 e constituinte de uma nova dualidade pulsional. Vale lembrar que foi

    exatamente porque no se podia considerar o dio, plausivelmente originado pelo

    Eu, como oposto ao amor, que Freud promoveu essa toro terica: a origem do

    dio passou a ser remetida pulso de morte.

    Freud afirma que a identificao ambivalente desde o incio (Freud,

    1921/1976, p.133), assinalando que nas relaes com os objetos esto presentes

    tanto a corrente terna quanto a hostil, com um colorido constituinte e universal. A

    identificao tem como prottipo a incorporao tal como foi concebida nos

    primeiros estgios da libido oral. Freud chama a ateno para uma particularidade.

    Na megalomania, algumas vezes, o Eu assume as caractersticas de quem foi

    amado e, outras vezes de quem foi odiado. A identificao com um objeto que

    renunciado ou perdido, como um sucedneo para esse objeto introjeo dele no

    Eu - no constitui verdadeiramente mais novidade para ns (Freud, 1921/1976,

    p.137). Com esta frase, Freud est se referindo melancolia como uma afeco

    que precipitada pela perda real ou emocional de um objeto amado (Freud,

    1921/1976, p.137-138). O autor destaca a severa e cruel autodepreciao do Eu,

    que revela, inequivocamente, o processo de introjeo do objeto no Eu. O

    resultado uma diviso do Eu, em que uma de suas partes vocifera contra a outra,

    sendo que uma delas a que foi alterada pela introjeo e inclui o objeto perdido

    (Freud, 1921/1976, p.137-138). A outra parte do Eu, que ataca o objeto introjetado

    no Eu, atua como uma conscincia moral, instncia crtica dentro do prprio Eu,

    que assume a crueldade. Esta instncia crtica que abarca como vimos na

    Conferncia XXVI, as funes de auto-observao, a conscincia moral, a

    censura dos sonhos e a principal influncia no recalque (Freud, 1921/1976,

    p.137-138).

    Devemos, pois, investigar a razo da exacerbao destas funes na

    melancolia e que carter o Ideal do Eu assume nesta afeco. No se pode

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  • 53

    desconsiderar a importante relao que esta instncia tem com os objetos

    perdidos, recuperados no interior do Eu pela introjeo8.

    No livro A casca e o ncleo, escrito por Nicolas Abraham e Maria Torok

    (1995), este processo descrito como uma comunho de bocas vazias

    (Abraham e Torok, 1995, p. 245). Esta metfora ento explicada, nos dando

    clareza deste procedimento psquico. Inicialmente, os autores estabelecem a

    diferena entre os termos associados, incorporar e introjetar.

    A incorporao corresponde a uma fantasia9 e a introjeo, a um

    processo (Abraham e Torok, 1995, p. 243). Desta maneira, descrevem um

    processo que tem como ponto de partida as experincias do vazio da boca

    (Abraham e Torok, 1995, p. 245). Na criana assistida pela me, esta experincia

    vivida inicialmente por gritos e choros, em meio aos cuidados maternos,

    condio do surgimento da linguagem. Sobre este aspecto, escrevem os autores:

    A passagem da boca cheia de seio boca cheia de palavras se efetua por meio de experincias de boca vazia. Aprender a preencher com palavras o vazio da boca um primeiro paradigma da introjeo. Compreende-se que ela s pode se operar com a assistncia constante de uma me que possua a linguagem (Abraham e Torok, 1995, p. 246).

    A seqncia dessas experincias gera na criana um grau de garantia que,

    com o tempo, pode acarretar a substituio da presena materna por palavras. A

    introjeo serve, portanto, para dar conta de um desejo, uma dor ou uma situao,

    assinalam os autores. A metfora alimentar utilizada por eles mostra-se apropriada

    por refletir os momentos iniciais da vida. Operar essa passagem conseguir que

    a presena do objeto d lugar a uma auto-apreenso de sua ausncia... e s pode

    ser compreendida no seio de uma comunidade de bocas vazias (Abraham e

    Torok, 1995, p. 246).

    Esta argumentao terica relevante para que possamos compreender o

    aprofundamento que Karl Abraham empreender acerca da teoria da libido, em

    que nos deteremos mais adiante, quando poder ser captada a profundidade da 8 Sndor Frenczi criou o termo introjeo para designar um processo de alargamento do Eu, tomando como condio exemplar o amor de transferncia. A introjeo permite estender ao mundo exterior os interesses que primitivamente so auto-erticos, atravs da incluso dos objetos do mundo externo no Eu 9 Por fantasia, os autores vo considerar uma produo do Eu, anterior ao processo, produto do psiquismo como um todo em contraposio com a realidade. Assim, realidade tudo aquilo que cause uma modificao tpica, enquanto que fantasia tudo que mantm o status quo tpico (Abraham e Torok, 1995, p. 243).

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  • 54

    citao que os autores fazem ao indicar que toda incorporao ter sempre a

    introjeo como vocao nostlgica (Abraham e Torok, 1995, p. 247).

    Quando Freud escreveu Luto e Melancolia (1917), estava em jogo a

    descoberta de uma lgica que tinha a identificao como conceito diferenciador.

    A distino que se pretendia, entre o luto normal e o melanclico, tinha como

    referncia os tipos de incorporao que eram operados. Havia uma incorporao

    neurtica que acarretava um luto normal em oposio a uma incorporao do tipo

    narcsico, encontrado na melancolia.

    O trabalho do luto torna-se ento o reflexo da dimenso econmica, sob o

    ponto de vista metapsicolgico, que a perda objetal provoca. No luto, o objeto

    com o qual o Eu se identifica parcialmente sustenta uma dimenso temporal para

    que novos objetos possam ser investidos. Da, o aforismo cessa o luto quando

    cessa a luta.

    Nesta perspectiva, o melanclico ser explicado, por Abraham e Torok

    como portador de um idlio vergonhoso tendo constrangimento sempre que

    algum objeto que lhe sirva de esteio desaparea, por ser revelador dos vestgios de

    seu objeto do amor oculto (Abraham e Torok, 1995, p. 255).

    Certamente, pode ser identificado nesta teorizao o cunho narcsico que

    se encontra em jogo neste envergonhar-se e, por isso, na melancolia o Eu tem que

    ser confrontado com o Supereu. Este confronto acarreta uma tenso permanente.

    Na anlise da tenso existente entre o Eu e o Ideal do Eu, que Freud

    considera natural e necessria, a melancolia aparece como exemplo de uma

    exacerbao da tenso entre essas duas instncias. Na fase depressiva da

    melancolia o Eu governado com aspereza pelo Ideal do Eu; na mania, o Eu

    pode, temporariamente ter-se fundido com o Ideal do Eu (Freud, 1921/1976,

    p.166), abolindo toda a autocrtica, desfrutando da ausncia de suas inibies no

    que diz respeito a si mesmo e aos outros, com o sentimento de triunfo

    caracterstico dessa fase. Apesar das dificuldades de avaliar a periodicidade entre

    depresso e mania na melancolia, h um ponto indiscutvel. Na base de tais

    relaes tempestuosas entre o Eu e o Ideal do Eu, encontra-se a perda de um

    objeto amado que teria demonstrado ser indigno de investimento amoroso, sendo

    ento severamente condenado pelo Supereu, quando erigido dentro do Eu por

    identificao. As censuras e ataques dirigidos ao objeto vm luz sob a forma de

    autocensuras melanclicas (Freud, 1921/1976, p.167).

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  • 55

    Na apresentao da segunda tpica, em 1923, no artigo O Eu e o Isso,

    Freud avana na teorizao do Supereu, nos ajudando a compreender a relao

    conflituosa entre essa instncia e o Eu, que ser postulada em 1924 como

    caracterstica das neuroses narcsicas, includo ento os quadros melanclicos.

    Acompanhemos o desenvolvimento de Freud.

    No captulo III do artigo de 1923, Freud se detm nas relaes entre o Eu e

    o Supereu, ainda confundido com o Ideal do Eu. Tendo postulado no captulo

    anterior que o Eu seria uma parte do Isso modificada pela realidade, Freud

    acrescenta que essa operao se complexifica pela emergncia paralela de uma

    outra instncia, o Ideal do Eu ou Supereu, que como vimos resultado de uma

    gradao (Stufe) que se diferencia no interior do Eu. A melancolia usada como

    exemplo da existncia desta formao posto que h nestes sujeitos a presena de

    uma identificao substitutiva de um investimento objetal perdido que est em

    luta contra o prprio Eu. Isto caracteriza uma ao que envolve duas instncias

    diferentes, o Eu e o Supereu. Em outra perspectiva, a formao do carter tambm

    usada como exemplo da presena de alteraes no Eu que, atravs de

    substituies e deformaes, do origem ao Ideal do Eu. Assim, Freud conceitua

    claramente o Eu na companhia perptua do Ideal do Eu, o qual atua como agncia

    moral de vrios tipos (Butler, 2003, p.97).

    Neste ponto, a distino anterior proposta em Luto e Melancolia (1917),

    que focaliza somente a diferena dos tipos de investimentos objetais, desaparece.

    Ou seja, em 1917 o que importa que o investimento objetal retirado poderia, ou

    no, ser transferido para objetos substitutivos. Em 1923, tanto o luto normal como

    o melanclico so compreendidos segundo uma mesma lgica, ou seja, nas duas

    situaes se realiza uma operao de substituio de um amor perdido por uma

    identificao, sendo esta a nica condio em que o Isso pode abrir mo de seus

    objetos. Certamente, a distino entre o luto normal e o luto melanclico se situa

    no novo investimento que se segue perda objetal e conforme o tipo de

    identificao que ocorre nestas situaes. No luto normal investem-se novos

    objetos, enquanto na melancolia permanece uma insistncia mortfera em investir

    o mesmo objeto, acarretando um sofrimento intenso. Embora ainda no houvesse

    uma explicao exata desta substituio, o fato inegvel que um objeto, ao ser

    abandonado, pode se erigir dentro do Eu, transformando-o (Freud, 1923/1976,

    p.43). No entanto, o mbito do mecanismo de identificao vai se ampliar

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    enormemente. Se antes dava conta dos processos de luto e de melancolia, agora a

    identificao tambm chamada para dar conta da prpria constituio do Eu e

    das instncias ideais - Ideal do Eu e Supereu -, que so diferenciaes especiais

    dentro de um Eu, ele mesmo um composto de identificaes.

    Voltamos a assinalar que neste texto de 1923 Supereu e Ideal do Eu so

    nomenclaturas indistintas, mas vale notar que, quando Freud quer valorizar a

    funo ideativa, usa o Ideal do Eu e, quando o aspecto destacado a funo

    punitiva, refere-se quase sempre ao Supereu, embora saibamos que o Ideal do Eu

    a forma pela qual o Supereu mede as aspiraes do Eu.

    Na sublimao h uma transformao da libido objetal em libido narcsica,

    ocorrendo uma dessexualizao, ou seja, uma mudana da satisfao sexual para

    uma no-sexual, procedimento necessrio para que um novo investimento objetal

    se realize, de forma a substituir o precedente que teve que ser abandonado.

    importante ressaltar que quando Freud fala da dessexualizao est se referindo a

    uma mudana de alvo da pulso (Sexualziele). O que dessexualizado no a

    pulso, mas o objeto-alvo.

    Na medida em que o investimento objetal permanece o mesmo, na

    melancolia podemos inferir que a idia de hemorragia interna, metfora colocada

    por Freud no Manuscrito G, ocorre pelo permanente escoamento da libido ertica

    para o objeto erigido dentro do Eu, e que a anestesia, tambm proposta como

    caracterstica da melancolia, se d pelos mesmos motivos, ou seja, por

    esgotamento dos investimentos erticos que este objeto suscita. Assim, a realidade

    perderia seu valor de captura das moes pulsionais.

    Butler (2003) acrescenta um outro aspecto que nos interessa para entender

    a dinmica melanclica. Como a raiva e a culpa tomam o cenrio discursivo do

    melanclico? A esta pergunta, ela responde:

    As perdas internalizadas do ego so restabelecidas como parte desse agente de escrutnio moral, como a internalizao da raiva e da culpa originalmente sentidas pelo objeto em sua forma externa. No ato de internalizao, a raiva e a culpa, inevitavelmente aumentadas pela prpria perda, voltam-se para dentro e so preservadas [...] Assim, o ego cede sua raiva e eficcia ao ideal do ego, o qual se volta contra o prprio ego que o mantm e preserva; em outras palavras, o ego constri um modo de se voltar contra si mesmo (Butler, 2003, p.97).

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    Partindo do carter triangular da situao edipiana e da bissexualidade

    constitucional de cada indivduo, Freud (1923/1976, p.46) constri uma gnese

    do Supereu que envolve os procedimentos identificatrios descritos. A formao

    do Ideal do Eu conjuga, desta forma, os vnculos experimentados pela vivncia

    infantil e as aquisies da espcie presentes no Isso, resultando em um Ideal do Eu

    que responde a tudo que esperado da mais alta natureza do homem. A tenso

    resultante das tendncias apetitivas e das realizaes do Eu cria sentimentos

    sociais que repousam nas identificaes (Freud, 1923/1976, p.51-52), e se

    manifesta no Eu como sentimento de culpa. Freud conclui:

    A maneira pela qual o Supereu surge explica como que os primitivos conflitos do Eu com os investimentos objetais do Isso podem ser continuados em conflito com o seu herdeiro, o Supereu. Se o Eu no alcanou xito em dominar adequadamente o Complexo de dipo, o investimento energtico do ltimo, originando-se do Isso, mais uma vez ir atuar na formao reativa do Ideal do Eu (Freud, 1923, p.53-54).

    No captulo V de O Eu e o Isso (1923), intitulado As relaes

    dependentes do Eu, Freud ressalta o carter constitutivo das identificaes,

    ampliando sua teoria sobre a constituio do Supereu. A posio especial que o

    Supereu assume no Eu se deve a dois aspectos que constituem suas origens. O

    primeiro que ele resulta da identificao primria ocorrida quando o Eu ainda

    era fraco (Schwliche), e o segundo so suas relaes com os resduos das

    identificaes secundrias, herana da trama edipiana.

    A partir do fator moral (Freud, 1923/1976, p.66), que Freud entende

    como expresso por um sentimento de culpa resultante da tenso entre o Eu e o

    Ideal do Eu, compreendemos o processo de condenao do Eu pela instncia

    crtica. Freud considera que esta tenso se encontra muito acirrada em duas

    afeces : na neurose obsessiva e na melancolia.

    Na melancolia, o Eu no faz qualquer objeo e se submete ao castigo

    imposto por ele, diferentemente do que ocorre na neurose obsessiva, em que a

    possibilidade de erigir uma formao de compromisso est presente. Na

    melancolia no haver qualquer possibilidade de mediao ou atenuao da

    vertente crtica, que se torna cruel e impiedosa. Enquanto na neurose obsessiva o

    que estava em questo eram impulsos censurveis que permaneciam fora do Eu

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    (Freud, 1923/1976, p.67), na melancolia, o objeto, mediante a identificao

    narcsica, encontra-se intacto dentro do prprio Eu.

    O carter imperioso e severo da censura do Supereu contra o Eu constitui o

    principal motivo de sofrimento dos pacientes melanclicos. Freud ressalta o

    sadismo para com o mesmo objeto, j alojado no Eu. Desta forma, uma cultura

    pura da pulso de morte (Freud, 1923/1976, p.70) cria um modo de operao que

    pode, em casos extremos, levar morte. A severidade e a crueldade, portanto, so

    manifestaes destrutivas da pulso de morte. A crtica excessiva exercida pelo

    Supereu contra o Eu demonstra que este ltimo perdeu aquilo que, frente morte,

    o salva do desamparo, que o amor do Supereu, equivalente do aspecto protetor

    exercido pelo pai na tenra infncia.

    Em 1924, no artigo Neurose e Psicose, Freud apresenta a aplicao de

    suas concepes de 1923 numa tentativa nosogrfica, projeto que remonta ao

    texto As Neuropsicoses de defesa de 1894, onde postulava a diferena entre

    neuroses atuais e neuroses de defesa, com base na sexualidade infantil e no

    mecanismo de defesa. Aqui, em 1924, as afeces so explicadas a partir do tipo

    de conflito existente entre as instncias apresentadas na segunda tpica. Assim, a

    neurose o resultado de um conflito entre o Eu e o Isso, ao passo que a psicose

    o desfecho anlogo de um distrbio semelhante nas relaes entre o Eu e o mundo

    externo (Freud, 1924/1976, p.189). Porm, uma ressalva importante: o

    funcionamento do psiquismo calcado na noo de conflito como um estado de

    coisas (Freud, 1924/1976, p.189) que toma a neurose de transferncia como

    referncia, ou seja, o Eu entra em conflito com o Isso, obedecendo s exigncias

    criadas pelo Supereu e pela realidade. O Supereu, enquanto representante das

    influncias do mundo externo, obriga ao Eu a tomar seu partido e inibir as

    exigncias do Isso atravs do recalque. Na neurose, a criao de sintomas resulta

    da funo mediadora do Eu, que oferece ao Isso objetos substitutivos. Na psicose,

    como vimos, h um distrbio do relacionamento entre o Eu e o mundo externo

    sem mediao do Supereu. As neuroses narcsicas so explicadas pelo resultado

    do conflito entre o Eu e o Supereu.

    Como conseqncia, Freud postula o Eu em um enfoque de frmulas

    (Freud, 1924/1976, p.192), abrindo um novo campo de pesquisa que, no caso da

    melancolia, necessita de um exame mais detalhado deste tipo de vassalagem a que

    o Eu se submete. A ntima relao com o Isso e com a realidade externa, da qual

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    se torna representante, faz do Supereu o responsvel pelos rudos sintomticos do

    quadro da melancolia. Escreve Freud:

    A atitude do Supereu deveria ser tomada em considerao o que at aqui no foi feito em toda forma de afeco psquica. Podemos provisoriamente presumir que tem de haver tambm doenas que se baseiam em um conflito entre o Eu e o Supereu. A anlise nos d o direito de supor que a melancolia um exemplo tpico desse grupo, e reservaramos o nome de psiconeuroses narcsicas para distrbios desse tipo. Tampouco colidir com nossas impresses se encontrarmos razes para separar estados como a melancolia das outras psicoses (Freud, 1924/1976, p.192).

    Em 1933, na Conferncia XXXI, intitulada A disseco da

    personalidade psquica, Freud ratifica a importncia da dimenso conflitiva entre

    o Eu e o Supereu, ao se referir severidade com que o Supereu trata o Eu na

    melancolia. Ressalta que o aspecto mais evidente dessa crueldade se encontra

    neste estado onde o

    ... Supereu se torna supersevero, insulta, humilha e maltrata o pobre Eu, ameaa-o com os mais duros castigos, recrimina-o por atos do passado mais remoto, que haviam sido considerados, poca, insignificantes como se tivesse passado todo o intervalo reunindo acusaes e apenas tivesse estado esperando por seu atual acesso de severidade a fim de apresent-las e proceder a um julgamento condenatrio, com base nelas. O Supereu aplica o mais rgido padro de moral ao Eu indefeso que lhe fica merc; representa, em geral, as exigncias da moralidade, e compreendemos imediatamente que nosso sentimento moral de culpa expresso da tenso entre o Eu e o Supereu (Freud, 1933 [1932]/1976, p.79).

    Com base no exposto, propomos avaliar a melancolia em seu carter

    singular, reafirmando ter esta afeco um quadro clnico tpico e uma forma

    discursiva prpria que refletiro sua especificidade conflitiva.

    Dentre os autores contemporneos de Freud, Karl Abraham se destaca por

    suas importantes contribuies para as formulaes apresentadas at aqui a partir

    de sua teoria da libido, como veremos a seguir.

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